O Saber Surge Da Prática: Por Um Serviço Social Com Perspectiva Feminista

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O SABER SURGE DA PRÁTICA: POR UM SERVIÇO

SOCIAL COM PERSPECTIVA FEMINISTA

Teresa Kleba Lisboa*


Catarina Nascimento de Oliveira**

Resumo

O presente artigo propõe uma interlocução entre o Serviço Social e os Estudos Feministas no processo de construção
do conhecimento introduzindo a categoria interseccionalidade para legitimar a multiplicidade de diferenças com
as quais nos deparamos no cotidiano de nossas práticas. Amparadas na Epistemologia Feminista, questionamos o
reducionismo do Serviço Social brasileiro a uma única corrente teórica, o marxismo, que submete toda a complexidade
da vida humana à esfera da produção. O texto busca desvendar as fissuras que avançam no campo do conhecimento, no
sentido de contribuir com propostas teóricas que atravessam fronteiras interseccionais, transversais, interdisciplinares
entre as categorias gênero, raça, etnia, sexualidade, classe, geração entre outras. O percurso argumentativo acompanhará
uma sequência de reflexões realizadas ao longo de anos de experiência, tanto na prática acadêmica, como nos trabalhos
de campo realizados através de Projetos de Pesquisa e Extensão.

Palavras-chave: Serviço social. Epistemologias feministas. Interseccionalidade. Intervenção profissional.

____________
* Doutora em Sociologia. Professora Titular do Departamento de Serviço Social (DSS) e do Programa de Pós- Graduação
Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]
** Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da UFSC. Professora do
Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Sergipe (UFS) – Campus Aracajú. E-mail: [email protected]

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Introdução

Propomos neste artigo refletir sobre a “produção do conhecimento1 1 Estamos nos referindo à “Produção
do Conhecimento Científico”.
em Serviço Social e sua inter-relação com os Estudos Feministas, com o
propósito de contribuir para a construção de novas cartografias de saberes.
Buscaremos, ao longo do texto, desvendar as fissuras que avançam no campo
do conhecimento, em um período de profundas e aceleradas transformações,
no sentido de contribuir com propostas teóricas que atravessam as
fronteiras interseccionais, transversais, interdisciplinares entre as categorias
gênero, raça/etnia2, sexualidade, classe, geração entre outras. Reconhecer 2 Em relação ao conceito “raça”,
tornou-se usual, especialmente
a multiplicidade das diferenças como dado inerente na constituição dos
a partir da antropologia que se
sujeitos tem gerado uma combinação de discursos e práticas mobilizadoras, afirma desde o início do século XX,
tanto das lutas sociais como dos movimentos feministas no Brasil e na utilizar a forma “raça/etnia”, a qual,
conjugando a noção biológica de
América Latina. “raça” com a antropológica de “etnia”,
Os movimentos de mulheres e as diferentes correntes do feminismo normalizará a diferença racial na
cultura de massas, tornando “a
têm desempenhado papel relevante no crescimento da participação
ideia de ‘raça’ epistemologicamente
feminina no mundo acadêmico e científico. As principais demandas das correta” (GILROY, 2007, p. 81).
mulheres surgem dos movimentos, e são eles que sugerem transformar Se “raça” engloba características
fenotípicas, como a cor da pele,
as práticas científicas lançando novas perguntas, teorias e métodos que tipo de cabelo, conformação facial e
suponham avanços, tanto no campo cognitivo quanto no enfrentamento cranial; “etnia” compreende fatores
culturais, como a nacionalidade,
das injustiças sociais. No lugar de uma “mulher universal”, surgem mulheres afiliação tribal, religião, língua e
diversas, situadas, portadoras de conhecimentos e experiências específicas, tradições de um determinado grupo.
talhadas na vivência socioeconômica e cultural de seus marcadores sociais e
de sua transterritorialidade entre lugares.
Desde a segunda metade do século XX, no Brasil, a segunda onda
feminista já se alçou contra a violência exercida sobre o corpo das mulheres;
e mais tarde, a terceira onda permitiu perceber que a violência é contra todo
o corpo que carregue a marca da feminilidade, interseccionada com a raça/
etnia, classe, religião, lugar de moradia e/ou nascimento, idade, sexualidade,
idioma e uma infinidade de indicadores que reforçam as estratégias de poder
sobre os corpos. Nesse sentido, os Estudos Feministas têm se revelado com
uma singular capacidade para modificar perspectivas teóricas, e para elaborar
ferramentas de resistência para identificar, descrever e explicar, tanto as
desigualdades existentes entre mulheres e homens, como os mecanismos
de sua reprodução e legitimação. Acreditamos que o feminismo, como
movimento político e sociocultural nasce, justamente, para contestar os
pressupostos valorativos da modernidade, preocupa-se com a questão da
ética, da equidade, da justiça e da igualdade, reivindicando-as como parte
integrante de um novo paradigma civilizatório e de um projeto ético
político emancipatório.
Isto posto, trazemos para discussão um fato que nos indigna, em
relação a formação profissional dos(as) Assistentes Sociais no Brasil: nossa

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categoria profissional é formada por 95% de mulheres, as quais atendem,


no cotidiano de intervenção, majoritariamente mulheres-demandatárias,
usuárias das políticas sociais, dos serviços e recursos socioassistenciais,
cada qual por sua vez, apresentando diferentes marcadores sociais de
gênero, classe, raça, etnia, sexualidade, geração, entre outros. Esse cenário
3 Segundo Linda Nicholson (2000), nos leva a concluir que a categoria “gênero”3 é um elemento-chave
nos estudos feministas, a palavra para compreender e explicar o status do Serviço Social, não só porque
“gênero” é utilizada em pelo menos
dois sentidos distintos. A primeira formamos parte de uma disciplina e de uma profissão feminizada, mas
concepção utiliza gênero como também porque essa categoria permite desvendar os reducionismos que
construção social, em oposição ao
“sexo”, que é biologicamente dado.
fundamentam os pressupostos teórico-metodológicos que regem muitos
Gênero seria uma interpretação cursos de Serviço Social na América Latina (VILLENA; ROMERO,
cultural do sexo, e remeteria a 2017) e também no Brasil.
personalidade e comportamentos.
Em contrapartida, também se utiliza A introdução dos Estudos Feministas e de Gênero no campo das
gênero em referência a “qualquer Ciências Sociais tem redefinido uma série de temas e áreas de pesquisa
construção social que tenha a
permitindo estabelecer conexões entre quem fala e o mundo de que se fala,
ver com a distinção masculino/
feminino, incluindo as construções entre a produção teórica e as concepções da política que nelas emergem.
que separam corpos “femininos” O entendimento de que “as ideias não podem ser separadas dos indivíduos
de corpos ‘masculinos’”. Esse uso
advém da percepção que a sociedade que as criam e compartilham” (COLLINS, 2009, p. 281) evoca as
forma não só a personalidade e o experiências das mulheres e nos faz refletir sobre a dialética entre o
comportamento, mas também as epistemológico e o empírico, acreditando que o saber (a investigação social)
maneiras como o corpo aparece.
se nutre da intervenção social (das práticas).
Diante dessa realidade, nós nos perguntamos com esta questão:
por que os cursos de Serviço Social no Brasil têm tanta resistência a
incorporar disciplinas sobre Estudos Feministas, Relações de Gênero e suas
Interseccionalidades nos currículos acadêmicos?
É nesse contexto, e com estes pressupostos valorativos, que gostaríamos
de propor uma aproximação entre os Estudos Feministas e o Serviço Social.
Acreditando que o foco das teorias feministas não se restringe apenas “a
mulheres ou à agenda feminista”, mas que abarca um leque de questões que
dizem respeito à política, democracia, equidade e justiça, nosso percurso
argumentativo acompanhará uma sequência de reflexões realizadas ao
longo de anos de experiência, tanto na prática acadêmica, como professoras
das disciplinas “Epistemologias Feministas”, “Serviço Social e Relações de
Gênero”, “Supervisão Pedagógica de Estágio” e orientadoras de inúmeros
Trabalhos de Conclusão de Curso de Graduação e Especialização,
Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado, como nos trabalhos de
campo realizados por meio de Projetos de Pesquisa e Extensão.

Contribuição das Epistemologias Feministas para o Serviço


Social

A Epistemologia é um ramo da filosofia que estuda a definição de


saberes e a produção do conhecimento. Também chamada de filosofia da

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ciência, uma metalinguagem, isto é, um conhecimento sobre o conhecimento.


Em suma, a epistemologia estuda a pesquisa científica e seu produto: o
conhecimento científico (GUZMÁN; PÉREZ, 2005).
O pensamento europeu, legitimado pela era do Iluminismo,
construiu o paradigma de homem universal, masculino, heterossexual,
branco e ocidental reforçando a superioridade do homem e a invisibilidade
da mulher. Ao expressar uma racionalidade na produção do conhecimento,
a hegemonia eurocêntrica tem apontado algumas dificuldades, como afirma
o sociólogo peruano Aníbal Quijano (1993, p. 95): “[...] a diversidade e
a heterogeneidade da história latino-americana obriga a ultrapassar os
limites da epistemologia ocidental, cujo paradigma foi definido a partir
da racionalidade europeia, a partir de uma relação de exterioridade entre
sujeito e objeto”.
Feministas contemporâneas juntam-se aos questionamentos
referentes ao ideário iluminista, ao imperialismo da razão instrumental,
que atribui somente aos homens (brancos, de classe média, ocidentais) a
capacidade de propor filosofias, excluindo as mulheres. Propõem, então,
uma Epistemologia Feminista que possa desconstruir os binarismos, o
logocentrismo, o antropocentrismo para alçar as mulheres a “sujeitos
epistêmicos”, ou seja, mudar a ideia de que: “[...] as mulheres podiam
ser objeto da razão e da observação masculina, mas nunca seus sujeitos
[...] somente os homens eram vistos como detentores de conhecimento”
(HARDING, 1996, p. 17).
Em seu livro “Ciência e Feminismo”, Sandra Harding (1996,
p. 15) indaga: “quem pode ser sujeito do conhecimento? Podem sê-lo as
mulheres? Quem define o que é ciência e o que é científico? Quem define
os tipos de problemas (questões ou situações) que devem ser priorizados
como ciência?”.
Sabemos que a Ciência é uma forma de discurso sujeito a formulações
e critérios daquilo que um determinado grupo que é considerado autoridade
valida como verdade. A autora argumenta que as epistemologias tradicionais
excluem as mulheres como sujeitos ou agentes do conhecimento, sustentam
que a voz da ciência é masculina e que a história foi escrita do ponto de
vista dos homens. Em contrapartida a esta visão, as feministas propõem
epistemologias alternativas (HARDING, 1996; HARAWAY, 1995;
BLAZQUEZ GRAF, 2008; SALGADO, 2008), que coloquem as
mulheres no lugar de sujeitos do conhecimento.
A Epistemologia Feminista é proposta, pela primeira vez, por autoras
norte-americanas – Sandra Harding e Donna Haraway – e surge na década
de 1970, no marco da segunda onda do Feminismo, e “[...] desde suas
origens tem se caracterizado por não ser um conjunto teórico uniforme
nem responder a um discurso homogêneo” (HARDING, 1996, p. 7). Ao

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contrário, este tipo de discussão é uma necessidade em sociedades com


aspirações democráticas e de justiça social, pois engloba uma pluralidade
de enfoques e métodos, articulados de forma diferente em distintos países
ou áreas de conhecimento.
É importante assinalar que a Epistemologia Feminista é um campo
conceitual ainda em elaboração, e entre as especialistas há um acordo
sobre três principais tendências: a Teoria do Ponto de Vista (Standpoint);
o Empirismo Feminista; o Pós-modernismo Feminista, cujos pontos de
distinção ocorrem pela forma como estabelecem a relação entre mulheres e
ciência. O ponto central que serve de referência para essas três tendências é
o valor epistemológico outorgado à categoria “experiência” das mulheres. A
experiência dá forma às vivências pessoais de uma multiplicidade de sujeitos,
é o espaço onde se configura a inter-relação entre as variáveis gênero, raça,
etnia, classe entre outras, possibilitando o surgimento de uma subjetividade
recriada pelas próprias mulheres e pelos demais sujeitos envolvidos na relação.
Resulta particularmente valoroso o caráter situado da experiência, ou seja, ser
uma experiência de mulheres ou uma relação entre experiência e gênero. A
experiência, portanto, é um constructo teórico, cujo estatuto epistemológico é
motivo de reflexão para as tendências que apresentamos a seguir.
A) A Teoria do Ponto de vista Feminista ou Standpoint – Esta
tendência considera que as mulheres possuem um privilégio epistêmico
devido à sua posição de subordinação (menos vantajosa), o que as permite
comportar-se ao mesmo tempo como “próprias” e estranhas (insiders e
outsiders) em relação aos grupos a que pertencem e aos que pesquisam. Nega
a separação entre sujeito e objeto e propõem que as mulheres estão situadas
em posições que lhes permitem ter uma melhor perspectiva ou ponto de
vista no processo de criar conhecimentos livres de valores androcêntricos e
sexistas. São capazes de ter uma atitude vigilante, uma “dupla visão”, ou seja,
aprendem a manejar a sua própria cultura e a dominante, incluindo a dos
homens que as dominam em seu próprio grupo.
B) O Empirismo Feminista – Nesta tendência os posicionamentos
dos sujeitos cognoscentes (pesquisadores) são os que introduzem vieses na
atividade científica, gerando a “boa” ou a “má” ciência. Isto é: a “boa ciência”
é resultado do rigor científico na investigação; e a “má ciência” se produz
quando os preconceitos, valores, vieses se antepõem ao procedimento
científico. Considera-se que os enviesamentos sexistas e androcêntricos
surgem no processo de pesquisa e, por sua vez, são corrigíveis mediante a
estrita adesão às normas metodológicas vigentes da investigação científica.
O empirismo feminista sustenta que a virada epistêmica radica no ato de
“fazer ciência com perspectiva feminista”.
C) O Pós-Modernismo Feminista – Uma terceira perspectiva,
segundo Sandra Harding (1996, p. 25), assenta-se nas posições

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pós-estruturalistas e pós-modernas e defende que os modelos de


conhecimento se baseiam em experiências localizáveis. As representantes
desta tendência refutam o conceito universal de “mulher” para reivindicar a
pluralidade das “mulheres”. A chave epistêmica desta perspectiva encontra-
se na “ressignificação” (mais do que na desconstrução) das identidades e
da política. Judith Butler (2003, p. 210) advoga por “uma proliferação de
identidades subversivas a modo de prática política”.
Sandra Harding (1996) caracteriza as três tendências como
“epistemologias transicionais”, porque, a seu modo de ver, estão enraizadas
em culturas que são em si mesmas transicionais, o que gera dificuldades no
sentido de prevalência de um único ponto de vista, ou seja, para a autora, as
três tendências poderiam convergir sem maiores contradições.
Destacamos que, atualmente, as Epistemologias Feministas têm se
consolidado como uma opção reconhecida no campo científico, trazendo para
o debate a importância da interseccionalidade, revelando uma preocupação
com o aumento de múltiplas formas de desigualdade social, discriminação,
exploração, opressão e dominação que tem atingido, principalmente as
mulheres em todo o mundo. Neste sentido, um Serviço Social com perspectiva
feminista parte do pressuposto que os problemas sociais, as demandas postas
por nossas/os usuárias/os (majoritariamente mulheres) requerem, também,
análises feministas para a construção do conhecimento.

Desafios na incorporação da perspectiva feminista pelo Serviço


Social no Brasil

A perspectiva feminista se inscreve no paradigma teórico dos Estudos


Feministas e a perspectiva de gênero é sinônimo de enfoque de gênero, está
baseada na teoria de gênero e na análise de gênero (LAGARDE, 1996).
Para o caso brasileiro, vislumbramos o Serviço Social como uma
profissão que ainda luta por alcançar um dos objetivos pendentes: outorgar
status acadêmico e de igualdade aos saberes que se produzem por mulheres,
com mulheres e sobre as mulheres, que tem sido – e segue sendo – uma coluna
central da profissão; em grande medida, somos mulheres que estudamos e
produzimos sobre as origens e consequências das desigualdades de gênero
e suas interseccionalidades.
A maioria das publicações brasileiras sobre os temas “Feminismo e
Serviço Social” ainda centram suas discussões na “crítica marxista à noção
de gênero”, como é o caso do livro “Feminismo, diversidade sexual e serviço
social”, das autoras Mirla Cisne e Silvana dos Santos (2018,), em cuja
apresentação se lê:

Sob a perspectiva do feminismo, [o livro] apresenta a crítica


marxista à noção de gênero, as particularidades da questão social e

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mostra como o patriarcado, o racismo e o heterossexismo adensam


a exploração da classe trabalhadora e a violação de direitos. [...] Um
convite à reflexão crítica sobre por que as profissões, e em particular
o Serviço Social, devem considerar a defesa do feminismo e da
diversidade como indispensáveis à luta anticapitalista4.
4 Sinopse sobre o livro apresentada
na contracapa pela Editora Cortez,
que o publicou. Disponível em: Em pesquisa doutoral em andamento, após levantamento realizado
http://www.cortezeditora.com.br/
feminismo-diversidade-sexual-e- em periódicos brasileiros vinculados aos programas de pós-graduação na
servico-social-2317.aspx/p área do Serviço Social sobre o tema “violência doméstica e familiar contra
a mulher”, publicados entre os anos de 2007 a 2017, identificamos que
nos artigos sobressaem de forma preponderante análises circunstanciadas
em referenciais marxistas (SILVA, 2008; COELHO et al., 2014; COSTA,
2017; GROSSI; COUTINHO, 2017). O marcador de classe acompanha o
eixo de análise que demarca as assimetrias na divisão sexual do trabalho no
âmbito da agricultura e no trabalho doméstico (GROSSI; COUTINHO,
2017) e delimitam que as “[...] desigualdades de gênero fazem parte da
totalidade da vida social e estão perfeitamente articuladas com a lógica do
sistema capitalista, que transforma diferenças em desigualdades e opressões”
(COSTA, 2017, p. 37).
Este tipo de análise sobre a violência de gênero é fruto de uma
determinada diretriz curricular que rege a formação profissional, na
medida em que os principais cursos de graduação e pós-graduação em
Serviço Social no Brasil ainda privilegiam a matriz marxiana em seu
processo de formação e, raramente, abrem espaço para linhas de pesquisa
alternativas, como é o caso dos Estudos Feministas e de gênero. Esse fato
limita o campo discursivo e a produção de um saber acadêmico plural, o
que nos leva a indagar: como uma profissão que declara em seu do Código
de Ética Profissional, Princípio VII, “Garantia do pluralismo, através do
respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões
teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual”, tenta
silenciar outras perspectivas teórico-metodológicas capazes de subsidiar a
intervenção profissional e a produção do conhecimento em Serviço Social?
Consideramos que ocorre uma “cegueira ideológica” (LISBOA;
OLIVEIRA, 2015) em parte da categoria profissional e que já não é
mais possível fechar os olhos diante de uma realidade tão evidente. Os
feminismos, de maneira geral, reconhecem a contribuição teórica do
marxismo, aceitando entre outras, a concepção de práxis social, um contínuo
movimento em espiral que valoriza a experiência como determinante da
construção do saber. Porém, a complexidade das realidades de opressão,
submissão, discriminação e exploração favorece a resistência das mulheres
em “lugares de fala”, tempos e contextos diversos, levando-as a romper as
barreiras do silêncio por meio da linguagem e da ação.

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Face ao exposto, pensadoras negras latino-americanas e brasileiras


como Sueli Carneiro (2003), Lelia Gonzales (1984), Luiza Bairros (2014)
e Djamila Ribeiro (2017), defendem a necessidade do reconhecimento de
outros saberes, a importância de entendê-los como localizados e de romper
com o postulado do silêncio. Expõem crítica contundente quando declaram
que militantes, organizações e integrantes dos movimentos de mulheres
negras empreenderam um salto de qualidade, ao pronunciar e refletir sobre
a interseccionalidade que permeia as suas trajetórias de vida – a partir do
“lugar de fala”: “O falar não se restringe ao ato de emitir palavras, mas
de existir” (RIBEIRO, 2017, p. 64). Para a autora, o lugar que ocupamos
socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas.
A hipótese de Djamila é que:

A partir da teoria do ponto de vista feminista, é possível falar de


lugar de fala. Ao reivindicar os diferentes pontos de análises e a
afirmação de que um dos objetivos do feminismo negro é marcar o
lugar de fala de quem se propõem, percebemos que essa marcação
se torna necessária para entendermos realidades que foram
consideradas implícitas dentro da normatização hegemônica.
(RIBEIRO, 2017, p. 60).

Pensar lugar de fala para essas autoras seria desestabilizar e criar fissuras
e tensionamentos a fim de fazer emergir não somente contradiscursos, mas
igualmente outros discursos construídos a partir de outros referenciais e de
outras geografias.
Por outro lado, uma preocupação se destaca, quando constatamos que
poucas Escolas de Serviço Social brasileiras incluem disciplinas do campo
feminista no currículo de formação. Em levantamento feito por Daiana
Nardino Dias (2014) sobre as matrizes curriculares dos cursos de graduação
de 31 Instituições de Ensino Superior (IES), no ano de 2013, foi verificado
que apenas seis delas5 integram a disciplina sobre “Relações de Gênero” na 5 As instituições de ensino que
incluem a temática de gênero em
grade curricular obrigatória, e, na maioria das vezes, de forma complementar, suas grades curriculares como
no diálogo com outras categorias como raça/etnia, identidade, sexualidade disciplina obrigatória são: UFMT/
MT; UnB/DF; Emescam/ES; UFF/
entre outras. Em outras dez instituições,6 a temática de gênero aparece como
RJ; UFRJ/RJ; PUC/RS.
disciplina eletiva, e 15 escolas sequer a incluem na grade curricular – nem em
6 As instituições de ensino que
disciplinas obrigatórias, nem em eletivas (optativas).
incluem o debate sobre as questões
Apesar dessa polêmica, a discussão sobre as diferentes perspectivas que de gênero em disciplinas optativas
englobam as questões de gênero tem ocorrido nos dois principais encontros ou eletivas na grade curricular são:
FUFSE/SE, Ufal/AL, UFMA/
nacionais da categoria: Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAs) MA, UFPE/PE, UFRN/RN,
e Encontro Nacional de Pesquisa em Serviço Social (ENPESS), fazendo- Ufam/AM, UFPA/PA, Ufes/ES,
Uerj/RJ e UFSC/SC.
se presente transversalmente em diferentes eixos, destacando-se os temas
da “Violência contra a Mulher” (em primeiro lugar), seguidos de mesas
coordenadas e apresentação de trabalhos que envolvem os temas “Gênero e
Saúde” e “Gênero e Trabalho”, entre outros.

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Destaca-se a presença de pesquisadoras e profissionais de


Serviço Social em mesas-redondas e simpósios temáticos nos encontros
internacionais como o “Seminário Internacional Fazendo Gênero”, que
ocorre desde 1994 na UFSC, e reúne, a cada dois anos, pesquisadores(as)
do mundo inteiro que atuam no campo dos Estudos Feministas.
Especial destaque merecem os dois volumes da Revista Temporalis,
publicados no segundo semestre de 2014, sobre o tema Serviço Social,
7 Organizada em conjunto com relações de exploração/opressão de gênero, raça/etnia, geração, sexualidades7.
o Grupo de Trabalho e Pesquisa
O volume de artigos e a diversidade de questões abordadas traçam um
(GTP) Serviço Social, Relações de
Exploração/Opressão de Gênero, panorama do que vem sendo discutido no Serviço Social sobre as questões
Raça/Etnia, Geração, Sexualidades, de gênero e indicam, igualmente, que os processos sociais e históricos
vinculado à ABEPSS, a chamada
para essa publicação recebeu 122 vêm impondo as discussões de gênero à profissão e que há necessidade de
artigos, e, segundo as editoras da ampliação do debate e da apropriação desses estudos pela categoria.
revista, essa temática foi a que mais
mobilizou, até então, o envio de Além disso, temos um perfil próprio de feminismos na América
trabalhos para publicação, na atual Latina, como sinaliza María Luisa Femenías (2007), resultado da
gestão.
convergência e das contradições das suas três raízes: índígena, negra,
europeia (além das migrações asiáticas, entre outros povos). Consideramos
que nossas questões específicas favorecem discursos alternativos e uma
ruptura político-epistemológica dos contextos naturalizados para darmos
voz própria às múltiplas forças étnicas, sexuais, econômicas e culturais
deste imenso país. A crítica feminista vem demonstrando que preterir essas
múltiplas desigualdades como problema e invisibilizar a produção teórica
das mulheres, contribui para reforçar as instituições e práticas políticas
excludentes.
A literatura mais recente sobre políticas de igualdade tem incorporado
a interseccionalidade nas políticas públicas, e um dos aspectos centrais dessa
abordagem diz respeito à necessidade de se evitar a sobreposição de categorias
de diferenciação, ou seja, perceber que as categorias – discriminação de
gênero, raça, etnia, geração, exploração de classe, biopolítica dos corpos,
entre outras, estão profundamente imbricadas e produzem efeitos distintos,
dependendo do contexto analisado. A partir dessas discussões, pretendemos
trazer algumas reflexões sobre as contribuições das epistemologias
feministas para os estudos de gênero no Serviço Social.

Interseccionando os múltiplos sistemas de subordinação: por um


conhecimento “socialmente situado”

A ideia central da Epistemologia Feminista é que “o conhecimento


está/é sempre socialmente situado” (HARDING, 1996, p. 7): o que se
conhece e o modo como se conhece reflete as experiências, circunstâncias
e perspectivas físicas, psíquicas e sociais particulares dos sujeitos; ou seja,
não somente a sua corporeidade, seus valores, suas habilidades, seus estilos

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cognitivos, senão também sua localização social: gênero, orientação sexual,


raça/etnia, idade, status familiar, papéis que ocupa na sociedade, relações
sociais – ocupação, filiação a um partido político, entre outros, ou seja, cada
um/a de nós possui uma identidade social atribuída, e uma identidade
subjetiva.
A ideia de conhecimento situado rompe com a noção de um sujeito
epistemológico abstrato. O olhar (ou a perspectiva) torna-se encarnado,
toma corpo em função dos marcadores sociais que o acompanharam
durante toda a vida, incidindo sob sua capacidade funcional entre outros
aspectos. O pressuposto do conhecimento situado é indagar: sob que
circunstâncias estou fazendo essa afirmação? Para Donna Haraway (1995),
existe uma subjetividade encarnada nos projetos feministas, e para a autora,
o “situado” implica reconhecer os múltiplos posicionamentos do sujeito que
conhece e do sujeito que será conhecido: cada pessoa se encontra inserida
em uma complexa rede de posições, identidades e pontos de vista múltiplos,
instáveis, inclusive contraditórios, e carregados de relações de poder.
Ao introduzir o conceito de interseccionalidade, Kimberle Crenshaw
(2002) refere-se a uma associação entre múltiplos sistemas de subordinação,
ou seja, situações em que ocorrem dupla ou tripla discriminação. Para a
autora, “[...] a interseccionalidade é uma conceituação do problema que
busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre
dois ou mais eixos da subordinação” (CRENSHAW, 2002, p. 177).
Kimberle utiliza uma metáfora de intersecção, fazendo uma analogia
com um cruzamento de avenidas em que os vários eixos de poder, isto é,
raça, etnia, gênero e classe constituem as ruas que estruturam os terrenos
sociais, econômicos e políticos. “Essas vias são por vezes definidas como
eixos de poder distintos e mutuamente excludentes; o racismo, por exemplo,
é distinto do patriarcalismo, que por sua vez é diferente da opressão de
classe” (CRENSHAW, 2002, p. 177).
A autora nos adverte que tais sistemas, frequentemente, se sobrepõem
e se cruzam, criando intersecções complexas nas quais dois, três ou quatro
eixos se entrecruzam. Por exemplo, as mulheres negras estariam mais
sujeitas a serem atingidas pelo intenso fluxo de tráfego em todas essas vias,
uma vez que comumente estão posicionadas em um espaço onde o racismo
ou a xenofobia, a classe e o gênero se encontram.
Em relação ao conceito “raça”, justificamos em nota anterior a
utilização da forma “raça/etnia”, como uma conjugação da noção biológica
de “raça” com a antropológica de “etnia”, a qual normalizará a diferença
racial na cultura de massas, tornando “a ideia de ‘raça’ epistemologicamente
correta” (GILROY, 2007, p. 81). Se “raça” engloba características fenotípicas,
como a cor da pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial; “etnia”
compreende fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião,
língua e tradições de um determinado grupo.

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O atual posicionamento da militância e do pensamento negro


reflete o surgimento de novas formas de se compreender as relações
raciais no Brasil que tem configurado um debate polêmico e, por vezes,
até conflituoso. Corremos o risco de sair, de uma ideologia que afirmava
“não existir racismo”, o mito da democracia racial, rumo à afirmação radical
da ideia de “raça” e da ideologia do “separatismo racial”. Porém, quando
o lugar da fala “interrompe o diálogo” e silencia o outro, adverte Marcia
Tiburi (2017, [s. p.]): “[...] então ele já não é mais um lugar político, mas
um lugar autoritário que destrói a política no sentido das relações humanas
que visam ao convívio e à melhoria das condições da vida em sociedade”.
Há posicionamentos como o de Marilise dos Reis (2010), para quem,
a “raça” deve ser desconstruída e refutada por sua utilização histórica de
subalternização da população negra. Todavia, acreditamos que a substituição
ou inutilização do termo não resulta no desaparecimento das práticas que
nele se amparam. Dessa forma, concordamos com as colocações de Magrini
(2015) quanto à utilização do conceito:

[...] mesmo sabendo da importância dos estudos que questionam a


utilização do termo raça como categoria analítica, julgamos que na
América Latina e principalmente no Brasil, ainda é fundamental
o emprego do conceito, visto que a invizibilização [sic], durante
anos, da discussão racial criou uma forte barreira do combate ao
racismo e as arbitrariedades e violências anunciadas pela cor da pele.
(MAGRINI, 2015, p. 39-43).

Ainda prevalece, entre as mulheres, um deslocamento das


desigualdades sociais, ou seja, um aumento nas diferenciações sociais e
étnicas: se as mulheres brancas enfrentam dificuldades, por conta das
desigualdades de gênero, as mulheres negras enfrentam problemas muito
maiores, pela junção da desigualdade de gênero e raça/etnia, além da social
(de classe). Essa reflexão traz para o debate feminista, a discussão de como
evitar um provável reducionismo de uma categoria sobre as demais, ou
sobre um possível “essencialismo da diferença”, nos convidando a perseguir
sempre a macro análise ou o estudo das inter-relações de várias maneiras
de diferenciação social.
8 Ao utilizarmos a expressão “o
saber surge da prática”, ao invés
O saber surge da prática8 – experiências marcantes para a produção
de“o saber surge da práxis”, temos
como pressuposto incentivar de conhecimento em Serviço Social.
as pesquisadoras, docentes e
profissionais do Serviço Social a A complexidade e o entrecruzamento (interseccionalidade) das
refletirem sobre suas práticas, pois
no nosso entender – e é o que o artigo questões sociais requerem da(o) profissional de Serviço Social uma
propõe, no cotidiano de intervenção clareza do referencial teórico que orienta o seu exercício profissional em
profissional surgirão reflexões
sobre os Estudos Feministas e suas um movimento constante de construção e reconstrução de conceitos
interseccionalidades. ou paradigmas de análise sobre a leitura da realidade. É nosso dever,

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como profissionais de Serviço Social, nos opormos a toda a ordem de


discriminação, seja por razões de cultura, identidade de gênero, sexo, idade,
cor da pele ou outras características físicas, orientação sexual, estado civil,
descapacidade, ideias religiosas, entre outros.
No decorrer de sua história, o processo de Reconceituação do Serviço
Social no Brasil inseriu a profissão nas lutas pelo enfrentamento a todas
as formas de exploração, discriminação e preconceito, assinalando em seus
Documentos Araxá (1968), Teresópolis (1970) e Sumaré (1978), um debate
sobre a formação capaz de acompanhar as mudanças sócio-históricas,
demandando teorias que refletiam sobre o contexto socioeconômico,
político e cultural.
O período de Reconceituação (1970-1980) foi um expoente
na história da nossa profissão, ao reivindicar um olhar específico para a
realidade brasileira, cujo auge do processo de industrialização deixou
milhares de famílias em situação de extrema pobreza. Surgiu um Serviço
Social engajado e militante, comprometido com as lutas políticas do povo
e a “teoria marxiana” foi definida como legado de uma profissão que exige
respostas a esta nova conjuntura.
Um longo tempo se passou desde aquela época, e a realidade foi
se reconfigurando em um incessante movimento dialético demandando
o repensar das teorias. Nossas intervenções no cotidiano da prática
foram revelando a importância de aceitarmos o fato de que as teorias são
provisórias, de que é preciso colocá-las em movimento, visualizando-as
mais como pressupostos do que categorias fixas e imutáveis. Para Cecilia
Minayo (2010), os temas abordados em pesquisas na área das Ciências
Humanas e Sociais, geralmente são entrelaçados, necessitando dos olhares
(enfoques) de várias disciplinas, para que estas possam dialogar entre si em
busca de respostas a problemática central.
Isto posto, trazemos a contribuição dos Estudos Feministas para
o Serviço Social, concordando com as autoras González Garcia e Pérez
Sedeno (2002), para as quais os Estudos Feministas não pretendem
afirmar que “as mulheres vão fazer outra ciência”, e, da mesma forma,
assentimos a Sandra Harding (1996) e Maria Mies (2002), para as quais
“não existe um método feminista”, mas sim, várias “maneiras científicas”
de ascender ao conhecimento, incluindo o saber que surge da prática e os
saberes populares, como listado a seguir: o conhecimento político – que
identifica as estratégias e habilidades utilizadas pelos sujeitos de nossas
pesquisas; o conhecimento crítico – que possibilita criticar as ideologias,
as teorias e desmistificá-las; o conhecimento técnico – que desenvolve
habilidades, cria ferramentas, instrumentais técnico-operativos para
intervir com pessoas e grupos, articulando as descobertas empíricas com as
afirmações teóricas; o conhecimento social – que amplia a capacidade de

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relacionar-se com pessoas, de reconhecer as condições em que sobrevivem;


que desenvolve novas formas de relação social abrindo-se para o “outro”,
para as “diferenças”; que reconhece que os indivíduos vivem determinadas
relações entre si e seu entorno material, sociocultural e histórico; e por fim,
o autorreconhecimento – que nos torna capazes de compreender e aceitar
as nossas próprias capacidades e limitações teórico-metodológicas.
Nesse sentido, as escolhas de nossos objetos, tanto de estudo como
de intervenção, demandam uma identificação com o sujeito/objeto;
requerem, também, uma leitura da realidade que transpassa a esfera macro
para a micro e vice-versa, em um processo dialético contínuo, de construção
e reconstrução da teoria a partir da prática. Neste ponto, a experiência
profissional, no cotidiano de intervenção, com os sujeitos da investigação
e no processo formativo consiste em um processo no qual tomamos a
realidade como ponto de partida, explicitando justamente os dados não
reconhecidos, não valorizados, invisibilizados.
A perspectiva feminista valoriza a escuta dos sujeitos de nossas
intervenções: mulheres, homens, jovens, idosos, trabalhadores, entre outros,
para saber o que pensam e como se sentem, e formular perguntas de
pesquisa a partir da “experiência desses sujeitos”, bem como propostas de
intervenção a partir dos interesses e necessidades dos mesmos. A introdução
da categoria “experiência” ou do fator subjetivo na ciência corresponde ao
lema feminista: “o pessoal é político”, ou seja, questões que até agora eram
vistas como pertencentes à esfera privada, por exemplo, “em briga de marido
e mulher não se mete a colher”, tornam-se pautas de políticas públicas
e as mulheres contribuem tanto na proposição dessas políticas, como na
construção de conhecimento, na medida em que relatam suas experiências
para os(as) profissionais de Serviço Social ou para o(a) pesquisador(a).
Assim, as pessoas com as quais trabalhamos somente podem emergir
como sujeitos no horizonte da produção do conhecimento ou da pesquisa
científica na medida em que desvendamos com elas seus mistérios, suas
vivências, sua condição de subalternas, oprimidas ou exploradas. E essa
passagem – da condição de objeto para a condição de sujeito – apenas
acontece mediada pela nossa própria emancipação, como intelectuais
engajados(as) e identificados(as), produzindo conhecimento.

Entrelaçando diferentes experiências de intervenção profissional


– práticas sociais e diversidades

A nossa aproximação com os Estudos Feministas aliada à prática


docente de acompanhamento pedagógico em estágio curricular nos
sensibilizou para as seguintes questões: “nossas(os) profissionais estão
preparadas(os) para intervir junto aos diferentes tipos de violências de

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Revista Grifos 61

gênero?” e “Como conviver, respeitar estudantes, professores, e profissionais


com diferentes orientações sexuais, bem como usuárias(os) com múltiplas
identidades de gênero no cotidiano de nossas práticas?”.
A produção do conhecimento – os Trabalhos de Conclusão de
Curso, as Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado – tem revelado
que os(as) estudantes mergulham em experiências de campo (no estágio
ou na pesquisa), a partir do que podemos afirmar que nenhum trabalho
teórico é alheio à experiência vivenciada pelo sujeito que o escreveu.
Nesse processo surgem novas experiências, conforme constatamos uma
interseccionalidade nos temas para reflexão. Cada vez mais frequentes, os
Trabalhos Acadêmicos têm revelado estudos sobre mulheres moradoras de
rua, mulheres negras, indígenas, camponesas, homoafetividades, violências
de gênero, interrupção legal da gravidez, discriminação racial, política de
cotas entre outros. A partir daqui, abre-se um conjunto de possibilidades
que privilegiarão o lugar que nós, profissionais, produtoras de conhecimento
daremos aos Estudos Feministas.
O curso de Serviço Social de caráter generalista insere estudantes em
campos de estágio ou profissionais para atuar em diferentes espaços junto a
um vasto campo de políticas públicas. Nesse sentido, recorrer a teorias que
norteiem a compreensão sobre equidade de gênero nas políticas públicas,
novos modelos de família, violências de gênero, pessoa com deficiência,
pessoa idosa, o cyberativismo (violência digital, cyber bulling), e outros são
essenciais para qualificar o debate, as experiências de práticas e a postura
ético-política de nossos(as) estudantes e profissionais.
Tendo claro que o Serviço Social cumpre um papel decisivo no
enfrentamento da cultura de opressão, no decorrer da nossa prática,
constatamos que uma profissão se legitima a partir das respostas que
consegue emitir para usuárias(os) dos seus serviços e para suas(seus)
contrastantes. Nesse sentido, nossa prática cotidiana, tanto na academia
como na militância, permitiu-nos destacar uma experiência que merece ser
compartilhada e revelada pela tríade do ensino, da pesquisa e da extensão.
9 As unidades de ensino pesquisadas
foram: Região Norte: UFAM e
Práticas de ensino libertadoras: a sala de aula como um espaço de desafio UFT; Nordeste: UFPE, UFAL,
UFRN, UFMA, FAMETRO (CE),
UFPB, IFCE, UECE, UERN,
Os cursos de Serviço Social das unidades de ensino superior no Brasil
UEPB, UFRB; Centro-oeste:
são regidos por diretrizes curriculares e têm em sua estrutura, componentes UNB, UFMT, UFG, PUC-GO,
apresentados em forma de disciplinas obrigatórias, eletivas, Trabalhos de UNIVAG-MT; Sudeste: UFJF,
UERJ, UFRJ, UFES, UFF, PUC-
Conclusão de Curso, estágio obrigatório e atividades complementares, RIO, Unilago São João do Rio Preto
necessários ao processo de formação. (SP), UNINOVE (SP), Centro
Universitário Ítalo Brasileiro (SP);
Em pesquisa abrangendo 32 universidades públicas e privadas
Sul: PUC-RS, UFSC, UNISINOS-
das cinco regiões do país9, Rita de Lourdes de Lima (2012 apud DIAS, RS, UNIPAMPAS (RS) e
2014), constatou que as disciplinas que se dedicam a estudar as relações Universidade Caxias do Sul (RS).
(LIMA, 2012).

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sociais de gênero e suas interseccionalidades geralmente são oferecidas no


último ano do curso, quando os(as) discentes estão no final do estágio, “[...]
dificultando, portanto, a percepção por parte destes [estudantes] sobre as
questões ligadas às relações sociais [interseccionalidade] durante o estágio”
(LIMA, 2012, p. 13).
A partir do seu estudo, a autora sugere as seguintes propostas para
os cursos de graduação em Serviço Social: a) A temática de gênero deve
se dar em forma de disciplina obrigatória e no momento de ingresso dos
discentes no estágio obrigatório; b) A temática de gênero deve incorporar
mais efetivamente discussões relacionadas à [interseccionalidade] raça/
etnia, diversidade sexual, entre outras questões; c) A temática de gênero
deve se dar também transversalmente, nas diversas disciplinas do curso,
relacionando tal temática com as demais (LIMA, 2012, p. 14).
Para os propósitos deste artigo, assinalamos sumariamente uma
experiência realizada na formação profissional, que oportunizou a
abordagem de gênero e Serviço Social, por meio de disciplina optativa
(eletiva).
As realidades aqui anunciadas tiveram seus desdobramentos por meio
de disciplinas optativas ofertadas no período de 2013 a 2017 nos cursos
de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
10 Ambas as Unidades de Ensino e da Universidade Federal de Sergipe (UFS)10, a abordagem central das
são o local de trabalho das autoras
do presente artigo.
ementas contemplaram relações de gênero, feminismos e Serviço Social,
no qual discentes de diferentes cursos regularmente matriculados, tiveram
uma aproximação ao pensamento teórico feminista para subsidiar estudos e
discussões de conteúdos acerca de temas sobre a violência contra a mulher.
Em relação à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
salientamos uma experiência no primeiro semestre de 2015, no qual foi
oferecida a disciplina optativa (eletiva): “Tópicos Especiais em Movimentos
11 A disciplina foi ministrada por Sociais – Mulheres em Movimento e o papel do Serviço Social”11, tendo
uma das autoras deste artigo.
como ementa “Aspectos conceituais e metodológicos sobre os movimentos
feministas e de mulheres no Brasil. O papel dos movimentos feministas nas
transformações socioculturais, nas áreas dos direitos humanos, cidadania,
exclusão social e violência contra mulheres. [...] As contribuições dos
estudos feministas e das metodologias de trabalho com mulheres para
o Serviço Social”. A disciplina trouxe como um dos principais objetivos
aprofundar o debate teórico-conceitual que conduziu à formulação das
categorias analíticas centrais: relações de gênero, classe, raça/etnia e gerações
junto aos movimentos feministas, LGBTTs e de mulheres. Matricularam
nesta disciplina, 42 estudantes dos cursos de Serviço Social, Ciências
Sociais, Nutrição, Geografia, História, Jornalismo, Língua e Literatura
e Secretariado, configurando uma interdisciplinaridade que ao longo do
semestre, enriqueceu e diversificou as discussões, além da presença de uma

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estudante integrante dos povos indígenas Laklaño Xokleng (Ibirama/


SC). Como procedimento metodológico adotado ao processo ensino-
aprendizagem, a realização de trabalho de grupo reuniu um conjunto de
ações compartilhadas por equipes de estudantes que abordaram diferentes
Movimentos, a saber: Movimento de Mulheres Negras, Movimento de
Mulheres Indígenas, Movimento LGBTTs, A Marcha das Vadias, entre
outros, com o objetivo de conhecê-los e trazer integrantes desses grupos para
a sala de aula. Tivemos o privilégio de escutar e conhecer a “cacica” Zenaide,
que falou das principais lutas e conquistas do seu povo, que vive no “Morro
dos Cavalos”, nas proximidades de Florianópolis. Também recebemos uma
representante do Movimento de Mulheres Negras, e uma transexual que
falou sobre a sua experiência de vida, salientando a dificuldade em relação
a conseguir trabalho, decorrente do elevado grau de transfobia que ainda
impera na sociedade. Notadamente, foi possível perceber que a temática
da violência de gênero perpassava todos os Movimentos de Mulheres
ou Feministas estudados, razão pela qual estudos mais aprofundados
desencadearam a produção em vídeo e a elaboração do Projeto “Violência
de Gênero: representações em foco” que, elaborado de forma interativa
entre docente e discentes, oportunizou a participação de todos(as), como
também a assinatura de um Termo de Consentimento Livre Esclarecido,
confirmando a autorização de suas falas e suas imagens.
Na Universidade Federal de Sergipe (UFS), com sede no município
de São Cristóvão, a oferta da disciplina Relações de Gênero e Serviço
Social também ocorreu no primeiro semestre de 2013. Respondendo
a uma demanda reprimida dos(as) estudantes por disciplinas optativas
ocorridas naquele período, foram abertas duas turmas, que contaram com
aproximadamente 91 matriculados(as), distribuídos em horários vespertino
e noturno. A apresentação da ementa contemplava dentre os eixos centrais:
“O feminismo – antecedentes históricos. [...] Matrizes teóricas nos estudos
feministas da mulher: patriarcado, divisão sexual do trabalho e gênero.
Abordagens da subjetividade e construção da identidade de gênero. [...]
Inserção do gênero nas políticas sociais. Estudos empíricos: gênero e serviço
social”. Os objetivos da disciplina destacavam conhecer historicamente
o significado de gênero e feminismo sob diferentes perspectivas teóricas;
articular a questão de gênero com o serviço social, no âmbito das dimensões
teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas da profissão. As
leituras instigaram profícuos e calorosos debates, de modo articulado com
o Serviço Social, em razão da presença unânime de estudantes do curso.
Além disso, o processo avaliativo contou com a liberdade de escolha sobre
a temática de gênero, o que resultou em uma produção de conhecimento
consistente, permitindo um olhar mais atento e desvencilhado de
preconceitos sobre violência no espaço intrafamiliar contra a mulher e a

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criança, união por casais homoafetivos, divisão sexual do trabalho no espaço


rural, dentre outros.

Considerações conclusivas

Procuramos, neste ensaio, dialogar com a categoria (Assistentes


Sociais) sobre a importância da pesquisa e da produção do conhecimento
em Serviço Social, destacando a contribuição que as Epistemologias
Feministas têm proporcionado no processo dialético que ocorre entre a
investigação e a ação (intervenção), o que nos aponta novos caminhos para
a interseccionalidade. A incorporação das experiências e vozes das mulheres
tem levado, nas teorias feministas e no Serviço Social, à emergência
de novos objetos de pesquisa e novas perspectivas epistemológicas e
metodológicas. Entendemos que a construção do conhecimento não é
de domínio exclusivo dos centros de ensino e pesquisa. Por essa razão, é
essencial continuar vinculando, articulando e retroalimentando o mundo
acadêmico com o profissional, para que um dos princípios históricos mais
caros do Serviço Social: “conhecer para atuar e investigar para intervir”,
possa continuar vigorando.
Um Serviço Social com perspectiva de gênero torna-se mais
evidente na medida em que as e os estudantes possam ser capacitados(as)
com ferramentas teóricas e metodológicas que venham ao encontro do
cotidiano de intervenção nos campos de estágio, das práticas profissionais,
trazendo à tona as múltiplas formas de desigualdade e propondo caminhos
para transformações sociais. A consolidação de uma disciplina, de uma
área ou de uma profissão passa pela produção de conhecimentos próprios,
e isto apenas será possível a partir de estudos e pesquisas centrados na
realidade do Serviço Social. Este, por sua vez, tem-se inserido nas lutas pelo
enfrentamento a todas as formas de discriminação e preconceito, e assinala
que o debate sobre formação profissional acompanha as mudanças sócio-
históricas. Nessa direção, também é capaz de produzir outros olhares sobre
os feminismos, constituindo objeto de investigação e intervenção, visto que,
na academia, a presença feminina de estudantes, docentes, pesquisadoras
e teóricas além de notória também é alvo de opressão, ameaça e violência
acerca das questões de gênero, raça/etnia, classe, geração entre outras.
Assim, podemos quastionar: “Como profissionais de Serviço Social,
estamos conseguindo gerar saberes a partir de nossas práticas, produzindo
análises críticas que apresentam propostas, alternativas aos problemas
sociais?”, “Estamos promovendo mudanças e melhoria na qualidade de vida
das pessoas que atendemos (a maioria mulheres), que apostam por uma
sociedade mais justa e igualitária?”.
Salientamos que os estudos feministas apresentam uma perspectiva
crítica na construção do conhecimento, uma vez que foram as feministas

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Revista Grifos 65

que problematizaram a clássica distinção entre o público e o privado em


espaços de subordinação que eram naturalizados a partir dessa visão,
propondo o slogan: “o pessoal é político”. Os feminismos abriram para
contestação política novos enfoques da questão social, como: violências de
gênero, modelos de família, corpo e sexualidade, divisão sexual do trabalho,
o cuidado dispensado às crianças, idosos(as) e enfermos(as) atribuído
somente às mulheres, entre outros.
Entendemos que a Epistemologia Feminista pode nos fornecer
pistas, caminhos para repensarmos e ressignificarmos os conceitos e as
questões sociais que envolvem o fazer profissional do Serviço Social. É
importante destacar que a investigação feminista pode incidir em qualquer
campo disciplinar (inclusive o Serviço Social), e requer uma perspectiva
interdisciplinar uma vez que tem como pressuposto propor “questões de
pesquisa” que se baseiam na pluralidade, na diversidade e na multiplicidade
de experiências das mulheres. Também é consenso afirmar que “não
existe um método feminista”, que as pesquisas realizadas com enfoque
feminista utilizam uma combinação crítica de métodos de investigação e
de perspectivas de análise.
As experiências reveladas nesse ensaio indicam que a sala de aula
continua sendo o espaço que oferece as possibilidades mais radicais na
academia. Bell Hooks (2017) nos convida para uma renovação nas nossas
práticas de ensino, conhecer o que está além das fronteiras do aceitável, para
pensar e repensar, para criar novas visões, celebrar um ensino que permita as
transgressões, para “transformar a educação em prática de liberdade”.
Nossa experiência tem apontado quão necessário é estimular de modo
contundente e crítico as discussões que permeiam as temáticas de gênero,
raça/etnia, deficiência, classe, geração entre outras marcas que se constituem
como violência contra a mulher na relação ensino/aprendizagem. Assim,
consideramos como um dos grandes desafios, repensar a profissão sobre
outras perspectivas, incorporando as epistemologias feministas no campo
do processo formativo sem, contudo, restringir as análises a uma única
perspectiva teórica: a marxista.
Que o Serviço Social possa aproximar-se das contribuições dos
estudos feministas, e que, no cotidiano das nossas práticas, possamos
incorporar reflexões teóricas que iluminem as demandas interseccionais
que surgem no exercício profissional.

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Submetido em: 16/07/2018


Aceito em: 03/06/2019

REVISTA GRIFOS - N. 46 - 2019


Revista Grifos 69

KNOWLEDGE IS NOURISHED BY THE PRACTICES:


TO A SOCIAL WORK BY FEMINIST PERSPECTIVE

Abstract

The article proposes an interlocution between Social Work and Feminist Studies in the process of knowledge
construction, introducing the category intersectionality as one of the ways to deal with the multiplicity of differences we
face in our professional daily lives. It discusses the reductionism of the Marxist dimension present in the publications
on this subject in Brazil and understands that the category “gender” is an important element to understand and explain
the status of the profession. The research work presents the three main tendencies of the Feminist Epistemology: the
Standpoint Theory; the Feminist Empiricism; and the Feminist Postmodernism, whose points of distinction occur
in the way the relationship between women and science is established. The central point is the epistemological value
granted to the category “experience” of women. This study considers it important to reflect on the dialectic between
the epistemological and the empirical, believing that knowledge (social research) is nourished by social intervention
(of practices). It concludes that a “Social Work from a feminist perspective” will enable a greater engagement of
professionals in the intervention processes.

Keywords: Social work. Feminist epistemologies. Intersectionality. Professional intervention.

EL SABER SURGE DE UNA PRÁCTICA: POR UM TRABAJO


SOCIAL BAJO UNA PERSPECTIVA FEMINISTA

Resumen

El artículo propone una interlocución entre el Trabajo Social y los Estudios Feministas en el proceso de construcción
del conocimiento, con la introducción de la categoría interseccionalidad como una de las formas de tratar de la
multiplicidad de diferencias que enfrentamos en nuestro cotidiano profesional. Amparadas en la Epistemología
Feminista, cuestionamos el reduccionismo del Trabajo Social brasileño a una única corriente teórica, la marxista, que
somete toda la complejidad de la vida social y humana a la esfera de la producción. El texto busca desvelar las fisuras
que avanzan en el campo del conocimiento, en el sentido de contribuir con propuestas teóricas que atraviesan las
fronteras interseccionales, transversales, interdisciplinarias entre las categorías género, raza/etnia, sexualidad, clase,
generación entre otras. El trayecto argumentativo acompañará una secuencia de reflexiones realizadas a lo largo de
años de experiencia, tanto en la práctica académica, como en los trabajos de campo realizados a través de Proyetos de
Investigación y Extensión,.

Palabras-clave: Trabajo social. Epistemologías feministas. Interseccionalidad. Intervención profesional.

REVISTA GRIFOS - N. 46 - 2019

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