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KBC Kitambo Business

Consulting

Mercado Cambial em Angola:


Parte 1
Nos últimos dois anos, o regime cambial em Angola tem vindo a
sofrer alterações profundas. Estas alterações surgem da necessida-
de de um ajustamento face a menores entradas de moeda estran-
geira após uma queda do preço do petróleo, a principal commodity
de exportação de Angola. Este artigo relata as principais alterações
no quadro de política cambial de Angola com realce para as mais
recentes.

Novembro de 2019
Economia Nacional / Novembro, 2019 Kitambo Business Consulting

CRONOGRAMA DE ALTERAÇÕES AO REGIME CAMBIAL

A 4 de Janeiro de 2018, o Banco Nacional de Angola adoptou um novo regime de câmbio flutu-
ante com bandas, substituindo o anterior regime de câmbio fixo que vigorou desde Abril de 2016.
O objectivo da alteração deste regime foi a sustentabilidade das contas externas sem impor um
regime cambial flexível que poderia induzir a uma maior volatilidade da taxa de câmbio e conse-
quentemente a uma maior instabilidade cambial.

No dia 9 de Janeiro, o BNA procedeu ao primeiro leilão de venda de divisas, dando início ao
processo de formação da taxa de câmbio, dentro do regime de câmbio flutuante. No entanto, a
19 de Janeiro, segundo o Instrutivo N.º 01/2018, foi definida uma banda cambial de 2% da taxa
de referência do leilão anterior, para evitar excessiva volatilidade, sendo que qualquer proposta
apresentada em leilão que não cumprisse este requisito era automaticamente invalidada. O preço
da moeda estrangeira passou a ter uma tendência crescente, mas moderada pela banda de 2%,
evitando dessa forma avultadas depreciações e conferindo previsibilidade ao mercado cambial. A
taxa de câmbio de referência passou a ser calculada através de uma média das propostas valida-
das para cada leilão. Os bancos comerciais poderiam seguidamente vender a moeda estrangeira
aos clientes com um spread máximo de 2% acima da taxa de referência (mercado secundário).

A partir de Outubro de 2018, o BNA procedeu ao fim das vendas directas para vendas exclusiva-
mente em leilão, passando a recair sobre os bancos comerciais a responsabilidade de alocação de
divisas aos agentes económicos. Dessa forma, a intervenção do BNA passou a consistir somente
na disponibilização de divisas aos bancos comerciais através de leilões de quantidade e leilões de
preço. No final de 2018, a partir de Novembro, a periodicidade dos leilões passou a ser diária.

Em Dezembro de 2018, o BNA voltou a publicar novos instrutivos nomeadamente N.º 19 e N.º 20
de 3 de Dezembro de 2018 que entraram em vigor em Janeiro de 2019, cujo objectivo se cen-

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trava na flexibilização da taxa de câmbio, tendo sido retirada a banda de 2% outrora imposta nas
propostas feitas pelos bancos comerciais nas sessões de leilões, sendo substituída pela exclusão
de propostas consideradas “especulativas”. Todavia, o spread de 2% sobre a taxa de câmbio de
referência na venda de moeda estrangeira no mercado secundário manteve-se em vigor, estabili-
zando assim o câmbio.

Como?
Os bancos tornaram-se, com o novo instrutivo, livres de apresentar pro-
postas, mas ver-se-iam obrigados a revender as divisas a uma taxa que não
superasse no máximo 2% da taxa média ponderada do mercado primário.
Esta obrigatoriedade tornava os bancos cautelosos nos leilões, pois se
apresentassem uma taxa de câmbio elevada, corriam o risco de incorrer
em prejuízo na revenda das divisas, uma vez que eram obrigados a aplicar
o spread de 2% sobre a taxa oficial (a média ponderada) e não sobre a taxa
proposta.

RECENTES ALTERAÇÕES AO REGIME CAMBIAL

No início de Outubro observámos que o kwanza iniciou uma tendência diária de depreciação,
uma depreciação mais elevada do que o “normal”. Estas depreciações foram fruto da não elimi-
nação das taxas de câmbio dos leilões de divisas que antes poderiam ser consideradas “especu-
lativas”. Relembramos assim que as bandas de 2% foram retiradas não em Outubro, mas no início
deste ano, mais precisamente, Janeiro de 2019.

A 23 de Outubro de 2019, após a sessão extraordinária do Comité de Política Monetária, o Banco


Nacional de Angola (BNA) decidiu remover o spread de 2% existente no mercado secundário
levando assim a maior flexibilidade no mercado cambial. Note-se que ainda não estamos perante
um mercado cambial livre dado que continua a ser o banco central a controlar a oferta de dólares
uma vez que o Aviso nº 7/20141 se mantém inalterado.

1 Este Aviso estabelece que a Concessionária Petrolífera Nacional (Sonangol), sociedades investidoras nacio-

nais e estrangeiras e operadoras petrolíferas, incluindo as sociedades que integram o Projecto Angola LNG

devem vender ao Banco Nacional de Angola a moeda estrangeira necessária ao pagamento dos encargos tri-

butários e demais obrigações tributárias para com o Estado, bem como para o pagamento de bens e serviços

a residentes cambiais.

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Com a liberalização do mercado secundário, observou-se o aumento da diferença entre a proposta


mínima e máxima aceites no leilão. No entanto, da reunião extraordinária até dia 4 de Novembro,
o kwanza apenas registou uma depreciação de 4%.

Como?
Na sessão extraordinária do Comité de Política Monetária de 23 de Outubro
de 2019, de forma a complementar a decisão de mover o mercado cambial
para um regime mais representativo das decisões do mercado, o BNA deci-
diu tomar medidas de política monetária contraccionista:
1. Reiniciou a outrora extinta Facilidade de Absorção de Liquidez de 7
dias, instituindo uma taxa de 10%, de forma a criar uma alternativa de
remuneração em kwanzas à opção mais rentável de negociar no merca-
do cambial;
2. Elevou o coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional em 5
p.p. (de 17% para 22%), com entrada em vigor a 4 de Novembro.

A alteração do coeficiente que levou à redução da liquidez bancária em


mais de 100.000 milhões de kwanzas, teve impacto imediato. O kwanza
desde então reverteu a trajectória de depreciação, sendo que de 4 de
Novembro a 12 de Novembro, regista-se uma apreciação de 9%, ou
seja, o kwanza regressou para os valores da terceira semana de Outu-
bro.

PERSPECTIVAS

A evolução futura do kwanza, dentro do regime cambial actual 2, dependerá, portanto, de como
evoluirá o nível de liquidez dos bancos comerciais sendo que, em termos do sistema bancário
como um todo, esta é controlada pelo BNA.

A recente apreciação do kwanza não reflecte factores estruturais da economia, mas sim a política
de contracção de liquidez por parte do BNA e, portanto, é incerta a evolução futura do mercado
cambial primário. No entanto, enquanto a quantidade procurada de moeda estrangeira pelo sec-
tor privado não for totalmente satisfeita, o mercado informal continuará a sinalizar a evolução do
desequilíbrio cambial angolano.

2 Em que o BNA continua a controlar por um lado a quantidade de moeda estrangeira vendida e por outro a

controlar a quantidade de liquidez em kwanzas do mercado.

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Espera-se que eventualmente, o BNA revogue o Aviso nº 7/2014, permitindo que as companhias
petrolíferas possam de novo interagir com os bancos comerciais na venda da moeda estrangeira,
sendo esse o próximo passo na plena flexibilização cambial.

Por fim, atingir-se-á um ponto em que a quantidade de dólares desejada pelos agentes importa-
dores se equilibrará diariamente à quantidade de kwanzas desejadas pelos agentes exportadores,
atingindo-se assim a taxa de câmbio de equilíbrio.

Norma Detalhe
Instrutivo n.º 01/2018 Adopção de um regime de câmbio flutuante
Instrutivo n.º 02/2018 com bandas através de leilões, substituindo o
Instrutivo n.º 03/2018 anterior regime de câmbios fixos.

Instrutivo Nº 06/2018 Limites de Operações Cambiais de Ajuda


Familiar de venda mensal de EUR 1.000 por be-
neficiário, especificamente para ajuda familiar,
sendo que o limite mensal por ordenador não
pode exceder EUR 2.500.
Instrutivo Nº 08/2018 Suspensão Temporária de Licenciamento de
Operações Cambiais de Importação de Merca-
dorias com prazo de pagamento superior a 360
dias, após a data de desembarque.
Aviso n.º 05/2018 Estabelecimento de regras e procedimentos
aplicáveis às operações cambiais de importa-
ção e exportação de mercadoria, sendo que es-
tão sujeitas ao licenciamento do Banco Nacio-
nal de Angola as operações de importação de
mercadoria com prazo de liquidação superior a
360 dias da data do despacho alfandegário de
desembarque e por intermédio de um banco
comercial.
Instrutivo n.º 09/2018 Estabelecimento de limites de Pagamentos an-
tecipados, Remessas Documentárias e Cobran-
ças Documentárias para operações cambiais de
mercadoria.
Instrutivo Nº 12/2018 Regras de disponibilização de plafonds pon-
tuais em cartões de pagamento internacional,
para a cobertura de despesas hospitalares e
escolares (propinas e alojamento) próprias e ou
dos seus familiares directos.
Instrutivo Nº 13/2018 Prevenção de Branqueamento de Capitais e do
Financiamento do Terrorismo nas Operações
de Comércio Internacional

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Norma Detalhe
Instrutivo Nº 14/2018 Se os bancos comerciais decidirem, de acor-
do com a sua avaliação do risco de crédito do
cliente, podem exigir um depósito colateral
para a cobertura do risco de pagamento da
carta de crédito, sendo que o valor do referido
colateral não pode ser superior ao valor da
carta de crédito.
Instrutivo Nº 15/2018 Venda de Moeda Estrangeira às Casas de Câm-
bio e Sociedades Prestadoras de Serviços de
Pagamento
Instrutivo Nº 16/2018 Estabelecimento de novos limites de venda de
moeda estrangeira aplicáveis às sociedades
prestadoras do serviço de pagamentos e casas
de câmbio, em que a remessa de valores inter-
nacionais passa a ser limitada ao equivalente
a USD 2.000/mês, por ordenante e por benefi-
ciário ao passo que a venda mensal de moeda
estrangeira em notas, cheques de viagem ou
através do carregamento de cartões pré-pagos
está limitada ao equivalente a USD 5.000/mês
e por cada viajante residente cambial, maior de
18 anos.
Instrutivo Nº 19/2018 Ajustamento dos procedimentos de organiza-
Instrutivo Nº 20/2018 ção e funcionamento dos leilões de compra
(revoga o Instrutivo Nº 01/2018) e venda de moeda estrangeira em que os
bancos comerciais passam a poder livremente
propor uma taxa de câmbio, deixando de se
definir uma banda cambial de 2%. Todavia, o
BNA mantém a hipótese de excluir propostas
“especulativas”.

Instrutivo Nº 21/2018 Prorrogação da Suspensão Temporária do


Licenciamento de Operações Cambiais de
Importação de Mercadorias
Directiva n.º 02/DCC/ 2019 Definição de atrasados cambiais como as
instruções de transferências para o exterior do
país que aguardam cobertura cambial há mais
de 60 dias no mesmo banco comercial e que
têm condições de ser executadas.
Directiva n.º 06/DCC/DMA/ 2019 Definição dos critérios para a atribuição dos
plafonds para a abertura de Créditos Docu-
mentários de Importação (CDIs) ao abrigo dos
leilões de quantidade realizados nos termos do
Instrutivo nº 19/2018 de 03 de Dezembro.
Instrutivo Nº 16/2019 Ajustamento do processo de formação das
(revoga o Instrutivo 20/2018) taxas de câmbio de referência do mercado
primário e as taxas de câmbio que devem ser
praticadas pêlos bancos comerciais. Eliminação
do spread de 2% aos clientes.

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Norma Detalhe
Instrutivo Nº 18/2019 Ajustamento dos limites e condições para a uti-
lização dos vários instrumentos de pagamento
na importação de mercadorias.
Definição de atrasados cambiais como as
Directiva nº 04/DCC/2019 instruções de transferências para o exterior do
(revoga a revogada a Directiva n.º 02/ país que aguardam cobertura cambial há mais
DCC/2019) de 15 dias no mesmo banco comercial e que
têm condições de ser executadas.
Aviso nº 09/2019 Alteração das regras e procedimentos opera-
cionais inerentes à prestação de serviços de
pagamento.
Aviso nº 10/2019 Actualização das regras e procedimentos com
vista a conferir maior eficiência e flexibilidade
na realização de pagamentos sobre o exterior
de operações cambiais de invisíveis corren-
tes, mercadorias e de capitais, ordenadas por
pessoas singulares residentes e não residentes
cambiais.

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Este documento foi preparado pela Kitambo Business Consulting, Lda.

Autores da publicação:

Catarina Duarte, Consultora Económica

E-mail: [email protected]

Ricardo Martins, Consultor Económico

E-mail: [email protected]

Artigo completo a 13 de Novembro de 2019, 10:00 (GMT+1)

Artigo divulgado a 13 de Novembro de 2019, 14:48 (GMT+1)

Este artigo é divulgado somente pelo site da Kitambo Business Consulting.

Para mais informações visite www.kbc.co.ao


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