O documento discute a gestão pública e administração pública no Brasil. Apresenta a evolução histórica da gestão pública no país desde 1930 e conceitos como nova gestão pública e governança democrática. Também destaca a importância da participação social nos processos de formulação e implementação de políticas públicas.
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Descrição original:
TCC - Gestão de Políticas Públicas e Desenvolvimento Local
O documento discute a gestão pública e administração pública no Brasil. Apresenta a evolução histórica da gestão pública no país desde 1930 e conceitos como nova gestão pública e governança democrática. Também destaca a importância da participação social nos processos de formulação e implementação de políticas públicas.
O documento discute a gestão pública e administração pública no Brasil. Apresenta a evolução histórica da gestão pública no país desde 1930 e conceitos como nova gestão pública e governança democrática. Também destaca a importância da participação social nos processos de formulação e implementação de políticas públicas.
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2.
DESENVOLVIMENTO
2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.1. Gestão Pública e Administração Pública
Gestão, conforme Nascimento (2010) é uma prática que deve ser
aprimorada para o alcance de fins determinados. Neste contexto, para Santos (2006), a Gestão Pública pode ser entendida como gerência dos negócios do Governo por meio da Administração Pública que visa atender aos interesses da coletividade, ou seja, ao interesse público. Segundo Santos (2006) as políticas públicas correspondem à forma com que o Estado busca atender as necessidades coletivas. Ao pensar políticas como meio e necessidades coletivas como fins, devem ser abordados os processos de formulação, implementação e avaliação utilizando-se de dimensões conceituais e metodológicas de políticas públicas. Para Trevisan e Bellen (2008) compreender o sucesso e fracasso das políticas públicas implantadas é fundamental para o melhor desempenho da Administração Pública, visto que estas influenciam diretamente no planejamento governamental. Assim, aponta Nascimento (2010) que o foco em resultados orientado para o desempenho pressupõe planejamento, definição de instrumentos, mensuração de desempenho e avaliação das políticas públicas. Para compreender a aplicação destas políticas faz-se necessário esboçar um aparato teórico a respeito da Gestão Pública, das políticas públicas e dos aspectos a estas relacionadas para conciliá-las com a prática desenvolvida na gestão pública na esfera municipal a fim de alcançar o desenvolvimento local.
2.1.1.1. Desenvolvimento da Gestão Pública no Brasil
A política adotada até 1930 era a do clientelismo. Tal política privilegiava
a elite ruralista mineira e paulista, principal eixo de comando político na república velha. Garantia, à elite, privilégios sociais e econômicos, como, também, a impunidade diante da corrupção e demais benefícios. Com a revolução de 1930, o sulista Getúlio Vargas assumiu o poder e adotou práticas inovadoras para a gestão pública brasileira. O Estado ganhou um novo perfil: o de desenvolvimentista e de articulador na consolidação de uma nova identidade nacional. (FREITAS, DACORSO, 2014). Em 1979, durante a ditadura militar, apenas uma política foi desenvolvida em relação à inovação dos processos públicos: a criação do Ministério da Desburocratização. A principal prática inovadora foi a de ressaltar que o contribuinte não é um súdito do Estado, mas um cliente com direito à boa prestação de serviços públicos (FREITAS, DACORSO, 2014). A década de 80 foi marcada por reformas orientadas para a democratização das políticas públicas. Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, inaugurou-se um ciclo descentralizador. Os recursos antes administrados pela União foram transferidos para os Estados, Distrito Federal e Municípios. Isto proporcionou mais autonomia aos entes governamentais. Paralelamente, a sociedade civil mobilizou-se e passou a envolver-se com as ações do poder público de forma mais ativa, especialmente nas áreas de saúde, educação e assistência social. Tal posicionamento levou a criação de novos espaços públicos de interação e negociação. Nesse contexto, novos conceitos de gestão foram difundidos junto à máquina estatal. A disponibilidade do governo em ouvir os apelos da sociedade culminou na inovação institucional, a saber, a promulgação da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Esta lei, denominada Lei de Acesso à Informação, disciplina os procedimentos a serem seguidos pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a fim de garantir acesso da população às informações públicas (FREITAS, DACORSO, 2014). Posteriormente, buscou-se estreitar a comunicação entre sociedade/governo a partir do orçamento participativo. Segundo Freitas e Dacorso (2014), a inserção das práticas de administração privada na gestão de órgãos públicos ficou conhecida como New Public Management (NPM) ou Nova Gestão Pública (NGP). A Nova Gestão Pública enfoca o cidadão como sendo um cliente e tem como objetivo atender suas necessidades e expectativas. Atualmente, existe a necessidade de integrar o cidadão ao processo decisório da administração pública, ou seja, no processo de decisão política. A contribuição dos cidadãos, representantes dos interesses locais, também denominados stakeholders, contribuem, de forma inovadora, para a solução de vários problemas enfrentados pelo governo. Segundo Freitas e Dacorso (2014), a Open Government Partnership – OGP, implementada desde 2011 no Brasil, representa o esforço governamental de utilizar práticas da administração privada na administração pública. Seus compromissos, dentre outros, é a aproximação da sociedade do processo decisório do governo, combater a corrupção, estimular a transparência e incentivar o uso de novas tecnologias. O governo brasileiro, signatário deste programa, criou um programa federal de acesso à informação visando estimular a transparência. Criou, também, um banco único de dados que visa facilitar e otimizar o acesso às informações contidas no programa, empenhando-se concomitantemente em capacitar seus recursos humanos e aproximar-se, dessa forma, dos stakeholders. As ouvidorias representam, ainda, um canal que faz com que a sociedade seja capaz de se aproximar do governo, exprimindo, para tanto, as suas reclamações e sugestões. Este feedback dado pela sociedade a partir das ouvidorias proporciona que o governo busque o aprimoramento contínuo de seus serviços. A implementação de todas estas medidas e o investimento em tecnologia da informação capacitam o governo federal, o estadual, o distrito federal e o municipal a alcançar uma maior comunicação e eficiência na gestão pública.
2.1.1.2. Gestão Democrática e Participação Social
O ritmo de mudanças nesses últimos anos, fez-se necessário uma
comunicação entre estados, sociedade civil e entes privados. Essa comunicação exige uma postura política diferente para cada ator envolvido nesse processo. O Estado deve adotar a postura do compartilhamento do poder, enquanto da sociedade, impõe-se a abertura para diálogos e ocupação de espaços públicos, assim como também participar de maneira ativa na formulação, implementação e processos decisórios de políticas públicas (ARNS, 2010). Logo, esse tipo de governança permite uma participação mais pertinente dos atores sociais, em processos decisórios. Ou seja, conceder a população oportunidades de estar presentes em ações governamentais, bem como modificar ou influenciar essas ações torna a gestão democrática. Paulo Cesar Arns, ainda salienta que a participação social é uma importante etapa na eficácia de programas públicos:
A participação social possibilita aos atores sociais e agentes econômicos
incorporarem a sabedoria e o conhecimento popular e empresarial na formulação das respostas e nos mecanismos (meios e modos) de implementação de ações que buscam a resolução de problemas e a melhoria da qualidade de vida do território, bem como valoriza os governos locais como representantes legítimos para liderarem, de forma compartilhada, a governança nos territórios (ARNS, p. 7. 2010).
Ainda sobre a atuação coletiva, esse autor esclarece que a governança
democrática necessita de um capital humano e social e uma maior capacidade de entendimento da sociedade civil. Nesta ordem, é fundamental fortalecer o capital humano e social para ter condições de estabelecer processos de negociações e realizar cooperações entres instituições para gerar desenvolvimento local (ARNS, 2010). Filgueiras (p. 80, 2018) estabelece que a governança democrática funciona como um modelo eficiente de gestão pública:
É o modelo de administração aberto ao público e que dirige serviços e políticas
para o cidadão. A governança democrática é o modelo de administração pública que vai além do gerencial e no qual a qualidade dos serviços públicos importa para a cidadania. A governança democrática significa a administração em público, para a qual, além da eficiência e da eficácia, importa a legitimidade da ação estatal, tendo em vista serviços e políticas públicas capazes de promover a equidade e adicionar valor público à ação do Estado (FILGUEIRAS, p.80, 2010).
Notadamente esse modelo oferece desafios na forma de administrar,
mas ao mesmo tempo fortalece a qualidade dos serviços públicos, possibilitando a eficácia e eficiência de tais serviços. Ademais, contribui para legitimar a autoridade de órgãos públicos, facilitando ainda a criação de imposições, e programas visando o bem comum (FILGUEIRAS, 2018). No Brasil, a população tem uma grande dificuldade em legitimar ações, instituições e serviços públicos, isto porque, a grande maioria desses serviços são dotados de ineficácia, ineficiência e inefetividade, ou seja, todavia houve um mau funcionamento da máquina pública. Historicamente essas atuações estão ligadas a falta de profissionalização, capacitação e treinamento de servidores públicos, pela corrupção desapoderada e por modelos de gestão ultrapassados. Angelis (p.28, 2015) enfatiza que a adoção de procedimentos para envolver cidadãos no governo visa obter mais legitimidade e apoio para as ações, além de obter conhecimentos e informações que o governo não possui. Neste contexto, Filgueiras (2010), destaca que conceito de governança foi ganhando corpo como mecanismo de crítica ao modelo de gestão da New Public Management. A governança democrática aumenta a capacidade da gestão, trazendo o foco, para a criação de espaços, programas e políticas que visem o interesse coletivo. Segundo a literatura sobre participação popular, alguns mecanismos de participação a nível municipal têm sido mais efetivos que mecanismos criados pela esfera federal, para tentar obter conhecimento coletivo, mesmo que sem o intuito de aplicá-lo no processo decisório (ANGELIS, 2015). Atualmente a governança pública está atrelada à diversos outros nomes e significações, esses na sua maioria destacam a participação entre as esferas locais, regionais e sociedade civil. Angelis (p.27, 2015) considera “a governança compartilhada muda a situação da dependência da comunidade com relação ao poder público para uma situação de corresponsabilidade e cidadania no desenvolvimento de ações”. Apesar deste estudo utilizar o conceito de governança democrática, também é explanada aqui outros termos que também são utilizados para defender a participação coletiva nos processos decisórios e de gestão local, tal como, a governança compartilhada, que é uma forma de unir as ações de poder local com a sociedade, isto é, esses atores atuam em conjunto a fim de melhorar a realidade dos municípios. 2.1.1.3. Princípios da Administração Pública
A administração pública é um dos ramos do Direito que visa um conjunto
de fatores, funções e representantes estabelecidos pelo Estado, com o intuito de formular políticas que atinjam a sociedade beneficamente. Assim como afirma Hely Lopes Meirellles (1998):
Em sentido lato, administrar é gerir interesses, segundo a lei, a moral e a
finalidade dos bens entregues à guarda e conservação alheias. Se os bens e interesses geridos são individuais, realiza-se administração particular; se são da coletividade, realiza-se administração pública. Administração pública, portanto, é a gestão de bens e interesses qualificados da comunidade no âmbito federal, estadual ou municipal, segundo os preceitos do Direito e da Moral, visando ao bem comum. (MEIRELLES, 1998).
O objetivo principal da administração pública é atender os interesses da
população em sua gestão de serviços, progredindo de forma menos burocrática. Para isso, deve-se seguir vários princípios que norteiam essas ações, em que estas estão expostas no artigo 37 da Constituição Federal de 1988, sendo as seguintes: Moralidade, Eficiência, Legalidade, Publicidade e Impessoalidade. Melhor descrevendo esses princípios, entende-se por Moralidade como a ética do indivíduo, observando se as ações que ele pratica prioriza também o coletivo independente de seu nível hierárquico. A Eficiência diz respeito à busca de resultados mais ágeis para sua função, facilitando o seu processo de trabalho, atendendo sempre as necessidades e interesses públicos. Já a Legalidade zela sempre pelos princípios legais expostos na Carta Magna que determina quais ações são cabíveis ao poder público e que a administração pode fornecer, garantindo que todos os atos praticados são lícitos e permitidos pela lei. A Publicidade é a divulgação dos atos e atividades do setor público, bem como, a prestação de contas e a transparência em suas ações, colocando em ativa os processos e normas que gerem o governo aberto. Por fim, a Impessoalidade, que preza pelo bom atendimento e igualdade de tratamento a todos os indivíduos, levando em conta a realização do seu trabalho, independente do solicitante e da proximidade ou parentesco que ele possua com o servidor. Estes princípios estão interligados e um complementa a necessidade do outro, tornando assim, quando seguidos corretamente e constantemente, uma gestão e prestação de serviços de qualidade, atendendo as demandas populares e de governo, gerando um grau de satisfação coletivo, sendo este, um dos principais objetivos da administração pública. A organização administrativa do Brasil está pautada em competências gerais centralizadas em órgãos públicos e em entidades criadas com intuito de gerar mais autonomia, corroborando com a melhoria na prestação dos serviços públicos. Assim, classificou-se em Administração Direta o conjunto dos órgãos públicos, e em Administração Indireta as entidades criadas com o intuito de prestar serviços específicos. A distribuição de competências diz respeito a descentralização, a qual se divide em política ou administrativa. A descentralização política acontece quando o ente descentralizado exerce atribuições próprias que não decorrem do ente central, como exemplo, Constituição Federal. A descentralização administrativa, por sua vez, ocorre quando os entes descentralizados possuem autonomia para executar as competências que lhe foram atribuídas, mas nos exatos termos conferidos pela lei de sua criação, ou seja, para melhor execução de determinados serviços do Poder Executivo, este pode transferi-los a um ente que ele mesmo criar, por lei. A descentralização administrativa pode ser entendida por dois vieses, o da descentralização por colaboração e o da desconcentração. A primeira concerne na execução de determinado serviço público e é transferida para pessoa jurídica de direito privado, seja por ato administrativo bilateral ou unilateral, porém não há outorga da titularidade dos serviços, os quais permanecem com o Poder Público. Já a segunda versa sobre a diferença da descentralização, uma vez que se refere à distribuição de competências dentro de uma mesma pessoa jurídica. Trata-se, portanto, de delegações de atribuições. Mediante a análise do artigo 4º do Decreto-Lei nº 200/1967, tem-se que a Administração Pública direta é composta pelos órgãos do Poder Executivo, e, por sua vez, no âmbito federal, pela Presidência da República e Ministérios, de acordo com a Lei 10.683, de 25 de maio de 2003, que regula a Administração direta da União, ocupando-se, notadamente, da organização da Presidência e dos Ministérios. A Administração Direta concerne na prestação dos serviços públicos diretamente pelo próprio Estado e seus órgãos. De acordo com o inciso XIX do art. 37 da Constituição Federal de 1988, alterado pela Emenda Constitucional nº 19/98, fazem parte da Administração Pública Indireta as autarquias, fundações, sociedades de economia mista, agências, empresas estatais e consórcios administrativos, estendendo-se para todos os entes da federação, União, Estados Distrito Federal e Municípios. No âmbito federal, essa enumeração já era vista no Decreto-Lei 200/67, admitido pela Carta Magna de 1988. acordo com seu Art. 5º, para os fins desta lei, considerase: Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista e Fundações Públicas.
2.1.2 Políticas Públicas
Portanto, destaca Santos (2006) que por meio da Administração e da
Gestão Pública o Estado põe em prática as políticas de Governo. Nesta perspectiva é necessário compreender a análise de políticas de gestão pública em seu processo de formulação, implementação e avaliação.
2.1.2.1. Planejamento e Formulação
A Ciência Política busca analisar os fatos, ações e funcionamento das
instituições e avaliar os resultados das ações e das políticas implantadas. (MATIASPEREIRA, 2010a). A expressão política, objeto da Ciência Política, tem várias definições. Matias-Pereira (2010b) refere-se à política como uma atividade humana correlacionada ao poder. Esta visa atender a necessidade de convivência de interesses diversos que possam ser acordados por meio de processos institucionalizados e pacíficos. Política “(...) é derivada do adjetivo de polis – politikós -, que significa tudo o que se refere à cidade e, por decorrência, o que é urbano, civil, político, inclusive sociável e social” (MATIAS-PEREIRA, 2010a, p.12). Dessa forma, passa a ser identificada para atividades ou conjunto de atividades que tenha como ponto de partida a polis, ou seja, o Estado. Assim, a política é compreendida como atividade que busca a conciliação de interesses conflitantes em uma unidade de governo, tendo como objetivo o consenso entre as partes. Política, como destaca Matias-Pereira (2010a), tende a se confundir com governo, porque se relaciona diretamente com as ações governamentais. Políticas públicas, segundo Matias-Pereira (2010b) são instrumentos essenciais dos governos para lutar pela conquista, exercício e manutenção do poder político e também como estratégia para a intervenção social no sentido de correção das falhas de mercado. É “(...) a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos” (PETERS, 1986, apud SOUZA, 2006, p.05). Matias-Pereira (2010b) esclarece que as políticas públicas se apresentam como conjunto de disposições, medidas e procedimentos que espelham a orientação política do Estado e regulam atividades governamentais no que dizem respeito às tarefas de interesse público. Souza (2006) destaca que as teorias aplicadas às políticas públicas buscam explicação nas inter- relações entre Estado, política e sociedade. Já Rua (2009) expõe que as mesmas são um conjunto de procedimentos destinados à resolução pacífica dos conflitos em torno da alocação de bens e recursos públicos. De acordo com Matias-Pereira (2010b), os conflitos são mediados por instituições por serem resultantes da atividade política. O que implica analisar a inter-relação entre as instituições políticas, o processo político e os conteúdos da política. A fim de compreender as políticas públicas é necessário compreender a Análise das Políticas Públicas (Policy Analysis). Segundo Rua (2009) a Análise de Política tem por objetivo melhorar o entendimento a respeito da política e do processo político, de modo a apresentar propostas e aperfeiçoamento das políticas públicas. Dye (1976) apud Dagnino et al (2002) refere-se a esta, como descobrir o que os governos fazem, porque fazem e que diferença isto faz, ou seja, é a descrição e explicação das causas e conseqüências das ações do governo. Para Matias- Pereira (2010b), na análise de políticas levam-se em consideração aspectos inerentes ao processo de elaboração de políticas considerando que as mesmas não são resultados de uma decisão única e independente, mas de um elenco de decisões e de implementação de ações no decorrer do tempo. Frey (2000) aponta que são dimensões importantes da política para Análise das Políticas Públicas (Policy Analysis): policy (dimensão material), politics (dimensão processual) e polity (dimensão institucional). Sob a visão da policy, Matias-Pereira (2010b) trata a política pública como conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacifica dos conflitos. Já Rua (2009) refere-se à formulação de propostas, tomadas de decisões e sua implementação por organizações públicas, cujo foco é a coletividade, mobilizando interesses e conflitos. Policy é a atividade do Governo de desenvolver políticas públicas a partir do processo de política. Frey (2000) refere-se à policy como às configurações dos programas, problemas técnicos e conteúdo material das decisões políticas nas políticas públicas. O termo politics, segundo Matias-Pereira (2010b) preocupa-se com o processo político, refere-se à imposição de objetivos, aos conteúdos e as decisões de distribuição. Para Rua (2009) é resultante de ações dos atores políticos visando à defesa dos seus interesses e valores. A dimensão política (polity), conforme Matias-Pereira (2010b) refere-se à dimensão institucional delineada pelo sistema jurídico e à estrutura institucional do sistema político-administrativo. Assim a Análise das Políticas Públicas nas diferentes dimensões buscam alcançar objetivos públicos previamente estabelecidos, ou seja, adequar os meios aos fins. “A política é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados” (SOUZA, 2006, p.17). Neste contexto, Souza (2006) expõe que envolvem diversos atores. Rua (2009) chama estes atores de atores políticos (stakeholders). Estes podem ser indivíduos, grupos ou organizações cujos interesses podem ser afetados, de forma positiva ou negativa, pelo rumo tomado por uma determinada política. Como parte importante do Analise das Políticas Públicas, Frey (2000) cita o Ciclo das Políticas Públicas (Policy Cycle). O mesmo autor refere-se ao Ciclo das Políticas Públicas como um modelo interessante para a análise de vida das mesmas por meio de uma seqüência de elementos do processo político-administrativo, envolvendo os diversos atores. As fases seqüenciais deste processo são descritas por Matias- Pereira (2010b) como: formulação, implementação e avaliação das políticas públicas. Pinto (2008) acrescenta que o ciclo tenta explicar a interação entre as intenções e ações entre o ambiente social, político e econômico em contraposição ao governo, assim como desvendar sua relação. Atividades políticas para Easton (1965) apud Souza (2006) ocorrem a partir de um sistema que possui entradas (inputs) que se originam do ambiente externo, são processadas no sistema político e resultam em saídas (outputs) que são as decisões políticas. Para Matias-Pereira (2010b) uma política envolve mais que uma decisão e requer diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas. Uma decisão política resulta da escolha dentre as alternativas propostas, distribuída hierarquicamente entre os atores envolvidos e da opção que melhor adequar os meios aos fins pretendidos. Rua (2009) expõe que a integração entre a complexidade existente na estrutura das políticas públicas é resultante de uma série de atividades políticas que formam um processo político e reproduz as decisões a serem tomadas. Sendo essa útil para analisar os processos político-administrativos, mecanismos e estratégias, comportamento dos diversos atores envolvidos em cada etapa seqüencial e interativa do Ciclo das Políticas: formação de agenda, formulação, implementação, monitoramento e avaliação. O ciclo das políticas públicas é descrito na figura 1.
FIGURA 1
Ao elaborar o ciclo, Rua (2009) menciona que a formação de agenda
consiste na definição das prioridades para o governo reconhecendo-as como problemas políticos a partir da definição do problema e de sua análise. A formação de alternativas e a tomada de decisão ocorrem após a inclusão do problema na agenda, apresentação de propostas para sua solução e conseqüentemente tomada de decisão. A implementação compõe-se de conjuntos de eventos e atividades que acontecem após a definição das diretrizes da política, envolvendo os esforços de administrá-la e o impacto sobre os processos e as pessoas. É na maioria das vezes acompanhada do monitoramento, que consiste em um instrumento cujo objetivo é facilitar a consecução das políticas publicas e de seus objetivos pretendidos. “O estudo da implementação de políticas está relacionado à preocupação de explicar porque de determinadas política alcançam seus objetivos, ou seja, são bemsucedidas e outras não” (MATIAS-PEREIRA, 2010b, p.200). O autor ainda menciona que mesmo no processo de implementação, com a adoção e execução de uma política quando não se alcançam os objetivos desejados, é provável que as falhas estejam na formulação destas. A avaliação, para Rua (2009), compõe-se de procedimentos de julgar os resultados da política conforme critérios de valores, enquanto os ajustes são modificações a serem feitas para que sejam obtidos os resultados esperados. “Elaborar uma política pública significa definir quem decide o quê, quando, com que consequências e para quem” (TEIXEIRA, 2002, p.02). Para Pinto (2008) as críticas apontadas em relação ao ciclo de políticas públicas referem-se à sua descrição como processo seqüencial e ordenado e que as alternativas são cuidadosamente discutidas para o alcance dos objetivos, mas na pratica a elaboração da política é complexa e interativa. Aponta Rua (2009) que as políticas públicas ocorrem em um ambiente marcado por relações tensas entre os diversos atores sociais e institucionais. Souza (2006) destaca que depois de desenhadas e formuladas, as políticas públicas se desdobram em planos, programas, projetos, sistemas de informação e pesquisas. Quando postas em ação são implementadas e são submetidas a sistemas de acompanhamento e avaliação. Assim, Matias-Pereira (2010b) complementa que as políticas públicas se materializam, por de instrumentos legais (PPA, LDO, LOA); da execução das ações de governo (programas, projetos e atividades) e das definições normativas como leis, decretos, portarias e demais instruções.
2.1.2.2. Avaliação das Políticas Públicas
A Política Pública vista como ação intencional do Estado junto à
sociedade, segundo Matias-Pereira (2010b) deve ser avaliada sistematicamente levando em consideração sua importância e adequação às necessidades sociais. Considera mensurar, comparar, promover e julgar determinada ação tendo como referência um valor com a efetiva participação dos atores envolvidos no que está sendo avaliado. A avaliação das políticas públicas é uma avaliação formal, ou seja:
(...) exame sistemático de quaisquer intervenções planejadas na realidade,
baseado em critérios explícitos e mediante procedimentos reconhecidos de coleta e análise de informações sobre seu conteúdo, estrutura, processo, resultados, qualidade e/ou impactos (RUA, 2009, p.109).
Cotta (1998) cita que os conceitos na avaliação envolvem objetivos,
metas, população-alvo, efeitos, impactos, processos, resultados, eficácia, eficiência e efetividade. Para Matias-Pereira (2010b) o objetivo da avaliação de políticas públicas é assinalar os resultados positivos, negativos, erros e distorções de uma política pública para permitir seu aperfeiçoamento ou reformulação. Rua (2009) complementa que as mesmas centram-se no julgamento (porque envolvem valores); são sistemáticas (pois se baseia em procedimentos e indicadores reconhecidos e previamente estabelecidos); incidem sobre conteúdos (problemas e soluções), estratégias (estruturas), processos, (coordenação, atividades, capacidades, hierarquias de precedência), produtos, efeitos e impactos. E ainda, uma política culmina em programa ou projeto com critérios explícitos e a fim de contribuir para o aperfeiçoamento, melhoria do processo decisório, o aprendizado institucional e/ou aumento do accountability. Matias-Pereira (2010b) esclarece que determinada política pode ser avaliada, o que pressupõe a construção de metodologias específicas para este tipo de análise. Rua (2009) destaca que a avaliação possui duas dimensões: a técnica (caracterizada por produzir ou coletar, de acordo com procedimentos reconhecidos, informações utilizadas nas decisões) e a valorativa (exame de informações com critérios específicos, com a finalidade de extrair condições acerca do valor da política programa ou projeto). Mas, a avaliação deve ser vista como um processo de apoio para o aprendizado na busca por melhores decisões e aperfeiçoamento da gestão. Ainda que a análise de uma dada política pública possa atribuir a um determinado desenho institucional alguns resultados prováveis, somente a avaliação desta política poderá atribuir uma relação de causalidade entre um programa x e um resultado y (ARRETCHE, 2009, p.31).
Continua, Arretche (2009), que somente por meio da avaliação de
programas efetivamente implementados pode-se estabelecer relação causal entre determinada política pública e o sucesso ou fracasso quando da realização de seus propósitos, e também do resultado ou impacto sobre a situação social de sua implementação. “Os processos de avaliações das políticas públicas são realizados poder meio de modelos e conceitos, que devem obrigatoriamente levar em consideração o contexto social, político e econômico” (MATIAS-PEREIRA, 2010b, p.221). De acordo com Arretche (2009) é necessário o uso adequado de instrumentos e análises de políticas públicas para que não se confundam e se misturam interesses pessoais com os resultados obtidos. O interesse pela temática sobre indicadores e suas aplicações nas atividades de gestão pública tem ganhado ênfase nas diferentes esferas do governo.
2.1.3. Desenvolvimento Endógeno
A teoria do desenvolvimento tradicional defende um modelo de
crescimento centralizado, que gera receitas por meio da aplicação de incentivos e da realização de investimentos em infraestrutura e industrialização. Esse investimento induziria as localidades ao crescimento econômico por meio da distribuição de renda e da geração de emprego, conforme afirma Oliveira([S.d], p. 279):
Os projetos de desenvolvimento podem estar ligados a algum tipo de vocação
da região, como a existência de atividades típicas ou históricas, ou a alguma atividade econômica criada pelo planejamento em virtude da vontade política das lideranças locais ou regionais. Não há receita pronta para esse tipo de desenvolvimento. Contudo, há outras perspectivas para se entender o Desenvolvimento, que partem do reconhecimento de vetores de dentro do território para as demais regiões. São abordagens endógenas que concebem o Desenvolvimento Local, Territorial e Regional como estratégias sustentáveis e não ortodoxas para se promover o Desenvolvimento econômico.
2.1.3.1. Desenvolvimento Regional
Os modelos de desenvolvimento econômico convencional já não
respondem aos desafios do não desenvolvimento das periferias, do mesmo jeito que o PIB como indicador de crescimento econômico não corresponde ao estado de bem estar social, à divisão equitativa dos bens e à garantia da liberdade que se espera. A questão que se coloca anteriormente às novas abordagens do Desenvolvimento é a definição dos seus conceitos operacionais, como regionalização, territorialidade e localidade. Segundo Simões Lopes
...as definições tradicionais de regiões são centradas nas noçõesde
homogeneidade e polarização. Porém, se a definição estiver associadaao controle de um sistema, usa-se o critério da política, planejamento ou programação, devendo as regiões ter coerência político administrativa diante das decisões de políticas econômicas. (LOPES 1995, p. 33, apud CABUGUEIRA, 2000, p.105)
A região é um fenômeno antes socioeconômico do que geográfico. Essa
distinção pode ser ilustrada com a concepção de Hansem (apud CABUGUEIRA, 2000), para quem as características econômicas e sociais, como os padrões de consumo, de renda, a distribuição da força de trabalho, a existência de recursos naturais dominantes, o nível de rendimento e os comportamentos sociais são elementos que definem a região. Contudo, como bem pontua Cabugueira, “áreas que são uniformes sob alguns aspectos podem ser dessemelhantes em outros e esta tem sido uma das dificuldades dos geógrafos para determinarem os limites de regiões homogêneas.” Outro ponto crítico do conceito de territorial/endógeno/local é a relação entre economia interna e externa dentro de uma mesma região, pois as áreas - social e politicamente falando – comercializam entre si, como agentes econômicos autônomos e pensantes. Nessa negociação entre as regiões, o pertencimento geográfico não é levado em conta, mas as vantagens econômicas comparativas e as vantagens políticas da transação. Apesar dos esforços teóricos para dotar a palavra região de sentido social, político e econômico, existem diversas críticas a essas teorias regionalistas. Elas surgiram da constatação de que as desigualdades regionais persistem, confirmando as desigualdades socioeconômicas em nível mundial. Da impossibilidade da expressão Desenvolvimento Regional denotar todas as complexas e dinâmicas relações, surgiram os termos Desenvolvimento Local e Desenvolvimento Endógeno que, nos anos 80, transformaram-se na principal estratégia de Desenvolvimento Territorial. O Desenvolvimento Local, conforme Cabugueira, assume as designações de Desenvolvimento Endógeno (GREEFE, 1986), e mesmo de Desenvolvimento Territorial (FREEDMAN;WAVER, 1979), podendo ser tomados como sinônimos. Independentemente da acepção escolhida, há de se reconhecer que a política de desenvolvimento ortodoxa estava atrelada à industrialização e urbanização de meados do século vinte. Desse modo, desenvolvida era a região que produzia em escala, implantava indústrias e se beneficiava da economia de aglomeração. Com a dinâmica do capitalismo moderno,as mudanças sociais e econômicas mostraram que esse modelo de desenvolvimento pautado na indústria foi insustentável. Por isso, neste trabalho em que se percebe o Estado como indutor de desenvolvimento local em um Território específico, interessa o conceito de Territórios que, segundo Duarte (2009), não se explica apenas por critérios objetivos, mas pelo modo pelo qual a população elabora a própria identidade, os sentimentos de pertencimento e destinos, destacando-se, ainda, a relevância dos laços cotidianos na estruturação dos territórios.
O conceito de espaço como suporte geográfico no qual se desenvolvem as
atividades socioeconômicas costuma trazer implicitamente a idéia de homogeneidade, e as preocupações fundamentais a ele relacionadas referem- se à distância, aos custos de transporte, à aglomeração de atividades ou à polarização do crescimento. Mas, a partir da perspectiva do desenvolvimento local e regional, interessa-nos basicamente outro conceito diferente, qual seja o de “território”, que compreende a heterogeneidade e a complexidade do mundo real, suas características ambientais específicas, os atores sociais e sua mobilização em torno das diversas estratégias e projetos, e a existência e o acesso aos recursos estratégicos para o desenvolvimento produtivo e empresarial. Em síntese, em face do conceito de espaço como contexto geográfico dado, interessa-nos ressaltar o conceito de território como ator do desenvolvimento. (LLORENS, 2002, p. 111).
Pensar a questão territorial e local brasileira e baiana é se debruçar
sobre os modos possíveis para transformar a realidade do Estado, a partir de estratégias de superação das inúmeras desigualdades que marcam e cindem o País. Discutir Desenvolvimento Territorial/Local/Regional impõe refletir Sobre quais são os vetores estratégicos de desenvolvimento, quais as forças, potenciais, infraestruturas e tecnologias, que dinamizam o desenvolvimento das diversas regiões e territórios, e que podem sustentar a igualdade e equidade entre esses lugares, sob uma coordenação eficiente dos esforços.
Do ponto de vista regional, o conceito de desenvolvimento endógeno pode ser
entendido como um processo de crescimento econômico que implica uma continua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção, bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local e/ ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região. (LLORENS, 2002, p. 262).
3.1.3.2. Desenvolvimento Local
O surgimento da ideia de Desenvolvimento Local está ligado ao
reconhecimento de que a Globalização é um processo que não tem equidade em sua relação distributiva com os agentes econômicos locais ou transnacionais. A globalização moderna se caracteriza pela expansão horizontal dos mercados e sua integração vertical. Ou seja, as empresas mais fortes, donas de maior capital, crescem para além das suas fronteiras nacionais, expandindo- se por países e regiões estrangeiros. Um dos mais eficientes modos dessa expansão horizontal é a criação de novas necessidades entre as populações mundiais. Por meio desse artifício, os indivíduos de diferentes países e culturas se percebem necessitados e dependentes de produtos e serviços estrangeiros. Na maioria das vezes, esses bens pouco ou nada lhes beneficiam, mas cumprem o papel de inserí-los na cultura globalizada, por meio da sua entrada nos padrões de consumo mundiais. O aspecto horizontal da Globalização, por usa vez, implica em um modelo de integração no qual os mercados menos competitivos são integrados de modo subordinado aos mercados mais competitivos, e dependentes das suas demandas e interesses. A Globralização trouxe a standardização ou padronização dos hábitos e consumos, em escala mundial. Nela, as empresas de maior destaque e prestígio são aquelas que mais investem em pesquisas, tecnologias, patentes, designs e inteligência estratégicos. Outra faceta da natureza da globalização atual é a volatilidade do capital financeiro. Nesse setor, as tecnologias de ponta, que permitem rapidez instantânea nas transações, permitem, também, a mobilidade de grandes somas de dinheiro de um país para outro de forma quase instantânea. Ao mesmo tempo em que a globalização se expande e favorece o avanço das ciências, tecnologias e interação entre os povos, ela também resulta em exclusão, subordinação e em reações em escala mundial. É nesse cenário de tensões, ganhos e perdas extraordinários que surge, inicialmente na Europa, uma inquietação face aos aspectos danosos da Globalização. Essa inquietação se mostrou nas tentativas de resistência de comunidades periféricas, que questionavam o modelo de integração à nova ordem mundial. Suas propostas eram o reconhecimento e afirmação dos valores e produtos do lugar, que poderiam participar da economia global, mas de forma nãosubordinada. Para Barquero ( 2001, p. 57), Desenvolvimento Econômico Local é:
O processo de crescimento e mudança estrutural que ocorre em razão da
transferência de recursos das atividades tradicionais para as modernas, bem como pelo aproveitamento das economias externas e pela introdução de inovações, determinando a elevação do bem-estar da população de uma cidade ou região. Este conceito está baseado na idéia de que localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais e culturais, bem como de economias de escala não aproveitadas, que formam seu potencial de desenvolvimento.
As discussões conceituais sobre Desenvolvimento Local e a aplicação
prática desse modelo nascem da crítica à exclusão socioeconômica das populações, da crescente concentração de riquezas que se reflete na tendência à concentração do poder político e econômico, e à destruição dos valores socioculturais e ambientais. O Desenvolvimento local, portanto, não se dá apenas pela identificação de dinamizadores socioeconômicos internos ou localizados em um território; nem tampouco pela relação participativa que reinterpreta as ações dos Poderes Públicos e pauta sua agenda política. O Desenvolvimento local também se define na possibilidade de fomentar um sistema produtivo estrategicamente constituído por uma variedade de pequenos negócios, que se relacionam ao dínamo do lugar, e estabelecem relações comerciais com os demais territórios. Essa lógica se relaciona a um conjunto de valores importantes para a dinâmica econômica, mas que não são considerados pelos modelos de Desenvolvimento ortodoxos.Trata-se da
Afirmação de uma identidade territorial, com o reconhecimento de elementos
distintivos, de uma reputação própria, de uma singularidade que distingue e diferencia o território. O desenvolvimento local resulta do esforço de identificar, reconhecer e valorizar os ativos locais; de aproveitar e desenvolver as potencialidades, as vocações, as oportunidades, as vantagens comparativas e competitivas de cada território. (DE PAULA, [S.d ], p.5).
Como visto anteriormente, o desenvolvimento local é uma proposta de
modelo de desenvolvimento orientado pela inclusão dos valores locais, pela sustentabilidade, atuação de forma cooperativa, articulação em rede da sociedade civil, Governo e mercado. Nesse sentido, interessa verificar se a atuação do Programa Territórios de Identidade dialoga com esse formato de política, e em que medida isso acontece. Observa-se que o Estado da Bahia tem várias ações de apoio, fomento e promoção das atividades nos municípios e outras dirigidas a populações específicas. Nesse sentido, trata-se de propostas que se encaixam no modelo de Desenvolvimento Local, pois esses incentivos pretendem desenvolver o protagonismo dos indivíduos e das localidades, por meio de decisões e esforços conjuntos que qualifiquem e potencializem a geração de riqueza por meio dos produtos e serviços do lugar.
Os objetivos das políticas de desenvolvimento local devem ser derivados das
estratégias estabelecidas em cada um dos diferentes territórios, as quais necessitam ser adequadas coerentemente ao restante das políticas no nível do Estado. Nesse terreno não existem receitas únicas, porém, entre tais objetivos, devem ser citados aqueles orientados para estimular e detectar iniciativas produtivas, facilitar o acesso articulado aos serviços de desenvolvimento empresarial, estabelecer mecanismos de financiamento de novas empresas e uma oferta de crédito apropriada ás MPMEs e incentivar a cooperação interempresarial no território. (LLORENS, p. 133).
O Desenvolvimento Local é essencialmente endógeno. Isso significa que
instituições forâneas não têm condições de promover as localidades das quais não façam parte.Isso porque o Desenvolvimento Local é exclusivo das pessoas do lugar, das suas formas particulares de se relacionarem com os demais e com o meio, da forma como lidam com suas identidades. Esse é um patrimônio imaterial e coletivo que não se exporta, não se copia e não se reproduz fora do pertencimento ao lugar. As agências externas podem colaborar e estimular o protagonismo local, por meio de ações de promoção, apoio, incentivo, fomento das atividades das pessoas e do território. A idéia é que essas localidades se instrumentalizem para planejar e gerir o desenvolvimento a partir das suas histórias, identidades e vetores de desenvolvimento econômico local, expandindo suas intenções para além do aspecto quantitativo (geração de emprego, comércio e financiamento etc).
3.1.3.3. Desenvolvimento Territorial/Local
As novas abordagens do desenvolvimento, como o Desenvolvimento
local e o endógeno são considerados sob duas vertentes, na perspectiva da Nova Economia Institucional. Isso porque são a autonomia e o poder de decisões dos agentes locais que induzem o desenvolvimento local. Ou seja, a dinamizações da economia e do desenvolvimento não ocorrem de “cima para baixo”, partindo do Planejamento oficial e da condução do Estado. O modelo de desenvolvimento local parte de “baixo para cima”, sendo motivado pelas necessidades, proposições e formas de intervenção protagonizadas pelos cidadãos comuns da região ou território. Nesse sentido, a eficiência das ações nasce da capacidade de organização e articulação social das diferentes classes em torno de um bem comum, de interesses comuns e em bases locais, por isso mesmo, sustentadas. Outra característica importante do modelo é a fidelidade dos agentes locais aos elementos produtivos que dinamizam o lugar, estabelecendo coerências internas e externas. A estrutura produtiva do lugar precisa estar em sintonia com os movimentos dos fatores dos demais territórios, mesmo que nem sempre o entendimento tenha sido esse. Durante as últimas seis décadas, a hegemonia do Desenvolvimento Regional se consolidou, porém com algumas contestações teóricas. Ainda nos anos 1950 houve o apogeu das teorias desenvolvimentistas, quando se teorizavam formulações e estratégias para o desenvolvimento regional. A produtividade dos estudos nessa área foi tão pujante, que serviram de base para a criação da pasta de Planejamento no Brasil. O Desenvolvimento Regional se formou sobre alguns conceitos básicos, a saber: O conceito de “pólo de crescimento” (PERROUX, 1955);“causação circular cumulativa” (MYRDAL, 1957); e “efeitos para trás e para frente” (HIRSCHMAN, 1958; LLORENS, 2002, p. 263). Para Maillat (1995) o Desenvolvimento Territorial pode ser entendido como um conjunto de relações abertas tanto para o interior quanto para o exterior, e que “integra conhecimentos, regras e um capital relacional”, em constante transformação e crescimento ao se relacionar com outros atores e territórios. Assim, os territórios podem ser considerados construções socioeconômicas e institucionais, com forte dimensão política. Na perspectiva territorial de desenvolvimento, as relações entre os entes interessados ocorrem, na maioria das vezes, fora das relações mercadológicas e financeiras. É o peso das normas sociais, das regras e dos símbolos representativos do território que mais contam e importam na dinâmica das economias locais (MULS, 2008, p.08). Nos debates cotidianos, não se percebem as fronteiras entre desenvolvimento local e desenvolvimento territorial, que são tomados, muitas vezes, como sinônimos. Ferreira (2009) analisa essas expressões, no que elas têm de diferentes e específicas. O autor elucida que as diferenças são estabelecidas pela evolução dos conceitos centrais de cada uma e também pelos objetivos dessas tendências, que são diferentes entre si. A distinção entre os termos dá-se pela comparação que estabelece entre a proposta de Desenvolvimento Local da Comissão Européia nos anos 90 (CE/LEADER) e a proposta de Desenvolvimento Territorial da FAO, no ano de 2003. Ambas as expressões surgem no contexto rural vivido por países europeus, durante a crise de emprego dos anos 90. Inicialmente, criaram-se as Iniciativas Locais de Emprego (ILE)que eram modos de financiamento para pequenas empresas criadas no âmbito da Comissão Européia, ainda em 1986. Essas iniciativas foram lideradas por Itália e França, mas abrangeram todos os países da OCDE. As ILEs ainda funcionam em muitos desses países até hoje. Segundo Mendes e Henriques citandos por Ferreira (2009) estas iniciativas tinham como objetivo encorajar o auto-emprego e a iniciativa empresarial entre desempregados como formade ensaiar novas metodologias de resposta ao desemprego estrutural surgido ao longo dos anos setenta” Outras ações bem sucedidas foram as Iniciativas Comunitárias (ICs ). Essa iniciativas tinham caráter experimental e pontual da localidade, e assim como as ILEs, também se constituíam respostas às demandas da sociedade civil organizada. A LEADER foi uma dessas iniciativas para o desenvolvimento local na zona rural européia. Essa fase de IC foi no ano de 1992 até 2006. De 2007 em diante, já não se pode falar nessa iniciativa como experimental, visto que ela se consolidou, fortaleceu e deixou de ser um ato local, para compor um dos eixos do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FERREIRA, 2009, p.2)
Para o LEADER, o território é definido “uma representação coletiva, baseada
na integração das dimensões geográficas, econômicas, sociais, culturais, políticas, etc.”(AIELD 2001). Esta representação é interna – identidade – e externa – imagem. A identidade territorial permite uma cooperação mais estreita entre os atores empresença, facilitando a busca de sinergias entre os diversos atores. A imagem permitea valorização econômica do território por consumidores externos a ele; fala-se entãodosprodutos de qualidade e turismo rural.(FERREIRA, 2009, p. 12).
O local, portanto, refere-se à identidade, seu objetivo é o
desenvolvimento econômico da localidade por meio dos seus vetores locais.As iniciativas locais, no contexto LEADER está voltada para financiar empreendimentos de geração de emprego e renda por meio da valorização da cultura local, fortalecendo as cadeias produtivas, bem como melhorando infraestruturas e formando os agentes, com vistas a desenvolver o empreendedorismo nos agentes daquela localidade. Na origem da proposta do desenvolvimento local está o esforço para alavancar emprego e renda por meio do turismo, da gastronomia tradicional e dos fazeres típicos de cada território, além do apoio ao cooperativismo e associativismo. Na esfera não financeira, está o empoderamento da população local, a organização social em instituições capazes de entender e negociar com os poderes constituídos, fazendo valer suas especificidades como legítimas. Ferreira (2009) defende que o Desenvolvimento Territorial nasce justamente da tentativa de uma esfera da Iniciativa Comunitária LEADER de tentar juntar diferentes atores sociais, com diferentes agendas e interesses, para discutir ações com vistas ao desenvolvimento do território, em seu conjunto, e não apenas da geração de resultados econômico-financeiros para a região. Ou seja, o atual termo desenvolvimento territorial surge de uma metodologia adotada pela FAO, originalmente denominada diagnóstico territorial participado e negociado (DTPN).
O DTPN é uma metodologia proposta pelo Serviço de Sistemas Fundiários
(SDAA) da FAO, cuja primeira publicação que conhecemos data de 2003. (...) Para o DTPN os objetivos do desenvolvimento territorial são resolver os múltiplos problemas que surgem da gestão dos recursos naturais de um território, ao centrar a sua abordagem no reforço da governabilidade. (FERREIRA, 2009, p. 17).
Na concepção do desenvolvimento territorial, território é um lugar de
conflitos e negociações incessantes, onde a institucionalidade ocupa um lugar de destaque por ser a entidade capaz de organizar as diferenças, conduzir a heterogeneidade característica do processo participativo e agregar os envolvidos, com vistas ao alcance de objetivos comuns. Nesse sentido, o objetivo principal do Desenvolvimento Territorial não é o bem estar econômico, “mas a resolução de problemas que surgem na gestão dos recursos naturais de um território” (FERREIRA, 2009, p.17), ou seja, o desenvolvimento territorial tem como foco a política, enquanto que o Desenvolvimento local visa mais o lado econômico da situação.
2.2. METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa, conforme afirma Minayo (2013, p 16), “[...]
alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação”. Dessa forma, percebe-se que a metodologia se fundamenta em um tripé formado pelo embasamento teórico, pelas técnicas empregadas e pela construção crítica do pesquisador.