À Companhia de Eletricidade Do Amapá 2

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À COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO AMAPÁ – CEA

GERÊNCIA DE COMBATE ÀS PERDAS

NOME: CLEBIANE SOCORRO DA SILVA ALMEIDA


ENDEREÇO: Rua Caetano Dias Tomaz
BAIRRO: Vila do Matadouro Nº 416
UC: 3182045 TOI Nº 18026648
FONE: 63-99206-3120 E-MAIL: [email protected]
ASSUNTO: Contestação de Cobrança de Consumo por Estimativa

DOS FATOS

A Requerente é responsável por um pequeno imóvel com


Unidade Consumidora nº 3182045. Este imóvel foi adquirido por WAGNER
AFONSO RODRIGUES e repassado em condição de Concessão de Direito
Real de Uso para a Requerente em setembro de 2008, com sua construção
apenas iniciada. Logo depois da aquisição do imóvel, a Requerente mudou seu
domicílio para o Estado do Tocantins, onde reside até a presente data. Por
essa razão o imóvel ficou desocupado desde a sua aquisição até JANEIRO DE
2019, quando a requerente cedeu o uso para o Sr. CLEVERTON LUIZ, que
iniciou a finalização das obras para o imóvel ficar em condições de uso.

Entretanto, no dia 21/05/2019, o medidor do imóvel foi


supostamente inspecionado pela CEA, e segundo a Ordem de Serviço
8845298, fornecida pelo balcão de informações da Companhia de Eletricidade
o medidor de tal imóvel estava com uma IRREGULARIDADE, o que
impossibilitava a aferição correta de consumo.

Vale ressaltar que a responsável pelo imóvel ou seu


representante não foi notificada de tal procedimento, visto que esta ficou
sabendo por terceiros do ocorrido. Não houve orientação adequada sobre o
procedimento de perícia que deveria ser feito no medidor retirado, nem sobre
como a Demandante poderia proceder para averiguar a veracidade de tal
irregularidade.

Portanto, nota-se que a inspeção feita pela CEA no dia


21/05/2019 é ilegal, uma vez que tal procedimento violou os direitos e garantias
constitucionais da consumidora. Logo, não pode gerar qualquer tipo de
penalidade ou cobrança à Requerente.
DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) Da cobrança ilegal feita pela Requerida

In casu, verifica-se que a Requerida atribuiu à Requerente a


cobrança de R$ 19.485,11 (dezenove mil, quatrocentos e oitenta e cinco reais
e onze centavos) por suposta irregularidade, senão vejamos:

Entretanto, a Requerente não foi notificada da inspeção que


detectou a suposta IRREGULARIDADE, e mais, a Requerida não oportunizou
prazos para que a Requerente apresentasse defesa perante tal acusação, pois
seus técnicos, em evidente desconformidade com o §1º do art. 129 da REN
ANEEL nº 414/2010, não respeitaram as regras previamente definidas pela
Agência Reguladora, nos moldes dos seguintes procedimentos que passa a
expor, in verbis:

§ 1º A distribuidora deve compor conjunto de evidências para a


caracterização de eventual irregularidade por meio dos seguintes
procedimentos:

I – emitir o Termo de Ocorrência e Inspeção – TOI, em formulário próprio,


elaborado conforme Anexo V desta Resolução;

II – solicitar perícia técnica, a seu critério, ou quando requerida pelo


consumidor ou por seu representante legal;
III – elaborar relatório de avaliação técnica, quando constatada a violação
do medidor ou demais equipamentos de medição;

III – elaborar relatório de avaliação técnica, quando constatada a violação


do medidor ou demais equipamentos de medição, exceto quando for solicitada
a perícia técnica de que trata o inciso II;

IV – efetuar a avaliação do histórico de consumo e grandezas elétricas; e

V – implementar, quando julgar necessário, os seguintes procedimentos:

a) medição fiscalizadora, com registros de fornecimento em memória de


massa de, no mínimo, 15 (quinze) dias consecutivos; e

b) recursos visuais, tais como fotografias e vídeos.

Seguindo este proceder, a distribuidora há de emitir uma cópia


do TOI e entregar ao consumidor, ou a quem o represente quando da
inspeção, mediante recibo de emissão e entrega. Como no presente caso não
havia nenhum representante do imóvel na hora da vistoria, a distribuidora
deveria encaminhar o TOI, no prazo de 15 (quinze) dias, mediante qualquer
modalidade que possa comprovar devidamente o recebimento, o que não o fez,
o que por si só já garante a nulidade de todo o procedimento e tornando nula
qualquer cobrança advinda daí, conforme brilhantemente decidido pelos
Tribunais Pátrios. Senão vejamos:

“1. RELAÇÃO DE CONSUMO. ACUSAÇÃO DE DESVIO DE ENERGIA.


INSPEÇÃO FEITA NA AUSÊNCIA DO CONSUMIDOR. INEXISTÊNCIA DE
PROVA DE AUTORIA. AFERIÇÃO FEITA MENSALMENTE SEM
CONSTATAÇÃO DE IRREGULARIDADES. PLANILHA DE CÁLCULO
BASEADA EM RESOLUÇÃO DA ANEEL, ONERANDO EXCESSIVAMENTE O
CONSUMIDOR, CONSIDERANDO IRREGULARES PERÍODOS
ANTERIORES A 37 MESES DA DATA DA INSPEÇÃO. 2. RECURSO
IMPROVIDO

(TJ-BA 403632002 BA, Relator: SARA SILVA DE BRITO, 3ª TURMA


RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS, Data de
Publicação: 12/01/2006)”

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. FORNECIMENTO DE


ENERGIA ELÉTRICA. LAVRATURA DE TERMO DE OCORRÊNCIA E
INSPEÇÃO (TOI). PLEITO DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES
INDEVIDAMENTE COBRADOS E DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. O Termo de Ocorrência de Irregularidade
não é prova suficiente para atestar eventual fraude ocorrida no relógio medidor
e tampouco aferir a autoria da fraude. Enunciado da súmula 256 TJRJ.
Inspeção técnica que originou o TOI que foi realizada sem a presença da
consumidora. Ilegitimidade configurada. Ré que não só não produziu
qualquer prova no sentido de demonstrar a regularidade do procedimento,
realizado unilateralmente, como não apresentou qualquer cálculo no qual se
baseasse a cobrança a título de consumo recuperado. Ausência da
consumidora no momento da lavratura do TOI que inviabilizou o exercício do
contraditório e da ampla defesa, evidenciando a ilegalidade na cobrança de
qualquer valor com base exclusivamente no referido termo. Descumprimento
pela Ré das obrigações previstas artigo 129 da Resolução 414/2010 da
ANEEL. Autora que tem direito à devolução dos valores comprovadamente
pagos a título de parcelamento da dívida que a Ré lhe atribuiu em decorrência
do TOI. Na forma simples, ante a inexistência de pedido de devolução em
dobro. Ré que não só adotou procedimento ilegal, unilateral, como
efetivamente inseriu cobranças indevidas na conta da Autora, que foi
submetida a uma indiscutível condição de impotência. Quebra da legítima
expectativa quanto à correção e qualidade da prestação do serviço que
ultrapassa o inadimplemento contratual, constituindo violação da lei e ofensa
aos princípios da boa-fé objetiva, da segurança e da confiança, configurando
dano moral por violação do direito da personalidade. Situação que,
inequivocamente, extrapola o mero aborrecimento cotidiano. Verba
compensatória de R$ 8.000,00 que se adéqua ao caso e atende aos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade. RECURSO PROVIDO.

(TJ-RJ - APL: 01944989820178190001 RIO DE JANEIRO CAPITAL 19 VARA


CIVEL, Relator: Des(a). DENISE NICOLL SIMÕES, Data de Julgamento:
06/11/2018, QUINTA CÂMARA CÍVEL)”

Em que pese o comportamento da CEA que, unilateralmente,


sem a adoção dos procedimentos corretos e de forma arbitrária, aplicou
penalidade à Requerente, esta dirigiu-se, na pessoa de sua procuradora, a
uma das agências da Companhia de Eletricidade do Amapá, com o fim de
conseguir informações acerca da cobrança, obteve apenas a Ordem de Serviço
de Inspeção OS-8845298, em anexo, sem qualquer assinatura. Observamos
também que há um descaso com o preenchimento de formulário tão importante
para o consumidor, pois nos campos de “data/hora deslocamento, hora
chegada e data/hora conclusão” são exatamente as mesmas. Ora, como pode
se deslocar, executar e concluir o serviço em apenas 01 (UM) minuto? E o
mais absurdo, no campo “Prazo Máximo” estava limitado até dia 20/05/2019, às
23h59min, e o serviço foi executado no dia 21/05/2019. Os técnicos da
Companhia não seguem nem mesmo o protocolo interno da empresa? É com
esse descaso que os prepostos da CEA tratam documento que define um
débito tão exorbitante para o consumidor? Como podemos ter certeza que os
demais procedimentos foram feitos da maneira devida, tais como retirada do
medidor, lacrando o mesmo de forma correta e isenta?
Nessa mesma visita ao balcão de informações da Companhia,
a responsável pelo imóvel, na presença de sua procuradora, requereu cópias
do TOI (que deveria ter sido enviado à Requerente no máximo até 15(quinze)
dias depois da lavratura do Termo de Ocorrência) e demais procedimentos
(protocolo 442/2019) para ter algum elemento de defesa, pedindo que a
solicitação fosse atendida em até 05 (cinco) dias, devido ao prazo de
vencimento da referida cobrança, o que até a presente data, 16 (dezesseis)
dias depois, não foi atendida.
Deste modo, observa-se claramente que a CEA feriu de morte
os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, previstos
no artigo 5º, incisos LIV e LVI, da Constituição Federal.

Ademais, vislumbra-se que o Código de Defesa do


Consumidor dispõe em seus art. 22 e 42, que o Consumidor na cobrança de
débitos não pode ser submetido a constrangimentos, sendo que a cobrança no
valor de R$ 19.485,11 (dezenove mil, quatrocentos e oitenta e cinco reais e
onze centavos) gerou constrangimentos à Consumidora.

O Código de Defesa do Consumidor no seu artigo 39, V,


define, entre outras atividades, como prática abusiva “exigir do consumidor
vantagem manifestamente excessiva”.

O CDC é embasado pelo princípio da vulnerabilidade (art. 4, I)


e da harmonização dos interesses, com base no equilíbrio e na boa-fé e no seu
artigo 6º, entre outros direitos básicos, estabelece-se o direito a informações
adequadas, claras sobre os serviços, com especificação correta da quantidade
e preço.
E no caso concreto em tela, a Requerente em nenhum
momento foi informada ou comunicada que havia alguma IRREGULARIDADE
em seu imóvel, ou seja, a CEA não procedeu administrativamente correta.

Ademais, o CDC disciplina que para imputar ao consumidor ato


manifestamente ilegal, deve o fornecedor provar suas alegações,
demonstrando, que foi efetivamente o consumidor o responsável pelo ato a ele
imputado, em conformidade com o art. 5º da Constituição Federal que dispõe o
que segue:

“Art. 5º todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

(...)

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela


autoridade competente;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem


o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por


meios ilícitos;

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em


julgado de sentença penal condenatória.”

Segundo a Carta Magna, ninguém pode ser considerado


culpado de um ato ilícito, grave como este de adulteração de equipamento de
propriedade da concessionária, sem o devido processo legal, e direito à ampla
defesa. Portanto, é descabida a presente cobrança, visto que a Requerente
não é responsável pelo “DESVIO DE CONSUMO DE ENERGIA”.

Desta forma, vislumbra-se que a cobrança em questão deve


ser anulada, uma vez que feriu de morte o art. 4º, III e 6º, VI, VII, VIII, X do
CDC, bem como o art. 129, §1º da Resolução 414/10 da ANEEL.

Portanto, a cobrança é simplesmente indevida, tornando-se até


mesmo irresponsável. Com isso, a Requerente declara seu repúdio, e restará
provado se tratar de uma falsa acusação, imputada à consumidora com adrede
malícia e cínica má-fé, por se tratar de uma inverdade.
b) Da necessária anulação da cobrança feita pela Requerida

A cobrança de R$ 19.485,11 (dezenove mil, quatrocentos e


oitenta e cinco reais e onze centavos) deve ser ANULADA, haja vista que o
procedimento de inspeção apresenta vícios insanáveis, senão vejamos:

Primeiramente, a proprietária, ora Requerente não foi


comunicada nem da inspeção, muito menos da COBRANÇA ora guerreada.
Segundo, Requerente não acompanhou o procedimento de inspeção. Em
terceiro, a Requerida violou o direito constitucional da ampla defesa e do
contraditório da Consumidora, pois esta não foi comunicada e nem se fez
presente em perícia técnica que detectou a suposta IRREGULARIDADE.

Somado a isso, temos a Memória Descritiva do Cálculo, em


anexo, com um critério de recuperação de valores aparentemente padrão, pois
simplesmente utilizou o tempo total que a Resolução Aneel nº 414/2010
supostamente permite de 36 (trinta e seis) meses anteriores, ao invés de
analisar o consumo tecnicamente, deixando para a parte mais vulnerável o
ônus da prova, indo contra a jurisprudência, de que o ônus probandi é da CEA.
A Companhia é quem tem que provar a partir de que mês o medidor
apresentou problemas. Numa análise rápida, sem conhecimentos ou
equipamentos técnicos que a CEA tem acesso, apenas analisando a Memória
de Cálculo apresentada, vemos que no mês de agosto de 2018 houve um
consumo de 488kWh. Ora, se houve medição de consumo, como o medidor
poderia estar danificado nesse mês? Como podemos confiar que a CEA pode
agora dar certeza em que mês realmente o medidor apresentou problemas?
Em consonância a isso, a Recorrente requer a inversão do
ônus da prova, uma vez que é hipossuficiência em relação à CEA, e NEGA
QUE EFETUOU QUALQUER TIPO DE FRAUDE NO MEDIDOR. Sendo assim,
a regra geral é a de que, negada a existência do fato, o ônus probandi passa a
ser de quem alega. Ademais, a empresa concessionária, além de todos os
dados estatísticos acerca do regular consumo, ainda dispõe de seu corpo
funcional, que mês a mês verifica e inspeciona os equipamentos. É seu dever
provar que houve fraude no medidor e a partir de que mês ocorreu a
irregularidade, e não apenas imputar um mês aleatório para se valer de
cobrança abusiva. Lê-se a esse respeito:

“APELAÇÃO - DIREITO DO CONSUMIDOR -


FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - LAVRATURA
DE TERMO DE OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE - TOI -
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - CANCELAMENTO DA
COBRANÇA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. Parte ré
que não se desincumbiu do ônus de provar que a diferença
constatada teve como causa a conduta do consumidor. A
irregularidade na lavratura do TOI implica a ilegitimidade de
eventual cobrança, a teor do enunciado consolidado no verbete
da súmula 256 deste Tribunal de Justiça. Termo de Ocorrência
de Irregularidade lavrado de forma unilateral e em
desconformidade com o artigo 129 da resolução normativa
414/2010 da ANAEEL. Nulidade do TOI e cancelamento da
cobrança que se impõe. Danos morais não configurados.
Jurisprudência desta Corte, segundo a qual "a lavratura de
TOI, por si só, não tem o condão de acarretar danos morais".
No caso, observa-se que não houve a suspensão do serviço ou
o apontamento do nome do autor junto aos cadastros
restritivos de crédito, situação fática que não justifica a
reparação pecuniária. Provimento parcial ao recurso.

(TJ-RJ - APL: 00091045420188190204, Relator: Des(a).


EDSON AGUIAR DE VASCONCELOS, Data de Julgamento:
11/09/2019, DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL)”

“DIREITO DO CONSUMIDOR. FORNECIMENTO DE


ENERGIA ELÉTRICA. TERMO DE OCORRÊNCIA DE
IRREGULARIDADE. PROVA UNILATERAL.
IRREGULARIDADE DA LAVRATURA DO TOI. DANOS
MATERIAIS CONFIGURADOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA
RECONHECIDA Impõe-se a assertiva de que para se
caracterizar a irregularidade na conduta do consumidor não se
mostra suficiente a simples lavratura do TOI (Termo de
Ocorrência de Irregularidade), já que unilateral, malfere as
garantias constitucionais do devido processo legal, ampla
defesa e contraditório. Com efeito, na hipótese dos autos, foi
deferida a inversão do ônus da prova, cabendo ao réu a
juntada do TOI, assim como a produção de prova pericial, a fim
de comprovar a regularidade da lavratura do termo. Contudo, a
parte ré quedou-se inerte, afirmando não possuir provas a
produzir. Restou, assim, evidente que houve falha da empresa
ré, não podendo valer-se de prova tão abstrata para afirmar a
irregularidade. Ressalta-se que, a eventual irregularidade da
aferição é risco de atividade empresarial da concessionária e
os ônus daí decorrentes somente poderiam ser transferidos
para o consumidor em face de prova de que a irregularidade foi
provocada pelo próprio, o que não ocorreu no caso. Nesse
caso, deve ser cancelado o termo de ocorrência de
irregularidade, restituindo-se os valores indevidamente pagos.
Quanto ao pedido de exclusão ou redução do dano moral,
certo é que não houve condenação nesse sentido. Aliás, por tal
motivo, imperioso o reconhecimento da sucumbência
recíproca. Provimento parcial do recurso.

(TJ-RJ - APL: 02648666920168190001, Relator: Des(a).


RENATA MACHADO COTTA, Data de Julgamento:
24/04/2019, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL)”

“APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. ENERGIA ELÉTRICA.


LAVRATURA DE TERMO DE OCORRÊNCIA DE
IRREGULARIDADE -TOI. IRREGULARIDADE NÃO
COMPROVADA. Sentença que declarou a nulidade dos TOI's
lavrados e suas respectivas dívidas e julgou procedente o
pedido de reparação moral. Inconformismo da ré quanto a
condenação à devolução dos valores e aos danos morais. TOI
que não ostenta presunção de legitimidade. Inteligência da
Súmula nº 256 deste TJRJ. Ausência de comprovação da
observância do procedimento constante na resolução nº
414/2010 da ANEEL. Nulidade do TOI. Acusação infundada de
desvio de energia elétrica e cobrança indevida, a par do gasto
do tempo produtivo do consumidor na tentativa infrutífera de
resolver a sua demanda administrativamente. Hipótese que
comporta a aplicação da Teoria do Desvio Produtivo do
Consumidor. Verba compensatória fixada na sentença de
R$10.000,00 que merece ser reduzida para R$3.000,00, visto
que não houve corte no serviço nem negativação do nome da
consumidora. Recurso parcialmente provido.

(TJ-RJ - APL: 00741311920168190021, Relator: Des(a).


ANTÔNIO ILOÍZIO BARROS BASTOS, Data de Julgamento:
24/10/2018, QUARTA CÂMARA CÍVEL)”

“APELAÇÃO. CONSUMIDOR. IRREGULARIDADE NO


PROCEDIMENTO DE LAVRATURA DO TOI. DEVOLUÇÃO
NA FORMA DOBRADA. Ação de obrigação de fazer c/c
indenizatória por danos materiais e morais fundada em
cobrança pelo fornecimento de energia elétrica, alegadamente
indevida, porquanto decorrente da lavratura de TOI, cujo
procedimento o autor considera irregular. Irregularidade no
procedimento de lavratura do referido termo. Concessionária
que deixou de notificar previamente o consumidor sobre a
vistoria, bem como não solicitou perícia técnica no momento da
lavratura do TOI. Não atendidos os comandos do art. 72 da
Resolução nº 414/2010 da ANEEL. TOI que não ostenta
presunção de veracidade. Súmula nº 256 do TJRJ. Cobrança
indevida. Restituição em dobro dos valores indevidamente
cobrados e pagos pelo consumidor, na forma do art. 42,
parágrafo único do CDC. Manutenção da sentença.
DESPROVIMENTO DO RECURSO

(TJ-RJ - APL: 00142853720178190021, Relator: Des(a).


MARIA LUIZA DE FREITAS CARVALHO, Data de Julgamento:
12/12/2018, VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL)”

“ADMINISTRATIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR -


FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - RELAÇÃO DE
CONSUMO - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA -
ADULTERAÇÃO NO MEDIDOR - APURAÇÃO UNILATERAL
DO DÉBITO SEM A REALIZAÇÃO DE PROVA PERICIAL -
OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. I - Configurada a
vulnerabilidade técnica dos serviços públicos de fornecimento
de energia elétrica, amplamente permitida a inversão do ônus
da prova nos termos do art. 6º, VIII do Código de Defesa do
Consumidor. II - Não comprovado pela concessionária que a
avaria existente no aparelho medidor de energia elétrica foi
causada pelo usuário, não se pode imputar a este, como
consumidor, responsabilidade presumida pela falha no registro
da energia consumida. III - Ilegal o cálculo do débito com base
no art. 72 da Resolução ANEEL nº. 456/00, se não realizada
dilação específica, via devido processo legal que assegure
ampla defesa e contraditório. (TJMG, Número do processo:
1.0702.04.155355-4/001, Relator: FERNANDO BOTELHO).”

“APELACAO CIVEL. AÇÃO DECLARATORIA DE


INEXISTENCIA DE DEBITO. SUPOSTA FRAUDE NO
MEDIDOR DE ENERGIA ELETRICA. AUSENCIA DE PROVA.
1 - não havendo nos autos prova inequívoca de que a fraude
no medidor foi ocasionada pela proprietária do imóvel, ou por
qualquer pessoa que nele tenha morado durante o período da
aludida irregularidade, não e possível responsabilizá-la por tal
ocorrência. 2 - não merece prosperar o argumento de
observância da resolução n.456/00 da ANEEL - agencia
nacional de energia elétrica, haja vista que não existe nos
autos elementos irrefutáveis indicadores de que tenha sido a
apelada quem realizou a evocada alteração do medidor de
energia elétrica em teste-la. 3 - a ameaça de suspensão do
fornecimento de energia elétrica, a fim de coagir o consumidor
ao pagamento do debito originário de suposta fraude no
medidor, e ato ilegal e abusivo. (TJGO, Número do processo:
141602-7/188, Relator: DR. DES. JOAO UBALDO
FERREIRA).”

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZATÓRIA.
INDEFERIMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
TOI. Com efeito, a regra da inversão do ônus da prova está
prevista no art. 6º, VIII do CDC, e tem por escopo igualar as
partes que ocupam posições não isonômicas, sendo
nitidamente posta a favor do consumidor, cujo acionamento
fica a critério do juiz, mas sempre que houver verossimilhança
na alegação ou quando o consumidor for hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias da experiência. A regra do art. 6º,
inciso VIII do CDC, fundamenta-se na vulnerabilidade do
consumidor. Hipossuficiência do consumidor que não possui
meios de comprovar fato negativo. O consumidor que não
possui o conhecimento sobre os aspectos técnicos inerentes
aos serviços. Estes são de pleno domínio do fornecedor de
serviços, já que detém a tecnologia sobre o serviço que
fornece. Verossimilhança das alegações do autor decorrem do
fato de que a Agravada calculou consumo de 345 KWh no TOI,
mas após a lavratura o consumo continua abaixo de 100 Kwh.
Precedentes desta Corte. Reforma da decisão. PROVIMENTO
DO RECURSO.

(TJ-RJ - AI: 00607235320188190000, Relator: Des(a).


TERESA DE ANDRADE CASTRO NEVES, Data de
Julgamento: 06/02/2019, SEXTA CÂMARA CÍVEL)”

DOS PEDIDOS

1 – Que seja imediatamente ANULADA a cobrança constante no aviso de


Débito, conforme art. 4º, III e 6º, VI, VII, VIII, X do CDC, combinado com o §1º
do art. 129 da REN ANEEL nº 414/2010;
2 – Nos termos do Código de Defesa do Consumidor, que seja determinada a
inversão do ônus da prova, determine a CEA ainda no prazo de contestação
demonstre a devida procedência do valor estipulados;

Nestes Termos,
Pede deferimento.

Macapá-AP, 10 de Outubro de 2019.


que tipo de pericia isenta é esta? devemos acreditar que a suposta perícia
simplesmente utilizou o tempo total que a legislação supostamente permite de
36 meses anteriores ao invés de analisar tecnicamente e constatar, como
qualquer leigo consegue ver, que PELO MENOS em agosto de 2018 o medidor
estava funcionando, como pode-se ver no histórico de consumo em anexo.
Como podemos confiar que essa mesma perícia pode agora dar certeza em
que mês realmente medidor apresentou problemas? Pelo visto a CEA, com
todo seu poder "monetário", quer passar o ônus da prova para o lado mais
fraco, o consumidor, em evidente contrario à legislação, como essas decisões
recentes:

pois seus técnicos, em evidente desconformidade com o §1º do


art. 129 da REN ANEEL nº 414/2010, não respeitaram as regras previamente
definidas pela Agência Reguladora, senão vejamos:

indevido o débito cobrado, isso porque, sabe-se que a recorrente, através


de seus prepostos comparece mensalmente nos imóveis, efetuando a
contagem do consumo, e, sequer constatou a situação dita irregular, no
período considerado, para depois orientar o consumidor, no sentido de
corrigir as falhas porventura detectadas, preferindo, numa atitude
bastante cômoda, atribuir-lhe uma ilegalidade, bem como estabelecer um
período aleatório, e, em cima disto, efetuar a cobrança de um consumo
não faturado.

.sua responsávelficou desocupado por um pouco mais de 10 (dez) anos,


pois foi adquirido com sua construção apenas iniciada, como comprova o
contrato de promessa de compra e venda de imóvel em anexo. Logo
depois da aquisição, a responsável do imóvel a Por residir em outro
Estado por mais de 08 (oito) anos e no , manteve o imóvel sem uso,
desocupado, desde sua compra

Inicialmente, esclarece que o autor é consumidor dos serviços da ré,


possuindo identificação de Unidade Consumidora de nº 3182045.

Ressalte-se que no mês de Setembro do ano corrente, a autora foi


surpreendida com o lançamento de débito na lista de faturas no site da
Companhia de Eletricidade do Amapá, no qual a empresa demandada
efetua cobrança no valor de R$ 19.485,11 (dezenove mil, quatrocentos e
oitenta e cinco reais e onze centavos) por motivo desconhecido, pois não
foi enviado nenhuma notificação ou documento informando qualquer
procedimento por parte da Companhia de Eletricidade do Amapá até o
presente momento. Ou seja, efetuou a ré cobrança de consumo por
estimativa.

Observe-se que as faturas mensais de consumo foram devidamente


emitidas pela ré, o que desconstitui a tese da empresa quanto à
existência de fraude.

Importante salientar que o autor não foi comunicado da vistoria que seria
realizada pelos prepostos da ré, sendo certo, reafirme-se, que somente
teve ciência ao consultar a lista de faturas no site desta Companhia de
Eletricidade.

Frise-se que o autor jamais utilizou-se de técnicas ilegais para o desvio


de energia.

Em que pese o comportamento da ré que, unilateralmente, sem a adoção


dos procedimentos corretos e de forma arbitrária, aplicou penalidade ao
autor, este dirigiu-se a uma das agências da demandada com o fim de
resolver o impasse (protocolo: 442/2019), conforme comprovante em
anexo. Todavia, a ré mantém-se inerte e continua a efetuar cobranças,
com ameaça de inscrição nos cadastros restritivos de crédito e corte no
fornecimento do serviço.

Não sendo possível resolver administrativamente a questão, não restou


outra opção ao autor, senão socorrer-se do Judiciário.

CURSO GRANDES TESES TRIBUTÁRIAS GANHE DINHEIRO COM ESTE


CURSO IMPERDÍVEL

3. DA ILEGALIDADE DO TOI

Conforme acima exposto, a ré emitiu, indevidamente, TOI no valor de R$


4.200,00 (quatro mil e duzentos reais) aproximadamente.

Ocorre que a referida emissão é totalmente ilegal, ferindo princípios


constitucionais como o devido processo legal, direito de defesa,
contraditório, dentre outros.

Isto porque o documento emitido, bem como a verificação da suposta


irregularidade foram feitas unilateralmente e sem a realização da devida
perícia.
Vale ressaltar que a demandada é empresa de economia mista,
concessionária de serviço público, razão pela qual seus atos não
possuem presunção de legitimidade, ao contrário do que ocorre com
aqueles praticados pela Administração Pública.

Neste sentido, o entendimento da melhor jurisprudência, conforme


podemos verificar abaixo:

Apelação. Concessionária de energia elétrica. Termo de Ocorrência de


Irregularidade – TOI e estimativa retroativa de consumo não faturado. Sua
legalidade, in abstracto. Necessidade de elementos suficientes para
caracterizar o procedimento irregular e a idoneidade da estimativa. Ônus
que recai sobre o prestador. Atos seus que não se presumem verazes
nem legítimos. Direito à informação. Prova insuficiente. Laudo pericial
inconclusivo quanto à existência de fraude no medidor. Cobrança
reputada indevida e efetuada por meio abusivo e coativo. Dano moral. 1. A
legalidade em tese dos procedimentos arrolados no art. 129 da Resolução
Aneel nº 414/2010, dentre eles a lavratura do Termo de Ocorrência de
Irregularidade – TOI, só se concretiza caso a caso na hipótese de a
concessionária o instruir com elementos probatórios suficientes à “fiel
caracterização da irregularidade”, na dicção do próprio dispositivo
regulamentar. O mesmo se aplica quanto à estimativa de consumo não
faturado (art. 130 da Resolução). 2. Nos termos da Súmula nº 254 desta
Corte de Justiça, “aplica-se o Código de Defesa do Consumidor à relação
jurídica contraída entre usuário e concessionária”. 3. Decorre dos
princípios gerais do direito das obrigações que o devedor faça jus à
prestação de contas regular daquilo que lhe é cobrado; qualificado, ainda,
como direito basilar do consumidor à informação clara e adequada acerca
do produto ou serviço, seu preço, quantidades e características,
conforme art. 6º, inciso III, do CDC, ratificado pelo art. 7º, caput e inciso II,
da Lei de Concessoes (Lei nº 8.987/95). 4. As concessionárias de serviço
público são simples pessoas jurídicas de direito privado, que não se
confundem com a Administração de quem recebem, por delegação
contratual, a incumbência de desempenhar determinada atividade de
interesse público. Seus atos, pois, não gozam da presunção de
legitimidade típica dos atos administrativos. Seria uma aberração quer às
normas de Direito Administrativo, quer aos mais basilares princípios do
direito das obrigações, quer ainda às normas protetivas do consumidor
(que se presume parte vulnerável no mercado, conforme diretriz
estabelecida pelo art. 4º, inciso I, do CDC), imputar ao usuário o ônus de
provar que a apuração técnica da distribuidora de energia estivesse
equivocada. 5. Os elementos dos autos, ainda que não indiquem má-fé
nem temeridade no procedimento da concessionária, não são suficientes
para a “fiel caracterização” do ilícito imputado ao usuário, seja porque
não há prova apta a demonstrar que o faturamento a menor decorresse
de fraude e não de defeito no medidor, seja porque a leitura minorada
iniciou-se antes mesmo de a autora entrar na posse do imóvel. 6. O só
registro de consumo mensal inferior ao que se pode estimar pela carga
ativa do imóvel não basta para caracterizar irregularidade na medição,
muito menos má-fé do consumidor, o qual, sendo leigo, não está
obrigado a deter conhecimentos de engenharia elétrica suficientes para
detectar o equívoco na leitura do consumo de energia. 7. Quando o
faturamento a menor não for imputável ao consumidor, a cobrança da
recuperação de energia só pode retroagir aos três meses anteriores à
detecção da incorreção, nos termos do art. 113, I, c/c art. 115, § 2º, ambos
da Resolução Aneel nº 414/2010. 8. A imposição de confissão de dívida
superior a mais que o décuplo do devido, sob ameaça de interrupção de
fornecimento de serviço essencial, constitui forma de cobrança abusiva,
configurando o constrangimento de que trata o art. 42, caput, do CDC, o
que caracteriza o dano moral. Se seria ilegal a interrupção do serviço, que
não chegou a concretizar-se, ilícita também foi a ameaça de efetuá-la. 9.
Parcial provimento do recurso (TJ-RJ – APL: 00119814620098190021 RJ
0011981-46.2009.8.19.0021, Relator: DES. MARCOS ALCINO DE AZEVEDO
TORRES, Data de Julgamento: 05/02/2014, VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA
CIVEL/ CONSUMIDOR, Data de Publicação: 21/03/2014 00:00)

Ademais, a jurisprudência do Tribunal fluminense, em consonância com a


tese sustentada pelo autor entende que, sendo realizada unilateralmente a
vistoria que gerou a lavratura do TOI e diante da inexistência mínima de
participação do consumidor, este é ilegal, verbis:

DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZATÓRIA POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. LAVRATURA DE
TERMO DE OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE – TOI, EFETUADO DE
FORMA UNILATERAL PELA RÉ. PROVA PERICIAL DISPENSADA PELA
PARTE RÉ QUE SERIA CAPAZ DE CONSTATAR A POSSÍVEL EXISTÊNCIA
DE IRREGULARIDADES. INEXISTÊNCIA DE BOLETIM DE OCORRÊNCIA
POLICIAL. TOI QUE DEVE ASSEGURAR AO CONSUMIDOR AS
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INERENTES AO DEVIDO PROCESSO
LEGAL EM SEDE ADMINISTRATIVA (ARTIGO 5º, LV, CRFB).
PAGAMENTO DE DÉBITOS REFERENTES À DIFERENÇA DE ENERGIA
COMPROVADO, DAÍ NECESSÁRIA A SUA DEVOLUÇÃO.
INCONFORMISMO DA RÉ. Existência de relação de consumo com
aplicação do CDC. Ainda que houvesse a constatação de irregularidade
no medidor da residência do consumidor, esta deveria se demonstrar
através de laudo pericial ou registro de ocorrência policial, o que não se
deu, eis que efetuado apenas termo de ocorrência e de forma unilateral
pela ré. Valor indenizatório fixado em observância os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade, pois tal importância compensa a
Autora, e, ao mesmo tempo, desestimula a Ré a proceder de modo
abusivo. Busca da efetividade á teoria do desestímulo sem que sob a sua
invocação se materialize enriquecimento sem causa. Recurso a que se
nega provimento na forma do art. 557, caput, do CPC (TJ-RJ – APL:
22678 RJ 2009.001.22678, Relator: DES. MARCO AURELIO BEZERRA DE
MELO, Data de Julgamento: 02/06/2009, DECIMA SEXTA CÂMARA CIVEL,
Data de Publicação: 05/06/2009)

Diante de todos os argumentos acima expendidos, deve ser reconhecida


a ilegalidade do termo de ocorrência.
4. DA IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA POR ESTIMATIVA. DA
DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO

Ainda que não seja reconhecida a ilegalidade do Termo de Ocorrência, o


que se admite ad argumentandum tantum, mister o reconhecimento da
impossibilidade de cobrança realizada por estimativa. Deve ser cobrado o
valor real de consumo.

Imperioso destacar que a ré é responsável pela manutenção da


regularidade da prestação dos serviços, bem como da contraprestação
pecuniária no valor devido e na época correta do vencimento.

Não pode a concessionária a qualquer momento alegar suposta


irregularidade e cobrar por todo o período em que, segundo seu
entendimento, houve fraude. Ainda mais se esta não foi devidamente
comprovada por meios idôneos.

Possui a ré a obrigação de, mensalmente, verificar a possível


irregularidade quanto à variação de valores, se existirem, para,
imediatamente, restabelecer a normalidade. Indubitável de que tal fato
não ocorreu. Não foi demonstrado o desvio e não foi apurado o valor real
da suposta diferença de pagamento.

A jurisprudência acolhendo a tese segundo a qual é impossível a


cobrança por estimativa, assim se pronuncia:

ENERGIA ELÉTRICA. CÁLCULO DE RECUPERAÇÃO DE CONSUMO.


ILEGALIDADE DA RESOLUÇÃO Nº 456 DA ANEEL. Ilegalidade da forma
de cálculo adotada, seja porque embasada em mera resolução emanada
da agência reguladora e, portanto, sem força de lei, seja porque eventual
critério de cálculo que se venha a adotar a fim de alcançar uma decisão
equânime nem sempre a tal conduzirá. Inovação no ordenamento jurídico
que somente pode se dar, como decorrência do Estado Democrático de
Direito (artigo 1º da Constituição Federal), através de lei, assim entendido
o ato emanado do Poder Legislativo. Tanto é assim que por força do
Princípio da Legalidade ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei (inciso II do
artigo 5º da Constituição Federal). Hipótese em que a posição do
fornecedor se revela absolutamente cômoda ao lançar mão do cálculo de
recuperação de consumo, uma vez que não apenas cria o seu próprio
título com base em critérios sabidamente irreais, seja ao estabelecer o
período de recuperação, seja ao apurar o consumo não medido, porque a
adoção do maior consumo que se verificou nos últimos doze meses,
como ocorre no caso posto em exame é sabidamente artificial,
notadamente porque o consumo, conforme as peculiaridades de cada
unidade não é uniforme nas diferentes estações do ano. Como se não
bastasse isso, ainda pode impor o pagamento do denominado custo
administrativo no percentual correspondente a 30%, submetendo, ao
depois, o consumidor ao jugo da autotutela que, não obstante a condição
de mero concessionário do serviço público exercita sem qualquer pejo.
Possibilidade de o fornecedor buscar, porém na via adequada,
indenização por eventual locupletamento. DERAM PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO DA AUTORA E IMPROVERAM O DA RÉ.
(Recurso Cível Nº 71000760280, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Luiz Antônio Alves Capra, Julgado em 05/10/2005) (TJ-
RS – Recurso Cível: 71000760280 RS , Relator: Luiz Antônio Alves Capra,
Data de Julgamento: 05/10/2005, Segunda Turma Recursal Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 22/11/2005)

Assim, deve ser considerado ilegal o termo de ocorrência baseado em


estimativas, bem como declarada a inexistência do débito, uma vez que
os valores correspondentes ao consumo foram devidamente pagos.

CURSO DE ATUALIZAÇÃO DO NOVO CPC.

5. DA CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL

5.1. Da responsabilidade objetiva

Com efeito, preceitua a norma do art. 14 do CDC, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Conforme é sabido, para que haja a responsabilidade objetiva, necessário


apenas que seja constatado o dano e o nexo de causalidade entre o dano
e a ação do responsável, no caso, a empresa ré.

Logo, caracterizada a responsabilidade objetiva da ré e estando presente


a relação de consumo (arts 2º e 3º do CDC), esta somente se exime nos
casos expressamente previstos no art. 14, § 3º do CDC, quais sejam:

Art. 14…

§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando


provar:

I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Uma vez que não se vislumbra, no caso concreto, quaisquer das


hipóteses acima mencionadas, perfeitamente aplicável a responsabilidade
objetiva.
5.2.Do dano moral in re ipsa

Quanto ao dano moral, resta claro que a situação ultrapassou, e muito, a


esfera do mero aborrecimento/dissabor.

Preceitua a norma insculpida nos arts. 186 e 927 do C.C:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

No mesmo sentido, a art. 5º, inciso X da Carta Magna:

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

No caso em comento, deve ser aplicada a Teoria do Risco do


Empreendimento, respondendo a ré por eventuais vícios e/ou defeitos
dos produtos ou serviços postos à disposição dos consumidores.

A simples cobrança indevida é capaz de gerar o dever de indenizar. Neste


sentido jurisprudência se posiciona em casos análogos:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COBRANÇA INDEVIDA DE DÍVIDA. DANO


MORAL. INEXISTÊNCIA DE INSCRIÇÃO NOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO
AO CRÉDITO OU DE QUALQUER OUTRA PUBLICIDADE. REDUÇÃO DO
QUANTUM INDENIZATÓRIO, FIXADO EM R$ 87.004,00 PARA R$ 10.000,00
(DEZ MIL REAIS). 1.- Quem obtém o encerramento de conta corrente
bancária tem direito à tranquilidade ulterior, de modo que o acréscimo de
débitos a ela e o envio de missivas com ameaças de cobrança constitui
dano moral indenizável. 2.- Na fixação do valor da indenização por dano
moral por ameaça de cobrança tratando-se de débitos inseridos em conta
encerrada deve ser ponderado o fato da inexistência de publicidade e de
anotação no serviço de proteção ao crédito, circunstâncias que vêm em
desfavor de fixação de valor especialmente elevado, mormente se
considerados os valores que vêm sendo fixados por esta Corte. 3.-
Recurso Especial provido em parte, reduzindo-se a R$ 10.000,00, em
moeda do dia deste julgamento, o valor de R$ 87.004,00, fixado no caso
de cobrança indevida de débito de R$ 870,00 (STJ – REsp: 731244 AL
2005/0038841-9, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento:
10/11/2009, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/11/2009).

A melhor jurisprudência posiciona-se no sentido de responsabilizar as


empesas em casos desta natureza, conforme se observa nas ementas
abaixo transcritas:
APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA. LAVRATURA DE
TOI. UNILATERALIDADE. NULIDADE. DANO MORAL. OCORRÊNCIA.
JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. ENCARGOS DE
SUCUMBÊNCIA. INVERSÃO. 1. A relação jurídica que ora se examina é de
consumo, pois o demandante é o destinatário final da energia elétrica
fornecida pela ré, daí a necessidade de se resolver a lide dentro da norma
consumerista prevista no Código de Proteçâo e Defesa do Consumidor.
2. Da leitura do art. 14 do CPDC, verifica-se que a responsabilidade do
fornecedor de serviços é objetiva e somente não responderá pela
reparação dos danos causados ao consumidor se provar que, tendo
prestado o serviço, o defeito inexiste ou o fato é exclusivo do consumidor
ou de terceiro. 3. Outrossim, segundo a teoria do risco do
empreendimento, aquele que se dispõe a fornecer bens e serviços tem o
dever de responder pelos vícios resultantes dos seus negócios,
independentemente de sua culpa, pois a responsabilidade decorre do
simples fato de alguém se dispor a realizar atividade de produzir,
distribuir e comercializar ou executar determinados serviços. 4. Dessa
forma, incumbe à concessionária demonstrar que a lavratura do TOI se
deu de forma regular e em plena observância aos critérios e
procedimentos previstos na Resolução 456/2000 da ANEEL, ônus do qual
não se desincumbiu. 5. Incidência do enunciado de nº 5 do II Encontro de
Desembargadores, com competência em matéria cível, realizado no dia 16
de junho de 2011, constante no Aviso do Tribunal de Justiça nº 51 de
2011. 6.Nulidade do TOI que decorre da irregularidade de sua lavratura,
fulminando a recuperação do consumo elaborada. Precedentes do TJRJ.
7. Dano moral in re ipsa. Fixa-se o valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), pois atende às peculiaridades do caso, as condições do ofensor e
do ofendido, o tipo de ofensa e as repercussões provocadas pelo ato
ilícito da concessionária de energia. 8. Correção monetária que deverá
incidir a contar desse decisum, com juros de mora fluindo a partir da
citação, diante da relação contratual entabulada entre as partes. 9.
Honorários advocatícios fixados nos termos do artigo 20, § 3º, do Código
de Processo Civil. Precedente. 10. Recurso provido (TJ-RJ – APL:
00281390720118190087 RJ 0028139-07.2011.8.19.0087, Relator: DES.
JOSE CARLOS PAES, Data de Julgamento: 27/03/2015, DÉCIMA QUARTA
CÂMARA CIVEL, Data de Publicação: 31/03/2015 12:19)

DIREITO DO CONSUMIDOR – APELAÇÃO CÍVEL EXISTÊNCIA DE


AGRAVO RETIDO INTERPOSTO PELA APELANTE EM FACE DA DECISÃO
QUE DEFERIU A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – RELAÇÃO
CONSUMEIRISTA VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES AUTORAIS –
FLAGRANTE HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR – TERMO DE
OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE (TOI) – NULIDADE PROVA
UNILATERAL – PACÍFICA JURISPRUDÊNCIA DO TJ/RJ – AMEAÇA DE
SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA – ILEGÍTIMAS
AS COBRANÇAS PERPETRADAS COM FULCRO NA LAVRATURA DO
TOI– DEVOLUÇÃO EM DOBRO DA IMPORTÂNCIA DESPENDIDA –
PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL – FRAUDE NÃO CARACTERIZADA –
AMEAÇA DE INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO ESSENCIAL – DANO MORAL
CONFIGURADO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO
AGRAVO RETIDO E DO APELO. 1. Trata-se de ação declaratória de
inexistência de débito c/c repetição de indébito c/c indenização por danos
morais com pedido de tutela antecipada promovida por consumidor em
face da concessionária de serviço público (Light), objetivando a
manutenção ou restabelecimento do fornecimento do serviço de energia
elétrica, a devolução em dobro dos valores cobrados em decorrência da
lavratura do TOI e compensação por danos morais. 2. Decisão
interlocutória deferindo a inversão do ônus da prova. Agravo retido
interposto pela parte ré e reiterado nas razões recursais do presente
apelo. 3. Sentença de parcial procedência, já que não houve necessidade
do restabelecimento do serviço (religação), declarando, ainda, a
inexistência do débito apurado pela parte ré a título de consumo irregular
de energia elétrica decorrente do TOI e condenando a concessionária a
devolver em dobro a importância cobrada sob a rubrica de “recuperação
de consumo irregular” e ao pagamento de R$ 6.000,00 (seis mil reais), a
título de compensação por danos morais. 4. Apelo da parte ré requerendo
a apreciação do Agravo Retido (fls. 186/189) interposto em face da
decisão interlocutória que deferiu a inversão do ônus da prova (fls. 184).
No mérito, repisa os argumentos trazidos na peça de bloqueio, tais como,
a existência de irregularidade no medidor da unidade consumidora, a
legalidade da lavratura do TOI, conforme estabelecido pela ANEEL, e a
não configuração de danos morais. 5. Agravo retido. Inversão do ônus da
prova. Relação de Consumo. Presente a verossimilhança nas alegações
autorais, bem como patente a hipossuficiência do consumidor, em
especial, técnica, impõe-se a inversão do ônus da prova com fulcro no
art. 6º, inciso VIII, do CDC. 6. Termo de Ocorrência de Irregularidade. A
produção de prova unilateral malfere as garantias constitucionais do
devido processo legal, ampla defesa e contraditório. Eficácia horizontal
dos direitos fundamentais. Impossibilidade de sobreposição das normas
administrativas, redigidas pela ANEEL, Agência Reguladora, à lei. A
prova pericial, nesses casos, se faz evidentemente necessária, não sendo
lícito permitir a ameaça de interrupção do fornecimento de energia
elétrica sem que seja efetivamente comprovada a fraude. 7. Ameaça de
suspensão do serviço como forma que causa temor e compelir o
consumidor ao pagamento do que não deve. A impugnação judicial dos
valores lançados a débito impede que a fornecedora retalie o
consumidor, ameaçando cortar-lhe a eletricidade, serviço de natureza
essencial, imprescindível para a fruição de uma vida digna. 8. Laudo
pericial. Fraude não caracterizada. Perito que atestou que o consumo
registrado na unidade consumidora pelo sistema de medição é
compatível com a carga apurada na unidade residencial. 9. Dano material
configurado. Devolução em dobro da importância despendida em função
da lavratura do TOI, nos moldes do art. 42 do CDC. 10. Dano moral
configurado. Ameaça ilegítima de interrupção do serviço. Indenização
que surge como reflexo da mudança de paradigma da responsabilidade
civil e possui dois objetivos: a prevenção (através da dissuasão) e a
punição (no sentido de redistribuição). Ou seja, o dano moral deve ser
também a pena privada, a justa punição contra aquele que atenta contra a
dignidade da vítima ou de um dos bens integrantes da sua personalidade,
pena esta que deve reverter em favor da vítima. 11. Fixação do montante
indenizatório que deve atender aos seus dois aspectos precípuos: o
compensatório, nos limites da lesão suportada pela vítima; e o
pedagógico-punitivo, cujo fim é inibir a contumácia do causador do dano.
Analisando-se as particularidades do caso, ou seja, a extensão do dano e
o grau de reprovabilidade da conduta da apelante, mormente, quando
desconsidera reiteradas decisões dessa Corte, verifica-se que o quantum
fixado a título de compensação por danos morais, arbitrados em R$
6.000,00 se coaduna aos princípios da proporcionalidade, da
razoabilidade e aos padrões de fixação desse E. Tribunal, bem como aos
seus dois aspectos precípuos: o compensatório, nos limites da lesão
suportada pela vítima; e o pedagógico-punitivo, cujo fim é inibir a
contumácia do causador do dano, lavrando TOI’s que sabe ser nulo em
virtude de maciça jurisprudência e imputando levianamente crime de
fraude ao consumidor. NEGO PROVIMENTO AOS RECURSOS, NA FORMA
DO ART. 557, CAPUT, do CPC (TJ-RJ – APL: 171141320068190203 RJ
0017114-13.2006.8.19.0203, Relator: DES. MARCELO LIMA BUHATEM,
Data de Julgamento: 08/10/2010, DECIMA QUARTA CÂMARA CIVEL, Data
de Publicação: 14/10/2010)

DECLARATÓRIA CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. FORNECIMENTO DE


ENERGIA ELÉTRICA. COBRANÇA BASEADA EM TERMO DE
OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE – TOI. DOCUMENTO UNILATERAL
NÃO CORROBORADO POR OUTRAS PROVAS. NULIDADE. DANO MORAL
CONFIGURADO NA HIPÓTESE. MANUTENÇÃO DO JULGADO. 1 – O
Termo de Ocorrência de Irregularidade (TOI), lavrado unilateralmente pela
concessionária, e não corroborado por outras provas nos autos, não
serve de suporte à cobrança da dívida. Ausência de realização de perícia
no local e não participação do usuário na apuração do alegado débito.
Ausência de prova da existência de irregularidade no medidor ou de
efetivo consumo pelo demandante. Declaração de inexistência do débito
objeto do TOI. Precedentes. 2 –Dano moral configurado. Imputação de
fraude ao consumidor sem mínima prova nesse sentido. Violação a
direitos da personalidade. Verba arbitrada adequadamente, considerando
os princípios atinentes à matéria e as particularidades do caso concreto.
Manutenção. DECISÃO MONOCRÁTICA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO
RECURSO (TJ-RJ – APL: 1493565220098190001 RJ 0149356-
52.2009.8.19.0001, Relator: DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA, Data de
Julgamento: 25/04/2011, NONA CÂMARA CIVEL)

Salientamos que o art. 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor diz ser


direito básico a reparação pelos danos materiais e morais sofridos.

Não é demais ressaltar que a indenização por dano moral possui duas
vertentes, a saber: reparar o abalo psicológico causado e servir como
punição (natureza educativa), com o fito de evitar que o causador do dano
volte a cometer a infração.

Logo, deve ser a condenada a ré ao pagamento de indenização por dano


moral no importe de R$ 50.000.00 (cinquenta mil reais) ou outro a ser
estipulado por este juízo, com aplicação de juros a partir da inscrição do
nome do autor nos cadastros restritivos.

5.3. Do dano moral pela perda do tempo

Porém, a nosso viso, nada impede que o dano moral se apresente como
efeito do inadimplemento de uma obrigação… Neste passo, em edificante
artigo sobre o tema, André Gustavo Corrêa de Andrade tranquilamente
admite o dano moral contratual e remete a solução da controvérsia à
distinção entre “a patrimonialidade da prestação e a
extrapatrimonialidade do interesse do credor ou dos bens
afetados. Embora a prestação tenha conteúdo patrimonial, o interesse do
credor na prestação pode, conforme as circunstâncias, apresentar um
caráter extrapatrimonial porque ligado à sua saúde ou de pessoas de sua
família, ao seu lazer à sua comodidade, ao seu bem-estar, à sua educação
aos seus projetos intelectuais” (FARIAS, Cristiano Chaves de;
ROSENVALD, Nelson. . Curso de Direito Civil- Obrigações. Bahia:
Juspodivm, 2012, pag: 612) (grifamos).

Conforme se observa, a mais moderna e autorizada doutrina vislumbra a


possibilidade de indenização por dano moral em casos de
descumprimento contratual.

Os consagrados autores vão além, admitindo a caracterização do dano


pela perda de tempo e energia na solução do conflito. Neste sentido
defendem que:

… haverá dano moral pelo simples inadimplemento contratual, naqueles


casos em que a mora ou inadimplemento causem ao credor grande perda
de tempo e energiana resolução da questão. Lembra André Gustavo
Corrêa de Andrade, que “o tempo, pela sua escassez, é um bem precioso
para o indivíduo, tendo um valor que extrapola sua dimensão econômica.
A menor fração de tempo perdido de nossas vidas constitui um bem
irrecuperável. Por isso afigura-se razoável que a perda desse bem, ainda
que não implique prejuízo econômico ou material, de ensejo a uma
indenização”. (grifamos).

Desta forma, tendo sido provada a cobrança indevida, o fato de o autor


tentar solucionar o problema administrativamente sem obter êxito, os
danos causados, a perda do tempo, dentre outros, é certo que devida a
indenização por dano moral nesta modalidade.

6. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

É sabido que, em se tratando de situações em que uma das partes


encontra-se em posição de desigualdade jurídica, sendo obrigada a
submeter-se à vontade da parte “mais forte”, perfeitamente aplicável a
inversão do ônus da prova.

Prescreve a norma do art. 4º, I, do CDC:


Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:

I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de


consumo.

Ratificando o entendimento da vulnerabilidade do consumidor, o


art. 6º, VIII, CDC, o qual reproduzimos:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz,
for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências.

Por último, ressalte-se que a comprovação da existência do débito cabe à


ré. Entender diferente, é imputar ao autor a responsabilidade de produzir
prova negativa/diabólica, o que é inaceitável.

7. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Requer a condenação da ré ao pagamento de honorários advocatícios no


valor de 20% do valor da condenação.

8. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Preconiza a norma do art. 273, I e II do CPC:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação
e:

I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto


propósito protelatório do réu.

Prova inequívoca não é aquela que conduza a uma verdade plena,


absoluta, real… tampouco a que conduz à melhor verdade possível (a
mais próxima da realidade)- o que só é viável após uma cognição
exauriente. Trata-se de prova robusta, consistente, que conduza o
magistrado a um juízo de probabilidade, o que é perfeitamente viável no
contexto da cognição sumária (Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e
Rafael Alexandria de Oliveira, 2012, vol. 2 pag. 499).
Toda vez que forem constatados a verossimilhança do direito e o risco de
danos irreparáveis (ou de difícil reparação) resultantes da sua não
satisfação imediata, deve-se privilegiar esse direito provável, adiantando
sua fruição, em detrimento do direito improvável da contraparte (Fredie
Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira, 2012, vol. 2
pag. 505).

Não restam dúvidas de que se trata de caso em que perfeitamente


aplicável a antecipação da tutela in limine litis.

Na antecipação de tutela assecuratória, antecipa-se por segurança, para


impedir que, durante o processo, o bem da vida vindicado sofra um dano
irreversível ou dificilmente reversível (Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga
e Rafael Alexandria de Oliveira, 2012, pag. 497)

Encontra-se lastreado nos autos as provas inequívocas de que a


cobrança é totalmente descabida, sendo certo que a excessiva demora
conduzirá à cessação da efetividade do provimento jurisdicional. Ainda
deve ser levado em consideração o fato de o nome constar do rol de bens
mais preciosos que o ser humano possui.

O periculum in mora mostra-se evidente, uma vez que, com a restrição do


nome do autor nos cadastros restritivos, este permanece sem crédito, o
afastando, injustamente, do mercado consumidor.

A existência do fumus boni iuris mostra-se clara, considerando que a


documentação ora acostada indica efetivamente que houve exaustivo
contato com a ré para que fosse efetuada a cessação da cobrança, por
irregular a lavratura do TOI.

Entendendo cabível a antecipação de tutela, pronuncia-se a


jurisprudência:

DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. Agravo de


instrumento interposto por consumidor de decisão que em ação cognitiva
ajuizada em face de concessionária de energia elétrica, indeferiu a
antecipação dos efeitos da tutela pleiteada paraque a ré restabelecesse o
serviço, se abstivesse de suspendê-lo e de cobrar débito apurado em TOI,
bem como de inscrever a autora em cadastros de restrição creditícia. 1.
Não observa o procedimento disposto na Resolução 456/00 da ANEEL e,
portanto, nega direito à ampla defesa bem como desrespeita o devido
processo legal a suspensão do fornecimento de energia elétrica, a
imediata cobrança de diferença e a inscrição do consumidor em
nominatas de proteção ao crédito como consequências imediatas da
lavratura de TOI. 2. Não sendo de se esperar que o consumidor prove que
não havia irregularidade e que não lhe foi dado direito à ampla defesa, é
de se mitigar o rigor do art. 273, caput, do CPC, no que concerne à
ministração de prova inequívoca da verossimilhança do alegado,
aplicando-se o art. 83 do CDC não apenas no que diz respeito ao
restabelecimento da entrega da energia e à não inscrição do consumidor
em cadastros de restrição creditícia, eis que o fundamento da demanda é
relevante, a saber, a dignidade humana. 3. Recurso ao qual se dá
provimento na forma do art. 557, § 1.º-A, do CPC (TJ-RJ – AI:
385501620108190000 RJ 0038550-16.2010.8.19.0000, Relator: DES.
FERNANDO FOCH LEMOS, Data de Julgamento: 27/10/2011, TERCEIRA
CÂMARA CIVEL)

Sendo assim, deve ser aplicada a antecipação dos efeitos da tutela para
que a ré se abstenha de inserir o nome do autor nos cadastros restritivos
de crédito, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos
reais).

9. DOS PEDIDOS

1. Que seja deferida a gratuidade de justiça, nos termos da


fundamentação supra;

2. Antecipação dos efeitos da tutela para obrigar a ré a se abster de


inserir o nome do autor nos cadastros restritivos de crédito, sob pena de
multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais);

2.1. Confirmação, ao final, da tutela acima requerida;

3. Citação da ré para que, querendo, responda às alegações formuladas


na inicial, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria de fato;

4. Declaração da ilegalidade da lavratura do TOI, com consequente


declaração de inexistência do débito, por indevido, sob pena de multa de
R$ 1.000,00 (um mil reais) por cobrança efetuada;

5. Condenação em danos morais no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil


reais), com juros a partir da lavratura do TOI;

6. Aplicação de juros e correção monetária;

7. Inversão do ônus probatório, de acordo com fundamentação;

8. Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial


documental suplementar, testemunhal e pericial;

9. Condenação ao pagamento de honorários advocatícios no importe de


20% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 20, § 3º do CPC;

Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00

Nestes termos,

Pede deferimento.

DATA.
Advogado

OAB

que tipo de pericia isenta é esta? devemos acreditar que a suposta perícia
simplesmente utilizou o tempo total que a legislação supostamente permite de
36 meses anteriores ao invés de analisar tecnicamente e constatar, como
qualquer leigo consegue ver, que PELO MENOS em agosto de 2018 o medidor
estava funcionando, como pode-se ver no histórico de consumo em anexo.
Como podemos confiar que essa mesma perícia pode agora dar certeza em
que mês realmente medidor apresentou problemas? Pelo visto a CEA, com
todo seu poder "monetário", quer passar o ônus da prova para o lado mais
fraco, o consumidor, em evidente contrario à legislação, como essas decisões
recentes:

pois seus técnicos, em evidente desconformidade com o §1º do


art. 129 da REN ANEEL nº 414/2010, não respeitaram as regras previamente
definidas pela Agência Reguladora, senão vejamos:

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