384-Texto Do Artigo-1440-1-10-20160716
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1. Professor de História do Colégio de Aplicação (CAP) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Mestrando em
Educação.
Recebido: 13/10/2015; Aceito 11/12/2015, *[email protected]
RESUMO
O presente artigo descreve o período histórico denominado Revolução Acreana, abordando acontecimentos
históricos que vão dede os primeiros acordos entre Portugal e Espanha até a assinatura definitiva, entre Brasil
e Bolívia, que finalizou a querela internacional entre as duas nações sul-americanas e tornou o Acre um
território definitivamente brasileiro. Os escritos, as leis e os mapas internacionais deixavam evidente que a
região acreana, área rica em Hevea brasiliensis e denominada Aquiry pelos seus primeiros habitantes,
pertencia inicialmente à Espanha, levando em consideração os efeitos do Tratado de Tordesilhas; depois à
Bolívia, pela validade do Tratado de Ayacucho e, após o período de uma guerra com muitos interesses
econômicos envolvidos, passa a pertencer ao Brasil, através da assinatura do Tratado de Petrópolis.
Palavras-chave: Acre. Revolução Acreana. Gálvez. Barão do Rio Branco. Tratado de Petrópolis.
ABSTRACT
This article describes the historical period known as Acre Revolution, addressing historical events that go
dede the first agreements between Portugal and Spain until the final signature between Brazil and Bolivia,
which concluded the international dispute between the two South American nations and made Acre a definite
Brazil. The writings, laws and international maps left clear that the Acre region, rich in Brasilia Hevea and
called Aquiry by its first inhabitants, originally belonged to Spain, taking into account the effects of the Treaty
of Tordesillas; then to Bolivia, the validity of the Treaty of Ayacucho, and after the period of war with many
economic interests involved, shall belong to Brazil, by signing the Treaty of Petropolis.
Keywords: Acre. Revolution Acre. Gálvez. Baron of Rio Branco. Treaty of Petrópolis.
"Veio-me à mente a ideia de que a pátria brasileira Posteriormente, em 7 de agosto de 1902, reunidos em
Xapuri, na “Casa dos Srs Falk & Vieira”,
se ia desmembrar, pois a meu ver, aquilo não era reproclamava-se a independência do Acre, embora de
fato ela já tivesse sido reproclamada no dia seguinte à
mais do que um caminho que os Estados Unidos deposição de D. Juan de Rios Barreto, Intendente de
Xapuri, em 6 de agosto, data em que se comemora a
abriam para futuros planos, forçando desde então a independência da Bolívia [9].
lhes franquear a navegação dos nossos rios,
inclusive o Acre. Qualquer resistência por parte do Após a derrota na primeira insurreição os
Brasil ensejaria aos poderosos Estados Unidos o bolivianos iniciaram as estratégias de defesa:
emprego da força e a nossa desgraça em breve vieram dois contingentes de soldados de La Paz,
estaria consumada. Guardei apressadamente a comandados por coronéis bolivianos; D. Lino
bússola de Casella, de que me estava servindo, Romero, delegado boliviano em Puerto Alonso,
abandonei as balisas e demais utensílios e saí no montou seu exército para lutar contra os
mesmo dia (23 de junho de 1902) para as margens revolucionários brasileiros. Descendo os rios após
do Acre" [13]. a tomada de Xapuri, Plácido buscava alcançar o
O governo do Amazonas viu em Plácido de Volta do Seringal Empresa (atual Rio Branco), mas
Castro a pessoa indicada para comandar a guerra em 17 de setembro de 1902, o exército insurgente
de expulsão dos bolivianos; em Manaus, Plácido foi atacado de surpresa pelas tropas do coronel
foi convidado e contratado para comandar a guerra; boliviano Rozendo Rojas; a maioria dos homens de
Plácido recebeu a patente de coronel, homens, Plácido morreu e ele teve que recuar,
armas, alimentos, transportes e rumou para o Acre, reorganizando seu exército no Seringal Bagaço
onde passou a treinar seringueiros para os [11].
combates. Menos de um mês após a derrota, Plácido
de Castro bem melhor preparado, ataca o exército
boliviano na Volta do Seringal Empresa, Quando a notícia da expulsão dos
derrotando o exército de Rojas. Essa vitória deu bolivianos chegou em La Paz, o presidente Pando,
grande ânimo à Plácido e ao exército de montou forte exército para reaver seu território. O
seringueiros, até por que agora só ficava faltando o exército do general já marchava rumo ao Acre
último reduto boliviano no Acre: Puerto Alonso. quando entra na guerra a diplomacia brasileira.
Antes do ataque à Puerto Alonso, Plácido José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do
ainda atacou comunidades bolivianas como Santa Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores do
Rosa e Costa Rica no final do ano de 1902. O Brasil, buscou meios pacíficos de resolver a
objetivo era defender territórios já tomados dos querela, buscando evitar mais derramamento de
ataques de indígenas bolivianos que atuavam sob o sangue.
comando de seringalistas bolivianos. O Barão do Rio Branco já havia se
A última operação do exército de envolvido na Questão do Acre no episódio do
seringueiros comandados pelo Coronel Plácido de Bolivian Syndicate, pois foi ele quem conseguiu
Castro iniciou em 15 de janeiro de 1903. A tomada através da diplomacia (e do pagamento em libras
de Puerto Alonso deu-se em nove dias. D. Lino esterlinas) o fim do contrato.
Romero já havia aconselhado o presidente Agora, Rio Branco objetivava mostrar para
boliviano, General Manuel Pando, para que este a Bolívia que o melhor caminho para resolver os
abrisse mão do Acre, negociando essas terras com conflitos era aceitar negociar o Acre com o Brasil.
o Brasil. O conselho foi uma forma de D. Lino Apesar das ações diplomáticas, Rio Branco
admitir que não tinha como enfrentar as tropas de também pressionou militarmente Pando, pois
Plácido. Assim, em 24 de janeiro de 1903, depois ordenou que tropas federais do Mato Grosso e do
de 9 dias de ataques, Romero assinou a Carta de Amazonas se deslocassem para o Acre, não para
Rendição da Bolívia. Os remanescentes dos uma luta armada, mas para mostrar à Bolívia que o
destacamentos bolivianos (Dom Lino e seus Brasil não iria abrir mão da região acreana.
soldados) entregaram-se, sendo levados para Sem alternativa, a Bolívia aceitou assinar o
Manaus e de lá voltaram para seu país. Três dias tratado que concedia o Acre ao Brasil. O Tratado
depois, em 27 de janeiro de 1903, foi proclamada a de Petrópolis, assinado na cidade de Petrópolis, no
Terceira República do Acre [11, 12]. Rio de Janeiro, em 17 de novembro de 1903, pôs
fim aos conflitos entre brasileiros e bolivianos e
Da reproclamação até a tomada de Puerto Acre, sede oficializou, baseando-se no princípio do uti
da Delegacia Nacional, em 24 de janeiro de 1903,
sucederam-se os combates, em que tantos os possidetis, que o Acre pertencia ao Brasil [14].
brasileiros quanto os bolivianos deram demonstração
de destemor, de heroísmo. E paralelamente aos O presidente do Brasil era Rodrigues Alves
combates militares, ocorria a intensa troca de
correspondência entre D. Lino Romero e o
e o da Bolívia era José Manuel Pando. Assinou o
Comandante-em-Chefe das Forças Revolucionárias, contrato os ministros brasileiros Barão do rio
Plácido de Castro [11].
Branco e Assis Brasil e os ministros bolivianos Em 1904 foi formalizado o Acordo de Paz
Fernando Guachala e Cláudio Pinilha. (12/07) entre Brasil e Peru, onde se formou
O contrato firmado entre as duas nações comissões demarcatórias com representantes dos
definiu que o Brasil indenizaria a Bolívia com 2 dois lados para traçar os limites entre os países na
milhões de libras esterlinas (equivalente a 32 região do Juruá e em 8 de setembro de 1909
milhões de réis); entregaria em permuta certas formalizou-se o Tratado Brasil/Peru, onde o Peru
áreas da fronteira do Mato Grosso que, no total, deixava a região acreana e o Brasil entregava ao
perfaziam 3.164 km; construiriam uma estrada-de- Peru em troca da retirada cerca de 40.000 km².
ferro, a Madeira-Mamoré, numa extensão de 400 Findava-se assim, os conflitos na região acreana e
km, para permitir uma saída da Bolívia para o estabelecia-se de uma vez por todas as fronteiras
oceano Atlântico, e em troca a Bolívia entregaria entre as três nações [5] .
ao Brasil a região do Acre, um território de
190.000 km². 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
conflitos, pois quando os peruanos chegaram nessa principalmente, na época, a indústria pneumática.
região brasileiros já haviam abertos vários Brasil, Bolívia e Peru tinham interesses na