FLS Drama Ou Tragedia

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Frei Luís de Sousa

Género literário da obra

Frei Luís de Sousa é um drama de índole trágica, apontando para o hibridismo de género.

A obra Frei Luís de Sousa não é exemplo típico nem de uma tragédia clássica nem de um drama
romântico. É uma obra híbrida, a nível da classificação quanto à sua natureza. O próprio Almeida Garrett o
diz na "Memória ao Conservatório Real", texto por meio do qual faz a apresentação da sua peça:
"Contento-me para a minha obra com o título de drama; só peço que a não julguem pelas leis que regem,
ou devem reger, essa composição de forma e índole nova; porque a minha, se na forma desmerece da
categoria, pela índole há de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico."

O drama romântico é um género teatral em que aparecem unidos o elemento trágico e o cómico, o
sublime e o grotesco. O drama parte da realidade, tenta retratar a vida real, mas apresenta uma série de
situações com diversas personagens que se envolvem em vários episódios, sucedendo-se rápida e
confusamente, sem unidade de ação e por vezes com falta de verosimilhança. O desfecho pode ser
trágico ou não. Com este género pretendeu-se que a representação se aproximasse da realidade e, assim,
ir ao encontro dos interesses e gostos do novo público – o burguês.
Quais são as características do drama romântico?
Garrett constrói um drama romântico definido pelos princípios de estética romântica:
- o uso da prosa;
- o assunto nacional;
-a valorização dos sentimentos humanos das personagens;
- o ser humano como vítima das suas próprias atitudes/paixões, deixando de ser um joguete do destino;
- o pendor social (espelha a verdade social e a realidade dos acontecimentos quotidianos);
- a linguagem fluente e coloquial, próxima da realidade vivida pelas personagens.

Características românticas presentes em Frei Luís de Sousa:


- a crença no sebastianismo;
- o amor à pátria (patriotismo e nacionalismo);
- as crenças em agouros, superstições e visões;
- o fatalismo (as personagens tentam negar racionalmente o destino, sem o conseguir),
- a religiosidade;
- a apologia do individualismo (o confronto entre o indivíduo e a sociedade; a felicidade individual é
contrariada pelas normas sociais);
- a aspiração da liberdade;
- a exacerbação dos sentimentos;
- a noite (a ação passa-se ao fim da tarde, noite e madrugada);
- o tema da morte – a morte como solução para os problemas);
- o mito do escritor romântico (Frei Luís de Sousa);
- a intenção pedagógica: a problemática dos filhos ilegítimos e a denúncia da falta de patriotismo.

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A tragédia clássica, cultivada na Grécia antiga, é um género nobre. As personagens, ilustres,
protagonizam uma ação recheada de atitudes nobres, de coragem, mas em que o protagonista, pessoa
justa e sem culpa, caminha inexoravelmente em direção à desgraça ou à morte, vítima de um destino que
não consegue vencer. O fim da tragédia é o de provocar o terror e a piedade.

Características da tragédia presentes em Frei Luís de Sousa:

Desafio D. Madalena desafia o destino, apaixonando-se por Manuel de Sousa Coutinho


(Hybris) quando ainda estava casada com D. João de Portugal. Manuel de Sousa desafia
politicamente o poder instituído, ao incendiar o seu palácio.
Sofrimento Atinge todas as personagens: o sentimento de culpa de Madalena, a
(Pathos) instabilidade emocional de Maria; a aflição de Manuel de Sousa ao aperceber-se
da ilegitimidade de sua filha, a angústia de Telmo que se sente dividido entre a
fidelidade a D. João e o amor que entretanto ganhou a Maria.
Conflito É visível no dilema vivido por Telmo e que o divide entre o seu amor a Maria e a
(Ágon) fidelidade a seu amo, D. João de Portugal.
Destino Encontra-se presente quando os espanhóis escolhem o palácio de Manuel de
(Anankê) Sousa para habitar, determinando assim a mudança da família para o palácio de
D. João; de igual modo, é o Destino a determinar a ausência deste e o seu
regresso 21 anos depois.
Peripécia Mudança de rumo da situação – o incêndio e regresso inesperado de D. João
(Peripéteia) vem alterar a ordem da família deste texto pois o casamento de Madalena e de
Manuel de Sousa é anulado
Reconhecimento O momento em que o Romeiro se revela como sendo D. João de Portugal ( a
(Anagnórisis) Frei Jorge e a Telmo)
Clímax O auge emocional – momento em que D. Madalena sabe que D. João está vivo
Catástrofe A separação de Madalena e de Manuel de Sousa quando optam pela vida
religiosa ( morte para o mundo); a morte de Maria; D. João ganha consciência de
que não é ninguém uma vez que perdeu a casa, a vida que tinha e a mulher.
Coro Representado, sobretudo, por Telmo e Frei Jorge.
Catarse/Purificação Reflexão purificadora do espectador/leitor – a irreversibilidade dos
(Kátarsis) acontecimentos e a vulnerabilidade das personagens provocam a piedade e a
comoção

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