Daniel-Rops - Que É A Bíblia
Daniel-Rops - Que É A Bíblia
Daniel-Rops - Que É A Bíblia
QUE E A BIBLIA?
DANIEL-ROPS
da Academia Francesa
Tradução de
J. DUPRAT
SEI E CREIO
ENCICLOPÉDIA DO CATóLICO NO SÉCULO XX
SEXTA PARTE
FLAMBOYANT
A CRíTICA E A BíBLIA
JEAN STEINMANN
*
LIVRARIA EDITORA
FLAMBOYANT
QUE É A BÍBLIA?
POR DANIEL-ROPS
Da Academia Francesa de Letras
LIVRARIA EDITORA
FLAMBOYANT
NIHIL OBSTAT
São Paulo,10 de abril de 1958
Mons. HBLADIO CoRREIA LAURINI
IMPRIMA1UR
São Paulo, 10 de abril de 1958
Moas. LAPAYETTB
Ex delegatiooe
60
SEXTA PARTE - BlllLIA, LIVRO DE DEUS, LIVRO DOS HOMENS
QUE É A BíBLIA?
DANIEL-ROPS, DA ACADEMIA FRANCESA
Título do original francês:
JE S AIS - JE CROIS
I!NCYCLOP�DIE DU CATHOLIQUE AU xxHME SikLB
DO MESMO AUTOR
EDITADOS PELA FLAMBOYANT
A BC DA CRIANÇA CRISTÃ
1958
cado ora por Monta ign e e Ra cine , Shakespea re e wthe, o ra por Nie-
tzsche e Anatole France, ma is fêz ainda que fornecer assuntos sem
8 QUE É A BfBLIA ?
Estas obras cujo conjunto constituía a Bíblia, êstes livros, que te
mos por base de nossa fé, como foram compostos e a nós transmitidos?
Nossas "Bíblias" modernas dissimulam, sob aparência uniforme,
não somente a prodigiosa diversidade das partes, mas o mistério de
suas origens. Quem, folheando as páginas dêsse texto conciso, pen
sará no tempo em que essas palavras e essas frases se não apresen
taram sob o aspecto definitivo da impressão, mas sim proclamadas ou
salmodiadas ao auditório pela voz dos Arautos de Deus?
Bem antes de ser um texto escrito, a Bfblia, em sua maior parte,
constituiu ensinamento oral. Sob a forma de narrações, mais ou me
nos estereotipadas, de poemas ritmados e assonantes, de sentenças e
ditos vigorosos, seus elementos foram transmitidos, de geração em
geração, pela palavra, antes que o uso da escrita se ouvesse imposto.
E esta gênese especial, da qual outros livros orientais oferecem exem
plo, - tal o Alcorão, - acha-se em íntima relação com as próprias
formas da cultura, da vida do espírito, da linguagem, no povo em
que foi elaborada a Bíblia, formas de tipo simples e comunitário, em
que a criação literária era infinitamente menos individualista e in
t electual do que entre nós, e mais viva e expontânea.
Para que bem se compreenda como nasceu a Bíblia, é preciso que
nos desfaçamos de nossos hábitos de homens modernos, homens da
civilização do papel. Escrever e ler para nós são duas operações tão
·
nhos vivos que o Evangelho guarda o acento que nos toca o coração.
A necessidade, contudo, de guiar os transmissores do Evangelho,
e o desejo de evitar os desvios, erros, exageros e deformações exigi
ram que se recorresse à escrita. Através do texto definitivo dos qua
tro pequenos li vros , adivinha-se ainda o traço dêsses memoriais de
que os "porta-evangelhos" a princípio se serviram.
16 QUE É A BÍBLIA?
0 TRIUNFO DA ESCRITURA
.
� o escnto efetuou-se em datas diversas, por razões e condições
d1f�rentes. sem entrar nos pormenores de sábias discussõs, pode-se
.
�rm r�� a redação dos Evangelhos. Disse Papias que ·"Mateus
fot o prrmeuo a por ..
em ordem os ditos do Senhor, em língua he
braica". O primeiro dos "evangelistas" teria sido, portanto, o antigo
DE NOSSAS "BÍBLIAS" À PALAVRA 17
.:e apenas necessário dizer que não possuímos texto algum autó
grafo dos textos bíblicos, assim como também que não o temos de
Homero ou de Pindaro. :e, portanto, pelas cópias que os conhecemos.
Existem milhares de manuscritos da Bíblia, estando todos longe de
serem compilados. Em 1780, um sábio hebraizante, chamado Ken
nicot, tendo-se vangloriado de haver cotejado diretamente 261 manus
critos da Bíblia judaica e de ter examinado outros 349, um d os seus
DE NOSSAS "BÍBLIAS" À PALAVRA
------
19
A CRÍTICA TEXTUAL
0 "CJ.NON", REGRA DE FÉ
Em cada uma das duas grandes partes da Bíblia figura · certo nú
mero de textos ou Livros. Por que assim foi feito ? Porque a Igreja
afirma que exprimem, autêntica e regularmente, sob as duas formas,
a Aliança de Deus com o homem. :B esta idéia que traduz ( e não,
como muitas vêzes se pensa, a de "lista", simplesmente, ou "catálo-
go " ) o termo usua1 de "CAanon.. .
A
·
�
respetivo teor a uma prova p bl i ca. � �
Q u.�n o a con sc ência cristã,
esclarecida e guiada pela autond ad e ec1 estasttca, cone1 UJa que certo
número trazia a marca do Espírito, a escolha estava feita. E como,
nessas comunidades primitivas, a filiação apostólica era fundamental,
foram conservados aquêles textos estabelecidos pelos testemunhos vi
vos, que provinham diretamente dos discípulos de Jesus.
Em todo caso, no momento em que terminava o segundo século,
a escolha estava terminada. Possuímos, com efeito, um documento
extremamente precioso que o prova : o "Cânon de Muratori", assim
ch amado pelo nome de um bibliotecário da Ambrosiana que o desco
briu e publicou em 1740, segundo um manuscrito do VI.<� ou VII."'
século. Reproduz êsse documento um simples catálogo , uma tábua
das matérias da Escritura Sagrada, datada das proximidades do ano
200 e redigida em Roma, demonstrando que nessa época a Igreja Ro
mana possuía o mesmo Cânon que a cristã de hoje ( com exceção
das Espístolas de São Tiago e São Pedro) e rejeitando o "Pastor",
cuja leitura, entretanto, autorizava, e, mais categoricamente, certos
escritos de tendências gnósticas.
Cento e cinqüenta a duzentos anos mais tarde, entre 359 e 400,
os catálogos dos Cânones multiplicaram-se. Foram encontrados na
África, na Frígia, no Egito e em Roma. O Concílio de Cartago de
397 estabeleceu a lista definitiva. "O primeiro artigo de nossa fé,
dirá Tertuliano, é que não há nada que além dela devamos crer".
O decreto do Concílio de Trento, em sua quarta sessão em 1 546,
nada mais fêz que confirmar essa relação, à qual os ortodoxos orien
tais se filiaram em 1672.
Os ESCRmAs DB DBus
0 PAÍS DA BÍBLIA
0s AUTORES
TRADUITORE, TRADITORE ?
uma, gênio próprio e expressões que, muitas vêzes, não lhes permi
tiam a transposição para nossas línguas ocidentais modernas. "Tra
duttore, traditore", a velha locução proverbial aplica-se perfeitamente
a êste caso.
Mesmo quando remonta diretamente ao original, um tradutor da
Bíblia corre sempre o risco de trair.
Numerosos têrmos judaicos, puramente idiomáticos, transcritos pa
l avra por palavra, não podem senão tornar-se obscuros a um ocidental
do século XX, enquanto eram perfeitamente claros a um semita do
tempo de Cristo. Quem, hoje em dia, sabe na França que, em tôda
a Bíblia, o coração não é considerado como a sede da sensibilida
de, mas como a do pensamento, e os rins como a dos sentimentos?
"Deus penetra os rins e os corações", quer, portanto, dizer : "Deus
penetra nos p ensamentos e nos sentimentos dos homens". Assim tam
bém o chifre era o símbolo da fôrça. Quando, pois, em São Lucas
(I. 69 ) o sacerdote Zacarias profetiza que "Deus suscitou a seu povo
um chifre de salvação", quer anunciar que um Salvador poderoso
vai aparecer.
Mais freqüentemente, é o gênio da língua que torna, muitas
vêzes, penosa a compreensão do texto sagrado. Os processos de es
tilo mais usuais dos idiomas semíticos são fundamentalmente diferen
tes dos nossos. O paralelismo, a j ustaposição das p roposições e a
antítese correspondem à dialética própria do gênio semítico, que ig
nora o silogismo tão caro ao pensamento grego, - e ao francês, -
e não procura abstrair, visando interpretar a idéia na sua realidade e
unidade, mesmo e sobretudo, se a aparência deve ser complexa e con
traditória. O símbolo, que lugar considerável então ocupa, não re
presenta absolutamente o papel secundário que desempenha em nos
sas línguas do Ocidente, onde não é quase mais que ornato de estilo
ou, quando muito, um modo de mais fácil compreensão.
Para os semitas, o símbolo é um sinal real que, em si mesmo,
contém, de maneira eficaz, uma realidade superior. Quando se lê
que Israel "germina o Messias", a palavra deve ser tomada no sen
tido mais vigoroso, significando tôda a Promessa feita ao Povo Eleito
e o seu grande destino.
Através do estudo da linguagem e do estilo é, em definitivo, que
grande parte do mistério se desvenda, do próprio mistério que os
autores inspirados da Escritura receberam o encargo de transmitir.
46 QU B É A B Í BLIA ?
·-------
Os G�NBROS LITERÁRios
A BíBLIA E A HISTóRIA
0 ME MORIAL DE UM POVO
Acontece que esta família, êste clã, êste P?V? mesclou-se, a � ter
nativamente ao imenso desenrolar dos fatos htstortcos,_ dos quats o
Mediterrân :o Oriental, a Ásia Menor e a Mesopotâmia foram teatro.
Por várias vêzes andou errante Israel, das margens do Nilo à do
Eufrates. Por outro lado, a Palestina, região de passagem em que se
cruzam as estradas Norte-Sul e Este-Oeste, foi, por muitas vêzes, in
vadida. Todos os povos que a história da Antigüidade Oriental nos
torna conhecidos : Cal deus, Hititas, Fenícios, Egípcios, Assírios, Gre
gos, Seitas e Romanos, estiveram, sucessivamente, em relações com o
Povo da Promissão.
A questão que salta ao espírito poderá, portanto, receber resposta
fundamentada sôbre documentos alheios à própria Bíblia. Qual o va
lor histórico dêsse memorial ? E pode ser acatada sua documentação r
LIMITES DA HISTÓRIA
0 MISTÉRIO DE ISRAEL
A OBRA DO OLEIRO
0 LEGISLADOR DE DEUS
Moisés ! Tão grande é sua missão que a Bíblia lhe consagra nada
menos que quatro livros. O "�xodo" descreve, de modo precíp u o, a
origem de sua missão e de sua obra até a chegada à Terra que prome
tera Deus a seu povo, contendo, ainda, muitas regras e prescrições
estabelecidas pelo grande legislador de Deus. O "Levítico" é quase
inteiramente um código e um conj unto de ritos. Com os "Números"
recomeçam os fatos, apresentando o Povo Eleito em marcha para o
luga r designado pela Providência. O "Deuteronôm io " , enfim, é como
o testamento espiritual do grande chefe. Suas últimas instruções são
comentadas com cálido fervor, parecendo ouvir-se a própria voz do le
gislador suplicar a seu povo que jamais traia a lei que lhe foi revelada.
Eis a verdadeira missão de Moisés, o papel sobrenatural que lhe
foi designado quando, já muito avançado em idade, - pois deveria
morrer 40 anos mais tarde com a idade de 120, - sendo pastor das
O ANTIGO TESTAM ENTO, LIVRO DA PREPARAÇÃO 7l
Os JuízEs E os REIS
�o
( 1) Difícil é .estabelecer-lhe a data com precisão, pois que os sibios
minicanos da Bíblia de Jerusalém fazem de Joel um contemporlneo de Omas
e de Amós.
76 QUE É A B ÍBLIA ?
-------
U M A H ISTÓRIA SURPREENDENTE
0 GRUPO "JOANINO"
Ü GRUPO "PAULINIANO"
Do SINAL À REALIZAÇÃO
e Luiz VII.9,
Fórmula mais ou menos semelhante encontra-se em uma estátua
de São Paulo, em Saint-Trophime d' Arles: "A Lei de Mo�s� oculta
o que o ensinamento de Paulo revela. Os grãos, dados no S10a1, trans
formaram-se em farinha, graças ao Apóstolo".
92 QUE É A BÍBLIA ?
Ora , o Mess ias espera do, - para nós o Cristo, - é, por tô das
parte , anunc ia do n a B íbl ia j u dai ca . E , êle o é, des de o cap . 111 do
Gênes is , êste "proto-e vangelho", - como na bênção de Sem (Gên.
IX . 26-28 ) . Entre viram-no Abraão , Isaac e Jacó nas brumas de lon·
g ínquo p or vir. Pref igura-lhe a glór ia, a glór ia dos Re is. Anunc ia-o
em têrmos incis ivos a mãe de Samuel (1. Sam . 11. 1·10). .S êle, na
ver da de, que os Profetas, propr iamente ditos, desi gnam, como Oséias.
94 QUE É A BÍBLIA ?
os mortos !" "Que aquêle que não tem pecado atire a primeira pe
dra !" e tantos outros. Nem mesmo, quase tão percucicntes c pene
trantes como aquelas, as expressões veementes de São Paul � : "O es
pinho na carne" ou "O homem do pecado" ou, ainda, "este corpo
de morte".
.e também nos livros do Antigo Testamento que se manifesta êste
conhecimento íntimo de nossa natureza, fecundo em sem n úm ero de
lições, e do qual pode-se dizer que tanto, ou talvez mais ainda que
dos filósofos gregos, mestres do "Conhece-te a ti mesmo", decorreu
a literatura psicológica do Ocidente. A sabedoria das nações que
se alimenta do Livro dos "Provérbios", não foi em vão que tornou
"proverbiais" sentenças como estas : "O temor de Deus é o comêço
da sa bedoria", ou "tesouros mal adquiridos não trazem proveitos".
Ao ler com mais atenção todo êste Livro, quantas descobertas
e observações profundas não são feitas ? Os patéticos debates de Jó,
em face dos mistérios da condição humana, não são também os nos
sos debates ? "Donde vem a Sabedoria ? Qual o papel da inteli
gência?" "Por que vivem os maus ? Por que envelhecem êles e se
tornam poderosos ?" "Se morre o homem, tornará êle a viver?"
Estas questões, e muitas outras, que eternamente nos atormentam,
são as mesmas que o santo homem de Deus a si mesmo propunha.
E essas exclamações admiráveis de dor e esperança, lançadas pelo Rei
Davi, pecador e arrependido, não são também as nossas na hora em
que a angústia de viver e o desespêro de ser homem, nos sobem do
peito e nos sufocam ? "Senhor, sinto-me atordoado e estou reduzido
a extremo abatimento . . . e miserável eu me arrasto o dia todo . . .
Confesso, entretanto, de coração sincero o meu pecado, porquanto sei
que a causa de minha angústia é a minha iniqüidade . . . Ah ! não
me abandones, Deus meu, e não afastes de mim tua presença. Auxi
lia-me, Senhor, pois que és a minha salvação".
Conhecimento p rofun do do coração humano, mas também sen
tido do pecado que dá a tôda análise psicológica a verdadeira di
mensão e, ao mesmo tempo, sentido da fé e da provação, eis o que
nos oferece a Bíblia, o mais humano dos livros humanos.
BELEZA DA BÍBLIA
.
Hu�an� � ainda o Livro Sagrado, sob outro aspecto, pelas qua
lidades ltteranas e pela beleza que nos atinge o coração. Já nos
ocupamos da variedade que, em uma unidade fundamental, consegue
LIVRO TAM B É M DO HOM E M 101
� bem pouco provável que, para aquela como para outras, a solução
não surja, naturalmente, pela evolução das ciências e amplitude dos
conhecimentos.
A diferença radical de plano e perspectivas não é menos frisante
no que respeita à Bíblia e à filosofia. O que entendemos por ist o
é uma disciplina especial, tendo por fim outra forma de conheci
mento que o científico, mas igualmente alheio, em si mesmo, à in
tenção propriamente religiosa, disciplina que, além disto, se apoia
sôbre princípios racionais e inteiramente diversos dos que podiam ter
os escritores inspirados. �. portanto, absurdo interpretar a Bíblia de
acôrdo com os esquemas intelectuais, aos quais nos conduziu a filo
sofia. Uma interpretação hegeliana do Livro Sagrado é tão vã, -
não mais, porém, - que uma inte rpretaçã o platônica ou bergsoniana.
A filosofia, certamente, em última finalidade, reúne-se à E scri
tura revelada, pois que não há conhecimento absoluto senão em Deus.
Eis porque desde os primeiros Padres gregos até São Tomás, os pen
sadores da Igreja tanto se esforça ram a fim de colocar a filosofia
a serviço da religião. Êste acôrdo, porém, entre filosofia e religião
não se coloca ao n ível dos métodos, mas ao da fé e da Sabedoria,
sabedoria que pretende correr atrás da filosofia, mas que em defi
nitivo depende da Revelação.
E isto é também verdade, em certo sentido, em relação à pró
pria teologia. Na medida em que também a teo lo gi a constitui uma
técnica, coloca-se fora do quadro da Bíblia. Evidente é que os ins
pirados que escreveram o texto viviam em clima intelectual, em que
se não vêem traços dos métodos e da classificação d e São Tomás
de Aquino. Não quer isto dizer que entre êstes dois dados haja
divergência e, ainda menos, oposição. Oferece-nos a Escritura Sa
grada, de certo modo, em estado bruto o que os teólogos, com o
tempo, coordenaram, pensaram e elaboraram. � ela o verdadeiro
fermento de tôda a teologia. �. p orém, mais que todo sistema, por
quanto, se a teologia é a "ciência de Deus", o conhecimento da
B!blia faz com que penetre o leitor em uma ciência que é vida, exi
gtndo dêle, mais que uma adesão intelectual, um compromisso, um
ato de fé.
Se !los foi dada a Escritura "para nossa instrução", é, por ser,
em sentJ.do bem claro, sobrenatural, religiosa e nada m ais. Nem me
nos é isto verdade a respeito de nossa instrução moral que da inte·
lectual ?u científica. Tomada �m conjunto e considerada à .primeira
_ .
vista, dificilmente pode ser a Btblta considerada como um tratado de
LIVRO TAM B É M DO HOM E M 105
CJaudel, tendo vivido os últimos vinte anos ,de sua existência na fa
miliaridade cotidiana do Texto, chamava : "Um constante e crescente
assombro". n bem uma lei geral que um místico francês da Idade
Média, Hugues de Saint-Victor, formulava nestes têrmos admiráveis :
"O amor sobrepuja a ciência, e é maior que a inteligência. Mais se
ama que se compreende; o amor aproxima-se e penetra aonde a
.
. estrita
ciência se detém". Em caso algum encontra esta regra mats
aplicação que ao tratar-se da Sagrada Escritura. O que permanece
obscuro ou parece absurdo ao sábio, aclara-se misteriosamente a os
olhos de um humilde Cura d'Ars ou de uma pequenina carmelita
em Lisieux. "Se quiserdes tirar frutos da Escritura, diz a " I mitação
de Cristo", lêde-a com humildade, com simplicidade e fé". Em ne
nhum outro domínio mais do que em matéria de ciência bíblica, o
poder supremo de compreensão e de adesão é o que Pascal desig
nava com a bela palavra secreta : "coração".
llste poder de adesão e de compreensão deve ser total, totalitá
rio, devendo governar todo o espírito. Não é suficiente sobrepor, a
análises dessecantes, alguns comentários piedosos para penetrar n o
espírito e n'alma d a Bíblia. 1l necessário colocar-se completamente
na atitude espiritual que foi a dos seus heróis, de seus escritores, na
sua intensidade profunda. B necessário deixar que ressoem n a mente
os grandes temas do texto : o tema do amor de Deus; o tema d o
apêlo dirigido de preferência aos que sofrem e que o mundo des
preza; o tema do convite a aliar-se a Deus e a viver unido a Êle;
o tema da misericórdia infinita; o tema da esperança invencível.
B necessário, ainda, sentir em si mesmo as grandes expansões da
alma que sublimam o texto; o impulso para a fidelidade, a cólera
contra as injustiças da terra, a alegria até no sofrimento e n a pro
vação. B necessário, sobretudo, colocar-se, inteiramente, nessa atitude
d e humildade confiante e de exaltação íntima que expressa o clamor
do salmista : "Que nossas mãos erguidas sejam como a oferta da
tarde". Sim ! Só é possível compreender verdadeiramente a Bíblia
em estado de oração.
grada E�critura não pode ser compreendida senão pela fé, e que não
há fé v1va fora da oração, é a de forçar imperiosamente o leitor a
orar. E que é orar senão tornar-se "permeável ao sôpro", como diz
Claudel, atento às ordens e às intenções de uma Vontade e de um
Pensamento que nos ultrapassam?
Onde encontrar, então, melhor do que na Bíblia, mil vêzes re
petida, a afirmação de que êsse Pensamento e essa Vontade condu
zem o mundo, e que o homem apenas vale na medida em que' hu-
mildemente, a êles submeter-se ?
Livro de oração, é ainda a Bíblia algo mais. Se a Igreja ensi
nante aconselha a seus fiéis que, numerosas e muitas vêzes, se apro
ximem "dessa mesa da doutrina celeste que Nosso Senhor preparou
para o povo cristão pelo ministério de seus profetas, de seus após
tolos e doutores", é por bem saber que sôbre essa mesa se encon
tram as mais ricas iguarias. A comparação com a mesa que se en
contra na " Spiritus Paráclitos", encíclica de Benedito XV, - já foi
empregada em um livro que não poderia ser suspeito de visar outra
cousa senão o alimento espiritual das almas, a "Imitação de Cristo"
que se refere às duas mesas colocadas pelo Divino Mestre ao alcance
dos fiéis : a mesa do altar e a das Escrituras.
Resulta, porém, que certos cristãos, pro fund am ente crentes, ao
abrir a Bíblia, sentem alguma decepção. Esperam nela encontrar fór
mulas que exaltem a alma e cálidas ao coração, e caem sôbre enume
rações monótonas de ritos, sôbre imprecações ferozes de certos profe
tas, sôbre os enigmáticos períodos do Apocalipse, quando não sôbre
as aventuras matrimoniais dos reis.
Mas, e sobretudo, além das fórmulas esparsas, por mais belas que
.
sejam, o que revela e ensina a Bíblia é a atitude fundamental da
oração, a do homem que se eleva ao ponto mais alto de si mesmo
e para o qual a vida inteira é prece e santificação.Assim como tôda
a história narrada pela Escritura Sagrada é condicionada a Deus e
ao �u plan�, assim ta� ém? � do q1;1anto o homem da mesma possa
ha�mr de vtvo e nutJ.?tlvo, nao e�te senão fecundado por Deus.
,
Nao pode, porem, ser lSto compreendido senão por quem leu o Livro
e nêle penetrou em sua totalidade e plenitude.
"A FOM E DE OUVIR A PALAVRA DE DEUS" 111
.
Unidade da mensagem divina. Em sentido inverso, se a �turfla
muito deve à Bíblia, muito também deve esta àquela. Em P�
lugar, êsse mínimo de conhecimento de seus textos por parte de mut·
tos cristãos que os não lêem senão nos seus "livros de missa", mas
também uma espécie de atualização permanente, de união a nossas
apreensõ es, esperanças, angústias e certezas.
Tomou a Igreja de empréstimo à Bíblia muitas de suas orações,
querendo assim assinalar a continuidade da Revelação, e a sua fide
lidade à inspiração divina. Ao mesmo tempo, porém, mostra a seus
filhos que o sôp ro divino que animava os Patriarcas e os Profetas é
o mesmo que varreu o ar no dia de Pentecostes, e que a Revelação,
da qua l é guarda, nada mais é que aquela, indefinidamente p rolon
gada, que recebeu em Ur, na Caldéia, há cêrca de quatro mil anos,
um jovem semita, de nome Abraão.
A prece litú rgica é a resposta àqueles que, - cristãos afastados
da comunidade católica - crêem que a Bíblia, mensagem direta e
pessoal de Deus, possa viver sem a Igreja estabelecida por Cristo,
como se não fôra essa mensagem entregue, coletivamente, a um povo
organizado pela vontade de Deus. Os Padres dos primeiros tempos
já o sabiam, pois que nêles se confundiam a fé na Escritura e a fé
na Igreja, não somente por ser g aran ti a por decisão canônica a ve
racidade do texto, mas porque a Tradição era para êles a Bíblia viva,
a Bíblia prolongada pela Igreja. No momento em que esta Igreja,
pela voz do Magistério infalível, m ul tip lica as admoestações em favor
da leitura e do estudo da Bíblia, esta certeza impõe-se, mais do que
nunca, ao espírito, de que é na Igreja e por ela que a Escritura en
contra tôda a sua pujança, até e sobretudo, em seus sacramentos que
são para a vida da alma o qu e o texto sagrado é para a vida do
espírito : o pão e o vinho de uma existência mais verdadeira que
a terrena.
Jesus, tendo subido a u m a barca, Alguns dias depois, voltou Jesus Certo dia, como estivesse Ele a en
atravessou o lago e regressou à sua a Cafarnaum. Assim que ouviram sinar, muitos fariseus e doutores da
cidade. Eis que lhe apresentam um dizer que :lHe estava e'Il casa, tan lei lá estavam sentados, tendo vindo
paralítico, deitado em um lei to. Ven tas pessoas lá se reunuam que não de tôdas as aldeias da Galiléia, da
do-lhe Jesus a fé, disse ao paralítico : havia mais lugar, mesmo diante da Judéia e de Jerusalém. E o poder do
Meu filho, tem confiança : são-te per porta. Senhor fazia-lhe operar curas. Eis que
doados os teus pecados. E, logo, al E �le lhes pregava a Palavra. uns homens, carregando em um leito
guns escribas disseram a si mesmos : Trouxeram-lhe, então, um paralíti um homem que estava paralítico, pro
Este homem blasfema ! Mas, Jesus, co, carregado por quatro (homens) . curavam f:uê-lo entrar a fim de o co
conhecendo-lhes os pensamentos, dis E, não o podendo apresentar, por locar em presença dEle. Não achan
se-lhes : Por que tendes maus pen causa da multidão, descobriram o do, porém, entrada por onde o in
samentos em vossos corações ? Que terraço, acima do lugar em que fie troduzissem por caus:t da multidão,
cousa é mais fácil dizer : São-te per se achava, e, pela abertura, desce
subiram ao telhado e por entre as te
doados os teus pecados ou dizer : ram o leito em que jazia o paralí
lhas o desceram, com o se u leito, no
Levanta-te e caminha ? Ora, a fim tico. Vendo-lhes Jesus a fé, disse ao
de que saibais que o Filho do ho meio da assistência, diante de Jesus.
paralítico : Meu filho, são-te perdoa
mem tem sôbre a terra o poder de Vendo-lhes a fé, disse J e su s : Meu
dos os teus pecados. Ora, estavam
perdoar os pecados, levanta- te, disse lá sentados alguns escribas que as amigo, são-te perdoados os teus pe
ao paralítico, toma o teu leito e vai sim pensaram em seus corações : cados. Então, os escribas e fariseus
para tua casa. E êle levantou-se e Como pode f:le falar assim ? Êle puseram-se a pensar : quem é êste que
foi para casa. O povo, vendo êste blasfema ! Quem pode perdoar os profere blasfêmias ? Quem pode p er
milagre, encheu-se de temor e glori pecados senão Deus ? Jesus, conhe doar os pecados senão Deus ? Jesus,
ficou a Deus que tanto poder havia cendo logo em seu espírito que êles porém, conhecendo-lhes os pensamen
dado aos homens. assim pensavam, d isse-lhes : Por que tos, disse : Por que êstes pensamentos
raciocinais assim em vossos corações? em vossos corações ? Que é mais fácil
Que é mais fácil dizer a êste para dizer : Levanta-te e caminha ? Ora, a
lítico : São-te perdoados os teus pe fim de que saibais que o Filho do
cados; ou dizer-lhe : Levanta-te, to homem tem sôbre a terra o poder
ma teu leito e caminha ? Ora, a fim de perdoar os pecados, Levanta-te, eu
de que saibais que o Filho do ho ordeno, disse ao paralítico, leva o teu
mem tem sôbre a terra o poder de leito e regressa à tua casa. No mes-
perdoar os pecados, Levanta-te, disse mo momento êle se ergueu na pre
fie ao paralítico, eu te ordeno; toma sença de todos.
o teu leito e volta para a tua casa. E carregando o leito em que esti
E êle se levantou e, sem demora, to vera deitado, voltou para casa, glori
mando o seu leito, retirou-se à vista ficando a Deus.
de todos, de maneira que todos fi Ficaram todos estupefactos e glori
caram estupefatos e glorificavam a ficavam a Deus, e, cheios de temor,
Deus, dizendo : Jamais vimos cousa diziam : Vimos hoje cousas prodi
semelhante. giosas.
São Mateus abreviou a narração, São Marcos, seguido em grande parte por São Lucas, é muito mais
vivo e circunstancíoso.
Em relação, p orém, às palavras do Salvador, os três trechos estão extraordínàriamente próximos ttns dos
outros.
Enquanto assim lhes falava, u m Ao regressar Jesus em u m a barca Tendo Jesus regressado, foi aco
pdndpe ( d a sinagoga) , aproximan para a outra margem, a multidão lhido pela multidão, porquanto to
do-se, prosternou-se diante dfle, di acercou-se dEle, enquanto estava tlle dos O esperavam. Apareceu, então,
zendo: Minha filha acaba de morrer. junto do mar. E chegou um chefe um homem chamado Jairo, que era
Vinde, porém, impor-lhe as mãos, e da sinagoga, chamado Jairo, que ao chefe da sinagoga, o qual, proster
ela viverá. E Jesus levantando-se, vê-10, atirou-se-Lhe aos pés e rogou nando-se aos pés de Jesus, suplicava
seguiu-o com seus discípulos. Lhe com insistência, dizendo : Minha Lhe que fôsse à sua casa, porquanto
E, eis que uma mulher que, há filha está à morte; vinde impor-lhe tinha uma filha única, de cêrca de
doze anos estava atacada de um fluxo a mão para que se cure e viva. doze anos, que estava à morte. E co
de sangue, aproximou-se por detrás Foi-se Jesus com êle, e a multidão mo para lá se encaminhasse, a mul
e tocou-lhe a fímbria do manto, di O seguia e comprimia. tidão O comprimia.
zendo a si mesma : Se eu conseguir, Eis que lá havia u ma mulher, ví Uma mulher, porém, que sofria de
ao menos, tocar-lhe as vestes, ficarei tima de uma perda de sangue, havia um fluxo de sangue, havia doze anos, ....
curada. Voltou-se, entio, Jesus, e aQ ....
doze anos. Muito havia ela sofrido c que não pudera ser curada por ......
às mãos de muitos médicos, e todo
'\'é-la, disse-lhe : Filha minha, tem con ninguém, aproximou-se-Lhe e, ime ....
fiança;
tua fé salvou-te. E a mulher, o seu dinheiro havia gasto sem pro diatamente, estancou-se o fluxo de
....
00
no mesmo instante, ficou curada. veito algum, antes mesmo piorando sangue. Perguntou Jesus : Quem me
Ao chegar Jesus à casa do chefe cada vez mais. Tendo ouvido o que tocou ? Todos, porém, negaram. En
(da sinagoga) , e vendo os tocadores diziam de Jesus, veio-Lhe por de tão Pedro e seus companheiros disse
de flauta e a multidão em alvorôço, trás, entre a multidão, e tocou-Lhe ram-Lhe : Mestre, a multidão Vos
disse : Retirai-vos, pois que a jovem o mamo. Pois, dizia ela : Se apenas cumprime e Te esmaga. Disse-lhes,
não morreu, mas dorme apenas". E puder tocar-Lhe as vestes, ficarei porém, Jesus : Alguém tocou-me, pois
a multidão o escarnecia. curada. No mesmo instante sentiu que senti que de mim partia uma
Depois, porém, que a multidão foi em seu corpo que estava salva de fôrça. Vendo que fôra descoberta,
afastada, :Ele entrou, tomou a mão sua enfermidade. veio a tremer a mulher e lançou-se
da jovem, e ela se ergueu. Jesus, conhecendo em si mesmo a Seus pés, e perante todos contou
que uma fôrça saíra d:Ele, voltou-se porque O havia tocado e como no
E a notícia espalhou-se, então, por
entre a multidão e disse : Quem to mesmo instante ficara curada.
todo o pais.
cou-me as vestes ? Responderam-Lhe D isse-lhe, então, Jesus : Filha, sal
os discípulos : Vêde a multidão que vou-te a tua fé; vai em paz. Falava
Vos comprime e dizer : Quem tocou me, ainda, quando alguém veio da
-me ? :Ele, porém, olhava em tôrno de casa do chefe da Sinagoga, dizendo :
si para ver quem tinha feito aquilo. Tua filha está morta; não perturbes
Então a mulher, tomada de mêdo mais o Mestre. Jesus, porém, tendo
e a tremer, bem sabendo o que lhe ouvido, respondeu-lhe :
acontecera, atirou-se a Seus pés, e Não temas, mas crê, e ela será salva.
tôda a verdade Lhe revelou. Disse Chegado à casa, não deixou que lá
-lhe, então, Jesus : Filha, salvou-te penetrasse ninguém com Êle, a não
a tua fé, vai em paz, e fica curada ser Pedro, João, Tiago, com o pai e
de teu mal. a mãe da menina. Choravam todos
Falava ainda Jesus, quando alguém e se lamentavam. Disse Jesus :
chegou da casa do chefe da sina Não choreis, ela não está morta;
goga e disse a êste : Tua filha está apenas dorme. Zombavam, porém,
morta. Por que importunar ainda o dÊle, sabendo que estava morta.
Mestre ? Tendo, porém,- Jesus surpre Tomando-a Jesus pela mão, cha
endido estas palavras, disse ao chefe mou-a e lhe disse : Menina, levan
da Sinagoga : Não temas, mas crê. ta-te. E ela voltou à vida e no mes
E não permitindo que ninguém O mo momento levantou-se.
acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago Mandou �le, então, que lhe dessem
e João, irmão de Tiago, chegaram à de comer. Ficaram estupefactos os
casa do chefe da Sinagoga, ouvindo seus pais, mas (Jesus) proibiu-lhes
o tumulto e as lamentações do povo que a ninguém dissessem o que havia
que prorrompia em lamentações e acontecido.
soltavam grandes gritos. Ao entrar,
Êle lhes disse : Por que êste tumulto
e estas lamentações ?
A menina não está morta, mas so
mente dorme. E êles zombavam. En
tão, tendo (Jesus) mandado que a
multidão se retirasse, tomou o pai e
a mãe da menina e os que O acom
panhavam e entrou aonde a menina
estava. E, tomando a menina pela
mão, disse-lhe: Palita Kumi, que quer
dizer, Filhinha, eu te ordeno, levan
ta-te. E, imediatamente, a menina
levantou-se e pôs-se a caminhar, pois
já tinha doze anos. Ficaram todos
cheios de grande espanto.
Recomendou-lhes, então, com insis
tência que ninguém o soubesse e disse
que dessem de comer (à menina) .
Três naTrllfÕes bem caracteTísticas do modo de as descrever pelos evangelistas. Mateus, simples, e sem
colorido; Mmcos extraordínàríamente concreto, tomado ao vivo e emocionante,- Lucas, mais delicado e mais
sóbrio.
Saindo 2le de Jeric6, multidão nu· Chegaram êles a Jericó. Aproximando-se (Jesus) de Jeric6,
merosa O seguia. E, ao sairem de Jericó, :Sle, seus estava um cego assentado à beira do
....
Bü que dois cegos, assentados ao discipulos e grande multidão, um caminho, pedindo esmolas. Ouvindo ....
kmso do caminho, tendo ouvido di- mendigo, cego, Bartimeu, filho de passar a multidão, perguntou de que \0
Idênticas observações feitas a propósito da narração precedente. Além disto, poder-se-á notar que as nar
'"
rações não concordam em pequenos pormenores: na entrada ou na saída de f erícó; um ou dois cegos (é t•er
dade que o plural de São Mateus será talvez puramente literário)., F. um dos casos em que as tradifÕes repro
duzidas pelos evangelistas não descrevem os fatos senão de maneira aproximativa.
(4) SINóPSE QUADRUPLA (Os exemplos são raros fora da narrativa da Paixão)
Primeira multiplicação dos pães.
Matem, XVI, 1 3-21 Marcos, VI, 30-44 Lucas, IX, 1 0-1 7 João, VI, 1 - 1 5
Ante esta notícia, de lá Reuniram-se os apóstolos Ao regressar, contaram os Em seguida, seguiu Jesus
partiu Jesus em uma barca em tôrno de Jesus, contao- apóstolos (a Jesus) tudo para a outra margem do
a fim de retirar-se para lu do-lhe tudo quanto haviam quanto haviam feito. To lago de Galiléia, ou de Ti
gar deserto. Sabendo disto feito e ensinado. E êle lhes mando-os, então, consigo, beríades. Multidão imensa
o povo, seguiu-o a pé das disse : Vinde, vós todos, a retirou-se êle para fora, na acompanhou-o, vendo os
cidades (vizinhas) . Ao sair um lugar solitário a fim de direção de uma cidade cha milagres que operava com
(da barca), viu grande mul descansar um pouco, por mada Betsaida. Aperceben os doentes. Subiu Jesus ao
tidão, e dela se apiedou, que os que chegavam e os do-se disto, a multidão o monte e lá assentou-se com
curando-lhe os enfermos. / que partiam eram tantos seguiu. seus discípulos. A Páscoa,
que nem tempo havia para E êle a acolheu e lhe festa dos judeus, estava pró
Ao cair da tarde, apro comer. Partiram, então, a falou do reino de Deus e xima. Erguendo os olhos,
ximaram-se dêle os discí fim de se afastarem para curou os que necessitavam e vendo a multidão nume
pulos, dizendo-lhe : :e de um lugar ermo, mas viram de cura. Como começasse rosa que acorria para �le,
serto êste lugar e a hora -nos partir e, adivinhando o dia a declinar, aproxima disse Jesus a Felipe : onde
avançada. Despedi a mul (para aonde iam), acorre ram-se os Doze e lhe dis poderíamos comprar pão
tidão a fim de que vá às ram antes dêles. Ao de seram: Despedi a multidão para que êles possam co
aldeias comprar o que co sembarcar, viu (Jesus) uma a fim de que volte às suas mer ? Assim falava para
mer. Disse-lhe, porém, Je multidão imensa e dela se aldeias e aos sítios dos ar experimentá-lo, pois bem
sus: Não é necessário que apiedou, porque era como redores a fim de se hos sabia o que ia fazer.
ela se vá; dai-lhe vós mes ovelhas sem pastor. Pô-se, pedarem e encontrarem ali Respondeu-lhe Felipe :
mos de comer. Replicaram então, a instrui-la. Como, mento, porque aqui estamos Duzentos denários de pão
êles : Apenas temos aqui porém, já estivesse avan em um deserto. Respon não bastariam para que ca
cinco pães e dois peixes. çada a hora, aproximaram deu-lhes (Jesus) : Dai-lhes da um recebesse um pedaço.
Trazei-os, aqui, disse-lhes -se dêle os discípulos, di vós mesmos de comer. André, um dos discípulos
êle. E então, mandando zendo-lhe : :e deserto êste Responderam-lhe : Não te e irmão de Simão Pedro,
que o povo se assentasse lugar e já é avançada a mos mais que cinco pães e disse-Lhe : Há cinco pães
na grama, tomou os cinco
hora. Despedi-os, a fim de dois peixes; a menos, que de cevada e dois peixes.
pães e os dois peixes e, .
que procurem comprar nos vamos nós mesmos com Mas, o que é isto para tan
erguendo os olhos ao céu, sítios e aldeias dos arre prar alimentos para todo ta gente? Disse-lhe Jesus :
dores, o que comer. Res êste povo. Mandai que se assentem.
pronunciou uma bênção. pondeu-lhes (Jesus) : Dai Era êste, com efeito, de Ora, havia muita grama na
Depois, partindo os pães, -lhes, vós mesmos, de co cêrca de cinco mil homens. quele lugar. Assentaram-se,
povo.
deu-os aos seus discípulos, mer. Replicaram (os dis Disse, então, a seus discí assim, os homens, em nú
j
e êsteJ ao cípulos) : Será então pre pulos : Mandai-os sentar-se mero de cêrca de cinco mil.
E todos comeram e fi. ciso irmos comprar duzen em grupos de cinqüenta. Jesus, então, tomando os
/
caram fartos, carregando tos denários de pão, para Obedeceram (os discípu pães, e tendo rendido gra
aiAda doze cestos cheios lhes dar de comer? Disse· los) e mandaram que to ças, distribuiu-os aos que
doe pedaços que rutaram. -lbee Jesus: Quantos pães dos se assentassem. Toman- estavam sentados, e o mes-
Ora, oa que comeram e tendes ? Ide ver. E, tendo do, então, os cinco pães e mo fêz com ós peixes,
ram em número de cinco sido informado, disseram os dois peixes ergueu os t a n t o quanto queriam.
mil homens sem contar as -Lhe : Cinco e dois peixes. olhos ao céu, benzeu-os, Quando todos ficaram far
mulheres e crianças. Ordenou, então que man partiu-os e os entregou a tos, disse aos discípulos :
dassem todos assentar·se, seus discípulos a fim de Recolhei os pedaços que
em grupos, de cem e de que os d istribuíssem à mul restam, para que se não
cinqüenta. tidão. E todos comeram e percam. E êles os recolhe
Tomando, então, os cinco ficaram fartos, levando o ram, enchendo doze cestos
pães e os dois peixes, er que sobrara : doze cestos com os pedaços que so
gueu os olhos ao céu, a de pedaços. braram dos cinco pães de
bençoou, partiu os pães e cevada, depois que todos
os entregou aos discípulos comeram. A vista do mi
para que os distribuíssem lagre que (Jesus) acabara
ao povo. Repartiu também de realizar, dizia o povo :
os dois peixes entre todos. :e flle, em verdade, o pro
E todos comeram e ficaram feta que deve vir ao mun
fartos. E ainda levaram do ! Mas, Jesus, tendo sa
doze cestos cheios dos pe bido que queriam arreba
daços (de pão) e dos res tá-lo para fazê-lo rei, reti
tos dos peixes. Os que ha rou-se de novo, sõzinbo,
viam comido os pães eram para o monte.
em número de cinco mil
homens.
São João ntmca se continha em reproduzir as narrafÕes dos sinópticos, acrescentando pormenores, sempre
cheios de inlerêsse, omitidos por êles.
INDICAÇõES BIBLIOGRAFICAS
Livros San tos " (Paris, 195 1 ) . Introdução simples : S. Exa. Mons. W eber,
"A Bíblia, livro de Deus, l ivro do homem" (Strausburgo, 1947) ; S. Exa. Mons.
Charue, "Como os ç tô l i r o
a s crêem na Bíblia" (Bruxelas, 1 9 4 1 ) ; R. Poclman,
" Abramos a Bí bl ia " (Paris, Bruxelas, 1 9 5 1 ) ; "Como ler a B í bl i a ? " e a série
dos l i bretos edi tados pela "Liga do Evangelho" (2, rua Planche, Pari s, 6." ) .
"O Povo da Antiga Aliança" d o P. Dheilly ( Pa ri s 1952 e o excel e n te trabalho
,
de Eugene Joly, "As fontes bíblicas" (Paris, 1 950) não se referem senão ao
Antigo Testamento.
Introduções históricas
Introduções geográficas
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