Recurso Eleitoral: Matheus Almeida, de Monte Alegre

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Justiça Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

11/02/2022

Número: 0600405-33.2020.6.14.0019
Classe: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
Órgão julgador: 019ª ZONA ELEITORAL DE MONTE ALEGRE PA
Última distribuição : 15/12/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Abuso - De Poder Econômico, Abuso - De Poder Político/Autoridade
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
LIRLEY ROVANIA NERI CORREA (REQUERENTE) ERIKA AUZIER DA SILVA (ADVOGADO)
HANNA DE ASSIS MACEDO (ADVOGADO)
DANILO COUTO MARQUES (ADVOGADO)
MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS (INVESTIGADO) SALAZAR FONSECA JUNIOR (ADVOGADO)
LEONARDO ALBARADO CORDEIRO (INVESTIGADO) SALAZAR FONSECA JUNIOR (ADVOGADO)
JARDEL VASCONCELOS CARMO (INVESTIGADO) SALAZAR FONSECA JUNIOR (ADVOGADO)
ADEMIR BRASIL DA MOTA (INVESTIGADO) SALAZAR FONSECA JUNIOR (ADVOGADO)
PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DO PARÁ (FISCAL
DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
10288 10/02/2022 15:38 Recurso Eleitoral - Jardel e Matheus Petição
3856
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ ELEITORAL DA 19ª ZONA ELEITORAL DO ESTADO DO
PARÁ

Processo nº 0600405-33.2020.6.14.0019

JARDEL VASCONCELOS CARMO, MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS, LEONARDO ALBARADO


CORDEIRO e ADEMIR BRASIL MOTA, já qualificados nos presentes autos da AÇÃO DE INVESTI-
GAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE) que lhes move o LIRLEY ROVANIA NERI CORREA, também
qualificado, vem respeitosamente perante V.Exa., por seu advogado e bastante procurador, in-
fra-assinado, instrumento de procuração em anexo, interpor RECURSO ELEITORAL contra
decisão deste Douto Juízo, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.
Após regular processamento e intimação do recorrido para oferecer razões, pugna-se
pelo juízo de retratação, reformando a sentença, a fim de dar o prosseguimento ao feito e, ao
final, dar total procedência à presente representação, conforme disposto no art. 267, § 6.º, do
Código Eleitoral.
Na remota hipótese de Vossa Excelência venha a manter a respeitável decisão que ora
se guerreia, requer seja o presente recurso remetido ao Egrégio Tribunal Regional Eleitoral do
Estado do Pará.
Nestes termos, pede deferimento.

Belém, 10 de Fevereiro de 2022.

BIANCA RIBEIRO LOBATO LEONARDO MAIA NASCIMENTO


OAB/PA n° 24.701 OAB/PA n° 14.871

ARTHUR SISO PINHEIRO


OAB/PA 17.657

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Número do documento: 22021015384077700000098034581
RAZÕES RECURSAIS
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL nº 0600405-33.2020.6.14.0019
RECORRENTES: JARDEL VASCONCELOS CARMO, MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS, LEO-
NARDO ALBARADO CORDEIRO e ADEMIR BRASIL MOTA
RECORRIDO:
EGRÉGIO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL DO PARÁ
Exmos. Julgadores,
Exmo. Procurador Regional Eleitoral

JARDEL VASCONCELOS CARMO, MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS, LEONARDO ALBARADO


CORDEIRO e ADEMIR BRASIL MOTA, vem perante esse Egrégio Tribunal Regional Eleitoral, com
fundamento no artigo 127 da Constituição Federal, nos dispositivos da Lei n° 9.504/97, do
Código Eleitoral e da Lei 23.610 de 18 de Dezembro de 2019, interpor RECURSO ELEITORAL em
face da sentença prolatada pela Douta Juíza da 19ª Zona Eleitoral – Monte Alegre /PA, que
JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
e CONDENOU os investigados por prática de abuso de poder político e abuso de poder econô-
mico; em via de consequência declarou JARDEL VASCONCELOS CARMO, MATHEUS ALMEIDA
DOS SANTOS e LEONARDO ALBARADO CORDEIRO inelegíveis por 8 (oito) anos nos termos do
art. 22, XIV, da LC 64/90, determinando, também, a cassação dos diplomas do Prefeito e Vice
Prefeito, MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS e LEONARDO ALBARADO CORDEIRO; requerendo,
assim, a reforma da decisão recorrida, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

1. DOS FATOS. DA DECISÃO.

Nobre Relator(a), trata-se de Ação de Investigação Judicial Eleitoral interposta


em face de MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS, LEONARDO ALBARADO CORDEIRO (Prefeito e
Vice-Prefeito de Monte Alegre- PA), e JARDEL VASCONCELOS CARMO, ADEMIR BRASIL DA
MOTA (Ex-Prefeito e Vice-Prefeito de Monte Alegre - PA), por prática de abuso do poder político
e econômico e de condutas vedadas aos agentes públicos em eleição.
Aduziu-se que os Recorrentes supostamente praticaram atos de abuso de poder
político e econômico ao adiantar 13º salário para 1.485 servidores municipais e adiantamento

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de 40% do salário dos servidores no mês de novembro. Outras acusações foram feitas por parte
do Recorrente, as quais foram julgadas improcedentes na sentença retro.

A representação aduziu que, no mês de setembro de 2020, o Prefeito Jardel Vas-


concelos adiantou o pagamento do 13º salário de 1.485 servidores municipais, equivalente ao
montante de R$ 1.506,973,02 (um milhão, quinhentos e seis mil, novecentos e setenta e três
reais e dois centavos). E, no mês de novembro adiantou 40% do salário dos servidores munici-
pais para o dia 12.
Em sede contestatória, no que tange ao adiantamento de 13º salário dos servi-
dores, arguiu-se que o adiantamento da metade do 13º salário foi instituído pela Lei Municipal
nº 5.109/2017 e alterada pela Lei Municipal nº 5.189/2019 e que, ele é pago em função do
aniversário dos servidores, mas que, em 2020 por conta da pandemia, essa sistemática foi sus-
pensa e retomada em Setembro de 2020, na medida que a situação da pandemia encontrava-
se menos grave naquele município.
Quanto ao adiantamento do pagamento de 40% (quarenta por cento) da remu-
neração dos servidores municipais na primeira quinzena, estes Recorrentes explicaram que se
tratava de um compromisso de campanha eleitoral firmado pelo então candidato e anterior
prefeito Jardel Vasconcelos no pleito de 2016 e implementado em razão do fim do seu man-
dato.
Em sequência, foi realizada audiência de instrução (ID 96790159), momento em
que foi tratado somente acerca da questão do automóvel pertencente à prefeitura, argumento
já refutado pelo Eminente magistrado.
Por sua vez, o Parquet manifestou-se pela procedência da ação, bem como, a
aplicação da multa prevista no artigo 73, §§ 4º e 8º, da Lei 9.504/97 nº aos investigados, nos
termos do artigo 62, § 4º, da Resolução TSE nº 23.457/2015.
Foram apresentadas alegações finais por ambas as partes, e em 24/11/2021 (ID
100512310), o eminente magistrado proferiu sentença parcialmente procedente, na medida
que entendeu que houve a prática de abuso de poder político, em referência ao pagamento de
13º salário aos servidores públicos municipais e abuso de poder econômico por ter adiantado
40% do salário dos servidores públicos municipais, e em via de consequência declarou JARDEL
VASCONCELOS CARMO, MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS E LEONARDO ALBARADO CORDEIRO
inelegíveis por 8 (oito) anos nos termos do art. 22, XIV, da LC 64/90, e decretou a cassação dos
diplomas do Prefeito e Vice Prefeito, MATHEUS ALMEIDA DOS SANTOS e LEONARDO
ALBARADO CORDEIRO, respectivamente.
Foram opostos embargos de declaração por estes Recorrentes, pela existência de
patente omissão, contradição e obscuridade, todavia, o Douto Magistrado rejeitou,
indevidamente e sob argumento genérico, com toda vênia, de que os embargantes “não

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lograram êxito em demonstrar que na sentença de id 100512310 houve omissão, contradição
e obscuridade.
Eis a síntese fática e da decisão ora recorrida.

2. DO CABIMENTO RECURSAL. RECORRIBILIDADE, TEMPESTIVIDADE E ADEQUAÇÃO.

Nos termos das normas legais, não restam dúvidas do cabimento do presente Recurso
Eleitoral, diante de decisão proferida nos autos da Representação em questão.
E mediante o preenchimento dos seus requisitos extrínsecos e intrínsecos, donde se
revela a adequação entre a decisão e o recurso que está sendo interposto, Ilustres
Desembargadores; o interesse para recorrer, em virtude da extinção do feito sem julgamento
do mérito; a legitimidade ativa dos recorrentes; inexistência de fato impeditivo ao direito de
recorrer; capacidade postulatória dos patronos infrassinados; e a sua regularidade formal.
No caso, trata-se de recurso eleitoral interposto contra a decisão proferida pelo juizo da
19° Zona Eleitoral de Monte Alegre - PA. Consoante a regra da Lei 9.504/97, o prazo para
apresentar recurso eleitoral é de 03 (três) dias, neste sentido como a publicação da decisão
ocorreu no dia 07/02/2022, tem-se, pois como tempestivo o presente recurso.

3. DAS RAZÕES PARA REFORMA DA DECISUM.

Ilustre Relator(a), após análise detida de todos os frondosos fundamentos que


compõem este Recurso, sejam os de natureza fática ou os de natureza eminentemente técnica
e jurídica, a resultar, indubitavelmente, no acolhimento destas razões e, portanto, na invariável
improcedência de r. Ação de Investigação Judicial Eleitoral - AIJE e seus pedidos.
A presente AIJE foi construída em tese baseada em um cenário de ilicitude ao redor
dos Recorrentes, para justificar a excepcional ação proposta, mas que é vazia de fundamentos,
devendo ser a sentença reformada.
Primeiro, porque a presente AIJE, propositadamente, ignora a realidade que assola a
humanidade e tenta alegar que os Recorrentes utilizaram do cargo para vencer a eleição para
prefeitura do Município em questão, entretanto, sem indicar nenhum ato que dele tenha se
emanado em contrariedade à Lei Eleitoral, apenas suposições, sem qualquer prova.
Mas, já se percebe, que não se podendo atribuir qualquer conduta ilícita aos
Recorrentes, não há espaço para dizer que adotou qualquer postura em dissonância à legislação
eleitoral, muito menos qualquer postura em excesso, de forma a caracterizar o alegado abuso.
Assim sendo, não havendo abuso praticado em candidatura dos Recorrentes, é
manifesto que o ajuizamento da demanda é carente de provas e merece ser integralmente
reformada.
Isto por que os fatos narrados à inicial e as provas que acompanham o feito não são
capazes de dar conta de que houve abuso praticado pelo Recorrentes, na medida que a

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antecipação do pagamento do salário e do 13° do salário dos funcionários do município é ato
que sequer afetou a remuneração líquida dos servidores, pois nada foi acrescido, sendo certo
que os fatos e documentos trazidos pelo Recorrido não configuram conduta vedada, muito
menos abuso de poder político!

Não foi vinculado ao pleito eleitoral, não revelou pedido de voto e nem poderia, eis
que não houve benesse concedida, mas mera antecipação prevista no ordenamento jurídico
municipal!

Ora, Vossa Excelência deve muito bem conhece que, nos termos do art. 22, XVI, da
LC 64/90, a propositura de AIJE para a averiguação de possível abuso a ser investigado
precede de que as circunstâncias alegadas sejam em sua essência graves.

Conforme inteligência do inciso XVI do art. 22 da LC n. 64/90, é exigida extrema


gravidade das circunstâncias para a configuração do ato abusivo. Neste tocante, não é
possivel verificar, pois inexistiu qualquer “agrado” aos servidores públicos daquele municipio,
tanto pelo adiantamento de parte do salário destes, quanto pelo adiantamento do 13°,
conforme melhor será explicado adiante.

4. DO MÉRITO. DA CARACTERIZAÇÃO DOS ABUSOS DE PODER ECONOMICO E POLÍTICO.


A título introdutório, frise-se que a Lei 9.504/97 (Lei das Eleições) tipificou em seus
artigos 73, 74, 75 e 77, “condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais”, as
quais podem caracterizar abuso do poder político.
Nesse ponto, a caracterização do abuso do poder político induz a circunstancia da
gravidade dos fatos, consoante disposto no art. 22, XVI, da Lei Complementar 64/90, ou seja,
“para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o
resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam”.
O Tribunal Superior Eleitoral entende, que abuso de poder político configura-se
quando agente público, valendo-se de condição funcional e em manifesto desvio de
finalidade, desequilibra disputa em benefício de sua candidatura ou de terceiros (RO 1723-
65/DF, Rel. Min. Admar Gonzaga, DJE de 27/2/2018 e REspe 468-22/RJ, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, DJE de 16/6/2014, dentre outros).
Por sua vez, quanto ao abuso do poder econômico, verifica a jurisprudência da mesma
Corte que abuso de poder econômico caracteriza-se pelo uso desmedido de recursos
patrimoniais que, por sua vultuosidade, é capaz de comprometer a isonomia da disputa
eleitoral e sua legitimidade (AgR-RO 980-90/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJE de
4/9/2017, dentre outros).
Portanto, acerca do tema, o julgador deve examinar tais casos com base num critério

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científico a fim de justificar o exame da gravidade da conduta, fundamentando em critérios
abstratos e se esta, por si só configuraria ou não o ato abusivo, na forma do art. 22, XVI, da Lei
Complementar 64/90.
Entretanto, o juízo de valor permitido legalmente devem analisar as condutas de forma
a vir a afetar concretamente a igualdade de oportunidades entre os candidatos, o que não
restou provado no caso em concreto, Excelência.
Conforme será provado, as condutas do Recorrente não se revestem de “gravidade”,
não permitindo sequer a aplicação de multa, tampouco pena mais severa como a cassação do
registro de candidatura ou diploma, e inelegibilidade (art. 22, XIV e XVI, da Lei Complementar
64/90).
Serão vistos adiante os seguintes pontos:
(I) Atos administrativos foram praticados de acordo com a nova realidade pandêmica e a
necessidade da administração (II) não caracterização de conduta vedada ou abuso de poder,
já que a edição dos decretos não revestiram qualquer intuito eleitoreiro; inexistência de ro-
bustez necessária a fim de comprovar o caráter eleitoreiro por meio da edição dos Decretos
Municipais; necessidade de comprovação da potencialidade lesiva da conduta, a ensejar o
desequilíbrio entre os candidatos.

I. ATOS ADMINISTRATIVOS FORAM PRATICADOS DE ACORDO COM A NOVA REALI-


DADE PANDÊMICA E NECESSIDADE DA ADMINISTRAÇÃO.

I.I. DO ADIANTAMENTO DO 13° SALÁRIO DOS SERVIDORES.


O primeiro ponto alegado pela defesa, e confirmado pelo magistrado a quo, cinge
acerca da antecipação de parte do 13º salário, feita parceladamente no 2º semestre de 2020.
Nobre Relator(a), a medida não caracteriza conduta eleitoreira nem abuso de poder, sob
qualquer ótica, uma vez que ela é equivalente à prática tradicionalmente adotada de pagar
parte do 13º no mês do aniversário do servidor, mas que não foi possível cumprir da forma
no 1º semestre/2020, devido à pandemia, alinhando-se ao Decreto Legislativo Estadual n° 02,
de 20 de março de 2020.
A lei municipal 5.109/2017 alterada pela lei 5.189/2019 (que dispõe sobre o pagamento
do 13º salário do servidor público municipal de Monte Alegre em duas parcelas, sendo a
primeira de 40% paga no mês em que o servidor municipal faz aniversário, e a segunda no dia
20 de dezembro), conforme já dito acima, não foi cumprida da forma habitual no ano de 2020.
Fato esse que que ocorreu Nobre Relator, motivado por um fato público e notório: em Março
do ano de 2020 a pandemia assolou o Brasil e o Mundo.
Alinhado a isso, foi editado Decreto n°131/2020 que dispôs acerca de diversas medidas
restritivas, impondo uma série de restrições à população. No mesmo mês, foi editado um novo
Decreto, contendo novas medidas restritivas (Decreto 140/2020). Em seguida, foram
publicados outros Decretos (n°154/2020 e 157/2020), prorrogando os de n° 131/2020 e
140/2020, devido ao agravamento da pandemia naquele local. Outros decretos foram editados
(165/2020).
O agravamento da pandemia começou a afetar a gestão municipal, de modo que a

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gestão das finanças públicas foram extremamente prejudicadas. Posto isso, o Município
necessitou adotar, para além das medidas restritivas relacionadas à locomoção, abertura e
fechamento de estabelecimentos, escolas, repartições, dentre outros; fazer um
contingenciamento financeiro, tudo isso por meio do DECRETO 174/2020 o qual, dentre outras
medidas, adotou a seguinte:

Quanto a isso, frise-se o motivo pelo qual o julgador a quo entendeu que houve abuso,
quanto à postergação de parte do pagamento do 13° salário dos servidores:

“(...) Diga-se ainda que, sem a edição do ato administrativo não é possível
acatar o alegado pela defesa de que a suspensão do pagamento da parcela
do 13º dos servidores correspondeu a um contingenciamento face a
necessidade da municipalidade fazer caixa para a realização de ações
necessárias para o enfrentamento da pandemia do coronavírus, já que não é
possível apurar a sua finalidade.”

Tal argumentação é desconstruída no momento em que a sentença que cassou os


mandatos deixou de verificar ponto relevante acima exposto, eis que HOUVE A EDIÇÃO DE ATO
ADMINISTRATIVO, o qual suspendeu diversos pagamentos e concessões dados aos servidores
daquele município, dado público e que pode ser facilmente acessado no canal virtual daquele
município.
E a edição do decreto não se tratou de um comportamento estranho ao que se estava
adotando naquele ano, especialmente naqueles meses de março e abril de 2020, períodos
extremamente críticos ao Estado do Pará. Tanto é que, logo após, foi editado o Decreto
n°175/2020 que decretou o Estado de Calamidade Pública naquele Município.
Em sequência, ao passo que a situação foi melhorando naquele município, várias
flexibilizações foram feitas, conforme disposto no Decreto 303/2020 (em anexo). Em
consequência da melhoria da situação econômica e pandêmica em Monte Alegre, em
Setembro/2020, foi editado o Decreto n°318, o qual determinou a retomada dos pagamentos
dos 13° salários dos servidores municipais (em anexo):

E somente a título de correção, foi editado um novo Decreto de n°319 (em anexo), que

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disciplinou do seguinte modo:

Fato curioso o Nobre Juízo a quo ignorar o contexto histórico traçado pelo Estado do
Pará, no ano de 2020, o qual pode ser acompanhado, com facilidade, pelo portal e redes sociais
deste órgão. Quanto ao município de Monte Alegre, vejamos o quanto o contexto pandêmico
influenciou nas medidas tomadas por meio dos decretos ora discutidos:

DATA CASOS RECUPERADOS CASOS ÓBITOS


CONFIRMADOS ATIVOS
25/04/2020 03 03 03 0
14/05/2020 13 07 05 01
02/06/2020 107 25 78 04
11/06/2020 203 81 115 07
01/07/2020 586 340 222 24
12/07/2020 818 557 227 34
01/08/2020 1182 1000 137 45
13/08/2020 1254 1135 73 47
02/09/2020 1368 1294 21 53
12/09/2020 1405 1322 27 56
19/09/2020 1429 1345 26 58

Fonte: http://www.montealegre.pa.gov.br/boletim-epidemiologico-monte-
alegre-pa-20-09-2020/ (Capturas de tela retiradas do site)

Veja-se, no início do registro dos casos naquele município, os primeiros decretos foram
editados com base na realidade regional e respeitando as normativas Estaduais, inclusive,
antecipando-se nas medidas restritivas, antes mesmo da situação agravar mais naquele
município.
O maior “salto” no número de casos ocorreu nos meses de Junho e Julho, ao passo que

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as contaminações foram diminuindo em Agosto e, especialmente no mês de Setembro,
justamente o mês em que medidas foram flexibilizadas a nível Nacional.
É totalmente impossível se fazer uma análise das medidas tomadas pelo ex-Prefeito
ora Recorrente, sem observar a sequência de dados apontados acima. Em Abril de 2020, a
pandemia estourou no Brasil inteiro, alcançando o Estado do Pará de forma igualmente
catastrófica. Relembre-se:

Fonte: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2020/05/01/para-ve-
numero-de-mortes-por-coronavirus-subir-em-uma-semana.ghtml

Ao passo que, em Setembro, o Estado do Pará iniciou o processo de flexibilização das


medidas de contenção da pandemia (Monte Alegre – Baixo Amazonas). Inclusive, pela redução
da demanda, fechou-se o Hospital de Campanha de Santarém, que alcançava os pacientes da
mesorregião do Baixo Amazonas:

Fonte: https://agenciapara.com.br/noticia/30982/

Na notícia, foi frisado que: “Até na última sexta-feira (25), a Região do Baixo Amazonas
computava uma redução de 63% no número de casos da doença quando comparado com a
média móvel de 14 dias, passando de 35,7 caso/dia para 13,1”.
Diante das informações acima, questiona-se, Nobre Relator: ante a instabilidade que a

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pandemia apresentou em Março/2020, somada à explosão de casos em Abril/2020, o correto
não seria o gestor municipal efetuar TODAS AS MEDIDAS POSSÍVEIS para conter gastos e
salvaguardar o bem da vida e saúde dos munícipes? EVIDENTE QUE SIM.
Para exemplificar, veja-se que diversos municípios implementaram medidas de
contenção financeira para o período critico em questão, dentre eles:
https://morrinhos.go.gov.br/site/2020/04/prefeitura-divulga-plano-de-contencao-de-gastos-
devido-a-crise-financeira-por-causa-da-pandemia-do-corona-virus/
Ainda acerca da possibilidade do gestor executivo suspender a antecipação das verbas
com o intuito de refrear gastos para urgente uso na contenção da pandemia, o Desembargador
Moreira Viegas, no julgamento do MS n° 2073102-26.2020.8.26.0000 que tratou acerca da
suspensão da antecipação do salário dos servidores do Estado de São Paulo, por meio do
Decreto 64.937/2020, em razão da epidemia do coronavírus, que assim aduziu:
“É fato público e notório que os efeitos reflexos da
pandemia viral e da quarentena ordenada, que atuam em
círculo vicioso, desestimularam a arrecadação financeira,
configurando situação que remete ao uso comedido da
faculdade de antecipação de pagamento de parcela do 13º
salário, o que compreende, de acordo com as regras da boa
administração, inspiradas sobretudo pelas virtudes de
prudência, parcimônia e responsabilidade na gestão dos
dinheiros públicos, a inaplicabilidade da própria
antecipação”.

Tal medida foi reconhecida como legítima, eis que essa discricionariedade, por obvio,
“não é absoluta e rende-se à métrica para evitar arbitrariedade, consistente na conditio juris da
disponibilidade financeira”, nas palavras do Relator. De igual modo fez o gestor do Município à
época, que normalizou os pagamentos após a melhora no quadro pandêmico.
Na medida que a saúde foi normalizada, o Município precisou reajustar as pendências
com os servidores, que a meses estavam aguardando a parcela do 13°, normalizada no
momento em que a situação amenizou naquela localidade.
Entretanto, em completo dissenso a realidade, a Recorrida trouxe alegações baseadas
nos dados anteriores à 2020, e que não se aplicam a concretude e ao “novo normal” que
encaramos em 2020. Foi demonstrado todo o desencadeamento lógico dos fatos, todos
interconectados e que levam a uma só conclusão, quais sejam, a elaboração de decretos que
tinham a única e exclusiva finalidade de cumprir com obrigações de cunho administrativo, e
que foram efetuadas no momento em que o Município passou a ter segurança financeira de
arcar com as verbas em virtude da melhora no quadro da Covid, e nada mais.
As medidas tomadas pelo Prefeito Municipal foram praticadas no exercício de legítimo
e legal poder discricionário e com vistas a atender ao interesse público, na implantação do de

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medidas de contenção de gastos e de enfrentamento da gravíssima crise de saúde pública
decorrente da propagação da Covid-19. Ora, o poder discricionário confere ao gestor público
a escolha sobre a forma de implementar o necessário para salvaguardar o interesse público.
Não merece prosperar o entendimento do juízo a quo quando aduz que “Entendo que a
inovação no comportamento da administração pública em ano eleitoral - visto que, ficou
comprovado que nos anos anteriores o pagamento do 13º salário ocorreu nos estritos termos
do ditame legal - sem a publicação de qualquer ato administrativo que o justifique e o dê
publicidade/transparência, foi conduta gravíssima, principalmente porque a manifestação de
vontade da administração pública deveria ter sido acompanhada da edição e publicação de um
ato administrativo”, haja vista que tal medida foi adotada pelo gestor daquela época,
inexistindo conduta ilegal, tampouco praticada de forma abusiva por parte deste
investigante.

I.II. DA ANTECIPAÇÃO SALARIAL NO MÊS DE SETEMBRO DE 2020.


Sob a mesma lógica acima advém a argumentação quanto ao Decreto Municipal de n°
330/2020, o qual determinou a Secretaria de Administração de Finanças de Monte Alegre a
antecipação quinzenal de 40% do salário dos servidores públicos municipais, vejamos o que
dizia o seu inteiro teor:
DECRETO Nº 330/2020
Dispõe sobre a antecipação quinzenal do pagamento do salário base do
servidor público municipal.
O Prefeito do Município de Monte Alegre (PA), o Senhor JARDEL
VASCONCELOS CARMO, no uso de suas atribuições legais;
DECRETA:
Art. 1º. Fica determinado à Secretaria de Administração e Finanças,
proceder a antecipação quinzenal do equivalente a 40% (quarenta
porcento) da remuneração líquida do servidor público municipal.
Art. 2º. O valor antecipado será descontado na folha mensal corrente.
Art. 3º. Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
Registre-se, publique-se e cumpra-se.
Gabinete do Prefeito Municipal de Monte Alegre (PA), em 06 de
outubro de 2020.
JARDEL VASCONCELOS CARMO
Prefeito do Município de Monte Alegre (PA)

Em continuidade ao pagamento das verbas trabalhistas, que foram regularizadas no mês


de Novembro, o mesmo foi feito no mês subsequente, a título de compensação aos meses
dificultosos enfrentados por todos os servidores públicos, antecipou-se parte do pagamento
referente ao mês de Novembro, faculdade e ato discricionário do gestor público, inexistindo
qualquer irregularidade na medida.
Destacou-se o ponto principal acerca da edição do Decreto acima. Isto por que, pela
mera leitura do mencionado dispositivo, vê-se que não houve qualquer benefício de cunho
financeiro dado aos servidores municipais. Inexistiu aumento, incremento em verbas salariais

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e nem nada nesse sentido, mas somente a antecipação descontada em folha mensal corrente.
Portanto, Nobre Relator, não é possível se verificar nestes autos qualquer exploração
do fato para fins eleitorais, tendo em vista que o Prefeito à época não fez "palanque" da ante-
cipação de parte do salário. MUITO MENOS o candidato à prefeitura. É impossível fazer qual-
quer tipo de associação do pagamento das verbas com qualquer visão eleitoreira.
Não se vislumbrou qualquer conduta oportunista praticada pelo gestor, tampouco pelo
seu sucessor, muito menos revestido de caráter eleitoreiro a ponto de desequilibrar as elei-
ções em Monte Alegre.
Não há nos autos nenhuma evidência sequer de reunião com eleitores/servidores a
respeito disso, nada! Absolutamente nada! Não se tem nada, porque não há e não houve
nenhuma vinculação eleitoral, nenhuma ilegalidade de nenhuma natureza!
Ora, é cediço que a antecipação salarial, assim como o retorno ao pagamento do 13°
salário se trata de ato discricionário, concedido por conveniência e oportunidade da adminis-
tração pública, por óbvio, tendo que o gestor pautar-se sempre pelo atendimento do inte-
resse público, cabendo ao judiciário fazer a análise da razoabilidade da conduta e a pondera-
ção de seus motivos e finalidades, que no caso se mostram prudentes e totalmente em prol
do interesse social, e inexistindo qualquer vínculo com o pleito eleitoral.
Sucede-se que inexistem provas nos autos de os salários pagos foram feitos em troca de
votos, ou ainda ligação entre a conduta e o pleito, havendo somente presunções.
Ainda assim, sem qualquer fundamento e, pois, de maneira inteiramente ilegal e
abstrata, o Nobre Magistrado a quo justificou o entendimento de que ocorreu abuso do poder
econômico e político por meio da seguinte justificativa:
“(...) Segundo entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, o abuso do poder
públicos ou privados, com a finalidade de comprometer os valores essenciais das
eleições, quais sejam, a democracia e a isonomia, de forma a causar grave
interferência na igualdade de concorrência (AgRg-REsp 730-14/MG, DGE
02/12/2014). Na mesma senda, o abuso do poder político caracteriza-se quando o
agente público, valendo-se de sua condição funcional e em manifesto desvio de
finalidade, compromete a igualdade da disputa e a legitimidade do pleito em
benefício de sua candidatura ou de terceiros (TSE - REsp nº 555-47/PA, rel. João
Otávio Noronha, DJE, 2110/2015)”.

A verificação da gravidade está interligada com a proporcionalidade entre a conduta e a


sua afetação na igualdade de oportunidades entre os candidatos. O juízo que aplica a pena de
cassação de mandato por abuso de poder deve se pautar tão apenas quando existentes provas
robustas de graves condutas atentatórias à normalidade e legitimidade do processo eleitoral e
às regras eleitorais. In casu, não se vê, em momento algum, qualquer prova de que a edição dos
atos normativos foram definitivos, ou que ao menos possuíram relação com o pleito de 2020.

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Desta feita, o adiantamento de 40% do salário dos servidores públicos municipais não
guarda qualquer relação com a eleição do atual prefeito deste município. Não é possível verifi-
car, sob qualquer ótica, que o ato de gestão do Investigado foi fato definitivo para o êxito do
Prefeito Matheus nas urnas.
A paridade das armas não foi fragilizada pelo simples fato de que desequilíbrio de forças
é caracterizado tão somente se aquela conduta se revestir de caráter eleitoreiro, o que não é o
caso, conforme será melhor exposto no item abaixo.

II. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE CONDUTA VEDADA OU ABUSO DE PODER, JÁ QUE A EDI-


ÇÃO DOS DECRETOS NÃO REVESTIRAM QUALQUER INTUITO ELEITOREIRO; INEXIS-
TÊNCIA DE ROBUSTEZ NECESSÁRIA A FIM DE COMPROVAR O CARÁTER ELEITO-
REIRO POR MEIO DA EDIÇÃO DOS DECRETOS MUNICIPAIS; NECESSIDADE DE COM-
PROVAÇÃO DA POTENCIALIDADE LESIVA DA CONDUTA, A ENSEJAR O DESEQUILÍBRIO
ENTRE OS CANDIDATOS.

Excelência, basta uma breve leitura à inicial e às provas do Recorrido para confirmar que
este não foi capaz de demonstrar se o gestor atrelou seu nome e imagem ao pagamento
antecipado das verbas salariais. Não houve qualquer atitude por parte deste que pudesse levar
a crer que houve o aproveitamento da máquina pública para distribuir benesses, tampouco com
o fim de obter votos por parte da população.
Nos termos da jurisprudência, é “imprescindível para a configuração do abuso
de poder prova inconteste e contundente da ocorrência do ilícito eleitoral, inviabilizada
qualquer pretensão articulada com respaldo em conjecturas e presunções” (AgR-RO-El
0600006-03/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJE de 2/2/2021), veja-se:

“(...) Aliás, exige-se prova inconteste e contundente da ocorrência do abuso


de poder econômico, inviabilizando-se qualquer pretensão articulada com
respaldo em conjecturas e presunções, sob pena de se violar o direito político
fundamental da capacidade eleitoral passiva. Na mesma linha, os seguintes
precedentes:

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2018. PRESIDENTE E


VICE–PRESIDENTE DA REPÚBLICA. ABUSO DE PODER ECONÔMICO.
INELEGIBILIDADE. NATUREZA PERSONALÍSSIMA. PROVA ROBUSTA.
GRAVIDADE DAS CONDUTAS. INEXISTÊNCIA. MOBILIZAÇÃO POLÍTICA.
ENTIDADES SINDICAIS E ESTUDANTIS. POSSIBILIDADE. LIBERDADE DE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. IMPROCEDÊNCIA DA AIJE.

[...]

5. O abuso do poder econômico caracteriza–se pelo emprego desproporcional


de recursos patrimoniais (públicos ou privados), com gravidade suficiente para

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afetar o equilíbrio entre os candidatos e macular a legitimidade da disputa.

6. A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é firme no sentido de que,


para afastar determinado mandato eletivo obtido nas urnas, compete à
Justiça Eleitoral, com base na compreensão da reserva legal proporcional e
com fundamento em provas robustas, verificar a existência de grave abuso
de poder, suficiente para ensejar as rigorosas sanções de inelegibilidade e de
cassação do registro, do diploma ou do mandato (AIJE 0601864-88/DF, Rel.
Min. JORGE MUSSI, DJe de 25/9/2019 - destaquei).

Contudo, o que se vê aqui são meras ilações, sendo inexistente qualquer ligação entre
os atos de gestão do Ex prefeito e a promoção da candidatura do segundo recorrente. Acerca
da antecipação salarial, o TRE-SE assentou que é impossível definir com segurança os
dividendos eleitorais proporcionados ao candidato por meio da antecipação salarial:

“(...) 2.3.3 - Antecipação do 13º Salário dos Servidores Públicos Estaduais

Quanto à antecipação de parte do 13º salário dos servidores públicos esta-


duais , conforme já salientado no capítulo anterior, no ano de 2018 o go-
verno do estado substituiu a antecipação proporcional do 13º salário, feita
no mês de aniversário dos servidores, pela antecipação de metade da verba
salarial, feita em 5 parcelas no segundo semestre do ano.

Verifica-se que a antecipação de parte do 13º salário encontra-se autorizada


pela Lei nº 2.661/1988 (AIJE nº 0601567-85 - ID 555218). E, conforme depoi-
mento da testemunha Ana Cristina, superintendente-executiva da Secretaria
de Estado da Fazenda, transcrito no capítulo anterior (seção 2.2.3), até 2017
“ainda se manteve o pagamento de parte do 13º salário no aniversário” do
servidor. Dessa forma, não parece lógico que os servidores tenham ficado
satisfeitos de receberem a metade da verba parcelada ao longo do segundo
semestre de 2018.
Assim, não é possível definir com segurança quais os dividendos eleitorais
que a medida possa ter proporcionado ao primeiro investigado. Embora a
prática possa ter gerado algum reflexo favorável ao investigado, não há como
se afirmar que o ato se traduza em abuso de poder político, uma vez que não
se vislumbra a ocorrência de desvio de finalidade, por parte do agente, nem
comprometimento da igualdade da disputa ou da legitimidade do pleito.
(...)
6. Na espécie, afasta-se a imputação de abuso de poder político em razão
da prática das condutas consistentes em "facilitação das condições de pa-
gamento de dívidas por contribuintes do fisco", em "redução do preço do
gás de cozinha" e em "antecipação do 13º salários dos servidores públicos
estaduais", uma vez demonstrado pela instrução que elas não afetam a igual-
dade da disputa nem a legitimidade do pleito.
(TRE-SE - AIJE: 060086542 ARACAJU - SE, Relator: DIÓGENES BARRETO, Data
de Julgamento: 19/08/2019, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Ele-
trônico, Tomo 156, Data 26/08/2019, Página 33/34)

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Número do documento: 22021015384077700000098034581
No julgamento do Recurso Eleitoral nº 47-70.2018.6.13.0131, proveniente de Ipatinga
– MG, o TRE/MG decidiu-se por cassar a sentença, o qual havia condenado os Investigados
com base no mesmo dispositivo aplicado ao caso em questão. O voto divergente e vencedor
foi no seguinte sentido:
“(...) Se, então, os Chefes do Executivo notadamente se colocam em vantagem
sob um aspecto (poder de atos de gestão) e em desvantagem sob outro
aspecto (vulnerabilidade maior a crítica pública de tais atos), o abuso de poder
político não pode ser presumido, data máxima vênia, da realização de um
"agrado" aos servidores. Digo isso sem ingenuamente desconsiderar que, por
Óbvio, o gestor pretendia, com a medida, ser visto com bons olhos pelos
servidores. O ponto é que não há como partir da premissa que a lei eleitoral
vede aos agentes públicos praticarem atos que causem boa impressão em
seu quadro de servidores.
Não se pode, ademais, considerar que o número de servidores beneficiados
faz concluir pela gravidade da conduta, pois tal aspecto não se infere do
alcance de medida praticada dentro da normalidade. Para que fosse reputada
grave, seria necessário identificar na política de remuneração alguma
irrazoabilidade, ou desproporcionalidade, quiçá demonstração da
exploração eleitoral, elementos que permitiriam enquadrá-la em uma
moldura abusiva. No caso concreto, nenhum desses elementos se faz
presente.
Remanesce então a possibilidade de que o gestor, mesmo interino, -.. pudesse
definir, na margem da discricionariedade limitada pelo dia 10 do mês
subsequente, em que dia pretendia fazer o pagamento. Mais uma vez rogando
vênias a posição divergente, nada há nos autos que autorize a esta Corte
Eleitoral intervir em decisão da natureza da aqui examinada, simplesmente
porque a medida questionada foi de agrado dos servidores públicos, para
capitulá-Ia como ilícita.”
(TRE-MG - RE: 4770 IPATINGA - MG, Relator: PAULO ROGÉRIO DE SOUZA
ABRANTES, Data de Julgamento: 28/03/2019, Data de Publicação: DJEMG -
Diário de Justiça Eletrônico-TREMG, Tomo 070, Data 22/04/2019)

E o voto divergente e vencedor ainda acrescenta:


“(...) Há ainda um segundo argumento, a meu sentir. A fixação da data do
pagamento dos servidores públicos é ato que se insere no âmbito do poder
discricionário do Administrador Público. Não pode, consequentemente, ser
objeto de sindicabilidade jurisdicíonal, notadamente para a aplicação da grave
sanção de cassação do mandato eletivo.(...)
Da análise dos autos, assim, não há que se falar na ocorrência de qualquer
fator que possa ter desequilibrado o pleito. Na condição de Prefeito interino, e,
portanto, ordenador de despesas, o recorrente Nardiello Rocha de Oliveiro era
a autoridade competente para implantar a diferença na folha de pagamento
(...)”.

Portanto, Nobre Relator, o abuso é um ato ilícito e que não pode ser confundido com

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um mero ato discricionário. Inexistindo caráter eleitoreiro, não há o que se falar em
descumprimento ao disposto no inciso XIV do artigo 22 da Lei Complementar 64 de 1990, pois
não houve qualquer uso desproporcional de recursos patrimoniais de forma a comprometer a
igualdade da disputa eleitoral.
Ora, para a ocorrência dos mencionados abusos, alguns requisitos devem ser preenchidos,
e que sem estes, não há a configuração das condutas vedadas. Primeiro, deve ser comprovada
a gravidade das condutas reputadas ilegais para a configuração do abuso do poder econômico,
a ponto de comprometer a legitimidade do pleito e a paridade de armas; deve haver, também,
pedido de voto e, ao menos, a presença dos candidatos.
Tais requisitos são exigidos e analisados com muita cautela diante da gravidade das san-
ções impostas em AIJE por abuso de poder, e que, por isto, é exigida prova robusta e incon-
teste para que haja condenação.
É possível afirmar, seguramente, que os Recorrentes não deram azo para que os atos de
gestão configurassem a prática de conduta vedada, quiçá abuso apto a ensejar a cassação/ ine-
legibilidade destes.
O Dr. José Alexandre Buchacra Araújo, Juiz que já integrou da Corte deste E.TRE/PA as-
sentou que “A Lei nº 9.504/97 impõe limites aos agentes públicos em ano de eleição, mas tais
limitações não podem "engessar" a atividade típica dos Poderes, no caso do Poder Legislativo,
legislar.” (TRE-PA - RE: 20897 PARAGOMINAS - PA, Relator: JOSÉ ALEXANDRE BUCHACRA ARA-
ÚJO, Data de Julgamento: 12/12/2017, Data de Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico,
Tomo 220, Data 19/12/2017, Página 1/3).
Também assentou-se nesta Corte que deve haver comprovada motivação de caráter
eleitoreiro na conduta tida como abusiva, veja-se:

ELEIÇÕES 2016. RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL. ABUSO DE PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. PINTURA DE ESPA-
ÇOS PÚBLICOS. UTILIZAÇÃO DE REQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEL DA SECRETÁ-
RIA MUNICIPAL DE SAÚDE PARA ABASTECER MOTOCICLETA DE APOIADOR.
COMPRA DE 2.000 LITROS DE GASOLINA NÃO CONTABILIZADOS ACERVO
PROBATÓRIO INSUFICIENTE. NÃO COMPROVAÇÃO DA INTENÇÃO DE AFERIR
VANTAGEM ELEITORAL. ABUSO DE PODER NÃO CONFIGURADO. RECURSO
PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA.

(...)

3. A configuração do abuso de poder político e econômico exige que a con-


duta seja consideravelmente grave e reprovável, não sendo relevante o as-
pecto quantitativo de sujeitos afetados.

4. É necessário também que as condutas visem desequilibrar disputa elei-


toral vindoura ou em curso, isto é, é necessário uma motivação de aferir
ganho eleitoral como motor da conduta abusiva

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(...)

7. O uso da requisição da Secretária de Saúde e a compra dos dois mil litros


de combustível pelo cunhado da Recorrente esbarram na mesma questão, a
saber a não comprovação de que tais ações visaram ganhos eleitorais e a
dependência exclusiva em provas produzidas durante a fase investigatória,
onde não é empregado o contraditório. 8. No caso da requisição, uma única
prova testemunhal colhida ainda na fase investigatória estabelece que houve
o quid pro quo entre a compra do combustível e a participação no ato de
campanha. Nenhuma outra prova produzida em juízo corrobora a conexão.
Portanto, o testemunho único sem o contraditório se mostra insuficiente
quando não corroborado para basear condenação. 9. Com relação a compra
dos dois mil litros de combustível pelo cunhado da candidata Recorrente,
não se encontra nos autos prova alguma de que este possuía qualquer liga-
ção com a campanha da Recorrente que não seja o nexo familiar. Tal con-
jectura, também lastreada unicamente em testemunhos coletados em fase
investigatória, não importa prova robusta o suficiente para configurar
abuso de poder. 10. Afastado o abuso de poder em todos os fundamentos
da sentença recorrida. 11. Sanção de inelegibilidade por 8 (oito) anos reti-
rada. 12. Recurso conhecido e provido.

(TRE-PA - RE: 000033505 AUGUSTO CORRÊA - PA, Relator: RAFAEL FECURY


NOGUEIRA, Data de Julgamento: 16/12/2021, Data de Publicação: DJE - Diá-
rio da Justiça Eletrônico, Tomo 16, Data 28/01/2022, Página 10-12)

Nas palavras do Ministro Jorge Mussi: "meras presunções quanto à prática de abuso de
poder e à gravidade das circunstâncias que o caracterizam não são suficientes para aplicação
das penas previstas no art. 22 da LC 64/90." (RO no 804738, Tel. Min. Jorge Mussi, DJE- Data
28/02/2018, Página 137/138), precedente que se amolda ao caso em concreto.
Portanto, de fácil constatação que a Ação é carente de fundamentação, e mais ainda de
provas, o que é inadmissível para fins de demonstrar a pratica de captação ilícita de sufrágio e
abuso de poder econômico, em consonância ao art. 22 da LC/64. E este é o entendimento da
Corte Eleitoral:
“Recurso ordinário. Investigação judicial eleitoral. Abuso de poder. Servidores comis-
sionados. Reunião. Votos. Captação irregular. LC no 64/90, art. 22. Carência de provas.
Não-caracterização. Intimação de testemunhas. Desnecessidade. [...] A caracterização
de abuso de poder capaz de desequilibrar as eleições pressupõe a produção de pro-
vas suficientes à demonstração tanto da materialidade quanto da autoria do ato ilí-
cito”. (Ac. de 23.11.2004 no RO no 701, rel. Min. Humberto Gomes de Barros.)

RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ABUSO DE PO-


DER. ECONÔMICO E POLÍTICO. PROVAS ROBUSTAS. INEXISTÊNCIA. AÇÃO JULGADA
IMPROCEDENTE. RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1- Não há nenhum
registro na peça recursal de que haveria comprovação inequívoca nos presentes
autos dos fatos imputados na inicial, de modo que já é assento no Tribunal Supe-

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Número do documento: 22021015384077700000098034581
rior Eleitoral que "meras presunções quanto à prática de abuso de poder e à gra-
vidade das circunstâncias que o caracterizam não são suficientes para aplicação
das penas previstas no art. 22 da LC 64/90. Precedentes" (RO nº 804738, Tel. Min.
Jorge Mussi, DJE - Data 28/02/2018, Página 137/138). 2- Vê-se portanto que nenhum
dos apontamentos do recorrente imputado aos recorridos pode ser acolhido, inexis-
tindo assim qualquer ato que pudesse de forma segura evidenciar indícios de prática
de abuso de poder político ou econômico, de modo que merecem ser rechaçadas as
alegações contidas nas razões recursais. (TRE-MT - RE: 50693 ROSÁRIO OESTE - MT,
Relator: RICARDO GOMES DE ALMEIDA, Data de Julgamento: 02/07/2019, DEJE,
Tomo 2960, Data 11/07/2019, Página 2)

Assim sendo, se no momento da propositura da inicial as “provas” juntadas são


extremamente frágeis, impassíveis de relacionar qualquer conduta que possa demonstrar a
pratica do abuso, não há outro destino à Ação que não seja a extinção do feito sem julgamento
do mérito, por inexistência de provas. É o entendimento majoritários do E. TSE, mas atente-se
ao recente julgado colacionado abaixo:
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2018 . PRELIMINARES DE
AUSÊNCIA DE FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO, DECADÊNCIA,
DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E DE FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL. REJEIÇÃO. MÉ-
RITO. ABUSO DE PODER POLÍTICO. NÃO COMPROVAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE VIÉS ELEI-
TOREIRO NAS CONDUTAS IMPUGNADAS. IMPROCEDÊNCIA.
(...) Para a configuração do abuso de poder, é indispensável a finalidade eleitoreira
da conduta objurgada (fim especial de agir), cuja prova, aliás, demanda a existên-
cia de elementos robustos e concretos. Nas condutas impugnadas, não se verifica
qualquer evidência do propósito eleitoreiro ou do uso dessa circunstância em fa-
vor da candidatura dos investigados, não sendo aptas, portanto, a configurarem o
abuso de poder alegado. Outrossim, não é possível o reconhecimento do prática
de abuso de poder com base em meras presunções, a teor de entendimento já
sedimentado no âmbito da jurisprudência. Improcedência da pretensão autoral.
(TRE-RN - AIJE: 060163306 NATAL - RN, Relator: CORNELIO ALVES DE AZEVEDO
NETO, Data de Julgamento: 08/06/2020, Data de Publicação: DJE 10/06/2020, Pá-
gina 3-4)

É consabido que, para a aplicação da penalidade de cassação do registro ou do mandato


não é suficiente indicar que “(...) Não foi apresentado nos autos o ato administrativo formal que
instituiu a medida de suspensão, levando-se a acreditar que ele não chegou a ser editado em
descumprimento ao princípio da legalidade e publicidade (...)”; levando-se a acreditar,
Excelência? Não há firmeza na afirmação do juízo sentenciante, e já se provou acima que houve
a devida publicidade ao ato da suspensão proveniente de ato administrativo.
Requerer a cassação de mandato dos Investigados por tais motivos é querer, no mínimo,
forçar o julgador a vislumbrar irregularidade que inexiste.
Nesse ponto, como já dito acima, a declaração de inelegibilidade prevista no art. 22, XVI,
da Lei Complementar n° 64/90, ocorre em relação aquele que efetivamente contribuiu para a
prática do ato abusivo, razão pela qual, era indispensável a comprovação da efetiva prática
conduta vedada para reconhecimento de eventual abuso de poder, de forma pormenorizada,

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o que manifestamente não ocorreu.
O Recorrido faz alegações baseadas em meras presunções, ilações, sem nenhum fato
concreto ou minimamente provado de que o candidato à Prefeitura utilizou de meios ilícitos
com o fito de promover a candidatura de seu sucessor.
Nesta senda, Nobre Relator(a), imperioso destacar a carência de fundamentos para o
provimento desta ação, não apenas pela inequívoca falta de fundamentos fáticos e, por
consequência lógica, falta de provas robustas, mas, precipuamente, por falta de condutas
ilícitas, menos ainda condutas graves, que pudessem, ainda mesmo no campo da possibilidade,
macular a legitimidade ou normalidade das eleições ou, mais especificamente, violar a
liberdade do voto de quem quer que fosse, eis que como comprova a inicial, não houve
nenhuma referência, pedido ou sugestão de voto, candidato ou mesmo de eleições.
Diante do exposto, imperioso que seja o presente Recurso Eleitoral conhecido e
totalmente provido, para que a sentença seja cassada, com a consequente e inequívoca
improcedência desta AIJE, forte na Doutrina, na Jurisprudência e nos fundamentos fáticos e
jurídicos que se apresentam de forma cabal.

5. DO PEDIDO SUBSIDIÁRIO. DA EVENTUALIDADE. PROPORCIONALIDADE. APLICAÇÃO


DE MULTA EM SEU MÍNIMO LEGAL.

Excelência, cabe pontuar, ad argurmentandum tantum, que, no caso remoto e


inesperado de se caminhar pela reforma parcial da sentença, no sentido de manter a
procedência da AIJE, certo é que o resultado não poderá ultrapassar a aplicação de multa
pecuniária e sempre, em valor mínimo.
Desta forma, punir os Recorrentes por algo do qual não resulta nenhum benefício
eleitoral, não demonstra proporcionalidade, menos ainda com sanção superior à multa
pecuniária mínima e ainda cassar diploma e os tornar inelegíveis por 8 (oito) anos é certamente
abusivo e incompatível com o caso concreto, com o Direito e com a jurisprudência, como
elucida Rodrigo Lopes Zilio:
“No entanto, com o fito de evitar punição injusta ou desarrazoada, tem-se
adotado o princípio da proporcionalidade na aplicação das sanções,
reservando-se a cassação do registro ou do diploma para atos que,
efetivamente, demonstrem inequívoca gravosidade no processo eleitoral em
curso. Se o fato não ostenta gravidade excessiva, reconhece-se a conduta
vedada com a aplicação de sanção alternativa à cassação do registro ou
diploma – seja a multa, suspensão da conduta ou exclusão dos recursos do
fundo partidário. Neste norte, JAIRO GOMES observa que “o fato de uma
conduta ser vedada a agente estatal não significa que sempre e
necessariamente leve à cassação do diploma, pois nesta seara incide o
princípio da proporcionalidade, pelo qual a sanção deve ser sempre ponderada
em função da lesão perpetrada ao bem jurídico. Em tese, uma conduta vedada
pode ser sancionada com multa, com a só determinação da cessação ou

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mesmo com a invalidação do ato impugnado” (p. 515). [ZILIO, Rodrigo López.
Potencialidade, gravidade e proporcionalidade: uma análise do art. 22, inciso
XVI, da Lei nº 64/90. Revista Diálogos Eleitorais, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, dez.
2012, p. 124-142. ISSN 2238-6831. Disponível
em:http://www.flaviocheim.com.br/wp-content/uploads/2013/06/Artigo-
Potencialidade-gravidade-e-proporcionalidade.pdf . Acessado em: 04 de
outubro de 2016.

No mesmo caminho, o TSE, a este respeito, assentou ainda que a pena deva ser dosada
com base nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, aplicando-se a cassação de
diploma (e, pois, de direitos políticos) apenas nos casos mais extremos, como se vê:
CONDUTA VEDADA. PUBLICIDADE INSTITUCIONAL. ABUSO DE PODER. USO
INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. 1. [...]
4. segundo a atual jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, quanto ao tema
das condutas vedadas do art. 73 da Lei nº 9.504/97, deve-se observar o princípio
da proporcionalidade e somente se exige a potencialidade do fato naqueles casos
mais graves, em que se cogita da cassação o registro ou do diploma.
5. Diante das circunstâncias do caso, a publicidade institucional foi veiculada sem
excesso, nem desvio de finalidade, tampouco promoção pessoal, não havendo como
reconhecer abuso de poder ou uso indevido dos meios de comunicação social, com
potencialidade para prejudicar a legitimidade e a regularidade do pleito, aptos a
impor o pedido de inelegibilidade. Recurso ordinário parcialmente provida (TSE,
Recurso Ordinário nº 1680-11/AL, Rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe 4.5.2012). (destaca-
se).
“Conduta vedada. Distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios. (...) 2. A pena
de cassação de registro ou diploma só deve ser imposta em caso de gravidade da
conduta. Recurso ordinário provido, em parte, para aplicar a pena de multa ao
responsável e aos beneficiários” (RO 149.655, j. 13.12.2011, rel. Min. Arnaldo
Versiani, DJe 24.02.2012).

“(...) Conduta Vedada a agente público em campanha. Aplicação de critério de


proporcionalidade. Reforma do acórdão quanto à cassação do diploma.
Conhecimento parcial e provimento do recurso. (...) 2 – A lesividade de ‘ínfima
extensão’ não afeta a igualdade de oportunidades dos concorrentes, mostrando-
se, portanto, desproporcional a cassação do registro ou diploma, sendo suficiente
a multa para reprimir a conduta vedada. (...)” (Respe 35.739, j. 26.08.2010, Rel. Min.
Fernando Gonçalves, red. Designado Min. Marcelo Ribeiro, DJe 18.02.2011).

“Agravos regimentais em recurso especial eleitoral. Representação. Conduta


vedada. Art. 73 da lei 9.504/1997. Aplicação de pena pecuniária. Não cassação dos
diplomas outorgados. Princípio da proporcionalidade. Sanção suficiente para
reprimir o ato praticado considerada a sua gravidade (...)” (AgRg-Respe 5.158.135,
j. 19.08.2010, rel. Min. Carmen Lúcia, DJe 01.10.2010).

Portanto, além de inexistir conduta vedada , nem muito menos abuso, em nenhuma
hipótese poderia advir a pena extrema de cassação, e rememore-se que para o abuso em si
seria imprescindível, repita-se, o desequilíbrio de forças, que tampouco existe. Lembre-se o

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Acórdão deste E. TRE/PA na AIJE 3170-93.2014.6.14.0000, em que se frisou, no que interessa:
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. AIJE. ELEIÇÕES 2014. PRÁTICAS
ABUSIVAS. ARTIGO 22, XIV, DA LC Nº 64/90. PRELIMINAR SUSCITADA SOB
VÁRIOS TÍTULOS. LITISPENDÊNCIA. COISA JULGADA. PRÁTICAS ABUSIVAS.
DIFERENÇAS DE OBJETO DAS DEMANDAS. RITO. COMPETÊNCIA. REJEIÇÃO.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA. SUSCITANTES POSSÍVEIS
BENEFICIÁRIOS DA SUPOSTA CONDUTA. BENEFICIÁRIOS SÃO LEGITIMADOS.
REJEIÇÃO. MÉRITO. ABUSO. PODER ECONÔMICO. CONDUTAS NÃO SE
CONFIGURAM NA DEFINIÇÃO. USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO.
TELEOLOGIA. LEGITIMIDADE E NORMALIDADE DO PLEITO. CONCORRÊNCIA
DESLEAL. IGUALDADE DE CHANCES. FATOS PÚBLICOS E NOTÓRIOS.
DEMANDANTES. CONGLOMERADO MIDIÁTICO À DISPOSIÇÃO. UTILIZAÇÃO.
DESEQUILÍBRIO NÃO CONFIGURADO. LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
DESVIRTUAMENTO NÃO CONFIGURADO PELAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO.
JORNAIS IMPRESSOS. ASSUNÇÃO DE POSICIONAMENTO PERMITIDA.
ACUSAÇÃO DE POSICIONAMENTO PERMITIDA. ACUSAÇÃO A OUTRO MEIO DE
COMUNICAÇÃO DESPROVIDO DE PROVAS. RÁDIO. COMENTARISTAS.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. DIREITO CONSTITUCIONAL. SUPOSTOS GASTOS
EXCESSIVOS COM PROPAGANDA PELO GOVERNO. ALEGAÇÃO DE ABUSO DE
PODER ECONÔMICO. ABUSO DE PODER POLÍTICO. NÃO COMPROVAÇÃO.
OBEDIÊNCIA À LEI. IMPROCEDÊNCIA.
[...] 3. O abuso de poder econômico se configura quando há a UTILIZAÇÃO
SOBEJADA DOS RECURSOS FINANCEIROS À DISPOSIÇÃO DE CANDIDATO DE
MANEIRA QUE ESSA AÇÃO DESEQUILIBRE A DISPUTA ELEITORAL e, portanto,
haja consequências negativas para a legitimidade e normalidade do pleito.
Se a descrição dos fatos não se amolda a essa definição e não há prova do
ilícito, os demandados devem ser absolvidos.
4. A teleologia das modalidades de abuso é resguardar a legitimidade das
eleições, que se manifesta na ocorrência leal e na igualdade de chances entre
candidatos. Se a realidade patente, os fatos públicos e notórios demonstram
que os próprios demandantes tinham a seu dispor um conglomerado
midiático utilizado para ataques a adversários e divulgação de feitos
próprios, não há desequilíbrio substancial algum e, portanto, o ilícito “abuso
ou uso indevido dos meios de comunicação” não se conforma. (TRE/PA, AIJE
3170-93.2014.6.14.0000, Rel. Des. Roberto Moura, Dje 10/08/2017)

No mesmo sentido, este E.TRE/PA, em recente julgado (RE: 64643 - Data de Publicação:
DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 102, Data 02/06/2021, Página 3/4) definiu que, “Para a
procedência do pedido de AIJE, devemos perquirir acerca da gravidade das condutas que se
reputam como sendo irregulares e que se provem de forma robusta, na medida em que esta
sanção prevista no dispositivo legal é severa, de modo que a jurisprudência eleitoral não
consagra qualquer irregularidade para ensejar este efeito de cassação do diploma e a
consequente inelegibilidade.”
Ora, em que pese as alegações e pedidos trazidos à inicial e concordados em parte
pelo eminente magistrado, não deve subsistir a condenação imposta pela sentença de 1º grau

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aos recorrentes, devendo esta ser reformada pela completa ausência de robustez probatória
de elementos graves suficientes a serem devidas as sanções decorrentes da procedência da
ação eleitoral.
Vejamos o que esta Corte decidiu:

RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL.


ELEÇÕES 2016. PRELIMINARES AFASTADAS. NÃO OCORRÊNCIA DECA-
DÊNCIA DO DIREITO DE AÇÃO. CONDUTA VEDADA. ABUSO DE PODER
POLÍTICO. ARTIGO 73 IV § 10, DA LEI Nº 9.504/97. PROMOÇÃO PES-
SOAL PROGRAMA SOCIAL. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA. DISTRIBUI-
ÇÃO DE TÍTULOS DEFINITIVOS DE IMÓVEIS. BENESSES. CONCESSÃO DE
DIREITO REAL DE PROPRIEDADE. CONDUTA VEDADA. OCORRÊNCIA.
ABUSO DE PODER POLÍTICO. NÃO CONFIGURAÇÃO. EXCLUSÃO DA
SANÇÃO DE INELEGIBILIDADE. PROVIMENTO PARCIAL. 1. Não houve a
ocorrência da decadência do direito de ação, por suposta ausência de
formação do litisconsórcio passivo, já que eventual sanção não atingirá
a esfera jurídica do candidato a vice-prefeito que não participou dos
fatos sob análise, sendo, portanto, desnecessária a formação do litis-
consórcio passivo com a participação do então candidato a vice-pre-
feito. Preliminar não acolhida 2. Preliminar de eventual falha de fun-
damentação da decisão do juízo a quo afastada, já que não se trata de
ausência de fundamentação no tocante à Lei municipal, mas sim en-
tendimento do magistrado de 1º grau. 3. É incontroversa a distribuição
de títulos de legitimação de posse pelo então prefeito e candidato à
reeleição aos munícipes, pois, além do farto material probatório acos-
tado aos autos, o próprio recorrente confirma a realização inclusive
em suas razões recursais. 4. Inexistência de prévia autorização orça-
mentária, pois embora a existência da Lei Municipal (Código de Ter-
ras), seja de 2003, os elementos probatórios colhidos nos autos são
inequívocos quanto à instituição do programa "minha terra legal" -
programa de regularização fundiária hostilizado nos vertentes autos -
tão somente no ano de 2016 e por meio do Decreto Municipal. 5. A
regularização da posse configurou efetiva distribuição gratuita de ser-
viços de caráter social, custeada ou subvencionada pelo Poder Público,
tendo em vista que foi promovido pela prefeitura, o que, portanto, tal
qual parte da previsão do disposto no inciso IV do artigo 73 da Lei nº
9.504/97, mas também podendo ser classificada como distribuição de
benefícios por parte da Administração em ano eleitoral, o que também
se subsume à primeira parte do § 10 do precitado artigo. 6. Não restou
configurado o abuso de poder político, porque as entregas dos títulos
de outorga de domínio útil não ocorreram pela primeira vez no ano
eleitoral. Diversos títulos foram formalizados em anos anteriores. 7.
A regularização de bens imóveis ocupados de forma precária na área
urbana do município atende ao apelo e aos requerimentos de diversos

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moradores e também esforço da Defensoria Pública, do próprio Minis-
tério Público Local e Procuradoria da República de efetivar a regulari-
zação de bens imóveis ocupados de forma precária - termo de com-
promisso e ajuste de conduta. 8. A partir de critérios tanto qualitati-
vos quanto quantitativos, ausente a gravidade e a relevância jurídica
da conduta vedada a ensejar cassação de diploma e inelegibilidade
por abuso do poder político (art. 22, XIV, da LC nº 64/1990). 9. A con-
denação por abuso de poder político não pode ser baseada em pre-
sunção, requer prova robusta de demonstração da prática do ilícito,
tendo em vista a gravidade da sanção imposta. 10. Recurso parcial-
mente provido. Inelegibilidade afastada.

(TRE-PA - RE: 64643 CASTANHAL - PA, Relator: JUIZ FEDERAL SÉRGIO


WOLNEY DE OLIVEIRA BATISTA GUEDES, Data de Julgamento:
13/05/2021, Data de Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico,
Tomo 102, Data 02/06/2021, Página 3/4)

E no caso da AIJE em questão, Excelência, repita-se, inexiste qualquer abuso por parte
dos investigados, menos ainda por parte dos Recorrentes. Vê-se mesmo que a AIJE é de todo
carente de fundamento e de lastro probatório, merecendo ser rejeitada imediatamente, na
exata linha da jurisprudência e, caso assim Vossa Excelência não entenda, que seja julgada
totalmente improcedente, tendo a inelegibilidade e cassação dos mandatos afastados, por
não guardar qualquer gravidade.

4. DOS PEDIDOS:
Destarte, diante de tudo o que se expôs, requer-se a este Douto Juízo que conheça
do presente recurso para:
a) Em todos os casos, por preenchidos os requisitos de admissibilidade e por servir a
prequestionar pontos para eventual recurso posterior, conheça o presente Recurso
Eleitoral, admitindo-o e processando, respeitadas as formalidades legais;
b) Julgar pelo seu provimento, reformando a decisão recorrida, para que seja a
Investigação Eleitoral julgada totalmente improcedente;
c) Subsidiariamente, na remota hipotese de Vossa Excelência entender que ocorreu
qualquer abuso praticado pelos Recorrentes, que seja tão somente aplicada sanção de
multa;
d) Proceda a todas as formalidades processuais, intimando a Parte de toda e qualquer
decisão, no endereço subscrito, bem como de todos os atos necessários ao processo.

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Nesses Termos,
Pede Deferimento.
Belém, 10 de Fevereiro de 2022.

BIANCA RIBEIRO LOBATO


OAB/PA 24.701

LEONARDO MAIA NASCIMENTO


OAB/PA 14.871

ARTHUR SISO PINHEIRO


OAB/PA 17.657

Assinado eletronicamente por: ARTHUR SISO PINHEIRO - 10/02/2022 15:38:41 Num. 102883856 - Pág. 24
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