Sociologia Rural e Urbana

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Sociologia rural e urbana

Maurice Merleau-Ponty (2005; 2006) nos convida a não abandonar as dimensões


que tragam ambiguidade aos estudos; como desafios a serem considerados no
combate às reduções excessivas do real.

Quando se admite a existência de uma multiplicidade de julgamentos


cognitivos correspondentes à multiplicidade dos quadros sociais, a
coexistência de diversos desses julgamentos e a reunião de diversas
hierarquias de valor, ainda que contraditórias, no interior de qualquer
sociedade, tornam-se também admissíveis (QUEIROZ, 1972a, p. 63).

[a relação campo-cidade, “ruralização” ou “urbanização” de uma


sociedade devem ser tomadas] como dois fatos que podem ter áreas que
se recobrem, enquanto outras permanecem distintas; que ora convergem
em seus processos internos, ora divergem; que às vezes se associam em
complementaridade, e outras vezes se opõem.
[…]
A sociologia rural precisa abandonar seus falsos problemas e admitir um
dado fundamental: o campo nunca pôde ser compreendido por si mesmo,
pois se ele existe, é porque existe a cidade – e vice-versa. A cidade pertence
ao universo do campo, como o campo pertence ao universo da cidade.
Quando falamos numa Sociologia Rural diremos que é do ponto de vista
do rural que nos colocamos para compreender as relações entre o rural e
o urbano; e no ponto de vista urbano quando fizermos Sociologia Urbana.
Quando esta regra fundamental é esquecida, chegamos a explicações falsas,
ou ficamos girando em círculo diante de questões que parecem insolúveis
(QUEIROZ, 1978, p. 309)

os fundamentos racionais clássicos da sociologia rural – como em José Arthur


Rios – e urbana – de acordo com a Escola de Chicago, Park, Wirths ou M. Delle
Donne etc. –, além de
correntes, classificações e conexões, bem como suas rupturas – analisadas por J.
J. Martins, J. E. Veiga, R. Abramovay, Otávio e Gilberto Velho, R. Sennet, Henri
Lefebvre, M. Castells.
História e epistemologia teriam, assim, implicações (e negações) mútuas, pois as
coisas se transformam, e as teorias a reboque destas, o que também provoca
avaliações mutáveis. Sempre estaremos fazendo história das coisas e trazendo as
coisas da história. Em suma, apesar das imagens persistentes, não é mais
possível, sem excessivas generalizações, identificar áreas como sendo
estritamente rurais ou urbanas.
Sociologia de Durkheim
O esquema apresentado por Rodrigues (2000) a fim de facilitar a visualização da
teoria sociológica de Durkheim, embora represente certa violência, é um esforço
de simplificação didática dessa teoria.
Desse modo, o esquema é um roteiro de leitura da obra durkheimiana.

O positivismo representa um esforço intelectual e político evolucionista na


esteira da visão de progresso do Iluminismo, em perseguição impossível da
harmonia como marca de equilíbrio no conjunto social,
RODRIGUES, J. A. (Org.). Durkheim. São Paulo: Ática, 2000. (Coleção
Grandes Cientistas Sociais)
Florestan Fernandes (1972a), expandindo a de
Karl Mannheim, e indica seis áreas básicas:
• Sociologia sistemática: plano de ordenamento, nexos das relações, nas frentes
da “sociologia
sistemática estática” (estruturas e funções, como nas ações sociais, por exemplo),
e da “sociologia
sistemática dinâmica” (processos de competição e de cooperação, por exemplo).
• Sociologia descritiva: afeita à observação da realidade a ser recomposta
sensorial e
intelectualmente, portanto dependente de trabalhos de campo, que dá sua
configuração
presumidamente acabada (pesquisa participante em comunidades, por exemplo).
Sociologia comparada: procura tanto o que há em comum como o que há de
particular nos
agrupamentos estudados, com objetivos prescritivos; além da evolução de
determinados aspectos
ou comportamento de indivíduos e grupos, focalizando-os como processos
(comportamento e
adaptação simbólica de rituais aos diferentes contextos históricos, como aqueles
do judaísmo
transformados pelo catolicismo, por exemplo).
• Sociologia diferencial: procura a individualidade de cada grupamento
estudado; sua alma, ou
psique (carnaval brasileiro, os quilombos, por exemplo).
• Sociologia aplicada: prescritiva, normativa, estabelece as melhores condições
para implantar e
planejar (pesquisa participante em comunidades, por exemplo).
• Sociologia geral ou teórica: encampa as demais, verificando sua facticidade e
alcance (discussão
sobre a validade, consistência e coerência dos instrumentos de pesquisa, por
exemplo).
Fernando de Azevedo (apud LAKATOS, 1990, p. 26),
A Sociologia da Comunidade, Sociologia Rural e Sociologia Urbana estudam,
respectivamente, a
organização, os problemas sociais das comunidades e a diferenciação do espaço
socioecológico; o modo
de vida rural e a natureza das diferenças rurais e urbanas; as alterações
socioculturais que ocorrem no
contínuo rural-urbano, origem e evolução das cidades e o urbanismo como modo
de vida: mudanças
socioeconômica-culturais determinadas pela concentração de uma elevada
população, de composição
heterogênea, em limitada área geográfica (LAKATOS, 1990).

A primeira fase (1916-1920) foi marcada pelo estudo de Charles J. Galpin


(RIOS, 1979), “sobre a
anatomia social de uma comunidade agrícola” (p. 90). Esse estudo teve o mérito
de revelar a importância
da comunidade e as linhas essenciais de sua estrutura.

m 1920, na segunda fase (1929-1930), identifica-se o apogeu da disciplina, com


a definição de
seu conteúdo. Galpin, novamente, tem aí papel fundamental: utilizar parte do seu
orçamento (de gestor
público) em projetos cooperativos nos quais participavam sociólogos de todo o
país, com afinidade nos
diversos aspectos da vida rural. Foi um período profícuo, com muito trabalho
acadêmico (universitário)
acompanhado de incremento produtivo por meio de atividades extensionistas “de
suas respectivas estações
agrícolas experimentais, um grande acervo de monografias sobre a vida rural”
(RIOS, 1979, p. 91-92)

A terceira fase de Rios (1930-1945) apresenta a “maturidade da disciplina e sua


expansão universal,
que ocorre principalmente entre 1930 e 1945”. Maturidade, expansão e
adensamento de trabalhos de
pesquisa, que contribui à rápida implantação do New Deal de Roosevelt no meio
rural. Foram elaborados
programas de ajuda ao campo, confiados aos sociólogos de enfoque rural dos
diversos Estados, aos quais
foram fornecidos amplos recursos. Almejava-se, assim, duas linhas de pesquisa
em escalas diferentes
de ação: “a execução, nas áreas escolhidas, dos planos traçados a nível nacional;
e projetos locais
previamente aprovados”. Rios aponta a importância desses programas que se
constituíram na espinha
dorsal dos estudos de sociologia rural de 1933 a 1936 (RIOS, 1979, p. 93)

Segundo Rios (1979), é preciso que os grandes mestres da sociologia rural


ofereçam novas sínteses
da realidade mutável. O autor passa a analisar a sociologia rural europeia da
seguinte maneira:
Ao contrário da americana, a sociologia rural europeia procurou fugir
a fatalidade de tornar-se uma mera sociologia da agricultura. Para isso,
diversos fatores contribuíram, a começar pelo próprio cenário rural europeu,
de passado secular, constituído de civilizações superpostas e de uma rica
arqueologia. Essa dimensão histórica é fundamental na compreensão da
maneira europeia de tratar a disciplina. Além disso, a Europa contava há
séculos com um tipo de povoamento concentrado, a aldeia, inexistente
na América, fora dos agrupamentos indígenas e onde, apesar de sua breve
aparição em certa fase da história colonial, não prevaleceu. Inexistente
na América portuguesa e espanhola, marca a forma da comunidade rural
europeia, dando-lhe características intransferíveis para o Novo Mundo (RIOS,
1979, p. 96).

Rios (1979) tenta estabelecer as fronteiras entre o modo estadunidense e o


europeu de trabalhar
sociologia rural, e ao analisar a produção de ambos como se fossem duas escolas
homogêneas, divisa
aspectos essenciais de ambas as produções: atribui à sociologia estadunidense
características de pesquisa
de fronteira do conhecimento (vertente normalmente associada à
instrumentalização da história pela
premência da tecnologia), enquanto caberia aos europeus certa tradição em
estudos monográficos,
com principado de estudos históricos. Tal constatação é verdadeira para as
demais ciências sociais,
principalmente na França.
Rios (1979) oferece uma lista de temas da década de 1070, que é de onde ele
fala:
Atualmente a sociologia rural europeia parece voltar-se para os problemas do
desenvolvimento. Seus temas habituais são 1) as atitudes e comportamentos
face ao progresso, isto é, resistências culturais psicossociais e socioeconômicas,
motivações etc.; 2) as relações comunitárias de vizinhança, solidariedade e
cooperação, num contexto de estratificação social, abrangendo as mudanças
ocorridas na interação e desencadeadas pelos sistemas de modernização,
mobilidade socioprofissional e geográfica das populações rurais, intensificada
pela adoção de novas tecnologias e pelas relações entre a cidade e o
campo, bem como entre a agricultura e outras atividades econômicas; 3) o
associativismo no meio rural, tanto de caráter profissional, cultural, recreativo
como os movimentos de juventude; 4) os métodos e técnicas de divulgação na
agricultura, encarados sob o aspecto da integração das atividades econômicas
e das estruturas de produção e comercialização na lavoura; 5) a difusão
de inovações, novas técnicas e novos conhecimentos; 6) a sociopedagogia
da promoção rural, setor que também no Brasil, por necessidades próprias
e também por influência francesa, teve grande expansão no começo da
década de 60, quando foi encarado como necessária à formação de adultos
e à educação de base; e ainda a substituição dos autodidatas na agricultura
por profissionais especializados; 7) as ciências domésticas e a modernização
do habitat rural; 8) os estudos sobre os objetivos do planejamento local e
regional; 9) a influência na vida rural das transformações ocorridas nas zonas
suburbanas, industriais e turísticas; 10) a previdência social na agricultura e
seus efeitos, bem como ação social para a reestruturação das organizações
agrícolas – campo de estudos inexistentes no Brasil, dado o caráter recente
e restrito da previdência social mas que certamente representará importante
filão nas décadas futuras e, finalmente 11) as pesquisas tecno-econômicas
que levam em conta a participação da estrutura agrícola no quadro geral do
desenvolvimento nacional (RIOS, 1979, p. 100).

Os principais autores da temática camponeses e agricultura familiar são:


MARTINS, J. S. O futuro da Sociologia Rural e sua contribuição para a
qualidade de vida rural. Estudos Avançados, v. 15, n. 43, 2001. Disponível
em: <http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/9820/11392>. Acesso em:
23 maio 2019.
MOURA, M. M. Invasão, Expulsão e Sucessão: notas sobre três processos
sociais no campo. Anuário antropológico, v. 7, n. 1, 1983. Disponível
em: <http://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/
view/6235/7764>. Acesso em: 23 maio 2019.
___. Camponeses. 2 ed. São Paulo: Ática, 1986.
___. Os deserdados da terra. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.
___. Os herdeiros da terra. São Paulo: Hucitec, 1978.

 Georg Simmel, sociólogo de grande interesse, trata da afetação mental das


pessoas pelas metrópoles
(SILVA, 2009). Procura as soluções individuais entre a normalização,
normatização e desejo de liberdade.
Preocupa-se com as tensões, os desgastes das relações indivíduo-
sociedade
O que importa ao autor é destacar que o deslocamento do foco do pequeno
círculo para a incomensurável medida da grande cidade produz no indivíduo
uma espécie de amortecimento dos sentidos. Essa paralisia das capacidades
afetivas e a amplificação da racionalidade se mostram tanto no perfil
psicológico dos habitantes da metrópole quanto nas próprias formas de
vida desse espaço urbano. Um elemento articulador desse universo, segundo
Simmel, é o dinheiro (SILVA, 2009, p.48).
Georg Simmel relaciona liberdade individual, limites da cidade e
população, categorias que estão na
base da vida urbana:
A característica mais significativa da metrópole é essa extensão funcional
para além de suas fronteiras físicas. Essa eficácia reage por seu turno e dá
peso, importância e responsabilidade à vida metropolitana. O homem não
termina com os limites de seu corpo ou a área que compreende sua atividade
imediata. O âmbito da pessoa é antes constituído pela soma de efeitos que
emana dela temporal e espacialmente. Da mesma maneira, uma cidade
consiste em seus efeitos totais, que se estendem para além de seus limites
imediatos. […] O ponto essencial é que a particularidade e incomparabilidade
que, em última análise, todo ser humano possui, sejam de alguma forma
expressas na elaboração de um modo de vida. O fato de estarmos seguindo
as leis de nossa própria natureza – e isto, afinal, é liberdade – só se torna
óbvio e convincente para nós mesmos e para os outros se as expressões
dessa natureza diferirem das expressões de outras. Apenas nosso caráter
inconfundível pode provar que nosso modo de vida não foi imposto por
outros (SIMMEL, 1973 apud SILVA, 2009, p. 49-50)
Mas não há dúvidas de que os conceitos de racionalização e calculabilidade
da vida, de autoproteção e de atitude blasé, bem como autoafirmação e
reconhecimento, apesar de facilmente encontrados em nossa vida cotidiana
adquirem outro aspecto a partir da forma como são utilizados por Simmel.
No final da história acabamos por olhar para nós mesmos, e também para
a cidade de outra maneira. Como se nós estivéssemos vagando pelas ruas e
identificando aqueles fenômenos, posturas individuais, sensações e, por que
não, cheiros das grandes metrópoles (SILVA, 2009, p. 52).
As cidades seriam tipos mistos e requereriam concepção interdisciplinar para
reconhecê-las como
conjunto de geografias complexas.
Vemos que existem diferentes origens e formas assumidas pelas cidades.
Essas diferenças articulam-se no decorrer da história do lugar e fazem com
que a definição dessas “instituições” agregue diferentes elementos. Podemos
alinhar enfim, uma primeira definição para o nosso tema: Apenas cabe dizer
que as cidades representam, quase sempre, tipos mistos e que, portanto,
não podem ser classificadas em cada caso senão tendo-se em conta seus
componentes predominantes. Neste caso, um dos elementos que se destaca
do conjunto para a apreciação da cidade é o econômico (WEBER, 1973 apud
SILVA, 2009, p. 60)

Segundo Eufrásio (1995), o desenvolvimento da sociologia nos Estados Unidos


da América pode ser
dividido em cinco fases: surgimento, difusão, consolidação, funcionalista e
diversificação:
• Surgimento: durante as duas últimas décadas do século XIX, introduziram-se
cursos de sociologia
em diversas universidades.
• Difusão: entre 1900 e 1920, a sociologia se difundiu entre as universidades e
faculdades dirigidas
às humanidades e às letras e, em 1905, foi criada a American Sociological
Society.
• Consolidação: entre 1920 e 1935, foram criadas linhas originais de trabalho nos
mais importantes
centros de ensino e pesquisa de sociologia no país, que se firmaram em tradições
próprias, e
paralelamente à ampliação do ensino de graduação e de pós-graduação.
Multiplicaram-se as
revistas especializadas e os contatos internacionais, ocorreu o desenvolvimento
de subdisciplinas
especializadas e a formação de equipes de pesquisa. Nesse período, predominou
a orientação
que se desenvolveu em Chicago, caracterizada por uma ecologia humana e uma
psicologia
social, ambas sociológicas e, secundariamente, a orientação surgida em
Colúmbia, na década
de 1930. Pelo prestígio e pela importância que ganhou dentro e fora dos círculos
acadêmicos,
a sociologia tornou-se conhecida como “a ciência americana”, difundindo-se e
influenciando a
de outros países.
• Funcionalismo: período de maior diversificação inicial, mas no qual acabaria
por vir a exercer
a influência mais importante, o funcionalismo de Harvard, secundado pelo
interacionismo
simbólico, surgido em parte em Chicago. Na década de 1960, emergiu o
movimento da chamada
“sociologia crítica”.
• Diversificação: etapa de grande diversidade de orientações teórico-
metodológicas e na qual se
consolida a proeminência internacional da sociologia americana

Na expansão da cidade, verifica-se frequentemente um processo de


distribuição que faz a triagem, classifica e ordena indivíduos e os grupos
de acordo com a residência e a ocupação. A diferenciação em áreas
cosmopolitas da cidade americana que daí resulta segue tipicamente um
único modelo, e apresenta apenas modificações de interesse menor. No
bairro comercial central ou numa rua adjacente, encontramos o “coração”
da hobohemia; a fervilhante Rialto dos nômadas do Middle West. […]. Na
zona deteriorada que circunda o bairro comercial, encontram-se sempre os
bas fonds e as chamadas ”terras áridas” com as suas miseráveis regiões de
pobreza, degradação e doença, e com os delitos e os vícios da má vida. Na
área deteriorada, existem os bairros com quartos de aluguel, o purgatório
das “almas perdidas” (DONNE, 1983, p. 34)
A seguir, estão disponibilizadas leituras sobre a questão urbana, desde
aquelas positivistas ou funcionalistas às mais críticas e interdisciplinares.
Teoria crítica:
GOTTDIENER, M. A produção social do espaço urbano. São Paulo: Edusp,
1993.
Panorama geral de escolas, autores e textos sobre o urbano:
DONNE, M. D. Teorias sobre a cidade. Lisboa: Edições 70, 1983.
Leitura especificamente acerca da Escola de Chicago:
EUFRASIO, M. A. Estrutura urbana e ecologia humana: a Escola
Sociológica de Chicago (1915-1940). São Paulo: Editora 34, 1999

Somente na medida em que o sociólogo tiver uma compreensão clara do


que seja a cidade como entidade social e possuir uma teoria razoável sobre
urbanismo, poderá ele desenvolver um corpo unificado de conhecimentos,
pois aquilo que passa por sociologia urbana certamente não o é atualmente.
Se se tomar como ponto de partida uma teoria sobre urbanismo […] a ser
elaborada, testada e revista à luz de mais análises e pesquisa empírica,
pode se esperar que seja determinado o critério de relevância e validade de
dados concretos. Esse sortimento heterogêneo de informações separadas
que foram incorporadas em tratados de Sociologia sobre a cidade poderá,
assim, ser filtrado e incorporado num corpo coerente de conhecimentos. A
propósito, somente por meio de uma teoria desse tipo, o sociólogo escapará
da fútil prática de enunciar em nome da ciência sociológica, uma variedade
de julgamentos, às vezes insuscitáveis, relativos a problemas tais como
pobreza, habitação, planejamento urbano, higiene, administração municipal,
policiamento, mercadologia, transporte e outros itens técnicos. Embora o
sociólogo não possa solucionar qualquer desses problemas práticos – pelo
menos não por si só – ele poderá, se descobrir sua função apropriada,
contribuir para a sua compreensão e solução. As perspectivas de fazê-lo
são mais claras através de uma abordagem geral, teórica, do que por uma
abordagem ad hoc (WIRTH, 1979, p. 112 apud SILVA, 2009, p. 83-86).

Como ficariam as relações dialéticas, dialógicas entre os modos de vida urbanos


e rurais? Para Henri
Lefebvre não teria lugar uma ciência da cidade (sociologia urbana, economia
urbana etc.), mas sim um
conhecimento em fase de elaboração do processo global, bem como de seu limite
(objetivo e sentido).
Queremos dizer com isso que o autor posiciona-se contra a denominação de
sociologia urbana por
entender que não é possível uma ciência (sociologia) da cidade (urbana). Para ele
O urbano não se
definiria como realidade consumada (embora incorporasse o campo), situada no
tempo como reflexo
da realidade atual, mas pelo contrário, como horizonte e como virtualidade
classificadora. Trata-se do
possível, definido por uma direção que, ao término do trajeto, se chega até ele.
Henri Lefebvre concebe
tal horizonte de possiblidades como projeto social.
Na discussão presente em A Revolução Urbana Lefebvre parte de uma
hipótese norteadora – a de que a urbanização completa da sociedade leva
à sociedade urbana e que esta sociedade urbana é uma virtualidade hoje.
Com essa hipótese propõe um rompimento das ambiguidades no estudo do
urbano, nos quais se colocava, sob um mesmo nome, tipos muito diferentes
de cidades.
Segundo ele, a categoria sociedade urbana é aplicada à sociedade que surge
com a industrialização, isto é, caracterizada por um processo de dominação
e assimilação da produção agrária. E concebida como culminação de um
processo em que, através de transformações descontínuas – ou seja, com
intervalos de tempo –, as antigas formas urbanas detonam [explodem]. Dito
de outra forma, para Lefebvre, a sociedade urbana só pode ser concebida ao
final de um processo, no curso do qual explodem as antigas formas urbanas,
herdadas de transformações descontínuas.
Concebe a sociedade pós-industrial como aquela que nasce da
industrialização e a sucede. Pode ser conceituada como sociedade urbana
que se refere mais que a uma realidade palpável, a uma tendência, uma
orientação e a uma virtualidade (SILVA, 2009, p. 109).

Manuel Castells define espaço urbano como “certa parte da força de trabalho, por
um mercado de
emprego e por uma unidade relativa do seu cotidiano, ou seja, o urbano é a
conotação do processo de
reprodução da força de trabalho” (apud SILVA, 2009, p. 122). Para ele, o avanço
capitalista produziria
sociedades e a estruturação do espaço está fundada na “reprodução simples e
ampliada da força de
trabalho”; e aponta que “o conjunto das práticas ditas urbanas conotam a
articulação do processo
ao conjunto da estrutura social”, e no que concerne ao nosso enfoque dos
estatutos, das expressões
históricas do campo e da cidade, Castells
dirá ser possível analisar a cidade, não como uma variável independente
como fizeram na Escola de Chicago, mas como resultante das relações entre
os elementos da estrutura social. Assim, o urbano conota uma unidade definida,
seja na instância ideológica, seja na jurídico-político, seja na econômica.
Sua obra se centra na revisão da produção acadêmica sobre o tema e,
sinteticamente ele distingue dois sentidos, extremamente distintos, do
termo urbanização: concentração espacial de uma população, a partir de
certos limites de dimensão e densidade e; difusão do sistema de valores,
atitudes e comportamentos denominados “cultura urbana” (CASTELLS, 1983
apud SILVA, 2009, p. 122)

sociedade é tipo ideal weberiano com vínculos teóricos e concretos dos


mais diversos graus de coesão entre os agentes sociais, e cuja existência se
manifesta na trama de ações
das diversas relações que despontam para os próprios agentes que as engendram.
Comunidade baseia-se em laços e vizinhança; comunidade é “o que essa palavra
evoca, é tudo
aquilo de que sentimos falta e de que precisamos para viver seguros e confiantes”
(BAUMAN, 2003, p. 9).
O Estado, para Bobbio, era mais fácil de ser definido negativamente (como
sociedade política em
oposição à sociedade civil) do que positivamente, isto é, mais fácil afirmar o que
ele não é. Haveria,
assim, três variantes principais:

[…] o Estado como negação radical e, portanto, como eliminação e


inversão do estado de natureza, isto é, como renovação ou restauração ab
imis com relação à fase do desenvolvimento humano anterior ao Estado
(modelo Hobbes-Rousseau);
o Estado como conservação-regulamentação
da sociedade natural e, portanto, não mais como alternativa, porém como
realização verdadeira ou aperfeiçoamento em relação à fase que o precede
(modelo Locke-Kant);
o Estado como conservação e superação da sociedade
pré-estatal (Hegel), no sentido de que o Estado é um momento novo e não
apenas um aperfeiçoamento (diferentemente do modelo Locke-Kant), sem,
porém, constituir uma negação absoluta e, portanto, uma alternativa (à
diferença do modelo Hobbes-Rousseau) (BOBBIO, 1982, p. 20).

Por isso, diz Ratzel: “A sociedade é o intermediário pelo qual o


Estado se une ao solo. Segue-se que as relações da sociedade com o solo afetam a
natureza do Estado em
qualquer fase do seu desenvolvimento que se considere” (RATZEL, 1983 apud
SILVA, 1984, p. 105).
Urbanização é o processo totalizante que molda os espaços, adequando-os à
lógica do sistema
produtivo global (SANTOS, 1999).
As organizações rurais e agrárias englobam tanto os aspectos produtivos quanto
os culturais e,
evidentemente, seu arranjo territorial. Procurando “sistematizar a cadeia de
relações entre objetos,
atividades, elementos materiais, cristalizações e organizações espaciais
específicas, que originam a
global capitalista” (CORRÊA, 2000, p. 52-53)
Urbano e cidade são, respectivamente, conteúdo (modo de vida urbano) e
forma-cidade (conjunto
das construções, instituições municipais, ela própria, a cidade, conjunto de
negócios). A legitimidade da
formação e dos vínculos de vizinhança e compartilhamento dos lugares,
fortalecidos no dia a dia, vem,
ao longo das últimas décadas (pós-anos 1970 com o acirramento da globalização
capitalista), cedendo
lugar à crescente institucionalização e mercantilização das relações sociais.
Rural e agrário são, respectivamente, conteúdo (modos de vida) e formas
agrárias (expressões
econômicas do trato com a terra, atividades agropecuárias, em geral).

O País inventou a fórmula simples da coerção laboral do homem livre: se a


terra fosse livre, o trabalho tinha que ser escravo; se o trabalho fosse livre,
a terra tinha que ser escrava (MARTINS, 1986, p. 3).
[…]
O fato singular de que a economia do café, no Brasil, tenha florescido
com base no trabalho escravo e tenha tido um segundo desenvolvimento
espetacular com base no trabalho livre constitui referência sociológica de
fundamental relevância para o estudo crítico de um dos complicados temas
das ciências sociais nesse cenário peculiar: o da transição de um modo de
produção a outro (p. 4).
Antônio Candido representou a parentela brasileira sob a forma
de círculos concêntricos: o núcleo seria formado pela família do
“patriarca” (ou do “coronel”), seguindo-os vários círculos concêntricos
com parentes, agregados, etc. Acreditamos que o esquema geométrico
mais adequado seja o da pirâmide truncada, formada internamente
de camadas sociais sobrepostas, divididas entre si pelo dinheiro e pelo
prestígio, pois mostra claramente a subordinação de umas camadas a
outras (QUEIROZ, 1976, p. 189).
Agir para resolver problemas no mundo da vida, bem abaixo do fluxo dos
pensamentos; das
experiências da vida, avançamos um pouco para as experiências sobre a vida,
sobre o modo de processar
os recursos necessários no curso do labor. Cabeça é a “parte” eleita do corpo-
sujeito percipiente das
respostas comportamentais no plano do irrefletido.

Segundo Mazoyer (2010); Haviland (2011); Mumford (1965); e Pinsky (2011), a


vida humana se
manifesta, desde sua aurora até os dias de hoje, como interações
multidimensionais de cunho social
entre pessoas, de modo que as combinações das condições espaço-temporais
específicas explicariam a
diversidade de expressões sociais da existência. Nesse caso, todos os
agrupamentos, sejam do neolítico
ou da contemporaneidade, apresentam-se como elaborações e construções
determinadas pelo trabalho
que realizam obrigatoriamente como cobrança da vida pela permanência.
Numa obra curta (206 páginas), intitulada Cidades Rebeldes, o geógrafo,
urbanista e
antropólogo David Harvey sustenta pelo menos três ideias polêmicas e
indispensáveis, num
tempo de crise financeira, ataque aos direitos sociais, risco de desastre ambiental
e rebeliões
contra o sistema. Elas estão expostas em detalhes em entrevista que Harvey
concedeu a
John Brissenden e Ed Lewis, do excelente site britânico New Left Project.
A primeira provocação do geógrafo – que é também um dos grandes estudiosos
contemporâneos de O Capital, de Karl Marx (veja a área especialmente dedicada
ao tema,
em seu site) – diz respeito ao papel das grandes metrópoles. Harvey discorda de
dois tipos
de pessimismo. Estes grandes centros para onde fluem as multidões de todo o
mundo no
século XXI, diz ele, são bem mais que templos da desigualdade, da vida
automatizada e
cinzenta, da devastação da natureza.
Nestas cidades, portanto, concentram-se tanto as energias do capital quanto às
melhores
possibilidades de superá-lo. Elas não são túmulos, mas arenas. Aí se dá o choque
principal
entre dois projetos para a humanidade.
Não cabe nostalgia em relação às batalhas dos séculos passados: é hora de
tecer redes entres os que buscam de muitas maneiras, nas cidades, construir
formas de vida
além dos limites do capital
David Harvey: Um pouco dos dois. Se há um argumento central, ele está nos
capítulos
2
(“As raízes urbanas das crises capitalistas”) e 5 (“Reivindicando a cidade para a
luta
anticapitalista”). O capítulo 2 é essencialmente sobre as relações entre capital e
urbanização;
o 5, sobre a oposição entre o capital e a urbanização. O conflito de classes está
basicamente
nos capítulos 2 e 5

Sociologia Economica

KUTTNER, R. Tudo à venda: as virtudes e os limites do mercado. São


Paulo: Companhia das Letras, 1998
A Sociologia Econômica, termo usado por Weber e Durkheim, é um
campo em expansão na academia brasileira. Pode ser definida “[…] como
a perspectiva sociológica aplicada a fenômenos econômicos” (SMELSER;
SWEDBERG, 1994). Essa área do saber critica a noção de Homos economicus
e a ciência econômica, ou seja, de forma mais concisa, seria a aplicação de
conceitos, ideias e métodos sociológicos a fenômenos econômicos como
mercado, comércio internacional, empresas, organizações etc. Esta definição
é estendida por Smelser, que adicionou a esta a interação pessoal, grupos,
estruturas sociais e controles sociais (SMELSER; SWEDBERG, 1994). A Nova
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Unidade IV
Sociologia Econômica (NSE) acrescenta as perspectivas de rede sociais,
gênero e contextos culturais como temas centrais da Sociologia Econômica
(SMELSER; SWEDBERG, 2005) (CARVALHO, 2015, p. 41).

As obras clássicas que cunharam o sentido e exemplificaram o uso do


termo Sociologia Econômica são aplicadas por Durkheim (1981) na sua
obra Da divisão do trabalho social, por Simmel (1989), em A filosofia do
dinheiro, e por Weber (1994), em Economia e sociedade. Esses trabalhos
assumem o papel de serem pioneiros no debate desse campo de estudo
e [citando Smelser e Swedberg, 2005, p. 7] “em segundo lugar, eles se
concentraram na a maioria das questões fundamentais do campo: O que
é o papel da economia na sociedade? Como é que a análise sociológica
da economia diferiu da dos economistas”? O que é uma ação econômica?
(CARVALHO, 2015, p. 41-42).

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