A Área de Ciências Da Natureza Nos PCNs e Na BNCC
A Área de Ciências Da Natureza Nos PCNs e Na BNCC
A Área de Ciências Da Natureza Nos PCNs e Na BNCC
Resumo: A política educacional brasileira passa por constantes mudanças, visíveis por
meio de muitos fatores. Dentre eles, destacam-se a publicação de marcos legais da
educação, como os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNs), em
2000, e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2018. O presente artigo
ocupa-se desses dois documentos, com atenção específica para a área de Ciências da
Natureza, analisando, mediante uma pesquisa bibliográfica, as continuidades ou
rupturas, semelhanças ou diferenças das competências prescritas em cada um deles.
Esses dois documentos foram comparados e os resultados identificaram que uma
continuidade ou semelhança entre ambos é a organização em áreas de conhecimento.
Ao mesmo tempo, duas diferenças ou rupturas são muitos evidentes, por serem
estruturais: a primeira é que, ao contrário dos PCNs do Ensino Médio, a BNCC divide a
anterior área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias em duas; e a
segunda é que a BNCC não realiza uma separação dos componentes curriculares dentro
da área, como ocorria nos PCNs.
Abstract: Brazilian educational policy is constantly changing. These are made visible
through many factors, among them, the publication of legal frameworks of education,
such as the National Curriculum Parameters for Secondary Education (PCNs) in 2000
and the Common National Curricular Base (BNCC) in 2018. In this article, these two
legal frameworks are analyzed, with specific attention to the area of Natural Sciences.
In this sense, the work aims to analyze the continuities or ruptures, similarities or
differences in the competences in the area of natural sciences prescribed in the PCNs of
High School and BNCC. To this end, a bibliographic search was carried out. The text of
these two documents were compared and the results identify that a continuity or
similarity between these documents is the organization in areas of knowledge. At the
same time, two differences or ruptures are very evident, as they are structural. The first
is the fact that BNCC, unlike PCNs in high school, divides the previous area of natural
1. INTRODUÇÃO
Desde que a Constituição Federal de 1988 reconheceu que “são direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados” (BRASIL, 1988, artigo 6º) e que a educação é “direito de todos e dever
do Estado e da família” (BRASIL, 1988, artigo 205), e, especialmente, após a
publicação da Lei nº 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), a política educacional brasileira passa por constantes mudanças. Mudanças que
atingem as diferentes etapas do ensino básico e também do ensino superior e ocorrem a
partir de uma busca por processos qualificados para que a educação cumpra sua missão
nos dias de hoje e auxilie os estudantes a realizarem seus projetos de vida.
Naturalmente, nesse processo há disputas de interesse, de narrativa e de compreensão do
papel e da tarefa da educação. Além disso, implica alterações nas práticas pedagógicas
das instituições e dos estabelecimentos de ensino.
Diante desse contexto, esse artigo inclina-se sobre a seguinte problemática: no que
concerne à área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, quais as semelhanças e
diferenças ou rupturas e continuidades entre as competências prescritas nos PCNs do
Ensino Médio e as elencadas na BNCC? Posta essa problemática, tem-se como objetivo
analisar, mediante pesquisa bibliográfica, as continuidades ou rupturas, semelhanças ou
diferenças entre as competências da área definidas nos PCNs do Ensino Médio e na
BNCC.
Recebido em: 30/05/2021
Aceite em: 13/08/2021 107
Academicamente, o trabalho justifica-se por se predispor a aprofundar nesses
documentos, com atenção a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Salienta-
se que ambos tratam de normativas importantes, que implicam muitas mudanças
curriculares e afetam diretamente o fazer pedagógico em salas de aula.
Além disso, por ter sido construído no âmbito de um programa de Pós-Graduação
Profissional, o estudo se demostra socialmente justificável por colaborar com os
professores da área em foco, fornecendo-lhes informações sobre as diferenças e
semelhanças entre os PCNs e a BNCC, que, por estar em fase de implementação, ainda
gera dúvidas. Portanto, os esclarecimentos oferecidos aos professores podem ajudá-los a
qualificar seu fazer pedagógico e a organização dos processos de ensino-aprendizagem.
Os PCNs para o Ensino Médio organizam essa etapa da educação básica em três
áreas do conhecimento, a saber: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da
Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Com isso, os processos interdisciplinares são fortalecidos. É preciso salientar, porém,
que em cada área ainda há os componentes curriculares com especificidades apontadas
• Ler e interpretar textos de interesse científico e tecnológico. • Interpretar e utilizar diferentes formas
de representação (tabelas, gráficos, expressões, ícones...). • Exprimir-se oralmente com correção e
clareza, usando a terminologia correta. • Produzir textos adequados para relatar experiências, formular
dúvidas ou apresentar conclusões. • Utilizar as tecnologias básicas de redação e informação, como
computadores. • Identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para a
produção, análise e interpretação de resultados de processos e experimentos científicos e tecnológicos. •
Identificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para aperfeiçoamento da leitura, da
compreensão e da ação sobre a realidade. • Identificar, analisar e aplicar conhecimentos sobre valores
de variáveis, representados em gráficos, diagramas ou expressões algébricas, realizando previsão de
tendências, extrapolações e interpolações e interpretações. • Analisar qualitativamente dados
quantitativos representados gráfica ou algebricamente relacionados a contextos sócio-econômicos,
científicos ou cotidianos.
Investigação e compreensão
Contextualização sociocultural
1. Analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas interações e relações entre
matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que aperfeiçoem processos
produtivos, minimizem impactos socioambientais e melhorem as condições de vida em âmbito
local, regional e global.
(EM13CNT201) Analisar e discutir modelos, teorias e leis propostos em diferentes épocas e culturas
para comparar distintas explicações sobre o surgimento e a evolução da Vida, da Terra e do Universo
com as teorias científicas aceitas atualmente.
(EM13CNT202) Analisar as diversas formas de manifestação da vida em seus diferentes níveis de
organização, bem como as condições ambientais favoráveis e os fatores limitantes a elas, com ou sem o
uso de dispositivos e aplicativos digitais (como softwares de simulação e de realidade virtual, entre
outros).
(EM13CNT203) Avaliar e prever efeitos de intervenções nos ecossistemas, e seus impactos nos seres
vivos e no corpo humano, com base nos mecanismos de manutenção da vida, nos ciclos da matéria e
nas transformações e transferências de energia, utilizando representações e simulações sobre tais
fatores, com ou sem o uso de dispositivos e aplicativos digitais (como softwares de simulação e de
realidade virtual, entre outros).
(EM13CNT204) Elaborar explicações, previsões e cálculos a respeito dos movimentos de objetos na
Terra, no Sistema Solar e no Universo com base na análise das interações gravitacionais, com ou sem o
uso de dispositivos e aplicativos digitais (como softwares de simulação e de realidade virtual, entre
outros).
(EM13CNT205) Interpretar resultados e realizar previsões sobre atividades experimentais, fenômenos
naturais e processos tecnológicos, com base nas noções de probabilidade e incerteza, reconhecendo os
limites explicativos das ciências.
(EM13CNT206) Discutir a importância da preservação e conservação da biodiversidade, considerando
parâmetros qualitativos e quantitativos, e avaliar os efeitos da ação humana e das políticas ambientais
para a garantia da sustentabilidade do planeta.
(EM13CNT207) Identificar, analisar e discutir vulnerabilidades vinculadas às vivências e aos desafios
contemporâneos aos quais as juventudes estão expostas, considerando os aspectos físico,
psicoemocional e social, a fim de desenvolver e divulgar ações de prevenção e de promoção da saúde e
do bem-estar.
(EM13CNT208) Aplicar os princípios da evolução biológica para analisar a história humana,
considerando sua origem, diversificação, dispersão pelo planeta e diferentes formas de interação com a
natureza, valorizando e respeitando a diversidade étnica e cultural humana.
(EM13CNT209) Analisar a evolução estelar associando-a aos modelos de origem e distribuição dos
elementos químicos no Universo, compreendendo suas relações com as condições necessárias ao
surgimento de sistemas solares e planetários, suas estruturas e composições e as possibilidades de
existência de vida, utilizando representações e simulações, com ou sem o uso de dispositivos e
aplicativos digitais (como softwares de simulação e de realidade virtual, entre outros).
4. METODOLOGIA
Para comparar as competências prescritas para a área de Ciências da Natureza nos
PCNs e na BNCC, realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa e bibliográfica.
5. RESULTADOS
A comparação entre os PCNs e a BNCC evidenciou as semelhanças e diferenças,
continuidades ou rupturas na área de Ciências da Natureza, envolveu a análise do texto
desses dois documentos e, em especial, das competências específicas da área de
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias – prescritas pelos PCNs do
Ensino Médio - Parte III –, bem como da área de Ciências da Natureza e suas
Tecnologias – estabelecidas pela BNCC. Por meio dessa análise, foram obtidas as
evidências e os resultados descritos a seguir.
Apesar dessa reconfiguração das áreas, outra semelhança entre esses documentos
está no fato de ambos organizarem o ensino médio em áreas do conhecimento
(BRASIL, 2000a; BRASIL, 2018). Sobre isso, Pykocz recorda que “na BNCC, o tema
da integração dos currículos assume importância, a começar pela estruturação do
currículo em áreas do conhecimento” (2020, p. 14) e que “foi nos PCNs que as áreas de
conhecimento passaram a integrar os componentes curriculares” (2020, p. 58).
Ao mesmo tempo, há sobre isso uma primeira diferença estrutural a ser citada: a
BNCC não divide a área em disciplinas ou componentes curriculares, como ocorria nos
PCNs. Os PCNs do Ensino Médio, na área de Ciências da Natureza, Matemática e Suas
Tecnologias dividiam e explicitavam as disciplinas de Biologia, Física, Química e
Matemática, o que não se percebe na BNCC. Ou seja, nesse último documento, não está
marcado explicitamente o que pertence ao conhecimento físico, químico ou biológico.
Para Pykocz (2020), tal diferença indica que no ensino médio “foram elaboradas um
conjunto de competências e habilidades gerais para cada área, sem, no entanto, que
fossem especificadas as competências e habilidades específicas de cada uma das
disciplinas escolares tradicionais” (p. 14).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação sempre passou e seguirá passando por diversas mudanças, que
também estão explícitas nos inúmeros textos e documentos que são publicados. Todas
as mudanças ou instrumentos legais, como os PCNs e a BNCC, aqui analisados, com
Nesse sentido, a análise dos PCNs e da BNCC também requer essa compreensão.
Ou seja, esses dois documentos também foram e são fontes de disputa. E apesar dessas
disputas os mesmos, em diferentes momentos, foram publicados e homologados. É
preciso conhecê-los para perceber as rupturas e continuidades que contêm.
7. REFERÊNCIAS
BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação. Portugal:
Editora Porto, 1994.
Recebido em: 30/05/2021
Aceite em: 13/08/2021 120
BRANCO, Emerson Pereira; ZANATTA, Shalimar Caligari. BNCC e Reforma do
Ensino Médio: implicações no ensino de Ciências e na formação do professor. Revista
Insignare Scientia - RIS, v. 4, n. 3, p. 58-77, 3 mar. 2021.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4º ed. São Paulo: Atlas,
2002.