Armamento e Tiro Guardas Municipais
Armamento e Tiro Guardas Municipais
Armamento e Tiro Guardas Municipais
O uso de arma de fogo pelas Guardas Municipais é fundamental, seja por atender à demanda
emergente da autoproteção do agente público investido da função, seja porque é um requisito
na defesa dos integrantes da sociedade que ela protege. O crescimento da criminalidade
organizada e violenta no País reforça essas premissas.
Assim, os esforços dos gestores públicos devem ser direcionados para o emprego adequado
do armamento, a começar por uma capacitação efetiva, com emprego de meios tecnológicos
atuais, reciclagem anual, normas de engajamento claras e repetidamente instruídas, a fim de
permitir o uso da arma de forma racional e responsável.
1. GUARDA MUNICIPAL ARMADA
Para deliberar sobre esta decisão, o Chefe do Executivo Municipal deve considerar os
seguintes aspectos:
a. o grau de risco que a cidade oferece para as operações da Guarda Civil Municipal. Nessa
análise pode ser considerada, por exemplo, a taxa de criminalidade oficial ou mesmo uma súbita
mudança de cenário, devido ao movimento da mancha criminal. Comparando com um EPI,
mesmo numa obra pronta, como uma hidrelétrica já operando, todos, inclusive os visitantes,
são obrigados a usar capacete, ainda que não haja risco de queda de nada sobre as cabeças da
comitiva. O motivo é a atitude preventiva, a mesma que pode conduzir à decisão em tela.
b. custos econômicos para armar e capacitar a Guarda Municipal, o que é recomendável que
seja levantado durante o Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica, apresentado neste
volume;
c. existência de guarnição Policial Militar no município, haja vista esta ser armada. Neste
caso, há opção de a Guarda ser armada com material complementar, com armamento menos
letal ou com equipamento letal de menor poder ofensivo. Esse estudo é fundamental para a
integração tática das forças locais, além de evitar incidentes ou acidentes.
2. LEGALIDADE
O arcabouço jurídico atual autoriza as Guardas Municipais a portarem armamento.
Considerando que essa iniciativa é relativamente recente, essa questão legal deve ser analisada
sob a ótica da Superintendência da Polícia Federal do estado. Em face disso, é fundamental para
o Prefeito conhecer e atualizar-se sobre o cenário no qual se encontra, se mais ou menos
regulado e por quem.
As instituições que interferem nesta decisão são: o Exército Brasileiro, a Polícia Federal
(PF) e a SENASP, sendo a PF a de maior interesse, por conta do cadastramento no SINARM.
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Em resumo, a Guarda pode comprar as armas de uso não restrito, informando seu efetivo e
a quantidade de armas a serem adquiridas ao Exército. A Polícia Federal exige outros quesitos,
o que deve ser levantado na respectiva Superintendência Regional. Para a SENASP, interessa
o atendimento ao contido na Matriz Curricular, sem adaptações.
Por fim, a legalidade fica respaldada quando obedecidos os ditames legais e conduzida por
capacitação para armamento e tiro efetiva.
3. CONTEXTO LEGAL PARA O PORTE DE ARMA DE FOGO
A presença das guardas municipais no ordenamento jurídico brasileiro, bem como a sua
essencialidade ao dever estatal de segurança pública, é incontroverso.
Sob a perspectiva constitucional, as guardas municipais encontram seu fundamento de
validade no art. 144, § 8º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. O referido
dispositivo constitucional permite aos Municípios, no exercício de sua competência político-
administrativa (art. 18, CRFB/88), a constituição de guardas municipais destinadas à proteção
de seus bens, serviços e instalações.
As normas gerais para as guardas municipais foram estabelecidas pela Lei nº 13.022/2014,
conhecida como Estatuto Geral das Guardas Municipais, buscando fortalecê-las como
instituição de caráter civil, uniformizadas e armadas para o desempenho da função de proteção
municipal preventiva, orientadas pelos princípios de proteção dos direitos humanos
fundamentais, do exercício da cidadania e das liberdades públicas.
Considerando a importância e o papel desempenhado pelas guardas municipais, buscando
refletir a realidade dos diversos municípios brasileiros que possuem guardas municipais
constituídas, a Lei nº 13.675/2018 expressamente as reconheceu como integrantes operacionais
do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) – art. 9º, VII – que tem a finalidade de
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
O dever de zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e
conservar o patrimônio público tem alicerce constitucional, sendo uma competência comum da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 23, I, CRFB/88). Depreende-se,
portanto, que a segurança pública deve ser compreendida como um interesse que perpassa o
pacto federativo, constituindo-se em axioma a ser tratado pelos entes federativos no âmbito de
sua autonomia política. Logo, respeitadas as competências da União, dos Estados e do Distrito
Federal, o tema deve ser tratado, do mesmo modo, como assunto de interesse local do
Município.
Nesse sentido, sob o fundamento da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CRFB/88), os
Guardas Municipais, no desempenho de suas funções constitucionais e legais, ainda que dentro
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de seus limites territoriais, exercem atividade essencial de zelo, garantia e preservação do
patrimônio público e da população municipais, de modo a contribuir diretamente para a
manutenção da ordem e segurança públicas.
Outrossim, por força de lei, foi reconhecido, aos sistemas municipais de segurança pública,
a responsabilidade de implementação dos respectivos programas, ações e projetos de segurança
pública, com liberdade de organização e funcionamento (art. 9º, § 4º, da Lei nº 13.675/2018).
Em alinhamento à natureza da atividade desempenhada pelo guarda municipal, a Lei nº
10.826/2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, permitiu o porte de armas (art. 6º,
III e IV) aos integrantes das guardas municipais, observados os requisitos legais. A permissão
para aquisição e porte de armas deve ser entendida como meio necessário ao cumprimento do
dever legal de preservação da vida e do patrimônio, bem como elemento imperativo para a
autoproteção do guarda municipal e de terceiros, independente da extensão da população ou do
Município.
Os critérios legais para a concessão do porte de armas devem atender aos princípios
constitucionais, dentre eles, os da isonomia, da proporcionalidade, da razoabilidade, sem
distinções imponderadas e requisitos subjetivos.
Desse modo, o Estado deve assegurar os meios indispensáveis, eficientes e isonômicos,
formais e materiais, aos integrantes das Guardas Municipais, na qualidade de integrantes
operacionais do SUSP, ou seja, de efetivos executores da segurança pública, para o desempenho
de suas funções constitucionais e legais, cujo objetivo maior é o bem comum, a defesa dos
indivíduos e das instituições amparados no Estado Democrático de Direito.
Em resumo, armar-se é isonômico, proporcional, razoável e não subjetivo. Para proteger, o
Guarda precisa proteger-se.
4. CALIBRE E ARMAS DE USO RESTRITO.
Ao se optar pela aquisição de armas de fogo de uso restrito, o Comando do Exército -
Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados - deve ser consultado, a fim de se obter a
autorização.
Para ter conhecimento dos calibres permitidos ou não, basta consultar as portarias do
Exército que regulam essas aquisições, as quais, normalmente, não se alteram durante longos
períodos.
Vale destacar que os cuidados com esse tipo de armamento são maiores do que os com
uso permitido: guarda, emprego, manutenção, treinamento, peças de reposição, etc.
5. TREINAMENTO DOS GUARDAS MUNICIPAIS.
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Treinamento e capacitação são fatores primordiais para o desenvolvimento da atividade
fim das Guardas.
Especificamente, quanto à habilitação dos Guardas para portarem arma de fogo, deve-
se basear em técnicas de ensino de tiro com a finalidade de capacitá-lo a utilizar a arma de fogo
para preservar sua própria vida e a de terceiros.
A instrução de tiro deve ser dividida em teoria e prática, segundo o previsto na Matriz
Curricular, priorizando-se a parte prática, quando serão ensinados os fundamentos, as posições
de tiro, cadência de tiro, prática em ambiente simulado, virtual ou não, e, por fim, realizar um
modelo em que o profissional sinta-se em um ambiente real, a exemplo do “Método Giraldi” 3.
Por fim, sugere-se que, ao retorno de período mais longo, sem o uso de armas, como
férias, dispensas médicas, cursos, dentre outros, uma pequena instrução seja realizada, a título
de readaptação, ainda que não realize o tiro real, de forma a permitir ao Guarda maior segurança
para a retomada de suas atividades.
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Método Giraldi consiste em um conjunto de técnicas e normas, criado por Nilson Giraldi, utilizado pelos Policiais
do Estado de São Paulo desde 1998. Esse método ajudou na diminuição de mortes de policiais, desde sua
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