Venda Ad Mensuram e Ad Corpus
Venda Ad Mensuram e Ad Corpus
Venda Ad Mensuram e Ad Corpus
RIBEIRÃO PRETO/SP
2021
Kerolyn Scharyn Rhayssa Ventura
Ribeirão Preto
2021
1. INTRODUÇÃO
Diante da mais comum e mais importante fonte de obrigações, temos o contrato, que pode
ser compreendido como uma espécie de negócio jurídico que exige ao menos a participação de duas
partes. E que de acordo com Caio Mario (v. III, p. 7), é “um acordo de vontades, na conformidade
da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir
direitos.” (apud GONÇALVES, 2021, p. 24)
Sendo assim, a fim de elucidar a venda ad mensuram e ad corpus, faz-se necessário antes de
qualquer coisa entender o que se denomina compra e venda. O Art. 481 do Código Civil (2002)
dispõe que pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de
certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
Logo, denomina-se compra e venda o contrato bilateral pelo qual uma das partes (vendedor)
se obriga a transferir o domínio de uma coisa à outra (comprador), mediante a contraprestação de
certo preço em dinheiro. (ESPÍNOLA, et al apud GONÇALVES, 2021, p.233)
Exposto isso, o que interessa a este trabalho é somente a compra e venda de imóveis, mais
especificamente as vendas especiais, venda ad corpus e venda ad mensuram que serão apresentadas
ao longo deste estudo.
Isso significa que, por exemplo, caso um imóvel seja negociado pelo valor de R$5.000,00 o
metro quadrado e sua área seja de 100 m², o imóvel será vendido, portanto, no valor de
R$500.000,00, onde o preço do imóvel depende exclusivamente de suas medidas.
Dessa forma, caso o comprador verifique discrepância entre as medidas dadas pelo
vendedor, o mesmo tem o direito de exigir que se faça uma complementação da área e caso não seja
possível, poderá reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço, como
consta o Art. 500 do Código Civil de 2002:
Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se
determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões
dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso
possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço.
Ainda assim, vale ressaltar que a segunda e terceira alternativa, só será aplicada caso o
vendedor não tenha área remanescente para complementar, e quanto a rescisão do contrato, cabe
ainda a falta ser suficiente para determinar a perda de interessa em continuar com o negócio.
Quanto ao abatimento do preço, poderá também ocorrer a restituição do valor se já pago.
(GONÇALVES, 2021)
Além disso, o nosso ordenamento jurídico também prevê o excesso de área e para esse caso,
o vendedor provando que tinha motivos para ignorar a medida da área vendida no prazo decadencial
de até 1 ano (um ano) a contar do registro do título, fica por escolha do comprador complementar o
preço ou ainda devolver o excesso. Como dispõe exatamente o § 2º do Art. 500 do CC/2002: “Se
em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata
da área vendida, caberá ao comprador à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço ou
devolver o excesso”.
Com a jurisprudência acima, nota-se que a venda ocorreu como ad mensuram e o comprador
adquiriu o imóvel com uma área não correspondente ao que consta no instrumento contratual.
Diante disso, o TJMG decidiu pela complementação da área nos termos do Art. 500 do CC..
Logo, de acordo com o entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo citado por
Gonçalves (2021) temos:
Presume-se que o comprador adquiriu a área pelo conjunto que lhe foi mostrado e não em
atenção à área declarada. Certas circunstâncias, como a expressão “tantos alqueires mais ou
menos”, a discriminação dos confrontantes e a de se tratar de imóvel urbano totalmente
murado ou quase todo cercado, evidenciam que a venda foi ad corpus. (apud
GONÇALVES, 2021, p.270)
Nesses casos de ad corpus, como o § 3º do Art. 500 do CC prevê, não haverá complemento
de área, nem devolução de excesso, pois entende-se que o imóvel tendo sido vendido com as
medidas meramente enunciativas, ou seja, quando a diferença encontrada não exceder de um
vigésimo da área total enunciada (Art. 500, § 1º CC), a diferença pequena não justificaria o litígio e
muito menos a não realização do negócio, pois entende-se que o adquirente teve uma visão global
do imóvel e caso fosse prejudicial para ele, o contrato não ocorreria.
Desse modo, a jurisprudência acima trata de uma venda em que o comprador entrou com
uma ação para abatimento do preço após constatar medida diferente com a expressa no contrato, no
entanto a medida encontrada no contrato é de teor referencial, enquadrando-a, portanto, como
compra e venda ad corpus e negado o abatimento do preço.
3. CONCLUSÃO
Ao fim deste trabalho, chegamos a conclusão de que os contratos exercem grande influência
na nossa sociedade, geram obrigações e seus efeitos são perpetuados na relação jurídica. Quanto ao
trabalho exposto, a matéria analisada foi dos contratos especiais de compra e venda, podendo ser ad
mensuram e ad corpus, cada uma com suas particularidades e efeitos previstos no Art 500 do
Código Civil de 2002.
De modo geral, a venda por admensuram implica um preço por medida e caso essa medida
seja diferente ao expresso no contrato, três alternativas são possíveis para solucionar o litigio: a
complementação da área, a rescisão do contrato e por fim, o abatimento do preço. No sentido
contrário, a venda ad corpus implica o móvel como um todo, seguindo apenas limites e
confrontações, e não permite complemento de área ou devolução de excesso.
REFERÊNCIAS
BRASIL. LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 29 de outubro de
2021.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – volume 3: contratos e atos unilaterais.
18. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
OLIVEIRA. Edson Nogueira. Contratos de compra e venda de imóvel “ad corpus” e “ad
mensuram”. Jus, 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/52857/contratos-de-compra-e-
venda-de-imovel-ad-corpus-e-ad-mensuram. Acesso em: 29 de outubro de 2021.