Prótese Ocular
Histórico de Prótese Ocular
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Esp. Karen Lobianco de Moura
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Histórico de Prótese Ocular
• Introdução;
• Etiologias das Perdas Oculares;
• Tipos de Cirurgias das Perdas Oculares.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Conhecer a história da prótese ocular, sua evolução até os tempos de hoje, patologias que
levam à perda do globo ocular;
• Entender a importância de uma boa avaliação para a prevenção;
• Aprender que para cada patologia é feita uma cirurgia específica (enucleação, evisceração
e exenteração).
UNIDADE Histórico de Prótese Ocular
Introdução
No estudo da história da prótese ocular você observará que o homem em suas
primeiras manifestações artísticas não esboçava interesse em reproduzir o órgão
visual. Tal fato pode ser visto nas pinturas artísticas da época.
Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons
Nas regiões litorâneas, os habitantes usaram peças do mar no experimento para
reproduzir o órgão visual, e os antigos egípcios embelezavam suas estátuas com ouro
e pedras preciosas, o que se pode observar na própria estátua egípcia Ra-em-Ké
esculpida no quarto século a.C., aparentando vida – pelos materiais empregados.
Segundo Phelps J. Murphey e colaboradores em trabalhos apresentados em
1949, a China Antiga adornava as estátuas desde 2.000 a.C., onde o bulbo ocular
era substituído por jade.
Já os antigos romanos e gregos adornavam algumas de suas estátuas com olhos
artificiais em ouro e pedras preciosas.
Pela falta de informações precisas não é possível, até a época de Ambroise Paré –
considerado o “Pai da prótese” –, saber a ordem exata dos fatos, mas a história relata
que as estátuas, desenhos e cirurgias dos olhos correspondem de 2.500 a 5.000 a.C.
Por volta do século XVI a profissão médica integrava três classes: médicos com
conhecimentos teóricos e o latim era usado em seus escritos, cirurgiões que tratavam
feridas e traumatismos externos e, por último, os cirurgiões-barbeiros, que além de
barbear seus clientes também faziam sangrias, aplicavam sanguessugas e ventosas,
concorrendo com os cirurgiões, muitas vezes fazendo curativos e abrindo abcessos.
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Sobre antigos babilônios e sumerianos, sabe-se que manifestavam interesse em fazer
intervenções cirúrgicas e regiam suas leis, em que cirurgias bem-sucedidas eram otima-
mente remuneradas e nas mal-sucedidas o cirurgião teria as suas mãos amputadas.
Segundo Colomb, oculista francês, os olhos artificiais foram empregados primei-
ramente em estátuas, depois em corpos embalsamados; afirma ainda Colomb que as
pseudopróteses foram empregadas pelos sacerdotes do Antigo Egito, que pintavam
cerâmica imitando olhos e pálpebras – colocados em pacientes.
Sendo as próteses colocadas para disfarçar lesões, surgiram, tempos depois, as
próteses oculares intracavitárias.
Em 1818, Hazard Mirault descreveu as reparações oculares em corpos embalsa-
mados, olhos confeccionados em prata pintada semelhantes aos humanos, mas fei-
tos de bronze e cobre enquanto escleras de calcito, íris em pedra polida ou em ouro
pintado de marrom ou preto. A confecção desses olhos e os materiais empregados
de certa forma mostrava a evolução do povo.
Em outras ocasiões as múmias eram enfeitadas com olhos artificiais na forma de
esferas de prata, técnica também usada pelos antigos incas.
Os egípcios, em 2000 a.C., já conheciam o vidro e até 500 a.C. já dominavam a
técnica do vidro claro, porém, não aproveitaram nos olhos artificiais.
No Antigo Egito, onde estudiosos denominavam terra de cegos, por haver ali
grande quantidade de cegos e por manifestarem constante preocupação com seu
povo – o que pode ser notado na construção dos templos para que, quando os cegos
tocassem os pilares, orientassem-se para a Meca (cidade da Arábia Saudita conside-
rada a mais sagrada no mundo para os muçulmanos).
Segundo historiadores, o motivo da queda do Império Egípcio fora a epidemia
dos cegos, que é compreensível segundo a falta de orientação e cuidados de higiene,
levando à alta incidência de cegueira. Com o conhecimento adquirido pelos antigos
egípcios, que eram considerados evoluídos para a época, tudo leva a crer que foram
anunciadores das próteses oculares.
É sabido que a falta de higiene ocasionou muitas falhas, mas é evidente que a evolu-
ção das próteses, passando por diferentes povos, contribuiu para o seu aprimoramento.
Com o progresso da Ciência em prótese ocular, eis que surgiu Ambroise Paré,
cirurgião-barbeiro, que viveu de 1500 a 1590 e escreveu livros contribuindo com
conhecimentos científicos. Pesquisou e descreveu o ecbleparon, caracterizado como
disfarce, um aro metálico que contornava a cabeça e terminava em uma placa oval,
pintada imitando a região ocular palpebral adaptada na região orbital.
Com sua generosidade de caráter humanitário e pensando sempre no melhor
para o próximo, Paré aprimorou a qualidade dos olhos artificiais utilizando técnicas
de confecção e materiais como esferas de prata e ouro esmaltado, levando-o ao po-
pular reconhecimento. Por mais delicado que fossem os materiais, não chegavam a
substituir o vidro.
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UNIDADE Histórico de Prótese Ocular
Segundo Valvo (1967), Fabrício de Acquapendente aperfeiçoou o formato dos
olhos artificiais em vidro.
Veneza foi o primeiro centro de monopólio na confecção das próteses, pois era
reduto artístico desse artesanato, uma vez que a produção por tempos estivesse nas
mãos dos assopradores de vidro.
Mais tarde a arte se espalhou para a Itália, que guardava o segredo de confecção
das próteses, punindo quem divulgasse o trabalho. Mesmo assim não conseguiram
impedir por muito tempo, pois os assopradores de vidro da Boêmia e França apren-
deram a arte dos olhos artificiais.
Na mesma época um assoprador de vidro de Turíngia de nome Ludwig Muller Uri,
que fabricava olhos para bonecas, chamou a atenção de um médico, que solicitou a
construção de uma prótese para um paciente, onde o resultado fora surpreendente,
passando a construir rotineiramente, levando-o ao reconhecimento profissional e a
Alemanha a dominar o mercado mundial de olhos artificiais.
Em meados do século XVIII o desenvolvimento técnico dos olhos artificiais em
vidro foi aprimorado pela França, Itália e Alemanha, onde destacava-se o assoprador
de vidro Ludwig.
Embora a guerra seja um tempo de muitas perdas, é fato que no campo de de-
senvolvimento dos olhos artificiais ocorreu grande avanço devido à dificuldade de se
obter, da Alemanha, olhos pré-fabricados e matérias-primas.
Por tempos como as Duas Guerras Mundiais, passou-se a confeccionar as próte-
ses em vidro na América do Norte sem sucesso.
Em 1935 surgiu a resina vinílica utilizada por James Tavares nas próteses ocula-
res, significativa mudança, uma vez que os materiais plásticos estavam esquecidos.
Os iniciadores da prótese ocular foram os inesquecíveis tupinambás, Érico Kramer
de Oliveira e Gamboa Varela. Não podemos esquecer dos notáveis Vianna Rode,
Fonseca, Rezende, Montagna, Rose Macedo, Carvalho, Brito, Dias e outros que se
esmeraram nas pesquisas para a evolução em novas tecnologias.
Érico Kramer de Oliveira ministrou, na Cidade de Curitiba, PR, em julho de 1962
um curso sobre próteses, onde professores se interessaram pelo assunto.
Em 1963, em São Paulo, houve disciplina sobre Prótese e Traumatologia Maxilo-
-Faciais, incluída na programação de ensino da Universidade de São Paulo, iniciando
os trabalhos assistidos na prestação de serviço à própria comunidade.
Em 1968, Rolf Rode, na Faculdade de Odontologia, em São José dos Campos,
SP, apresentou a sua tese para Doutorado em Ciências, a primeira na área no Brasil,
intitulada Motilidade em prótese ocular (VARELLA, 1995).
Hoje em dia, com os avanços tecnológicos na confecção, técnicas e materiais
usados nas próteses, novas ideias e interessados pelo assunto surgem para o aprimo-
ramento – pensando sempre no paciente.
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O aprimoramento tem como objetivo levar ao paciente conforto, proteção, esté-
tica, autoestima e socialização, pois todo o estudo e avanço sempre são realizados
pensando no melhor atendimento ao paciente.
Etiologias das Perdas Oculares
O termo etiologia se refere à investigação das causas relacionadas a determinado
assunto, aqui citamos as patologias.
Figura 2
Fonte: Getty Images
Quanto à incidência das perdas oculares, torna-se difícil uma estatística exata,
pois a análise crítica adotada varia entre autores e os materiais selecionados não são
considerados de interesse para uma estatística, pois há maior interesse em investigar
a patologia que levou à retirada do globo ocular do que exatamente a causa imediata
como dor, inflamação ou inestética. Isso ocorre porque normalmente a etiologia é
incerta, porém, a causa primária é facilmente identificada.
Com os grandes avanços na área da Saúde no que diz respeito à cirurgia (exérese)
de retirada do globo ocular, hoje se faz com menos frequência, pois a ideia é tentar
todos os recursos antes da cirurgia.
O motivo de se apresentar outros tratamentos antes da exérese é pensando no
paciente que muitas vezes prefere o seu olho no local ainda que sem função visual
a ser mutilado, uma vez que o olho não é só um instrumento de percepção, mas
também um fator psicodinâmico na vida do ser humano.
A primeira forma de expressão usada pelo ser humano é através da face juntamente
com os órgãos que a compõem, expressões como tristeza, felicidade, surpresa, zanga
e outras.
As expressões faciais possibilitam a comunicação com o mundo, e um dos órgãos
que contribui muito com as expressões corresponde aos olhos que, segundo algumas
literaturas, é a “janela da alma”.
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Quando a perda é de um órgão que contribui para expressar vários sentimentos,
ali se fora qualquer esperança de fazer parte do mundo novamente, assim como a
autoestima, surgindo os distúrbios mentais.
Sobre as perdas das estruturas faciais vemos as oculares avançar a cada dia, de
modo que classificamos as perdas oculares como congênitas ou adquiridas.
Em caráter congênito podemos citar o glaucoma congênito, a agenesia do bulbo
ocular e microftalmia.
• Glaucoma congênito: é a condição causada pelo aumento da pressão dentro
do olho devido ao acúmulo de líquido, podendo afetar o nervo óptico, o que
caracteriza uma neuropatia óptica, vista como uma das maiores perdas oculares
(37%). Caracterizada como lesão progressiva do nervo óptico, expandindo e
reproduzindo para o campo visual. Quando não tratado, leva à perda de percep-
ção de luz (cegueira). Nas fases finais, o olho torna-se desordenado e dolorido,
fazendo-se necessária a remoção do mesmo (URBANO, 2003);
• Agenesia do bulbo ocular: atrofia do bulbo ocular por parada do desenvolvi-
mento na fase embrionária, olhos incapazes de receber luz, atrofiados e doloro-
sos. Dentro das atrofias do bulbo ocular também podemos citar o Phthisis Bulbi,
que é um problema ocular caracterizado por graves lesões oculares, não sendo o
surgimento na fase embrionária, mas levando à atrofia. Conhecido como estágio
final, o Phthisis Bulbi tem como causas cicatrizes, inflamações e a desorganização
do globo ocular, onde pode ocorrer a diminuição do mesmo. Os sintomas são va-
riados, tais como visão embaçada, nublada, moscas volantes, sensibilidade à luz,
dor, vermelhidão, inchaço, perda visual e sensibilidade ao redor dos olhos. Já as
causas que levam ao Phthisis Bulbi incluem infecções não tratadas, complicações
em cirurgias, descolamento crônico da retina, inflamações a longo prazo etc.;
• Microftalmia: é a redução do tamanho do bulbo ocular caracterizado pela falta
de desenvolvimento, podendo manifestar-se unilateral ou bilateralmente. De cará-
ter congênito, mas também podendo estar associada a manifestações estruturais
do segmento anterior e posterior, as manifestações mais comuns no segmento
posterior incluem opacidades corneanas, cataratas e o fechamento do ângulo da
câmera anterior e as manifestações do segmento posterior, incluindo as dobras da
retina, efusão uveal, depressão foveal, retinosquise periférica etc. Outras situações
que causam a microftalmia são as infecções gestacionais, entre elas temos a rubé-
ola, toxoplasmose, varicela, citomegalovírus, Herpes zoster etc.
Não apenas por infecção a microftalmia pode manifestar-se, mas também na
mutação de vários genes, a falta materna de vitamina A, a exposição aos raios X,
solventes e outros.
Nas perdas oculares adquiridas temos os traumas (contusões, lesões por agentes
químicos, não perfurantes e perfurantes) e as patologias. Nas patologias temos as que
se referem aos tumores, tais como retinoblastoma, melanoma, tumores intraoculares
metastáticos, tumores orbitários (glioma, meningioma, rabdomiosarcoma), tumores se-
cundários da órbita, (neuroblastoma); já nas patologias relacionadas a infecções temos
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as doenças corneanas, sendo um dos motivos da causa o uso inadequado de lentes de
contato, o glaucoma, a panoftalmia e oftalmia simpática.
Diferentemente dos traumas que acontecem em outras partes do corpo, os que
ocorrem nos olhos são de características mais preocupantes pela delicadeza e sen-
sibilidade. Os traumas que acometem outras partes do corpo são considerados de
mais fácil recuperação e com menor índice de sequelas que os olhos, podendo levar
à perda visual ou atrofia dos órgãos e até mesmo à remoção imediata do mesmo.
Pesquisas relatam que a incidência de acidentes oculares tende a acontecer nas
três primeiras décadas de vida, tendo como maior ocorrência a primeira. Quanto ao
gênero nas perdas oculares temos o masculino considerado com o maior número
– até mesmo pela exposição a riscos do dia a dia, tais como em crianças (quinas de
móveis, objetos perfurantes etc.), nos adultos (trabalhos de risco, esportes etc.) e nos
idosos (quedas constantes).
Os acidentes automobilísticos apontam valor expressivo no Brasil e em adultos de-
vido a pancadas no crânio e face, sem contar os que ocorrem diretamente nos olhos.
Segundo Werner, em estudo com 215 crianças, as principais causas são de trau-
mas, a saber:
• 84 causados pela própria criança;
• 77 provocados por outras crianças;
• 43 ocorridos ao acaso;
• 11 causas desconhecidas.
Ademais, as perdas oculares por traumas são classificadas como:
• Contusos: lesões sem cortes, ou seja, fechadas ocasionando danos nos tecidos
moles, com dores e edemas podendo se dar por diferentes agentes, tais como
acidentes automobilísticos, por pedras, madeiras e outros, tais como:
» Catarata traumática: caracteriza-se pela opacificação do cristalino, levando
a sintomas como mudança dióptrica, falta de nitidez nas cores, baixa de acui-
dade visual;
» Descolamento de retina: quando a retina se desprende da superfície interna
do globo ocular, dependendo do trauma, pode ser parcial ou total, gerando
alguns sintomas como imagens irregulares e falta de nitidez da visão.
• Leucoma: opacificação corneana total ou parcial, deixando a córnea com as-
pecto branco. As causas podem ser por infecções (herpes), traumas e até por
motivo congênito;
• Hemoftalmia: é o acúmulo de sangue na câmera vítrea devido ao trauma, cau-
sando atrofia do globo ocular;
• Midríase traumática: ocorre devido ao trauma na dilatação da pupila, por ve-
zes acontece que a pupila volta ao normal, mas quando não, torna-se definitiva;
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UNIDADE Histórico de Prótese Ocular
• Glaucoma traumático: é mais comum na prática de esportes como boxe, fu-
tebol e outros, causado por lesões que podem acontecer de imediato ou algum
tempo depois;
• Hifema: geralmente de origem traumática, onde ocorre o acúmulo de sangue na
câmera anterior do olho, podendo ser também por problemas de saúde, levando
ao glaucoma ou até à perda da visão.
Sobre as lesões, temos o seguinte:
Lesões por Agentes Químicos
Ocorrem quando os olhos entram em contato com algum tipo de base, sal ou
ácido como amônia, soda cáustica, hidróxido de potássio e outros. As lesões podem
variar de uma conjuntivite química até queimadura, levando à perfuração e exigindo,
assim, a remoção do olho.
Lesões Não Perfurantes
Em lesões perfurantes onde permanece o corpo estranho intraocular o tratamento
é difícil e grave. Quando o corpo estranho não atravessa a parede há possibilidade de
ser removido sem muitas complicações. Já os que penetram no corpo ciliar são con-
siderados mais graves pela ação desse órgão na manutenção da pressão intraocular.
No caso de o corpo estranho ser magnético, imãs podem favorecer a sua extra-
ção, porém, o não magnético é considerado mais difícil. Já no rádio opaca a conduta
é analisar através da radiografia. O rádio transparente necessita de análise através da
biomicroscopia ou oftalmoscopia para o rastreamento.
Em casos de lesões perfurantes mais severas o objeto deve ser deixado no local e
observar a tolerância do olho com o material de que é composto o objeto. Há uma
maior tolerância para vidros, cristais e plásticos. O ferro produz uma reação chama-
da sederosis e o cobre, calcosis.
As medidas de segurança e procedimentos cirúrgicos tiveram um grande avanço,
mas ainda assim os corpos estranhos intraoculares são causas de grande número de
cegueira e exérese do globo ocular.
Tumores
Há basicamente dois tipos de tumores que podem resultar em remoção do olho:
os tumores do globo ocular e os da órbita.
Sendo o retinoblastoma um tumor primário maligno que se desenvolve na retina,
é a causa mais comum da enucleação mesmo acometendo mais crianças antes dos
três anos de idade, o prognóstico varia de acordo com a evolução e local do tumor.
Cerca de 50% dos casos de enucleação são devidos ao retinoblastoma os demais tu-
mores como melanomas, carcinomas espino-celulares, rabnossarcomas, neuroblas-
tomas, gliomas, meningiomas, entre outros os de menor incidência.
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• Retinoblastoma: é uma neoplasma maligno tem origem nas camadas nucleares
da retina, é composto por células neurais embrionárias. Mesmo sendo um tu-
mor bem frequente na infância considera-se a estimativa de 1 para cada 20.000
nascimentos. Sendo a incidência aproximadamente a mesma em todo o mun-
do. Quanto aos sexos não há preferência, acometendo ambos igualmente, com
exceção do tipo infiltrativo difuso, que a predominância é no sexo masculino.
O tumor pode se desenvolver na vida fetal, estando presente no nascimento.
Em 70% dos casos o diagnóstico é feito antes dos 3 anos de idade e após os 6
anos de idade torna-se raro o aparecimento, tendo como idade média para o
aparecimento de um ano e meio. São bilaterais em 30% dos casos;
• Melanoma: tumor maligno de origem neuroectodérmica que pode ocorrer
na pele das pálpebras, conjuntivas e no trato uveal (coroide, íris, corpo ciliar).
Sendo mais frequente no trato uveal, geralmente ocorre na idade adulta tardia,
entre 50 a 60 anos de idade e em ambos os sexos, sem predominância, sendo
rara a ocorrência em negros e raramente ocorre de forma bilateral;
• Tumor intraocular metastático: tumor raro, localiza-se na camada média do
globo ocular (trato uveal), desenvolvendo-se na coroide, sendo na maioria das
vezes do tipo carcinomas ou adenocarcinomas, tendo origem também nas ma-
mas e em menor frequência no pulmão e no intestino. A incidência maior é
entre 50 a 55 anos de idade, referindo-se como distúrbio visual;
• Tumor orbitário: estima-se que 50% dos tumores orbitários tenham originam-se
dos tecidos orbitários e 30% invadem a órbita, atingindo tecidos próximos em que
são observados gliomas, meningioma de nervo óptico e rabdomiosarcoma;
• Tumores secundários da órbita: correspondem a cerca de um terço da órbita,
sendo os carcinomas planos celulares, em sua maioria originando-se nas fos-
sas nasais, pálpebras, conjuntivas seios paranasais e nasofaringe. Outro terço
corresponde a extensões de retinoblastomas ou melanomas intraoculares. Po-
dem invadir a órbita mesmo após a exérese do tumor primário por enucleação.
Aproximadamente 10% desses tumores espalham-se levando à metástase como
o neuroblastoma, adenocarcinomas da mama e pulmão;
• Doenças corneanas: dentre as mais comuns temos as úlceras de córnea. As com-
plicações de úlceras de córnea podem levar a perfurações da úlcera com prolapso
de íris. Endoftalmite, panoftlmia e estafilomas. Há três fatores que interferem no
aumento frequente de úlceras de córnea: a demora para iniciar o tratamento, a alta
frequência de tracoma no Brasil, complicando-se por entrópio e triquiasis por cau-
sas cicatriciais e a desnutrição, causando a baixa imunidade e levando o organismo
a não resistir a infecções. As úlceras corneanas se classificam etiologicamente nas
seguintes categorias: infecciosas (as úlceras consideradas mais comuns, podendo
ser bacteriana, viral ou mitótico, sendo a bacteriana a mais comum entre essas), e
degenerativas, que se dividem em duas categorias: úlceras neurotrópicas – quando
há lesão no V par de nervo craniano (trigêmeo) e a úlcera por exposição. A princi-
pal causa é o ressecamento do filme lacrimal e da córnea, acometido por pessoas
com fechamento palpebral incompleto, paralisia facial causando o impedimento do
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piscar, ectrópio etc., causando a perfuração da córnea, formando tecido fibroso e
levando ao leucoma aderente. Mesmo sendo o objetivo do organismo o fechamento
da ferida, isso pode acarretar uma inflamação crônica intraocular, provocando uma
Phthisis Bulbi, podendo ainda apresentar um estafiloma, ou seja, a má cicatrização
causada pelo tecido uveal preso a ferida;
• Glaucoma: patologia ocular que se não tratada corretamente pode levar à ce-
gueira, causada pelas seguintes complicações: hipertensão ocular, atrofia do
nervo óptico com alterações na papila, escavação e defeitos no campo visual.
O glaucoma se divide em três tipos: primário, glaucoma crônico simples e glau-
coma de ângulo fechado; secundário, quando existe uma patologia que seja a
sua causa, sendo o glaucoma consequência da patologia; congênito, onde há
obstrução da drenagem do humor aquoso, por uma anomalia congênita;
• Panoftalmia: causada por inflamação intraocular que afeta por igual as camadas
do globo ocular. Doença semelhante à conjuntivite gonocócica, tendo o diferencial
onde a secreção não provém da conjuntiva, descoberta sua causa na câmara ante-
rior ou no vítreo. Causada por infecção pós-operatória, onde os microrganismos
e suas toxinas se expandem por todo o globo ocular, levado à panoftalmia. Sua
causa também pode ser por germes no interior do olho através de infecção san-
guínea advinda de outras patologias localizadas no organismo. Com o surgimento
dos antibióticos o número de casos no pós-operatório diminui, mas os números
ainda são significativos. Na panoftalmia é indicada a técnica de evisceração, pois
os espaços menigeos do nervo óptico estão em continuação direta com os espa-
ços do cérebro e a enucleação deixa esses espaços abertos na órbita. Por esse
motivo na panoftalmia a infecção pode estender-se da órbita para as meninges,
causando a meningite. E a evisceração dificulta a infecção se espalhar através das
bainhas do nervo óptico para o espaço meníngeo;
• Oftalmia simpática: ou seja, uveite anterior aguda (inflamação na úvea), pós-trau-
ma ocular penetrante, acidente ou cirúrgico em um dos olhos. Inicialmente, aparece
uma uveite, posteriormente podendo afetar o olho contralateral não traumatizado;
o motivo de ser acometido o olho não traumatizado é devido à agressão das células
do organismo pelos seus próprios anticorpos, ou seja, de origem autoimune.
Tipos de Cirurgias das Perdas Oculares
Com os problemas psicossociais que desenvolvem os portadores das perdas ocula-
res, a procura de reabilitação estética é imediata. Reparação plástica nem sempre é a
indicação, pois as circunstâncias devem ser propícias, bem como condições do local
a ser tratado, a idade do paciente e outros. Em muitos casos a única escolha dos pa-
cientes passa a ser a prótese ocular. São elas: enucleação, evisceração e exenteração.
Enucleação Ocular
Enucleação é a remoção total do globo ocular, permanecendo o conteúdo orbital,
músculos oculomotores, pálpebras e glândula lacrimal. As principais indicações são
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em tumores intraoculares (retinoastoma-medanoma); glaucoma absoluto; glaucoma
hemorrágico; oftalmia simpática e outros.
Enucleação ocular, disponível em: https://bit.ly/2GK9C1f
Na cavidade anoftalmica são utilizados implantes orbitários esféricos, com a fina-
lidade de repor o conteúdo orbitário.
Durante o procedimento é inserido um implante orbitário de silicone ou hidroxia-
patita, substância muito parecida com osso, fixado aos músculos, dando movimento
como o do olho natural. Estudos relatam que a cavidade orbital, quando possui o
bulbo ocular ou implante orbitário que o substitui em forma e volume adequadamente,
mantém sua anatomia funcional íntegra, podendo o paciente, algumas semanas após
o procedimento, iniciar o processo de construção da prótese ocular junto ao ocularista.
Implante de polimetilmetacrilato. Disponível em: https://bit.ly/3eHfzIK
Figura 3 – Implante de polimetilmetacrilato
Fonte: rbcp.org.br
Aspecto do implante ao ser introduzido na cavidade. Disponível em: https://bit.ly/36ir9Xg
Implante orbitário de polimetilmetacrilato. Disponível em: https://bit.ly/2JTli35
Evisceração Ocular
A primeira evisceração referida foi em 1817, por James Bear; posteriormente, Noyes
optou pela evisceração em casos de infecções oculares graves sem relatos de casos de
oftalmia simpática. Muller, em 1884, desenvolveu a técnica de evisceração com implan-
te, uma esfera de vidro na cavidade com a finalidade de manter o volume e mobilidade.
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UNIDADE Histórico de Prótese Ocular
Técnica usada ainda com pequenas alterações, é indicada nos casos de panoftalmia,
microftalmia, Phthisis Bulbi e ferimentos com penetrações profundas. Por preservação
dos músculos a evisceração favorece a adaptação das próteses oculares. Consideremos
também as cirurgias propostas por Noyes (1872) e Froelich (1881).
Evisceração é a remoção completa do conteúdo intraocular (íris, cristalino, vítreo,
coroide, retina e o corpo ciliar), ou seja, é a retirada das vísceras, através de uma
incisão feita na córnea ou na esclera, preservando o nervo óptico; a esclera é fixada
aos músculos extraoculares e há introdução do implante, este que tem a finalidade
de manter o volume perdido.
O implante é uma esfera que repõe o volume do olho e permite que a prótese tenha
algum movimento, melhorando a estética do paciente, com o objetivo de sempre pre-
servar ao máximo a movimentação ocular. Após a remoção do conteúdo intraocular a
conjuntiva é suturada sobre o implante e no término da cirurgia coloca-se uma lente de
acrílico transparente chamada de conformador e utilizada na cirurgia de enucleação
com a finalidade de moldar a estrutura orbitária para a adaptação da prótese ocular.
Conformadores. Disponível em: https://bit.ly/3p9RteG
Implante orbitário na cavidade. Disponível em: https://bit.ly/3p6CZw2
Exenteração Ocular
Exenteração é a cirurgia que remove toda a cavidade orbitária, incluindo o bulbo
ocular, a gordura orbitária, os músculos perioculares, fórnice conjuntival e toda a
parte de pálpebra superior e inferior, sendo necessário enxerto epidérmico.
Há três tipos de cirurgia de exenteração: total, que tira todo o conteúdo orbitário,
com a remoção ou não da pálpebra; subtotal, quando acontece a remoção parcial do
conteúdo orbitário, mas o bulbo ocular necessita ser sacrificado; estendida, quando
se remove os ossos adjacentes e os seios nasais.
Sua indicação aplica-se nos casos de tratamentos das neoplasias malignas (tumores)
– quando a prótese indicada para a reabilitação é a prótese óculo-palpebral.
Pós-operatório tardio de exenteração de órbita direita. Disponível em: https://bit.ly/35bpLGm
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Enucleação devido a glaucoma crônico
Assista ao vídeo e perceba que enucleação e evisceração são cirurgias para remover
o olho, geralmente em casos de acidente grave, olho cego doloroso ou tumor ocular.
Este vídeo mostra a cirurgia de enucleação, onde o globo ocular é removido, sendo
preservados os músculos que movem o olho.
https://youtu.be/TF_hhK-RlSY
Evisceration eye surgery – Vision Eye Centre
Assista ao vídeo que apresenta a cirurgia de evisceração onde o conteúdo do globo
ocular é removido, preservando a esclera ou o branco do olho, a conjuntiva, os
músculos que movem o olho e todas as outras estruturas da órbita. Para repor o
volume perdido, o implante orbitário deve ser colocado cirurgicamente.
https://youtu.be/tu6IU3Ra3eM
Prótese ocular é igual a “olho de vidro”? É redondo como uma bola?
Assista ao vídeo que aborda o assunto da movimentação da prótese, relacionado
à cirurgia.
https://youtu.be/RYoD2DOJdb8
Leitura
A deficiência de vitamina A em crianças no Brasil e no mundo
O qual trata da falta de vitamina A como grande causadora de cegueira no Brasil
e mundo – de 250 a 500 mil crianças perdem a visão e cerca da metade dessa
quantidade morre antes de completar um ano de idade.
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UNIDADE Histórico de Prótese Ocular
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