Monografia Sommer Final 2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 89

VITOR PINHEIRO SOMMER

ANÁLISE SISMOESTRATIGRÁFICA DA SEÇÃO PRÉ-SAL APTIANA DO CAMPO


DE LULA, BACIA DE SANTOS - BRASIL

Porto Alegre, 2019


VITOR PINHEIRO SOMMER

ANÁLISE SISMOESTRATIGRÁFICA DA SEÇÃO PRÉ-SAL APTIANA DO CAMPO


DE LULA, BACIA DE SANTOS – BRASIL

Trabalho de Conclusão do Curso de Geologia do


Instituto de Geociências da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Apresentado na forma de
monografia, junto à disciplina Projeto Temático em
Geologia III, como requisito parcial para obtenção do
grau de Bacharel em Geologia.

Orientador: Prof. Dr. Juliano Kuchle


Supervisora: Msc. Francyne Bochi do Amarante

Porto Alegre, 2019


i
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de


Curso ANÁLISE SISMOESTRATIGRÁFICA DA SEÇÃO PRÉ-SAL APTIANA DO
CAMPO DE LULA, BACIA DE SANTOS - BRASIL, elaborado por VITOR
PINHEIRO SOOMMER, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Geologia.

Comissão Examinadora:

___________________________________________________________________
Dr. Georgios Pantopoulos

___________________________________________________________________
Dra. Rosália Barili

___________________________________________________________________
Dra. Renata Alvarenga Kuchle

iii
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço aos meus pais, Carlos e Jussara, por todo amor,
apoio incondicional e financeiro, não só durante a graduação, mas por todo o
desenvolvimento na vida acadêmica. À minha irmã, Natália, pela companhia e apoio
em Porto Alegre.

Agradeço ao meu professor orientador, Juliano, por todos os ensinamentos


geológicos e técnicos, companheirismo e incentivo durante meus três anos como
bolsista, sempre estando presente nos momentos cruciais.

Agradeço à minha supervisora e amiga, Francyne, por todo o cuidado no


acompanhamento e revisão do trabalho, pelos grandes momentos de lazer e por
ensinamentos que hoje me fazem uma pessoa melhor.

Agradeço aos meus amigos do curso de Geologia, principalmente os do grupo


“miseráveis” pelos ótimos momentos compartilhados, deixando os trabalhos de
campo mais leves e proveitosos. Também meus amigos do grupo “queremos a
copinha” onde, durante os cinco anos de graduação, tornamo-nos assíduos dos
jogos do Grêmio, compartilhando momentos únicos da nossa geração que foram os
títulos da Copa do Brasil de 2016 e Libertadores de 2017. Não poderia esquecer o
pessoal do “IBA team” devido aos intensos dois meses vividos tentando fazer um
projeto de sistema petrolífero.

Agradeço à minha namorada, Jordana, por todo amor, carinho e paciência


que teve, principalmente nos momentos finais do trabalho.

Agradeço ao pessoal do prédio da Estratigrafia, por todo o apoio oferecido


para a realização deste trabalho, pelos amigos que realizei e pelos projetos de que
participei.

Agradeço à ANP pelo fornecimento dos dados utilizados, dentro da política


nacional de cessão de dados às universidades para desenvolvimento de pesquisas
acadêmicas.

iv
“Home is now behind you, the world is
ahead!”

Gandalf, The Grey

v
RESUMO

A descoberta do Pré-sal ocorreu no Campo de Lula, na Bacia de Santos, e mudou o


patamar do Brasil no setor energético, sendo um dos mais promissores produtores
mundiais de petróleo. Atualmente o Campo de Lula é responsável por mais da
metade da produção de petróleo do Pré-sal em todo o país. As grandes
acumulações de óleo leve estão situadas no intervalo Aptiano da bacia, em
reservatórios carbonáticos da Fm. Barra Velha. Apesar de a área possuir grande
quantidade de dados levantados, ainda existem discussões sobre a evolução
tectono-estratigráfica do Pré-sal, e não há um arcabouço geológico evolutivo
publicado para este campo. Portanto, o objetivo deste trabalho é estabelecer um
arcabouço sismoestratigráfico no intervalo Aptiano do Campo de Lula, baseado em
19 linhas sísmicas e um poço exploratório para amarração. Foram identificadas
cinco unidades sísmicas (US1, US2, US3, US4 e US5) e duas sismofácies (SFA e
SFB). A US1 apresenta uma deposição fortemente controlada por uma topografia
antecedente, formando depocentros isolados em baixos topográficos. Da US2 a US4
o padrão deposicional é de expansão contínua do espaço de acomodação. A US5 é
fortemente erodida em seu topo, dificultando interpretações acerca de seu padrão
deposicional. Baseando-se nos escassos trabalhos publicados sobre o Pré-sal no
Campo de Lula, a SFA é caracterizada por depósitos dominados por camadas
carbonáticas esferulíticas e schrubs e sua ocorrência é dominante. Já a SFB é
subordinada, sendo caracterizada por dominância de calcilutitos e possui um
controle estratigráfico, ocorrendo em apenas uma ou duas unidades sísmicas. A
discordância Pré-NeoAlagoas representa a base do intervalo de estudo. O topo é
caracterizado por uma discordância regional que representa um hiato temporal entre
a mais nova das unidades (US5) e o início dos depósitos evaporíticos da Fm. Ariri.

Palavras-Chave: Pré-sal; Aptiano; Bacia Sag; Sismoestratigrafia; Bacia de Santos;


Campo de Lula.

vi
ABSTRACT

The discovery of the Pre-salt occurred in the Lula field, in the Santos Basin, and has
made Brazil escalate within the energy sector, in such way that Brazil has become
one of the world’s most promising oil producers. Currently Lula field is responsible for
more than half of Pre-salt oil production over the country. The large accumulations of
light oils are located in the Aptian interval of the basin, which comprises carbonate
deposits of Barra Velha Formation. Although the area has a large amount of data
collected, there are still discussions about Pre-salt tectono-stratigraphic evolution,
and there is no published evolutionary geological framework for this field. Therefore,
the aim of this work was stablish a seismic-stratigraphic framework in the Aptian
interval of Lula field, using 19 seismic lines and one exploratory well for connection.
Five seismic units (US1, US2, US3, US4 and US5) and two seismofacies (SFA and
SFB) were identified. The US1 presents a strongly controlled deposition by an
ancient topography, forming isolated depocenters in low topography. From US2 to
US4 the depositional pattern is continuous expansion of the accommodation space.
The US5 is strongly eroded at its top, making interpretation of its depositional pattern
difficult. Based on the scarce published works on the Pre-salt, the SFA is
characterized by deposits dominated by spherulites and schrubs carbonate layers
and its occurrence is dominant. The SFB is subordinate, and is characterized by the
dominance of calcimudstones, presenting stratigraphic control, occurring in only one
or two seismic units. The Pre-NeoAlagoas unconformity represents the base of the
study interval. The top is characterized by a regional unconformity which represents
temporal gap between the youngest of the units (US5) and the start of the evaporitic
deposits of the Ariri Formation.

Keywords: Pre-salt; Aptian; Sag Basin; Seismic-stratigraphy; Santos Basin; Lula


Field.

vii
SUMARIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17
1.1 Localização e Contexto Geológico ................................................................... 19
1.2 Justificativa ...................................................................................................... 22
1.3 Objetivos .......................................................................................................... 23

2 ESTADO DA ARTE ............................................................................................... 24


2.1 Bacias Rifte ...................................................................................................... 24
2.2 Bacias Sag....................................................................................................... 25
2.3 Evolução Tectono-Estratigráfica de Bacias Rifte ............................................. 27
2.4 Sismoestratigrafia ............................................................................................ 33

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 37
3.1 Controle de Dados ........................................................................................... 38
3.2 Mapeamento de Topo e Base .......................................................................... 39
3.3 Linhas-Chave................................................................................................... 39
3.4 Análise Sismoestratigráfica - Terminações de refletores, Unidades Sísmicas e
Sismofácies ........................................................................................................... 40
3.5 Mapeamento Sísmoestratigráfico .................................................................... 41
3.6 Diagramas Cronoestratigráficos ...................................................................... 42

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 43
4.1 Mapeamento do Topo e da Base ..................................................................... 43
4.2 Padrão de Refletores e Terminações .............................................................. 47
4.3 Unidades Sismoestratigráficas ........................................................................ 52
4.4 Sismofácies e Diagramas Cronoestratigráficos ............................................... 57

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 64
5.1 Controle Deposicional ...................................................................................... 64
5.2 Caracterização Litológica das Sismofácies...................................................... 78

6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 83

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 85

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Seção-tipo interpretada do Pré-sal na Bacia de Santos. Linha vermelha


mostra a localização do prospecto Tupi no Campo de Lula. Compreende o
primeiro esforço exploratório com enfoque no Pré-sal em águas profundas, em
2006. Fonte: Petrobrás. ........................................................................................ 17

Figura 2: Dados da produção do mês de setembro na seção Pré-sal. (A) Os 20


campos mais produtores de petróleo, em Mbbl/d. (B) Os 20 campos mais
produtores de Gás-Natural, em MMm³/d. Fonte: ANP/SDP/SIGEP, 2019. ........... 18

Figura 3: Distribuição da produção de setembro por campo na seção Pré-sal.


Observa-se o relevante protagonismo de Lula na atual produção de petróleo do
Brasil. Fonte: ANP/SDP/SIGEP, 2019. ................................................................. 18

Figura 4: Mapa de localização da área de estudo. A) o Brasil e suas bacias


costeiras, com detalhe para a Bacia de Santos. B) a posição da área de estudo e
do campo de Lula na Bacia de Santos. ................................................................. 20

Figura 5: Carta cronoestratigráfica da Bacia de Santos. Detalhe em vermelho mostra


o intervalo de estudo nos carbonatos da Fm. Barra Velha de idade Aptiana.
Modificado de Moreira, et al. 2007. ....................................................................... 22

Figura 6: Modelo ilustrativo dos diferentes modelos de rifte. Modificado de Bosence


(1998). ................................................................................................................... 24

Figura 7: Evolução de bacia sag interior ilustrada em três estágios: estágio 1)


sagging em bloco continental acompanhado de sedimentação não-marinha;
estágio 2) continuação de sagging simétrico com sedimentação marinha; estágio
3) soerguimento e erosão, comumente por um longo período, sem movimentação
de grandes falhas. Exemplo da Bacia de Michigan, extraído de Kingston et al.
(1983). ................................................................................................................... 27

Figura 8: (A) Seção idealizada de uma seção sísmica de uma bacia rifte ideal, onde
cada trato de sistemas tectônico pode ser identificado. (B) Seção vertical

ix
idealizada do centro da bacia, interpretada conforme a expressão de mudanças
do controle tectônico no sistema deposicional. Modificado de Prosser (1993). .... 29

Figura 9: Modelo ilustrativo das superfícies e estratos da fase rifte. Modificado de


Bosence (1998). .................................................................................................... 30

Figura 10: (A) Modelo estratigráfico idealizado de uma bacia rifte, incluindo os tratos
de sistemas tectônicos, as tendências deposicionais e as superfícies limítrofes.
(B) Expressão sísmica do modelo estratigráfico, acima idealizada, ilustrando as
terminações estratais e as configurações de refletores. Retirado de Kuchle e
Scherer (2010). ..................................................................................................... 32

Figura 11: Padrões de terminação de refletores de limite superior (truncamento


erosivo, toplap e concordante) e inferior (onlap, downlap e concordante) de uma
sequência sísmica/sequência deposicional. Modificado de Michum e Vail (1977).
.............................................................................................................................. 34

Figura 12: Tipos de geometria interna de sismofácies, dados em configurações


paralela, caótica, transparente, divergente, progradante, hummocky, lenticular,
segmentada e contorcida. Modificado de Mitchum e Vail (1977). ......................... 36

Figura 13: Padrões de geometria externa de sismofácies (lençol, lençol ondulado,


cunha, banco e lenticular), seus tipos de preenchimento (em canal, de bacia e de
talude) e de montiformas (generalizada e leque). Modificado de Mitchum e Vail
(1977). ................................................................................................................... 36

Figura 14: A disposição do poço e linhas sísmicas utilizadas, detalhe em azul para
as linhas DIP 1659, DIP 0575, DIP 1691 e STRIKE 0900 que serviram para
análise sismoestratigráfica. ................................................................................... 37

Figura 15: Fluxograma da metodologia de análise sismoestratigráfica utilizada,


baseada em Mitchum e Vail (1977), onde os dados de entrada necessários para
realização de cada etapa analítica estão à esquerda; o produto final da análise é o
arcabouço estratigráfico, como apontado na direita. ............................................. 40

Figura 16: Linha sísmica DIP 0575 com superfície de Topo (azul) que separa o
intervalo de estudo do sinal caótico do sal. Superfície de base (vermelho) que
x
separa o padrão divergente do rifte do padrão sub-paralelo da fase sag. Todas as
linhas-chave DIP 0575, DIP 1659 e DIP 1691, seguem o padrão de cores. ......... 44

Figura 17: (A) Mapa da superfície de topo, mostrando que a deposição foi maior na
zona central da área de estudo. (B) Mapa da superfície de base na área de
estudo, mostrando depocentros nas regiões oeste e nordeste, e alto estrutural à
sudeste, com orientação SW-NE. ......................................................................... 45

Figura 18: (A) Imagem 3D da superfície de topo, indicando uma tendência a


peneplanização da área de estudo. (B) Imagem 3D da superfície de base,
mostrando a diferença topográfica entre o alto estrutural à sudeste dos
depocentros. E.V.: 7.5x. ........................................................................................ 46

Figura 19: (A) Linha sísmica DIP 0575 não interpretada. (B) Linha sísmica DIP 0575
com interpretação completa dos refletores e suas terminações (donwlap/onlap em
verde e toplap/truncamento erosivo em lilás). ....................................................... 49

Figura 20: (A) Linha sísmica DIP 1659 não interpretada. (B) Linha sísmica DIP 1659
com interpretação completa dos refletores e suas terminações (donwlap/onlap em
verde e toplap/truncamento erosivo em lilás). ....................................................... 50

Figura 21: (A) Linha sísmica DIP 1691 não interpretada. (B) Linha sísmica DIP 1691
com interpretação completa dos refletores e suas terminações da (downlap/onlap
em verde e toplap/truncamento erosivo em lilás). ................................................. 51

Figura 22: Arcabouço Estratigráfico do intervalo de estudo. A base está em


vermelho, azul fraco sapara as US1 e US2, verde separa as US2 e US3, amarelo
separa as US3 e US4, laranja separa as US4 e US5, o topo do intervalo de
estudo está em azul. Estas cores são as mesmas das superfícies estratigráficas
identificadas nas linhas 0575, 1659,1691 e 0900. ................................................ 52

Figura 23: Seção DIP da linha 0575 com interpretação das unidades
sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies
estratigráficas. Linha preta marca conexão com a seção strike. ........................... 55

xi
Figura 24: Seção DIP da linha 1659 com interpretação das unidades
sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies
estratigráficas. Linhas pretas marcam conexões com a seção 0575 e strike. ...... 55

Figura 25: Seção DIP da linha 1691 com interpretação das unidades
sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies
estratigráficas. ....................................................................................................... 56

Figura 26: Seção STRIKE da linha 0900 com interpretação das unidades
sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies
estratigráficas. As conexões com as linhas-chave estão identificadas pelas linhas
pretas. ................................................................................................................... 56

Figura 27: (A) Seção sísmica da linha DIP 0575 com interpretação completa das
sismofácies e sua relação com as unidades sísmicas e conexão com o Poço A.
(B) Diagrama cronoestratigráfico para a linha sísmica 0575, mostrando o início da
deposição da US1 até o final na US5. Também ocorre uma erosão que destruiu
grande parte da US5 e o topo da US4. ................................................................. 60

Figura 28: (A) Seção sísmica da linha DIP 1659 com interpretação completa das
sismofácies e sua relação com as unidades. (B) Diagrama cronoestratigráfico
para a linha sísmica 1659, mostrando o início da deposição da US1 até o final na
US5. Também ocorre uma erosão que destruiu grande parte da US5 e o topo da
US4. ...................................................................................................................... 61

Figura 29: (A) Seção sísmica da linha DIP 1691 com interpretação completa das
sismofácies e sua relação com as unidades. (B) Diagrama cronoestratigráfico
para a linha sísmica 1691, mostrando o início da deposição da US2 até o final na
US5. Também ocorre uma erosão que destruiu grande parte da US5, o topo da
US4 e US3. ........................................................................................................... 62

Figura 30: (A) Seção sísmica da linha STRIKE 0900 com interpretação completa
das sismofácies e sua relação com as unidades sísmicas e conexão com as
linhas-chave. (B) Diagrama cronoestratigráfico para a linha sísmica 0575,
mostrando o início da deposição da US2 até o final na US5. Também ocorre uma
erosão que destruiu grande parte da US5, o topo da US4 e US3......................... 63
xii
Figura 31: (A) Mapa da superfície de topo da US1, com as regiões mais profundas
situadas a oeste e nordeste. (B) Imagem 3D da superfície de topo da US1,
mostrando que a unidade ocorre de forma isolada na área de estudo. EV.: 7,5x. 67

Figura 32: Mapa da superfície de Topo da US2, com as regiões mais elevadas
próximas ao alto estrutural à sudeste e as mais baixas nas regiões oeste e
nordeste. (B) Imagem 3D da superfície de topo da US2, mostrando uma
ocorrência por grande parte da área de estudo. EV.: 7,5x. ................................... 68

Figura 33: Mapa da superfície de Topo da US3, com as regiões mais elevadas na
região central e próximas ao alto estrutural à sudeste, com as mais baixas na
região oeste. (B) Imagem 3D da superfície de topo da US3, mostrando uma
ocorrência por grande parte da área de estudo. EV.: 7,5x. ................................... 69

Figura 34: Mapa da superfície de Topo da US4, com as regiões mais elevadas
próximas ao alto estrutural à sudeste e as mais baixas nas regiões oeste e
nordeste. (B) Imagem 3D da superfície de topo da US2, mostrando uma
ocorrência por grande parte da área de estudo sendo a primeira que ultrapassou
o alto estrutural à sudeste. EV.: 7,5x. ................................................................... 70

Figura 35: Mapa da superfície de Topo da US5, com a região nordeste menos
elevada. (B) Imagem 3D da superfície de topo da US5, mostrando uma ocorrência
limitada na área de estudo devido à erosão que destruiu a unidade nas regiões
leste e oeste. EV.: 7,5x. ........................................................................................ 71

Figura 36: Modelo deposicional conceitual do intervalo de estudo, mostrando a


deposição gradual e contínua das unidades sísmicas preenchendo primeiros os
baixos estruturais e depois o alto estrutural à sudeste. A seção rifte compreende à
Fm. Itapema, enquanto a Fm. Barra Velha o intervalo de estudo e a Fm. Ariri os
evaporitos que recobrem o intervalo de estudo. ................................................... 72

Figura 37: Mapa de isópaca da US1, mostrando valores que variam de 30 ms a 180
ms. O principal depocentro localiza-se na região centro-leste. ............................. 73

Figura 38: Mapa de isópaca da US2, mostrando valores que variam de 40 ms a 380
ms. O principal depocentro localiza-se na região central. ..................................... 74

xiii
Figura 39: Mapa de isópaca da US3, com valores variando de 45 ms a 340, sem
apresentar depocentros bem definidos. ................................................................ 75

Figura 40: Mapa de isópaca da US4, com valores variando de 30 ms a 320 ms em


depocentros isolados na região nordeste. ............................................................ 76

Figura 41: Mapa de isópaca da US5, com valores variando de 30 ms a 300 ms em


depocentro localizado na região nordeste. ........................................................... 77

Figura 42: (A) Seção sísmica da linha DIP 0575 com detalhe para a região do Poço
A, mostrando a predominância de SFA. (B) Descrição das amostras de calha do
Poço A no intervalo de estudo, com predomínio de carbonatos. (C) Descrição das
sismofácies identificadas no trabalho. (D) Fácies descritas por Wright e Barnett
(2015) para os carbonatos do intervalo de estudo e utilizados para conexão com
as sismofácies....................................................................................................... 80

Figura 43: Exemplos de textura das sismofácies A e sismofácies B para o intervalo


de estudo. ............................................................................................................. 81

xiv
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Lista de linhas sísmicas utilizadas no trabalho. São 19 linhas, sendo 16


DIP e 3 STRIKE, além de 4 linhas-chave ............................................................. 38

Tabela 2: Tabela de descrição das sismofácies identificadas no intervalo de estudo.


.............................................................................................................................. 57

xv
LISTA DE ABREVIATURAS

ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás-Natural e Biocombustíveis

TWT – Two way travel time

ms – Milissegundos

Fm - Formação

SF – Sismofácies

US – Unidade Sísmica

km – Quilômetros

boe – Barril de óleo equivalente

Ma – Milhões de anos

EV – Exagero Vertical

xvi
1 INTRODUÇÃO

As reservas de hidrocarbonetos no Pré-sal brasileiro foram descobertas em


2006, após duas perfurações de poços exploratórios. Os primeiros prospectos
comerciais com quantidade significativa de óleo foram perfurados no Campo de Lula
(prospectos Tupi e Sapinhoá), e confirmaram a magnitude do sistema petrolífero do
Pré-sal (Figura 1) (Petersohn, 2013). O volume recuperável – quantidade que se
estima produzir pelos métodos disponíveis – é de 8.3 bilhões de barris de óleo
equivalente (boe), volume muito acima dos 500 milhões de boe que classifica um
campo petrolífero como gigante (Petrobrás, 2010).

Após mais de uma década de desenvolvimento no conhecimento tecnológico


e científico, o Campo de Lula tornou-se o maior campo produtor da seção Pré-sal.
De acordo com Agência Nacional do Petróleo, Gás-Natural e Biocombustíveis
(ANP), no mês de setembro de 2019, Lula produziu quase um milhão de barris por
dia de petróleo (Figura 2-A) e 40 milhões de metros cúbicos por dia de gás-natural
(Figura 2-B), sendo responsável por mais da metade da produção do Pré-sal
brasileiro (Figura 3).

Figura 1: Seção-tipo interpretada do Pré-sal na Bacia de Santos. Linha vermelha mostra a localização
do prospecto Tupi no Campo de Lula. Compreende o primeiro esforço exploratório com enfoque no
Pré-sal em águas profundas, em 2006. Fonte: Petrobrás.

Monografia de Conclusão de Curso 17


Figura 2: Dados da produção do mês de setembro na seção Pré-sal. (A) Os 20 campos mais
produtores de petróleo, em Mbbl/d. (B) Os 20 campos mais produtores de Gás-Natural, em MMm³/d.
Fonte: ANP/SDP/SIGEP, 2019.

Figura 3: Distribuição da produção de setembro por campo na seção Pré-sal. Observa-se o relevante
protagonismo de Lula na atual produção de petróleo do Brasil. Fonte: ANP/SDP/SIGEP, 2019.

Monografia de Conclusão de Curso 18


Levando em conta a atual importância das descobertas de óleo no Pré-sal, o
presente trabalho tem como alvo a sucessão do Cretáceo Inferior, Idade Aptiano
(112-125 Ma) da Bacia de Santos, tendo em vista que esse intervalo representa um
dos grandes depósitos das rochas reservatórios do Pré-sal e a posterior deposição
do sal que atua como selante do sistema. A metodologia principal é a interpretação
sismoestratigráfica, a partir de um conjunto de 19 linhas sísmicas 2D e um poço de
exploração, localizados no Campo de Lula, Bacia de Santos (Figura 4).

Apesar de a área possuir uma grande quantidade de dados, tanto geológicos


quanto sísmicos, não há um modelo de arcabouço sismoestratigráfico publicado na
no Campo de Lula. Sendo assim, o trabalho tem grande interesse do setor para
novos modelos geológicos relacionados ao intervalo produtor.

1.1 Localização e Contexto Geológico

O local de estudo situa-se na região central distal da Bacia de Santos, no


centro do polígono do Pré-sal (Figura 4). O campo de Lula está a cerca de 230 km
da costa do município do Rio de Janeiro, em lâmina d’água variando entre 2.100 e
2.200 metros de profundidade (ANP, 2018). Os reservatórios estão localizados entre
4.700 a 6.000 metros abaixo do nível do mar e muitas vezes encontram-se
sotopostos por uma espessa sucessão de sal de até 2.000 metros (ANP, 2018).

Os campos de petróleo mais produtivos do Brasil estão situados no intervalo


Pré-sal da Bacia de Santos (Petrobrás, 2018). Sua origem está relacionada à ruptura
do Supercontinente Gondwana e posterior abertura do Oceano Atlântico. A Bacia de
Santos possui pacotes sedimentares de até 10 km em seu depocentro (Chang et al.,
2008), em uma área de aproximadamente 350.000 km². Abrange os estados de
Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, e é limitada ao norte com a
Bacia de Campos pelo Alto de Cabo Frio (Mohriak, et al., 1990) e ao sul com a Bacia
de Pelotas pelo Alto de Florianópolis.

A abertura do Oceano Atlântico se desenvolveu a partir do rifteamento


diácrono que se iniciou no sul – Triássico/Jurássico – e se propagou para o norte –

Monografia de Conclusão de Curso 19


Jurássico/Cretáceo – (Stollhofen et al., 1998; Meisling et al., 2001; Mohriak et et.,
2002). O preenchimento da bacia ocorre de acordo com seu estágio tectônico,
sendo dividido em megassequência sin-rifte, megassequência transicional e
megassequência pós-rifte (Pereira e Macedo, 1990; Pereira e Feijó, 1994).

Figura 4: Mapa de localização da área de estudo. A) o Brasil e suas bacias costeiras, com detalhe
para a Bacia de Santos. B) a posição da área de estudo e do campo de Lula na Bacia de Santos.

A megassequência sin-rifte é dividida em sin-rifte I e sin-rifte II (Chang et al.,


1992; Karner & Driscoll, 1999). A primeira fase apresenta como unidade basal a

Monografia de Conclusão de Curso 20


Formação Camboriú, que é composta por rochas vulcânicas e representa o
embasamento econômico da bacia. Ela ocorreu devido ao confinamento dos
esforços na porção da crosta que sofreu afinamento, provocando falhas crustais
(Chang et al.,1992; Karner & Driscoll, 1999). A fase sin-rifte II foi gerada pelo
processo de strain softening, responsável por diminuir a resistência ao cisalhamento,
dando origem às Formações Piçarras e Itapema (Chang, et al., 1992). Essas
formações já são consideradas de ambiente fluvio-lacustre, os quais são os
responsáveis pela deposição das rochas geradoras do óleo do Pré-sal, por
possuírem grande quantidade de matéria orgânica (Chang et. al., 2008).

A megassequência transicional (Pereira e Feijó, 1994), também denominada


sag (Quirk et al., 2013) ou sin-rifte III (Chang et al, 1992), representa uma evolução
do processo de strain softening, cujo resultado final foi o rompimento litosférico. A
megassequência transicional é considerada sag por constituir uma grande
depressão contínua lateralmente, gerada por subsidência dominantemente termal,
que reflete em sistemas de pequenas falhas rasas, com predominante deformação
dúctil crustal mais profunda (Chang et. al., 1992). A transição do ambiente fluvio-
lacustre para o marinho restrito indica uma variação dos depósitos químicos de
argilas magnesianas e calcita da Fm. Barra Velha, para os evaporitos da Fm. Ariri
(Pereira e Feijó, 1994). As taxas de evaporação eram altas em relação ao influxo de
água, proporcionando a deposição de espessos pacotes de sal, com espessuras de
2000 a 2500 metros da Fm. Ariri (Chang et al., 1990; Pereira e Macedo, 1990).
Portanto, a Formação Barra Velha representa um dos reservatórios do Pré-sal,
sendo constituída por carbonatos microbianos e estromatólitos, e a Formação Ariri,
composta por halita e anidrita, atua como selante do reservatório.

A megassequência pós-rifte é composta por depósitos siliciclásticos da


Formação Florianópolis, seguidos de carbonatos da Formação Guarujá de Idade
eo/meso-Albiano, representando um ambiente marinho nerítico – hipersalino, com
pouca circulação de água oceânica (Chang et. al., 2008). Posteriomente, a
Formação Itanhaém recobriu transgressivamente com depósitos
clástico/carbonáticos, o sistema durante o Neo-Albiano ao Eo-Cenomaniano (Pereira
et. al., 1986). Essa sequência já é resposta à subsidência térmica da bacia.

Monografia de Conclusão de Curso 21


Figura 5: Carta cronoestratigráfica da Bacia de Santos. Detalhe em vermelho mostra o intervalo de
estudo nos carbonatos da Fm. Barra Velha de idade Aptiana. Modificado de Moreira, et al. 2007.

1.2 Justificativa

A descoberta do Pré-Sal está entre as mais importantes do mundo neste


século e mudou o paradigma do Brasil no setor energético, colocando-o numa
posição estratégica frente à demanda mundial de energia, sendo um dos mais
promissores produtores de petróleo com grandes acumulações de óleo leve de
excelente qualidade e alto valor comercial. De acordo com o Anuário Estatístico da
Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP, 2018), atualmente o
Brasil ocupa a 15° posição no ranking mundial de reservas provadas e o 10° lugar
em produção mundial.

Segundo a Petrobrás, a Bacia de Santos produz em média 25 mil barris


diários por poço, sendo a área mais produtiva atualmente no mercado de óleo e gás
O poço mais produtor está no campo de Lula, com cerca de 36 mil barris diários,

Monografia de Conclusão de Curso 22


enquanto o campo mais promissor, que ainda não está em fase de exploração, é o
de Libra que apresenta reservatórios de até 400 metros de espessura, gerando uma
grande expectativa da indústria e do país (Petrobrás, 2018).

Desta forma, o intervalo de estudo apresenta-se como uma das áreas mais
importantes para a produção de petróleo no Brasil, e dada à estratégica e sensível
confidencialidade dos dados e interpretações geradas nas empresas
concessionárias, são poucas as publicações acadêmicas que apresentem modelos
geológicos e evolutivos, principalmente com enfoque sismoestratigráfico.

1.3 Objetivos

Este trabalho tem o objetivo geral de estabelecer um arcabouço estratigráfico


do intervalo Aptiano do Campo de Lula, a fim de compreender melhor a evolução do
Pré-sal. Para tal, foram definidos os seguintes objetivos específicos:

• Realizar a análise sismoestratigráfica conforme os procedimentos de Mitchum


& Vail, 1977 – análise de terminações de refletores.
• Identificar unidades sísmicas limitadas por superfícies estratigráficas a partir
de sucessões de terminações de refletores.
• Reconhecer sismofácies e seu padrão litológico de preenchimento a partir de
texturas sísmicas.
• Elaborar diagramas cronoestratigráficos - controle temporal relativo e a
variabilidade geográfica para cada unidade sismoestratigráfica reconhecida.
• Gerar mapas de isópacas e de topo das unidades sísmicas.

Monografia de Conclusão de Curso 23


2 ESTADO DA ARTE

2.1 Bacias Rifte

As bacias do tipo rifte são controladas por uma variedade de fatores tectônicos,
climáticos, magmáticos e sedimentares, as quais possuem assinaturas distintas em
sua preservação (Bosence et al., 1998). Existem quatro modelos geotectônicos de
evolução dessas bacias: cisalhamento puro, cisalhamento simples, deformação
heterogênea, e rifte dominado por pluma mantélica (Figura 6). Os três primeiros
modelos apresentam magmatismo como produto do estiramento crustal, sendo
considerados riftes passivos, enquanto o último modelo apresenta o estiramento
crustal como produto de uma pluma e magmatismo, sendo considerados riftes
ativos.

Figura 6: Modelo ilustrativo dos diferentes modelos de rifte. Modificado de Bosence (1998).

Monografia de Conclusão de Curso 24


O modelo de cisalhamento puro (McKenzie, 1978) apresenta uma estiramento
uniforme da crosta em resposta ao cisalhamento puro homogêneo, formando uma
bacia rifte simétrica. A simetria da bacia ocorre devido à duas falhas de borda que
mergulham uma em direção a outra (Figura 6-A). O estágio inicial de evolução da
bacia é baseado na resposta da extensão e afinamento da crosta, seguido por um
longo período de subsidência termal.

O modelo de cisalhamento simples (Wernicke e Burchfiel, 1982; Wernicke,


1985) propõe a formação de uma estrutura de meio graben gerado por uma
superfície de descolamento de baixo ângulo, com blocos da crosta ruptil
rotacionados em resposta ao estiramento crustal. Neste modelo a bacia é divida em
proximal e distal, separadas por um alto do embsamento (Figura 6-B). Na região
proximal ocorre a deposição desde o início do estiramento, enquanto a região distal
é afetada pela expansão termal, resultanto no sorguimento e erosão. A subsidência
termal representa a segunda fase da subsidência da bacia, após o resfriamento das
camadas, afetando uma área mais ampla que a fase anterior (McKenzie, 1978).

O modelo de deformação heterogênea (Coward, 1986) envolve a rotação de


blocos crustais que se propagam para longe do rifte em uma superfície de
descolamento de baixo ângulo (Figura 6-C). Durante o processo ocorre um momento
de soerguimento e erosão, seguido de subsidência gerado pelo resfriamento termal
da bacia.

O modelo de rifte dominado por pluma mantélica (Braun and Beamount, 1989)
propõe que a anomalia térmica na região seja gerado por plumas astenosféricas,
causando descompressão e a fusão crustal (Figura 6-D). A subsidência térmica
neste caso não será tão predominante quanto nos modelos anteriores, devido aos
efeitos residuais termais do magmatismo (Bosence, 1998).

2.2 Bacias Sag

Bacias sag são geradas em contexto de extensão litosférica. O mecanismo de


subsidência pode ser simples, como movimento estrutural primário de geração de

Monografia de Conclusão de Curso 25


subsidência em bacias intracratônicas, ou compor um estágio evolutivo do processo
de rifteamento (Kingston et al., 1983). As bacias/estágios sag mais comuns são
divididas em interior e marginal, enquanto a oceânica é rara e mais tardia na história
de evolução da bacia.

De acordo com Allen & Allen (2005), nas bacias sag intracratônicas a
subsidência ocorre por contração termal da litosfera devido à interrupção da fonte de
calor, enquanto nas bacias rifte a subsidência mecânica é controlada pelas tensões
trativas que excedem a força da rocha, causando falhamentos em arranjo
extensional. Por outro lado, Nichols (2009) define bacias sag intracratônicas como
depressões relacionadas à ampla subsidência da crosta, tendendo a ser extensas
em área e rasas em profundidade. O autor cita dois mecanismos para geração
desse tipo de bacia: 1) subsidência térmica causada por irregularidades na
distribuição de temperatura do manto, normalmente associadas às porções crustais
resfriadas, e 2) flambagem litosférica com grande comprimento de onda.

As bacias sag cratônicas estão localizadas inteiramente sobre crosta


continental, mais comumente no interior do que na margem dos continentes, em
regime de divergência de placas tectônicas (Kingston et al.,1983). Elas geralmente
se apresentam em forma circular ou oval, e normalmente não acumulam espessos
pacotes de sedimentos. Outro fator importante é a falta de falhamentos normais
durante a subsidência, o que sugere uma rigidez elevada da litosfera (Watts et al.,
1982), ou seja, a litosfera está resfriando, processo que causa a subsidência
térmica. Conforme ilustrado na Figura 7, a evolução das bacias sag interiores podem
ser simples, com apenas um ciclo de sagging, ou complexas, com sucessivos ciclos
de sagging.

As bacias sag vinculadas a processos de rifteamento serão explicadas no


próximo item, junto com a evolução tectono-estratigráfica de bacias rifte.

Monografia de Conclusão de Curso 26


Figura 7: Evolução de bacia sag interior ilustrada em três estágios: estágio 1) sagging em bloco
continental acompanhado de sedimentação não-marinha; estágio 2) continuação de sagging simétrico
com sedimentação marinha; estágio 3) soerguimento e erosão, comumente por um longo período,
sem movimentação de grandes falhas. Exemplo da Bacia de Michigan, extraído de Kingston et al.
(1983).

2.3 Evolução Tectono-Estratigráfica de Bacias Rifte

Para entendermos melhor a evolução tectono-estratigráfica de bacias rifte e


sua relação com o estágio sag, serão utilizados os modelos evolutivos de Prosser
(1993), Bosence (1998) e Kuchle e Scherer (2010) para o trabalho.

Prosser (1993) utiliza tratos de sistemas tectônicos (TST) para definir os


quatro estágios tectono-estratigráficos de bacias rifte (Figura 8), já que a tectônica é
o principal controlador da sedimentação. Abaixo estão os quatro estágios
brevemente caracterizados.

1. O TST de Início de Rifte é caracterizado pela geração de pequenas sub-


bacias isoladas como resposta ao primeiro movimento de falha normal. Sua
assinatura sísmica externa tem forma de cunha, com refletores internos
descontínuos em padrão hummocky. Já os pacotes de refletores são agradacionais,
mostrando que a taxa de sedimentação acompanha a de subsidência.

Monografia de Conclusão de Curso 27


2. O TST de Clímax de Rifte apresenta a maior taxa de criação de espaço de
acomodação, que ultrapassa o aporte sedimentar, mudando o padrão de
empilhamento de agradacional para retrogradacional. Na sísmica observam-se
refletores divergentes com geometria interna caótica, próximo à falha de borda.

3. O TST de Pós-Rifte Imediato é caracterizado pelo término do tectonismo


ativo, onde a subsidência mecânica dá lugar à subsidência térmica por resfriamento
litosférico. O padrão de empilhamento é agradacional com componente
progradacional e raseamento do lado em direção ao topo. Na sísmica os refletores
são paralelos (onlap com a falha de borda) e semi-contínuos.

4. Por fim, o TST de Pós-Rifte Tardio é marcado pela peneplanização gradual


e lenta da topografia gerada por falhas, levando ao afinamento dos sedimentos em
direção ao topo. Na sísmica os refletores são mais contínuos que na fase anterior.

Monografia de Conclusão de Curso 28


Figura 8: (A) Seção idealizada de uma seção sísmica de uma bacia rifte ideal, onde cada trato de
sistemas tectônico pode ser identificado. (B) Seção vertical idealizada do centro da bacia,
interpretada conforme a expressão de mudanças do controle tectônico no sistema deposicional.
Modificado de Prosser (1993).

Monografia de Conclusão de Curso 29


Bosence (1998) separa a seção rifte em pré-rifte, sin-rifte e pós-rite, com base
nos diferentes estágios tectônicos e as superfícies regionais que os delimitam.
Segundo o autor, a fase rifte é restrita ao estágio sin-rifte, pois apresenta uma
evolução completamente diferente das outras fases. O início da fase rifte é marcado
pela discordância sin-rifte, e o final é marcado pela discordância pós-rifte (Figura 9).

O estágio sin-rifte apresenta uma subsidência mecânica regional no centro e


soerguimento das cristas, resultando em um espaço de acomodação não totalmente
preenchido, indicando que a taxa de subsidência ultrapassa a de suprimento
sedimentar. Na sísmica os estratos apresentam padrão divergente, reflexo da
intensa movimentação tectônica durante esse período. O estágio pós-rifte
compreende os sedimentos depositados em regime de subsidência termal,
controlada por resfriamento e aumento da densidade da litosfera. Neste tipo de
subsidência, a área atingida é muito maior que àquela gerada pela subsidência
mecânica. Na sísmica, os estratos são plano-paralelos e horizontais, refletindo um
contexto deposicional de quiescência tectônica.

.
Figura 9: Modelo ilustrativo das superfícies e estratos da fase rifte. Modificado de Bosence (1998).

Kuchle e Scherer (2010) utilizam a interpretação sismoestratigráfica baseada


nos conceitos da estratigrafia de sequências nas bacias rifte. Os autores utilizam os
tratos de sistemas tectônicos definidos por Prosser (1993) para compartimentar a
seção rifte limitada pela discordância sin-rifte na base e pela discordância pós-rifte
no topo (Figura 10), compreendendo apenas o intervalo sin-rifte de Bosence (1998).

Monografia de Conclusão de Curso 30


O TST de Início de Rifte é representado por uma ampla bacia rasa
continental, formada em resposta ao início do estiramento crustal. Na base do
pacote, encontra a discordância sin-rifte (DSR). Na sísmica, os refletores apesentam
padrão plano-paralelo e continuidade baixa.

O TST de Desenvolvimento de Meio-Gráben é caracterizado pelo início da


geração de meio-gráben. A base da unidade é a Superfície de Desenvolvimento de
Meio-Gráben, correlata com uma discordância na borda da bacia. Na sísmica, a
geometria externa é suavemente em cunha, com padrão interno plano-paralelo ou
discretamente divergente, com refletores descontínuos.

O TST de Clímax do Rifte reflete o momento de máxima atividade tectônica


na bacia, com máximo desenvolvimento da falha de borda, gerando alta taxa de
criação de espaço de acomodação e baixo aporte sedimentar. Na sísmica, a
geometria externa é em forma de cunha e diversos truncamentos internos.
Refletores caóticos, descontínuos e com amplitude variável, são encontrados na
falha de borda.

O TST de Final do Rifte marca a diminuição da atividade tectônica, recuo do


sistema lacustre e diminuição no espaço de acomodação. As cristas são erodidas e
servem de área-fonte para o meio-gráben.

Monografia de Conclusão de Curso 31


Figura 10: (A) Modelo estratigráfico idealizado de uma bacia rifte, incluindo os tratos de sistemas
tectônicos, as tendências deposicionais e as superfícies limítrofes. (B) Expressão sísmica do modelo
estratigráfico, acima idealizada, ilustrando as terminações estratais e as configurações de refletores.
Retirado de Kuchle e Scherer (2010).

Conforme visto nos modelos evolutivos, o estágio evolutivo sag se encaixa


melhor na fase pós-rifte das bacias vinculadas ao processo de rifteamento, visto que
a característica do sedimento é se depositar numa ampla área em um contexto de
subsidência termal da crosta.

De acordo com Gabrielsen et al. (2001), a configuração da bacia sag é


influenciada pelas principais características estruturais herdadas do rifteamento, pois
elas controlam a distribuição da sedimentação. Conforme o autor, a amalgamação
das sub-bacias geradas na fase sin-rifte e a suavização do assoalho da bacia
ocorrem no estágio inicial do desenvolvimento sag. Conforme a bacia evolui, o efeito
da contração termal diminui, enquanto a carga sedimentar aumenta, mostrando um

Monografia de Conclusão de Curso 32


contexto em que a taxa de criação do espaço de acomodação é menor que o influxo
sedimentar. O estágio sag maduro é alcançado quando o equilíbrio termal é obtido,
e a geometria da bacia for ampla em forma de pires e não mais influenciada pelas
características herdadas do sin-rifte.

Entretanto, os modelos básicos aqui apresentados de Bosence (1998),


Prosser (1993) e Kuchle & Scherer (2010) acabam por não abordar de forma clara e
direta como uma bacia do tipo sag ocorre (e principalmente quando um rifte evolui
para uma margem passiva) sobre um rifte. Novos trabalhos na evolução
geodinâmica das rupturas continentais apresentam uma compreensão integrada da
evolução conjunta de fases rifte e sag. Brune et al. (2014) mostra que o processo de
rifteamento é contínuo, e que se reflete em uma fase mecânica, de alta subsidência
– fase rifte clássica - , e que esta fase evolui para uma fase final, que antecede a
ruptura crustal efetiva, com predominância de subsidência termal, caracterizada
como fase sag na borda, enquanto a subsidência mecânica migra para a região
central próxima do manto exposto. Esta fase sag é antecedida por uma discordância
regional e compreende uma área deposicional ampla e maior que as calhas rifte.
Assim, o processo de riteamento de um continente compreende também a fase sag,
que acaba sendo a fase final e geneticamente ligada ao processo de ruptura (Brune,
et al., 2014).

2.4 Sismoestratigrafia

A sismoestratigrafia foi definida inicialmente por e Mitchum e Vail (1977) e


desenvolvida num contexto de margem continental passiva, contudo sua aplicação
tem sido estendida para o mapeamento de sequências depositadas em vários
contextos geológicos.

Um dos princípios da sismoestratigrafia consiste na interpretação das


terminações e configuração das reflexões sísmicas no reconhecimento e correlação
de sequências, ambientes deposicionais e fácies sedimentares (Mitchum Jr. et. al,
1977). As reflexões sísmicas são geradas por superfícies que separam estratos com
diferentes propriedades acoústicas (densidade, porosidade, composição, etc). Os

Monografia de Conclusão de Curso 33


limites de sequências são delimitados por erosões ou hiatos, que podem ser
relacionados regionalmente (Mitchum e Vail, 1977) e possuem grande significado
cronoestratigráfico (Sloss, 1963).

Na sismoestratigrafia, a definição das sequências deposicionais é feita a partir


da terminação de refletores (Figura 11), tanto de base quanto de topo e foram
definidos em: toplap, downlap, onlap, truncamento erosivo e concordante (Mitchum e
Vail, 1977).

Os limites de topo constituem em: truncamento erosivo, toplap e concordante.


Os limites de base constituem em: onlap, downlap e concordante. Os toplaps e
onlaps são interpretados como terminações de refletores que ocorrem,
respectivamente, no topo e na base de sequências deposicionais. Os downlaps são
refletores inicialmente inclinados que se terminam em refletores horizontais, com o
significado de limite inferior de sequência. Já os truncamentos erosivos são
interpretados como terminações laterais que ocorrem no topo de sequências
deposicionais e que podem se estender por uma vasta área.

Figura 11: Padrões de terminação de refletores de limite superior (truncamento erosivo, toplap e
concordante) e inferior (onlap, downlap e concordante) de uma sequência sísmica/sequência
deposicional. Modificado de Michum e Vail (1977).

Os parâmetros internos e externos dos refletores definem as sismofácies


(Brown Jr. & Fisher, 1980). A interpretação dos padrões internos de reflexão que as
compõem, correlacionadas com dados de poços, é uma excelente ferramenta que

Monografia de Conclusão de Curso 34


nos ajuda a inferir o tipo de litologia, os processos sedimentares e as feições
deposicionais que compõem determinada unidade deposicional. Os principais tipos
de padrões de reflexão dos refletores (Figura 12) serão discutidos abaixo de acordo
com a concepção de Mitchum e Vail (1977), Ribeiro (2001) e Cruz (2008).

• Padrão paralelo/subparalelo: indicam taxa de deposição constante sobre uma


superfície estável ou subsidência uniforme.
• Padrão divergente: indica uma variação lateral na taxa de deposição,
inclinação progressiva do substrato (criação de espaço de acomodação
próximo à falha) ou a combinação dos dois fatores.
• Configurações progradantes: estratos depositados sobre superfícies
inclinadas, cuja superposição lateral gera clinoformas que podem ser oblíquas
(paralelas e tangenciais), sigmoidais, complexo sigmoidal-oblíquas e shingled.
o Oblíqua: grande aporte sedimentar, baixa ou nenhuma taxa de
subsidência ou nível do mar estacionário e alta deposição sedimentar.
o Sigmoidal: baixo aporte sedimentar, taxa de subsidência contínua ou
relativa subida do nível do mar e baixa deposição sedimentar.
o Complexo sigmoidal-oblíquo: situação intermediária entre os modelos
acima.
o Shingled: padrão progradante de pequena espessura, com refletores
de mergulho suave, geralmente associado a águas rasas.
• Configuração caótica: são reflexões discordantes e descontínuas, podendo
indicar um ambiente de alta energia e/ou deformações sin e pós-
deposicionais.
• Configuração hummocky: pequenos refletores descontínuos, irregulares,
subparalelos. Geralmente associado a fluxos gravitacionais em sistemas
deltaicos ou leques submarinos.

As sequências deposicionais podem apresentar geometrias externas que


estão diretamente relacionadas com o ambiente e os sistemas deposicionais sob o
qual foram depositados (Cruz, 2008). As principais formas foram definidas por
Mitchum e Vail (1977) são compostas por: lençol, lençol ondulado, cunha, banco,
lente, preenchimento (canal, bacia ou talude) e montiformas (Figura 13).

Monografia de Conclusão de Curso 35


A geometria em lençol, com sismofácies paralela, indica a deposição em
planícies aluviais, plataforma ou planície abissal. Já com sismofácies ondulada
sugere uma deposição de baixa energia (Ribeiro, 2001). Em clinoformas
progradantes é comum ter geometria externa em forma de lente, enquanto as
montiformas são características de ambientes com topografia mais elevada,
vulcânicos ou biogênicos (Mitchum e Vail, 1977). No geral, as geometrias de
preenchimento são interpretadas como feições negativas no relevo, sendo erosivas
ou não, tais como: canais, canyons, calhas, etc. (Ribeiro, 2001).

Figura 12: Tipos de geometria interna de sismofácies, dados em configurações paralela, caótica,
transparente, divergente, progradante, hummocky, lenticular, segmentada e contorcida. Modificado de
Mitchum e Vail (1977).

Figura 13: Padrões de geometria externa de sismofácies (lençol, lençol ondulado, cunha, banco e
lenticular), seus tipos de preenchimento (em canal, de bacia e de talude) e de montiformas
(generalizada e leque). Modificado de Mitchum e Vail (1977).

Monografia de Conclusão de Curso 36


3 METODOLOGIA

A base de dados do presente projeto compreende um conjunto de 19 linhas


sísmicas 2D, em tempo duplo (TWT), e o perfil de um poço exploratório (Figura 14),
disponibilizados pela Agência Nacional do Petróleo conforme a política de sessão de
dados públicos para as universidades no âmbito de desenvolvimento de pesquisa.

Figura 14: A disposição do poço e linhas sísmicas utilizadas, detalhe em azul para as linhas DIP
1659, DIP 0575, DIP 1691 e STRIKE 0900 que serviram para análise sismoestratigráfica.

Os dados sísmicos foram adquiridos em um sinal zero-phase, no qual o pico


da curva do sinal sísmico ocorre no local em que há o maior contraste de
impedância acústica. O poço disponibilizado compreendeu perfil litológico composto
de calha, topos de formações, perfilagem de raios gama, potencial espontâneo, perfil
sônico e dados de checkshot (amarração tempo/profundidade). A calibração do
poço com a sísmica pode ser realizado de diferentes maneiras, visto que suas

Monografia de Conclusão de Curso 37


unidades de medida do eixo vertical são diferentes: o poço é medido em metros ou
pés, e a linha sísmica em two way travel time (TWT), ou tempo duplo, em
milissegundos. O método empregado neste trabalho é o mais comum para
correlacionar os dados: o check-shot, levantamento no qual o tempo de propagação
de uma onda sonora desde a superfície é medido em diversos pontos do poço.

3.1 Controle de Dados

Os dados culturais (campos de produção/exploração, bacias sedimentares,


polígono do Pré-sal) foram baixados do site da Agência Nacional de Petróleo e Gás
Natural - ANP, em formato shapefile. A análise dos dados foi realizada no laboratório
SeisLab (Laboratório de Sismoestratigrafia da UFRGS), localizado no prédio de pós-
graduação em estratigrafia da UFRGS.

A sísmica foi carregada no software Petrel e passou por uma observação de


qualidade (resolução, rastreabilidade, ruídos) para a triagem e seleção daquelas
linhas de melhor qualidade para o trabalho. Foram selecionadas assim 19 linhas
sísmicas que apresentaram boa qualidade para a realização do projeto (Tabela 1).

A área de estudo foi determinada a partir de critérios qualitativos durante a


análise das seções sísmicas. As linhas selecionadas estão localizadas no campo de
Lula e apresentam uma resolução sísmica boa para a observação da relação entre a
sedimentação e os padrões estruturais no intervalo de estudo.

Tabela 1: Lista de linhas sísmicas utilizadas no trabalho. São 19 linhas, sendo 16 DIP e 3 STRIKE,
além de 4 linhas-chave
Linhas
Linhas-Chave
Sísmicas
Dip 0575 Dip 1647
Dip 1659 Dip 1651
Dip 1691 Dip 1655
Strike 0900 Dip 1663
Dip 1667
Dip 1671
Dip 1675
Dip 1679
Dip 1683

Monografia de Conclusão de Curso 38


Dip 1687
Dip 1695
Dip 1703
Dip 1707
Strike 284
Strike 292

3.2 Mapeamento de Topo e Base

Após a delimitação geográfica da área de estudo, foi realizada a delimitação da


região de interesse na seção sísmica. O topo é representado pelo limite da
Formação Barra Velha, de depósitos carbonáticos/siliciclásticos da fase sag, com os
depósitos evaporíticos da Formação Ariri. Enquanto a base é delimitada pela
discordância Pré-NeoAlagoas que separa os sedimentos rifte da fase sag.

Para o mapeamento foram definidos parâmetros sísmicos para a separação do


topo e da base e foram utilizadas 19 linhas sísmicas 2D, sendo que 16 são DIP e
três são STRIKE.

3.3 Linhas-Chave

A interpretação sismoestratigráfica completa dos refletores foi realizada em


linhas-chave da área (Tabela 1). Esta interpretação consiste em traçar a
continuidade e a terminação dos refletores, com o intuito de compreender a
deposição dos pacotes das camadas e, assim, delimitar as unidades
sismoestratigráficas, definir as sismofácies e elaborar diagramas
cronoestratigráficos. A linha-chave Strike 0900 não fez parte da interpretação
completa de refletores e suas terminações, sendo utilizada apenas para amarração
das unidades sísmicas e sismofácies.

Monografia de Conclusão de Curso 39


3.4 Análise Sismoestratigráfica - Terminações de refletores, Unidades Sísmicas
e Sismofácies

A análise sismoestratigráfica se desenvolveu na forma de etapas que se


sucedem de acordo com o fluxograma abaixo (Figura 15), baseado na metodologia
de Mitchum Jr. e Vail (1977). As reflexões sísmicas são geradas por superfícies que
separam estratos com diferentes propriedades acústicas (densidade, porosidade,
composição etc.), no qual o tempo duplo de reflexão das ondas sísmicas é medido.
De acordo com Mitchum Jr. e Vail (1977), estas superfícies, além de seu significado
geológico, representam tempo, portanto um refletor é uma superfície depositada ao
mesmo tempo.

Figura 15: Fluxograma da metodologia de análise sismoestratigráfica utilizada, baseada em Mitchum


e Vail (1977), onde os dados de entrada necessários para realização de cada etapa analítica estão à
esquerda; o produto final da análise é o arcabouço estratigráfico, como apontado na direita.

Os refletores, conforme foi apresentado no capítulo 2.4, apresentam terminações


de topo e base, classificadas em toplap, downlap, onlap, concordante e truncamento
erosivo (Figura 11). A identificação destas terminações auxilia na identificação das
superfícies com maior significado cronológico, as quais irão definir as unidades
sismoestratigráficas (Mitchum Jr., 1977).

As unidades sísmicas são conjuntos de estratos cronoestratigraficamente


relacionados, limitados no topo e na base por terminação de refletores. Estas

Monografia de Conclusão de Curso 40


possuem grande significado no tempo, podendo representar mudança no padrão de
empilhamento, uma alteração no ambiente de sedimentação ou um hiato.

As sismofácies foram definidas a partir da geometria externa e configuração


interna dos refletores. De acordo com Mitchum Jr. et al. 1977, são unidades
tridimensionalmente mapeáveis com características e parâmetros de reflexão
semelhantes, porém diferente daqueles que as rodeiam. A geometria foi analisada
principalmente quanto a continuidade, amplitude e frequência dos refletores
(parâmetros internos), e não pela geometria externa, já que não responde de forma
satisfatória devido ao ruído ou baixa resolução sísmica.

A metodologia de interpretação sísmica estabeleciada por Micthum e Vail


(1977) foi desenvolvida com base em margem passivas, onde a variação do nível de
base é controlada pela relação espaço de acomodação (controlada por mecanismos
eustáticos e tectônicos de subsidência/soerguimento) e aporte sedimentar.
Entretanto, o intervalo de estudo se desenvolveu num regime pré-ruptura
continental, no qual o nível de base coincidia com o nível do lago (Vieira, 1998).
Neste contexto, Nichols (2009) observou que a variação do nível eustático de lagos
intracratônicos sem conexão com o mar era controlado pelas mudanças climáticas,
tornando os ciclos de mudança do nível de base mais frequentes.

3.5 Mapeamento Sísmoestratigráfico

Nesta etapa foi realizado o mapeamento do topo e da base de cada unidade


sísmica definida na interpretação das terminações dos refletores e identificação de
superfícies estratigráficas.

Como resultado, foram elaborados mapas de isópacas e profundidade, ambos


em tempo, que permitem visualizar a profundidade da primeira ocorrência e a
espessura de cada unidade. O mapa de isópacas foi calculado a partir da subtração
entre a superfície de base e de topo de cada unidade, facilitando o entendimento da
evolução tectono-sedimentar da área.

Monografia de Conclusão de Curso 41


3.6 Diagramas Cronoestratigráficos

A carta cronoestratigráfica é elaborada a partir da individualização das


unidades sísmicas. A observação da geometria de cada unidade fornece o contexto
paleogeomorfológico no qual ela foi depositada, a disposição espacial das unidades
mostra o arranjo arquitetural dos sistemas deposicionais durante o preenchimento
da bacia e, o empilhamento das unidades através do estabelecimento de sua idade
relativa, permite desenvolver um controle temporal. Assim, o diagrama facilita a
visualização da relação deposição, erosão e hiatos temporais.

Monografia de Conclusão de Curso 42


4 RESULTADOS

A interpretação sismoestratigráfica foi realizada nas linhas DIP 0575, 1659 e


1691, chamadas de linhas-chave, e envolveu a identificação do topo e base, dos
refletores e suas terminações, das unidades sísmicas e das sismofácies do intervalo
de estudo. O subsequente mapeamento sistemático foi feito em 19 linhas sísmicas,
de forma que as três linhas-chaves serviram como base para o mapeamento das
unidades sísmicas e sismofácies nas demais 16 linhas que englobam a área de
estudo (Figura 4).

4.1 Mapeamento do Topo e da Base

A superfície de topo do intervalo de estudo corresponde ao contato entre as


Formações Barra Velha e Ariri. Esta superfície é facilmente identificada, pois é
marcada por um refletor de alta amplitude positiva, gerado pela diferença de
impedância acústica entre o espesso pacote de sal da Formação Ariri e os depósitos
carbonáticos e siliciclásticos da Formação Barra Velha. As terminações contra o
refletor de topo são predominantemente truncamentos erosivos, mas também
ocorrem zonas de concordância com os refletores subjacentes. Acima da superfície
de topo os evaporitos apresentam uma seção espessa e bem definida na sísmica
por estruturas típicas de diápiros, caracterizados por refletores caóticos,
relacionados a movimentos halocinéticos.

A superfície de base é caracterizada pela alta amplitude dominantemente


positiva, sendo negativa em toda a extensão da linha DIP 1691 e ocasionalmente a
NNW da área de estudos. Podem ocorrer truncamentos erosivos de topo a SSE,
mas o predomínio é de concordância dos refletores (Figura 16). A superfície de base
marca uma transição entre dois padrões estruturais bem distintos na bacia: uma
seção rifte controlada pela atividade tectônica na base – Formação Itapema (idade
Barremiana a Aptiana), caracterizada na sísmica por refletores com padrão
divergente; e uma seção rifte controlada por tectônica incipiente e subsidência
termal, relacionada aos reajustes finais da fase rifte no topo – a Formação Barra
Velha, caracterizada na sísmica por refletores subparalelos (Figura 16). Esta

Monografia de Conclusão de Curso 43


superfície caracteriza-se como uma discordância, denominada Discordância Pré-
NeoAlagoas (Figura 5), associada ao período do processo de rifteamento onde se
encerra na área a subsidência mecânica, e tem início do domínio de subsidência
termal (Brune et al., 2014).

Figura 16: Linha sísmica DIP 0575 com superfície de Topo (azul) que separa o intervalo de estudo do
sinal caótico do sal. Superfície de base (vermelho) que separa o padrão divergente do rifte do padrão
sub-paralelo da fase sag. Todas as linhas-chave DIP 0575, DIP 1659 e DIP 1691, seguem o padrão
de cores.

No mapa de isócronas da superfície basal, é possível identificar que as zonas


mais profundas se encontram nas regiões oeste, norte e noroeste, em profundidades
que chegam a -6000 ms, enquanto as regiões mais rasas estão situadas a sudeste,
com profundidades de até -4200 ms (Figura 17-A). A superfície de topo apresenta
uma similaridade no padrão de variação de profundidade com a superfície de base,
contendo a região mais profunda chegando a -5700 na zona oeste e a região mais
rasa a sudeste, com valores de até -4200 ms. A baixa variação na escala de cores
entre as duas superfícies indica que a área tem baixa espessura, onde a maior parte
da sedimentação ocorreu no centro da área de estudo. A região mais elevada
apresenta uma estrutura alinhada de direção NE-SW (Figura 18-A).

Monografia de Conclusão de Curso 44


Figura 17: (A) Mapa da superfície de topo, mostrando que a deposição foi maior na zona central da
área de estudo. (B) Mapa da superfície de base na área de estudo, mostrando depocentros nas
regiões oeste e nordeste, e alto estrutural à sudeste, com orientação SW-NE.

Monografia de Conclusão de Curso 45


Figura 18: (A) Imagem 3D da superfície de topo, indicando uma tendência a peneplanização da área
de estudo. (B) Imagem 3D da superfície de base, mostrando a diferença topográfica entre o alto
estrutural à sudeste dos depocentros. E.V.: 7.5x.

Monografia de Conclusão de Curso 46


4.2 Padrão de Refletores e Terminações

4.2.1 Linha DIP 0575

Nesta linha (Figura 19-A) os refletores apresentam boa rastreabilidade em


todos os níveis de profundidade, apesar da continuidade lateral diminuir no sentido
sudeste da área. As amplitudes são variáveis e os valores mais elevados
concentrados na região central superior. O preenchimento concordante com as
superfícies de topo e base indica deposição tabular do intervalo, embora
visualmente pareça irregular devido à perturbação da resposta sísmica abaixo do
espesso pacote evaporítico.
Conforme a Figura 19-B, as terminações de refletores principais são em
downlap, onlap e toplap, ocorrendo em praticamente todos os níveis estratigráficos.
Também existem truncamentos erosivos localizados principalmente na porção
superior do intervalo e refletores com terminações duplas toplap-downlap. Na
porção SE da linha, o intervalo de estudo sofre um afinamento, nos quais os
refletores têm terminações basais predominantes em onlap/downlap.

4.2.2 Linha DIP 1659

Nesta linha (Figura 20-A) os refletores apresentam rastreabilidade variável,


com zonas em que o sinal sísmico foi afetado pelos diápiros de sal sotopostos.
Contudo, assim como na linha anterior, é possível observar a tabularidade do pacote
através da concordância dos refletores internos com as superfícies de topo e base.
A amplitude também é bastante variável, sendo que os sinais com os valores mais
elevados se concentram na porção central superior da área de estudo.

Conforme a Figura 20-B, as terminações de refletores principais são em


downlap, onlap e toplap, ocorrendo em praticamente todos os níveis de
profundidade, sendo que é comum sequência de refletores com terminações duplas
em toplap-downlap. Truncamentos erosivos também ocorrem, mas estão localizados
principalmente no topo e subordinadamente na base do intervalo.

Monografia de Conclusão de Curso 47


4.2.2 Linha DIP 1691

Nesta linha (Figura 21-A) os refletores são contínuos e com pouca variação
lateral na continuidade e, por isso, são facilmente rastreáveis. A amplitude é
bastante variável com o predomínio dos valores baixos em relação aos altos. A
porção SSE apresenta refletores com pouca continuidade lateral, baixa
rastreabilidade e localmente alta amplitude.

Conforme a Figura 21-B, as terminações de refletores principais são em


downlap, onlap e toplap, com muitas sequências de terminações duplas downlap-
toplap em todos os níveis de profundidade. Também ocorrem truncamentos erosivos
localizados, concentrados no topo do intervalo.

Monografia de Conclusão de Curso 48


Figura 19: (A) Linha sísmica DIP 0575 não interpretada. (B) Linha sísmica DIP 0575 com interpretação completa dos refletores e suas terminações (donwlap/onlap em verde e toplap/truncamento erosivo em lilás).

Monografia de Conclusão de Curso 49


Figura 20: (A) Linha sísmica DIP 1659 não interpretada. (B) Linha sísmica DIP 1659 com interpretação completa dos refletores e suas terminações (donwlap/onlap em verde e toplap/truncamento erosivo em lilás).

Monografia de Conclusão de Curso 50


Figura 21(A) Linha sísmica DIP 1691 não interpretada. (B) Linha sísmica DIP 1691 com interpretação completa dos refletores e suas terminações da (downlap/onlap em verde e toplap/truncamento erosivo em lilás).

Monografia de Conclusão de Curso 51


4.3 Unidades Sismoestratigráficas

Foram definidas cinco unidades sismoestratigráficas, nomeadas de um a


cinco, sendo a unidade sísmica um (US1) a mais antiga e a unidade sísmica cinco
(US5) a mais nova (Figura 22). Elas não ocorrem em todas as linhas, de forma que a
US1 ocupa uma área isolada e restrita devido a controles estruturais basais,
enquanto a US5 é afetada por processos erosivos posteriores que limitam seu
registro geológico.

Figura 22: Arcabouço Estratigráfico do intervalo de estudo. A base está em vermelho, azul fraco
sapara as US1 e US2, verde separa as US2 e US3, amarelo separa as US3 e US4, laranja separa as
US4 e US5, o topo do intervalo de estudo está em azul. Estas cores são as mesmas das superfícies
estratigráficas identificadas nas linhas 0575, 1659,1691 e 0900.

Vitor Pinheiro Sommer 52


4.3.1 Linha DIP 0575

Na linha sísmica 0575 (Figura 23) a deposição da US1 ocorreu nas porções
basais mais isoladas, principalmente na região noroeste. A US1 foi recoberta
totalmente pela US2, que ocorre em grande parte da área, iniciando a NW e tendo
seu limite na região SE. A US3 apresenta-se de forma muito semelhante US2, pois
também recobre grande parte da área, com exceção da região sudeste. A US4
abrange toda a extensão, sendo a única unidade sísmica que ultrapassa a barreira
da região sudeste, local em que está em contato basal erosivo com a US3. A
unidade sismoestratigráfica mais recente, US5, ocorre apenas na região
central/sudeste. Estima-se que a US5 tenha se depositado em toda a área sendo
posteriormente erodida, devido às terminações erosivas mapeadas nas bordas,
também presentes no topo da US4.

4.3.2 Linha DIP 1659

Na linha sísmica 1659 (Figura 24) a deposição do intervalo de estudos


começa com a US1, a qual ocorre em zonas isoladas, predominantemente na região
NNW. A US1 é recoberta pela US2 que abrange praticamente toda a área; apenas
uma pequena porção à SSE não contém esta unidade. A US3 e a US4 são as
unidades que cobrem toda a extensão, sendo que grande parte do topo da US4 é
erosivo. Estima-se que a US5 tenha ocorrido em toda área, devido ao caráter
erosivo das terminações de refletores nas bordas; a porção preservada está
localizada a SSE da área.

4.3.3 Linha DIP 1691

Na linha sísmica DIP 1691 (Figura 25) a deposição começa com a US2,
predominantemente no lado NNW, mas também numa região isolada a SSE. A US3
ocorre praticamente na mesma área da US2, também com uma deposição isolada
na região SSE. A unidade que recobre a maior área é a US4, não ocorrendo em
toda extensão devido à erosão na borda SSE. A US5 apresenta também apresenta

Vitor Pinheiro Sommer 53


caráter erosivo na porção SSE, bem como na região central, que também afeta a
parte superior da US4.

4.3.4 Conexão das Unidades Sismoestratigráficas

As unidades sismoestratigráficas reconhecidas a partir da interpretação


completa de refletores nas linhas-chave DIP foram conectadas utilizando a linha
STRIKE 0900 (Figura 26), possibilitando a identificação das cinco unidades
sismoestratigráficas ao longo da área de estudos. Assim, foi possível estabelecer a
idade relativa de todas as unidades, e definir a ausência de determinadas unidades
em todas as linhas sísmicas.

Vitor Pinheiro Sommer 54


Figura 23: Seção DIP da linha 0575 com interpretação das unidades sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies estratigráficas. Linha preta marca conexão com a seção strike.

Figura 24: Seção DIP da linha 1659 com interpretação das unidades sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies estratigráficas. Linhas pretas marcam conexões com a seção 0575 e strike.

Monografia de Conclusão de Curso 55


Figura 25: Seção DIP da linha 1691 com interpretação das unidades sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies estratigráficas.

Figura 26: Seção STRIKE da linha 0900 com interpretação das unidades sismoestratigráficas, nomeadas de um a cinco e separadas pelas superfícies estratigráficas. As conexões com as linhas-chave estão identificadas pelas linhas
pretas.

Monografia de Conclusão de Curso 56


4.4 Sismofácies e Diagramas Cronoestratigráficos

Foram reconhecidas duas sismofácies a partir de parâmetros sísmicos


(amplitude do sinal, continuidade e frequência dos refletores): sismofácies A (SFA)
que é dominante e amplamente distribuída, e a sismofácies B (SFB) que ocorre de
forma subordinada controlada por níveis estratigráficos.

A Tabela 2 abaixo mostra os parâmetros sísmicos característicos de cada


sismofácies encontrada. Adicionalmente são apresentados os diagramas
cronoestratigráficos compreendendo a contextualização temporal das unidades
sísmicas e suas sismofácies em cada linha-chave da área de estudo.

Tabela 2: Tabela de descrição das sismofácies identificadas no intervalo de estudo.

SF Exemplo Descrição

A Padrão de refletores de baixa amplitude,


descontínuos a semicontínuos de baixa a
média frequência. Ocorre de forma dominante,
disseminado por toda a extensão da área.

B Padrão de refletores de alta amplitude,


semicontínuos a contínuos de média a alta
frequência. Ocorre na forma de bolsões
isolados, geralmente em até dois níveis
estratigráficos, predominantemente nos níveis
inferior e superior.

4.4.1 Linha DIP 0575

A ocorrência da SFA apresenta um leve predomínio sobre a SFB, ocorrendo


de forma bem distribuída lateralmente nos diversos níveis sismoestratigráficos
(Figura 27-A). A SFB aparece em bolsões isolados em todas as unidades sísmicas,
os quais raramente se distribuem em mais de duas unidades. A SFB está localizada

Monografia de Conclusão de Curso 57


predominantemente nas bordas das US1 e US2, nas áreas centrais das US3 e US4
e praticamente na totalidade da US5. A região do Poço A apresenta predominância
de SFA.

Conforme observado nos diagramas cronoestratigráficos, a deposição da US1


ocorreu em depocentros isolados. A deposição da US2 ligou estes depocentros e se
estendeu num padrão em onlap até o alto estrutural a sudeste (Figura 27-B). A US5
está preservada apenas na região central, devido a processos erosivos que erodiram
grande parte da unidade, assim como o topo da US4.

4.4.2 Linha DIP 1659

A sismofácies dominante na linha sísmica DIP 1659 é a SFA, ocorrendo de


forma bem distribuída lateralmente e em todos os níveis estratigráficos. A SFB
ocorre na forma de bolsões isolados, com espessura deposicional atingindo no
máximo dois níveis sismoestratigráficos (Figura 28-A). Esta sismofácies está
localizada principalmente na US4, com algumas regiões também presentes na US3
e US5. Ela também ocorre na porção mais a SSE da área, presente nas US3 e US4.

O diagrama cronoestratigráfico demonstra que a US1 iniciou a deposição em


três áreas baixas isoladas, na qual foram sendo preenchidas e duas foram
recobertas. A US2 conectou toda área deposicional em padrão onlap até o alto
estrutural a SSE (Figura 28-B). A US5 está preservada apenas na região
central/SSE, devido a processos erosivos que erodiram grande parte da unidade,
assim como o topo da US4.

4.4.3 Linha DIP 1691

Na linha DIP 1691 tem-se predomínio espaço-temporal da SFA. A SFB ocorre


em bolsões isolados principalmente na US4 e US5, mas também aparece na porção
SSE da US2 (Figura 29-A).

Monografia de Conclusão de Curso 58


A deposição iniciou na US2 em duas áreas isoladas e se estendeu em padrão
onlap até o alto estrutural a SSE (Figura 29-B). Este alto estrutural foi recoberto no
final da US4. Processos erosivos atuaram na porção central/NNW removendo por
completo a US5 e parte superior da US4, mas também atuaram na região SSE,
erodindo toda a US5, o topo da US4 e da US3.

4.4.4 Linha STRIKE 0900

Nesta linha predomina a SFA. A SFB ocorre na forma de bolsões isolados,


podendo aparecer em duas unidades sísmicas como em US2 e US3 na porção NE e
US4 e US5 na porção SW, mas também com ocorrência restrita à apenas uma
unidade (Figura 30-A)

A deposição começa na US2 em áreas isoladas que se estenderam em


padrão onlap até o alto estrutural central (Figura 30-B). Este alto é recoberto pela
US4. A US5 ocorre apenas na porção sudoeste, uma vez que na porção nordeste
ela foi totalmente erodida por processos posteriores, assim como o topo da US4 e
US3.

Monografia de Conclusão de Curso 59


Figura 27: (A) Seção sísmica da linha DIP 0575 com interpretação completa das sismofácies e sua relação com as unidades sísmicas e conexão com o Poço A. (B) Diagrama cronoestratigráfico para a linha sísmica 0575, mostrando o
início da deposição da US1 até o final na US5. Também ocorre uma erosão que destruiu grande parte da US5 e o topo da US4.

Monografia de Conclusão de Curso 60


Figura 28: (A) Seção sísmica da linha DIP 1659 com interpretação completa das sismofácies e sua relação com as unidades. (B) Diagrama cronoestratigráfico para a linha sísmica 1659, mostrando o início da deposição da US1 até o
final na US5. Também ocorre uma erosão que destruiu grande parte da US5 e o topo da US4.

Monografia de Conclusão de Curso 61


Figura 29: (A) Seção sísmica da linha DIP 1691 com interpretação completa das sismofácies e sua relação com as unidades. (B) Diagrama cronoestratigráfico para a linha sísmica 1691, mostrando o início da deposição da US2 até o
final na US5. Também ocorre uma erosão que destruiu grande parte da US5, o topo da US4 e US3.

Monografia de Conclusão de Curso 62


Figura 30: (A) Seção sísmica da linha STRIKE 0900 com interpretação completa das sismofácies e sua relação com as unidades sísmicas e conexão com as linhas-chave. (B) Diagrama cronoestratigráfico para a linha sísmica 0575,
mostrando o início da deposição da US2 até o final na US5. Também ocorre uma erosão que destruiu grande parte da US5, o topo da US4 e US3.

Monografia de Conclusão de Curso 63


5 DISCUSSÃO

As cinco unidades sísmoestratigráficas identificadas apresentam o mesmo


controle deposicional: expansão do espaço de acomodação. Começando nas
porções mais profundas com a US1, até atingir toda a área de estudo com as
unidades US2, US3 e US4. Pelo padrão erosivo que afetou a US5 e o topo da US4
em diversas regiões, estima-se que a unidade sísmica US5 tenha se depositado em
toda a área, em contexto de contínua expansão do espaço de acomodação.

Foi possível identificar apenas duas sismofácies na área de estudo, devido a


escassez de dados de rochas disponíveis para conexão com a sísmica. A única
conexão das sísmofácies com litologia ocorreu no Poço A, limitando a interpretação
dos ambientes depocionais e da predição litológica de preenchimento da bacia.

A partir disso, os resultados do trabalho serão discutidos com dois enfoques


distintos: a) o controle deposicional a partir das unidades sísmicas, de maior
relevância devido a boa qualidade dos dados sísmicos, e b) a caracterização
litológica das sísmofácies, de menor relevância, dada a limitação de dados de rocha
disponíveis (apenas um poço), e escassos trabalhos publicados – apontando aqui o
trabalho de Wright & Barnett, 2015, utilizado como base de conexão das sismofácies
com grupos litológicos.

5.1 Controle Deposicional

A partir das linhas-chave interpretadas, foi realizado em todas linhas sísmicas


o mapeamento das superfícies de topo e base de cada unidade sismoestratigráfica
identificada, para a geração de mapas de abrangência de cada unidade na área de
estudo. Embora estes mapas tenham sido gerados em tempo sísmico duplo (TWT,
milissegundos), eles ainda assim podem fornecer importantes informações sobre
altos, baixos e padrões estruturais de acordo com o tempo relativo. É importante
frisar que tais dados são de grande importância para contribuir no entendimento da

Vitor Pinheiro Sommer 64


evolução tectono-estratigráfica da Bacia de Santos, tendo em vista a escassez de
trabalhos de detalhe através de sísmica de reflexão da porção distal da bacia.

A US1 está depositada sobre a discordância Pré-NeoAlagoas, que separa os


depósitos sin-rifte controlados pela subsidência mecânica daqueles do sag
controlados pela subsidência termal. Como bacias sag são formadas a partir do
“rebound” litosférico (Brune et.al, 2014), a US1 é a unidade que marca a nova
geração do espaço de acomodação da bacia. O preenchimento ocorreu nas regiões
mais baixas, em áreas isoladas no oeste, norte e nordeste (Figura 31-A). Esta
ocorrência restrita indica que houve uma paleotopografia herdada da fase rifte ou
originada pela discordância Pré-NeoAlagoas que condicionou as áreas
deposicionais iniciais do intervalo de estudo. O topo da US1 é marcado por um
padrão toplap que marca a base da US2.

A US2 se desenvolveu predominantemente sobre a discordância Pré-


neoAlagoas, mas também recobrindo a US1. A taxa de expansão do espaço de
acomodação aumentou em relação à unidade anterior como indicado pelas
terminações de refletores em onlap que atingem o alto estrutural na região sudeste
(Figura 32-A). Há uma expansão da área deposicional da US2 quando comparada
com a US1. Entretanto, o alto estrutural de sudeste continuou impedindo a
deposição neste local. O topo da US2 é concordante com a base da US3.

A US3 recobre predominantemente a US2, com exceção das regiões do alto


estrutural, onde seu contato basal é com a discordância Pré-neoAlagoas. É possível
dizer que a taxa de expansão do espaço de acomodação se manteve praticamente
constante, devido à similaridade dos mapas de topo da US3 com o de topo da US2
(Figura 33-A). O topo da US3 foi erodido nas porções próximas ao alto estrutural
principalmento do lado leste. Nos locais onde a US3 não sofreu com processos
erosivos, esta torna-se a base da US4.

A taxa de expansão do espaço de acomodação se manteve a ponto de


depositar a US4 sobre a unidade anterior e sobre o alto estrutural a sudeste em
contato com a discordância Pré-NeoAlagoas. O topo da US4 só está preservado
onde a US5 está preservada (Figura 34-A), sendo a superfície basal desta unidade.

Vitor Pinheiro Sommer 65


Em alguns locais a discordância que ocorre no topo da US5 (a ser discutida a seguir)
atinge também o topo da US4.

A US5, conforme dito anteriormente, apresenta como superfície basal o topo


da US4 e está preservada nas regiões norte, nordeste e sul, e completamente
erodida nas regiões oeste e sudeste (Figura 35-A). A US5 se depositou com o
aumento progressivo do espaço de acomodação que está agindo sobre a região,
possivelmente abrangindo toda a área de estudo. Os refletores apresentam
terminações em toplap no topo e truncamentos erosivos nas bordas da unidade.

Ocorrem diversos truncamentos erosivos em uma superfície rastreável


regionalmente, indicando um evento erosivo considerável entre a US5 e os
evaporitos da Fm. Ariri. Essa superfície erosiva é contínua desde a unidade US5,
passando pelo topo da US4 e, por vezes, o topo da US3, caracterizando uma
discordância regional.

Pode-se afirmar que, após o aumento progressivo no espaço de acomodação


desde a unidade sísmica US1 até a US5, houve algum evento que destrói o espaço
de acomodação, de idade pós-US5, anterior à deposição das unidades evaporíticas
– Fm. Ariri.

Vitor Pinheiro Sommer 66


Figura 31: (A) Mapa da superfície de topo da US1, com as regiões mais profundas situadas a oeste e
nordeste. (B) Imagem 3D da superfície de topo da US1, mostrando que a unidade ocorre de forma
isolada na área de estudo. EV.: 7,5x.

Vitor Pinheiro Sommer 67


Figura 32: Mapa da superfície de Topo da US2, com as regiões mais elevadas próximas ao alto
estrutural à sudeste e as mais baixas nas regiões oeste e nordeste. (B) Imagem 3D da superfície de
topo da US2, mostrando uma ocorrência por grande parte da área de estudo. EV.: 7,5x.

Vitor Pinheiro Sommer 68


Figura 33: Mapa da superfície de Topo da US3, com as regiões mais elevadas na região central e
próximas ao alto estrutural à sudeste, com as mais baixas na região oeste. (B) Imagem 3D da
superfície de topo da US3, mostrando uma ocorrência por grande parte da área de estudo. EV.: 7,5x.

Vitor Pinheiro Sommer 69


Figura 34: Mapa da superfície de Topo da US4, com as regiões mais elevadas próximas ao alto
estrutural à sudeste e as mais baixas nas regiões oeste e nordeste. (B) Imagem 3D da superfície de
topo da US2, mostrando uma ocorrência por grande parte da área de estudo sendo a primeira que
ultrapassou o alto estrutural à sudeste. EV.: 7,5x.

Vitor Pinheiro Sommer 70


Figura 35: Mapa da superfície de Topo da US5, com a região nordeste menos elevada. (B) Imagem
3D da superfície de topo da US5, mostrando uma ocorrência limitada na área de estudo devido à
erosão que destruiu a unidade nas regiões leste e oeste. EV.: 7,5x.

Vitor Pinheiro Sommer 71


A partir da identificação e interpretação das unidades sísmicas em todas as
linhas da área de mapeamento, pode-se criar o seguinte modelo conceitual
deposicional para o intervalo de estudo no campo de Lula (Figura 36):

Figura 36: Modelo deposicional conceitual do intervalo de estudo, mostrando a deposição gradual e
contínua das unidades sísmicas preenchendo primeiros os baixos estruturais e depois o alto
estrutural à sudeste. A seção rifte compreende à Fm. Itapema, enquanto a Fm. Barra Velha o
intervalo de estudo e a Fm. Ariri os evaporitos que recobrem o intervalo de estudo.

A Figura 36 destaca a tendência tabular dos estratos e que a deposição das


unidades sísmicas ocorreu de forma constante com uma progressiva e constante
criação de espaço de acomodação. A superfície de topo do intervalo de estudo é
predominantemente uma discordância regional que separa os depósitos
carbonáticos e siliciclásticos da Fm. Barra Velha dos depósitos evaporíticos da
Formação Ariri. Apenas em uma região restrita no centro o topo da US5 tem contato
concordante com camada de sal.

Os mapas de isópacas são criados para visualizar os locais de maior


espessura das unidades sismoestratigráficas e, assim, identificar os melhores locais
para acumulação de petróleo. Os mapas de espessura das unidades um a cinco,
também ajudaram a interpretar a evolução tectono-estratigráfica da Bacia de Santos,
demonstrando como a região se desenvolveu a partir das áreas deposicionais e
preenchimento do espaço de acomodação. Embora os mapas de isópacas aqui
apresentados sejam em tempo duplo sísmico (milissegundos), as variações de
espessura em tempo sísmico são úteis para análises relativas de espessamentos e
afinamentos de unidades. A situação ideal compreenderia a utilização de um volume
sísmico 3D, convertido para profundidade, e assim um mapeamento e cálculo de
espessuras em profundidade métrica, ou um poço com checkshot. Entretanto, para

Vitor Pinheiro Sommer 72


um campo de petróleo de recente descoberta, com dados escassos e tal relevância
em suas reservas de petróleo, a utilização de mapas de espessura sísmica em
milissegundos é funcional e importante para o máximo de avanço na compreensão
geológica de uma área de fronteira do conhecimento.

A US1 apresenta a menor espessura do intervalo de estudo, com valores em


média variando de 30 ms a 60 ms, atingindo no máximo 180 ms na região centro-
leste (Figura 37). A criação do espaço de acomodação após a discordância Pré-
NeoAlagoas, geralmente é associada ao estabelecimento de lagos com a deposição
inicial sendo restrita em cinco regiões mais baixas, isoladas entre si.

Figura 37: Mapa de isópaca da US1, mostrando valores que variam de 30 ms a 180 ms. O principal
depocentro localiza-se na região centro-leste.

Vitor Pinheiro Sommer 73


A US2 conecta as áreas baixas e isoladas que controlaram a deposição da
US1 e se expande por grande parte da região, porém ainda não recobrindo o alto
estrutural a sudeste, o qual atua como uma barreira da deposição. A US2 apresenta
a maior espessura do intervalo de estudo, com valores variando entre 60 e 180 ms,
podendo atingir 380 ms na região central (Figura 38). O espaço de acomodação
aumentou consideravelmente em relação à US1. É interessante apontar que o
principal depocentro da US2 (com espessuras maiores que 300ms) situa-se na zona
central da área de estudo, a cerca de 3km à oeste do principal depocentro da US1.
Este deslocamento lateral de depocentros sugere um controle estrutural sin-
deposicional às US1 e 2.

Figura 38: Mapa de isópaca da US2, mostrando valores que variam de 40 ms a 380 ms. O principal
depocentro localiza-se na região central.

Vitor Pinheiro Sommer 74


O mapa de espessura da US3 é muito semelhante ao da unidade anterior,
com grande extensão na área de estudo, apenas limitado à sudeste pelo alto
estrutural que continua atuando como barreira para deposição. Os locais centrais
apresentam as maiores espessuras da unidade, com valores que chegam a 340 ms;
a espessura média da unidade varia de 80 ms a 180 ms (Figura 39). O espaço de
acomodação aumentou de forma constante em relação à US2, mas ao mesmo
tempo não apresenta as concentrações em depocentros bem definidos (calhas),
conforme ocorre na US2.

Figura 39: Mapa de isópaca da US3, com valores variando de 45 ms a 340, sem apresentar
depocentros bem definidos.

Vitor Pinheiro Sommer 75


A US4 foi a primeira que atravessou a barreira do alto estrutural a sudeste, o
que foi possível devido ao aumento progressivo do espaço de acomodação que
permitiu a deposição na região mais elevada do intervalo de estudo. A espessura
média varia de 80 ms a 140 ms, com valores mais elevados chegando a 320 ms na
região centro-leste e norte (Figura 40). Os locais onde não houve registro da US4,
região leste e oeste, foram afetados pela discordância regional que atuou
posteriormente. Ao contrário da US3, a US4 apresenta depocentros isolados em
forma de calhas, principalmente a sudoeste e a nordeste, indicando um controle
estrutural sin-deposicional.

Figura 40: Mapa de isópaca da US4, com valores variando de 30 ms a 320 ms em depocentros
isolados na região nordeste.

Vitor Pinheiro Sommer 76


A US5 apresenta variações relativas de espessura semelhante às das
unidades anteriores, com valores variando em média entre 40 ms e 100ms. A região
centro-leste apresenta a maior espessura de deposição, com valores chegando a
300 ms (Figura 41). Em todos os locais de ocorrência da US5, o topo tem contato
direto com a camada de sal da Formação Ariri que se depositou quimicamente,
enquanto que as áreas em que a US5 não ocorre foram erodidas em processos
anteriores à precipitação do pacote evaporítico. A US5 mapeada na região de
estudos consiste na unidade residual após a erosão pós-US5; deste modo, é difícil
estabelecer padrões e interpretar controles deposicionais com uma área preservada
restrita.

Figura 41: Mapa de isópaca da US5, com valores variando de 30 ms a 300 ms em depocentro
localizado na região nordeste.

Vitor Pinheiro Sommer 77


O intervalo sag do campo de Lula desenvolveu-se de forma contínua, com a
deposição das unidades sismoestratigráficas controladas pela criação conínua e
constante de espaço de acomodação, de US1 a US5, normalmente associado a
lagos hiperalcalinos que se estabeleceram nesta fase de evolução da bacia,
conforme publicados em diversos trabalhos (Paula Faria & Reis, 2017; Ceraldi &
Green, 2016; Wright & Barnett, 2015). As superfícies que limitam cada unidade
sísmica identificada possuem boa resolução sísmica e provavelmente se
desenvolveram a partir de sucessivas criações de espaço de acomodação num
grande evento transgressivo. Não foram identificadas superfícies internas ao
intervalo de estudo que apresentem indício de erosão regional – na sísmica
caracterizadas por sucessões de terminações de refletores em truncamentos
erosivos. Assim, não foram reconhecidas discordâncias internas à Formação Barra
Velha na área mapeada. Entretanto, entre a US5 e A Formação Ariri, foi reconhecida
uma discordância regional, que erode principalmente e intensamente a US5, e
também chega a erodir a US4 e US3 localmente. Sendo esta superfície uma
discordância, pode-se interpretar que teve um rebaixamento do nível de base,
possivelmente relacionado a um evento (climático/tectônico/outros?) que expôs a
região e a submeteu a processos erosivos antes da precipitação evaporítica.

5.2 Caracterização Litológica das Sismofácies

A caracterização litológica das sísmofácies ocorreu de forma subordinada no


trabalho, pois apenas um poço exploratório estava disponível para correlação com a
sísmica (Poço A). A linha sísmica que faz a amarração com o poço é a linha DIP
0575 (FIG 38-1), muito próxima com a linha STRIKE 0900, na região sudeste da
área de estudo, sobre o alto estrutural.

O Poço A apresenta, nas descrições de amostras de calha do intervalo


de estudo, uma predominância de calcilutito com pequenos níveis dolomitizados e
de margas, e subordinadamente na base aparecem coquinas. Wright & Barnett
(2015) descrevem que o calcário é composto por níveis esferulíticos e schrubs
(Figura 42-B).

Vitor Pinheiro Sommer 78


Segundo Wright e Barnett (2017), existem dois modelos deposicionais para a
deposição dos carbonatos da Formação Barra Velha: 1) plataforma microbial de lago
profundo e 2) lago evaporítico raso. O modelo de lago profundo leva em
consideração principalmente o relevo na base do sal e as clinoformas de estruturas
progradantes associados a buildups carbonáticos; entretanto, os carbonatos da Fm.
Barra Velha não possuem potencial para construir estas estruturas. O modelo de
lago evaporítico raso explica que a maioria das feições sísmicas podem ser
explicadas por falhas sin- e, principalmente, pós-deposionais, incluindo inversão
local, erosão, rotação de terminações em onlap e até mesmo origem vulcânica.
Outro critério que corrobora este modelo são as análises químicas e isotópicas que
sugerem lagos rasos, evaporíticos, sem presença de um corpo de água profundo
nos arredores (Paula Faria & Reis, 2017; Ceraldi & Green, 2016; Wright & Barnett,
2015; Wright & Barnett, 2016).

Wright e Barnett (2015) definiram três fácies para os carbonatos da Formação


Barra Velha: F1) cimentos de shrub calcítico, F2) floatstones de esferulitos calcíticos,
e F3) calcilutitos laminados com ostracodes e detritos de vertebrados (Figura 42-D).
A ocorrência da fácies F1 está associada a redução do gel de precipitação que
permite o rápido crescimento de estruturas de arbusto (shrub framestones) de
cristais de calcita, por crescimento assimétrico de esferulitos em águas lacustres. A
ocorrência de fácies F2 é controlada pela evaporação da água que provoca a
precipitação do gel de silicato magnesiano. O pH alcalino favorece a depleção de Mg
e a baixa razão Mg/Ca controla o crescimento de esferulitos nos géis em baixas
densidades. A simofácies F3 é gerada por uma fase de afogamento que reduz a
salinidade e alcalinidade, permitindo o influxo de ostracodes e vertebrados, e
favorece a precipitação de silica à medida que o pH cai (Wright & Barnett, 2015).

As duas sismofácies identificadas no intervalo de estudo mostram uma


variação entre zonas contínuas de alta amplitude e zonas de baixa a média
continuidade de baixa amplitude (Figura 42-C e Figura 43). Na região do poço A
ocorre a SFA que, de acordo com as amostras de calha, representam
estromatólitos/esferulitos microbiais (Figura 42-A). Como a escala sísmica não
permite a separação entre os depósitos shrub e esferulíticos, foi considerado que a
sismofácies A representa a soma das sismofácies F1 e F2 de Wright e Barnett

Vitor Pinheiro Sommer 79


(2015). Assim, por exclusão, a sismofácies B é predominantemente laminada de alta
amplitude e foi relacionada com a sismofácies F3 de Wrighth e Barnett (2015),
representando a predominância de calcilutitos. Na Figura 42, são apresentados
exemplos locais com a textura sísmica característica de cada sismofácies.

Figura 42: (A) Seção sísmica da linha DIP 0575 com detalhe para a região do Poço A, mostrando a
predominância de SFA. (B) Descrição das amostras de calha do Poço A no intervalo de estudo, com

Vitor Pinheiro Sommer 80


predomínio de carbonatos. (C) Descrição das sismofácies identificadas no trabalho. (D) Fácies
descritas por Wright e Barnett (2015) para os carbonatos do intervalo de estudo e utilizados para
conexão com as sismofácies.

Figura 43: Exemplos de textura das sismofácies A e sismofácies B para o intervalo de estudo.

Portanto, relevando a resolução sísmica (cada refletor compreende cerca de


100 metros de espessura de rocha), o intervalo sag é predominantemente composto
pela SFA, contendo depósitos principalmente de esferulitos e shrubs calcíticos, e
subordinadamente composto pela SFB, que contém uma maior ocorrência de
calcilutitos laminados. É provavel que ambas sismofácies e, portanto, todos
carbonatos, ocorram de forma concomitante na região; entretanto, a sísmica
reproduz o que há de dominante em cada área. Os locais em que ocorre a SFA,

Vitor Pinheiro Sommer 81


significa que os depósitos de shrubs e esferulitos são dominantes em relação aos
calcilutitos, por outro lado, locais em que ocorre a SFB, significa que os depósitos de
calcilutitos laminados são dominantes em relação aos outros. A maior quantidade de
lama produz um maior contraste de impedância acústica com os carbonatos,
gerando as grandes amplitudes laminadas das linhas sísmicas que caracterizam a
SFB.

As superfícies que separam as unidades sísmicas atuam como controladores


deposicionais da sismofácies SFB, pois sua espessura raramente ultrapassa duas
unidades. Como apontado por Wright & Barnett, 2015, a ocorrência dos níveis
carbonáticos de schrubs e esferulitos estariam relacionados principalmente a
precipitações químicas subaquosas, e muito raramente associados a eventos
microbiais. A relação da ocorrência dos carbonatos schrubs/esferulitos com os
calcilutitos laminados não necessariamente aponta eventos de variação do nível do
lago, mas também não exclui. Há de se relevar também variações bruscas e/ou
intensas na química do lago (associada a vulcanismo ou vents hidrotermais?), que
poderiam estar controlando estas litologias. Por outro lado, é conveniente determinar
que as concentrações de calcilutitos laminados representam zonas mais profundas
da bacia em termos geográficos, ou eventos de subida do nível do lago em termos
estratigráficos; porém, a ocorrência de precipitações químicas, e a pouca
compreensão acerca deste processo impede também a determinação de eventos de
variação do nível do lago ou determinações de locus mais profundos preferenciais.

Vitor Pinheiro Sommer 82


6 CONCLUSÕES

• A partir da metodologia de análise sismoestratigráfica (Mitchum & Vail, 1977),


foram definidas cinco unidades sismoestratigráficas, sendo a mais antiga US1
e a mais nova US5.
• As superfícies que limitam as unidades sísmicas apresentam terminações
onlap/downlap na base, e toplap/truncamentos erosivos no topo.
• As unidades sismoestratigráficas reconhecidas representam eventos
deposicionais temporalmente ordenados, compreendendo toda a Fm. Barra
Velha, e de idade relativa determinada entre eles.
• A base do intervalo (US1) assenta-se sobre uma discordância regional, já
reconhecida na bibliografia, denominada de discordância Pré-NeoAlagoas.
• O topo do intervalo de estudo é caracterizado por uma discordância regional.
Esta discordância ocorre em praticamente toda a área de estudo, e
representa um hiato temporal entre a mais nova das unidades (US5) e o início
dos depósitos evaporíticos da Fm. Ariri.
• Internamente, não foram reconhecidos eventos erosivos regionais –
discordâncias, baseadas em superfícies com sucessões de truncamentos
erosivos. Assim, as unidades US1 a US5 apresentam um padrão deposicional
contínuo.
• A US1 apresenta uma deposição fortemente controlada por uma topografia
antecedente, formando depocentros isolados em baixos.
• Da US2 a US4 o padrão deposicional é de expansão contínua, mas somente
na US4. O alto estrutural a sudeste é ultrapassado. Isto indica uma contínua
criaçao de espaço de acomodação.
• A US5 é fortemente erodida pela discordância de topo, o que dificulta
interpretações acerca de seu padrão deposicional.
• Os mapas de espessura mostram que a US1 é a menos espessa,
preenchendo pequenas bacias isoladas, enquanto as outras unidades
apresentam espessuras semelhantes. A US5 apresenta apenas espessuras
residuais devido a sua erosão de topo. A zona central apresenta a maior

Vitor Pinheiro Sommer 83


espessura de sedimento do intervalo de estudo. Existem alguns controles
tectônicos localizados, mas a expansão contínua e predominantemente
tabular é contígua a todas unidades.
• Foram definidas duas sismofácies: SFA e SFB, sendo a primeira dominante e
caracterizada por depósitos dominados por camadas carbonáticas
esferulíticas e shrubs, e a segunda, subordinada, caracterizada por
dominância de calcilutitos. Assim, o intervalo de estudo é predominantemente
carbonático.
• A SFB possui um controle estratigráfico, ocorrendo predominantemente em
apenas uma ou duas unidades sísmicas.
• Determinações acerca dos controles da sedimentação carbonática, e as
ocorrências temporais e geográficas das sismofácies é de difícil
estabelecimento. Como apontado por Wright & Barnett, 2015, a ocorrência
dos carbonatos é predominantemente química. Assim, variações do nível do
lago, controles tectônicos e/ou climáticos devem ter também computadas
variações na química do lago ou outros fatores que impactam na precipitação
destes carbonatos. Assim, com os dados existentes, não é possível
determinar controles sobre a sedimentação do intervalo Aptiano Pré-sal do
campo de Lula.

Vitor Pinheiro Sommer 84


REFERÊNCIAS

Allen, P. A. & Allen, J. R. 2005. Basin analysis: Principles and application. Blackwell Pub
Malden, MA. 549p.
ANP. Agência Nacional do Petróleo, Gás-Natural e Biocombustíveis. 2018a. Anuário
estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis. Rio de Janeiro, ANP, p.
265.
ANP. Agência Nacional do Petróleo, Gás-Natural e Biocombustíveis. 2018b. Plano de
desenvolvimento aprovado. Rio de Janeiro, ANP, p. 3.
ANP. Agência Nacional do Petróleo, Gás-Natural e Biocombustíveis. 2019. Boletim da
produção de petróleo e gás natural. Rio de Janeiro, ANP, No 109, p. 39.
Bosence, D.W.J. 1998 Stratigraphic and sedimentological models of rift basins. In: B.H.
Purser and D.W.J. Bosence (Ed.). Sedimentation and Tectonics of Rift Basins: Red Sea-
Gulf of Aden. London, Chapman and Hall, pp. 9-26.
Braun, J. & Beaumont, C. 1989. Dynamical models of the role of crustal shear zones in
asymmetric continental extension. In: Earth and Planetary Science Letters, 93, 405-423.
Brown, L. F. & Fisher, W. L. 1980. Seismic-stratigraphy interpretation of depositional
systems: examples from Brazilian Rift and Pull-Apart Basins. In: Payton C.E. (Ed.)
Seismic Stratigraphy Applications to Hydrocarbon Research. AAPG, Memoirs 26, p. 213-
248.
Brune, S., Heine, C., Pérez-Gussinyé, M. & Sobolev, S.V.2014. Rift migration explains
continental margin asymmetry and crustal hyper-extension. Nature Communications.
Ceraldi, T. & Green, D. 2016. Evolution of the South Atlantic lacustrine deposits in response
to Early Cretaceus rifting, subsidence and lake hydrology. In: Ceraldi, T. et al., (Ed.).
Petroleum Geoscience of the West Africa Margin. Geological Society of London, Special
Publications, No 438, p. 77-98.
Chang, H.K., Kowsmann, R.O. & Figueiredo, A.M., 1990. Novos conceitos sobre o
desenvolvimento das bacias marginais do leste brasileiro. In: Origem e evolução de
bacias sedimentares. Rio de Janeiro, Petrobras, pp. 269e289.
Chang, H.K., Kowsmann, R.O., Figueiredo, A.M.F. & Bender, A.A. 1992. Tectonics and
stratigraphy of the East Brazil Rift system: an overview. In: P.A. Ziegler (Ed.),
Geodynamics of Rifting, Volume II. Case History Studies on Rifts: North and South
America and Africa. Tectonophysics, 213: 97–138.

Vitor Pinheiro Sommer 85


Chang, H. K. 2008. Sistemas Petrolíferos e Modelos de Acumulação de Hidrocarbonetos na
Bacia de Santos. Revista Brasileira de Geociências, volume 38.
Coward, M.P. 1986. Hetetogeneous stretchin, simple shear and basin development. Earth
and Planetary Science Letters, 80, 325-336.
Cruz, L. R. 2008. Caracterização tectono-estratigráfica da sequência transicional na sub-
bacia de Sergipe. 195 p. Tese (Doutorado em Geodinâmica; Geofísica) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
Gabrielsen, R. H., Kyrkjebø, R., Faleide, J. I., Fjeldskaar, W. & Kjennerud, T. 2001. The
Cretaceous post-rift basin configuration of the norther North Sea. Petroleum Geoscience,
7, p. 137-154.
Karner, G.D. & Driscoll, N.W. 1999. Tectonic and stratigraphic development of the west
African and eastern Brazilian margins: Insights from quantitative basin modeling. In:
Cameron, N.R., Bate, R.H., Clure, V.S. (Eds.). The oil and Gas Habitats of the South
Atlantic. Geological Society, Special Publication, Vol. 153, p. 11–40.
Kingston, D. R., Dishroon, C. P. & Williams, P. A. 1983. Global Basin Classification System.
American Association of Petroleum Geologist. Bull., 67, 2157-2193.
Kuchle, J. & Scherer, C, M, S. 2010. Sismoestratigrafia de bacias rifte: técnicas, métodos e
sua aplicação na Bacia do Recôncavo. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de
Janeiro, v.18, n.2, p.179.
Mckenzie, D. P. 1978. Some remarks on the development of sedimentary basin. Earth and
planetary Science. Letters, 40, 25-52.
Meisling, K., Cobbold, P.R. & Mount, V.S. 2001. Segmentation of an obliquely rifted margin,
Campos and Santos basins, southern Brazil. AAPG Bulletin 85 (11), 1903 e 1924.
Mitchum Jr, R.M., Vail, P.R., Sangree, J.B. 1977. Seismic Stratigraphy and Global Changes
of Sea Level, Part 6: Stratigraphic Interpretation of Seismic Reflection Patterns in
Depositional Sequences. In: Payton, C. E. (Ed.) Seismic stratigraphy- applications to
hydrocarbon exploration. AAPG, Memoir 26, Tulsa, p. 117-133.
Mohriak, W.U., Mello, M.R., Karner, G.D., Dewey, J.F. & Maxwell, J.R. 1990. Structural and
stratigraphic evolution of the Campos Basin, offshore Brazil. In: Tankard, A.J., Balkwill,
H.R. (Eds.). Extensional Tectonics and Stratigraphy of the North Atlantic Margins. AAPG
Memoir vol. 46, 577 e 598.
Mohriak, W.U., Rosendahl, B.R., Turner, J.P. & Valente, S.C., 2002. Crustal architecture of
South Atlantic volcanic margins. In: Menzies, M.A., Klemperer, S.L., Ebinger, C.J., Baker,
J. (Eds.). Volcanic Rifted Margins. Special Paper Geological Society of America vol. 362,
159 e 202.

Vitor Pinheiro Sommer 86


Moreira, J.L.P., Madeira, C.V., Gil, J.A. & Machado, A.P.M. 2007. Bacia de Santos. Boletim
de Geociências da Petrobras. Rio de Janeiro 15 (2), 531 e 549.
Nichols, G. 2009. Sedimentology and Stratigraphy.
Paula Faria, D.L., Reis, A.T. & Souza, O.G. 2017. Three dimensional stratigraphic
sedimentological forward modeling of an Aptian carbonate reservoir deposited during the
sag stage in the Santos basin, Brazil. Marine and Petroleum Geology, 88, pp. 676-695.
Pereira, M.J., Barbosa, C.M., Agra, J., Gomes, J.B., Aranha, L.G.F., Saito, M., Ramos, M.A.,
Carvalho, M.D., Stamato, M., Bagni, O. 1986. Estratigrafia da Bacia de Santos: analise
das sequencias, sistemas deposicionais e revisão litoestratigrafica. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 34, 1986, Goiania. SBG, Anais. Goiania v.1.
Pereira, M.J. & Macedo, J.M., 1990. A Bacia de Santos: perspectivas de uma nova província
petrolífera na plataforma continental sudeste brasileira. Boletim de Geociências da
Petrobras. Rio de janeiro 4, p.3-11.
Pereira, M.J. & Feijó, F. 1994. Bacia de Santos. Boletim de Geociências da Petrobras. Rio
de Janeiro 8 (1), p.219-234.
Petersohn, E. 2013. Bacia de Santos: Sumário geológico e área em oferta. Agência Nacional
do Petróleo, Gás-Natural e Bicombustíveis. ANP. Disponível em: <
https://contas.tcu.gov.br/etcu/ObterDocumentoSisdoc?seAbrirDocNoBrowser=true&codAr
qCatalogado=6667040&codPapelTramitavel=50605621>. Acesso em: 25 out. 2019.
Petersohn, E., Abelha, M. & Pedrosa, L. 2013. ANP Presentation: Libra – Avaliação
Geológica e diretrizes Ambientais.
Petrobrás. 2010. Declaração de comercialidade das áreas de Tupi e Iracema. Disponível em
<https://www.investidorpetrobras.com.br/ptb/6003/c-6003-ptb.html>. Acesso em: 09 out.
2018.
Petrobrás. 2018. Pré-Sal: Produção de Petróleo e Gás Natural. Disponível em
<http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-atuacao/exploracao-e-
producao-de-petroleo-e-gas/pre-sal/>. Acesso em: 09 out. 2018.
Prosser ,S. 1993. Rift-related linked depositional systems and their simic expression. In:
Williams G.D. & Dobb, A. (Eds.). Tectonics and Sismic Sequence Stratigraphy. Geological
Society of London Special Publication 71, pp. 35-66.
Quirk, D. G., Hertle, M. Jeppesen, J. W., Raven, M., Mohriak, W. U., Kann, A. D. J.,
Norgaard, M., Howe, M. J., Hsu, D., Coffey, B. & Mendes, M. P. 2013. Rifting, subsidence
and continental break-up above a mantle plume in the central South Atlantic. Geological
Society of London, Special Publications, v. 369, p. 185-214.

Vitor Pinheiro Sommer 87


Ribeiro, H. J. P. S. 2001. Estratigrafia de Sequências: Fundamentos e Aplicações. São
Leopoldo-RS, Ed. Unisinos, 481p.
Sloss, L. L. 1963. Sequences in the cratonic interior of North America. Geo. Soc. America
Bull, v. 74, p. 93-114.
Stollhofen, H., Gerschütz, S., Stanistreet, I.G. & Lorenz, V., 1998. Tectonic and volcanic
controls on Early Jurassic rift-valley lake deposits interleaved with Karoo flood basalts,
southern Namibia. Paleogeography, Paleoclimatology, Paleocology 140, 185 e 215.
Vieira, R. A. B. 1998. Análise estratigráfica e evolução paleogeográfica da seção Neoaptiana
na Porção Sul da Plataforma de São Mateus, Bacia do Espírito Santo, Brasil. 1998. 158
p.Dissertação (Mestrado em Geociências) – Instituto de Geociências, Curso de Pós-
Graduação em Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Watts, A. B., Karner, G. D. & Steckler, M. S. 1982. Lithospheric flexure and the evolution of
sedimentary basins, Phil. Tram. R.SOC. London A, 305,246-281.
Wernicke, B. & Burchfiel, B.C. 1982. Modes of extensional tectonics. Journal of structural
Geology, v. 4, p. 105-115.
Wernicke, B. 1985. Uniform sense, normal simple shear of the continental lithosphere.
Canadian Journal of Earth Sciences, 22, p. 108-125.
Wright, V.P.& Barnett, A.J. 2015. An abiotic model for the development of textures in some
South Atlantic Early Cretaceous lacustrine carbonates..Geological Society of London,
Special Publications no.418, p. 209-219.
Wright, V.P. & Tosca, N.J. 2016. A. Geochemical Model for the Formation of the Pre-Salt
Reservoirs, Santos Basin, Brazil: Implications for Understanding Reservoir Distribution.
Search and Discovery Article #51304.
Wright, V.P. & Barnett, A.J. 2017. Critically Evaluating the Current Depositional Models for
the Pre-Salt Barra Velha Formation, Offshore Brazil. AAPG Search and Discovery. Article
no. 51439.

Vitor Pinheiro Sommer 88

Você também pode gostar