Avaliação 1

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

AVALIAÇÃO I BIMESTRE

Disciplina: Educação étnico-racial e cultura afro-brasileira

DISCENTE: _______________________________________________________

QUESTÃO 1.

Leia o seguinte:
“Durante muito tempo, quando se realizava alguma comemoração sobre a
questão do negro no Brasil, somente a data do dia 13 de maio, dia da assinatura
da Lei Áurea, em 1888, abolindo a escravatura no Brasil era lembrada.
Nas escolas da educação básica, o mais comum era que as crianças negras se
fantasiassem de escravos e sempre uma menina branca e, de preferência, loura,
era escolhida para representar a princesa Isabel. Os livros didáticos também
apresentavam essa data como o dia da libertação dos negros, e nada se estudava
ou discutia sobre a resistência e a luta por parte dos africanos escravizados e
seus descendentes nascidos no Brasil, sob o regime da escravidão” (p. 129 e
130)
Com base na leitura do texto de Kabengele Munanga, explique o porquê de se
enfatizar a data de 20 de novembro para comemoração da consciência negra no
Brasil.

Do que se trata o estudo, e o que é história — longe de definições maiores e mais


rigorosas — pode ser explicado simplesmente pela genérica tripla interação entre
sujeito, tempo e espaço. Essa tripla base, além de explicar o campo de estudo da
história, pode fundamentar uma série de outros campos, como a geografia e até
mesmo a biologia, num exagero. A grande questão é que, nessa hipótese, para
história, o enfoque particular se encontra no sujeito, suas interações internas, e mais
secundariamente como estas se encontram temporalmente. Ou seja, bem mais que
definir a interação entre tempo e espaço; ou tempo e sujeito; ou até que seja estas
três unidade genéricas juntas; a história busca principalmente entender o sujeito em
relação a si próprio, a seu coletivo, e como isso se encaixa no tempo apenas a título
de organização. Portanto, falar sobre história é falar também sobre os sujeitos da
atualidade, que mesmo sem plena consciência, são sujeitos históricos e tem todo uma
estória pregressa que desemboca na organização presente da sociedade.

Mas apesar de assim posto, essa noção “sujeitista” por vezes não é tão intuitiva. O
que acontece muitas vezes é que a análise fria dos fatos levam a crer, erroneamente,
que a história se faz de marcos estáticos. O que evidentemente é falso, uma vez que
tais “pontos críticos” são completamente imotivados no sentido temporal (pelo menos
em menor escala); a grande importância sempre está na interação entre os sujeitos
históricos. Tanto fazia se a abolição fosse em 1888 ou em 1884; se fosse assinada
pela Princesa Isabel ou por Dom Pedro II; estes foram completamente acidentais. As
coisas, na grande maioria das vezes, se constroem em base, em âmbito menor; e
escalonam até que se fazem um ponto visível no varal historiográfico. E como já
citado aqui, um ótimo exemplo desse processo, que erroneamente é visto apenas pelo
ponto resultante, é o fim da escravidão no Brasil.

Evidentemente, o fim da escravidão não se deu simplesmente pelo bel-prazer de dona


Princesa Isabel, ou por motivação de uma série de intelectuais de renome (e nome
tradicional) , como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, entre outros. Assim, é mais que
justo que a data de maior importância para o movimento negro não se encontre nesse
marco estático de 13 de maio, que fora a Lei Áurea. Claro , é impossível dimensionar
em um dia o que fora, e é, todo um movimento; mas se assim feito, que pelo menos se
leve em conta a luta do sujeito histórico afetado, o negro escravizado em solo
brasileiro. Nesse sentido, apesar de não imediata tal concepção, até mesmo do próprio
movimento, felizmente no Brasil se fez bem-sucedida uma revisão de tal simples
ideia.

Na década de 70, muito inspirado na obra o “Quilombo dos palmares” de Edson


Carneiro, emerge um movimento ainda pequeno em Porto alegre e no Rio Grande do
Sul para tal mudança. A nova proposta de data de homenagem a causa negra se
encontrava no dia 20 de novembro, o dia em que morre Zumbi dos Palmares; um
verdadeiro símbolo da luta negra real. Rapidamente o movimento foi aderido , e em
78, o recém fundado Movimento negro Unificado também começa a reclamar tal data
como o verdadeiro dia representativo da liberdade negra.

Na atualidade, o 20 de novembro é uma data nacionalizada: “o Dia da Consciência


Negra”. Apesar de isso ser um ato pequeno, pela mera significação, já representa um
grande avanço na noção histórica-sociocultural brasileira. Graças a esses pequenos
ajustes que pouco a pouco o fim da escravidão no Brasil vem deixando de ser visto
como um movimento de pele clara e olhos azuis. Se aproximando da essencial
verdade histórica: nunca houve uma elite preocupada em inserir o negro, de fato, na
sociedade. O fim da escravidão, bem como todos os outros ganhos do movimento
negro, em essência, só falam sobre a luta do próprio.
QUESTÃO 2.
A partir da leitura de Wlamyra R. Albuquerque e de Walter Fraga filho no livro “Uma
história do negro no Brasil” escolha um tema de seu interesse sobre o movimento
negro no Brasil e o explique com suas palavras.

A evolução ideológica dos movimentos negros

No início do século XX, apesar dos negros já serem oficialmente “des-sinonimizados “ a


escravidão, a “sociedade” (pelo menos a alta cúpula) ainda se mostrava extremamente
hostil a essa significativa parcela de população brasileira. É básico o entendimento de
que os negros não foram, de modo algum, “indenizados” no pós-escravidão. Na
verdade, nem a inserção mínima se fez: os negros foram literalmente abandonados à
própria sorte pelo estado. De modo a ser tão estrutural a diferenciação, que até mesmo
as consequências desse abandono eram vistas como um “defeito de cor”. Sequer as
tentativas de sobrevivência, de autoidentificação, de ascensão social, eram vistas com
bons olhos pela aristocracia. Basicamente, tudo que se referia a cultura negra e ao negro
brasileiro no início do século XX, fazia a elite virar o nariz e gritar vadio. Mas mesmo
nesse cenário angustiante e massacrador , surge , inevitavelmente, os primeiros lampejos
do ainda incipiente “movimento negro”.

Inicialmente, seria cobrar demais que negros recém afeitos a liberdade representassem
ideais e tivessem um modus operandi próximo ao que se considera justo nos dias de
hoje. O movimento negro nasce no popular, no básico, sem reinvindicações maiores;
inicialmente na forma de uma imprensa especializada (em São Paulo principalmente).
Essa imprensa surge e se insere o, basicamente, no “meio negro” , como o “militante”
José Corrêa Leite, fundador do jornal “Clarim D’alvorada”, define. Meio este que ,na
verdade, não se tratava de nada mais que o mesmo “mundo” que os brancos viviam, só
que pintado de preto. Bailes; clubes; a questão do emprego; da disputa de vagas com
imigrantes; casos da cidade em geral. Mas tudo isso a partir do ponto de vista do negro;
e do mesmo modo: para anegro. Especialmente sobre a questão do emprego: nasce daí
uma verdade particular e identitária, que distinguia, mesmo que ainda de uma forma um
tanto inconsciente diametralmente a posição do negro.

A grande questão do negro, factualmente, no início do século XX, era fugir do estigma
da vadiagem, tão destrutivo ao passo que desconsiderava a presença do próprio. Como
se fosse “inerentemente vagabundo”, logo o seu status era apenas sua culpa, e logo sua
opinião não tinha validade nenhuma. Mas claro, a “sociedade superior”, baseada no
próprio estigma e em uma serie de teorias raciais sem fundamentos sérios,
simplesmente preferia perdurar tal segregação que hipocritamente criticava. Nesse
contexto surge a imprensa negra, que muitas vezes denunciava casos de segregação em
vagas de emprego; acerto de contas; e termos afins. Mas a imprensa por si só não tem
uma moeda política, apesar da voz; e assim, quanto mais se passava, mais cresciam os
anseios por um movimento organizado, “de carteirinha”. É nesse contexto, mais como
uma associação atuante em causas operárias, que surge o primeiro movimento negro
brasileiro: a Frente Negra Brasileira.

A Frente Negra Brasileira, FNB, foi fundada em 1931 por Arlindo Veiga, Guaraná
Santana , José Correia Leite, entre outros nomes já atuantes na imprensa negra. O
principal traço e inovação que esse movimento traz a “causa negra” , é sua essência
militante e política. Como grande parte da pregressa imprensa negra, a visão sobre o
próprio negro difere um pouco as conceituações mais atuais. Quase todos os
“movimentos” negros pré e durante a década de 30 tinham assumido uma postura
positivista. Acreditavam que o negro não precisava necessariamente reconstruir sua
identidade, assumir e reivindicar aceitação dos hábitos e da cultura; mas sim se adaptar,
progredir nas regras da sociedade. E assim a FNB progrediu; muito atrelada aos
movimentos populistas de seu tempo, a própria política de Vargas; e apesar de todas as
contradições postumamente engendradas sobre isso, fato é que foi importante tal
postura. A FNB mostrou que o negro , antes “inerentemente” vadio , podia muito bem
se adaptar aos “usos e costumes” da sociedade dominante; e não só isso, mas como
ainda sim se destacar politicamente. Em síntese, foi um movimento a seu tempo, e que
por último não só se marcou como tal, mas elevou nomes importantes que ainda
marcariam a luta negra no brasil.
Umas das figuras importantes que se engendrou na aurora do FNB , foi o gigantesco
ativista e dramaturgo Abdias do nascimento. Ele , viria a ser um dos principais
fundadores do Teatro experimental do Negro, o TEN; como também do respectivo
jornal institucional , O Quilombo. Se por um lado o Teatro estimulava o senso artístico ,
e de certa forma também instruía e educava; o jornal politizava os assinantes, e se
utilizava de uma nova abordagem que permearia todo o ativismo negro. Diferentemente
da imprensa negra inicial, do FNB, o TEN e seu jornal O Quilombo, organizado de 48 a
51, abriam um espaço de debate racialmente misto, com tanto autores negros, como
brancos. Claro, falando em prol e positivamente sobre a causa. Nessa celeuma ,
célebres autores como o grande Gilberto Freyre escreveram ao jornal. A proposta, no
fundo, era estabelecer nem uma identidade exclusivamente africana; nem uma
identidade exclusivamente brasileira, como fizera a FNB por exemplo; mas sim
estabelecer uma identidade afro-brasileira. Não mais desconhecendo a cara da
negritude, simplesmente se adaptando ao cenário; mas se introduzindo como uma
mistura particular, e que é tanto brasileira como qualquer outro costume. A questão
então do movimento negro na década de 40 e 50 não era mais a introversão e
expurgação negativa de “maus hábitos”, mas sim uma extroversão identificatória e
plural, que buscava reclamar um espaço digno a semente africano. Portanto, já na
década de 50 vemos o movimento negro se delimitar nos moldes atuais.

Infelizmente , com o golpe militar de 64, a pauta racial foi drasticamente apagada do
debate. O Tem acaba em 61, já com o florescer dos ânimos golpistas e durante o golpe,
praticamente não se existe uma movimentação nesse sentido. Mas já com o “afrouxar”
das rédeas militares , no final da década de 70 , começam a “reaparecer” no debate
nacional estas reinvindicações, que de fato nunca pararam de existir, só foram
ensurdecidas pela ditadura. E nesse cenário que surge e se delimita a forma mais
moderna do movimento negro.

Em 78 surge no Brasil um movimento preponderante e essencial ao entendimento da


questão racial atualmente: nasce o Movimento Negro Unificado. Encabeçado por, entre
outros, mas distintamente, Lélia Gonzáles. A partir de uma grande liderança feminina, a
questão racial começa a ganhar transversalidade. Finalmente começa a ser levado em
consideração o fator triplo de classe, raça e gênero. E até hoje, pelo menos em essência,
é assim que o movimento negro se apresenta: indissociável a questão social; e ainda,
mais timidamente, a questão de gênero.

Vemos assim que a “causa negra” no Brasil teve seu processo histórico de evolução até
chegar no status atual. Inicialmente, um movimento até um tanto contraditório aos olhos
atuais; mas ainda sim indispensável. Tal como é até hoje; e provavelmente que ainda
mudara de certa forma. A história se progride assim, e tudo só terá fim quando se chegar
a uma igualdade minimamente razoável.

Você também pode gostar