Enriquecimento Ambiental e A Agressividade Felina
Enriquecimento Ambiental e A Agressividade Felina
Enriquecimento Ambiental e A Agressividade Felina
MANAUS - AM 2021
LAÍS SILVA BARBOSA
MANAUS 2021
LAÍS SILVA BARBOSA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Mv.Msc. Maria Alessandra Martins Del Barrio
______________________________
Profa. Dra. Maria Anete Lallo
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Profa. Dra. Mirela Verdugo
RESUMO
BARBOSA, L. S. Enriquecimento ambiental como alternativa de tratamento para agressividade
em gatos: relato de caso. [Environmental enrichment as an alternative treatment for aggressive
behavior in cats: case report]. 2021. 31f. Monografia (Pós-graduação Lato Sensu em Medicina Felina) –
Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de São Paulo –
ANCLIVEPA, Manaus, 2021
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
4 DISCUSSÃO .................................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO
O gato doméstico (Felis catus Linnaeus, 1758, ou Felis silvestris catus) tem
grande importância no mundo inteiro, visto que a sua população vem aumentando
significativamente ao longo dos anos, e grande parte precisa se adaptar a
apartamentos e casas pequenas (RIVERA, 2011). Pode-se dizer que domesticação
dessa espécie é mais recente do que a dos demais animais de companhia (GENARO,
2005). O homem teve influência de forma gradual na domesticação do gato, portanto
esses animais ainda possuem muitas características comportamentais dos seus
antecessores selvagens (PAZ, 2013).
1.1 OBJETIVOS
2 REVISÃO DE LITERATURA
No estudo feito por Beaver (2005), foi possível afirmar que a estimativa da
população de gatos domésticos varia e não é exata em virtude da quantidade de
felinos selvagens. A autora estimou que a população de gatos, nos Estados Unidos
da América (EUA), estava entre 23,1 e 61 milhões de indivíduos em 2005 e que 23%
dos domicílios possuíam pelo menos um gato. Estimou-se que cerca de 10 milhões
de gatos eram abandonados em abrigos, onde 28% desses gatos foram abandonados
por terem desenvolvido problemas comportamentais.
A partir da análise desses dados, pode-se dizer que a população de gatos tem
importância no cotidiano dos humanos, uma vez que é possível identificar o
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O gato doméstico (Felis catus L.) exibe uma grande flexibilidade em seu
comportamento social e no seu estilo de vida. Isto é devido a vários fatores,
entre eles, disponibilidade de alimento e refúgio, mudanças ambientais,
interação com o homem, composição dos grupos, características genéticas e
a castração.
Grande parte dos gatos domésticos não teve a fase da socialização com
pessoas bem desenvolvida e muitos deles não foram selecionados para fácil
adaptação em ambientes de confinamento. Entretanto, os gatos podem ser adaptáveis
a uma variedade de ambientes e nem sempre demonstram problemas
comportamentais de forma clara. Muitos dos comportamentos problemáticos que os
tutores descrevem não são comportamentos anormais em si, e sim comportamentos
naturais que precisam ser direcionados para o substrato apropriado (JONGMAN,
2007).
A partir dos estudos realizados, pode-se afirmar que grande parte das causas
de agressividade em gatos está relacionada ao medo. Para garantir a eficácia do
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Como bem nos assegura Hosey et al. (2009), pode-se dizer que o
enriquecimento ambiental apresenta diversas metas, sendo que todas acabam se
destinando a gerar alguma modificação nos comportamentos dos animais. Neste
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Para que haja sucesso na interação entre gatos e humanos, faz-se necessário
que se mantenha consistência e previsibilidade no tipo de tratamento. Gourkow e
Fraser (2006), através de um estudo, indicam que gatos de abrigos que interagiram
consistentemente com as mesmas pessoas durante cerca de 20 dias apresentaram-
se mais relaxados e menos temerosos e com níveis inferiores de estresse, medido
pelo Cat-Stress-Score (KESSLER e TURNER, 1997), do que aqueles gatos que
interagiram nesse mesmo período com pessoas diferentes.
2.3.2.1 Brinquedos
De acordo com Sarah Ellis (2009), é possível afirmar que a forma como os
gatos confinados se alimentam (em comedouros, com alimentos não naturais) não
estimula comportamentos alimentares naturais do gato, como localizar, capturar,
matar e processar alimentos. Esse regime alimentar diminui o consumo de tempo
natural de um gato, uma vez que não demanda complexidade, principalmente para
aqueles gatos confinados em ambientes que limita as oportunidades de caça.
Espaço e substrato
Conforme O’Farrell et al. (1994) afirmam no “Manual do comportamento felino”, a falta
de áreas funcionais com espaços adequados pode levar o gato a desenvolver
problemas comportamentais, como eliminação em local indesejado, uma vez que o
espaço no chão se torna limitado, dificultando a provisão de áreas específicas para o
animal dormir, se alimentar e eliminar, como deve ocorrer na natureza.
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Verticalização
O gato busca conforto e segurança de estar fora do chão, uma vez que seu
repertório natural inclui atividades como pular e escalar (ROCHLITZ, 2000). O espaço
vertical pode ser aprimorado ao fornecer alguns recursos como prateleiras, cordas,
árvores para gatos e postes de escaladas, oferecendo ao animal pontos de vista,
oportunidade de comportamento ativo, propiciando a complexidade ambiental
necessária para os gatos, assim como a opção de descansar e recuar em alturas
diferentes (LOVERIDGE, 1994; MCCUNE, 1995; OVERALL e DYER, 2005).
Estruturas adicionais
3 RELATO DE CASO
Quanto à recreação, segundo a tutora, não havia uma rotina específica, apenas
brincadeiras esporádicas ao decorrer do dia. Foi relatado que o comportamento
agressivo deu início após uma mudança de casa, acrescida pela visita dos pais da
tutora, com quem os animais ainda não haviam tido um prévio contato, e uma reforma
no telhado, que teve como consequência um fluxo maior de pessoas diariamente pela
casa, resultando em uma grande mudança de rotina no ambiente.
Ainda que os dois gatos tenham conseguido se alimentar juntos sem brigas,
notou-se que, no momento em que paravam de comer, imediatamente o paciente e o
gato não castrado iniciavam vocalização, demonstrando desconforto um com a
presença do outro. Sugeriu-se que fossem afastados novamente. Cerca de duas
semanas após o contato, um dos gatos conseguiu abrir a porta do cômodo onde o
outro estava isolado e iniciou-se uma briga, havendo lesão leve em ambos os gatos.
Segundo relatos da tutora, desta vez a agressão partiu do gato não castrado.
4 DISCUSSÃO
Assim como apontam Cornell et al. (2007) no seu estudo em que é proposto
um plano de enriquecimento, foi sugerido à tutora realizar modificações ambientais,
considerando as condições de espaço e recursos oferecidos na casa. Ellis (2009)
confirma que a adição de estruturas físicas no ambiente propicia a oportunidade do
gato de desenvolver seus comportamentos típicos, trazendo sentido positivo à conduta
adotada neste caso.
Apesar dos avanços, uma relação positiva entre o paciente e o outro gato
macho ainda não estava bem estabelecida, uma vez que ainda existiam conflitos,
portanto, foi sugerido que esses dois animais fossem afastados, isolando o outro gato
em um cômodo da casa, conforme indica Hunthausen (2007), que sugere que, em
determinados casos de agressividade entre gatos, a melhor opção é a separação dos
animais envolvidos.
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Após um episódio de briga entre os dois gatos machos, foi proposto à tutora
que a rotina de recreação se estendesse ao gato em isolamento, a fim de melhorar o
seu bem-estar, corroborando com os estudos de Henzel (2014), De Monte e Le Pape
(1997), citados nessa discussão anteriormente. O gato em isolamento, além de ter a
rotina de recreação iniciada, foi submetido à cirurgia de esterilização, o que, de acordo
com Hunthausen (2007), pode ajudar a diminuir conflitos entre machos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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