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MODELO DE ESTADO LIMITE ÚLTIMO PARA O

COLAPSO DE TUBOS DESGASTADOS – UMA


ABORDAGEM CONFIABILÍSTICA
1
Gabriel Torres da Silveira; 2 Eduardo Toledo de Lima Junior
1
[email protected]; 2 [email protected]
1
LCCV/UFAL; Av. Lourival Melo Mota, S/N, Tabuleiro do Martins; 57072-970; Maceió; Alagoas; Brasil
2
LCCV/UFAL; Av. Lourival Melo Mota, S/N, Tabuleiro do Martins; 57072-970; Maceió; Alagoas; Brasil

RESUMO: Durante a perfuração e ao longo da vida em produção de um poço de petróleo, o sistema de


revestimento é responsável por sua estanqueidade e integridade estrutural, possuindo alto custo associado em relação
ao montante total do poço. A ocorrência de eventos de falha em revestimentos pode resultar em elevados danos
ambientais, humanos e materiais. Seu dimensionamento estrutural deve contemplar as diferentes configurações de
carregamento atuantes, constituídas por pressões interna e externa aos tubulares, além de esforços axiais, de flexão e
torque. Dentre os possíveis modos de falha, o colapso dos tubulares, devido à ação de pressão externa, merece
destaque. A resistência ao colapso é fortemente dependente da espessura de parede do tubo, a qual pode ser reduzida
devido ao desgaste da parede interna de revestimentos já assentados, ocasionado pelo atrito com a coluna de
perfuração em sua fase de manobra. A análise de confiabilidade aplicada a um projeto estrutural permite a
quantificação da probabilidade de falha da estrutura para um determinado estado limite, de forma que esta pode ser
prevista ainda na fase de projeto. Neste tipo de análise, as incertezas associadas às variáveis de projeto são avaliadas,
a partir de sua modelagem como variáveis aleatórias. Propõe-se uma análise confiabilística da resistência ao colapso
de tubos desgastados, levando-se em conta a aleatoriedade de parâmetros geométricos e mecânicos dos tubulares. A
quantificação da perda de resistência ao colapso devida ao desgaste será feita com base em modelos analíticos da
literatura. Apresentam-se exemplos de aplicação, de forma a validar a metodologia proposta, e ilustrar sua eficácia.
PALAVRAS-CHAVE: Confiabilidade estrutural. Probabilidade de falha. Sistema de revestimentos.

1 INTRODUÇÃO

A dependência da humanidade para com os combustíveis fósseis motivou a exploração de


óleo e gás em campos ultra profundos, os quais apresentam condições severas de carregamentos,
desde a etapa de perfuração do poço e ao longo de sua vida em serviço. Nesse contexto, o sistema
de revestimentos é o responsável pela estanqueidade e pela integridade estrutural de um poço de
petróleo sendo constantemente solicitado por cargas oriundas de esforços axiais, pressões interna e
externa, além de flexão e torque. As diferentes configurações de cargas atuantes dão origem a
diversos modos de falha, dentre eles, o colapso é caracterizado pela perda da geometria estável do
elemento tubular em decorrência da ação de forças externas, em um curto espaço de tempo
(MOREIRA JÚNIOR, 2012).
Para o correto dimensionamento do sistema de revestimentos contra o colapso, a norma
API/TR 5C3 (2008) é tida como referência na Indústria e propõe um modelo de estado limite de
serviço (ELS), o qual admite a razão Diâmetro-Espessura �𝐷𝐷�𝑡𝑡� do tubo como o parâmetro mais
significativo (MOREIRA JÚNIOR, 2012) e divide o fenômeno do colapso em quatro tipos, por
meio de valores limite de esbeltez, a serem apresentados posteriormente. Em seu próprio corpo, a

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norma também traz o modelo de estado limite último (ELU) proposto por Klever e Tamano (2006),
que leva em consideração parâmetros de manufatura, como as imperfeições de ovalização e de
excentricidade da seção transversal, além da tensão residual acumulada em decorrência do
tratamento térmico na laminação, admitindo-o, dessa forma, como o que melhor aproxima a real
resistência ao colapso dos tubos.
Visto que os modelos desenvolvidos para análise do colapso dependem fortemente de
características geométricas, é de se esperar que alterações sofridas por estas durante a perfuração e
por toda a vida útil do sistema de revestimentos levem a valores de resistência diferentes daqueles
admitidos na fase de projeto. É o caso do desgaste interno das tubulações devido ao contato com a
coluna de perfuração, em que há redução da espessura (𝑡𝑡) e por consequência, queda na resistência
ao colapso. Esse fenômeno foi analisado por Kuriyama et al. (1992), cujo trabalho consistiu em
aproximar a superfície desgastada por meio de um cilindro excêntrico, o qual pode ser demonstrado
na Fig. 1.

Figura 1 – Modelo de Tubo Desgastado por Kuriyama et al. (1992)

Fonte: Kuriyama et al. (1992)

Em que 𝑑𝑑𝑜𝑜 , 𝑟𝑟𝑜𝑜 e 𝑡𝑡 são, respectivamente, o diâmetro, raio e espessura nominais do elemento
tubular. O elemento 𝑡𝑡𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 refere-se à mínima espessura observada, enquanto 𝑡𝑡𝑤𝑤 corresponde a
translação de um tubo interno de raio 𝑟𝑟𝑖𝑖 .
Com a finalidade de dimensionamento dos sistemas de revestimento, os modelos
anteriormente mencionados se fundamentam em valores nominais (ou determinísticos) para
parâmetros físicos dotados de incertezas. A quantificação dessas, por meio da teoria da
confiabilidade estrutural, permite calcular a probabilidade de falha de um elemento estrutural e
ainda, determinar em que momento um estado limite é atingido (SAGRILO, 2003), ou deixa de
atender às especificações de projeto (BECK, 2014). Para tal, os parâmetros envolvidos são
admitidos no problema como variáveis aleatórias e avaliados segundo uma equação de falha (𝐺𝐺),
baseada em alguma condição que se deseja verificar.

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Essa avaliação é realizada através de algoritmos semi-analíticos, cuja formulação matemática
se baseia em encontrar a menor distância entre a origem do espaço normal padrão e a superfície de
falha (𝐺𝐺 = 0). Contudo e de maneira geral, problemas de otimização sofrem limitações quanto a
natureza da função analisada, podendo convergir para soluções que não são ótimos globais. Maiores
detalhes acerca dos métodos podem ser vistos em Melchers (1999).
No intuito de transcender as fraquezas dos métodos semi-analíticos, técnicas de simulação
podem ser empregadas para o cálculo da probabilidade de falha através da razão entre o número de
cenários de falha (𝑁𝑁𝑁𝑁) e o número de cenários analisados (𝑁𝑁), conforme a Eq. 1:

𝑁𝑁𝑁𝑁 (1)
𝑃𝑃𝑃𝑃 =
𝑁𝑁

2 METODOLOGIA

Inicialmente, apresentam-se os modelos utilizados para o cálculo da resistência ao colapso


utilizados no presente trabalho.
De acordo com a formulação apresentada pela norma API TR/5C3 (2008), o fenômeno do
colapso é dividido em quatro tipos, a depender da razão 𝐷𝐷�𝑡𝑡 do tubo. Em que tubos grossos tendem
a colapsar sob níveis de tensão próximos à tensão de escoamento do material, enquanto que o
colapso dos mais finos é um fenômeno essencialmente geométrico, regido por sua esbeltez. A
pressão externa necessária para que ocorra o colapso do tubo pode ser obtida pelas seguintes
expressões:

• Colapso por escoamento

�𝐷𝐷�𝑡𝑡� − 1
(2)
𝐷𝐷 𝐷𝐷
𝑃𝑃𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 = 2 ∙ 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ � 2 � , 𝑠𝑠𝑠𝑠 � �𝑡𝑡 � ≤ � �𝑡𝑡 �𝑦𝑦𝑦𝑦
�𝐷𝐷�𝑡𝑡�

• Colapso plástico

𝐴𝐴 (3)
𝑃𝑃𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 = 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ � − 𝐵𝐵� − 𝐶𝐶, 𝑠𝑠𝑠𝑠 �𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑦𝑦𝑦𝑦 < �𝐷𝐷�𝑡𝑡� ≤ �𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑝𝑝𝑝𝑝
𝐷𝐷
� �𝑡𝑡�

• Colapso de transição

𝐹𝐹 (4)
𝑃𝑃𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 = 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ � − 𝐺𝐺� , 𝑠𝑠𝑠𝑠 �𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑝𝑝𝑝𝑝 < �𝐷𝐷�𝑡𝑡� ≤ �𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑡𝑡𝑡𝑡
𝐷𝐷
� �𝑡𝑡�

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• Colapso elástico

46.95 ∙ 106 𝐷𝐷 𝐷𝐷 (5)


𝑃𝑃𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 = 2 , 𝑠𝑠𝑠𝑠 � �𝑡𝑡 �𝑡𝑡𝑡𝑡 < � �𝑡𝑡 �
�𝐷𝐷�𝑡𝑡� ∙ ��𝐷𝐷�𝑡𝑡� − 1�

As variáveis geométricas estão em polegadas, enquanto que a menor tensão de escoamento


(𝑌𝑌𝑌𝑌) do aço é um dado em libras por polegada quadrada (psi).
Para efeitos de cálculo, as constantes 𝐴𝐴, 𝐵𝐵, 𝐶𝐶, 𝐹𝐹 e 𝐺𝐺 são obtidas pelas Equações 6, 7, 8, 9 e 10,
respectivamente.

𝐴𝐴 = 2.8762 + 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ 0.10679 ∙ 10−5 + 𝑌𝑌𝑌𝑌2 ∙ 0.2131 ∙ 10−10 − 𝑌𝑌𝑌𝑌3 ∙ 0.53132 ∙ 10−16 (6)

𝐵𝐵 = 0.026233 + 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ 0.50609 ∙ 10−6 (7)

𝐶𝐶 = −465.93 + 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ 0.030867 − 𝑌𝑌𝑌𝑌2 ∙ 0.10483 ∙ 10−7 + 𝑌𝑌𝑌𝑌3 ∙ 0.36989 ∙ 10−13 (8)
3
3 ∙ �𝐵𝐵�𝐴𝐴�
6
(9)
46.95 ∙ 10 ∙ � �
2 + �𝐵𝐵�𝐴𝐴�
𝐹𝐹 =
3 ∙ �𝐵𝐵�𝐴𝐴� 3 ∙ � 𝐵𝐵� � 2
𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ � − �𝐵𝐵�𝐴𝐴�� ∙ �1 − 𝐴𝐴 �
2 + �𝐵𝐵�𝐴𝐴� 2 + �𝐵𝐵�𝐴𝐴�

𝐵𝐵 (10)
𝐺𝐺 = 𝐹𝐹 ∙ � �
𝐴𝐴

Já os valores limites de esbeltez �𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑦𝑦𝑦𝑦 , �𝐷𝐷�𝑡𝑡 �𝑝𝑝𝑝𝑝 e �𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑡𝑡𝑡𝑡 utilizados para a determinação
do tipo de colapso, são resultantes das Equações 11, 12 e 13, respectivamente.

�(𝐴𝐴 − 2)2 + 8 ∙ [𝐵𝐵 + (𝐶𝐶/𝑌𝑌𝑌𝑌)] + (𝐴𝐴 − 2) (11)


�𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑦𝑦𝑦𝑦 =
2 + �𝐵𝐵 + �𝐶𝐶�𝑌𝑌𝑌𝑌��

𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ (𝐴𝐴 − 𝐹𝐹) (12)


�𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑝𝑝𝑝𝑝 =
𝐶𝐶 + 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ (𝐵𝐵 − 𝐺𝐺)

2 + �𝐵𝐵�𝐴𝐴� (13)
�𝐷𝐷�𝑡𝑡�𝑡𝑡𝑡𝑡 =
3 ∙ �𝐵𝐵�𝐴𝐴�

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Já para Klever e Tamano (2006), a expressão para o cálculo da resistência à pressão externa
de tubos de revestimento, em estado limite último, se dá pela Eq. 14:

(𝑅𝑅𝐸𝐸𝐸𝐸 + 𝑅𝑅𝑌𝑌𝑌𝑌 ) − �(𝑅𝑅𝐸𝐸𝐸𝐸 − 𝑅𝑅𝑌𝑌𝑌𝑌 )2 + 4 ∙ 𝑅𝑅𝐸𝐸𝐸𝐸 ∙ 𝑅𝑅𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ 𝐻𝐻𝑈𝑈 (14)


𝑃𝑃𝐾𝐾𝐾𝐾 =
2 ∙ (1 − 𝐻𝐻𝑈𝑈 )

Em que 𝑅𝑅𝐸𝐸𝐸𝐸 , 𝑅𝑅𝑌𝑌𝑌𝑌 e 𝐻𝐻𝑈𝑈 são, respectivamente, a pressão de colapso elástico última, a pressão
de colapso por escoamento última e um fator de redução influenciado pelas imperfeições do
processo produtivo dos tubos. Esses termos são obtidos por meio das seguintes expressões:

2 ∙ 𝐸𝐸𝑦𝑦 1 (15)
𝑅𝑅𝐸𝐸𝐸𝐸 = 𝐾𝐾𝑒𝑒 ∙ ∙
1 − 𝑣𝑣 �𝐷𝐷� � ∙ ��𝐷𝐷� � − 1�2
2
𝑡𝑡 𝑡𝑡

𝑅𝑅𝑌𝑌𝑌𝑌 = 2 ∙ 𝐾𝐾𝑦𝑦 ∙ 𝑓𝑓𝑦𝑦 ∙ �𝑡𝑡�𝐷𝐷� ∙ �1 + �𝑡𝑡�2 ∙ 𝐷𝐷�� (16)

𝑟𝑟 (17)
𝐻𝐻𝑈𝑈 = 0.127 ∙ 𝑜𝑜𝑣𝑣 + 0.0039 ∙ 𝑒𝑒𝑐𝑐 − 0.440 ∙ � 𝑠𝑠�𝑓𝑓 � + ℎ𝑛𝑛
𝑦𝑦

Onde 𝐸𝐸𝑦𝑦 é o módulo de elasticidade do aço, 𝑣𝑣 é o coeficiente de Poisson, 𝑓𝑓𝑦𝑦 é a tensão de


escoamento medida, 𝑜𝑜𝑣𝑣 é a ovalização, 𝑒𝑒𝑐𝑐 é a excentricidade, 𝑟𝑟𝑠𝑠 é a tensão residual e ℎ𝑛𝑛 é um fator
de forma para a curva de tensão-deformação do aço. Para os coeficientes 𝐾𝐾𝑒𝑒 e 𝐾𝐾𝑦𝑦 , obtidos
empiricamente, a API/TR 5C3 (2008) sugere, respectivamente, os valores 1.089 e 0.9911.
Em seguida, no intuito de quantificar a perda de resistência ao colapso em função do desgaste
interno do elemento tubular, apresenta-se a formulação de Kuriyama et al. (1992). Essa, consiste em
penalizar a resistência originalmente calculada para o tubo íntegro por meio da equação de Lamé
para a tensão circunferencial num tubo íntegro e seu ajuste, a fim de levar em consideração o
dimensionamento da parede desgastada (MOREIRA JÚNIOR, 2012). De tal modo, a resistência ao
colapso de um tubo, na presença de desgaste, se dá por:

𝑃𝑃∗� (18)
𝑃𝑃∗𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑 = 𝐾𝐾

Em que o fator redutor (𝐾𝐾) da pressão de colapso de uma tubulação não desgastada (𝑃𝑃∗ ) é
obtido por meio da seguinte expressão:

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�𝐷𝐷�𝑡𝑡� − 1 (19)
2 ∙ 𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ � 2 �
�𝐷𝐷�𝑡𝑡�
𝐾𝐾 =
𝑟𝑟 2 + 𝑟𝑟𝑜𝑜 2 (𝑟𝑟 2 + 𝑟𝑟𝑜𝑜 2 − 𝑡𝑡𝑤𝑤 2 )2 − 4 ∙ 𝑟𝑟𝑖𝑖 2 ∙ 𝑟𝑟𝑜𝑜 2
𝑌𝑌𝑌𝑌 ∙ � 𝑖𝑖 � ∙ � 𝑖𝑖2 �
2 ∙ 𝑟𝑟𝑜𝑜 2 (𝑟𝑟𝑜𝑜 − 𝑡𝑡𝑤𝑤 2 )2 − 𝑟𝑟𝑖𝑖 2 ∙ (𝑟𝑟𝑖𝑖 − 2 ∙ 𝑡𝑡𝑤𝑤 )2

No intuito de se realizar um estudo comparativo entres os modelos anteriormente


mencionados e de se evidenciar o risco do desgaste interno frente a integridade estrutural do poço,
propõe-se uma função de falha que relacione a resistência ao colapso obtida pela proposta de
Klever-Tamano (2006) com aquela obtida pela norma API TR/5C3 (2008), conforme a Eq. 20:


𝐺𝐺�𝐷𝐷, 𝑡𝑡, 𝑟𝑟𝑠𝑠 , 𝑓𝑓𝑦𝑦 , 𝑜𝑜, 𝑒𝑒� = 𝑅𝑅 𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐾𝐾𝐾𝐾 − 𝑅𝑅𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴
(20)


Para fins deste trabalho, entende-se que o termo 𝑅𝑅 𝐾𝐾𝐾𝐾
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷 quantifica a resistência de forma mais
precisa, pois, além de considerar a pressão resistente última, leva em conta a aleatoriedade dos
parâmetros físicos envolvidos, e admite a existência de uma superfície interna desgastada. Já o
segundo termo consiste em um valor determinístico, obtido através da utilização de valores
nominais, sendo esse o usualmente aceito na prática de projeto.
De modo tal, o nível de desgaste varia de 0% a 45% da espessura nominal do tubo (𝑡𝑡), a
probabilidade de falha é estimada pelo método de Monte Carlo. Os elementos tubulares empregados
no estudo são apresentados na Tabela 1, as variáveis aleatórias admitidas para o cálculo da
resistência ao colapso são caracterizadas na Tabela 2. Nessa, COV indica o coeficiente de variação
da variável em relação ao seu valor médio.

Tabela 1 – Elementos tubulares


Tubo Grau de Aço D/t Diâmetro Externo (D)
1 N-80 18.09 5 ½”
2 N-80 17.33 7”
3 P-110 17.33 7”

Tabela 2 – Parâmetros estatísticos


Variável Aleatória Distribuição Média/Nominal COV
𝐷𝐷 Gaussiana 1.0059 0.00181
𝑡𝑡 Gaussiana 1.0069 0.0259
𝑌𝑌𝑌𝑌𝑁𝑁80 Gaussiana 1.21 0.0405
𝑌𝑌𝑌𝑌𝑃𝑃110 Gaussiana 1.1 0.0360
Variável Aleatória Distribuição Média COV
𝑒𝑒𝑐𝑐 Weibull 0.217 0.541
𝑜𝑜𝑣𝑣 Weibull 3.924 0.661
𝑟𝑟𝑠𝑠 ⁄𝑓𝑓𝑦𝑦 Gaussiana -0.138 0.507

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Os dados presentes nas Tabelas 1 e 2 referem-se a tubos caracterizados como HRS (hot
rotary straightened) e são advindos da norma API/TR 5C3 (2008), Anexo F. Por recomendações
normativas, adotou-se 𝐸𝐸𝑦𝑦 = 30 ∙ 106 , 𝑣𝑣 = 0.28 e ℎ𝑛𝑛 = 0.0.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Dentro do contexto normativo, os conceitos de estado limite último e de serviço regem a


caracterização de uma estrutura como imprópria para uso, a depender de critérios de segurança, de
funcionalidade e de desempenho. Em casos em que o elemento estrutural alcançou o esgotamento
de sua capacidade resistente, resultando em risco imediato e na total incapacidade de atender aos
seus desígnios, diz-se que seu estado limite último foi atingido. Já para fatores relacionados à
durabilidade de uma estrutura e, de modo geral, para a sua correta utilização, adota-se a formulação
de estado limite de serviço.
Em suma, as práticas de projeto se voltam para essa última, o que pode resultar no
superdimensionamento dos elementos estruturais e, consequentemente, em maiores custos para a
implementação dos mesmos. No intuito de ilustrar a lacuna existente entre as formulações,
apresenta-se a Fig. 2 que compara a resistência ao colapso última dos tubos, sob diversos níveis de
desgaste, com aquela calculada pela norma API TR/5C3 (2008).

Figura 2 – Resistência ao Colapso

Fonte: Autores (2018)

Partindo de uma primeira análise, percebe-se que as equações de estado limite de serviço

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minoram, e muito, a resistência dos tubos. Isso se deve, em parte, a tentativa de se projetar em favor
da segurança e, em parte, a uma compensação, implícita nos equacionamentos, por assumir um
comportamento determinístico para grandezas de natureza aleatória.
Contudo, a crítica que se faz presente neste trabalho não se baseia no fato de haver uma
diferença entre a real resistência do tubo e a contratada, e sim, na probabilidade de que em algum
momento da vida útil do elemento tubular a resistência última coincida com a admitida em projeto.
O estudo probabilístico é apresentado na Fig. 3.

Figura 3 – Probabilidades de Falha

Fonte: Autores (2018)

As probabilidades de falha observadas traduzem, de forma explícita, o conservadorismo ao


qual as equações de estado limite de serviço estão revestidas. Para cenários em que o desgaste da
superfície interna é relativamente mínimo, as probabilidades possuem uma ordem de grandeza de
aproximadamente 10-5. Com o aumento do desgaste, as probabilidades crescem quase que
exponencialmente, diferentemente do decréscimo linear da resistência, o que expõe o risco
associado a níveis de desgaste mais severos.
Com base nas curvas apresentadas, conclui-se que os tubos 1 e 2 possuem probabilidades de
falha semelhantes por serem fabricados com mesmo tipo de aço, sendo a ligeira diferença
decorrente dos parâmetros geométricos. O tubo 3, entretanto, apresenta probabilidades superiores
aos demais sob qualquer nível de desgaste, em decorrência do comportamento estatístico menos
disperso da tensão de escoamento no grau P-110, com uma média 10 % maior que o valor nominal.

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4 CONCLUSÕES

Primeiramente, deve-se deixar claro que o presente trabalho não é favorável a uma abordagem
via estado limite último para o dimensionamento de elementos estruturais, porém, em face dos
resultados expostos, é possível discutir a possibilidade de se realizar revisões na metodologia
empregada pela norma API TR/5C3 (2008) para o dimensionamento dos tubulares contra o colapso.
Nesse contexto, estudos acerca do comportamento mecânico do colapso, no intuito de
reproduzir tal fenômeno numericamente e fidedignamente, fazem-se necessários. Além disso,
imperfeições geométricas naturais aos tubulares ou decorrentes de eventos mecânicos devem ser
consideradas para que haja uma correta reprodução da capacidade resistente dos tubos.
Outro fator a ser considerado, para novas práticas de projeto, é a incorporação de uma análise
confiabilística aos modelos a serem projetados, o que eliminaria a necessidade de coeficientes de
segurança e levaria a uma redução do custo global de implementação dos poços. Claro que para
isso, há a necessidade da disponibilização de séries de dados de produção, por parte do fornecedor,
a fim de que incertezas intrínsecas a um produto ou específico sejam devidamente incorporadas à
prática de projeto.

5 REFERÊNCIAS

AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE. API/TR 5C3: Technical Report on Equations and


Calculations for Casing, Tubing, and Line Pipe Used as Casing or Tubing; and Performance
Properties Tables for Casing and Tubing. 2008.

BECK, A.T. Curso de Confiabilidade Estrutural: notas de aula. Escola de Engenharia de São
Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014.

KLEVER, F. J., TAMANO, T. A New OCTG Strength Equation for Collapse Under Combined
Loads, Houston. SPE Annual Technical Conference and Exhibition, SPE 90904, 2004.

KURIYAMA, Y., TSUKANO, Y., MIMAKI, T., YONEZAWA, T. Effect of Wear and Bending
on Casing Collapse Strength, Washington D.C., SPE Annual Technical Conference and
Exhibition, SPE 24597, 1992.

MELCHERS, R. E. Structural reliability analysis and prediction. John Wiley and Sons, 1999.

MOREIRA JÚNIOR, N. Análise Experimental e Numérica da Resistência ao Colapso dos


Tubos de Revestimento Sob Desgaste Interno. Centro de Ciência e Tecnologia - Universidade
Estadual do Norte Fluminense, Rio de Janeiro, 2012.

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SAGRILO, L.V.S. Confiabilidade estrutural: notas de aula. Instituo Alberto Luiz Coimbra de
Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2003.

AGRADECIMENTOS

Em virtude do apoio financeiro e da disponibilização de infraestrutura para a produção deste


trabalho, agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e ao Laboratório de Computação Científica e Visualização (LCCV), respectivamente.
Por último, deixa-se o agradecimento ao Prof. M.e Lucas Pereira de Gouveia por seu auxílio.

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