Terapia Analà Tico-Comportamental em Grupo

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Terapia Analítico

Comportamental em
Grupo
Maly Delitti*1

1. Introdução

Nos últimos anos, a eficácia da Análise Aplicada do Com­


portamento na intervenção e mudança de muitos problemas huma­
nos vem sendo cada vez mais reconhecida. Nessa abordagem,
considera-se que o ambiente tem um papel fundamental na mode­
lagem e manutenção de padrões de comportamento. O comporta­
mento, qualquer que seja ele, tem uma função e é através da análi­
se das contingências de aquisição e/ou de controle dos mesmos
comportamentos que se quer poder chegar a mudanças. De acor­
do com Skinner (1974) se o indivíduo se tornar consciente das con­
tingências que controlam seu comportamento será mais eficaz em
controlar a sua vida. Analisar e modificar contingências é o objetivo
da aplicação clínica da análise do comportamento que tem sido

1 M a ly D elitti - D o u to ra e m P s ic o io g ia - P ro fe s s o ra d o D e p a rta m e n to d e M é to d o s e T é c n ic a s
da F a c u ld a d e de P s ic o lo g ia d a P o n tifíc ia U n iv e rs id a d e C a tó lic a P U C -S P . S u p e rv is o ra do
A m b u la tó rio d e A n s ie d a d e - IPq - HC - FM U S P , C o o rd e n a d o ra e T e ra p e u ta d o C e A C -
C e n tro de A n á lis e d o C o m p o rta m e n to , S ã o P a u lo , e -m a il: m a ly d e l@ u o l.c o m .b r

* F a c u ld a d e d e P s ic o lo g ia d a P o n tifíc ia U n iv e rs id a d e C a tó lic a PUC SP.

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Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

chamada Terapia Comportamental. Ferster (1979) afirma que a te­


rapia é um tipo de interação social que envolve o controle recíproco
do comportamento dos indivíduos envolvidos, e o “primeiro aspecto
a ser estudado consiste em saber como terapeuta e cliente alteram
o comportamento um do outro, no contexto da sessão de terapia” .
Esse autor ressalta que outro aspecto importante consiste em in­
vestigar se e como os comportamentos verbais que são emitidos
como resultado da terapia podem alterar os comportamentos emiti­
dos em situação natural. Ferster (1979) afirma, ainda, que a terapia
possibilita que o ciiente íale de seus eventos internos e “à medida
que o terapeuta torna-se um ouvinte há a possibilidade do cliente
observar os determinantes de seus comportamentos e de quais
variáveis são função”.
De acordo com Zettie (1990), as regras (ou crenças),
descrições verbais de contingências que o cliente faz na situação
terapêutica, podem vir a controlar seu comportamento. Quando o
indivíduo aprende a seguir suas próprias descrições verbais das
contingências nas quais está inserido, fica sob controle mais
adequado da correspondência dizer-fazer, e, então, emite
comportamentos mais adequados, pois ele poderá reagir eficazmente
quando o controle por contingências estiver enfraquecido. O cliente
que, a pedido ou sob controle de verbalizações do terapeuta, faz
descrições verbais de contingências que atuam sobre seus
comportamentos em situação natural, pode reagir mais eficazmente
quando estes controles não estiverem atuando. Para que isto ocorra,
o terapeuta deve planejar contingências que fortaleçam a
correspondência entre dizer, isto é, “ relatar” ou “descrever"
comportamentos na sessão, fazer, ou “emitir” outras categorias de
comportamento em seu ambiente natural, e voltar a dizer, ou seja,
“relatar” novamente para o terapeuta, o qual por sua vez deve
investigar se esta correspondência existe. Como na situação de
terapia em grupo os clientes fazem parte das contingências o
terapeuta deverá estar muito atento para que esta correspondência
ocorra evitando possíveis respostas de esquiva ou de agressividade
entre os clientes.

T: Olá pessoa! como foi a semana de vocês?

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Maly Delltti

D (mulher, 58 anos): Eu pensei muito no que a gente conversou


aqui, sobre eu colocar limites para o meu filho e...
S (homem, 54 anos): (interrompendo D. e falando alto) Já sei, já
sei, mais uma vez você ficou só pensando e não fez nada e,
como sempre, depois ficou p... com você mesmo.
D: Não, dessa vez foi diferente, mas não quero falar mais nada...
Fale você V. (virando para outra cliente), como fo i sua
semana?
T: Espere um pouquinho D. Quero saber o que foi diferente dessa
vez. Parece-me que você ia falar sobre algo... quando S. a
interrompeu e eu estou interessada em ouvir você.

Neste trecho de sessão observa-se que quando D.


começa a fazer a descrição de uma contingência de sua relação
com o fiiho, o outro cliente S. parece punir sua verbalização, o que
se observa por sua resposta de esquiva. O terapeuta procurajmpedir
que a cliente se esquive demonstrando seu interesse.
Uma característica da abordagem comportamental que
aumenta sua eficácia e que fica evidente no trabalho com grupos é
o seu ^specto pedagógico ou instrucional. O terapeuta pode ensinar
a seus clientes sobre análise do comportamento: sobre relações
entre os comportamentos e as suas conseqüências, a descrever
contingências e construir suas próprias regras. Na realidade, os
resultados mais duradouros e generalizados são obtidos quando o
cliente aprende a analisar as contingências de seu ambiejite
envolvidas em suas queixas. Ensinar análise funcional ao cliente é
um dos melhores procedimentos terapêuticos. Cabe ressaltar, no
entanto, que para que esta estratégia seja efetiva é necessário
adequar a linguagem e utilizar exemplos da vida dos clientes, sem a
preocupação de utilizar termos técnicos que podem ser de difícil
entendimento para algumas pessoas.
No grupo, as regras decorrentes dahistória de vida dos
diferentes indivíduos podem ser evidenciadas, questionadas e
utilizadas como modelos para novos repertórios. É uma excelente
oportunidade para o individuo observar e refletir sobre a sua própria
habilidade social. Além disso, propicia condições de aprendizagem

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Terapia Analrtico-Comportamental em Grupo

\< ; laníoatravés de uma participação ativa como através da observação.


Por exemplo, já tivemos clientes que após algumas sessões nas
quais emitiram baixa frequência de verbalização relatam que “me
lembrei daquela situação que o V. contou da relação dele com o pai
e das alternativas que o grupo levantou e resolvi fazer igual com o
meu pai.. Deu certo, adorei...” .
Outra vantagem desta modalidade de atendimento decorre
do fato de o reforçamento ser diversificado $ imediato. Realmente,
os membros do grupo são capazes de prover uma fonte adicional de
reforçamento positivo social e uma preocupação com a melhora de
performance dos membros do grupo. O terapeuta não é mais o único
determinante do comportamento do grupo. A situação grupai pode
funcionar como um laboratório no qual se experimenta novos
comportamentos e se desenvolvem novas formas de relacionamento.
Os membros do grupo provêem um reforço imediato para aquilo que
se constitui num comportamento apropriado em dada situação. Além
disso, os membros do grupo podem experimentar novas formas de
comunicação com outras pessoas em situações que simulem mais
proximamente o mundo real. Há uma ampla base para modelação
social em grupos, e os membros do grupo podem facilitar a aquisição,
e a manutenção de comportamentos socialmente reforçados. No
grupo comportamental cada participante tem a possibilidade de
comportar-se como liderou de ensinar papéis para outros membros
do grupo. Se um dos membros do grupo tem habilidades que são
valorizadas por outros membros pode ensiná-las para o grupo; ele
pode ser convidado a ajudá-los a obter as mesmas habilidades e à
medida que aprende os conceitos e procedimentos pode dar modelo
para outros participantes.

2. Organização do grupo.

2.1. Planejamento
Antes do início da formação do grupo os terapeutas
deverão decidir e planejar vários aspectos em relação ao grupo,
respondendo as questões que se seguem.

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M aly Deliti

a) Qual é o objetivo do grupo?


O grupo será para obtenção de dados para pesquisa?
Atendimento em consultório ou em instituição? Se instituição, trata-
se de uma dínica-escola, hospital psiquiátrico, posto de saúde ou
empresa? A resposta a esta questão determ inará todas as
características do grupo. Neste capítulo apresentamos um modelo
de atendimento que temos utilizado Janto com clientes de consultório
quanto com os de uma dínica-escola e os de hospital psiquiátrico.
Em outros capítulos deste livro, estão apresentados relatos de trabalho
de pesquisa e de atendimento em instituições. Uma das características
da Análise do Comportamento é a utilização de uma definição objetiva
dos probjemas para fins^a aná|ise funcional. A definição e descrição
operacional dos objetivos são indispensáveis para o planejamento
das intervenções e, também, para a avaliação dos resultados.

b) Quantos clientes participarão do grupo?


Não existe uma norma ou recomendação que especifique
o número ideal de participantes. Esta é uma das decisões que o
terapeuta deverá tomar, considerando seus objetivos e as demais
características do grupo. Grupos maiores (mais de 8 participantes)
demandam um maior treino-terapêutico, embora sejam muito úteis
nas instituições (hospitais, emprèsas) nas quais a demanda por
atendimento costuma ser maior. Terapeutas menos experientes
provavelmente se beneficiam se trabalharem com grupos menores
(4 a 5 pessoas) e, portanto, com menos diferenças individuais em
termos de problemas e de história de aprendizagem. Grupos
menores, por outro lado, podem trazer outro tipo de dificuldade: se
um participante faltar, o que realmente pode ocorrer, a interação na
sessão pode ficar pequena ou aversiva para os membros do grupo.
Em nossa experiência.eanciuímos que um grupo com 6 a 8 clientes,
traz vantagens em termos deinlecação, modelação e aprendizagem -
interpessoal ê, ao mesmo tempo, permite a atenção adequada para
a análise e intervenção com cada um dos clientes.

c) Quantos terapeutas?
Um terapeuta pode atender ao grupo sozinho. Entretanto,
contar com um co-terapeuta tem se mostrado extremamente produtivo.

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Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

Na situação de grupo fica difícil para um único terapeuta observar e


/ discriminar os comportamentos verbais e não-verbais de todos os
clientes. Assim, enquanto um terapeuta está interagindo com um cliente,
o outro terapeuta observa os demais e. se preciso, interfere, mudando
o foco da análise ou completando a verbalização. Deve-se, entretanto,
tomar cuidado para que um terapeuta não fique constantemente
completando a afirmação do outro o que pode reduzir a oportunidade
de participação dos membros do grupo.
O trabalho em co-terapia vem sendo estudado por vários
autores (Zaro, Barach, Neldelman,1981), e, bem planejado, traz
muitas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento para os
clientes, além de facilitar o treino e aprimoramento dos terapeutas.
Em situações que podem ser aversivas ou mais difíceis para um
dos terapeutas - por exemplo, quando o relato de um cliente evocar
encobertos intensos em um dos terapeutas - o outro terapeuta usar
modelação ou auto-revelação de forma mais objetiva. Cada
terapeuta pode funcionar como um controle para o comportamento
do outro, diminuindo a probabilidade de vieses e aumentando as
fontes de reforçamento. Por outro lado pode ocorrer de os dois
terapeutas competirem, pela atenção dos clientes, interrompendo
um ao outro ou discordando. Por isto, yuando há dois terapeutas, f
principalmente em situações de treino, cfêve-se píanejar antes quem “ '*
conduzirá a sessão e quem terá o papel de co-terapeuta! A falta de
contato entre os dois terapeutas e as dificuldades interpessoais
precisam ser resolvidas antes de iniciar o trabalho em equipe.
A presençade um observador na sala do atendimento,
mas fora do grupo (afastado do círculo) e que não participa da
sessão, peio menos em termos de comportamento verbai, tem sido
urn LecLLrso valioso tarito no desenvolvimento do grupo como "no
das habilidades dos terapeutas. Õs objetivos do observador são
observar e registrar os comportamentos verbais e não-verbais dos
membros do grupo em sua interações com os terapeutas para
aumentar a fidedignidade dos dados coletados.

d) O grupo será homogêneo ou heterogêneo? ^ ^


O grupo será composto por pessoas semelhantes em
termos de idade, tipo de problema, e sexo dos participantes ou não?

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MalyDelliti

Esta decisão depende dos objetivos do trabalho, isto é, grupos


homogêneos são mais adequados para realizar uma pesquisa, para
discutir uma temática específica (por exemplo, grupo de mulheres
para discutir sexualidade), ou grupos heterogêneos com temas mais
genéricos como habilidades sociais, problemas de relacionamento,
ansiedade etc. Preferimos grupos heterogêneos porque, a partir da ,
prática clínica com estes grupos, concluímos que há uma maior L
probabilidade de generalização para a situação natural, dada a ;
diversidade de modelos e de reforçamento. J

e) O grupo será aberto/fechado?


Novos membros podem passar a participar do grupo
depois de seu início ou não? Se a opção for pelo grupo fechado
cada pessoa assume o compromisso de participar por algum tempo
específico (alguns meses, por exemplo). Quando se trabalha com
grupo aberto o terapeuta deve se lembrar que sempre que um novo
membro for acrescido deverá ser já ocorreu
no grupo e uma retomada das regras e condições do grupo. Nas
instituições como hospitais e centros de atendimento à saúde, este
tipo de grupo é mais freqüente nas enfermarias. No entanto, nos
ambulatórios, é possívei a realização de grupos fechados, temáticos,
e às vezes com número pré-determinado de sessões tanto para
pesquisa quanto para atendimento aos pacientes da instituição.

f) Local, duração, freqüência e valor das sessões.


Em nosso trabalho, grupos com encontros semanais de
^4 2 horàt\de duração têm se mostrado adequados. Sessões mais
ciJrfas impedem a participação da maioria dos clientes e sessões
mais longas costumam ser cansativas e pouco produtivas.
É difícil estabelecer ojDreçfuJa sessão de grupo. Para
atender seis ou mais pessoas é preciso uma ja la de tamanho
grande. Além disso, trabalham dois terapeutas e um observadõTêo
~pTãaejamen.to e discussão da.aès_são demanda „várias horas além
das utilizadas durante o. atendimento. Na nossa experiência, no
atendimento erri grupo em consultório particular, é justo cobrar 50%
do valor da sessão individual.

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Terapia Analítíco-Comportamental em Grupo

Uma estratégia que tem trazido bons resultados é a que


chamamos de “ esquema combinado” : faz parte das regras
combinadas com ó grupo a possibilidade de ocorrerem eventuais
sessões individuais, solicitadas por um cliente ou pelo terapeuta,
para facilitar o desenvolvimento do grupo. Nestas sessões são
analisadas possíveis dificuldades do cliente em relação ao grupo,
quer por algum conteúdo aversivo, ou por alguma dificuldade em
relação a outro. Deve-se enfatizar que nestas sessões, que ocorrem
com pouca freqüência, o indivíduo é incentivado a contar quando
estiver em uma sessão com o grupo sobre os assuntos da sessão
individual, sendo ressaltado que o objetivo é participar efetivamente
do grupo.

2.2.0 início
Em sessões individuais (uma ou duas) antes da primeira
sessão do grupo, os terapeutas~coletàm TnTõfmáçõessobre as
expectativas dos clientes, os comportamentos que estes consideram
como problema e, se possível,, as contingências de aquisição e a
sua manutenção. A!ém djsso, os terapeutas procuram se estabelecer
como audiência não-punitiya, explicando o processo e os princípios
da terapia em grupo. Desde este" primeiro contato, deve-se ter a
preocupação de criar a coesão do grupo, uma condição
indispensável para o seu bom andamento.
Após essas prímeiraa-entrevistas-4fídivlcluaisT--podern jser
jdentifiçadas.diferentes fases na condução dos grupos. Na primeira
sessão, os T criam condições para os participantes se conhecerem,
com cada um dos membros se apresentando e colocando suas
expectativas iniciais. Uma outra forma de começar o grupo é pedindo
a um membro que se apresente à pessoa que está ao seu lado, falando
de suas características pessoais e de seus maiores interesses. Após
a dupla interagir por alguns minutos (2 ou 3) um apresenta o outro
para o grupo, Esta estratégia (duplas) pode facilitar a emissão de
relato verbal em clientes com mais dificuldade. De qualquer forma, o
importante é que os T esteiam atentos para reforçaras verbalizações
de cada cliente e para. mostrar aspectos de semelhança ou d¥
similaridade entre os membros. No início do grupo (nas primeiras 3
ou 4 sessões), os objetivos principais são reforçar o comportamento

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Maly Delliti

de “ser cliente” (pontualidade, assiduidade, cooperação), retomara


cõTeta^elrHciar a análise dos dados que foram abordados nas
entrevístasjjndTviduaiã. É indispensável o estabelecimento de controle
positivo entre os membros, isto é, o terapeuta deverá reforçar os
comportamentos verbais do tipo tato e o de reforçamento recíproco
entre os membros. É também importante que o terapeuta esteja atento
para identificar e indicar aos clientes os comportamentos e
contingências de vida semelhantes ou que de alguma forma favoreçam
a interação e a aprendizagem de uns pelas contingências de
aprendizagem dos outros.
A atração ou coesão de um grupo é uma das variáveis
indispensáveis para o sucesso. Yalom (1985) afirma que “a coesão
é o resultado de todas as forças que atuam sobre todos os membros
do grupo, de maneira que permaneçam no grupo, ou de forma mais
simples a atração de um grupo por seus membros. jDs membros
de um grupo coeso sentem afeto, conforto j^ u m seiitido de
pertinência no grupo._Eles valorizam o grupn e sentem que-são
valorizados, aceitos e amparados pelos outros membros.” Pode-se
considerar a coesão como uma razão entre a taxa de reforçamento
e a de punição iiberada no grupo, isto é, grupos mais coesos são <
aqueles nos quais existem mais comportamentos mantidos por |
controle positivo do que por controle aversivo. Skinner“(1989) afirma J
que o” próprio terapeuta constitui uma audiência não punitiva... e o
comportamento que até então foi reprimido começa a aparecer no
repertório do paciente”. No contexto do grupo, a coesão faz com
que cada membro se estabeleça como parte de um ambiente não-
punitivo e, assim, favorece a emissão de padrões de comportamento
que são punidos na situação natural.
A coesão é tão importante p.ara a terapia em grupo quanto
o relacionamento terapêutico para a terapia individual. De acordo com
Rosenfarb (1992), freqüentemente, os indivíduos que procuram terapia
não aprenderam determinados padrões comportamentais em sua
história de vida, e o terapeuta pode, na situação de terapia, modelar
novos comportamentos. No grupo terapêutico as contingências de
controle são mais complexas. _QJatape iita fica sob controle rins V
comportamentos dos clientes e estes sob conlroledas contingências
liberadas pelo terapeuta e pelos membros do grupo. N i^tü ã ça ò de
grupo, cada individuo pode desempenhar ò papel de modelae.liberar

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Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

re fo g o ^ o c ia l para aprendizagem de novos padrões de


comportamento o que pode facilitar a generalização para a situação
natural. Quando os clientes identificam os efeitos de seus
comportamentos sobre o comportamento do terapeuta e dos outros
membros do grupo em uma situação de controle positivo, é maior a
probabilidade de discriminação de quais comportamentos serão
reforçados se emitidos na situação natural. Assim, a sessão de
terapia é a ocasião de aprendizagem na qual o terapeuta poderá
instalar comportamentos mais adequados, treinar discriminações de
encobertos e planejar a generalização destes padrões para a vida do
cliente. No grupo coeso a terapia pode ser entendida como um
processo de influência mútua no qual a interação que ocorre entre
clientes e terapeuta é um novo padrão de comportamento que pode
ser mais adaptativo na situação natural. A história de aprendizagem
que ocorre nesta interação é uma variável de mudança. Em outras
palavras quando os clientes identificam o grupo terapêutico como uma
situação em que são cuidados e apoiados, eles começam a revelar
informações, sentem-se protegidos, confiam no terapeuta e nos
outros participantes e identificam este relacionamento como especial,
diferente do que tem com outras pessoas. As respostas adquiridas e
reforçadas nesta interação freqüentemente se generalizam para outros
ambientes ficando sob controle das contingências naturais. Em
resumo, pode-se entender a coesão do grupo como resultado da
densidade de réfõrçamento ou o valor reforçador dê um membro para
o outro, dos terapeutas e das atividades do grupo para os participantes.
A transcrição abaixo descreve um trecho da primeira
sessão de um grupo de terapia durante a apresentação dos clientes:
M. (Mulher, 63 anos) relata: “Sou M. tenho 63 anos e meu problema
é com minhas filhas. Fico extremamente nervosa com o
egoísmo delas, que só me procuram quando querem alguma
coisa.”
T: “Acho que você é corajosa, pois foi a primeira a faiar e relatou
sua dificuldade.” T mostra empatia e reforça revelação.
F (Homem, 26 anos): “ Eu já fiz terapia individual e agora quero
me organizar em relação ao trabalho e também falar do meu
casamento que vai acontecer daqui há 6 meses e eu acho
que teremos problemas conjugais.”

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Maly Delliti

T: “Oba, temos um noivo aqui... Em que você trabalha mesmo?


Eu já sei, porque já nos falamos, mas conte para os outro.”
(Terapeuta dá atenção e solicita informação para o grupo)
F: “Informática, mas como lhe faiei quero mudar de área...”
T: “O F. quer se organizar pois acha que perde tempo em seu
trabalho e que poderia render mais” (T explica.)
T: “E você G., não quer se apresentar?” (dirigindo-se à outra
cliente que estava se mexendo muito na cadeira).
G: (Mulher,(24 anos): “Como já lhe fale.i tenho um namorado com
quem vivo brigando, mas não posso viver sem ele... Sou filha
única de pais bem velhos e caretas... eles implicam comigo...”
T: “É, a gente já conversou mesmo. Não pode viver sem o
namorado, mas também não pode ficar sem brigar não é G.?
Não sei se você concorda, mas parece você se esforça para
se dar bem com ele, mas parece também que há algo que
sempre atrapalha vocês. Vamos descobrir o que é para poder
mudar... Quero, agora, chamar a atenção de vocês para o
fato de termos aqui alguém que fala de como é ser uma filha,
a G .e também uma mãe, a M. Vai ser bom podermos observar
os 2 pontos de vista.” (O terapeuta reforça a verbalização e
traça uma relação entre as 2 clientes).
A forma com que o terapeuta verbaliza suas análises pode
ter um efeito importante.^^AojJsarjíQcnpartamentq
autoclítico, por exemplo, ao empregar expressões como: “Não sei
se você concorda com o que eu penso.” ou “Parece que você está
me falando que...” o terapeuta pode diminuir possíveis impactos ^
aversivos de sua verbalização e aumentar a receptividade do cliente, ^
dando condições para que ele concorde ou não.

3. Avaliação inicial (assessmenf)


Muitos clientes começam a terapia em grupo relatando suas
queixas de modo genérico, como os clientes M. do exemplo anterior
(fico nervosa...) ou F. que relata “problemas conjugais”. A primeira
tarefa do terapeuta será analisar tais queixas. descrevencTo-asem
termos de comportamentos específicos passíveis de observação

43
Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

(direta ou indireta) e de mudança. Além disso, a descricão das


contingências permitirá que seiamJdentificadas as m n^eniiôncias
advindas de tais c o m p o r t a m e n t o s q n p r p a r a n p r ó p r io, indivíduo quer
para as pessoas com gn^m Dois tipos de problemas
têm sido descritos na literatura: excessos e déficits comportamentais.
Os excessos comportarnaníais referem-se àqueles comportamentos
que são emitidos em freqüência, duração ou intensidade muito alta
ou em situações inadequadas. Déficits comportamento são, os
padrões de comportamentõque não são emitidos na freqüência,
intensidade ou duração necessária, da forma apropriada ou em
situações inadequadas para trazer reforçamento positivo ou evitar
punições (reforçamento negativo). Tanto os excessos quanto os
déficits comportamentais podem ocorrer com comportamento abertos
oj j encobertos, verbais ou nao-verbais e, portanto, passíveis de análise
ejntervençãõsegundo os princípios da análise do comportamento.
Em relação aos encobertos ou eventos privados, tais como
pensamentos, sentimentos, e respostas fisiológicas deve-se ressaltar
que na análise clínica do comportamento estes são considerados
comportamentos como quaisquer outros, a única diferença é o acesso
que o observador externo tem a eles. Isto é, quando se conduz uma
análise funcional, os eventos privados são analisados de acordo com
suas funções examinando as variáveis de controle relevantes. Por
exempio, um cliente diz: “Penso que eu sou um fracasso completo!”.
Na perspectiva de análise comportamental é preciso compreender a
função ou a finalidade destes pensamentos e do relato dos mesmos,
examinando as variáveis ambientais que o controlam. ,Quais são os
antecedentes sob os quais o estes pensamento ocorrem? Q que
acontece quando o cliente relata estes pensam entos? _E,
independentemente do relato, como estes pensamentos se relacionam
com outros comportamentos e contingências da vida ria pes-gna?
B t T quiTsIfuaçoesÜao maislreqüentes? Quais são as contingências
de reforço que mantem tais pensamentos e talsTélatos?
Entretanto, existem outras solicitações ou demandas que
os indivíduos apresentam que influenciam suas vidas e vão além
das queixas comportamentais. Privações econômicas, problemas
legais ou de saúde precisam ser levados em conta. Por exemplo,
existem pessoas que não podem vir ao grupo por não terem com
quem deixar os filhos, por não terem dinheiro para condução, por

44
Maly Deliiti

limitação física etc... Em muitos casos é necessário o apoio e


encaminhamento para outros profissionais e o terapeuta precisa ter
conhecimento e acesso a esta rede de apoio social.
Na análise clínica do comportamento, a mensuração e a
avaljaçãp .fazem parte constante da prática com os seguintes

!
objetivQSJ
a) identificar os comportamentos-alvo e as circunstâncias que
mantêm tais comportamentos;

b) auxiliar na seleção de uma intervenção apropriada;


c) fornecer meios de m onitoram ento dos progressos do
tratamento;
d) auxiliar na avaliação da eficácia de uma intervenção.
Para fazer a avaliação na situação de grupo, vários proce­
dimentos podem ser utilizados. Os clientes podem aprender a obser­
var a , <usjArAftRÁrio. registrar os próprios comportamentosTrespon­
dendo a questionários ou inventários já padronizados (Rathus,1972;
Teste de Discriminação de Comportamentos Assertivo, Inassertivo e
Agressivo de Lange e Jakubowski 1977; Inventário de Beck 1997; In­
ventário de Assertividade de Alberti e Emmons 1983), ou fazendo re­
gistros ds certos comportamentos em situações específicas. Esta
segunda alternativa, a observação do comportamento, propicia da­
dos qualitativos e o terapeuta irá áriàlísár, corffõcnente, qüü^contin-
gênnias estão em operação para levá-lo a emitir aquela resposta. Ãs
contingências a serem consideradas são aquelas que, na sua histó­
ria de vida, instalaram o comportamento e, também aquelas que
mantêm seu comportamento no presente. As novas contingências
que passarão a ser manejadas nas sessões pelo terapeuta na
interação com os membros do grupo poderão produzir novos com­
portamentos alterando o repertório dos clientes.
lim a estratégia sim ples que temos utilizado para
observação e avaliação de comportamento no grupo de terapia é a
observação em intervalo fixo. A cada 10 ou 20 segundos, registra-
45
se a inicial do nome da pessoa__^ye_eslá^iaiando e, assim, a
Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

diferentes sessões. A tabela e a figura a seguir são exemplos deste


tipo de registro realizado em sessões de terapia em grupo com
clientes na clinica de Psicologia da PUC-S. Paulo.2 *

Tabela 1. Observação da porcentagem de ocorrência de


verbalizações emitidas por clientes e terapeutas registrados em
intervalo de 20", durante a primeira sessão de grupo.

0 1
00 I
2o 3o 40 5o 6o 7o

LR LR D D N TE N
1 TE
2 TE LR AS D D R TE TE
TE LR LR D D N TE D
3
4 TE AS LR D D N TE TE
CO AS R TE D R C TE
5
6 TE TE R D N R C TE

7 TE AS LR R AS R c TE
8 TE N R D R R TE TE
9 TE N R D TE R C TE
10 TE TE TE D TE R c D
11 TE TE R TE R C TE TE
12 TE TE R D TE D c C
13 TE N R TE TE TE c TE
14 TE N AS CO N D C TE
15 TE TE AS TE N R C TE
16 D TE TE TE N D TE
17 TE TE TE TE N D C
18 D TE TE D N AS TE
19 TE N R D N AS TE
20 TE N TE TE N D TE
21 TE AS R TE N D C
22 R TE AS D N TE C
23 TE TE TE D N TE C
24 R AS D D N TE TE
25 R AS TE D TE D C
26 CO AS LR LR TE D AS
27 R TE LR TE N N AS
28 TE AS LR D N R AS
29 TE LR LR D N CO TE
30 LR LR LR D N TE TE

AS 18 8% LR 16 7%
TE 83 37% C 16 7%
CO 4 2% R 25 11%
D 36 16% N 27 12 %

2 A g ra d e ç o a R e b e c a A y a b e B a ssi p e la o rg a n iz a ç ã o e p e lo e n tu s ia s m o co m os re g istro s
das sessões.

46
Maly Delliti

Tabela 2. Porcentagem de ocorrência de verbalizações


emitidas por clientes e terapeutas registradas em intervalo de
20" durante cinco sessões de grupo.

Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5

TC 33% 49% 57% 68% 79%


CO 1% 5% 22% 24% 30%
C02 0% 0% 0% 18% 34%
D 17% 27% 31% 46% 46%
LR 11% 27% 51% 7 9% 79%
C 9% 50% 84% 97% 117%
R 9% 15% 20% 31% 42%
N 13% 13% 13% 13% 13%
AS 7% 14% 23% 23% 55%
S 0% 0% 0% 0% 0%
T 0% 0% 0% 0% 5%

Figura 1. Porcentagem acumulada de ocorrência de emissão


verbai de clientes e terapeutas registradas em amostragem
de tempo durante 5 sessões de grupo.

47
Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

A figura 1 apresenta os dados registrados da ocorrência


acumulada de emissão verbal por amostragem de tempo. Esta
observação é realizada registrando-se a inicial do sujeito (cliente ou
terapeuta) que está verbalizando ao final de cada o intervalo de
vinte segundos. No eixo da abscissa, estão os dados das sessões
realizadas em diferentes datas. O eixo da ordenada representa a
porcentagem acumulada de ocorrência de emissão verbal de cada
sujeito. É possível constatar que, nas primeiras sessões, o terapeuta
emitiu mais verbalizações que os clientes. Este padrão é esperado
por se tratar da fase de orientação inicial e estabelecimento de regras
do grupo. Observa-se que esta participação diminuiu nas sessões
seguintes e que a figura expõe uma tendência de equilíbrio de
emissão verbal dos clientes com o passar das sessões, cada um

4. O desenvolvim ento do grupo


Como um contato tão curto como a sessão de terapia
pode modificar o comportamento de uma pessoa? Esta é uma
pergunta que é feita frequentemente para os analistas clínicos do
comportamento. Realmente, 50 ou 60 minutos semanais são uma
parcela muito pequena da vida de uma pessoa. Entretanto, a sessão
de terapia é a única situação em que o terapeuta pode observar o
comportamento do cliente e, ao mesmo tempo, também fazer parte
das contingências. De acordo com Skinner

“uma pequena parte da vida do cliente se passa na presença


do terapeuta (...) ocorre uma grande quantidade de modelagem
mútua em encontros face a face”. (Skinner, 1953).

O trabalho do terapeuta será criar condições oue levem o


cliente ajdentificar as ClasspR rte mntínqénria.q de reforçamentn na
sua história de vida que o levaram a emitir aquele comportamento
que ele relata ffíélrazèr sofrimento (tem conseqüências averslvas).
Além dissn T ^rá n e r g c c á r i n lm / g r r T H iõ n t P a identificar Q U e éxistêm
hoje, no seu cotidiano, contingências que mantém os padrões
relatados como problema, incluindo-se aí padrões de fuga/esquiva

48
Maly Delllti

a finalmente levarem o cliente, através de controle por instruções


ou regras, a testar a realidade, a emitir comportamentos no contexto
social reaí. aue tenham grande probabilidade de serem reforçados.
Para executar seu trabalho o terapeuta irá se utilizar dos
princípios de análise do comportamento, ouvindo o relato verbal do
cliente acerca das_situaçõés d ^su á vídã cofícíianã e observando e.
interpretando os comportamentõsque são emitidos riã~sessão- Tsai
e Kohlenberg (1991) afirmam que “a observação e interpretação de
um terapeuta sobre um comportamento é uma função da história
do terapeuta, que inclui também seu referencial teórico” . O tipo
específico de interpretação escolhido pelo terapeuta varia de acordo
com o seu propósito e com o contexto da terapia. Contingências da
história de vida do próprio terapeuta também estarão sempre
presentes, seus valores, regras e experiência de vida. O terapeuta
neutro ou “distante” é uma falácia no processo terapêutico.
Entretanto, deve-se tomar cuidado para não transmitir seus próprios
valores. Isto significa que o terapeuta não pode falar de si mesmo
ou e sua vida?
A “análise da transferência e contra transferência”, uma das
estratégias fundamentais das abordagens psicanalíticas, na análise
clínica do comportamento pode ser entendida como um processo
que envolve discriminação e generalização por parte do terapeuta e
do cliente. Tudo que o cliente faz na sessão são comportamentos,
que foram aprendidos e ocorrem devido à similaridade funcional entre
pgtími jjnp prftçiftntefi na sessão e na situação de aprendizagem. Por
exemplo, quando se sente irritado corrTum comportamento do cliente
o terapeuta deve se perguntar: será que este comportamento do cliente
é uma amostra de seu comportamento na situação natural e dos
respondentes que evoca nas outras pessoas ou eu estou irritado
porque estou cansado? Ao fazer este auto-questionamento o terapeuta
estará procurando identificar se seus eventos privados foram
evocados pelo comportamento do cliente ou por contingências de
sua história pessoal. Na sessão de grupo esta reflexão é facilitada,
pois pode-se fazer a validação consensual, isto é, perguntar aos outros
membros do grupo e ao co-terapeuta como se sentiram naquela
situação. A partir dos relatos dos outros clientes pode verificar se eles
identificam os mesmos respondentes e, portanto, não foi uma
resposta evocada apenas por contingências da história de vida do

49
Terapia Analrtico-Comportamental em Grupo

terapeuta. Pode acontecer, também, que vários (ou todos) os


membros do grupo considerem que o terapeuta foi autoritário, punitivo
ou distante. Neste caso, o terapeuta deve reconhecer que seus
clientes provavelmente estão fazendo uma análise realista e, portanto,
precisa rever e mudar seus comportamentos. Nas situações de
pressão ou confrontação do grupo em relação ao terapeuta, o co-
terapeuta tem um papel fundamental, pois pode auxiliar o terapeuta
na manutenção da objetividade. Estas situações, cuja ocorrência é
comum no grupo terapêutico, mostram a importância da relação
harmoniosa entre o terapeuta, o co-terapeuta e os clientes e a
necessidade do autoconhecimento por parte do terapeuta, repertório
este que pode ser adquirido e/ou aprimorado com terapia pessoal e
supervisão.
Os princípios e procedim entos da Análise do
Comportamento são utilizados durante todas as sessões do grupo.
Reforçamento, extinção, treino de discriminação, modelagem
(shAofna), modelação {m odeling), treino de auto observação,
desenvolvim ento de repertório alternativos, observação' e
reforçamento de CRBs (FAP, Kohlenberg, 1991) são algumas das
estratégjasjerapêuticas utilizadas durante todo o processo. Inúmeros
recursos, como fotografias, poesias, letras de música, recortes de
jornais e revistas podem ser utilizados como um conjunto de
estímulos textuais, verbais, com diferentes funções, eficazes para
controlar os comportamentos do terapeuta e dos clientes. Estes
princípios e procedimentos são conhecidos de todo analista do
comportamento, e existem inúmeros trabalhos e pesquisas sobre
seus efeitos na prática clínica. Entretanto, a modelação e o ensaio
de comportamento, por serem estratégias fundamentais para
atendimento de grupo, serão enfatizados neste trabalho.

5. Modelação e Ensaio de Comportamento*3


Modelação (modelingy. na terapia em grupo 9 modelação
ou .aprendizagem por observação è um dos instrumentos de maior
importância. O terapeuta é um modeio para comportamentos" no
grupo e estes também são modeios uns para os outros. Bandura

3 Modeling (inglês) tem sido traduzido por modelação e shaping por modelagem

50
Maly Delliti

(1969,1971) foi um dos primeiros autores a pesquisar e analisar as


evidências empíricas da aprendizagem por modelação e demonstrou
que a_modelação pode ter três efeitos sobre os clientes: primeiro os
observadores podem adquirir novos padrõesjje~cõmportamento;
além disso, a modelação também pode fortalecer ou inibir respostas
que ]á existem no repertório do observador, e estão reprimidaspor
contingências aversivas; e, finalmente, a modelação podelacintàr
respostas que já existem no repertório do indivíduo, mas são emitidas
emT5aixa freqüência.
Baum (1994/1999) afirma que os indivíduos nascem com
uma sensibilidade específica para serem afetados por estímulos
que vêm de outros seres humanos, estímulos estes essenciais para
o desenvolvimento normal, e que esta sensibilidade específica em
relação a determinados estímulos é que o torna apto a imitar.
A imitação é fundamental para a existência de uma cultura,
pois p e r m ite a r e p r r HH ?äft 9 ^ n tin iiid a rie dos seus valores,
egonomizando tempo de a p re n d iz a g e m p garantindo a a q u is iç ã o
de comportamentos adaotativos à sobrevivência da espécie. Os
indivíduos que aprendem a imitar comportamentos provenientes de
gerações anteriores, em contraposição àqueles que aprendem por
si próprios através, por exemplo, de tentativas e erros, aumentam a
probabilidade da sobrevivência e manutenção da cultura (Bandura,
1969/1979; Baum, 1994/1999).
De acordo com Baum (1999), “a imitação orovê a base
da aprendizagem operante"e pode ser não-aprendida ou aprendida.
Ò primeiro tipo (imitaçáo~~njo-aprendidal não exige nenhuma
experiência especial. A imitaçãoTiã^aprendida. c ombinada com a
modelagem, é responsável pêíaãquisição do comportamento verbaL
.lá a imitaça?Taprendlda é~úiTia forma de comportamento governado
por regras. Quando alguém verbaliza para 0 outro “faça assim” e
mostra còmo fazê-lo, esta pessoa será capaz de seguir esta
instrução e este m odelo, dependendo de sua história de
reforçamento do comportamento de imitar no passado. A imitação
permite que regras sejam passadas para outras gerações,
possibilitando a transmissão da cultura e aumentando a sua
probabilidade de sobrevivência.

51
Terapia Analítico-Comportamenta! em Grupo

Osj>ais_sgo os pnmeiros modelos a serem seguidos por


seus filhos e servem de modelo para muitos comportamentos
diferentes. Esses comportamentos podem ser mais aceitas
socialmente, como por exemplo, o comportamento amoroso, ou ser
menos aceitos, como a imitação de comportamentos violentos por
crianças que têm pais agressivos. Deve- se, entretanto, salientar que
o que é adequado socialmente depende do contexto: o comportamento
assertivo e cooperativo de uma criança pode ser adeqüadõ~õu
inadequado, istn é, trazer conseqüências positivas ou negativas
dependendo do fato dela viver em uma famjíja de classe média õu
alta, em um orfanato, um abrigo para menores. Èm gerai, uma pessoa
não copia só um modelo, mas sim vários e também não copia a
íntegra do comportamento do modelo, mas sim alguns aspectos deste
comportamento. Conforme vai ficando exposta a novas contingências
ou novos modelos, o comportamento imitado vai mudando de aspecto,
acrescido ou modificado. Esta possibilidade de mudança de padrões
de comportamento é uma variável relevante no trabalho com grupos.
Há alguns fatores que facilitam a aprendizagem por
modelação: a habilidade do cliente em ohsftryar è discriminar
determ inados aspectos do com portam ento do modelo; as
características do modelo, suas similaridades em relação idade,
raça, gruposocial etc. e as contingência nas quais o modelo se
encontra ao ser apresentado ao observador. Bandura (1977) afirmou
que se um modelo for reforçado na presença de um observador a
probabilidade da imitação é maior. Além disso, de acordo com este
autor, o papel do controle social sobre o comportamento do modelo
deve ser lembrado. Istoé, o comportamento do modelo dependerá
das regras sociais e estas variam de cultura para cultura. Na situação
natural pode ocorrer, também, que alguém que desempenhe papel
de modelo apresente um amplo repertório de esquiva, o que poderá
im pedir que o indivíduo entre em contato com inúm eras
contingências. Na situação clínica observa-se que pessoas com
problemas de fobia ou de ansiedade exagerada relatam histórias de
aprendizagem destes padrões (“meu pai e meu avô também eram
como eu”).
Um outro aspecto a ser considerado é que a aprendizagem
por modelação ocorre ainda que a relação de contingência não esteja
explicitada. Por exemplo, comportamentos liberais em relação a

52
Maly Dellrti

sexo, cuidados com limpeza pessoal, a forma de administrar dinheiro


são aprendidas através dos anos em nosso ambiente social, ainda
que as contingências não estejam explicitadas. Bandura (1977)
chamou de modelos simbólicos aqueles que não eram apresentados
"ao vivo” , como os personagens de filmes ou livros. Neste sentido,
as regras sociais podem ser consideradas como um modelo
importante. Baum (1999) ressaltou que a regra “imite o sucesso”
faz parte da cultura. Assim, os indivíduos imitam ídolos da TV ou do
esporte, que são m odelos apresentados pela mídia em
contingências de reforço identificadas como sucesso ou prestígio.
Na clinica, o estabelecimento de uma boa relação
terapêutica significa que o terapeuta adquiriu propriedades de modelo
com valor reforçador. Na terapia em grupo a variedade de modelos
é maior, isto é, podem ser modelos os terapeutas, outros membros
do grupo, e pessoas do ambiente natural do cliente.
O trecho abaixo, transcrito de uma sessão de grupo pode
ser tomado como um exemplo de aprendizagem por observação
de modelo.

Cliente J: (entregando uma pasta para o T “Trouxe uns textos


que escrevi e que gostaria de transformar em um livro algum
dia."
Terapeuta: “Que legal! Você quer que eu leia aqui ou prefere que
eu ieia sozinha depois? (T da atenção e investiga, respeitando
o direito do cliente à privacidade).
Cliente J: “Não, pode ler para todo mundo.”
O terapeuta lê o texto para o grupo e em seguida diz:
T: “Gostei de você ter trazido. Gostei também de ler, porque assim
conheci melhor você. Percebo que você é muito sensível,
entretanto acho que é hora de parar de pensar no passado
onde ocorreram m uitas coisas ruins, e pensar nas suas
conquistas pessoais e nas coisas que você quer conseguir
daqui para frente.”

Na sessão seguinte, uma outra cliente, R diz ao terapeuta:

53
Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

R: “Eu trouxe um CD que tem uma música que é muito importante


para mim e expressa o que eu gostaria de conseguir..."
T: “Ótimo... então eu vou pegar o aparelho de som para nós
ouvirmos”.
Esta interação parece indicar que a cliente R imitou o
comportamento que observou ser reforçado no cliente J, isto é, trazer
algo da sua vida para o grupo. Além disso, ela parece ter aprendido
a instrução do terapeuta: “olhar daqui para frente”.
A m odelação e o ensaio de com po rta m e nto são
estratégias fundam entais no trabalho com grupos. Ensajo
comportarneintãFe a simulação de situações~reais da vida do
indivíduo, situações nas quais ele apresenta algum grau de
dificLjBadêTe pode ser utilizado para avaliação e para intervenção!
A Modelação e o ensaio de com portam ento como
estratégia de avaliação: Quando o indivíduo representa uma
situação que tenha ocorrido em sua vida pode se observar seu
comportamento verbal e não-verbal, a topografia dos mesmos, tom
de voz, gestos, entonação e postura. Esta observação costuma
fornecer dados importantes para a análise das contingências.
M odelação e o e n sa io de com po rta m e n to com o
estratégia de Intervenção: são inúmeros os comportamentos que
podem ser instalados ou alterados, desde comportamento de observar
a si e aos outros, analisar e descrever contingências, habilidades
sociais, empatia, comunicação, auto-revelação, enfrentamento etc.
Vale a pena salientar que os primeiros modelos de comportamentos
que o terapeuta apresenta para os clientes são os auto-relatos,
principalmente aqueles cujo conteúdo mostre empatia e aceitação
social, isto é, o terapeuta dá modelo de como os clientes podem liberar
reforço social. A modelação pode ser facilitada quando, por exemplo,
durante um ensaio de comportamento no grupo, o terapeuta der uma
instrução prévia oral ou escrita em cartões levando os clientes a
ficarem sob controle dos estímulos relevantes, dizendo, por exemplo:
‘'prestem atenção ao tom de voz e aos gestos do P nesta situação”.
Uma variação de modelação ocorre quando o terapeuta atua
como espelho, isto é. emite um comportamento (verba[oumãõysimiFar
a um comportamento emitido, ou descrito pelo cliente para o grupo

54
Maly Delllti

observar, reforçar diferencialmente e. se necessário e possível, emitir


nnmpnrtamftntos alternativos, Além disso, pode ser feita a troca de
papéis: o cliente troca de papel com outro participante da dramatização,
seja ele terapeuta ou outro membro do grupo. De qualquer forma, para
que a modelação seja uma estratégia efetiva devem ser seguidos os
seguintes passos: descrever a situação problema, decompor a
seqüência comportamental (operacionalização), dar instruções ou
modelo de desempenho, ensaio, dicas sobre o desempenho, inverter
papéis, re-ensaiar, reavaliar o desempenho, programar a generalização,
avaliar o desempenho na situação real.

6. O término do grupo
A afirmação de Skinner (1953) “uma pequena parte davida
do cliente se passa na presença do terapeuta (...) ocorre uma grande
quantidade de modelagem mútua em encohjos face a face" já citada
neste trabalho, levanta uma pergunta relevante para quem trabalha
em clínica: como facilitar a transposição dos padrões aprendidos
na situação de grupo para a situação natural?
Realmente, no atendimento em grupo assim como na
terapia individual, é importante que o terapeuta crie condições para
a manutenção e generalização dos comportamentos aprendidos na
situação do grupo para a situação natural. “Entretanto ’ aquilo que o
cííérrtêlaz na clínica não é a preocupação básica. O que acontece
lá é uma preparação para um mundo que não está sob controle do
terapeuta.” Skinner Q nhjftttM"» terapeuta não fi.tfir.um
cliente oue se desempenhe bem na sessão ou que sejacompetente
na realização de ensaio de comportamento, mas sim que estes
nnmprtrjamftntns aprendidos sejam emitidos e reforçados em
contingências da vida real e que se mantenham no tempo. Além
flTssnr é im portante também que esses comportamentos se
mantenham após o términoda experiência de oruoo o que pode ser
investigado em entrevistas ó e jo llo w upy por exemplo, seís meses
após a sessão de encerramento. Quando o cliente consegue, em
sua vida cotidiana, aplicar os princípios de cornportamento que
aprendeu no^gaipo-enL-situação natural, pode-se afirmar gue_a
intervenção foi bem sucedida. Entretanto a de generalização (e

55
Terapia Analítico-Comportamental em Grupo

manutenção) não ocorre naturalmente, eia deve ser facilitada pelo


terapeuta. Neste aspecto a situação de grupo tem vantagens sobre
a situação de terapia individual, isto é, no grupo é mais fácil planejar
na generalização pela diversidade de modelos e de contingências
de reforçamento. O terapeuta solicita e incentiva os clientes a
emitirem aqueles comportamentos que são aprendidos e ensaiados
no grupo na vida real. As chamadas “tarefas” são propostas aos
clientes para que estes emitam os comportamentos no ambiente
natural, expondo-se as contingências que fortaleçam e mantenham
tais padrões. Durante várias sessões, a cliente R. relatou que não
conseguia colocar limites para sua família, “fazendo só o que eles
querem sem nunca dizer minha opinião.” Depois de identificar as
contingências relacionadas à aquisição e manutenção destes
padrões (as regras principais de sua mãe eram “Em boca calada
não entra mosca.” e “Não sei, não vi, não escutei cabem em qualquer
lugar.”) esta cliente fez vários ensaios dos comportamentos que
gostaria de emitir, escolhendo diferentes membros do grupo para
desempenhar o papel de seu filho. Após esta sessão, a cliente foi
incentivada pelo terapeuta a emitir o novo padrão e também foram
levantadas alternativas para o caso de seu filho não ser reforçador.
Ela relatou na sessão seguinte que “deu certo e até minha filha mais
velha disse que estou sendo mais forte agora”. A emissão dos
comportamentos na situação natural é também importante para levar
o cliente à independência em relação ao terapeuta e demais
membros do grupo, identificando-se como no verdadeiro agente de
sua mudança.
A probabilidade de generalização para a situação natural
é aumentada se o cliente aprender os princípios que explicam seus
comportamentos. Uma das características fascinantes da análise
aplicada do comportamento é seu aspecto pedagógico. O cliente
pode e deve aprender a se observar e identificar as contingências
de controle de seus comportamentos. Este conhecimento aumentará
a sua eficiência no planejamento de seus comportamentos em
diferentes ocasiões, aumentando a probabilidade de reforçamento
na situação natural. Este é o objetivo mais importante e quando
acontece dizemos que a terapia foi um sucesso.

56
Maly Delllti

7. Considerações finais
É impossível escrever uma conclusão sobre algo que está
mudando e se desenvolvendo a cada dia, como ocorre com a prática
terapêutica. A avaliação cuidadosa, planejamento e execução de
pesquisas são indispensáveis para que a área continue a se
desenvolver.
Este capítulo (e também este livro) é resultado de como
entendo a análise clínica do comportamento em sua aplicação à
situação de grupo. Trabalho de acordo com o modelo do
behaviorismo radical e meu comportamento tem sido modelado e
mantido por contingências liberadas por meus clientes, meus alunos
e meus colegas. Espero que os leitores aproveitem.

Referências

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