Da Dimensao Ambiental À Ecologizaçao Dos Direitos Humanos - Aportes Jurisprudenciais
Da Dimensao Ambiental À Ecologizaçao Dos Direitos Humanos - Aportes Jurisprudenciais
Da Dimensao Ambiental À Ecologizaçao Dos Direitos Humanos - Aportes Jurisprudenciais
6.1 Introdução
A análise sobre o processo de ecologização dos direitos humanos se in-
sere no contexto da obra e de sua reflexão sobre a ecologização do próprio
direito. Parte-se de premissas801 necessárias à compreensão da falsa dicotomia
entre direitos humanos e direito ambiental e a necessidade de reconectar estes
dois sistemas jurídicos a partir do paradigma da justiça ecológica802.
A primeira é a incapacidade dos sistemas jurídicos, e em especial do sis-
tema jurídico-ambiental803 para enfrentar a complexidade e urgência da crise
ecológica. Esta tarefa requer abarcar a multiplicidade de elementos que in-
fluenciam esta crise a partir de uma visão holística e de interconexões. Exi-
ge redimensionar o espaço-tempo dos conflitos (globais, intergeracionais) e
801 As premissas se inspiram nos resultados do Workshop sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente
do Instituto Internacional de Sociologia do Direito de Oñati (2012). GRANT, E.; KOTZÉ, L.J.;
MORROW, K. Human Rights and the Environment: In Search of a New Relationship. Synergies
and Common Themes, Oñati Socio-Legal Series, vol. 3, n. 5, p. 953-965.
802 Adota-se a compreensão de justiça ecológica desenvolvida por DAROS, L. F. no capítulo 2 sobre o tema.
803 Adota-se uma perspectiva sistêmica do direito ambiental para estabelecer sua relação e comunicação
com outros sistemas jurídicos e com seu entorno. É um subsistema social, de caráter axiológico-
teleológico, organizado em torno de princípios estruturantes e com características de ordenação e
unidade. É marcado pela incompletude, modificabilidade e flexibilidade. Não é um sistema aberto,
apresentando traços característicos dos sistemas autopoiéticos, especialmente quanto a sua relação
com o entorno e a possibilidade de influência de fatores externos. Apresenta quatro momentos:
legislativo, judicial, executivo e científico. É sensível à complexidade e às “perturbações” do entorno,
tendo como uma entrada destas informações ao sistema o seu momento judicial. As influências
externas podem alterar o sistema, adequando-o às transformações do entorno, ao mesmo tempo
em que o sistema também influencia a conformação do entorno e de outros sistemas jurídicos
pelas informações juridicizadas que produz. Ver: CAVEDON, F. S. Justicia Ambiental y creación
jurisprudencial del derecho: las aportaciones de la Corte Europea de Derechos Humanos. Alicante:
Universidade de Alicante, 2009. (Tese doutoral).
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
804 Sobre a jurisprudência ecológica ou “Earth Jurisprudence”, ver: BURDON, P. D. The Earth
Community and Ecological Jurisprudence, Oñati Socio-Legal Series, Vol. 3, N. 5, 2013, pp. 815-837.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
805 Neste sentido ver: UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS.
Analytical study on the relationship between human rights and the environment – Report of the
United Nations High Commissioner for Human Rights. 2011. (UN Doc. A/HRC/19/34).
806 UNITED NATIONS. Human rights and climate change – Resolution Human Rights Council. 2018
(A/HRC/38/L.5).
807 UNFCCC. Paris Agreement. 2015. “Acknowledgingthat climate change is a common concern of
humankind, Parties should, when taking action to address climate change, respect, promote and
consider their respective obligations on human rights, the right to health, the rights of indigenous
peoples, local communities, migrants, children, persons with disabilities and people in vulnerable
situations and the right to development, as well as gender equality, empowerment of women and
intergenerational equity” (Preâmbulo). Grifo nosso.
808 Por exemplo, a utilização do princípio da precaução pela Corte Europeia de Direitos Humanos
no caso Tătar c. Romênia (2009), dispondo que a ausência de certeza, considerando-se os
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
conhecimentos científicos e técnicos atuais, não justifica que o Estado retarde a adoção de medidas
efetivas e proporcionais de proteção ambiental.
809 CIDH. Medio Ambiente y Derechos Humanos – Opinión Consultiva OC-23/17 de 15 de novembro de
2017 Solicitada pela República da Colômbia
810 Idem, parágrafo 55.
811 A titulo ilustrativo, o reconhecimento de violação ao artigo 6, § 1 da Convenção Europeia de Direitos
Humanos (direito a um processo equitativo), em casos de ausência de cumprimento de decisão
judicial favorável ao meio ambiente, como no caso Bursa Barosu Başkanlığı e outros c. Turquia
(2018) eKirtatos c. Grécia (2003) relativo a decisões do Conselho de Estado anulando autorização
para construir em zona úmida sem execução.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
812 Sobre o direito de acesso à informação ambiental ver, por exemplo na Corte Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH): Povo Saramaka c. Suriname (2007) e Claude Reyes c. Chile (2006) e
na Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH) o caso Guerra c. Itália (1998). Em matéria de
liberdade de expressão, as decisões da CEDH: Steel et Morris c. Reino-Unido (2005); Mamère c.
França (2006); Vides Aizsardzibas Klub c. Letônia (2004). Quanto ao direito de participação, na
CIDH os casos Povo Saramaka c. Suriname (2007) e Povos Kalina e Lokono (2015). E sobre o direito
de associação na CEDH o caso Costel Popa c. Romênia (2016).
813 UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Framework Principles on Human Rights and
the Environment: The main human rights obligations relating to the enjoyment of a safe, clean,
healthy and sustainable environment. Report of the Special Rapporteur on Human Rights and the
Environment. (A/HRC/37/59). 2018. p. 6.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
814 UNEP. Environmental Rule of Law – First Global Report. Nairobi : United Nations Environmental
Programme, 2019.
815 Uma análise detalhada do relatório do PNUMA no contexto do Estado de Direito Ecológico pode
ser encontrada no capítulo de LEITE, J. R. M. e SILVEIRA, P. G.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
816 UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Harmony with Nature – Note by the Secretary-
General. 2016. (A/71/266). §§ 42-43.
817 UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Harmony with Nature – Report of the Secretary-
General. 2014. (A/69/322). § 57.
818 Ver o capítulo de LEITE, J. R. M. e SILVEIRA, P. G. sobre a ecologização do Estado de Direito
para uma crítica dos limites do direito ambiental e necessidade de mudança de paradigma para um
direito ecológico. Os autores traçam um paralelo entre o direito tradicional e o direito ecológico a
partir dos seus elementos centrais.
819 KOTZÉ, L. J. ; KIM, R. E. Earth system law: The juridical dimensions of earth system governance.
Earth System Governance Journal,v.1, 2019, pp. 1-11.
820 KOTZÉ e KIM estabelecem um comparativo entre o Direito Ambiental, o Direito Ecológico e o
Direito do Sistema Terra, considerando que o primeiro é centrado nos seres humanos (human-
centred), o segundo na natureza (nature-centred) e o terceiro na Terra em sua integralidade (Earth-
centred). Idem.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
821 A exemplo dos recentes casos envolvendo direitos humanos e mudança climática apresentados aos
órgãos de controle da aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos da ONU: Torres
Strait Islanders c. Austrália (2019) no Comité de Direitos Humanos e Chiara Sacci e outros c.
Argentina, Brasil, França, Alemanha e Turquia (2019) no Comitê dos Direitos da Criança.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
822 Sobre a governança ecológica ver, por exemplo: WOOLLEY, O. Ecological Governance: Reappraising
Law’s Role in Protecting Ecosystem Functionality. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
JENNINGS, B. Ecological Governance: Toward a New Social Contract with the Earth. Morgantown:
West Virginia University Press, 2016. Pesquisas e produção bibliográfica têm sido realizadas sobre
a governança do Sistema Terra. O Earth System Governance Project é referência, constituindo-se
em uma rede de pesquisa de ciências sociais na área da governança e mudanças ambientais globais.
Para mais informações ver : <https://www.earthsystemgovernance.org>. Um direito adaptado à esta
nova percepção de governança, designado como Direito do Sistema Terra, abordado no item 1.2.1.é
proposto por KOTZÉ, L. J. e KIM, R.Op. cit.
823 WESTON, B. H.; BOLLIER, D. Green Governance: ecological survival, human rights and the law of
the commons. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2013.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
824 Para Weston e Bollier as razões pelas quais os direitos humanos geram empoderamento, que
corroboram a sua contribuição na reconstrução dos sistemas e discursos jurídicos seriam: i)
representam valores fundamentais de uma ordem jurídica e moral superior, sua violação gera
uma condenação moral; ii) contribuem para uma melhor distribuição de poder, especialmente
quando vítimas se opõem a grandes poderes políticos ou econômicos, como é o caso dos conflitos
decorrentes da crise ecológica; iii) geram fundamentos legais para expressão e ação política, porque
implicam uma força moral maior do que as obrigações legais comuns; iv) permitem o acesso a
instituições internacionais dedicada à sua promoção e reivindicação; v) o discurso e a estratégia
dos direitos humanos encorajam iniciativas para o alcance das necessidades básicas, incluindo um
ambiente saudável. Idem, pp. 95-97.
825 UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Harmony with Nature – Report of the Secretary
General. 2016. (A/71/266). Livre tradução da autora. § 15 “15. In order to forge a balanced and healthy
relationship between human activity and the Earth, there is an urgent need for society to replace the
current anthropocentric worldview with a holistic system of governance, in which humanity plays
a different role in how it perceives and interacts with the natural world. In this new role, humanity
would accept the reality that its well-being is derived from the well-being of the Earth and that living
in harmony with nature is a necessary means to sustaining human well-being and human rights. »
826 Sobre o reconhecimento normativo dos direitos da natureza ver o capítulo de BERROS, M. V. e no
que se refere ao seu reconhecimento jurisprudencial o capítulo de FERNSTEISEIFER, T. e SARLET,
I. W. Também o capítulo de autoria de AYALA, P. A. traz informações referentes à natureza na
jurisprudência comparada.
827 Para mais informações ver: < http://www.harmonywithnatureun.org>.
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832 CLAVERO, Bartolomé. Derechos humanos y derechos de la Madre Tierra. América Latina en
Movimiento, 17 de maio de 2010 (publicação eletrônica). Disponível em: <https://www.alainet.org/
es/active/38216>. Acesso em: 21 jul. 2018. Livre tradução da autora, do original “(...) los derechos de
la Madre Tierra pueden ser el motivo y la pieza que faltan para la fundamentación definitiva de los
derechos verdaderamente humanos.”
833 GALEANO, E. Los Derechos Humanos y los Derechos de la Naturaleza son dos nombres de la
misma dignidad. Página 12, Argentina, 19 de abril de 2010. Disponível em: <https://www.pagina12.
com.ar/diario/contratapa/13-144146-2010-04-19.html>. Acesso em: 21 jul. 2018.
834 Na mitologia grega, a Fênix é uma ave lendária, capaz de renascer de suas próprias cinzas e
atravessar gerações, dotada de força incomum que lhe permitia carregar em suas asas um grande
peso. Representa a capacidade de resiliência e de transformação, de renascimento e imortalidade.
835 CEDH, Tyrer c. Reino Unido (1978).
836 CEDH, Airey c. Irlanda (1979).
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
837 KOTZÉ, L. J. Human Rights and the Environment in the Anthropocene. The Anthropocene Review,
v. 1, n. 3, 2014, p. 20. “(...) while human rights do not and cannot provide all the answers to the
challenges of the Anthropocene, they do offer a familiar means to society to commence with
an ontological revisioning that would allow for interventions through which to mediate more
effectively the human–environment interface. This would, however, require some re-imagining of
human rights themselves in the environmental context, and more specifically, in the new reality of
the Anthropocene”. Livre tradução da autora.
838 HEY, H. The Universal Declaration of Human Rights in “The Anthropocene”. AJIL Unbound, v. 112,
2018, pp. 350-354.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
842 Sobre a litigância climática no Sul Global e o argumento dos direitos humanos, ver: PEEL, J.; LIN,
J. Transnational Climate Litigation: The Contribution of the Global South. American Journal of
International Law, v. 113, n. 4, 2019, p. 679-726. SETZER, J.; BENJAMIN, L. Climate Litigation in the
Global South: Constraints and Innovations. Transnational Environmental Law, v. 9, n. 1, 2020, p. 77-101.
843 Sobre o argumento dos direitos humanos na litigância climática, ver: PEEL, J. ; OSOFSKY, H. M. A
Rights Turn in Climate Change Litigation ? Transnational Environmental Law, v. 7, n. 1, 2017, p. 37-
67. SAVAREZI, A.; AUZ, J. Climate Change Litigation and Human Rights: Pushing the Boundaries,
Climate Law, v. 9, n. 3, 2019. p. 244-262.
844 Leghari c. Pakistão, WP No. 25501/2015, Suprema Corte de Lahore, Set. 4, 2015. Disponível em:
<http://climatecasechart.com/non-us-case/ashgar-leghari-v-federation-of-pakistan/>. Acesso em:
17 de agosto de 2020.Maiores informações sobre sua importância para o argumento dos direitos
humanos na litigância climática do Sul Global em: BARRITT, E.; SEDITI, B. The Symbolic Value
of Leghari v Federation of Pakistan: Climate Change Adjudication in the Global South. King’s Law
Journal – Environmental Justice in the Anthropocene, v. 30, n. 2, 2019, p. 203-210.
845 Urgenda c.Holanda, Caso n. 200.178.245/01, Corte de Apelação de Haia, Oct. 9, 2018 e Caso n.
19/00135, Suprema Corte da Holanda, Dez. 20, 2020. Disponíveis em: <https://www.urgenda.nl/
en/themas/climate-case/>. Acesso em: 17 de agosto de 2020. Para maiores detalhes sobre o caso ver:
LEIJTEN, I. Human Rights v. Insufficient climate action: the Urgenda case, Netherland Quarterly
of Human Rights, v. 37, n. 2, 2019, p. 112-118. BACKES, C. W.; VAN DER VEEN, G. A. Urgenda: the
Final Judgement of the Dutch Supreme Court. Journal for European Environmental & Planning Law,
v. 17, n. 3, 2020, p. 307-321.
846 Generaciones Futuras v. Minambiente, Caso n. STC4360-2018, Corte Suprema de Justiça, Abr. 5, 2018.
Disponível em: <http://blogs2.law.columbia.edu/climate-change-litigation/wp-content/uploads/
sites/16/non-us-case-documents/2018/20180405_11001-22-03-000-2018-00319-00_decision.pdf>.
Acesso em: 17 de agosto de 2020. Para maiores detalhes sobre o caso ver:ALVARADO, P. A. A.;
RIVAS-RAMÍRES, D. A Milestone in Environmental and Future Generations’ Rights Protection:
Recent Legal Developments Before the Colombian Supreme Court. Journal of Environmental Law,
v. 30, n. 3, 2018, p. 519-526.
847 A Climate Change Litigation Database do Sabin Center for Climate Change Law indica 36 casos
de litigância climática fundados em direitos humanos, decididos ou pendentes de decisão, com
exceção dos Estados Unidos, que podem ser consultados em : <http://climatecasechart.com>.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
848 RODRÍGUEZ-GARAVITO, C. Human Rights : the Global South’s Route to Climate Litigation.
AJIL Unbound, v. 114, 2020, p. 40-44.
849 PEEL, J.; LIN, J. 2020. Op. cit.
850 Greenpeace Southeast Asia (Philippines), Philippine Rural Reconstruction Movement, Sentro
Ng Mga Nagkakaisa at Progresibong Manggagawa, Dakila, Philippine Alliance of Human Rights
Advocates, hilippine Human Rights Information Center, Mother Earth Foundation, Ecowaste
Coalition, 350.ORG East Asia, Nagkakaisang Ugnayan Ng Mga Magsasaka at Manggagawa As
Niyugan, Asian Peoples’ Movement on Debt & Development, Alliance of Youth Organisations and
Students-Bicol, Philippine Movement for Climate Justice, Nuclear Free Bataan Movement, Von
Hernandez, Fr. Edwin Gariguez, Naderev “Yeb” Saño, Amado Guerrero Saño, Juan Manuel “Kokoi”
Baldo, Lidy Nacpil, Benjamin Aceron, Elma Reyes, Laidy Remando, Richard Lopez, Constancia
Lopez, Lerissa Libao, Gloria Cadiz, Tarcila M. Lerum, Roy N. Basto e Veronica V. Cabe.
851 Os documentos referentes ao caso estão disponíveis em:<https://www.greenpeace.org/philippines/
press/1237/the-climate-change-and-human-rights-petition/>. A Comissão de Direitos Humanos
das Filipinas também forneceinformações sobre o inquéritonacional sobre mudança climática em :
<www.chr.gov.ph/nicc-2/.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
852 Ioane Teitiota c. Nova Zelândia, comunicação n. 2728/2016, Comitê de Direitos Humanos da ONU,
Jan. 7, 2020. Disponível em: <https://tbinternet.ohchr.org/_layouts/15/treatybodyexternal/Download.
aspx?symbolno=CCPR/C/127/D/2728/2016&Lang=en>. Acesso em: 17 de agosto de 2020.
853 Torres Strait Islanders c. Austrália, Comitê de Direitos Humanos da ONU, Maio 13, 2019. Ver:
<https://www.clientearth.org/press/climate-threatened-torres-strait-islanders-bring-human-
rights-claim-against-australia/>.
854 Chiara Sacchi e outros c. Argentina, Brasil, França, Alemanha e Turquia, Comitê para os Direitos
da Criança da ONU, Set. 23, 2019. Disponível em: <https://childrenvsclimatecrisis.org/wp-content/
uploads/2019/09/2019.09.23-CRC-communication-Sacchi-et-al-v.-Argentina-et-al.pdf>. Acesso
em: 17 de agosto de 2020.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
858 Informações sobre o caso podem ser encontradas na página da Global Legal Action Network, que
está apoiando os peticionários:<https://www.glanlaw.org>. Até o presente momento o caso não
figura no repositório de casos recebidos pela Corte EDH.
859 CORTE IDH. Caso Comunidades Indígenas Membros da Associação Lhaka Honhat (Nuestra Tierra)
c. Argentina. Fundo, Reparações e Custas. Sentença de 6 de fevereiro de 2020. Série C N. 400.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
rio de 2019 sobre o clima seguro865, conclui que este é um dos seis elementos
substantivos do direito ao meio ambiente, informado pelos compromissos que
decorrem da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Cli-
ma, que engaja os Estados a prevenir a interferência antropogênica perigosa
no sistema climático. O relatório reconhece que os Estados têm a obrigação de
não violar e de proteger o direito a um clima seguro. O descumprimento dos
compromissos climáticos internacionais configura uma violação prima facie
das obrigações estatais de direitos humanos.
No contexto da litigância climática, identifica-se o argumento do direito
a um sistema climático seguro como condição para a realização dos demais
direitos das gerações presentes e futuras. Mesmo se alguns casos não obtive-
ram sucesso ou seguem pendentes de decisão, o recurso a este direito repre-
senta um passo importante para a discussão quanto ao seu conteúdo, funda-
mentos e proteção. A título de exemplo, no caso Juliana v. Estados Unidos da
América866 , que discutiu a violação do direito a um sistema climático capaz de
sustentar a vida humana, a Juíza Distrital Ann Aiken afirmou não ter dúvidas
de que este é um direito fundamental867.
O caso Notre Affaire à Tous e Outros c. França (L’affaire du siècle)868, ba-
seia-se no argumento de um princípio jurídico geral que fundamenta o direito
de toda pessoa de viver em um sistema climático preservado. Este princípio,
mesmo não sendo expressamente reconhecido, resulta da consciência jurídica
865 UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Report of the Special Rapporteur on the issue of human
rights obligations relating to the enjoyment of a safe, clean, healthy and sustainable environment -
Safe Climate. 2019 ( A/74/161).
866 O caso foi julgado improcedente no Tribunal de Apelação do Nono Circuito dos Estados Unidos em
17 de janeiro de 2020. Ver UNITED STATES COURT OF APPEALS FOR THE NINTH CIRCUIT.
Case n. 18-36082. D.C. n. 6:15-CV-01517-AA. Disponível em: <http://blogs2.law.columbia.
edu/climate-change-litigation/wp-content/uploads/sites/16/case-documents/2020/20200117_
docket-18-36082_opinion.pdf>. Acesso em: 17 de agosto de 2020.
867 UNITED STATES DISTRICT COURT FOR THE DISTRICT OF OREGON EUGENE DIVISION.
Opinion and Order Case n. 6:15-cv-01517-TC. Disponível em:<http://blogs2.law.columbia.edu/
climate-change-litigation/wp-content/uploads/sites/16/case-documents/2016/20161110_docket-
615-cv-1517_opinion-and-order-2.pdf>. Acesso em: 17 de agosto de 2020.
868 Notre Affaire à Tous c. França, Tribunal Administrativo de Paris, Dez. 17, 2018, pendente de decisão.
Ver Brief on the legal request submitted to the Administrative Court of Paris on 14 march 2019.
Disponível em: <https://notreaffaireatous.org/wp-content/uploads/2019/05/Brief-juridique-ADS-
EN-1.pdf>. Acesso em: 17 de agosto de 2020.
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869 Maria Khan e outros. c. Paquistão e outros, Corte Suprema de Lahore, Fev. 14, 2019. Disponível em:
<http://blogs2.law.columbia.edu/climate-change-litigation/wp-content/uploads/sites/16/non-us-case-
documents/2019/20190214_No.-8960-of-2019_application.pdf>. Acesso em: 17 de agosto de 2020.
870 Asghar Leghari c. Paquistão. Op. cit.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
qual não podem ser dissociados; iv) superação de limites de titularidade, tem-
po e espaço, estendendo-se às coletividades, às futuras gerações e abarcando
questões globais para além dos limites de poder e de território; v) desenvolvi-
mento de um sistema de direitos humanos e da natureza, baseado na noção de
uma dignidade ampla e ecologizada.
Pode-se considerar que as duas primeiras etapas foram consolidadas
(com alguns limites no que se refere ao reconhecimento do direito humano
ao meio ambiente) e as demais estão avançando significativamente. A terceira
fase está em vias de consolidação, seja pelas manifestações do sistema de direi-
tos humanos da ONU ou por elementos extraídos da jurisprudência da Corte
IDH sobre povos indígenas e a indissociabilidade entre sua cultura, modos de
vida e existência e o seu entorno natural. A quarta fase conta com o reforço de
casos recentes de litigância climática871quanto à dimensão intergeracional, as-
sim como a transposição do paradigma individualista e dos limites territoriais
na jurisprudência da Corte IDH. A conexão entre direitos humanos e direitos
da natureza tem se intensificado, como demonstra a Opinião Consultiva OC
23–17 da Corte EDH e casos recentes de litigância climática.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
873 Para uma visão detalhada sobre os princípios de proteção ambiental derivados da jurisprudência
da Corte EDH, ver: COUNCIL OF EUROPE. Manual on human rights and the environment.
Estrasburgo: Council of Europe Publishing, 2012. 2° ed.
874 Como na decisão do caso Ivan Atanasov c. Bulgáriade 7 de dezembro de 2010, no qual a Corte EDH
manifesta que, mesmo se a importância da proteção do meio ambiente é crescente na sociedade atual,
o artigo 8 da Convenção EDH (utilizado ulteriormente para reconhecer um direito ao meio ambiente)
não entra em jogo cada vez que se constata uma deterioração do meio ambiente, visto que nenhum
direito à preservação da natureza figura entre os direitos e liberdades garantidos pela Convenção ou
seus protocolos adicionais. Mais detalhes em NADAUD, S.; MARGUÉNAUD, J. P. Chronique des
arrêts de la Cour européenne des droits de l’homme (2010-2011). Revue Juridique de l’Environnement,
v. 36, n. 4, 2011, p. 563-584. ACorte EDH também foi restritiva em decisões de admissibilidade de
petições com conteúdo ambiental, aplicando uma concepção arcaica do nexo de causalidade, como
exposto em: NADAUD, S.; MARGUÉNAUD, J. P. Chronique des arrêts de la Cour européenne des
droits de l’homme (2015-2016). Revue Juridique de l’Environnement, v. 42, n. 1, 2017, p. 83-93.
875 Sobre este posicionamento e os casos que ilustram a inquietação da Corte EDH ver: NADAUD, S.;
MARGUÉNAUD, J. P. Chronique des arrêts de la Cour européenne des droits de l’homme (2013-
2014). Revue Juridique de l’Environnement, v. 40, n. 1, 2015, p. 84-99.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
876 Um repertório da jurisprudência da Corte EDH em matéria ambiental pode ser encontrado em:
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Environment and the European Convention on
Human Rights. 2020 (última atualização em março de 2020). Disponível em: <https://www.echr.
coe.int/Documents/FS_Environment_ENG.pdf>.
877 Por exemplo, nos casos Lopez Ostra c. Espanha (1994), Fadayeva e outros c. Russia (2005), Giacomelli
c. Itália (2006), Tătar c. Romênia (2009), Băcilă c. Romênia (2010), Dubetska e outros c. Ucrânia
(2011), Cordella e outros c. Itália (2019).
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
878 Em matéria de desastres naturais ver as os casos Budayeva c. Rússia (2008), Koliadenko e outros
c. Rússia (2012) e Özel e outros c. Turquia (2015). Sobre desastres industriais ver principalmente
Öneryildiz c. Turquia(2004) e, indiretamente, Guerra e outros c. Itália (1998).
879 Ver: Brânduse c. Romênia (2009) e Di Sarno e outros c. Itália (2012),
880 Brincat e outros c. Malta (2014)
881 Tráfego ferroviário: Bor c. Hungria (2013). Trafego aéreo: Powell e Ryiner c. Reino Unido (1990),
Hatton e outros c. Reino Unido (2003). TráfegoRodoviário: Deés c. Hungria (2010), Grimkovskaya
c. Hungria (2011). Poluição sonora de atividades de vizinhança, casas noturnas, comércio, etc.:
Moreno Gómez c. Espanha (2004) e Cuenca Zarzoso c. Espanha (2018).
882 Öneryildiz c. Turquia(2004) e Guerra e outros c. Itália (1998).
883 Expressão: Vides Aizsardzïbas Klubs c. Letônia (2004), Steel e Morris c. Reino Unido (2005).
Associação: Costel Popa c. Romênia (2016).
884 Por exemplo: Hamer c. Bélgica (2007), Depalle c. França e Brosset-Tiboulet c. França (2010), Malfatto
e Mieille c. França (2016), Dimitar Yordanov c. Bulgária (2018), Yasar c. Romênia (2019).
885 Chassagnou e outros c. França (1999)
886 Artigo 11 - Direito a um meio ambiente sadio
1. Toda pessoa tem direito a viver em meio ambiente sadio e a contar com os serviços públicos básico
2. Os Estados Partes promoverão a proteção, preservação e melhoramento do meio ambiente.
887 O artigo 19 do Protocolo de San Salvador, que estabelece os meios de proteção, prevê em seu
parágrafo 6 que somente os direitos previstos na alínea a do artigo 8 e no artigo 8, quando violados
por ação diretamente imputável a um dos Estados partes, poderiam dar lugar à aplicação do sistema
de petições individuais do Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
261
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
262
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
893 [149. Dadas las características del presente caso, es menester hacer algunas precisiones respecto
del concepto de propiedad en las comunidades indígenas. Entre los indígenas existe una tradición
comunitaria sobre una forma comunal de la propiedad colectiva de la tierra, en el sentido de que la
pertenencia de ésta no se centra en un individuo sino en el grupo y su comunidad. Los indígenas por
el hecho de su propia existencia tienen derecho a vivir libremente en sus propios territorios; la estrecha
relación que los indígenas mantienen con la tierra debe de ser reconocida y comprendida como la
base fundamental de sus culturas, su vida espiritual, su integridad y su supervivencia económica.
Para las comunidades indígenas la relación con la tierra no es meramente una cuestiónde posesión
y producción sino un elemento material y espiritual del que deben gozar plenamente, inclusive
para preservar su legado cultural y transmitirlo a las generaciones futuras.] CORTE IDH. caso da
Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni c. Nicarágua, de 31 de agosto de 2001, § 149.
894 Corte IDH. Caso Comunidade Indígena Yakye Axa Vs. Paraguai. Fundo, Reparações e Custas.
Sentença de 17 de junho de 2005. Série C N. 125.
895 Corte IDH. Caso Comunidade Indígena Xákmok Kásek Vs. Paraguai. Fundo, Reparações e Custas.
Sentença de 24 de agosto de 2010. Série C N. 214.
896 Conforme dispõe a Corte IDH no caso Mayagma (Sumo) Awas Tingnic. Nicarágua, § 146.
263
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
901 A dimensão ambiental do direito à proteção da vida privada e familiar e do domicílio foi desenvolvida
pela Corte EDH na interpretação do artigo 8 da CEDH, em torno de temas típicos de sociedades
industriais, como a exposição a riscos ambientais e o direito de ser informado (ex.: Guerra e outros
c. Itália de 1998 e Brincat e outros c. Malta de 2004); violações decorrentes da poluição industrial
(ex.: Lopez Ostra c. Espanha de 1994, Taskin e outros c. Turquia de 2004, Fadeyeva c. Rússia de
2005, Giacomelli c. Itália de 2006, Tatar c. Romênia de 2009, Bacila c. Romênia de 2010, Dubetska e
outros c. Ucrânia de 2011 e Cordella e Outros c. Itália de 2009); poluição sonora (ex.: Moreno Gomez
c. Espanha de 2004, Grimkovskaya c. Ucrânia de 2011, Bor c. Hungria de 2013ou Cuenca Zarzoso c.
Espanha de 2018); resíduos (ex.: Brânduse c. Romênia de 2009 e Di Sarno e outros c. Itália de 2012)
ou contaminação da água (Dzemyuk c. Ucrânia de 2014).
902 No caso Povo Indígena Kichwa de Sarayaky c. Equador (2012) a Corte IDH atribui dimensão ambiental
ao direito à integridade física (art. 5.1 da CADH) face aos riscos deexploração de recursos naturais.
903 A única jurisprudência ambiental da Corte IDH que não versa sobre povos tradicionais relaciona-
se ao direito de acesso à informação ambiental, no caso Claude Reyes c. Chile (2006). A Corte
também reconhece um direito à informação ambiental decorrente do direito à propriedadedos
povostradicionais, como no caso Povo Saramaka c. Suriname (2007). Já a Corte EDH extrai um
direito de acesso à informação ambiental dos aspectos procedimentais do direito à vida (Öneryildiz
c. Turquia de 2004) e do direito à proteção da vida privada e familiar e do domicílio (ex.: Guerra e
outros c. Itália de 1998 e Cordella e Outros c. Itália de 2019).
904 Ver na Corte EDH os casos Steel et Morris c. Reino-Unido (2005); Mamère c. França (2006) e Vides
Aizsardzibas Klub c. Letônia (2004) reconhecendo o papel essencial das ong’s ambientalistas em
uma sociedade democrática e a importância do debate ambiental, que justifica maior tolerância
à críticas. Ver: CAVEDON, F. S. La construcción de una dimensión ambiental de los derechos
humanos por la jurisprudencia de la Corte Europea de Derechos Humanos: el derecho de acceso
a la información y a la libertad de expresión en materia ambiental. Revista Aranzadi de Derecho
Ambiental,v. 14, 2008, p. 137-156.
905 A única jurisprudência neste sentido é da Corte EDH no caso Costel Popa c. Romênia (2016).
906 Direito à consulta, exigência de estudo de impacto ambiental e social e repartição dos benefícios
decorrente do artigo 23 da CADH, conforme o caso Povos Kalina e Lokono c. Suriname “Pueblos del
Bajo Marowijne” (2015).
907 Ver jurisprudência da Corte EDH sobre artigo 6 da CADH, e sua violação por descumprimento
de decisão judicial/administrativa favorável ao meio ambiente (Ahmet Okyay e outros c. Turquia
de 2005, Öçkan e outros c. Turquia de 2006, Lemke c. Turquia de 2007,Apanasewicz c. Polônia de
2011 e Bursa Barosu Başkanlığı e Outros c. Turquia de 2018)) ou direito à revisão judicial de decisão
administrativa que causa impacto ambiental (Karin Andersson e outros c. Suécia de2014). Quanto
ao artigo 13 da CEDH (direito a um recurso efetivo) reconheceu-se a possibilidade de invocá-lo
para que os Estados disponibilizem recursos para defender os direitos humanos contra os efeitos da
contaminação ambiental (Hatton e outros c. Reino Unido de 2003). A Corte IDH reconhece o direito
a um recurso efetivo para a proteção do meio ambiente (Comunidades afrodescendentes deslocadas
da bacia do Rio Cacarica (Operação Gênesis) c. Colômbia de 2013).
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
sua utilidade para o ser humano ou pelos efeitos de sua degradação sobre os
direitos humanos, mas pela importância para os demais organismos vivos que,
por sua vez, também merecem proteção.908Representa um passo fundamental
na ecologização dos direitos humanos, que se alinha à quinta fase deste proces-
so, quando direitos humanos e da natureza são operados e interpretados como
um único sistema de direitos. A Corte reconhece o valor intrínseco do ambiente
e seus elementos, sua função ecológica de manutenção do equilíbrio e vitalidade
do Sistema Terra, protegidos por um direito que definitivamente rompe com os
paradigmas utilitarista e individualista. Culminando o processo de reconheci-
mento de um direito ao meio ambiente pela via jurisprudencial, a Corte IDH
reconhece pela primeira vez uma violação a este direito como direito autônomo
e justiciável por força do artigo 26 da CADH no caso Comunidades Indígenas
Membros da Associação Lhaka Honhat (Nuestra Tierra)909.
Outro passo fundamental para o reconhecimento de direitos ambientais
na região foi a adoção do Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Parti-
cipação Pública e Acesso à Justiça na América Latina e Caribe, em 4 de março
de 2018, (Acordo de Escazú).910 O Acordo tem por objetivo a implementação
dos direitos de acesso à informação ambiental, de participação pública nos
processos de tomada de decisões ambientais, e de acesso à justiça em assuntos
ambientais, bem como a criação e fortalecimento de capacidades e cooperação,
contribuindo para a proteção do direito a um ambiente saudável. Trata-se da
regulamentação do Princípio 10 da Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento de 1992 no âmbito da América Latina e Caribe. Em suas dis-
posições gerais (artigo 4, 1) atribui às Partes a obrigação de garantir o direito de
toda pessoa de viver em um meio ambiente saudável. Reconhece como princípio
que deve guiar a sua implementação a equidade intergeracional, adequando-se
à quarta fase de ecologização dos direitos humanos. O Acordo de Escazú repre-
senta mais um elemento desta revolução ecologizadora dos direitos humanos na
América Latina, conjuntamente com a Opinião Consultiva OC 23/17 da Corte
IDH e os avanços na ecologização de sua jurisprudência.
268
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
911 Para uma análise do movimento de progressão e regressão da jurisprudência ambiental da Corte
EDH, ver: NADAUD, S.; MARGUÉNAUD, J. P. Op. cit. 2011.
912 O caso trata de poluição sonora gerada por aeroporto que acarretaria uma violação do artigo 8 da
CEDH. A Corte analisa o justo equilíbrio entre os interesses econômicos e o interesse geral de proteção
ambiental, assim como a extensão da margem de apreciação dos Estados em matéria ambiental
913 MARGUÉNAUD, Jean-Pierre. Tranquillité du domicile et droit de l’homme à l’environnement.
Recueil Dalloz, n. 19. 2007. p. 1325.
914 Este caso trata de uma alegação de violação do artigo 8 da CEDH por falta de cumprimento de
decisões do Conselho de Estado anulando autorizações de construção em área de manguezal.
915 Especialmente os casos Taskin e outros c. Turquía (2004), Moreno Gómez c. Espanha (2004),
Fadeyeva c. Rússia (2005) e Giacomelli c. Itália (2006).
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
solida com a decisão do caso Tatar c. Romênia (2009) na qual a Corte EDH
manifesta que o artigo 8 da CEDH consagra, de maneira geral, um direito ao
desfrute de um ambiente sadio e protegido. Esta posição foi reforçada no caso
Bacila c. Romênia (2010) no qual a Corte menciona o direito de usufruir de
um ambiente equilibrado e adequado à saúde. Estas decisões consolidaram a
jurisprudência ambiental da Corte EDH e o entendimento de que havia reco-
nhecido, pela via jurisprudencial, um direito humano ao meio ambiente.
Porém, outra formação da Corte EDH retoma a postura regressiva no
caso Ivan Atanasov c. Bulgária916, entendendo que, mesmo diante da impor-
tância da proteção do meio ambiente na sociedade atual, o artigo 8 da CEDH
não pode ser invocado toda vez em que ocorra uma degradação do meio am-
biente. Isto porque nenhum direito à preservação do meio ambiente figura en-
tre os direitos e garantias previstos pela Convenção ou seus protocolos. Uma
tentativa de desenvolver um “meio termo” entre progressão e regressão ocor-
reu na decisão do caso Apanasewics c. Polônia (2011)917. Mesmo mantendo a
posição de que a CEDH não reconhece um direito ao meio ambiente, a Corte
reconhece que nas situações em que uma pessoa sofre direta e gravemente as
consequências da poluição, o artigo 8 pode ser invocado.
O reconhecimento de um direito humano ao meio ambiente pela Corte
EDH é sujeito a este movimento de progressão e regressão que marca a sua
jurisprudência ambiental. Partilha-se do entendimento de Nadaud e de Mar-
guénaud de que um protocolo adicional à CEDH que reconheça um direito
ao meio ambiente, seria o caminho mais seguro para dissipar a insegurança
jurídica decorrente das mudanças de posicionamento da Corte.918 Cabe desta-
car que as decisões restritivas de 2010 e 2011 não impediram a Corte EDH de
seguir desenvolvendo a dimensão ambiental dos direitos humanos.919
916 O caso trata dos riscos gerados por um lago de decantação de uma mina desativada, em razão do plano
de reabilitação e secagem do lago adotado pelas autoridades que não satisfaziam as exigências legais.
917 Trata-se de construção de indústria de cimento, sem autorização, em área vizinha ao terreno do
peticionário, ocasionando poluição e impactos à sua saúde. Mesmo diante de decisão judicial
obrigando ao fechamento da indústria, esta continuava operando, configurando descumprimento
de decisão judicial. A Corte reconheceu uma violação do artigo 6 §1 e do artigo 8 da CEDH.
918 NADAUD, S.; MARGUÉNAUD, J. P. Op. cit.2011.
919 Por exemplo: Grimkovskaia c. Ucrania (2011), Di Sarno e outros c. Italia (2012), Bor c. Hungria (2013),
Brincanat e outros c. Malta (2013), Locher e outros c. Suiça (2013), Dzemiuk c. Ucrânia (2014), Özel e
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
outros c. Turquia (2015), Malfatto e Mieille c. França (2016), Bursa Barosu Başkanlığı c. Turquia (2018),
O’Sullivan McCarthy Mussel Development Ltd c. Irlanda (2018), Cordella e Outros c. Itália (2019).
920 Informação obtida de: UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE OF THE HIGH
COMMISSIONER. UN expert calls for global recognition of the right to safe and healthy
environment. 2018. Disponível em: <https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.
aspx?NewsID=22755&LangID=E>. Acesso em: 7 de agosto de 2018.
921 UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Framework Principles on Human Rights and the
Environment. Op. cit. p. 5. Livre tradução da autora.
922 Sobre as limitações ecológicas aos direitos humanos, ver: BOSSELMAN, K. Human Rights and the
Environment: Redefining Fundamental Principles? Em GLEESON, B.; LOW, N. (Eds.). Governing for the
Environment - Global Problems, Ethics and Democracy. Londres: Palgrave MacMillan, 2001. p. 118-134.
271
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
sua realização deve ser coerente com a manutenção do equilíbrio e das funções
ecológicas do Sistema Terra. Estes limites ecológicos ficaram demonstrados na
jurisprudência da Corte EDH quanto ao direito de propriedade.
Já a jurisprudência da Corte IDH é rica em exemplos da interpretação dos
direitos humanos a partir de seu substrato ambiental, especialmente no que se
refere ao direito à propriedade comum dos povos tradicionais e o direito à vida.
Uma análise detalhada é feita na parte 3. A noção de propriedade e de bem, é
ressignificada para se adequar à intrínseca relação entre a cultura, os modos
de vida e a espiritualidade dos povos tradicionais da América Latina com seus
territórios ancestrais e seus elementos naturais. Os direitos destes povos são
contextualizados a partir do substrato ambiental no qual evoluem seus sujeitos.
Os elementos ambientais dos territórios constituem a própria essência do bem
protegido pelo artigo 21 da CADH, aos quais se atribui valores materiais e ima-
teriais indispensáveis à cosmovisão dos povos tradicionais. Seus direitos são,
portanto, interpretados e aplicados a partir de seu contexto ecológico. O mesmo
ocorre com o direito à vida (art. 4 da CADH) que, na interpretação da Corte, é
dependente do substrato ambiental. O ambiente preservado e o acesso aos seus
recursos é um elemento fundamental da vida digna.
A terceira fase de ecologização, como verificado, está em curso, seja pelos
limites ecológicos aos direitos humanos que decorrem de sua interdependên-
cia com o substrato ambiental no qual se realizam, ou pelo reconhecimento
da indissociabilidade da existência, cultura e espiritualidade dos povos tradi-
cionais do seu ambiente, integrado nos conceitos de propriedade e vida digna.
272
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
923 No Sistema de Direitos Humanos da ONU ver: Chiara Sacci e outros c. Argentina, Brasil, França,
Alemanha e Turquia (2019). Nos tribunais nacionais ver, por exemplo: Ali c. Paquistão (2016);
ENVironnement JEUnesse c. Canadá (2018); Generaciones Futuras c. Minambiente (2018); La Rose
c. Her Majesty the Queen (2019); Asociación Civil por la Justicia Ambiental e outros c. Entre Ríos,
Província e outros (2020); Neubauer e outros c. Alemanha (2020).
924 Ver casos Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni c. Nicarágua (2001); Comunidade Yakye Axa
do Povo Enxet-Lengua c. Paraguai (2005) e Povo Indígena Kichwa de Sarayaky c. Equador (2012).
925 Ver parágrafo 104 da OC 23-17.
273
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
926 OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS (OHCHR). Key Messages on
Human Rights and Climate Change. Disponível em: <https://www.ohchr.org/Documents/Issues/
ClimateChange/Key_Messages_HR_CC_Migration.pdf>. Acesso em: 17 de agosto de 2020.
927 STJ, REsp 1.797.175/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Og Fernandes, j. 21.03.2019.
928 Um comentário sobre esta jurisprudência pode ser encontrado em: SARLET, I.W.; FENSTERSEIFER,
F. STF, a dimensão ecológica da dignidade e direitos do animal não humano. Consultor Jurídico,
2019. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-mai-10/direitos-fundamentais-stj-dimensao-
ecologica-dignidade-direitos-animal-nao-humano#sdfootnote1sym>. Acesso em: 16 agosto 2020.
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
930 Ver a audiência temática sobre os direitos humanos e as indústrias extrativistas na América Latina,
realizada em 2015 e, no 168° período de sessões de maio de 2018, as audiências sobre os direitos
humanos das comunidades indígenas afetadas por derrames de petróleo em Cuninico e Vista
Alegre no Peru e sobre a violação de direitos humanos e criminalização de pessoas defensoras no
contexto das indústrias extrativistas na Nicarágua.
931 COMISIÓN INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Pueblos indígenas, comunidades
afrodescendientes y recursos naturales: protección de derechos humanos en el contexto de actividades
de extracción, explotación y desarrollo. OEA, 2015.
932 Resolução 12/18, Medida Cautelar 772/17 de 24 de fevereiro de 2018 – Moradores consumidores de
água do Rio Mezapa, Honduras.
933 Resolução 29/16, Medida Cautelar 271-05 de 3 de maio de 2016 – Comunidade de La Oroya, Peru –
Ampliação.
934 Resolução 52/17, Medida Cautelar 120-16 de 2 de dezembro de 2017, Moradores da Comunidade de
Cuninico e outras, Peru.
935 Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tigni c. Nicarágua (2001); Comunidade Yakye Axa do Povo
Enxet-Lengua c. Paraguai (2005); Comunidade Sawhoyamaxa c. Paraguai (2006); Povo Saramaka
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
c. Suriname (2007); Comunidade Xákmok Kásek c. Paraguai (2010); Povo Indígena Kichwa de
Sarayaku c. Equador (2012); Comunidades afrodescendentes deslocadas da bacia do rio Cacarica
(Operação Gênesis) c. Colômbia (2013); Povos indígenas Kuna de Madungandí e Emberá de Bayanos
c. Panamá (2014); Povos Kalina e Lokono v. Suriname (2015); Comunidade Garífuna Triunfo de la
Cruz c. Honduras (2015); Comunidade Garífuna de Punta Piedra c. Honduras (2015); Comunidades
Indígenas Membros da Associação Lhaka Honhat (Nuestra Tierra) c. Argentina (2020).
936 Claude Reyes e outros c. Chile (2006).
937 A jurisprudência ambiental da Corte IDH relacionada a povos indígenas e demais comunidades
tradicionais reconhece a violação do artigo 21 da CADH relativo ao direito à propriedade comum
a seus territórios tradicionais. A conceituação do direito à propriedade e de bem protegido, assim
como a sua ecologização, foram construídos desdea primeira decisão de caráter ambiental no caso
Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni c.Nicarágua(2001) até a mais recente decisão proferida no
caso Comunidades Indígenas Membros da Associação Lhaka Honhat (Nuestra Tierra) c. Argentina. A
Corte ampliou sua dimensão de um direito individual a um direito coletivo, que abarca os aspectos
ambientais, imateriais e culturais. O caso Povo Indígena Kichwa de Sarayaky c. Equador (2012)não
discute o reconhecimento da propriedade, tratando da omissão do Estado em proteger este direito face
à atividades de risco e potencialmente degradadoras do elemento ambiental.
938 Sobre a interpretação autônoma do conceito de bem e a inclusão de elementos imateriais, ver
Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni c. Nicarágua(2001).
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
939 Sobre o conceito de vida digna ver Comunidade Yakye Axa do Povo Enxet-Lengua c. Paraguai (2005).
940 O acesso à água como elemento do direito à vida digna foi previsto pela Corte IDH no caso
Comunidade Xákmok Kásek c. Paraguai (2010).
941 Sobre exposiçãoa riscos e violação do direito à vida ver Povo Indígena Kichwa de Sarayaky c. Equador (2012).
942 É na decisão do caso Comunidade Yakye Axa do Povo Enxet-Lengua c. Paraguai (2005) que a Corte
IDH faz uso dos direitos econômicos, sociais e culturais do Protocolo de San Salvador e do artigo 26
da CADH.
943 Caso Comunidades Indígenas Membros da Associação Lhaka Honhat (Nuestra Tierra) c. Argentina (2020).
944 Ver:Comunidade Xákmok Kásek c. Paraguai (2010) e Povo Indígena Kichwa de Sarayaky c. Equador (2012).
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A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
945 O desenvolvimento dos aspectos procedimentais de carácter ambiental derivados dos direitos
substantivos iniciou-se no caso Povo Saramaka c. Suriname (2007), e foi se consolidando nos casos
Povo Indígena Kichwa de Sarayaky c. Equador (2012), Povos Kalina e Lokono c. Suriname (2015),
Comunidade Garífuna Triunfo de la Cruz c. Honduras (2015) e Comunidade Garífuna de Punta
Piedra c. Honduras (2015).
946 Os critérios do direito à consulta prévia foram estabelecidos no caso Povo Indígena Kichwa de
Sarayaky c. Equador (2012).
947 Esta interpretação do artigo 23 se encontra no caso Povos Kalina e Lokono c. Suriname “Pueblos del
Bajo Marowijne” (2015).
948 Os aspectos ambientais do direito à liberdade de expressão e sua relação com o acesso à informação
ambiental foram desenvolvidos no caso Claude Reyes c. Chile (2006).
280
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
949 Ver Comunidade Xákmok Kásek c. Paraguai (2010) sobre o impacto da criação de uma reserva privada de
fauna sobre os direitos de povos indígenas e as consequências da privação de seu território e do acesso aos
bens ambientais sobre seus modos de vida. No caso Povos Kalina e Lokono c. Suriname “Pueblos del Bajo
Marowijne” (2015) a Corte consolida seu entendimento sobre a compatibilidade entre áreas protegidas
e direitos indígenas, estabelecendo critérios neste aspecto, e criando um espaço de comunicação entre
sistemas jurídicos: direito ambiental, direitos humanos, direitos indígenas.
950 A invocação do artigo 1° da CADH ocorreu no caso Comunidade Xákmok Kásek c. Paraguai (2010),
no qual a Corte considerou que o Estado priorizou uma visão da propriedade que outorga maior
proteção aos proprietários privados do que as demandas territoriais indígenas.
951 Esta medida reparatória pode ser encontrada emComunidade Yakye Axa do Povo Enxet-Lengua c.
Paraguai (2005), Comunidade Xákmok Kásek c. Paraguai (2010), Povo Indígena Kichwa de Sarayaky
c. Equador (2012).
281
A Ecologização do Direito Ambiental Vigente: rupturas necessárias
nal, já não eram suficientes ou adequados para garantir a proteção destes povos
face a atividades econômicas e posturas estatais em contraposição aos seus mo-
dos de vida e relação com os demais elementos da natureza. A Corte realizou
um grande esforço de interpretação de categorias jurídicas para liberá-los dos
contornos individualistas e liberais e lhes adequar à propriedade comum dos
povos tradicionais e à indissociabilidade de sua identidade e sobrevivência deste
território tradicional permeado de elementos ambientais e espirituais.
Um caso paradigmático da Corte IDH neste processo de ecologização é o
do Povo Kichwa de Sarayaku952, ameaçados pela autorização de exploração de
petróleo em seu território. Este povo apresenta uma forte relação física e espiri-
tual com o seu território e seus elementos naturais. Em sua visão de mundo, a
floresta é um ser dotado de vida, os elementos da natureza estão ligados a enti-
dades espirituais conectadas entre si, o que os torna sagrados. Como, portanto,
proteger a cultura, a cosmovisão, o modo de vida desta comunidade utilizando-
-se esquemas jurídicos clássicos como a noção de bem material, dotado de valor
econômico e de conotação individualista que marca o direito de propriedade?
Somente a ecologização do conceito de bem e do direito de propriedade poderia
garantir a sua adequação aos territórios tradicionais, marcados pela noção de
propriedade comum, plena de significado e de valores imateriais, território onde
os elementos humanos e não humanos são indissociáveis e formam uma única
identidade e dignidade. Como manifestou a Corte IDH, “... para as comunida-
des indígenas a relação com a terra não é meramente uma questão de posse e
produção mas um elemento material e espiritual do qual devem gozar plena-
mente, inclusive para preservar seu legado cultural e transmitir-lhe às futuras
gerações”953. A Corte avança até a quarta etapa de ecologização, reconhecendo
o caráter intergeracional do direito à propriedade, destacado em distintas de-
952 Corte IDH. Caso Povo Indígena Kichwa de Sarayaku Vs. Ecuador. Fundo e Reparações. Sentença de
27 de junho de 2012. Série C N. 245.
953 Assim se manifestou a Corte já no primeiro caso em que aborda a proteção do direito à propriedade
dos povos indígenas em relação com seus elementos naturais, culturais e espirituais, Comunidade
Mayagna (Sumo) Awas Tingni c. Nicarágua, de 2001, § 149. (… Para las comunidades indígenas la
relación con la tierra no es meramente una cuestión de posesión y producción sino un elemento
material y espiritual del que deben gozar plenamente, inclusive para preservar su legado cultural y
transmitirlo a las generaciones futuras). Livre tradução da autora.
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954 Além do caso Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni c. Nicarágua, o caráter intergeracional
do direito à propriedade tradicional foi expresso nos casos Comunidade Yakye Axa do Povo Enxet-
Lengua c. Paraguai (2005) e Povo Indígena Kichwa de Sarayaky c. Equador (2012).
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que seu território não seja utilizado de forma a causar significativo dano ao
meio ambiente de outros Estados, estando obrigados a evitar danos transfron-
teiriços. Portanto, devem adotar as medidas necessárias a fim de evitar que
atividades que ocorram em seu território ou que estejam sob o seu controle,
capazes de produzir danos ao meio ambiente, afetem os direitos de pessoas
que estejam dentro ou fora de seu território.
As obrigações derivadas do dever de garantir e respeitar os direitos à
vida e à integridade física no contexto da proteção ambiental podem ser sinte-
tizadas em: i) prevenir danos ambientais significativos dentro ou fora do seu
território; ii) regular e monitorar atividades causadoras de danos ambientais,
realizar estudos de impacto ambiental, preparar planos de contingência para
minimizar risco de desastres, mitigar danos ambientais mesmo quando me-
didas preventivas foram adotadas; iii) adotar o princípio de precaução face à
possibilidade de danos graves ou irreversíveis ao meio ambiente e que afetem
os direitos humanos; iv) cooperar com outros Estados para a proteção contra
danos ambientais significativos, assegurando-se que atividades em seu terri-
tório não causam danos ambientais transfronteiriços; v) garantir os direitos
ambientais procedimentais, inclusive no que se refere à implementação de po-
líticas que afetem o meio ambiente.
Esta síntese dos elementos centrais da OC demonstram o grande passo
que representa para sistematizar as obrigações dos Estados em matéria am-
biental em razão da indissociabilidade dos direitos humanos, especialmente
o direito à vida e à integridade física, do ambiente no qual se realizam; e da
relação de indivisibilidade e interdependência entre direitos humanos e meio
ambiente. Integrando princípios e normas do sistema jurídico ambiental para
analisar situações de risco de violação dos direitos humanos por razões am-
bientais, e utilizando critérios e obrigações de proteção dos direitos humanos
para fixar obrigações estatais de caráter ambiental, a Corte IDH demonstra
potencial para reforçar a comunicação entre estes sistemas e, deste processo
comunicativo, desenvolver a sua ecologização. A OC demonstra que o aparato
jurídico, simbólico e ético dos direitos humanos tem um papel importante na
proteção do meio ambiente e na reconstrução do sistema jurídico-ambiental
a partir de uma visão mais ampla e complexa das questões socioambientais, e
que a comunicação estabelecida entre os direitos humanos e o sistema jurídi-
co-ambiental pode enriquecer estes direitos e contribuir à sua ecologização.
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955 Relatório n° 125/20 Comunidades Kunas de Gardi, Comarca Kuna Yala, Região de Nurdargana
(2020); Relatório n° 33/20 Comunidade Garífuna de Travessia c. Honduras (2020); Relatório n°
113/20 64 Comunidades dos Povos Mojeno, Yuracaré e Tsimane c. Bolívia (2020);Relatório n° 35/20
Comunidades Indígenas Campesinas Turísticas e Meio Ambiente dos Gêiseres do Tatio c. Chile (2020);
Relatório n° 167/20 Povo Indígena Teribe c. Costa Rica (2020); Relatório n° 12/18 Trabalhadores
mortos na explosão da mina Pasta de Conchos c. México (2018); Relatório n° 30/17 Comunidade
Maya ‘Q’Eqchi’ Agua Caliente c. Guatemala (2017), Relatório n° 64/15 Povos Maias e Comunidades
Cristo Rey, Belluet Tree, San Ignácio, Santa Helena e Santa Família c. Belize (2015), Relatório 33/15
Comunidade U’WA c. Colômbia (2015), Relatório 48/15 Povos Yaqui c. México (2015), Relatório
n° 62/14 Residentes de Quishque-Tapayrihua c. Peru (2014), Relatório n° 96/14 Povos indígenas
isolados Tagaeri e Taromenani c. Equador (2014), Relatório n° 20/14 Comunidades do Povo Maya
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Sipakepense et Mam c. Guatemala (2014), Relatório n° 9/13 Comunidade indígena Maho c. Suriname
(2013), Relatório n° 29/13 Comunidade indígena Aymara de Chusmiza-Usmagama c. Chile (2013),
Relatório n° 71/12 Habitantes dos imóveis « Barão de Mauá » c. Brasil (2012), Relatório n° 43/10
Mossville Environmental Action Now c. Estados-Unidos (2010), Relatório 105/05 Grupo de Tratado
Hul’Qumi’Num c. Canadá (2009), Relatório n° 141/09 Comunidades Agrícolas Diaguita de los
Huascoaltinos e seus membros c. Chile (2009),Relatório n° 58/09 Povo Indígena Kuna De Madungandi
e Emberá De Bayano e seus membros c. Panamá (2009), Relatório n° 75/09 Comunidades Indígenas
Ngöbe e seus membros no Vale do Rio Changuinola c. Panamá (2009),Relatório n° 76/09 Comunidade
de La Oroya c. Perú (2009).
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