Cibele Rizek para Leer
Cibele Rizek para Leer
Cibele Rizek para Leer
PALAVRAS DO EDITOR........................................................................................................01
Silvana Maria Pintaudi
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................02
Gloria da Anunciação Alves
Cibele S.Rizek
Professora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de São Paulo
RESUMO
O texto faz um balanço de um conjunto de incursões de pesquisa nas fronteiras
urbanas, a leste da cidade de São Paulo e abarca resultados dessas incursões
que conformam aspectos relativos às formas de trabalho, aos programas e
políticas sociais, às políticas de cultura e seus impactos na vida e nas práticas
dessas populações. A permeabilidade do mundo do crime, a presença das
formas de operacionalização das políticas e programas, as várias parcerias que
conformam novas margens do estado embaralham categorias e exigem uma
reflexão a respeito da produção desse novo social, como resultado e não como
pressuposto desse conjunto de práticas vinculadas à produção das relações
sociais e do espaço urbano.
PALAVRAS CHAVE: periferia; pobreza; programas sociais; políticas sociais.
ABSTRACT
This paper takes stock of a series of research forays towards the urban frontiers
on the east side of the city of São Paulo. We include the results of these
incursions, which conform to aspects related to working methods, social
programs and policies, cultural policies and their impacts on the lives and
practices of these populations. The permeability of the world of crime, the
UM BALANÇO DE PESQUISA: 10 ANOS NA ZONA LESTE E UM SOCIAL RECONFIGURADO
1
Esse texto recupera algumas ideias desenvolvidas por Isabel Georges e por mim, a partir de um conjunto
de considerações metodológicas formuladas por um texto conjunto, preparado para o seminário final do
projeto ANR Les Suds II LATINASSIST “Gouverner les pauvres en Amérique latine: gérer les femmes par
l’assistance”, em fevereiro de 2014, Nogent-sur-Marne. Pode-se, ainda, encontrar algumas de suas
referências aqui mencionadas e reelaboradas no texto de Isabel Georges, « Informalidades do Estado e
dispositivos de ordenamento : uma abordagem territorial, setorial e comparativa », Comunicação no 38°
Encontro Anual da Anpocs em Caxambu, MG, em 2014, no GT 34 « Sobre Periferias” assim como em I.
Georges e Cibele S. Rizek, Práticas e dispositivos: Escalas, territórios e atores – Texto que comporá o
dossiê elaborado pelas autoras para a Revista Contemporânea – Programa de Sociologia da Universidade
Federal de São Carlos. Na consideração dos exemplos e resultados etnográficos, porém, encontram-se
achados provenientes de pesquisas já concluídas: « O Social e o Cultural entrelaçados » (CNPq B
Produtividade em Pesquisa 2011-2014); e a pesquisa proveniente do Edital MCidades n. 11/2012 « A MCMV-
entidades no estado de São Paulo. Abordagem etnográfica de casos selecionados », coordenada por C. S.
Rizek, com a participação de Caio S. de Carvalho, Camila Moreno Camargo, Andrea Q. Castro entre outros
pesquisadores.
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96
2
Note-se especialmente, o exemplo de uma importante ONG local, responsável pela implementação de
um conjunto de programas e políticas sociais que desconhecia inteiramente um grande empreendimento
vinculado ao Minha Casa Minha Vida entidades que estaria para ser implementado ao lado de uma de suas
subsedes.
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99
3
O mesmo se poderia dizer de alguns nichos de produção, moradia e comercialização do centro da cidade,
onde pululam oficinas de costura e seus trabalhadores, que frequentemente moram e trabalham em
situações-limite, elas também dificilmente passíveis de serem descritas como trabalho em domicílio. Na
verdade, pode-se afirmar que a categoria trabalho em domicílio não se aplica inteiramente a essas
situações, em especial as oficinas cujos trabalhadores são bolivianos indocumentados. Se o trabalho em
domicílio supunha atividades realizadas nos locais de residência dos trabalhadores, trata-se aqui do
contrário: esses trabalhadores habitam os locais onde trabalham (Rizek et al., 2014).
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4
Refiro-me ao que foi descrito em Georges, I. e Rizek, C. S. “A periferia dos direitos”, ANPOCS, Caxambu,
2008; idem, 2012; ou ainda em Rizek, C. S. “Trabalho, moradia e cidade Zonas de indiferenciação”? Revista
Brasileira e Ciências sociais – vol. 27, n. 78, 2012.
5
Há aqui uma questão de nomeação que não se pode deixar de assinalar. As palavras precariedade e
informalidade, entre outras, que apontavam para uma característica não regulada e vulnerável das
situações de trabalho, portanto para uma característica em negativo da inserção produtiva de camadas
populares parecem não dar mais conta da gigantesca diversidade e multiplicidade de situações que se
abrigavam sob essas denominações. Continuamos, entretanto, utilizando os mesmos termos, ainda que
reconheçamos sua insuficiência.
101
6
É possível, assim, remeter essas dimensões à contribuição de Antônio Machado da Silva (2014) sobre o
que estaria por traz da resiliência da categoria do informal, apesar do seu aparente esgotamento e de sua
transformação em continente de múltiplos conteúdos, ou, como aponta Machado, em categoria
“ônibus”.
7
Foram frequentes as menções dos trabalhadores à obrigatoriedade de participação dos supostos
membros dessa “cooperativa” nos atos e manifestações do PCdoB. Essa também era a filiação partidária
dos gerentes e promotores da iniciativa de “trabalho associado”. Ver Georges e Rizek, “À periferia do
direito: trabalho, precariedade e políticas públicas”, 2008 [2012]. Ver também Rizek, C. S. “Verde Amarelo
Azul e Branco” em Hegemonia às Avessas (Boitempo , São Paulo, 2010. Oliveira, F. Braga, R. e Rizek, C)
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8
Ver a esse respeito Rizek, C. S. , 2016. Faces do Lulismo: Cultura e Política na Periferia de São Paulo, no
prelo. No texto a autora se apropria a noção de invenção do social tal como foi formulada por Paulo
Arantes na entrevista concedida à Revista Caros Amigos, fevereiro de 2015.
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9
Menção ao título do livro Dispositivos Urbanos e Trama dos Viventes – ordens e resistências – Patrícia
Birman ET AL. FGV Editora, Rio de Janeiro, 2015.
104
Estado nas suas relações com programas sociais e com a população paulistana
dos bairros mais pobres, especialmente a leste da cidade. Alguns desses bairros
conformaram, assim, um território de experimentações dessas práticas cruzadas
para além das caracterizações clássicas das zonas periféricas das grandes
metrópoles (...). Talvez esses achados de pesquisa apontem para
conformações diversas, modelizações diversas de construção e gestão do
social, no âmbito das gestões lulistas e petistas e das gestões do conglomerado
de partidos nucleados pelo PSDB. Talvez se possa afirmar que estamos diante
de duas formas de invenção e gestão do social, embora com pontos de contato,
enovelamentos por vezes pouco passíveis de distinção”10 (Rizek, C. 2016, no
prelo).
10
Ver, a esse respeito, a entrevista de Paulo Arantes n. 215/2015 já mencionada. Depois de afirmar que o
PT e o petismo inventaram um social no Brasil, distinto dos processos sociais-democratas, afirma: “falta
mencionar, mas apenas mencionar, a terceira perna desse governo do Brasil que, em conjunto ou
sucessivamente, tucanismo e lulismo consolidaram. A redescoberta da política, como se viu, deixando
para trás como relíquia arcaica a política da luta de classes, em qualquer de suas duas versões antagônicas,
liberal e socialista, recebeu sangue novo também da reviravolta gestionária do mundo corporativo, que,
por seu turno também reinventou o social, mais exatamente a responsabilidade social, e tudo o mais que
daí se seguiu, anunciando que a política dos políticos era, mesmo, o que as pessoas pensavam, um lixo. E
tudo com muita participação da sociedade civil ativa e propositiva. Perversa ou não, deu-se uma
confluência inédita com o aparato estatal e adjacências, operando segundo a mesma lógica gerencial. Não
é que a reinvenção petista da política tenha sido anulada ou sequestrada, simplesmente seus futuros
parceiros se puseram em movimento ao se darem conta, também, de que seu público alvo se movera.
Juntando as três pernas dessa fórmula tripartite de governo do país, teremos, enfim, identificado, na sua
real natureza de tecnologia social de poder, o famigerado neoliberalismo. O PT foi um de seus inventores”.
Revista Caros Amigos, n. 215, pg. 28.
105
11
Esse conjunto de achados de pesquisa dizem respeito, especificamente, a bairros da Zona Leste da
Cidade de São Paulo, sobretudo em relação à privatização e gestão dos equipamentos de saúde. Os
achados iniciais de pesquisa, que forneceram as pistas para uma incursão mais aprofundada na questão,
provêm de anos de acompanhamento de atividades e práticas em Cidade Tiradentes – no extremo Leste
do município, que se pode caracterizar como um dos últimos bairros da cidade a se formar. Cidade
Tiradentes ficou conhecida como “o maior conjunto habitacional da América Latina”, tendo sido formada
a partir de remoções provenientes de obras e de intervenções por toda Cidade de São Paulo. Apesar de
inicialmente constituída por pequenos edifícios da COHAB, o bairro cresceu a partir de combinações entre
loteamentos e edifícios constituídos de forma regular, em pedaços de território ocupados irregularmente.
A presença de assentamentos regulares ao lado de outros pouco ou nada regulares e/ou regularizáveis –
favelas, habitações que se transformam em estabelecimentos comerciais, edifícios da COHAB, terrenos e
encostas, também ocupados irregularmente, acabou por configurar uma população de cerca de 215.000.
O bairro cresce mais do que a média dos bairros paulistanos e tem cerca de 72% de sua população
ganhando, em média, 2 salários mínimos mensais (cf
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/publicacoes/Boletim_CEInfo_
Censo_02.pdf (consultado em maio de 2012.) Ao lado de Cidade Tiradentes, Guaianases é um bairro
também constituído por populações de baixa renda e conta – somando-se a população de Lajeado com
cerca de 250.000 habitantes. Esses bairros estão a cerca de 35 Km do centro da cidade. Guaianases conta
com o serviço de trens da CPTM e Cidade Tiradentes, apenas com serviço de algumas linhas de ônibus,
reconhecidamente insuficientes para o transporte adequado da população. A partir de achados e
informações dispersas, seguindo pistas e indícios, foi possível perceber que grande parte dos
equipamentos e serviços de saúde das periferias paulistanas estão sendo geridas por contratos com
Organizações Sociais como se constatará adiante. A especificidade das OSs, identificadas no texto, está
assim no cruzamento entre as atividades de saúde e de cultura.
106
12
A gestão Haddad não pôde alterar significativamente os contratos de gestão privada dos serviços de
saúde da cidade.
13
Em visita ao Hospital de Itaquera em maio de 2011, um dos responsáveis pelo serviço de oncologia
pediátrica afirmou que a estratégia era a captação de recursos pelos grandes eventos culturais para a
manutenção do serviço de ponta no hospital. Essa pista deu origem ao mapeamento deste texto.
14
Ver Isabel Georges e Yumi Garcia dos Santos, A produção da “demanda”: viés institucional e implicações
políticas da terceirização do trabalho social, Comunicação na ANPOCS, Caxambu, 2011; e Georges e Santos,
2014.
107
O Programa Minha Casa Minha Vida foi apresentado como uma das
grandes realizações dos governos Lula e Dilma e marcou as cidades brasileiras
de forma indelével. No âmbito do programa foram contratadas, até o início de
2014, 3,4 milhões de unidades habitacionais, das quais 1,7 milhões foram
entregues. A pesquisa realizada sobre o programa teve como objeto a
modalidade “Entidades”, que atende a chamada faixa 1, composta por famílias
que recebem mensalmente até 1.600 reais. A produção dessa modalidade é
contratada, não por construtoras, mas por organizações populares,
associações, cooperativas, que compõem o universo de “entidades” que se
responsabilizam integralmente pela indicação das famílias e por todo o
processo de produção — da pesquisa do terreno à entrega das chaves,
passando pelo desenvolvimento e aprovações de projeto e execução das obras
civis. Trata-se, de um lado, de uma produção ínfima, em termos quantitativos,
se comparada com toda a produção do programa; de outro lado, a presença e
permanência dessa modalidade tem uma dimensão política paradigmática,
apoiando-se na tradição de políticas habitacionais autogestionárias,
envolvendo os mais representativos movimentos de luta por moradia e reforma
urbana do país16.
15
Essa confluência entre governos municipal e estadual foi um elemento importante para a captação e
investimento que parece se configurar o fato consumado no Estado de São Paulo, mas que se desenha
como tendência em outros estados e municípios do país, a julgar por algumas linhas de financiamento do
Ministério da Cultura, em especial as que vinculam Saúde e Cultura. Ver os editais Cultura e Saúde e Rede
Saúde e Cultura no sítio http://www.cultura.gov.br, consultado em 20 de outubro de 2012.
16
A pesquisa resultou de projeto submetido e aprovado em edital do Ministério das Cidades e do CNPq,
que envolveu, sob a coordenação de Cibele S. Rizek, pesquisadores ligados ao IAU (Instituto de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – campus São Carlos) e à assessoria técnica
Peabiru e que recortou as contratações e produção realizada pela modalidade “Entidades”, no estado de
108
109
Note-se, ainda, que esse processo permitiu (para não dizer induziu) a
reconversão de entidades de outros campos de atuação social (a AMOVA, por
exemplo, anteriormente dedicada à alfabetização de adultos) para o campo da
habitação social. Associações e movimentos seriam transformados em
máquinas de produção e/ou contratação de casas, de acordo com as lideranças
de um dos movimentos de moradia mais importantes. Por meio desses
110
111
112
DEFICIT E DEMANDA
113
de 21%, em 2007, para 13%, em 2012, ainda que a alta densidade das
unidades alugadas tenha se mantido em 6%. Cinco regiões metropolitanas em
diferentes localizações (Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,
Curitiba) mostraram um aumento do deficit habitacional, tanto em termos
absolutos, quanto em termos relativos resultantes do ônus excessivo com o
aluguel das moradias.
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117
“Meu marido foi morto – vou logo dizendo. Foi morto porque fazia
coisa errada. Eu tinha dois filhos e uns vinte e poucos anos quando ele foi
morto”. Esmeralda, participante de um grupo do PMCMV entidades – abril de
2014, quando apontou que sua alternativa de moradia e sustento foi mudar para
o quintal da casa dos sogros no extremo sul da cidade de São Paulo. Também
seria possível relatar a “consciência dos momentos de vacilo” ou mesmo cenas
do trabalho cotidiano dos agentes culturais nas atividades que se pautam pela
oposição: práticas culturais x mundo do crime17.
17
Ver Rizek, C. S. « Faces do lulismo: políticas de cultura e cotidiano na periferia de São Paulo », in André
Singer e Isabel Loureiro (coord.), Desigual e Combinado, Capitalismo e modernização periférica no Brasil.
Boitempo Editorial, no prelo.
118
dia do vale-coxinha ... quando a polícia chega pra cobrar a parte dela. Aí fica
assim meio complicado”.
18
Referência ao livro de mesmo nome, organizado pelas autoras e por Cabanes, R. e Telles, V. S. (2011).
119
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20
Ver a esse respeito Malogros educacionais de Maria Sylvia Carvalho Franco no Jornal O Estado de São
Paulo, 5 de abril de 2015. No artigo a autora retoma a discussão que vincula educação e
desenvolvimentismo. Comparando o que chama de “engrenagem cepalina” e o último sopro do
desenvolvimentismo do primeiro governo Dilma. O artigo aponta a fragilidade da relação entre
desenvolvimento e educação posta em marcha pelos governos do PT enfatizando a autonomia dos
estabelecimentos de ensino superior transformados em negócios lucrativos, por meio de processo de
concentração da propriedade que se expressou em fusões e aquisições. Assim, 1/3 dos contratos vão para
cursos de baixo custo (direito, enfermagem, administração, pedagogia, ciências humanas). Esses
processos podem ser vistos no horizonte das periferias urbanas da cidade de São Paulo em suas
modulações e alterações recentes, assim como na trajetória de agentes sociais e culturais, ONGS e OSs
que implementam programas e políticas e que estariam criando esse novo “social” por meio dos
mecanismos de “inclusão”.
121
21
Para a II Trupe de Choque, promover residências artísticas em bairros periféricos ou em locais como
hospitais psiquiátricos “significa abordar a exclusão e o isolamento provocados pela sociedade do
consumo, buscando (...) questionar (a) ... segregação e as distâncias físicas e simbólicas que ela é capaz
de impor”. Seus espetáculos contam com um processo de investigação que envolve Núcleos de Pesquisa
artística na sua sede, em equipamentos públicos, entre os quais os CEUs. Além deste objetivo, realizam-
se ensaios abertos e outras ações culturais que envolvem os projetos do grupo. Ver
http://www.teatropedia.com/wiki/II_Trupe_de_Choque consultado em 28 de agosto de 2014
123
22
A ONG tem como parceiros construtoras, bancos, grandes redes de varejo e de comunicação. Destacam-
se como programas: formação continuada de educadores, Primeiras Letras, Ritmo som e movimento,
Preparação para o Trabalho, Conexão Jovem, Brincadeiras que educam. Cf In
http://www.acomunitaria.org.br/ consultado em 28 de agosto de 2014
23
Ver entrevista de Paulo Arantes já mencionada.
124
24
Lilinana Segnini apontou um crescimento de profissionais dos espetáculos e das artes da ordem de 67%
entre 1992 e 2006. É possível perceber uma certa estratificação dessa precariedade entre profissionais das
artes e da cultura que fazem parte das camadas de alta e média renda dos agentes culturais e artistas que
se encontram nos estratos de mais baixa renda, habitando as periferias das cidades brasileiras.
125
25
Ver M. Foucault Em Defesa da Sociedade, Martins Fontes, São Paulo, 2002
126
26
Ver Lilinana Segnini que mencionou a obra Retrato do Artista enquanto trabalhador de Pierre Michel
Menger, Roma Editora, Lisboa, 2005. Esse autor constrói a ideia de que as artes e o trabalho artístico se
constituem como laboratório de flexibilização. Utilizo aqui a ideia de dispositivo mais do que a ideia de
laboratório. A respeito dessa noção ver G. Agamben, O que é o contemporâneo. Argos, Porto Alegre,
2009. Cabe ainda lembrar o vínculo entre produção cultural e artística e negócio. Veja-se ainda a ideia de
focalização das políticas culturais, expressão utilizada por C. R. Lara Guimarães, in Tendências das Políticas
Culturais em Tempos de Capitalismo Tardio. Universidade e Revista ano XXI n. 50. Brasília. Andes 2012.
127
27
Ver Entrevista Paulo Arantes já mencionada.
128
28
Em texto de qualificação, Guimarães afirma que a obtenção do financiamento por meio de projetos e
editais é frequentemente anterior ao encontro da “comunidade” com o qual será desenvolvido. Há
exceções e alguns projetos têm resultados muito interessantes do ponto de vista da visibilidade de
experiências e tradições vivas. Resta saber se essas experiências são a regra ou a exceção. In C. R. Lara
Guimarães – Entre o encantamento e a experiência vivida: uma tradução dos pontos de cultura em Belo
Horizonte (MG) 2010 – 2014
29
Dessa perspectiva cabe notar as dimensões postas a nu a partir do coletivo “Fora do Eixo”,
anteriormente hegemônico na Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo e presente no Ministério da
Cultura – gestão Juca Ferreira. Em entrevista recente na secretaria da Cultura da cidade de São Paulo, o
coordenador dos CEUs afirmou que esse coletivo e seu ideário fortemente vinculado ao empresariamento
da cultura e às “oportunidades de negócio” têm acesso pequeno aos grupos e coletivos de cultura da
zona Leste da Cidade de São Paulo. Ao que parece, onde há uma dimensão politizada, a hegemonia dessa
e de outras iniciativas têm menos alcance.
30
Com Gabriel Feltran, é possível utilizar a expressão “mundo do crime” como “ uma representação do
conjunto de relações sociais e discursivas que se estabelecem, prioritariamente no âmbito local, em torno
dos negócios ilícitos do narcotráfico, dos roubos, assaltos e furtos. (...) O “mundo do crime” é também
129
um ambiente de sociabilidade e o argumento é que ele tem se expandido para além dos praticantes de
atos ilícitos”. Feltran, Gabriel de S. in Trabalhadores e Bandidos categorias de nomeação, significados
políticos,www.neip.info/html/objects/_downloadblob.php?cod_blob=724 consultado em 15 de maio de
2014
31
Algumas falas apontam para essa normalização das experiências próximas ao “mundo do crime” tal
como aparecem em relatos sobre a viuvez precoce de uma participante de um grupo do PMCMV
entidades (abril de 2014) ou nas perguntas de uma agente de saúde que percebeu que estávamos sendo
fotografadas e filmadas. “É que hoje é sexta- feira à tarde. É dia do vale coxinha ... quando a polícia chega
pra cobrar a parte dela”... (dezembro de 2012). Em atividade de campo em setembro de 2013, com
bolsistas e estudantes, passamos pelo centro de Cidade Tiradentes, quando ouvimos, em tom pouco
amigável: “porque vocês estão filmando? Estão filmando nós!” Desligamos a câmera, guardamos os
equipamentos e seguimos nosso percurso.
130
32
« O Cadastro Único é um banco de dados que foi criado para o Governo Federal possa saber melhor
quem são e como vivem as famílias brasileiras mais pobres. (...) No Cadastro Único temos dados sobre
renda, tipo de moradia, escolaridade, idade e outros. O cadastro deve ser atualizado a cada dois anos ou
sempre que houver uma mudança na situação da sua família. Podem ser cadastradas as famílias (...) que
ganham até meio salário mínimo mensal por pessoa; ou que ganham até 3 salários mínimos de renda total
por mês”. A inscrição é condição para os benefícios dos programas como o Bolsa Família, a Tarifa Social
de Energia Elétrica e o Telefone Popular, entre outros. In
131
http://www.servicos.gov.br/repositorioServico/cadastro-unico-para-programas-sociais-do-governo-
federal-cadastro-unico
33
Ver Paoli, M. C. – O mundo do indistinto in Oliveira, F. e Rizek, C. S. (orgs) A Era da Indeterminação.
Boitempo, São Paulo, 2007
34
Cf. Paoli, op. cit, p. 228: “Operou-se uma passagem que abandona a estruturação clássica baseada em
classes sociais distintas, antagonicamente relacionadas, para uma classificação cujo recorte é montado
por critérios de renda, faixa etária, pertencimento étnico, de gênero, patamar educacional e inserção no
mercado de trabalho – e (...)cada um destes critérios torna-se um grupo social, para quem não apenas é
132
dirigida uma programação específica, ‘adequada’ à sua nova inserção limitada no mundo – programações
uniformes e específicos para jovens, crianças, velhos, mulheres, (...)Todo esse arranjo fere de frente a
capacidade política dessas pessoas, fechando as possibilidades de interação múltipla, ou seja, como
mostra (...) Rancière (...), ‘a supressão da aparência do povo e de sua diferença a si: (...) o fato de cada um
estar em seu lugar, de fazer ali sua própria atividade e ter a opinião idêntica e de fazer ali o que há para
fazer ali’. Confirma também (...) os achados foucaultianos sobre o que chamou de “a tecnologia política
dos indivíduos” e a assustadora sobreposição da contagem estatística com a vida real da sociedade”.
35
Cf. Natália Melo L'inclusion et la formation de ses limites: une étude de l'assistance aux sans domicile fixe,
apresentado no Seminário do Projeto Latinassist em Nogent sur Marne, - fevereiro de 2014
36
Ver a esse respeito Sanfelici, D. M - A metrópole no ritmo das finanças: implicações socioespaciais da
expansão imobiliária no Brasil Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Geografia da FFLCH – USP, 2013. Em análise do setor da construção civil no Brasil, demonstra-se que a
lucratividade a partir de 2007 resulta de um processo de investimentos no chamado “setor econômico”
combinado com a abertura dos capitais nas bolsas de valores. Ver ainda Lucia Shimbo, Habitação social
de Mercado. A confluência entre Estado, empresas construtoras e capital financeiro, Belo Horizonte, Ed.
C/Arte, 2012.
133
37
Dessa perspectiva cabe ressaltar que os velhoas binaridades, entre as quais a clivagem entre trabalho
formal e informal não parecem mais ter potência descritiva para dar conta das novas formas de inserção
produtiva, inclusive as resultantes dos programas de estímulo ao empreendedorismo.
38
Ver D´Andrea, T. op. cit. Também é possível mencionar a análise de Marcia P. Leite que aponta uma
“gestão diferencial dos territórios” aplicada às formas de ativação de populações das diferentes favelas
do Rio de Janeiro, De "territórios da pobreza" a "territórios de negócios": dispositivos de gestão das favelas
cariocas em contexto de "pacificação - ANPOCS, Águas de Lindóia, 2013
39
A menção a Thompson indica uma referência de impacto nas ciências humanas no Brasil dos anos
setenta.
40
Ver, a esse respeito, Laval, C. e Dardot, P. La nueva razón del mondo, Gedisa Editorial, Barcelona, 2013.
Os autores sustentam que o neoliberalismo é não apenas ideologia ou política econômica, mas uma
racionalidade que tende a estruturar e organizar a ação dos governantes assim como a conduta dos
governados. Seriam suas características a generalização da competição como norma de conduta e da
empresa como modelo de subjetivação”. O neoliberalismo é a razão do capitalismo contemporâneo, um
capitalismo sem o lastro de suas referências arcaizantes e plenamente assumido como (...) norma geral
da vida. O neoliberalismo pode ser definido como o conjunto dos discursos, práticas e dispositivos que
134
determinam um novo modo de governo dos homens (...)” O conceito de ‘racionalidade política’ elaborado
por Foucault estaria então na base dessas considerações. Uma racionalidade política é pois (...) uma
racionalidade governamental” p. 15
41
Ver Revue Tiersmonde, março de 2013, Lautier, B. Gouvernement Morale des Pauvres et dépolitisation des
politiques publiques en Amérique Latine.
42
Depoimento de uma liderança de entidade participante do PMCMV- modalidade entidades.
135
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BIBLIOGRAFIA
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