Abordagens Teóricas Violência Interparental
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INTRODUÇÃO
parentais (Cox, Paley & Harter, 2001; Fauber & Long, 1991, cit. Harold &
& Conger, 1997), a primeira geração de investigações nesta área teve como
Rosenberg, 2000).
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famílias intactas vs. não intactas). Mais ainda, os autores chegam mesmo a
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EXPLICATIVAS CENTRAIS
“violência gera violência” (Curtis, 1963, cit. Kashani & Allan, 1998). No
usar padrões similares no futuro (Feldman, 1993; Jaffe, Wolfe & Wilson,
Behrens, 2000). Uma das razões prende-se com a modelagem exercida pelo
acrescenta ainda que outras crianças, talvez pela maior identificação com a
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FIGURA 3.1 – “Ciclo intergeracional da violência” – Adapt. B.C. /Yukon Society of Transition
Houses, Canada
Testemunho da criança
de violência entre os pais
mulher, mas afecta as atitudes acerca da violência sobre estas. Dois outros
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Certas investigações, algumas com pendor feminista, descobriram que os homens que abusam
detêm pontos de vista mais tradicionalistas acerca da mulher dos que os não abusadores
(Bernard, Bernard & Bernard, 1985, Sigelman et al., 1984; Telch & Lindquist, 1984) ou pelo
menos são percepcionados pelas suas esposas como possuindo atitudes mais tradicionalistas
(Rosenbaum & O’Leary, 1981) (cit. Alexander & Moore, 1991).
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1991).
empíricos (e.g., Widom, 1989, Geller & Ford-Somma, 1989, Fagan & Wexler,
1987, cit. Jaffe, Wolfe & Wilson, 1990), alguns centrados na relação entre
empatia (Kruttschnitt & Dornfeld, 1993, Emery, 1989; Verduyn & Smith,
precoce.
Lewis, Shanok, Pincus e Glaser (1979) que demonstrou que 79% das crianças
violência extrema entre os seus pais, ao passo que somente 20% dos
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(Kashani & Allan, 1998). Kalmuss considera, assim, que o preditor mais
durante a sua infância (Kalmuss, 1984, cit. Arroyo & Eth, 1995).
Wrad, 1986, cit. Jaffe, Wolfe & Wilson, 1990). As conclusões dos estudos não
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& Cummings, 1988, cit. Harold & Conger, 1997). Refira-se, no entanto, que
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do dano, quer para ela quer para os outros, o que pressupõe que o significado
(Pynoos, Sorenson & Steinberg, 1993). Esta noção reverte para a de stress
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Na literatura (e.g., Rossman, Hughes & Rosenberg, 2000) são citadas, ainda, outras
abordagens como a Teoria do Controlo Cognitivo (Santostefano, 1985) e a Teoria do
Processamento Social de Crick e Dodge (1994), que focam o processamento cognitivo para
explicar os comportamentos humanos, mas que não nos pareceram suficientemente pertinentes
para referenciar neste capítulo, por não estarem directamente voltadas para a explicação do
impacto da exposição à violência interparental.
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porque podem ser expressos de uma forma que mascara a sua origem e
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de problemas (cit. Margolin, Oliver & Medina, 2001). Podemos considerar que
outros (Jaffe, Wolfe & Wilson, 1990). Estabelece-se, assim, uma hipótese de
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importância das relações pais e filhos (cf. Cox, Paley & Harter, 2001) na
causadas ao nível das competências parentais dos adultos, que interferem nos
familiar (Kashani & Allan, 1998). Segundo estes últimos autores são, ainda,
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Bermann, 1998). Uma das teorias relacionais que levanta esta hipótese da
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2. TEORIAS EXPLICATIVAS
parentais, traduz-se, assim, num modelo familiar sistémico que opera a partir
reduzem o conflito tendem a ser mantidas, devido à função que acabam por
ter para a criança e para a própria família (Emery, 1989). Note-se que este
constituem duas das estratégias mais usadas pelas crianças para pôr termo à
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emocionais ou cognitivos internos, mas outras pode ser acções que têm um
emocional, assim como ao não conceber que, não obstante a criança querer
diminuir o seu estado de stress, a sua principal motivação pode ser proteger a
Kaersvang (1989)
entre pais constitui um evento traumático para a criança capaz de, por si só,
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geral, tem apontado sobre o efeito mediador desta variável. Apesar dos
pela criança (cf. Figura 3.2). Segundo Jaffe, Wolfe e Wilson (1990), o abuso
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Abuso da mulher
Stress na Stress na
relação marital relação marital
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percepções construídas pela criança, assim como o papel que as mães podem
acerca dos conflitos maritais no seu comportamento. Este modelo sugere que
estar, com base na cognição e no afecto (Dadds, Atkinson, Turner, Blums &
por seu lado, vêm colorir as suas interpretações acerca das interacções
implica-a num processo (cf. Figura 3.3), em que esta começa por avaliar o
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como responder a este (coping) (Grych, 1998; Grych & Fincham, 1990). Se o
conflito não for percebido como ameaçador pela criança é pouco provável que
porque se pressupõe que o conflito possa continuar e nada poderá ser feito
conflito.
FIGURA 3.3 – Modelo cognitivo - contextual (Grych & Fincham, 1990; Grych & Cardoza-
Fernandes, 2001, p.160).
CONTEXTO
APRECIAÇÕES
PROCESSAMENTO PROCESSAMENTO
CONFLITO COPING
PRIMÁRIO SECUNDÁRIO
EMOÇÃO
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criança).
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comportamento.
faz dos conflitos interparentais são uma função das propriedades do conflito
Grych, 1998). Os conflitos mais hostis geram mais afecto negativo, uma
eventos (Grych & Fincham, 1993 cit. Grych, 1998; Sani, 2002), mas não a
deste eventos (Grych, 1998). É possível que tal esteja relacionado com
família.
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hostilidade, por exemplo entre pais e filhos (Grych, 1998). Segundo o autor,
e maus tratos, a sua percepção de ameaça quanto ao conflito entre pais tende
dos pais ou cuidadores com a criança (Cox, Paley & Hater, 2001). Este factor
as interações entre os pais e a criança (Cox, Paley & Hater, 2001). Os pais
percepções das crianças acerca das causas que modelam a expressão dos
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(Baldwin, 1992, cit. Grych, 1998), sendo que um dos elementos desses
criança, através da avaliação cognitiva que esta faz dele, Grych, Seid e
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desesperança.
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Esta escala será descrita com mais pormenor no capítulo da metodologia, dado tratar-se de um
dos instrumentos usados para a nossa investigação.
(1994)
relações dinâmicas entre a criança e o seu meio (Davies & Cummings, 1998).
latente com uma série de funções proeminentes que podem ser representadas
prazo (Cummings & Davies 1996, cit. Davies & Cummings, 1998).
uma criança procura mediar o conflito parental, isto pode revelar tentativas
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Implica uma definição tripartida da emoção: sentimentos intrapsíquicos, motivação do
comportamento e representações.
(Jourilies, Murphy & O’Leary, 1989; Wolfe, 1987, cit. Cummings & Davies,
1994), pelo que crianças de famílias como estas podem sentir-se motivadas a
pode ser uma forma bem sucedida de reduzir a exposição ao stress ou, em
divórcio) acerca das relações familiares. Tais representações, por sua vez,
1991, cit. Davies & Cummings, 1998). Assim, o nível de segurança emocional
Parental Conflict Story Completion Task (Davies & Cummings, 1998). Assim,
para avaliar o ponto de vista das crianças face a situações de conflito foram
pedindo-se depois à criança que imagine que o conflito que está a ocorrer é
que são feitas várias questões que permitem avaliar as três dimensões da sua
internas das relações maritais, que medeia a ligação entre o conflito marital e
por exemplo, as relações dos pais com a criança. Desde modo, criam-se
criança.
mãe, criança).
outros processos de mediação significativos (cf. Grych & Fincham, 1990). Por
FIGURA 3.4 - Modelo teórico sobre o papel mediador da segurança emocional na relação entre o
funcionamento marital e o ajustamento psicológico da criança (Davies & Cummings, 1998)
Representações Sintomas de
internas das externalização
relações maritais das crianças
Funcionamento
Marital Reactividade
1. Destrutivo emocional
2. Construtivo
Regulação Sintomas de
da exposição ao internalização
afecto parental das crianças
Cummings, 1998).
o significado que o conflito tem para ela. Sugerem os autores que as crianças
procedimento tem a vantagem de poder ser usado com crianças muito novas
autorelatos dos pais das próprias crianças), mas exige todavia um negociar
obstáculos à investigação.
Okun (1996)
3.5), num estudo em que participaram 121 crianças com idades entre os 7 e
6 Relacionamento
4 com pares
Auto-estima
Competências sociais
Stress
2 3
Violência materno Ajustamento
doméstica & saúde da criança
mental
À mãe: Problemas de
abuso físico comportamento
Abuso psicológico 5 Desordem de stress
Duração do abuso Pós-traumático (DSPT)
N.º de parceiros 7 Depressão
abusivos Suicídio
Figura 3.6).
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Fauber e Long consideram que grande parte da relação entre o conflito marital e os problemas
emocionais de jovens adolescentes pode ser explicada indirectamente pelas inconsistências
relacionadas com as práticas parentais (Harold & Conger, 1997).
propostas.
Hostilidade
parental
dirigida ao
adolescente
Percepção do
Conflito adolescente da Stress do
Marital hostilidade Adolescente
parental
Consciência do
adolescente da
frequência do
conflito
Stress do
Adolescente
hostilidade que este constrói que lhe causa directamente desconforto (Harold
sendo que quanto maior for hostilidade percebida como dirigida a ele, maior é
assuma tais acções como parte do seu próprio estilo interacional. Concluem
1997).
indivíduo que experimente mais stress que outro, terá uma visão de si menos
favorável, uma visão mais negativa dos outros (como os pais) e está menos
relatavam algumas crianças (cf. Sani, 2002). Por outro lado, simplifica
CONCLUSÃO
& Forgays, 1996; Davies & Cummings, 1994; Grych & Fincham, 1990; Jaffe,