Odisseia PDF

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ὈΔYΣΣΕΙΑ

AULA 1

Sonia Zaghetto
Tradição Oral

▪ A cultura e a tradição são transmitidas oralmente de uma geração a


outra: leis, saberes, histórias folclóricas.
▪ Usada quando não se tem um sistema de escrita.
▪ Conteúdo: contos, provérbios, baladas, canções, hinos, lendas, mitos.
▪ Ritmo e marcas próprias para “ajudar a memória” de quem recita. Mais
fácil decorar uma canção, mesmo longa, que um discurso.
▪ As epopeias indianas e gregas têm fortes marcas de transmissão oral:
fórmulas, ritmo e epítetos. (Albert Bates Lord/ Milman Parry)
Epopeias

▪ Antiguidade. Marcam o nascimento das nações.


▪ Na forma oral, aparecem em momentos de transição.
▪ Celebram a narrativa e os valores heroicos em ideais fundamentais de um povo
▪ As epopeias literárias registram nações que virão a ser impérios. E estes depois as
apresentam como testemunhas de sua grandeza.
▪ Poema longo de um povo primitivo X epopéia: uma grande nação. Língua x dialeto.
▪ Inicia com a invocação às musas e integra homens e deuses e outros seres
sobrenaturais.
▪ Tom grandiloquente, narração objetiva, métrica perfeita, grandes desafios.
Ὀδύσσεια - Odisseia
• Poema épico da Grécia Antiga, atribuído a Homero.
• É uma sequência da Ilíada.
• Historicamente, seria a segunda obra fundadora do
cânone literário ocidental.
• Elaborada ao longo de séculos de tradição oral.
• Forma fixada por escrito, provavelmente, no fim do
século VIII a.C.
• 12 mil versos em hexâmetro dactílico.
• Tempo da ação: 41 dias, mas cobrindo pelo menos
dez anos de história porque inclui flashbacks.
Tema da Odisseia – Aristóteles, na Poética

▪ De fato, breve é a história da Odisseia: um homem


vagueia, longe de casa, por vários anos, vigiado por
Poseidon, e solitário; os problemas em sua casa são
tais, que seus bens são consumidos por
pretendentes de sua esposa que armam traições ao
seu filho. Mas ele regressa após um naufrágio, dá-
se a reconhecer a algumas pessoas, ataca os
adversários e enfim se salva, destruindo os
inimigos. Eis o que é essencial; tudo o mais são
episódios. (Poética, XVII, 173)
Tema da Odisseia e recursos literários

• O poema relata o regresso de Odisseu, rei de Ítaca, herói da Guerra de Troia.


• É a história do “herói de mil estratagemas/ardis que tanto vagueou, depois de ter
destruído a cidadela sagrada de Troia, que viu cidades e conheceu costumes de
muitos homens e que no mar padeceu mil tormentos, quanto lutava pela vida e
pelo retorno dos seus companheiros ”.
• Odisseu leva dez anos para chegar à sua terra natal, Ítaca, depois da Guerra de
Troia, que também havia durado dez anos. A trama da narrativa não é linear – e
por isso extremamente moderna, muito original. As mais famosas são as
digressões.
• Não contém análise psicológica dos personagens (isso só seria inventado muitos
séculos depois). O discurso é direto, a narrativa pura e simples dos feitos de reis,
deuses, guerreiros, mulheres, criados e escravos.
• Permite leituras metafóricas ainda hoje muito potentes.
Linguagem homérica

• A linguagem homérica combina dialetos diferentes, inclusive com


reminiscências antigas e palavras/construções fora do uso comum. Em
resumo, uma língua artificial, porém compreendida.
• Composto em hexâmetro dactílico, o poema era cantado por um aedo
(cantor), que também tocava, acompanhando, a cítara ou fórminx.
(Odisseia, canto VIII, versos 43-92; e Ilíada, canto IX, versos 187-
190). Fêmio e Demódoco, na Odisseia, são exemplos de aedos.

▪ A influência homérica é perceptível na Eneida, de Virgílio; n’Os


Lusíadas, de Camões; nos contos de fadas, no cancioneiro medieval e
na literatura moderna, no Ulysses, de James Joyce, sem mencionar
séries, filmes, canções e poemas, como Ithaka, de Constantin Cavafy.
Estrutura
▪ A Odisseia inicia no chamado in medias res ("no meio
das coisas, da trama, no caso)
▪ A trama já vem inserida no meio de uma história
mais ampla, e com os eventos anteriores sendo
apresentados via digressões. Há jogos de palavras,
elipses temporais e narrativas dentro da própria
história.
▪ Essa forma de narrar foi imitada por diversos autores
posteriores, como Virgílio, Alexander Pope e Joseph
Conrad.
A ação está dividida em três tempos
principais

▪ 1) Penélope e Telêmaco em Ítaca + viagem de


Telêmaco. Tempo real.
▪ 2) Chegada de Odisseu à terra dos Feácios,
onde narra suas aventuras. A ação recua em
vários anos.
▪ 3) Regresso de Ulisses a Ítaca e morte dos
pretendentes. Tempo real.
Tempo 1
▪ Presume-se em Ítaca a morte de Ulisses (ausente há vinte anos).
▪ Sua esposa Penélope e o seu filho, Telêmaco são obrigados a lidar com um
grupo de pretendentes, que competem para casar com Penélope enquanto
dilapidam os bens da família.
▪ Athena interfere junto a Zeus, na ausência de Poseidon (que odeia Ulisses).
Telêmaco tenta assumir o controle da situação e orientado por Atena, viaja
em busca de notícias do pai.
Tempo 2
▪ A cena muda (mas ainda em tempo real): Odisseu é mantido
cativo pela bela ninfa Calypso. Já está há sete anos preso.
▪ Após ser libertado pela intercessão de Atena, ele parte.
▪ Porém, a sua jangada é destruída por Poseidon, ainda furioso
por Odisseu ter cegado o seu filho, o ciclope Polifemo.
▪ Quando Odisseu, náufrago, alcança uma praia de Esquéria,
terra dos feácios, é auxiliado pela princesa Nausícaa e depois
pelo rei, de quem recebe hospitalidade. Ele narra aos feácios -
e ao leitor - as suas aventuras desde a partida de Troia.
Tempo 3

▪ Os feácios, construtores de navios, conduzem


Odisseu a Ítaca, onde recebe a ajuda do pastor
de porcos Eumeu e é reconhecido pela serva
Euricleia.
▪ Odisseu encontra Telêmaco e Penélope, mata
os pretendentes e retoma seu lugar.
Divisões

▪ Divisão em 24 livros. Desenvolvida pelos editores da Biblioteca de


Alexandria no século III a.C.
• No período clássico, os livros recebiam títulos especiais. Os primeiros
quatro cantos, que se concentram em Telêmaco, eram chamados de
Telemaquia; a narrativa de Odisseu, no livro 9, que contém seu encontro
com o ciclope Polifemo, era a Ciclopeia; e o livro 11, que registra o
encontro de Ulisses com os espíritos dos mortos no Hades, era a Néquia (ἡ
νέκυα). Os livros 9 a 12, onde Odisseu narra suas aventuras para seus
anfitriões feácios eram chamados Apólogos, ou "histórias". O livro 22, no
qual Odisseu mata os pretendentes de Penélope era chamado
Mnesterofonia, ou "massacre dos pretendentes“ (Μνηστῆρες).
• Os últimos 548 versos da Odisseia (livro 24), são tidos por alguns
estudiosos como uma adição feita por um poeta posterior.
Odisseu, o personagem principal
▪ Odisseu não “evolui”. Ele chega exatamente o mesmo ao fim da Odisseia.
▪ Também não é um herói romântico, cheio de idealismo, compaixão e bondade.
Odisseu é na maioria das vezes orgulhoso, duro, interesseiro, implacável, egoísta,
saqueador de cidades.
▪ O traço heroico de Odisseu é a sua mētis, a argúcia. Mas ele a utiliza em criativas
soluções, além de blefes, mentiras, logros, manipulações, estratagemas e traições.
▪ Os ardis podem ser tanto físicos (alterando sua aparência, como quando se disfarça
de mendigo) como verbais (diz a Polifemo que seu nome é oυτις (ninguém).
▪ A falha de caráter mais evidente em Odisseu é sua soberba (a hübris). À medida
que navega para longe da ilha dos ciclopes, ele grita seu próprio nome, gabando-se
que ninguém pode derrotar o “grande Odisseu". Polifemo apela para seu pai,
Poseidon, pedindo vingança e narrando o que fez Odisseu. Eis a razão da ira de
Poseidon. A hübris, a desmedida, é sempre punida exemplarmente pelos deuses.
Como Odisseu se tornou Ulisses?

▪ Ὀδύσσεια x Odisseia
▪ Υ, υ (üpsilon) é diferente de I, i (iota)

▪ Ὀδυσσεύς
▪ Ὀλυσσεύς (Olysseus) - Οὐλίξης (Oulixēs)
▪ Ver canto 19. Versos 406 – 409.
“Por isso, que seja Odisseu o seu nome”. O avô materno de Odisseu veio a Ítaca para dar-lhe
nome. O nome escolhido vem do verbo odyssathai (ter sentimentos hostis ou inimizade contra
alguém). É praticamente uma maldição e retrata bem a trajetória futura de Odisseu.
Este nome tem muitos significados. É um verbo em média voz, algo entre a voz ativa e passiva:
causa e sofre dor. Permite vários trocadilhos em grego.
Demais Personagens – Núcleo Ítaca

▪ Penélope, esposa de Odisseu


▪ Telêmaco, filho de Odisseu
▪ Laerte, pai de Odisseu
▪ Eumeu, cuidador de porcos
▪ Euricleia, criada da casa de Odisseu
▪ Antinoo, pretendente de Penélope
▪ Eurimaco, pretendente de Penélope
▪ Fêmio – Poeta/aedo
Personagens – Núcleo dos Feácios

• Alcínoo, rei dos Feácios


• Areta, rainha
• Nausícaa, princesa
• Laodamante, Hálio e Clitóneo, príncipes
• Equeneu, velho herói
• Demódoco, aedo/poeta
• Anfíloo e Euríalo, atletas
Personagens – Núcleo Olimpo

• Zeus, o maior dos deuses


• Athena, deusa da sabedoria e da guerra
• Poseidon, o deus dos oceanos
• Éolo, deus dos ventos
• Hermes, o mensageiro dos deuses
• Hélio, o deus-sol
• Circe, a feiticeira
• Calypso, ninfa
• Leucoteia, deusa branca
Monstros e criaturas na Odisseia

• Cila, monstro com doze pernas e seis cabeças. Habita o


interior de uma gruta.
• Ciclopes, gigantes de um olho só, dedicados ao pastoreio e
que vivem em estado selvagem. Símbolo dos bárbaros.
• Caríbdis, monstro que três vezes ao dia sorvia e vomitava a
água do mar.
• Sereias, com seus belos cantos seduzem os homens,
devorando-os depois.
• Lotófagos ("Comedores de Lótus"), povo que se alimenta de
flores de lótus, o que provoca esquecimento.
• Lestrigões, gigantes canibais.
Invocação à musa: Calíope

▪ Calíope é a musa da poesia épica, da ciência e da eloquência. De Bela voz (Kallos + ops) .
▪ Filha de Zeus e Mnemósine (memória), é uma das noves musas, que têm por missão a inspiração dos seres
humanos na arte e na ciência.
▪ As outras musas são:
▪ Clio (Musa da história),
▪ Tália (Musa da Comédia e da poesia ligeira),
▪ Melpómene (Musa da Tragédia e da harmonia musical),
▪ Érato (Musa da poesia erótica)
▪ Urânia (Musa da astronomia)
▪ Polímnia (Musa da poesia sacra),
▪ Terpsícore (Musa da dança e do canto)
▪ Euterpe (Musa da poesia lírica).
Calíope. Καλλιόπη

▪ Primeira musa.
▪ Da união com Eagro, rei da Trácia ou
de Apolo (deus da música), Calíope torna-se
mãe de Orfeu (poeta e músico).
▪ Calíope era representada com uma lira;
depois com estilete e tabuinhas de escrita
nas mãos. Na modernidade, com livros. De
porte majestoso, traz coroa de ouro, tem
supremacia sobre as demais musas. Hesíodo
e Ovídio a chamavam “chefe das musas”.

▪ Pintura: Calíope. Cesare Dandini.


Simon Vouet: Apolo e as musas
Simon Vouet: Calíope e Urânia
Calíopoe (detalhe da pintura de Simon Vouet: Calíope e Urânia)
Demódoco cantando perante Ulisses e Alcínoo. Ilustração de
John Flaxman (1810)
William Blake. The Sea of Time and Space (Vision of the Circle of
the Life of Man).
Ulisses e as Sereias (1891) - John William Waterhouse

Caption
Odisseu e as Sereias, vaso, c. 480–470 AC (Museu Britânico)
Canto XII
Athena revela Ítaca a Ulisses, de Giuseppe Bottani (século 18)
Ulisses e Telêmaco matam os pretendentes de Penélope, de
Thomas Degeorge (1812)
Placa de terracota do ogro mesopotâmico Humbaba, que se acredita ser
uma possível inspiração para a figura de Polifemo.
- Gilgamesh
Penelope questiona Odisseu para provar sua identidade.
Johann Heinrich Wilhelm Tischbein
Odisseu e Euricleia. Christian Gottlob Heyne
Apoteose de Homero (1827), Jean-Dominique Ingres
Rapsodo sobre uma bema.
Ânfora (c. 490 a.C.)
Pintor de Kleóphrades

▪ “Pintor de Kleophrades” é o nome


genérico dado a um pintor de vasos
ateniense cujo nome jamais foi
conhecido. Esteve ativo entre 510 e 470
aC. Seu trabalho é considerado um dos
melhores na técnica chamada “cerâmica
de figuras vermelhas”. Ele é identificado
por seu estilo.
▪ Um dos maiores pintores de cerâmica do
final do período arcaico em Atenas, teve
alunos, entre os quais seu rival, o
chamado Pintor de Berlim.
▪ O nome “Pintor de Kleophrades ", foi dado
a ele em 1910 pelo classicista John
Beazley.
Mosaico romano. Ulisses e as sereias

Caption
Odisseu na Corte de Alcinoo. Francesco Hayez
Mosaico representando Odisseu. Vila de La Olmeda, Pedrosa de
la Vega, Espanha. Séculos IV-V DC
Charles Gleyre, Odysseus and Nausicaa
Polifemo
Guido Reni. 1639
Cratera (espécie de vaso) etrusca de Aristonoto (século VII a.C.).
Ulisses e os companheiros cegando Polifemo
Ulisses Fugindo da Caverna de
Polifemo.
Christoffer Wilhelm Eckersberg.
1812.
Estatueta de terracota grega Polifemo reclinado, segurando
uma tigela. Final do século 5 ao início do século 4 aC, Beócia.
Polifemo tenta esmagar o barco do fugitivo Odisseu. Arnold Bocklin, 1896.
Odisseu e Calypso. Arnold Bocklin, 1882
A deusa
Calypso
resgata
Ulisses.
Cornelius
van
Poelenburg
h (1630)
Odisseu e seus companheiros cegam Polifemo. Ânfora
Calypso chamando o céu
e a terra
para testemunhar seu
sincero afeto por Ulisses.

Angelica Kauffman
(século 18)
Ulisses escapando da Caverna de Polifemo. Jacob Jordaens.
1635.
Calypso. Henri Lehmann (1869)
Hermes ordenando que Calypso liberte Odisseu. Gerard de
Lairesse (1670)
Calypso
recebendo
Telêmaco
e Mentor na
Gruta. William
Hamilton
(século 18)
Odisseu como hóspede da ninfa Calypso. Hendrick van Balen
(1616)
Circe oferece a taça a Odisseu
John William Waterhouse. 1891.
Ilha do Calypso. Herbert James Draper (1897)
Hermes ordena que Calypso liberte Odisseu. John Flaxman
(1810)
Calypso, a
deusa
loira. Jan
Styka.
Circe e Cila. John
William
Waterhouse na
obra Circe
Invidiosa (1892)
Ulisses na ilha de
Calypso.
Ditlev Blunck (1830)
Angelica
Kauffman, Circe
seduzindo
Odysseu (1786)
Frederick S. Church. Circe (19020
Ulisses escapando da Caverna de Polifemo. Jacob Jordaens.
1635.
Ulisses escapando da Caverna de Polifemo. Jacob Jordaens.
1635.
Cila no reverso de um denário cunhado por Sexto Pompeu.
Século I a.C
Ulisses escapando da Caverna de Polifemo. Jacob Jordaens.
1635.
Gravura do século 19 do Estreito de Messina, o local associado a
Cila e Caribdis
Odisseia,
▪ Manuscrito
▪ Século XV
Retrato do estudioso renascentista grego Demetrios Chalkokondyles,
que produziu a primeira edição impressa da Odisseia, em Florença,
1488. Domenico Ghirlandaio.

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