Ação Sob Fogo: Fundamentos Da Motivação para o Combate.
Ação Sob Fogo: Fundamentos Da Motivação para o Combate.
Ação Sob Fogo: Fundamentos Da Motivação para o Combate.
RESENHA CRÍTICA
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
GOULART, Fernando Rodrigues. Ação sob fogo: fundamentos da motivação para o combate.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2012, 336p.
CREDENCIAIS DO AUTOR:
O autor da obra, Fernando Rodrigues Goulart, foi declarado Aspirante a Oficial em 1980 pela
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), tendo realizado todos os cursos da carreira e
atingido o posto de Oficial General em 2011. Possui especialização na atividade de Forças
Especiais e atuou como instrutor das principais escolas de formação e de altos estudos da
Força Terrestre.
Possuidor de rara experiência em missões no exterior, atuou como observador militar da ONU
em Moçambique e no Nepal e como oficial de ligação sênior no Departamento de Operações
de Manutenção da Paz, no quartel-general da ONU em Nova Iorque, além de ter freqüentado
o Curso de Comando e Estado-Maior das Forças Armadas na Alemanha.
Comandou, de março de 2012 a março de 2013, a Força das Nações Unidas no Haiti.
Publicou artigos, relacionados ao tema desta obra, nas revistas A Defesa Nacional e Military
Review, bem como apresentou monografias na Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército.
CONHECIMENTO:
Aos leitores que se interessam por assuntos relacionados à defesa, a referida obra é de grande
valia, principalmente pelo fato de reunir, em um único volume, conceitos de grande
importância aos líderes militares e fundamentais para a preparação do combatente. Suas
páginas se destinam a apresentar um estudo aprofundado sobre os mecanismos de motivação
do homem, passando pelas teorias clássicas de David McClelland, Frederick Herzberg e
Abraham Maslow, até as de Sun Tzu, Clausewitz e outros teóricos militares, intervalados de
exemplos desde as guerras Gregas até as ocorridas até o início dos anos de 1990.
Segundo o autor, o trabalho resulta de uma ampla investigação sobre a motivação para o
combate, ou seja, sobre tudo aquilo capaz de levar o soldado a lutar e a persistir no campo de
batalha.
O quarto e o quinto capítulo são voltados ao tema central do livro, narrando sobre o
significado, a essência e sobre os fatores da motivação ao combate. Nesses capítulos, o autor
apresenta uma análise comparativa das teorias sobre o comportamento humano e as práticas
relacionadas ao emprego desse conhecimento no processo motivacional de pessoas.
Sob essa ótica, o autor nos indaga sobre que fatores teriam que entrar em cena para permitir
que homens e/ou mulheres vençam essas barreiras e como esses fatores atuariam e poderiam,
uma vez desenvolvidos, serem mantidos? O autor procurou fundamentar, nas páginas
seguintes, a busca das respostas a tais indagações.
Escrito com simplicidade, clareza e objetividade, o trabalho é resultado de um árduo processo
de pesquisa por meio do qual o autor soube, com excelência, avaliar, selecionar, interpretar e
integrar ponderável quantidade de informações, ideias, teorias, percepções e exemplos. Como
resultado, somos presenteados com um texto que representa, além dos pensamentos do
próprio autor, os de estudiosos e grandes líderes militares, retratados em um estudo
abrangente, aprofundado e metódico.
Mais do que isso, a leitura da presente obra permite, aos profissionais militares e aos
pesquisadores relacionados a temas militares, a assimilação de conhecimentos de extrema
utilidade, uma vez que aborda, em seu conteúdo, casos históricos envolvendo o Exército
Brasileiro, entre outros exércitos, bem como destaca os aspectos atinentes à motivação do
soldado para o combate em tempo de paz, quando ele precisa estar preparado para lidar com
as tensões de conflitos armados de diversas naturezas.
Como o autor faz questão de ressaltar, é imprescindível que o Estado brasileiro mantenha o
componente militar de seu poder nacional capacitado a dissuadir ameaças e atuar em defesa
dos interesses nacionais relevantes. Complementa, ainda, que a posse de tecnologias
avançadas e de equipamentos militares modernos contribui para conformar essa capacidade,
mas isso, por si só, não é o suficiente. A existência de tropas de qualidade e motivadas
representará sempre um trunfo de inestimável valor.
CONCLUSÃO DO AUTOR:
O autor aborda, em suas considerações finais, uma síntese dos elementos constantes no texto
do trabalho, compilando ideias e fechando as questões apresentadas ao longo da obra.
A primeira das conclusões apresentadas diz respeito ao fato de o mundo ainda continuar
sendo palco de muitos atritos, em que pese já terem se passado décadas depois das arrasadoras
guerras mundiais do século passado e dos vários conflitos gerados por interesses diversos.
Nesse contexto, o autor faz uma ressalva ao Brasil que, ao expressar-se como potência, deverá
estar pronto para operar com crises e conflitos armados das diversas naturezas.
Seguindo essa linha de raciocínio, o autor apresenta a Força Armada, ou o componente
militar, como sendo essencial para que qualquer Estado tenha capacidade de dissuadir
ameaças e possa dispor de uma variedade de opções que o habilite a intervir decisivamente na
política internacional. A própria história dos conflitos armados ratifica essa informação. A
posse de material e equipamentos modernos pode contribuir para conformar essas
capacidades, mas, a história é bastante clara em demonstrar que a qualidade das tropas e a
disposição dos soldados para lutar representam um trunfo de inestimável valor.
Ao abordar o tema central da obra, que trata dos motivos que levam o soldado a lutar e como
eles atuam para exercer seu poder motivador, o autor destaca os fatores de motivação que,
segundo ele, seriam os mais importantes, como o senso de dever, a legitimidade da própria
causa, a eficiência da força em operações, a coesão das pequenas frações e a liderança de seus
comandantes. Os aspectos relativos à motivação para o combate durante o tempo de paz
também receberam uma consideração especial no contexto da obra.
Dentro desse contexto, o autor conclui que o mais difícil na tarefa de contar com tropas
preparadas para a guerra é mantê-las, permanentemente, motivadas para o combate. No seu
entendimento, recrutar, equipar e treinar uma força militar não é o suficiente para assegurar
que, uma vez no teatro de operações, a tropa vai combater com determinação. Do mesmo
modo, é errôneo afirmar que em combate é possível se desenvolver um estado de motivação
sem que, em tempo de paz, tenha se construído uma base sólida. Erro grave também comete
quem parte da premissa de que a questão da motivação fica automaticamente solucionada com
a existência de líderes eficientes, como se tivessem competência exclusiva ou capacidade
irrestrita para motivar seus homens. Convém ressaltar que a liderança tem seu papel de
destaque nessa questão, uma vez que, ao líder compete identificar motivos capazes de
incentivar seus subordinados e sugeri-los no momento oportuno, apesar que, no variado
conjunto de circunstâncias capazes de afetar a motivação humana, muitas fogem do controle
ou da influência dos elementos em comando da tropa. Esse processo é interiorizado em cada
soldado.
É evidente que, no meio militar, exista uma preocupação coletiva com o moral da tropa.
Contudo, ao se gerenciar o estado de ânimo da coletividade, é preciso dedicar especial
atenção à preparação psicológica de cada soldado em particular. No calor da batalha, é
necessário que os combatentes sejam capazes de fazer o juízo moral correto e percebam
claramente os motivos para lutar, pois disso poderá depender o curso de toda a operação de
guerra.
Segundo o autor, os valores morais são aspectos de extrema importância nesse processo. Se
for certo que alguns deles, como a honra, o dever e o espírito de sacrifício, são primordiais
para as instituições militares, tais valores não podem deixar de ser cultuados também pela
sociedade.
O autor acredita que, em caso de crise ou de conflito, embora seja o Governo que fixe os
objetivos a serem atingidos, é preciso que eles sejam percebidos por todos os cidadãos como
elementos de uma causa nacional, pois só assim os soldados, que são aqueles que em última
instância vão assegurar a conquista dos objetivos, poderão aceitar seu sacrifício como um
imperativo de sua vida em sociedade. Portanto, é a disposição da sociedade em defender seus
legítimos interesses, e não as imposições do Estado, que mais vai refletir na determinação de
seu segmento fardado para empunhar as armas. A vontade dos soldados de cruzar a linha além
da qual a morte é quase certa será, sempre, a condição mais importante para a obtenção da
vitória.
APRECIAÇÃO:
Pode-se depreender que, ao iniciar o tema, sob um painel histórico, comparando os fatos
ocorridos em guerras anteriores com as teorias motivacionais e conceitos da ética, da
psicologia e da sociologia, o autor procura contextualizar seus leitores nesse universo dos
grande conflitos, apresentando a visão de alguns pesquisadores e de ex-combatentes, para, ao
final da obra, culminar em uma exposição criteriosa dos fatores capazes de fazer o soldado
enfrentar a morte no campo de batalha. A utilização dos estudos realizados pelo canadense
Anthony Kellet e o General alemão Dirk Oetting, que se dedicaram exclusivamente ao tema
motivação para o combate e procuraram não limitar seus estudos à análise do comportamento
de soldados de uma única nacionalidade, engrandecem a ideia principal da obra e conduzem
os leitores a uma reflexão sobre os fatores considerados importantes no comportamento dos
soldados.
A obra, porém, não trata apenas dos conflitos ou dos relatos de ex-combatentes. Repleto de
detalhes e exemplos, o livro Ação sob Fogo! não pode deixar de ser contemplado por líderes
militares ou por todos aqueles que posuem interesse por temas relacionados à segurança,
defesa ou gerenciamento de pessoal em situações adversas, pois apresenta as condições
favoráveis e os aspectos que o líder deve procurar propiciar aos seus comandados, de forma a
despertar neles a motivação ao cumprimento de suas missões.
Após percorrer os quatorze capítulos escritos pelo autor, é possível afirmar que os fatores que
levam o soldado a arriscar a sua vida em um campo de batalha estão intrinsecamente
relacionados à cultura de cada nação e, por inferência, à cultura militar do país. É nesse viés
que os líderes irão encontrar a maioria dos fatores de motivação individuais e coletivos, de
forma a conduzirem seus comandados no sentido que se predisponham positivamente para as
ações no campo de batalha.