Livro Eletronica 3

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ELETRÔNICA I

Maikon Lucian Lenz


Modelo de grandes sinais
para o transistor bipolar
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Caracterizar o modelo de grandes sinais para transistores bipolares.


 Definir a operação do transistor bipolar com grande sinal.
 Analisar a reta de carga do transistor bipolar para o modelo de grandes
sinais.

Introdução
A estrutura do circuito amplificador é a mesma tanto em amplificadores
de pequenos sinais quanto nos de grandes sinais — o de pequenos sinais
serve para a elevação da tensão do sinal, permitindo que estágios de
grande sinal forneçam corrente e potência para a carga. A reta de carga
de corrente contínua (CC) utilizada para a polarização não será mais a
única a ser considerada, uma vez que há uma divergência entre a reta
de carga CA (corrente alternada) e CC. Com o circuito otimizado para
ampliar a potência do sinal, a tendência é utilizar toda a capacidade de
operação do transistor e, portanto, toda a reta de carga. Em pequenos
sinais, mudanças singelas no ponto de operação têm pouca relevância
ou pouco efeito sobre o sinal de saída. No caso dos amplificadores de
grandes sinais, por outro lado, deve-se zelar pelo ótimo posicionamento
do ponto de operação, a fim de evitar o ceifamento de partes do sinal,
seja pela saturação, seja pelo corte.
Neste capítulo, você vai aprender a calcular e esboçar ambas as retas
de carga (CC e CA) e conhecer as classes de amplificadores existentes,
assim como vantagens e desvantagens de cada um. Ao final, você será
capaz de projetar estágios de amplificação de potência com qualidade.
2 Modelo de grandes sinais para o transistor bipolar

Modelo de grandes sinais


Os amplificadores são divididos em amplificadores de pequenos sinais e de
grandes sinais. Não há qualquer diferença técnica entre eles, mas entende-se
que, em estágios iniciais, há um foco maior no ganho de tensão. Assim, devido
à baixa amplitude dos sinais envolvidos, convencionou-se chamar esses de
amplificadores de pequenos sinais. Os amplificadores de grandes sinais, por
sua vez, devem ter um ganho considerável de corrente, que resulte em ganho
de potência elevado (SCHULER, 2013).
Um amplificador sempre produzirá ganho de potência, às vezes com ganho
de tensão e corrente, em outras apenas com ganho de uma delas — mesmo
assim, sempre existirá algum ganho de potência ao final (SCHULER, 2013).
A eficiência de um amplificador é medida por meio da comparação da
potência oferecida no sinal de saída com a potência fornecida pela fonte con-
tínua que alimenta o amplificador.

O rendimento de um amplificador sistemas de potência elevada é espe-


cialmente importante, não só por uma limitação de fonte de alimentação, mas
pelo aquecimento excessivo gerado, que poderá demandar o uso de técnicas
de resfriamento (SCHULER, 2013).
Você já deve saber que, para que se possa aproveitar os sinais de entrada
negativos, o transistor deve ser polarizado. Assim, ele deverá se manter con-
tinuamente em uma posição de operação média, que lhe permitirá aproveitar
ao máximo o acréscimo do sinal de entrada tanto no sentido positivo quanto
no negativo, sem risco de atingir os pontos de saturação ou de corte. No
entanto, repare que, uma vez estando o transistor permanentemente em um
ponto médio de condução, ele estará consumindo energia, mesmo não havendo
sinal de entrada. Nesse caso, não haverá qualquer sinal na saída, dependendo
do tipo de acoplamento, se este for capaz de filtrar sinais de baixa frequência
ou contínuos. Ainda assim, o transistor estará consumindo muita potência
apenas para se manter no ponto adequado de operação.
Os amplificadores também podem ser classificados por esse ponto de
operação. Aqueles que aproveitam todo o sinal de entrada, conforme demons-
Modelo de grandes sinais para o transistor bipolar 3

trado na Figura 1, mas oferecem grande consumo de energia apenas para a


manutenção da polarização são ditos amplificadores classe A (MALVINO;
BATES, 2011). Essa é a classe que utilizada até o momento.

Figura 1. Ponto de operação dos amplificadores classe A.


Fonte: Adaptada de Schuler (2013).

Os amplificadores classe B não possuem polarização da base do transistor


e, nesse caso, não havendo sinal de entrada, o transistor permanecerá na região
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de corte (Figura 2). Tal condição não prejudicará os sinais positivos de entrada,
mas impedirá completamente os negativos, já que o transistor NPN precisa
de uma diferença de potencial positiva entre base e emissor para conduzir.
Para um transistor PNP, o sinal a ser ceifado seria o positivo, uma vez que
esse transistor só conduz se houver uma diferença de potencial negativa entre
base e emissor (SCHULER, 2013).

Figura 2. Ponto de operação dos amplificadores classe B.


Fonte: Adaptada de Schuler (2013).

Na classe B, há um rendimento melhor. Em contrapartida, o sinal de entrada


não é totalmente aproveitado, causando distorções. Uma saída para contornar
essa limitação é utilizar dois transistores no estágio de amplificação: um NPN
e outro PNP (Figura 3). Assim, haveria menor distorção, por aproveitar ambas
as polaridades de sinal. Todavia, o sinal ainda não seria completo, devido à
queda de tensão do diodo emissor em cada transistor.
Modelo de grandes sinais para o transistor bipolar 5

Figura 3. Ponto de operação dos amplificadores classe B push-pull.


Fonte: Adaptada de Schuler (2013).

Existem as classes de operação AB, C e D. As duas primeiras tratam de


alterações no método de polarização, enquanto a classe D refere-se a um
circuito de modulação por largura de pulso — um mecanismo diferente de
operação (SCHULER, 2013).
O ponto a destacar aqui é a variação no rendimento decorrente da polariza-
ção e o impacto desse rendimento em amplificadores de grandes sinais. Para
pequenos sinais, o desperdício muitas vezes não representa um problema, já
que o sinal de saída ainda é um sinal de pequena intensidade, apesar de ser
consideravelmente maior que o da entrada.

Sinais de rádio e televisão costumam ter amplitude extremamente baixa e necessitam


de amplificação serem utilizados. Os primeiros estágios pretendem elevar a tensão
para melhorar o aproveitamento da reta de carga. Porém, as cargas utilizadas na saída
nesse tipo de sistema possuem impedância baixa, o que demanda corrente elevada
do circuito amplificador (MALVINO; BATES, 2016).
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Operação com grande sinal


A operação com grande sinal difere da de pequeno sinal pelo uso da reta de
carga do elemento amplificador (transistor). Em pequenos sinais, menos de
10% da região costuma ser utilizada; para grandes sinais, por outro lado, a
tendência é utilizar a reta de carga como um todo (MALVINO; BATES, 2016).
Se o posicionamento do ponto de operação na reta de carga de pequeno
sinal não é crítico, devido à grande margem inutilizada, na reta de carga de
grande sinal esse ponto deve estar localizado exatamente na metade, a fim de
evitar qualquer corte de sinal.
Para que toda a reta de carga seja aproveitada, o ponto de operação deverá
estar situado no meio da reta. Se o ponto estiver acima, a tensão de saída não
atingirá o máximo do pico positivo, sendo cortada devido ao limite de satu-
ração do transistor. Se o ponto estiver abaixo, a tensão de saída não atingirá
o pico negativo, sendo ceifada pela não condução do transistor ou pelo ponto
de corte. Ambos os ceifamentos distorcem o sinal e devem ser evitados para
grande parte das aplicações.

Potência
A potência do circuito também pode ser dividida em potência de saída, consti-
tuída pelo sinal CA, e pela potência de alimentação CC que polariza o transistor
(MALVINO; BATES, 2016):

Pode-se, ainda, utilizar a lei de Ohm para eliminar a necessidade de se


calcular a corrente:
Modelo de grandes sinais para o transistor bipolar 7

Para a saída CA, a potência deve considerar a tensão eficaz, sendo essa
relação com a tensão de pico a pico:

A potência CC dissipada pelo transistor é uma função da corrente e tensão


quiescente:

Porém, essa não é a única potência da alimentação contínua consumida.


Há também um consumo por parte do circuito de polarização:

Assim, a potência CC total será:

Ou, ainda:
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Sendo a corrente contínua total a soma da corrente de polarização e da


corrente quiescente:

Assim como há uma potência consumida pelos resistores ligados ao terminal emissor
e ao terminal coletor, determinados pela corrente que os atravessa, também há a
mesma corrente ao atravessar o transistor. Esta depende de um esforço possível,
graças à tensão quiescente VCEQ.

A reta de carga em grandes sinais


No caso dos amplificadores, existem na verdade duas retas de cargas sobre-
postas: uma reta de carga para CC e uma para CA. Ambas as retas de cargas
são esboçadas calculando-se a corrente de saturação e a tensão de corte, com
base na configuração do amplificador. Na reta de carga CC:

onde:

 VCC é a tensão contínua de alimentação;


 RC é o resistor do coletor;
 R E é o resistor do emissor.
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A Figura 4 mostra o esboço da reta de carga CC já com o ponto de operação,


também conhecido como ponto quiescente (Q), posicionado ao centro da reta
de carga.

Figura 4. Amplificador do tipo emissor comum e a reta de carga CC.


Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 379).

Repare que, no modelo CA do amplificador do tipo emissor comum


(Figura 5), o resistor do terminal emissor R E não é considerado, já que o
capacitor em paralelo a ele se comporta como um terra virtual para o sinal
CA. Também os resistores RC e R L estarão em paralelo, uma vez que o terminal
+VCC , de alimentação contínua, também será um terra virtual. O equivalente
dessa ligação aparece no modelo CA apenas como rc.

Figura 5. Equivalente CA de um amplificador emissor comum e a reta de carga CC e CA.


Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 381).
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Não existindo o resistor R E e sendo rc menor que RC , o resultado implicará


em uma corrente de saturação maior (MALVINO; BATES, 2016).
A tensão de corte também é alterada e não há mais alimentação contínua
(para o circuito CA). Então, como ficarão os pontos de corte e saturação da
reta de carga em CA?
A partir da Lei das Malhas de Kirchoff, obtém-se a equação:

onde:

 vce é tensão CA entre coletor e emissor do transistor;


 vrc é tensão no resistor rc.

A tensão no resistor rc pode ser substituída pela Lei de Ohm:

Assim, é possível agora isolar a corrente CA no coletor:

Há, ainda, outra relação para a corrente CA no terminal coletor: a diferença


entre a corrente total e a corrente de polarização CC. Veja a equação:

onde:

 IC é corrente total;
 ICQ é corrente de polarização CC.

O mesmo é válido para a tensão CA:

onde:

 VCE é tensão total coletor–emissor;


 VCEQ é tensão CC coletor–emissor.
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Substituindo, temos:

A equação acima é chamada de equação da reta de carga CA. Durante


a saturação, a tensão entre os terminais coletor e emissor será nula, já que
toda a tensão estará sendo utilizada pela carga — nesse caso rc (MALVINO;
BATES, 2016). Dessa forma, a equação será:

Já durante o corte, a corrente no terminal coletor será nula. Assim, pode-se


partir da equação abaixo para encontrar a tensão de corte:

A Lei de Ohm pode ser novamente utilizada, já que o resistor não se altera
entre CC e CA:

Sendo a corrente nula na condição de corte:


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A corrente de saturação obedece a fórmula a seguir:

Haverá uma redução na tensão de pico a pico, devido ao aumento na incli-


nação da reta de carga CA, se comparada com a reta de carga CC. Isso resultará
sempre em uma tensão de pico a pico menor que a tensão de alimentação VCC
(MALVINO; BATES, 2016).

Como o objetivo de amplificadores de grande sinal é utilizar toda a reta de


carga, e para tanto é necessário que o ponto de operação esteja centralizado,
pode-se afirmar que a tensão acima e abaixo do ponto de operação são iguais.
Portanto:

O rendimento de um amplificador depende não do sinal de entrada, mas do sinal de


saída e da potência consumida pela fonte contínua responsável por fornecer a energia
necessária à amplificação do sinal de entrada.
Para calcular o rendimento, portanto, deve-se determinar essas duas potências e
a relação entre elas. Considere um sinal de saída de 30 Vpp para o circuito a seguir.
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η = 4,87%

MALVINO, A.; BATES, D. Eletrônica: diodos, transistores e amplificadores. 7. ed. Porto


Alegre: AMGH, 2011.
MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. v. 1.
SCHULER, C. Eletrônica I. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

Leituras recomendadas
BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São
Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
NAHVI, M.; EDMINISTER, J. A. Circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
SEDRA, A. S.; SMITH, K. C. Microeletrônica. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
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