Os Templários e o Islão
Os Templários e o Islão
Os Templários e o Islão
Uma das acusações de maior peso no processo contra os Templários, sem dúvida, terá
sido a das sua relações próximas com o Islão, que mais que heresia religiosa era
politicamente um imperdoável pecado capital para o imperialismo de Roma. Por isto, mais
que as controversas acusações de bruxaria e sodomia, foi esta acusação claramente
política quem mais pesou na abolição assassina da Ordem do Templo. O papado e os reis,
seus vassalos, não podiam permitir que houvesse intimidades com o agareno, alegando o
risco desse atraiçoar quaisquer tratos e contratos com os cristãos e vir a perder-se os
territórios e suas riquezas duramente conquistados na Terra Santa, e mesmo na Europa
Ocidental. De maneira que, receoso e só tendo a calúnia para se defender e sobretudo
ofender, o eclesiástico romano considerava inadmissível em toda a linha que um bom
cristão pudesse conviver com um perro infiel.
A fonte original dessa acusação dos Templários terem se tornado mais islâmicos que
cristãos, assim atraiçoando e até renegando a Fé católica que os legitimava e o seu chefe
supremo, o Papa, foi Frederico II Hohenstaufen (1194-1250). Ele fora educado em sua
menor idade pelos Templários (que repetiram a experiência com Jaime I de Aragão e Dinis
I de Portugal), por cujos documentos sobreviventes desse tempo fica demonstrado que o
pretendiam utilizar para fins de natureza sinárquica. Porém, já desde 1210 o rei e futuro
imperador encaminhava por sua conta e risco esse ideal, mal compreendido e pior
realizado, através de uma política expansionista por força das armas, o que lhe acarretou a
inimizade do Templo e a hostilidade do Papado – Gregório IX excomungou-o de 1227 a
1229, e Inocêncio IV fez o mesmo em 1245.
Em 1229 Frederico II coroou-se rei de Jerusalém, após ter negociado com os muçulmanos
sunitas do Egipto a rendição e entrega incondicional da Cidade Santa, em prejuízo do
espírito messiânico de conquista que havia inspirado as anteriores expedições de cruzados
e completamente à margem da legalidade pontifícia. Nunca obteve o reconhecimento
como rei de Jerusalém por parte dos Templários e nem tampouco do sultão do Egipto, que
aqueles deverão ter auxiliado secretamente a surpreender e a vencer no campo de
batalha o autonomeado rei de Jerusalém, na realidade, um rei-fantoche possuído do título
mas não do reconhecimento oficial tanto do Papado como do Califado. Ficou-lhe o ódio e
o desejo de vingança, a qual viria a consumar pela acusação da Ordem do Templo
conspirar com o Islão, na Terra Santa, contra a Cristandade. Todos sabiam que Frederico II
sempre fora péssimo cristão e excelente oportunista político, mas Filipe, o Belo, e
Clemente V necessitavam de mais esse conspirador de peso, mesmo que o detestassem
pessoalmente, no seu processo contra o Templo[1].
Durante o julgamento em Paris dos cavaleiros da Ordem Templária, foi invocado contra
eles o episódio daquele guerreiro cristão franco recém-chegado a Jerusalém que os
Templários repreenderam por ter molestado um árabe durante a sua oração, episódio que
fora narrado em primeira mão pelo próprio molestado, o príncipe Usama ibn Munqidh,
embaixador do sultão de Damasco cerca de 1175, considerado um amigo do Templo:
“Quando estava em Jerusalém – escreveu Usama – costumava ir à mesquita Al-Aqsa, a
Cúpula da Rochedo, ao lado da qual há um pequeno oratório que os francos converteram
em igreja. Sempre que entrava nela, que estava em poder dos Templários que eram meus
amigos, eles colocavam o pequeno oratório à minha disposição, para que eu pudesse rezar
lá as minhas orações. Um dia, tinha entrado e dito o Allahu akkbar e preparava-me para
me levantar quando um franco se atirou a mim pelas costas, levantou-me e virou-me para
que eu ficasse voltado para oriente. ‘É assim que se reza!’, disse. Alguns Templários
intervieram imediatamente, agarraram o homem e afastaram-no do meu caminho. Mas
assim que o deixaram ele agarrou-me de novo, obrigou-me a virar para o oriente e repetiu
que era assim que se rezava. De novo os Templários intervieram e levaram-no. Pediram-
me desculpa e explicaram: ‘É um estrangeiro que só chegou hoje e nunca viu ninguém orar
para qualquer outra direcção que não fosse para oriente’. ‘Terminei as minhas preces’,
respondi e saí estupefacto com o fanático.”
A acusação de amizades e até filiação encapotada ao Islão é ainda mais apertada quando
se aponta a indesmentível simpatia dos Templários pelo Xiismo ismaelita, mormente as
suas relações com esses “assassinos” fumadores inveterados de “haxixe” (invenção
oitocentista que pegou universalmente, diga-se de passagem), ou seja, aqueles da Ordem
dos Assacis (no singular árabe, assa, “guardião”) ou Ashashins (no plural
árabe, hashîshiyya, “ervanários”, ordinariamente “assassinos”; e “ervanários” certamente
com o duplo sentido do que seriam: “médicos” e “vegetarianos”), a sua pressuposta “irmã
gémea”, fundada no Cairo em 1090 e terminada em 1271.
É facto provado que a Ordem do Templo sempre privilegiou mais o Xiismo, mais
místico e aberto, que o Sunismo. Como diz Bernard Marillier[3], “uma coisa é
certa: a Ordem dos Assacis desenvolve-se à medida das conquistas cristãs e da
implementação das fortalezas templárias, o que não foi obra do acaso, mas devia
corresponder a um movimento paralelo, de ordem material e sobretudo espiritual
ou supra-espiritual tendo por objectivo a realização de um “grande desejo”
ligado a dados precisos provenientes da Tradição Primordial. De resto, é provável
que o Templo tenha compreendido toda a vantagem que poderia tirar de uma
aliança com os Assacis, primeiro contra os príncipes cristãos que se opunham ao
seu poder no Oriente, donde o assassinato pelos Assacis do filho de Raymond de
Tripoli, hostil ao Templo, aliança comum contra o príncipe de Antioquia – pela
qual os Templários foram censurados pelo Papa Gregório IX em 1236 –, a seguir,
na luta contra o seu inimigo comum, o Sunismo, por razões certamente
diferentes: razões doutrinais para os Assacis, razões políticas e diplomáticas para
o Templo: tratava-se, para este, de enfraquecer a corrente maioritária do Islão,
logo, de afastar quanto possível a ameaça sobre o Oriente cristão mas também
sob o seu próprio projecto de domínio da Terra Santa. […] Estas relações eram
reforçadas pelos múltiplos laços que o Templo tecia pela via das relações
económicas e financeiras e, como já vimos, por uma intensa actividade
diplomática visando criar um espaço político e religioso cristão coerente, ou seja,
um vasto conjunto unificado supra-espiritual. Estabeleceu numerosos tratados e
acordos com os poderes muçulmanos e foi muitas vezes solicitado por estes como
garante dos tratados assinados entre eles e os cristãos porque, como escrevia o
cronista Aboul Faradj, os Templários eram “considerados como homens puros,
incapazes de faltar à sua palavra”. Recordemos que foi graças aos conselhos do
Mestre Robert de Craon e graças à sua amizade com o sultão de Damasco que o
rei de Jerusalém, Foulques IV d’Anjou, conseguiu estabelecer uma aliança contra
o sultão de Bagdad. […] Sublinhemos enfim outras estranhas semelhanças entre
as duas Ordens: um mesmo período de duração no tempo, uma prática iniciática
quase idêntica – onde só os nomes mudam, não o fundo – devido ao facto de que
ambas se ligam a uma tradição implicando uma iniciação cavaleiresca da mesma
natureza e a unicidade do sagrado que, para além das suas manifestações
contingentes, permanece análogo no tempo e no espaço, e enfim uma destruição
súbita perpetrada pelos poderes instituídos, os Mongóis e o sultão do Egipto
Baibar para os Assacis em 1271, o rei de França Filipe IV o Belo e o Papa
Clemente V para os Templários em 1312″.
“No ano 969 os ismaelitas alcançam o poder através da dinastia fatimida, que
governará no Egipto durante mais de dois séculos. Isto colocará um grave
problema, já que o delineado básico da sua religião não estava concebido para
converter-se num culto aberto, oficial e exotérico (externo), e ainda menos para
que fosse susceptível de chegar a todas as camadas da sociedade muçulmana.
“Esta corrente ismaelita sofrerá ainda mais uma cisão, no ano 1094, pouco antes
da chegada dos cruzados ao Oriente, quando os sucessores do califa fatimida Al
Mustansis (c. 1038-1094) se enfrentavam pelo poder. Surgem assim os Nizâristas,
partidários de Nizâr, um dos filhos do califa fatimida. Muitos dos seguidores do
Iman Nizâr acharam refúgio na fortaleza de Alamût, nas montanhas do Irão. Deste
grupo de Nizâristas se constituiu a seita conhecida no Ocidente como a dos
Assassinos.
Essa «heresia» política, sobretudo, foi colada pelos acusadores à outra «heresia»
religiosa: a dos Templários não terem nas suas igrejas a imagem de Cristo
cravado na Cruz, e mesmo esta ser alvo de pouca devoção. Já disse noutra parte
que os cavaleiros-monges adoravam sobretudo o Cristo Ressuscitado, simbólico
do Espírito vencedor da carne, esta representada na Cruz expressora da Matéria e
do Homem nela incarnado, pelo que este representava a personalidade temporal
da Individualidade intemporal que não era Jesus Homem mas o próprio Cristo
Deus, a cujo Advento consignaram toda a sua Obra que nisto, aqui sim, foi
verdadeiramente Teúrgica. Os mesmos presumidos Estatutos Secretos o
confirmam: “Porque o Filho de Maria e José foi santo, livre de todo o pecado e
crucificado, nós veneramo-Lo em Deus; mas a madeira da cruz consideramo-la
como o sinal do animal de que fala o Apocalipse”. – 1.ª parte, artigo 20.
A primeira parte não é mais do que a Regra primitiva da Ordem, copiada à mão
por um tal Mathieu de Tramlay “no dia de São Félix do ano 1205”, e com
aditamentos do mesmo. Conserva-se em Roma, na Biblioteca Corsini.
Finalmente a quarta parte, que Münter intitulou: “Aqui começa a lista dos sinais
secretos que o Mestre Roncelinus reuniu”, dando avultadas indicações
criptográficas.
O bispo Münter não iria ficar muito tempo na posse desses documentos. Numa
carta escrita ao seu amigo Wilke, que preparava uma História dos Templários,
revelou que a maior parte deles desapareceram da sua posse sem saber como. Foi
somente em 1877 que o sábio alemão Mertzdorff, que era maçom, publicou as
três últimas partes do manuscrito pressupostamente descoberto pelo supracitado
bispo luterano Münter (que era também maçom, segundo Aldo Bonfiglio[9]), ao
ter a sorte de os encontrar em Hamburgo num rolo dos arquivos privados da Loja
maçónica dessa cidade a quem haviam sido oferecidos por um tal dr. Buck[10].
Apesar do óbvio sentido malévolo que os inquisidores lhe incutiram, a lenda não
deixa de igualmente sugerir o entendimento dúplice que os Templários tinham da
sua Ordem: desde o mais imediato e exotérico, público, rendendo graças ao Papa
e a Deus, ao mais transcendente e esotérico, restrito, prestando obediência ao
Mestre e ao Diabo, isto é, à Sabedoria Diáblica ou Iniciática que, nem por isso,
deixa de ser igualmente Divina, até mesmo mais comparativamente ao
entendimento simples ou popular. Um e outro entendimentos estavam
interligados, pois não raro quem se ligava a uma Religião aprofundava o seu
conhecimento por igual filiação a uma Ordem. Esses dois cavaleiros chamavam-se
Hugues de Payens e Geoffroy de Saint-Omer, aquele “convertido” por este. E
ambos acabaram “convertendo” os seus sete companheiros fundadores originais
da Milícia, um deles Arnoldo ou Arnaldo[12].
O moçárabe, nome aliás escrito na forma plural, aparece pela primeira vez no
foral que Afonso VI concedeu (1101) à cidade de Toledo, onde o monarca refere
os súbditos quos vulgo mozarabes vocitant, de onde se infere que o nome carecia
de uso nas instituições culturais e jurídicas[16].
Essa relação mística com o mar e a navegação nele, tanto por cristãos como por
islâmicos, tão-só traduz o movimento do Espírito Santo por sobre as Águas
Primordiais da Criação. Niffari, um asceta do Islão do século X que morreu no
Egipto, deixaria escrito no seu tratado A Revelação do Mar[22]: “Deus me
ordenou que contemplasse o mar, e eu vi os navios […]. Eles [os navegadores] se
movem porque Deus os faz mover-se, e as suas palavras são as palavras de Deus
que deslizam sobre as suas línguas, e a sua visão é a visão de Deus que entrou em
seus olhos”.
A verdade é que essa “Pedra de Roseta” viajou por toda a Cristandade e as cinco
letras do SATOR acabaram sendo interpretadas, pelos eclesiásticos da Igreja
Copta, como representativas dos cinco cravos da Cruz de Cristo. Foi assim que a
lenda levou a grafar na capela do “caçador” Santo Eustáquio, em Bréscia, que os
pastores que foram adorar o Salvador recém-nascido chamavam-
se Sator, Arepo e Teneton.
Ao ser posto em cruz esse quadrado encerra a palavra TENET (“movimento”), que
será a chave do criptograma como imagem codificada de Deus, em volta da qual
todas as coisas se fazem e desfazem numa perfeita repartição, numa perfeita
igualdade.
Também já disse que o Templo manteve relações estreitas com várias sociedades
filosóficas e corporativas existentes nessas partes orientais: tanto colégios
cristãos de Bizâncio ou independentes de foro anacorético, como corporações
muçulmanas ou tarucs, florescidas do século IX em diante com o
Movimento Karmate ou Ismaelita, do qual sairiam em 1090 os Assacis. Foi pela
adaptação do modelo de uns e outros que os Templários do reino de Jerusalém
constituíram comunidades de construtores, posteriormente propagadas na Europa
ocidental com o acréscimo, devido à influência de Cluni e de Cister, do lígure-
celticismo, adicionando-se depois a cultura judaica.
Foi nesse sentido que o mais arábigo dos cristãos, Raimundo Lúlio, ao ver a
Cristandade perder inteiramente o Médio Oriente em 1287 propôs a Filipe, o
Belo, uma Cruzada de Conversão à Terra Santa, onde Templários e Hospitalários
estivessem juntos e nessa união houvesse um só Grão-Mestre, com o título
de Bellator Rex, “Rei Guerreiro”, decalque do Piscatoris Rex, o “Rei Pescador”
da lenda do Parzivalincarnado por Cristo nos já citados milagres das
multiplicações dos pães e dos peixes. O plano desenvolvido por Lúlio, publicado
em 1305 no seu Liber de Fine, após ter visitado Chipre em 1302, não teve
seguimento, para tristeza do seu amigo Jacques Borguemundus de Molay. À obra
de Lúlio o rei contrapusera um outro livro, DeRecuperatione Terrae Sanctae – “Da
Recuperação da Terra Santa”. Tinha sido escrito por Pedro de Bois, membro não
oficial do formidável grupo de advogados de Filipe e colega de Nogaret, o
advogado principal do rei francês, e escondia a verdadeira intenção, sob a capa
de uma pretensa Cruzada, da hegemonia universal dos Capetos a que pertencia
Filipe. Tal não deve ter passado despercebido a de Molay, quiçá vendo nisso a
tentativa de substituir uma dinastia sagrada por essa outra completamente
profana cuja intenção era o domínio imperialista do mundo conhecido, pois quem
possuísse a Terra Santa possuiria o mundo, pelo que de imediato o Grão-Mestre
desaprovou as pretensões do monarca francês e o projecto dessa Cruzada foi
arquivado.
Também os Assacis pouco menos tempo duraram que os Templários. Em seu lugar
ficaram os Sufis, místicos islâmicos de natureza idêntica aos Rosa+Cruzes com os
quais mantiveram ligações próximas de cultura e espiritualidade, notórias no
período Henriquino, tudo isso levando-me às seguintes correntes sucessórias das
originais Milícias do Ocidente e do Oriente:
O Sufismo é anterior ao Movimento Assaci, pois data dos meados do século VIII,
tendo influenciado inteiramente a religiosidade do segundo. Os sufis cobriam-se
com um manto de lã de maneira igual aos anacoretas cristãos, só nisso sendo
iguais, pois que como pregadores eram completamente opostos à via ascética
ou azuhd, primando pelo convívio doutrinal com todas as castas do Islão.
Praticavam o dhikr, a repetição de palavras ou sentenças corânicas em louvor
de Allah, e postulavam três votos universais: faqr (pobreza
absoluta), twakkul (entrega confiante a Deus) e tauh’îd (união com Deus). No seu
caminho para Deus, o sufi passa por diversos estados místicos (ah’wâl) e estações
de entendimento (maqâmât). A união com Deus é fruto da Sabedoria de Deus
(ma’rifa).
O saber arábigo presente na cultura hispânica e na Ordem do Templo
Quantos e quais serão esses Nomes Divinos de cada um dos quais, diz Ibne Arabi,
depende o Mundo? Mahometh afirmou que “Deus possui noventa e nove Nomes,
ou seja, cem menos um; aquele que os conhecer entrará no Paraíso”, e a
autoridade do Profeta é tão grande que basta para afirmar a importância do
conhecimento e da meditação sobre cada um dos Nomes Divinos.
Há duas versões, uma de Tirmiddhi e outra de Ibn Majda, e como apresentam
algumas diferenças irei apresentar a ambas para se poder, no momento, pelo
menos ter uma ideia do mistério transcendente que se oculta sob os véus deste
simbolismo sem dúvida promanado de um outro “Canto dos Cantos” ou “Ode ao
Som” (Odissonai)[29].
O número 99 tem, aliás, um valor profundamente místico, principalmente quando
se atenta no facto de ser um múltiplo de 11 que é um dos números-chaves na
interpretação dos Mistérios Celestes. O próprio Dante, que recebeu o influxo
esotérico das correntes Sufi e Xiita ou Livre do Islão, veio a dividir a Divina
Comédia em 99 cantos, 33 para cada uma das suas três partes: “Inferno”,
“Purgatório” e “Paraíso”. É verdade que a divina obra de Dante possui ainda um
centésimo canto que geralmente é incluído na primeira parte, e que deveria ser
antes uma espécie de introdução geral ao poema[30]. Mas também alguns
místicos do Islão afirmam que se poderia acrescentar um centésimo à lista dos 99
Nomes Divinos: o de Allah. Os mais sábios, no entanto, referem-se vagamente a
esse último Nome, não o designando por termo algum e dizendo apenas que ele
é al ism el ‘a’z’am, “o maior dos Nomes”, Nome desconhecido dos homens.
Isso vem concordar com o que afirmam todas as tradições a respeito de alguma
coisa que depois de certa época se ocultou aos homens, ou foi por eles perdida:
o Haoma dos persas, o Soma dos hindus, o Santo Graal do cristianismo celta, ou
então, o que mais recorda a tradição islâmica, o Grande Nome Divino dos judeus,
cuja pronúncia foi esquecida e a que se refere a Maçonaria moderna no
simbolismo da “Palavra Perdida” equivalente do “Silêncio Sacerdotal”.
Essa concordância das tradições religiosas não revela um plágio, como poderão
pensar alguns imbuídos do cepticismo moderno, mas a sua unidade
transcendente, unidade paradisíaca provinda de uma única Tradição Primordial
da qual só participam os que compreenderam e harmonizaram em si mesmos os
99+1 Nomes de Deus.
Assim, para terminar, a Rosa floresce na Cruz tal qual a Luz de Deus na Alma do
Místico.
NOTAS
[10] Gérard de Séde, Os Templários estão entre nós, pág. 134. Edições Estúdios
Cor, S.A.R.L., Lisboa, 1974.