Avaliação 1
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DISCENTE: _______________________________________________________
QUESTÃO 1.
Leia o seguinte:
“Durante muito tempo, quando se realizava alguma comemoração sobre a
questão do negro no Brasil, somente a data do dia 13 de maio, dia da assinatura
da Lei Áurea, em 1888, abolindo a escravatura no Brasil era lembrada.
Nas escolas da educação básica, o mais comum era que as crianças negras se
fantasiassem de escravos e sempre uma menina branca e, de preferência, loura,
era escolhida para representar a princesa Isabel. Os livros didáticos também
apresentavam essa data como o dia da libertação dos negros, e nada se estudava
ou discutia sobre a resistência e a luta por parte dos africanos escravizados e
seus descendentes nascidos no Brasil, sob o regime da escravidão” (p. 129 e
130)
Com base na leitura do texto de Kabengele Munanga, explique o porquê de se
enfatizar a data de 20 de novembro para comemoração da consciência negra no
Brasil.
Mas apesar de assim posto, essa noção “sujeitista” por vezes não é tão intuitiva. O
que acontece muitas vezes é que a análise fria dos fatos levam a crer, erroneamente,
que a história se faz de marcos estáticos. O que evidentemente é falso, uma vez que
tais “pontos críticos” são completamente imotivados no sentido temporal (pelo menos
em menor escala); a grande importância sempre está na interação entre os sujeitos
históricos. Tanto fazia se a abolição fosse em 1888 ou em 1884; se fosse assinada
pela Princesa Isabel ou por Dom Pedro II; estes foram completamente acidentais. As
coisas, na grande maioria das vezes, se constroem em base, em âmbito menor; e
escalonam até que se fazem um ponto visível no varal historiográfico. E como já
citado aqui, um ótimo exemplo desse processo, que erroneamente é visto apenas pelo
ponto resultante, é o fim da escravidão no Brasil.
Inicialmente, seria cobrar demais que negros recém afeitos a liberdade representassem
ideais e tivessem um modus operandi próximo ao que se considera justo nos dias de
hoje. O movimento negro nasce no popular, no básico, sem reinvindicações maiores;
inicialmente na forma de uma imprensa especializada (em São Paulo principalmente).
Essa imprensa surge e se insere o, basicamente, no “meio negro” , como o “militante”
José Corrêa Leite, fundador do jornal “Clarim D’alvorada”, define. Meio este que ,na
verdade, não se tratava de nada mais que o mesmo “mundo” que os brancos viviam, só
que pintado de preto. Bailes; clubes; a questão do emprego; da disputa de vagas com
imigrantes; casos da cidade em geral. Mas tudo isso a partir do ponto de vista do negro;
e do mesmo modo: para anegro. Especialmente sobre a questão do emprego: nasce daí
uma verdade particular e identitária, que distinguia, mesmo que ainda de uma forma um
tanto inconsciente diametralmente a posição do negro.
A grande questão do negro, factualmente, no início do século XX, era fugir do estigma
da vadiagem, tão destrutivo ao passo que desconsiderava a presença do próprio. Como
se fosse “inerentemente vagabundo”, logo o seu status era apenas sua culpa, e logo sua
opinião não tinha validade nenhuma. Mas claro, a “sociedade superior”, baseada no
próprio estigma e em uma serie de teorias raciais sem fundamentos sérios,
simplesmente preferia perdurar tal segregação que hipocritamente criticava. Nesse
contexto surge a imprensa negra, que muitas vezes denunciava casos de segregação em
vagas de emprego; acerto de contas; e termos afins. Mas a imprensa por si só não tem
uma moeda política, apesar da voz; e assim, quanto mais se passava, mais cresciam os
anseios por um movimento organizado, “de carteirinha”. É nesse contexto, mais como
uma associação atuante em causas operárias, que surge o primeiro movimento negro
brasileiro: a Frente Negra Brasileira.
A Frente Negra Brasileira, FNB, foi fundada em 1931 por Arlindo Veiga, Guaraná
Santana , José Correia Leite, entre outros nomes já atuantes na imprensa negra. O
principal traço e inovação que esse movimento traz a “causa negra” , é sua essência
militante e política. Como grande parte da pregressa imprensa negra, a visão sobre o
próprio negro difere um pouco as conceituações mais atuais. Quase todos os
“movimentos” negros pré e durante a década de 30 tinham assumido uma postura
positivista. Acreditavam que o negro não precisava necessariamente reconstruir sua
identidade, assumir e reivindicar aceitação dos hábitos e da cultura; mas sim se adaptar,
progredir nas regras da sociedade. E assim a FNB progrediu; muito atrelada aos
movimentos populistas de seu tempo, a própria política de Vargas; e apesar de todas as
contradições postumamente engendradas sobre isso, fato é que foi importante tal
postura. A FNB mostrou que o negro , antes “inerentemente” vadio , podia muito bem
se adaptar aos “usos e costumes” da sociedade dominante; e não só isso, mas como
ainda sim se destacar politicamente. Em síntese, foi um movimento a seu tempo, e que
por último não só se marcou como tal, mas elevou nomes importantes que ainda
marcariam a luta negra no brasil.
Umas das figuras importantes que se engendrou na aurora do FNB , foi o gigantesco
ativista e dramaturgo Abdias do nascimento. Ele , viria a ser um dos principais
fundadores do Teatro experimental do Negro, o TEN; como também do respectivo
jornal institucional , O Quilombo. Se por um lado o Teatro estimulava o senso artístico ,
e de certa forma também instruía e educava; o jornal politizava os assinantes, e se
utilizava de uma nova abordagem que permearia todo o ativismo negro. Diferentemente
da imprensa negra inicial, do FNB, o TEN e seu jornal O Quilombo, organizado de 48 a
51, abriam um espaço de debate racialmente misto, com tanto autores negros, como
brancos. Claro, falando em prol e positivamente sobre a causa. Nessa celeuma ,
célebres autores como o grande Gilberto Freyre escreveram ao jornal. A proposta, no
fundo, era estabelecer nem uma identidade exclusivamente africana; nem uma
identidade exclusivamente brasileira, como fizera a FNB por exemplo; mas sim
estabelecer uma identidade afro-brasileira. Não mais desconhecendo a cara da
negritude, simplesmente se adaptando ao cenário; mas se introduzindo como uma
mistura particular, e que é tanto brasileira como qualquer outro costume. A questão
então do movimento negro na década de 40 e 50 não era mais a introversão e
expurgação negativa de “maus hábitos”, mas sim uma extroversão identificatória e
plural, que buscava reclamar um espaço digno a semente africano. Portanto, já na
década de 50 vemos o movimento negro se delimitar nos moldes atuais.
Infelizmente , com o golpe militar de 64, a pauta racial foi drasticamente apagada do
debate. O Tem acaba em 61, já com o florescer dos ânimos golpistas e durante o golpe,
praticamente não se existe uma movimentação nesse sentido. Mas já com o “afrouxar”
das rédeas militares , no final da década de 70 , começam a “reaparecer” no debate
nacional estas reinvindicações, que de fato nunca pararam de existir, só foram
ensurdecidas pela ditadura. E nesse cenário que surge e se delimita a forma mais
moderna do movimento negro.
Vemos assim que a “causa negra” no Brasil teve seu processo histórico de evolução até
chegar no status atual. Inicialmente, um movimento até um tanto contraditório aos olhos
atuais; mas ainda sim indispensável. Tal como é até hoje; e provavelmente que ainda
mudara de certa forma. A história se progride assim, e tudo só terá fim quando se chegar
a uma igualdade minimamente razoável.