Enriquecimento Ambiental e A Agressividade Felina

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ANCLIVEPA-SP ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CLÍNICOS VETERINÁRIOS DE

PEQUENOS ANIMAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO

LAÍS SILVA BARBOSA

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL COMO ALTERNATIVA DE TRATAMENTO


PARA AGRESSIVIDADE EM GATOS DOMÉSTICOS: RELATO DE CASO

MANAUS - AM 2021
LAÍS SILVA BARBOSA

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL COMO ALTERNATIVA DE TRATAMENTO


PARA AGRESSIVIDADE EM GATOS DOMÉSTICOS: RELATO DE CASO

Monografia apresentada para


conclusão do Curso de Especialização
em Medicina de Felinos (pósgraduação
lato sensu) da AnclivepaSP.

Área de concentração: Comportamento


felino Orientadora: Clarissa
Niciporciukas

MANAUS 2021
LAÍS SILVA BARBOSA

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL COMO ALTERNATIVA DE TRATAMENTO


PARA AGRESSIVIDADE EM GATOS DOMÉSTICOS: RELATO DE CASO

Monografia apresentada para


conclusão do Curso de Especialização
em Medicina de Felinos Veterinária
(pós-graduação lato sensu) da
Anclivepa-SP.

Área de concentração: Comportamento


felino Orientadora: Clarissa
Niciporciukas

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________
Mv.Msc. Maria Alessandra Martins Del Barrio

______________________________
Profa. Dra. Maria Anete Lallo

______________________________
Profa. Dra. Mirela Verdugo
RESUMO
BARBOSA, L. S. Enriquecimento ambiental como alternativa de tratamento para agressividade
em gatos: relato de caso. [Environmental enrichment as an alternative treatment for aggressive
behavior in cats: case report]. 2021. 31f. Monografia (Pós-graduação Lato Sensu em Medicina Felina) –
Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de São Paulo –
ANCLIVEPA, Manaus, 2021

A agressividade é um dos distúrbios comportamentais mais comuns nos gatos


domésticos e sua abordagem na clínica de felinos deve levar em consideração uma
diversidade de fatores etiológicos e o conhecimento sobre as necessidades da espécie
felina no ambiente domiciliado. A falha na identificação das necessidades físicas e
psicológicas dos gatos pode resultar em respostas negativas, propiciando
comportamentos indesejados e conflitos nas interações sociais. O enriquecimento
ambiental se baseia em estratégias que visam a aumentar a complexidade do
ambiente, permitindo ao gato a oportunidade de exercer seu comportamento natural.
Este relato de caso aborda o histórico de um gato macho esterilizado, de
aproximadamente 11 meses, que convivia com dois cachorros, sendo um macho e
uma fêmea, ambos adultos e não esterilizados, mais três gatos, sendo um macho não
esterilizado e duas fêmeas esterilizadas, e que demonstrava sinais de agressão
direcionada aos demais contactantes, principalmente ao outro gato macho, após uma
sucessão de modificações ambientais. Após a consulta foram instauradas medidas de
enriquecimento, considerando as condições ambientais e sociais em que os gatos
viviam, e foi realizada a esterilização cirúrgica do macho inteiro. As estratégias
utilizadas foram a adição de recursos físicos, a recreação através de brinquedos, a
reintrodução estruturada e a estimulação olfativa. Após três meses de
acompanhamento, os episódios de agressão entre os gatos cessaram, considerando-
se, assim, extremamente satisfatória a implementação das medidas de enriquecimento
ambiental, associada à esterilização cirúrgica de um dos animais do grupo.

Palavras-chave: Comportamento felino. Enriquecimento ambiental. Agressividade.


ABSTRACT
BARBOSA, L. S. Environmental enrichment as an alternative treatment for aggressive behavior in
cats: case report. [Enriquecimento ambiental como alternativa de tratamento para agressividade em
gatos: relato de caso.]. 2021. 31f. Monografia (Pós-graduação Lato Sensu em Medicina Felina) –
Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de São Paulo –
ANCLIVEPA, Manaus, 2021

Aggression is one of the most common behavioral disorders in domestic cats


and its approach in the feline practice must take into account a variety of etiological
factors and also knowledge about the needs of the feline species in the domestic
environment. Failing to identify the physical and psychological needs of cats can result
in negative responses, leading to unwanted behaviors and conflicts within social
interactions. Environmental enrichment is based on strategies that aim to increase the
complexity of the environment, allowing the cat the opportunity to exercise its natural
behavior. This case report covers the history of a sterilized 11month old male cat who
lived with two dogs, a male and a female both adults and not sterilized, along with three
other cats, one not sterilized male and two sterilized females, that had been showing
signs of aggression towards his cospecifics, especially the other male cat, after
successive environmental changes. After general and behavioral assessment,
enrichment initiatives were implemented, considering the environmental and social
conditions in which the cats lived, and a complete surgical sterilization of the other male
cat was carried out. The strategies used were the addition of physical resources,
recreation through toys, structured reintroduction and olfactory stimulation. After three
months of follow-up, episodes of aggression among the cats ceased, and the
implementation of environmental enrichment measures, associated with the surgical
sterilization of one of the animals in the group, was considered extremely satisfactory.

Keywords: Feline behavior. Environmental Enrichment. Aggressive behavior.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 7


2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 8

2.1 COMPORTAMENTO FELINO ............................................................................ 9


2.2 DISTÚRBIOS COMPORTAMENTAIS .............................................................. 10
2.2.1 Agressividade felina ................................................................................... 12

2.3 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL ................................................................... 13


2.3.1 Enriquecimento animado ........................................................................... 14

2.3.2 Enriquecimento inanimado ........................................................................ 15

3 RELATO DE CASO ......................................................................................... 19

4 DISCUSSÃO .................................................................................................... 23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 27

LISTA DE REFERÊNCIAS ........................................................................................ 28


7

1 INTRODUÇÃO

O gato doméstico (Felis catus Linnaeus, 1758, ou Felis silvestris catus) tem
grande importância no mundo inteiro, visto que a sua população vem aumentando
significativamente ao longo dos anos, e grande parte precisa se adaptar a
apartamentos e casas pequenas (RIVERA, 2011). Pode-se dizer que domesticação
dessa espécie é mais recente do que a dos demais animais de companhia (GENARO,
2005). O homem teve influência de forma gradual na domesticação do gato, portanto
esses animais ainda possuem muitas características comportamentais dos seus
antecessores selvagens (PAZ, 2013).

Alguns comportamentos normais do gato na natureza acabam sendo


interpretados como indesejados quando realizados dentro de casa, como arranhadura
de móveis ou demarcação com urina (CASEY e BRADSHAW, 2008). Boa parte dos
problemas comportamentais dos gatos são resultado de falhas ao considerar as suas
necessidades, as condições ambientais e/ou as mudanças, bem como as expectativas
irreais do tutor e da interação inadequada entre tutor e gato (PAZ, 2013).

Segundo Beaver (2003), a agressividade felina representa cerca de 35% dos


problemas comportais de modo geral. Faz-se importante identificar os estímulos que
promovem o comportamento agressivo no gato, uma vez que o tratamento varia de
acordo com a causa e o tipo de agressividade observada (TEIXEIRA, 2009).

Estratégias de enriquecimento ambiental podem ser adotadas com o intuito de


melhorar o bem-estar do animal, visando à diminuição de comportamentos agressivos
e outros distúrbios comportamentais (RIVERA, 2011).

1.1 OBJETIVOS

1. Relatar um caso de agressividade felina e a terapêutica instaurada;

2. Discutir a importância do enriquecimento ambiental para o bem-estar de


gatos confinados;

3. Levantar a importância de que se obtenham mais estudos sobre


distúrbios comportamentais em gatos;
8

4. Comparar o histórico e a terapêutica aplicada ao caso clínico com a


literatura consultada;

2 REVISÃO DE LITERATURA

Indícios da domesticação do gato datam de quase 10 mil anos no crescente


fértil (VIGNE, 2004) e, em uma fase posterior, de 4000 anos no Egito (OTTONI, 2017).
Acredita-se que a dependência dos humanos para alimentação, abrigo e controle da
reprodução seja derivada da relação simbiótica entre as duas espécies e que esse
processo de domesticação teria não mais do que 200 anos e que, ainda, seria
incompleto (SERPELL, 2000).

Bonnie Beaver, autora de livros sobre o comportamento de animais domésticos


que realizou estudos sobre a domesticação dos gatos, afirma que o gato moderno
pode ter o modo de vida classificado em quatro categorias: feral, errante, de abrigo e
de estimação. O gato feral é aquele animal independente, de vida livre, selvagem. O
gato errante é definido por não ter tutor, mas que depende de humanos para garantir
a alimentação. Enquanto o gato de abrigo é considerado domesticado, entretanto não
possui tutor definido. Já o de estimação tem moradia e tutor definido (BEAVER, 2005).

No estudo feito por Beaver (2005), foi possível afirmar que a estimativa da
população de gatos domésticos varia e não é exata em virtude da quantidade de
felinos selvagens. A autora estimou que a população de gatos, nos Estados Unidos
da América (EUA), estava entre 23,1 e 61 milhões de indivíduos em 2005 e que 23%
dos domicílios possuíam pelo menos um gato. Estimou-se que cerca de 10 milhões
de gatos eram abandonados em abrigos, onde 28% desses gatos foram abandonados
por terem desenvolvido problemas comportamentais.

Segundo dados do IBGE/PNS (2013), estimou-se que no Brasil a população


de gatos chegou a cerca de 22,1 milhões, o que, aproximadamente, equivale a 1,9
gato por domicílio. Ainda segundo esses dados, afirmou-se que era possível encontrar
pelo menos um gato em 17,7% dos domicílios, sendo que a maior proporção, cerca
de 20%, é apresentada na região nordeste do país.

A partir da análise desses dados, pode-se dizer que a população de gatos tem
importância no cotidiano dos humanos, uma vez que é possível identificar o
9

crescimento do número de gatos existentes no mundo, sendo eles domiciliados ou


não.

De acordo com Genaro (2005, p. 16):

Ainda são poucos os estudos que abordam especificamente o


comportamento do gato doméstico. Essa situação tende a se alterar uma vez
que essa espécie vem crescendo consideravelmente. E, hoje, nos Estados
Unidos da América (onde há números mais precisos), o gato já superou o
cão. Essa situação não é exclusiva para esse país, uma vez que tal fato
advém, principalmente, do estilo de vida adotado pelo habitante do mundo
ocidental [...] a domesticação dessa espécie é relativamente recente
comparado aos demais animais domésticos.

Fica evidente que ainda é necessário que se realizem estudos mais


aprofundados sobre o que diz respeito à domesticação do gato, bem como a maneira
como esse animal se comporta, a fim de entender as suas necessidades físicas e
emocionais e melhorar a qualidade e a precisão das orientações dadas aos tutores e,
assim, evitar os abandonos devido a problemas comportamentais. Segundo o que se
tem estudado, pode-se afirmar que o gato é um animal adaptável e modifica o seu
comportamento de forma sensível a mudanças ambientais.

2.1 COMPORTAMENTO FELINO

O comportamento que o gato doméstico exerce é resultado da relação entre


predisposição genética, experiências de vida e o ambiente em que ele vive. Os
comportamentos existentes são os padrões da espécie e os que são exclusivos de
cada animal. É necessário saber diferenciar esses comportamentos para que seja
possível instruir corretamente os tutores, a fim de determinar quando o comportamento
é condizente com adaptação da espécie ao ambiente e quando existe comportamento
anormal e de má adaptação (LITTLE, 2018).

De acordo com Little (2018), o gato tem necessidades comportamentais que


variam de acordo com o estágio da sua vida. O período sensível de socialização com
o ser humano ocorre entre a terceira e a nona semana de vida, onde se faz necessário
que o animal tenha boas experiências com as pessoas, facilitando uma boa
convivência futuramente.

Até o sexto mês de idade, os filhotes se encontram na fase das brincadeiras,


com o pico a partir do terceiro mês. Após este período, as brincadeiras com objetos
10

se tornam mais prevalentes, ajudando a manifestar os instintos predatórios normais


do felino. A partir dos sete meses até os dois anos o animal deve ser acostumado ao
toque por seres humanos, para que permita a sua manipulação, caso haja
necessidade. Do terceiro ao décimo ano, o gato tem as suas atividades lúdicas
diminuídas, propiciando aumento de peso e possíveis problemas comportamentais
(LITTLE, 2018). Conforme salientado acima, os gatos possuem comportamentos
variáveis, que acompanham o seu crescimento e mudam de acordo com a fase de
vida.

Assim como a idade, existem fatores externos que podem influenciar no


comportamento do gato. Conforme elucida Oliveira (2002, p. 166):

O gato doméstico (Felis catus L.) exibe uma grande flexibilidade em seu
comportamento social e no seu estilo de vida. Isto é devido a vários fatores,
entre eles, disponibilidade de alimento e refúgio, mudanças ambientais,
interação com o homem, composição dos grupos, características genéticas e
a castração.

A partir das afirmações citadas, é possível afirmar que o comportamento felino


tem forte influência do ambiente e das pessoas que fazem parte do seu convívio. Uma
vez que o comportamento é moldado através das experiências de vida, pode-se
chegar à conclusão de que experiências que não supram as necessidades naturais do
animal podem acarretar problemas comportamentais, o que demanda atenção dos
tutores e médicos veterinários que irão lidar com esses animais.

2.2 DISTÚRBIOS COMPORTAMENTAIS

Grande parte dos gatos domésticos não teve a fase da socialização com
pessoas bem desenvolvida e muitos deles não foram selecionados para fácil
adaptação em ambientes de confinamento. Entretanto, os gatos podem ser adaptáveis
a uma variedade de ambientes e nem sempre demonstram problemas
comportamentais de forma clara. Muitos dos comportamentos problemáticos que os
tutores descrevem não são comportamentos anormais em si, e sim comportamentos
naturais que precisam ser direcionados para o substrato apropriado (JONGMAN,
2007).

Conceitos equivocados sobre distúrbios comportamentais e sobre o que fazer


para resolvê-los são induzidos pela ausência de conhecimento dos tutores sobre o
11

comportamento da espécie. É necessário conhecer os comportamentos adequados


para reconhecer os comportamentos inadequados do animal (BEAVER, 2005).
Existem diversos comportamentos considerados anormais que podem ser
desenvolvidos pelos felinos, alguns desses distúrbios são arranhadura de móveis,
micção e defecação em local inadequado, mordidas em pessoas e destruição de
objetos, bem como problemas alimentares, arranhões, ansiedade, vocalização
excessiva, hiperatividade e agressividade (JONGMAN, 2007; NOGUEIRA, 2018).

É necessário que se reconheça que os distúrbios comportamentais em gatos


apresentam importância para o bem-estar animal, bem como para a relação entre
humanos e animais, assim como ressaltar que possuem relevância significativa na
saúde pública, uma vez que, de acordo com Turner e Bateson (2000), os arranhões e
mordidas causadas devido a agressividade são preocupantes do ponto de vista das
zoonoses, já que existem doenças que podem ser transmitidas dessa forma, como a
raiva e a bartonelose.

Em 2013 foi realizado um estudo em forma de questionário para os tutores de


199 gatos com o objetivo de investigar os problemas comportamentais mais
comumente encontrados, que podem acarretar no abandono ou eutanásia desses
animais.

De acordo os estudos de Paz (2013, p. 17):

Sabe-se que os problemas comportamentais são umas das principais razões


de abandono de animais em abrigos e eutanásia. [...] Arranhadura em móveis
foi o problema comportamental mais frequente (61,3%), seguido de
agressividade (45,3%), distúrbio auto-lesivo (11,7%) e ansiedade (7,5).

Faz-se necessário que os tutores de gatos possuam informações sobre o


comportamento da espécie, de modo que seja evitado o surgimento de distúrbios
comportamentais. De acordo com a citação acima, é possível perceber que os
comportamentos considerados anormais, principalmente os que são relacionados a
agressividade, são fatores que influenciam na relação tutor-animal, causando
desarmonia populacional, uma vez que muitos desses animais acabam sendo
eutanasiados ou abandonados em abrigos.
12

2.2.1 Agressividade felina

A agressividade, de modo geral, não é algo incomum entre os animais e, por


não se limitar a uma origem orgânica isolada, deve-se levar em consideração as
questões ambientais, emocionais e fisiológicas do animal que desenvolve o
comportamento agressivo, a fim de identificar a sua causa (PARKER, 1992). A
ocorrência da agressividade felina vem aumentando consideravelmente, entretanto há
uma subvalorização da importância desse comportamento pelos tutores, por ser
considerado como algo normal da espécie (RAMOS, 2019). O conceito de
agressividade se dá a partir do comportamento ameaçador ou nocivo direcionado a
um indivíduo ou grupo, envolvendo uma grande variedade de comportamentos
baseados em posturas corporais, expressões faciais ou ataques violentos
(LANDSBERG, 2005).

De acordo com Chapman (1991, p. 315):

Os tipos de comportamento agressivo comumente reconhecidos em gatos


incluem intersexual, territorial, medo / defensivo, brincadeira, predação e
redirecionado. O diagnóstico é feito com base nos dados de sinalização, no
padrão de posturas agressivas apresentadas pelo gato agressivo e nas
circunstâncias em que o comportamento agressivo ocorreu.

Chapman (1991), ainda no estudo referido acima, diferencia a agressividade


felina e suas causas de acordo com o alvo das agressões. O autor sugere que ataques
direcionados a outros gatos podem ter sua causa baseada no sexo (principalmente
machos), bem como podem ser causados por brigas por território, por medo, por
brincadeiras mal-sucedidas e devido a maternidade (fêmeas). Já a agressividade
direcionada a pessoas pode se dar por brincadeiras, medo, redirecionamento,
maternidade e manipulação. Na agressividade contra outras espécies de animais, as
principais causas são predação, maternidade e medo.

Segundo Moreira (2011), o comportamento agressivo dos gatos também pode


estar associado à necessidade de controle de determinados contextos sociais e de
recursos ambientais, como a falta de acesso a determinados locais, bem como a
limitação de recursos e falta de atenção por parte dos tutores.

A partir dos estudos realizados, pode-se afirmar que grande parte das causas
de agressividade em gatos está relacionada ao medo. Para garantir a eficácia do
13

manejo da agressividade associada ao medo é necessário identificar de forma correta


o estímulo que a desencadeia, assim como buscar a sua remoção. Recomenda-se a
modificação ambiental, de modo que múltiplos refúgios sejam disponibilizados, onde
o gato possa se sentir seguro ao optar por se esconder (MOREIRA, 2011).

2.3 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

O enriquecimento ambiental é um processo que consiste em incluir mudanças


na estrutura de ambientes e manejo de práticas que visam a aumentar as
oportunidades de escolhas e comportamento espécie-específico. Faz-se importante a
identificação e promoção de estímulo previamente ausente que atenda às
necessidades para o bem-estar físico e psicológico do animal em cativeiro
(SHEPHERDSON, 1998, 2003).

Por definição, trata-se da criação de ambiente complexo e interativo, permitindo


ao animal cativo que apresente seus comportamentos naturais. O enriquecimento
ambiental promove atividades que influenciam a maneira como um animal interage
com o seu ambiente (SHEPHERDSON, 1993).

A finalidade dos métodos de enriquecimento ambiental aplicados aos gatos em


cativeiro é proporcionar a manutenção da motivação exploratória, evitando ou
eliminando distúrbios comportamentais, e levando melhoria à qualidade de vida
desses animais e a seu bem-estar físico e mental.

As técnicas de enriquecimento podem ser realizadas de maneiras diversas,


consistindo em alteração de ambiente através do deslocamento ou inclusão de
objetos, garantindo a manutenção da novidade dentro do ambiente já conhecido
(GENARO, 2005). Além disso, promover interação com gatos de abrigo é capaz de
melhorar seu bem-estar, evidenciado por um estudo que mostrou que gatos
submetidos a enriquecimento cognitivo tiveram melhor imunidade de mucosa e menos
doenças respiratórias em relação ao grupo controle que não passou por interações
com humanos (GOURKOW e PHILLIPS, 2016).

Como bem nos assegura Hosey et al. (2009), pode-se dizer que o
enriquecimento ambiental apresenta diversas metas, sendo que todas acabam se
destinando a gerar alguma modificação nos comportamentos dos animais. Neste
14

contexto, fica claro que a diminuição da frequência de comportamentos anormais e o


aumento dos comportamentos naturais são objetivos alcançados a partir do aumento
da complexidade do ambiente em cativeiro (HOY et al., 2010).

Um estudo realizado por Ellis (2009) classifica o enriquecimento ambiental em


duas categorias: animada e inanimada, em que a primeira aborda as estratégias de
interação social, enquanto a segunda exemplifica estratégias que envolvem fatores
não vivos ao ambiente do animal.

2.3.1 Enriquecimento animado

As estratégias de enriquecimento animado compreendem a estimulação social,


e podem ser divididas em intraespecíficas (entre mesma espécie) e interespecíficas
(espécies diferentes), envolvendo ou não contato físico direto entre os indivíduos
(ELLIS, 2009).

Ellis (2009) afirma, ainda, que a interação social intraespecífica se dá a partir


da estimulação à convivência entre gatos cativos no mesmo ambiente, tendo como
objetivo o bem-estar individual e coletivo em circunstâncias específicas, onde não haja
competição por comida e outros recursos. Os gatos que possuem relacionamentos
bem-sucedidos aumentam as oportunidades de brincadeiras, o que está diretamente
ligado ao bem-estar (FRIEND, 1991).

As estratégias de enriquecimento interespecíficos compreendem a interação


entre gatos e humanos e tem recomendação a partir de diversos estudos que indicam
que os gatos preferem interagir com humanos ao invés de brinquedos como fonte de
estimulação (DELUCA e KRANDA, 1992; HOLMES, 1993), porém, segundo o que
sugere Casey (2005), a interação precoce entre o homem e o gato pode influenciar na
forma como o gato percebe os humanos e os benefícios dessa interação.

É interessante reconhecer o estilo de interação que o humano apresentará, de


modo que se compreenda as reações do gato a determinado tipo de atividade,
podendo influenciar os potenciais efeitos enriquecedores de tal estimulação social. Um
estudo realizado por Soennichsen e Chamove (2002) sugerem que gatos demonstram
respostas positivas quando recebem carinho em região de têmpora, enquanto os
carinhos em região de cauda e de abdômen não são bem recebidos pelos felinos e
15

podem desencadear reações agressivas. Informações extraídas de Guidelines da


AAFP (American Association of Feline Practitioners) e ISFM (International Society of
Feline) sugerem que as regiões faciais são utilizadas entre gatos tanto na
comunicação olfativa, quanto na comunicação afiliativa. É percebido que essas áreas
produzem respostas positivas ao contato com humanos, uma vez que os gatos,
geralmente, se esfregam contra seus tutores ou demais humanos para deixar seu
cheiro e demonstrar sinal de familiaridade (ELLIS, 2013)

Para que haja sucesso na interação entre gatos e humanos, faz-se necessário
que se mantenha consistência e previsibilidade no tipo de tratamento. Gourkow e
Fraser (2006), através de um estudo, indicam que gatos de abrigos que interagiram
consistentemente com as mesmas pessoas durante cerca de 20 dias apresentaram-
se mais relaxados e menos temerosos e com níveis inferiores de estresse, medido
pelo Cat-Stress-Score (KESSLER e TURNER, 1997), do que aqueles gatos que
interagiram nesse mesmo período com pessoas diferentes.

Estudos encabeçados pela pesquisadora brasileira Ramos et al. (2012, 2013)


avaliaram os níveis de glicocorticoides fecais em gatos que conviviam com vários
outros gatos e humanos, e concluíram que os níveis de estresse apresentados
estiveram mais altos quando havia interação com humanos do que quando interagiam
com outros gatos, tendo em vista que os variados estilos de vida dos proprietários
foram usados como fatores associados aos níveis de corticoide fecais dos gatos.

Outro tipo de interação interespecífico que tem potencial de enriquecimento é


o que ocorre entre gatos e espécies não humanas, como os cães, desde que a
socialização entre esses animais se dê de forma adequada (ELLIS, 2009). Um estudo
realizado por Feuerstein e Terkal (2008) investigou as inter-relações de cães e gatos
contactantes e constatou a importância da socialização precoce, visto que a maior
chance de se obter uma relação amigável se dá quando o primeiro contato ocorre
quando gatos possuem menos de seis meses e cães têm menos de um ano de idade.

2.3.2 Enriquecimento inanimado

A estratégia de enriquecimento inanimado se baseia no acrescimento de


fatores inanimados, ou seja, não vivos, ao ambiente em que o animal reside.
16

Brinquedos, diferentes métodos de alimentação, estruturas físicas e estimulação


sensorial são exemplos desse tipo de enriquecimento (ELLIS, 2009).

2.3.2.1 Brinquedos

As implicações de bem-estar associadas ao uso de brinquedos requerem


pesquisas mais aprofundadas devido à escassez de estudos sobre o assunto, porém
De Monte e Le Pape (1997) realizaram um experimento onde foram investigados os
efeitos da introdução de uma bola suspensa e um uma tora de madeira dentro das
gaiolas de gatos adultos isolados em um laboratório, individualmente.

Os resultados do experimento feito por De Monte e Le Pape (1997)


demonstraram uma redução considerável do tempo em que os gatos ficavam ociosos.
A bola inserida obteve maiores resultados positivos de interação do que a tora de
madeira, uma vez que a bola suspensa tem movimentação interessante para os gatos.
Hall et al. (2002) afirmam que os gatos se habituam facilmente às brincadeiras com
objetos e que a variação dos brinquedos utilizados nessas recreações pode ajudar no
sucesso do enriquecimento.

Denenberg (2003) realizou um estudo que envolveu 10 tipos de brinquedos,


que verificaram que os gatos demonstraram maior interesse em um brinquedo feito de
faixa de cabelo, à base de algodão e borracha, presa em um fio que, ao ser balançado,
movia a faixa de cabelo na frente do gato. Acredita-se que o que garante o sucesso
desse tipo de brinquedo e outros com a mesma finalidade (movimentação) se dê por
conta da estimulação de comportamentos de movimentos semelhantes aos que os
gatos expressam durante as partes finais da sequência de caça do gato, como a
perseguição e o pulo.

Os brinquedos que não fornecem oportunidade para a fase consumatória da


sequência de caça (captura) não provocaram tanto interesse nos gatos, como o
brinquedo de trilha, onde uma bola fica contida em uma pequena pista fechada,
permitindo apenas a movimentação do objeto, enquanto não permite o ataque ou a
captura da bola (DENENBERG, 2003).
17

2.3.2.2 Estratégias alimentares

De acordo com Sarah Ellis (2009), é possível afirmar que a forma como os
gatos confinados se alimentam (em comedouros, com alimentos não naturais) não
estimula comportamentos alimentares naturais do gato, como localizar, capturar,
matar e processar alimentos. Esse regime alimentar diminui o consumo de tempo
natural de um gato, uma vez que não demanda complexidade, principalmente para
aqueles gatos confinados em ambientes que limita as oportunidades de caça.

Estudos foram feitos a fim de melhorar os métodos de alimentação dos gatos,


introduzindo estratégias de alimentação capazes de alterar o consumo de tempo
durante a alimentação, promovendo a oportunidade de expressar seu comportamento
natural de caça. As estratégias mais utilizadas nesse estudo foram: esconder
pequenas porções de ração em locais diversos, a fim de estimular a procura e
comportamentos locomotores, bem como oferecer alimento em intervalos curtos
regulares, para simular o esquema de alimentação natural dos gatos.

Outra estratégia adotada no estudo foi a de fornecer o alimento seco em


estruturas de quebra-cabeça, com a finalidade de fazer com que o gato precise extrair
o alimento do local, assim promovendo a locomoção do gato associada à localização
da presa, fornecendo o estímulo cognitivo de captura à presa (CASEY, 2005;
HOLMES, 1993; MCCUNE, 1995; OVERALL e DYER, 2005). Num estudo mais
recente realizado por Dantas-Divers et al. (2011), em que foram observados 27 gatos
de abrigo após a introdução de um quebra-cabeça de comidas, foi possível verificar
que não houve aumento de agressividade entre o grupo, sugerindo que esse tipo de
estratégia não gera problemas em ambientes onde convivem vários gatos.

2.3.2.3 Ambiente físico

Espaço e substrato
Conforme O’Farrell et al. (1994) afirmam no “Manual do comportamento felino”, a falta
de áreas funcionais com espaços adequados pode levar o gato a desenvolver
problemas comportamentais, como eliminação em local indesejado, uma vez que o
espaço no chão se torna limitado, dificultando a provisão de áreas específicas para o
animal dormir, se alimentar e eliminar, como deve ocorrer na natureza.
18

Verticalização

O gato busca conforto e segurança de estar fora do chão, uma vez que seu
repertório natural inclui atividades como pular e escalar (ROCHLITZ, 2000). O espaço
vertical pode ser aprimorado ao fornecer alguns recursos como prateleiras, cordas,
árvores para gatos e postes de escaladas, oferecendo ao animal pontos de vista,
oportunidade de comportamento ativo, propiciando a complexidade ambiental
necessária para os gatos, assim como a opção de descansar e recuar em alturas
diferentes (LOVERIDGE, 1994; MCCUNE, 1995; OVERALL e DYER, 2005).

Estruturas adicionais

O enriquecimento a partir da adição de estruturas é um método importante para


aumentar a oportunidade de comportamento típico dos felinos, assim como
proporciona ao gato o controle sobre o seu ambiente (ELLIS, 2009). Estruturas no
formato de esconderijo tiveram sucesso em estudos realizados com gatos domésticos,
onde foi possível observar uma melhor adaptação dos gatos ao novo ambiente.
Conforme medido através do Cat-Stress-Score, gatos recém-chegados a um abrigo
demonstraram níveis de estresse diminuídos quando foram fornecidas caixas que
poderiam ser utilizadas como esconderijo (GOURKOW e FRASER, 2006; HAWKINS,
2005).

2.3.2.4 Enriquecimento sensorial

Estudos variados investigaram a importância da aplicação de estímulos


sensoriais no gato, que podem ser divididos em visuais, olfativos e relacionados a
feromônios (ELLIS, 2009).

O enriquecimento visual se baseia na estimulação visual do gato, onde lhe é


fornecido o acesso a janelas com vista para ambientes externos, propiciando a
observação de ambientes estimulantes do ponto de vista comportamental, como áreas
de atividade humana e animal (ROCHLITZ, 1999).

O enriquecimento olfativo exerce um importante impacto no bem-estar de


animais confinados, uma vez que certos odores podem resultar em maior bem-estar
19

fisiológico e psicológico (ELLIS, 2009). DeLuca e Kranda (1992) descobriram através


de um estudo que os gatos de laboratório se sentem mais atraídos por brinquedos que
contenham erva-dos-gatos (Nepeta cataria, ou catnip), assim, para o gato doméstico
muitas vezes a estimulação olfativa é realizada através do fornecimento da erva-do-
gato, uma vez que esses animais demonstram interação positiva, como cheirar,
brincar e apalpar.

Baseado nas informações acima, fica evidente a importância da estimulação


olfativa como estratégia enriquecedora, porém é necessário que se atente para a
resposta comportamental associada ao uso da erva-do-gato, uma vez que essa
resposta é exibida apenas por 50-70% da população dos gatos, já que a sua
sensibilidade tem base genética (HART, 1977) e, além disso, a apresentação da erva-
do-gato a grupos de gatos deve ser feita com cautela, uma vez que pode desencadear
agressividade inespecífica.

O enriquecimento por feromônios é baseado na intervenção com análogos


sintéticos de feromônio no ambiente, com a finalidade de melhorar o bem-estar do
gato. Existem no meio comercial produtos conhecidos por reduzir a ansiedade e
comportamentos associados a ansiedade, bem como produtos usados para auxiliar
as interações positivas intraespecíficas e interespecíficas. Portanto, pode-se afirmar
que a aplicação correta de feromônios sintéticos pode funcionar como uma estratégia
enriquecedora ao lidar com gatos ansiosos, medrosos e agressivos (MILLS, 2005;
PAGEAT e GAULTIER, 2003).

3 RELATO DE CASO

3.1 QUEIXA, ANAMNESE E HISTÓRICO COMPORTAMENTAL E EXAME FÍSICO


No dia 02 de junho de 2021 foi atendido um animal da espécie felina, de
aproximadamente 11 meses de idade, pelo curto brasileiro, macho, esterilizado
cirurgicamente com 9 meses de idade. A responsável pelo animal procurou
atendimento veterinário com a finalidade de obter uma consulta comportamental. Ao
exame físico, foi possível perceber que o animal não demonstrava sentir dor, se
mostrava alerta e atento, sem sinais de distúrbios neurológicos.
20

Tutora relatava que animal começara a apresentar sinais de agressividade


direcionada a todos os outros gatos da casa, principalmente ao outro macho não
castrado, há aproximadamente dois meses da consulta inicial. Os sinais relatados pela
tutora foram vocalização, demarcação de território com urina, atitude de impedir o
outro gato de passar por determinados locais, encurralar em cantos da casa e ataques
com arranhaduras e mordidas contra os outros gatos e até contra um dos contactantes
humanos.

Ao ser questionada sobre as instalações e condições em que os gatos viviam,


a tutora respondeu que moravam em um apartamento pequeno, além do paciente,
duas pessoas adultas, dois cães, sendo uma fêmea e um macho não esterilizados e
três gatos, sendo duas fêmeas castradas, de 5 e 4 anos de idade, e um macho não
castrado, de 1 ano de idade. Havia quatro comedouros e um pote de água. Relatou
apenas uma caixa de areia, além de ausência de arranhadores e de quaisquer
componentes de enriquecimento ambiental (prateleiras, nichos, playgrounds).

Quanto à recreação, segundo a tutora, não havia uma rotina específica, apenas
brincadeiras esporádicas ao decorrer do dia. Foi relatado que o comportamento
agressivo deu início após uma mudança de casa, acrescida pela visita dos pais da
tutora, com quem os animais ainda não haviam tido um prévio contato, e uma reforma
no telhado, que teve como consequência um fluxo maior de pessoas diariamente pela
casa, resultando em uma grande mudança de rotina no ambiente.

3.2 MODIFICAÇÕES SUGERIDAS E INSTAURADAS, E


RESULTADOS PRELIMINARES

Tendo em vista as condições ambientais, a tutora foi instruída a realizar


modificações como adicionar, no mínimo, mais três caixas de areia, mais três potes
de água, fonte de água, além de atributos enriquecedores de ambiente, como
prateleiras nas paredes, arranhadores e playgrounds adaptados para gatos.

Conforme as solicitações, o ambiente foi adaptado com 5 caixas de areia, 4


potes de água dispersados pela casa, quatro prateleiras na parede, e armários altos
vazios, e foi encomendado um playground próprio para gatos. Além das
recomendações listadas, foi sugerido que os tutores estabelecessem uma rotina de
21

recreação com o paciente, enfatizando também a necessidade de realizar a recreação


com todos os gatos da casa.

A tutora passou a realizar recreações a partir das brincadeiras preferidas do


paciente diversas vezes ao dia, instituindo a associação positiva, que consistia em
realizar brincadeiras na presença dos outros gatos, bem como oferecer recompensa
(alimento úmido) a cada vez que não houvesse demonstração de agressividade
durante os momentos de interação. A relação entre o paciente e as gatas fêmeas
passou a ser menos conflituosa com o passar de uma semana. Com o gato macho
não castrado foi sugerido que houvesse inicialmente uma separação, uma vez que o
maior problema de convivência era entre os dois gatos machos.

Após cerca de um mês de separação, os dois gatos machos estiveram juntos


pela primeira vez no mesmo ambiente ao precisarem passar por uma consulta
veterinária. Ao notar que os dois se mantiveram próximos sem demonstrar
agressividade, foi orientado à tutora que realizasse associação positiva a fim de
reaproximar o contato dos dois gatos, utilizando a técnica de oferecer alimento úmido
aos dois quando estivessem no mesmo ambiente (Figura
1).

Figura 1 – Paciente (amarelo e branco) e seu contactante não


castrado comendo alimento úmido no mesmo ambiente. Fonte:
imagem cedida e autorizada pela tutora.
22

Ainda que os dois gatos tenham conseguido se alimentar juntos sem brigas,
notou-se que, no momento em que paravam de comer, imediatamente o paciente e o
gato não castrado iniciavam vocalização, demonstrando desconforto um com a
presença do outro. Sugeriu-se que fossem afastados novamente. Cerca de duas
semanas após o contato, um dos gatos conseguiu abrir a porta do cômodo onde o
outro estava isolado e iniciou-se uma briga, havendo lesão leve em ambos os gatos.
Segundo relatos da tutora, desta vez a agressão partiu do gato não castrado.

Estabeleceu-se então a prática de recreação com o gato não castrado,


enquanto era posto novamente em isolamento. Sugeriu-se a realização da
esterilização cirúrgica do gato em questão, cuja orientação foi atendida. Após a
recuperação da cirurgia, foram realizadas recreações com brinquedos com ambos os
gatos machos, afastados, porém estando no mesmo ambiente.

3.3 RESULTADOS POSTERIORES

Atualmente, cerca de 3 meses após a consulta comportamental, os relatos da


tutora são de que a relação entre o paciente e as outras gatas está cada vez mais
harmoniosa, e que o paciente demonstra estar mais carinhoso, sem haver episódios
de agressão aos outros animais e aos contactantes humanos. Também é relatado que
não há mais vocalização. Quanto ao segundo gato macho, anteriormente
descrito como “não castrado”, a tutora relata que as práticas de associação positiva
através da recreação estão rendendo bons resultados, visto que os dois gatos machos
conseguem brincar no mesmo ambiente sem partir para agressão (Figura
2).
23

Figura 2 – Paciente (amarelo e branco) e seu contactante


macho brincando com erva-de-gato, próximos um do outro,
sem sinais de agressão. Fonte: imagem cedida e
autorizada pela tutora.

4 DISCUSSÃO

O motivo que levou a tutora do animal a procurar uma consulta comportamental


foi a desarmonia entre os gatos da casa, inicialmente causada por um gato que
demonstrava estar sob estresse e apresentava agressividade. Segundo Parker
(1992), a agressividade é algo comum entre os animais e se deve levar em
consideração o ambiente em que o animal está inserido, a fim de determinar a causa
para esse tipo de comportamento.

Levando em consideração a afirmação de Parker (1992), a anamnese se


baseou em identificar os comportamentos apresentados pelo paciente, bem como
compreender o ambiente, no que se refere a número e tipo de contactantes, recursos
oferecidos e espaços disponíveis.

Os comportamentos que o paciente apresentou confirmam os estudos de


Jongman (2007) e Nogueira (2018), que levantaram que os distúrbios
comportamentais mais comumente apresentados pelos gatos são arranhões,
vocalização excessiva, demarcação de território através de eliminação, mordida em
humanos e agressividade.
24

Ainda que o paciente demonstrasse sinais de agressividade para com todos os


gatos da casa, a maior queixa da tutora era a grande ocorrência de brigas entre o
paciente e o outro gato macho, o que corrobora com a afirmação de Chapman (1991),
sugerindo que ataques direcionados a outros gatos podem ter sua causa baseada no
sexo, compreendendo principalmente interações agonísticas entre gatos machos.

As instalações onde os animais convivem, descritas como um apartamento


pequeno, contendo 4 potes de comida, um pote de água, uma caixa de areia, sem
arranhadores nem prateleiras, foram consideradas insuficientes em relação aos
recursos minimamente necessários para o bem-estar felino. Ellis (2009) afirma que a
falta de estimulação ou de recursos podem induzir a um estado emocional negativo.
No ambiente também não existiam atributos para favorecer esconderijos, o que vai de
encontro com diversos estudos que investigam a necessidade de estratégias de
enriquecimento. O’Farrell (1994) estudou a importância de prover áreas específicas
para cada atividade fisiológica (dormir, se alimentar, urinar e defecar), bem como
Loveridge (1994), McCune (1995) e Overall e Dyer (2005) estudaram a necessidade
de implementar no ambiente atributos verticais, a fim de fornecer ao animal a opção
de manifestar seu comportamento natural de escalar, pular e arranhar.

As brincadeiras realizadas com os gatos ocorriam de forma esporádica,


entretanto é sabido que a recreação consistente implica bem-estar físico e psicológico
no animal, o que é explicado através do estudo de De Monte e Le Pape (1997), em
que foi verificado que, mesmo quando confinados, gatos que brincavam diminuíram
consideravelmente o tempo ocioso, confirmando que a recreação através de
brinquedos ajuda no processo de enriquecimento.

Os comportamentos anormais e agressivos do paciente deram início a partir de


uma sequência de fatores, em que a família passou por mudança de casa, visita de
parentes e reforma no novo apartamento, promovendo um fluxo de pessoas
desconhecidas pelos animais no ambiente. Este fato corrobora com a teoria de
Oliveira (2002), que afirma que o comportamento do gato pode ser influenciado por
fatores ambientais, incluindo mudança de ambiente e a interação com humanos. Ellis
(2009) também concorda que a introdução a uma nova casa ou mudanças no
ambiente doméstico, bem como a introdução de novos membros na casa podem ter
influência no estado emocional do gato.
25

A visita de parentes em casa, assim como a presença de pessoas


desconhecidas durante a reforma do apartamento, pode ter desencadeado altos níveis
de estresse no paciente, conforme elucidam Gourkow e Fraser (2006) no estudo em
que verificaram que gatos confinados que tinham contatos com várias pessoas
diferentes no decorrer de algumas semanas apresentaram níveis de estresse mais
elevados do que aqueles animais que passaram um determinado período tendo
interação com as mesmas pessoas de forma consistente. Guidelines da AAFP e ISFM
sugerem que as necessidades ambientais do gato incluem, além do seu ambiente
físico, seja dentro ou fora de casa, também as condições que afetam a interação
social, incluindo as respostas ao contato com humanos (ELLIS, 2013).

Assim como apontam Cornell et al. (2007) no seu estudo em que é proposto
um plano de enriquecimento, foi sugerido à tutora realizar modificações ambientais,
considerando as condições de espaço e recursos oferecidos na casa. Ellis (2009)
confirma que a adição de estruturas físicas no ambiente propicia a oportunidade do
gato de desenvolver seus comportamentos típicos, trazendo sentido positivo à conduta
adotada neste caso.

Recomendações de estabelecimento de rotina de recreação também foram


dadas, assim como bem sugere o estudo de Henzel (2014), informando que os gatos
precisam de oportunidade para executar comportamentos predatórios lúdicos a partir
de brincadeiras rotineiras com brinquedos.

A tutora atendeu a todas as recomendações e ao longo de semanas foi possível


perceber um avanço no relacionamento entre o paciente e os demais gatos,
confirmando parte do sucesso da terapêutica instaurada, já que, de acordo com Ellis
(2009), pode se considerar que a intervenção se torna enriquecedora quando se
percebe a melhora no bem-estar dos animais envolvidos.

Apesar dos avanços, uma relação positiva entre o paciente e o outro gato
macho ainda não estava bem estabelecida, uma vez que ainda existiam conflitos,
portanto, foi sugerido que esses dois animais fossem afastados, isolando o outro gato
em um cômodo da casa, conforme indica Hunthausen (2007), que sugere que, em
determinados casos de agressividade entre gatos, a melhor opção é a separação dos
animais envolvidos.
26

Passado um mês de isolamento do outro gato macho, os dois gatos tiveram a


oportunidade de estarem no mesmo ambiente devido à necessidade de uma consulta
veterinária para ambos. Ao notar que não houve tentativa de agressão, a tutora foi
instruída a fazer a reintrodução do outro gato macho ao ambiente do paciente na casa,
porém não obteve sucesso, uma vez que os dois voltaram a demonstrar sinais de
agressividade. Acredita-se que houve falha no manejo do outro gato macho que ficou
isolado, uma vez que não foi proposta a modificação ambiental direcionada a ele, bem
como também faltou o estabelecimento de recreação, uma vez que a terapêutica foi
instaurada com foco maior no paciente.

Após um episódio de briga entre os dois gatos machos, foi proposto à tutora
que a rotina de recreação se estendesse ao gato em isolamento, a fim de melhorar o
seu bem-estar, corroborando com os estudos de Henzel (2014), De Monte e Le Pape
(1997), citados nessa discussão anteriormente. O gato em isolamento, além de ter a
rotina de recreação iniciada, foi submetido à cirurgia de esterilização, o que, de acordo
com Hunthausen (2007), pode ajudar a diminuir conflitos entre machos.

Cerca de três meses após a consulta inicial, depois de instituídas as estratégias


de enriquecimento ambiental, os relatos são de que não houve mais brigas entre
nenhum dos gatos, incluindo o outro gato macho, que foi reintroduzido ao ambiente
de forma estruturada, utilizando enriquecimento olfativo através do uso de erva-do-
gato enquanto estavam no mesmo ambiente, apoiando o que foi apontado no estudo
de DeLuca e Kranda (1992), em que os gatos demonstram interações positivas como
cheirar, brincar e apalpar ao serem estimulados pela ervado-gato.

O interesse e o empenho que a tutora apresentou em atender às


recomendações sugeridas foi fundamental para o sucesso da terapêutica instaurada,
confirmando o que diz o estudo de Stella (2016), que o determinante mais importante
dos resultados de bem-estar nos lares dos gatos é a atenção do proprietário para
atender as necessidades dos seus animais, uma vez que as decisões tomadas por ele
ditam as condições de vida do seu animal de estimação.
27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desse relato de caso clínico, foi possível reconhecer a importância do


enriquecimento ambiental para promover o bem-estar individual e coletivo dos gatos.
Ainda se percebe a grande necessidade de estudos mais aprofundados no âmbito do
comportamento felino, bem como no que se refere aos distúrbios comportamentais
que envolvem a agressividade entre gatos. Pode-se sugerir que, nesse caso relatado,
a implementação do enriquecimento ambiental foi fundamental para a resolução dos
problemas de agressividade, uma vez que a relação do paciente com as demais gatas
teve uma melhora significativa, entretanto não se pode ignorar que a esterilização
cirúrgica do segundo gato macho também teve grande influência no sucesso da
terapêutica, já que somente após a esterilização, associada a medidas de aumento de
interação direcionadas a este gato, foi possível uma reintrodução mais segura.
28

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