Arte de Tecer Ebook-1

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Hildete Pereira de Melo

Lorena Lima de Moraes


(Organizadoras)

A arte de tecer o tempo


perspectivas feministas
Todos os direitos desta edição reservados a Pontes Editores Ltda.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia
sem a autorização escrita da Editora.
Os infratores estão sujeitos às penas da lei.
A Editora não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta publicação.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo - SP)

M528a Melo, Hildete Pereira de (org.); Moraes, Lorena Lima de (org.).

A arte de tecer o tempo: Perspectivas feministas / Organizadoras: Hildete Pereira


de Melo e Lorena Lima de Moraes; Prefácio de Lourdes Maria Bandeira..– 1. ed.–
Campinas, SP : Pontes Editores, 2021.
383 p.; il.; tabs.; gráfs.; quadros; fotografias.
E-Book: 7.4 Mb; PDF.

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-192-4.

1. Gênero e Sexualidade. 2. Mulheres. 3. Pesquisa.


I. Título. II. Assunto. III. Organizadoras.

Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846

Índices para catálogo sistemático:


1. Feminismo / Emancipação da mulher. 305.42
Desvelar, reconhecer e conhecer o trabalho realizado pelas mulheres no
espaço doméstico tem sido um desafio e estímulo que move as pesquisas
e ações em torno do feminismo e dos estudos de gênero e uso do tempo.
Desta forma, mobilizar as categorias e conceitos que nos ajudam a reco-
nhecer as relações de poder, e que, sobretudo, nos oferecem instrumen-
tos de denúncia, de proposição de políticas públicas e projetos sociais
e econômicos que contribuam para a transformação desta realidade e
autonomia das mulheres, tem sido um dos objetivos deste campo de
pesquisas. Divisão sexual do trabalho, trabalho doméstico e de cuidados,
trabalho pago e não pago, uso do tempo são conceitos e categorias que
mobilizam as mulheres pesquisadoras e militantes, pois além de serem
lentes de análises para os problemas de pesquisa, ganham sentido para a
ação política dos movimentos e organizações feministas e de mulheres.
Os textos aqui apresentados trazem uma riqueza metodológica para o
desenvolvimento de pesquisas e obtenção de dados. São estudos elabo-
rados por grupos de pesquisadoras/es de diversas áreas de conhecimen-
to como Economia, Sociologia, Estatística e Psicologia que demonstram
a necessidade do olhar complexo e interdisciplinar para a abordagem
deste tema como prática fundamental do diálogo de saberes. Por fim, o
livro faz uma importante homenagem à Professora Neuma Aguiar pelo
reconhecimento da contribuição de suas pesquisas como parte da traje-
tória dos estudos do uso do tempo, como mulher pesquisadora engajada
e feminista que contribui para um projeto de transformação da realidade
da vida das mulheres no Brasil e no mundo.

Profª. Drª. Laeticia Jalil


Universidade Federal Rural de Pernambuco

Grupo de Pesquisa em Relações


de Gênero Sexualidade e Saúde
UFRPE - UAST
Copyright © 2021 – Das organizadoras representantes dos colaboradores
Coordenação Editorial: Pontes Editores
Revisão: Cibele Ferreira
Revisão final: Shana Sampaio Sieber e Lorena Lima de Moraes
Editoração e capa: Vinnie Graciano
Obra da capa: Mãe e filha, Matizes Dumont

PARECER E REVISÃO POR PARES


Os capítulos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação e revisados por pares.

CONSELHO EDITORIAL:

Angela B. Kleiman
(Unicamp – Campinas)

Clarissa Menezes Jordão


(UFPR – Curitiba)

Edleise Mendes
(UFBA – Salvador)

Eliana Merlin Deganutti de Barros


(UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná)

Eni Puccinelli Orlandi


(Unicamp – Campinas)

Glaís Sales Cordeiro


(Université de Genève - Suisse)

José Carlos Paes de Almeida Filho


(UNB – Brasília)

Maria Luisa Ortiz Alvarez


(UNB – Brasília)

Rogério Tilio
(UFRJ - Rio de Janeiro)

Suzete Silva
(UEL - Londrina)

Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva


(UFMG – Belo Horizonte)

PONTES EDITORES
Rua Dr. Miguel Penteado, 1038 – Jd. Chapadão
Campinas - SP - 13070-118
Fone 19 3252.6011
[email protected]
www.ponteseditores.com.br
Sumário

Prefácio 9
Apresentação – A ARTE DE TECER O TEMPO:
perspectivas feministas 13
PARTE I
Homenagem à Neuma Aguiar
“Ela e Elas” - construindo a história dos estudos de uso do
tempo no Brasil: entrevista com Neuma Aguiar 25
Lorena Lima de Moraes
Hildete Pereira de Melo
Precursores dos Estudos de Usos do Tempo no Brasil 49
Neuma Figueiredo de Aguiar (UFMG)
PARTE II
Artigos
A importância das informações de uso do tempo para os
estudos de gênero no Brasil: algumas considerações
sobre as pesquisas domiciliares oficiais 75
Cristiane Soares (IBGE)
Uso do tempo e valoração do trabalho não
remunerado no Brasil 109
Hildete Pereira de Melo (UFF)
Lucilene Morandi (UFF)
Ruth Helena Dweck (UFF)
Trabalho doméstico não remunerado e as transferências
intergeracionais de tempo no Brasil 141
Jordana Cristina de Jesus (UFRN)
Simone Wajnman (UFMG)
Cassio M. Turra (UFMG)
Metodologias, Trabalho e Uso do tempo: compreendendo
a rotina de mulheres rurais 171
Lorena Lima de Moraes (UFRPE – UAST)
Nicole L. M. T. de Pontes (UFRPE – UAST)
Shana Sampaio Sieber (UFRPE-UAST-DADÁ)
Juliana Funari (UFRPE-UAST-DADÁ)
Nathália Marques da Silva Nascimento (UFRPE – UAST)
Patrícia de Lira Marques (UFRPE-UAST-DADÁ)
Rotinas de Mulheres Ribeirinhas da Região Amazônica:
Atividades e Papéis na Família, no Trabalho e na Comunidade 207
Neuzeli Maria de Almeida Pinto (UEMA)
Fernando Augusto Ramos Pontes (UFPA)
Simone Souza da Costa Silva (UFPA)
Classificação do uso do tempo em atividades e trabalhos
diários das mulheres rurais (CATMUR) 235
Lorena Lima de Moraes (UFRPE- UAST)
Shana Sampaio Sieber (UFRPE – UAST - DADÁ)
Juliana Funari (UFRPE – UAST - DADÁ)
Nicole Pontes (UFRPE - UAST)

Apresentação das autoras e autores 373


Esse tempo que rege a importância
De um estado repleto do fazer
Gerar fruto, plantar, dar de comer
Tudo dentro da sua concordância
Um espaço na vida em abundância
Vê a lógica no fardo e no trabalho
Se encanta contando mais um galho
Dessa árvore dona desse chão
Enraíza o poder da criação
Semeando e somando cada orvalho.

Jessica Caitano
Poetisa e cantora do Alto Sertão do Pajeú
Prefácio

La Real Academia Espanõla define el tempo, em uma de sus


acepciones, como ‘la época durante la cual vive uma per-
sona o sucede alguna cosa’. Sin embargo, esta referencia a
um sujeto neutro em verdade encubre que esta dimensión
intangible – que relojes y clendarios organizan em minutos,
meses, años -, omnipresentes, irreversible y finita, sobre la
que se estructuran y diseñan las experiências cotidianas, es
vivida de manera desigual según se haya nacido mujer o
varón. (ADRIANA VAGHI, 2009, p. 328)1

O livro que ora apresento se enquadra/encaixa perfeitamente na


epígrafe trazida por Adriana Vaghi (2009), na medida em que, o conjun-
to de artigos centra-se em um objetivo comum – isto é, de provocar/
instigar uma reflexão crítica sobre como tecer o(s) uso(s) do(s) tempo(s)
feminino(s), uma vez que o tempo não é ‘neutro’, e é bem diferenciado/
específico pelo seu uso por mulheres e homens. A questão do(s) uso(s)
do tempo adquire importância cabal na sociedade atual a partir dos
debates com foco na divisão sexual do trabalho e das consequências
que acarreta.
Uma breve retrospectiva histórica informa que nas sociedades pri-
mitivas, de modo geral, o uso do tempo era organizado/estruturado
ao redor da produção da vida, através do trabalho realizado a partir do
ciclo das estações e dos movimentos da natureza. Para as mulheres, va-
lia o seu ciclo ou relógio biológico – o período menstrual, por exemplo,
regulava suas atividades tanto de inclusão como de excluí-las de certas
tarefas como da plantação, da colheita, da pesca, entre outras.

9
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Com a chegada da ‘era industrial’ o(s) uso(s) do tempo foi(ram)


reorganizado(s) voltando-se para outro postulado - da divisão entre os
espaços produtivos destinados aos homens e das atividades reprodu-
tivas às mulheres, configurando o reordenamento da divisão sexual do
trabalho (d.s.t.), que por sua vez, divide os tempos: às mulheres a reclu-
são na esfera do privado da casa; aos homens a esfera pública da pro-
dução. Este paradigma datado desde a ‘revolução industrial’, meados do
século XIX, instalou-se e parece querer permanecer para sempre.
As primeiras rupturas com tal paradigma emergiram com os tra-
balhos pioneiros trazidos pela teoria social, com perspectiva feminista,
sobre os estudos do(s) uso(s) do tempo. Ao nível internacional, as pes-
quisas foram inicialmente desenvolvidas na Dinamarca (1961), com os
estudos de Alexander Szalai2; na Espanha, com Page (1966)3 e Durán
(1986, 1988) 4 entre outros; buscaram evidenciar que a dimensão tem-
poral não é neutra em relação às condições de gênero e de classe social,
isto é, que as diferenças e as dissimetrias entre o trabalho realizado
por mulheres e por homens – e de como concebem e consomem o
tempo tem sido determinantes tanto na construção como na reprodu-
ção das desigualdades de gênero e de classe social. Ao mesmo tem-
po, demonstraram como o uso do tempo é uma variável contaminada
pela ‘natureza’ da estrutura familiar, pela presença de filhos/as menores,
pelas condições de classe das mulheres, além das demandas que lhes
são cobradas nas lidas do cuidado, assim como pela participação destas
no mercado de trabalho. Pontos estes que são densamente analisados,
através de experiências e de dados trazidos pelos trabalhos que com-
põem este livro.
No Brasil, deve-se o pioneirismo da pesquisa sobre o uso do tem-
po à professora Neuma Aguiar, da UFMG, pois, trata-se de reconhecida
acadêmica feminista que se debruçou sobre este fenômeno, uma vez

2 Referência citada na op. cit. (2009, p. 328).


3 Referência citada na op. cit. (2009, p. 328/9). A. Page: El mito de la vida privada. De la
entrega al tempo próprio. Madrid, Siglo Veintiuno, 1966.
4 Referência citada na op. cit. (2009, p. 328/9). DURÁN, María Ángeles. La Jornada Interminable.
Barcelona, Icaria, 1986. De puertas adentro. Madrid, Instituto de la Mujer, 1988.

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

que, percebeu sua importância, pois o(s) uso(s) do tempo deixam de


ser uma questão feminina-privada para transformar-se em uma proble-
mática social e política, que certamente demanda políticas públicas de
igualdade de gênero, com vistas a buscar bem mais do que um ‘modelo’
de horários de trabalho, mas um ‘estilo de vida’ equitativo para homens
e mulheres.
Seguem-se outros quatro artigos, de pesquisadoras que se de-
dicam ao mesmo fenômeno, no sentido de nos oferecer tanto dados
empíricos/estatísticos, como informações históricas que poderão ser-
vir à construção de futuros indicadores nas articulações entre trabalho
e família. Cabe destacar a importância da análise dada ao(s) uso(s) do
tempo no qual são desenvolvidas atividades não remuneradas, uma vez
que seu quantitativo se encontra nos chamados ‘afazeres domésticos’.
O enfoque da d.s.t. introduziu no centro da análise a comparação
entre o uso do tempo das mulheres (reprodutivo) e dos homens (pro-
dutivo), e neste sentido, as relações recíprocas, hoje, remetem a novos
questionamentos para além do trabalho produtivo e reprodutivo, pois,
demanda refletir sobre os novos arranjos familiares, organizações das
mulheres, o uso das novas tecnologias, assim como as relações de gê-
nero decorrentes.
Ademais, também foi analisado todo o volume de trabalho ‘gra-
tuito’ e corrido, isto é, produzido socialmente pelas mulheres que as-
seguram tanto a produção doméstica como a reprodução social, cujo
valor é completamente desconsiderado nas contas nacionais de trans-
ferência de tempo. Isso implica que o valor ao trabalho feminino é so-
mente atribuído aquele que é exercido – formalmente –, seja na esfera
produtiva ou na área de serviços. Mas vale destacar, que o tempo tem
uma dimensão simbólica, que foge do ‘mandato patriarcal’, pois, não é
apenas quantificável, mas está presente em uma série de projetos, pa-
péis e de afazeres pessoais que as mulheres desenvolvem, o que as tor-
nam mais diferenciadas, mais plurais, em relação ao uso do tempo dos
homens vinculado ao trabalho mais homogêneo e à produção. Por sua

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

vez, a simbolização do uso do tempo feminino é bem mais complexa,


pois ultrapassa o valor de ‘uso’ e expande-se ao(s) valor(es) de troca(s)
simbolizados na multiplicidade de atividades comunitárias, artesanais,
artísticas, religiosas, festivas e um tanto de outras que não são reguladas
pelo relógio produtivo hegemônico e masculino.
Sem dúvida que os textos apresentados representam um esforço
das pesquisadoras, de diferentes instituições, com reconhecida experi-
ência na temática, a nos oferecer uma instigante reflexão para ‘conhe-
cer’ o trabalho (não) remunerado das mulheres: o que fazem? como
fazem? durante quanto tempo? como se distribui o tempo no decorrer
de uma jornada de trabalho? como as mulheres do ‘Brasil profundo’ –
no caso das comunidades ribeirinhas da região Amazônica e das áreas
rurais distribuem o tempo do trabalho (não)remunerado e reprodutivo
e das atividades de cuidados? Como as atividades de ócio, lúdicas ou
de lazer são desenvolvidas nas comunidades? Enfim, estas perguntas e
tantas outras a leitura dos textos nos dá o ensejo de refletir sobre com-
plexas e tamanhas desigualdades persistentes entre homens e mulheres
no(s) uso(s) do tempo, não apenas, na sua materialidade, mas também
nas suas simbolizações.
Por fim, registro minha gratidão às organizadoras e autoras deste
livro pelo convite de fazer sua apresentação!

Brasília, 01 de maio de 2020.


Dia Internacional do Trabalho

Lourdes Maria Bandeira


Profa. Titular do Departamento de Sociologia
Universidade de Brasília/UnB.

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Apresentação
A ARTE DE TECER O TEMPO
perspectivas feministas

O DADÁ: Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Relações de


Gênero, Sexualidade e Saúde foi criado em 2017, no Sertão do Pajeú/
PE, decorrente da efervescência intelectual de docentes e estudantes
da Unidade Acadêmica de Serra Talhada/Universidade Federal Rural
de Pernambuco. Em janeiro de 2018, este grupo convidou a professora
Hildete Pereira de Melo/UFF para ministrar um curso de extensão (20
horas) sobre “Trabalho e Gênero” naquela instituição. No desenrolar do
curso e nas conversas acadêmicas que aconteceram depois das aulas,
discutiu-se o desenvolvimento de uma linha de pesquisa conjunta en-
tre as duas instituições sobre “divisão sexual do trabalho pago e não
pago”, em uma continuidade dos estudos que esta docente desenvolvia
na Faculdade de Economia/UFF, desde 2005. Em paralelo a estes acon-
tecimentos, criou-se o Núcleo de Pesquisas em Gênero e Economia/
Faculdade de Economia que centralizou a antiga experiência sobre a
divisão sexual do trabalho e o uso do tempo e novos rumos foram traça-
dos na continuidade dessa tradicional linha de pesquisa. Na sequência,
era necessário avançar nas propostas para medição do trabalho não
pago (reprodutivo), prestado por “amor” pelas mulheres para repro-
duzir a vida, e em algumas metodologias e resultados que já tinham
sido apresentados anteriormente e outros que foram desenvolvidos já
nesta década do século XXI. Assim, membros/pesquisadoras do núcleo
da Economia/UFF escreveram artigos e capítulos de livros que foram

13
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

discutidos amplamente na sociedade. Desta forma, esta experiência se


constituiu como sendo o fio condutor para as discussões entre os dois
grupos nestes últimos anos, possibilitando a construção e desenvolvi-
mento de pesquisas que tiveram como tema o “uso do tempo” no con-
texto das relações de gênero.
Ao longo de 2018 e primeiro semestre de 2019 o grupo da UFF
prosseguiu na linha de estudo sobre trabalho pago e não pago e o da
UAST/UFRPE iniciou uma pesquisa sobre uso do tempo com mulheres
rurais do Sertão do Pajeú/PE. Em maio de 2019, o grupo DADÁ organi-
zou um seminário nacional para apresentar seus primeiros resultados e
dentre várias/os docentes renomadas/os contou com a participação da
professora da Economia/UFF que proporcionou uma importante troca
de saberes entre as docentes e estudantes de pós-graduação e gradua-
ção dos estados de Pernambuco, Alagoas, Bahia e Ceará. O sucesso do
seminário incentivou o prosseguimento do intercâmbio de experiências
e as discussões continuaram nos meses seguintes entre os dois grupos.
E desta articulação de ideias e conhecimentos, artigos foram publica-
dos e organizou-se dois “Simpósios Temáticos” nesta linha de pesquisa,
coordenados por docentes dos dois coletivos, no tradicional Seminário
Internacional “Fazendo Gênero 12 “– Lugares de Fala: direitos, diversi-
dade e afetos”, promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina
a ser realizado em julho de 2020.1 Esta coletânea também é fruto desta
cooperação.
Assim, no desenrolar das pesquisas e nas trocas de correspondên-
cias entre os dois grupos acadêmicos, o trabalho e as contribuições de
Neuma Aguiar (UFMG) foram revisitados, como uma das primeiras refle-
xões desenvolvidas sobre “uso do tempo” no Brasil. Não temos dúvida
que esta linha de pesquisa marcou sua trajetória intelectual de forma
singular. Pioneiramente, sua inquietação com o tema traduziu-se em
artigos, palestras, seminários acadêmicos, pesquisas que conferia a esta

1 Infelizmente a pandemia de Covid-19 postergou sua realização para o ano de 2021.

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

professora o caráter pioneiro desta temática no Brasil.2 Com formação


universitária no Rio de Janeiro e nos EUA, com importante passagem
por universidades americanas e por muitas décadas no IUPERJ, atual
IESP/UERJ e, posteriormente, com sua ida para a UFMG, onde formou
muitas pesquisadoras/es no país, Neuma Aguiar é honrada com o título
de Professora Emérita desta importante instituição de ensino superior
nacional. A professora, que teve uma intensa vida acadêmica, foi a se-
gunda brasileira a obter um doutorado em Sociologia, nos EUA, com
uma tese defendida na Washington University com o título “The mobi-
lization and Bureaucration of the working class in Brazil (1930-1964)”,
com a orientação do professor Irving Louis Horowitz, no ano de 1969. A
primeira foi a paulista Heleieth Iara Bongiovani Saffioty, em 1967, con-
correndo para a Cadeira de Sociologia com a tese de Livre-Docente da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, trabalho orien-
tado pelo professor Florestan Fernandes, e coroou sua carreira com prê-
mios, distinções acadêmicas e reconhecimento em associações científi-
cas nacionais e internacionais.
Como fruto destes debates, Hildete Pereira de Melo convidou a
Professora Lorena Moraes, em meados de setembro de 2019, para uma
apresentação do trabalho que o grupo DADÁ vem desenvolvendo so-
bre o tema de uso do tempo, para as demais integrantes do núcleo da
instituição fluminense e, em paralelo, agendaram uma conversa com
a professora Neuma Aguiar. A visita aconteceu em sua residência, em
Copacabana, e uma instigante troca de experiências efetivou-se entre
as três pesquisadoras. Tomando chá com biscoitos, discutiu-se as pes-
quisas que vínhamos fazendo na Economia/UFF e na UAST/UFRPE e a
professora Neuma falou sobre suas experiências com as pesquisas de
uso do tempo realizadas pelo Brasil afora.
A troca de vivências entre nós, duas feministas dos anos 1970 e
uma da nova geração do século XXI, foi rica e transbordante de alegria e
a proposta de organizar uma coletânea sobre o tema “uso do tempo” foi

2 É válido lembrar o papel das pesquisas de Amaury de Souza também nos anos 1970 sobre
esta temática.

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

aprovada, entusiasticamente, pela professora Neuma. Depois de realizar


a entrevista decidimos que além de organizar a coletânea, devíamos
transformá-la em uma homenagem à Neuma Aguiar, pela sua impor-
tância no desenvolvimento do pensamento científico no campo discipli-
nar dos feminismos e, sobretudo, pelo seu destaque nas pesquisas de
“uso do tempo” no Brasil e América Latina. Para isso combinou-se uma
entrevista sobre a trajetória acadêmica da homenageada e uma volta
da professora Lorena ao Rio de Janeiro em novembro daquele ano. E
assim aconteceu. Em 30/11/2019 foi realizada uma longa entrevista com
Neuma Aguiar, na qual contou sua trajetória acadêmica e pessoal e de
como sua ousadia arrombou muitas portas sexistas do espaço acadêmi-
co daqueles tempos.
A organização desta coletânea foi concebida como uma homena-
gem à professora Neuma Aguiar pelo reconhecimento de sua trajetó-
ria acadêmica na difusão de estudos sobre as mulheres, e desenvolvi-
mento das pesquisas de uso do tempo, que influenciaram o Núcleo de
Pesquisas em Gênero e Economia/UFF, o grupo DADÁ/UAST/UFRPE e as
demais pesquisadoras que compõem esta publicação.
Assim, esta coletânea está organizada da seguinte forma: na pri-
meira parte faz uma homenagem à Neuma Figueiredo Aguiar, a pioneira
dos “estudos de uso do tempo no Brasil”, com a publicação da entre-
vista intitulada – “Ela e Elas” - construindo a história dos estudos de
uso do tempo no Brasil: entrevista com Neuma Aguiar, na qual ela
narra sua trajetória acadêmica e discute com as entrevistadoras a cons-
trução deste novo campo disciplinar sobre os estudos de uso tempo
de ontem e de hoje, intercalando a sua e as nossas próprias histórias
sobre estas pesquisas em nossas vidas. Esta parte é complementada
com o ensaio inédito escrito pela professora Neuma para esta coletâ-
nea, “Precursores dos Estudos de Uso do Tempo no Brasil”. O ensaio
traça o histórico nas quatro últimas décadas destes estudos no Brasil,
com o objetivo de discutir o significado das correntes sociológicas in-
ternacionais que influenciaram o desenvolvimento do campo disciplinar
no Brasil; as contribuições e reformulações que os estudos nacionais

16
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

propiciaram nesses métodos de investigação e as perspectivas inova-


doras que eles desenvolveram em relação aos estudos internacionais;
seus avanços em relação aos demais aportes cobertos pela bibliografia
especializada sobre a divisão sexual do trabalho, que tem nas pesquisas
de uso do tempo uma ferramenta analítica valiosa, para mensurar a re-
partição desigual de tempo entre o trabalho destinado ao mercado e o
que é responsável pela reprodução da vida.
A segunda parte, desta coletânea, apresenta cinco artigos, resulta-
dos das pesquisas realizadas nestes últimos anos no IBGE e em diversas
universidades brasileiras sobre o tema das relações de gênero e “uso do
tempo”.
O primeiro artigo é de Cristiane Soares, técnica do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e intitula-se “A Importância das infor-
mações de uso do tempo para os estudos de gênero no Brasil: al-
gumas considerações sobre as pesquisas domiciliares oficiais”. Este
estudo aborda a articulação entre trabalho e família e a importância dos
indicadores de tempo, gasto com afazeres domésticos e cuidados para
analisar a invisibilidade do trabalho das mulheres na sociedade, que se
expressa na elevada carga de trabalho não remunerado executado pelas
mulheres no interior das famílias. Contudo, no caso brasileiro, as es-
tatísticas oficiais disponíveis que permitem mensurar a distribuição do
tempo das pessoas segundo as atividades realizadas ainda são bastante
limitadas. Até recentemente, as informações da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios – PNAD Anual (até 2015) permitiam calcular so-
mente a jornada semanal da população ocupada no mercado de traba-
lho e a jornada semanal total com afazeres domésticos, sem a indicação
da atividade realizada e o tempo despendido em cada atividade. Com a
divulgação da PNAD Contínua novas informações passaram a ser divul-
gadas, mas ainda com muitas limitações acerca do uso do tempo pelos
indivíduos. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo refletir
sobre as mudanças metodológicas na captação dos afazeres domésti-
cos e cuidados nas pesquisas domiciliares, bem como analisar os novos
resultados acerca do trabalho não remunerado e as implicações para as

17
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

desigualdades de gênero no uso do tempo das pessoas. Estas inovações


metodológicas permitiram que o país avançasse no debate nacional e
internacional sobre as relações de gênero e o trabalho não remunerado,
porque ao disponibilizar o indicador de proporção do tempo gasto em
trabalho doméstico e de cuidados por sexo, a partir dos resultados da
PNAD Contínua, o país divulga uma medida que ilustra a meta 5.4 dos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, onde um dos eixos é a pro-
moção da igualdade de gênero.
O segundo artigo, Uso do tempo e valoração do trabalho não
remunerado para o Brasil tem autoria de Hildete Pereira de Melo,
Lucilene Morandi e Ruth Helena Dweck. Este artigo tem como objeti-
vo propor uma mensuração para as atividades de ‘afazeres domésticos’
realizadas pelas pessoas no interior das suas casas e que possibilitam
reproduzir a vida e o bem-estar na sociedade. A importância desta men-
suração é que ela permite desnudar a desigualdade de sexo/gênero ve-
lada nos dados macroeconômicos e na articulação entre o espaço pro-
dutivo e o reprodutivo da sociedade. Os serviços gerados na execução
dos afazeres domésticos, por não estarem associados ao mercado são
ignorados pela teoria econômica que não os valora e tampouco os con-
tabiliza no Produto Interno Bruto (PIB) dos países. As economistas femi-
nistas desde o século XX denunciam esta invisibilidade e na atualidade
estas pesquisas avançam e este estudo discute uma proposta de criação
de uma Conta-Satélite ao Sistema de Contas Nacionais (SCN), conforme
recomendam as Metas do Milênio da ONU, para mensurar e valorar o
tempo gasto na execução dos afazeres e cuidados e assim explicitar o
valor do trabalho não pago para a geração de riqueza. Ainda que de
forma embrionária este artigo discute uma proposta para a formulação
de estatísticas sobre o trabalho não remunerado no Brasil, através de
uma Conta-Satélite, esta possibilita a disponibilização de dados estatís-
ticos sobre o uso do tempo dos homens e das mulheres e seus reflexos
no mercado de trabalho como elementos essenciais para uma melhor
compreensão das desigualdades existentes entre os sexos.

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

O terceiro artigo, Trabalho doméstico não remunerado e as


transferências intergeracionais de tempo no Brasil, é de autoria de
Jordana Cristina de Jesus, Simone Wajnman e Cassio M. Turra. O arti-
go destaca a bibliografia internacional que demonstra que durante o
ciclo de vida, os homens se apresentam como consumidores líquidos
de trabalho doméstico e dependentes de transferências das mulheres
e elas são as maiores responsáveis pelas contribuições para a produ-
ção doméstica. Elas produzem mais do que consomem e são, por isso,
classificadas como transferidoras líquidas. O Brasil não possui nenhuma
estimativa sobre as contas nacionais de transferência de tempo. Assim,
o objetivo deste estudo foi de empregar a metodologia do National
Time Transfer Accounts (NTTA) proposta pelo projeto National Transfer
Accounts (NTA), para estimar as transferências intergeracionais brasileira
para que nos períodos de dependência econômica, estas sejam atendi-
das para favorecer o consumo dependendo da estrutura etária da popu-
lação, por idade e sexo, a partir da PNAD anual de 2013 (JESUS, 2018).
O estudo emprega como metodologia para especificidade do caso bra-
sileiro, vários métodos para estimar o valor econômico do trabalho do-
méstico não remunerado no Brasil e a análise da produção econômica
total de homens e mulheres, considerando tanto a produção no merca-
do como a doméstica, com o intuito de ter uma dimensão da distribui-
ção feminina para a economia.
O quarto artigo, das autoras: Lorena Lima de Moraes, Nicole
L.M.T. de Pontes, Shana S. Sieber, Juliana Funari, Nathalia M. da Silva
Nascimento e Patrícia de L. Marques, intitulado Metodologias, traba-
lho e uso do tempo: compreendendo a rotina de mulheres rurais,
apresenta os percursos metodológicos de uma pesquisa sobre “uso do
tempo” ainda em curso, com mulheres rurais do Sertão do Pajeú no
estado de Pernambuco. A partir de uma abordagem feminista crítica
foram desenvolvidas novas estratégias metodológicas (que combinam
instrumentos e atividades da extensão universitária e da pesquisa aca-
dêmica científica) e ferramentas para a obtenção de dados do uso do
tempo que enfatizam a sobreposição de tarefas, a sobrecarga mental e

19
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

física, bem como a valorização do trabalho das mulheres em contextos


rurais, seja em casa, no roçado ou na comunidade. O artigo também
apresenta a Classificação do Uso do Tempo em Atividades e Trabalhos
Diários das Mulheres Rurais (CATMUR), que leva em consideração a re-
alidade das mulheres rurais, especialmente as nordestinas, ressaltando
os laços afetivos e as relações de reciprocidade que decorrem também
em trabalhos voltados às pessoas da comunidade, que não são necessa-
riamente familiares. As autoras reconhecem a indissociação do trabalho
produtivo e reprodutivo e colocam em evidência o reconhecimento do
trabalho da sustentabilidade da vida enquanto base para que o trabalho
destinado ao mercado possa existir, destacando também, a realidade da
vida rural ainda pouco investigada a partir de metodologias específicas
e elaboradas desde os processos empíricos.
O quinto artigo de Neuzeli Maria de Almeida Pinto, Fernando A. R.
Pontes, Simone S. da Costa Silva, Rotinas de Mulheres Ribeirinhas da
Região Amazônica: Atividades e Papéis na Família, no Trabalho e
na Comunidade investiga as rotinas das mulheres ribeirinhas agroex-
trativistas com o objetivo de identificar quais atividades, papéis e rela-
ções estão na dinâmica familiar do dia a dia, possibilitando caracterizar
aspectos típicos do ambiente ecológico envolvido na organização e
estruturação da vida diária. Participaram da pesquisa duas mulheres
coletoras de açaí de duas comunidades das Ilhas da Belém Insular:
Ilha do Combu e Ilha Grande. Foram utilizados como instrumentos
de pesquisa o Inventário Sociodemográfico (ISD), o Questionário de
Rotina Familiar (QRF) e o Diário de Campo (DC). Estes instrumentos
possibilitam analisar as rotinas que articulam os papéis femininos
e os sistemas parental e comunitário investigados nesta pesquisa.
Observou-se que as mulheres entrevistadas, assim como as demais
ribeirinhas, atuam em atividades remuneradas, mas não comercializam
sua produção e estão presentes nas associações comunitárias, ainda
que sem forte poder de decisão. A estas tarefas agrega-se a respon-
sabilidade pelas atividades domésticas e de cuidado de suas famílias.
O estudo conclui que estas mulheres mantêm suas relações apenas no

20
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

nível familiar e comunitário, enquanto os homens relacionam-se com


o mundo exterior através da comercialização da produção do grupo
familiar. Inclusive, gera-se um arranjo transgeracional no qual as/os
filhas/os mais velhas/os, dependendo do sexo tornam-se responsáveis
pelas tarefas marcadas como “naturais” para “mulheres” e “homens”.
Destaca-se que as relações comunitárias possibilitam para as mulhe-
res uma rede de apoio, que permite uma fuga do espaço doméstico
e das estritas relações definidas por este espaço. Diante da escassez
de pesquisas que abordem a dinâmica dos contextos das populações
ribeirinhas, este artigo contribui para a construção do conhecimento
acerca desses grupos e colabora para a elaboração de futuras políticas
públicas compatíveis com o modo de organização social e simbólico
das populações ribeirinhas amazônidas.
Por fim, esta coletânea apresenta ao público acadêmico e da so-
ciedade civil a trajetória dos estudos sobre “uso do tempo” no Brasil,
buscando apresentar a pluralidade de metodologias e técnicas de pes-
quisa e de análise para mensurar, refletir e valorizar os usos dos tempos
das pessoas, partindo de perspectivas feministas para tecer o tempo em
busca de uma sociedade mais igualitária.

Boa leitura!
As organizadoras

21
PARTE I

Homenagem à Neuma Aguiar


“Ela e Elas” - construindo a história dos
estudos de uso do tempo no Brasil: entrevista
com Neuma Aguiar

Lorena Lima de Moraes


Hildete Pereira de Melo

Trajetória

Nasceu na cidade de Fortaleza/CE, mudando-se para o Rio de


Janeiro quando tinha cinco anos de idade. Graduou-se em História
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1960). Obteve o
Mestrado em Sociologia e Antropologia pela Boston University (1962), e
o doutorado em Sociologia pela Washington University (1969). Recebeu
o Doutorado em Ciências pela University of Wisconsin - Madison (2003).
Foi professora titular da Universidade Federal de Minas Gerais de 1996 a
2008. Recebeu o título de professora emérita dessa mesma universidade
no ano de 2009.
Tem longa experiência na área de Sociologia, com ênfase em Gênero
e Sociedade, expressou-se no desenvolvimento de pesquisas, livros e
artigos nos temas de gênero e patriarcado, movimentos de mulheres,
estratificação e mobilidade social, sociologia internacional comparada
e sociologia dos usos do tempo. Na UFMG, fundou e coordenou por 10
anos o Programa de Metodologia Quantitativa e o Centro de Pesquisas
Quantitativas em Ciências Sociais (CEPEQCS); foi professora visitante do
Instituto de Altos Estudos Interdisciplinares.

25
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

É membro vitalício da International Sociological Association (ISA)


e membro vitalício da International Association for Time Use Research
(IATUR). Em 2007, recebeu o prêmio Vinicius Caldeira Brant do Nepem
e CACS (UFMG) por suas contribuições às áreas de Gênero, Estudo de
Mulheres e Feminismo. No mesmo ano, recebeu o prêmio Florestan
Fernandes, da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), por sua con-
tribuição para o desenvolvimento da Sociologia no Brasil. Recebeu o
prêmio Rose Marie Muraro conferido pela Secretaria de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por suas contribui-
ções para a análise das condições de vida das mulheres brasileiras, avan-
çando metodologias científicas para a sua mensuração.
A trajetória da professora Neuma Aguiar é uma inspiração para as
mulheres acadêmicas tanto da Sociologia como dos Feminismos. Com
este passado acadêmico sólido da professora Neuma, a dupla Hildete e
Lorena, também representando duas gerações de feministas acadêmi-
cas foram conversar com ela no Rio de Janeiro em setembro de 2019.
Nesta conversa ficou combinada uma entrevista que ocorreu no dia
30 de novembro de 2019 em sua antiga residência, na Rua Joaquim
Nabuco, em Copacabana, Rio de Janeiro.

Entrevista

Esta foi realizada pelas professoras Lorena Moraes, coordenadora


do DADÁ: Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Relações de Gênero,
Sexualidade e Saúde da UFRPE-UAST e pela professora do Núcleo de
Pesquisas de Economia e Gênero da Universidade Federal Fluminense,
Hildete Pereira de Melo. Estávamos interessadas em conhecer melhor a
trajetória acadêmica de Neuma, que além de ser pioneira em pesquisas
sobre o “Uso do Tempo”, foi uma das primeiras doutoras brasileiras em
Ciências Sociais. Dessa forma, a conversa (que conta com várias curiosi-
dades) inicia traçando a trajetória acadêmica de Neuma, desde o início
de sua formação até o retorno para o Brasil; sua entrada na universidade
como professora e suas investigações científicas.

26
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

A entrevistada destaca as suas experiências internacionais (como,


por exemplo, como professora visitante na Universidade do Wisconsin
em Madison). Essas experiências foram fundamentais para a sua carrei-
ra, mas também, marcantes para a história dos estudos sobre as mulhe-
res no Brasil. Além de contar um pouco sobre as suas pesquisas do uso
do tempo; como se aproximou do tema; quem foram suas referências;
Neuma também fala sobre suas contribuições com o treinamento de
mulheres em colaboração com a ONU e com o desenvolvimento da
pesquisa piloto do uso do tempo para o IBGE. Nesse momento, tam-
bém questiona Lorena sobre a pesquisa do uso do tempo das mulheres
rurais que está sendo por ela desenvolvida no sertão de Pernambuco. É
o momento que a “entrevistada” se interessa pela pesquisa da “entrevis-
tadora” e essa conversa se transforma numa rica troca de saberes entre
distintas gerações.
Hoje, à sombra de um projeto de governo que desrespeita as mu-
lheres; a produção científica sobre as questões de gênero e o fazer
científico como um todo, vemos nesta entrevista uma inspiração para
mantermos firmes, destemidas e unidas na produção de conhecimento
sobre as condições de vida das mulheres brasileiras e, mais do que nun-
ca, conectadas à América Latina, que muito tem nos ensinado.

Legenda: Neuma Aguiar (N); Hildete Pereira de Melo (H); Lorena


Lima de Moraes (L)

H - Como começou sua carreira acadêmica?


N - Foi em 1961, quando concluí minha licenciatura na PUC do Rio de
Janeiro, e resolvi prosseguir na carreira acadêmica. O IBEU (Instituto
Brasil-Estados Unidos) fez naquele ano uma seleção de estudantes para
uma bolsa de Mestrado nos EUA. Inscrevi-me na seleção, esta consistia
numa prova de inglês, com o peso principal em gramática. Estudei fei-
to uma louca, com aquela vontade de vencer. Fiz o exame e consegui
ganhar a bolsa. No Brasil, eu tinha trabalhado numa pesquisa sobre es-
tratificação social, com o professor Joseph Kahl, e pretendia continuar

27
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

a estudar com ele nos EUA (ele retornara à Washington University e eu


queria continuar o trabalho e a capacitação em pesquisa com ele).

H - Sua formação foi em Sociologia e no Rio de Janeiro?


N - Minha graduação foi em História na Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Quando eu estava no último ano do curso
ao cursar a disciplina de Didática, comecei a trabalhar em pesquisas
por amostragem domiciliar, como entrevistadora. Fui então, fazer um
curso de formação e pesquisa em Ciências Sociais, na Fundação Getúlio
Vargas, que tinha sido criado pelo professor Glaúcio Ary Dillon Soares,
na sua volta dos EUA. Este curso de formação tinha a duração de 12
meses, era intensivo e tinha como objetivo a formação de pesquisado-
res em Ciências Sociais. Apesar de a turma inicial ter sido grande, no
final só duas pessoas concluíram o curso e uma delas fui eu. Fazia este
curso em paralelo com o de Didática. Apaixonei-me pela pesquisa em
Ciências Sociais e foi neste contexto que resolvi candidatar-me a uma
Bolsa do IBEU (Instituto Brasil-Estados Unidos) para realizar um curso
de mestrado em Sociologia no exterior. Fui alocada para efetuar os es-
tudos na Universidade de Boston e não na Washington University que
era onde estava o professor Joseph Kahl, com quem eu trabalhara no
Brasil, minha primeira preferência. Pelas normas da bolsa, eu não podia
escolher o local de estudos que era definido pelos financiadores. Estes
eram clubes de mulheres que coletavam recursos para bolsas de estu-
dos em universidades norte-americanas e, em contrapartida, exigiam
que a bolsista fosse para a sua localidade (no estado de Massachusetts,
U.S.A.), para que pudessem acompanhar o processo. A bolsa tinha uma
duração de cerca de nove meses (um ano acadêmico). Estudei muito
para cumprir os 30 créditos exigidos para que o Mestrado pudesse ser
obtido sem dissertação, pela universidade de Boston, permitindo que
eu pleiteasse a entrada no Doutorado. Empolgada, decidi seguir esta
estratégia e fui aprovada na minha candidatura ao Ph.D. Escrevi para
o professor Joseph Kahl, como ele era muito conhecido na área de

28
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

“estratificação social”, com importantes livros publicados sobre o tema.


Ele estava fazendo pesquisas no Brasil quando eu o conheci, e trabalhei
em suas investigações. Estabeleci um contato com ele, e fui aceita em
seu programa, na Washington University. Solicitei uma bolsa para a OEA
(Organização dos Estados Americanos) que selecionava estudantes lati-
no-americanos e ganhei uma bolsa de doutorado com a duração de três
anos, tempo para terminar o curso e realizar os exames necessários para
a obtenção do Ph.D. Entre uma bolsa e outra trabalhei num hotel como
garçonete, durante as férias escolares, o que permitiu que eu aguardas-
se a notícia sobre o resultado da bolsa. Atividade exercida escondido
da minha família no Brasil, ao exercer uma prática pouco comum para a
classe média brasileira, naquela época. O emprego concedia alojamento
e alimentação, embora com um pequeno salário, permitindo que eu
pudesse me manter, até o recebimento de nova dotação. Ainda assim,
juntei um pouco de dinheiro pensando em financiar os estudos, até re-
ceber a notícia que havia sido contemplada com uma bolsa plena para
o doutorado. Fiz, então, uma extravagância: dei adeus ao trabalho de
garçonete e viajei ao Canadá, para conhecer Quebec e Montreal. Ainda
em 1962, como queria assistir ao Congresso Mundial de Sociologia que
seria em Washington D.C., escrevi para o Clube de Mulheres que tinha
financiado meu Mestrado, solicitando assistência para ir ao Congresso.
Como elas tinham uma moradia universitária nessa mesma cidade, elas
ajudaram a minha ida ao Congresso. Até hoje lhes tenho muita grati-
dão, pelas oportunidades que me concederam. Depois do Congresso,
fui para a Washington University. Eu havia concluído o Mestrado em
1962, fiz os créditos do Doutorado nos dois anos seguintes e voltei ao
Brasil para a pesquisa de campo. A defesa da tese foi em 1969. O tema
da tese foi a “Mobilização e a burocratização da classe operária no Brasil
de 1930 a 1964”. 1

1 Neuma Aguiar, junto com Heleieth Saffioti estão entre as pioneiras das Ciências Sociais
no Brasil. Heleieth defendeu sua tese na USP em 1967, sob a orientação de Florestan
Fernandes – A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, e Neuma Aguiar defendeu
a sua em 1969 – intitulada The Mobilization and Bureaucratization of the Working Class in
Brazil (1930-1964), sob a orientação de Irving Louis Horowitz.

29
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

H - Você voltou dos EUA para lecionar no Brasil e já estava casada?


N - Sim, tinha me casado, em Nova York, com Roger Walker, um inglês,
graduado em Engenharia em Cambridge University (UK) e que tinha ido
fazer doutorado em Sociologia em Harvard. Eu o conheci em Washington,
no Congresso Mundial de Sociologia (1962). Este Congresso foi incrível,
lá também conheci Florestan Fernandes que ia ser homenageado no
evento. Foi uma festa, conhecer o grande Florestan. Para minha surpre-
sa, ele era tímido, falava mal o inglês e me pediu para ler o seu trabalho,
no congresso. Mas, o Roger que já estava me seguindo para todos os
lugares, no congresso, acabou lendo o trabalho para ele, com o seu belo
sotaque britânico.

H - Como foi na sua vida os acontecimentos de 1964 no Brasil?


N - Foi um horror, viver nos Estados Unidos e ficar escutando num ra-
dinho as notícias tristes que vinham do Brasil, sob a ditadura militar.
Depois do Congresso viajei para a Washington University para seguir
com o doutorado, mas Roger Walker continuou a corte e acabamos nos
casando em Nova York, onde ele morava. Como casei longe da família,
encontrei, certa feita, uma amiga de minha mãe, que me recriminou por
eu me casar distante de casa.

H - Casada, os créditos concluídos, voltou ao Brasil e ficou grávida?


N - Sim. O Rubens nasceu no Brasil em 1968. Eu fazia, assim dava de
mamar e estudava. O bebê mamava apoiado em um braço e eu lia um
livro, sustentando-o com o outro braço. Tinha que conseguir terminar o
doutorado, por que havia o regime ditatorial no Brasil e ninguém sabia
se a sociologia continuaria a existir no Brasil. Precisava redigir a tese
para defendê-la na Washington University. Foram tempos muito contur-
bados para o meio universitário. Ministrava aulas na UFF e esta, às vezes,
parecia um campo de guerra, cercada por militares.

30
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

H - E a defesa da sua tese, como foi?


N - Na minha defesa, em 1969, meu filho Rubens tinha um ano e três
meses. Fiquei quarenta e três dias nos Estados Unidos. Neste mo-
mento, meu orientador pôde me orientar um pouco mais, porque eu
precisei fazer muita coisa sem ele: eu estava aqui no Brasil fazendo a
pesquisa, e a orientação recebida do Professor Irving Louis Horowitz,
era realizada por correspondência. Os dias que pude ficar nos Estados
Unidos foram o tempo necessário para o fechamento e aprovação fi-
nal do texto pelo orientador, datilografia, encadernação e depósito do
texto final.
Com a tese aprovada debaixo do braço, voltei ao Brasil. Naquele mo-
mento, estava trabalhando no Museu Nacional, na equipe do pro-
fessor Roberto Cardoso de Oliveira que tinha montado o primeiro
Mestrado em Ciências Sociais no Rio de Janeiro. O Mestrado, de fato,
era em Antropologia Social, mas quase todos os professores eram so-
ciólogos. O antropólogo Roberto da Mata que tinha ido estudar em
Harvard (EUA), ainda não tinha voltado. David Maybury Luiz, oriundo
dessa mesma universidade, tinha montado um programa de pesqui-
sa com Roberto Cardoso de Oliveira, associado ao Museu Nacional
e ao Centro Latino-americano de Pesquisas em Ciências Sociais. Esse
centro havia feito um convênio com o museu e alguns professores ga-
nharam espaço de trabalho no CLAPESCO, fui trabalhar lá junto com
meu marido Roger Walker que possuía um PhD em Social Relations
pela Universidade de Harvard, onde estudara com o notório professor
Talcott Parsons.

L - Neuma a sua tese teve a temática da mobilização e da burocra-


tização da classe operária no Brasil de 1930 a 1964, neste trabalho
você utilizou dados sobre sexo, sobre a participação de homens e
mulheres para estudar a questão do trabalho?
N - Não. Nessa época ainda não se olhava para a questão da mulher,
os dados eram agregados, para homens e mulheres. Construí índices de

31
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

greves e índices de reclamações trabalhistas, com informações publi-


cadas. Além de utilizar muitos dados estatísticos, também fiz uma pes-
quisa de campo com um sindicato - o Sindicato dos Trabalhadores das
Indústrias Gráficas do Rio de Janeiro (um estudo de caso), mas a maioria
dos dados que utilizei, eram informações agregadas sobre participação
sindical e queixas trabalhistas e não havia a apresentação das cifras, por
sexo. Já o sindicato dos gráficos, de então, possuía uma pequeníssima
participação de mulheres.

L - Voltando no tempo, fiquei curiosa, como foi sua relação na épo-


ca do Mestrado com o Clube de Mulheres?
N - As mulheres do Women’s Clubs me chamavam muito para falar, que-
riam mostrar, a todas que colaboraram com recursos, que a bolsista
existia e tinha bom desempenho. Assim, fizeram questão que eu estu-
dasse em Massachusetts, de onde provinha a maior parte das contri-
buições para a minha bolsa de estudos, para que eu estivesse por perto
das fontes de patrocínio. Elas foram ótimas e quando eu precisava de
alguma coisa, eu pedia a elas e prontamente me ajudavam. Como, por
exemplo, arranjaram a minha hospedagem em uma de suas residências
durante o Congresso Mundial de Sociologia (a residência ficava bem
próxima ao hotel onde foi realizado o congresso).

L - Na sua formação estas mulheres contribuíram para sua percep-


ção feminista?
N - Elas formavam clubes de mulheres. Não posso dizer que eram fe-
ministas, mas elas participavam ativamente na sociedade. Não tinham
uma militância para mudar o papel da mulher nos Estados Unidos ou
no mundo, fazendo campanhas, por exemplo, para trabalho igual: salá-
rio de igual valor. Porém, enquanto mulheres, elas me ensinaram como
podiam contribuir para a mudança social, porque se juntaram e oferece-
ram uma bolsa de estudos para uma mulher de um país em desenvolvi-
mento. Além de pagarem o meu curso na Universidade de Boston, elas
estavam metendo a mão na massa, gerando recursos e patrocinando

32
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

os meus estudos. Foi uma importante lição de vida: podemos juntar as


forças e fazer a diferença.

L - No seu percurso acadêmico e pessoal como foi que você chegou


às questões das mulheres?
N - Não foi nos EUA, mas no Brasil.

H - Como foi a organização do congresso da mulher na força de


trabalho, em 1978?
N - Como tinha feito meus estudos nos Estados Unidos, abri muitas
portas ao chegar ao Brasil. Naquele momento, tinham duas mulheres
estrangeiras, antropólogas, que estavam no Brasil, fazendo entrevistas
com um monte de gente, indagando sobre as pesquisas e estudos sobre
mulheres e elas foram me procurar.

L - Quem foram elas?


N - June Nash e Helen Safa, duas antropólogas norte-americanas que
pretendiam organizar um congresso em Buenos Aires, tendo saído pela
América Latina, com o patrocínio do Social Science Research Council
(SSRC), fazendo contato com pessoas que pudessem participar desse
encontro. No Brasil, convidaram a mim e também a Heleieth Saffioti,
fomos as duas representando as brasileiras. A Heleieth havia publicado
o livro “A Mulher na Sociedade de Classes” e, em minhas pesquisas, eu
levantara muitos dados sobre a Mulher na Força de Trabalho.
H - Foi o início da construção das teias feministas?
N - Sim. Como havia recurso para esta modalidade de pesquisas e para
realizar contatos: pesquisas foram patrocinadas, bolsas foram concedi-
das para pesquisadores desenvolverem trabalhos. Então, foi organizado
um congresso em Buenos Aires pelas duas antropólogas norte-ameri-
canas: June Nash e Helen Safa. Como nas visitas aos países da AL elas

33
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

haviam descoberto várias outras pesquisadoras, eu até hoje, mantenho


contato com elas. O Congresso de Buenos Aires foi realizado em 1976.
E no embalo, eu organizei, no Rio de Janeiro, dois anos depois, um con-
gresso similar – Mulheres na força de trabalho na América Latina. Este
congresso foi um acontecimento. Muitas mulheres queriam participar,
tanto da esquerda como da direita. Em pleno regime ditatorial um se-
minário acadêmico sobre a condição feminina. A sociedade carioca mo-
bilizou-se, a diplomacia também: a consulesa da Bulgária; a embaixatriz
do Canadá; o cônsul norte-americano, todos me procuraram porque
queriam colaborar. Foi um reboliço na cidade, com impacto interna-
cional. Achei muito importante a colaboração do governo brasileiro
por intermédio de Ecilda Ramos de Souza que concedeu ao congres-
so: uma dotação do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação.
Recebi apoios decisivos da Capes, do CNPq, da Fundação Ford, do Social
Science Research Council, da Embaixada do Canadá, para mencionar os
aportes mais notórios.
H - Eu compareci ao Congresso, a sala sempre lotada, sobretudo, duran-
te a apresentação do trabalho de Maria Valéria Junho Pena, que apre-
sentou sua tese de doutorado defendida naquele ano na USP, sobre as
mulheres trabalhadoras na constituição do sistema fabril brasileiro.
N - Convidei a Maria Valéria para o grupo de estudos que criamos no
IUPERJ depois do Congresso e inúmeras pesquisadoras importantes,
como a própria Maria Valéria Junho Pena, fizeram parte desse programa.
Foi nesta ocasião que contamos com a primeira exposição que apareceu
num congresso, quando uma pesquisadora apresentou um texto sobre
o uso do tempo, Eleonora Cebotarev, uma socióloga paraguaia radicada
no Canadá, apresentou uma pesquisa comparada sobre o tema com
dados de três países latino-americanos. O Congresso foi um marco nas
nossas vidas acadêmicas.

H - Como foi o financiamento deste Congresso?


N - Dinheiro não faltou, consegui muitos recursos, a primeira fonte de
financiamento foi do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional
(FNDE), tinha uma mulher, e eu posso dizer que ela era feminista,

34
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

porque ela ficou muito orgulhosa de patrocinar um evento como este.


Seu nome era Ecilda Ramos de Souza e ela foi apresentada a mim pela
Rose Marie Muraro.
H - A Ecilda era uma feminista avant la lettre, funcionária do Ministério
da Educação e Cultura (MEC), amiga de Rose Marie Muraro, ela calada,
sem alarde, junto com a Rose, faziam um projeto educacional para mu-
lheres que permitiu que o Centro da Mulher Brasileira (CMB) fosse finan-
ciado, pelo menos pagava o aluguel da sede, na rua Franklin Roosevelt
39, 7º andar, no Rio de Janeiro. Este projeto e sua renovação, ao longo
do tempo, permitiu que por muitos anos, o CMB continuasse aberto,
isto durou até seu afastamento do MEC. Não cheguei a conhecê-la, Rose
em surdina me contou este segredo e da cumplicidade feminista da
Ecilda para a manutenção do CMB.
N - Ela era uma mulher maravilhosa. Fui apresentada a ela pela Rose
Marie Muraro. Seu apoio pronto foi seguindo por muitos outros. Ela foi
sagaz e apreciou a importância do tema para a melhoria da condição de
vida das mulheres, começando pelo reconhecimento de sua contribui-
ção para a sociedade.
N - O Congresso contou com a colaboração de Ecilda Ramos de Souza
e do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), mas
não contou só com este patrocínio, pois seguiram-se muitos outros,
como o da Fundação Ford, o do Social Science Research Council, o da
Embaixada do Canadá. Além disso, houve a participação do MEC, do
Consulado dos EUA- o Cônsul americano no Rio de Janeiro foi ao IUPERJ
(Instituto Universitário do Rio de Janeiro) falar conosco, eu havia cha-
mado a Rose Marie para acompanhar a reunião. Eu queria receber o
dinheiro deles, mas não queria que o Congresso fosse visto como um
produto americano. As antropólogas que tinham organizado o con-
gresso “Perspectivas Femininas e as Ciências Sociais na América Latina”
eram professoras em universidades americanas, então fiz a proposta
para que o Consulado financiasse a viagem delas para o nosso con-
gresso, e o Cônsul prontamente aceitou, e desta forma eu lidei com a
representação oficial americana. O Canadá também concedeu um apoio
importantíssimo: a embaixadora declarou que estava patrocinando algo

35
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

importante para as mulheres brasileiras, ao conceder o auxílio. Foi uma


atitude feminista. Eu fico emocionada só de lembrar deste evento e da
sua realização em plena ditadura nacional. Até então ninguém discutia
nada sobre a mulher no Brasil, qualquer livro que analisava a situação do
trabalho no país não publicava dados desagregados por sexo. Uma das
reivindicações do Congresso era para que a variável sexo fosse apre-
sentada de forma desagregada, possibilitando observar a participação
feminina em comparação com a masculina.

H - Tens o material deste Congresso? Há o livro “Mulheres na Força


de Trabalho na América Latina, coordenado por você e que foi pu-
blicado pela Editora Vozes, em 1984. Há outros documentos?
N - Ainda tenho os trabalhos originais guardados na minha casa em
Macaé (RJ). O que era importante guardar deixei nessa biblioteca. Lá
tenho muito material guardado, ou nas estantes, ou em caixas. Mas,
a biblioteca do IUPERJ (hoje IESP/UERJ) tem todas as apresentações
em sua biblioteca. Cópia de tudo foi direcionada à biblioteca daquela
instituição.

L - Qual foi o encaminhamento que teve o seminário? Além da edi-


ção deste livro, houve mais desdobramentos e contatos? Como foi
que você conheceu a Eleonora Cebotarev? A pesquisadora que te
apresentou o tema de “uso do tempo”?
N - Acho que foi num seminário nos Estados Unidos sobre “estudos so-
bre a mulher”, voltando, eu comecei a organizar a temática aqui. E uma
das questões que me pareceu importante foi a temática de uso do tem-
po. Pesquisando, descobri que Eleonora Cebotarev tinha feito uma in-
vestigação sobre este tema em três países latino-americanos. Portanto,
ela é uma pioneira e também nos estudos sobre o mundo rural. Inventou
um método, que não era baseado no relógio, mas se orientava pelo Sol
(hora de acordar, hora de deitar) hora do almoço, hora do jantar, ela ti-
nha, assim, os marcadores temporais, desde que levantava, a realização
dos trabalhos, das refeições, e assim por diante. Ela foi muito inovadora

36
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

e me afetou por causa disso. Então, comecei a me corresponder com


ela, a trocar ideias, convidei-a para o seminário “A Mulher na Força de
Trabalho na América Latina”. Mantive o contato até que eu pudesse fa-
zer, aqui também, uma pesquisa do uso do tempo. Para o seminário,
antes de iniciar pesquisas sobre a questão, eu precisava de alguém que
tivesse experiência nessa área, e que mostrasse como este tema era im-
portante para estudar e conhecer melhor o trabalho feminino. Convidei
Eleonora Cebotarev para participar do seminário, exatamente por sua
contribuição sobre pesquisas de uso do tempo na América Latina.

H - O seminário seria uma forma de armar uma parceria com ela?


N - Não. Apenas queria, naquele momento, que o tema entrasse na
pauta das discussões do seminário. Mas, não foi neste período, que dei
início às minhas pesquisas sobre uso do tempo: foi depois. Todavia, foi
por ocasião do seminário que o tema ficou na minha cabeça.
H - Naquele momento a agenda temática predominante era o mundo
do trabalho, a indústria, temas da agenda desenvolvimentista.
N - Isso é um campo tão amplo que possui muitas entradas. Agora,
sobre uso do tempo ninguém estava falando, não havia avançado até
aquele momento: nós pusemos uma cunha no assunto. Começamos a
investigar, logo em seguida, sem fazer alarde.

L - Neuma, depois desse seminário, que foi um marco nos estudos


sobre as mulheres no Brasil, sobretudo pelo contexto da época,
como é que você percebe esse seminário, como uma contribuição
aos estudos de gênero e feminismo, aqui no Brasil? Sala lotada e
tantas pessoas interessadas, como ele repercutiu não só pro Brasil,
mas na América Latina?
N - Eu acho assim, que foi um marco e inaugurou uma nova etapa na
minha vida, deu um rumo, para continuar trabalhando com a questão

37
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

da mulher. Não imaginei que iria ter essa repercussão toda, mas ti-
veram controvérsias na época, ciúmes dentro do próprio feminismo,
algumas do próprio Centro da Mulher Brasileira. Eu não fui do Centro
porque estava no exterior, quando foi fundado. Cheguei aqui e o CMB
já existia. Minha aproximação se deu com a Rose Marie Muraro que
militava no Centro da Mulher Brasileira. Ela foi minha amiga por toda
a vida. Eu apoiava as ideias dela e ela me apoiava também. Foi assim
a vida inteira. Tive dificuldades para realizar as pesquisas, por vezes
me deparei com a ciumeira e os desafios de alguns colegas. Num pri-
meiro momento fiquei na casa da Rua Paulino Fernandes (Botafogo)
em lugar de me mudar para a sede da Rua da Matriz. Tomei conta
daquele espaço, arrumei um xerox, um telex com o qual conseguia
me comunicar com a América Latina, e também com as mulheres em
outros lugares: até na África e na Ásia. Consegui recursos pra manter a
pesquisa no terceiro andar daquele prédio. De repente, ocupamos não
só o terraço, mas outros locais do imóvel: só não ocupei o primeiro
andar, onde ficava a recepção. Consegui bolsas para trazer pesquisa-
dores de fora, foi um trabalho muito intenso e produtivo. Era bom ficar
em um local mais resguardado: poderia, assim, evitar invejas e ciúmes,
pelo montante de financiamentos que conseguia, para os projetos que
tiveram início com o Seminário “A Mulher na Força de Trabalho na
América Latina”.

L - Na sua carreira acadêmica você desenvolveu outras pesquisas,


mas gostaríamos de saber quando seu interesse retorna para as
pesquisas do uso do tempo. Principalmente, como foi a realização
da primeira pesquisa de campo sobre o tema. Esta foi a primeira
do Brasil?
N - No desenvolvimento do programa pesquisa internacional, eu trou-
xe vários pesquisadores de fora: africanos e latino-americanos. Levei o
pessoal pra treinar, para ter experiência de campo e de observação. Eles
não sabiam muito bem o português, eu os fazia olhar, anotar, ficar no

38
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

campo. Foi um treino pesado, porque o grupo tinha que ficar nas casas
mesmo sem saber falar direito a língua portuguesa, observando e ano-
tando o que faziam na vida cotidiana. Alguns desenvolveram bastante a
capacidade de comunicação. As pesquisadoras ficavam algumas horas,
selecionadas aleatoriamente, observando casas também selecionadas
por um sorteio, anotando o que era realizado nessas casas.

L - Ficavam quanto tempo nas casas?


N - Fazia-se um sorteio para definir os períodos de observação, porque
não se podia ficar o tempo todo, ficava muito invasivo, então se sorte-
ava períodos de quatro horas. O grupo de pesquisa ficava aquele tem-
po (uma pessoa em cada residência sorteada, no período sorteado) e
voltava no outro horário que também havia sido sorteado, e anotavam
tudo: foi um treinamento pesado2. Depois fiz outras pesquisas de uso
do tempo, mas já mais estruturadas, do que essa, com protocolos para
assinalarem os horários. Os protocolos, também tinham desenhos com
as atividades que estávamos interessadas em analisar. Porque se havia
muita gente analfabeta na área rural, era preciso uma estratégia para
que elas não precisassem saber ler e escrever, para preencher os pro-
tocolos. Como pessoas analfabetas geralmente conhecem os números,
dava-se um relógio digital para as pessoas entrevistadas, que ficava de
presente. No relógio digital, elas conseguiam reconhecer os números
no protocolo, assinalavam o horário de início e fim de algumas ativi-
dades, representadas por desenhos. Também contávamos com um de-
senhista, Alfonso Alcazar, que desenhara as atividades que a pesquisa
estava interessada em medir. As pessoas assinalavam com um lápis,
um lápis de cor pra cada membro da família, marcando a hora de início
e a hora de fim de cada atividade. E esta foi a primeira pesquisa do uso
do tempo que fiz, em Campos, ao norte do estado do Rio de Janeiro.

2 A pesquisa na qual Neuma Aguiar se refere foi realizada na zona rural do município de
Campos, no estado do Rio de Janeiro.

39
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

L - Pelo relato estas pesquisas tiveram dois momentos e duas di-


ferentes situações?
N - Num primeiro momento, fui com as estudantes para Campos, ía-
mos para as casas e elas começaram a observar o cotidiano das famí-
lias. Mas, a pesquisa teve uma fase mais estruturada, realizada com
amostragem probabilística e com a distribuição de protocolos para o
registro das observações. Além disso, tínhamos as estudantes treina-
das que iam para as casas sorteadas e repassavam as anotações reali-
zadas pelos entrevistados, no período sorteado.

L - E as pessoas tinham uma boa aceitação para participar?


N - Ah, elas tinham uma aceitação muito boa, inclusive eu acho que
essa pesquisa gera muito conhecimento sobre si próprio, as pessoas
gostam de fazer, porque elas se dão conta de como o seu cotidiano
está organizado, que atividades são desenvolvidas e quanto tempo
levam no seu desempenho.

H - E o que elas fazem é importante?


N - É!
L - A pesquisa explicita a quantidade de coisas que elas fazem.
N - Verdade! E que elas não se dão conta de tudo que realizam no
cotidiano. Então eu sempre tive muita boa acolhida por causa disso,
a pesquisa dava prazer para as pessoas que passavam a se conhecer
melhor ao retratarem o seu cotidiano.

L - Nesse momento, nesta etapa da observação, você observava


o grupo familiar ou ficava especificamente observando a pessoa
sorteada?
N - Nessa etapa da observação com as alunas, elas ficavam observan-
do as casas escolhidas, mas eu sorteava os horários de observação, aí

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

elas ficavam aquele tempo sorteado naquela casa, depois, em outro


dia, já era outro o horário de observação (desde o amanhecer até o
anoitecer, por um período de quatro horas aleatoriamente designado).

H - Esta metodologia dava às pesquisadoras melhor visão do


tempo?
N - Sim. E, também, para não sobrecarregar a família. Porque se ficas-
sem o tempo todo era ruim, sendo um tempo mais curto e aleatoria-
mente escolhido, mantinha-se a cientificidade e ao mesmo tempo não
se impunha uma presença o tempo todo, olhando para ver o que você
está fazendo.
L - Na pesquisa que coordeno ficamos o tempo todo; e as mulheres não
querem que a pesquisadora vá embora depois de 24h. Observamos
que se estabelece outra relação. Acho que isso faz a diferença, de
quando chega uma pesquisadora que ela nunca viu, antes.
N - Sim, depois de você estar ali, observando, durante dias, a rotina da
família. Sei que dessa maneira, com os sorteios foi bom o resultado,
já que diminuímos o impacto da intrusão de observadores, em tempo
contínuo, por prazos maiores.

L - Nestes anos você desenvolveu uma série de orientações de tra-


balhos de pós-graduação sobre o uso do tempo, você foi pratica-
mente uma escola! E, ainda sobre as pesquisas do uso do tempo, até
relacionado com suas pesquisas; teve a pesquisa de Campos, depois
a pesquisa realizada em Belo Horizonte/MG?
N - A pesquisa de Belo Horizonte foi mais ampla, é uma metrópole.
A realizada em Campos/RJ era com trabalhadores que moravam perto
da usina. Eles ocupavam vários tipos de residência: tinha uma parte da
mão de obra de trabalhadores rurais e de trabalhadores urbanos in-
dustriais que residiam em tipos distintos de moradia. Era uma indústria

41
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

grande: uma parte da mão de obra da indústria de transformação reali-


zava atividades urbano-industriais, elas moravam em áreas residenciais
melhores; as pessoas da área agrícola moravam em aglomerados: as
áreas residenciais eram muito estratificadas. Havia os trabalhadores que
faziam os serviços de escritório e havia os que detinham as melhores
condições de vida dentro da indústria, estes moravam em um bairro:
havia uma área residencial perto da indústria com as casas melhores,
onde se localizavam. Depois disso, havia os trabalhadores que moravam
em volta da estrada (havia vários tipos de inserção laboral), já outros
moravam mais expressamente próximos da área rural. Era uma situação
muito interessante, porque eu sempre olhei muito para essa coisa da
casa/residência e a relação residência e trabalho, explicitando a estratifi-
cação dos trabalhadores, tanto nas atividades deles, quanto na maneira
de residir, no tipo de casa, no próprio componente da casa, como era a
casa. Os trabalhadores rurais tinham casas mais pobres e mais precárias,
e os urbano-industriais tinham casas bem melhores. Era muito interes-
sante observar essa estratificação do espaço, conforme a sua posição de
trabalho na indústria açucareira.
Em Belo Horizonte trabalhei com os estatísticos da universidade, envolvi
todos os professores do departamento de Sociologia e do Doutorado
em Sociologia e Política, e envolvi uma quantidade substantiva de alu-
nos sequiosos de formação em pesquisa.
L - Voltando só um pouquinho para a pesquisa de Belo Horizonte,
foram outros métodos utilizados?
N - Na pesquisa de Belo Horizonte, tínhamos também um diário, mas
era a mesma coisa, com relógio, também presenteamos eles com um
relógio. Tínhamos conseguido recursos da Fundação de Amparo a
Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) para comprar os relógios
(era daqueles digitais), mas já era uma experiência testada na pesquisa
anterior e que se usou também nesta de Belo Horizonte. Os dados des-
ta pesquisa foram mais precisos, porque a equipe era da universidade
e contei com estatísticos para a obtenção da amostra, contei com um

42
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

excelente conjunto de alunos tanto para obter a amostra no campo,


quanto para realizar as entrevistas e analisar os dados. Podíamos contar
com estes recursos humanos. Eu, particularmente tinha um estatístico
da UFMG, muito meu amigo, Emílio Suyama, que me ajudou demais, na
amostragem. Foi um apoio excelente, e também havia um aporte finan-
ceiro muito bom, além do mais a estudantada sequiosa para participar
de pesquisas, querendo aprender a realizar pesquisas com base científi-
ca. Isso foi importante para eles e pra nós.

N - Vocês vão fazer uma pesquisa sobre uso do tempo?


L - Sim. Na Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade
Federal Rural de Pernambuco estamos fazendo esta pesquisa com mu-
lheres rurais.

N - Com ajuda da universidade?


L - Sim. Mas, tenho uma limitação, porque lá, não tenho o curso de
Ciências Sociais, as nossas alunas são de outros cursos, e são pouco
treinadas, mas estamos fazendo, já acompanhamos cerca de 34 mulhe-
res. Agora estamos na fase da tabulação dos dados, mas devido a erros
no preenchimento do questionário vamos talvez aproveitar 26 ou 27
casos. Porque alguns se perderam, tiveram uns que não ficaram bons os
dados e decidimos desconsiderar. Estamos fazendo uma etnografia. Na
pesquisa ficamos o dia inteiro na casa da mulher, porque tem a questão
do deslocamento, são pesquisas realizadas em locais de municípios di-
ferentes. Na realidade estamos nos valendo das relações pessoais que
foram construídas na região. Como estou trabalhando lá há seis anos e
fazendo atividade de extensão, eu conheço muitas mulheres rurais/agri-
cultoras, então a minha inserção tem sido muito fácil. Faz-se uma ativi-
dade, uma oficina com elas anteriormente, debates, desenhos no papel,
lanches, criança no meio, contação de história, um monte de coisa com
a participação dos alunos, porque levamos as alunas junto. As mulheres

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

já têm esse primeiro contato com as alunas também, depois agenda-se


por telefone o dia da pesquisa. O dia que elas estão disponíveis para
nos receber, vamos para acompanhar. Toda a família sabe da pesquisa.
Levamos uma mini cesta básica, para não incomodar a família, já que a
pesquisa cobre o espaço de 24 horas.

N - E na hora de dormir?
L - Dormimos nas casas delas. Elas nos recebem já sabendo que já vamos
dormir no local. Teve uma casa que eu nunca me esqueço: uma aluna fez
a pesquisa numa casa com 14 pessoas, era uma casa com dois cômodos.
Ela dormiu com um monte de criança ao redor, porque as crianças ficam
no pé da entrevistadora, para elas é uma novidade e nós conversamos,
rola um momento de preparação antes, porque sabemos que vamos ficar
esse tempo todo e há uma interferência obviamente no ambiente fami-
liar. Chamamos muita atenção para que a rotina delas não mude. Não
façam nada especial, como, por exemplo, um bolo, como normalmente
se faz quando chega uma visita. Como se passa 24 horas na residência,
leva-se uma quantidade de comida, para que a família não gaste nada
com as pesquisadoras. Como algumas de nossas alunas são filhas ou ne-
tas de agricultores, elas ajudavam em pensar a metodologia e nisso elas
despreocuparam a gente, “não porque na minha avó sempre tem comida
a mais” indo lá fazer pesquisa ou não, sempre vai ter comida a mais, e isso
vimos no campo, elas sabem que estão nos recebendo, mas a vizinhança
que chega para comer, tomar café de surpresa, almoçar de surpresa, é
muito recorrente, é o tempo inteiro, então sempre tem comida a mais,
independente de ter visitante ou não lá, vai ter comida sobrando e vai ter
alguém visitando sem avisar. E outra coisa que avisamos também que,
mesmo levando aquela comida, não necessariamente é para fazer naque-
le dia, é pra ficar para elas à disposição: temos essa preocupação.
H - Todas estas preocupações são porque as distâncias são razoáveis e
não dava para ir e voltar, no mesmo dia.
L - Também percebemos que, visita desavisada, é só o que tem; alguém
que está passando e toma um cafezinho, chega um primo come e vai

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

embora, alguém que chega e tira a rotina da mulher, que estava fazendo
alguma coisa, e de repente chega uma visita para conversar e fica as-
sim meia hora, uma hora conversando, sendo alguém que ela não estava
nem esperando receber. Reconhecendo esta sociabilidade rural falamos
o seguinte: vamos acompanhar você, para onde você for... já fomos para
posto de saúde acompanhando as mulheres porque elas tinham exame
marcado, acompanhou-se outra indo para a aula, porque ela estudava a
noite, acompanhou-se outra indo trabalhar numa casa como cozinheira,
porque era possível levar também a entrevistadora. Elas podem negociar
ali com a nossa presença. Tem sido muito bacana, porque elas recebem
muitas pessoas. Teve uma comunidade quilombola com um grupo de
mulheres e 19 delas quiseram participar da pesquisa, e ficavam cobrando,
“cadê vocês?” Porque a gente tem essa coisa do nosso tempo e da nossa
disponibilidade, porque nós temos que distribuir a pesquisa ao longo da
semana, porque não dá pra ir só no final de semana, porque tem-se que
cobrir todos os dias da semana. Esta pesquisa tem algumas particularida-
des, porque já fomos para municípios que possuem um grande problema
com água que é escassa; como em Triunfo, por exemplo, que é onde eu
moro, tem muita água ao longo do ano, então percebe-se essa mudança
da rotina, que depende da estação do ano, mas também do município,
porque a questão da água é crucial no sertão, sobretudo na nossa re-
gião. Outro ponto refere-se à formação das alunas, por mais que elas
não sejam da área de Sociologia (tem alunas da área de Letras da área de
Humanas, e da Economia), penso que é uma experiência de formação de
pesquisadoras, de forma ampla. Tenho também estudantes de iniciação
científica, o que amplia as possibilidades de nossas pesquisas.
H - Cada um se vira como pode!
N - É.
L - Temos alunas da Zootecnia, da Agronomia, estas têm outro olhar, ten-
tam relacionar o tema com a área delas, sempre a gente aplica um ques-
tionário e também coloca a questão da observação.

45
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

H - Neuma, para esse material todo que estamos coletando, o projeto


é organizar uma coletânea sobre “uso do tempo e afazeres domésti-
cos”. Seria possível reproduzir algum texto seu e fazer esta coletânea?
L - Porque hoje o que se sabe das pesquisas produzidas no Brasil sobre o
uso do tempo, a sua é a pioneira. Há uma professora do Maranhão que
fez uma pesquisa com mulheres ribeirinhas, ela acompanhou três mulhe-
res, mas sua perspectiva é da área de psicologia. Tem a nossa pesquisa em
Pernambuco. Há a pesquisa da tese de doutorado de Jordana Jesus feita
no Cedeplar/UFMG. Há as pesquisas sobre o trabalho não pago e sua
contribuição às contas nacionais da UFF. Ah, mais uma pergunta: quan-
do estive aqui em julho/2019 você comentou sobre um material que
você produziu para a Organização das Nações Unidas (ONU), entendi
que foi uma contribuição para a edição de um Manual sobre uso do
tempo?
N - Sim. Eles queriam e eu elaborei um manual sobre pesquisa sobre
mulheres. O tema uso do tempo foi uma das dimensões do estudo, mas
não a central. Havia outros assuntos a serem tratados. Eu não sei exata-
mente em qual das caixas está, mas eu sei que distribuí muitas cópias,
inclusive para a biblioteca da UFMG. Pode-se pedir para a bibliotecária da
sua universidade para fazer uma solicitação à biblioteca da UFMG, e você
consegue acesso a uma cópia.

H - Neuma, você lembra do ano?


N - Ai meu deus, como é que eu vou lembrar desse ano...Talvez tenha
no meu Lattes.

H - Foi antes ou depois da pesquisa de Belo Horizonte?


N - Foi antes de eu ir para Belo Horizonte.

46
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

H - Então você já estava aqui no antigo IUPERJ, quando você fez/


escreveu este relatório?
N- Sim. Eu fiquei treze anos como professora titular da UFMG.

H - E quando você fez o concurso de titular?


N- Foi em setembro de 1996...

H - Foi antes de você organizar o livro – Gênero e Ciências Humanas


– desafio às ciências desde a perspectiva das mulheres”, sua publi-
cação foi em 1997?
N - Não, porque a época em que o livro foi publicado não tem nada a
ver com a data da sua produção.

H - Então você fez o concurso para professora titular em 1996, e


estais aposentada desde 2009?
N- Não. Eu saí quando eu fiz 70 anos de idade, era a compulsória. Agora
tenho 81 anos.

L - E na pesquisa do IBGE, na pesquisa piloto que o IBGE fez sobre


uso do tempo, qual foi sua contribuição?
N - O IBGE me contratou como consultora. Desenvolvi muita coisa com
eles, muito material. Treinei as pessoas, depois com a crise política e o
impeachment da Presidenta Dilma tudo ficou difícil e o plano de uma
pesquisa nacional de uso do tempo foi deixado de lado.
H - O IBGE só divulgou os dados gerais do piloto de uso do tempo de
2009 (não sei qual ano que o piloto foi a campo), refiro-me a 2009,
pois esta pesquisa foi financiada pela Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República, com a participação do IPEA e
ONU Mulheres e OIT, mas depois alegando problemas metodológicos,
o IBGE não fez mais nenhuma referência a este piloto, divulgou apenas

47
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

uma síntese geral da pesquisa. Sei que este piloto serviu de teste para a
mudança na PNAD anual para a PNAD contínua.
N - A pesquisa teve alguns testes de campo, umas cinco ou seis regiões
foram delineadas, algumas das pesquisas planejadas foram realizadas
e outras não. Mas, houve um problema político e pararam as pesquisas
todas do IBGE, não foi só essa. Parou tudo, não foi só com as pesquisas
de uso do tempo. Parou tudo e as pesquisas de uso do tempo foram
embora nesse processo.
L - Neuma, agradecemos muito a sua disponibilidade em nos receber
para contar um pouco da sua história, que também é a história das
Ciências Sociais brasileira e uma importante perspectiva para o desen-
volvimento do pensamento científico feminista na pesquisa nacional.

Neuma Aguiar, Hildete Pereira de Melo e Lorena Moraes


Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2019.

48
Precursores dos Estudos de Usos do
Tempo no Brasil

Neuma Figueiredo de Aguiar


(UFMG)

Introdução

Traçar um histórico dos estudos de uso do tempo, entre nós, é o


objetivo do presente texto, buscando descobrir as correntes interna-
cionais que influenciaram o desenvolvimento do campo no Brasil, suas
contribuições, as reformulações que propiciaram, os métodos de inves-
tigação por eles empregados, as perspectivas inovadoras que desenvol-
veram, e os avanços efetuados em relação aos demais aportes, cobertos
pela literatura especializada sobre a divisão sexual do trabalho.
As pesquisas de uso do tempo consistem num dos principais ins-
trumentos para o estudo empírico dessa divisão do trabalho cotidiano
por sexo, isto é: para a análise da repartição desigual de tempo entre
atividades remuneradas e não remuneradas, entre homens e mulheres,
a partir da situação familiar, na qual também figuram os que necessi-
tam de cuidados, os que não auferem renda, e os que trabalham por
rendimentos, enfim: todas as modalidades de trabalho que consomem
tempo, independentemente do fato de produzirem, ou não, recursos
monetários. Tal repartição desigual significa uma disparidade de acesso
ao dinheiro, pelos diversos membros dos grupos domésticos. Essa situ-
ação é particularmente discrepante no contexto capitalista e no âmbito

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

das burocracias governamentais, com a separação entre casa e trabalho,


características dessas formas de organização social.
A divisão sexual do trabalho representa uma maneira de conce-
der destaque a esse tipo de sociedade, uma condição tão importan-
te quanto aquelas estudadas por Émile Durkheim e por Karl Marx, que
analisaram os atributos do trabalho no modo de produção capitalista
e a divisão social das tarefas, como uma modalidade de organização
da produção para o mercado. No presente estudo, busca-se observar
uma nova divisão social que, no entanto, não separa nem exclui a vida
doméstica da concepção do trabalho humano, mas dramatiza as formas
de articulação entre provisão monetária e cuidados com a família, na
vida cotidiana.
Averigua-se, no texto, as relações entre homens e mulheres no que
se refere às desigualdades na divisão de trabalho (doméstico e remu-
nerado), culminando com as discussões da mixagem de gênero. Esse
termo significa: o grau de mistura dos papéis sociais, entre trabalho re-
munerado e família, verificado pelo seu desempenho na vida cotidiana.
Observa-se, ainda, o grau de fechamento e abertura das instituições;
o impacto das organizações formais, de diferenciados tipos, no tempo
de trabalho remunerado, no tempo livre (que pode ser associado ao
lazer), ou nas atividades dedicadas aos cuidados com os membros da
família, e com a aprendizagem. Examina-se, enfim, as implicações dos
estudos de uso do tempo para a teoria da escolha racional. Ao avaliar
essas contribuições, observa-se o seu legado metodológico, discutindo
as estratégias e inovações que empreenderam para captar a temporali-
dade da população estudada. Outra procura da resenha é a de observar
como questões levantadas por um determinado texto são retomadas
por outro, buscando tecer um fio condutor entre as investigações, pelas
estradas temporais que percorrem e elucidam.
A revisão emprega as perspectivas de Norbert Elias para pavimen-
tar os caminhos ainda pouco consolidados das várias perspectivas en-
focadas no documento, já que esse autor busca conferir um tratamento

50
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

histórico à sua discussão sobre a temporalidade, demonstrando um in-


teresse particular pela cultura e pelos costumes, em contextos determi-
nados. Assim, algumas de suas estratégias metodológicas possibilitam
incluir as dimensões de uso do tempo e de gênero. Como Elias ampliou
a classificação das atividades cotidianas, em sua análise sobre o tema,
que pode ser utilizada para descrever o uso do tempo, efetuado por
vários contingentes populacionais, justifica-se a escolha desse pano de
fundo para a presente resenha.
Na apreciação do tema, são utilizados estudos que contabilizam
o tempo, com base na observação participante, ou por meio de es-
tudos qualitativos e quantitativos que empregam diários na aferição
das atividades da população observada. Utiliza-se, ainda, estudos com
base em perguntas pontuais efetuadas pelas Pesquisas Nacionais por
Amostragem Domiciliar (PNADs) sobre a duração do trabalho domés-
tico e do trabalho remunerado. Com exceção desses últimos, todos os
textos aqui revisados levantam informações e registros, com base em
diários de uso do tempo.

Uma Introdução ao Estudo da Temporalidade na Sociologia

O tempo é um elemento constitutivo de um sistema simbólico,


em alto nível de abstração, que vem sendo construído e aperfeiçoado
de geração em geração, através de ensaio e erro (ELIAS, 1992), tornan-
do possível a vida em sociedade, já que o processo de interação social
implica no fato de que duas ou mais pessoas possam compartilhar
simultaneamente espaços, utilizando ou não instrumentos que permi-
tam a sua comunicação. Essa aproximação ao tema permite analisar
diferentes tipos de sociedade e de momentos históricos quanto às
concepções que enfocam a convivência e o cotidiano. Variadas noções
de temporalidade estão associadas aos fenômenos naturais como o
ano, as estações climáticas, o mês e o dia. Outras são arbitrárias, como
a da semana, apontando-se para a presença da inventividade humana,

51
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

tão destacada por Elias, em busca da organização da vida. Na contem-


poraneidade, em grandes centros urbanos e industriais, depende-se
muito da mensuração do tempo por meio de relógios para a constru-
ção de rotinas, nas burocracias, e do ritmo da produção, nos estabele-
cimentos que contratam trabalho.
Em locais próximos ao meio rural, na ausência ou escassez de re-
lógios, são utilizados sinais naturais importantes, demarcando o tem-
po de cuidado da lavoura, de acordo com a luz do sol. Países onde
há grandes centros urbanos ou concentrações populacionais, com
muitas atividades industriais, burocráticas e de comércio, suas roti-
nas são mais registradas e avaliadas com o auxílio de instrumentos de
mensuração. Há também os casos mistos, quando ao lado de grandes
extensões rurais, apresenta-se uma complexidade urbana, resultando
em uma variedade de formas de apreensão da estabilidade dos even-
tos, dificultando que se elabore um retrato abrangente da duração
dos acontecimentos, enquanto fenômeno cultural. Este é o caso do
Brasil, um dos países com poucos estudos de uso do tempo, em ampla
escala. Uma das razões para a chegada tardia a essa modalidade de
estudos tem a ver com o variado sentido de constância empregado
pela população.
Podemos indicar alguns fatores determinantes da variedade na
percepção da temporalidade. Enumeramos, em seguida: (1) o grau em
que a produção de bens se encontra: (a) em íntimo acoplamento aos
fatores ambientais; (b) na dependência da utilização de equipamentos
industriais e de outras máquinas; (c) no uso de formas organizacionais
que demandam rotinas; (d) na proporção da população que está en-
volvida em tais atividades; (e) bem como na sua concentração; (2) os
meios de transporte empregados para a sua locomoção, sua distância
das residências e o grau de saturação, ou, inversamente, de fluidez
desse meio de movimentação; (3) o grau de vulnerabilidade ou, con-
trariamente, de proteção em relação aos fenômenos naturais; (4) os
instrumentos empregados para a aferição do tempo (posição do sol,
da lua, relógios, sinais do próprio corpo); (5) o nível educacional do

52
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

conjunto estudado; (6) a idade da população, o tamanho e a composi-


ção dos grupos domésticos, incluindo-se a proporção de crianças pe-
quenas, jovens, adultos e idosos (mulheres e homens) nessa forma de
agrupamento; (7) o tipo de responsabilidade pelo domicílio familiar;
(8) a presença de recursos e artefatos que habilitem a comunicação,
quando esses conjuntos se organizam para produzir bens e serviços;
(9) o tipo de divisão sexual do trabalho, sendo este um dos principais
objetos de elaboração analítica do presente texto.
Alguns dos trabalhos mais importantes em Sociologia que avan-
çam perspectivas sobre a temporalidade, são originários da reflexão
sobre a constituição de fábricas, burocracias e outras estruturas sociais
que tiveram início com o seu destacamento das unidades familiares,
construindo espaços próprios e especializados. Apenas mais recente-
mente, a preocupação com a temporalidade se estendeu para o âm-
bito doméstico, e esse é, também, o maior foco da presente revisão.
Quando, no processo de racionalização dos espaços de transformação
de bens, a casa foi separada dos locais que detinham atividade pro-
dutiva com valor financeiro, restaram os espaços domiciliares que se
tornaram responsabilidade cotidiana quase exclusiva das mulheres.
Como, segundo Elias (1992), as crianças só se dão conta do tempo
medido pelo relógio, quando entram no universo simbólico, sociali-
zando-se na cultura, e internalizando os seus elementos. Antes disso,
elas ficam excluídas do mundo planejado e controlado, o que se exa-
cerbaria apenas na vida contemporânea, com a era das organizações.
A vida doméstica, portanto, possui outras determinações temporais,
e apenas aos poucos ela vai sendo regida pelos cânones do mundo
industrial e burocrático. Com o advento das creches, o controle do
tempo infantil precisa ser realizado de modo externo antes mesmo
que as crianças adquiram a capacidade de autorregulação, sendo esta
a condição essencial, estipulada por Elias, para que os seres humanos
passem a pautar seus comportamentos pelos relógios.

53
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Antecedentes dos estudos de uso do tempo no Brasil: o


comportamento humano em situações extremas e a luta
cotidiana

Muitos estudos de uso do tempo, precursores dos contempo-


râneos, foram obtidos por meio de observação participante. Um dos
problemas, dessa modalidade de apreensão da realidade, consiste na
dificuldade de obtenção de uma quantidade substantiva de casos, pas-
síveis de observação simultânea. Para lidar com essa limitação, o recurso
empregado versa em adotar uma estratégia desenvolvida por Meena
Acharya (1982) e que consiste em amostrar o tempo da população a
ser estudada, empregando um amplo número de investigadores que
retratem, simultaneamente, o que se passa em cada domicílio selecio-
nado ao acaso, em horários sorteados, codificando o que observaram,
segundo um sistema classificatório das atividades. Tal iniciativa com-
pensa os retratos breves efetuados em um dia, pela reprodutibilidade
derivada das formas de organização social que se repetem no decorrer
do ano, uma vez que o estudo de Acharya foi replicado durante meses,
possibilitando, inclusive, capturar as variações sazonais, tão importantes
em áreas rurais, e também em países com grandes contrastes entre as
estações do ano, particularmente entre o verão e o inverno. Há uma par-
ticularidade na condução dessa modalidade de pesquisa: geralmente
os estudos de uso do tempo se baseiam em observações que resultam
da utilização de relógios por parte do/a observador/a. Desta forma o/a
pesquisador/a usa sua instrumentação para aferir o momento, segundo
a sua própria orientação temporal, comparando-a com a da população
observada que pode empregar outros sinais para medir o tempo e não
sabe, não tem acesso, ou não tem poder aquisitivo para efetuar o uso
de relógios.
Essa estratégia foi utilizada por Daniel Gross (1984) que descreve
uma série de estudos de observação participante que elaborou, inclusi-
ve em relação às populações de origem indígena e camponesa, condu-
zidos no Brasil, nas regiões Nordeste e Amazônica. O autor empregou

54
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

um detalhado registro do comportamento dos sujeitos observados em


diversos tipos extremos de situação como os decorrentes da seca, de-
tectando padrões de atividade em época de escassez de alimentos; a
eficácia derivada de diferentes tipos de produção de nutrimentos, em-
pregados na caça, na coleta e no cultivo de parcelas de terra; o consumo
calórico e os padrões de distribuição dos alimentos obtidos por mem-
bros de grupos domésticos, de acordo com o gênero, a idade, o lazer
exercido, os padrões de visitação, a interação e a reciprocidade com
vizinhos e parentes.
Daniel Gross (1984, passim) empregou como orientação teórica
para as pesquisas sobre temporalidade que desenvolveu, a teoria do
cálculo racional. Essa perspectiva gera polêmica, em relação à análise da
divisão sexual do trabalho, ao utilizar situações limítrofes, para a aferi-
ção da racionalidade no comportamento humano. Tal suposto é empre-
gado pelo autor, sem que o mesmo discuta as premissas culturais que
permeiam o contexto da conduta apresentada pelos sujeitos observa-
dos - muito relevantes, quando incluída a dimensão de gênero. Daniel
Gross (1984) discute as dificuldades, do ponto de vista metodológico,
encontradas nos instantâneos que obteve, destacando-se entre estas:
a relação entre observador e observado, a escolha dos intervalos de
tempo empregados nas observações e o grau de arbitrariedade em tal
escolha, a unidade de análise, a dificuldade derivada do tamanho do
território, onde a sociedade analisada reside, e o tamanho do grupo
doméstico estudado; a interferência do observador em relação às ativi-
dades do investigado; os limites que essa modalidade de estudos apre-
senta nas atividades do próprio pesquisador, tais como: sono, cansaço
e satisfação de suas necessidades físicas. Daniel Gross, em função do
tipo de análise empreendida, desenhou uma estratégia de amostragem,
denominada: Random Spot Checking (Verificação Local Selecionada ao
Acaso), efetuando suas observações do comportamento, por intermédio
de amostras temporais, desenvolvidas em um momento sorteado, após
as atividades terem sido classificadas dentro de um sistema de códigos
e subcódigos que possibilitam a análise das informações.

55
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Pelo sistema que o autor desenvolveu, controlava-se as caracterís-


ticas dos indivíduos observados, incluindo-se: data, horário da observa-
ção, unidade de observação, número de pessoas no grupo doméstico, e
outras características, tais como gênero e idade, construindo, assim, as
bases para estudos que adotam esses métodos de pesquisa. Podemos
afirmar que o interesse do autor consiste na observação de padrões de
comportamento em relação à subsistência, bem mais do que a observa-
ção das concepções de temporalidade pelos sujeitos, embora, nas con-
dições observadas, as decisões, por eles efetuadas, em relação à melhor
conduta a seguir, estivessem imbuídas de sentido quanto aos condicio-
nantes do momento vivenciado (em épocas de escassez ou de fartura).
A estratégia de investigação empregada pelo pesquisador representa
uma útil ferramenta de análise que possibilita a construção de catego-
rias para classificação das atividades de uso do tempo.

Os primeiros estudos de gênero e uso do tempo no Brasil:


análises baseadas em entrevistas de caráter exploratório com
o emprego de amostragens intencionais

Além da utilização de observação participante, os primeiros estu-


dos de gênero e uso do tempo, no Brasil, adotaram entrevistas, para a
aferição do seu cálculo. Por estas, o pesquisador indaga ao entrevistado
que atividades este último realizou, em um período de referência de-
terminado, realizando, com esse procedimento, apenas investigações
de pequeno alcance. Boa parte dos estudos aqui enfocados originou-
-se das metodologias discutidas no Seminário “A Mulher na Força de
Trabalho na América Latina” ou pelo Grupo de Trabalho “A Mulher na
Força de Trabalho” que funcionou no âmbito da ANPOCS (Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
Essas iniciativas tiveram como objetivo colocar em discussão o con-
ceito de trabalho e adequá-lo de modo inclusivo às atividades não re-
muneradas exercidas predominantemente, em casa, compreendendo,

56
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de forma primordial, os cuidados com a casa e a família. Os estudos


refletem sobre a arbitrariedade presente naquilo que é considerado
como sendo trabalho, um termo paulatinamente ampliado na história
da mensuração do Produto Interno Bruto (PIB), o que denota o seu ca-
ráter convencional. Assim, as atividades agrícolas exercidas pelos mem-
bros do grupo doméstico como atividades familiares não remuneradas
nem sempre foram classificadas como labor, até um acordo efetuado
no âmbito da Organização Internacional do Trabalho (OIT) na década
de sessenta, quando elas passaram a ser consideradas como sendo tra-
balho produtivo. Essa decisão alçou o contingente incluído na Força de
Trabalho para um grande número de países de preponderância rural e,
subsequentemente, acentuou a discussão sobre a natureza do trabalho
doméstico.
Em uma pesquisa que realizei no Cariri cearense (AGUIAR, 1980),
tomei o exemplo de uma trabalhadora rural para ilustrar o arbítrio do
sistema classificatório das atividades de trabalho, segundo as resolu-
ções internacionais. A trabalhadora passava o dia colhendo feijão para
a subsistência domiciliar, quando essa atividade era categorizada pe-
los sistemas classificatórios oficiais como produtiva. Ao chegar em casa,
preparava o feijão como alimento familiar. Essa última atividade, embora
contígua e contínua com a de coleta agrícola, não era considerada como
constituindo trabalho, pelas agências oficiais, não podendo, assim, ser
incluída no Produto Interno Bruto.
As pesquisas de uso do tempo foram lembradas como estratégia
para levar em conta as atividades de trabalho na produção de alimentos
e no preparo dos mesmos, possibilitando contabilizar e reunir ativida-
des de trabalho remuneradas e não remuneradas. Eleonora Cebotarev
(1984) apresentou o resultado de uma pesquisa de uso do tempo para a
mensuração do trabalho feminino intitulado: “O Tempo de Organização
das Atividades Domésticas e Não Domésticas de Mulheres Camponesas
na América Latina”, publicado em Aguiar (1984). Supondo que esse con-
ceito está intimamente relacionado com os papéis culturais atribuídos a
homens e mulheres, a autora buscou identificar tais dimensões, em sua

57
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

pesquisa, bem como a sua variação, de acordo com o país investigado,


observando ainda o impacto da industrialização nos vilarejos inquiridos.
Os povoados camponeses pesquisados situavam-se da seguinte
forma: no Brasil (72 grupos domésticos responderam à entrevista), na
Venezuela (150 grupos domésticos foram estudados) e no México (con-
sideraram-se 90 grupos domésticos). A autora se deparou com duas
dificuldades em sua pesquisa: (1) muitos camponeses não possuíam
relógios e empregavam outros sinais indicadores da temporalidade;
(2) muitos não sabiam ler e escrever. Para contornar esses empecilhos,
Cebotarev identificou seis marcadores de tempo, desde o momento de
acordar, até o de dormir, e as horas de comer, usando as seguintes cate-
gorias de referência em sua pesquisa: (1) ao acordar; (2) depois do café
(3) no meio da manhã (4) na hora do almoço (5) depois do almoço (6)
no meio da tarde (7) depois do jantar, por ela considerados importantes
independentemente da cultura estudada. Ela enumerou nove categorias
de atividades (1) preparo de alimentos; (2) limpeza da casa e da cozinha;
(3) limpeza, reparos e costura de roupas; (4) cuidados com crianças; (5)
cultivo da horta e cuidados com os animais; (6) coleta de lenha e de
água; (7) trabalho na indústria doméstica ou no comércio (8) trabalho
remunerado; (9) visitas, descanso e ficar sem fazer nada.
Como estava interessada nos papéis de gênero, a autora não distin-
guiu estereótipos ou distorções ideológicas nos relatos das atividades,
desconsiderando, além disso, atividades que poderiam ser igualmente
exercidas por homens e mulheres, apesar das prescrições de gênero.
Cebotarev apreciou os padrões de trabalho, analisando os ritmos e as
sequências das atividades cotidianas durante seis dias da semana, de
acordo com as características do grupo doméstico, tendo identificado
vários tipos, de acordo com os padrões de afazeres da dona de casa:
(1) o puramente doméstico; (2) o que exerce trabalho temporário para
o mercado (3) o misto – com algumas atividades efetuadas em casa e
outras direcionadas ao mercado; (4) a dona de casa que trabalha pre-
dominantemente fora de casa (o padrão minoritário) (no caso do Brasil
elas representavam 3% dos grupos domésticos). O tipo puramente

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

doméstico é também um tipo campestre. Isso denota uma forma de


organização social derivada de um patriarcalismo rural. A especialização
em atividades domésticas pelas mulheres está primordialmente asso-
ciada às condições da vida agrícola. Essa constatação representa um
notável contraste com a literatura que associa as atividades domésticas
com a emergência de um processo capitalista industrial.
Podemos contrastar o estudo de Eleonora Cebotarev com o de
Mariza Figueiredo (1981) que também efetuou pesquisas internacionais
comparadas. Tratando-se, neste último caso, de duas comunidades pes-
queiras na Colômbia e no Brasil. Seu objetivo era o de observar a pre-
sença de grupos domésticos encabeçados por mulheres, mesmo que
elas não se considerassem como chefes do domicílio. A autora procu-
rou documentar: a natureza das atividades econômicas efetuadas pelas
mulheres; e a divisão sexual do trabalho nos domicílios que contavam
com homens e mulheres, em sua composição doméstica. A maior parte
das mulheres-chefe vivia em uniões consensuais e exercia atividades de
trabalho remunerado, cujo volume variava de acordo com o número de
pessoas na família, isto é, com a quantidade de filhos/as e outros depen-
dentes, e o número de mulheres mais jovens disponíveis, na casa, para
o exercício de atividades domésticas. Sua análise chama a atenção para
a existência de um contraste entre um padrão idealizado de atividades
e as informações que são fornecidas pelo método de estudo de uso do
tempo, adotando assim, uma perspectiva distinta daquela adotada por
Cebotarev, ao buscar distanciar-se dos padrões idealizados derivados
da cultura. Do ponto de vista metodológico, contudo, Figueiredo não
conseguiu que a população enfocada respondesse aos diários de uso
do tempo, pois o índice de respostas que encontrou foi muito baixo. A
autora empregou, então, como recurso alternativo, efetuar perguntas
a todos os membros adultos da família, requerendo-lhes, ainda, infor-
mações sobre o cotidiano das crianças. As entrevistas foram gravadas e
Mariza Figueiredo (1981) reconstruiu os diários, preenchendo, ela mes-
ma, os protocolos de informação sobre o cotidiano, realizando assim o
que hoje denominamos de diários estilizados.

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Figueiredo (1981) encontrou uma gama diversificada de ações. Para


uma semana determinada, as 45 mulheres chefes de domicílio reporta-
ram as seguintes atividades (com o número médio de horas e minutos
de duração por semana de cada atividade): (1) cuidados com crianças:
5 h e 18 min; (2) preparo de alimentos: 9 h e 27 min; (3) limpeza dos
utensílios domésticos: 2 h e 6 min; (4) limpeza da casa: 1 h e 6 min; (5)
atividades de costura: 1 h e 30 min; (6) caminhar: 1 h e 30 min; (7) pegar
água: 2 horas (8) lavar e passar: 4 h e 9 min; (9) coleta de lenha: 5 h10
min; (10) comportamentos variados que compreendem cuidados com a
saúde, coleta de frutas e a criação de pequenos animais 1 h; (11) pesca: 1
h. A autora não reportou, de forma comparada, as atividades efetuadas
pelos homens, o que se deve ao frequente número de domicílios sob
a exclusiva responsabilidade de mulheres, ante a ausência de parcei-
ros, já prenunciando importante questão sobre os encargos domésti-
cos em domicílios onde não há presença masculina entre os adultos da
residência.
Outro estudo baseado em entrevistas foi realizado por Maria
Cristina Bruschini (1983), efetuando uma amostra intencional de 15 gru-
pos domésticos, com crianças que tinham menos de 14 anos de idade,
na cidade de São Paulo. As autoras do texto não encontraram nenhum
efeito na quantidade de trabalho doméstico efetuada pelas donas de
casa, como consequência das idades das filhas (mais moças, ou mais
velhas) conforme achado semelhante pelo estudo de Cebotarev (1984).
Elaborando uma descrição detalhada de todas as atividades desenvolvi-
das em casa Bruschini identificou vários grupos principais: (1) cuidados
com os alimentos e higiene; (2) cuidados com crianças; (3) atividades
de consumo; (4) administração da casa, isto é: pagamento de contas,
aluguel, planejamento, etc.; (5) consertos e manutenção da casa, como o
de encanamentos, eletricidade, etc.; (6) visitas a parentes e membros da
comunidade. A investigação de Bruschini (1983), embora muito explo-
ratória, demonstrou as possibilidades de condução de pesquisas sobre
o uso do tempo e as relações de gênero, em ambientes muito urbani-
zados, no Brasil. A análise, portanto, destaca a importância de discutir o

60
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

uso do tempo nas sociedades urbano-industriais, como o efetuado em


vários contextos internacionais, para oferecer um retrato fidedigno do
conjunto da sociedade brasileira. Ela também demonstra a importância
da construção de um sistema de categorias que leve em consideração
as atividades domésticas desenvolvidas pelos homens. Dado que a fon-
te da amostra intencional, por ela obtida, foi o Dieese, as atividades
de trabalho orientadas para o mercado se desenvolviam fora de casa.
Cristina Bruschini realizou subsequentemente uma análise do uso do
tempo com base na PNAD de 2001.
Um estudo de vizinhanças pobres foi conduzido por Zahidé Machado
Neto e Alda Britto (1987) com 28 mulheres, pertencentes a dois grupos
de idade distintos, casadas, com filhos, na cidade de Salvador. As auto-
ras não classificaram as atividades observadas e preferiram organizar as
informações de acordo com a forma como tais condutas eram condu-
zidas: de modo simultâneo ou de caráter contínuo. Estas moradoras ur-
banas trabalham com rendimentos, em tempo parcial, três horas por dia
e cinco dias por semana. Na casa, muito pouco tempo é devotado para
cozinhar, o que as autoras atribuem à magra quantidade de alimentos
encontrada em suas residências. A presença de crianças pequenas afeta
as rotinas e as autoras distinguem entre os ritmos de trabalho domésti-
co e de trabalho remunerado que denominam respectivamente de tem-
po natural e tempo racional, seguindo a distinção comumente realizada
entre espaços público e privado. As contribuições mais importantes da
investigação residem no destaque que concedem à população pobre,
observando como a escassez condiciona o trabalho doméstico e como,
para a população pobre, há também carência de tarefas de casa, já que
atividades precárias geram poucos rendimentos, o que se reflete nas
moradias.
Um texto sobre uma favela carioca foi conduzido por Maria Luiza
Heilborn (1998), quando a autora observou 41 membros de uma comu-
nidade no Morro do Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro, realizando
entrevistas e observação participante inclusive sobre a temporalidade.
Os resultados da pesquisa compõem um texto da autora publicado

61
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

em livro editado por Felícia Madeira: “Quem Mandou Nascer Mulher?”


Editora Rosa dos Tempos/Record, 1998. O texto trabalha com a popu-
lação pobre, e indica como as meninas recebem atribuições domésticas
desde cedo, prestando serviços nas residências de familiares em troca
de “um agrado”, enquanto os meninos frequentam as ruas, e dedicam
menos tempo aos estudos. A autora analisa que tais práticas são deriva-
das de uma dimensão cultural de gênero. A disciplina e a reclusão, im-
postas diferencialmente às mulheres, beneficiam o desempenho escolar
das meninas: uma discriminação que se converte em vantagem compa-
rativa quando o controle exercido sobre as mulheres se transforma em
um maior proveito escolar, indicando uma saída do âmbito doméstico,
por estas jovens, para o futuro, embora essa finalidade não tenha sido
necessariamente por elas antecipada. A vida doméstica, nesse caso, por-
tanto, demanda contenção e disciplina o que favorece o bom desempe-
nho, em organizações contemporâneas – uma questão que não aparece
nesses estudos, já que observam exclusivamente os efeitos disciplinares
do contexto organizacional, burocrático ou capitalista.

Estudos Organizacionais

Pesquisas de uso do tempo apresentam muitas possibilidades de


enfoque. Uma delas é a do estudo de organizações com diferenciados
portes, permitindo averiguar o seu efeito de suas características, como
o do seu tamanho, nos horários das atividades. Autores clássicos como
Anthony Giddens, sociólogo das organizações, destaca a capacidade
que as empresas contemporâneas possuem em determinar os ritmos
das atividades produtivas. Observando o fenômeno, o autor elabora
uma preferência pelo uso do conceito de modernidade tardia, e não de
pós-modernidade, para se referir à vida contemporânea. Quanto maior
é o emprego de tecnologias de gestão (e não apenas o de equipa-
mentos industriais) maior é a capacidade da organização em pautar a
temporalidade, na vida de seus empregados. Empresas que congregam

62
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

um número substantivo de pessoas criam formas de ajustá-las, para


aperfeiçoar as atividades de trabalho, gerando rotinas e modos de
combinação que facilitam a produtividade do trabalho que contratam.
Firmas vulneráveis às injunções da natureza correriam maior risco de
continuidade, sendo menos previsíveis, dificultando o cálculo econô-
mico. Empresas mais racionalizadas teriam maior impacto no tempo
de produção, regulando de forma particularmente acentuada: o ritmo
das atividades de sua mão de obra. Giddens chega a observar que a
menor flexibilidade em termos temporais se refere ao trabalho no chão
de fábrica. Ao elevar-se a posição no sistema de estratificação das or-
ganizações, transformam-se as formas de controle e de supervisão do
trabalho até chegar ao nível executivo onde agendas são empregadas
para a regularização das atividades, observando-se uma passagem gra-
dativa da rigidez à fluidez na determinação do ritmo das atividades.
O estudo das organizações permite identificar: (1) o processo de
racionalização burocrática, segundo uma linha de análise weberiana;
ou (2) o desenvolvimento das forças produtivas, de acordo com uma
orientação marxista, quando o tempo de trabalho é vendido no merca-
do. Os dois enfoques empregam como determinantes do grau de orga-
nização, a separação entre locais de residência e de trabalho, balizando
a separação e diferenciação entre público e privado.
As pesquisas de uso do tempo embora possibilitem essa distinção,
permitem, também, a análise conjunta de público e privado, quer as
atividades domésticas estejam apartadas das que são destinadas ao
mercado, quer sejam contíguas. A localização do espaço de trabalho
remunerado em estabelecimentos ou na moradia é critério para a cons-
trução de uma tipologia do trabalho buscando relacionar o lugar das
atividades remuneradas com o domicílio (DEDECCA, 2008) sugerindo
que o trabalho se torna mais frágil com ausência de regulação social,
quando as atividades remuneradas não são exercidas em sítios especia-
lizados, e destacados das residências, vias públicas ou veículos, como
lojas, estabelecimentos fabris, escritórios e repartições públicas.

63
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Observando aqui, porém, que uma mesma empresa pode contar


com distintas formas de contrato de trabalho, além do fato de que há
uma portabilidade contemporânea de algumas atividades formais para
dentro dos domicílios. No estudo acima referido, a própria empresa
pode ser vulnerável ao manufaturar um bem agrícola, o que dificulta a
regularidade anual, no processamento desse bem, com graves conse-
quências para a manutenção da força de trabalho.
A perspectiva feminista proveniente dos países desenvolvidos su-
gere que: a separação entre o domicílio e o local das atividades re-
muneradas é determinante da emergência do papel de dona de casa,
enquanto trabalhadora não remunerada que se dedica exclusivamen-
te às atividades domésticas, como especialização baseada no gênero.
Mas, há um grande número de atividades remuneradas exercidas na
residência, na pequena produção doméstica, ou na informalidade do
trabalho, quando as mercadorias são feitas em casa. Sem falar nas ati-
vidades em que a moradia é parte da relação de trabalho, geralmente
quando a mão de obra é familiar. No mesmo sentido, deve-se consi-
derar a realização de uma análise dos papéis familiares exercidos pelas
mulheres no domicílio, em contexto rural, uma vez que organizações
pré-capitalistas já contavam com o trabalho doméstico das mulheres,
cujo produto poderia ser aproveitado para o mercado, podendo ser
trocado, como por exemplo: em feiras, intercâmbios vicinais, etc.
Temos várias posições da residência em relação ao tipo de acordo
de trabalho com remuneração. Portanto, o estudo de instituições em
que o contrato de moradia faz parte da relação de trabalho permite
avaliar a conjunção entre moradia e trabalho pago, um elemento chave
na análise da divisão sexual do trabalho, supondo-se um maior con-
trole pela firma das atividades não remuneradas e do cotidiano dos
que recebem a habitação como parte do pagamento, por vezes efe-
tuado ao conjunto da família, mas percebida, como um único pecúlio,
pelo responsável da unidade doméstica, geralmente o marido ou chefe
de família. Em alguns tipos de organização semelhantes, em casos de

64
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

separação, a mulher se depara com a perda dos direitos de moradia,


implícitos no contrato familiar de trabalho.
A “plantation”, como sistema socioeconômico, apesar de ter a es-
cravidão como referência de natureza histórica, consistiu em uma for-
ma de organização da produção, para o cultivo de bens agrícolas em
larga escala, destinados ao mercado. Do ponto de vista histórico, esse
complexo agrícola baseado na monocultura da cana de açúcar está in-
timamente relacionado com o processo de colonização. Trabalhadores
escravos recebiam moradia e subsistência, residindo nas fazendas que
cultivavam. Tal situação difere do sistema de trabalho puramente as-
salariado, quando o/a trabalhador/a reside fora do local onde exerce
atividades remuneradas.
Com a abolição da escravatura, a plantação canavieira, como mo-
dalidade organizacional, primeiramente passou a oferecer a moradia
aos trabalhadores, como parte do contrato de trabalho. Mais recente-
mente, um grande movimento instituiu o estabelecimento da residência
operária, fora da propriedade do empregador. Estudos organizacionais
que buscam problematizar a relação entre moradia e trabalho, podem
verificar como a divisão sexual do trabalho se associa com a posição
da residência no modo de produção e administração do trabalho. A
separação entre casa e trabalho muda a relação entre proprietário dos
meios de produção e os trabalhadores que transformam a produção.
O controle deixa de ser sobre a totalidade da vida do trabalhador ou
trabalhadora, passando a focalizar nas atividades transformadoras da
produção: quer em sua dimensão rural, quer em sua dimensão urbana.
Para elaborar o estudo de uma plantação canavieira empreguei
uma estratégia de levantamento do material empírico composta por
três estágios. O primeiro consistiu num processo de observação para
construir o sistema classificatório das atividades cotidianas dos mem-
bros dos grupos domésticos estudados - importante estratégia para a
confecção de diários, orientados para uma população com pequeno
nível de instrução. Com tal finalidade, foram extraídas, diariamente, por

65
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

uma semana, amostras do uso do tempo em moradias pré-seleciona-


das e diferentemente posicionadas no sistema de plantação (casas da
plantação, de ocupação, da cooperativa de habitação - sendo adquiri-
das pelos trabalhadores - casas alugadas e casas próprias - situadas em
terras que pertenceram à plantação em outra época). Todas deveriam
possuir pelo menos quatro corresidentes. Pela observação participante
foram registradas a cada quinze minutos todas as atividades desenvol-
vidas por todos os moradores. Os registros foram então codificados. O
código final obtido recebeu a seguinte classificação: atividades relacio-
nadas (1) com o preparo de alimentos do grupo doméstico: arrumar a
mesa, servir, lavar a louça das refeições, e com o asseio dos locais em
que os alimentos foram preparados e servidos; (2) limpar os cômodos
(com exceção dos referidos no item 1) e as roupas, o que inclui lavar,
passar, costurar, remendar; (3) cuidados com as crianças pequenas -
compreendendo amamentar, dar alimentos na boca, vestir, lavar e lim-
par as crianças; (4) atividades remuneradas; (5) compras; (6) sono; (7)
lazer. Os quatro primeiros conjuntos de tarefas foram levantados por
meio de um questionário aplicado a todos os trabalhadores e trabalha-
doras residentes em volta da plantação canavieira. Nesse conjunto per-
guntou-se que atividades desenvolviam na safra e na entressafra, inda-
gando-se, também, sobre as mudanças em seu desempenho através do
curso da vida das mulheres, tomadas como pessoa de referência, em
cada moradia. Esse recurso possibilitou relacionar o exercício das ativi-
dades selecionadas, com a posição dos corresidentes no grupo domés-
tico, também situados no interior do sistema de plantação canavieira.
Antes do conteúdo substantivo do estudo é importante introduzir
a discussão metodológica em que se procurou criar formas inovadoras
de incorporação da população pobre, em estudos quantitativos, com
base em diários, uma vez que vimos acima que eventos corriqueiros, a
partir de estudos qualitativos, são distintos para os detentores de um
menor número de bens domésticos (AGUIAR, 2010). Um instrumen-
to de campo foi especialmente modelado para populações com bai-
xo nível educacional mediante desenhos representando as atividades

66
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

cotidianas que lhes foram apresentadas, com homens e mulheres de-


senvolvendo os mesmos sete grupos de diligência. Foram amostrados
50 grupos domésticos do conjunto de 650 listados na pesquisa anterior
que compreendia o total de 742 trabalhadores e trabalhadoras residen-
tes em volta da plantação canavieira estudada. Do conjunto sorteado,
obtivemos a participação de 44 casas. As 6 recusas ocorreram entre
grupos que possuíam um número de corresidentes muito grande: duas
em famílias com 16 pessoas, duas com 17, e mais duas com 19 mem-
bros, apontando para o limite do uso desse tipo de diários para famílias
grandes. Em cada residência, em consulta com os moradores, esco-
lheu-se a pessoa responsável pelas planilhas de orçamento do tempo,
que deveriam ser assinaladas com um lápis de cor distinto para cada
morador, indicando o horário de início e de conclusão de cada ativi-
dade. Ofereceu-se a cada informante um relógio digital. Observou-se
que apesar do baixo nível educacional dos homens e mulheres pesqui-
sados, todos conheciam o sistema numérico, habilidade fundamental
para efetuarem transações com dinheiro. No final do trabalho, o reló-
gio foi oferecido de presente aos entrevistados. Durante três dias apli-
cou-se experimentalmente o diário sobre o uso do tempo, para pos-
sibilitar a familiarização dos/das informantes e supervisores/as com o
preenchimento da planilha. Cinco auxiliares recrutadas na comunidade
e treinadas para o trabalho efetuaram as atividades de administração
do leva e traz dos protocolos da investigação, duas vezes ao dia. O uso
do método equivaleu a uma intervenção na comunidade, uma vez que
poucos já possuíam relógios de pulso (a pesquisa forneceu relógios
digitais). Os investigados pela pesquisa baseavam os horários das suas
atividades cotidianas no apito da fábrica, nos programas de rádio e de
televisão, no movimento de ônibus e de trens, e na rotina das lojas.
Cada registro, equivalente ao decorrer de uma atividade, desde o início
até o seu fim, foi tratado como um evento - um período demarcador
tomado como unidade de observação, cujas médias de ocorrência e de
duração foram então obtidas. Os dados foram compilados mediante a
aplicação de um diário para a apreensão do cotidiano doméstico, em

67
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

uma semana da entressafra. A escolha dessa época foi efetuada por se


tratar de um período em que há maior disponibilidade de mão de obra.
A unidade de análise é o episódio: o conjunto contínuo que compreen-
de atividade principal, atividade secundária e os dados contextuais, isto
é, a duração entre o início e o final de uma determinada atividade, por
cada membro respondente, por dia.
O empreendimento estudado sofreu mudanças históricas desde
o tempo da escravidão, alterando algumas de suas características, até
então de fechamento sobre si próprio, ocasionado pela concessão de
moradia aos que labutavam em seu interior. Aos poucos os trabalha-
dores/moradores transformaram sua relação de trabalho. Alguns re-
ceberam terras em áreas adjacentes à plantação. Outros se mudaram
para terras públicas que foram por eles ocupadas à beira das estradas.
Outros começaram a adquirir casas, a longo prazo, de uma coopera-
tiva residencial. Outros, ainda, as alugaram de terceiros. Cada tipo de
situação representava uma nova modalidade de contrato de moradia.
A variedade de situações podia ser observada facilmente, pois as re-
sidências próximas à empresa eram habitadas por distintos tipos de
trabalhadores, permitindo apreciar, já numa primeira aproximação, a
variedade no seu recrutamento.
O uso do tempo em cada uma dessas situações foi averiguado:
trabalhadores residentes em terras do empreendimento, ocupação de
terras públicas próximas às instalações, operários proprietários que
receberam terras fora da “plantation”, funcionários que estavam ad-
quirindo suas casas comprando-as a longo prazo de uma cooperativa
de habitação. Dessas modalidades de arranjos residenciais, as mora-
dias construídas com materiais mais rústicos são as de famílias que as
ocuparam, seguidas pelas casas dos moradores na plantação. As ca-
sas construídas pelos trabalhadores em terras doadas pela plantação
canavieira seguem-se às últimas, em qualidade de construção. Enfim,
as moradias sendo adquiridas de uma cooperativa de habitação estão
entre as melhores casas, com características de classe média.

68
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Espaço, condições de vida e temporalidade aparecem associados.


Nas melhores residências, leva-se menos tempo para limpar e para co-
zinhar. As construídas em terrenos doados pela empresa são habitadas
por famílias estendidas, já que os membros novos que se casam cons-
troem suas moradias nos mesmos terrenos que os de seus ascendentes
próximos. Elas são assim caracterizadas pela presença de um grande
número de crianças pequenas. As moradas da “plantation” também
possuem grande prole, o que não acontece nas residências de classe
média que exercem maior controle sobre a natalidade ou sobre as casas
ocupadas, com maior instabilidade de vida e menos jovens presentes.
As casas doadas pela empresa e as que permanecem em sua proprie-
dade são as que exibem o maior número de eventos de cuidados com
crianças. São estas, também, as que detêm a maior duração com tal
atividade. A posição da moradia no aparato produtivo, portanto, con-
diciona a composição doméstica e o uso do tempo de seus residentes.
Porém, de um modo geral, os cuidados com as crianças são de
responsabilidade quase exclusiva da dona de casa, com pouquíssima
ajuda do marido, algum suporte de sua mãe e menos auxílio ainda de
seu pai. As demais atividades domésticas são divididas com os outros
membros da família. A variada situação das casas no sistema produtivo
gerou a transferência de autoridade sobre a lide cotidiana, para inter-
mediários, no que se refere aos trabalhadores que residem em casas
ocupadas. O maior grau de controle sobre o cotidiano de trabalhadores
e trabalhadoras se refere aos que ainda residem em terras do proprie-
tário da “plantation”. Os demais possuem maior independência, sendo
mais donos do seu dia a dia, assemelhando-se à situação moderna em
que casa e trabalho remunerado se separaram. Mesmo no caso dos
moradores em casas do empreendimento, seria difícil classificar a for-
ma organizacional como próxima àquela da instituição total, propician-
do mais uma revisão do postulado de Goffman sobre a “plantation”, já
que o cotidiano sofre injunções dos fatores naturais que, por sua vez,
condicionam a presença das atividades de transformação da cana.

69
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Há alternância entre possibilidades de trabalho remunerado


e épocas de escassez. A variedade de inserções revela o impacto da
relação de moradia na determinação do cotidiano de trabalhadores
e trabalhadoras. De um modo geral, apesar de buscar um processo
de modernização com a produção de álcool como combustível para
automóveis, o empreendimento não conseguia manter um ritmo de
atividades suficiente que proporcionasse o seu funcionamento o ano
inteiro, de modo contínuo, aproximando-se dos casos diagnosticados
por Giddens, como sendo infensos à modernização, mesmo ante a ino-
vação proporcionada por esse produto, como tipo de combustível para
automóveis.
Nas empresas contemporâneas, o controle sobre a força de traba-
lho varia de acordo com a inserção do trabalhador (no chão de fábrica,
ou na administração da empresa). Quanto mais próximo ao chão de
fábrica, maior o controle da empresa sobre a força de trabalho, o que
só é contraposto pelas organizações sindicais que disputam com a em-
presa o valor do tempo de trabalho. No caso estudado, o controle fa-
bril, durante a entressafra, permanece acoplado às forças da natureza,
produzindo uma porosidade no trabalho que pode levar parte da mão
de obra a migrar temporariamente para o provimento de suas famílias.
A presença de donas de casa com uma maior dedicação de tempo ao
trabalho doméstico foi encontrada nas residências próprias ou sendo
adquiridas. Nas residências em plantações, observava-se que as crian-
ças ficavam soltas aos cuidados das filhas, um tanto apenas mais velhas
que as suas supervisionadas, com poucos cuidados dispensados pela
mãe ou pelo pai de família que dedicavam mais tempo, assim, ao cul-
tivo e ao corte da cana. As residências mais pobres, em terras ocupa-
das, possuíam condições mais precárias evidenciadas pela ausência de
banheiros. Elas eram caracterizadas por possuírem um menor número
de jovens, porém exibiam, também, um maior tempo de trabalho dedi-
cado aos cuidados com os utensílios domésticos. Observou-se, assim,
que cada tipo de residência possui distintas quantidades de atividades
domésticas e que o controle da forma de organização sobre a divisão

70
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

do trabalho é maior sobre as mulheres que se dedicam ao corte da


cana e que oferecem pouca atenção à casa e à família, dependendo da
intensidade do trabalho agrícola.

Referências

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The World Bank: Development Research Department. Working Paper
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Espaço e Tempo de Mulher, Cadernos de Pesquisa n. 4, maio, 1983.

71
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

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Pesquisa, n. 4, maio, 1983.
CEBOTAREV, Eleonora. “A Organização do Tempo de Atividades
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HEILBORN, Maria Luiza. “O Traçado da Vida: Gênero e Idade em Dois
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mandou nascer mulher? Gênero e infância pobre no Brasil. Rio de
Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997, p. 291-342.

72
PARTE II

Artigos
A importância das informações de uso do
tempo para os estudos de gênero no Brasil:
algumas considerações sobre as pesquisas
domiciliares oficiais1

Cristiane Soares
(IBGE)

Introdução

Nos estudos de gênero que abordam sobre a articulação entre


trabalho e família, os indicadores de tempo gasto com afazeres do-
mésticos e cuidados têm sido amplamente utilizados para mostrar a
elevada carga de trabalho não remunerado das mulheres. Contudo, no
caso brasileiro, as estatísticas oficiais disponíveis que permitem men-
surar a distribuição do tempo das pessoas segundo as atividades reali-
zadas ainda são bastante limitadas. Até recentemente, as informações
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD permitiam
calcular somente a jornada semanal da população ocupada no mer-
cado de trabalho e a jornada semanal total com afazeres domésticos
sem a indicação da atividade realizada e o tempo despendido em cada
atividade. Com a divulgação da PNAD Contínua novas informações
passaram a ser divulgadas, mas ainda com muitas limitações acerca do
uso do tempo pelos indivíduos. Nesse sentido, o presente estudo tem

1 As informações apresentadas no estudo são de responsabilidade da autora e não refletem


a posição da instituição a qual pertence.

75
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

como objetivo refletir sobre as mudanças metodológicas na captação


dos afazeres domésticos e cuidados nas pesquisas domiciliares, bem
como analisar os novos resultados acerca do trabalho não remunerado
e as implicações para as desigualdades de gênero no uso do tempo
das pessoas.

A discussão sobre trabalho remunerado e não remunerado


nos estudos de gênero

Na literatura, o termo divisão sexual do trabalho tem sido comu-


mente empregado para designar as diferenças de inserção no mercado
de trabalho entre homens e mulheres que, por sua vez, está relacionada
com a divisão desigual do trabalho doméstico. No entanto, como ressal-
tam Hirata e Kergoat (2007), esse conceito deve ir além da identificação
de desigualdades entre homens e mulheres, pois as desigualdades são
sistemáticas e ao mesmo tempo o mecanismo pelo qual as atividades
são hierarquizadas.
Segundo Hirata (2015), a aplicação do termo divisão sexual do tra-
balho implica uma noção ampla de trabalho que inclui tanto o traba-
lho remunerado quanto o não remunerado e fazendo uma releitura dos
modelos de organização do trabalho remunerado e não remunerado
propostos pela autora, é possível afirmar que no caso brasileiro há uma
perda de espaço do modelo tradicional para os modelos de conciliação
e delegação. O primeiro caso (conciliação) é o modelo mais comum em
que a mulher divide o seu tempo entre as responsabilidades no merca-
do de trabalho e em casa. O modelo de delegação, por sua vez, coexiste
com o de conciliação, pois em muitos casos, a participação das mulheres
no mercado de trabalho somente é possível porque há a delegação das
tarefas domésticas para outras mulheres.
No estudo de Ávila e Ferreira (2014), a divisão sexual do trabalho
é o elemento de configuração dos padrões sociais, visto que o tempo
de trabalho é parte ‘do modo de viver’ das pessoas, assim como dá

76
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

conformação a vida cotidiana. Nesse sentido, as autoras destacam a su-


premacia do trabalho produtivo sobre os tempos da vida cotidiana, o
que faz com que este seja mais valorizado; assim como há uma divisão
desigual do trabalho reprodutivo no interior das famílias. Essa delimita-
ção informal histórica e socialmente estabelecida do que é trabalho de
homem e o que é trabalho de mulher segue o princípio de separação e
hierarquia conforme ressaltam Hirata e Kergoat (2007).
O avanço da participação feminina no mercado de trabalho não
implicou uma divisão mais equânime do trabalho doméstico não re-
munerado e tampouco uma maior valorização deste, seja mercantil ou
no interior dos domicílios. Essa articulação entre trabalho produtivo e
reprodutivo tem resultado em uma sobrecarga de trabalho para as mu-
lheres que, na maioria das vezes, as coloca em posição de conflito com
a forma de organização do tempo social, como destacam Ávila e Ferreira
(2014). Além disso, o processo de transição demográfica que o país per-
passa, com o envelhecimento populacional, é um aspecto adicional que
tende pressionar essa articulação entre o trabalho reprodutivo e produ-
tivo (SOARES, 2016).
Esse conflito em que as mulheres se deparam decorre dessa dinâ-
mica social em que ao mesmo tempo as mulheres são estimuladas a
participarem do mercado de trabalho e ter autonomia econômica, essa
inserção é restringida e moldada para se enquadrar em um modelo so-
cial de família em que elas são mães, esposas e responsáveis pelos afa-
zeres domésticos e cuidados. Dessa maneira, como mencionam Ávila e
Ferreira (2014), a reprodução das relações sociais se forma e é forma-
tada a partir da dinâmica das práticas sociais do trabalho produtivo e
reprodutivo. Um processo sistemático cujos papéis sociais são determi-
nados pelo sexo e se reproduzem ao longo do tempo. Logo, um modelo
de ruptura carece de políticas que levem em conta aspectos de gênero,
geracionais, de raça, classe, assim como as diferentes estruturas de fa-
mília e de cuidado.

77
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Para uma melhor compreensão dessa estrutura do trabalho produ-


tivo e reprodutivo a partir de uma conceituação mais atual de trabalho
remunerado e não remunerado, Soares (2016) apresenta um arcabouço
analítico que nos permite identificar que as mulheres estão concentra-
das principalmente no trabalho reprodutivo, seja no trabalho remune-
rado como domésticas, babás e cuidadoras ou no trabalho não remu-
nerado como “donas de casa” responsáveis pelos afazeres domésticos e
cuidados2. No mercado de trabalho, o trabalho doméstico remunerado é
a categoria ocupacional que abrange 14,5% da população feminina ocu-
pada (5,8 milhões) e a posição de ocupada não remunerada em ajuda a
membro da família representa 3,4% da ocupação feminina (1,3 milhão).
Nessas duas categorias o total de mulheres representam 92,3% e 64,2%,
respectivamente (Tabela 1). Esses dois tipos de atividade já indicam a pre-
cariedade e a extensão da vida doméstica como modalidade de inserção
no mercado de trabalho de um número significativo de mulheres.

As mulheres também são maioria na posição de empregados do


setor público, representando 57,6% da ocupação. Apesar de o acesso a
esse trabalho geralmente ser por concurso e as mulheres apresentarem
características de elevada escolaridade e de rendimento, as desigual-
dades de gênero ainda se fazem presentes. As desigualdades nessa
categoria se manifestam sob duas formas: uma delas corresponde às
áreas em que as mulheres estão inseridas e a outra se refere à ocupa-
ção de cargos mais elevados, que se traduzem num rendimento médio
para as mulheres inferior ao observado para os homens. As mulheres
no setor público estão inseridas em áreas que também remetem ao
ambiente doméstico, como a educação, a saúde e os serviços sociais
e mesmo nessas áreas, onde a presença feminina é elevada, somente
parcela reduzida delas alcançam cargos gerenciais e diretivos3.
2 No diagrama de Soares (2016) podem ser incluídos à caixa de “donas de casa”, referente ao
trabalho não remunerado reprodutivo, o trabalho na produção e construção para o próprio
consumo e o trabalho voluntário.
3 Um indicador clássico que representa essa desigualdade nos cargos mais elevados do serviço
público é a distribuição por sexo dos cargos de direção e assessoramento do governo federal
(DAS). As mulheres se concentram nos DAS 1 ao 3 cujo rendimento é menor, enquanto as
posições mais elevadas (DAS 4 a 6) geralmente são destinadas aos homens (BRASIL, 2015).

78
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Na categoria de empregado no setor privado, as mulheres es-


tão inseridas principalmente em ocupações administrativas (21,4%) e
como trabalhadoras dos serviços, vendedoras do comércio e mercados
(29%). No caso das trabalhadoras por conta-própria, mais da metade
delas está concentrada nas ocupações do setor de serviços e vende-
doras do comércio e mercados (52,8%). Os serviços compreendem um
setor heterogêneo em que a informalidade é elevada e, consequente-
mente, os rendimentos são menores. Um exemplo é o setor de servi-
ços da beleza e estética, cuja participação feminina como cabeleireiras,
manicures, esteticistas, depiladoras etc é bastante elevada. A exigência
de escolaridade é baixa e o conhecimento pode ser adquirido na prá-
tica. Dessa maneira, apesar de os salários serem menores, as jornadas
podem ser mais flexíveis. A flexibilidade do setor de serviços e comér-
cio em relação às jornadas é um atrativo para inúmeras mulheres que
precisam adaptar a distribuição do seu tempo entre trabalho remune-
rado e não remunerado.

Por fim, na categoria de empregador, os resultados indicam que


dos 4,3 milhões de trabalhadores nessa condição apenas 29% são mu-
lheres. Essa baixa representatividade é reflexo de uma sociedade que
não atribui ao sexo feminino as características de liderança e de em-
preendedoras. Essa descrição das modalidades de ocupação das mu-
lheres não é nova, mas se faz necessária sempre que se debate sobre
trabalho remunerado e não remunerado, pois a inserção das mulhe-
res nesses trabalhos praticamente não se alterou. Bruschini (1994) já
mostrava essas tendências do emprego feminino na década de 1980
e, passados mais de 30 anos, a estrutura do emprego feminino ainda
remete as características da prática doméstica e a um modelo social-
mente construído que limita os espaços femininos.

79
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Figura 1

Tabela 1
População ocupada de 14 anos ou mais de idade por sexo e posição na ocupação - 2018
(x1000)
Posição na ocupação Total Homens Mulheres
Empregado no setor privado 43915 27145 16770
Trabalhador doméstico 6264 484 5780
Empregado no setor público 11248 4767 6481
Empregador 4351 3080 1271
Conta-própria 23042 14926 8116
Trabalhador familiar auxiliar 2096 750 1346
Fonte: IBGE/PNADC 2018. Elaboração própria.

Aspectos metodológicos sobre captação do trabalho não


remunerado na PNAD e PNAD Contínua

Na PNAD anual, na pergunta sobre afazeres, os cuidados estavam


ocultos, pois as pessoas respondiam sobre a realização de afazeres

80
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

sem a menção dos cuidados na pergunta. Entretanto, as notas meto-


dológicas da pesquisa indicavam que os cuidados estavam inclusos no
conceito de afazeres como “cuidado de filhos ou menores moradores”.
Na PNAD Contínua este problema foi resolvido com a separação dos
cuidados e dos afazeres em perguntas específicas. Além do mais, o
conceito amplo de trabalho na PNAD Contínua segue as novas reco-
mendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), cuja for-
mulação teórica segue uma abordagem econômica dada pela delimi-
tação da fronteira de produção do Sistema de Contas Nacionais (SCN),
separando o que é trabalho remunerado e não remunerado.

No que se referem aos afazeres domésticos, os resultados da


PNAD Contínua confirmaram que, em 2016, cerca de 90% das mulhe-
res realizavam tais atividades, cujo percentual é o mesmo do observa-
do com a última PNAD em 2015. Embora a metodologia de captação
dessa informação seja distinta entre as duas pesquisas, os resultados
confirmaram o que a maioria das mulheres vivencia ou escuta ao longo
de sua vida: “o cuidado da casa e da família é coisa de mulher”. Porém,
os resultados da PNAD Contínua desagregados por sexo trouxeram al-
gumas novidades, particularmente para os homens, o que alguns pes-
quisadores alardearam como “os homens descobriram que realizam
afazeres domésticos”. Entretanto, cabe esclarecer e entender o que
esses resultados significam.

Na PNAD Contínua, os cuidados e os afazeres são investigados de


forma separada a partir de um conjunto de atividades que caracteri-
zam as outras formas de trabalho não remunerado. A noção de outras
formas de trabalho não estava presente na PNAD anual e não necessa-
riamente havia sensibilização às questões de gênero no questionário,
embora esta pesquisa tenha sido utilizada durante muitos anos para
avaliar as condições de vida das mulheres, as desigualdades entre ho-
mens e mulheres e as relações de gênero (SOARES, 2008).

81
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Em 2016, na PNAD Contínua, os resultados indicavam que 21,0%


dos homens e 32,4% das mulheres de 14 anos ou mais de idade cui-
davam de pessoas no domicílio ou parentes em outro domicílio. Esses
resultados evidenciam que os cuidados nunca foram captados de for-
ma adequada na PNAD anual, até mesmo porque essas atividades não
eram referenciadas na pergunta para o informante. Contudo, quando
analisada as informações de afazeres domésticos e o número médio
de horas dedicadas a essas atividades segundo a estrutura familiar, os
resultados indicavam que embora os cuidados estivessem disfarçados
com os afazeres, provavelmente estes eram maiores nas famílias com
a presença de crianças ou demais pessoas que necessitavam de cuida-
dos (SOARES, 2016).
Esses dois métodos de perguntar sobre os afazeres e cuidados ca-
recem uma reflexão. Se na PNAD anual 52,6% dos homens declararam
realizar afazeres domésticos e na PNAD Contínua esse percentual se
eleva para 72,6%, a explicação não pode ser atribuída a uma “desco-
berta” por parte dos homens. A forma de perguntar diretamente sobre
a “realização de afazeres domésticos” não é tão inadequada como se
propaga, depende da análise a que ela se limita. As pesquisas quali-
tativas e os testes cognitivos podem ser úteis para mostrar que um
número maior de homens responde não fazer afazeres domésticos por
reconhecerem que esta é uma atividade das mulheres. Ávila e Ferreira
(2014) reafirmam essa visão de não reconhecimento de tais tarefas por
parte dos homens ao constatar que a contribuição deles é esporádica
e considerada como uma “ajuda”4.
Na PNAD anual de 2015, quando analisados os resultados de re-
alização de afazeres domésticos segundo o sexo e a condição do in-
formante, ou seja, se é o próprio, outro morador ou outra pessoa não
moradora, fica evidente a diferença por sexo na taxa de realização e
jornada semanal na atividade. Quando o informante é o próprio e do
sexo masculino a taxa de realização de afazeres domésticos é de 62%.

4 Ver também Bruschini e Ricoldi (2012).

82
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Por outro lado, se o informante é homem e outro morador do domi-


cílio essa taxa se reduz para 42,3% e no caso de não morador a taxa é
de 46,6%. Esses resultados indicam que os homens não se veem como
responsáveis pelos afazeres domésticos e tampouco reconhecem tais
atividades em outros homens do domicílio, pois a taxa de realização
de afazeres domésticos se reduz fortemente quando não é o próprio
a informar na pesquisa. Esses resultados se refletem ainda na jornada
semanal visto que a jornada média deles quando é o próprio informan-
te é de 11,8 horas e de 8,7 horas quando é homem e outro morador.
No caso das mulheres, os resultados não apresentam tendências
distintas, pois quando o informante é o próprio respondente a taxa de
realização é mais elevada, assim como a jornada média com os afaze-
res domésticos. No entanto, os valores observados para as mulheres
são bastante elevados tanto para o próprio respondente, cuja taxa de
realização e jornada foi de 93,5% e 25,8 horas, quanto para a condição
de outro morador que foi de 79,3% e 18,2 horas. Não se pode afirmar
que a resposta do próprio informante é mais realista, mas esses re-
sultados ilustram que a discrepância entre as estimativas segundo a
condição do informante é elevada5 (Tabela 2).
Dessa maneira, a metodologia de cada pesquisa é um aspecto
preponderante na determinação das atividades realizadas e do tempo
gasto. Dependendo do modelo de pesquisa, se os homens varrem o
quintal, lavam o carro ou fazem um reparo, para o informante essas
atividades podem não ser consideradas como um afazer doméstico e
sim uma “ajuda” para a esposa ou para a família, tornando-se “invisí-
vel” nas estatísticas. Argumento similar tem sido utilizado quando se
busca captar a atividade econômica das mulheres nas áreas rurais que,
na maioria das vezes, está associada com os afazeres domésticos e as
atividades no âmbito da família, cujo entendimento também é atribu-
ído como uma “ajuda”.
5 Não foi possível fazer a comparação dos resultados da realização de afazeres domésticos
e cuidados segundo o sexo do informante com a PNAD Continua porque a variável que
indica quem foi informante do bloco de trabalho não está disponível para os usuários.

83
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Tabela 2
Taxa de realização e jornada média com afazeres doméstico segundo o
sexo do informante - Brasil - 2015

Taxa de realização de Jornada média semanal


Sexo do informante
afazeres domésticos com afazeres domésticos

Homens
Próprio morador 62,0 11,9
Outro morador 42,3 8,7
Não morador 46,6 11,3
Mulheres
Próprio morador 93,5 25,9
Outro morador 79,3 18,2
Não morador 79,8 21,1
Fonte: IBGE, PNAD 2015. Elaboração própria.

Não se pode negar que a PNAD Contínua teve avanços na cap-


tação do trabalho remunerado e não remunerado. Contudo, algumas
limitações ainda se fazem presentes devido à ausência de uma pesqui-
sa em âmbito nacional sobre o uso do tempo, que detalham melhor
as atividades exercidas e o tempo despendido pelas pessoas em cada
atividade. A falta dessas informações restringe não somente os estudos
de gênero, mas outras áreas de atuação de políticas públicas tais como
o transporte, a cultura, a saúde etc. O tempo dispendido pelas pessoas
nos deslocamentos, por exemplo, é importante para políticas de infra-
estrutura em transporte público. O tempo que os adolescentes ficam
expostos às telas pode elevar os riscos de saúde desse grupo popula-
cional. Esses são alguns exemplos que demonstram a importância das
pesquisas de uso do tempo e ao mesmo tempo indicam que pesquisas
voltadas para captar as características de trabalho das pessoas numa

84
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

perspectiva contínua e conjuntural são bastante limitadas para fornecer


estatísticas sobre a alocação do tempo6.
São vários os estudos que reforçam a importância das pesquisas
de uso do tempo, não somente como instrumentos de identificação das
diferentes formas de trabalho mercantil e não mercantil, mas como im-
portante fonte de dados para avaliação das condições socioeconômicas
da população, cujas múltiplas possibilidades de análises não estão dis-
poníveis em outras pesquisas como, por exemplo, a análise da condição
de pobreza de tempo das pessoas. Entretanto, como ressalta Aguirre e
Ferrari (2014) sobre a disponibilidade de pesquisas de uso do tempo na
América Latina e as diferenças metodológicas entre elas, a decisão de
implantar um módulo ou a construção de uma pesquisa específica na
maioria das vezes esbarra na disponibilidade de recursos7.
Há vários prós e contras acerca da escolha de pesquisa de uso do
tempo por módulo ou independente. Argumenta-se que quando im-
plantado um módulo de uso do tempo em uma pesquisa domiciliar
como a PNAD Contínua, por exemplo, é possível correlacionar as in-
formações de uso do tempo com as características sociodemográficas
e demais temas da pesquisa. Por outro lado, dadas as especificidades
da pesquisa de uso do tempo, geralmente em diário por intervalos de
minutos ou lista de atividades, pode fazer com que a pesquisa se tor-
ne demasiadamente longa e cansativa, o que pode comprometer os
resultados.
Uma pesquisa independente, por sua vez, tende apresentar um
custo mais elevado, mas a periodicidade desse tipo de pesquisa não
precisa ser continua ou anual. Com uma amostra específica e desenha-
da para atender os objetivos da pesquisa, é possível ter informações

6 Ver Barbosa (2018) como exemplo de estudo sobre alocação do tempo e as limitações na
definição de lazer.
7 De uma lista de 18 países da América Latina que já produziram informações sobre o uso
do tempo, 61% deles tiveram como modalidade uma pesquisa independente (AGUIRRE E
FERRARI, 2014).

85
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mais detalhadas8 e com melhor qualidade. O desenho de uma pesquisa


de uso do tempo independente consiste num procedimento estatístico
complexo, que exige um conhecimento técnico especializado e multi-
disciplinar, principalmente se deseja captar as atividades simultâneas
(atividades secundarias e terciárias)9. No caso das políticas de cuidados,
uma pesquisa que capte as atividades simultâneas é fundamental, visto
que as atividades de cuidados geralmente ficam imbricadas nas ativida-
des de afazeres domésticos.
Apesar das instituições para o avanço das mulheres serem os prin-
cipais atores na sensibilização, articulação ou condução das pesquisas
de uso do tempo nos países, é importante enfatizar que tais pesquisas
são cruciais em vários segmentos da política pública. Não se pode negar,
no entanto, que grande parte dos países que já produziram informações
sobre o uso do tempo tem dado ênfase à disseminação das informações
sobre a distribuição desigual entre homens e mulheres do trabalho não
remunerado e na valoração desse tipo de trabalho, que é realizado ma-
joritariamente pelas mulheres, com a construção das contas satélites de
trabalho não remunerado.

O que mostram os resultados da PNAD Contínua sobre a


desigualdade de gênero no trabalho não remunerado

Na PNAD Contínua, a informação sobre o tempo dispendido em


afazeres e cuidados está relacionada a uma discussão sobre o que é tra-
balho remunerado e trabalho não remunerado. A partir dessa distinção
é possível calcular as jornadas de homens e mulheres nesses trabalhos,
cujas médias são de 41 horas semanais para os homens e 36,2 horas se-
manais para as mulheres no caso do trabalho remunerado e 10,9 horas
semanais e 21,3 horas semanais, respectivamente, no caso do trabalho

8 Em pesquisas específicas de uso do tempo o detalhamento das atividades é obtido, por


exemplo, com perguntas de contexto, tais como: com quem, para quem, onde, atividades
secundárias, atividades terciárias, etc.
9 Ver Arriagada (2005).

86
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

não remunerado. Essas jornadas diferenciadas têm mostrado que, em


média, as mulheres trabalham mais de 5 horas semanais que os homens,
mas esses resultados são insuficientes para explicar diversos aspectos
das desigualdades de gênero, tais como: por que a inserção das mu-
lheres no trabalho remunerado é de apenas 52,3%, um pouco mais da
metade da população feminina em idade para trabalhar? E por que as
mulheres, em quase a sua totalidade e independente da condição de
ocupação realizam afazeres domésticos?
Para uma análise com a perspectiva de gênero, os resultados mos-
tram que 92,1% das mulheres realizam afazeres domésticos e 33,3% re-
alizam atividades de cuidado (Tabela 3). No caso dos homens os percen-
tuais são 78,1% e 24,5%, respectivamente. Claramente um maior número
de mulheres desempenha as atividades de afazeres e cuidados, mas de
acordo com a metodologia de captação da PNAD Contínua, a pergunta
se na semana alguma vez lavou uma louça, por exemplo, faz com que
o percentual apresente-se de maneira elevada, se comparado com os
resultados da PNAD anual. Esses resultados, no entanto, não significam
que os homens se identificam ou se consideram responsáveis pelos afa-
zeres domésticos. Tais aspectos ficam evidentes quando comparados
com as jornadas médias semanais em afazeres e cuidados informadas
que são de 21,3 horas para as mulheres e 10,9 para os homens.

Tabela 3
Pessoas de 14 anos ou mais de idade que realizam afazeres domésticos e
cuidados, total e percentual em relação a população total - Brasil - 2018

(x1000)

Sexo Afazeres domésticos % Cuidados %

Total 144 905 85,5 49 349 29,1


Homens 62 918 78,1 19 728 24,5
Mulheres 81 987 92,1 29 621 33,3
Fonte: IBGE/PNADC 2018.
Nota: Afazeres domésticos e cuidados no domicílio.

87
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Essa forma agregada de captar o tempo dispendido em tais ativida-


des dificulta a identificação das desigualdades entre homens e mulheres
na realização das mesmas. Além disso, considerando que o informante
é orientado a responder sobre o tempo gasto no período de domingo
a sábado que precede a entrevista acerca do seu tempo e dos demais
moradores que realizam tais atividades. Com certeza o fator memória
impacta nessas estimativas, pois diferentemente das pesquisas de uso
do tempo, em que há um diário onde o morador selecionado especifica
sobre as atividades realizadas e o tempo gasto. Metodologia similar é
aplicada nas Pesquisas de Orçamento Familiar, onde as pessoas contabi-
lizam os gastos monetários. Isso não significa, no entanto, que perguntar
às pessoas o tempo gasto em cada atividade vai ser efetivo, visto que a
metodologia e os propósitos da PNAD Contínua não se adequam a cap-
tação desse tipo de informação. Certamente o que se observará é uma
superestimação do tempo em determinadas atividades e a subestimação
em outras.
Outro aspecto importante a ser ponderado é a captação da infor-
mação dos afazeres domésticos e cuidados quando realizado no próprio
domicílio e em domicílio de parentes. Esse é mais um recurso metodo-
lógico, pois os resultados apresentados indicam pouca diferenciação em
relação à taxa de realização dos afazeres domésticos. É como afirmar que
quase 180 mil pessoas não prepararam alimentos, não lavam louças, não
fazem reparos domésticos, não limpam a casa ou quintal, não cuidam da
organização do domicílio, não fazem compras, não cuidam de animais
ou qualquer outra atividade doméstica no domicílio, mas realizam algu-
ma dessas atividades em domicílio de algum parente.
No caso brasileiro, os resultados indicam que as pessoas mais jo-
vens e as mais velhas apresentam uma taxa de realização de afazeres
domésticos menor, comparada com a população de 25 a 49 anos de
idade, o que pode estar relacionado com a dedicação aos estudos na
população de 14 a 24 anos. Contudo, vale ressaltar que a taxa de realiza-
ção de afazeres entre as meninas nessa faixa etária é de 86,4%, acima da
média nacional, o que nos permite afirmar que as meninas já desde cedo

88
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

realizam essas atividades. Enquanto entre os meninos nessa faixa etária


a taxa é de 66,3% (Tabelas 4 e 5). A média de horas dessas jovens com
afazeres e cuidados é muito próxima da média nacional. Um aspecto
cultural que perpassa gerações, que cristaliza no tecido social a visão de
que as atividades domésticas são de responsabilidade feminina. No caso
da população mais velha, algumas hipóteses podem explicar a ligeira
queda na participação e horas dedicadas aos afazeres domésticos. Uma
delas pode estar associada ao fator geracional, considerando que outros
membros mais novos no domicílio podem ser responsáveis por tais ati-
vidades; outra hipótese pode estar relacionada com a atribuição de tais
atividades a pessoas contratadas.

Tabela 4

Taxa de realização de afazeres domésticos das pessoas de 14 anos ou mais de


idade segundo os grupos de idade - Brasil - 2018

Grupos de idade Total Homens Mulheres


Total 85,5 78,1 92,1
14 a 24 anos 76,2 66,3 86,4
25 a 49 anos 89,3 82,5 95,6
50 anos ou mais 86,1 80,3 90,9
Fonte: IBGE/PNADC 2018.

Tabela 5

Jornada média semanal com afazeres domésticos e cuidados das pessoas de 14


anos ou mais de idade segundo os grupos de idade - Brasil - 2018

Grupos de idade Total Homens Mulheres


14 a 24 anos 12,5 8,7 15,6
25 a 49 anos 17,3 11,1 22,3
50 anos ou mais 18,3 11,8 23,0
Fonte: IBGE/PNADC 2018. Elaboração própria.

89
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

A realização dos afazeres é tão naturalizada para as mulheres que a


escolaridade pouco influencia na taxa de realização de afazeres domés-
ticos. No caso dos homens, por sua vez, a taxa de realização tende a se
elevar entre os mais escolarizados. Possivelmente para esse grupo haja
uma percepção da importância de compartilhar as atividades entre as
mulheres, visto que são homens mais jovens que têm acompanhado o
avanço das mulheres no mercado de trabalho. No entanto, quando se
busca compreender o que representa esse ‘compartilhar’ considerando
a distribuição do tempo entre homens e mulheres nessas atividades ve-
rifica-se que esta pouco se alterou10. A jornada média dos homens com
nível superior em afazeres domésticos e cuidados é ligeiramente menor
em relação aos menos escolarizados, mas a desproporcionalidade em
relação à jornada masculina é praticamente a mesma, pois as mulheres
com a mesma escolaridade despendem 7 horas a mais nessas atividades
(Tabelas 6 e 7).

Tabela 6

Taxa de realização de afazeres domésticos das pessoas de 14 anos ou mais de


idade segundo os níveis de instrução - Brasil - 2018

Nível de Instrução Total Homens Mulheres

Total 85,5 78,1 92,1

Sem instrução e fundamental incompleto 82,1 74,2 90,0

Ensino fundamental completo e médio incompleto 84,5 76,4 92,6

Ensino médio completo e superior incompleto 87,8 81,2 93,5

Superior completo 90,0 85,3 93,2

Fonte: IBGE/PNADC 2018.

10 Ver também Vicente (2018).

90
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Tabela 7

Jornada média semanal com afazeres domésticos e cuidados das pessoas de 14


anos ou mais de idade segundo os níveis de instrução - Brasil - 2018

Nível de Instrução Homens Mulheres

Total 10,9 21,3

Sem instrução e fundamental incompleto 11,1 22,6

Ensino fundamental completo e médio incompleto 10,4 21,1

Ensino médio completo e superior incompleto 10,8 19,5

Superior completo 10,9 18,1

Fonte: IBGE/PNADC 2018.

As atividades exercidas por homens e mulheres nos lares descrevem


padrões de gênero bastante distintos. Do grupo de atividades desempe-
nhadas nos domicílios, as mulheres são maioria em quase todas, exce-
to na atividade de reparos domésticos cuja participação é de 30,6%. As
maiores taxas de participação feminina são evidenciadas nas atividades
rotineiras de preparo de alimentos e limpeza da louça e das roupas cujos
percentuais ultrapassam 90% (95,5% e 90,9%, respectivamente). A parti-
cipação dos homens nas atividades domésticas se destaca nas atividades
de compras, pagamento de contas e limpeza do quintal cuja participação
varia de 68% a 72%. As duas primeiras atividades estão relacionadas à
gestão do dinheiro, aspecto de controle e poder como aponta vários es-
tudos feministas (Tabela 8).
A subordinação da mulher e a visão de que o cuidado da casa e da
família é uma obrigação delas, muitas das vezes é resultado da falta de
autonomia econômica. Como aponta Hirata (2015), não se pode pensar a
divisão social e sexual do trabalho sem associá-la a uma divisão do poder
e do saber na sociedade e na família. Para a autora, um poder desigual no
mercado econômico reforça e exacerba o poder desigual na família. Logo,
mesmo na esfera das atividades domésticas, essas relações de poder se re-
produzem, fazendo com que as mulheres tenham uma participação mais

91
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

expressiva em atividades domésticas que exigem mais esforço e tempo e


são de menor prestígio social. Os homens, por sua vez, se concentram em
atividades domésticas que permitem ter o controle monetário.

Tabela 8

Proporção de pessoas de 14 anos ou mais de idade que realizam afazeres


doméstico segundo o tipo de atividade realizada e sexo - Brasil - 2018

Atividades Total Homens Mulheres

Preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa


80,4 60,8 95,5
ou lavar louça

Cuidar da limpeza ou manutenção de roupas


74,9 54,0 90,9
e sapatos

Fazer pequenos reparos ou manutenção do


domicílio, do automóvel, de eletrodomésti- 43,0 59,2 30,6
cos...

Limpar ou arrumar o domicílio, a garagem, o


76,2 68,3 82,2
quintal ou o jardim

Cuidar da organização do domicílio (pagar


contas, contratar serviços, orientar emprega- 72,3 71,4 72,9
dos, etc.)

Fazer compras ou pesquisar preços de bens


74,9 72,0 77,1
para o domicílio

Cuidar dos animais domésticos 45,2 43,0 46,9

Fonte: IBGE/PNADC 2018.

A participação das mulheres no mercado de trabalho não altera o


cenário delas em relação aos afazeres. Se, por um lado, a participação no
mercado de trabalho reduz a dependência econômica, de outro inten-
sifica a relação delas com os afazeres, visto que a taxa de participação

92
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

em tais atividades não somente aumenta como a jornada total se tor-


na mais elevada. Quase 95% das mulheres ocupadas realizam afaze-
res domésticos, cuja jornada semanal com afazeres excede a jornada
masculina em cerca de 8 horas semanais. A ‘dupla jornada’ revela uma
carga de trabalho de 54,7 horas semanais para as mulheres ocupadas.
Os resultados da tabela 9 nos revelam ainda que a taxa de participação
das mulheres não ocupadas nos afazeres tende a ser um pouco menor,
pois nesse grupo estão inseridas as mais jovens e as mais velhas, cuja
não realização de afazeres pode estar relacionada com os estudos ou a
realização por outros membros da família. A jornada das mulheres não
ocupadas com afazeres é cerca de o dobro da jornada masculina (23,8
horas semanais) nessa mesma condição, o que mostra que a decisão e o
tempo dedicado a essas atividades estão mais relacionados ao sexo que
a posição de provedora de renda no domicílio. Cerca de 90% das mulhe-
res não ocupadas trabalham nos domicílios sem qualquer remuneração
realizando atividades essenciais para a reprodução social e econômica
do país (Tabelas 9 e 10).
A invisibilidade do trabalho das mulheres nas estatísticas oficiais,
como ressalta Maruani e Meron (2012), é uma realidade há anos e
embora os países tenham avançado nas metodologias de mensuração
do trabalho, a produção de estatísticas que divulgue a contribuição
econômica ainda é bastante incipiente. As resoluções da 19 CIET, que a
maioria dos países tem seguido inclusive o Brasil, se baseiam em uma
definição de trabalho cuja principal característica é o recebimento de
remuneração. Sendo assim, o ‘trabalho’ de 44 milhões de mulheres
não ocupadas com afazeres domésticos e cuidados não produz um
fluxo monetário, fazendo com que esse tempo dispendido por essas
pessoas estejam fora da fronteira de produção do SCN. Logo, identi-
ficar formas de trabalho não remunerado significa reconhecer que a
dinâmica do sistema econômico é também resultado do trabalho de
pessoas fora da força de trabalho ou na força de trabalho potencial.
Além disso, parcela significativa desse grupo não está na força de tra-
balho porque tem que cuidar de afazeres domésticos (19,7%), segun-
do os resultados da PNAD Contínua.

93
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Tabela 9
Taxa de realização de afazeres domésticos das pessoas de 14 anos ou mais de
idade segundo a condição de ocupação - Brasil - 2018

Condição de ocupação Total Homens Mulheres


Total 85,5 78,1 92,1
Ocupadas 87,9 82,5 94,9
Não ocupadas 82,6 70,6 89,8
Fonte: IBGE/PNADC 2018.

Tabela 10
Jornada média semanal com afazeres domésticos e cuidados das pessoas de 14
anos ou mais de idade segundo a condição de ocupação - Brasil - 2018

Condição de ocupação Homens Mulheres

Ocupadas 10,4 18,5

Não Ocupadas 12,0 23,8

Desocupadas 12,6 22,5

Fonte: IBGE/PNADC 2018. Elaboração própria.

Na PNAD Contínua os resultados indicavam que, em 2018, o cuida-


do de pessoas no domicílio ou parentes era uma realidade para 26,1%
dos homens e 37% das mulheres de 14 anos ou mais de idade. Com
esses resultados, no entanto, pouco se pode afirmar se estes valores
são baixos ou não, visto que é a primeira vez que tais aspectos são in-
vestigados de forma separada. Entretanto, quando é feita a comparação
com alguns países que já realizaram a pesquisa de Uso do Tempo, como
o Peru, por exemplo, os percentuais de pessoas que realizam cuidados
são mais elevados. O cuidado de crianças e adolescentes nesse país é
uma realidade para 44,1% dos homens e 56,4% das mulheres. Quando

94
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

se analisa a distribuição por sexo nas atividades de cuidados de pessoas


com deficiência ou idosos dependentes e os cuidados de pessoas com
enfermidades o percentual de mulheres que realizam tais atividades é
ainda mais elevado, 67,8% e 63,0% respectivamente (PERU, 2011).
No caso brasileiro, a maior taxa de realização de cuidados ocorre na
faixa etária de 25 a 39 anos, visto que entre os homens essa taxa atinge
o percentual máximo de 31,9% e de 50,2% para as mulheres (Tabela 11).
Em relação às características de rendimento, as maiores taxas de realiza-
ção de cuidados ocorrem nas faixas de menor rendimento domiciliar per
capita. O percentual de mulheres na realização dos cuidados se reduz à
medida que avança o rendimento, visto que na classe de até ¼ salário
mínimo o percentual chega a 49,6% enquanto na classe de mais de 5
salários mínimos o percentual se reduz para 19,1%. A taxa de participa-
ção dos homens nos cuidados na faixa de rendimento domiciliar mais
baixa é de 28%. Além disso, os resultados na PNAD 2015 indicavam que
as famílias mais pobres eram as que menos tinham acesso às creches.
Nas famílias com crianças até 1 ano de idade e rendimento familiar per
capita inferior a ½ salário mínimo a taxa de frequência à creche era de
6,9%, enquanto nas famílias com criança nessa idade e com rendimento
familiar per capita acima de 2 SM a taxa se eleva para 32%. No caso de
crianças com 3 anos de idade, esses percentuais se elevam para 38,7% e
79,3%, respectivamente11.
Vale ressaltar que é na faixa etária de 25 a 39 anos que a taxa de
participação no mercado de trabalho é mais elevada para ambos os
sexos, assim como é mais intensa a realização de cuidados, visto que
incide também nessa faixa etária uma maior taxa de fecundidade. Logo,
para as mulheres de menor renda e sem poder contar com aparatos pú-
blicos ou políticas públicas voltadas para os cuidados, a inserção e per-
manência no mercado de trabalho muitas vezes não é uma escolha. Pelo
contrário, parcela significativa delas ficam inviabilizadas de gerar renda
e serem economicamente produtivas. Na PNAD Contínua há a pergunta

11 Na PNAD Contínua 2018 a taxa de frequência bruta das crianças de 0 a 3 anos é de 34,2%.

95
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

para as pessoas não ocupadas acerca do motivo pelo qual a pessoa não
procurou trabalho ou não gostaria de ter trabalhado ou não estava dis-
ponível para iniciar um trabalho e 35,5% das mulheres declaram que o
principal motivo era o cuidado com afazeres, filhos ou outros parentes.

Tabela 11

Pessoas de 14 anos ou mais de idade que realizam cuidados, total e percentual


em relação a população total - Brasil - 2018

Cuidados Cuidados (inclusive não


Sexo % %
(x1000) moradores) (x1000)
Total 49 349 29,1 53 951 31,8
Homens 19 728 24,5 21 001 26,1
Mulheres 29 621 33,3 32 950 37,0
Fonte: IBGE/PNADC 2018.

A importância das informações de uso do tempo para os


estudos de gênero

As informações de uso do tempo dos indivíduos são fundamentais


nos diversos campos das políticas públicas, mas são as(os) pesquisado-
ras(es) feministas ou da área de gênero, organismos internacionais e or-
ganizações para o avanço das mulheres que mais têm impulsionado a
produção de estudos e pesquisas empíricas12. As últimas décadas foram
bastante profícuas acerca do aumento do número de estudos que abor-
dam a distribuição do tempo das pessoas nas atividades, principalmen-
te acerca da distribuição desigual entre homens e mulheres do trabalho
não remunerado. No Brasil, os estudos pioneiros de Amaury de Souza

12 A produção de estudos e pesquisas sobre o uso do tempo ganhou impulso na segunda


metade da década de 1990 quando uma das resoluções da IV Conferência Internacional
da Mulher, realizada em Beijing, em 1995, recomendou a produção de ‘meios estatísticos
apropriados’ para mensurar o trabalho não remunerado nos domicílios (AGUIRRE E
FERRARI, 2014).

96
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

na década de 1970 e de Neuma Aguiar no final dos anos 199013 abriram


espaço para as reflexões sobre os diversos aspectos da temporalidade nas
relações sociais.
Em virtude das agendas internacionais, atualmente há duas grandes
abordagens que se destacam a partir das informações de uso do tempo
nos países. A primeira abordagem se refere à evidenciação da distribuição
desigual do trabalho não remunerado entre homens e mulheres, cujas
repercussões socioeconômicas implicam em sobrecarga de trabalho para
as mulheres, menor autonomia econômica e uma inserção precária no
mercado de trabalho. A outra abordagem consiste na mensuração do va-
lor da contribuição do trabalho não remunerado para a economia. Como
as mulheres são maioria no trabalho não remunerado, essa valoração sig-
nifica não somente dar visibilidade ao trabalho feminino realizado nos
lares, mas o reconhecimento social e econômico acerca do papel funda-
mental delas na promoção do bem-estar e funcionamento da economia.
Entretanto, vale destacar que as mulheres não querem somente reconhe-
cimento, mas políticas públicas que promovam o rompimento de padrões
sociais sexistas e a construção de novos modelos mais igualitários, de
compartilhamento das tarefas domésticas, de oferta de serviços de cui-
dados, de proteção social, possibilitando às mulheres ocupar os diversos
espaços da vida social.
Em 2015, em substituição aos Objetivos do Desenvolvimento do
Milênio, os 193 estados membros das Nações Unidas ratificaram uma
nova agenda global: os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS
ou Agenda 2030. Nesse pacto global foram estabelecidos 17 objetivos e
169 metas a serem alcançadas pelos países. A igualdade de gênero re-
presenta um dos 17 objetivos e há consenso de que este é um objeti-
vo que perpassa todos os demais. Ainda no âmbito da Agenda 2030 foi
aprovada em 2016 a Estratégia de Montevidéu para implementação da
agenda regional de gênero para os ODS. O eixo 9 de implementação
da Estratégia de Montevidéu preconiza sobre a importância dos dados

13 Ver Pinheiro (2016).

97
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

enquanto informação, esta última como conhecimento que, por sua vez,
implica em decisão política (CEPAL, 2017). Nesse sentido, este documento
aprovado na XIII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina
e do Caribe reforça o quanto é necessário o fortalecimento da produção
estatística nos países, como uma importante estratégia para a promoção
da igualdade de gênero.
Na América Latina e Caribe, as pesquisas de uso do tempo têm mos-
trado que o tempo gasto das mulheres com afazeres domésticos e cui-
dados é significativamente superior ao tempo observado para os homens
nessas atividades. Embora os países apresentem metodologias distintas
no cálculo do tempo gasto com afazeres domésticos e cuidados, o que
faz com que as estimativas não sejam comparáveis, é possível mensurar
a desigualdade entre homens e mulheres em relação ao tempo dedicado
a essas atividades. Uma maior jornada em trabalho não remunerado im-
plica não somente um menor tempo para o trabalho remunerado e lazer,
mas uma redução do bem-estar e da autonomia econômica, pois limita a
participação das mulheres no trabalho remunerado.
Os dados apresentados na tabela 12 indicam o percentual do tempo
que é dedicado à realização de afazeres domésticos e cuidados de uma
jornada de 24 horas. Um resultado que pode ser extraído desse indica-
dor é a diferença do percentual do tempo dedicado das mulheres em
relação ao percentual do tempo dos homens. É possível verificar que o
Brasil apresenta a menor diferença entre os sexos no percentual do tem-
po dedicado aos afazeres domésticos e cuidados (6.5 pontos percentu-
ais). A maior diferença, por sua vez, é observada na Guatemala (17 pontos
percentuais). Por outro lado, buscando evitar os efeitos das diferenças
metodológicas das pesquisas, outra forma de analisar esse indicador é
através da desigualdade relativa entre homens e mulheres no percentual
do tempo gasto com afazeres domésticos e cuidados. Os resultados indi-
cam que a desigualdade varia de 1.7 em Cuba a 6.9 na Guatemala, ou seja,
nesse último país o tempo gasto pelas mulheres com afazeres e cuidados
é quase 7 vezes mais o tempo gasto pelos homens.

98
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Tabela 12

América Latina (18 países): Proporção do tempo dedicado aos afazeres


domésticos e cuidados não remunerados por sexo
Indicador 5.4.1 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (% dia)

País Homem Mulher Desigualdade


Argentina 2013 9,3 23,4 2,5
Bolívia 2001 12,1 23,1 1,9
Brasil 2017 5,1 11,6 2,3
Chile 2015 10,8 24,7 2,3
Colômbia 2017 5,2 17,9 3,4
Costa Rica 2017 8,7 22,6 2,6
Cuba 2016 12,5 21 1,7
Equador 2012 4,7 19,8 4,2
El Salvador 2017 7 20,2 2,9
Guatemala 2017 2,9 19,9 6,9
Honduras 2009 4,3 17,3 4,0
México 2014 7,5 23,7 3,2
Nicarágua 1998 12,1 22,9 1,9
Panamá 2011 7,6 18 2,4
Paraguai 2016 4,4 15 3,4
Peru 2010 7,3 21 2,9
Rep. Dominicana 2016 3,8 16,7 4,4
Uruguai 2013 8,4 19,9 2,4
Fonte: Cepal, 2019.

A abordagem da valorização do trabalho feminino não remunerado


e sua contribuição para a economia estão explicitadas na meta 5.4 dos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. No entanto, para o cálculo
da produção doméstica do país um insumo fundamental é a pesquisa
nacional de uso do tempo. Vários países, incluindo o Brasil, ainda não
possuem uma PNUT e as justificativas para a não implementação decor-
rem desde a disponibilidade de recursos à complexidade do processo
estatístico. Mas este não é o único entrave, pois para a construção da
conta-satélite do trabalho não remunerado é necessário definir ainda

99
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

que método de valoração do trabalho doméstico não remunerado será


adotado. Na literatura há referência para três métodos: i) custo de opor-
tunidade, ii) custo dos trabalhadores especializados e iii) custo do traba-
lho doméstico remunerado14 (ARRIAGADA, 2005).
A proposta de construção da conta-satélite do TDNR parte do
pressuposto de que o tempo gasto tem um valor e contribui para o
bem-estar social. As referências teóricas dessa abordagem econômica
do tempo enquanto um bem tem origem no artigo seminal de Becker
(1965). Para o autor, a partir da teoria da escolha, o tempo pode ser tra-
tado como um bem que faz parte da cesta de consumo do indivíduo e
tem um custo associado. Posteriormente, no Tratado da Família, Becker
(1991) retoma essa formulação teórica que assume novos contornos. Ele
menciona que cada membro da família deve se especializar em ativida-
des (no mercado de trabalho ou na produção doméstica) que possuem
vantagens comparativas. Sendo assim, é possível deduzir que as mulhe-
res se concentram no trabalho doméstico em virtude de suas vantagens
comparativas nessas atividades.
As estimativas acerca do valor econômico do trabalho não re-
munerado apresentam valores bastante diferenciados entre os países.
Segundo os dados da Cepal para alguns países com PNUT e que pro-
duziram a conta-satélite do trabalho não remunerado, a menor contri-
buição em relação ao PIB nacional é observada na Colômbia (2,4%) e a
maior no México (24,2%)15. No Brasil, estimativas não oficiais produzidas
por pesquisadores projetam uma contribuição intermediária de cerca
de 12%16. Não é objetivo aqui problematizar acerca da diferença desses
valores da contribuição do trabalho não remunerado; no entanto, há

14 O primeiro custo está relacionado ao salário que se poderia obter no mercado dadas as
qualificações. O segundo custo considera o salário médio do profissional especializado.
Por fim, o terceiro custo corresponde ao salário médio do trabalhador doméstico no
mercado. A título de exemplo, no Peru, a estimação do valor do trabalho não remunerado
no PIB apresentou o maior percentual utilizando o método 2 do custo do profissional
especializado.
15 Vale ressaltar que nesses dois países a PNUT foi conduzida como pesquisa independente e
de abrangência nacional.
16 Ver Melo et al. (2016).

100
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

uma lacuna na literatura feminista acerca da apropriação e interpretação


desses resultados das contas satélites do TDNR. Em termos de políticas
públicas, o que as mulheres no México podem reivindicar além do reco-
nhecimento que o trabalho delas representa um incremento de 24,5%
no PIB nacional?

Tabela 13

Valor econômico do trabalho não remunerado como percentual do PIB

Países %
Colômbia 2012 2,4
Costa Rica 2011 15,7
Equador 2012 15,2
El Salvador 2010 21,3
Guatemala 2014 18,8
México 2014 24,2
Peru 2010 20,4
Uruguai 2013 22,9
Fonte: Cepal, 2019.

As aplicações dos resultados da PNUT não se restringem às con-


ta-satélites e alguns autores, por exemplo, têm utilizado abordagens
alternativas como o cálculo da linha de pobreza de renda e tempo e a de
transferências intergeracionais de tempo. O estudo de Esquivel (2016)
inclui a dimensão do tempo na mensuração da pobreza. A hipótese da
autora é que não somente o trabalho remunerado contribui para o bem-
-estar econômico, mas também o trabalho não remunerado. O déficit
de tempo das pessoas que precisam suprir as necessidades de trabalho
doméstico e cuidados constitui um fator de ‘empobrecimento’ quando
não compensado pelo rendimento do trabalho no mercado17. Numa ex-
tensão da análise, a autora considera ainda três dimensões de privação
17 A autora constata ainda que quanto maior a incidência da pobreza de tempo mais elevada
é a probabilidade de se incorrer em pobreza de renda.

101
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

que exprimem as desigualdades de gênero: a inserção no mercado de


trabalho, as estruturas demográficas e as políticas sociais de cuidado.
O estudo de Jesus (2018) evidencia a iniquidade de gênero nas
transferências intergeracionais de tempos do trabalho não remunerado,
particularmente relativo às atividades domésticas. As estimativas da au-
tora indicam que as mulheres em todo o curso da vida transferem traba-
lho doméstico não remunerado para os homens, que são consumidores
líquidos. A partir da imputação do tempo dispendido nessas atividades
com a valoração do tempo gasto, a autora conclui que essa “produção”
doméstica corresponderia a 10,4% do PIB brasileiro.
Há ainda estudos como o de Itaboraí (2016) que muda o eixo do de-
bate da importância das informações de uso do tempo para vislumbrar
as desigualdades entre homens e mulheres a partir de uma perspectiva
econômica para uma vertente mais sociológica. A autora destaca que
as estatísticas de uso do tempo constituem uma dimensão importante
para a análise das desigualdades de classe e gênero inter e intrafamiliar
no caso brasileiro. Ela destaca também que as mudanças sociodemo-
gráficas recentes como a postergação do casamento e a diminuição do
número de filhos implicaram uma redução da carga de trabalho femi-
nina com os afazeres e cuidados. Mas para essa redução ser maior são
necessários mecanismos de redistribuição do trabalho doméstico entre
os membros da família o que, por sua vez, depende de mudanças nas
relações de gênero e geracionais. Outro mecanismo é o provimento dos
serviços de afazeres e cuidados pelo mercado ou oferta pública.

Considerações finais

A IV Conferência Internacional das Mulheres, realizada em Beijing,


em 1995, consiste num importante marco para o reconhecimento e en-
frentamento das desigualdades de gênero nos países. Uma das grandes
limitações à autonomia econômica das mulheres é a desigualdade na
distribuição do trabalho remunerado e não remunerado no âmbito das

102
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

famílias. Com base na Plataforma de Ação de Beijing e com o apoio de


organismos internacionais e organizações para o avanço das mulheres,
nas últimas décadas os países deram um grande impulso à promoção
da igualdade de gênero, principalmente no que se refere à produção e
disseminação de estatísticas de gênero.
O plano de ação é específico na importância de os países produ-
zirem estatísticas que deem visibilidade e quantifique o trabalho não
remunerado realizado nos domicílios, cuja responsabilidade recai am-
plamente sobre as mulheres. No caso brasileiro, as inovações metodo-
lógicas na PNAD Contínua permitiram que o país avançasse no deba-
te nacional e internacional sobre trabalho não remunerado e gênero.
No entanto, com a aplicação da pesquisa piloto de uso do tempo18 no
Brasil, em 2010, gerou-se a expectativa de que o país, assim como vá-
rios países da América Latina e Caribe, incluiria no seu plano de produ-
ção estatística a Pesquisa Nacional de Uso do Tempo. A implantação da
PNUT permitiria não somente suprir uma das muitas lacunas estatísticas
para a formulação e promoção de políticas de gênero e de cuidados no
Brasil, mas trazer para as análises sociais e econômicas a dimensão do
tempo, aspecto que é estudado pelas nações mais desenvolvidas desde
a década de 1960.
Os resultados da PNAD Contínua permitiram detalhar um pouco
mais as atividades não remuneradas de afazeres domésticos e cuidados
realizados por homens e mulheres, possibilitando mensurar em termos
nacionais o que vários estudos já evidenciavam acerca da baixa adesão
dos homens e a realização de tarefas geralmente esporádicas como a
limpeza do quintal e o pagamento de contas. Este último aspecto, inclu-
sive, está associado às relações de poder e dominação no interior dos
domicílios, onde os homens são os detentores de recursos financeiros
e as mulheres, na maioria das vezes sem capacidade de escolha, são as
responsáveis pela maior carga de trabalho doméstico.

18 A pesquisa piloto de uso do tempo 2009-2010 foi aplicada em 5 Unidades da Federação


de cada região do Brasil e foi resultado do convênio entre a Secretaria de Política para as
Mulheres e o IBGE (CAVALCANTI et al., 2010).

103
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Por outro lado, cabe ressaltar que a nova metodologia da PNAD


Contínua levou também a outras limitações acerca da produção de es-
tudos e indicadores que relacionam o trabalho não remunerado com
as demais características sociodemográficas da população. Na PNAD
anual, como as informações de afazeres e cuidados faziam parte das
informações básicas ou estruturais da pesquisa, sempre era possível
relacionar tais características com os demais temas sociodemográficos
que complementavam a pesquisa, na forma de módulo ou suplemento.
Soares (2016), por exemplo, relacionou os dados gerais da PNAD 2008
que inclui o suplemento de saúde para mostrar como as diversas es-
truturas de cuidados (famílias com filhos menores, idosos, pessoa com
doença crônica etc.) podem impactar o trabalho feminino remunera-
do e não remunerado. Esse tipo de abordagem no modelo atual fica
inviabilizado se, por exemplo, não é introduzido o tema de saúde na
PNAD Contínua ou se o trabalho não remunerado não é introduzido na
Pesquisa Nacional de Saúde.
Ao disponibilizar o indicador de proporção do tempo gasto em
trabalho doméstico e de cuidados por sexo, a partir dos resultados da
PNAD Contínua, o país divulga uma medida que ilustra a meta 5.4 dos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, onde um dos eixos é a pro-
moção da igualdade de gênero. Nessa meta se objetiva reconhecer e
valorizar o trabalho não remunerado a partir da oferta de serviços pú-
blicos, infraestrutura, políticas de proteção social e a promoção de res-
ponsabilidade compartilhada nos lares. No entanto, pela falta de uma
pesquisa nacional de uso do tempo, o país não disponibiliza para a so-
ciedade recursos estatísticos apropriados para mensurar a contribuição
econômica das mulheres no PIB com a produção doméstica de afazeres
e cuidados, assim como deixa uma lacuna em informações essenciais
para as políticas de gênero e de proteção social em um país cujo rápido
processo de envelhecimento populacional impõe novos desafios.

104
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

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107
Uso do tempo e valoração do trabalho não
remunerado no Brasil

Hildete Pereira de Melo


(UFF)
Lucilene Morandi
(UFF)
Ruth Helena Dweck
(UFF)

Introdução

No início do século XXI, a publicação pelo Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE) de uma variável relativa ao tempo dispen-
dido pelas pessoas para a reprodução da vida – afazeres domésticos e
cuidados – na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios possibilitou
que fosse desenvolvida uma linha de pesquisa relativa ao “trabalho invi-
sível”. O trabalho que as mulheres realizam no interior das suas famílias,
cuidando da reprodução da vida, através da medição das horas dedica-
das aos afazeres domésticos pelas pessoas acima de 10 anos.
O Estado responde às pressões da sociedade e, internamente estas
não foram suficientes para promover as mudanças necessárias na vida
das famílias (THOMÉ, 2019). A pressão do movimento feminista interna-
cional conseguiu colocar na pauta da Organização das Nações Unidas
(ONU) a discussão sobre as discriminações sofridas pelas mulheres no

109
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mercado de trabalho, nas relações familiares e nos espaços de poder.


Como resultado, a ONU convocou, em 1975, a I Conferência Internacional
da Mulher e, desde então, a mobilização feminista conseguiu manter
viva esta agenda política no âmbito internacional e em todos os países.
A partir de 2001 a PNAD-Anual (IBGE) passou a divulgar as infor-
mações sobre o trabalho não remunerado que as pessoas (majoritaria-
mente mulheres) realizam para a reprodução da vida. O acesso a esses
dados, através de seus microdados, davam início ao desnudamento da
desigualdade de sexo e raça nos dados macroeconômicos, possibilitan-
do a análise da articulação entre o espaço produtivo e o reprodutivo na
sociedade. O mais importante foi que estes dados permitiram a análise
da categoria afazeres domésticos, para o Brasil, e significava um grande
avanço na luta que as feministas do mundo faziam sobre a invisibili-
dade do trabalho das mulheres, desde o século XIX. Deve-se ressaltar,
no entanto, que a PNAD-Anual já havia incorporado algumas dessas
perguntas sobre afazeres domésticos e cuidado, desde 1992, a pedidos
de organismos internacionais, que estavam especialmente preocupados
com o avanço do trabalho infantil no mundo. Uma questão importan-
te é por que estas informações na pesquisa não haviam sido incluídas
como resposta às demandas do movimento feminista em todo o mun-
do e a resposta talvez seja que, à época, as economistas feministas não
tinham nenhum espaço respeitado como campo de investigação no in-
terior da teoria econômica (MELO; SERRANO, 1997) e as que se arrisca-
ram, no passado, a fazer esta denúncia foram esquecidas ou ignoradas
(VANDELAC; BÉLISIE; GAUTHIER; PINARD, 1985).
As estatísticas publicadas pela PNAD-Anual desde então, permiti-
ram que um pequeno grupo de economistas da Universidade Federal
Fluminense publicasse, em 2005, uma primeira pesquisa que analisava
a divisão sexual do trabalho no caso brasileiro. O artigo valorava os afa-
zeres domésticos e o valor do trabalho não remunerado que, como a
pesquisa mostrava, era realizado basicamente pelas mulheres (MELO;
CONSIDERA; SABBATO, 2005). O trabalho teve grande repercussão, prin-
cipalmente a partir da publicação de seus resultados na mídia, nos jornais

110
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

O Valor Econômico (2005), Folha de São Paulo, com o artigo “Falta mãe
nas estatísticas”, do jornalista Luís Nassif. Até mesmo a Câmara Federal
promoveu discussões em plenário (NASSIF, 2005).
A pesquisa sobre a importância do trabalho não remunerado para
o desvendamento das desigualdades e discriminações, principalmente
relacionadas às mulheres, na sociedade contemporânea, teve prosse-
guimento no âmbito da Faculdade de Economia (UFF) e, atualmente, é
desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisa em Gênero e Economia (NPGE),
já tendo gerado diversos livros, capítulos e artigos publicados e apre-
sentados em congressos nacionais e internacionais.
Todavia, o tema não era novo na literatura internacional das ciên-
cias sociais. Pesquisas de uso do tempo já vinham sendo debatidas nos
EUA e Europa. No Brasil, a referência eram os trabalhos da professora
Neuma Aguiar, desde o histórico seminário que coordenou, em 1978,
realizado no IUPERJ, no Rio de Janeiro. Este seminário reuniu pesquisa-
doras pioneiras sobre os diferentes olhares do trabalho feminino.1
Na atualidade, há um maior entendimento sobre a importância das
pesquisas de uso do tempo e a criação de um indicador social do traba-
lho não remunerado para o Brasil. Isso obedece às diretrizes das reco-
mendações definidas nas Metas do Milênio da ONU como uma medida
necessária para a redução da desigualdade entre os sexos (CEPAL, 2018;
IPEA, 2016). A mensuração do trabalho não remunerado deve ser feita
através da incorporação de uma Conta-Satélite ao Sistema de Contas
Nacionais (SCN). O objetivo desta conta é explicitar o valor do trabalho
não remunerado, mostrando sua relevância social para a geração de ri-
queza. Este trabalho é realizado por pessoas em favor dos membros de
sua família, sem receberem por isso qualquer remuneração. Por não ser
comercializado no mercado e, portanto, por não ter um preço explicita-
do, esse trabalho torna-se invisível à sociedade. O valor oficial da pro-
dução agregada (Produto Interno Bruto – PIB) está representado pelas

1 Ver mais detalhes no capítulo deste livro que traz a entrevista com a professora Neuma
Aguiar.

111
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

estatísticas oficiais, que consideram como produção os bens e serviços


produzidos e comercializados, não considerando, portanto, o valor da
produção de bens e serviços gerados pelo trabalho não remunerado.
Estes, por não terem sido comercializados, não têm preço. O trabalho
não remunerado é trabalho rotineiro, deve ser feito sem interrupção,
diariamente, por membros da família. Por demandar tempo de quem o
realiza, pode inviabilizar sua participação, pelo menos de forma plena,
no mercado de trabalho. Como em todo o mundo o trabalho não remu-
nerado é majoritariamente realizado por mulheres, são elas que sofrem
o maior peso dessas atividades (DEDECCA, 2004).
Desde que a Comissão de Estatística das Nações Unidas incorpo-
rou as Contas-Satélites ao cálculo do PIB, ampliou-se o debate sobre
a valorização do trabalho doméstico, tanto no âmbito da comunidade
acadêmica quanto no do Estado. O objetivo de uma conta-satélite da
produção doméstica vai além da mensuração dos trabalhos realizados
no interior das famílias. Serve para desnudar a invisibilidade que cerca
o tradicional “lugar das mulheres” na sociedade. Esta conta discute a
noção de bem-estar e enfatiza o uso do tempo como determinante da
qualidade da vida da população (MELO; CONSIDERA; SABBATO, 2016).
Ao tornar visível a riqueza gerada pelo trabalho não remunerado, é pos-
sível o crescimento e desenvolvimento econômico serem mais justos. É
necessário entender que “só há desenvolvimento quando os benefícios
do crescimento econômico servem à ampliação da capacidade dos se-
res humanos” (TEIXEIRA, 2012, p. 15) para decidirem e fazerem o me-
lhor para suas vidas. Entendendo-se por capacidades humanas ter vida
longa e saudável; instrução; acesso a condições materiais satisfatórias;
e ser capaz e poder participar da vida da comunidade, condições ainda
distantes da vida de milhares de mulheres.
O presente estudo propõe a discussão de uma metodologia para
a criação de um indicador do trabalho não remunerado para o Brasil.
O objetivo é que este indicador contribua para o desenvolvimento de
um indicador social que, ao incluir as diferenças de sexo nas estatís-
ticas macroeconômicas, consiga representar mais adequadamente os

112
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

verdadeiros impactos das decisões de políticas econômicas sobre áreas


prioritárias, como saúde, educação e emprego, vitais para a redução das
desigualdades de gênero e raça. Lembrando que um indicador, apesar
de ser uma medida quantitativa simples, serve para representar fenô-
menos, mesmo que complexos, e para avaliar sua evolução, mudan-
ça e tendência ao longo do tempo. Assim, primeiro faz-se uma breve
apresentação das estatísticas oficiais das contas nacionais, em seguida
das contas-satélites e do seu significado para as estatísticas de gênero,
realçando a importância dos afazeres domésticos e cuidados na socie-
dade e, por último, uma iniciante proposta metodológica para o caso
brasileiro.

O que conta e o que não conta nas estatísticas de gênero

As análises macroeconômicas, bem como as decisões de política


econômica, são baseadas principalmente nos dados gerados pelas con-
tas nacionais. Os níveis de produto agregado, investimento, consumo,
gastos correntes e de investimento do governo, os resultados das re-
lações com o resto do mundo (exportações, importações e fluxos de
capitais), assim como sua taxa de crescimento são gerados pelo Sistema
de Contas Nacionais (SCN), cujo objetivo é “[...] a partir de um marco
estrutural teórico, apresentar recomendações de como obter os dados
para quantificar esse marco” (FEIJÓ; RAMOS, 2008, p. 3).
Uma das principais estatísticas produzidas pelo SCN é, sem dúvida,
o produto agregado (PIB), que representa toda a riqueza, na forma de
bens e serviços, gerada e disponibilizada pelo país num determinado
período. A metodologia de compilação e tratamento dos dados estatís-
ticos gerados pelo SCN sofre aperfeiçoamentos metodológicos que são
seguidos pelos órgãos estatísticos dos diversos países, e visam melhorar
a qualidade e comparabilidade dos dados macroeconômicos dos países.

113
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

No caso brasileiro, a responsabilidade pela elaboração do SCN é do


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).2
No entanto, o PIB ainda não é uma estatística satisfatória para a
tomada de decisões de políticas públicas. Um dos principais proble-
mas está relacionado às ausências/omissões importantes, como a não
inclusão dos custos relacionados à destruição ou mal-uso de recursos
naturais, gerando poluição e prejuízos diversos à saúde e qualidade de
vida; ou a não inclusão do valor dos bens da natureza – árvores, matas,
florestas, lagos, rios, praias, animais silvestres – e seus benefícios, como
a manutenção de habitats e fontes de alimentos, vital para a diversidade
do planeta.3 Além disso, também está ausente das contas nacionais e
do cálculo do PIB o valor de todos os bens e serviços produzidos pelo
trabalho não remunerado (afazeres domésticos e cuidados), realizado
por pessoas em prol dos membros de suas famílias, para gerar e/ou
aumentar o bem-estar de seus membros, sem receberem nenhuma re-
muneração em pagamento.
O importante a destacar é que essas ausências não são inócuas.
Elas têm consequências importantes, principalmente em relação à to-
mada de decisão relativas às políticas públicas. A invisibilidade dos cus-
tos ambientais da produção agrícola e industrial leva a não cobrança de
reparação por parte de quem destrói e implica apropriação privada de
benefício coletivo, porque gera lucro para quem destrói (com a venda
de produto ou serviço) e custo para a sociedade (poluição de água, ar,

2 Após a publicação do primeiro manual, “Definition and measurement of the national income
and related totals”, coordenado por Richard Stone, em 1947, a divisão de estatísticas da ONU
passa a exigir padrões estatísticos internacionais para a compilação e atualização dos dados
econômicos, com a finalidade de torná-los comparáveis e serem fonte para a definição de
políticas públicas. Em 1953 foi publicado “A system of national accounts and supporting
tables”, ou SNA-53, o primeiro manual amplamente adotado para a elaboração do SCN,
com revisões em 1960, 1964 e 1968 (SNA-68). Em 1982 a ONU publicou o “Intersecretariat
Working Group on National Accounts” (ISWGNA), que modernizou as regras de elaboração
do SCN, incorporando todas as evoluções metodológicas, com versões atualizadas em
1993 (SNA-93) e em 2008 (SNA-2008). Ver Hallak Neto (2014).
3 Como bem destaca Waring (1988), a árvore viva, linda sobre a colina, que produzia alimento
e residência a vários animais e beleza para ela, por embelezar a vista desde sua casa, tinha
valor zero nas contas nacionais. Mas se ela subisse a colina e cortasse a árvore, o valor da
lenha ou toras apareceria nas contas nacionais.

114
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

criação de lixo, etc.). Na realidade este custo será coletivo e toda a socie-
dade pagará pela recuperação/limpeza do que foi destruído ou poluído.
Apesar de esse ser um item importante, este texto tratará apenas da au-
sência, nas contas nacionais, da produção relativa ao trabalho realizado
pelas famílias.
Por outro lado, no caso do trabalho não remunerado, a relação é
invertida. O custo é individual enquanto o benefício é público. Nesse
caso, o custo é quase todo de uma classe específica, diferenciada por
seu sexo, ou seja, as mulheres e meninas. Estatísticas mostram que em
todo o mundo as mulheres são as principais responsáveis pela manu-
tenção da casa, disponibilização a tempo e a hora de alimentação e
comida pronta, roupa lavada e passada, criação e educação das crianças
até a idade em que se tornam mais autônomas, pelo cuidado e disponi-
bilização de bem-estar para todos os membros da família, que têm um
trabalho remunerado ou não.
O trabalho das mulheres permite, de um lado, que as empresas se
beneficiem do fato de existir pessoas com disponibilidade de horas para
trabalhar, favorecidas pelo fato de existir alguém em casa para cuidar
das crianças e dos afazeres domésticos, sem custo para a empresa. De
outro lado, algumas pessoas da família podem se empregar e ganhar
salário porque têm garantia de ter roupa lavada, comida preparada,
casa arrumada e filhos/as cuidados/as, serviços que são realizados pe-
las pessoas que não estão trabalhando no mercado remunerado, em
geral mulheres, e que não têm nenhuma remuneração. E, por último,
a sociedade como um todo também ganha, porque a humanidade se
reproduz, as crianças nascem, são alimentadas, educadas e assistidas.
Também a sociedade tem esse benefício sem nenhum custo. Nessa es-
trutura produtiva, as únicas pessoas que têm custo – usam seu tem-
po diário para estas tarefas – e pouco benefício com a realização do
trabalho não remunerado são as mulheres. Em geral, para a realização
desse trabalho as mulheres deixam ou são impedidas, dependendo da
cultura e/ou religião local, de participar do mercado de trabalho remu-
nerado. Com isso tornam-se dependentes de quem trabalha: maridos/

115
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

companheiros, filhos/as, ou outro parente. Em consequência, perdem


autonomia e liberdade e, quando envelhecem, ficam ainda mais depen-
dentes da renda de outros, porque não têm direito à aposentadoria,
dado que “nunca trabalharam”.4
Em geral, as mulheres não participam em igualdade de condições
com os homens no mercado de trabalho mercantil. As mulheres que têm
trabalho remunerado recebem, em média, menos que os homens, mes-
mo exercendo as mesmas atividades e com qualificação similar. Além
disso, de forma geral, as mulheres estão mais presentes em postos de
trabalho com contratos informais e condições de trabalho mais precárias,
estando mais expostas à violência física e/ou sexual, que pode se agravar
se a mulher é de classe mais pobre, não branca e/ou imigrante, além de
estar sujeita às discriminações relativas à raça, etnia e/ou estado civil. A
responsabilidade pelo trabalho não remunerado dentro do seu núcleo
familiar explica, mesmo que apenas em parte, porque as mulheres parti-
cipam menos do mercado de trabalho ou dedicam menos horas que os
homens ao trabalho mercantil (MELO; THOMÉ, 2018, cap. 6).
Junte-se a isso o fato de que uma percentagem importante de mu-
lheres (40,5%) é chefe de família.5 O olhar social estabelecido é que,
quando um relacionamento entre homem e mulher não dá certo, a
mulher fica com as crianças. O pai muito comumente se ausenta não
apenas da casa, mas dos cuidados das crianças. A separação deixa ao
encargo das mulheres o custo da criação/educação das crianças, o que
é socialmente aceito como natural e o mais apropriada para a família.

4 Segundo IBGE (2018), em 2060, 25,5% da população brasileira (58,2 milhões) terá mais de
65 anos e 14,7% (33,6 milhões) será de jovens (0 a 14 anos). Essa projeção dá uma ideia do
número de pessoas que precisará de algum tipo de atenção e cuidado. O número de idosos
é crescente (era de 19,2 milhões em 2018) e o número de jovens é decrescente (eram 44,5
milhões em 2018), decorrente do aumento da expectativa média de vida e da redução da
taxa de fecundidade das mulheres. Uma questão importante é que o envelhecimento da
população e a não disponibilidade clara e efetiva dos governantes de conter a destruição
do meio ambiente, promovendo produções menos nocivas á natureza e bem-estar e mais
sustentável no tempo, elevará a carga sobre a população jovem no futuro.
5 Segundo dados do IBGE (2010), 37,3% das famílias eram chefiadas por mulheres em 2010.
Além disso, as mulheres comandavam 87% das famílias sem cônjuge e com filhos. Dados
da PNAD-C (IBGE) mostram que, em 1995, 22,9% das famílias eram chefiadas por mulheres
e, em 2015, esta proporção aumentou para 40,5%.

116
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

O percentual de homens que dividem igualmente o trabalho do-


méstico e o cuidado com as crianças ainda é pequeno. Segundo dados
da ONU-Mulheres, a média, tanto para os países em desenvolvimen-
to quanto para os desenvolvidos, do tempo gasto pelas mulheres no
trabalho não remunerado é mais que o dobro do tempo gasto pelos
homens, e o tempo dedicado ao trabalho remunerado é menor que o
dos homens, também nos dois grupos de países analisados (gráfico 1).
Por outro lado, à medida que essa discussão toma mais espaço, tem ha-
vido, embora lentamente, alguns avanços sociais. Além disso, como as
mulheres, principalmente as mais jovens, estão mais conscientes de seus
direitos, a divisão mais igualitária do trabalho doméstico e do cuidado
das crianças tende a se tornar menos desigual daqui para frente.

Gráfico 1: Trabalho remunerado e não remunerado: tempo gasto por sexo, 2016

Fonte: United Nations Women (2016)

Para pôr fim ao ciclo vicioso da desigualdade de gênero, tanto de


renda como da disponibilidade e autonomia sobre o tempo, é vital aca-
bar com a invisibilidade do trabalho não remunerado. É preciso mostrar

117
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

à sociedade como os afazeres domésticos e de cuidados são funda-


mentais à vida humana e seu bem-estar. Sem este trabalho, a reprodu-
ção da vida fica comprometida e piora a qualidade de vida de todas as
pessoas. O último relatório da OXFAM (2020), apresentado em Davos na
Conferência do Clima, em janeiro de 2020, denuncia que o trabalho não
remunerado em todo o mundo gera uma riqueza, na forma de bens e
serviços, equivalente a $10 trilhões de dólares anualmente. Segundo a
ONU-Mulheres (United Nations Women, 2016), o trabalho não remune-
rado equivale a um valor entre 10% e 39% do PIB.
Da forma como estão apresentadas hoje, as estatísticas do SCN
do Brasil não permitem análises macroeconômicas com corte de sexo
e cor/raça. Mas, as mulheres têm mais dificuldade de participar ple-
namente no mercado de trabalho remunerado e isso se reflete na sua
capacidade de conquistar rendimento, empregos melhores ou mesmo
almejar cargos mais altos em seu emprego.6 A correção das estatísticas
do SCN, proposta pela ONU7, consiste na inclusão do valor da produ-
ção dos bens e serviços produzidos pela família para uso próprio na
produção nacional, através da incorporação de uma Conta-Satélite de
Trabalho Não Remunerado (CSTNR) ao SCN.
As Contas-Satélites são “uma extensão do Sistema de Contas
Nacionais [e] [...] e foram criadas para expandir a capacidade de análise
das Contas Nacionais sobre determinadas áreas” (IBGE, 2009, p. 5), per-
mitindo a incorporação da análise de setores produtivos específicos, de
forma coerente aos demais dados. No SCN, a produção doméstica de
serviços para consumo próprio da família é denominada trabalho não
remunerado e consiste dos afazeres domésticos e dos cuidados com as
pessoas. Inclui as tarefas de preparar comida; lavar louça; fazer limpeza
e manutenção da casa; lavar e passar roupa; jardinagem; as atividades
de subsistência como buscar água e lenha; cuidar de animais domésti-
cos; fazer compras; fazer instalação e reparo na habitação e em apare-
lhos domésticos; cuidar das crianças; e cuidar de membros da família

6 Ver Melo; Considera; Sabbato (2016), Morandi; Melo; Dweck (2018).


7 Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (1995).

118
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

que estejam doentes, seja um idoso ou alguém com incapacidade; bem


como o trabalho voluntário, ou comunitário, realizado em organizações
e órgãos da comunidade, e a ajuda informal a outros membros da co-
munidade. E estas estatísticas mostram que as mulheres são as prin-
cipais responsáveis por este trabalho no mundo, tarefas fundamentais
para a prosperidade econômica, tanto da família quanto da sociedade.
Os governos nacionais são responsáveis pela promoção da redução
da desigualdade de gênero e devem garantir às mulheres seus direitos.
Para isso, é fundamental a atualização e modernização das leis, acompa-
nhando as diretrizes acordadas pelas convenções internacionais.8 Mas a
promoção da igualdade de gênero requer mais que leis. São necessárias
políticas públicas, como a expansão do serviço de fornecimento de água
potável para todas as unidades residenciais, reduzindo assim o tempo
gasto pelas mulheres na atividade de buscar água; construção de mais
creches públicas de tempo integral ou ampliação de suas vagas, garan-
tindo à mulher o direito de participar do mercado de trabalho remune-
rado em igualdade de condições com o homem.
A preferência por diretrizes de políticas públicas de viés socioe-
conômico no orçamento público é uma escolha que está na base da
decisão sobre a destinação do orçamento do Estado e das receitas tri-
butárias.9 Essas decisões são tomadas com base nas estatísticas oficiais
dos agregados macroeconômicos, que, ao não incorporarem a produ-
ção gerada pelo trabalho não remunerado, pode levar a decisões de
políticas públicas que agravam ao invés de mitigar as desigualdades de
gênero.
A contabilidade nacional, da forma como está estruturada, mos-
tra apenas a evolução da capacidade produtiva mercantil da econo-
mia, desprezando ou assumindo valor zero para toda a contribuição

8 Como o Sustainable Development Goals (SDGs) da Agenda para o Desenvolvimento para


2030 da ONU.
9 A discussão sobre a forma de tributação também é relevante porque implica impactos
sobre a renda disponível que podem ser mais ou menos perversos. A decisão importante é
sobre a distribuição da arrecadação entre impostos diretos e indiretos, o que pode resultar
em sistema tributário mais ou menos progressivo.

119
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de mulheres e homens que realizam atividades não pagas (MELO;


CONSIDERA; SABBATO, 2016). No entanto, é importante destacar que se
estas atividades não são realizadas, a produção mercantil não é possível,
pelo menos não nos moldes atuais, nem com o mesmo estado de bem-
-estar. As atividades que correspondem ao assim classificado trabalho
não remunerado são fundamentais para as atividades mercantis gera-
rem a riqueza nacional.
Apesar de na média o rendimento das mulheres ser inferior ao dos
homens, a diferença não se mantém a mesma ao longo de toda a vida
profissional de homens e mulheres. Dados estatísticos mostram que,
no início da carreira profissional, mulheres e homens têm rendimentos
mais próximos. A diferença de rendimento se amplia justamente na faixa
etária que corresponde à idade fértil da mulher (dos 20 aos 45 anos),
quando elas perdem oportunidades de emprego e/ou oportunidades
de galgar postos mais altos de trabalho (UNITED NATIONS, 2016). A
diferença fica mais significativa quando se compara o ganho médio de
homens e mulheres com filhos menores, ou idosos/doentes nas famílias,
sem acesso a instituições públicas (creches, instituições de cuidados) ou
recursos para pagar a terceiros (SOARES, 2008, 2016; CEPAL, 2017).
Desta forma, a estruturação de um indicador para o trabalho não
remunerado é fundamental para estabelecer a igualdade entre os sexos
em relação ao tempo dedicado a trabalho (remunerado e não remune-
rado). Essa proposta para o Brasil é uma exigência da sociedade e atu-
aliza o país com os Objetivos do Milênio, da ONU. Dados preliminares
estimavam que o valor do trabalho não remunerado equivalia a 13% do
PIB (BIYANI, 2017, VELAZCO; VELAZCO, 2016). Estatísticas preliminares
para o Brasil estimavam que o trabalho não remunerado representava
cerca de 11% do PIB, em 2015 (MELO, CONSIDERA e SABBATO, 2016).
Esses trabalhos mensuraram os afazeres domésticos e os cuidados a
partir de valores monetários imputados.
O IBGE divulgou, a partir de 2016, os dados da nova Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C), que investiga,

120
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

além dos afazeres domésticos, informações relativas aos cuidados com


as pessoas. A pesquisa introduziu mudanças no questionário base da
antiga PNAD Anual (PNAD-A) e incluiu perguntas sobre seis conjun-
tos de atividades, distribuídas em: auxiliar alguém a se alimentar, vestir,
pentear, dar remédios, banho, colocar para dormir, auxiliar nas ativida-
des escolares, auxiliar a ler, jogar/brincar, monitorar ou fazer companhia
no domicílio, transportar para a escola, para o médico, para exames,
levar para o parque, para a praça, para atividades sociais, culturais, es-
portivas, religiosas e outras tarefas dos cuidados. As perguntas sobre os
afazeres domésticos estavam distribuídas em oito conjuntos: alimenta-
ção (preparar/servir), arrumar e lavar louça, limpeza do domicílio, das
roupas e sapatos; pequenos reparos no domicílio, garagem/quintal/jar-
dim, na organização do domicílio (tais como, pagar contas, contratar
serviços, orientar empregados, fazer compras/pesquisar preços de bens
para o domicílio, cuidar dos animais domésticos e outras tarefas) (IBGE,
PNAD-C, 2017).
Estas pesquisas mostram a partir dos dados da PNAD-Anual de
2015, que dentre as mulheres de 16 anos ou mais e ocupadas, 91% de-
clararam realizar afazeres domésticos, enquanto que, dentre os homens
nas mesmas condições, apenas 53% afirmaram realizar afazeres domés-
ticos (MELO; THOMÉ, 2018). No entanto, uma síntese dos resultados
da PNAD-C (2016) mostra que: i) em relação aos afazeres domésticos,
mantém-se a diferença, com 89,8% das mulheres declarando terem rea-
lizado estas atividades, contra 71,9% dos homens. A participação nestas
atividades, tanto de mulheres quanto de homens, ocorre em maior per-
centual nas faixas etárias de 25-49 anos e acima de 50 anos de idade;
ii) em relação aos cuidados de pessoas, permanece a discrepância, com
32,4% das mulheres declarando que realizaram cuidados de moradores
do domicílio ou de parentes não-moradores, contra apenas 21% dos
homens. Os resultados da pesquisa mostram ainda que a faixa etária
de 0 a 14 anos de idade é a que recebe maior atenção de cuidados e as
mulheres negras (pretas e pardas) foram as que dedicaram maior núme-
ro de horas para cuidados de outras pessoas. Enquanto que, dentre os

121
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

homens, a questão da cor/raça tem menos significância (IBGE, 2017, p.


6; IBGE, 2018, p. 38).

Por que criar uma Conta-Satélite para o trabalho não


remunerado no Brasil?

Segundo Durán (2006, p. 3), o tempo, “o recurso que as famílias


mais utilizam em suas atividades econômicas não é remunerado, nem
diretamente monetizado, ficando fora dos exercícios contábeis con-
vencionais”. Ainda segundo a autora, as famílias, além de assumirem
as funções de consumidoras e de empresárias, têm a função de em-
presas, cujos bens e serviços são produzidos e consumidos por seus
próprios membros e/ou membros de outras famílias, para satisfazer
suas necessidades básicas e garantir sua reprodução e sobrevivência.
Apesar das atividades realizadas dentro de casa não envolverem inter-
mediação monetária, por se tratar de bens e serviços para uso próprio,
sua disponibilidade interfere diretamente no nível de bem-estar e no
nível de garantia de sobrevivência dos membros da família. Apesar de
sua importância, a justificativa geralmente apresentada para a não in-
clusão dessa produção no SCN é injustificada e o principal problema é
sim o pouco interesse em incluir tais atividades nas estatísticas do SCN
(DURÁN, 2006; WARING, 1988). Também a teoria econômica define os
agregados macroeconômicos sem contabilizar a produção resultante
do trabalho não remunerado, o que torna as análises de políticas e dire-
trizes econômicas no mínimo viesadas.
Para se imputar valor à produção do trabalho não remunerado é
preciso supor que existe alguma substituição entre trabalho remunera-
do e não remunerado. Esta substituição, segundo Folbre (2015), apesar
de limitada é bastante extensa e corresponde à redução do tempo dedi-
cado pelas famílias às atividades que cobrem suas necessidades em prol
do aumento da participação de seus membros no mercado de trabalho
remunerado. Quando a pessoa que realiza o trabalho doméstico e de

122
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

cuidados para a família se insere no mercado de trabalho remunerado,


algum outro membro da família ou uma terceira pessoa deverá realizar
aquele trabalho para que se mantenha o mesmo nível de bem-estar.
A mensuração do produto gerado pelo trabalho não remunerado é
mais complexa por não se dispor de um preço de venda. Existem algu-
mas metodologias disponíveis, sendo a mais comumente utilizada a que
mensura o trabalho não remunerado a partir do valor de mercado do
salário correspondente ao serviço realizado, multiplicado pelo número
de horas gastas em serviço similar no interior das famílias. Uma segunda
forma de estimação utiliza o custo de oportunidade. A pesquisa para
essa valoração pergunta o que a pessoa faria alternativamente nas horas
que dedica ao trabalho não remunerado. O valor é calculado multipli-
cando-se o salário de mercado correspondente a essa atividade alterna-
tiva pelo número de horas dedicadas ao trabalho não remunerado. Essa
medida mostra quanto a pessoa estaria disposta a pagar por um subs-
tituto para o trabalho não remunerado, mas não é julgada compatível
com as contas nacionais porque seu valor corresponde a uma atividade
que traz satisfação pessoal, mas não necessariamente corresponde a
seu valor de demanda no mercado. Um terceiro método utiliza o valor
de mercado de produto similar. A partir do preço de mercado de uma
refeição, p. ex., e do custo de se produzir esta mesma refeição em casa
(custo basicamente dos ingredientes, gás, etc.), a diferença entre os dois
equivale ao valor do trabalho (FOLBRE, 2015; JESUS, 2018).
As várias pesquisas em diversos países, estimuladas pelas resolu-
ções da ONU, mostram que as mulheres, por serem as principais res-
ponsáveis pelo trabalho não remunerado, estão sujeitas a um número
maior de horas de trabalho do que os homens, somando às horas de
trabalho pago as horas gastas com as tarefas domésticas. Mesmo quan-
do as mulheres trabalham fora a divisão do trabalho dentro de casa
continua desigual.
Uma questão importante é que a desigualdade pode ter aumenta-
do mais do que os dados mostram, pois o aumento da participação da

123
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mulher no mercado de trabalho e a consequente perda de qualidade


dos cuidados dispensados às crianças e à família, principalmente para
as classes de menor renda, que não podem pagar por serviços substi-
tutos adequados.10 O trabalho não remunerado não pode ser aleatório,
realizado ou não segundo o desejo dos membros da família. É um tra-
balho rotineiro, meticulosamente estruturado, necessário para satisfazer
as necessidades diárias e garantir o bem-estar de toda a família, espe-
cialmente crianças, idosos e/ou doentes. Não são atividades meramen-
te secundárias e, por conseguinte, demandam tempo. Claramente, os
cuidados despendidos por membros da família substituem os gastos e
investimentos públicos com assistência social.
Além disso, o impacto dos cortes de gastos públicos é injustamen-
te distribuído na sociedade. Seus cortes impactam mais fortemente (i)
as pessoas de menor renda e, portanto, as que têm menor capacidade
de pagar a terceiros pelos serviços de cuidados; (ii) as mulheres, que,
por serem as que mais realizam o trabalho doméstico e de cuidados na
família, sofrem redução em sua capacidade de se dedicar à profissão e
de competir em igualdade de condições com os homens no mercado
de trabalho. Comparativamente, os cortes de gastos públicos são ainda
mais relevantes nos países em desenvolvimento, onde o setor públi-
co oferece menos serviços ou serviços de pior qualidade que os países
desenvolvidos. O reflexo disso é que, nesses países, as mulheres gas-
tam mais tempo nas tarefas de cuidados (WORLD ECONOMIC FORUM,
2017). Nessas regiões, os investimentos em infraestrutura (eletricidade,

10 Em 2008 foi criado, através da Portaria Interministerial nº 60 (19/09/2008), o Comitê Técnico


de Estudos de Gênero e Uso do Tempo (CGUT), coordenado pela Secretaria de Políticas
para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR), com IBGE, IPEA como membros
permanentes e OIT e ONU-Mulheres como membros convidados. Fruto disso, o IBGE
realizou, em 2009, uma pesquisa piloto de “Uso do Tempo” em algumas capitais brasileiras,
cujos resultados foram apresentados na 35º Conferência da Associação Internacional
de Pesquisa de Uso do Tempo (IATUR), realizada no Rio de Janeiro em 2013. Antes, sua
metodologia havia sido apresentada no Fazendo Gênero 9, Seminário Internacional
Fazendo Gênero, organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 23-
26 de agosto de 2010. No entanto, esta pesquisa piloto não teve mais nenhuma publicação
pelo IBGE. Sabe-se que este piloto foi também utilizado como teste para a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio Continua que a partir de 2015 substituiu a tradicional
PNAD anual.

124
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

gás, água encanada) representam grandes ganhos de produtividade e a


consequente redução do tempo necessário para realizar as tarefas do-
mésticas e de cuidado. Mais recentemente, o déficit de cuidados nos pa-
íses mais ricos, segundo Werner et ali. (2007), fruto do aumento da par-
ticipação feminina no mercado de trabalho remunerado e do aumento
da longevidade de sua população, tem sido coberto com a imigração de
mulheres dos países mais pobres. O fato é que elas migram sem poder
levar os seus filhos, criando maior déficit de cuidados nos países mais
pobres, aumentando a desigualdade em relação à qualidade de vida
entre esses dois blocos de países.
Além disso, as tarefas relativas ao trabalho não remunerado defi-
nem funções de trabalho na família e orientam todas as suas decisões.
Isso define padrões de consumo vinculados à distribuição de tempo
dos indivíduos entre o trabalho remunerado e não remunerado. E este
planejamento é a base para se definir o trabalho não remunerado como
atividade produtiva (INEGI, 2013, p. 47).
Segundo Folbre (2015), a crítica de que a inclusão do valor do tra-
balho não remunerado através de Conta-Satélite causaria distorções à
contabilidade nacional é infundada. As contas nacionais como estão exi-
bem distorções importantes. Um exemplo é o fato de elas imputarem
valor zero ao trabalho não remunerado da amamentação materna e seus
benefícios para a saúde do bebê, enquanto, por outro lado, contabilizam
o valor dos gastos com alimentos industrializados substitutos ao aleita-
mento materno, que em termos de saúde do bebê têm pior qualidade.
Países da OCDE incluem o valor imputado de transações ilegais de drogas
e de prostituição, mesmo utilizando dados pouco confiáveis. Além disso,
incorporam novos procedimentos para valorar a contribuição do setor
financeiro na economia, usando para isso a taxa de juros. A metodolo-
gia utilizada supõe que juros maiores equivalem a serviços melhores e
maiores gerados por este setor. No entanto, sabe-se que juros maiores
implicam também maiores riscos de inadimplência e maior possibilidade
de crise econômica. E, “comparativamente a essas revisões recentes, a

125
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mensuração do trabalho não mercantil baseia-se em fundamentos meto-


dológicos especialmente sólidos” (FOLBRE, 2015, p. 8).
As pesquisas de uso do tempo são o principal instrumento para
a mensuração do trabalho não remunerado. Elas permitem estimar o
tempo gasto nas tarefas domésticas e de cuidados e identificar quem
as executa. As pesquisas são minuciosas, mas podem gerar distorções
e, por isso, devem ser cuidadosas para evitar inexatidões importantes
(FOLBRE, 2015). As perguntas são formuladas de forma a permitir es-
timar o tempo gasto para a execução de atividades específicas, como
preparação de alimentos, limpeza e manutenção da residência e cuida-
dos com as crianças, mas há dificuldade para se capturar o tempo gasto
na supervisão de tarefas, uma atividade que também demanda tempo.
Outro problema é que as pesquisas não incluem todos os membros da
família, mas apenas um adulto escolhido aleatoriamente. Dependendo
de quem irá responder o questionário, pode-se ter um nível maior ou
menor de inexatidões ou respostas incompletas. E, por último, outras
inexatidões podem ocorrer porque poucas pesquisas incluem perguntas
sobre a estrutura dos gastos (itens) de consumo; ou sobre a proprieda-
de de ativos domésticos, que ajudam nas tarefas domésticas e podem
implicar redução significativa do tempo gasto para realizá-las (presença
ou não de máquina de lavar roupa, aspirador de pó; micro-ondas, etc.);
ou ainda sobre a qualidade da saúde das crianças, que pode estar ligada
diretamente ao acesso ou não à água e esgoto tratados e coleta de lixo,
ou com a disponibilidade ou não de atendimento médico adequado
(Tabela 1).
Como resultado dos movimentos sociais, o SCN foi revisto, em
1993, pela Comissão de Estatísticas das Nações Unidas, abrindo a pos-
sibilidade de incorporação da produção doméstica nas contas nacio-
nais, ampliando os limites da produção considerada. O respaldo políti-
co decisivo ocorreu na Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher
em Pequim (1995), que aprovou a ampliação do SCN e a incorpora-
ção da Conta-Satélite do trabalho não remunerado. O desenvolvimen-
to metodológico culminou na publicação pela EUROSTAT, em 2003, do

126
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Household Production and Consumption Proposal for a Methodology of


Household Satellite Accounts.

Tabela 1: Atividades das famílias no SCN


Sistema de Contas Nacionais Atividades fora das
Contas-Satélites
(SCN) Contas-Satélites
✷ Manutenção da
residência
✷ Produção de bens e ✷ Cuidados pessoais
✔ Preparação de comida
serviços para venda (próprios)
✔ Compras
✔ Produção para uso final ✔ Dormir
✔ Serviços de reparos
próprio ✔ Comer
✔ Serviços financeiros
✔ Produção e ✔ Asseio
✔ Uso de transportes
armazenamento de ✔ Cuidados de saúde
✷ Cuidado de pessoas
produtos agrários ✔ Transporte relacionado
Famílias

✔ Crianças
✔ Produção de outros ✷ Ócio e entretenimento
✔ Idosos
bens para uso próprio ✔ Mídia
✔ Outros
✔ Produção de serviços ✔ Jogos
✔ Uso de transportes
de moradia imputados ✔ Relações sociais
✷ Desenvolvimento
✔ Produção de bens em ✔ Esportes
pessoal
atividades de voluntariado ✔ Passeios
✔ Educação e formação
✔ Serviços domésticos ✔ Espetáculos
✔ Uso de transporte
remunerados ✔ Transporte relacionado
✷ Atividades de
voluntariado
✷ Produção destinada à
Empresas

venda de bens e serviços


✷ Produção para uso final
próprio
Administrações
Públicas e ESFL

✷ Produção não destinada


à venda de serviços
individuais e coletivos
✷ Produção de bens e
serviços destinados à venda

PIB convencional
PIB Ampliado

Fonte: Durán (2006).

Na teoria econômica, uma atividade é considerada trabalho se


uma pessoa pode ser paga para realizá-la (WERNER et ali., 2007). E
a atividade é produtiva se proporcionar um produto ou serviço que

127
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

pode ser trocado ou vendido no mercado. A pergunta chave para se


definir se uma atividade é produtiva é quanto custaria substituir a de-
dicação (sem remuneração) de uma pessoa por outra pessoa que re-
ceberia para realizar a mesma tarefa. Seguindo esta linha de raciocínio,
as pessoas que geram a produção doméstica (tarefas domésticas e
de cuidados) para os membros de sua família ou pessoas externas,
podem ser substituídas por outras pessoas, que seriam pagas para
realizar tais tarefas, ou substituídas por produtos e serviços adquiridos
no mercado (como comprar as refeições em um restaurante, ou pa-
gar pelo serviço de creche). Um dos motivos de o trabalho doméstico
e de cuidados ser social, política e economicamente desvalorizado é
que tradicionalmente trabalho é definido como sendo uma atividade
remunerada. O trabalho doméstico não é remunerado e, convencio-
nalmente, não é nem considerado trabalho. 11
Cada país define para a sua pesquisa de uso do tempo, seguin-
do a experiência da Eurostat, quais seriam as atividades consideradas
principais, baseando-se nas tarefas fundamentais para a vida, o bem-
-estar e a manutenção das pessoas da família, segundo as tradições
culturais e nível de desenvolvimento econômico próprio, por exemplo.
No geral, as seis principais são: prover alojamento e manutenção e
embelezamento da residência; preparar refeições e lanches; cuidado
com vestuário e roupas; uso de transporte para acompanhar criança
ou idoso/a ou para realização de compra; gerenciamento e adminis-
tração da casa; cuidados dispensados às crianças e aos idosos; traba-
lho voluntário (Tabela 2).12

11 Uma pergunta feita muitas vezes às crianças sobre “o que sua mãe faz”, é respondida com
“ela não trabalha”, quando na verdade a mãe é a responsável pelo cuidado e preparação
da alimentação, roupa, casa para toda a família, além de ser a responsável pelo cuidado e
educação das crianças. Ela apenas não tem um trabalho remunerado, mas é considerada
“não trabalhadora” (D’ALESSANDRO, 2016).
12 O conceito de trabalho não remunerado, como definido pela ONU, também inclui
o trabalho voluntário realizado para membros fora da família e em entidades sem fins
lucrativos, definidas pela Eurostat (2003), como organizações privadas sem fim lucrativo,
que não distribuem excedente aos controladores ou dirigentes, é autogerida e garante a
liberdade de adesão e contribuição.

128
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Tabela 2: Categorias a serem consideradas nas pesquisas sobre


trabalho não remunerado
Atividades de trabalho não remunerado Valoração – Modelos alternativos
✷ Trabalho doméstico (na residência da
família, de vizinhos ou parentes) ✷ Modelo de saída ou output (produto)
✔ Preparo de alimentos/refeições ✔ Estima volume e valor do produto
✔ Lavar pratos e vasilhas ou serviço pelo preço do bem/serviço
✔ Lavar e passar roupas e limpar sapatos correspondente adquirido no mercado, p.
ex., preço de uma refeição semelhante no
✔ Limpeza, manutenção e pequenos reparos
restaurante
de bens duráveis ou não
✷ Modelo de entrada ou input
✔ Compras ou obtenção de serviços e
administração ✔ Pesquisas de uso do tempo: Estima o
número de horas dispensadas na atividade
✔ Pagamento de contas e outras transações
não remunerada vezes o preço da hora
✷ Manutenção da casa de trabalho remunerado em atividade
✔ Limpeza, embelezamento, manutenção e semelhante
pequenos reparos ✔ Valor do trabalho:
✔ Atividades de trato de jardim e horta ✔ Custo de oportunidade: tempo
Gerenciamento da casa (inclusive financeiro) dispendido na atividade não remunerada
✷ Cuidados dispensados a pessoas vezes o preço-hora da atividade exercida
(crianças, idosos ou enfermos) no mercado de trabalho remunerado
✔ Cuidado, formação e educação de crianças ✔ Custo de substituição: quanto se está
disposto a pagar para alguém fazer a
✔ Cuidados de saúde
atividade
✔ Cuidados dispensados a outros membros
da família
Outros indicadores sociais a serem
✔ Outros cuidados
considerados:
✔ Viagens relacionadas a esses cuidados
✔ Sexo
✷ Atividades civis ou em organizações
✔ Idade
✔ Trabalho voluntário em eventos sociais ou
✔ Raça
órgãos da comunidade
✔ Local de nascimento
✔ Trabalho voluntário formal numa
organização, como captação de recursos ✔ Estado civil
✔ Trabalho voluntário informal a outras ✔ Presença de crianças ou idosos na família
residências ou parentes

Fonte: Gómez Luna (2010); Werner et alli. (2007); CEPAL (2017)

Existem algumas metodologias disponíveis para se estimar o valor


do trabalho não remunerado a ser incorporado ao PIB. Uma das formas

129
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

é usar como referência os valores de mercado dos bens e serviços pro-


duzidos. Assim,
PM * Q – VBI = VAB – D – TD + Sub = Y (1)
sendo, PM*Q, o valor dos bens/serviços substitutos equivalentes a pre-
ços de mercado; VBI, o valor dos bens intermediários (insumos) utili-
zados na produção; VAB, o valor agregado bruto da produção gerada
pelo trabalho não remunerado; D, o consumo de capital; TD, o valor dos
outros impostos (indiretos) sobre produção; Sub outros subsídios sobre
produção; e, Y, a renda do trabalho ou valor da mão de obra.
Outra forma de cálculo é estimar o valor monetário da produção
própria das famílias, utilizando como referência o valor de mercado dos
bens e serviços produzidos. Assim,
Wh + TD – Sub + D = VAB + VBI + VTP (2)
onde, Wh, é o valor do trabalho (horas-trabalhadas valoradas por salário
adequado); e, VTP, é o valor total da produção.
Como geralmente não há disponibilidade de dados sobre os custos
dos bens intermediários, insumos e bens de capital utilizados na pro-
dução própria da família, a escolha recai sobre a forma de estimação
apresentada na equação (1).
Para esse cálculo é preciso atribuir um preço por hora de trabalho
para cada atividade, utilizando-se para isso as informações, disponíveis
nas pesquisas de emprego, sobre o valor do rendimento médio (nacio-
nal) por atividade e sexo. Os dados dessas pesquisas, no entanto, refe-
rem-se à renda por hora contratada e não ao pagamento efetivo pela
atividade (como aparece nos demais dados sobre rendimentos incluídos
no SCN). Isto porque não incluem os demais custos relativos à contrata-
ção de mão de obra ou serviço no mercado, como encargos, impostos
etc. (GÓMEZ LUNA, 2010). Essas limitações, no entanto, não invalidam as
estimativas do valor da produção gerada pelo trabalho não remunera-
do, nem a decorrente análise, definição e avaliação de políticas públicas
baseadas em gênero.

130
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

A pesquisa de uso do tempo deve ser estruturada de forma a obter


as informações sobre o tempo dispendido pelos membros da família
(homens e mulheres maiores de 15 anos) nas suas atividades diárias
no interior da família. A forma tradicional da pesquisa é através de en-
trevistas diretas com os membros da família, de outras famílias ou co-
munidade, cobrindo as atividades relacionadas à alimentação, cuidado,
segurança e bem-estar da família, bem como as atividades classificadas
como trabalho voluntário, dispensadas a parentes, vizinhos ou orga-
nismos comunitários. Estas estatísticas são importantes porque servem
para melhor definir políticas públicas que busquem melhorar a qualida-
de de vida da população e reduzir as desigualdades.
A estruturação da pesquisa e a definição das perguntas são fun-
damentais para que o resultado seja confiável e comparável, tanto no
tempo quanto com os resultados de outros países. Como destaca Gee
(2015), deve-se atentar para algumas especificidades das pesquisas do
uso do tempo. A primeira é que o formato da pesquisa não permite
contabilizar o tempo gasto em mais de uma atividade ao mesmo tempo,
como fazer comida e tomar conta de criança, o que pode levar a uma
subestimação do trabalho não remunerado. O número de respostas é
maior quando o questionário disponibiliza a lista das atividades con-
sideradas do que quando é necessário escrever cada atividade. Mas,
apesar de a lista facilitar a resposta, ela também simplifica as descrições
e tornam as categorias mais subjetivas, o que pode causar dúvidas na
hora de responder, como brincar com uma criança pode ser confundido
com cuidado ou com laser, dependendo do ponto de vista de quem
responde.
As estimativas do valor do trabalho não remunerado servirão para
análises macroeconômicas e, portanto, devem ter tratamento similar
às atividades incorporadas no SCN. A valoração da atividade não paga
utiliza o preço por hora de trabalho pago para atividade semelhante.
Como os dados sobre preço por hora de trabalho disponíveis não são
tão detalhados quanto as atividades pesquisadas, deve-se usar um pre-
ço por hora de trabalho remunerado correspondente a um conjunto de

131
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

atividades do trabalho não remunerado. Multiplicando-se o preço por


hora de trabalho pelo número de horas semanais dedicadas às ativida-
des remuneradas, obtém-se o valor do trabalho não remunerado. O va-
lor da produção de cada atividade resulta numa Conta-Satélite e a soma
corresponde ao produto agregado ou PIB do trabalho não remunerado.
Usando metodologia semelhante à apresentada na equação (1), o
valor do trabalho não remunerado é calculado como:
VTNRt = CMeTt * HMe * 365 * Pop15+ (3)
dia
sendo, VTNR, o trabalho não remunerado em valor corrente; CMeT, o
custo médio da hora de trabalho (inclusive impostos); HMe, a média de
horas trabalhadas; 365, dias no ano; e, Pop, o número de pessoas com
15 anos ou mais, calculados para o ano t.
E o valor do serviço dos bens de capital é estimado como:
VSBDt = IPBDt * ELBDt * (TRt + Dt) (4)
sendo, VSBD, o valor do serviço dos bens de consumo duráveis; IPBD, o
índice de preço para bens de consumo duráveis; ELBD, o estoque líquido
de bens de consumo duráveis; e, TR e D, as taxas de retorno e de depre-
ciação, respectivamente.13
O valor da produção não mercantil das famílias, PIBFam, é a soma
desses dois valores:
PIBFamt = VTNRt + VSBDt (5)
A presença ou não de bens de capital deve ser considerada na pes-
quisa, como usar carro, bicicleta ou outro meio de transporte para ir ao
mercado; usar máquina para lavar ou secar roupa; usar aspirador de pó
para limpar a casa, etc. A metodologia proposta é imputar um valor ao
serviço proporcionado pelo bem de capital, correspondente ao custo
do aluguel do bem ou o preço do serviço correspondente. Isso permite
diferenciar as famílias com mais acesso a bens de capital, que ajudam

13 Por convenção, a taxa de depreciação utilizada para bens de consumo duráveis é de 20% e
a taxa de retorno de 4% ao ano (GEE, 2015).

132
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

o trabalho, principalmente de lavagem, limpeza e transporte, nas ativi-


dades de produção de bens e serviços, das famílias sem esses recursos.
Esta forma de cálculo permite que se obtenha a representatividade
do trabalho não remunerado como gerador de riqueza para a sociedade,
como proporção do produto agregado total (PIB). A incorporação desse
valor ao valor do PIB é mais do que necessário e justo, dado que o ob-
jetivo do SCN é medir toda a produção de bens e serviços gerados pela
economia. O produto do trabalho não remunerado representa a capaci-
dade da economia de gerar riqueza e criar condições de bem-estar, não
importando se esses bens e serviços foram comercializados ou se foram
para uso próprio da família ou comunidade. Porque, comercializados ou
não, esses bens e serviços geraram bens e serviços e supriram necessi-
dades. E, além disso, eles precisam continuar a ser produzidos para que
se mantenha o nível de bem-estar das pessoas. Esta é a justificativa por
que devem ser classificados como trabalho e serem reconhecidos como
atividades que produzem riqueza. Devem, portanto, fazer parte das es-
tatísticas macroeconômicas oficiais e serem considerados nas análises
que definem as diretrizes e os objetivos das políticas públicas.
A estimação e incorporação do valor do trabalho não remunerado
às demais estimativas de produção das contas nacionais, através de uma
Conta-Satélite, não traz nenhum prejuízo ou distorção às medições do
PIB e, por outro lado, garante a correta avaliação da capacidade de a
economia gerar riqueza. Não se pode desconsiderar o fato de que as
pessoas que estão trabalhando no mercado dependem de algum tipo
de suporte para se ausentar da sua casa durante o seu horário de tra-
balho. Esse trabalho silencioso, que na sua grande maioria é realizado
pelas mulheres, é essencial para o funcionamento da economia. O que
se tem aprendido ao longo do tempo é que este trabalho só pode ser
substituído, nunca eliminado. E mais, quando substituído por serviço
privado doméstico pago, cria distorções porque só favorece a quem tem
renda suficiente para pagar por tais serviços. A forma socialmente justa
de se promover a substituição do trabalho não remunerado é através da
oferta de serviços públicos substitutos, como creches de tempo integral,

133
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

centros auxiliares de recuperação/apoio de doentes e idosos, serviço de


água e esgoto tratado, coleta adequada de lixo. E só vamos conhecer a
verdadeira dimensão da necessidade dessas políticas quando o trabalho
não remunerado for adequadamente valorado, deixando de ser uma
estatística invisível à sociedade e às políticas públicas, e passar a ser
valorizado como trabalho que gera riqueza.

Considerações Finais

Este trabalho expressa a preocupação dos movimentos feministas


com a iniquidade da divisão sexual do trabalho e que resultaram, nas
últimas décadas, em indicativos de ações defendidos por organismos
internacionais para mensurar estas atividades (Declaração e Plataforma
de Ação de Pequim/ONU, 1995). Esta lacuna sobre o trabalho invisível
que as mulheres executam no interior de suas famílias implica que as in-
formações sobre como as pessoas na sua diversidade socioeconômica:
familiar, etária, laboral empregam seu tempo e isso prejudica o melhor
entendimento da dinâmica social.
As mulheres são quem mais dedicam horas de seu tempo ao tra-
balho não remunerado e urge que propostas de intervenção através de
políticas públicas, que visam à redução da desigualdade de tempo e
econômica entre os sexos e raça/cor, sejam reduzidas, ainda que estas
não sejam, nem exatas nem completas até o presente. Isto porque utili-
zam estatísticas que, ao desconsiderarem as diferenças dessas relações
na sociedade, geram dados viesados ou incompletos.
O sistema de estatística oficial consagra que o principal indicador
econômico, o PIB não incorpora o valor da produção doméstica não
mercantil, realizado pela própria família, no cálculo da renda nas Contas
Nacionais. Isso ocorre porque a teoria econômica não reconhece estas
atividades como geradoras de valor. No entanto, outras atividades re-
alizadas pelas famílias são contabilizadas pelas Contas Nacionais para
o cálculo do PIB, como é o caso dos bens/serviços produzidos pelas

134
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

famílias quando estes são comercializados; ou, no caso da renda de alu-


guel da casa própria, cujo valor é imputado às moradias próprias. Urge
fazer justiça às mulheres e reconhecer as longas jornadas de trabalho
que elas dedicam à reprodução da vida, o que seria explicitado pelos
cálculos de uma Conta-Satélite do trabalho não remunerado.
É importante reconhecer que as estatísticas de renda e emprego,
com corte de sexo, cor/raça, e/ou região geográfica, possibilitam análi-
ses mais acuradas sobre a distribuição de renda ou taxa de desemprego,
resultando em propostas de políticas públicas mais coerentes com a
realidade econômica de cada país. E permitem reconhecer, além disso,
a importância dos afazeres domésticos e dos cuidados com as pessoas,
prestados pelas mulheres e alguns homens, para a qualidade de vida da
população.
Assim, este estudo discute a formulação de estatísticas sobre o
trabalho não remunerado (afazeres domésticos e cuidados) através da
criação de uma Conta-Satélite para o Brasil. Para isso necessita-se am-
pliar as informações sobre uso do tempo da população brasileira, como
já fazem diversos países latino-americanos e estas pesquisas realizem-
-se no território nacional por que estes dados estatísticos sobre o uso
do tempo dos homens e das mulheres e seus reflexos no mercado de
trabalho são elementos essenciais para uma melhor compreensão das
diferenças existentes.

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Trabalho doméstico não remunerado e as
transferências intergeracionais de tempo no Brasil

Jordana Cristina de Jesus


(UFRN)
Simone Wajnman
(UFMG)
Cassio M. Turra
(UFMG)

Introdução

Nas sociedades modernas, a produção de bens e serviços nos do-


micílios para o consumo direto das famílias ocupa parte significativa
do trabalho social. Essa produção é feita através do trabalho domésti-
co não remunerado. Há várias décadas, pesquisadores vêm chamando
atenção para a importância do trabalho doméstico dentro da econo-
mia e criticando o fato de essa produção não ser incluída na contabili-
dade da produção nacional, o que ignora as longas jornadas das mu-
lheres nessa atividade e subestima sua contribuição para a economia.
Em 1934, Margaret Reid definiu como produtiva toda atividade
que poderia ser delegada a uma terceira pessoa. O trabalho domés-
tico, segundo a definição da autora, abarca as atividades que exigem
esforço físico ou mental, que têm como resultado a transformação de
um bem ou a realização de um serviço e que são feitas por um ou mais

141
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

membros do domicílio sem que haja alguma remuneração em troca de


sua realização (REID, 1934).
O tempo dedicado ao trabalho doméstico é o principal insumo
da produção doméstica, sendo, portanto, utilizado para estimar a ex-
pressão monetária da produção dos serviços não registrados na con-
tabilidade nacional (VELAZCO; VELAZCO, 2016). Nas últimas décadas,
algumas pesquisas têm incorporado o trabalho doméstico aos cálculos
de produção econômica nacional e alguns resultados sugerem que o
valor da produção doméstica, ou seja, o acumulado das atividades re-
alizadas no âmbito domiciliar chegue a representar entre um quarto e
metade do PIB dos países (VARGHA; GÁL; CROSBY-NAGY, 2017).

Trabalho doméstico e a perspectiva demográfica

As profundas mudanças nas distribuições etárias das populações,


à medida que os países avançam em seus processos de transição de-
mográfica, despertam crescente interesse na dinâmica econômica em
uma perspectiva geracional. Essa perspectiva considera que existem
dois períodos de dependência econômica: o início e o final do ciclo
de vida. As crianças e os idosos consomem mais do que produzem
através do próprio trabalho, enquanto adultos produzem mais do que
consomem. As transferências intergeracionais possibilitam que as de-
mandas nos períodos de dependência econômica sejam atendidas, e
podem favorecer maior ou menor consumo, dependendo da estrutura
etária da população.
Uma das abordagens mais consolidadas atualmente no estudo
de transferências intergeracionais é a proposta pelo projeto National
Transfer Accounts (NTA). Nesse projeto, vêm sendo desenvolvidos mé-
todos para a desagregação por idade dos principais componentes das
contas nacionais, bem como estimativas de transferências privadas no
âmbito dos domicílios. Esses métodos são baseados em uma exten-
sa literatura que trata de transferências intergeracionais, perfis etários

142
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de produção, consumo e poupança, transferências públicas e privadas


e crescimento econômico (ARTHUR; MCNICOLL, 1978; LEE, R., 1980;
SAMUELSON, 1958; WILLIS, 1988). Dentro do projeto, as equipes de
pesquisa em mais de 60 países se dedicam a estimar as contas que
medem como as pessoas em cada idade produzem, consomem e com-
partilham recursos e poupam para o futuro1.
Se por um lado a primeira agenda do projeto preencheu uma la-
cuna sobre redistribuição e transferências de renda ao longo do ciclo
de vida e entre gerações, por outro, o foco na renda e sua produção no
mercado de trabalho levou à subestimação da contribuição feminina
para a economia. As primeiras contas-satélites do NTA não considera-
vam as atividades domésticas não remuneradas, devido ao caráter não
monetizado desse tipo de atividade.
Para que o NTA apresentasse uma imagem completa da atividade
econômica de homens e mulheres, fez-se necessário uma perspectiva
de gênero que considerasse também as contribuições não monetárias
feitas pelas mulheres no interior dos domicílios. Em 2010, inicia-se uma
agenda no projeto para a desagregação das contas de transferências
nacionais por sexo e, ainda, para a inclusão de uma conta satélite que
incorporasse o tempo de trabalho doméstico não remunerado, com o
objetivo de incluir atividades produtivas até então desconsideradas na
contabilidade nacional. Desse esforço, resulta o desenvolvimento dos
projetos National Time Transfer Accounts (NTTA) e Counting Women’s
Work2, ambos dirigidos por Gretchen Donehower (NTA, 2017). O NTTA
tem como foco gerar estimativas de perfis de produção, consumo e
transferência de trabalho doméstico não remunerado por idade e sexo
e, dessa forma, evidenciar como a produção doméstica constitui uma
parcela importante das transferências intergeracionais.
No cálculo das contas nacionais de transferências de tempo, tem-
-se, de um lado, o que os indivíduos produzem em termos de trabalho

1 http://www.ntaccounts.org/web/nta/show
2 https://www.countingwomenswork.org/

143
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

doméstico não remunerado e, de outro, o que os indivíduos conso-


mem do que foi produzido. As estimativas de transferência de tempo,
com a metodologia do NTTA, já foram aplicadas em diversos países.
Na América Latina, já foram feitas em países como México, Costa Rica,
Colômbia e Uruguai (RIVERO, 2018; JIMÉNEZ-FONTANA, 2015, 2017;
TOVAR; URDINOLA, 2019; BUCHELI; GONZÁLEZ; LARA, 2019).
Os resultados desses estudos demonstram que, em termos líqui-
dos, as mulheres fazem as maiores contribuições para a produção do-
méstica, sendo que as crianças e, em menor medida, os homens, são
os maiores beneficiários dessas transferências. São consistentes ao de-
monstrar que, durante o ciclo de vida, os homens se apresentam como
consumidores líquidos de trabalho doméstico, ou seja, consomem
mais do que produzem e são, portanto, dependentes de transferências
feitas pelas mulheres. As mulheres produzem mais do que consomem
e são, por isso, classificadas como transferidoras líquidas. As análises
demostram que ao longo do ciclo de vida as mulheres passam longas
décadas na condição de transferidoras líquidas. A idade em que essa
situação se inicia varia segundo as condições econômicas e sociocul-
turais de cada país. Por exemplo, enquanto no México, em média, as
mulheres são transferidoras líquidas dos 15 aos 80 anos, na Índia se
observou o intervalo de 11 a 70 anos (CWW, 2016; RIVERO, 2018).
Atualmente, o Brasil não possui nenhuma estimativa sobre as con-
tas nacionais de transferência de tempo. Essa lacuna deve-se princi-
palmente à ausência de pesquisas de uso do tempo representativas
no país. O objetivo deste capítulo é empregar a metodologia do NTTA
para estimar os perfis de produção, consumo e transferência de traba-
lho doméstico por idade e sexo para o Brasil, assim como feito atual-
mente em países que dispõem de pesquisas completas de uso do tem-
po. Para tanto, são utilizadas as informações sobre trabalho doméstico
não remunerado da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios de
2013 (PNAD) e uma correção dessa informação desenvolvida por Jesus
(2018).

144
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

A PNAD coleta a informação acerca do número de horas sema-


nais habitualmente dedicadas aos afazeres domésticos na semana de
referência. Tendo em vista a experiência de pesquisas realizadas em
outros países e a discussão presente na literatura, Jesus (2018) argu-
menta que o tempo dedicado ao trabalho doméstico foi subestimado
por ter sido captado a partir de uma única pergunta. A autora aplicou
técnicas indiretas de padronização e estimou o sub-registro de traba-
lho doméstico na fase adulta, que foi atribuído à não declaração de
horas dedicadas ao cuidado de crianças3. Como resultado, tem-se, de
modo inédito, o tempo dedicado exclusivamente aos cuidados, que,
como será descrito na metodologia, é essencial para as estimativas da
contabilidade de transferência de tempo.
Além dessa introdução, o capítulo foi organizado em mais três
seções. Inicialmente, apresenta-se a metodologia empregada e suas
especificidades para aplicação ao caso brasileiro e os resultados das
contas nacionais de produção, consumo e transferência de tempo. Em
seguida, realiza-se um exercício com diferentes métodos para estimar
o valor econômico do trabalho doméstico não remunerado no Brasil.
Além disso, apresenta-se uma análise da produção econômica total de
homens e mulheres, considerando a produção no mercado e a produ-
ção doméstica, com o intuito de dar uma dimensão da real contribui-
ção feminina para a economia. Por fim, apresenta-se a conclusão do
trabalho, discutindo seus principais achados e as implicações para os
estudos sobre trabalho doméstico.

3 Segundo Jesus (2018), na PNAD 2013, o tempo de trabalho doméstico de uma mulher
média de 25 anos deveria ser 30% maior do que o observado, dada a sub-declaração
da carga de cuidado com filhos. Aos 35 anos, o tempo de trabalho doméstico declarado
pelos homens deveria ser corrigido em 55%, pela mesma razão. Note-se que não se trata
de a carga de cuidados com os filhos ser maior para os homens adultos do que para as
mulheres, mas porque, com as pouquíssimas horas dedicadas às outras formas de trabalho
doméstico pelos homens, os cuidados com os filhos acrescentam a eles proporcionalmente
mais tempo do que às mulheres.

145
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

A metodologia do NTTA adaptada ao caso brasileiro

Apesar de ser importante para se conhecer a produção de tra-


balho doméstico, o uso apenas dos tempos individuais dedicados ao
trabalho doméstico oferece uma imagem limitada sobre a dinâmica
desse tipo de atividade, já que ignora o fato de que a quantidade de
trabalho doméstico feita pelo indivíduo tem interdependência com os
tempos de trabalho doméstico dos demais moradores. Algumas tare-
fas só precisam ser feitas uma vez dentro de um intervalo de tempo,
como refeições, compras e alguns tipos de limpeza. Assim, se um mo-
rador já fez tal trabalho, outro morador não terá que dedicar tempo
a esse tipo de atividade naquele período. Analisar apenas o tempo
individual de trabalho doméstico também ignora o fato de que parte
do trabalho que a pessoa realizou também foi em benefício próprio.
Para entender a dinâmica do trabalho doméstico nos domicílios e
a alocação desse tipo de recurso, é necessário investigar as transferên-
cias de tempo realizadas entre os moradores. O termo transferência
de tempo é utilizado para definir a quantidade de horas, sejam elas
diárias ou semanais, que um indivíduo cede do seu próprio orçamento
de tempo para realizar atividades das quais outros indivíduos irão se
beneficiar (DONEHOWER, 2014; VARGHA et al., 2017).
O ciclo de vida econômico, definido pelos padrões de consumo
e de produção ao longo das idades, é um conceito-chave na aborda-
gem do NTA e do NTTA. Nessa abordagem, a diferença entre o que se
consome e o que se produz indica o déficit ao longo do ciclo de vida.
Ao longo do curso de vida, valores de déficit positivo indicam consu-
mo maior do que a produção e, valores negativos, produção maior
do que o consumo. Nos momentos em que o consumo é superior
à produção, o mesmo é suprido através de transferências. O déficit,
nesse caso, indica a diferença entre o consumo de horas diárias de
trabalho doméstico e as horas de produção. Quando o déficit é posi-
tivo, houve mais consumo de trabalho doméstico do que produção e,

146
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

quando negativo, houve mais produção de trabalho doméstico do que


consumo, sendo, o excedente, transferido para outros membros do
domicílio (DONEHOWER, 2014; UNITED NATIONS, 2013).
Para medir a transferência de tempo é necessário identificar a
quantidade individual produzida de trabalho doméstico e a quantida-
de individual consumida de todo o trabalho doméstico produzido pe-
los moradores do domicílio. Assim, o déficit ao longo do ciclo de vida,
do ponto de vista individual, é estimado como demonstra a equação 1.

T(x) = C(x) – P(x) equação 1

Onde:
T(x): déficit de horas de trabalho doméstico não remunerado na idade x
C(x): consumo de horas de trabalho doméstico não remunerado na idade x
P(x): produção de horas de trabalho doméstico não remunerado na idade x

A informação de P(x), ou seja, a produção doméstica a cada idade


é proveniente do quesito sobre trabalho doméstico existente na PNAD.
São utilizados os dados da PNAD corrigidos pela metodologia desenvol-
vida em Jesus (2018) para estimar as horas de cuidados com crianças4.

4 Jesus (2018) recorreu a uma análise dos microdados da Pesquisa Nacional de Uso do Tempo
da Colômbia (2012-2013), bem como a uma revisão da literatura e demonstrou que, quando
comparados os padrões etários de trabalho doméstico não remunerado do Brasil com
essa pesquisa de uso do tempo e com várias publicações, é possível verificar que a falta
de detalhamento do questionário brasileiro resultou na subnotificação das horas dedicadas
ao cuidado de crianças. Foi proposta, portanto, uma metodologia para corrigir essa
informação de modo a incorporar as horas de cuidados de crianças. Utilizando o método de
padronização indireta, “tomou-se emprestado”, dos dados da Colômbia, a relação existente
entre o número de horas de cuidado e o número de horas dedicadas às demais atividades
domésticas. Estimou-se uma razão de correção que representa o número médio de horas
diárias de cuidado realizadas para cada hora de demais atividades domésticas feitas. A
razão foi estimada considerando um conjunto de variáveis sociodemográficas que estão
relacionadas de modo direto ao tempo gasto no trabalho doméstico. Essa razão foi estimada
para o caso colombiano, e, posteriormente, utilizada para o ajuste dos dados brasileiros, para
estimar o número diário de horas de cuidados esperado com base no mesmo conjunto de
variáveis sociodemográficas utilizadas na estimativa da razão na Colômbia.

147
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

No Gráfico 1 é apresentada essa produção ao longo do ciclo de vida


de homens e mulheres em 2013, separada em atividades de cuidados
e atividades relacionadas ao domicílio. As horas médias de cuidados
por dia, no caso das mulheres, são mais altas entre as idades de 20 a
40 anos, atingindo cerca de uma hora para mulheres com idades entre
25 e 30 anos. No caso dos homens, o aumento também é observado
entre essas idades, entretanto, em um nível mais baixo. Com relação às
atividades domésticas, observa-se que, no caso das mulheres, a curva é
crescente até os 60 anos, atingindo a média de quase quatro horas por
dia, tornando-se decrescente após essa idade. Entre os homens, veri-
fica-se uma estabilidade das horas de atividades domésticas ao longo
das idades, atingindo o pico ao redor dos 70 anos de idade, em cerca de
uma hora em média por dia.

Gráfico 1 – Tempo médio gasto na produção doméstica (horas diárias)


por idade e sexo. Brasil (2013)

Fonte: elaborado a partir da PNAD 2013, dados corrigidos por Jesus (2018)

148
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Já a informação de C(x), o consumo de trabalho doméstico a cada


idade, é estimada a partir da metodologia proposta por Donehower
(2014). Essa etapa define de que modo o agregado da produção em
cada domicílio foi consumida por cada morador. Essa metodologia
assume que todos os moradores, independentemente da idade e do
sexo, beneficiam-se igualmente das atividades domésticas gerais fei-
tas no domicílio. Assim, se, por exemplo, em um domicílio com dois
moradores adultos, foram feitas um total de 6 horas de trabalho do-
méstico em um dia, cada um deles consumiu 3 horas nesse mesmo
dia de trabalho doméstico não remunerado, independentemente do
tempo que cada um deles tenha se dedicado a essa atividade. As 6
horas desse exemplo constituem a produção doméstica diária nesse
domicílio, que se traduziu em um consumo per capita de 3 horas de
trabalho doméstico.
Por outro lado, a metodologia define que apenas um grupo es-
pecífico de moradores se beneficia das atividades de cuidado, como
crianças, adultos ou idosos dependentes de cuidados. Como só é pos-
sível observar o tempo que cada indivíduo fez de trabalho doméstico e
não como cada um se beneficiou dessa produção, é necessário algum
critério para distribuir os serviços de cuidado realizados no domicílio
e calcular a quantidade individual consumida desses serviços. A proxy
utilizada é a idade dos moradores potencialmente consumidores dos
serviços de cuidado.
Crianças em diferentes idades têm demandas diferenciadas em
termos de cuidados, sendo a demanda mais acentuada nos primeiros
anos de vida, principalmente naqueles que precedem a entrada na
escola (ANXO et al., 2011; ZAGHENI et al., 2014). Por esse motivo, as
idades das crianças foram divididas em 0 a 3 anos; 4 a 6 anos e 7 a

149
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

17 anos5. Estimou-se, então, o número médio de horas de cuidados6


observadas nos domicílios com crianças em cada uma dessas faixas
etárias, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Número médio de horas de cuidado observado em


domicílios segundo a faixa etária das crianças presentes
Escala de equivalência
Número médio de
Faixa etária 0 a 3 anos 4 a 6 anos
horas cuidado
referência referência
0 a 3 anos 3,715 1,000
4 a 6 anos 1,720 0,463 1,000
7 a 17 anos 0,401 0,108 0,233

Fonte: elaborado a partir da PNAD 2013, dados corrigidos por Jesus (2018)

A partir dessa estimativa, foi possível calcular uma escala de equi-


valência, que definiu os pesos utilizados na distribuição do consumo
de horas de cuidado conforme a composição do arranjo domiciliar. Por
exemplo, em um domicílio com crianças de 4 a 6 anos observa-se, em
média, 1,720 horas de cuidado por dia. Esse valor é 0,463 vezes o valor
observado em um domicílio que possui apenas crianças de 0 a 3 anos de
idade. Assim, em um domicílio formado por crianças com idades entre 0
e 3 anos e entre 4 e 6 anos, a parcela de tempo de cuidado consumido
pelas crianças de 4 a 6 anos deverá ser 0,463 vezes a parcela de consu-
mo de tempo atribuída às crianças de 0 a 3 anos.
No caso de existir mais de uma criança em cada grupo etário no
domicílio, a opção adotada foi distribuir o consumo de cuidado igual-
mente entre elas. Então, se por exemplo, um domicílio possuir duas
crianças com idades entre 0 e 3 anos, o tempo consumido por cada uma
delas será metade do tempo que se atribuiria a uma única criança de 0
a 3 anos.
O Gráfico 2 apresenta o consumo médio de trabalho doméstico
não remunerado no Brasil por dia ao longo do ciclo de vida. O consu-
mo é mais alto durante a infância, principalmente no primeiro ano de

150
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

vida, quando tanto homens como mulheres consomem, em média, 4,5


horas de trabalho doméstico diariamente. A título de comparação, no
Uruguai, foi observado que no primeiro ano de vida o consumo é, em
média, de 5,5 horas (RENTERÍA et al., 2016). Na Espanha, a média é 6
horas (BUCHELI; LARA, 2018). Estima-se que o valor dos cuidados não
remunerados que uma criança recebe no primeiro ano de vida seja mais
de três vezes o valor dos bens e serviços adquiridos diretamente no
mercado (CWW, 2016).

Gráfico 2 - Tempo médio consumido de trabalho doméstico não


remunerado (horas diárias) por idade e sexo. Brasil (2013)

Fonte: elaborado a partir da PNAD 2013, dados corrigidos por Jesus (2018)

Durante a vida adulta, o consumo diário atinge cerca de 1,5 horas


por dia, com um aumento ao redor dos 70 anos. As diferenças entre ho-
mens e mulheres só aparecem a partir dos 10 anos, quando as mulheres

151
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

passam a consumir mais horas que os homens. Esse resultado provavel-


mente está associado ao fato de que as mulheres, ao produzirem mais
trabalho doméstico do que os homens, também possam consumir mais
do que eles. Como as mulheres fazem muito mais trabalhos domésticos
do que os homens, os domicílios com maior proporção de mulheres ten-
dem a ser também aqueles que produzem (e também consomem) mais
carga de trabalho doméstico.
O declínio do consumo observado nas idades mais avançadas tem
ao menos duas explicações. A primeira delas decorre do fato de o método
de correção aplicado por Jesus (2018) só ser capaz de estimar o sub-regis-
tro de cuidados com crianças. Ao contrário do que acontece com as horas
dedicadas ao cuidado dos filhos, é difícil precisar, nas curvas por idade,
em qual momento do curso de vida poderia estar localizado o sub-regis-
tro do tempo dedicado ao cuidado de idosos. Outra explicação poderia
ser uma maior chance de contratação de trabalho doméstico remunerado
para atenção aos idosos, que não entrariam nessa curva de consumo, que
é direcionada para o trabalho doméstico não remunerado.

Estimativa dos perfis de transferências de trabalho doméstico


não remunerado

As transferências líquidas de tempo por idade e sexo são apresen-


tadas no Gráfico 3. Nas primeiras idades, como esperado, o consumo
de trabalho doméstico é maior do que a produção, já que durante a
infância as crianças recebem horas de cuidados e de outras atividades
domésticas, sem fazer contribuições à produção doméstica. Nos primei-
ros dez anos de vida, não se observa praticamente nenhuma diferença
entre homens e mulheres. Entretanto, é possível observar que os ho-
mens consomem mais trabalho doméstico do que produzem ao longo
de todo o ciclo de vida, sendo classificados como consumidores líqui-
dos de produção doméstica. Já entre as mulheres, observa-se que, já na

152
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

adolescência, a produção doméstica é maior do que o consumo (valor


líquido de transferência menor do que 0).

Gráfico 3 – Transferência de tempo ao longo do ciclo de vida (horas


diárias) por idade e sexo. Brasil (2013)

Fonte: elaborado a partir da PNAD 2013, dados corrigidos por Jesus (2018)

As mulheres brasileiras produzem mais do que consomem entre os


15 e os 83 anos, o que as coloca na condição de transferidoras líquidas
de tempo durante quase todo o ciclo de vida. Esse resultado é seme-
lhante aos achados de Donehower (2019) que, a partir de uma amostra
de 18 países de todo o mundo, mostrou que a idade média em que as
mulheres se tornam consumidoras líquidas, ou seja, passam a consumir
mais trabalho não remunerado do que produzem, é de 81 anos, o que
comprova um curso de vida comum: as mulheres dedicam longas déca-
das ao cuidado dos membros da família.

153
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

O valor econômico do trabalho doméstico não remunerado

A discussão sobre a valorização do trabalho doméstico contribui


para a legitimação dessa atividade como um tipo de trabalho produtivo e
para o reconhecimento de uma economia considerada por muito tempo
como invisível. A atribuição de valor econômico ao trabalho doméstico
não é útil apenas para avançarmos nas políticas de igualdade de gênero.
Esse exercício também lança luz sobre uma série de outras questões. Para
melhor entender o padrão etário de produção e consumo, é necessário
incluir não apenas os insumos adquiridos no mercado, mas também o
tempo utilizado para transformá-los no bem final que será consumido
pelos membros da família. Por exemplo, quando consideramos a produ-
ção de um jantar, essa inclui não apenas os alimentos a serem utilizados
na preparação, mas também o tempo dedicado ao preparo. Então, quan-
do todos se sentam à mesa para jantar, não estão consumindo apenas
o alimento comprado, estão consumindo também tempo de trabalho
doméstico não remunerado. A não incorporação do tempo de trabalho
doméstico leva a uma subestimação do real custo de dependentes, sejam
eles crianças, adultos ou idosos, que recebem longas horas de trabalho
doméstico no âmbito domiciliar todos os dias e que compõe uma par-
cela significativa das transferências intergeracionais. Os cálculos do valor
da produção nacional de trabalho doméstico são, portanto, úteis para
a análise do funcionamento da economia como um todo, da economia
doméstica, do real montante de consumo no setor privado e das intera-
ções entre o setor público, o mercado e as famílias (DONEHOWER, 2014;
PEDRERO, 2004).
Na abordagem microeconômica, existem quatro principais meto-
dologias para a atribuição de valor monetário à produção doméstica: 1)
custo de substituição por um generalista; 2) custo de substituição por
um especialista; 3) custo do salário médio ou mediano e 4) custo de
oportunidade (BUDLENDER, 2004). Para identificar a metodologia mais
adequada para cada contexto, deve-se levar em consideração a realida-
de econômica e sociocultural do país analisado. Nos países de alto nível
de renda, a contratação de serviços domésticos tende a ser relativa-
mente mais cara, em comparação com países de renda média ou baixa,

154
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

onde existe uma ampla oferta de prestadores desses serviços. Nesses


países, o emprego doméstico é muitas vezes caracterizado por baixa
remuneração, pouca valorização, desigualdade em termos de gênero,
raça e região, condições precárias e acesso limitado à seguridade social
(VELAZCO; VELAZCO, 2016). Nesse cenário, a contribuição indireta das
mulheres para a economia, estimada a partir de salários observados no
mercado para substitutos, seria subestimada, uma vez que as horas de
trabalho doméstico seriam valoradas com base nos baixos salários pa-
gos às prestadoras do serviço.
Essa conclusão pode ser obtida pela comparação entre os valores
encontrados, por exemplo, em países europeus e latino-americanos.
Vargha e colegas (2017) estimaram a produção doméstica em 14 paí-
ses europeus utilizando o método do custo de substituição por especia-
listas. Os autores encontraram que, em 2002, o valor total da produção
doméstica variou entre 23,7% do PIB na Letônia e 56,9% na Alemanha,
sendo que o valor médio nos 14 países foi de 43,3%. Se olharmos para
as estimativas já realizadas na América Latina, utilizando a mesma me-
todologia, encontramos montantes como 22,57% no México, em 2009,
34% na Guatemala em 2000, 23% na Nicarágua em 1998, 24,2% no Peru
em 2010 (VELAZCO; VELAZCO, 2016). Isso demonstra que os montantes
encontrados na América Latina são significativamente menores em com-
paração com aqueles encontrados nos países europeus7, como efeito da
remuneração baixa dos prestadores de serviços domésticos.
Por outro lado, no método do custo de oportunidade, que destoa
dos demais, o tempo dedicado ao trabalho doméstico não remunerado
seria valorado de acordo com o salário que o indivíduo possuiria no
mercado de trabalho. Nesse método, quanto maior o custo de oportuni-
dade envolvido no trade-off entre trabalho não remunerado e trabalho
remunerado, maior seria o valor imputado. Tanto no método do salário
médio quanto no método do custo de oportunidade, o valor estimado
da produção doméstica feminina é afetado pelas diferenças salariais ob-
servadas no mercado de trabalho entre homens e mulheres. Esse mé-
todo, como argumentam Velazco e Velazco (2016), transfere o padrão

7 Esse mesmo resultado foi observado por Budlender e Brathaug (2008) e Fraumeni (2008).

155
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

desigual de salários entre os subgrupos populacionais à valoração do


trabalho doméstico.
Embora as medidas de custo de oportunidade possam ser relevantes
para a tomada de decisões dos arranjos domiciliares, a abordagem do
custo de substituição é considerada mais apropriada para fins de conta-
bilização da contribuição para a economia, já que os preços de mercado
não são afetados pelo excedente dos consumidores (ABRAHAM; MACKIE,
2005). Alguns autores argumentam ainda que a utilização do custo de
oportunidade levaria a uma sobrestimação da contribuição do traba-
lho doméstico para a economia, já que a maioria das tarefas domésti-
cas poderia ser igualmente desempenhada, independentemente do nível
de escolaridade de quem realiza (SAMBT; DONEHOWER; VERBIČ, 2016;
VARGHA; GÁL; CROSBY-NAGY, 2017).
Outro argumento contra o método do custo de oportunidade afir-
ma que haveria uma supervalorização do tempo de trabalho doméstico
das pessoas com altos rendimentos sem que isso significasse melhoria na
qualidade do trabalho a ser desenvolvido (SAMBT; DONEHOWER; VERBIČ,
2016). Entretanto, as pessoas com altos rendimentos têm mais chances de
contratarem serviços domésticos e, consequentemente, realizarem me-
nos horas desse tipo de trabalho. Sendo assim, mesmo que fosse atribuí-
do um alto valor de salário-hora ao tempo de trabalho doméstico dessas
pessoas, o efeito poderia ser reduzido pelo menor engajamento desse
grupo nesse tipo de atividade.
No caso do Brasil, uma das primeiras contribuições no tema é de
Melo, Considera e Di Sabbato (2007). No estudo intitulado “Os afazeres
domésticos contam”, os autores utilizaram três diferentes valores de remu-
neração de serviços domésticos remunerados para contabilizar os afaze-
res domésticos, partindo da informação disponível na PNAD. Os autores
concluíram que os três métodos levariam a estimativas muito parecidas,
em torno de 11% do PIB no período analisado, que vai de 2001 a 2005.
Desse montante, 82% seriam devido às contribuições femininas e 18%
atribuídos à contribuição masculina. Em 2006, como destacam os autores,
a contribuição feminina para a economia através do trabalho doméstico
não remunerado teria representado R$ 213 bilhões de reais. Em 2016, em

156
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

um dos capítulos do livro “Uso do tempo e gênero”, os autores apresen-


taram uma atualização dessas estimativas. Em 2011, o valor do trabalho
doméstico não remunerado teria atingido 13,4% do PIB brasileiro (MELO;
CONSIDERA; DI SABBATO, 2016).

Aplicação dos métodos

Para estimar o valor econômico do trabalho doméstico não remune-


rado foram utilizadas três metodologias: 1) método do custo de oportu-
nidade; 2) método do custo de substituição por especialista, e 3) méto-
do de substituição por generalistas remunerados segundo as exigências
trabalhistas.

1) Método do custo de oportunidade

Nesse método, a produção doméstica foi valorada com base no ren-


dimento-hora que os indivíduos apresentam no mercado de trabalho. A
primeira questão a se tratar é a estimativa do valor do rendimento-hora
dos indivíduos que não tinham nenhum tipo de trabalho remunerado no
momento da entrevista. Os rendimentos dos indivíduos foram imputados
a partir de uma equação de rendimentos. Nessa equação, foi empregado
o modelo de seleção proposto por Heckman (1979). Esse modelo é indi-
cado quando se tem um viés de seleção da variável resposta. A variável
resposta em questão é o rendimento-hora, que só é observado para as
pessoas que têm alguma ocupação no mercado de trabalho. Ocorre que
essas pessoas que estão trabalhando possuem características que as sele-
cionaram para estar no mercado de trabalho, diferindo, portanto, das que
não estão. Esse é o viés de seleção que o modelo de Heckman corrige.
A modelagem é feita em dois estágios. O primeiro modela a probabili-
dade de que, a partir de um conjunto de variáveis, o indivíduo esteja em
uma ocupação remunerada. O segundo, por sua vez, modela o logaritmo
do rendimento-hora daqueles que, uma vez selecionados, possuem valor

157
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

observado de rendimento. Como variáveis de seleção, foram utilizadas a


presença de cônjuge no domicílio; presença de criança em idade pré-es-
colar (até 6 anos); sexo; escolaridade medida em anos de estudo; idade e
raça/cor. E, como variáveis explicativas para o rendimento-hora observa-
do, foram usadas as variáveis de idade; idade ao quadrado; escolaridade
medida em anos de estudo; sexo; raça/cor; residência em área urbana e
Unidade da Federação. Uma vez modelado o rendimento-hora, parte-se
para a atribuição de uma remuneração para as pessoas que não estavam
trabalhando, tendo em vista suas características sociodemográficas e os
coeficientes estimados a partir da regressão. Seguiu-se, então, para a es-
timativa da produção econômica anual, conforme a fórmula:
DO = 52 ∑W
i
i
1
* Ti equação 2

Onde DO é o valor econômico da produção doméstica anual estimado


pelo método do custo de oportunidade, Wi1 o rendimento-hora de cada
indivíduo e Ti o número de horas semanais de trabalho doméstico não
remunerado.

2) Método do custo de substituição por especialista

No método do custo de substituição, a produção doméstica é va-


lorada conforme os salários observados entre os profissionais que po-
deriam ser contratados para realizar o trabalho doméstico. Esse é o mé-
todo adotado pelo NTTA. No caso dos dados brasileiros, foi possível
desagregar o trabalho doméstico não remunerado em dois tipos de es-
pecialidades: atividades de cuidados e demais atividades realizadas no
domicílio, como limpeza, preparo de alimentos, manutenção das peças
de vestuário, entre outras. Sendo assim, seria necessário identificar o
rendimento-hora de dois tipos de especialistas: o especialista em cui-
dados de crianças e o especialista nas demais atividades domésticas.
Essa informação foi retirada da própria PNAD, através de dois quesitos:
I. Rendimento mensal em dinheiro que recebia normalmente, no mês de

158
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

referência, no trabalho principal da semana de referência; II. Código da


ocupação no trabalho principal da semana de referência.
O Quadro 1 apresenta as ocupações identificadas na PNAD (2013)
que foram escolhidas na determinação do rendimento-hora dos espe-
cialistas. Essas atividades, no caso do Brasil, são realizadas quase que em
sua totalidade por mulheres, 99,96% entre as ocupações relacionadas
aos cuidados e 99,62% entre as atividades domésticas gerais.
Tendo em vista as diferenças socioeconômicas existentes no Brasil,
optou-se por considerar o rendimento-hora das especialistas de acordo
com a Unidade da Federação, a fim de incorporar as diferenças regio-
nais do mercado de trabalho. Como a distribuição do rendimento-ho-
ra não segue uma distribuição normal, optou-se por utilizar a mediana
dessa variável para precificar o trabalho doméstico.

Quadro 1 – Tipos de ocupações que substituiriam os trabalhos


domésticos não remunerados realizados nos domicílios

Fonte: Dicionário de variáveis PNAD 2013

159
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

O valor do rendimento-hora em cada um dos tipos de especialida-


des e em cada um dos estados foi, então, utilizado para estimar a produ-
ção doméstica em termos monetários. As horas dedicadas às atividades
domésticas são multiplicadas pelo salário-hora do especialista que seria
contratado para desempenhar essa atividade. O mesmo foi feito para o
caso dos cuidados. A equação a seguir demonstra como o valor econô-
mico da produção doméstica foi calculado:
DS = 52 ∑ (W
i
ki
AD
* Ti + Wki * Ti )
AD AC AC
equação 3

Onde:
DS : valor econômico da produção doméstica anual pelo método de custo
de substituição
WkiAD = mediana do rendimento-hora das especialistas em atividades
domésticas em cada uma das K Unidades da Federação
TiAD = número de horas de atividades domésticas por semana
WkiAC = mediana rendimento-hora das especialistas em atividades de
cuidado em cada uma das K Unidades da Federação
TiAC = número de horas de atividades de cuidado por semana

3) Método do custo de substituição por um generalista com carteira assinada

Recentemente, houve uma mudança na legislação brasileira que


passou a garantir direitos trabalhistas antes não acessíveis a trabalha-
doras domésticas. Essa mudança visa assegurar que essas trabalhadoras
tenham acesso ao fundo de garantia por tempo de serviço, definição da
jornada semanal de trabalho e pagamento de hora extra. Uma maneira
de incorporar essa mudança às estimativas do valor econômico do tra-
balho doméstico, mesmo que estimado para 2013, seria aplicar o mé-
todo de substituição por uma empregada doméstica com carteira as-
sinada, excluindo outras ocupações associadas ao trabalho doméstico

160
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

e que apresentam variabilidade nas remunerações (como por exemplo,


diferenças de remunerações de babás e camareiras). Assim, o terceiro
método consiste na substituição do trabalho doméstico por um gene-
ralista, ou seja, uma única categoria de trabalhadores que exerceriam
todo o trabalho doméstico, independentemente de sua natureza, mas
o fazem com carteira assinada. O cálculo foi feito como demonstra a
equação a seguir:
DG = 52 ∑ (W
i
ki
G
* Ti ) equação 4

Onde:
DG = valor econômico da produção doméstica anual pelo método de
custo de substituição por generalista com carteira assinada
WkiG = mediana do rendimento-hora das trabalhadoras domésticas com
carteira assinada em cada uma das K Unidades da Federação
Ti = número de horas de trabalho doméstico não remunerado por
semana

A Tabela 2 apresenta as estimativas do valor da produção domés-


tica no Brasil em relação ao PIB segundo os três métodos propostos.
Esses valores apresentam a contribuição da produção doméstica para
a economia que ainda não havia sido considerada nas contas nacio-
nais. Independentemente do método escolhido, a contribuição indi-
reta das mulheres para a economia através do trabalho doméstico é
quatro vezes maior que a contribuição masculina. No método do custo
de oportunidade, a produção anual acumulada do trabalho domésti-
co seria equivalente a 15,77% do PIB. No método de substituição por
especialistas, esse valor seria 10,44%, menor do que o valor encontra-
do através da substituição por um generalista com carteira assinada,
10,96%, já que as atividades de cuidado de crianças estão associadas a
remunerações inferiores em relação às demais ocupações de serviços
domésticos.

161
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Tabela 2 - Valor total agregado da produção doméstica em relação ao


PIB (%) em 2013 segundo cada método

Fonte: elaborado a partir da PNAD 2013, dados corrigidos por Jesus (2018)

O resultado apresentado na Tabela 2 pode ser utilizado para uma


reflexão sobre o valor econômico do trabalho doméstico, mais do que
para se concluir por um método mais adequado. Quando se considera o
custo de oportunidade, que atribui maior valor econômico ao trabalho
doméstico, a produção em relação ao PIB seria de 15,77%. Esse valor
está consideravelmente abaixo do que é encontrado em países de alto
nível de renda, onde a produção doméstica representaria entre 25 e
60% do PIB quando valorada por remunerações de substitutos do tra-
balho doméstico (VARGHA; GÁL; CROSBY-NAGY, 2017). Nesse método,
uma parcela da população tem seu trabalho doméstico remunerado hi-
poteticamente acima do valor pago às trabalhadoras do serviço domés-
tico. Entretanto, mesmo sobrevalorizando o trabalho doméstico através
desse método, os salários no país são relativamente baixos e fazem com
que a contribuição relativa desse tipo de trabalho para a economia não
ultrapasse um sexto do PIB. Se ao trabalho doméstico fosse atribuído o
rendimento de uma empregada doméstica com carteira assinada, o va-
lor seria de quase 11% do PIB, semelhante aos resultados encontrados
por Melo e colegas (2007).
Se fôssemos substituir todo o trabalho doméstico não remunerado
realizado em 2013, considerando as jornadas de trabalho observadas
entre as trabalhadoras ocupadas em serviços domésticos, seria necessá-
rio contratar 7.932.008 trabalhadores, além dos 6.454.015 já existentes
(PNAD 2013). Esse movimento alteraria as regras de mercado, afetando

162
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

o nível dos salários pagos nesse setor. Assim, o método do custo de


substituição, no limite, também não resolveria a questão da estimativa
do valor econômico do trabalho doméstico.
Qual seria então a melhor estimativa do valor econômico do traba-
lho doméstico não remunerado no Brasil? Os métodos de substituição e
de custo de oportunidade podem indicar o leque de variação para essa
estimativa. A contribuição do trabalho doméstico para a economia em
2013 teria, portanto, uma magnitude entre 10,44% e 15,77% do PIB. Por
outro lado, considerando que o trabalho doméstico ainda se configura
como um entrave para permanência estável das mulheres no mercado
de trabalho e, além disso, um dificultador de acesso a ocupações de
qualidade, é importante se considerar o custo de oportunidade quan-
do se deseja entender o potencial de produção econômica das mulhe-
res comprometido pelo desequilíbrio da divisão do trabalho doméstico
dentro dos domicílios.

E se a produção doméstica fosse somada à produção no mercado?

Para avaliar a verdadeira produção econômica de homens e mulhe-


res ao longo do curso de vida, agregou-se a produção nas duas esferas:
ambiente doméstico e mercado de trabalho. Nessa análise, optou-se
por utilizar a produção doméstica estimada através do método do custo
de substituição por especialista, utilizado nas estimativas do NTTA, e
a produção de mercado auferida a partir dos salários observados. No
Gráfico 4, temos a produção combinada, ou seja, a soma da produção
doméstica e a produção no mercado. Quando a produção doméstica é
considerada, vemos que as mulheres produzem mais do que homens
em todas as idades do ciclo de vida. O que ocorre é que a produção
doméstica representa uma parcela significativa da produção econômica
das mulheres. Cerca de 55% da produção feminina ao redor dos 30 anos
pode ser atribuída à produção doméstica, contra cerca de 12% no caso
dos homens. Esses resultados ilustram a já conhecida divisão sexual do

163
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

trabalho, confirmando que os homens seguem responsáveis pelo traba-


lho remunerado e as mulheres pela produção doméstica não remunera-
da. Entretanto, evidenciam que do ponto de vista econômico, mulheres
são tão ou mais produtivas que os homens e contribuem tanto quanto
para o consumo de suas famílias.

Gráfico 4 - Produção anual per capita doméstica e de mercado (R$) por


idade e sexo. Brasil (2013)

Fonte: elaborado a partir da PNAD 2013, dados corrigidos por Jesus (2018)

Conclusões

Em um atraso considerável em relação aos nossos vizinhos, apesar


de diversos esforços, não possuímos, até os dias atuais, uma pesqui-
sa de uso do tempo com representatividade nacional. Nesse trabalho,
buscamos gerar as primeiras estimativas de consumo e transferência

164
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de tempo de trabalho doméstico não remunerado do Brasil, a partir da


informação limitada que temos nas PNADs. Essa análise oferece novas
visões sobre o trabalho doméstico. A primeira delas, sob a ótica do con-
sumo, permite evidenciar que, quando não são levados em considera-
ção os cuidados e as atividades domésticas feitas dentro dos domicílios,
incorre-se em uma subestimação do real valor consumido pelas famílias,
que vai além dos bens e serviços adquiridos no mercado.
A segunda delas, sob a ótica das transferências, contribui, antes
mesmo que se atribua um valor econômico ao trabalho doméstico, para
que se visualize o trabalho doméstico como um recurso cedido, sobre-
tudo por parte das mulheres, para o bem-estar das famílias, principal-
mente para os primeiros anos de vida dos indivíduos. As transferências
de tempo têm efeitos positivos importantes sobre a acumulação de ca-
pital e esses efeitos podem ser tão significativos quanto os das transfe-
rências monetárias (CARDIA; NG, 2003; GRAY, 2005).
Ademais, as estimativas evidenciam a inequidade de gênero na
transferência intergeracional de tempo de trabalho doméstico não re-
munerado. De modo não surpreendente, as análises demonstraram que
as mulheres passam toda a vida adulta na condição de transferidoras
líquidas de trabalho doméstico, ou seja, produzindo dentro dos domicí-
lios mais trabalho doméstico do que consomem. Os homens, ao longo
de todo o curso de vida, apresentam-se como consumidores líquidos
desse tipo de recurso, sempre consumindo mais do que produzem.
Entretanto, desigualdades significativas devem surgir quando se
considera a condição socioeconômica dos indivíduos. Espera-se que
a análise por marcadores sociais como raça/cor, classe social, nível de
escolaridade e contextos urbanos/rurais e regionais indique diferenças
significativas quanto à idade em que as mulheres se tornam transferi-
doras líquidas bem quanto no nível das transferências feitas. Isso deve
ocorrer porque, em primeiro lugar, o trabalho doméstico está intima-
mente ligado à trajetória de fecundidade das mulheres, uma vez que a
presença de filhos representa um aumento do tempo dedicado à pro-
dução doméstica e, como sabido, essas trajetórias são diferentes em

165
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

diferentes contextos socioeconômicos. Além disso, sabe-se que no Brasil


a conciliação entre esfera pública e privada é sensível ao nível de renda.
Em domicílios de mais alta renda, opera o “modelo de delegação”, em
que as famílias delegam as atividades domésticas às mulheres pobres,
através da contratação de empregadas domésticas (HIRATA; KERGOAT,
2007). Essa dimensão deve ser incorporada às análises futuras.
Buscou-se, ainda, aplicar três métodos distintos de valoração do
trabalho doméstico não remunerado. O propósito desse exercício, mais
do que decidir pelo melhor método para encontrar o valor da contri-
buição indireta para economia via trabalho doméstico, foi evidenciar
os efeitos dos níveis dos rendimentos no país sobre as estimativas e a
comparação internacional. A produção doméstica acumulada, precifica-
da pelo rendimento-hora de substitutos para as atividades de cuidados
e demais afazeres domésticos, representou, em 2013, 10,44% do PIB
brasileiro, sendo que, o trabalho doméstico não remunerado das mu-
lheres equivaleria a 8,42% do PIB.
Por fim, para avaliar a produção econômica de homens e mulheres,
agregou-se a produção nas duas esferas: ambiente doméstico e merca-
do de trabalho, optando-se por utilizar a produção doméstica estimada
através do método do custo de substituição por especialista, utilizado
nas estimativas do NTTA. Quando a produção doméstica é considerada,
as mulheres passam a produzir mais do que homens em todas as ida-
des do ciclo de vida. O que ocorre é que metade da produção feminina
é não remunerada. Em outras palavras, metade da produção feminina
está na invisibilidade, pois se dá pelo trabalho doméstico invisível e não
reconhecido, que, apesar disso, assegura a realização de qualquer outra
forma de produção na nossa sociedade.

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Metodologias, Trabalho e Uso do tempo:
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Lorena Lima de Moraes


(UFRPE – UAST)
Nicole L. M. T. de Pontes
(UFRPE – UAST)
Shana Sampaio Sieber
(UFRPE-UAST-DADÁ)
Juliana Funari
(UFRPE-UAST-DADÁ)
Nathália Marques da Silva Nascimento
(UFRPE – UAST)
Patrícia de Lira Marques
(UFRPE-UAST-DADÁ)

Introdução

O tempo é um recurso fundamental na vida de todas as pessoas e


pode ser usado de maneiras diferentes a depender da cultura, da orga-
nização social e de demais fatores externos que podem influenciar as

1 O presente texto serviu como base para a construção do ensaio premiado em terceiro
lugar no Concurso Anual para Jovens (até 35 anos) do Instituto para el Desarrollo Rural
de Sudamérica sobre “Mujeres Rurales: Innovando estrategias, transformando realida-
des”. Para acessar o texto premiado, ver em: https://www.sudamericarural.org/index.php/
nuestra-produccion/exploraciones

171
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

vidas dos indivíduos. Para Sorokin e Merton (1937), o tempo meramente


quantitativo, se considerado sem as marcas da vida em sociedade, não
tem nenhum significado, ou seja, é um elemento vazio. Para os autores,
a impressão de significados determinados pelo ritmo da vida social é o
que torna o tempo qualitativo, sendo denominado pelos autores como
“tempo social”.
Já para Norbert Elias (1992), a experiência do tempo na vida social
é considerada pelo esforço que a sociedade fez no desenvolvimento de
sua medição, ou seja, torná-lo quantitativo a partir de aparatos tecnoló-
gicos para medir, sincronizar, dividir, para torná-lo bem aproveitado, ou
eficiente, se assim quisermos chamar. Contudo, a forma como as pesso-
as organizam, negociam e distribuem seu tempo e o tempo das pessoas
ao seu redor, afeta o bem-estar econômico e social e acarreta impactos
sobre a família e a comunidade onde vivem (CAVALCANTI et al., 2010).
Neste sentido, as pesquisas sobre o uso do tempo estão cada vez
mais adquirindo importância na formulação de indicadores para ava-
liar as condições de vida da população. Tais pesquisas correspondem
a “uma das maneiras de elaborar esses indicadores e avaliar como o
recurso ‘tempo’ é usado diferentemente entre homens e mulheres, en-
tre os grupos etários, entre pessoas de grupos raciais distintos ou das
várias classes sociais” (CAVALCANTI et al., 2010 p. 1). Além disso, é pos-
sível saber qual a proporção de tempo é destinada para cada atividade,
com qual finalidade é executada, quem se beneficia, se as atividades são
realizadas individualmente ou são compartilhadas, onde a atividade é
realizada, se gera recursos monetários, etc.
María José Araya (2003) afirma que as primeiras pesquisas do uso
do tempo datam do início do século XX, com iniciativas realizadas na
Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de realizar estudos demo-
gráficos e industriais sobre populações rurais e urbanas e estudos psico-
lógicos sobre as atividades de lazer das pessoas desempregadas. Muito
embora já encontremos categorias e aspectos fundamentais acerca das
preocupações com as diferentes formas de atividades e a necessidade

172
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de valorização do trabalho doméstico (homemaking) num estudo so-


bre o uso do tempo entre as mulheres rurais do estado de Oregon,
Estados Unidos, produzido nos anos 1920 (WILSON, 1929). Essa preo-
cupação surge com o intuito de melhor gerir e organizar o trabalho da
casa, garantindo que este permaneça como alternativa a outras formas
de trabalho que emergiam como possibilidade no cenário de migração
para os espaços urbanos das grandes cidades americanas. É importante
perceber, também, que mesmo quando busca operar a valorização do
trabalho doméstico e de cuidado, a referida pesquisa faz uso de termos
que indicam uma atribuição moral dessa categoria de trabalho especi-
ficamente às mulheres. Somente a partir da década de 1970, as pesqui-
sas do uso do tempo ganham um viés feminista, com o propósito de
evidenciar a importância do trabalho doméstico não remunerado e a
(injusta) divisão sexual do trabalho.
No Brasil, os trabalhos pioneiros, em nível local e estadual (RJ e
MG) sobre uso do tempo foram desenvolvidos na década 1970 e 1990
(SOUZA, 1973; AGUIAR, 2001; AGUIAR, 2010); contudo, somente em
1992, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incorpo-
rou questões referentes ao trabalho doméstico e ao uso do tempo na
Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD). Essa inclusão no
questionário tinha como fim identificar os membros do domicílio que
realizavam tarefas domésticas e questões referentes ao tempo gasto
no deslocamento entre a casa e o trabalho. Em 2001, a PNAD incluiu
questões sobre o número de horas semanais destinadas ao trabalho
doméstico não remunerado (BANDEIRA; PRETURLAN, 2016). Quase uma
década depois, 2009-2010, o IBGE realizou uma pesquisa piloto do uso
do tempo em seis estados brasileiros, incluindo contextos rurais.
Os estudos brasileiros do uso do tempo são considerados iniciais e
exploratórios, uma vez que não existe uma pesquisa específica com pe-
riodicidade e cobertura nacional, que permita mensurar a forma como
os indivíduos destinam seu tempo para diferentes atividades, marcados
pela escassez de estudos e pesquisas em contextos rurais e interioranos.
Neste sentido, desenvolvemos uma pesquisa sob perspectiva feminista

173
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

acerca do uso do tempo das mulheres rurais e das relações de gênero


no sertão de Pernambuco. Para o presente texto, o nosso objetivo é
apresentar os percursos metodológicos realizados para a produção de
dados sobre o uso do tempo entre as mulheres rurais, as particularida-
des diante do locus investigado e os interesses específicos de investiga-
ção da referida pesquisa. Não é nosso interesse no momento, apresen-
tar análises e resultados; mas, visibilizar as potencialidades da produção
de conhecimento sobre o uso do tempo das mulheres, nossos desafios
enquanto pesquisadoras e os limites metodológicos e analíticos envol-
vidos no desenvolvimento do nosso trabalho.

Divisão sexual do trabalho e uso do tempo: o que nos conta


a literatura?

No que tange às questões de gênero, as pesquisas do uso do tem-


po são capazes de perceber através de um retrato do cotidiano das
pessoas, como os papéis sociais e as desigualdades de condições e
oportunidades entre os sexos estão sendo estabelecidos e reforçados
na nossa sociedade. Nessas pesquisas, o trabalho se apresenta como
um dos aspectos centrais nessas relações cotidianas já que é considera-
do ferramenta fundamental para a criação e transformação da natureza,
tendo como intuito a satisfação das necessidades e desejos humanos.
Assim, o trabalho como categoria ou como conceito prefigura em inú-
meras discussões relacionadas à vida e a organização coletiva da vida
humana, aparecendo como conceito essencial nos estudos clássicos e
contemporâneos sobre as relações produtivas do capitalismo e de suas
alternativas, sendo importante lembrar sua permanente conexão com as
relações de gênero.
Na atualidade, o papel do trabalho e de suas subdivisões catego-
rizadas a partir tanto da sua função e da sua “especificidade” de gêne-
ro, produtivo e reprodutivo, quanto a partir de sua condição e status
econômico, remunerado ou não remunerado, emergem como tópico

174
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

central nas discussões acerca da divisão sexual do trabalho e do uso do


tempo.
A produção científica sobre uso do tempo e trabalho reprodutivo
tem crescido ao longo dos anos e se tornado cada vez mais complexa.
De acordo com Luana Pinheiro (2016), as pesquisas internacionais têm
possibilitado reflexões importantes para as discussões sobre desigual-
dades de gênero na alocação de tempo em trabalhos domésticos, so-
bretudo, no que diz respeito à realidade das mulheres. Tais estudos têm
sido realizados a partir das iniciativas nacionais adotando instrumentos
metodológicos em formato de diários ou questionários fechados, de
forma a organizar as atividades cotidianas em distintos agrupamentos.
A discutida separação entre as esferas pública e privada reforçam
os sistemas de dominação e de exploração que constroem as relações
sociais com base em mecanismos materiais e simbólicos que sustentam
as desigualdades entre os seres humanos. No que se refere ao traba-
lho doméstico e de cuidados não remunerado, Maria de la Paz Barajas
(2016) afirma que esta é uma das áreas na qual se observa com mais cla-
reza esta desigualdade, através do desequilíbrio na divisão das respon-
sabilidades do lar, provocando limitações no acesso à educação formal
e aos empregos formais, que, consequentemente, interferem no acesso
das mulheres às políticas de seguridade social.
Hildete Pereira de Melo e Marta Castilho (2009) nos lembram que o
conceito “divisão sexual do trabalho” foi consolidado durante o período
de industrialização destacando a subestimação das atividades realiza-
das pelas mulheres na família, consideradas como não trabalho, uma
vez que são frequentemente confundidos “produção” com produção de
mercadorias, e “trabalho” com emprego. No caso das mulheres rurais
afirmamos o que se constitui numa dupla invisibilidade do trabalho por
se tratar de um processo cotidiano de apagamento da centralidade das
tarefas femininas na produção agropecuária, considerada frequente-
mente como “ajuda” ao que se considera como “trabalho de homens na

175
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

roça”, por meio da subjugação do trabalho doméstico e de cuidados à


categoria do não trabalho.
Neste sentido, Lourdes Bandeira e Renata Preturlan (2016, p. 49)
afirmam que a inserção social diferenciada de homens e mulheres tem
sua origem e se legitima na divisão sexual do trabalho que, por sua
vez, “distingue os trabalhos que são próprios aos papéis, ritmos e es-
paços de gênero, que os hierarquiza e lhes atribui valores diferenciados
e estigmatizados”. Logo, se faz urgente que a sociedade e o próprio
Estado compreendam que o trabalho reprodutivo é indissociável do tra-
balho produtivo, uma vez que o segundo só se realiza com o suporte do
primeiro, através da “disponibilidade feminina, materna e conjugal das
mulheres” para administrar a esfera doméstica e também, profissional
quando necessário (HIRATA et al., 2009, p. 257).
A subordinação do trabalho reprodutivo ao produtivo está vincu-
lada às relações de dominação de gênero, que inferiorizam simbólica e
materialmente as mulheres e suas atividades, áreas de atuação, dimen-
sões da vida social e tempos pessoais associados a elas (BANDEIRA;
PRETURLAN, 2016).
A tradição francesa dos estudos de gênero compreende que a di-
visão sexual do trabalho decorre das relações sociais de sexo; ainda que
adaptada a cada sociedade, “tem por características a destinação priori-
tária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva
e, simultaneamente, a ocupação pelos homens das funções de forte va-
lor social agregado (políticas, religiosas, militares, etc.)” (KERGOAT, 2009,
p. 67).
María Inés Amoroso Miranda et al. (2003) questionam a ideia do
“esquema produção-reprodução” que simboliza a existência de dois
trabalhos, com características próprias, que são complementares e são
tidos com o mesmo grau de importância na reprodução do sistema glo-
bal, conforme aponta a crítica feminista francesa. As autoras espanholas
são incisivas ao defender que as duas atividades não podem ser compre-
endidas no mesmo nível de importância, pois, é o “trabalho doméstico

176
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

familiar” o responsável por assegurar o crescimento, o desenvolvimento


e a manutenção dos seres humanos como sujeitos sociais. Para Miranda
et al. (2003, p. 19),

Esto significaba un cambio de paradigma, representaba


otra manera de mirar, entender e interpretar el mundo
y, por tanto, de analizarlo. Era para nosotras un cambio
simbólico importante y, además, casi de sentido comúm:
el centro de los objetivos sociales, políticos y económi-
cos debería ser la vida humana y las diversas actividades
deberían girar en torno a este objetivo primero y estar a
sua servicio.

Além disso, para marcar a distinção entre “trabalho doméstico”


remunerado e não remunerado, que compreende as atividades tradi-
cionais das tarefas realizadas no interior do lar, como: lavar, cozinhar,
passar roupa, varrer, etc., em relação ao trabalho doméstico não pago
ou não remunerado, as autoras utilizam o termo “trabalho doméstico
familiar”, que além das tarefas citadas, abarcam uma série de atividades
de gestão e organização fundamentais (não remuneradas) para o bom
funcionamento de uma casa, que muitas vezes são realizadas fora do
âmbito doméstico (MIRANDA et al., 2003, p. 16-17).
Com o intuito de abandonar o “esquema produção-reprodução”,
que historicamente foi construído sob uma hierarquia generificada,
adotaremos em nossa classificação de atividades os termos “trabalho
doméstico”2, para nos referirmos ao que é entendido como trabalho
para a boa funcionalidade do lar, além do “trabalho de cuidado” e “tra-
balho destinado ao mercado”, para o que se compreende como traba-
lho produtivo e que prevê uma remuneração monetária. Ainda assim,
as atividades do cotidiano estão longe de se restringir a este esquema
binário (produção-reprodução) da vida social e, no que tange a vida em

2 No caso da nossa pesquisa, quando nos referimos ao trabalho doméstico, trata-se do tra-
balho doméstico não remunerado. Na situação em que a mulher é empregada doméstica,
o trabalho doméstico remunerado será contemplado no item da Classificação que se refere
ao trabalho remunerado destinado ao mercado.

177
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

contextos rurais, as atividades cotidianas partem de uma outra lógica


das relações sociais que busca a sustentabilidade da vida comunitária.
Gema Esmeraldo (2010, p. 195) afirma que “ao longo da história da
formação da vida camponesa, estruturas materiais e simbólicas se ob-
jetivam e se naturalizam, e perpetuam uma ordem e uma divisão sexual
na unidade produtiva e na unidade doméstica ordenando papéis sociais
sexuados”. Na sua pesquisa em dois assentamentos no Ceará, a autora
identifica que as tarefas domésticas são majoritariamente realizadas pe-
las mulheres e, neste sentido, afirma que a casa é um espaço sexuado
que através do tempo “constrói um trabalho material e imaterial que
forma subjetividades nos corpos das mulheres”. O tempo e o espaço
integram a estrutura normatizadora que cria disciplina, aprendizado de
condutas e de habitus produtores de um saber e um fazer, de modo que
para as mulheres e para os homens regem a organização e o funciona-
mento da unidade doméstica e a produção de funções e papéis sociais
(ESMERALDO, 2010, p. 199).
Envolvidas em diversas atividades que preenchem o seu cotidiano,
as mulheres rurais não convivem com a ideia da jornada de trabalho
com marcação definida de tempo, ou seja, que possui um início e um
fim. O trabalho das mulheres rurais articula a produção e a reprodução,
admitindo um caráter de continuidade e sem definição de começo e
término em sua rotina. Essa estrutura na qual se reproduz o trabalho
das mulheres rurais, contribui para a desvalorização e invisibilidade do
mesmo (FARIA, 2009; MELO, DI SABBATO, 2009).
As mulheres rurais não são reconhecidas como sujeitos ativos
dos processos produtivos, sendo invisibilizadas enquanto trabalhado-
ras nos processos de produção e reprodução da agricultura familiar
(SILVA; PORTELLA, 2010). Os diversos estudos sobre relações de gênero
no meio rural (PAULILO, 2004; CARNEIRO, 1994; BRUMER, 2004; SILVA;
PORTELLA, 2010), principalmente quando destacam a questão da divi-
são sexual do trabalho, reconhecem a invisibilidade e desvalorização do
trabalho executado pelas mulheres. Além das atividades domésticas na

178
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

unidade familiar, as mulheres rurais cuidam dos pequenos animais e de


seus quintais produtivos. No entanto, como essas atividades são dire-
cionadas, em sua grande parte, para o autoconsumo, esse trabalho não
é contabilizado, tampouco reconhecido e valorizado, uma vez que não
gera renda monetária.
As mulheres também trabalham na roça, no entanto, é consenso
entre todos esses estudos que o trabalho das mulheres na produção
agrícola é entendido como “ajuda” pelos demais membros da família ou
da comunidade. Contudo, esse trabalho possui frequência diária, logo, é
associado ou confundido com as atividades domésticas. Como tal, não
é remunerado e não faz da mulher um sujeito ativo na decisão da pro-
dução, comercialização e da aplicação do dinheiro arrecadado com a
produção ou proveniente das políticas públicas. Percebe-se claramente
as relações de poder entre homens e mulheres na divisão sexual do
trabalho, admitindo uma relação hierárquica que torna evidente que a
gestão da produção não é igualitária ou sequer compartilhada.
Os estudos sobre usos do tempo tornam visíveis as variadas ati-
vidades e trabalhos que são realizados ao longo do dia, de forma que
quantificam o tempo destinado às atividades, explicitam as pessoas res-
ponsáveis por cada tarefa e tornam evidente quem se beneficia do tra-
balho alheio.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio
(PNAD, 2013), 90,8% das mulheres rurais dedicam 26,1 horas semanais
ao trabalho doméstico familiar, enquanto 43,1% dos homens dedicam
10,2 horas semanais para o mesmo tipo de trabalho. Os trabalhos re-
munerados e domésticos para o âmbito familiar, tanto no contexto rural
como no urbano, são desenvolvidos por homens e mulheres. No entan-
to, o que os diferencia é a quantidade de tempo que cada sexo dispende
para cada atividade e a responsabilidade e visibilidade de quem execu-
ta, que essencialmente reproduzem as desigualdades de gênero. Neste
sentido, a economista Luana Pinheiro chama atenção para os padrões
de desigualdade na alocação de tempo que

179
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

só podem ser entendidos em sua plenitude ao se consi-


derarem os significados simbólicos do trabalho domés-
tico na construção social de gênero e ao se analisarem
os contextos social, cultural, econômico e político nos
quais homens e mulheres são socializados, formam suas
famílias, criam seus filhos e sustentam seus lares. Nesse
sentido, o trabalho reprodutivo não pode ser compreen-
dido fora das suas relações com gênero, com a estrutura
e a interação familiar, bem como com as formas de ope-
ração do mercado formal e informal. (2016, p. 73)

Gema Esmeraldo (2006) em sua pesquisa com as mulheres rurais


assentadas no estado do Ceará constatou a partir da autodeclaração das
entrevistadas que elas utilizam de 7 a 12 horas diárias na realização das
atividades domésticas, totalizando assim, 49 horas semanais (utilizando
o menor registro), sendo possível perceber uma grande discrepância
em relação aos dados da PNAD. Uma vez que a PNAD (2013) apresenta
dados que sugerem desigualdades na divisão sexual do trabalho, as in-
vestigações in loco afirmam que essas desigualdades se estabelecem de
maneira ainda mais profunda.
As pesquisas sobre o “uso social do tempo” (MOLINER, 2009;
AGUIAR, 2010) que contemplam o cotidiano das mulheres urbanas pos-
sibilita estabelecer de forma mais delimitada o tempo empregado no
trabalho doméstico familiar e no trabalho remunerado. No cotidiano
das mulheres rurais esses dois tipos de trabalho se integram, muitas
vezes nos mesmos espaços, e frequentemente são confundidos – pela
família, por elas próprias e pela sociedade em geral – intensificando a
invisibilidade e desqualificação de ambos. Dessa forma, essas pesquisas
não têm contemplado a realidade das mulheres rurais, como indica a
discrepância entre os dados oficiais da PNAD e a pesquisa da professora
Gema Esmeraldo (2006). Assim, faz-se necessária a adoção de metodo-
logias específicas e contextualizadas que compreendam as tarefas de-
senvolvidas pelas mulheres rurais dentro da organização temporal diá-
ria, incluindo suas dinâmicas de deslocamento espacial dentro e fora da

180
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

casa e sua participação num conjunto ampliado de atividades, focando


nos tipos de trabalho que venham a fugir das categorizações que até o
presente invisibilizam o trabalho doméstico, de cuidados e da reprodu-
ção da vida comunitária.

Metodologias para a pesquisa do uso do tempo em


contextos rurais

Analisando o estado da arte das pesquisas de uso do tempo, temos


construído um caminho metodológico que contribui para superar lacu-
nas existentes nesse campo de pesquisa. Em uma abordagem feminista
crítica à divisão sexual do trabalho, em suas diversas faces e dinâmicas,
partimos do pressuposto de que o tempo e seus usos não são neutros.
De acordo com Bandeira e Preturlan (2016), mesmo quando coletamos
dados objetivos, como na contabilização do tempo em diários de cam-
po, a objetividade não está isenta de sobrevalorizar ou estigmatizar uma
ou outra atividade, hierarquizando um sexo frente a outro.
Adotamos uma nova postura metodológica, apontada como ne-
cessária por estudiosas do uso do tempo, capaz de questionar o siste-
ma hegemônico das relações de gênero, apreendendo as pluralidades,
sobretudo, de forma mais qualitativa, com vistas a fornecer uma base
de informações para a elaboração de políticas públicas e ações mais
abrangentes e desestigmatizadas (BANDEIRA; PRETURLAN, 2016). Para
tanto, construímos ferramentas de pesquisa complementares para cole-
tar dados quantitativos de forma integrada aos dados qualitativos.
Percebendo a importância da combinação de pesquisas quantitati-
vas mais universalizantes e amplas que vêm sendo realizadas no Brasil,
com pesquisas qualitativas localizadas e específicas para diferentes seg-
mentos e grupos sociais, nossa preocupação central é desvelar, por meio
de dados quantitativos e qualitativos, a realidade peculiar de mulheres
rurais no contexto do Nordeste brasileiro, levando em conta aspectos
culturais, econômicos, ambientais e políticos locais, que influenciam e
estruturam a organização do tempo e do trabalho.

181
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Ao centrarmos esforços nas mulheres rurais, contribuiremos meto-


dologicamente para o avanço na visibilidade de outras práticas sociais
fora do trabalho formal, do mercado e mesmo do tradicional domínio
da sustentabilidade da vida humana (CARRASCO, 2003), que não são
captadas pelas pesquisas estatísticas sobre os usos do tempo. Partimos,
ainda, do pressuposto de que o tempo de trabalho das mulheres rurais
está, entre outros fatores, intimamente relacionado às dinâmicas da na-
tureza e do contexto socioambiental.
A pesquisa intitulada Mulheres rurais e uso do tempo: divisão sexual
do trabalho e relações de gênero no estado de Pernambuco3 tem a preten-
são de investigar a rotina de mulheres rurais do sertão pernambucano,
através do acompanhamento de suas atividades cotidianas no espaço
doméstico e fora dele por um período mínimo de 24 horas ininterruptas.
Os critérios de escolha das participantes envolveram três importantes
aspectos: origem familiar rural; que a mulher acompanhada permane-
cesse residente na comunidade onde nasceu ou em outra comunidade
rural e fosse a principal responsável pelas atividades domésticas do seu
domicílio. Não adotamos como critérios faixa etária, estado civil, nú-
mero de filhas/os, orientação sexual, cor, etnia ou ocupação específica
(nem todas as mulheres rurais são agricultoras), pois atentamos para
a importância em abarcar a diversidade das mulheres rurais, de forma
que compreendemos que esta diversidade interfere diretamente no seu
modo de vida e por consequência, na administração do seu tempo.
Para a identificação das mulheres, contamos com o apoio de orga-
nizações, entidades e grupos parceiros4 do DADÁ: Grupo de Pesquisa em
Relações de Gênero, Sexualidade e Saúde da UFRPE-UAST, do qual todas
as autoras desse texto são integrantes. É importante destacar que uma
pesquisa que adota métodos e técnicas que adentram a intimidade de

3 Agradecemos à Universidade Federal Rural de Pernambuco que financiou a referida pes-


quisa, sob a coordenação da Profa. Dra. Lorena Moraes, através do EDITAL PRPPG 015/2018
APOIO À PESQUISA INSTITUCIONAL DA UFRPE e à Unidade Acadêmica de Serra Talhada
- UFRPE, por disponibilizar os motoristas e veículos para a realização das pesquisas de
campo.
4 Agradecemos a parceria do Fórum de Mulheres de Mirandiba, Feira Agroecológica de Serra
Talhada – FAST, à Associação de Moradores da Serra do Talhado e ao Grupo Produtivo Doce
Esperança.

182
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

suas interlocutoras e de suas famílias só foi possível devido à relação


de confiança construída entre as integrantes do grupo e suas parcerias.
A confiança é um valor que não se adquire de imediato e está associa-
da ao rapport do trabalho de campo etnográfico construído na relação
entre as/os pesquisadoras/es e as/os informantes. A nossa relação com
as lideranças dos grupos de mulheres que participaram da pesquisa foi
construída ao longo de seis anos e permanece se fortalecendo até os
dias correntes. Algumas das mulheres participantes já nos conheciam
devido à realização de projetos anteriores de pesquisa e de extensão
nas comunidades; as demais mulheres, nós conhecemos no momento
da apresentação da pesquisa em suas comunidades junto às associa-
ções e aos grupos de mulheres.
A pesquisa e suas diversas etapas aconteceram em quatro muni-
cípios do Território do Sertão do Pajeú, região semiárida do estado de
Pernambuco. Dentre as seis comunidades que visitamos, três são reco-
nhecidas como território quilombola e as outras três são predominante-
mente de agricultoras/es familiares.
Alcançar o rapport na relação com as/os informantes é conside-
rado o estágio mais complexo do processo, em que há um esforço na
construção de uma relação harmônica, cordial e empática, nem sempre
exitosa, uniforme ou universal, e por isso mesmo, algumas vezes visto
como utópico. Nesse início, o caminho da pesquisa partiu de sentimen-
tos de apreensão, incertezas e desconfianças mútuas. O rapport seria
o estado ideal5 de uma relação entre pesquisadoras/es e informantes
baseada em uma confiança capaz de permitir o fluxo de informações e

5 Para Guber (2005), ao qualificar a relação entre pesquisador/a e informante a partir de


um rapport ideal, corremos o risco de não considerar os problemas inerentes ao trabalho
de campo, imprescindíveis ao processo de produção de conhecimento, fazendo do
pesquisador um colecionador óbvio, que cai na armadilha de acreditar que existe um final
feliz de certezas e adotar atitudes concessivas em relação às informações. Mas se o rapport
for concebido a partir da construção de um senso compartilhado de pesquisa baseado na
passagem de um modelo pré-formulado para outro modelo em construção a partir dos
termos das/os informantes, a figura do rapport adquire outra importância no processo de
conhecimento sobre a população estudada. Sua conquista acaba sendo a conquista da
própria pesquisa e significa que a dimensão descritivo-explicativa do mundo social e da
perspectiva teórica adotada é refletida e traduzida na relação entre pesquisador e sujeitos
do estudo.

183
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

cooperação mútua. No entanto, para Rosana Guber (2005), este estado


“ideal” é carregado de armadilhas que limitam processos importantes
do trabalho de campo entre contrastes e reflexividades que operam em
uma tensão condicionante.
A primeira etapa do processo metodológico consistiu em uma ati-
vidade de extensão universitária, previamente agendada com a/s lide-
rança/s das comunidades rurais contactadas, a fim de reunir os grupos
de mulheres para discutirmos sobre divisão sexual do trabalho através
de roda de conversas e dinâmicas participativas, em formato de ofici-
nas, utilizando como instrumento político-pedagógico o material (ví-
deo, cartazes, sorteio de camisas e bolsas, folders) da campanha educa-
tiva intitulada Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico6, elaborada pela
Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste7.
Em seguida, apresentamos a proposta da pesquisa Mulheres rurais
e Uso do tempo e convidamos as mulheres a participarem da mesma,
de maneira voluntária, registrando os números de contato das interes-
sadas ao final da atividade. Após a apresentação da pesquisa dividimos
o coletivo de mulheres em subgrupos para a realização da dinâmica do
relógio, e cada grupo menor era orientado por uma monitora. Cada uma
das monitoras desempenhou também papel de pesquisadora de campo
na segunda parte do processo da pesquisa, por essa razão, estiveram
presentes desde o primeiro contato com as mulheres colaboradoras da
pesquisa, facilitando as dinâmicas de permanência necessárias para os
procedimentos de observação do uso do tempo e das atividades de
trabalho doméstico de cada mulher pesquisada.
A dinâmica do relógio, referenciada acima, consiste na representa-
ção gráfica de dois relógios de ponteiro desenhados no papel madeira
com hidrocor contendo as 12 horas do dia em cada relógio. A proposta
é construir um consenso entre as mulheres para definir todas as ativi-
dades realizadas durante suas rotinas de 24 horas. Esta dinâmica é inte-
ressante porque além das mulheres perceberem o volume de atividades

6 Para saber mais ver Moraes et al. (2018).


7 Para saber mais sobre a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, ver: (JALIL;
ESMERALDO; OLIVEIRA, 2017).

184
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

que realizam ao longo do dia, permite a troca de experiências, ao ser


realizada em grupo, possibilitando que algumas mulheres relatem ati-
vidades não identificadas por outras e proporcionando debates e refle-
xões sobre a divisão sexual do trabalho, na busca de um consenso para
definir o tempo gasto em cada atividade. Vale ressaltar que durante a
atividade em grupo quando os tempos relatados eram distintos, era cal-
culada uma média entre as participantes.
Um dos momentos cruciais da nossa atividade foi quando relata-
mos os dados da PNAD (2013) que afirma que as mulheres rurais gas-
tam 26,1 horas semanais em atividades domésticas; ainda que explicás-
semos que se trata de uma média realizada a partir de uma amostra de
mais de mil domicílios, as mulheres ficavam profundamente incomo-
dadas e demonstravam interesse em participar da pesquisa, a fim de
mostrar a realidade do seu cotidiano. Ao final da atividade, reforçamos
o convite para participar da pesquisa, e anotamos o número do telefone
das interessadas para posteriormente combinarmos a melhor data para
a realização do trabalho de campo. Também consideramos a técnica de
bola de neve (Snowball Sampling) (VINUTO, 2014), em que mulheres
participantes da pesquisa podem auxiliar na indicação de outras mulhe-
res para terem a sua rotina acompanhada, construindo assim uma rede
de participantes.
É importante ressaltar que durante as atividades de apresentação
da pesquisa junto aos grupos de mulheres, organizamos atividades pa-
ralelas para entreter as crianças que foram acompanhando suas mães.
Na realização de atividades com mulheres, sobretudo com as mulheres
rurais, é de extrema importância a organização de espaços com ativida-
des (pintura, desenho, brincadeiras, contação de histórias) voltadas para
as crianças, pois dessa forma, as mulheres ficam despreocupadas e mais
concentradas nas oficinas nas quais estão participando. É recorrente as
mulheres rurais participarem das atividades acompanhadas das/os fi-
lhas/os pequenas/os, ainda que as atividades sejam realizadas nos fins
de semana, ficando evidente a injusta divisão do trabalho doméstico e
a naturalização do cuidado como uma atividade essencialmente femi-
nina. Ainda que muitas delas não deixem de participar das atividades

185
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

comunitárias e políticas porque não têm com quem deixar as crianças,


fazendo-se assim uma ação de resistência, é uma “resistência” que se
constrói na base do acúmulo de tarefas – trabalho doméstico; trabalho
de cuidado; trabalho para o mercado com e sem remuneração; partici-
pação política; comunitária; religiosa; etc.
Ao cabo da realização dessa fase inicial de organização do proces-
so de pesquisa e de construção de uma rede de contatos e participa-
ção, partimos para a fase efetiva de coleta dos dados. A fim de coletar
os dados8 sobre o uso do tempo das mulheres rurais, cada uma das
pesquisadoras passou um (01) dia e uma (01) noite na casa da mulher
rural acompanhando-a durante toda a sua rotina, por um período total
contabilizado de 24 horas. Utilizamos como instrumentos de pesquisa:
a) o diário de uso do tempo para a anotação de cada atividade/trabalho
realizado pelas mulheres, adotando como unidade temporal - minu-
tos; b) questionário com questões abertas e fechadas para identifica-
ção do perfil das mulheres e informações qualitativas sobre as múltiplas
dimensões envolvidas no uso do tempo das mulheres rurais; e c) ca-
derno de campo para anotar as situações observadas, impressões das
pesquisadoras, reconstituição das informações; e contextualização do
campo, para trazer à cena o não dito. O diário de atividades se trata de
uma planilha com oito colunas destinadas ao registro das: atividades
ou trabalhos realizados; início da atividade/trabalho; fim da atividade/
trabalho; a quem a atividade/trabalho se destina/beneficia; quem ajuda
na realização da atividade/trabalho; o local onde a atividade ou trabalho
é realizado (relatado pela mulher e observado pela pesquisadora) e a
classificação das atividades ou tipos de trabalho.
A adoção dos referidos instrumentos responde à necessidade de
se compreender “os percursos sexuados associados aos usos do tempo,
evidenciando, por exemplo, que as categorias de idade, raça e/ou cor e
sexo não se apresentam como simples variáveis; ao contrário, se articu-
lam com os sistemas de hierarquia e de poder” (BANDEIRA; PRETURLAN,
8 É importante destacar que o procedimento de produção de dados está em conformidade
com o que dispõe a Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, sobre as nor-
mas aplicáveis às pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, sob a utilização do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

186
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

2016). Nem sempre essas categorias são analisadas de maneira crítica


às práticas realizadas no cotidiano, ao contrário, frequentemente são
tratadas com naturalidade e neutralidade nas pesquisas.
O diário do uso do tempo possibilita uma cobertura do amplo rol
de atividades e trabalhos realizados em uma diária, além de possibilitar
estimativas de tempo mais precisas para cada um deles, bem como o
registro de sobreposições de tarefas e o ritmo de sua realização. Apesar
de tornar a pesquisa mais complexa e trabalhosa, este instrumento su-
gere informações mais precisas, que não sejam orientadas pela percep-
ção sobre um comportamento socialmente desejado, mas sim, pelo re-
gistro da atividade executada (CAVALVANTI et al., 2010).
Abaixo, segue uma versão simplificada do diário (cada hora contém
60 linhas correspondentes aos 60 minutos) utilizado pelas pesquisadoras:

Nome da pesquisadora:
Horário de chegada: Horário de partida:
Nome da mulher acompanhada:
Município: Comunidade:
Data: Dia da semana:

Atividade Pra Teve “ajuda” Local observado Local relatado Classificação da


Início Término
Desenvolvida quem? de quem? pela pesquisadora pela participante atividade
Trabalho
8h
doméstico
para os
8h05 8h17 Lavou louça UD não cozinha cozinha
membros
da unidade
domiciliar

Diferentemente da metodologia e das técnicas de pesquisa apre-


sentadas nesse artigo, as pesquisas do uso do tempo realizadas no
Brasil atualmente (CAVALCANTI et al., 2010; AGUIAR, 2010), à luz das

187
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

pesquisas realizadas nos Estados Unidos e Europa, são feitas com a


utilização de diários que são deixados na casa das/os moradoras/es e
posteriormente apanhados. Nestes casos, a sistematização das ativida-
des e do tempo gasto é feita pelo/a morador/a em um dia específico
da semana, escolhido pelo/a pesquisador/a ou mediante sorteio. Outra
metodologia adotada é a entrevista, que pode ser um complemento
do diário ou ser utilizada como a única técnica de pesquisa. Quando
utilizada sem outro instrumento complementar, a entrevista se limita
à percepção da/o entrevistada/o sobre o tempo gasto nas atividades e
trabalhos desenvolvidos em seu cotidiano – podendo apresentar maior
subnotificação da diversidade de atividades e trabalhos, bem como, dos
tempos gastos nos mesmos.
Na referida pesquisa, além do diário e caderno de campo, utiliza-
mos como técnicas complementares o questionário e entrevistas se-
miestruturadas a fim de obter o perfil das mulheres participantes e suas
percepções, bem como problematizar e cruzar as informações coletadas
(AGUIAR, 2010). Contudo, as entrevistas serão realizadas numa etapa
posterior da pesquisa.
Por meio do diário de uso do tempo, a própria equipe de pesquisa-
doras realiza a coleta de informações e identificação do uso do tempo
das mulheres, com o intuito de não retirar as mulheres de suas rotinas
e não imprimir mais uma tarefa para elas. Entende-se que uma pessoa
concentrada apenas em anotar o tempo gasto em cada tarefa, perde
menos informação, se comparado às coletas realizadas pelas próprias
mulheres, que além de estarem realizando suas tarefas diárias, ainda
teriam que se lembrar de anotar o tempo gasto em cada uma delas –
quando se sabe que as mulheres fazem mais de uma tarefa ao mesmo
tempo.
As pesquisadoras da equipe de campo são todas mulheres e foram
treinadas pelas coordenadoras da pesquisa para não perderem informa-
ções, não serem invasivas e não ajudarem as mulheres nas tarefas - fato

188
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

que poderia vir a diminuir o tempo de realização das tarefas, com a


ajuda e manipular o tempo real utilizado pelas mulheres.
Durante a oficina de mobilização com o grupo de mulheres, no
contato por telefone para o agendamento e na chegada para a pesquisa
de campo, as coordenadoras da pesquisa reforçaram sobre a importân-
cia da pesquisa no que tange a produção de dados mais próximos à rea-
lidade rural; sobre a importância delas não alterarem a sua rotina devido
à presença da pesquisadora e, ainda, sobre a importância delas evitarem
pedir ajuda às pesquisadoras para realizarem as tarefas, de modo que
isso possa vir a interferir nos dados. Nesse sentido, a mulher que aceita
participar da pesquisa, sabe que terá a companhia da pesquisadora em
seus trabalhos e atividades domésticas, políticas, religiosas, escolares,
produtivas, de cuidado, etc. Ainda que o interesse principal da pesquisa
seja mensurar o tempo gasto com o trabalho doméstico e de cuidados,
é importante registrarmos o tempo gasto em outros tipos de trabalho
e atividades para que tenhamos um percentual comparativo do uso do
tempo nas diversas atividades realizadas pelas mulheres rurais.
As visitas de campo foram divididas em seis grupos: a) segunda-
-feira à terça-feira; b) terça-feira à quarta-feira; c) quarta-feira à quin-
ta-feira; d) quinta-feira à sexta-feira; e) sexta-feira a sábado; f) sábado
a domingo. Investigar as rotinas das mulheres em diferentes dias da
semana implica no reconhecimento de possíveis alterações que a ro-
tina pode sofrer a depender do dia da semana. A pesquisa de campo
foi realizada ainda, contemplando duas épocas do ano distintas: meses
que compreendem o “verão” ou período de estiagem de chuvas no se-
miárido brasileiro; e meses que correspondem ao período de chuvas ou,
o chamado inverno, na região. Acompanhar a rotina das mulheres em
diferentes períodos do ano implica na compreensão das diferentes di-
nâmicas ambientais e sazonais que influenciam diretamente no trabalho
doméstico familiar e produtivo das mulheres rurais.
A fim de diminuir o impacto na rotina da participante, ainda que so-
mente o impacto de forma financeira, a pesquisa garante uma cesta de

189
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

alimentos para cada unidade domiciliar visitada, uma vez que a pesqui-
sadora estará presente em sua casa para as três refeições. A cesta, com-
posta por ovos, carne, goma de tapioca, cuscuz, arroz, feijão, macarrão,
café e papel higiênico, é entregue diretamente à mulher acompanhada
pela pesquisadora no momento de sua chegada à unidade domiciliar
para que ela utilize os mantimentos como e quando achar conveniente.
Com base na classificação da Pesquisa Piloto do IBGE 2009-2010
(CAVALCANTI et al., 2010), na International Classification of Activities for
Time-Use Statistics (ICATUS) e na Classification of Time-Use Activities for
Latin America and the Caribbean (CAUTAL) construímos a nossa classifi-
cação intitulada como Classificação do Uso do Tempo em Atividades
e Trabalhos Diários das Mulheres Rurais (CATMUR), que leva em con-
sideração a realidade das mulheres rurais, especialmente as nordestinas,
que nos inspiraram e compartilharam as suas vivências conosco. No en-
tanto, a CATMUR foi desenvolvida de maneira que possa ser utilizada
em distintos contextos rurais. Segue abaixo a lista de trabalhos e ativi-
dades da CATMUR9 que orienta metodologicamente e analiticamente a
nossa pesquisa:
1. Trabalho remunerado destinado ao mercado
2. Trabalho não remunerado destinado ao mercado
3. Trabalho destinado ao autoconsumo familiar
4. Trabalho doméstico destinado aos membros da unidade
domiciliar
5. Trabalho doméstico destinado aos membros da família que
residem fora da unidade domiciliar
6. Trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da
família e residem fora da unidade domiciliar
7. Trabalho de cuidado destinado aos membros da unidade
domiciliar

9 Os subitens de cada trabalho ou atividade que sugere a possibilidade de contabilizar


o tempo de carga mental e manejo dos recursos naturais podem ser visualizados no
dicionário da CATMUR presente na versão digital desta publicação.

190
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

8. Trabalho de cuidado destinado aos animais e plantas de


estimação dos membros da unidade domiciliar
9. Trabalho de cuidado destinado aos membros da família que
residem fora da unidade domiciliar
10. Trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da
família e residem fora da unidade domiciliar
11. Trabalho de cuidado destinado aos animais e plantas de
estimação de pessoas que não residem na unidade domiciliar
12. Trabalho voluntário
13. Atividades de aprendizado e educação
14. Atividades de socialização e comunicação
15. Atividades de lazer
16. Atividades de autocuidado
17. Atividades destinadas à busca de emprego/trabalho
18. Atividades destinadas à participação política e/ou acesso às
políticas públicas
19. Cuidado com os bens comuns
20. Deslocamento

A CATMUR foi construída a partir de um investimento intelectu-


al coletivo da equipe da pesquisa, tendo participação ativa de alunas,
professoras e demais pesquisadoras da equipe. Além das classificações
de pesquisas nacionais e internacionais que nos serviram como refe-
rência, a realização dos pré-testes in loco foi fundamental nesta etapa,
para percebermos que as referidas classificações não contemplavam a
realidade das mulheres rurais, ao provocar questionamentos das nossas
alunas, que são de origem do meio rural, no sentido de identificar a ne-
cessidade da inclusão de determinadas atividades na classificação. Foi a
partir do pré-teste, por exemplo, que identificamos a necessidade de in-
serirmos o item 2-Trabalho não remunerado destinado ao mercado;

191
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

pois percebemos que as mulheres frequentemente desenvolvem um


trabalho ou participam de parte da produção que será destinada ao
mercado, sem receber recompensa financeira. Assim, o valor monetário
arrecadado, fruto do trabalho da mulher não retorna para ela, mas sim
para a pessoa responsável pela comercialização.
Nesse sentido, o Trabalho não remunerado destinado ao mer-
cado também pode ser entendido como parte de uma relação econô-
mica afetiva - quando a mulher executa a ação, participa da produção,
desenvolve um produto, e o retorno está permeado pelo afeto, amor,
solidariedade e não pela recompensa monetária. Esta relação econômi-
ca afetiva é frequentemente vista nos núcleos familiares e geralmente,
realizada pelas mulheres - como exemplo, observamos: uma mãe debu-
lhando feijão para a filha vender na feira; outra mãe higienizando gar-
rafas pet para os filhos comercializarem água de coco e caldo de cana,
e, em nenhum dos casos as mães se beneficiam diretamente do retor-
no financeiro proveniente da comercialização dos produtos e também
não residem na mesma unidade domiciliar que seus filhos. Este item da
CATMUR se relaciona com a máxima feminista, que se refere ao traba-
lho doméstico “o que você chama de amor, nós chamamos de trabalho
não pago” (FEDERICI, 2019). Porém, neste caso, refere-se ao trabalho
destinado ao mercado, que também não se remunera e se sustenta nas
relações afetivas familiares para reproduzir o abuso e a exploração do
trabalho feminino.
A CATMUR composta por vinte (20) grandes grupos de trabalhos e
atividades, se diferencia das demais classificações das pesquisas do uso
do tempo, sobretudo, no que se refere às atividades e trabalhos desti-
nados aos membros da família que residem ou não na unidade domi-
ciliar e às demais pessoas da comunidade. No meio rural e nas cidades
interioranas, as relações sociais são permeadas por laços de afetivida-
de mais estreitos, valores mais tradicionais e relações de reciprocidade.
Dessa maneira, se faz necessária a inclusão de itens que contemplem as
atividades e trabalhos diários destinados às pessoas que não residem na
unidade domiciliar, ampliando ainda, para os trabalhos domésticos e de

192
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

cuidado (não remunerados) que são realizados aos demais integrantes


da comunidade que não compõem a unidade familiar, pois faz parte de
uma moralidade camponesa, sobretudo, reproduzida pelas mulheres,
o cuidado, a atenção, a escuta e a ajuda aos membros da comunidade,
independente das relações de parentesco e consanguíneas.
Além dos vinte grupos de trabalhos e atividades diárias das mu-
lheres rurais, com exceção do item 20 (Deslocamento), os demais itens
apresentam subitens que se referem à: gestão do trabalho, seja para o
mercado, doméstico, de cuidado, etc., que corresponde ao planejamento,
orientação, atribuição ou distribuição das atividades demandando de
outras pessoas e execução das mesmas; demandar o trabalho com os
recursos naturais e outros recursos (água, resíduos sólidos, biodiversidade)
usados nos diferentes tipos de trabalhos e atividades, que corresponde
ao planejamento, orientação ou atribuição da utilização desses recur-
sos atribuído a terceiros, para a execução da atividade, por exemplo,
na situação que a mulher demanda que alguém colete água para que
ela execute uma determinado trabalho. Já o manejo dos recursos natu-
rais e outros recursos (água, resíduos sólidos, biodiversidade) usados nos
diferentes tipos de trabalhos e atividades, compreendem as atividades
relacionadas à coleta, armazenamento, separação dos resíduos sólidos
e orgânicos, organização do lixo, catar lixo do sítio, levar para ponto
de coleta, queimar na própria propriedade, reutilizar lixo orgânico na
composteira, minhocário ou no pé das plantas, etc. realizados pela pró-
pria mulher. No que correspondem aos itens 4, 5 e 6 que se referem ao
Trabalho doméstico seja na unidade domiciliar da mulher participante
da pesquisa ou fora dela, acrescentamos dois subitens: i) administração
doméstica, que corresponde à realização de atividades que implicam na
organização e no bom funcionamento da unidade domiciliar: realizar
pagamento de contas domésticas, levar para consertar aparelhos do-
mésticos, ligar para alguém ir até a casa para fazer um conserto e fazer
listas de compras; ii) manutenção e pequenos reparos, ou seja, a realiza-
ção de atividades de reparação, instalação, reprogramação e montagem,
por exemplo, de eletrodomésticos, equipamentos elétricos, hidráulicos,

193
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

decorativos e da própria estrutura da casa. Nos trabalhos voltados ao


cuidado, além dos itens relacionados à gestão e manejo dos recursos na-
turais e outros recursos, acrescentamos a gestão do próprio cuidado, que
corresponde à atribuição do trabalho de cuidado a uma terceira pessoa.
Se faz necessário chamar atenção para as atividades de gestão e
para a sua distinção em relação ao manejo, ou execução da atividade em
si, uma vez que, as mulheres além de executarem as atividades nas quais
estão diretamente envolvidas, permanecem atentas às demais tarefas
que estão por fazer e, frequentemente as demandam da pessoa que es-
tiver mais próxima a ela. Como exemplo, presenciamos uma mulher que
enquanto colocava o feijão para cozinhar, pediu para a sua filha dar o
remédio ao avô, pois já se encontrava no horário indicado pela médica.
Como a filha não atendeu às solicitações da mãe, alguns minutos de-
pois a mulher levou o remédio para seu pai. É importante destacar que
as mulheres estão atentas a tudo o que ocorre dentro e fora da casa,
realizam as atividades, demandam, cobram, nem sempre são atendidas,
executam as atividades pendentes, e sem outra escolha, distribuem seu
tempo de maneira exaustiva.
A atenção que as mulheres destinam a todos ou quase todos os
eventos que acontecem em torno e no interior do lar não pode ser ex-
plicada de maneira essencialista, como se apenas as mulheres/mães/
esposas fossem capazes de saber, lembrar, conhecer as necessidades
da casa, das pessoas e dos animais. Pelo contrário, as mulheres adqui-
rem este “dom” porque são responsabilizadas a executar ou organizar
tais atividades de maneira solitária e são treinadas desde a sua infância
para serem capazes de dar conta de muitas tarefas simultaneamente,
de modo que se acredite que somente elas possuem tal habilidade. A
cobrança social pelo bom funcionamento do lar, que se embasa no acú-
mulo de tarefas, muitas vezes acarreta na carga mental que pode levar a
um desgaste emocional e psíquico.
E é neste sentido, que utilizamos em destaque a palavra ajuda
no diário de atividades utilizado na pesquisa de campo, pois, quando

194
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

falamos em “ajuda”, nos referimos a um auxílio de uma segunda pessoa


(que frequentemente se deu mediante demanda) na execução da tarefa
e não no compartilhamento da responsabilidade diária da execução da
tarefa, incluindo-se aí a própria tarefa de saber quando e como realizar
a atividade em questão, ou seja, sendo capaz também de gerir o tempo
relacionado a ela.

Trabalho de campo muito além da coleta de dados

A metodologia da pesquisa de campo apresentada vem esbarrando


frequentemente em questionamentos de cunho epistemológico e me-
todológico que dizem respeito à influência da observadora nos espaços
e nas relações que se desenrolam no contexto observado. Levando em
consideração essa preocupação, o trabalho de levantamento de dados
e observação que realizamos, optou por reconhecer conscientemente a
existência dessa “influência” no estabelecimento do processo de obser-
vação. Para minimizar os efeitos da nossa presença, no entanto, utiliza-
mos estratégias de familiarização com as mulheres participantes, que
nos deram a oportunidade de criar laços de sociabilidade e proximida-
de, facilitando nosso acesso aos espaços e experiências da vida privada
cotidiana dessas famílias.
A nossa chegada à comunidade rural para a realização da pesquisa
de campo, em sua maioria das vezes, se dava em torno das 8 horas da
manhã, pois o município mais próximo no qual realizamos a pesquisa
se encontra a 25 km de Serra Talhada - PE (onde estamos alocadas) e o
mais distante a 64 km, até sua área urbana. Além da distância, na maio-
ria dos casos, dispusemos da infraestrutura da Unidade Acadêmica de
Serra Talhada, através da utilização do transporte e do motorista da ins-
tituição, que inicia a sua jornada a partir das 7 horas da manhã. Dentre
esses e outros motivos, chegar cedo nas comunidades se fazia uma tare-
fa difícil. No entanto, é sabido que até 8h ou 9h da manhã, as mulheres
rurais já desenvolveram inúmeras tarefas que comportam a sua jornada

195
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de trabalho e, com a finalidade de não perder os registros sobre as ativi-


dades executadas nas primeiras horas da manhã, tampouco aquelas que
precedem o descanso noturno, permanecemos nas casas das mulheres
entre 24 e 26 horas. A metodologia da pesquisa indica o acompanha-
mento das mulheres durante 24 horas. Contudo, estabelecemos duas
horas a mais para descontarmos o tempo da aplicação do questioná-
rio, quando realizada dentro “das 24 horas”, o tempo da realização das
necessidades fisiológicas e de higiene das pesquisadoras, e no caso de
alguma interrupção não prevista.
Entre o momento de mobilização para a pesquisa, realizado através
das atividades de extensão universitária nas comunidades rurais, e o dia
da nossa ida para o trabalho de campo, as mulheres que aceitaram par-
ticipar da investigação comunicaram aos demais membros da casa que
iriam nos receber e que iríamos dormir em suas residências. A receptivi-
dade e solidariedade ainda muito vigente no meio rural, sobretudo no
Nordeste brasileiro, tornou a nossa estadia muito tranquila, prazerosa
e regada de muita afetividade. O local onde dormimos é escolhido pe-
las mulheres, e se deu frequentemente nas suas próprias casas, mas
em caso de falta de espaço suficiente, elas nos acomodaram em casas
vizinhas.
A pesquisa de campo para a produção dos dados referentes às
atividades e trabalhos diários das mulheres rurais ocorreu principal-
mente, com o auxílio do diário de campo, mencionado anteriormente.
Acompanhamos as mulheres durante pelo menos vinte e quatro horas
anotando todas as atividades que elas desenvolviam. Percebemos que
a anotação ininterrupta chamava mais atenção dos demais membros da
família do que da mulher acompanhada. Algumas mulheres chegavam a
ignorar o diário, ou questionavam “vai anotar até isso?” - diante de um
trabalho ao qual não davam muita importância; outras não esqueciam
dele e chegavam a nos cobrar a anotação de todo o seu trabalho, de-
monstrando autovalorização: “anota isso aqui, viu?”

196
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Mesmo tendo conversado com as mulheres previamente para que


elas não alterassem a sua rotina, temos consciência que a nossa presen-
ça já é um fator de interferência naquela realidade. Trata-se de alguém
de fora, que é de fora da casa, de fora da comunidade, que é da univer-
sidade e está ali para observar e registrar cada passo da mulher, minuto
a minuto. Contudo, este método etnográfico do uso tempo, ainda que
realizado somente durante uma diária de 24h, se faz muito intenso tanto
para a mulher acompanhada como para a pesquisadora, e, as mulheres
diante de uma rotina um tanto quanto exaustiva, de fato, não tinham
tempo de alterar “demais” os seus afazeres. Assim, reconhecemos a in-
terferência da nossa presença e a mudança de rotina, ainda que nem
sempre tenha se apresentado visivelmente para nós. Por essa razão con-
sideramos que a metodologia adotada possibilita uma maior aproxima-
ção da realidade das mulheres – diante da contabilização do tempo dos
seus trabalhos e atividades diários.
A interferência decorrente da nossa presença era uma questão que
nos inquietava bastante durante a etapa da concepção do projeto de
pesquisa, pensávamos que a nossa presença poderia atrapalhar as mu-
lheres em suas atividades, pois desde outros projetos de pesquisa e ex-
tensão, sabíamos que as mulheres não perderiam a oportunidade de se
estender em longas conversas. Outra preocupação da equipe era em re-
lação à comida, afinal mais uma boca para as três refeições, obviamente
iria pesar no trabalho das mulheres. E nos enganamos nos dois aspec-
tos, ou melhor, as professoras (de origem urbana) foram acalentadas
pelas alunas (de origem rural) que garantiram que as mulheres faziam
comida em maior quantidade diariamente, suficiente para alimentar as/
os moradoras/es da unidade domiciliar e visitantes. As mulheres rurais
recebem visitas inesperadas com muita frequência e o desenvolvimen-
to do trabalho doméstico, de cuidado ou para o mercado é realizado
em conformidade com o ato de prosear, respondendo nossa primeira
inquietação, pois as mulheres rurais recebem visitas inesperadas com

197
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

muita frequência e o desenvolvimento do trabalho doméstico, de cui-


dado ou para o mercado é realizado em conformidade com o ato de
prosear.
A nossa estadia intensa com as mulheres, por vezes, possibilitou
conversas de cunho íntimo, desabafos e revelações, e, em sua maioria,
o tema principal era as relações opressoras de gênero, decorrentes do
machismo de seus maridos. A pesquisa do uso do tempo nos garante
a possibilidade de contabilizar o tempo destinado às atividades e dis-
tintos trabalhos das mulheres ao longo de suas rotinas, conforme era
o nosso interesse, mas também, possibilitou uma relação de confiança
para além da abertura das portas para a realização da pesquisa, na me-
dida em que aos nossos ouvidos foram confiadas histórias íntimas de
sofrimento, superação e confidências. Assim, o registro das atividades
e do tempo dispensado, era acompanhado do relato da vida íntima, de
maneira que as mulheres aproveitavam os ouvidos não consanguíneos
e não comunitários, para confidenciar histórias e situações que deve-
riam ser levadas para longe com a nossa partida e, assim, estariam livres
das fofocas e julgamentos morais da comunidade e familiares.

Análise feminista dos dados e valorização do trabalho das


mulheres

Conforme já chamamos atenção na primeira parte deste texto a


respeito da invisibilidade e desvalorização do trabalho doméstico e de
cuidado não remunerado realizado pelas mulheres, bem como, para o
trabalho destinado ao mercado e ao autoconsumo que as mulheres ru-
rais desenvolvem, a pesquisa orientada pela CATMUR objetiva sugerir
pistas para sanar, sobretudo, o desafio de contabilizar e identificar os
trabalhos e atividades realizados de maneira simultânea e valorizar o
trabalho de gerência das atividades as quais as mulheres são submeti-
das diariamente.

198
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

A CATMUR foi pensada para auxiliar pesquisas qualitativas, realiza-


das através da observação e do trabalho de campo, podendo ser utili-
zada para quantificar o uso do tempo das mulheres e homens em sua
ampla diversidade.
Em relação às atividades simultâneas, algumas pesquisas do uso
do tempo pedem para as mulheres elegerem a atividade principal e a
atividade secundária. Preocupadas, sobretudo, com a carga mental das
mulheres e com a necessidade de expor a sobrecarga a qual as mulhe-
res estão submetidas, como poderíamos solicitar ou eleger a atividade
principal diante da seguinte situação: criança no colo (trabalho de cui-
dado destinado aos membros da unidade domiciliar), enquanto mexe a
comida na panela (trabalho doméstico destinado aos membros da uni-
dade domiciliar) e pede para o filho desligar o sistema de irrigação do
quintal produtivo (gestão do trabalho com a água usada no trabalho
remunerado destinado ao mercado)? Diante desta complexidade, como
contabilizamos o tempo? Além de contabilizar o número de atividades
realizadas simultaneamente (para este caso): três (3), registramos o tem-
po gasto para fazer a comida (exemplo: 15 minutos), mais o tempo que
a mulher permanece com a criança no colo (exemplo, 3 minutos), mais 1
minuto para a solicitação, ainda que ela tenha levado alguns segundos
para proferir a demanda.
Dessa maneira, todas as atividades simultâneas são identificadas,
valorizadas e contabilizadas e o ato de demandar a terceiros outras ati-
vidades, é superestimado, ganhando o “valor” de 1 minuto para cada
demanda. Esta escolha de contabilizar o tempo acima da realidade se
encontra em consonância com as “mágicas” que as mulheres fazem para
multiplicar o seu tempo e dar conta de todas as atividades para garantir
a boa funcionalidade da casa, da propriedade e o conforto de todos que
vivem ao seu redor. Diante da realidade da injusta distribuição e res-
ponsabilização do trabalho doméstico, esta pesquisa vem para expor a
carga de trabalho surreal a qual as mulheres se encontram submetidas.

199
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Considerações finais

Construir metodologias dedicadas à compreensão do uso do tem-


po das mulheres rurais a partir de uma perspectiva feminista significa
entender rotinas de vida e de trabalho não remunerado, invisibilizadas
e desvalorizadas, capazes de manifestar tempos não percebidos e reali-
dades não ditas dedicadas ao trabalho para o mercado e para a susten-
tabilidade da vida. Diante de um esforço brasileiro incipiente em suas
pesquisas de uso do tempo que possibilitem de fato mensurar a forma
como os indivíduos destinam seu tempo às diferentes atividades e tra-
balhos, nossa opção metodológica demonstrada neste artigo, desen-
volvida no âmbito da pesquisa “Mulheres rurais e uso do tempo: divisão
sexual do trabalho e relações de gênero no estado de Pernambuco” se
torna referência nos estudos do mundo rural, visibilizando o cenário
do Semiárido pernambucano a partir do tempo das mulheres rurais -
tempo muitas vezes fora do mercado formal, sem marcação definida
de início e fim, em que diferentes tipos de trabalho são destacados e
realizados simultaneamente nos mesmos espaços. Conforme ressaltado
anteriormente, a nossa proposta para este texto não contempla a expla-
nação e análises de resultados, optamos por detalhar a nossa proposta
metodológica, os nossos anseios e o processo coletivo de construção. A
CATMUR será detalhada na versão digital do presente livro e os resulta-
dos serão publicados em outros espaços de divulgação científica.
Assim, temos que nosso trabalho de campo foi definido a partir
de um trabalho coletivo com a pretensão de construir um novo cami-
nho metodológico contextualizado com uma abordagem feminista que
parte do pressuposto de que o tempo e seus usos não são neutros,
fazendo-se necessário para uma observação empírica, ferramentas de
pesquisa complementares apropriadas para a aproximação da plurali-
dade das realidades das mulheres, em seu contexto ambiental, cultural,
político e econômico, evidenciando situações opressoras que não se ex-
pressam somente pelos números. Por isso, o caráter misto da pesquisa
quali-quantitativa.

200
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Nesse sentido, a vivência de 24 horas das nossas pesquisadoras


no acompanhamento e registro da dinâmica do trabalho das mulhe-
res rurais revelou rotinas expressadas não só em números, mas repre-
sentativas de usos, organização e distribuição do tempo das mulheres,
dedicadas à sustentabilidade da vida, descritas em minutos através dos
diários de atividades (diário de uso do tempo). Por meio do questionário
realizado ao final de cada observação registramos o que se fala; pelo
caderno de campo nos aproximamos do que não é dito, do que é sub-
notificado nos interstícios das relações sociais, analisando e registrando
o campo conforme se apresenta no mundo empírico.
A combinação do diário com o questionário e o caderno de campo
pôde compor a situação mais ampla vivida pelas mulheres rurais no
seu cotidiano, retratando as sobrecarregadas jornadas de trabalho ex-
perienciadas diante da divisão sexual do trabalho, sobretudo no âmbito
do trabalho doméstico e do cuidado não remunerados. Nesse sentido,
o tempo despendido para a realização de atividades e trabalhos dentro
e fora da unidade doméstica foi estruturado no reconhecimento do tra-
balho das mulheres em 19 grandes grupos que compõem a CATMUR.
Assumimos nossas limitações ao optarmos por não acompanhar a
rotina dos homens, impossibilitando a comparação. Também não tra-
balhamos com uma amostragem sistemática das populações de cada
região, impossibilitando generalizações fidedignas a partir de recortes
estatísticos mais abrangentes. Pois, além de não ser nosso interesse, é
válido ressaltar que o processo de mobilização das mulheres integrado
às nossas atividades de extensão universitária, está mais preocupado em
dialogar com elas sobre a autovalorização dos seus trabalhos diários e
instigar a reflexão sobre como o sistema capitalista e a cultura patriarcal
exploram os corpos e a saúde mental das mulheres, sendo o número de
participantes uma consequência desses diálogos e dessa posição crítica.
Nos importa fazer uma contextualização com a literatura feminista,
construir nossos interesses de estudo através da observação do traba-
lho realizado pelas mulheres rurais, no continumm entre produção e

201
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

reprodução marcado por relações de gênero e papéis sociais desiguais,


que continua contribuindo para a desvalorização do trabalho entre as
mulheres e subestimando suas atividades domésticas e de cuidado. São
essas atividades, entre outras, que correspondem ao trabalho não remu-
nerado e completamente invisibilizado pela sociedade, pensado como
trabalho reprodutivo na dualidade com o trabalho produtivo, hegemo-
nicamente associado com produção de mercadorias e emprego. No
reconhecimento da indissociação do trabalho produtivo e reprodutivo,
colocamos em evidência o reconhecimento do trabalho da sustentabili-
dade da vida enquanto base para que o trabalho destinado ao mercado
possa existir, destacando ainda, a realidade da vida rural ainda pouco
investigada a partir de metodologias específicas e elaboradas desde os
processos empíricos.

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205
Rotinas de Mulheres Ribeirinhas da Região
Amazônica: Atividades e Papéis na Família, no
Trabalho e na Comunidade

Neuzeli Maria de Almeida Pinto


(UEMA)
Fernando Augusto Ramos Pontes
(UFPA)
Simone Souza da Costa Silva
(UFPA)

Introdução

A modernização da sociedade tem demandado da mulher e


consequentemente da família e até da sociedade novos padrões de
organização. As funções adquiridas pelas mulheres, em especial, no
mercado de trabalho, têm possibilitado a ocupação de novos contex-
tos, atividades e desempenho de diferentes papéis. Correlatamente se
pode pensar em impactos semelhantes nos subgrupos que ela partici-
pa, em especial a família passou a exercer novas funções e foram de-
senvolvidas novas redes de relações de suporte tanto na família como
na comunidade; uma nova forma de organização familiar e do entorno
que a circunda.

As transformações ocorridas na família trouxeram mudanças nas


formas tradicionais da execução das suas funções (SIMIONATO-TOZO;

207
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

BIASOLI-ALVES, 1998). Destaca-se a aproximação da figura paterna ao


grupo familiar e o crescimento de serviços oferecidos à família com o
objetivo de auxiliar nos cuidados e na educação das crianças. Por outro
lado, o aumento da participação feminina em atividades profissionais
remuneradas altera a divisão sexual do trabalho, afetando a posição
das mulheres na estrutura da família, no trabalho e na comunidade
(CARLOTO; MARIANO, 2010; ROMANELLI, 1986; VAITSMAN, 1994).

Alguns estudos recentes analisam a participação das mulheres no


mercado de trabalho brasileiro atual e mostram que fatores relacio-
nados à família interferem nas suas inserções no mercado de traba-
lho (BRUSCHINI, 1994, 2000; RIBEIRO, SABÓIA, CASTELLO BRANCO;
BREGMAN, 1998). No entanto, a necessidade constante de conciliar
papéis familiares e profissionais acaba por restringir a disponibilidade
das mulheres para o trabalho. De fato, estudos revelam que o tipo de
inserção e o modo de participação feminina no mercado de trabalho
dependem de uma complexa combinação de características pessoais
e familiares, como idade, número de filhos, posição na família, rede de
apoio, estado conjugal e composição familiar. Assim, no cenário con-
temporâneo, persiste ainda o conflito de como garantir o sustento, a
sobrevivência da família e, ao mesmo tempo, os cuidados com filhos e
marido. Esse impasse fragiliza a condição de mulher, especialmente as
de camadas populares, responsável tanto pela produção de mercado-
rias quanto pela criação dos filhos.

As complexidades geradas por esse duplo posicionamento dificul-


tam a dedicação das mulheres ao trabalho ou fazem delas trabalhado-
ras de segunda categoria, pois as mulheres seguem sendo as principais
responsáveis pelas atividades domésticas e pelo cuidado com os filhos
e demais familiares, o que representa uma sobrecarga para aquelas
que também realizam atividades econômicas (BRUSCHINI, 2000).

O papel desenvolvido pela mulher nos vários contextos sociais


tem sido considerado como uma característica fundamental por
marcar as pessoas e suas relações, sendo necessário compreendê-lo

208
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

dinamicamente, pois abrange um aglomerado de sistemas que man-


têm relações interdependentes entre si (BRONFENBRENNER, 2002).
Tal pressuposto permeia recentes estudos em desenvolvimento que
veem o indivíduo e seu contexto de forma indissociável (CARVALHO-
BARRETO et al., 2009; CECCONELLO; KOLLER, 2003; SIQUEIRA;
DELL’AGLIO, 2007). Nesse sentido, o contexto atua como um facili-
tador para o desenvolvimento, à medida que as particularidades da
pessoa e do ambiente interagem reciprocamente, produzindo cons-
tância e mudança nas características da pessoa e no curso de sua vida
(BRONFENBRENNER, 2002).

Nessa perspectiva, o ambiente mais imediato, denominado de


microssistema, dá ênfase nos papéis, atividades e relações face a face
que são estabelecidas ao longo do desenvolvimento. Este ambiente
também estabelece uma interação dinâmica e recíproca entre dois
contextos, ou mais ambientes, é o caso do mesossistema, nos quais
uma pessoa participa ativamente, podendo ser formado ou ampliado
sempre que ela passe a fazer parte de novos ambientes. Em alguns
casos, por exemplo, esse sistema inclui as relações mantidas pela mu-
lher em casa, grupo de trabalho e na associação comunitária. Nesse
sentido, o mesossistema tem essas instituições como representantes,
as quais influenciam preponderantemente a pessoa, interferindo nas
interações de todos os níveis ambientais (CARVALHO-BARRETO et al.,
2009).

Entende-se que a dinâmica dessas relações se concretiza no coti-


diano, nas rotinas das famílias, e assim essas rotinas se tornam os prin-
cipais indicadores das formas de organização típicas do grupo familiar
(ANDERSON, 2012, FIESE et al., 2002). Pelo fato da investigação sobre
rotina permitir identificar quais atividades, papéis e relações estão na
dinâmica familiar do dia a dia, tais estudos possibilitam caracterizar
aspectos típicos de cada ambiente ecológico envolvido na organiza-
ção e estruturação da vida diária, revelando por sua vez a ecologia de
cada contexto. Um exemplo da investigação dessas relações é a que

209
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

investiga os efeitos da privação financeira na dinâmica familiar e nas


possibilidades de uso do tempo (BUDESCU; TAYLOR, 2013; BRUSCHINI;
RICOLDI, 2009; SARRIERA et al., 2007).

Deste modo, os achados sobre as rotinas familiares podem permi-


tir verificar o impacto da rotina na organização do subsistema familiar
e na própria organização dos sistemas ecológicos e, em termos mais
gerais, no sistema familiar e no desenvolvimento humano (FERRETI;
BUB, 2014; HAUGLAND, 2005; SCHAAF et al., 2011). Contudo, como
se verificou no trabalho de Pinto, Pontes e Silva (2013), a despeito do
valor heurístico de tais questões e tomando uma perspectiva ecológica
que as fundamentam, esse parece ainda um aspecto pouco explorado
na literatura, especialmente a nacional.

Não obstante, tal condição feminina se manifesta em vários con-


textos socioecológicos, as mulheres que são mães e participam de
redes mais amplas da comunidade, tal qual as dirigentes comunitárias
apresentam um dilema maior na organização de sua rotina, nas
atividades desempenhadas cotidianamente, nos referidos papéis
desempenhados em cada contexto. Entende-se que a atuação
dessas mulheres nos contextos vivenciados, em especial a família, o
grupo de trabalho e a associação comunitária, representa ação dos
mesossistemas, geradoras de mudanças imediatas e de longo prazo
nos grupos familiares e da comunidade.

Como uma amostra de populações com esse perfil na Amazônia,


pode-se tomar de exemplo paradigmático as mulheres trabalhadoras
na coleta de açaí. Nesse caso, há efeitos da sua participação em vários
contextos, as mulheres exercem os papéis dentro do âmbito familiar,
tanto na manutenção das atividades domésticas quanto contribuindo
com o orçamento da família e ainda têm uma participação ativa na
organização da comunidade como um todo.

Com pouca organização social e baixo poder de influência política,


e bastante distanciadas dos grandes centros decisórios, as mulheres

210
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

ribeirinhas são incluídas forçadamente nas políticas públicas gerais


governamentais sem que as especificidades de seu modo de vida se-
jam consideradas. No geral, isso se reflete nos grandes problemas que
as assolam na esfera econômica, na educação e na saúde destas comu-
nidades. O conhecimento da percepção das mulheres sobre suas roti-
nas revela os próprios espaços de emancipação feminina e em especial
nos rearranjos presentes nos subsistemas do qual fazem parte, seus
papéis, atividades e relações são revelados pelas suas práticas diárias
pelo seu uso do tempo. Supõe-se que as atividades desenvolvidas re-
velam espaços ocupados e tais espaços só podem ser garantidos com
rearranjos dos subsistemas de que fazem parte.

Considerando que as mulheres pertencentes às populações tra-


dicionais ribeirinhas normalmente desenvolvem um conjunto de pa-
péis que somados a de dirigentes comunitárias devem demandar uma
reorganização dos subsistemas do qual participam. O presente artigo
se propõe investigar a percepção das rotinas das mulheres pertencen-
tes às comunidades ribeirinhas na Amazônia, identificando os papéis,
as atividades e relações especialmente às definidas no trabalho do-
méstico, no trabalho da coleta do açaí e na sua atuação em associa-
ções comunitárias.

MÉTODO

Participantes

Participaram da pesquisa duas mulheres agroextrativistas, uma da


Ilha do Combu/Comunidade Santo Antônio, e a outra da Ilha Grande/
Comunidade São José, na região da Belém Insular - PA (Tabela 1). As mu-
lheres participantes representam um estudo de caso de comunidades
ribeirinhas que tem como característica comum o envolvimento exclu-
sivo do trabalho extrativista da coleta do açaí, em atividades domésti-
cas e atuam nos movimentos das associações comunitárias. Todas as

211
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mulheres que participaram da pesquisa são casadas, em união estável,


suas famílias caracterizam-se como extensas, compostas por netos, so-
brinhos e genros que habitam junto ao núcleo familiar. A escolha das
participantes se deu em função do perfil adequado aos objetivos deste
estudo e da disponibilidade das mesmas.

Tabela 1. Relação das mulheres agroextrativistas, total de filhos, filhos /


que moram com a família e agregados.

No de Filhos -
Mulheres No total de No de agregados
moram com a
agroextrativistasa Filhosb familiar
família
Aparecida
6 3 3 (1 nora e 2 netos)
(Ilha do Combu)
Beatriz
4 - 1(neto)
(Ilha Grande)
Nota: a Por questões éticas os nomes utilizados são fictícios. b Os filhos
que não moram com a família, na maioria das vezes, moram na mesma
comunidade e no mesmo terreno, ou alguns deles moram em Belém-PA.

Ambiente: Comunidade

O trabalho de pesquisa foi realizado no Estado do Pará, na Região


de Belém Insular. As famílias participantes pertencem a duas comu-
nidades (Ilha do Combu e Ilha Grande), distantes cerca de 12 km da
capital - Belém, e o deslocamento entre essa capital e aquelas ilhas
só é realizado via fluvial. Nesse espaço tipicamente amazônico, carac-
terizado pela presença de vegetação de várzea, por furos, igarapés e
paranás, vivem cerca de 375 famílias (TEIXEIRA; ALVES, 2008) ou apro-
ximadamente 1.700 moradores, que se concentram em quatro peque-
nas comunidades. As casas dos moradores encontram-se afastadas e
só é possível o acesso a elas por meio de barcos ou de canoas.
Os habitantes extraem das matas os recursos para a sua subsis-
tência, principalmente o açaí. Esses fatos permitem incluir a população

212
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

no modo de vida denominado de ribeirinho da Amazônia (HARRIS,


2000; LOUREIRO, 2000). Por definição, nesse modo de vida o espaço
e tempo diferenciam-se do tipo de vida das cidades de médio porte
e das capitais. No entanto, para uma parte da população, o trânsito
nessa dupla realidade constitui uma rotina diária. A travessia à capi-
tal é necessária para vender os recursos extraídos, efetuar compras,
frequentar aulas ou realizar pequenos serviços, o que concorre para
a construção de um modo de vida bastante peculiar. A comunidade
vivencia uma realidade sociocultural marcada pelo contraste entre as
riquezas naturais e a situação de pobreza social em que se encontra a
maioria da população local (TEIXEIRA; ALVES 2008).

Instrumentos e Técnicas

Para fins de caracterizar as participantes, foi utilizado nesta pes-


quisa o Inventário Sociodemográfico (ISD). O ISD possui 45 itens, é
composto de questões relativas à identificação pessoal dos membros
familiares, escolaridade, ocupação, rede de relações familiares, históri-
co da família, perspectivas futuras, caracterização do sistema familiar,
do domicílio, saneamento básico e econômico.

Para fins de descrever as experiências de contato e todas as de-


mais informações complementares que possam ser cotejadas de forma
triangular com os demais instrumentos, a cada contato com as parti-
cipantes, foram feitas notas de campo e estas posteriormente trans-
formadas em diários de campo de acordo com o modelo de Rubio e
Devillard (2001).

O Questionário de Rotina Familiar (QRF) foi desenvolvido com


base nos trabalhos de Silva (2006), Silva et al. (2010) e Silva et al. (2011)
e adaptado para esse estudo. O QRF consiste em uma planilha, na qual
no espaço das linhas, constam os períodos de um dia, divididos em
madrugada, manhã, tarde e noite e no espaço destinado às colunas, a

213
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

atividade realizada, o local, a companhia e observações complementa-


res. O QRF possibilita identificar padrões de organização do subgrupo
familiar com distribuição de papéis, atividades e companhias.

Procedimento

A pesquisa foi submetida e aprovada ao Comitê de Ética do Instituto


de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará CEP-ICS/UFPA,
parecer no 130/10. Para todas as participantes envolvidas na pesquisa foi
solicitada a assinatura do “Termo de Comprometimento” e do “Termo
de Livre Consentimento e Esclarecido”, mediante informações prévias a
respeito do conteúdo do mesmo.

A seleção das participantes se deu a partir da aproximação contínua


da pesquisadora ao contexto sociogeográfico onde convivem os mora-
dores e participantes da presente pesquisa. Esta aproximação resultou
da integração da pesquisadora ao ambiente estudado via interações su-
cessivas e regulares ao grupo pesquisado. A escolha das participantes
foi efetuada de acordo com os aspectos de acessibilidade, disponibilida-
de e considerando a participação das mulheres em atividades domésti-
cas, atuação na coleta do açaí e participação em movimentos sociais da
comunidade.

A coleta de dados ocorreu na casa das famílias e no momento da


visita, as participantes foram convidadas pela pesquisadora, receben-
do todas as informações sobre a pesquisa, garantia de sigilo, liberda-
de de desistir a qualquer momento, além da assinatura do termo de
consentimento. O instrumento Questionário de Rotina Familiar (QRF) foi
aplicado pela pesquisadora individualmente que respondia acerca das
percepções de suas próprias atividades, em uma única sessão para cada
participante, com duração média de 40 minutos. Solicitava-se à entre-
vistada que descrevesse a sequência de atividades típicas desenvolvidas,

214
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

a companhia e o local onde eram desenvolvidas durante um dia da se-


mana (segunda a sexta).

Os dados do QRF foram sempre considerados em paralelo com as


informações descritas nos diários de campo (DC), que permitiam identi-
ficar aspectos qualitativos das atividades de rotina realizadas pelas par-
ticipantes. Os diários de campo eram escritos após as visitas periódicas
às residências das moradoras da comunidade, tal como descrito por
Mendes et al. (2008).

RESULTADOS

Com base nos dados coletados, foram utilizadas análises específi-


cas. Os dados referentes ao ISD caracterizaram as participantes. O QRF
permitiu a descrição das principais atividades desenvolvidas pelos sub-
sistemas familiares. Nos parâmetros teóricos estabelecidos, foi possível
desenvolver sete categorias de atividades realizadas no interior das fa-
mílias, e na comunidade divididas em três dimensões.

A primeira dimensão condiz com as atividades de subsistência e


cuidados básicos referentes à unidade familiar, tais como: Subsistência
Econômica (SE), Subsistência Alimentar (SA), Tarefa Doméstica (TD) e
Cuidado Físico (CF). Tais categorias tomaram como princípio a relação
entre a unidade familiar e a forma como os seus subsistemas estão or-
ganizados para sua manutenção, divisão de responsabilidades e de pa-
péis. Esse é particularmente o caso de famílias organizadas no modo de
produção familiar.

A segunda dimensão de atividades diz respeito a um conjunto de


categorias de contextos de encontros familiares independentes dos mo-
dos de sobrevivência. Nesse sentido foram encontradas basicamente as
seguintes subcategorias: Prática Religiosa (PR) e Lazer (L). Por fim, a di-
mensão de atividades relacionadas à categoria de ações desenvolvidas

215
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

na associação comunitária: as Atividades Comunitárias (AC). Essa cate-


goria baseia-se nos contatos mantidos por pessoas da comunidade com
a finalidade em desenvolver ações de melhoria da qualidade de vida das
famílias e da comunidade. A definição das respectivas categorias pode
ser verificada na Tabela 2.

Tabela 2. Categorias de atividades desenvolvidas por mulheres


ribeirinhas.
Categorias de atividades Definição
Todas as atividades cujo objetivo era a obtenção
Subsistência Econômica de recursos de natureza financeira (dinheiro), por
(SE) exemplo, as atividades da coleta do açaí, transporte
e comercialização do açaí em Belém.
Todas as atividades envolvidas na aquisição e
preparo de nutrientes. Considera-se, nesse caso,
Subsistência Alimentar somente aquisição de nutrientes existentes
(SA) no entorno da residência e relativos à própria
sobrevivência, por exemplo, “caça”,“pesca” e
“coleta de frutos” e “preparo de alimento”.
Toda tarefa relativa ao espaço da casa, à exceção
do preparo de alimentos. São exemplos dessa
Tarefa Doméstica (TD)
atividade: “varrer casa”, “lavar louça”, “apanhar
lenha”, “consertar casa” etc.
Todas as tarefas relativas ao cuidado físico de
outras pessoas, geralmente os filhos e irmãos.
Cuidado Físico (CF)
São exemplos dessa atividade: “alimentar”, “dar
banho”, “colocar para dormir” etc.
Todas as atividades de caráter religioso, desde
Prática Religiosa (PR)
“orar sozinho” a “participar de um culto”.
Todas as atividades e ocupações às quais o
indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja
Lazer (L) para divertir-se, recrear-se e entreter-se. São elas:
Assistir televisão, ouvir música e rádio, visitar
parentes e ir em festas e comemorações.
Atividades praticadas na associação comunitária,
Atividades comunitárias como: reuniões, eventos e festas, que tem como
(AC) finalidade arrecadar recursos em prol da promoção
de beneficios para a comunidade.

216
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

A partir dos dados coletados, foi montada uma planilha no sof-


tware Microsoft Office Excel 2003, com as informações de cada partici-
pante, tais como o período do desenvolvimento da atividade, a cate-
gorização da verbalização da atividade, os possíveis acompanhantes e
o local onde era desenvolvida.

Para facilitar maior visualização dos dados, foram construídos no


software “DraftSight versão Alfa” os Diagramas de Atividades Familiares
(DAF) de acordo com o procedimento descrito por Silva et al. (2010)
que engloba a descrição em subsistemas intrafamiliares envolvidos no
desempenho de uma atividade. Para representar as informações do
DAF, optou-se pela apresentação da árvore genealógica do grupo que
compartilhava a residência, o local de trabalho e a associação comuni-
tária. Os subsistemas de atividades em que os membros se envolviam
foram contornados por linhas de cores diferentes, essas são identi-
ficadas nas figuras a partir de descrições complementares realizadas
no entorno. As imagens permitem conhecer as tarefas e quem as faz,
assim como os momentos de encontros, de convivência mais próxima
ou de isolamento, além de prover reflexões úteis sobre a natureza e as
características dos encontros familiares.

Com objetivo de diferenciar a formação de subgrupos em função


das rotinas estabelecidas durante a semana, foram realizados dois DAF
para cada família, sendo um para o dia da semana e outro para o fim
de semana, mais especificamente o sábado e o domingo. Em função
de como os dados se apresentaram, optou-se por uma forma de re-
presentação diferente do DAF para os fins de semana, para tais dias
a representação se aproxima mais da representação de um ECOMAPA
(AGOSTINHO, 2007) que identifica as relações e ligações da família
com o meio onde habita.

217
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Família de Aparecida

O DAF do grupo familiar da Aparecida, visualizado na Figura 1,


representa os papéis desenvolvidos por Aparecida e os membros da
família. A despeito de envolver mais de uma residência e subgrupo fa-
miliar, como as rotinas estão entrelaçadas, nesse DAF são considera-
dos os componentes do grande núcleo familiar que envolve a família
de Aparecida. Aparecida (A) tem como principais papéis a subsistência
alimentar (SA) e atividades domésticas (TD) que realiza sozinha e às
vezes tem o suporte da nora Maria José (MJ) e das filhas Isabela (I) e
Larissa (L). A atividade de subsistência econômica (SE) é realizada com
o marido e esporadicamente com os netos e filhos. Os suportes das
filhas para a realização das atividades de subsistência alimentar (SA)
e de tarefas domésticas (TD) são mantidos, na maioria das vezes, no
final da tarde e fins de semana, pois as mesmas, nos outros períodos
do dia estão envolvidas em atividades nas suas residências e a nora
Maria José (MJ) trabalha como agente comunitária de saúde e fica o
dia inteiro fora de casa, restringindo assim, o tempo de convivência.
No entanto, conforme as descrições do DC, a relação com a nora
é de proximidade, especialmente nos momentos em que estão em
casa no período noturno, pois as casas são bem próximas, divididas
apenas por um pequeno caminho de madeira, mas a cozinha é um
ambiente comum para as duas casas, o que as leva a dividir e revezar
as atividades domésticas (TD) e de subsistência alimentar (SA) como é
apresentado no DAF tracejado por linha de cor vermelha, podendo-se
afirmar que Aparecida (A) e sua Nora (MJ) compõem um subsistema
de atividades no interior do grupo familiar. Além dos papéis que são
realizados em conjunto com outros membros da família, Aparecida
(A) realiza também papéis de subsistência alimentar (SA) e de tarefas
domésticas (TD) sozinha no período da manhã como pode ser visua-
lizado no DAF com linha tracejada de cor rosa.

218
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Figura 1. Diagrama de atividades familiares de Aparecida de um dia da


semana.

No grupo familiar, Aparecida (A) apresenta ainda vínculos impor-


tantes com o filho casado Machado (M), os netos Gilson (G), Marcus
(Ma) e Francisco (F). Ressalta-se que as relações mantidas com o filho
Machado e o neto Francisco foram identificadas em Aparecida como
relações de grande identificação, o neto Francisco foi frequentemen-
te observado no entorno de Aparecida, durante a execução de suas
atividades, configurando uma tarefa de cuidado físico de Aparecida
durante o exercício de outras tarefas, especialmente de tarefas do-
mésticas (TD), a identificação desta relação no DAF está contornada de
linha tracejada preta. Por outro lado, a relação com os netos que ela
cria, Gilson (G) e Marcus (Ma), apresenta dificuldades, justificado por
Aparecida pela fase da adolescência em que eles se encontram, e se-
gundo ela, os conflitos se dão por esses não terem comprometimento
com a atividade da coleta do açaí e tarefas domésticas.

219
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Portanto, de acordo com o DC, pode-se descrever que Aparecida


não apresenta conflitos em relação ao tempo dedicado ao trabalho
da coleta do açaí. Sua rotina é dividida entre o papel que desenvolve
nas atividades de subsistência econômica (SE) e as tarefas domésticas
(TD) e de eventuais cuidados físicos com o neto mais novo. O papel de
subsistência econômica (SE) de Aparecida é realizado conjuntamente
com o marido Carlos (C) no contexto do trabalho da coleta do açaí - o
Açaizeiro. As mesmas relações são também mantidas com os filhos
Silvio (S) e Machado (M), os netos que ela cria Gilson (G) e Marcus
(Ma), e os netos Dionísio (D) e João (J). No entanto, os netos vão para
a coleta apenas esporadicamente quando os mesmos estão de folga
dos estudos. Além disso, filhos e netos coletam açaí em outro mato,
por isto encontram-se somente quando carregam o açaí para determi-
nado ponto para organizá-lo e serem comercializados. Com a venda
em Belém o lucro é dividido com os filhos e netos. Essas relações estão
identificadas com linha azul e com observações no DAF que está no
alto da figura.

Das atividades relatadas no lar, Aparecida não participa do cuida-


do e plantio do terreno dos arredores da casa, da pesca, e da comer-
cialização do açaí em Belém, estas executadas pelo marido Mário (M)
e filhos. As atividades realizadas pela família de Aparecida (A) também
são momentos de contato integral e positivo em períodos do dia e
desenvolvem cuidados físicos (CF) que incluem as refeições e o banho
no rio, e de lazer (L) relacionados a assistir à televisão e a conversas
com todo o grupo familiar. Atividades demonstradas no DAF, traceja-
do com linha de cor amarela. Esses são momentos de encontros diá-
rios do grupo familiar.

A divisão de tarefas empreendida pelo casal demonstra certa rigi-


dez nas fronteiras de atividades estabelecidas entre os subsistemas, o
exercício de tais atividades determina os momentos de aproximação,
como na coleta do açaí, mas com tarefas distintas o afastamento do
casal. Outra relação destacada é a relação avó-neto (neto Francisco)

220
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

uma configuração do sistema avós-netos como também a possibili-


dade de melhor estabelecimento do subsistema parental, que realiza
atividades particulares e passa grande parte do tempo em conjunto,
característica da socialização local, descrita no DAF.

De acordo com o relato de Aparecida, a facilidade em conduzir os


múltiplos papéis está relacionada à proximidade da floresta onde se
coleta o açaí e à residência da família, conforme relata Aparecida. Não
há considerações sobre seus papéis de cuidadora dos netos e sobre os
suportes recebidos nas tarefas domésticas.

O DAF do grupo familiar da Aparecida, visualizado na Figura 2,


representa as atividades realizadas no fim de semana, sábado e do-
mingo. Nos fins de semana de Aparecida (A) são dedicados às ativida-
des relacionadas às ações comunitárias (AC), tarefas domésticas (TD) e
práticas religiosas (PR).

Figura 2. Diagrama de atividades familiares de Aparecida do fim de


semana - Sábado e domingo.

221
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

As atividades comunitárias são caracterizadas como grupos forma-


dores de relações extrafamiliares, como se pode observar no DAF, e esses
vínculos identificam-se no grupo da associação comunitária. Apesar de
serem consideradas relações extrafamiliares, todos os vínculos são iden-
tificados como membros da família, e constituem-se em várias ações
na comunidade como promoção de festas e bingos para arrecadação
de recursos para a associação, reunião e cursos profissionalizantes que
intensificam os vínculos mantidos com a comunidade. Os componen-
tes com maiores vínculos com a Aparecida são: Lourdes (L), cunhada e
líder comunitária, além de duas integrantes da associação comunitária,
Beth (B) e Eva (E), sobrinhas de Aparecida. As tarefas domésticas (TD)
são desenvolvidas na companhia do marido, e consiste nas compras em
supermercado realizadas no sábado pela manhã no comércio de Belém.
Também na companhia do marido, Aparecida desenvolve a prática re-
ligiosa (PR) sempre aos domingos no salão da associação comunitária,
e a maioria dos participantes é de parentes membros da comunidade,
exceto o Padre (P), que faz celebrações na comunidade pelo menos uma
vez por mês.

Família de Beatriz

O DAF da Beatriz (B) representa as atividades realizadas em um


dia qualquer da semana, visualizado na Figura 3. No período matutino
Beatriz (B) realiza as tarefas domésticas (TD) e de subsistência alimen-
tar (SA) sem a ajuda de outros membros da família, essas tarefas estão
identificadas no DAF com linha cor rosa. Além disso, ela desenvolve os
cuidados parentais com o neto Marcelo (Ma).

222
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Figura 3. Diagrama de atividades familiares de Beatriz de um dia da


semana.

A relação de Beatriz (B) com o marido Joel (J) é de grande proxi-


midade no contexto do trabalho da coleta do açaí. O casal coleta açaí
juntos durante toda a manhã, além da coleta de outros produtos da
floresta que fazem parte das tarefas de subsistência econômica (SE) da
família. Essa relação está identificada com linha azul e com observações
no DAF no alto da figura.
Em um período do dia, Beatriz (B) é auxiliada pelo neto Marcelo
(Ma) nas tarefas domésticas (TD) e nas atividades de subsistência ali-
mentar (SA), atividade representada no DAF pela linha de tracejado de
azul claro. A partir de dados de DC verifica-se que a rotina de relação
com o neto Marcelo (Ma) às vezes é conflituosa, pois este tem dificulda-
des de interagir com os avôs no trabalho da coleta do açaí e nas tarefas
domésticas. Como se pode observar no DC são constantes as reclama-
ções de Beatriz.

223
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

No entanto, as atividades domésticas (AD) de Beatriz no período


vespertino contam com o suporte da filha Vilma (V). Essas atividades es-
tão destacadas no DAF com linhas tracejadas de cor marrom. A relação
mãe-filha é de grande proximidade e cooperação. A ajuda recebida da
filha Vilma pode facilitar os possíveis conflitos dos papéis desenvolvidos
por Beatriz, conforme se observa no DC com os relatos de Beatriz.

As atividades das quais Beatriz (B) não participa estão relacionadas


às atividades como capinar, cuidar de plantas ou sair para a pesca no rio,
porque essas são realizadas pelo marido Joel (J) juntamente com o filho
Bernardo (B) e o neto Marcelo (Ma), atividades destacadas com linha
tracejada de cor verde e observações no DAF. Outra atividade da qual
Beatriz não participa é a comercialização do açaí, realizada por Joel (J),
o cunhado Mário (M) e o filho Bernardo (B) e estes, com esse fim, vão
de barco para Belém, atividade identificada no DAF com linha de trace-
jado de cor vermelha. Além disso, Joel (J) realiza sozinho o transporte e
acompanhamento do sobrinho de Beatriz, Paulo (P) e da esposa Célia
(C), em um tratamento médico em Belém, atividade identificada no DAF
com linha tracejada de cor preta.

O DAF do grupo familiar da Beatriz, visualizado na Figura 4, repre-


senta as atividades realizadas no fim de semana, sábado e domingo. Nos
fins de semana, Beatriz (B) se dedica a ações relacionadas às atividades
comunitárias (AC), tarefas domésticas (TD) e práticas religiosas (PR). As
atividades comunitárias são caracterizadas como grupos que compõem
relações extrafamiliares. Porém, os vínculos de Beatriz (B) identificados
no grupo da associação comunitária são membros da família, e isto é
observado no DAF e identificado com linha tracejada de cor vermelha.
São eles João (Jo), Nogueira (N) e Fernando (F), os principais coorde-
nadores da associação e sobrinhos de Beatriz. Apesar de participar das
reuniões e movimentos da associação comunitária, Beatriz se considera
pouco atuante nas atividades do grupo, por se considerar uma pessoa
mais velha e com limitações físicas, as quais a impedem de ajudar e

224
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

atuar com mais vigor na associação da comunidade, as reuniões ocor-


rem no final da tarde de sábado, no salão da associação localizado ao
lado da escola da comunidade.

Figura 4. Diagrama de atividades familiares de Beatriz do fim de


semana - Sábado e domingo.

As tarefas domésticas (TD), compras em supermercado realizadas


no comércio de Belém, e as práticas religiosas (PR) são desenvolvidas
na companhia do marido Joel (J). Beatriz (B) declara que encontra no
Pastor (P) um grande apoio emocional. Os cultos são realizados em igre-
ja de uma ilha próxima. Essa atividade é identificada no DAF, figura 4,
com linha tracejada de cor preta. Desse, com exceção às compras, as
atividades de Beatriz estão mais restritas à zona do lar, enquanto as do
seu esposo parecem mais demarcadas ao ambiente extra lar; uma clara
demarcação de gênero.

225
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

DISCUSSÃO

Os diagramas de atividades familiares, organizados a partir dos da-


dos de rotina, permitiram identificar os papéis e atividades relacionadas
ao trabalho doméstico, no trabalho da coleta do açaí e atuação em as-
sociações comunitárias das mulheres ribeirinhas. Todas as atividades são
marcadas por relações que os cônjuges, filhos e parentes estabelecem
e são bastante demarcadas em função do gênero. Há uma clara divisão
de tarefas e de papéis entre homens e mulheres e esta divisão institui o
status ocupado pelos cônjuges e o conjunto de relações possíveis.
Às mulheres cabe a manutenção da família mediante a realização
das tarefas domésticas, como o cuidado com os filhos e do ambiente
familiar, o preparo de alimento. As mulheres participam ainda das
atividades da coleta do açaí, e neste contexto também ocorre a divisão
sexual do trabalho, cabendo aos homens da família as atividades de
subir no açaizeiro e carregar o grande peso dos frutos coletados. Às
mulheres cabe a função de debulhar e selecionar os frutos, atividades de
grande esforço físico. Desta forma, as mulheres participam ativamente
tanto das atividades domésticas e de subsistência alimentar, como das
atividades de subsistência econômica, que garantem o sustento da fa-
mília. Além disso, especialmente nos fins de semana, as mulheres das
comunidades ribeirinhas estudadas atuam ativamente nas associações
comunitárias, em ações e atividades a fim de trazer o desenvolvimento
e a melhoria das condições de vida das comunidades; essa é uma tarefa
exclusivamente feminina.
No geral, percebe-se que as mulheres mantêm suas relações e
contato no nível familiar e na comunidade, enquanto os homens es-
tão vinculados às atividades mais externas, como a venda de produtos.
Pode-se afirmar que, em função da maior diversidade de atividades de-
sempenhada pelas mulheres, há maior diversidade de papéis implica-
dos, demandando, por assim dizer uma rede de suporte maior. Por isso,
percebe-se nos dois casos estudados, serem as famílias compostas de

226
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

subgrupos familiares de parentes residentes no entorno, geralmente no


mesmo terreno, tendo em comum não somente as casas, mas o com-
partilhamento de atividades e os encontros.
Verifica-se um arranjo que possibilita a transmissão transgeracio-
nal de papéis. Então, os filhos mais velhos se tornam responsáveis pelo
apoio aos seus progenitores nas tarefas executadas, dependendo do
gênero a que pertença. Dessa maneira, os meninos aprendem muito
cedo a exercer atividades relacionadas às tarefas de seus pais e, as me-
ninas, a exercer atividades relacionadas às tarefas de suas mães. Há uma
iniciação em papéis de gênero, e, no caso feminino, parece ser mais
prematuro e intenso. Supõe-se que o exercício de tais tarefas possi-
bilite a conformação de subsistemas mãe-filha mais velha, avó-neto,
irmão-irmã. Nesse sentido, comparando a diversidade de subsistemas
participantes pela mãe e pelo pai, conclui-se ser o da mãe o mais va-
riado, talvez pelo fato de a mulher fazer a mediação das relações entre
os subsistemas, funcionando como o elo responsável pelo estabeleci-
mento das intermediações entre os subsistemas familiares. Por sua vez,
o enquadramento dos encontros familiares em função das atividades
desenvolvidas pelos subsistemas, possibilita a divisão de papéis das fa-
mílias ribeirinhas. Adicionalmente, as noras são incorporadas nas redes
de suporte das matriarcas.
Curiosamente, é neste arranjo que, apesar do acúmulo de ativida-
des e sobreposição de papéis, é que se cria a possibilidade de uma par-
ticipação na vida comunitária, especialmente na função de liderança. A
família entendida, as moradas próximas, o suporte de filhas, filhos e no-
ras nas tarefas de manutenção, subsistência familiar possibilita contras-
tadamente um espaço para a participação comunitária. Por outro lado,
a despeito de um aparente menor status feminino às preocupações
de natureza comunitária e a maior participação feminina é quase uma
questão de gênero. Deve-se destacar que as relações comunitárias pos-
sibilitam uma extensão de rede nas atividades femininas. Enquanto os
homens exercem um papel mais relacionado às atividades externas, ten-
do um maior número de contatos externos, as atividades comunitárias

227
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

das mulheres possibilitam uma fuga do espaço doméstico e das estritas


relações definidas por este espaço.
Como podem ser observadas nos resultados, as relações de apoio
às mulheres ribeirinhas mantidas no contexto familiar, no trabalho ou
nas ações comunitárias estão, na maioria das vezes, restritas aos laços
de parentesco ou de grupos muito próximos de vizinhos e amigos. Essas
relações dão suporte para essas mulheres exercerem os vários papéis e
executarem suas atividades de dupla jornada de trabalho e ainda atu-
arem nas ações comunitárias. A necessidade constante de conciliar pa-
péis familiares e o trabalho pode restringir e sobrecarregar as mulheres.
De fato, estudos revelam (BRUSCHINI, 2000) que o tipo de inserção e
o modo de participação feminina no mercado de trabalho dependem
de uma complexa combinação de características pessoais e familiares,
como idade, número de filhos, posição na família, rede de apoio, estado
conjugal e composição familiar.
Além da contribuição de parentes no apoio das mulheres ribeiri-
nhas para exercerem os vários papéis sociais, observa-se que a execu-
ção das atividades ocorre, na maioria das vezes, no âmbito doméstico
e arredores, sem ultrapassar os limites da comunidade. Esse é um fator
que pode facilitar a sua atuação no desenvolvimento do trabalho de
subsistência econômica e pode ser conciliado às atividades domésti-
cas, estabelecendo por sua vez os papéis relacionados. Pois, segundo
estudos de Bruschini (2000), as mulheres seguem sendo as principais
responsáveis pelas atividades domésticas e pelo cuidado com os filhos
e demais familiares, além de realizarem atividades econômicas. De fato,
as transformações na sociedade contemporânea acarretaram alterações
muito restritas no papel social da mulher. Ao antigo modelo de mãe e
esposa - foi apenas adicionado um outro, o de trabalhadora, e as mu-
lheres encontram-se, assim, atualmente, divididas entre os seus múlti-
plos papéis, buscando o melhor modo de conciliação entre eles.
Por outro lado, percebe-se neste estudo que a mulher ribeirinha
apresenta nos seus papéis e oportunidades, tais como na participação

228
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

das atividades de subsistência econômica, por exemplo, a coleta do açaí,


as oportunidades de integração nas associações comunitárias como for-
ma de aquisição de novos contatos e integração a outros contextos. Em
decorrência desses fatores, o posicionamento da mulher na estrutura
familiar tem de ser considerado de forma dinâmica. Se, por um lado, as
atividades desempenhadas e, consequentemente, seus papéis corres-
pondem a arranjos tradicionais da sociedade demarcados por divisões
sexuais do trabalho, por outro, a ocupação de espaço nas associações
comunitárias, amplificam de modo não tradicional a sua rede de rela-
ções, com impactos na comunidade. Dados de DC mostram que outras
figuras femininas são pressionadas a ter uma ocupação e contribuição
diferente no grupo familiar.
Nessa perspectiva, as relações das mulheres ribeirinhas se mantêm
no ambiente mais imediato, o microssistema, dando ênfase nos papéis e
atividades com familiares e membros da comunidade. Pode-se observar
também, nas rotinas destas mulheres, que os contextos em que estão
elas inseridas estabelecem uma interação dinâmica e recíproca entre
contextos, a saber, a casa, o açaizeiro como local de trabalho e a asso-
ciação comunitária, caracterizando assim o mesossistema, no qual as
ribeirinhas participam ativamente. Nesse sentido, o mesossistema apre-
senta essas instituições como representantes, que exercem influência
preponderante na pessoa, interferindo nas interações de todos os níveis
ambientais.
Entende-se que a dinâmica dessas relações se concretiza no coti-
diano, nas rotinas das mulheres ribeirinhas, e essas rotinas se tornam os
principais indicadores das formas de organização típicas do grupo fami-
liar (FIESE et al., 2002) e a base para a interdependência com o contexto
(BRONFENBRENNER, 2002). Entende-se que a atuação dessas mulheres
nos contextos vivenciados, em especial a família, o grupo de trabalho e
a associação comunitária, são ações representativas dos mesossistemas,
geradoras de mudanças imediatas e de longo prazo nos grupos familia-
res e da comunidade.

229
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Considerações finais

A noção de as atividades rotineiras serem organizadas de acordo


com os papéis e as responsabilidades estruturados em cada contexto
cultural e pela cultura de cada família (SERPELL et al., 2002), permite que
a investigação das rotinas pode desvendar como se articulam os papéis
desempenhados pelas mulheres com os sistemas maiores dos quais ela
faz parte, em especial, o parental e o comunitário.
Verificou-se que o posicionamento da mulher na estrutura familiar
é considerado dinâmico e abrange um aglomerado de sistemas com re-
lações interdependentes entre si. Nesse sentido, o contexto atua como
um facilitador para o seu desenvolvimento, produzindo constância e
mudança nas características da mulher ribeirinha e no curso de sua vida,
da família e da comunidade. Portanto, é por meio das rotinas dessas
mulheres que os contextos nos quais estão inseridas estabelecem uma
interação dinâmica e recíproca entre contextos, como a casa, o açaizeiro
como local de trabalho e a associação comunitária, caracterizando assim
o mesossistema, nos quais as ribeirinhas participam ativamente.
A despeito dos aspectos revelados, os dados aqui coletados não
esclarecem sobre a percepção das próprias mulheres sobre a sua con-
dição e sua relação com a rede de apoio que garantem, de certo modo,
a participação delas na diversidade de atividades e papéis que são aqui
encontrados. Acredita-se que futuros estudos possam esclarecer mais
esses aspectos.
Embora os estudos sobre os papéis e as atividades das mulheres
sejam encontrados facilmente na literatura, é evidente a escassez de in-
formações referentes a este fenômeno em contextos como os das popu-
lações ribeirinhas. Nesse sentido, além de permitirem o conhecimento
acerca deste grupo, os dados do presente trabalho possibilitam tornar
estas populações visíveis socialmente e, consequentemente, contribuir
para os estudos científicos das comunidades ribeirinhas e os vários des-
dobramentos de ações na comunidade que podem ser inferidas a partir

230
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

deste trabalho. Podem também contribuir para construção de políticas


públicas compatíveis com o modo de organização social e simbólica
dos diferentes grupos sociais, evitando o estabelecimento de ações inci-
pientes a se perderem por falta de sentido real no cotidiano das pesso-
as. Sendo assim, o conhecimento produzido por pesquisas como estas
pode evitar a frustração de gestores e melhorar a qualidade de vida de
populações ribeirinhas como a descrita neste artigo.

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A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

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234
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

CLASSIFICAÇÃO DO USO DO TEMPO EM


ATIVIDADES E TRABALHOS DIÁRIOS DAS
MULHERES RURAIS (CATMUR)

Lorena Lima de Moraes


UFRPE- UAST
Shana Sampaio Sieber
UFRPE – UAST - DADÁ
Juliana Funari
UFRPE – UAST - DADÁ
Nicole Pontes
UFRPE - UAST

As pesquisas sobre o uso do tempo estão cada vez mais sendo


utilizadas na formulação de indicadores para avaliar as condições de
vida das populações. A socióloga brasileira e feminista Neuma Aguiar,
além de ter contribuído com os documentos das Nações Unidas para
mensurar o uso social do tempo, desenvolveu pesquisas no Brasil
(AGUIAR, 2001; 2010) que orientaram órgãos oficiais, como o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desde 1992, o IBGE vem incorporando questões referentes ao
trabalho doméstico e ao uso do tempo na Pesquisa Nacional de Amostra
por Domicílio (PNAD). Entretanto, a partir das contribuições feministas,
em 2001, passa a incluir questões sobre o número de horas semanais
destinadas ao trabalho doméstico não remunerado, tornando-se base

235
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de dados de referência para as investigações sobre o uso do tempo no


Brasil. No entanto, mesmo com esses avanços, ainda não dispomos em
nosso país de uma pesquisa periódica, abrangente e nacional sobre o
uso social do tempo.
Avaliar como o recurso tempo é vivenciado e usado diferentemente
– entre homens e mulheres, entre pessoas de distintos grupos etários,
étnicos, raciais e classes sociais – permite amplas possibilidades de
análises que precisam ser discutidas, apontadas e socializadas, para
construção de alternativas frente a injusta divisão sexual do trabalho, que
perpetua jornadas sobrecarregadas, e à superexploração das mulheres.
Apresentaremos aqui uma metodologia de classificação do uso
do tempo das mulheres rurais, por meio da qual buscamos possibilitar
olhares aprofundados sobre a vida das mulheres rurais em sua diversidade
e contextos socioambientais, para superação da invisibilidade de seu
trabalho, bem como para a valorização da complexidade e importância
do trabalho feminino. Esse desvelamento sobre o tempo e trabalho das
mulheres colocam em xeque o modelo hegemônico de desenvolvimento
de base patriarcal, que tem mostrado limitações na melhoria da qualidade
de vida das mulheres rurais latino-americanas.
A construção da Classificação do Uso do Tempo em Atividades
e Trabalhos Diários das Mulheres Rurais (CATMUR) teve como ponto
de partida a pesquisa Mulheres Rurais e o Uso do Tempo: divisão sexual
do trabalho e relações de gênero em Pernambuco, que se estruturou a
partir da construção intelectual coletiva do grupo de pesquisadoras
que assinam este texto, com a fundamental participação de alunas,
de origem rural, da Universidade Federal Rural de Pernambuco –
Unidade Acadêmica de Serra Talhada e das próprias mulheres rurais
(que nasceram, foram criadas e ainda hoje residem em zonas rurais)
acompanhadas no trabalho de campo.
O trabalho de campo nos mostrou a necessidade da construção
de uma classificação do uso do tempo que contemplasse o contexto e
as especificidades das mulheres rurais a partir da perspectiva feminista,

236
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

capaz de apreender rotinas de trabalho e de cuidados profundamente


invisibilizados e desvalorizados pela família e sociedade, bem como
destacar o trabalho não remunerado das mulheres do campo, o qual vai
muito além do trabalho doméstico e do “amor maternal” pela família e
comunidade.
Fizemos uma escolha metodológica, consciente e política, no âmbito
do foco das mulheres rurais. Além de nos debruçarmos sobre os ônus
das desigualdades de gênero no meio rural, defendemos a ampliação
de pesquisas científicas que valorizem e problematizem realidades
negadas e discriminadas, a partir de metodologias específicas, pensadas
e construídas para e com os sujeitos a serem investigados e fortalecidos.
As pesquisas estatísticas do uso do tempo de amplitude nacional e mais
generalistas são necessárias e urgentes em nosso país, para pensar as
desigualdades e fomentar políticas públicas específicas que melhorem a
qualidade de vida das mulheres. Em sinergia e de forma complementar,
o instrumento aqui proposto – a CATMUR – parte de uma pesquisa
inicialmente qualitativa e sugere o reconhecimento da realidade a
partir do microssocial, da observação in loco e, principalmente, de uma
construção baseada no diálogo dos conhecimentos científicos com os
conhecimentos dos sujeitos que são parte do estudo.
A CATMUR propõe visibilizar outras práticas sociais, para além
do trabalho formal e de mercado, ou seja, aquelas que não são
captadas pelas pesquisas estatísticas sobre os usos do tempo, expondo
trabalhos e atividades intimamente relacionados às dinâmicas e aos
ritmos da natureza, dos modos de vida, dos territórios e dos contextos
socioambientais, executados de forma integrada, simultânea, sem
marcação definida de início e fim. De maneira geral, as mulheres rurais
buscam a conservação dos recursos naturais; cuidam da água, das
plantas nativas e sementes; buscam o conhecimento técnico-científico
e a valorização dos seus conhecimentos tradicionais; reciclam resíduos
sólidos e matéria orgânica; cuidam dos animais de estimação de sua
casa e de vizinhas(os); cuidam de suas(eus) filhas(os) e de filhas(os) da
comunidade; lideram espaços políticos e projetos socioambientais que

237
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

trazem melhorias para toda a comunidade; organizam eventos sociais e


religiosos; atuam para acessar políticas públicas etc.
Nesse sentido, a CATMUR se constitui como um instrumento para
compreender a complexidade do trabalho das mulheres rurais, que não
se restringe aos limites materiais e simbólicos das cercas da propriedade
privada. Esse instrumento nasce como proposta de classificar e entender
a utilização do tempo pelas mulheres rurais nos seus territórios de vida.
A CATMUR está organizada em 20 itens de classificação de trabalhos
e atividades realizadas pelas mulheres rurais, os quais possuem subitens.
Esses itens foram construídos com base nas identificações e análises
realizadas pela nossa equipe de pesquisadoras no desenvolvimento da
pesquisa Mulheres Rurais e o Uso do Tempo: divisão sexual do trabalho
e relações de gênero em Pernambuco; na Pesquisa Piloto do IBGE 2009-
2010 (CAVALCANTI; PAULO; HANY, 2010); na International Classification
of Activities for Time-Use Statistics (ICATUS) e na Classification of
Time-Use Activities for Latin America and the Caribbean (CAUTAL). Os
20 itens da CATMUR são grandes grupos de trabalhos e atividades,
habitualmente realizados pelas mulheres rurais1 e relevantes para
compreensão do uso do tempo em suas vidas. Tais itens de classificação
abrangem trabalhos destinados ao mercado, ao autoconsumo, ao
trabalho de cuidado, ao trabalho remunerado, ao não remunerado, ao
voluntário, bem como atividades de lazer, de aprendizado e educação,
de socialização e comunicação, de autocuidado, para busca de emprego
e de deslocamento.
Por meio da nossa pesquisa de campo e das classificações do uso do
tempo referenciadas acima, refletimos sobre a forma inicial de divisão dos
itens da CATMUR. Observamos que os grandes grupos propostos, sem
um maior detalhamento em subitens, acabariam invisibilizando ritmos e
outros aspectos que se apresentam como um desafio para as pesquisas
do uso do tempo, tais como a simultaneidade da execução dos trabalhos
e a carga mental das mulheres ao gerenciarem, orientarem, demandarem

1 Essa classificação pode ser utilizada para análise do uso do tempo de mulheres urbanas,
homens rurais e urbanos, em seus diversos contextos e recortes. Entretanto, as especifi-
cações, a intenção primária, os detalhamentos e exemplos aqui citados são baseados nas
rotinas de mulheres rurais da região semiárida de Pernambuco, Brasil.

238
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

tarefas a terceiros, a fim de manterem o bom funcionamento da casa, da


unidade produtiva familiar e da comunidade.
Nesse sentido, os 20 itens da CATMUR apresentam subitens para
o detalhamento de outros trabalhos e atividades realizados dentro
do mesmo espaço de tempo, diretamente integrados naquela ação
inicialmente observada, com a mesma finalidade e beneficiários diretos.
Os subitens abordam e valorizam trabalhos comumente desenvolvidos
pelas mulheres rurais em seus modos de vida, tais como: a gestão
do trabalho de terceiros (filhas(os), marido e outros); administração
doméstica; manejo da água, dos resíduos sólidos e da biodiversidade;
deslocamento para diversas finalidades e trabalhos domésticos no
desenvolvimento de atividades com finalidade política ou religiosa
(limpeza da associação e igreja, por exemplo).
Esse detalhamento por meio de subitens se justifica pelo fato de
a categorização por grandes grupos não dar conta da carga mental,
tampouco da intensa dinâmica vivida pelas mulheres rurais no seu dia
a dia, como na simultaneidade de atividades executadas no mesmo
minuto e espaço, no contexto de uma injusta e hierárquica divisão sexual
do trabalho.
Em relação à mensuração da simultaneidade, consideramos o
tempo de execução de cada trabalho realizado no mesmo espaço de
tempo, sem escolher o trabalho principal, mas, sim, considerando os
dois, ou os três e, assim, supervalorizando o tempo de trabalho das
mulheres, que não cabe no tempo do relógio2.
Os itens de classificação aqui propostos (20 itens) são adequados
para análises mais generalistas sobre o uso do tempo das mulheres
rurais, comparáveis nacionalmente e internacionalmente, e são úteis
para discussões sobre trabalhos não remunerados e/ou invisibilizados.
No entanto, as categorias gerais podem se bastar em si para classificar
determinado tipo de trabalho, ou podem ocultar trabalhos e atividades
que demandam muito tempo e que fazem parte do modo de vida do
campo, caracterizado pela ausência de água encanada, pela ausência

2 Ver mais no capítulo “Metodologias, Trabalho e Uso do tempo: compreendendo a rotina de


mulheres rurais”, MORAES, et al.

239
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de coleta pública de resíduos sólidos (lixo), pela íntima relação com


os recursos naturais, pelas relações de reciprocidade e pelos laços
afetivos etc. Destacamos a necessidade de se intensificar o nível de
detalhamento de cada item, contemplando ainda mais atividades que
caracterizam o modo de vida das mulheres rurais. Desse modo, para
classificar determinado tipo de trabalho ou atividade, deve-se atentar
para a sua finalidade e para quem será beneficiada(o), sendo distinguido
pelo grau de parentesco3 e local de residência.
No âmbito da categoria gestão, subitem presente em todos os
grandes grupos (com exceção do item 20 Deslocamento – onde não se
aplica), referimo-nos ao ato de planejar, orientar ou distribuir trabalhos
ou atividades que serão realizados por terceiros. Comumente, as
mulheres gerenciam tais atividades enquanto realizam, por elas mesmas,
outras tarefas, simultaneamente. A categoria gestão busca demarcar
o trabalho de carga mental que as mulheres executam para manter o
bom funcionamento da vida cotidiana, ao solicitarem a outras pessoas a
execução das tarefas que devem ser realizadas. Quando nos referimos ao
manejo, presente também nos subitens dos grandes grupos, o destaque
se dá ao trabalho ou atividades executados pela própria mulher. Assim,
identificamos e diferenciamos o trabalho que requer força física (manejo)
e o trabalho mental (gestão) que é simultaneamente realizado pelas
mulheres.
O item deslocamento dialoga com os demais, uma vez que os
trabalhos e atividades podem ser desenvolvidos fora da unidade
familiar, envolvendo deslocamento entre unidades familiares vizinhas,
comunidades, zonas rurais e áreas urbanas dos municípios, por
exemplo. No entanto, na situação em que a mulher se desloca dentro
da sua própria unidade familiar, o tempo é contabilizado como parte
da execução do trabalho. Por exemplo, quando se desloca para buscar
água no açude de seu sítio, o tempo de deslocamento é contabilizado
e considerado dentro do subitem Manejo da água usada no trabalho
destinado ao autoconsumo familiar.
3 É válido destacar que as relações de parentesco não se limitam às relações de consanguini-
dade. Assim, as relações de apadrinhamento (comadre, compadre, afilhada(o)) estão sendo
consideradas como pessoas da família, que podem ou não residir na mesma unidade do-
miciliar da mulher que está sendo acompanhada pela pesquisa.

240
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

É importante ressaltarmos que os trabalhos doméstico e de cuidado


contemplados na CATMUR compreendem o trabalho não remunerado
executado pelas mulheres, o qual beneficia a família e a comunidade. No
caso de a mulher trabalhar como empregada doméstica ou cuidadora,
esse trabalho é classificado na CATMUR como trabalho remunerado
destinado ao mercado.
Cada item e subitem da CATMUR apresenta um texto explicativo
seguido de exemplos, que, em sua maioria, foram observados durante
a pesquisa de campo junto às mulheres rurais do Sertão do Pajeú-PE,
Brasil, e estão expostos na parte intitulada como Dicionário, no presente
texto. A atividade ou trabalho realizado pode se encaixar em mais de
uma classificação, pois, ao utilizar a CATMUR, é importante levar em
consideração a intenção da atividade realizada para então classificá-
la da forma mais apropriada. A melhor forma de conhecer a intenção
da atividade ou trabalho realizado é questionando para quem está
executando.
Embora a CATMUR seja um instrumento que possibilita a
problematização da realidade da população rural brasileira, ressaltamos
que o nosso ponto de partida se estabelece a partir das experiências no
contexto das mulheres rurais sertanejas e pernambucanas. Ao utilizar a
CATMUR para classificar os trabalhos das mulheres é importante tomar
conhecimento da finalidade para qual a atividade ou o trabalho estão
sendo realizados, pois um mesmo trabalho pode ser classificado em
mais de um item, e o que definirá sua classificação final será o contexto
e/ou o objetivo a ser investigado.
Buscamos inspirar novas pesquisas que abarquem as pluralidades
das mulheres rurais brasileiras e, ainda, a participação dos homens
diante das dinâmicas exaustivas das mulheres. Entendemos que o
detalhamento e a complexidade em que tentamos retratar a dinâmica
de trabalho das mulheres rurais por meio da CATMUR também pode
inspirar pesquisas do uso do tempo no meio urbano, evidenciando
principalmente as mulheres e os homens da periferia, que, mesmo na
cidade, convivem com algumas problemáticas semelhantes àquelas do
meio rural.

241
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

CLASSIFICAÇÃO DO USO DO TEMPO EM ATIVIDADES E TRABALHOS


DIÁRIOS DAS MULHERES RURAIS (CATMUR)

• Grandes grupos

1 Trabalho remunerado destinado ao mercado


___________________________________________________________________________
2 Trabalho não remunerado destinado ao mercado
___________________________________________________________________________
3 Trabalho destinado ao autoconsumo familiar
___________________________________________________________________________
4 Trabalho doméstico destinado aos membros da unidade domiciliar
___________________________________________________________________________
5 Trabalho doméstico destinado aos membros da família que não
residem na unidade domiciliar
___________________________________________________________________________
6 Trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da família
e não residem na unidade domiciliar
___________________________________________________________________________
7 Trabalho de cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar
___________________________________________________________________________
8 Trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de
estimação dos membros da unidade domiciliar
___________________________________________________________________________

242
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

9 Trabalho de cuidado destinado aos membros da família que não


residem na unidade domiciliar
___________________________________________________________________________
10 Trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da família
e não residem na unidade domiciliar
___________________________________________________________________________
11 Trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de
estimação de pessoas que são da família e não residem na unidade
domiciliar
___________________________________________________________________________
12 Trabalho voluntário
___________________________________________________________________________
13 Atividades de aprendizado e educação
___________________________________________________________________________
14 Atividades de socialização e comunicação
___________________________________________________________________________
15 Atividades de lazer
___________________________________________________________________________
16 Atividades de autocuidado
___________________________________________________________________________
17 Atividades destinadas à procura de emprego/trabalho
___________________________________________________________________________
18 Atividades destinadas à participação política e/ou acesso às
políticas públicas
___________________________________________________________________________

243
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

19 Cuidado com os bens comuns


___________________________________________________________________________
20 Deslocamento
___________________________________________________________________________

• Subitens

1 Trabalho remunerado destinado ao mercado

1.1 Gestão do trabalho remunerado destinado ao mercado


1.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho remunerado
destinado ao mercado
1.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho
remunerado destinado ao mercado
1.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho
remunerado destinado ao mercado
1.5 Manejo da água no trabalho remunerado destinado ao mercado
1.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho remunerado destinado
ao mercado
1.7 Manejo da biodiversidade no trabalho remunerado destinado
ao mercado

2 Trabalho não remunerado destinado ao mercado

2.1 Gestão do trabalho não remunerado destinado ao mercado


2.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho não remunerado
destinado ao mercado
2.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho não
remunerado destinado ao mercado

244
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

2.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho não


remunerado destinado ao mercado
2.5 Manejo da água no trabalho não remunerado destinado ao
mercado
2.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho não remunerado
destinado ao mercado
2.7 Manejo da biodiversidade no trabalho não remunerado
destinado ao mercado

3 Trabalho destinado ao autoconsumo familiar

3.1 Gestão do trabalho destinado ao autoconsumo familiar


3.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho destinado ao
autoconsumo familiar
3.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho destinado
ao autoconsumo familiar
3.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho destinado
ao autoconsumo familiar
3.5 Manejo da água no trabalho destinado ao autoconsumo familiar
3.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho destinado ao
autoconsumo familiar
3.7 Manejo da biodiversidade no trabalho destinado ao
autoconsumo familiar

4 Trabalho doméstico destinado aos membros da unidade


domiciliar

4.1 Administração doméstica destinada à unidade domiciliar


4.2 Manutenção e pequenos reparos da unidade domiciliar

245
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

4.3 Gestão do trabalho doméstico destinado aos membros da


unidade domiciliar
4.4 Gestão do trabalho com a água no trabalho doméstico destinado
aos membros da unidade domiciliar
4.5 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho doméstico
destinado aos membros da unidade domiciliar
4.6 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho doméstico
destinado aos membros da unidade domiciliar
4.7 Manejo da água no trabalho doméstico destinado aos membros
da unidade domiciliar
4.8 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico destinado
aos membros da unidade domiciliar
4.9 Manejo da biodiversidade no trabalho doméstico destinado
aos membros da unidade domiciliar

5 Trabalho doméstico destinado aos membros da família que


não residem na unidade domiciliar

5.1 Administração doméstica destinada aos membros da família


que não residem na unidade domiciliar
5.2 Manutenção e pequenos reparos destinados aos membros da
família que não residem na unidade domiciliar
5.3 Gestão do trabalho doméstico destinado aos membros da
família que não residem na unidade domiciliar
5.4 Gestão do trabalho com a água no trabalho doméstico destinado
aos membros da família que não residem na unidade domiciliar
5.5 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho doméstico
destinado aos membros da família que não residem na unidade
domiciliar

246
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

5.6 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho doméstico


destinado aos membros da família que não residem na unidade
domiciliar
5.7 Manejo da água no trabalho doméstico destinado aos membros
da família que não residem na unidade domiciliar
5.8 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico destinado
aos membros da família que não residem na unidade domiciliar
5.9 Manejo da biodiversidade no trabalho doméstico destinado
aos membros da família que não residem na unidade domiciliar

6 Trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da


família e não residem na unidade domiciliar

6.1 Administração doméstica destinada às pessoas que não são da


família e não residem na unidade domiciliar
6.2 Manutenção e pequenos reparos destinados às pessoas que
não são da família e não residem na unidade domiciliar
6.3 Gestão do trabalho doméstico destinado às pessoas que não
são da família e não residem na unidade domiciliar
6.4 Gestão do trabalho com a água no trabalho doméstico
destinado às pessoas que não são da família e não residem na
unidade domiciliar
6.5 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho doméstico
destinado às pessoas que não são da família e não residem na
unidade domiciliar
6.6 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho doméstico
destinado às pessoas que não são da família e não residem na
unidade domiciliar
6.7 Manejo da água no trabalho doméstico destinado às pessoas
que não são da família e não residem na unidade domiciliar

247
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

6.8 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico destinado


às pessoas que não são da família e não residem na unidade
domiciliar
6.9 Manejo da biodiversidade no trabalho doméstico destinado às
pessoas que não são da família e não residem na unidade domiciliar

7 Trabalho de cuidado destinado aos membros da unidade


domiciliar

7.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos membros da


unidade domiciliar
7.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado
destinado aos membros da unidade domiciliar
7.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de cuidado
destinado aos membros da unidade domiciliar
7.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de
cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar
7.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos membros
da unidade domiciliar
7.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado
aos membros da unidade domiciliar
7.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado destinado
aos membros da unidade domiciliar

8 Trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de


estimação dos membros da unidade domiciliar

8.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos animais e às


plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar

248
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

8.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado


destinado aos animais e às plantas de estimação dos membros da
unidade domiciliar
8.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de cuidado
destinado aos animais e às plantas de estimação dos membros da
unidade domiciliar
8.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de cuidado
destinado aos animais e às plantas de estimação dos membros da
unidade domiciliar
8.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos animais
e às plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar
8.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado
aos animais e às plantas de estimação dos membros da unidade
domiciliar
8.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado destinado
aos animais e às plantas de estimação dos membros da unidade
domiciliar

9 Trabalho de cuidado destinado aos membros da família


que não residem na unidade domiciliar

9.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos membros da


família que não residem na unidade domiciliar
9.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado
destinado aos membros da família que não residem na unidade
domiciliar
9.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de
cuidado destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

249
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

9.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de


cuidado destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar
9.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos membros
da família que não residem na unidade domiciliar
9.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado
aos membros da família que não residem na unidade domiciliar
9.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado destinado
aos membros da família que não residem na unidade domiciliar

10 Trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da


família e não residem na unidade domiciliar

10.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado às pessoas que não


são da família e não residem na unidade domiciliar
10.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado
destinado às pessoas que não são da família e não residem na
unidade domiciliar
10.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de
cuidado destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar
10.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de
cuidado destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar
10.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado às pessoas
que não são da família e não residem na unidade domiciliar
10.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado
às pessoas que não são da família e não residem na unidade
domiciliar

250
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

10.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado destinado


às pessoas que não são da família e não residem na unidade
domiciliar

11 Trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas


de estimação de pessoas da família que não residem na
unidade domiciliar

11.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos animais e às


plantas de estimação de pessoas que são da família e não residem
na unidade domiciliar
11.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado
destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas que
são da família e não residem na unidade domiciliar
11.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de
cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação de
pessoas que são da família e não residem na unidade domiciliar
11.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de
cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação de
pessoas que são da família e não residem na unidade domiciliar
11.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos animais
e às plantas de estimação de pessoas que são da família e não
residem na unidade domiciliar
11.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado
aos animais e às plantas de estimação de pessoas que são da família
e não residem na unidade domiciliar
11.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado destinado
aos animais e às plantas de estimação de pessoas que são da família
e não residem na unidade domiciliar

251
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

12 Trabalho voluntário

12.1 Trabalho voluntário de práticas religiosas


12.1.1 Gestão do trabalho voluntário de práticas religiosas
12.1.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho voluntário de
práticas religiosas
12.1.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho
voluntário de práticas religiosas
12.1.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho
voluntário de práticas religiosas
12.1.5 Manejo da água no trabalho voluntário de práticas religiosas
12.1.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho voluntário de
práticas religiosas
12.1.7 Manejo da biodiversidade no trabalho voluntário de práticas
religiosas
12.1.8 Trabalho doméstico realizado no trabalho voluntário de
práticas religiosas
12.1.9 Gestão do trabalho doméstico realizado no trabalho
voluntário de práticas religiosas
12.2 Trabalho voluntário em instituições sociais
12.2.1 Gestão do trabalho voluntário em instituições sociais
12.2.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho voluntário em
instituições sociais
12.2.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho
voluntário em instituições sociais
12.2.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho
voluntário em instituições sociais

252
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

12.2.5 Manejo da água no trabalho voluntário em instituições


sociais
12.2.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho voluntário em
instituições sociais
12.2.7 Manejo da biodiversidade no trabalho voluntário em
instituições sociais
12.2.8 Trabalho doméstico realizado no trabalho voluntário em
instituições sociais
12.2.9 Gestão do trabalho doméstico realizado no trabalho
voluntário em instituições sociais

13 Atividades de aprendizado e educação

13.1 Gestão das atividades de aprendizado e educação


13.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades de aprendizado
e educação
13.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades de
aprendizado e educação
13.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades de
aprendizado e educação
13.5 Manejo da água nas atividades de aprendizado e educação
13.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades de aprendizado e
educação
13.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de aprendizado e
educação
13.8 Trabalho doméstico realizado nas atividades de aprendizado
e educação

253
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

13.9 Gestão do trabalho doméstico realizado nas atividades de


aprendizado e educação

14 Atividades de socialização e comunicação

14.1 Gestão das atividades de socialização e comunicação


14.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades de socialização
e comunicação
14.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades de
socialização e comunicação
14.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades de
socialização e comunicação
14.5 Manejo da água nas atividades de socialização e comunicação
14.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades de socialização e
comunicação
14.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de socialização e
comunicação
14.8 Trabalho doméstico realizado nas atividades de socialização e
comunicação
14.9 Gestão do trabalho doméstico realizado nas atividades de
socialização e comunicação

15 Atividades de lazer

15.1 Gestão das atividades de lazer


15.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades de lazer
15.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades de
lazer

254
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

15.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades de


lazer
15.5 Manejo da água nas atividades de lazer
15.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades de lazer
15.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de lazer

16 Atividades de autocuidado

16.1 Gestão das atividades de autocuidado


16.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades de autocuidado
16.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades de
autocuidado
16.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades de
autocuidado
16.5 Manejo da água nas atividades de autocuidado
16.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades de autocuidado
16.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de autocuidado

17 Atividades destinadas à procura de emprego/trabalho

17.1 Gestão das atividades realizadas para a procura de emprego/


trabalho

18 Atividades destinadas à participação política e/ou acesso


às políticas públicas

18.1 Gestão das atividades destinadas à participação política e/ou


acesso às políticas públicas

255
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

18.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades destinadas à


participação política e/ou acesso às políticas públicas
18.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades
destinadas à participação política e/ou acesso às políticas públicas
18.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades
destinadas à participação política e/ou acesso às políticas públicas
18.5 Manejo da água nas atividades destinadas à participação
política e/ou acesso às políticas públicas
18.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades destinadas à
participação política e/ou acesso às políticas públicas
18.7 Manejo da biodiversidade nas atividades destinadas à
participação política e/ou acesso às políticas públicas
18.8 Trabalho doméstico realizado nas atividades destinadas à
participação política e/ou acesso às políticas públicas
18.9 Gestão do trabalho doméstico realizado nas atividades
destinadas à participação política e/ou acesso às políticas públicas

19 Cuidado com os bens comuns

19.1 Gestão do trabalho de cuidado com os bens comuns

20 Deslocamento

20.1 Deslocamento para realização de trabalho remunerado


destinado ao mercado
20.2 Deslocamento para realização de trabalho não remunerado
destinado ao mercado
20.3 Deslocamento para realização de trabalho destinado ao
autoconsumo familiar

256
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

20.4 Deslocamento para realização de trabalho doméstico


destinado aos membros da unidade domiciliar
20.5 Deslocamento para realização de trabalho doméstico
destinado aos membros da família que não residem na unidade
domiciliar
20.6 Deslocamento para realização de trabalho doméstico para
pessoas que não são da família e não residem na unidade domiciliar
20.7 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos membros da unidade domiciliar
20.8 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos animais e às plantas de estimação dos membros da
unidade domiciliar
20.9 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos membros da família que não residem na unidade
domiciliar
20.10 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado às pessoas que não são da família e não residem na
unidade domiciliar
20.11 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas da
família que não residem na unidade domiciliar
20.12 Deslocamento para realização de trabalho voluntário (de
participação política ou religiosa)
20.13 Deslocamento para realização de atividades de aprendizado
e educação
20.14 Deslocamento para realização de atividades de socialização
e comunicação
20.15 Deslocamento para realização de atividades de lazer
20.16 Deslocamento para realização de atividades de autocuidado
20.17 Deslocamento para a busca de emprego/trabalho

257
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

20.18 Deslocamento para realização de atividades destinadas à


participação política e/ou acesso às políticas públicas
20.19 Deslocamento para cuidado com os bens comuns

DICIONÁRIO – descrição dos itens e subitens da CATMUR

1 Trabalho remunerado destinado ao mercado

Atividade realizada para produzir bens ou serviços para o mercado.


Produção de bens e serviços em troca de remuneração direta em di-
nheiro, produtos, mercadorias ou benefícios (ex.: venda na feira, venda
de porta em porta, venda em casa, trabalho formal e outros trabalhos
informais). As trocas de produtos ou serviços ocorrem frequentemente
entre as mulheres rurais e, ainda que a remuneração financeira não seja
efetivada, ocorre uma atividade econômica que é protagonizada pelas
mulheres, no sentido de elas definirem qual produto e qual quantidade
será trocada. No caso dos serviços domésticos, todos aqueles que são
remunerados serão classificados como trabalho remunerado destinado
ao mercado.

1.1 Gestão do trabalho remunerado destinado ao mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho remunerado


destinado ao mercado demandando de outras pessoas a execução
desse trabalho. Exemplos: mandar alguém levar os produtos agrícolas
para serem comercializados na feira; no caso de uma passadeira, mandar
alguém montar a tábua de passar e ligar o ferro elétrico etc.

1.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho remunerado


destinado ao mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir as atividades relacionadas


ao manejo, à conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao

258
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

armazenamento e à distribuição de água usada no trabalho remunerado


destinado ao mercado, demandando de outras pessoas a execução
do trabalho com a água. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão
do trabalho com água no trabalho remunerado destinado ao mercado:
orientar alguém sobre a quantidade de água que deve ser utilizada
na irrigação da horta voltada para a comercialização; no caso de uma
lavadeira, orientar alguém no reuso da água proveniente da lavagem;
solicitar a alguém a ligação de bomba de distribuição de água para
irrigação de frutíferas que serão comercializadas; solicitar a alguém para
aguar o quintal produtivo etc.

1.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


remunerado destinado ao mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir atividades relacionadas à


coleta, à separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no
trabalho remunerado destinado ao mercado, demandando de outras
pessoas a execução dessas atividades. Coleta, separação, destinação
e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-lo

259
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria


propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou
no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos na gestão
do trabalho com resíduos sólidos no trabalho remunerado destinado
ao mercado: demandar a separação e destinação do lixo orgânico
produzido durante um trabalho voltado ao mercado; no caso de uma
boleira, demandar de alguém a separação das cascas de ovos para
destiná-los a adubo de plantas. Outro exemplo é orientar alguém no
manejo da compostagem utilizada para adubação na horta voltada à
comercialização na feira.

1.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho


remunerado destinado ao mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a biodiversidade


no trabalho remunerado destinado ao mercado, demandando de
outras pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos
vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos
e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes

260
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos


das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade no
trabalho remunerado destinado ao mercado: mandar alguém realizar
poda de árvores frutíferas, da qual os frutos são utilizados para venda;
demandar de alguém o plantio diversificado no quintal produtivo que
será voltado para venda; solicitar de outra pessoa a coleta de frutos,
cascas, sementes e raízes para a sua utilização no beneficiamento
voltado à comercialização.

1.5 Manejo da água no trabalho remunerado destinado ao


mercado

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
no trabalho remunerado destinado ao mercado. Manejo, conservação,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,
coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso
doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);
realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;
fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
no trabalho remunerado para o mercado: utilização da água do poço/

261
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

cisterna/cacimba para irrigação de hortas ou dessedentação de animais


voltados para a comercialização; no caso de lavadeiras, coletar água
para lavagem encomendada das roupas etc.

1.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho remunerado


destinado ao mercado

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho remunerado destinado ao
mercado. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação
por gotejamento). Exemplos de trabalho remunerado destinado ao
mercado: separar e destinar o lixo orgânico produzido durante um
trabalho voltado ao mercado; no caso de uma boleira, separar as cascas
de ovos e destiná-las como adubo de plantas. Outro exemplo é manejar
a compostagem utilizada para adubação na horta voltada à produção
para comercialização na feira.

1.7 Manejo da biodiversidade4 no trabalho remunerado


destinado ao mercado

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


remunerado destinado ao mercado. O manejo da biodiversidade abarca o
4 Partimos da ideia de que as mulheres rurais, dos povos e comunidades tradicionais, têm
uma relação profícua e sustentável com os recursos naturais, sendo seus modos de vida
profundamente integrados e adaptados às dinâmicas da natureza e a seus ecossistemas.
Essa categoria foi estruturada na CATMUR para permitir que se capte o tempo de manejo
da biodiversidade como um todo, sendo possível analisar qualitativamente os tipos de ati-
vidades realizados a fim de diferenciar as diversas contribuições ecológicas e sustentáveis.

262
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo


de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes e animais; práticas de pesca e caça
de animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação
da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle
de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo
inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de manejo da
biodiversidade no trabalho remunerado destinado ao mercado: realizar
poda de árvores frutíferas, da qual os frutos são utilizados para venda;
realizar plantio diversificado, nos quintais produtivos, voltado para
venda; coletar frutos, cascas, sementes e raízes, para a sua utilização no
beneficiamento voltado à comercialização; coletar frutos, flores, cascas,
raízes, ervas, para comercialização in natura.

2 Trabalho não remunerado destinado ao mercado

Atividade realizada para produzir bens ou serviços para o mercado,


sem pagamento ou recompensa financeira direta à pessoa que realizou
o trabalho. Assim, a mulher executa o trabalho, não é remunerada e,
tampouco, participa da gestão do dinheiro arrecadado. Exemplos:
trabalhar na roça com o marido, que decide toda a comercialização do

263
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

produto e a gestão do dinheiro; debulhar feijão para a filha, que não


mora na mesma unidade domiciliar, vender na feira; higienizar garrafas
PET para o filho vender caldo de cana.

2.1 Gestão do trabalho não remunerado destinado ao


mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho não remunerado


destinado ao mercado, demandando de outras pessoas a execução
desse trabalho. Exemplos de gestão do trabalho não remunerado
destinado ao mercado: na situação em que a mulher se compromete em
debulhar o feijão para a filha vender na feira e demanda de uma terceira
pessoa ensacar o feijão. Nesse caso, só quem recebe a remuneração da
venda do produto é a filha. Outro exemplo é a situação em que a mulher
higieniza garrafas PET para o filho vender caldo de cana e solicita que
uma terceira pessoa seque-as.

2.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho não


remunerado destinado ao mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho de manejo,


conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição
da água usada no trabalho não remunerado destinado ao mercado,
demandando de outras pessoas sua execução. Manejo, conservação,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,
coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso
doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);

264
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;


fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplo de gestão do
trabalho com água no trabalho não remunerado destinado ao mercado:
quando a mulher solicita a terceiros a coleta de água para higienização
de garrafas PET utilizadas como recipiente do caldo de cana vendido
pela família de seu filho na feira.

2.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho não


remunerado destinado ao mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir as atividades relacionadas


à coleta, à separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos
no trabalho não remunerado destinado ao mercado, demandando de
outras pessoas sua execução. Coleta, separação, destinação e manejo dos
resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos;
organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/
minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto
de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria propriedade,
reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no pé das
plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais (ex.:
garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de gestão do
trabalho com resíduos sólidos no trabalho não remunerado destinado
ao mercado: quando a mulher solicita a alguém a coleta e a entrega de
garrafas PET para o filho reutilizar como recipiente do caldo de cana que
ele vende na feira; quando manda alguém descartar a vagem do feijão
vendido na feira pela filha.

2.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho não


remunerado destinado ao mercado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade usada no trabalho não remunerado destinado ao

265
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mercado, demandando de outras pessoas a execução do manejo


da biodiversidade. O manejo da biodiversidade abarca o manejo da
variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de
animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da
mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies
invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo
outras espécies e variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a
biodiversidade no trabalho não remunerado destinado ao mercado:
orientar ou dividir as atividades de implantação e/ou enriquecimento
de sistemas agroflorestais, quintais produtivos, práticas de manejo de
hortas e roçados; ou ainda demandar de terceiros a coleta de frutos,
cascas, sementes e raízes que serão comercializados no mercado. No
entanto, nem a mulher que demanda a tarefa, tampouco, a terceira
pessoa envolvida no trabalho são remuneradas.

2.5 Manejo da água no trabalho não remunerado destinado


ao mercado

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água no

266
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

trabalho não remunerado destinado ao mercado. Manejo, conservação,


reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,
coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso
doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);
realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;
fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos: aguar produção
agrícola em hortas e pomares que geram renda para terceiros; abastecer
o bebedouro da criação de animais que geram renda para terceiros;
realizar manejo de áreas de proteção de fontes de água utilizadas para
irrigação de cultivos que geram renda para terceiros; coletar a água para
higienização de garrafas utilizadas pelo filho para vender água de coco
na feira. Nesses casos, a renda gerada não retorna para a mulher em
pagamento do seu trabalho e tempo destinado à atividade.

2.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho não remunerado


destinado ao mercado

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho não remunerado destinado ao
mercado. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em

267
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por


gotejamento). Exemplos de manejo dos resíduos sólidos no trabalho
não remunerado destinado ao mercado: coletar as garrafas PET para
dar ao filho que utiliza como recipiente na venda de caldo de cana;
descartar a vagem do feijão vendido na feira pela filha.

2.7 Manejo da biodiversidade no trabalho não remunerado


destinado ao mercado

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


não remunerado destinado ao mercado. O manejo da biodiversidade
abarca o manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as
origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos;
manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da diversidade
dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos
níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais,
florestais, frutos, cascas, sementes e raízes; ações para desenvolvimento
de animais, de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais;
reprodução e/ou plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas,
agrícolas, medicinais, florestais; seleção e armazenamento de sementes
de plantas; práticas de reflorestamento, replantio, desbaste, poda,
coivara, pousio de sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos
em geral; práticas de reprodução de animais de interesse social,
ambiental, medicinal ou econômico; seleção de sementes e animais;
práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de
zoneamento do território determinando diferentes usos, ou a partir do
conhecimento tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de
produção, conservação da mata, área de pesca, área de uso comum);
práticas de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do
sistema produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos
do manejo da biodiversidade no trabalho não remunerado destinado
ao mercado: realizar atividades de implantação e/ou enriquecimento
de sistemas agroflorestais, quintais produtivos, práticas de manejo de
hortas e roçados; coleta de frutos, cascas, sementes e raízes que serão

268
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

comercializados no mercado, ou que serão beneficiados, por exemplo,


com coleta de sementes para a filha fazer artesanato para vender.
Destaca-se que a mulher não recebe remuneração direta decorrente do
seu trabalho.

3 Trabalho destinado ao autoconsumo familiar

Atividades produtivas primárias e não primárias realizadas para


o autoconsumo familiar, podendo compreender produção de bens e
serviços para uso próprio, sendo o excedente destinado ao mercado.
Consideramos aqui também as atividades produtivas com finalidade de
cuidado familiar, como plantar, colher e regar plantas de uso medicinal
para o autoconsumo familiar.
Atividades primárias para autoconsumo incluem, por exemplo:
coleta de água e lenha para fins produtivos de autoconsumo; cultivo,
manejo e colheita de produtos agrícolas e/ou medicinais; criação e
cuidado de animais e produtos derivados; coleta de outros produtos
silvícolas/silvestres, pesca e caça.
Atividades não primárias para o autoconsumo familiar
incluem, por exemplo: elaboração de artesanatos para o autoconsumo;
beneficiamento de produtos da agricultura familiar (transformar
produtos do sítio em geleia, queijos, polpas, farinha, entre outros);
produção de roupas e artefatos de vestimenta pela própria família
(costurar roupa para a família etc.); produção de artefatos e ferramentas
(móveis para própria família, ferramentas – como peneiras –; construção
de tecnologias sociais de utilização da família; cuias, bebedouros
artesanais para animais, cerca, forquilha para animais etc.).

3.1 Gestão do trabalho destinado ao autoconsumo familiar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho para o


autoconsumo familiar demandando de outras pessoas a sua execução.
Exemplos de gestão do trabalho destinado ao autoconsumo familiar:

269
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

solicitar a alguém a coleta de ervas do quintal produtivo para fazer


remédio natural para a família; demandar a terceiros o plantio de um
cultivo específico para alimentação de um membro da família que gosta
daquele alimento etc.

3.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho destinado ao


autoconsumo familiar

Planejar, orientar ou atribuir o trabalho de manejo, conservação,


reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
usada no trabalho destinado ao autoconsumo familiar, demandando de
outras pessoas sua execução. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com a água no trabalho destinado ao autoconsumo familiar:
solicitar a terceiros a irrigação de canteiros de temperos utilizados
para alimentação da família; demandar a limpeza da calha da cisterna
utilizada para armazenar água de beber e cozinhar; mandar reflorestar
nascente utilizada para o abastecimento da família; solicitar ajuda dos
homens da família para buscar água para construção de uma cisterna
que será utilizada a fim de armazenar água para a família.

270
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

3.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


destinado ao autoconsumo familiar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir as atividades relacionadas à


coleta, à separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos n o
trabalho para o autoconsumo familiar, demandando de outras pessoas
a sua execução. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos
sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar
o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário;
realizar a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo
para reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos: pedir para um terceiro descartar os resíduos
orgânicos decorrentes da preparação do almoço para alimentação das
galinhas, porcos e outros animais destinados ao autoconsumo familiar;
mandar alguém separar e armazenar garrafas plásticas para construção
de banco de sementes familiar.

3.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho


destinado ao autoconsumo familiar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a biodiversidade


no trabalho destinado ao autoconsumo familiar, demandando de
outras pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos
vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos
e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,

271
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de


espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade no
trabalho de autoconsumo familiar: solicitar a terceiros a coleta de frutas
para fazer um suco para o autoconsumo familiar; solicitar a terceiros
a coleta de lenha para utilizar no fogão da unidade familiar; mandar
alguém coletar palha/sisal para fabricar a vassoura que será utilizada nas
tarefas domésticas da unidade domiciliar; mandar alguém coletar ervas
na mata para fazer remédio para membros da família, para animais de
criação ou de estimação.

3.5 Manejo da água no trabalho destinado ao autoconsumo


familiar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
no trabalho destinado ao autoconsumo familiar. Manejo, conservação,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,

272
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso


doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);
realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;
fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água no trabalho destinado ao autoconsumo familiar: fazer irrigação
de canteiros de temperos utilizados para alimentação da família; utilizar
a água para produção em hortas, pomares, criação de animais que
são destinados ao autoconsumo familiar; limpar a calha da cisterna
utilizada para armazenar água de beber e cozinhar; reflorestar área de
nascente utilizada para o abastecimento da família; realizar desinfecção
da água (uso de hipoclorito, ferver água, coar a água) da cacimba para
que a família utilize para beber; trabalhar na construção de alguma
tecnologia de água na unidade familiar que será utilizada pela família
para armazenar/tratar/transportar água etc.

3.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho destinado ao


autoconsumo familiar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho destinado ao autoconsumo
familiar. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação
por gotejamento). Exemplos de manejo de resíduos sólidos no trabalho
destinado ao autoconsumo familiar: descartar os resíduos orgânicos
decorrentes da preparação do almoço para alimentação das galinhas,

273
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

porcos e outros animais destinados ao autoconsumo familiar; separar


e armazenar garrafas plásticas para construção de banco de sementes
familiar; construir alguma tecnologia voltada à gestão dos resíduos
sólidos, como um biodigestor, uma composteira, entre outras tecnologias.

3.7 Manejo da biodiversidade no trabalho destinado ao


autoconsumo familiar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


destinado ao autoconsumo familiar. O manejo da biodiversidade abarca
o manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as origens:
manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de
ecossistemas e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de
espécies, entre espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis,
envolve práticas de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais,
florestais, frutos, cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento
de animais, de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais;
reprodução e/ou plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas,
agrícolas, medicinais, florestais; seleção e armazenamento de sementes
de plantas; práticas de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara,
pousio de sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em
geral; práticas de reprodução de animais de interesse social, ambiental,
medicinal ou econômico; seleção de sementes e animais; práticas de
pesca e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento
do território determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento
tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de produção,
conservação da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas
de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema
produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de manejo
da biodiversidade no trabalho destinado ao autoconsumo familiar:
coletar frutas para fazer um suco para o autoconsumo familiar; coletar
lenha para utilizar no fogão da unidade familiar; coletar palha/sisal para
fabricar a vassoura que será utilizada nas tarefas domésticas da unidade

274
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

domiciliar; coletar recursos naturais para utilização da família, tal como


coletar ervas na mata ou no quintal produtivo para fazer remédio para
membros da família, animais de criação e animais de estimação.

4 Trabalho doméstico destinado aos membros da unidade


domiciliar

Atividade não remunerada voltada para tarefas domésticas


realizadas em casa, para os membros residentes nela. Exemplos: cozinhar
para os residentes da casa; servir a refeição dos membros da casa; lavar
roupa dos residentes da casa; limpar a casa; passar roupa dos residentes
da casa; lavar louça; varrer a casa e o terreiro; organizar objetos etc.

4.1 Administração doméstica destinada à unidade domiciliar

Realização de atividades que não são diárias, porém, implicam na


organização e no bom funcionamento da unidade domiciliar. Exemplos:
realizar pagamento de contas domésticas; levar para consertar aparelhos
domésticos em técnicos especializados; ligar para alguém ir até a casa
para fazer um conserto; fazer listas de compras; fazer compras de
alimentos e produtos de limpeza etc.

4.2 Manutenção e pequenos reparos da unidade domiciliar

Realização de atividades de reparação, instalação, reprogramação e


montagem, por exemplo, de eletrodomésticos, equipamentos elétricos,
hidráulicos, decorativos e da própria estrutura da casa. Dessa forma,
incluem-se atividades como: pintar a parede; arrumar reboco; trocar
fechadura; trocar lâmpada; decorar a casa; montar eletrodoméstico
recém-adquirido; trocar borracha da pia; desentupir pia ou vaso sanitário;

275
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

fazer reparação em sistema elétrico da casa; consertar ou instalar bomba


de água; instalar ou formatar computador e internet, entre outros.

4.3 Gestão do trabalho doméstico destinado aos membros da


unidade domiciliar

Planejar, orientar e distribuir o trabalho doméstico demandando


de outras pessoas as tarefas domésticas para a unidade domiciliar.
Exemplos: mandar um terceiro passar pano na casa ou lavar a louça;
arrumar a cama etc.

4.4 Gestão do trabalho com a água no trabalho doméstico


destinado aos membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água no trabalho doméstico destinado aos
membros da unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a
execução da gestão. Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação,
armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em seus
múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água por
meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente; realizar
mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do

276
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

trabalho com a água no trabalho doméstico destinado aos membros da


unidade domiciliar: pedir a um terceiro para coletar água para passar
pano molhado na casa, para usar na descarga do banheiro, para lavar a
louça etc.; mandar outra pessoa reutilizar a água da lavagem de roupas
na limpeza do piso da varanda ou do quintal.

4.5 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


doméstico destinado aos membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
doméstico destinado aos membros da unidade domiciliar. Coleta,
separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem separar
lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do
sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a destinação
do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem,
queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira,
no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em
tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento).
Exemplos da gestão do trabalho com os resíduos sólidos no trabalho
doméstico: demandar de outra pessoa que queime o lixo decorrente
de uma limpeza na casa; reciclar os resíduos orgânicos decorrentes
da preparação da refeição na composteira; reutilizar embalagens de
produtos utilizados na limpeza doméstica para fazer artesanato ou
vasos de temperos.

4.6 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho


doméstico destinado aos membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho doméstico destinado aos membros da
unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução do

277
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

manejo da biodiversidade. O manejo da biodiversidade abarca o manejo


da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de
animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território,
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação
da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle
de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo
inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de gestão do trabalho
com a biodiversidade no trabalho doméstico destinado aos membros
da unidade domiciliar: mandar alguém coletar palha/sisal para fabricar
a vassoura que será utilizada nas tarefas domésticas destinadas aos
membros da unidade domiciliar; mandar alguém coletar ervas na mata
para colocar no produto de limpeza utilizado para a faxina da casa;
mandar alguém coletar bucha vegetal para usar na limpeza da casa.

4.7 Manejo da água no trabalho doméstico destinado aos


membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
no trabalho doméstico destinado aos membros da unidade domiciliar.

278
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e


distribuição da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo
com sua qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e
cuidado com uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um
riacho; coletar e carregar água; limpar recipientes de armazenamento,
como potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água por meio
do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água diretamente
na produção ou uso doméstico; destinar a água para um sistema de
tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para sistema de
tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água por meio de
bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de captação de
água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção dos objetos/
tecnologias de armazenamento de água, como potes, cisternas e caixas
d’água. Exemplos do manejo da água no trabalho doméstico destinado
aos membros da unidade domiciliar: coletar água para passar pano
molhado na casa, para usar na descarga do banheiro, para lavar a louça;
utilizar água no preparo das refeições; limpar a casa utilizando água;
preparar banho para membros da casa; reutilizar a água da lavagem de
roupas na limpeza do piso da varanda ou do quintal; reutilizar água da
lavagem de louças para aguar bananeiras; realizar a desinfecção da água
destinada à alimentação para se evitar doenças veiculadas pela água
contaminada, por meio de práticas como cloração da cisterna de água
de beber e cozinhar etc.

4.8 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico


destinado aos membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e


ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico destinado
aos membros da unidade domiciliar. Coleta, separação, destinação
e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-lo

279
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria


propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou
no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de manejo
dos resíduos sólidos no trabalho doméstico: queimar o lixo decorrente
de uma limpeza na casa; levar o material reciclável produzido no
ambiente doméstico para ponto de coleta; reciclar os resíduos orgânicos
decorrentes da preparação da refeição na composteira; reutilizar
embalagens de produtos utilizados na limpeza doméstica para fazer
artesanato ou vasos de temperos.

4.9 Manejo da biodiversidade no trabalho doméstico


destinado aos membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


doméstico destinado aos membros da unidade domiciliar. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos
vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos
e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes e animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes
usos das áreas (local de produção, conservação da mata, área de

280
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras;


ações de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies
e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade no trabalho
doméstico destinado aos membros da unidade domiciliar: coletar palha/
sisal para fabricar a vassoura que será utilizada nas tarefas domésticas
destinadas aos membros da unidade domiciliar; coletar ervas na mata
para colocar no produto de limpeza utilizado para a faxina da casa;
coletar bucha vegetal no mato para a utilização na limpeza da casa.

5 Trabalho doméstico destinado aos membros da família que


não residem na unidade domiciliar

Atividade não remunerada voltada para tarefas domésticas


realizadas em casa ou fora de casa para os membros da família que não
residem na casa da mulher. Exemplos: cozinhar para os membros da
família que não residem na casa; lavar roupa dos membros da família
que não residem na casa; limpar a casa dos membros da família que
residem em outra casa; passar roupa dos membros da família que não
residem na casa; lavar louça dos membros da família que residem em
outra casa; coletar lixo, lenha e água para fins domésticos destinados
aos membros da família que residem em outra casa etc.

5.1 Administração doméstica destinada aos membros da


família que não residem na unidade domiciliar

Realização de atividades que implicam na organização e no bom


funcionamento da unidade domiciliar dos parentes. Exemplos: realizar
pagamento de contas domésticas; levar para consertar aparelhos
domésticos em técnicos especializados; ligar para alguém ir até a casa
deles para fazer um conserto; fazer listas de compras; fazer compras de
alimentos e produtos de limpeza etc.

281
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

5.2 Manutenção e pequenos reparos destinados aos


membros da família que não residem na unidade domiciliar

Realização de atividades de reparação, instalação, reprogramação e


montagem, por exemplo, de eletrodomésticos, equipamentos elétricos,
hidráulicos, decorativos e da própria estrutura da casa. Dessa forma,
incluem-se atividades como: pintar a parede; arrumar reboco; trocar
fechadura; trocar lâmpada; decorar a casa; montar eletrodoméstico
recém-adquirido; trocar borracha da pia; desentupir pia ou vaso sanitário;
fazer reparação em sistema elétrico da casa; consertar ou instalar bomba
de água; instalar ou formatar computador e internet, entre outros, na
residência dos parentes.

5.3 Gestão do trabalho doméstico destinado aos membros da


família que não residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar, distribuir o trabalho doméstico demandando


de outras pessoas as tarefas domésticas destinadas aos membros da
família que residem fora da unidade domiciliar. Exemplo: solicitar à filha
que arrume a casa da avó.

5.4 Gestão do trabalho com a água no trabalho doméstico


destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento e
à distribuição da água no trabalho doméstico destinado aos membros da
família que residem fora da unidade domiciliar, demandando de outras
pessoas a execução da gestão. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em

282
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água


por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com a água no trabalho doméstico destinado aos membros da
família que residem fora da unidade domiciliar: pedir a um terceiro para
coletar água para passar pano molhado na casa da(o) familiar, para usar
na descarga do seu banheiro, para lavar a sua louça etc.

5.5 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


doméstico destinado aos membros da família que não
residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
doméstico destinado aos membros da família que residem fora da
unidade domiciliar. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos
sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar
o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário;
realizar a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-
lo para reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo
orgânico na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar
lixo em artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como
irrigação por gotejamento). Exemplos de gestão dos resíduos sólidos
no trabalho doméstico destinado aos membros da família que residem

283
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

fora da unidade domiciliar: demandar de um terceiro a queima do lixo


decorrente de uma limpeza na casa da(o) familiar; pedir a outra pessoa
para levar o material reciclável produzido na casa da(o) familiar para
ponto de coleta etc.

5.6 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho


doméstico destinado aos membros da família que não
residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho doméstico destinado aos membros da família
que não residem na unidade domiciliar, demandando de outras pessoas
a execução do manejo da biodiversidade. O manejo da biodiversidade
abarca o manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as
origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos;
manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da diversidade
dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas. Nesses
diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas agrícolas,
medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes; ações para o
desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais,
florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de espécies nativas ou
exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e armazenamento de
sementes de plantas; práticas de reflorestamento, replantio, desbaste,
poda, coivara, pousio de sistemas florestais, agroflorestais, sistemas
produtivos em geral; práticas de reprodução de animais de interesse
social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção de sementes animais;
práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de
zoneamento do território determinando diferentes usos, ou a partir do
conhecimento tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de
produção, conservação da mata, área de pesca, área de uso comum);
práticas de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do
sistema produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos
de gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho doméstico

284
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

destinado aos membros da família que não residem na unidade


domiciliar: mandar alguém coletar palha/sisal para fabricar a vassoura
que será utilizada nas tarefas domésticas da casa da filha que reside ao
lado; mandar alguém coletar ervas na mata para colocar no produto de
limpeza utilizado para a faxina da casa do filho.

5.7 Manejo da água no trabalho doméstico destinado aos


membros da família que não residem na unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
no trabalho doméstico destinado aos membros da família que residem
fora da unidade domiciliar. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo
da água no trabalho doméstico destinado aos membros da família que
residem fora da unidade domiciliar: coletar água da cisterna ou cacimba
para passar pano molhado na casa da mãe ou para lavar louça na casa
do pai.

285
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

5.8 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico


destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico destinado aos
membros da família que residem fora da unidade domiciliar. Coleta,
separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo
orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio;
fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo,
como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na
própria propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário
ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias
sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos
de manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico destinado aos
membros da família que residem fora da unidade domiciliar: queimar o
lixo decorrente de uma limpeza na casa da(o) familiar; levar o material
reciclável para ponto de coleta, utilizar os resíduos orgânicos gerados na
casa do parente para alimentar os animais etc.

5.9 Manejo da biodiversidade no trabalho doméstico


destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


doméstico destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar. O manejo da biodiversidade abarca o manejo da
variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,

286
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,


de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes e animais; práticas de pesca e caça
de animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da
mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies
invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo outras
espécies e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade no
trabalho doméstico destinado aos membros da família que não residem
na unidade domiciliar: coletar palha/sisal para fabricar a vassoura que
será utilizada nas tarefas domésticas da filha que mora ao lado; coletar
ervas na mata para colocar no produto de limpeza utilizado para a faxina
da casa do filho.

6 Trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da


família e não residem na unidade domiciliar

Atividade não remunerada voltada para tarefas domésticas


realizadas em casa ou fora de casa para pessoas que não são da família
e que não residem na casa da mulher. Exemplo: cozinhar para pessoas
que não são da família e que não residem na casa da mulher; lavar roupa
de pessoas que não são da família e que não residem na casa; limpar a
casa de pessoas que não são da família e que não residem na casa; lavar
louça de pessoas que não são da família e que não residem na casa;
coletar lenha e coletar água para fins domésticos; coletar o lixo; separar
o lixo; queimar o lixo etc. para pessoas que não são da família e que não
residem na casa da mulher.

287
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

6.1 Administração doméstica destinada às pessoas que não


são da família e não residem na unidade domiciliar

Realização de atividades que implicam na organização e no bom


funcionamento da unidade domiciliar de pessoas que não são da
família. Exemplos: realizar pagamento de contas domésticas; levar para
consertar aparelhos domésticos em técnicos especializados; ligar para
alguém ir até a casa da pessoa para fazer um conserto; fazer listas de
compras; fazer compras de alimentos e produtos de limpeza para a
pessoa que reside em outra residência e não é da família etc.

6.2 Manutenção e pequenos reparos destinados às pessoas


que não são da família e não residem na unidade domiciliar

Realização de atividades de reparação, instalação, reprogramação e


montagem, por exemplo, de eletrodomésticos, equipamentos elétricos,
hidráulicos, decorativos e da estrutura da casa da pessoa que não é
da família. Dessa forma, incluem-se atividades como: pintar a parede;
arrumar reboco; trocar fechadura; trocar lâmpada; decorar a casa; montar
eletrodoméstico recém-adquirido; trocar borracha da pia; desentupir pia
ou vaso sanitário; fazer reparação em sistema elétrico da casa; consertar
ou instalar bomba de água; instalar ou formatar computador e internet,
entre outros.

6.3 Gestão do trabalho doméstico destinado às pessoas que


não são da família e não residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir o trabalho doméstico demandando


de outras pessoas as tarefas domésticas destinadas às pessoas que não
são da família e residem fora da unidade domiciliar. Exemplos: solicitar
a terceiros (geralmente membros da sua família) que realizem alguma

288
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

atividade doméstica na casa e, para a pessoa que não é da família, por


exemplo, fazer a refeição, lavar a louça e limpar a casa (sem remuneração).

6.4 Gestão do trabalho com a água no trabalho doméstico


destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água no trabalho doméstico para pessoas que não
são da família e residem fora da unidade domiciliar, demandando de
outras pessoas o manejo da água para tais tarefas. Manejo, conservação,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,
coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso
doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);
realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;
fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com a água no trabalho doméstico para pessoas que não são da
família e residem fora da unidade domiciliar: quando a mulher solicita a
terceiros para coletar água a ser usada por ela na limpeza da casa de um
vizinho que não é da família; quando a mulher manda alguém consertar
a bomba de água para que ela possa lavar roupa da comadre que está
doente e não pode fazer o serviço; quando a mulher manda alguém
pegar água na cacimba para que ela possa realizar a limpeza da casa de
uma pessoa idosa da comunidade que não é da família.

289
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

6.5 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


doméstico destinado às pessoas que não são da família e não
residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
doméstico destinado às pessoas que não são da família e residem fora
da unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução desse
trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação
por gotejamento). Exemplos da gestão do trabalho com resíduos
sólidos no trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da
família e residem fora da unidade domiciliar: quando a mulher manda
um filho participar de um mutirão de limpeza do terreno da casa de
uma vizinha que não é da família, onde o lixo é separado e destinado
aos locais de coleta específicos; quando solicita alguém para levar os
restos de alimentos para os porcos durante o preparo de almoço de
confraternização na casa de um vizinho que não é da família.

6.6 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho


doméstico destinado às pessoas que não são da família e não
residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho doméstico destinado às pessoas que não
são da família e não residem na unidade domiciliar, demandando de
outras pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos

290
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos


e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade no
trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da família e
não residem na unidade domiciliar: mandar alguém coletar palha/sisal
para fabricar a vassoura que será utilizada nas tarefas domésticas da
casa da vizinha; mandar alguém coletar ervas na mata para colocar no
produto de limpeza utilizado para a faxina da casa de uma companheira
do sindicato; pedir para o filho coletar bucha vegetal para utilizar na
limpeza da casa da vizinha.

6.7 Manejo da água no trabalho doméstico destinado às


pessoas que não são da família e não residem na unidade
domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água no
trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da família e residem

291
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

fora da unidade domiciliar. Manejo, conservação, reuso, tratamento,


captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água no trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da família
e residem fora da unidade domiciliar: coletar água na cacimba, cisterna
ou torneira para ser usada por ela na limpeza da casa de um vizinho que
não é da família; consertar a bomba de água para que ela possa lavar as
roupas da comadre que está doente e não pode fazer o serviço; utilizar
água cinza do tanquinho de roupa para realizar a limpeza do chão da
casa de uma pessoa idosa da comunidade que não é da família.

6.8 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico


destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e


ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho doméstico destinado às
pessoas que não são da família e residem fora da unidade domiciliar.
Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem
separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar
lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a
destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para

292
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico


na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de manejo dos resíduos sólidos no trabalho
doméstico destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar: participar de um mutirão de limpeza do terreno
da casa de uma vizinha, onde o lixo é separado e destinado aos locais de
coleta específicos; levar os restos de alimentos para os porcos durante o
preparo de almoço de confraternização na casa de um companheiro da
associação de moradores.

6.9 Manejo da biodiversidade no trabalho doméstico


destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


doméstico destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar. O manejo da biodiversidade abarca o manejo
da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes e animais; práticas de pesca e caça
de animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional

293
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da


mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies
invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo
outras espécies e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade
no trabalho doméstico destinado às pessoas que não são da família e
não residem na unidade domiciliar: coletar palha/sisal para fabricar a
vassoura que será utilizada nas tarefas domésticas da casa da vizinha;
coletar ervas na mata para colocar no produto de limpeza utilizado para
a faxina da companheira do sindicato.

7 Trabalho de cuidado destinado aos membros da unidade


domiciliar

Atividade não remunerada de cuidado com as pessoas da família,


envolvendo tanto pessoas dependentes, impossibilitadas de realizarem
atividades de autocuidado sozinhas (como crianças, idosos, doentes,
pessoas com deficiência etc.), como pessoas independentes, mas
que estão recebendo o cuidado (como o esposo ou a mãe, ou irmã,
por exemplo) e que residem na casa da mulher responsável por essa
atividade. Exemplos: acompanhar o esposo ao médico; dar remédios;
dar banho; arrumar para a escola; levar para o médico; alimentar; fazer a
higiene da pessoa; ajudar na locomoção etc.

7.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos membros


da unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir os trabalhos demandando


de outras pessoas as tarefas de cuidado destinadas aos membros da
família que residem na unidade domiciliar. Exemplos: pedir para alguém
próximo levar o remédio do avô; pedir para a filha mais velha dar banho
no filho mais novo; pedir para o filho acompanhar a avó ao posto de
saúde etc.

294
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

7.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado


destinado aos membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento e à
distribuição da água no trabalho de cuidado destinado aos membros da
unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução da tarefa.
Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e
distribuição da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo
com sua qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e
cuidado com uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um
riacho; coletar e carregar água; limpar recipientes de armazenamento,
como potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água por meio
do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água diretamente
na produção ou uso doméstico; destinar a água para um sistema de
tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para sistema de
tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água por meio de
bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de captação de
água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção dos objetos/
tecnologias de armazenamento de água, como potes, cisternas e caixas
d’água. Exemplos de gestão do trabalho com a água no trabalho de
cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar: pedir para o
filho ir buscar a água que será utilizada no banho do irmão mais novo;
mandar alguém buscar água para a mãe idosa beber; mandar alguém
encher bacia com água da torneira ou cacimba para fazer banho de
ervas em alguém da família que esteja doente; pedir à filha que esquente
água para fazer um chá para alguém da casa que está doente.

7.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de


cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho de
cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar, demandando de

295
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

outras pessoas a execução desse trabalho. Coleta, separação, destinação


e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-
lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria
propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no
pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de gestão
do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado aos
membros da unidade domiciliar: pedir para o filho jogar no lixo a fralda
descartável do bebê da casa; mandar alguém separar os recipientes
vazios de remédios utilizados para tratar doenças das pessoas da família
para serem levados ao local de coleta da prefeitura.

7.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de


cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho de cuidado destinado aos membros da
unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução do
manejo da biodiversidade. O manejo da biodiversidade abarca o manejo
da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou

296
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de


animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação
da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle
de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo
inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de gestão do trabalho
com a biodiversidade no trabalho de cuidado destinado aos membros da
unidade domiciliar: mandar alguém coletar ervas na mata para fazer chá
para o filho que está doente; pedir para alguém extrair a casca de uma
árvore medicinal para fazer tintura para a filha que sofreu um acidente.

7.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos


membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
no trabalho de cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar.
Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e
distribuição da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acor-
do com sua qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e
cuidado com uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um
riacho; coletar e carregar água; limpar recipientes de armazenamento,
como potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água por
meio do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água direta-
mente na produção ou uso doméstico; destinar a água para um sistema
de tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para sistema de
tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água por meio de
bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de captação de
água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção dos objetos/
tecnologias de armazenamento de água, como potes, cisternas e caixas
d’água. Exemplos de manejo da água no trabalho de cuidado destinado
aos membros da unidade domiciliar: desinfecção da água por meio da

297
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

fervura para procedimentos terapêuticos de membros da família; carre-


gar água para fazer banho de ervas em alguém da casa que esteja do-
ente; fazer gelo para tratar alguma lesão de uma pessoa da família etc.

7.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado


destinado aos membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e


ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado
aos membros da unidade domiciliar. Coleta, separação, destinação
e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-
lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria
propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no
pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de manejo
dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado aos membros
da unidade domiciliar: separar os recipientes de remédios utilizados
para tratar doenças das pessoas da família para serem levados ao local
de coleta da prefeitura; descartar as fraldas descartáveis utilizadas pelo
bebê da casa etc.

7.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado


destinado aos membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


de cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos
vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos
e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.

298
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas


agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes e animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade no trabalho de
cuidado destinado aos membros da unidade domiciliar: coletar ervas
na mata para fazer chá para o filho que está doente; coletar ervas para
banho de assento da filha; extrair casca de uma árvore medicinal para
fazer tintura para o marido que sofreu um acidente.

8 Trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de


estimação dos membros da unidade domiciliar

Atividades cotidianas não remuneradas voltadas para o cuidado


com animais e plantas de estimação dos membros da unidade
domiciliar, ou seja, animais e plantas de valor sentimental – no caso
de plantas, incluem espécies ornamentais voltadas para a estética do
espaço. Exemplos de trabalho de cuidado destinado a animais e plantas
de estimação: alimentar o animais de estimação, como cachorros, gatos,
passarinhos, entre outras espécies, com as quais se tenha constituído
vínculo afetivo; limpar o local onde os animais comem, fazem suas
necessidades fisiológicas ou dormem; dar banho nesses animais; levar

299
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

os animais ao pet shop e/ou à(ao) veterinária(o), incluindo tempo de


espera; chamar a(o) veterinária(o) ou qualquer outra pessoa para resolver
um problema específico desses animais; brincar com eles; adestrá-los;
levá-los para passear; regar, realizar práticas de poda e coleta seletiva
para o manejo de flores de valor exclusivamente afetivo e/ou estético na
unidade familiar; mudar as plantas ornamentais de vaso ou recipiente;
adubar flores plantadas para ornamentar o quintal da família; alimentar
passarinhos de determinada espécie exclusivamente para atraí-los para
o convívio e apreciação do canto etc.

8.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos animais e


às plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir os trabalhos demandando de


outras pessoas as tarefas do cuidado destinado aos animais e às plantas
de estimação dos membros da unidade domiciliar. Exemplos: pedir
para terceiros alimentarem os cachorros e gatos, ou outras espécies de
valor afetivo; mandar alguém limpar o local onde eles comem, fazem
suas necessidades fisiológicas ou dormem; pedir para outras pessoas
dar banho nesses animais; mandar a filha molhar o canteiro de flores
ornamentais; realizar coleta seletiva para o bom desenvolvimento de
flores naturais de valor exclusivamente afetivo e/ou estético etc.

8.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado


destinado aos animais e às plantas de estimação dos
membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento e
à distribuição da água no trabalho de cuidado destinado aos animais e às
plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar, demandando
de outras pessoas a execução da tarefa. Manejo, conservação, reuso,

300
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água incluem


utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar
a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com água no trabalho de cuidado destinado aos animais e às
plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar: quando a
mulher solicita a alguém que pegue água para a limpeza do local onde
o cachorro de estimação da família fez suas necessidades fisiológicas;
quando ela solicita a alguém que pegue água da cacimba para dar
banho no animal ou para o animal beber; quando a mulher manda a
filha molhar as plantas ornamentais etc.

8.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de


cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação dos
membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho de
cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação dos membros
da unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução desse
trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para

301
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico


na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de gestão do trabalho com os resíduos sólidos
no trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação
dos membros da unidade domiciliar: solicitar a alguém que recolha e
descarte as fezes do animal; demandar que outra pessoa coloque na
composteira as folhas secas oriundas da poda das plantas ornamentais
do quintal.

8.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de


cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação dos
membros da unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho de cuidado destinado aos animais e às
plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar, demandando
de outras pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos
vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos
e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes

302
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos


das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade no
trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação
dos membros da unidade domiciliar: mandar alguém coletar ervas na
mata para medicar o cachorro da família; demandar que outra pessoa
recolha folhas e galhos secos do sistema agroflorestal da propriedade
para serem utilizados como matéria orgânica para as plantas ornamentais
do quintal.

8.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos


animais e às plantas de estimação dos membros da unidade
domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água no
trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação dos
membros da unidade domiciliar. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo

303
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

da água no trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas


de estimação dos membros da unidade domiciliar: coletar água para
limpar caixas de areia utilizadas pelos gatos de estimação de membros
residentes na unidade familiar; pegar água para a limpeza do local onde
o cachorro de estimação faz suas necessidades fisiológicas; utilizar
água da cacimba para dar banho no animal de estimação; repor água
do bebedouro do animal de estimação da família; molhar as plantas
ornamentais do quintal da unidade familiar etc.

8.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado


destinado aos animais e às plantas de estimação dos
membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado aos
animais e às plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar.
Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem
separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar
lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a
destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de manejo dos resíduos sólidos no trabalho de
cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação dos membros
da unidade domiciliar: recolher e descartar as fezes do animal de
estimação; podar as folhas secas das plantas ornamentais e colocar na
composteira.

304
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

8.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado


destinado aos animais e às plantas de estimação dos
membros da unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho de


cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação dos membros
da unidade domiciliar. O manejo da biodiversidade abarca o manejo
da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal
ou econômico; seleção de sementes e animais; práticas de pesca
e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do
território determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento
tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de produção,
conservação da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas
de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema
produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de manejo
da biodiversidade no trabalho de cuidado destinado aos animais e às
plantas de estimação dos membros da unidade domiciliar: coletar ervas
na mata para medicar o cachorro da família; recolher folhas e galhos
secos do sistema agroflorestal da propriedade para serem utilizados
como matéria orgânica para as plantas ornamentais do quintal.

305
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

9 Trabalho de cuidado destinado aos membros da família


que não residem na unidade domiciliar

Atividade não remunerada de cuidado com as pessoas da família,


envolvendo tanto pessoas dependentes, impossibilitadas de realizarem
atividades de autocuidado sozinhas (como crianças, idosos, doentes,
pessoas com deficiência etc.), como pessoas independentes, que estão
recebendo o cuidado (como o esposo ou a mãe, ou irmã, por exemplo)
e que residem fora da casa da mulher responsável por essa atividade.
Exemplos: acompanhar o irmão, que mora em outra casa, ao médico;
dar remédios; dar banho; arrumar para escola; alimentar; fazer a higiene
da pessoa; ajudar na locomoção etc.

9.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos membros


da família que não residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir os trabalhos demandando


de outras pessoas as tarefas do cuidado para os membros da família
que residem fora da unidade domiciliar. Exemplos: pedir para alguém
próximo levar o remédio do avô que mora em outra casa; pedir para a
filha mais velha dar banho no sobrinho que mora em outra residência
etc.

9.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado


destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento e à
distribuição da água no trabalho de cuidado destinado aos membros da
família que residem fora da unidade domiciliar, demandando de outras

306
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

pessoas a execução da tarefa. Manejo, conservação, reuso, tratamento,


captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com a água no trabalho de cuidado destinado aos membros
da família que residem fora da unidade domiciliar: pedir para o filho
ir buscar a água que será utilizada no banho do sobrinho que mora
em outra residência; mandar alguém buscar água para a mãe idosa,
que mora em outra residência, para que ela beba; mandar um membro
da família encher a bacia com água da torneira ou cacimba para fazer
banho de ervas para alguém da família que mora na casa vizinha e que
está doente; pedir para a filha esquentar água para fazer um chá para
alguém da família que mora em outra residência.

9.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de


cuidado destinado aos membros da família que não residem
na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
de cuidado destinado aos membros da família que residem fora da
unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução desse
trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos

307
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;


coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de gestão do trabalho com resíduos sólidos no
trabalho de cuidado destinado aos membros da família que residem
fora da unidade domiciliar: pedir para alguém levar ao local de queima
de lixo as fraldas descartáveis do neto que mora em outra residência;
mandar alguém separar os recipientes vazios de remédios utilizados
para tratar doença da filha que mora em outra residência, para serem
levados ao local de coleta da prefeitura.

9.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de


cuidado destinado aos membros da família que não residem
na unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho de cuidado destinado aos membros da família
que não residem na unidade domiciliar, demandando de outras pessoas
a execução do manejo da biodiversidade. O manejo da biodiversidade
abarca o manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as
origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos;
manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da diversidade
dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas. Nesses
diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas agrícolas,
medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes; ações para o
desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais,
florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de espécies nativas ou
exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e armazenamento de
sementes de plantas; práticas de reflorestamento, replantio, desbaste,
poda, coivara, pousio de sistemas florestais, agroflorestais, sistemas

308
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

produtivos em geral; práticas de reprodução de animais de interesse


social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção de sementes animais;
práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de
zoneamento do território determinando diferentes usos, ou a partir do
conhecimento tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de
produção, conservação da mata, área de pesca, área de uso comum);
práticas de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do
sistema produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos
de gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de cuidado
destinado aos membros da família que não residem na unidade
domiciliar: mandar alguém coletar ervas na mata para fazer chá para
o filho que está doente e mora na cidade; pedir para alguém extrair a
casca de uma árvore medicinal para fazer tintura para a filha que sofreu
um acidente e mora em outra cidade.

9.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos


membros da família que não residem na unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água no
trabalho de cuidado destinado aos membros da família que residem
fora da unidade domiciliar. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da

309
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento


de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água no trabalho de cuidado destinado aos membros da família que
residem fora da unidade domiciliar: buscar água na cisterna para utilizar
no banho do sobrinho que mora em outra residência; levar água de
beber para a casa da mãe idosa; encher a bacia com água da torneira ou
cacimba para fazer banho de ervas para alguém da família que mora na
casa vizinha e que está doente; esquentar água para fazer um chá para
alguém da família que mora em outra residência.

9.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado


destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado aos
membros da família que residem fora da unidade domiciliar. Coleta,
separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem separar
lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do
sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a destinação
do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem,
queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira,
no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em
tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento).
Exemplos de manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado
destinado aos membros da família que residem fora da unidade
domiciliar: levar ao local de queima de lixo as fraldas descartáveis
do neto que mora em outra residência; separar os recipientes vazios
de remédio utilizados para tratar doença da filha que mora em outra
residência, para serem levados ao local de coleta da prefeitura.

310
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

9.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado


destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


de cuidado destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar. O manejo da biodiversidade abarca o manejo da
variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes e animais; práticas de pesca e caça
de animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da
mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies
invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo
outras espécies e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade
no trabalho de cuidado destinado aos membros da família que não
residem na unidade domiciliar: coletar ervas na mata para fazer chá para
o filho que está doente e mora na cidade; extrair a casca de uma árvore
medicinal para fazer tintura para a filha que sofreu um acidente e mora
em outra cidade; selecionar ervas para fazer lambedor e levá-las para a
comadre.

311
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

10 Trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da


família e não residem na unidade domiciliar

Atividade não remunerada de cuidado com as pessoas que não


são da família, porém fazem parte de um círculo afetivo próximo e
permanente, envolvendo tanto pessoas dependentes, impossibilitadas
de realizarem atividades de autocuidado sozinhas (como crianças, idosos,
doentes, pessoas com deficiência etc.), como pessoas independentes,
que estão recebendo o cuidado (como uma amiga ou a mãe de uma
amiga, por exemplo) e que residem fora da unidade domiciliar da mulher
responsável por tal tarefa. Exemplos: dar remédios; dar banho; arrumar
para a escola; acompanhar ao médico; alimentar; fazer a higiene da
pessoa; ajudar na locomoção; ir até a casa da pessoa para dar atenção/
conversar (como atividade terapêutica e não um lazer) etc. As atividades
podem ser realizadas na casa da mulher ou na residência da pessoa que
necessita e/ou está recebendo os cuidados.

10.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado às pessoas que


não são da família e não residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir os trabalhos demandando


de outras pessoas as tarefas do cuidado destinadas às pessoas que
não são da família e residem fora da unidade domiciliar. Exemplos:
Solicitar a alguém a realização das seguintes funções: dar remédios; dar
banho; arrumar para a escola; levar para o médico; alimentar a pessoa
cuidada; fazer a higiene da pessoa que necessita de cuidados; ajudar na
locomoção etc.

312
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

10.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado


destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento e
à distribuição da água no trabalho de cuidado destinado às pessoas que
não são da família e residem fora da unidade domiciliar, demandando
de outras pessoas a execução da tarefa. Manejo, conservação, reuso,
tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água incluem
utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar
a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com a água no trabalho de cuidado destinado às pessoas que
não são da família e residem fora da unidade domiciliar: pedir para o
filho ir buscar a água que será utilizada no banho do bebê da vizinha que
não é da família e que mora em outra residência; mandar alguém buscar
água de beber para a vizinha idosa que não é da família; mandar um
membro da família encher bacia com água da torneira ou cacimba para
fazer banho de ervas para a vizinha que está doente e não é da família;
pedir para a filha esquentar água para fazer um chá para o amigo que
mora em outra residência e não é da família etc.

313
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

10.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de


cuidado destinado às pessoas que não são da família e não
residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
de cuidado destinado às pessoas que não são da família e residem fora
da unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução desse
trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de gestão do trabalho com resíduos sólidos
no trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da família
e residem fora da unidade domiciliar: pedir para alguém levar ao local
de queima de lixo as fraldas descartáveis do bebê da vizinha que não
é da família; mandar alguém separar os recipientes vazios de remédios
utilizados para tratar doença do amigo que não é da família, para serem
levados ao local de coleta da prefeitura etc.

10.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho de


cuidado destinado às pessoas que não são da família e não
residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a
biodiversidade no trabalho de cuidado destinado às pessoas que não
são da família e não residem na unidade domiciliar, demandando de
outras pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos

314
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos


e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade no
trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da família e não
residem na unidade domiciliar: mandar alguém coletar ervas na mata
para fazer chá para a vizinha; pedir para alguém extrair a casca de uma
árvore medicinal para fazer tintura para alguém da comunidade etc.

10.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado às


pessoas que não são da família e não residem na unidade
domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água no
trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da família e residem
fora da unidade domiciliar. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em

315
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água


por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo
da água no trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da
família e residem fora da unidade domiciliar: buscar água na cisterna
para utilizar no banho de criança que mora em outra residência e que
não é da família; levar água de beber para a casa da vizinha que não é da
família; encher bacia com água da torneira ou cacimba para fazer banho
de ervas para vizinho que está doente e não é da família; esquentar água
para fazer um chá medicinal para o amigo que mora em outra residência
e não é da família etc.

10.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado


destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado às
pessoas que não são da família e residem fora da unidade domiciliar.
Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem
separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo
do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a destinação
do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem,
queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira,

316
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em


tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento).
Exemplos de manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado
destinado às pessoas que não são da família e residem fora da unidade
domiciliar: levar ao local de queima de lixo as fraldas descartáveis do
bebê da vizinha que não é da família; separar os recipientes vazios de
remédio utilizados para tratar doença da amiga que mora em outra
residência e não é da família, para serem levados ao local de coleta da
prefeitura etc.

10.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado


destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


de cuidado destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar. O manejo da biodiversidade abarca o manejo
da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes e animais; práticas de pesca e caça
de animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da

317
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies


invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo outras
espécies e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade no
trabalho de cuidado destinado às pessoas que não são da família e não
residem na unidade domiciliar: coletar ervas na mata para fazer chá para
a vizinha que está doente; extrair a casca de uma árvore medicinal para
fazer tintura para alguém da comunidade; selecionar ervas para fazer
lambedor para a companheira do grupo produtivo etc.

11 Trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas


de estimação de pessoas que são da família e não residem na
unidade domiciliar

Atividades cotidianas não remuneradas voltadas para o cuidado


com animais e plantas de estimação de pessoas que não são da família
e residem fora da unidade domiciliar. Exemplos: alimentar os animais de
estimação de vizinhos que não são da família; limpar o local onde esses
animais se alimentam, fazem suas necessidades fisiológicas ou dormem;
dar banho nesses animais; levar esses animais ao pet shop ou à(ao)
veterinária(o), incluindo tempo de espera; chamar a(o) veterinária(o) ou
qualquer outra pessoa para resolver um problema específico do animal;
brincar com o animal do amigo; adestrá-lo; levá-lo para passear etc.

11.1 Gestão do trabalho de cuidado destinado aos animais e


às plantas de estimação de pessoas que são da família e não
residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir os trabalhos demandando


de outras pessoas as tarefas do cuidado destinado aos animais e às
plantas de estimação de pessoas da família que não residem na unidade
domiciliar. Exemplos: pedir para terceiros que alimentem os animais
de estimação da filha que reside em outra casa; solicitar que limpem

318
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

o local onde os animais de estimação de sua filha comem, fazem suas


necessidades fisiológicas ou dormem; mandar dar banho nos animais de
estimação da filha que mora em outro local; solicitar que um terceiro leve
ao pet shop ou à(ao) veterinária(o), incluindo tempo de espera; pedir que
um terceiro chame a(o) veterinária(o) ou qualquer outra pessoa para
resolver um problema específico do animal de estimação de um parente
que não reside na unidade domiciliar etc.

11.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho de cuidado


destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento e
à distribuição da água no trabalho de cuidado destinado aos animais e
às plantas de estimação de pessoas que são da família e não residem na
unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução da tarefa.
Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e
distribuição da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo
com sua qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e
cuidado com uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um
riacho; coletar e carregar água; limpar recipientes de armazenamento,
como potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água por meio
do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água diretamente
na produção ou uso doméstico; destinar a água para um sistema de
tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para sistema de
tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água por meio de
bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de captação de
água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção dos objetos/
tecnologias de armazenamento de água, como potes, cisternas e caixas
d’água. Exemplos de gestão do trabalho com a água no trabalho de
cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar: solicitar que

319
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

alguém pegue água para a limpeza do local de dormida do cachorro


de estimação da sua filha que mora em outra casa; solicitar que alguém
dê banho no cachorro do irmão que mora em outra casa; pedir a um
terceiro para coletar água para molhar as plantas ornamentais da nora
que reside em outra unidade familiar etc.

11.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação
de pessoas que são da família e não residem na unidade
domiciliar

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar, demandando de
outras pessoas a execução desse trabalho. Coleta, separação, destinação
e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-
lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria
propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no
pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de gestão
do trabalho com resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado aos
animais e às plantas de estimação de pessoas que são da família e não
residem na unidade domiciliar: solicitar que alguém recolha e descarte as
fezes do animal de estimação da filha que mora em outro local; mandar
outra pessoa descartar os restos de poda das plantas ornamentais do
quintal da irmã na composteira etc.

320
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

11.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho


de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação
de pessoas que são da família e não residem na unidade
domiciliar

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho de cuidado destinado aos animais e às
plantas de estimação de pessoas que são da família e não residem
na unidade domiciliar, demandando de outras pessoas a execução do
manejo da biodiversidade. O manejo da biodiversidade abarca o manejo
da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de
animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação
da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle
de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo
inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de gestão do trabalho
com a biodiversidade no trabalho de cuidado destinado aos animais e
às plantas de estimação de pessoas que são da família e não residem
na unidade domiciliar: mandar alguém coletar ervas na mata para
medicar o cachorro da filha que mora na casa ao lado; demandar que

321
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

outra pessoa recolha folhas e galhos secos do sistema agroflorestal


da propriedade, para serem utilizados como matéria orgânica para as
plantas ornamentais do quintal da filha.

11.5 Manejo da água no trabalho de cuidado destinado aos


animais e às plantas de estimação de pessoas que são da
família e não residem na unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água no
trabalho de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação
de pessoas que são da família e não residem na unidade domiciliar.
Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e
distribuição da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo
com sua qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e
cuidado com uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um
riacho; coletar e carregar água; limpar recipientes de armazenamento,
como potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água
por meio do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água
diretamente na produção ou uso doméstico; destinar a água para um
sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para
sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água
por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de
captação de água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção
dos objetos/tecnologias de armazenamento de água, como potes,
cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da água no trabalho de
cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar: coletar água
para limpar caixas de areia utilizadas pelos gatos de estimação da filha
que mora em outra residência; pegar água para a limpeza do local onde
o cachorro de estimação do neto, que mora em outro local, faz suas
necessidades fisiológicas; utilizar água da cacimba para dar banho no
animal de estimação do irmão que mora em outra residência; repor

322
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

água do bebedouro do animal de estimação na casa do filho; molhar as


plantas ornamentais do quintal da irmã etc.

11.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado


destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado aos
animais e às plantas de estimação de pessoas que são da família e
não residem na unidade domiciliar. Coleta, separação, destinação
e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-
lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria
propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no
pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de manejo
dos resíduos sólidos no trabalho de cuidado destinado aos animais e às
plantas de estimação de pessoas que são da família e não residem na
unidade domiciliar: recolher e descartar as fezes do animal de estimação
da irmã na casa da família dela; podar as folhas secas das plantas
ornamentais no quintal da filha.

11.7 Manejo da biodiversidade no trabalho de cuidado


destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


de cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar. O manejo da
biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos vivos

323
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e


aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes e animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade no trabalho de
cuidado destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que são da família e não residem na unidade domiciliar: coletar ervas
na mata para medicar o cachorro da filha que mora na cidade; recolher
folhas e galhos secos do sistema agroflorestal da propriedade para
serem utilizados como matéria orgânica para as plantas ornamentais do
quintal da irmã.

12 Trabalho voluntário

Atividade voluntária realizada a partir da doação do tempo de


trabalho para outros. É baseada na vontade própria da mulher em
realizar a atividade. Pode ser formal (trainee não pago, estagiária não
remunerada, voluntária de ONG, voluntária independente) ou informal.
Tem caráter de solidariedade e escolha das mulheres em doar o tempo por

324
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

diferentes motivações subjetivas, tais como: reconhecimento social, fé,


ideologia, altruísmo, militância, educação, sentimento de pertencimento
etc. Pode ser realizada em espaços privados e públicos, instituições,
organizações, espaços coletivos, como igreja, associação, ONG, casa de
repouso de idosas(os), presídio etc. Contempla atividades de diversas
finalidades e muitas vezes necessárias para o desenvolvimento pessoal,
desenvolvimento produtivo, desenvolvimento comunitário, construção
de redes de integração e coesão social, envolvendo objetivos como:
atividades de limpeza; organização de ambientes; prestação de serviços
voluntários a uma escola ou hospital; orientação de manejo; técnicas
produtivas; usos de plantas medicinais etc.

12.1 Trabalho voluntário de práticas religiosas

Atividade não remunerada direcionada para a realização de


atividades de cunho religioso, espiritual, desenvolvidas para qualquer
entidade religiosa. As atividades compreendem desde benzer alguém,
em sua condição social de benzedeira, rezadeira etc., participar de
celebrações, até assumir responsabilidades em atividades religiosas,
como: organizar celebrações e festas comunitárias religiosas, assumir na
instituição religiosa cargos de tesouraria, secretaria, conselho, sacristia
etc.

12.1.1 Gestão do trabalho voluntário de práticas religiosas

Planejar, orientar, distribuir os trabalhos voluntários de práticas


religiosas demandando de outras pessoas a execução das tarefas.
Exemplos: pedir a terceiros que façam a cobrança das rifas vendidas
para a realização da festa da igreja; pedir para terceiros que façam o
planejamento das famílias que receberão a cerimônia de reza do terço
em suas residências etc.

325
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

12.1.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho voluntário


de práticas religiosas

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água no trabalho voluntário de práticas religiosas,
demandando de outras pessoas a execução da tarefa. Manejo,
conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição
da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua
qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com
uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar
e carregar água; limpar recipientes de armazenamento, como potes,
caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de
cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção
ou uso doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e
reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.:
fossa séptica); realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas
ou manuais; fazer limpeza de sistemas de captação de água, como
calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias
de armazenamento de água, como potes, cisternas e caixas d’água.
Exemplos de gestão do trabalho com a água no trabalho voluntário de
práticas religiosas: solicitar que coletem água para rituais/celebrações
sagrados, como um batizado; mandar limpar riacho ou fonte de água
sagrada, de valor espiritual e/ou religioso, para a comunidade.

12.1.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


voluntário de práticas religiosas

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
voluntário de práticas religiosas, demandando de outras pessoas a
execução desse trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos
resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos;

326
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/


minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto
de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria propriedade,
reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no pé das
plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais (ex.:
garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de gestão
do trabalho com resíduos sólidos no trabalho voluntário de práticas
religiosas: solicitar que as crianças da comunidade ajudem na coleta dos
resíduos sólidos gerados na festa religiosa; mandar terceiros separarem
garrafas PET produzidas no encontro religioso para levá-las ao ponto de
coleta da prefeitura.
12.1.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho
voluntário de práticas religiosas

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho voluntário de práticas religiosas, demandando
de outras pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos
vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos
e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e manejo da
diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos

327
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,


área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade no
trabalho voluntário de práticas religiosas: solicitar que outras pessoas
coletem ervas para ritual sagrado na mata; mandar terceiros plantarem
espécies vegetais de importância sagrada e religiosa na unidade familiar
e/ou área comunitária; pedir às pessoas de outras comunidades que
tragam sementes ou raízes utilizadas em rituais e celebrações religiosas.

12.1.5 Manejo da água no trabalho voluntário de práticas


religiosas

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
no trabalho voluntário de práticas religiosas. Manejo, conservação,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,
coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso
doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);
realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;
fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água no trabalho voluntário de práticas religiosas: coletar e armazenar
água para ritual sagrado; limpar riacho ou fonte de água sagrados, de
valor espiritual e/ou religioso, para a comunidade.

328
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

12.1.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho voluntário de


práticas religiosas

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e


ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho voluntário de práticas
religiosas. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de manejo dos resíduos sólidos no trabalho
voluntário de práticas religiosas: coletar os resíduos sólidos gerados na
festa religiosa; separar garrafas PET produzidas no encontro religioso
para levá-las ao ponto de coleta da prefeitura.

12.1.7 Manejo da biodiversidade no trabalho voluntário de


práticas religiosas

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


voluntário de práticas religiosas. O manejo da biodiversidade abarca o
manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo
de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas
e agroecossistemas; e manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou

329
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de


animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da
mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies
invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo
outras espécies e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade
no trabalho voluntário de práticas religiosas: coletar ervas para ritual
sagrado na mata; plantar espécies vegetais de importância sagrada e
religiosa na unidade familiar e/ou área comunitária; coletar e armazenar
sementes ou raízes utilizadas em rituais e celebrações religiosas.

12.1.8 Trabalho doméstico realizado no trabalho voluntário


de práticas religiosas

Atividades não remuneradas de serviços domésticos direcionadas


para a participação em atividades desenvolvidas para qualquer
entidade religiosa. As atividades compreendem tarefas domésticas
realizadas em espaços que envolvem a participação em celebrações
até a responsabilidade em atividades de liderança, na organização de
celebrações e festas religiosas, nos cargos de tesouraria, secretaria,
conselho, sacristia etc. Exemplos: cozinhar o jantar para servir depois
da celebração religiosa; servir a refeição; lavar toalhas utilizadas em
celebrações religiosas; limpar os espaços utilizados para práticas
religiosas; varrer o espaço onde acontecem as celebrações; organizar
objetos para a celebração religiosa etc.

12.1.9 Gestão do trabalho doméstico realizado no trabalho


voluntário de práticas religiosas

Planejar, orientar, distribuir o trabalho doméstico demandando


de outras pessoas as tarefas domésticas direcionadas para práticas
religiosas. Exemplos: mandar um terceiro cozinhar o almoço que será

330
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

servido após a missa comemorativa (de propósito coletivo, por exemplo:


missa em homenagem ao padroeiro do sítio); pedir para alguém servir
refeição; pedir para um terceiro limpar os espaços onde acontecem as
celebrações religiosas (ex.: Igreja, quadra, terreiro); solicitar a um terceiro
que faça a ornamentação/decoração do espaço onde acontecerá a
prática religiosa etc.

12.2 Trabalho voluntário em instituições sociais

Atividade não remunerada direcionada para a realização de


atividades de cunho social, com caráter de solidariedade, desenvolvidas
para qualquer instituição social, espaços privados e públicos, instituições,
organizações, espaços coletivos, como associação, ONG, casa de repouso
de idosas(os), presídio etc. Pode ser formal (trainee não pago, estagiária
não remunerada, voluntária de ONG, voluntária independente) ou
informal. Exemplos: atividades de limpeza, organização de ambientes,
prestação de serviços voluntários a uma escola ou hospital; orientação
de manejo, técnicas produtivas, usos de plantas medicinais etc.

12.2.1 Gestão do trabalho voluntário em instituições sociais

Planejar, orientar, distribuir os trabalhos voluntários em instituições


sociais demandando de outras pessoas a execução das tarefas.
Exemplos: pedir a terceiros que façam a cobrança das rifas vendidas
para a viagem de capacitação das mulheres rurais do município; pedir
para terceiros que façam o planejamento das famílias que irão construir
fogões agroecológicos etc.

12.2.2 Gestão do trabalho com a água no trabalho voluntário


em instituições sociais

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento

331
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

e à distribuição da água no trabalho voluntário em instituições


sociais, demandando de outras pessoas a execução da tarefa. Manejo,
conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição
da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua
qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado
com uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho;
coletar e carregar água; limpar recipientes de armazenamento, como
potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água por meio
do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água diretamente
na produção ou uso doméstico; destinar a água para um sistema de
tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para sistema de
tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água por meio de
bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de captação de
água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção dos objetos/
tecnologias de armazenamento de água, como potes, cisternas e
caixas d’água. Exemplos de gestão do trabalho com a água no trabalho
voluntário em instituições sociais: solicitar que coletem água para cursos
de capacitação; mandar limpar riacho ou fonte de água e/ou nascentes
em um projeto de reflorestamento de nascentes de uma ONG etc.

12.2.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos no trabalho


voluntário em instituições sociais

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos no trabalho
voluntário em instituições sociais, demandando de outras pessoas a
execução desse trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos
resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos;
organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/
minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto
de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria propriedade,
reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no pé das plantas,
reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET

332
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

como irrigação por gotejamento). Exemplos de gestão do trabalho com


resíduos sólidos no trabalho voluntário em instituições sociais: solicitar
que as crianças da comunidade ajudem na coleta dos resíduos sólidos
gerados em curso de capacitação; mandar terceiros separarem garrafas
PET produzidas no encontro de mulheres rurais para levá-las ao ponto
de coleta da prefeitura etc.

12.2.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade no trabalho


voluntário em instituições sociais

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a biodiversidade


no trabalho voluntário em instituições sociais, demandando de outras
pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo da
biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos vivos
de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e
aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e/ou manejo
da diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o bom desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade no

333
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

trabalho voluntário em instituições sociais: solicitar que outras pessoas


coletem ervas para curso de capacitação em plantas medicinais; mandar
terceiros plantarem espécies vegetais de importância medicinal na
unidade familiar e/ou área comunitária; pedir às pessoas de outras
comunidades que tragam sementes crioulas para serem trocadas em
encontro realizado por uma ONG.

12.2.5 Manejo da água no trabalho voluntário em


instituições sociais

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
no trabalho voluntário em instituições sociais. Manejo, conservação,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,
coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso
doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);
realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;
fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água no trabalho voluntário em instituições sociais: coletar água para
cursos de capacitação realizados por uma ONG; limpar riacho ou fonte
de água e/ou nascentes em um projeto de reflorestamento de nascentes
de uma ONG.

334
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

12.2.6 Manejo dos resíduos sólidos no trabalho voluntário


em instituições sociais

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos no trabalho voluntário em instituições
sociais. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de manejo dos resíduos sólidos no trabalho
voluntário em instituições sociais: coletar os resíduos sólidos gerados
em curso de capacitação; separar garrafas PET produzidas no encontro
das mulheres rurais realizado por uma ONG para levá-las ao ponto de
coleta da prefeitura.

12.2.7 Manejo da biodiversidade no trabalho voluntário em


instituições sociais

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade no trabalho


voluntário em instituições sociais. O manejo da biodiversidade abarca
o manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as origens:
manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de
ecossistemas e agroecossistemas; e/ou manejo da diversidade dentro
de espécies, entre espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis,
envolve práticas de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais,
florestais, frutos, cascas, sementes e raízes; ações para o bom
desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais,
florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de espécies nativas ou
exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e armazenamento de
sementes de plantas; práticas de reflorestamento, replantio, desbaste,

335
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

poda, coivara, pousio de sistemas florestais, agroflorestais, sistemas


produtivos em geral; práticas de reprodução de animais de interesse
social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção de sementes animais;
práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de
zoneamento do território determinando diferentes usos, ou a partir do
conhecimento tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de
produção, conservação da mata, área de pesca, área de uso comum);
práticas de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do
sistema produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de
manejo da biodiversidade no trabalho voluntário em instituições sociais:
coletar ervas para curso de capacitação em plantas medicinais na mata;
plantar espécies vegetais de importância medicinal na unidade familiar
e/ou área comunitária em oficina realizada por uma ONG; coletar e
armazenar sementes crioulas para serem trocadas em evento realizado
pela ONG.

12.2.8 Trabalho doméstico realizado no trabalho voluntário


em instituições sociais

Atividades não remuneradas de serviços domésticos direcionadas


à participação em atividades desenvolvidas para a instituição social.
As atividades compreendem tarefas domésticas realizadas em espaços
que envolvem a participação e/ou responsabilidade em atividades de
liderança. Exemplos: cozinhar o jantar para servir depois do encontro
de mulheres rurais realizado pela ONG; servir a refeição; lavar toalhas
utilizadas em cursos e capacitações; limpar os espaços utilizados para
as reuniões etc.

12.2.9 Gestão do trabalho doméstico realizado no trabalho


voluntário em instituições sociais

Planejar, orientar, distribuir o trabalho doméstico demandando de


outras pessoas as tarefas domésticas realizadas em/para instituições

336
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

sociais. Exemplos: mandar um terceiro cozinhar o almoço que será


servido após encontro de mulheres rurais promovido por uma ONG;
pedir para alguém servir refeição; pedir para um terceiro limpar os
espaços onde acontecem as reuniões; solicitar a um terceiro que faça a
ornamentação/decoração do espaço onde acontecerá a confraternização
das extensionistas de uma ONG feminista etc.

13 Atividades de aprendizado e educação

Atividades realizadas com a finalidade de capacitação/formação/


construção e transmissão de conhecimentos em qualquer área e
nível do conhecimento, seja dentro do sistema educacional (ensino
fundamental, ensino médio, ensino superior, pós-graduação, técnico,
EJA), no âmbito da educação informal (cursos/oficinas promovidos pelas
ONGs/associações/cooperativas para a produção e beneficiamento na
agricultura familiar, artesanato etc.), bem como atividades culturais
e educativas da comunidade, voltadas à valorização/construção/
transmissão/trocas de conhecimentos tradicionais arraigados ao modo
de vida (roda de conversa dos jovens com os mais velhos sobre as
práticas quilombolas de cultivo e uso das plantas medicinais; momento
de aprendizado das filhas com a mãe sobre práticas agroextrativistas
tradicionais atreladas àquele modo de vida).

13.1 Gestão das atividades de aprendizado e educação

Planejar, orientar, distribuir as atividades com a finalidade de


capacitação/formação/construção e transmissão de conhecimentos em
qualquer área e nível do conhecimento para benefício direto ou indireto
da mulher que demanda, bem como solicitar ajuda na realização
de tarefas decorrentes das atividades de aprendizado e educação.
Exemplos: mandar a(o) filha(o) fazer a tarefa de casa do curso que a mãe

337
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

está participando; enviar a(o) filha(o) para representá-la e participar das


oficinas para construção de cisternas etc.

13.2 Gestão do trabalho com a água em atividades de


aprendizado e educação

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água com a finalidade de capacitação/formação/
construção e transmissão de conhecimentos em qualquer área e nível
do conhecimento para benefício direto ou indireto da mulher que
demanda, bem como solicitar ajuda na realização de tarefas decorrentes
das atividades de aprendizado e educação. Manejo, conservação, reuso,
tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água incluem
utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar
a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação etc.;
fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico; destinar
a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a
água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição
de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de
sistemas de captação de água, como calhas e calçada da cisterna; fazer
manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento de água, como
potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do trabalho com
a água em atividades de aprendizado e educação: solicitar a terceiros
a coleta e armazenamento de água que será utilizada na realização de
capacitação para construção de cisterna de armazenamento de água na
comunidade; mandar a filha participar de um curso sobre sistemas de
reuso de água etc.

338
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

13.3 Gestão do trabalho com os resíduos sólidos nas


atividades de aprendizado e educação

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta,


à separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos com a
finalidade de capacitação/formação/construção e transmissão de
conhecimentos em qualquer área e nível do conhecimento para benefício
direto ou indireto da mulher que demanda, bem como solicitar ajuda
na realização de tarefas decorrentes das atividades de aprendizado e
educação. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de gestão do trabalho com resíduos sólidos nas
atividades de aprendizado e educação: solicitar a terceiros que coletem
os resíduos sólidos que serão utilizados em oficina de capacitação de
reciclagem; mandar a filha participar de um curso sobre manejo de lixo
orgânico e compostagem.

13.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades


de aprendizado e educação

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a biodiversidade


em atividades de aprendizado e educação, demandando de outras
pessoas a execução do manejo da biodiversidade, com a finalidade de
capacitação/formação/construção e transmissão de conhecimentos em
qualquer área e nível do conhecimento para benefício direto ou indireto
da mulher que demanda. O manejo da biodiversidade abarca o manejo
da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de

339
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas e


agroecossistemas; e/ou manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de
animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação
da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle
de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo
inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de gestão do trabalho
com a biodiversidade em atividades de aprendizado e educação: pedir
para alguém coletar frutos, folhas e galhos de leguminosas que serão
utilizados em oficina de capacitação sobre manejo de matéria orgânica
em sistemas agroflorestais; mandar a filha participar de um curso sobre
manejo sustentável da biodiversidade, conservação da natureza e/ou
agroecologia etc.

13.5 Manejo da água nas atividades de aprendizado e


educação

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água em
atividades de aprendizado e educação, com a finalidade de capacitação/
formação/construção e transmissão de conhecimentos em qualquer área
e nível do conhecimento para benefício direto ou indireto da mulher.

340
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento


e distribuição da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de
acordo com sua qualidade; coletar e carregar água; limpar recipientes de
armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento
de água por meio do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da
água diretamente na produção ou uso doméstico; destinar a água para
um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para
sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água
por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de
captação de água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção
dos objetos/tecnologias de armazenamento de água, como potes,
cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da água em atividades
de aprendizado e educação: realizar a coleta e armazenamento de água
que será utilizada na realização de capacitação para construção de
cisterna de armazenamento de água na comunidade; participar de um
curso sobre sistemas de reuso de água.

13.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades de


aprendizado e educação

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos em atividades de aprendizado e educação,
com a finalidade de capacitação/formação/construção e transmissão
de conhecimentos em qualquer área e nível do conhecimento para
benefício direto ou indireto da mulher. Coleta, separação, destinação
e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-
lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria
propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário
ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias
sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de
manejo dos resíduos sólidos em atividades de aprendizado e educação:

341
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

realizar a coleta dos resíduos sólidos que serão utilizados em oficina de


capacitação de reciclagem; participar de um curso sobre manejo de lixo
orgânico e compostagem.

13.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de


aprendizado e educação

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade em atividades


de aprendizado e educação, com a finalidade de capacitação/formação/
construção e transmissão de conhecimentos em qualquer área e nível
do conhecimento para benefício direto ou indireto da mulher. O manejo
da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos
vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres,
marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e/
ou manejo da diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre
ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva
de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e
raízes; ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade em atividades de
aprendizado e educação: coletar frutos, folhas e galhos de leguminosas
que serão utilizados em oficina de capacitação sobre manejo de matéria

342
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

orgânica em sistemas agroflorestais; participar de um curso sobre


manejo sustentável da biodiversidade, conservação da natureza e/ou
agroecologia etc.

13.8 Trabalho doméstico realizado nas atividades de


aprendizado e educação

Atividades não remuneradas de serviços domésticos realizadas nas


atividades de aprendizado e educação, com a finalidade de capacitação/
formação/construção e transmissão de conhecimentos em qualquer
área e nível do conhecimento para benefício direto ou indireto da
mulher. As atividades compreendem tarefas domésticas realizadas em
espaços de aprendizado, como: espaços reservados para capacitação/
formação/construção e transmissão de conhecimentos, seja dentro do
sistema educacional ou no âmbito da educação informal, bem como
atividades culturais e educativas da comunidade voltadas à valorização/
construção/transmissão/trocas de conhecimentos tradicionais.
Exemplos: cozinhar o jantar que será servido no curso de capacitação em
sistemas agroflorestais e manejo da biodiversidade; limpar os espaços
onde acontecem as atividades de aprendizado (ex.: associação ou
ONG); realizar a ornamentação/decoração do espaço onde acontecerá
o evento.

13.9 Gestão do trabalho doméstico realizado nas atividades


de aprendizado e educação

Planejar, orientar, distribuir o trabalho doméstico destinado às


atividades de aprendizado e educação, demandando a outras pessoas
essas tarefas. Exemplos: mandar alguém cozinhar o almoço que será
servido no curso de capacitação em sistemas agroflorestais e fazer
manejo da biodiversidade que a mulher está participando.

343
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

14 Atividades de socialização e comunicação

Presença em eventos e/ou espaços que proporcionam a socialização,


encontros, compartilhamento de emoções, solidariedade etc. A presença
nesses espaços configura uma obrigação social comunitária no meio
rural. Exemplos: estar presente em aniversário, evento na escola,
casamento, velório, batizado, formatura, missa com motivação particular
(missa de aniversário, missa de batizado, missa de 7º dia); apresentar
a propriedade familiar para visitas como parte de um protocolo social
etc. Consideramos, ainda, nesta classificação, a doação de alimentos ou
outro recurso produtivo como forma de estreitar laços de solidariedade
muito presente no meio rural, por exemplo: a doação de um mamão
para o rapaz da internet.

14.1 Gestão das atividades de socialização e comunicação

Planejar, orientar, distribuir as atividades de socialização e


comunicação, demandando de outras pessoas a execução das tarefas.
Exemplos: mandar a(o) filha(o)/companheira(o) para representá-la em
um evento social (casamento, batizado, aniversário etc.) por não poder
ou não querer ir etc.

14.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades de


socialização e comunicação

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água em atividades de socialização e comunicação,
demandando de outras pessoas a execução da tarefa. Manejo,
conservação, reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição
da água incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua
qualidade; conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado

344
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

com uma área de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho;


coletar e carregar água; limpar recipientes de armazenamento, como
potes, caixas d’água e cisternas; fazer tratamento de água por meio
do uso de cloro, fervura, coação etc.; fazer reuso da água diretamente
na produção ou uso doméstico; destinar a água para um sistema de
tratamento e reuso (ex.: biofiltro); destinar a água para sistema de
tratamento (ex.: fossa séptica); realizar distribuição de água por meio
de bombas elétricas ou manuais; fazer limpeza de sistemas de captação
de água, como calhas e calçada da cisterna; fazer manutenção dos
objetos/tecnologias de armazenamento de água, como potes, cisternas
e caixas d’água. Exemplos de gestão do trabalho com a água em
atividades de socialização e comunicação: solicitar a terceiros a coleta e
o armazenamento da água que será utilizada durante festa comunitária;
organizar, para um velório na comunidade, os bebedouros de água para
receber pessoas etc.

14.3 Gestão do trabalho com os resíduos sólidos nas


atividades de socialização e comunicação

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos nas atividades
de socialização e comunicação, demandando de outras pessoas a
execução desse trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos
resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos;
organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/
minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto
de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria propriedade,
reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no pé das plantas,
reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET
como irrigação por gotejamento). Exemplos de gestão do trabalho com
resíduos sólidos nas atividades de socialização e comunicação: quando
a mulher solicita a terceiros que coletem o lixo produzido durante a

345
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

festa de aniversário; quando pede a alguém que separe os restos de


comida gerados no evento social para alimentar os animais.

14.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades


de socialização e comunicação
Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a biodiversidade
em atividades de socialização e comunicação, demandando de outras
pessoas a execução do manejo da biodiversidade. O manejo da
biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de organismos vivos
de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e
aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e/ou manejo
da diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas.
Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas
agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes;
ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade em
atividades de socialização e comunicação: pedir para alguém coletar
frutas para degustação durante evento social no sítio; mandar coletar
flores para decorar a festa de aniversário; pedir para alguém pescar para

346
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

servir peixes locais em evento comunitário; pedir para o filho separar


frutas da época para presentear visitantes.

14.5 Manejo da água nas atividades de socialização e


comunicação

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
em atividades de socialização e comunicação. Manejo, conservação,
reuso, tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água
incluem utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade;
conservar a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área
de nascente; realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar
água; limpar recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água
e cisternas; fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura,
coação etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso
doméstico; destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.:
biofiltro); destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica);
realizar distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais;
fazer limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo
da água em atividades de socialização e comunicação: coletar lixos
deixados no riacho durante evento social; coletar e armazenar água que
será utilizada durante festa comunitária; ligar a bomba de água para
abastecer o local onde acontece o aniversário etc.

14.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades de


socialização e comunicação

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e


ao manejo dos resíduos sólidos em atividades de socialização e

347
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

comunicação. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos


sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar
o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário;
realizar a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo
para reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de manejo dos resíduos sólidos em atividades
de socialização e comunicação: coletar o lixo produzido durante a festa
de aniversário ou durante um evento familiar; separar os restos de
comida gerados no evento social para alimentar os animais.

14.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de socialização


e comunicação

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade em atividades


de socialização e comunicação. O manejo da biodiversidade abarca
o manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as origens:
manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo
de ecossistemas e agroecossistemas; e/ou manejo da diversidade
dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas. Nesses
diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas agrícolas,
medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes; ações para o
desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais,
florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de espécies nativas ou
exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e armazenamento de
sementes de plantas; práticas de reflorestamento, replantio, desbaste,
poda, coivara, pousio de sistemas florestais, agroflorestais, sistemas
produtivos em geral; práticas de reprodução de animais de interesse
social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção de sementes animais;
práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de
zoneamento do território determinando diferentes usos, ou a partir do
conhecimento tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de

348
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

produção, conservação da mata, área de pesca, área de uso comum);


práticas de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do
sistema produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de
manejo da biodiversidade em atividades de socialização e comunicação:
coletar frutas nativas para serem servidas e degustadas durante evento
no sítio; pescar para abastecer a festa comunitária; coletar flores para
decoração do aniversário; colher frutas para presentear convidados do
evento social.

14.8 Trabalho doméstico realizado nas atividades de


socialização e comunicação

Atividades não remuneradas de serviços domésticos realizadas nas


atividades de socialização e comunicação. As atividades compreendem
tarefas domésticas realizadas em espaços de socialização e comunicação,
como: aniversário, evento na escola, casamento, velório, batizado etc.
Exemplos: cozinhar o jantar que será servido após a missa de 7º dia de
falecimento de um parente; fazer o bolo para a festa do dia das mães
que será celebrado na associação de moradores; servir o lanche da festa
do dia das crianças; limpar os espaços onde acontecem as atividades
de socialização e comunicação (ex.: Igreja, quadra, terreiro); realizar a
ornamentação/decoração do espaço onde acontecerá o evento.

14.9 Gestão do trabalho doméstico realizado nas atividades


de socialização e comunicação

Planejar, orientar, distribuir o trabalho doméstico destinado às


atividades de socialização e comunicação, demandando a outras
pessoas essas tarefas. Exemplos: mandar alguém cozinhar o almoço que
será servido após a missa comemorativa; pedir para terceiros servirem
o lanche da festa do dia das crianças; pedir para terceiros limparem os
espaços onde acontecem as atividades de socialização e comunicação

349
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

(ex.: Igreja, quadra, terreiro); solicitar que alguém faça a ornamentação/


decoração do espaço onde acontecerá o evento etc.

15 Atividades de lazer

Realização de atividades não obrigatórias que proporcionam prazer


e relaxamento. Essas atividades podem ser realizadas em casa ou fora
do ambiente familiar, com ou sem companhia. Exemplos: ir a eventos
culturais; assistir à TV; ouvir música; prática esportiva (com finalidade
de lazer e não por recomendação médica); conversar; usar redes sociais;
fumar; tomar café com a vizinha; beber (bebida alcoólica) etc.

15.1 Gestão das atividades de lazer

Planejar, orientar, distribuir as atividades de lazer, demandando


de outras pessoas a execução das tarefas. Exemplos: pedir a terceiro
que coloque cerveja para gelar a fim de ela beber; pedir para terceiro
aumentar o som do rádio para ela ouvir.

15.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades de lazer

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água em atividades de lazer, demandando de outras
pessoas a execução da tarefa. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água
por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;

350
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);


destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com a água em atividades de lazer: solicitar que limpem o açude
ou piscina para atividades de recreação; pedir a terceiros que coloquem
água limpa para fazer gelo a fim de que ela a utilize em bebidas etc.

15.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades


de lazer

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos nas atividades
de lazer, demandando de outras pessoas a execução desse trabalho.
Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem
separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo
do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a destinação
do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem,
queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira,
no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em
tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento).
Exemplos de gestão do trabalho com resíduos sólidos em atividades
de lazer: pedir para alguém recolher as latinhas de cerveja geradas no
encontro com as amigas; pedir para alguém separar restos de comida
do churrasco realizado para lazer/divertimento.

15.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades


de lazer

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a biodiversidade


em atividades de lazer, demandando de outras pessoas a execução do

351
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

manejo da biodiversidade. O manejo da biodiversidade abarca o manejo


da variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas e
agroecossistemas; e/ou manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de
animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação
da mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle
de espécies invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo
inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de gestão do trabalho
com a biodiversidade em atividades de lazer: mandar coletar frutas
nativas (ou seja, que não fazem parte da produção/manejo familiar) para
degustação durante passeio com a família no sítio de amigos; mandar
organizar os materiais para a pescaria com a família para lazer/relaxar/
apreciar os sabores das espécies locais.

15.5 Manejo da água nas atividades de lazer

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso,


ao tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da
água em atividades de lazer. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em
seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água

352
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;


realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água em atividades de lazer: limpar o açude ou piscina para atividades
de recreação; colocar água limpa para fazer gelo a fim de utilizá-la em
bebidas consumidas em momentos de relaxamento e/ou diversão;
coletar lixo do riacho durante passeio de relaxamento na natureza;
armazenar água para levar no passeio.

15.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades de lazer

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos em atividades de lazer. Coleta, separação,
destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico,
lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-
lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria
propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou no
pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de manejo
dos resíduos sólidos em atividades de lazer: coletar e descartar o lixo
produzido durante um passeio; recolher as latinhas de cerveja geradas
no encontro com as amigas; separar restos de comida do churrasco
realizado para lazer/divertimento.

353
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

15.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de lazer

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade em atividades


de lazer. O manejo da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de
organismos vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres,
marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e/
ou manejo da diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre
ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva
de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e
raízes; ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade em atividades
de lazer: coletar frutas nativas para degustação durante passeio com
amigas; trocar sementes de valor afetivo ao visitar amigos; pescar com
a família para divertimento/relaxamento/apreciação dos sabores das
espécies locais; realizar caça esportiva para divertimento.

16 Atividades de autocuidado

Atividades realizadas pela mulher em benefício de si mesma, desde


atividades regulares de higiene pessoal e necessidades fisiológicas, até

354
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

atividades voltadas para a estética, tratamentos de saúde física e/ou


psicológica. Exemplos: realização de tratamentos naturais e/ou caseiros
de saúde; ida a consultas e exames; práticas esportivas voltadas à saúde
(indicação médica) e/ou à estética; tratamentos de beleza; higiene
pessoal; alimentar-se; dormir; descansar, rezar, ir ao banheiro etc.

16.1 Gestão das atividades de autocuidado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir os trabalhos de autocuidado,


demandando de outras pessoas a realização de tarefas de cuidado com
ela própria. Exemplos: quando a mulher solicita que alguém passe tintura
no cabelo dela; quando pede para a filha fazer a unha dela; quando pede
para a irmã fazer um chá medicinal para ela a fim de amenizar algum
mal-estar; quando a mulher pede ajuda para aplicar um medicamento
nela etc.

16.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades de


autocuidado

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água em atividades de autocuidado, demandando
de outras pessoas a execução da tarefa. Manejo, conservação, reuso,
tratamento, captação, armazenamento e distribuição da água incluem
utilizá-la em seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar
a água por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar

355
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer


limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão do
trabalho com a água em atividades de autocuidado: quando a mulher
pede para outra pessoa coletar água para ela tomar banho ou para ela
lavar o cabelo após a utilização de tintura; quando a mulher solicita que
alguém prepare a água de banho com ervas para tratamento de saúde
dela ou para ela fazer uma compressa etc.

16.3 Gestão do trabalho com os resíduos sólidos nas


atividades de autocuidado

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos nas atividades
de autocuidado, demandando de outras pessoas a execução desse
trabalho. Coleta, separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos
incluem separar lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo;
coletar lixo do sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar
a destinação do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para
reciclagem, queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico
na composteira, no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em
artesanatos e em tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por
gotejamento). Exemplos de gestão do trabalho com resíduos sólidos em
atividades de autocuidado: solicitar que alguém descarte recipientes de
remédios e de produtos de beleza utilizados por ela mesma; solicitar
que descartem resíduos do chá feito para ela mesma na composteira.

16.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades


de autocuidado

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a biodiversidade


em atividades de autocuidado, demandando de outras pessoas a

356
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

execução do manejo da biodiversidade. O manejo da biodiversidade


abarca o manejo da variabilidade de organismos vivos de todas as
origens: manejo de ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos;
manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e/ou manejo da diversidade
dentro de espécies, entre espécies e entre ecossistemas. Nesses
diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva de plantas agrícolas,
medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e raízes; ações para o
desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais,
florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de espécies nativas ou
exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e armazenamento de
sementes de plantas; práticas de reflorestamento, replantio, desbaste,
poda, coivara, pousio de sistemas florestais, agroflorestais, sistemas
produtivos em geral; práticas de reprodução de animais de interesse
social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção de sementes animais;
práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou exóticos; práticas de
zoneamento do território determinando diferentes usos, ou a partir do
conhecimento tradicional definir os diferentes usos das áreas (local de
produção, conservação da mata, área de pesca, área de uso comum);
práticas de controle de espécies invasoras; ações de diversificação do
sistema produtivo inserindo outras espécies e variedades. Exemplos de
gestão do trabalho com a biodiversidade em atividades de autocuidado:
mandar coletar cascas de árvores nativas (ou seja, que não fazem parte
da produção/manejo familiar) para uso medicinal pela própria mulher;
pedir para o filho coletar plantas medicinais do quintal para fazer um
chá para ela mesma; pedir para a vizinha coletar uma fruta específica
para melhorar o seu sistema digestivo etc.

16.5 Manejo da água em atividades de autocuidado

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso, ao


tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da água
em atividades de autocuidado. Manejo, conservação, reuso, tratamento,
captação, armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em

357
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

seus múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água


por meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente;
realizar mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água em atividades de autocuidado: esquentar água para o seu próprio
banho; colocar água para fazer um chá para si, utilizar água para fazer
compressa em suas pernas; filtrar água para ela mesma beber etc.

16.6 Manejo dos resíduos sólidos em atividades de


autocuidado

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos em atividades de autocuidado. Coleta,
separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem separar
lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do
sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a destinação
do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem,
queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira,
no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em
tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento).
Exemplos de manejo dos resíduos sólidos em atividades autocuidado:
separar recipientes de remédios e de produtos de beleza utilizados por
ela mesma para queimá-los no local adequado; utilizar os resíduos do
chá feito para ela mesma na composteira.

358
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

16.7 Manejo da biodiversidade nas atividades de


autocuidado

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade em atividades


de autocuidado. O manejo da biodiversidade abarca o manejo da
variabilidade de organismos vivos de todas as origens: manejo de
ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas e
agroecossistemas; e/ou manejo da diversidade dentro de espécies, entre
espécies e entre ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas
de coleta seletiva de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos,
cascas, sementes e raízes; ações para o desenvolvimento de animais,
de plantas agrícolas, frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou
plantio de mudas de espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais,
florestais; seleção e armazenamento de sementes de plantas; práticas
de reflorestamento, replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de
sistemas florestais, agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas
de reprodução de animais de interesse social, ambiental, medicinal ou
econômico; seleção de sementes animais; práticas de pesca e caça de
animais nativos e/ou exóticos; práticas de zoneamento do território
determinando diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional
definir os diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da
mata, área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies
invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo outras
espécies e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade em
atividades de autocuidado: mandar coletar cascas de árvores nativas
(ou seja, que não fazem parte da produção/manejo familiar) para
uso medicinal pela própria mulher; pedir para o filho coletar plantas
medicinais do quintal para fazer um chá para ela mesma; coletar uma
fruta específica para melhorar o seu sistema digestivo etc.

17 Atividades destinadas à procura de emprego/trabalho

Atividades realizadas com o objetivo de encontrar um emprego


ou trabalho remunerado em suas diferentes configurações: formal ou

359
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

informal, de tempo integral/parcial/por diária e/ou trabalho por safra ou


estação. Inclui também atividades realizadas para se criar e/ou viabilizar
um novo trabalho ou atividade produtiva para o mercado, como o início
de um novo negócio, um empreendimento, iniciar uma nova exploração
agrícola voltada ao mercado. Exemplos: fazer currículo; entregar
currículo; entrevista de emprego; conversas e articulações para conseguir
um trabalho; solicitar licença ambiental, sanitária, outorga de água para
o funcionamento da unidade de beneficiamento; negociar crédito para
produção no banco, como o Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (PRONAF); elaborar projetos para venda da
produção no mercado institucional; elaborar projetos para angariar
doação ou financiamento para desenvolver um empreendimento;
comprar máquinas e/ou equipamentos para uma nova unidade de
beneficiamento; implementar uma nova linha de produção na unidade
de beneficiamento.

17.1 Gestão das atividades realizadas para a procura de


emprego/trabalho

Planejar, orientar, distribuir as atividades com a finalidade de


procurar emprego/trabalho, demandando de outras pessoas a execução
das tarefas. Exemplo: pedir para a(o) filha(o) digitar o seu currículo; pedir
para um terceiro entregar os seus currículos na cidade; pedir para o
marido tirar xérox dos documentos necessários para dar entrada na
solicitação de licença ambiental etc.

18 Atividades destinadas à participação política e/ou acesso


às políticas públicas

Atividades realizadas com o objetivo de participação política e/ou


acesso às políticas públicas. A política aqui é percebida no âmbito de
diferentes tipos de participação: no diálogo entre a sociedade civil e o

360
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Estado (polity); na obtenção de cargos políticos e no debate partidário


(politics); e no acesso aos programas e políticas públicas (policies)
(MULLER; SUREL, 2004). Nesse sentido, o trabalho das mulheres rurais
se expressa no acesso às políticas públicas ou benefícios de programas
sociais governamentais em âmbito individual, familiar ou comunitário;
na participação democrática e militância em ONGs e movimentos
sociais; e, no alcance político pela via partidária, na associação aos
partidos políticos etc. Contempla atividades de diversas finalidades e
muitas vezes necessárias para o desenvolvimento pessoal, produtivo,
comunitário, construção de redes de integração e coesão social,
envolvendo objetivos como: atividades de limpeza, organização de
ambientes, orientação de manejo, técnicas produtivas, usos de plantas
medicinais etc. Este item se diferencia do item 12 Trabalho voluntário,
uma vez que está voltado aos processos necessários ao acesso (e
negociação) às políticas públicas e alcance político, partidário ou não,
com interesses individuais e coletivos. Nesse sentido, é importante
tomar conhecimento da finalidade da atividade para então classificá-la.
Exemplos de atividades destinadas à participação política e/ou acesso às
políticas públicas: receber a agente de saúde em casa para atualização
do cadastro no SUS; fazer a ata da reunião da associação de moradores;
organizar documentação para fazer o cadastramento no Cadastro Único;
participar de reuniões, oficinas e capacitações em ONGs e organizações
da sociedade civil; submeter e/ou se articular aos projetos e programas
governamentais e/ou não governamentais, com a finalidade de acessar
políticas públicas etc.

18.1 Gestão das atividades destinadas à participação política


e/ou acesso às políticas públicas

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir as atividades de participação


política e/ou acesso às políticas públicas, demandando de outras pessoas
a sua realização. Exemplos: solicitar que alguém faça a ata da reunião;
organizar pessoas para relatoria da reunião; solicitar que outras pessoas

361
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

mobilizem mulheres de outra comunidade para participarem de mutirão


ou ação política; pedir à filha que participe e a represente na reunião do
grupo de mulheres; pedir ao marido para tirar xérox dos documentos
dela a fim de ela atualizar seu cadastro no programa social etc.

18.2 Gestão do trabalho com a água nas atividades


destinadas à participação política e/ou acesso às políticas
públicas

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao manejo, à


conservação, ao reuso, ao tratamento, à captação, ao armazenamento
e à distribuição da água nas atividades de participação política e/
ou acesso às políticas públicas, demandando de outras pessoas a
execução da tarefa. Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação,
armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em seus
múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água por
meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente; realizar
mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de gestão
do trabalho com a água nas atividades de participação política e/ou
acesso às políticas públicas: solicitar que busquem água para ser servida
durante a reunião do sindicato; mandar as amigas mobilizarem pessoas
de outra comunidade para realização de mutirão de limpeza do riacho;
pedir para o filho participar de reunião comunitária voltada à discussão
da gestão da água na comunidade etc.

362
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

18.3 Gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades


destinadas à participação política e/ou acesso às políticas
públicas

Planejar, orientar ou distribuir atividades relacionadas à coleta, à


separação, à destinação e ao manejo dos resíduos sólidos nas atividades
destinadas à participação política e/ou acesso às políticas públicas,
demandando de outras pessoas a execução desse trabalho. Coleta,
separação, destinação e manejo dos resíduos sólidos incluem separar
lixo orgânico, lixo reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do
sítio; fazer manejo de composteira/minhocário; realizar a destinação
do lixo, como: levá-lo para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem,
queimá-lo na própria propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira,
no minhocário ou no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em
tecnologias sociais (ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento).
Exemplos de gestão do trabalho com resíduos sólidos nas atividades
destinadas à participação política e/ou acesso às políticas públicas: pedir
para outras pessoas recolherem o lixo gerado na reunião da associação
de moradores; solicitar a terceiros que destinem os restos de poda
gerados na oficina como adubo do sistema produtivo familiar; mandar a
filha participar de reunião da associação para definir como será a gestão
de resíduos sólidos na comunidade.

18.4 Gestão do trabalho com a biodiversidade nas atividades


destinadas à participação política e/ou acesso às políticas
públicas

Planejar, orientar, atribuir ou distribuir o trabalho com a


biodiversidade no trabalho voluntário de participação política,
demandando de outras pessoas a execução do manejo da biodiversidade.
O manejo da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de
organismos vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres,
marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e/
ou manejo da diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre

363
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva


de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e
raízes; ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/ou
exóticos; práticas de zoneamento do território determinando diferentes
usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os diferentes usos
das áreas (local de produção, conservação da mata, área de pesca,
área de uso comum); práticas de controle de espécies invasoras; ações
de diversificação do sistema produtivo inserindo outras espécies e
variedades. Exemplos de gestão do trabalho com a biodiversidade nas
atividades destinadas à participação política e/ou acesso às políticas
públicas: solicitar a terceiros a realização de podas ou capinação de
uma área que será utilizada para realização de um intercâmbio de trocas
de experiências de produção entre associações; orientar um grupo a
replantar mudas na nascente durante um mutirão comunitário de
reflorestamento; mandar o marido participar de uma oficina da Rede de
Agroecologia ou associação onde se desenvolvam técnicas de manejo
de sistemas produtivos, sistemas agroflorestais, técnicas de produção
agroecológica, técnicas de replantio e produção de mudas; mandar
filha participar de capacitações práticas promovidas pela associação
onde se desenvolvam instrumentos de gestão sustentável do território,
protocolos comunitários, zoneamento ecológico do território etc.

18.5 Manejo da água nas atividades destinadas à


participação política e/ou acesso às políticas públicas

Atividades relacionadas ao manejo, à conservação, ao reuso,


ao tratamento, à captação, ao armazenamento e à distribuição da

364
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

água nas atividades destinadas à participação política e/ou acesso às


políticas públicas. Manejo, conservação, reuso, tratamento, captação,
armazenamento e distribuição da água incluem utilizá-la em seus
múltiplos usos de acordo com sua qualidade; conservar a água por
meio do reflorestamento e cuidado com uma área de nascente; realizar
mutirão de limpeza de um riacho; coletar e carregar água; limpar
recipientes de armazenamento, como potes, caixas d’água e cisternas;
fazer tratamento de água por meio do uso de cloro, fervura, coação
etc.; fazer reuso da água diretamente na produção ou uso doméstico;
destinar a água para um sistema de tratamento e reuso (ex.: biofiltro);
destinar a água para sistema de tratamento (ex.: fossa séptica); realizar
distribuição de água por meio de bombas elétricas ou manuais; fazer
limpeza de sistemas de captação de água, como calhas e calçada da
cisterna; fazer manutenção dos objetos/tecnologias de armazenamento
de água, como potes, cisternas e caixas d’água. Exemplos de manejo da
água nas atividades destinadas à participação política e/ou acesso às
políticas públicas: coletar água e organizá-la no pote adequado para as
pessoas beberem-na durante a reunião; buscar água para ser utilizada
na capacitação para a construção de cisterna de armazenamento de
água na comunidade; mobilizar pessoas para a realização de mutirão de
limpeza do riacho; participar ou liderar oficina/reunião onde se trabalhe
diretamente o manejo da água e/ou se definam os rumos desse manejo
por meio de uma construção/definição coletiva.

18.6 Manejo dos resíduos sólidos nas atividades destinadas à


participação política e/ou acesso às políticas públicas

Atividades relacionadas à coleta, à separação, à destinação e ao


manejo dos resíduos sólidos nas atividades destinadas à participação
política e/ou acesso às políticas públicas. Coleta, separação, destinação
e manejo dos resíduos sólidos incluem separar lixo orgânico, lixo
reciclável e rejeitos; organizar o lixo; coletar lixo do sítio; fazer manejo
de composteira/minhocário; realizar a destinação do lixo, como: levá-lo

365
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

para ponto de coleta, levá-lo para reciclagem, queimá-lo na própria


propriedade, reciclar lixo orgânico na composteira, no minhocário ou
no pé das plantas, reutilizar lixo em artesanatos e em tecnologias sociais
(ex.: garrafa PET como irrigação por gotejamento). Exemplos de manejo
dos resíduos sólidos nas atividades destinadas à participação política
e/ou acesso às políticas públicas: recolher e descartar o lixo produzido
durante a reunião do sindicato; destinar os restos de poda gerados na
oficina como adubo do sistema produtivo familiar; participar ou liderar
oficina/reunião onde se trabalhe diretamente o manejo dos resíduos
sólidos e/ou se definam os rumos desse manejo por meio de uma
construção/definição coletiva; organizar e coordenar ação da associação
voltada ao aprendizado e à construção de tecnologias para resíduos
sólidos, como biodigestor, composteira etc.

18.7 Manejo da biodiversidade nas atividades destinadas à


participação política e/ou acesso às políticas públicas

Atividades relacionadas ao manejo da biodiversidade nas atividades


destinadas à participação política e/ou acesso às políticas públicas.
O manejo da biodiversidade abarca o manejo da variabilidade de
organismos vivos de todas as origens: manejo de ecossistemas terrestres,
marinhos e aquáticos; manejo de ecossistemas e agroecossistemas; e/
ou manejo da diversidade dentro de espécies, entre espécies e entre
ecossistemas. Nesses diversos níveis, envolve práticas de coleta seletiva
de plantas agrícolas, medicinais, florestais, frutos, cascas, sementes e
raízes; ações para o desenvolvimento de animais, de plantas agrícolas,
frutíferas, medicinais, florestais; reprodução e/ou plantio de mudas de
espécies nativas ou exóticas, agrícolas, medicinais, florestais; seleção e
armazenamento de sementes de plantas; práticas de reflorestamento,
replantio, desbaste, poda, coivara, pousio de sistemas florestais,
agroflorestais, sistemas produtivos em geral; práticas de reprodução de
animais de interesse social, ambiental, medicinal ou econômico; seleção
de sementes animais; práticas de pesca e caça de animais nativos e/

366
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

ou exóticos; práticas de zoneamento do território determinando


diferentes usos, ou a partir do conhecimento tradicional definir os
diferentes usos das áreas (local de produção, conservação da mata,
área de pesca, área de uso comum); práticas de controle de espécies
invasoras; ações de diversificação do sistema produtivo inserindo outras
espécies e variedades. Exemplos de manejo da biodiversidade nas
atividades destinadas à participação política e/ou acesso às políticas
públicas: realizar podas ou capinação de uma área de mata que será
utilizada para realização de um intercâmbio de trocas de experiências de
produção entre associações; replantar mudas na nascente durante um
mutirão de reflorestamento da comunidade; participar ou liderar oficina/
reunião onde se trabalhe diretamente o manejo da biodiversidade e/
ou se defina os rumos desse manejo por meio de uma construção/
definição coletiva; organizar oficinas promovidas pela associação onde
se desenvolvam instrumentos de gestão sustentável do território,
protocolos comunitários, zoneamento ecológico do território etc.

18.8 Trabalho doméstico realizado nas atividades destinadas


à participação política e/ou acesso às políticas públicas

Atividades não remuneradas de serviços domésticos direcionadas


às atividades de participação política comunitária, municipal, estadual
ou nacional ou atividades voltadas ao acesso às políticas públicas. As
atividades compreendem tarefas domésticas realizadas em espaços
como domicílios, associações comunitárias, conselhos municipais,
sindicatos, grupos produtivos, redes etc. Exemplos: organizar a sua
casa e/ou a casa das vizinhas para receber as pessoas que vêm se
hospedar na comunidade para participar de atividade política; cozinhar
para os participantes da reunião/oficina/mutirão; servir refeição aos
participantes da ação promovida pela associação; limpar os espaços
utilizados para participação política; lavar louça durante a realização
da atividade política; varrer; organizar objetos; fazer a ornamentação/

367
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

decoração do espaço; servir café para a assistente social que esteve na


casa da mulher para atualizar os dados de acesso ao Cadastro Único etc.

18.9 Gestão do trabalho doméstico realizado nas atividades


destinadas à participação política e/ou acesso às políticas
públicas

Atividades não remuneradas de serviços domésticos direcionadas


às atividades de participação política comunitária, municipal, estadual
ou nacional ou atividades voltadas ao acesso às políticas públicas.
Exemplos: mandar um terceiro cozinhar o almoço que será servido após
a reunião da associação; pedir para alguém servir refeição no intervalo
da reunião; solicitar que um terceiro limpe os espaços utilizados para
participação política (ex.: sede do sindicato, sede do grupo produtivo de
mulheres); solicitar a outra pessoa que faça a ornamentação/decoração
do espaço onde acontecerá a atividade política; pedir para a filha servir
café para a assistente social que esteve na casa da mulher a fim de
atualizar os dados de acesso ao Cadastro Único etc.

19 Cuidado com os bens comuns

Atividades relacionadas ao cuidado com os bens comuns realizadas


a partir de motivações culturais, espirituais/religiosas, políticas,
afetivas, para a reprodução da vida, conservação de um modo de vida,
sustentabilidade, preocupação com futuras gerações, sobrevivência
etc., tendo como finalidades: ampliar o acesso, o compartilhamento de
forma sustentável, a conservação e a recuperação de recursos naturais.
Consideramos bens comuns os recursos naturais geridos pelos seres
humanos e que são de uso coletivo, sejam recursos naturais de domínio
público ou privado. Ressaltamos que nessa categoria buscamos captar
o tempo que as mulheres se dedicam a uma gestão positiva (no sentido
de conversação e sustentabilidade) dos bens comuns de uso coletivo,

368
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

entendida aqui como uma forma de cuidado com a natureza. Exemplos:


realizar ações políticas para o acesso livre a recursos naturais de interesse
de uma população extrativista; realizar práticas de manejo e uso dos
recursos naturais que favoreçam seu desenvolvimento e conservação;
realizar práticas de manejo dos recursos naturais relacionadas aos
conhecimentos e modos de vidas de povos e comunidades tradicionais;
realizar enfrentamentos aos sistemas de destruição dos recursos naturais,
como denunciar desmatamento; realizar mutirão de limpeza de riacho;
conservação de nascente; reprodução de espécies nativas em área de
uso comum, recuperação de matas ciliares em área de uso comum.

19.1 Gestão do trabalho de cuidado com os bens comuns

Planejar, orientar ou atribuir atividades relacionadas ao cuidado


com os bens comuns, demandando de outras pessoas a sua execução,
realizadas a partir de motivações culturais, espirituais/religiosas, políticas,
afetivas, para a reprodução da vida, conservação de um modo de vida,
sustentabilidade, preocupação com futuras gerações, sobrevivência
etc., tendo como finalidades: ampliar o acesso, o compartilhamento
de forma sustentável, a conservação e a recuperação de recursos
naturais, demandando de outras pessoas essa tarefa. Consideramos
bens comuns os recursos naturais geridos pelos seres humanos e que
são de uso coletivo, sejam recursos naturais de domínio público ou
privado. Ressaltamos que nesta categoria buscamos analisar o tempo
que as mulheres se dedicam para uma gestão positiva dos bens comuns,
entendida aqui como uma forma de cuidado com a natureza. Exemplos:
realizar ações políticas para o acesso livre a recursos naturais de interesse
de uma população extrativista; realizar práticas de manejo e uso dos
recursos naturais que favoreçam seu desenvolvimento e conservação;
realizar práticas de manejo dos recursos naturais relacionadas aos
conhecimentos e modos de vidas de povos e comunidades tradicionais;
realizar enfrentamentos aos sistemas de destruição dos recursos
naturais, como denunciar desmatamento; realizar mutirão de limpeza

369
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de riacho; conservação de nascente; reprodução de espécies nativas e/


ou recuperação de matas ciliares. Exemplos de gestão do trabalho de
cuidado com os bens comuns: organizar com outras pessoas mutirão
para limpeza do riacho; distribuir tarefas no replantio etc.

20 Deslocamento

Deslocamento (ir e vir) para a realização de atividades fora


da propriedade rural, ou seja, quando a mulher precisa sair de sua
propriedade para ir a outra localidade na comunidade, na zona urbana
ou em outro município para realizar qualquer tipo de trabalho ou
atividade (atividade produtiva, reprodutiva, voluntária, para aprendizado,
autocuidado, lazer). Inclui tempo de deslocamento para outras localidades
fora da propriedade, seja por meio de veículo ou a pé, como tempo de
deslocamento para visitar vizinha, tempo de deslocamento para coletar
água em fonte fora da propriedade dela, tempo de deslocamento para
ir à cidade pagar conta, tempo de deslocamento para ir até a associação,
tempo de deslocamento até a escola/faculdade, entre outros. De acordo
com o objetivo do deslocamento, utilizar as seguintes classificações:

20.1 Deslocamento para realização do trabalho remunerado


destinado ao mercado
20.2 Deslocamento para realização do trabalho não
remunerado destinado ao mercado
20.3 Deslocamento para realização do trabalho destinado ao
autoconsumo familiar
20.4 Deslocamento para realização de trabalho doméstico
destinado aos membros da unidade domiciliar
20.5 Deslocamento para realização de trabalho doméstico
destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar

370
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

20.6 Deslocamento para realização do trabalho doméstico


para pessoas que não são da família e não residem na
unidade domiciliar
20.7 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos membros da unidade domiciliar
20.8 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos animais e às plantas de estimação dos
membros da unidade domiciliar
20.9 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos membros da família que não residem na
unidade domiciliar
20.10 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado às pessoas que não são da família e não residem
na unidade domiciliar
20.11 Deslocamento para realização de trabalho de cuidado
destinado aos animais e às plantas de estimação de pessoas
que não residem na unidade domiciliar
20.12 Deslocamento para realização de trabalho voluntário
(de participação política ou religiosa)
20.13 Deslocamento para realização de atividades de
aprendizado e educação
20.14 Deslocamento para realização de atividades de
socialização e comunicação
20.15 Deslocamento para realização de atividades de lazer
20.16 Deslocamento para realização de atividades de
autocuidado
20.17 Deslocamento para a busca de emprego/trabalho
20.18 Deslocamento para realização de atividades destinadas
à participação política e/ou acesso às políticas públicas

371
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

20.19 Deslocamento para cuidado com os bens comuns

Referências

AGUIAR, Neuma. Múltiplas temporalidades de referência: trabalho


doméstico e trabalho remunerado em uma plantação canavieira.
Revista Gênero, Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero (Nuteg)
da Universidade Federal Fluminense, v. 1, n. 2, 1. sem., 2001.
AGUIAR, Neuma. Metodologia para o levantamento do uso do tempo
na vida cotidiana no Brasil. MELO, Hildete Pereira de. (Org.) Dossiê A
perspectiva feminista e os trabalhos sobre “Usos do Tempo”, Revista
Econômica, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 64-82, junho 2010.
CAVALCANTI, Lara G. de. A.; PAULO, Maira Andrade; HANY, Fatmato E. S. A
pesquisa piloto de uso do tempo do IBGE 2009/2010. Texto apresentado
no Fazendo Gênero 9: Diásporas, Diversidades, Deslocamentos. Anais…
Florianópolis, SC, 23 a 26 de agosto de 2010.
NACIONES UNIDAS. Comisión Económica para América Latina y el
Caribe (CEPAL). Clasificación de Actividades de Uso del Tiempo
para América Latina y el Caribe (CAUTAL). México: Instituto Nacional
de Estadística y Geografía. Editorial: CEPAL, mayo 2016. Disponível
em: https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/39624/
S1600508_es.pdf?sequence=4&isAllowed=y
MULLER, Pierre; SUREL, Yves. A análise das políticas públicas. 2.ed.
Pelotas: EDUCAT, 2004. 156 p.
UNITED NATIONS STATISTICS DIVISION. International Classification
of Activities for Time Use Statistics 2016 (ICATUS 2016). February
2017. Disponível em: https://unstats.un.org/unsd/demographic-social/
time-use/icatus-2016/

372
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Apresentação das autoras e autores

Cassio M. Turra
Economista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre
em Demografia pelo Cedeplar/UFMG e doutor em Demografia pela
University of Pennsylvania (2004). Foi pesquisador associado no Office
of Population Research, Princeton University (2004-2006). Atualmente, é
Professor Associado do Departamento de Demografia, Cedeplar/UFMG
onde leciona cursos e conduz pesquisas sobre demografia econômica,
métodos demográficos, mortalidade e saúde adulta. Turra é bolsista
de produtividade do CNPq e tem dezenas de trabalhos publicados em
periódicos, livros e anais de congressos nacionais e internacionais. É
membro de associações científicas na área de estudos populacionais
no Brasil e no mundo (Abep, Alap, PAA e IUSSP). Assim que se formou
em economia, Turra trabalhou no Bank Boston e na Procter & Gamble.
Recentemente, durante sua trajetória acadêmica, foi Diretor do Cedeplar,
UFMG (2014-2016), Presidente da Associação Brasileira de Estudos
Populacionais (2012-2014; 2014-2016), e membro de vários conselhos
e comissões, incluindo o Conselho Universitário da UFMG, o Conselho
Técnico-Científico do Parque Tecnológico de BH, a Comissão Nacional
de População e Desenvolvimento ligada à Secretaria de Assuntos
Estratégicos do Governo Federal, e o Conselho Curador da Fundação
Ipead da UFMG.

Cristiane Soares
Possui graduação (1998) e mestrado em Economia pela Universidade
Federal Fluminense (2001) e doutorado em Economia pela Universidade de
Brasília (2012). Atualmente é tecnologista da Fundação Instituto Brasileiro

373
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

de Geografia e Estatística. Tem experiência na área de Economia, atuando


principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento econômico,
indicadores sociais, gênero, mercado de trabalho e políticas públicas.

Fernando Augusto Ramos Pontes


Possui graduação em Psicologia (1986) e mestrado em Teoria e
Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará (1990),
doutorado em Psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade de
São Paulo (1996) e pós-doutorado pela Universidade de Brasília (2002) e
pela Technischen Universität Dortmund - Alemanha (2012). Atualmente
é Professor Titular da Universidade Federal do Pará, vinculado ao
Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento e ao Programa de
Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento e também
é professor do Programa de Pós-graduação e Segurança Pública da
UFPA. Coordena em conjunto com mais três professoras o Laboratório
de Ecologia do Desenvolvimento, no qual desenvolve pesquisas na
área da Ecologia do Desenvolvimento Humano e Redes de relações
sociais, atuando principalmente nos seguintes temas: Epistemologia de
redes, Relacionamento Social, Redes de Relacionamento, Parentalidade,
Coparentalidade, Cultura de Pares, Cultura da Brincadeira, Brinquedos
e Brincadeiras Tradicionais. Essas temáticas são investigadas
preferencialmente em contextos de desenvolvimento na Amazônia
tais como populações ribeirinhas, em famílias pobres, em famílias
com crianças com deficiência, nas relações de pares em escola, em
instituições, em contexto de vizinhança e no contexto de rua. Membro
do Conselho Assessor do CNPq (2017-2019). Presidente da Associação
Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento no período 2014-2016, e
Vice-presidente no período de 2016-2018.

Hildete Pereira de Melo


Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal
da Paraíba (1966), Curso de Especialização em Desenvolvimento
Econômico pela Université de Toulouse (França), Mestrado em

374
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro


(1979) e Doutorado em Economia da Indústria e da Tecnologia
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). Desde 1972
é professora da Universidade Federal Fluminense. Foi diretora
financeira do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o
Desenvolvimento (2004-2007); foi cedida à Secretaria de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República em 2009 a 2010 e depois de
2012 a 2014. Foi dirigente das Associações Acadêmicas: Associação
Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE) e da
Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), nos anos 1990
e vice-presidente na gestão 2016/2017. Tem experiência na pesquisa
econômica atuando em História Econômica Brasileira, História das
Mulheres e nos temas relacionados como mercado de trabalho,
relações de gênero, desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro.
Foi Editora da Revista Gênero do Programa de Estudos Pós-Graduados
em Política Social da Universidade Federal Fluminense de 2004 a
dezembro de 2016. A partir de setembro de 2017 é do Conselho de
Redação da Revista da ABET.

Jordana Cristina de Jesus


Graduada em Ciências Atuariais (2013), Mestre (2015) e Doutora em
Demografia (2018) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Entre
2015 e 2016 foi professora substituta no Departamento de Demografia
da UFMG. Desenvolveu pesquisa de doutorado com o apoio da Celade,
no projeto mundial NTA (National Transfers Accounts) sobre o tema de
transferências intergeracionais de tempo de trabalho doméstico não
remunerado. Desde 2018 é professora adjunta da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN) e membro permanente do Programa
de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem/UFRN). É membro do
Grupo de Estudos em Economia da Família e do Gênero – GeFam e
Coordenadora do Grupo de Trabalho População e Gênero da Associação
Brasileira de Estudos Populacionais.

375
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Juliana Funari
Bacharela em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo (2012),
mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade
Federal de Pernambuco (2016). Possui experiência profissional no campo
socioambiental, onde trabalhou por três anos na equipe de Direitos
das Mulheres da ONG ActionAid Brasil, e por um ano na ONG Centro
de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá como assessora técnica,
entre outros trabalhos como consultora socioambiental junto a ONGs,
movimentos sociais e de mulheres. Foi integrante do NEPPAG-Ayni
(Núcleo de Estudos Pesquisa e Práticas em Agroecologia e Geografia) da
UFPE (2014-2016) e bolsista do Projeto Rede de Núcleos de Agroecologia
do Nordeste-RENDA. Atualmente integra o Dadá- Grupo de Pesquisa
em Relações de Gênero, Sexualidade e Saúde (UFRPE/UAST) e contribui
com o núcleo JUREMA: Feminismos, Agroecologia e Ruralidades (UFRPE/
DECISO). Atua principalmente nos seguintes temas: agroecologia,
feminismo, ecologia política, relações sociedade-natureza, água, gestão
de recursos hídricos, convivência com o semiárido, desenvolvimento
rural, tecnologias socioambientais, agricultura urbana, movimentos de
mulheres, mulheres rurais, povos e comunidades tradicionais.

Lorena Lima de Moraes


Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (2006), mestrado em Ciências Sociais pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (2011) e doutorado em Ciências Sociais pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2016). Desde 2013 é professora
adjunta da Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade
Acadêmica de Serra Talhada. Tem experiência na área de Sociologia e
Metodologia Científica, atuando principalmente nos seguintes temas:
organização do trabalho científico, iniciação à docência, monitoria,
relações de gênero, mulheres rurais, sexualidade, economia feminista,
saúde e direitos sexuais e reprodutivos, sexualidades e identidade de
gênero em contextos rurais e interioranos. Coordena em conjunto
com outras colegas o DADÁ: Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão
em Relações de Gênero, Sexualidade e Saúde e o Grupo de Trabalho

376
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

“Gênero, Direitos Reprodutivos e Saúde” da Rede Feminista Norte-


Nordeste de Estudos e Pesquisas sobre Mulher e Relações de Gênero
- REDOR. Integra a Rede Interdisciplinar de Mulheres Acadêmicas do
Semiárido - RIMAS e a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste.

Lourdes Bandeira
Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (1973), mestrado em Sociologia pela Universidade de Brasília
(1978) e doutorado em Antropologia pela Université René Descartes - de
Paris V (1984). Realizou Pós-Doutorado na área de Sociologia do Conflito
com o Profº. Michel Wieviorka, na École des Hautes Études en Sciences
Sociales (2001-2002). A partir de 2005 é Professora Titular no Departamento
de Sociologia da Universidade de Brasília. Tem experiência acadêmica e
docente, além de publicações e orientações, na área de Sociologia, com
ênfase em Sociologia Urbana e da Cultura - Gênero, Feminismo, Violência
de Gênero, e Políticas Públicas. Atua principalmente nos seguintes temas:
Conflito e violência nas relações de gênero, cidadania, mulheres, feminismo
e políticas públicas. Exerce a docência no ensino de metodologia e das
técnicas de pesquisa. É atualmente coordenadora do Núcleo de Estudos
e Pesquisas da Mulher - NEPEM e Chefe do Departamento de Sociologia
da Universidade de Brasília e membro do Conselho de Direitos Humanos
da Universidade de Brasília - CDHUnB. Foi Secretária de Planejamento e
Gestão da Secretaria de Políticas para Mulheres-SPM/PR de fevereiro de
2008 a janeiro de 2011 e Secretaria Adjunta a partir de março de 2012
até janeiro de 2015. Atualmente é membro do comitê editorial da Editora
da Universidade de Brasília. É Pq-1B do CNPq e desenvolve projetos de
pesquisa: “Feminicídio no Brasil” e Relações de cuidado e cuidadoras nas
redes interinstitucionais de apoio às mulheres vítimas de violência. Atuou
por uma década como Editora-chefe da Revista Sociedade e Estado.

Lucilene Morandi
Graduada em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo
(1984), Especialização pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa

377
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro


COPPEAD/UFRJ (1985), Mestre em Economia pela Universidade
Federal Fluminense (1997) e Doutora em Economia da Indústria e da
Tecnologia pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (2004). Professora Associada da Faculdade de Economia
da Universidade Federal Fluminense (UFF) desde 2005. Coordenadora
do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Economia da UFF (desde 2017).
Professora de Economia da Pontifícia Universidade Católica PUC-RJ
(1997-2000). Coordenadora da graduação na Universidade Cândido
Mendes (1999-2005). Pesquisadora externa bolsista do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Econômico (PNUD) no Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA-RJ (1995-1998) e (2001-2005).
Vice Coordenadora da graduação da Faculdade de Economia da UFF
(2006-2014). Atual Coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero e
Economia da Faculdade de Economia da UFF. Desenvolve pesquisa nas
áreas de macroeconomia e crescimento econômico, com ênfase em
políticas macroeconômicas, políticas públicas, economia keynesiana,
crescimento econômico, macroeconomia de gênero, com ênfase
em mercado de trabalho, trabalho remunerado e não remunerado,
educação, participação política das mulheres e relações de gênero.

Nathália Marques da Silva Nascimento


Graduanda do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas na
Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de
Serra Talhada. Membro dos Grupos de Pesquisa Biogeografia, Ecologia e
Conservação de Aves Neotropicais e do DADÁ: Grupo de Ensino, Pesquisa
e Extensão em Relações de Gênero, Sexualidade e Saúde. Foi bolsista no
Programa de Iniciação Científica (PIC/UFRPE) entre os anos de 2017 e
2018, com o projeto de pesquisa intitulado “Mulheres rurais nordestinas
e desviantes: um estudo sobre a quebra de padrões de gênero no meio
rural” e bolsista PIBIC/CNPq entre os anos 2018 e 2019, desenvolvendo
a pesquisa “Uso do tempo e as mulheres rurais: um estudo sobre a

378
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

dinâmica do trabalho reprodutivo no Sertão do Pajeú”. Possui interesse


na área de Zoologia, Biogeografia, Ecologia, Ornitologia, Bioacústica,
Feminismo e Relações de gênero.

Neuma Figueiredo de Aguiar


Possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (1960), mestrado em Sociologia e Antropologia -
Boston University (1962), doutorado em Sociologia pela Washington
University (1969). Foi professora titular da Universidade Federal de
Minas Gerais de 1996 a 2008. Recebeu o título de professora emérita
da Universidade Federal de Minas Gerais no ano de 2009. É membro
vitalício da International Sociological Association Isa, membro vitalício da
International Association for Time Use Research (IATUR). Tem experiência
na área de Sociologia, com ênfase em Gênero e Sociedade, atuando
principalmente nos seguintes temas: gênero e patriarcado, movimentos
de mulheres, estratificação e mobilidade social, sociologia internacional
comparada e sociologia dos usos do tempo. Fundou e coordenou
por 10 anos o Programa de Metodologia Quantitativa da UFMG e o
Centro de Pesquisas Quantitativas em Ciências Sociais (CEPEQCS). Foi
professora visitante do Instituto de Altos Estudos Interdisciplinares.
Em 2007, recebeu o prêmio Vinicius Caldeira Brant do Nepem e CACS
(UFMG) por suas contribuições às áreas de Gênero, Estudo de Mulheres
e Feminismo e o prêmio Florestan Fernandes, da Sociedade Brasileira de
Sociologia, por sua contribuição para o desenvolvimento da Sociologia
no Brasil. Recebeu o prêmio Rose Marie Muraro conferido pela Secretaria
de Políticas para as Mulheres e o CNPq por suas contribuições para a
análise das condições de vida das mulheres brasileiras, avançando
metodologias científicas para a sua mensuração.

Neuzeli Maria de Almeida Pinto


Possui graduação em Economia Doméstica pela Universidade Federal de
Viçosa (1994), mestrado em Psicologia pela Universidade de São Paulo
(1998) e doutorado em Teoria e Pesquisa do Comportamento - PPGTPC/

379
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

UFPA (2013). Atualmente é professora Adjunta III da Universidade


Estadual do Maranhão - UEMA, Departamento de Ciências Socais/DCS,
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa de Gênero, Sexualidade
e Família (NEGESF/UEMA), compõem como docente o Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento SocioEspacial e Regional - PPDSR/
UEMA e Coordenadora do Fórum Maranhense de Mulheres/FMM. É
coautora dos livros: Desenvolvimento, Poder e Cultura Politica (2006);
Conhecimento Feminista e Relações de Gênero no Norte e Nordeste
brasileiro (2012); Nos interiores da Amazônia: Leituras psicossociais
(2016). Tem experiência na área de Psicologia Social com ênfase em
Comportamento e Relações Interpessoais atuando principalmente nos
seguintes temas: família, gênero, divisão sexual do trabalho, violência de
gênero e vulnerabilidade, ribeirinho, comunidades tradicionais e relação
família-ambiente.

Nicole Pontes
Graduada em Ciências Sociais (1999) e mestra em Sociologia pela
Universidade Federal de Pernambuco (2002) e pela The New School
For Social Research (2004) e Doutora em Sociologia pela Universidade
Federal da Paraíba (2014). Atualmente é docente de Sociologia da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de
Serra Talhada, onde é membro fundante e vice-coordenadora da
Comissão de Direitos Humanos da UAST/UFRPE Vanete Almeida. Em
conjunto com outras colegas, coordena o Dadá - Grupo de Pesquisa
em Relações de Gênero, Sexualidade e Saúde (UFRPE/UAST/CNPq).
Atua ainda como pesquisadora colaboradora do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Sociologia Política (GRESP-UFPB). É membro fundador
do Comitê Técnico para Implementação de Políticas de Saúde LGBT em
Serra Talhada. Tem experiência nas áreas de Sociologia da Saúde, Saúde
Pública, Teoria Sociológica Clássica e Contemporânea, Sociologia da
Moralidade e metodologias qualitativas.

380
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Patrícia de Lira Marques


Bacharela em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada (2019). Durante
a graduação integrou a Comissão de Orientação e Acompanhamento
Acadêmico (COAA) do Curso de Bacharelado em Ciências Econômicas da
UFRPE/UAST (2018-2019). Foi bolsista no Programa de Bolsa de Extensão
(BEXT)/UFRPE no ano de 2019, com o projeto intitulado “Dadá: Grupo
de Estudos, Pesquisa e Extensão sobre Relações de Gênero, Sexualidade
e Saúde”. Bolsista no Programa de Iniciação Científica (PIC/UFRPE)
entre os anos de 2018 e 2019, com o projeto de pesquisa intitulado
“Produção científica e acadêmica sobre a divisão sexual do trabalho no
mundo rural”. Pesquisadora integrante do projeto intitulado “Mulheres
rurais e o uso do tempo: divisão sexual do trabalho e as relações de
gênero no estado de Pernambuco” entre os anos 2017 e 2019. Membro
do Dadá: Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Relações de Gênero,
Sexualidade e Saúde (UFRPE/UAST). Atua principalmente nos seguintes
temas: divisão sexual do trabalho, mulheres rurais e gênero.

Ruth Helena Dweck


Graduada em Economia pela Universidade Federal do Pará (1970),
Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (1978) e Doutora em Política e Planejamento Econômico
pelo IE-UFRJ (1997). Iniciou sua carreira como professora de economia
no Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UFPA e Assessora da Pró-
reitoria de Planejamento UFPA, em 1971. Fundadora do Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos - UFPA. Ingressou na Universidade Federal
Fluminense - UFF como professora em 1975. Coordenadora do Curso
de Ciências Econômicas da UFF (1978-1984). Chefe do Departamento
de Economia UFF (1988-1990) e Diretora da Faculdade de Economia
da UFF 1998-2006. Membro do Comitê Editorial da Revista Econômica
da Pós-graduação de Economia da UFF (2001-2009). Membro do
Conselho Consultivo da Revista Transit Circle Revista Brasileira de
Estudos Americanos, desde 2003. Atualmente é Professora Associada

381
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

II Voluntária da UFF. Atua nas áreas de Economia do Setor Público e


Economia dos Serviços, tendo desenvolvido trabalhos sobre o papel do
Estado na Economia, tributação, federalismo fiscal, mercado de trabalho
e setor serviços, com destaque para os serviços de Higiene Pessoal.

Shana Sampaio Sieber


Graduada em Ciências Florestais pela UNESP/FCA (2006) e em Ciências
Sociais pela Universidade Paulista (UNIP, 2018), mestra em Ciências
Florestais pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2009) e
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande
(2016). Sua formação foi marcada pela interdisciplinaridade, atuando
nas seguintes áreas de conhecimento: agroecologia, etnobotânica e
etnoecologia, sociologia rural, convivência com o semiárido, educação
do campo, agricultura familiar, políticas públicas e relações de gênero.
Atua como pesquisadora do Dadá - Grupo de Pesquisa em Relações
de Gênero, Sexualidade e Saúde (UFRPE/UAST/CNPq), tendo como
referência a participação no Projeto “Mulheres rurais e o uso do tempo:
divisão sexual do trabalho e relações de gênero em Pernambuco” (2018-
2019). É pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos, Pesquisa
e Práticas Agroecológicas do Semiárido (NEPPAS) da UFRPE/UAST,
desenvolvendo projetos de pesquisa e extensão junto às agricultoras e
agricultores familiares. Atualmente atua como pesquisadora e bolsista
no Projeto “Tempo, custo e deslocamento: um estudo sobre o acesso
aos serviços de cadastramento e atualização de registros do Cadastro
Único no Nordeste brasileiro” (Chamada CNPq/Ministério da Cidadania
Nº 30/2019 - Estudos e Pesquisas em Avaliação de Políticas Sociais). É
mãe e tem duas filhas nascidas no sertão de Pernambuco (Flora e Cora)
durante o seu doutorado.

Simone Souza da Costa Silva


Possui graduação (1994) e mestrado (2001) em Psicologia pela
Universidade Federal do Pará, doutorado em Psicologia pela Universidade
de Brasília (2006) e pós-doutorado em Ciências da Reabilitação pela

382
A ARTE DE TECER O TEMPO – PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Universidade de Dortmund - Alemanha (2012). Durante o mestrado, in-


vestigou a relação mãe-criança na situação de banho, no doutorado am-
pliou seu foco e investigou a estrutura e dinâmica das relações familiares
em uma comunidade ribeirinha da Amazônia. Atualmente é professora
e diretora adjunta do Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento
(NTPC/UFPA) onde ocupa o cargo de Diretora Acadêmica da Unidade,
além de atuar no Programa de Teoria e Pesquisa do Comportamento
(PPGTPC). Além das atividades desenvolvidas no PPGTPC atua na fa-
culdade de psicologia e no Programa de Pós-Graduação em Segurança
Pública (PPGSP). Nos últimos anos desenvolveu pesquisas com famílias
ribeirinhas e coordenou grupo de pesquisa que investigou os impac-
tos gerados pelo Programa Bolsa Família (PBF). O interesse por famílias
excluídas socialmente como as ribeirinhas e pobres se ampliou com os
trabalhos sobre famílias de crianças com alteração de desenvolvimento.
Em termos gerais, seus principais temas de investigação são: desenvol-
vimento, família, alteração de desenvolvimento, estresse, relações pa-
rentais e co-parentais e resiliência familiar.

Simone Wajnman
Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de
Minas Gerais (1983), mestrado em Demografia pela Universidade Federal
de Minas Gerais (1989), doutorado em Demografia pela Universidade
Federal de Minas Gerais (1995) e estágio pós-doutoral na Universidade
de Princeton (2001-2). É Professora Titular do Departamento de
Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais. Já coordenou
o Programa de Pós-graduação em Demografia do CEDEPLAR/UFMG
e foi secretária e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos
Populacionais (ABEP). Foi representante da área de Demografia no
Comitê de Assessoramento de Ciências Sociais Aplicadas do CNPq até
junho de 2017. Foi editora da Revista Brasileira de Estudos de População
(REBEP) (2017 - 2019). Atua principalmente nos seguintes temas: análise
da dinâmica demográfica, demografia econômica, demografia da
família, e participação feminina no mercado de trabalho.

383
As organizadoras
eira de Melo
Este livro tece fios de tempos diver- Desvelar, reconhecer e conhecer o tra
Hildete Pereira de Melo
ma de sos:
Moraes
a trajetória feminista de estudos espaço doméstico tem sido um desafi
izadoras)
sobre trabalho e usos do tempo, seus e ações em torno do feminismo e dos
desdobramentos nas estatísticas ofi- Desta forma, mobilizar as categorias
ciais e, como linha mestra, as rotinas

cer o tempo
nhecer as relações de poder, e que, so
de mulheres rurais nordestinas e ri- tos de denúncia, de proposição de p
beirinhas amazônicas. Esta tessitura e econômicos que contribuam para
as nos mostra que o feminismo é extre- autonomia das mulheres, tem sido
mamente atual porque vem de longe. pesquisas. Divisão sexual do trabalho
Desde sempre as mulheres seguem trabalho pago e não pago, uso do tem
reinventando gestos cotidianos para Possuimobilizam
graduaçãoasCiências
mulheres Econômicas
pesquisadora
fazer valer o que realmente importa: pela lentes
Universidade Federal da Paraíba
de análises para os problemas d
sustentar a vida no círculo de famí- (1966), Curso de Especialização em De-
ação política dos movimentos e orga
senvolvimento Econômico pela Univer-
lias expandidas, em comunidades e OsToulouse
sité de textos aqui apresentados
(França), Mestrado trazem
em
intergerações. O tempo das mulheres desenvolvimento de
Engenharia de Produção pela pesquisas e obte
Universi-
tem sido utilizado como variável de dade rados
Federalpor
dogrupos
Rio de de pesquisadoras/es
Janeiro (1979) e
ajuste entre as contraditórias lógi- Doutorado
to comoem Economia,
Economia da Indústria Estat
Sociologia, e
cas e tempos do capital e as lógicas da Tecnologia pela Universidade Fede-
a necessidade do olhar complexo e
e tempos da vida. Olhar atentamen- ral do Rio de Janeiro (1993). Desde 1972
deste tema como prática fundamenta
é professora da Universidade Federal
te para a forma como as mulheres o livro faz uma importante homenagem
Fluminense.
organizam nos dá pistas para uma reconhecimento da contribuição de s
organização econômica, social e po- Lorena
tória dos Lima
estudosdedo
Moraes
uso do tempo, co
lítica que supere esta contradição e e feminista que contribui para um pro
expanda tempos de liberdade. da vida das mulheres no Brasil e no m

Miriam Nobre
Sempreviva Organização Feminista Universi

Possui graduação em Ciências Sociais


pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (2006), mestrado em Ciências
Sociais pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (2011) e doutorado em Ci-
ências Sociais pela Universidade do Esta-
do do Rio de Janeiro (2016). Desde 2013 é
professora da Universidade Federal Rural
de Pernambuco - Unidade Acadêmica de
Serra Talhada. Grupo de Pesqu
de Gênero Sex
UFRP

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