Deuses Falsos Trecho
Deuses Falsos Trecho
Deuses Falsos Trecho
Tim Keller, como ninguém, sabe contar uma história bíblica. Assim
como Deus pródigo, outro livro seu, Deuses falsos é centrado nas Escri-
turas. E cada vez que escuto uma história da Bíblia contada por Keller,
tenho a impressão de que a estou ouvindo pela primeira vez.
Tim Challies, pastor, criador do site challies.com e autor dos livros
Desintoxicação sexual e Discernimento espiritual (Vida Nova)
Agradecimentos....................................................................9
UM
Tudo o que você sempre quis.......................................... 29
DOIS
O amor não é tudo de que você precisa........................... 47
TRÊS
O dinheiro muda tudo.................................................... 69
QUATRO
A sedução do sucesso...................................................... 91
CINCO
O poder e a glória......................................................... 111
SEIS
Os ídolos ocultos em nossa vida.................................... 137
SETE
O fim dos deuses falsos................................................. 163
Bibliografia.....................................................................187
A fábrica de ídolos
2
Todos esses suicídios ocorreram entre maio de 2008 e abril de 2009. Foram
compilados no post de um blog disponível em: http://copycateffect.blogspot.
com/2009/04/recess-x.html.
3
Democracy in America, tradução para o inglês de George Lawrence (New
York: Harper, 1998), p. 296 [edição em português: A democracia na América,
tradução de Eduardo Brandão (São Paulo: Martins Fontes, 2000)], citado em
Andrew Delbanco, The real American dream: a meditation on hope (Cambridge:
Harvard University Press, 1999), p. 3.
4
Ibidem.
5
“The rank-link imbalance”, New York Times, March 14, 2008.
Ídolos do coração
Seria difícil defender essa ideia de maneira convincente na era
da explosão das empresas “ponto com” e das bolhas imobiliárias
e de ações dos últimos vinte anos. Todavia, o grande fiasco eco-
nômico ocorrido entre 2008 e 2009 expôs o que hoje é chamado
de “cultura da ganância”. Muito tempo atrás, Paulo escreveu que
a ganância não era um mau comportamento apenas. “Ganância
[...] é idolatria” (Cl 3.5, NIV), escreveu ele. O dinheiro, conforme
advertiu, pode assumir atributos divinos, e nossa relação com ele
se aproxima então da adoração e da reverência.
O dinheiro pode se tornar um vício espiritual, e, como todos
os vícios, ele esconde de suas vítimas as reais proporções que tem.
Corremos mais e maiores riscos de alcançar uma satisfação cada
vez menor com o que almejamos, até que venha o colapso.
Quando começamos a nos recuperar, perguntamos: “O que está-
vamos pensando? Como pudemos ser tão cegos?”. Acordamos
como alguém de ressaca que mal consegue se lembrar da noite
anterior. Mas por quê? Por que agimos de maneira tão irracional?
Por que perdemos completamente de vista o que é certo?
A resposta bíblica é que o coração humano é uma “fábrica
de ídolos”.6
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O uso da idolatria como uma categoria importante para a análise psicoló-
gica e sociocultural ganhou importância de novo nos últimos quinze anos no
mundo acadêmico. Primeiro houve o apogeu de Feuerbach, Marx e Nietzsche,
que usaram o vocabulário da “idolatria” para criticar a religião e o próprio
cristianismo, dizendo que a igreja criara Deus a sua própria imagem de modo
a promover os próprios interesses. Veja Merold Westphal, Suspicion and
faith: the religious uses of modern atheism (The Bronx: Fordham, 1999). Antes
negligenciado, o conceito tem recebido análise acadêmica séria e inovadora
de dois eminentes filósofos judeus, Moshe Halbertal e Avishai Margalit, em
Idolatry (Cambridge: Harvard University Press, 1992). A partir desse traba-
lho, houve uma onda recente de estudos sérios sobre o assunto. Por exemplo,
veja Stephen C. Barton, org., Idolatry: false worship in the Bible, early Judaism,
and Christianity (London/New York: T&T Clark, 2007); G. K. Beale, We
become what we worship: a biblical theology of idolatry (Downers Grove: Inter-
Varsity, 2008) [edição em português: Você se torna aquilo que adora: uma teolo-
gia bíblica da idolatria, tradução de Marcus Throup (São Paulo: Vida Nova,
2014)]; Edward P. Meadors, Idolatry and the hardening of the heart: a study
in biblical theology (London/New York: T&T Clark, 2006); Brian S. Rosner,
Greed as idolatry: the origin and meaning of a Pauline metaphor (Grand Rapids:
Eerdmans, 2007).
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Na Bíblia, a idolatria envolve, sem dúvida, o ritual de adoração a deuses
que não são o verdadeiro Deus de Israel. Ela significa curvar-se ou “beijar a
mão”, ou fazer sacrifícios a deuses de outras religiões e nações (Êx 20.3; 23.13;
Jó 31.26-28; Sl 44.20,21). Qualquer um que faça isso perde o direito à sal-
vação divina ( Jn 2.8). Mas a Bíblia deixa claro que não podemos restringir a
A inevitabilidade da idolatria
Por que, com tanta frequência, a concretização do desejo mais
profundo do seu coração costuma ser um desastre? No livro de
Romanos, Paulo escreveu que uma das piores coisas que Deus
pode fazer às pessoas é “[entregá-las] ao desejo ardente de seus
corações” (Rm 1.24). Por que o maior castigo imaginável seria
permitir a alguém concretizar seu maior sonho? Porque nos-
so coração converte esses desejos em ídolos. No mesmo capí-
tulo, Paulo resumiu a história da raça humana em uma frase:
If you can’t live without me, why aren’t you dead yet? (New York: Grove,
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