Teorias Clássicas da Antropologia
Teorias Clássicas da Antropologia
Antropologia
Tema 2.1
Teorias Clássicas e debates contemporâneos
Teorias Clássicas
Evolucionismo
Difusionismo
Funcionalismo
Estruturalismo
Evolucionismo:
A principal ideia do evolucionismo consistia em defender que a cultura e as sociedades evoluem de formas simples até chegarem a outras mais complexas.
Divide-se em 2 perspetivas:
POLIGENISMO: defensor da humanidade na diversidade das origens
MONOGENISMO: defensor na exclusividade da humanidade. é neste pressuposto que vai incorporar as ideias dos antropólogos evolucionistas.
Principais Autores:
MAINE (1822-1888):Analisou a evolução do Estado desde a organização baseada no parentesco ate as estruturas complexas, defendendo que a família patriarcal era a forma
original e universal da vida social
MCLENNAN (1827-1881): Advogava a ideia de que o sistema de descendência matrilinear precedia o sistema de descendia patrilinear
JAMES FRAZER (1854-1941): Estudou a religião, postulando três etapas na evolução de todas as sociedades; magia, religião e ciência
LEWIS HENRY MORGAN (1818-1881): Dividiu o desenvolvimento cultural da humanidade em três estádios: Selvajaria ; Barbárie ; Civilização. A transição de um estádio para o outro
significava progresso não só tecnológico mas também moral. Desenvolve nesta obra os conceitos de parentesco, usando a terminologia classificatória e a descritiva.
EDUARD BURNETT TYLOR (1832-1917): É conhecido pelo seu trabalho Primitive Culture onde apresenta ideias essenciais que marcaram a teoria evolucionista. Consagrou sobretudo o
estudo da religião. Tudo o que existia na sociedade contemporânea que não tivesse uma função era uma sobrevivência de um período anterior;
Defendia que a origem da religião era no animismo, que terá evoluído para o politeísmo e finalmente o monoteísmo.
Difusionismo:
Sistematiza e infantiliza os princípios da difusão para relacionar semelhanças entre culturas. Difusionismo
As invenções eram relativamente raras e o processo de difusão e empréstimo era o principal
responsável pelo desenvolvimento cultural.
Difusionismo Alemão-Austriaco: defende a visão pluralista das origens, denominado do complexo histórico-cultural. Acreditavam que a difusão se havia
feito a partir de vários “centros civilizacionais”
Friedrich Ratzel (1844-1904): É considerado o fundador da antropologia geográfica desenvolveu o método histórico-cultural. O desenvolvimento da cultura efetuava-se através
das migrações e das conquistas de povos mais fracos por povos mais fortes e culturalmente mais avançados;
Leo Frobernius: Trabalha a ideia de círculos culturais, áreas culturais que se espalham pelo globo e que se sobrepõem a outras anteriores. Ficou conhecido pela preocupação
com a educação e a alma de uma cultura.
Willi Foy (1873-1929)
Fritz Grabner (1877-1934): A cultura humana ter-se-ia desenvolvido algures na Ásia –dai se difundido através das migrações para o resto do mundo
Pe. Wilhelm Schmidt (1868-1954): Defende que a cultura moderna é o resultado de uma serie de esquemas originais que apresentam três fases:
Primitivas ou arcaicas – pigmeus, esquimós, aborígenes australianos;
Primeiras – colectores e nómadas pastoris;
Secundarias – agricultores.
A principal contribuição do difusionismo alemão-austríaco assenta na noção de círculos culturais – conjunto de traços associados a um sentido, podendo ser isolados e
identificação na história cultural, na insistência da historicidade do método e dos contactos culturais
Particularismo histórico (historicismo): é uma reação ao evolucionismo baseado em criticas especulativas, possui uma abordagem holística enfatizada
pelo relativismo.
Franz Boas (1858-1942): Procurou dotar a antropologia americana de uma base solida, assente no trabalho de campo, tendo feito inúmeros trabalhos junto das comunidades
nativas; Estudos: análise do potlash entre os kwaktiul – uma cerimónia que envolvia uma competição pelos status na qual eram destruídos cerimoniosamente bens; Promoção
da culturologia – a cultura teria uma vida própria, desprovido de sentido a interação humana, bem como de evitar as generalizações teóricas; A sua herança é sentida
sobretudo nos EUA, onde promoveu a antropologia nos seus vários domínios; Foi um dos primeiros a defender a aprendizagem das línguas por parte dos antropólogos; Foi o
principal professor de gerações de antropólogos americanos;
Clarck Wissler (1870-1947): Formulou o conceito de padrão de cultura – a cultura distribui-se por padrões resultado do agrupamento de traços e complexos que formam uma
organização maior, de configurações distintas; Destacou o facto de a cultura ser um conjunto de reflexos condicionados que eram apreendidos pelo individuo desde a sua
infância;
Alfred L. Kroeber (1876-1960): Foi o primeiro aluno de Boas doutorado em antropologia; Aprofunda a temática dos traços culturais de forma a definir uma área cultural; A sua
perspetiva ultrapassa a visão limitada de Boas e desenvolve uma análise comparativa global utilizando questionários; Os autores defendiam que o inquérito histórico dever ser
limitado a uma cultura partícula (ou área cultural) e que a história dessa cultura devia ser reconstruída com base em factos tangíveis; Cada cultura é única devendo ser
compreendida na perspetiva do observador com base nos dados subjetivos: valores, normas e emoções; Uma vez que cada cultura é única há uma enfase no relativismo, pelo
que é impossível proceder a julgamentos de valores de outras cultuas pois eles só podem ser compreendidos no contexto cultural em que ocorrem; Um exemplo de
difusionismo é proposto pelo antropólogo Ralph Linton – “The study of man: Na Introduction” de 1936 – ilustra aspetos do difusionismo a partir da experiencia do cidadão
comum (muito interessante, mostra como um cidadão no seu dia a dia se confronta com situações que sofrem a influencia dos mais variados países do mundo – ex. mocassins
foram inventados pelos índios das florestas do leste do EUA).
Configuracionismo: a relação entre a cultura e a personalidade- conhecida também como culturalismo, destaca a integração e a singularidade como base da
relação psicológica entre a cultura e os membros da mesma. Trata-se de uma orientação teórica que emerge da insatisfação por vários dos discípulos de Boas com o
particularismo histórico; Procura destacar a integração e singularidade do todo tendo por base a relação psicológica da cultura com a personalidade dos membros dessa
cultura; Esta corrente vai examinar como os seres humanos adquirem a cultura e como esta se relaciona com a personalidade individual.
Sigmund Freud (1856-1939): Influenciou esta perspetiva com as suas ideias da psicanalise e psicologia; O autor defendeu a ideia de que certos processos psicológicos eram
respostas inatas e universais; As suas ideias eram evolucionistas, nomeadamente a noção de que os adultos nas sociedades primitivas eram iguais às crianças nas sociedades
desenvolvidas; Foi a sua enfase na relação entre as ideias culturais e símbolos que refletiram impulsos inconscientes que teve grande recetividade entre os antropólogos.
Ruth Benedict (1887-1948): A relação entre a cultura e a personalidade individual; Considerava que não havia culturas superiores ou inferiores, mas apenas diferentes estilos de
vida determinados culturalmente.
Margaret Mead (1901-1978): A relação entre a cultura e a natureza humana; Desenvolve o tema da influência da cultura na personalidade e no desenvolvimento social
humano; Tentou separar os factores biológicos e culturais que controlam o desenvolvimento e comportamento humano; A sua principal influência resultou na análise da
própria cultura dos EUA e o seu trabalho marca o início da antropologia psicológica contemporânea;
Abram Kardiner (1891-1981) / Edward Sapir (1884-1939) / Cora Du Bois (1903-1991): Kardiner em colaboração com os outros dois autores propôs a ideia – Estrutura de
personalidade básica – é um conjunto de traços fundamentais da personalidade partilhados pelos membros normais de uma sociedade; Com as práticas de criação de
crianças eram relativamente iguais na sociedade (disciplina, desmamar, treino esfincteriano – instituições primarias) todos os membros são sujeitos ao desenvolvimento de uma
estrutura de personalidade similar; Cora Du Bois propôs o conceito – Personalidade modal – é o tipo de personalidade que era estatisticamente mais comum na sociedade –
assim numa sociedade haverá lugar à formação de um conjunto de características básicas advindas das instituições primarias, mas também a existência de variação
individual na forma como essas personalidades se expressam.
Barnard define o estruturalismo como “as perspetivas teóricas que dão primazia ao padrão sobre a substancia”.
Influenciada por Freud a “estrutura psicológica define a cultura”
Neo abordagens e pós perspetivas:
NEOEVOLUCIONISMO/MATERIALISMO: Nos anos 40/50 do seculo XX o evolucionismo ressurge como método comparativo principalmente nos EUA. Julian Steward (1902-1972) e
Leslie White (1900-1975) desenvolveram uma abordagem técnico-ambiental à mudança cultural inspirada no pensamento de Marx.
Steward: Ficou conhecido por desenvolver uma abordagem técnico-ambiental à mudança cultural inspirada no pensamento de Karl Marx; elaborou uma abordagem
ecológica enfatizando a forma como cada cultura se adapta às circunstancias ambientais – evolucionismo multilinear
White: Concebeu uma teoria geral da evolução da cultura baseada no controlo da energia; Defendeu o princípio da evolução simples para o complexo, com crescente
especialização das partes propondo como elemento padrão de comparação o emprego da energia e o seu controlo; A cultura era o meio através do qual os seres humanos
se adaptavam à natureza e uma maior complexidade e especialização requeriam um maior uso e controlo de energia; Define três níveis analíticos para o estudo da cultura:
tecnológico, sociológico e ideológico; concebeu uma teoria geral da evolução da cultura baseada no controlo da energia – evolucionismo unilinear
Ambos os autores tiveram como preocupação central a cultura material, ignorando aspetos da estrutura social (ex. parentesco)
George Peter Murdock (1897-1985): foi o percursor dos estudos interculturais “cross-cultural studies” com recurso ao método comparativo em larga escala. A sistematização da
comparação a grande escala e a forma como o meio ecológico é relacionado com esta evolução são as marcas distintas desta corrente de ideias que vai influenciar
campos posteriores como a antropologia ecológica e a o materialismo cultural; As culturas em ambiente iguais desenvolveriam respostas idênticas aos desafios ambientais;
Não defende que esta progressão é unilinear – pelo contrário propõe um evolucionismo multilinear considerando que as culturas não são submetidas a um processo de
evolução idêntico, podendo variar em padrões diferentes dependendo da sua circunstância ambiental; Acreditava na possibilidade de estabelecer generalizações entre
culturas a uma escala global, universal; Campo favorito de pesquisa: campo do parentesco; Defende que um conjunto de princípios universais determina as relações entre a
estrutura da família, o parentesco e as práticas do casamento;
MATERIALISMO ECOLÓGICO – desenvolve-se influenciado pelo desenvolvimento da ecologia e da cibernética – a sociedade é entendida como um ecossistema
homeostático, desempenhando as instituições culturais a função de mecanismos de manutenção do equilíbrio entre a produção e uso de energia e a capacidade produtiva
do ambiente;
No domínio do materialismo ecológico podem ser englobadas duas abordagens:
NEOEVOLUCIONISMO: Um retorno à pesquisa das origens dos fenómenos sociais e de estádios evolutivos, um processo no qual os dados arqueológicos desempenharam um
papel importante;
NEOFUNCIONALISMO- (Roy Rappaport (1926-1996) e Marvin Harris (1927-2001))é um campo de estudo que revindica a denominação de materialismo cultural, para os
neofuncionalistas a organização social e a cultura são adaptações funcionais que permitem a exploração sem exceder a capacidade de sustentação dos seus recursos
ecológicos. Nesta perspetiva o comportamento humano é controlado por genes particulares e a evolução ocorre quando o sucesso reprodutivo permite a transmissão de
determinados genes à geração futura.
Rappaport apresenta uma tendência mais ecológica (ecologia cultural). Defende que as leis da biologia ecológica se podem aplicar ao estudo das populações humanas.
Usa a noção de retorno (feedback) para explicar a estabilidade cultural.
Marvin Harris: um dos autores mais proveitoso da antropologia. Valoriza a perspetiva materialista (controlo sobre os sistemas de produção). Desenvolve um sistema de analise
com 3 níveis: infraestrutura, estrutura e superestrutura. A infraestrutura é a mais importante pois é onde se os modos de produção e reprodução da sociedade
NEOMARXISMO: origem francesa. Nos anos 60 os principais autores desta corrente foram Maurice Godelier (1925-) e Claude Meillassoux (1925-2005). O trabalho de Godelier é
defindo como estruturalista marxistano seu trabalho mais relevante refere que a superestrutura é fundamental. Privilegia as relações de produção (relações sociais)sobre a
recnologia e actividades individuais. Os aspetos que pertencem à superestrutura tais como a religião ou parentesco são fundamentais .
Meillassoux era critico do estruturalismo pelo facto de este não analisar a questão da exploração e das causas materiais da transformação dos sistemas de parentesco.
Defende que o domínio sobre o controle de reprodução (mulheres) e não o controle sobre os meios de produção, que é o mais importante numa sociedade
Eric Wolf (1923 - 1999) Progride para as ideias marxistas na análise da estrutura das sociedades camponesas e a sua relação com as sociedades industriais; Na esteira das ideias
críticas da teoria da modernização se defende que estas políticas são infrutíferas pois os países pobres foram sistematicamente desprovidos das suas riquezas e desta forma
subdesenvolvidos pelos países ricos – colonizadores; Demonstra que as políticas capitalistas mercantilistas europeias afetaram os sistemas culturais no mundo inteiro;
NEODARWINISMO: explicação do comportamento humano com base na teoria evolucionista de Darwin. Diferentes sucessos reprodutivos moldam a evolução do
comportamento de todos os organismos. Para além de ser uma abordagem antropológica é sobretudo, biológica; Trata-se de uma explicação do comportamento humano
com base na teoria evolucionista de Darwin; Os diferentes sucessos reprodutivos moldam a evolução do comportamento de todos os organismos, incluindo o humano – como
todos os seres humanos são organismos biológicos estão sujeitos às mesmas leis da evolução; A preocupação dos sociobiologistas é com a transmissão dos mecanismos de
comportamento humano na perspetiva darwinista e genética; A sociobiologia é influenciada pelos estudos de comportamento animal que se difundiram nos 50 e 60; O
comportamento humano é controlado por genes particulares e a evolução ocorre quando o sucesso reprodutivo permite a transmissão de determinados genes à geração
futura: a guerra, a Seleção sexual, o desenvolvimento da organização politica, a arte, rituais e mesmo a ética são a expressão desse desejo; Esta abordagem não foi, de uma
forma geral, bem recebida pelos antropólogos;
Criticas
Aponta o facto de os sociobiologistas ignorarem os efeitos da cultura e da aprendizagem;
Os estudos dos sociobiologistas serem feitos em laboratório, com animais e incestos e as conclusões serem transpostas para a realidade humana.
PÓS-ESTRUTURALISMO- posição ambígua em antropologia, critica o estruturalismo e apresentam formas que visam explicar a Ação social, o papel do poder e da
desconstrução. A sua principal caraterística é a relutância entre aceitar a distinção entre o sujeito e o objeto. Ocupa uma posição ambígua na antropologia;
É uma crítica do estruturalismo, feita por estruturalistas e apresenta um conjunto de propostas que visam explicitar a ação social, o papel do poder e a desconstrução do autor
como um criador de discursos; O pós-estruturalismo é uma forma de pós-modernismo, tal como o estruturalismo é uma forma primária de modernismo tardio na antropologia –
refere Barnard 2000,139; Principal característica – é a relutância em aceitar a distinção entre sujeito e objeto – princípio implícito no pensamento estruturalista – defendido por
Saussure;
Jaques Derrida (1930-2004) e Michel Foucault (1926-1984), desempenham o papel de mentores desta posição
Derrida é reconhecido pela sua abordagem desconstrutivista – defende que as culturas constroem mundos de significados estanques e que a descrição etnográfica distorce a
visão nativa através da imposição das formas de conceptualização do mundo do observador, assim, o significado nunca pode ser traduzido;
Foucault trabalhou a ideologia – as relações sociais entre os povos são assinaladas pelo dominação e subjugação – os povos ou classes dominantes controlam as condições
ideológicas em que a verdade e a realidade são definidas;
Bordieu pretende mais do que compreender os modelos – perspectiva estruturalista – compreender o desempenho (performance) pois para o autor a compreensão objectiva
não alcança a essência da prática do actor social – pretende enfatizar/destacar a teoria da prática
Antropologia e Género (Antropologia feminista)
Jacques Lacan (1901-1981): De particular importância no desenvolvimento da antropologia de género, um psicanalista chama a atenção para a linguagem na definição da
identidade e a complexidade da identidade sexual;
Althusser: Atraves de uma perspetiva marxista e estruturalista procura reler os textos marxistas e aprofundar a sua aplicabilidade à antropologia; Para ele o discurso e o poder
sustentam a reprodução através das gerações dos modos da produção e o seu controlo.
Nos anos setenta muitas antropólogas começaram a por em causa as perspetivas masculinas prevalecentes na disciplina;
Na realidade o papel das mulheres era normalmente relegado para capítulos sobre o casamento, família e parentesco;
A antropologia feminista passou de uma antropologia da mulher para uma antropologia da representação da mulher;
Nos anos setenta a antropologia feminista concentrava-se em documentar a vida e o papel das mulheres em sociedades em todo o mundo – postura assimétrica/desigual –
isto é, a postura subordinação da mundial da mulher – e procuravam explicar esta questão de várias perspetivas teóricas;
Em simultâneo a investigação de antropologias físicas e arqueológas começou a por em causa a visão do homem caçador como a base da evolução e enfatizaram o facto
de a recolecção e a criação dos filhos exigir uma comunicação complexa, cooperação e construção de ferramentas, a versão da mulher recolectora obrigou a rever a
evolução;
Nos anos oitenta a pesquisa começou a afastar-se da temática da assimetria entre géneros e passou a abordar os seguintes temas:
Construção social do género – procurou analisar como a categoria de género é feita de forma relacional e imposta;
A explicação das diferenças do estatuto – privilegiou a explicação materialista, nomeadamente as relações de classe, de poder e mudanças de modos de produção para
explicar a opressão das mulheres; O papel e poder da mulher com base em abordagens materialistas e a especificidade da identidade da mulher – procurou afastar-se da
ideia de mulher no geral para analisar de que forma a raça, a classe e o género estruturam as instituições culturais.
As teorias feministas colocaram as noções antropológicas em causa - levaram a disciplina a enfatizar a multivocalidade, dando variedade de pontos de vista à escrita
etnográfica – enfatizaram a experimentação com formas não convencionais de escrita antropológica, com a poesia e ficção, reclamando que todas as formas de saber são
subjetivas, promovendo uma maior enfase na auto-etnografia – autobiográfica.
Dina Lévi-Strauss foi essencial no desenvolvimento da antropologia. A antropologia feminista passou para o papel representante da mulher na sociedade. No seu inicio
centrava-se numa postura assimétrica e no inicio dos anos 80 passou a abordar outros temas como a construção social do género, diferenças de estatuto, papel e poder da
mulher.
As teorias feministas enfatizaram a multivocalidade dando uma variedade de pontos de vista etnográficos.
Os Pós-modernistas afirmaram que a antropologia não é uma ciência cultural.
As prespectivas hermenêuticas e descontrutivas questionaram as suas praticas nomeadamente em trabalho de campo.
O pós-modernismo critica o modernismo e rejeita a possibilidade de grandes teorias e da ideia da descrição etnográfica, enfatizando a reflexibilidade,
O trabalho de campo é considerado pelos pós-modernistas num momento fulcral.
Antropologia
Tema 2.2
Antropologia Aplicada: entre a academia e a prática
Antropologia Aplicada ou prática
Para Willigan (1986) é a “antropologia colocada a funcionar (… )é o resultado dos dados obtidos por meios de pesquisas e métodos instrumentais que produzem mudança ou
estabilidade em sistemas culturais específicos através do fornecimento de dado, de ação direta e/ou formação de politicas”
Ervin considera que “é quase sempre encomendada por uma organização fora da academia. Reflete a dimensão exterior ao mundo académico
Outra noção associada é a “antropologia prática” que ficou assim designada pois estes antropólogos trabalham fora da esfera universitária.
A antropologia enquanto ciência produz um conhecimento que muitos consideram académico, de uma forma geral compreende o outro e traduz essa realidade na sua
dimensão social.
Conceito de antropologia aplicada- é uma rede de processos baseada em pesquisa e métodos instrumentais que produzem mudança ou a estabilidade em sistemas culturais.
Antropologia aplicada no seculo XIX- neste seculo na europa a sua preocupação eram sobretudo as colonias e na América o interesse recaia sob a resolução de
problemas nas comunidades nativas, salvaguardando a riqueza das populações nativas americanas. Franz Boas foi o pai da antropologia americana e um dos primeiros a
desenvolver a advocacia antropológica, negando as teorias migratórias existentes que impediam a proveniência de populações exceto do norte europa.
Antropologia aplicada entre as duas guerras mundiais- Desenvolveu-se nos EUA a escola de aculturação influenciada por Franz Boas que se preocupava com as populações
nativas. Na Inglaterra desenvolveu-se o funcionalismo com Malinowski Bronislaw e Redcliffe manifestavam uma preocupação com as populações do império. Ambas as
escolas abordavam as sociedades contemporâneas e manifestavam preocupações aplicadas. Malinowski defende a utilidade pratica da antropologia na administração
colonial, uma vez que , os dados sobre as populações nativas ajudavam a administração na governação e no processo de mudança a que estas populações estavam a ser
sujeitas, de acordo com os princípios locais, sem que no entanto chocassem com as leis britânicas. Nos EUA os trabalhos desenvolvidos foram no âmbito da problemática da
posse das terras que, provocou conflitos entre as necessidades dos políticos que tomavam medidas contraditórias com a realidade e diversidade local dos grupos afetados e
as posturas dos antropólogos. A partir dos anos 30 procurou-se aplicar a antropologia aos negócios, indústria em estudos sobre a motivação e produtividade dos trabalhadores.
Antropologia aplicada durante a segunda grande guerra e no pós-guerra- Muitos antropólogos estiveram envolvidos no esforço da guerra, nos EUA E Inglaterra realizaram-se
estudos sobre o inimigo para que os militares os pudessem conhecer, estudos sobre populações amigas onde os Americanos estavam destacados de forma a se
estabelecerem contactos e estudos sobre a gestão de campos de concentração de populações, (americanos de origem japonesa nos EUA). Foram ainda feitos estudos
durante após a guerra acerca das áreas para conhecer os locais e as populações que mais tarde utilizados na governação dessas área que ficaram sobre a dependência de
uma das potências vencedoras.
A antropologia aplicada académica e a consultoria para o desenvolvimento: 1950-70 – Apos a guerra houve dois factos que contribuíram para um recuo da antropologia
aplicada. A expansão do ensino universitário, com maior número de colocações académicas e o receio que muitos cientistas sociais tinham da utilização do seu
conhecimento cientifico na produção de bombas atómicas. No entanto, a antropologia aplicada continuou a desenvolver-se a partir do contexto académico. A questão dos
Indios americanos foi defendida por Sol Tax através de uma antropologia de ação (intervenção) (willigen, 1986), em que as preocupações das investigação se centravam nas
necessidades das populações com que se trabalhava, consideradas co investigadores com os universitários. No período pós colonial, foi desenvolvido um projeto único por
Allan Holmberg (1958), definido como um método de “pesquisa e desenvolvimento” – Projeto Vicos. Cujo principio era o de que era possível utilizar o conhecimento cientifico,
resultante da investigação, na valorização da dignidade humana. Muitos programas começaram nesta altura a ser apoiados por universidades.
A emergência de uma “nova antropologia aplicada” a partir dos anos 70- A antropologia é centrada na politica e na prática, as suas origens estão nas preocupações sociais
dos anos 60, período de lutas anticoloniais, novos nacionalismos a emergência de novos estados africanos, a Guerra fria e as guerras nacionalistas com o Vietname
Os antropólogos tinham de estudar as comunidades dentro do contexto politico e social em que se inseriam e os cientistas tinham de ter em conta as situações delicadas em
que muitas das populações se encontravam. Os antropólogos foram contratados para trabalhar em organizações governamentais e não–governamentais internacionais e,
para grupos locais. Ao mesmo tempo aumenta o número de recém licenciados sem saídas profissionais. Os antropólogos começam a usar os seus conhecimentos para
defender posições de populações e comunidades que pretendiam obter direitos sobre terras, bens ou controlo de atividades económicas.
O conhecimento antropológico começou a fazer parte de outras disciplinas que procuraram nele a abordagem que lhes faltava para se confrontarem com a prática e
resolução de problemas sociais. Foram desenvolvidos programas de antropologia aplicada em instituições académicas ligando os níveis académicos co a estudos do tereno
possibilitando a empregabilidade de antropólogos fora da universidade e criam-se publicações periódicas que permitiam partilhar experiencias.
Funções desempenhadas pelos antropólogos fora do contexto académico: Politólogo; Avaliador; Responsável por estudos de impacto; responsável pelo levantamento de
necessidades; Programador; responsável pela analise de pesquisa; Advogado; formador; Mediador cultural; testemunha qualificada; Promotor de campanhas publicas;
administrador/gestor; Agente de mudança; terapeuta.
O potencial politico da antropologia aplicada e o grande desafio ético
Após uma análise destes modelos e funções, verifica-se que as questões éticas e as suas implicações são preocupações prementes na antropologia aplicada ou académica.
Todavia, é no quadro académico que há um conjunto de normas estabelecidas sobre a conduta da pesquisa e divulgação dos resultados a ser em seguidas pelos praticantes
de antropologia fora do quadro académico. Existem quatro princípios essenciais que devem ser assegurados no desempenho de uma atividade antropológica aplicada:
Consentimento informado- a comunidade para analise/estudo deve estar informada e consciente do trabalho em curso, dos seus objetivos, quem o solicitou , os riscos e
benefícios que deles poderão advir.
O modelo clinico de informação consentida- o compromisso assenta em dois tipos de contrato: um que explica o seu processo e o outro uma espécie de ficha preenchida
pelo participando reconhecendo riscos/benefícios da participação;
Noção de confidencialidade e direitos- a identidade dos participantes deve permanecer anonima e para divulgação é necessário a comunidade validar o facto;
Disseminação de conhecimentos- não pode haver secretismos sobre os resultados de pesquisa e a sua comunidade devera ter acesso aos mesmos.
Por sua vez Wiligen (1986,44) alerta que a informação pode ser usada para controlar pessoas, isto é: conhecimento é poder, assim é preciso identificar quem é o cliente e se
existem subgrupos dentro da comunidade que possam levar á utilização abusiva de informação, por isso enuncia a privacidade, o consentimento, e a comunicação como
princípios éticos fundamentais.
Proto-antropologia: desde sec. XIX até à II Guerra Mundial e é caraterizada pela corrente romântica,
O 2º estádio a partir dos anos 40 até à revolução de 1974: estudo das comunidades e culturas coloniais e nacionais.
A partir de 1974: institucionalização da antropologia. Emergência da antropologia aplicada
Ainda não se pode falar de antropologia aplicada em Portugal como campo subdisciplicar autónomo. Há no entanto, um conjunto de áreas onde é possível observar a
pratica antropológica:
Antropologia de trabalho;
Estudos ambientais;
Analise de impacto social;
Migrações;
Antropologia e educação;
Antropologia medica;
Minorias étnicas;
Estudos pós-coloniais;
Antropologia urbana;
Antropologia do turismo.