LIVRO - Paleo Cartaz - Mesquita Francisco 3a Citação
LIVRO - Paleo Cartaz - Mesquita Francisco 3a Citação
LIVRO - Paleo Cartaz - Mesquita Francisco 3a Citação
FICHA TÉCNICA
Editora: Adverte
Contato: [email protected]
1ª Edição: 2018
ISBN: 978-989-207-998-1
Depósito legal: 438347/18
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Às gatas da minha vida.
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Um longo agradecimento aos Poetas, cujos poemas trato
graficamente no final deste trabalho. Uns ainda estão entre
nós, outros estarão merecidamente no Paraíso.
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Introdução................................................................................................................ 13
-Ideia............................................................................................................................ 14
-Criatividade............................................................................................................. 15
-Inovação.................................................................................................................. 16
-Aproximação a uma imagética milenar.................................................... 17
Paleo-Cartaz............................................................................................................ 23
Cartaz Folheto........................................................................................................ 29
Cartaz Moderno..................................................................................................... 33
-Uma análise diacrónica..................................................................................... 39
Cartaz Hodierno.................................................................................................... 55
- Algumas notas..................................................................................................... 57
Cartaz Camaleónico............................................................................................ 61
- Linguagem fílmica e cartaz camaleónico.............................................. 61
-Autor, obra e recetor........................................................................................... 62
-Pigmentos “inteligentes”................................................................................... 63
- Sobre o design..................................................................................................... 64
-Obra poética.......................................................................................................... 65
-Álvaro de Campos............................................................................................... 66
-Carlos Drummond de Andrade.................................................................... 67
-Corsino Fortes....................................................................................................... 69
-Obras visuais.......................................................................................................... 71
Em jeito de conclusão........................................................................................ 85
Bibliografia............................................................................................................... 87
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12
Era suposto que este trabalho tivesse visto a luz do dia há vários
anos, depois de o autor concluir o seu doutoramento, em 2006.
Por razões várias, assim não aconteceu. Talvez o destino, sempre
insondável nos seus caprichos, tenha decidido ser agora o mo-
mento mais oportuno.
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IDEIA
Uma boa ideia surge quando se encontra um caminho para
a resolução de determinado problema. Todos os projetos vi-
vem de uma ideia e quanto mais original for essa ideia, mais
potencial e poder de diferenciação o projeto tem. O tempo
necessário para encontrar esse caminho pode levar dias, me-
ses, anos ou séculos, dependendo da natureza do problema.
A história está recheada de situações em que grandes desco-
bertas, geralmente resultantes do cruzamento de pequenas
A melhor “descobertas”, demoraram imenso tempo a surgir. Note-se,
em termos de exemplo meramente indicativo, a invenção da
maneira de ter fotografia, que faz o cruzamento da câmara escura com ma-
uma boa idéia é teriais fotossensíveis. Ora, desde a Grécia antiga que a câmara
ter muitas escura era conhecida e mais tarde, por volta do século Vll, os
árabes descobrem os materiais sensíveis à luz. Porém, só no
idéias. decorrer do século XlX, em 1839, a fotografia é apresentada ao
Linus Pauling mundo pela Academia Francesa das Ciências.
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humano tem uma grande capacidade de ser criativo e de
produzir boas ideias.
CRIATIVIDADE
Quando nas nossas tarefas diárias resolvemos de forma di-
ferente pequenos problemas com os quais somos confron-
tados, estamos a ser criativos. A evolução em sociedade tem
justamente a ver com essa capacidade de reinventarmos o
mundo, dando-lhe configurações mais apropriadas às neces-
sidades com as quais nos vamos confrontando. Um rápido
olhar sobre a história do Homem, ao longo de milénios, dá-
-nos conta dessa competência inata que possuímos, capaz
de resolver as dificuldades mais diversas e complexas na luta
pela sobrevivência. Em todo o caso, o recurso à criatividade,
enquanto ferramenta essencial na obtenção de boas ideias,
ajuda-nos a superar dificuldades com as quais nos deparamos
a cada momento. A criatividade
é um modo de
Ricarte (1998) coloca uma questão oportuna que, de alguma usar a mente e
forma, todos quantos se debruçam sobre as problemáticas
da criatividade põem a si próprios: será toda a pessoa capaz
de manejar
de pensar criativamente? Muito embora a história do homem a informação.
possa dar uma resposta válida a esta questão, importa dizer Edward de Bono
que a realidade de hoje é mais complexa e a pergunta coloca-
-se justamente neste contexto. A resposta é claramente sim.
Porém, o próprio processo criativo, dependendo, é certo, de
cada um, está também vinculado à sociedade e ao respetivo
enquadramento do sujeito nas dinâmicas sociais. Trata-se
também, nesta perspetiva, da forma como cada indivíduo se
posiciona e rege a sua própria atuação.
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Existem várias técnicas para fomentar o pensamento criativo,
algumas das quais foram utilizadas no decorrer deste projeto.
Algumas dessas técnicas tiveram cariz mais pessoal e decor-
reram do próprio processo de trabalho; outras, envolveram
pessoas com as quais se ia partilhando uma ideia e um
caminho, utilizando para tal o “brainstorming online”, ferra-
menta muita facilitada nos dias de hoje, pelo uso da comuni-
cação eletrónica.
INOVAÇÃO
Vivemos num tempo em constante mudança, pautado pela
velocidade e a incerteza. Porém, nunca como hoje tal foi
tão evidente, quer pela rapidez de circulação da informação,
quer pela sociedade em rede global da qual fazemos parte.
Significa isto que vivemos continuamente em cenários de
mudança e que essa condição é parte intrínseca das nossas
vidas . Neste contexto, a inovação “comporta uma grande
componente de incerteza, composta de fatores técnicos, de
A inovação mercado, sociais, políticos, entre outros, e com a probabili-
dade do resultado final não ter o sucesso esperado...”, Tidd et
é um meio all (2003: 17).
fundamental
para ganhar Em “O efeito Medici”, Frans Joahnsson começa e termina o li-
vro com o Café Peter, nos Açores. Naturalmente que não o faz
vantagem por mero acaso. Num livro dedicado por inteiro à interseção
competitiva e de campos de saber, descrevendo ou dando nota de múlti-
responder às plos casos de sucesso empresarial e académico, esse ponto
de encontro de navegantes que cruzam o oceano, serve de
necessidades metáfora para um novo tempo, um tempo em que a ciência
do mercado. disciplinar morreu (Alan Leshner). Ou, dito de outra forma, a
Mahomed Ussmane inovação na sociedade surge preferencialmente em projetos,
cujas equipas multidisciplinares produzem vários olhares
sobre o problema a resolver.
16
que reside uma maior possibilidade de algo de novo acon-
tecer.
17
dos suportes de comunicação visual dos nossos dias, nome-
adamente do cartaz.
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estético-visual. Foram criadas, então, diretrizes basilares que
estruturam ainda o conhecimento e práticas de visibilidade
da nossa contemporaneidade, nomeadamente ao nível do
design gráfico (Meggs e Purvis, 2012).
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e mais tarde a escrita, foram:
20
domínios, ao longo de milénios, (Meggs e Purvis 2012: 9).
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Há 6.000 anos aproximadamente, surgiram as primeiras
civilizações organizadas e com elas a importância e a necessi-
dade de instituir práticas de comunicação entre os respetivos
atores sociais, nomeadamente entre o poder e os súbditos. De
acordo com Counsel:
23
Por seu lado, Thompson afirma que:
24
exposição pública, para que a mensagem fosse mais eficaz, chegando
a mais pessoas. Este aspeto da repetição configura, como é sabido,
uma das técnicas mais eficazes do cartaz moderno (idem, ibidem)
25
nossos dias. No que diz respeito ao processo de reprodução
de obras de arte, apenas conheciam a fundição e a cunhagem
(Benjamin, 2012[a]: 49).
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implementando um elevado valor semiótico nas mensagens.
São de destacar as expressões linguístico-pictóricas sintetiza-
das, utilizadas na “tag”, assinatura do artista do grafite, signifi-
cando “eu existo, eu estive aqui”, sinal que podemos conotar
como próximo da assinatura do cartaz atual.
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As características da língua chinesa, com milhares de ideo-
gramas, impediram que o processo de impressão, por eles
inventado, fosse tão eficaz como o foi para os alfabetos latino
e grego. McLuhan diz a este propósito que
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O cartaz deste período histórico, que denominamos por
cartaz-folheto, caracterizava-se pela ausência de imagens.
O texto a uma só cor, normalmente preto, marcava toda a
mancha gráfica da composição, sendo uma forma incipiente
do cartaz policromático surgido mais tarde.
30
novo valor pictórico, motivado pela forma, tamanho, cor e
sintaxe, valorizando a mensagem ao enfatizar determinados
aspetos em detrimento de outros (Moholy-Nagy, in Barnicoat,
2000: 90).
33
Com a conjugação do descrito nos pontos anteriores, simpli-
ficou-se a produção de informação gráfica com cor, tal como
a partir daí se verificou no cartaz.
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do-o na promoção e divulgação dos seus produtos.
35
posturas gráficas mais subjetivas sobre a natureza e o indi-
víduo.
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O importante é encontrar uma silhueta que seja expressiva, um sím-
bolo que, simplesmente por sua forma e cor, possa atrair a atenção de
uma multidão e dominar os transeuntes, Espada, (1998: 20).
Valor artístico
Valor artístico adquirido
Valor artístico também apropriado.
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Guerra Mundial;
Da Primeira Guerra Mundial à Arte Deco;
Da Arte Deco e pós-cubistas até à Segunda Guerra Mundial;
Tendências do pós-guerra, a partir de 1950.
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Os tempos de efervescência social e artística foram diversos
e, em todos esses momentos, o cartaz foi sempre um objeto
gráfico de experimentação e representação de ideias, alvo de
múltiplas transformações estético-visuais. O cartaz, foi neste Jules Chéret foi
contexto, espelho do próprio tempo que reproduzia, uma
vez que tal como nos recorda Dorfles “não há dúvida de que
um dos mais
a arte deve sempre refletir as condições da época em que é carismáticos e
produzida (sem se ‘esforçar’, mas espontaneamente...” (1989: influentes carta-
121).
zistas, por mui-
Com a arte moderna, que podemos entender como reflexo tos considerado
da Revolução Industrial e que se prolongará até meados do o pai do cartaz
século XX, “passa a valorizar-se a perceção rápida, efêmera,
fugaz e a utilizar vastas manchas de cor, em detrimento da moderno.
perspetiva e dos volumes, definidos no impressionismo” Fahr-Becker
Cauduro (2000: 128). Por outro lado, para Eco “A arte contem-
porânea parece visar como valor primeiro a quebra intencio-
nal das leis da probabilidade que regem o discurso comum,
pondo em crise os seus pressupostos, no instante mesmo em
que os usa para deformá-los, (Eco, 1971: 163).
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interesse gráfico. Adiante-se que este desinteresse em muito
estava relacionado com o baixo nível cultural do público, o
elevado nível de analfabetismo ou simplesmente desconheci-
mento da língua. As posturas gráficas de Cherèt, por exemplo,
eram consideradas muito arrojadas para o mercado ameri-
cano (Espada, 1989: 78-80).
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O primeiro grande cartazista que surgiu em França depois de
Cherèt foi Eugene Grasset (1845-1917), que abraçou as formas
simbólicas e estilizadas e tinha um gosto particular pelos
artesãos da Idade Média (Espada, 1998: 43). Apesar de algum
protagonismo, não foi um artista muito influente, tendo sido
por vezes considerado com falta de capacidade para desen-
volver obras mais arrojadas. Berthon define assim a estética
do grupo de Grasset:
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Muito tocado pela luminosidade das cores claras, o ritmo vibrante das
linhas e pontos, o crescente poder expressivo dos contornos simpli-
ficados e a fixação de elementos decorativos na superfície pictórica,
Fahr-Becker, 1997: 7).
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na cor, conferindo à obra uma delicadeza condizente com o
modelo que utilizava. O cartaz de Mucha define-se em regra
pelo texto agrupado de forma a que a figura principal tenha
o máximo de destaque, cores pouco habituais, tais como o
ouro, o bronze e a prata.
Limitação de cores apenas ao necessário, de forma a não criar zonas de dispersão visual
Contornos bem definidos, acentuando um bom contraste com o fundo da composição
Integração de texto e imagem, fazendo uma unidade visual de todos os elementos gráficos
Redução dos detalhes ao mínimo, de modo a não criar dispersão por elementos
meramente decorativos
Grande enfoque no motivo principal a comunicar, para que num primerio olhar se capte
a mensagem.
Texto de fácil leitura, com utilização mínima de palavras e uso de carateres bem definidos a
negrito e sem serifa.
43
acontecia nos Estados Unidos. Motivada pelas leis da oferta
e da procura, a ideologia da publicidade começa a impor-se,
ditando também as regras da comunicação visual e do cartaz
em concreto. As grandes marcas europeias, copiando uma
vez mais o outro lado do Atlântico, procuram no cartaz o
grande veículo de comunicação com os seus públicos.
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reta e de cores primárias, num estilo minimalista que reflete
o período de carência então vivido e provocado pela guerra.
Estilo desprovido de qualquer tipo de ornamentação, criando,
assim, uma rotura evidente com algumas expressões gráficas
anteriores, como o demonstram os trabalhos de Mondrian.
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matográficas na conceção do cartaz. O plano de câmara e
determinados efeitos como o zoom, planning shot e a utiliza-
ção do rosto humano frontal ditavam regras importantes na
utilização da imagem. Muitos outros artistas assumirão este
olhar sobre a imagem, a partir dos meios audiovisuais.
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capaz de competir com o desenho manualmente efetuado.
Aliás, tanto Picasso como Braque enalteciam o valor da foto-
grafia, enquanto elemento de fantasia e de um grande poder
de expressão, (Barnicoat, 2000: 152).
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clusivamente ao design de cartazes publicitários para marcas
famosas, tais como Dunlop, Bic, Perrier, Air France e Cinzano.
Desenvolveu cartazes assentes numa ideia simples e limpa,
cuja mensagem resultava funcional e graciosa.
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Com o final do conflito, a ascensão ou o retomar da socie-
dade de massas assume novo fôlego. Atingiu-se uma certa
estabilidade, tendo-se gerado um clima de euforia que permi-
tiu atingir níveis de desenvolvimento significativos em termos
sociais, económicos e tecnológicos. Nos primeiros anos da
década de 50 surge nos Estados Unidos a primeira emissão
de televisão a cores. Ficaram lançados os dados da sociedade
mediática que dominou as décadas seguintes.
49
A utilização de imagens marcantes sobre a sociedade de
consumo, incidia basicamente na apresentação em grande
escala e de forma repetitiva do produto de consumo ou figura
mediática. Os títulos estão por regra ausentes, sendo que a
imagem, numa composição de grande contraste visual, vale
por si própria. A técnica utilizada era a serigrafia com mon-
tagens e colagens fotográficas que Warhol foi beber a Robert
Rauschenberg e Jasper Johns. Sobre esta fase do cartaz, Gallo
(1973: 274) acentua que “simbolicamente, o objeto à venda
ocupava quase toda a superfície do cartaz”, o que se aplica
com toda a pertinência à obra de Warhol. Basta lembrar a
imagem das Sopas Campbell’s que preenchem a totalidade
do plano gráfico.
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versidade como paradigma dos novos tempos. Surgem, assim,
jovens designers a proporem diferentes posturas estéticas
alternativas, muito focalizadas na improvisação, no humor,
no aleatório e na quebra de regras. A rejeição da grelha, que
muitos deles assumiram, é um bom indicativo da rotura com
o formalismo do modernismo.
51
pode ser considerada como obra de arte. Por causa da mas-
sificação da cultura, certamente, mas também por todas as
situações e práticas minúsculas que constituem o húmus
sobre o qual crescem a cultura e a civilização” (Maffesoli,
1988: 240).
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Na verdade, de alguma forma, sempre tal aconteceu, no que
diz respeito à liberdade do artista. Porém, agora parece-nos
poder afirmar-se que agora não existe uma tendência, tal
como aconteceu em todos os períodos antecedentes. As
tendências são, de facto, o percurso de vida, as vivências e
o gosto de cada artista / designer, constituído por um sem
número de fontes de inspiração.
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O início dos anos 90 do século XX marca o começo de uma
nova era para a Humanidade. O computador pessoal chega
ao mercado do grande consumo e com ele uma revolução
sem paralelo nas artes visuais. Representando uma infinidade
de possibilidades criativas com ferramentas de manipulação
de imagem e tratamento de texto, o computador passa a ser
imprescindível e capaz de todas as proezas gráficas. Tendo
como periféricos um scanner e uma impressora digital,
estão criadas as condições de um espaço de trabalho total e
autónomo.
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aqui em toda a sua forma e esplendor. Se noutros períodos
da história marcou indelevelmente a visibilidade no espaço
público, continua agora a ser um dos meios de comunicação
mais poderosos, apresentando taxas de crescimento elevadas.
Para além da mobilidade das pessoas, fator já aqui referido,
este crescimento deve-se também à complementaridade
que o cartaz tem com os outros meios, e à interação que, em
certas situações, com eles estabelece.
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ALGUMAS NOTAS
O que nos motivou a desenvolver o texto até aqui exposto,
tem enquadramento numa das hipóteses colocadas no pro-
jeto inicial. Ou seja, a da própria definição do cartaz, enquan-
to objeto gráfico basilar na história da comunicação visual,
suas características e a possibilidade de apontar marcos
sobre a sua origem. Podemos considerar que se trata de uma
problemática pouco relevante, na medida em que não traz
nada de novo, resultando apenas numa nota histórica sobre
o objeto gráfico em causa. Pensamos que esta é a posição da
maioria dos autores que consultamos, Barnicoat (2000), Hollis
(2011), Espada (1998), Rueda (2000), Gallo (1973) e Meggs e
Purvis (2012). Todos apontam as origens do cartaz moderno
para um período pós Revolução Industrial, asserção com a
qual estamos inteiramente de acordo.
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pedra em vez do papel apenas aconteceu porque o papel era
ainda desconhecido.
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pode emitir várias mensagens. Ou melhor, pode enquadrar
a componente temporal na sua narrativa, enquanto meio de
comunicação, uma vez que em tempos diferentes a mensa-
gens pode sofrer alterações.
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Finalizada uma história do cartaz, na qual percorremos alguns
dos seus marcos, nas páginas seguintes apresentaremos obras
visuais interativas, que denominamos de cartaz camaleónico.
Trata-se, como já o frisámos, de um trabalho de cruzamento
entre várias áreas, que tem na utilização dos pigmentos “in-
teligentes” o fator de diferenciação e de inovação, na medida
em que eles permitem que a obra possa emitir diferentes
mensagens num certo período de tempo.
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(Aumont, idem). Porém, apesar de podermos considerar que
as obras produzidas se inserem na categoria de mensagem
camaleónica – mutante, imagem com movimento –, consi-
deramos manter-nos num registo de imagem fixa, tal como é
compreendida por Moles, quando afirma:
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-o, aceitá-lo, integrá-lo em nossa sensibilidade.... ela se coloca como
mediadora entre a abstrata categoria da metodologia científica e a
matéria viva da nossa sensibilidade; quase como uma espécie de es-
quema transcendental que nos permite compreender novos aspetos
do mundo, (Eco, idem: 158-159).
PIGMENTOS “INTELIGENTES”
Os pigmentos “inteligentes” que utilizamos surgem como
pólo aglutinador e plataforma para novas possibilidades esté-
ticas, criando-se uma relação dinâmica e interdisciplinar entre
vários campos. No resultado desse cruzamento podemos
encontrar novos caminhos, moldados pela tecnologia que
não sendo boa ou má, também não é neutra, (Kranzberg in
Ilharco, 2004: 57). Cabe-nos, por isso, fazer a utilização que
melhor sirva os nossos objetivos.
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A tecnologia dos pigmentos - a microencapsulação - tem
como princípio base o revestimento de micro partículas
sólidas, líquidas ou gasosas, com determinadas características.
A membrana envolvente é constituída por material com pro-
priedades específicas de controlo da libertação dos compos-
tos bioativos do núcleo.
SOBRE O DESIGN
O design gráfico envolve uma ideia, entre muitas possíveis,
ideia essa capaz de expressar visualmente uma mensagem
forte, apelativa e eficaz. Na elaboração das peças que apre-
sentamos, tentou-se criar algo que se circunscrevesse a esses
parâmetros. Para tal, foi elaborado um estudo prévio capaz
de determinar o comportamento de ambos os pigmentos -
termocromáticos e fotocromáticos -, perante os fatores de
sensibilização, ou seja, o calor e os raios UV, respetivamente.
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Privilegiou-se a utilização do desenho vetorial e da tipografia,
enquanto recursos gráficos nos quais a cor se expressa como
elemento fundamental na composição. Em termos de sintaxe
visual, houve uma opção pela não-linearidade de conteú-
dos, conferindo diferentes níveis de informação e de leitura,
fragmentação da mensagem, sua dispersão no espaço gráfico
e jogos de visibilidade e leitura. A interação que procuramos
estabelecer entre o objeto gráfico e o espetador levou-nos a
seguir um caminho experimental, de descoberta.
OBRA POÉTICA
Pela leitura e análise da obra de cada um dos poetas, bem
como de variados estudos sobre as suas obras, entende-se
que, a seu modo, cada um partilhava as angústias do Homem
do seu tempo. Desta forma, pensamos que os três, Pessoa,
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Drummond e Fortes, se circunscrevem na modernidade,
caracterizada pelas profundas alterações que provocou na
sociedade, na viragem do século XIX.
Por isso, uma marca que nos parece comum aos três poetas
é a atenção que prestaram às profundas alterações sociais
do seu tempo. Todos refletiram de forma intensa, profunda
e inovadora sobre o “Eu” e o “Outro”, o Homem e o Mundo
Novo. Não apenas o mundo exterior, mas, também, o mundo
interior, refletido numa lírica moderna que reformula a rela-
ção entre o poeta, a linguagem da poesia e o leitor, alargando
e multiplicando as suas relações, dado que:
ÁLVARO DE CAMPOS
De todos os heterónimos pessoanos, Álvaro de Campos
parece ser o mais controverso, na medida em que tem uma
personalidade megalómana e intervencionista, querendo
sentir tudo de todas as maneiras.
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na recusa da vida – a verdade – que lhe querem oferecer, as
”estéticas”, a “moral” a “metafísica”, a “civilização moderna” e a
“ciência”. Reafirma-se, neste sentido, com o direito a ser dife-
rente do outro, dizendo que “Fora disso, sou doido, com todo
o direito a sê-lo” ou “Queriam-me casado, fútil, quotidiano e
tributável?” e a estar só “Deixem-me em paz” e “Quero estar
sozinho”. A infância, tempo passado e, por isso, imutável, é
enaltecida “Eterna verdade vazia e perfeita”. Lisboa, título do
poema, é de outrora, mas também de hoje, logo, tal como
a infância, “nada me dais, nada me tirais”. Por isso, em nada
altera a sua pessoa, o seu “eu”.
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Aí está o sentimento de uma região, de um país e o sentimen-
to do mundo”, (Sant’Anna, 1980: 37).
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Por esta última característica, non sense, Drummond é apon-
tado como sendo precursor da poesia modernista no Brasil. O
“permanente processo de transformação e adaptação de ima-
gens”, a “metamorfose imagística”, “os jogos de sobreposições
temporais e espaciais”, “a diversificação de egos”, “o lançar-se
além de si mesmo”, “versos destituídos de rimas” para além da
estrutura frásica e da semântica, parecem configurar traços
nesse sentido.
CORSINO FORTES
Corsino Fortes nasceu na ilha de São Vicente, Cabo Verde,
numa família muito humilde, tendo perdido os pais muito
cedo. O facto de ter sido ajudante de ferreiro, evidencia bem a
condição económica e social da família.
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Portugal (1975-1981), logo após a Revolução dos cravos. No
governo cabo-verdiano, foi secretário de estado para a infor-
mação, tendo lançado a televisão experimental. Mais tarde
foi nomeado Ministro da Justiça e presidiu por vários anos ao
Conselho Geral da Fundação Amílcar Cabral.
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https://vimeo.com/198717266
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Lisboa Revisitada (extrato)
• Álvaro de Campos • Tipografia:
Helvética, Herculanum, Times, Io-
wan Old Style, Marion e Hobo Std
Medium • Técnicas: impressão
digital e pintura manual • Cor:
jato de tinta + pigmento
termocromático + fotocromático.
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https://vimeo.com/198847631
• Termocromático: na palavra
“amava“, e nas caixas de cor ama-
relo, vermelho, azul e verde.
• Fotocromático: personagens.
Temperatura: ≤ 24ºC
Raios UV: Não
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Foi-se a Copa (completo) • Car-
los Drummond de Andrade•
Tipografia: Veteran Typewriter e
Helvética • Técnicas: impressão
digital e pintura manual • Cor:
jato de tinta + pigmento termo-
cromático
e fotocromático.
• Termocromático: pigmento de
várias cores a tapar “e agora,
José?“ e a palavra José.
Temperatura: ≤ 24ºC
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Proposição (extrato) • Corsino
Fortes • Tipografia: Helvética •
Técnicas: impressão digital e pin-
tura manual • Cor: jato de tinta +
pigmento termocromático.
Temperatura: ≤ 24ºC
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Em jeito de conclusão
Finalizado este percurso pelo que consideramos ser uma
breve história da comunicação visual, cabe-nos agora deixar
algumas observações. Embora nos tenhamos focalizado no
cartaz e ele expresse o caminho que seguimos, fizemo-lo
convictos que à falta dos meios de comunicação da nossa
contemporaneidade, foi ele o grande protagonista, enquanto
objecto de comunicação e informação nas sociedades anti-
gas.
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Propositadamente não fizemos qualquer análise interpretativa
às obras que aqui se apresentaram. Deixamos essa tarefa para
todos quantos tenham interesse em fazê-lo, seguindo, even-
tualmente, os preceitos nos aponta a Obra Aberta de Eco
86
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