O Direito Comercial de Angola 2013
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Sofia Vale
Faculty of Law of Agostinho Neto University, Luanda, Angola
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Sofia Vale2
1. O DIREITO COMERCIAL
O direito comercial é um ramo especial de direito privado (em relação ao direito civil, que
constitui o direito privado comum) e que tem por objecto a regulação dos actos de comércio e
das actividades comerciais.
O âmbito de aplicação do Código Comercial engloba tanto os actos objectivos como os actos
subjectivos de comércio. São assim considerados actos de comércio objectivos todas as
transacções comerciais, independentemente de serem praticadas por comerciantes ou por não
comerciantes. Os actos subjectivos de comércio são aqueles que adquirem a sua comercialidade
em virtude de serem praticados por um comerciante.
1Contribuição para a obra colectiva O Direito de Angola, Edição da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho
Neto, Luanda, 2014.
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São considerados comerciantes os indivíduos que se dedicam à prática do comércio
(comerciantes em nome individual) e as sociedades comerciais. A grande diferença reside no
facto de os comerciantes em nome individual terem responsabilidade ilimitada, enquanto que
algumas sociedades comerciais (designadamente, as sociedades por quotas e as sociedades
anónimas) limitam a responsabilidade dos seus sócios ao montante do capital social que
subscreveram.
O Código Comercial procurou instituir um regime especial, apartando-se assim das regras
comuns do direito civil (vertidas no Código Civil), que tivesse em conta a particular natureza da
actividade comercial, tornando-a mais expedita e conferindo maior protecção aos credores dos
comerciantes.
Este particular estatuto que o direito comercial confere ao comerciante encontra-se vertido em
diversas regras, dentre as quais destacamos as seguintes: (i) regime de responsabilidade
solidária dos devedores comerciantes, por oposição ao regime regra da conjunção das dívidas
de natureza civil em que há vários co-devedores; (ii) as dívidas comerciais dos comerciantes
casados em regime de comunhão de adquiridos presumem-se contraídas no exercício do
comércio, só podendo esta presunção ser afastada mediante prova em contrário; (iii) os actos
praticados por um comerciante são considerados subjectivamente comerciais, só podendo a sua
comercialidade ser afastada mediante prova em contrário; (iv) a prova de certos factos em que
intervêm comerciantes é facilitada, designadamente no caso do empréstimo mercantil entre
comerciantes (que admite qualquer tipo de prova) ou no caso do penhor mercantil entre
comerciantes (que se basta com documento escrito, não se exigindo o respectivo registo); (v) os
créditos dos comerciantes prescrevem no prazo de dois anos, prazo consideravelmente mais
curto se comparado com o prazo ordinário de prescrição em direito civil (que é de vinte anos);
(vi) sobre os comerciantes impendem ainda um conjunto de obrigações especiais, como a de ter
firma, livros obrigatórios de escrituração mercantil, prestar contas e inscrever no registo
comercial os actos a ele sujeitos.
O conceito de actividade comercial patente na lei comercial angolana deve ser entendido em
sentido amplo, compreendendo não apenas a noção de actividade comercial em sentido estrito
mas também outras actividades económicas como, por exemplo, a bancária, seguradora ou de
transportes.
2
Note-se ainda que em Angola não existem tribunais com competência especializada em matéria
comercial, sendo os diferendos relativos a estas matérias remetidos para os tribunais comuns.
2. TÍTULOS DE CRÉDITO
O crédito é essencial para o desenvolvimento da actividade dos comerciantes e, por essa razão,
o direito comercial angolano apresenta uma noção muito ampla de títulos de crédito. Entende-se
por título de crédito o documento escrito, em papel, constitutivo de um direito de crédito, em que
o direito adere ao título (ou seja, o direito existe na medida em que o título existe), tornando mais
simples, rápida e segura a constituição e transmissão do crédito.
São títulos de crédito os títulos cambiais (letra, livrança e cheque), o conhecimento de depósito,
a cautela de penhor, a guia de transporte, as acções e as obrigações.
A evolução que se vem verificando em matéria de títulos de crédito tem suscitado a discussão
sobre se se deve ainda exigir que alguns destes títulos adoptem a forma de documentos
escritos. Por outro lado, alguns títulos de crédito são também valores mobiliários e para eles
estão a ser gizadas regras especiais quanto à sua circulação e transacção, no âmbito da
abertura da bolsa de valores que se avizinha.
Refira-se ainda que as leis uniformes sobre letras, livranças e cheques, aprovadas pelas
convenções de Genebra, de que Angola é parte, estão em vigor na ordem jurídica angolana.
3. REGISTO COMERCIAL
Note-se que o primeiro acto que os comerciantes devem registar é a sua firma, ou seja, o nome
através do qual pretendem exercer a sua actividade comercial. Para esse efeito foi criado, sob a
égide do Ministério do Comércio, o Ficheiro Central de Denominações Sociais. A inscrição da
firma neste registo não invalida a necessidade de registar a mesma firma no registo comercial.
4. FALÊNCIA
A filosofia inerente a este instituto aponta a falência como liquidação, circunscrevendo em larga
medida a possibilidade do comerciante ver a sua empresa ainda a funcionar após o processo de
falência estar concluído. Na verdade, o levantamento da inibição do falido administrar os seus
bens só ocorre em duas situações: (i) no caso do falido propor uma concordata, que é aprovada
por 75% dos seus credores ou (ii) no caso dos credores chegarem a acordo quanto à
constituição de uma sociedade de responsabilidade limitada da qual eles são sócios, que deva
continuar a actividade comercial do falido, assumindo os respectivos direitos e obrigações. Neste
último caso, como facilmente se conclui, ocorre uma verdadeira expropriação da empresa por
parte dos credores do falido.
Consoante a causa que motivou a falência, esta pode ser classificada como casual, culposa ou
fraudulenta, repercutindo-se esta classificação nas penas a aplicar ao falido (a falência culposa e
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fraudulenta convocam também sanções de natureza penal). A reabilitação do falido pode ocorrer
no termo do processo, no caso da falência ser casual; sendo culposa ou fraudulenta, só há lugar
à reabilitação depois do falido ter cumprido a pena que lhe foi aplicada.
Este sistema tem sido objecto de diversas críticas por parte da doutrina angolana, que considera
necessário a instituição de mecanismos que permitam o saneamento do falido, permitindo-lhe
recuperar a saúde financeira da sua empresa e continuar com a sua actividade comercial.
5. ESTABELECIMENTO COMERCIAL
6. SOCIEDADES COMERCIAIS
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O conceito de sociedade patente no direito angolano reporta-se a um tipo de contrato (o contrato
de sociedade, previsto no Código Civil) e também a uma pessoa colectiva (a sociedade).
Qualquer um dos tipos legais acima referido é facilmente identificável através da respectiva
firma: (i) as sociedades em nome colectivo devem incluir na firma o nome de todos os seus
membros ou apenas o nome de alguns, acrescido do aditamento “& Companhia”; (ii) as
sociedades por quotas estão obrigadas a incluir na sua firma o aditamento “Limitada” ou “Lda.”;
(iii) as sociedades em comandita devem incluir na sua firma pelo menos o nome de um dos
sócios de responsabilidade ilimitada e o aditamento “& Comandita” ou “em Comandita” (para as
sociedades em comandita simples) e “& Comandita por Acções” ou “em Comandita por Acções”
(para as sociedades em comandita por acções) e (iv) as sociedades anónimas devem aditar a
expressão “Sociedade Anónima” ou “SA”.
Sem prejuízo das diferenças existentes entre os diversos tipos legais quanto à estrutura
orgânica, modo de transmissão das participações ou capital social mínimo, a grande diferença
entre os tipos respeita à responsabilidade dos sócios perante as dívidas sociais. De facto, as
sociedades por quotas e as sociedades anónimas são consideradas sociedades de
responsabilidade limitada, enquanto que as sociedades em nome colectivo e as sociedades em
comandita são vistas como sociedades de responsabilidade ilimitada. É certamente por esta
razão que nos últimos anos em Angola não há nota de que se tenham constituído sociedades
em nome colectivo ou sociedades em comandita. O tipo social que mais tem vindo a ser utilizado
entre nós é, indubitavelmente, a sociedade por quotas.
A Lei das Sociedades Comerciais estabelece que o número mínimo de sócios de uma sociedade
em nome colectivo, de uma sociedade por quotas e de uma sociedade em comandita simples é
de dois. Para as sociedades anónimas o número mínimo é de cinco sócios. Já as sociedades em
comandita por acções devem constituir-se com um mínimo de seis sócios.
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(v) procede-se depois à inscrição da sociedade no registo comercial, sendo este o momento
em que a sociedade adquire personalidade jurídica;
(vi) o contrato de sociedade deverá depois ser publicado na III Série do Diário da República;
(vii) a sociedade deve também registar-se junto do Instituto Nacional de Estatística, obtendo
assim um certificado de registo estatístico;
(viii) segue-se a inscrição da sociedade no bairro fiscal da respectiva sede social, onde irá
obter um número de contribuinte e um certificado de início de actividade;
(ix) a sociedade deve também inscrever-se junto do Instituto Nacional de Segurança Social,
de modo a que posteriormente possa aí inscrever todos os seus trabalhadores;
(x) por último, a sociedade deverá requerer junto das entidades governamentais que tutelam
a sua área de actividade a emissão dos alvarás e licenças de que carece para que
possa desenvolver a actividade constante do seu objecto social.
A constituição de sociedades comerciais em Angola tornou-se bastante mais célere desde que,
em 2003, foi criado o Guiché Único da Empresa. Nas instalações do Guiché Único de Empresa
encontram-se delegações de todos os serviços públicos acima referidos que estão envolvidos no
processo de constituição de sociedades (com excepção da Agência Nacional para o
Investimento Privado e das entidades responsáveis pela emissão de alvarás e licenças para o
exercício da actividade), o que permite a constituição de uma sociedade comercial (com capital
exclusivamente nacional) num período de vinte e quatro horas.
A Lei das Sociedades Comerciais inicia com uma parte geral, composta por 175 artigos, na qual
se consagram as disposições aplicáveis a todos os tipos de sociedades comerciais. A referida
parte geral contém disposições atinentes à personalidade e capacidade, aos requisitos do
contrato de sociedade, às obrigações e direitos dos sócios, ao capital social, ao regime das
sociedades antes do registo, às deliberações dos sócios, à administração, à responsabilidade
civil pela constituição, administração e fiscalização da sociedade, às alterações do contrato de
sociedade, à cisão e transformação, à dissolução e liquidação, à publicação dos actos sociais e
à actividade de fiscalização que recai sobre o Ministério Público.
De seguida, a Lei das Sociedades Comerciais consagra o regime jurídico particular de cada tipo
de sociedade: os arts. 176º a 200º versam sobre as sociedades em nome colectivo, os arts. 201º
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a 216º regulam as sociedades em comandita (simples e por acções), os arts. 217º a 300º
dispõem quanto às sociedades por quotas e os arts. 301º a 462º tratam das sociedades
anónimas.
Nos arts. 498º a 518º, a Lei das Sociedades Comerciais elenca um conjunto de disposições de
natureza penal, destinadas a sancionar a conduta dos membros dos órgãos sociais que se
encontre em contravenção com o disposto no referido diploma.
Por último, nos arts. 519º a 529º consagram-se as disposições finais e transitórias que, entre
outros, vieram possibilitar a adaptação das sociedades existentes à data da entrada em vigor da
Lei das Sociedades Comerciais às novas regras nela contidas.
É sobre estas diferenças, que melhor nos permitem caracterizar cada um dos tipos sociais, que
nos ocuparemos de seguida.
A responsabilidade dos sócios das sociedades em nome colectivo é pessoal e ilimitada. Quer
isto dizer que os sócios respondem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada. Perante
os credores sociais, responde, em primeiro lugar, o património da sociedade e, subsidiariamente,
todos os sócios (sendo a responsabilidade dos mesmos solidária). Note-se que quem não seja
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sócio mas tenha autorizado que o seu nome conste da firma da sociedade fica sujeito ao mesmo
regime de responsabilidade.
Nas sociedades em comandita (simples ou por acções) estabelece-se uma distinção entre o tipo
de sócios que nelas figura. Assim, os sócios comanditários respondem apenas pela realização
da sua entrada, não sendo chamados a responder pelas dívidas sociais. Já os sócios
comanditados respondem pessoal (pela sua obrigação de entrada) e ilimitadamente (perante os
credores sociais), nos mesmos termos em que respondem os sócios das sociedades em nome
colectivo.
Nas sociedades por quotas, a responsabilidade dos sócios é solidária e limitada. Dito de outro
modo, os sócios são solidariamente responsáveis pela realização de todas as entradas
convencionadas, podendo ser chamados a realizar a entrada que um outro sócio não realizou.
Pelas dívidas da sociedade, em regra, só o património social responde. Porém, podem os sócios
estabelecer no contrato de sociedade que todos ou alguns deles respondem (solidaria ou
subsidiariamente com a sociedade) perante os credores sociais, contanto que indiquem
expressamente qual o limite máximo dessa responsabilidade.
Nas sociedades anónimas, a responsabilidade dos sócios é duplamente limitada. Quer-se com
isto dizer que cada sócio apenas responde pelas acções que subscreveu e que pelas dívidas
sociais só o património da sociedade responde.
A estrutura orgânica das sociedades em nome colectivo compreende dois órgãos, a saber, a
assembleia geral e a gerência. A assembleia é órgão supremo deste tipo social, no qual têm
assento todos os sócios. A assembleia tem competência para deliberar sobre todas as matérias
constantes da lei e do contrato de sociedade. À gerência cabem as tarefas de representação e
de administração da sociedade, sendo esta, via de regra, integrada por todos os sócios (só por
unanimidade dos sócios podem ser designados gerentes não sócios). Os diversos gerentes têm
poderes iguais e independentes, estando qualquer um deles apto a vincular a sociedade.
Nas sociedades por quotas, a estrutura orgânica compreende sempre a assembleia geral e a
gerência, podendo ainda prever-se no contrato de sociedade a existência de um órgão de
fiscalização. A assembleia geral é composta por todos os sócios, cabendo-lhe decidir sobre
todas as matérias que lhe tenham sido atribuídas por lei ou pelo contrato de sociedade; este
órgão tem ainda competência residual para deliberar sobre qualquer matéria não integrada na
competência dos demais órgãos da sociedade. Já a gerência pode ser composta por sócios ou
por não sócios e, sendo plural, ela funciona de acordo com as regras da maioria.
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Nas sociedades em nome colectivo, as partes sociais só podem ser transmitidas após todos os
sócios terem dado o seu consentimento. Caso os demais sócios não consintam na venda, o
sócio que pretende alienar a sua parte social pode optar por se exonerar, recebendo da
sociedade o valor correspondente à sua parte social.
Nas sociedades por quotas, a cessão de quotas a favor de terceiro só é válida depois de obtido o
consentimento da sociedade, conferido por deliberação da assembleia geral aprovada por
maioria simples dos votos emitidos. Caso a sociedade não aprove a cessão e o sócio integre a
sociedade há mais de dez anos, a sociedade fica obrigada a apresentar-lhe uma proposta de
amortização ou de aquisição da quota. Este consentimento é, porém, dispensado quando a
cessão de quotas é feita a favor de cônjuge, ascendente, descendente ou outro sócio. Note-se
que a cessão de quotas deve ser efectuada por escritura pública.
A transmissão de acções nas sociedades anónimas é, via de regra, livre. Sendo as acções ao
portador, a sua transmissão não pode, de modo algum, ser condicionada. Caso as acções da
sociedade sejam nominativas, o contrato de sociedade pode prever condicionantes quanto à sua
transmissão, devendo tais condicionantes constar dos próprios títulos de acções para que sejam
oponíveis a terceiros. Em regra, as acções das sociedades anónimas angolanas são tituladas e
não escriturais.
A lei não prevê um capital social mínimo para as sociedades em nome colectivo, uma vez que os
sócios podem realizar entradas em indústria (ou seja, contribuir para a sociedade com o seu
trabalho) e tais entradas não podem ser computadas no capital social. Para além das entradas
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em indústria, os sócios das sociedades em nome colectivo podem ainda realizar entradas em
espécie (ou seja, em bens avaliáveis em dinheiro) e em dinheiro.
Nas sociedades em comandita simples, aplica-se o regime das sociedades em nome colectivo,
pelo que também não há a obrigatoriedade de realizar um capital social mínimo. Já nas
sociedades em comandita por acções, uma vez que são subsidiariamente aplicáveis as regras
das sociedades anónimas, exige-se a realização de um capital social mínimo equivalente em
kwanzas a USD 20.000.
Para as sociedades por quotas, o legislador consagrou como capital social mínimo o equivalente
em kwanzas a USD 1.000. Neste tipo de sociedade só são admitidas entradas em dinheiro e em
espécie; caso algum sócio deseje contribuir para a sociedade com a sua indústria, poderá fazê-lo
através de prestações acessórias, que não são computadas no capital social. Note-se que nas
sociedades por quotas pode ser diferido até metade do valor das entradas em dinheiro, contanto
que: (i) o capital social mínimo seja realizado no momento da escritura; (ii) o valor seja diferido
para uma data certa e (iii) tal data não poderá ser fixada depois de decorridos três anos sobre a
constituição da sociedade.
Sem prejuízo, a lei consagra a possibilidade de criação de outras entidades com personalidade
jurídica através das quais se podem desenvolver actividades económicas, designadamente: (i)
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cooperativas, (ii) agrupamentos de empresas e (iii) sociedades de capitais mistos (públicos e
privados).
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8. INVESTIMENTO PRIVADO
A Lei do Investimento Privado (publicada em 2011) estabelece as regras aplicáveis aos projectos
de investimento a desenvolver por entidades privadas em Angola. O regime estabelecido por
este diploma não é aplicável às actividades de exploração petrolífera, diamantífera e às
instituições financeiras, não obstante os investimentos realizados nestes sectores estarem,
também eles, sujeitos a registo junto da Agência Nacional do Investimento Privado.
O investimento externo mínimo autorizado pela Agência Nacional para o Investimento Privado,
que confere o direito à exportação de dividendos, é de USD 1.000.000 por cada investidor.
Investimentos abaixo de USD 1.000.000 mas superiores a USD 500.000 estão fora do âmbito de
aplicação a Lei do Investimento Privado, sendo-lhes aplicável a Lei Cambial nos termos que
vierem a ser regulados. De momento, aguarda-se a aprovação de regulamentação sobre esta
matéria pelo que ainda não é possível recorrer a este regime. Sem prejuízo, a Lei do
Investimento Privado desde já esclarece que os investimentos de montante inferior a USD
1.000.000 não conferirão aos investidores em causa direito à repatriação de dividendos.
Os investidores externos têm as seguintes obrigações: (i) importar os capitais no prazo máximo
de cento e oitenta dias, a contar da data da emissão pelo Banco Nacional de Angola da
respectiva licença de importação de capitais, (ii) possuir contas bancárias em bancos comerciais
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domiciliados no país, (iii) empregar e formar trabalhadores nacionais, com condições salariais e
sociais equiparáveis às dos trabalhadores estrangeiros, bem como implementar um plano de
angolanização progressiva dos quadros de direcção e chefia (iv) pagar os impostos e demais
contribuições devidas em Angola.
Refira-se ainda que a execução do projecto de investimento deve ter início dentro do prazo
fixado no certificado de registo de investimento privado e no contrato de investimento, só
podendo tal prazo ser alterado a pedido do investidor e com a anuência expressa da entidade
que procedeu à sua aprovação.
Contrariamente ao que sucedia ao abrigo da anterior lei, a actual Lei do Investimento Privado é
clara ao definir que a concessão de incentivos e facilidades tem carácter excepcional, não sendo
automática e tendo as facilidades e incentivos uma duração necessariamente limitada.
Para beneficiar dos incentivos fiscais o investidor deverá ter a sua contabilidade devidamente
organizada e certificada por um auditor externo.
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número de postos de trabalho criados e a formação concedida aos trabalhadores nacionais; (iii)
o volumes dos bens ou serviços a produzir e o impacto sócio-económico do investimento; (iv) o
seu papel na diminuição das assimetrias regionais; (v) o balanço cambial líquido; (vi) a inserção
do projecto em causa na estratégia de desenvolvimento económico do país; (vii) a percepção de
mais-valias directas e indirectas; (viii) o período estimado para o retorno do capital; e (ix) o
compromisso firme de reinvestimento dos lucros gerados pelo projecto.
O investidor tem o direito de expatriar: (i) os dividendos ou lucros distribuídos; (ii) o produto da
liquidação dos seus investimentos, incluindo as mais-valias; (iii) royalties ou outros rendimentos
de remuneração de investimentos directos associados à transferência de tecnologia; (iv) o
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produto de indemnizações em caso de expropriação ou (v) quaisquer importâncias que lhes
sejam devidas e estejam previstas em actos ou contratos que consubstanciem um investimento.
Sem prejuízo, tal direito de expatriar dividendos só pode ser exercido quando se verificarem as
seguintes condições: (i) depois de implementado o projecto de investimento e mediante prova da
sua execução; (ii) mediante apresentação de comprovado o pagamento dos impostos devidos
em Angola e (iii) desde que o investidor tenha a sua contabilidade devidamente organizada e
certificada por um auditor externo.
No que concerne ao repatriamento de dividendos ou lucros distribuídos, este deve ser sempre
proporcional e graduado, nomeadamente em função do valor investido, do período de concessão
e da amplitude dos incentivos e benefícios fiscais e aduaneiros concedidos, do prazo do
investimento, dos lucros efectivamente realizados, do impacto sócio-económico do investimento
e da sua influência na diminuição das assimetrias regionais, bem como do impacto do
repatriamento dos lucros e dividendos na balanças de pagamentos angolana.
Para efeitos do referido diploma, são consideradas empresas angolanas aquelas cujo capital
social seja detido em, pelo menos, 51% por empresas angolanas ou por cidadãos angolanos,
exclusiva ou conjuntamente.
9. MERCADO ACCIONISTA
O mercado acionista não se encontra ainda em funcionamento em Angola e, por essa razão, as
sociedades angolanas são actualmente fechadas, não havendo lugar à subscrição do seu capital
por parte do público.
Na verdade, desde 2006 que tem vindo a ser anunciada a criação de uma bolsa em Angola que,
por vicissitudes várias, foi sendo sistematicamente adiada. No início de 2012, a Comissão de
Mercado de Capitais deu início à definição de um plano estratégico a cinco anos, que pretende
ver implementado até 2017. Este plano foi concebido em quatro fases: (i) até ao final de 2012
fica definido e aprovado o plano estratégico para o mercado de capitais em Angola, sendo
igualmente definido o quadro normativo para os fundos de investimento; (ii) em 2013 deverá
arrancar o mercado da dívida pública (que até agora funciona apenas entre o Banco Nacional de
Angola e os bancos comerciais, servindo sobretudo para financiar o orçamento de Estado) e o
mercado da dívida corporativa; (iii) em 2016 deverá arrancar o mercado acionista e (iv) em 2017
deverá arrancar o mercado de futuros. Assim, espera-se que a Bolsa propriamente dita surja em
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2016 ou 2017, após um ensaio de funcionamento do mercado acionista num formato de mercado
de balcão regulamentado.
O direito comercial angolano encontra-se actualmente vertido em diversos diplomas legais, o que
vai contribuído para a emergência de outros ramos do direito, como é o caso do direito bancário,
direito das sociedades comerciais, direito dos seguros, direito dos transportes, direito de
propriedade industrial e, certamente num futuro próximo, do direito dos valores mobiliários.
A questão que se coloca é se o direito comercial se irá diluir nestes novos ramos de direito ou
se, pelo contrário, terá condições para se manter como um ramo de direito autónomo. A curto
prazo, pensamos que a manutenção do direito comercial enquanto tal se justifica, mas a
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evolução que se for verificando noutros ordenamentos jurídicos (designadamente, no português,
que muito influencia o angolano) irá certamente determinar o percurso para a evolução do direito
comercial em Angola.
LEGISLAÇÃO
Código Comercial, alterado pela Lei n.º 6/03 - Lei de Alteração ao Código Comercial,
publicada no Diário Da República, I Série, n.º 17, de 3 de Março de 2003.
Código Civil.
Código de Processo Civil.
Lei n.º 1/04 - Lei das Sociedades Comerciais, publicada no Diário Da República, I Série,
n.º 13, de 13 de Fevereiro de 2004.
Lei n.º 19/12 - Lei das Sociedades Unipessoais, publicada no Diário Da República, I Série,
n.º 110, de 1 1de Junho de 2012.
Decreto n.º 43 525, de 7 de Março de 1961 – Lei do Inquilinato.
Código de Notariado, alterado pela Lei n.º 1/97 – Lei da Simplificação e Modernização dos
Registos Predial, Comercial e Serviço Notarial, publicada no Diário Da República, I Série,
n.º 3, de 17 de Janeiro de 1997.
Código de Registo Comercial, alterado pela Lei n.º 1/97 – Lei da Simplificação e
Modernização dos Registos Predial, Comercial e Serviço Notarial, publicada no Diário Da
República, I Série, n.º 3, de 17 de Janeiro de 1997.
Lei n.º 18/03 - Sobre os Contratos de Distribuição, Agência, Franchising e Concessão
Comercial, publicada no Diário Da República, I Série, n.º 63, de 12 de Agosto de 2003.
Lei n.º 19/03 – Sobre os Contratos de Conta em Participação, Consórcios e Agrupamentos
de Empresas, publicada no Diário Da República, I Série, n.º 63, de 12 de Agosto de 2003.
Decreto n.º 47/03 – Cria o Ficheiro Central de Denominações Sociais, integrado na
orgânica do Ministério da Justiça, publicado no Diário Da República, I- Série, n.º 53, de 8
de Julho de 2003, alterado pelo Decreto n.º 01/07, de 3 de Janeiro (publicado no Diário Da
República, I Série, n.º 2) e pelo Decreto n.º 14/07, de 3 de Maio (publicado no Diário Da
República, I Série, n.º 28).
Lei n.º 20/11- Lei do Investimento Privado, publicada no Diário Da República, I Série, n.º
94, de 20 de Maio de 2011.
Lei n.º 01/07 - Das Actividades Comerciais, publicada no Diário Da República, I- série, n.º
58, de 14 de Maio de 2007.
Lei n.º 30/11 – Das Micro, Pequenas e Médias Empresas, publicada no Diário Da
República, I Série, n.º 176, de 13 de Setembro de 2011.
Lei n.º 2/11 – Das Parcerias Público-Privadas, publicada no Diário Da República, I Série,
n.º 9, de 14 de Janeiro de 2011.
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Lei n.º12/05 – Dos Valores Mobiliários, publicada no Diário Da República, I Série, n.º 114,
de 23 de Setembro de 2005.
Decreto n.º 9/05 – Cria a Comissão de Mercado de Capitais, publicado no Diário Da
República, I Série, n.º 33, de 18 de Março de 2005, alterado pelo Decreto Presidencial n.º
22/12, publicado no Diário Da República, I Série, n.º 20, de 30 de Janeiro de 2012.
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4ª edição, Almedina, Coimbra, 2011.
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