Pelas Bandas de Santo Amaro
Pelas Bandas de Santo Amaro
Pelas Bandas de Santo Amaro
Resumo
Abstract
1. Introdução
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de Santo Amaro. Essa confirmação se dá pela menção ao Largo do
Rosário (atual Praça Floriano Peixoto, Figura 1) – onde se situavam a
Cadeia Pública, também a Câmara Municipal (atual Casa de Cultura)
e o “Coreto onde aconteciam as apresentações da Banda Musical de
Santo Amaro1”.
1 https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/santo_amaro/historico/
- Acessado em 04/01/2020
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atividades das bandas de música na representação de ser, através do
reconhecimento público, agentes de reunião e de interação entre as
diferentes partes da população urbana (SANTIAGO, 1998, p. 191).
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Serra e Juquitiba, emancipados em 1877 formando um único município,
o de Itapecerica da Serra. Entretanto, no início da segunda metade do
século XX, ocorre o desmembramento de Itapecerica da Serra, tornando
esses municípios independentes na maneira como conhecemos hoje.
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transmissão, e as bandas como um das principais representações no
que se refere ao coletivo como elemento de construção da identidade,
é admissível compreender que lastros culturais verificados na região
central de Santo Amaro estivessem presentes nos mais longínquos bairros,
justificando, em parte, a existência de bandas centenárias, atualmente
em plena atividade nos municípios de Itapecerica da Serra e Embu das
Artes.
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A instrumentação das bandas se caracteriza pelo emprego
de instrumentos de sopro e percussão, exceto as bandas sinfônicas
que atualmente se valem da participação de instrumentos de cordas
como, por exemplo, o contrabaixo acústico e violoncelo, em alguns
casos. Desde que suficientemente organizadas como associações
musicais, essas bandas são classificadas por múltiplas denominações:
Corporação Musical, Agremiação, Grêmio Musical, Filarmônica, Clube
Musical, Lira, Banda de Música, Sociedade Musical ou Banda Sinfônica,
estabelecidas em corporações militares ou civis. Podem ser pequenas ou
grandes, fanfarra, marcial, de coreto, banda sinfônica ou as chamadas
orquestras de sopros, entre outros. “Independente da classificação, elas
estão presentes nos momentos sociais mais importantes da cidade, sejam
civis ou religiosos (COSTA, 2011, p. 242)”.
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da música contemporânea justificando, assim, o fato de seu já vasto
repertório original ser fruto da produção artística do século XX.
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para a estimativa da existência de pelo menos quatro bandas de música
no município. Porém, a ausência de pesquisas historiográficas advindas
da academia ou de órgãos oficiais e a incipiência do estado atual da
pesquisa em torno deste assunto sugerem também a possibilidade desse
número ser menor ou até mesmo maior. Vale ressaltar que nomes como
“Lira”, “Euterpe” e “Furiosa” até hoje são utilizados como referência a esse
modelo de agrupamento musical e, por isso, não podemos descartar a
hipótese de que a mesma banda seja retratada com nomes distintos
nas diferentes fontes consultadas como, por exemplo, Banda Musical de
Santo Amaro e Corporação Musical Santamarense podem ser a mesma
banda.
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Figura 2. Comemorações dos 56 anos da Corporação Musical Santamarense.
Fonte: Jornal A TRIBUNA, 1972. Acervo pessoal de Cláudia Simone Pereira, neta do Sr.
Luiz Chile.
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Outro registro importante no que se refere à representação e à
memória da Corporação Musical Santamarense se dá em uma matéria
de 30 de julho de 1988, no jornal Gazeta de Santo Amaro. A matéria
apresenta uma espécie de passeio da memória através de relatos
do músico Luiz Chile, na ocasião com 72 anos, um dos mais antigos
moradores da região na década de 80 (Figura 3).
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de Araújo (fundador da referida banda – Figura 2), iniciando como
músico na banda apenas aos 18 anos, tocando trombone e, mais tarde,
saxhorn.
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Justamente em uma dessas ocasiões, Chile (1988) relembra com
tristeza um fato que marcou sua permanência na Corporação Musical
Santamerense, a “Cerimônia do Adeus” – evento que contou com a
presença de muitos moradores de Santo Amaro e de autoridades como
o prefeito de São Paulo, Faria Lima, e o governador Abreu Sodré em 27
de março de 1969, no Largo 13 de Maio:
3 Mônica Giardini é regente titular da Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo
desde sua estreia em 1993, regente e diretora musical da Banda Sinfônica Paulista, atua
como clinician do Projeto Sopro Novo Bandas da Yamaha do Brasil, em diversas cidades
do país, tendo escrito e publicado o Caderno de Regência da coleção deste Projeto e
é professora de regência na Faculdade FACEC -ES desde 2016. Fonte: Currículo Lattes
http://lattes.cnpq.br/6445891840556571 - Acessado em 30/06/2020
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provavelmente entre 66/67. Me lembro que em todos esses
anos, nós íamos aos domingos passear em Santo Amaro.
Tenho muito carinho pela banda, como toda criança, meus
pais ficavam sentados no banco da Praça e eu regendo a
banda assim como toda criança adora fazer, correndo em
volta do coreto e regendo a banda, marchando, brincan-
do (risos), em volta do coreto havia bêbado dançando e
tudo que tinha direito. Uma coisa que acho interessante e
gostaria de destacar, diz respeito ao público que assis-
tia essas bandas. Por exemplo, meu pai pertencia a uma
classe média que estava emergindo, uma família nova e
aquilo para nós era um passeio, assistir a banda era um
programa de domingo. Minha mãe me vestia de vestidinho
e dizia: “Vamos passear de carro, vamos lá ver a banda”.
Era muito bom, não sei porquê isso não se manteve. [...]
(sobre a última viagem do bonde de Santo Amaro), isso foi
quando eu era pequena, minha mãe nos levou para fazer
a última viagem no bonde. Não pegamos em Santo Amaro,
pegamos na Joaquim Nabuco, onde eu morava com meus
pais, fomos até a praça João Mendes e depois pegamos
de volta e descemos na Joaquim Nabuco, por isso não tive
a oportunidade de ouvir as bandas que estavam tocando
naquele dia, mas, fiquei muito feliz de ter participado dessa
última viagem (GIARDINI, 2020).
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Figura 4. Anúncio da participação da Corporação Musical Santamarense no IIº
Campeonato de Bandas de Música em Taubaté – SP.
Fonte: Jornal A TRIBUNA, 26 janeiro de 1979. Acervo pessoal de Carlos Fatorelli.
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Sobre qual teria sido a primeira banda do município de Santo
Amaro, segundo Fatorelli (2013), a “Lira Euterpa foi a primeira corporação
musical do município de Santo Amaro, fundada em 1865 [...] e, possuía
como mestre o maestro Miguel Arcanjo (FATORELLI, 2013)”.
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Figura 5. Banda 16 de Julho. Local: Largo Treze de maio, 1895.
Fonte: Revista Interlagos, 1951, p. 31. Acervo pessoal de Carlos Fatorelli.
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4. Pra ver a banda passar: herança cultural de Santo
Amaro
Maestro Elias Evangelista da Silva Filho
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Corporação Musical Imaculada Conceição de
Itapecerica da Serra - SP
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Figura 6. Sede da Corporação Musical Imaculada Conceição de Itapecerica da Serra
– SP. Fachada externa e pavimento interno superior, local onde são realizados os ensaios
da banda.
Fonte: Página oficial da CMIC5 - Corporação Musical Imaculada Conceição. Acessado
em 01/05/2020.
5 https://www.facebook.com/cmic1983/photos/a.221217777994618/617044191745306
/?type=3&theater – Acessado em 01/05/2020
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- bateria, bumbo sinfônico, tímpanos, glockenspiel, bombos, campanas,
pratos etc.
Figura 7. Concerto da Banda Municipal de Embu das Artes sob a regência do maestro
Hamilton Oliveira. Centro histórico - Museu de Arte Sacra de Embu das Artes, 2018.
Fonte: http://cidadeembudasartes.sp.gov.br/embu/portal/noticia/ver/11260 - Acessado
em 30/01/2020
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Sobre a composição social do efetivo da Banda Municipal de
Embu das Artes, constata-se que, a maioria dos componentes reside na
cidade de Embu das Artes e compõe a faixa etária de 15 a 60 anos,
porém, com predomínio das idades entre 18 e 28 anos.
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Figura 8. Banda Municipal de Embu – anos 30. Coleção de Pedro Saturnino da Silva.
Fonte: Acervo da Prefeitura da Estancia Turística de Embu das Artes.
Figura 9. Participação da Banda Municipal de Embu das Artes no filme “Embu” (1968),
de Roberto Santos (Início do período considerado “Cinema Novo”). ECA / USP, 1968.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=RrpUvu04yjo – Acessado em 06/02/2020
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Levando em consideração a continuidade do legado centenário
da Banda Municipal de Embu das Artes, é importante destacar que
alguns fatores corroboraram para que o trabalho e o foco principal da
banda não se perdesse em meio à onda migratória, que levou muitas
bandas a abandonarem o coreto, buscando um status mais elitizado,
optando por um público mais seleto, fato que, na maioria das vezes,
está essencialmente ligado à gestão artística do maestro.
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Leis municipais que orientam a Banda Municipal de
Embu das Artes
6 http://cidadeembudasartes.sp.gov.br/embu/portal/noticia/ver/526 - Acessado em
01/05/2020
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e diretrizes orçamentárias, como, por exemplo, o Plano Municipal de
Cultura de 2012.
7 https://leismunicipais.com.br/a/sp/e/embu-das-artes/lei-ordinaria/1963/17/175/
lei-ordinaria-n-175-1963-transforma-em-banda-de-musica-municipal-do-embu-
a-sociedade-musical-nossa-senhora-do-rosario-e-da-outras-providencias-1963-
11-28 - Acessado em 02/05/2020
8 https://leismunicipais.com.br/a/sp/e/embu-das-artes/lei-ordinaria/1979/75/752/
lei-ordinaria-n-752-1979-cria-a-banda-musical-da-guarda-mirim-municipal-de-
embu-e-da-providencias-correlatas-1979-04-17 - Acessado em 02/05/2020
9 https://leismunicipais.com.br/a/sp/e/embu-das-artes/lei-ordinaria/2014/277/2769/lei-
organica-embu-das-artes-sp - Acessado em 02/05/2020
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Francisco Nascimento de Brito, Prefeito, no uso de suas
atribuições legais: Faço saber que a Câmara Municipal,
aprovou e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º Reestrutura a Banda Musical Municipal de Embu -
denominada “Banda Municipal de Embu das Artes”.
Art. 2º São objetivos e diretrizes da Banda Municipal de
Embu das Artes:
I - realizar concertos no Município, prioritariamente, nos
bairros, centros culturais, praças e feiras e fora dele,
difundindo a música erudita, folclórica e popular;
II - manter intercâmbio com entidades musicais dos demais
Municípios, Estados e Países;
III - prestar assistência à Escola Municipal de Música;
IV - auxiliar no desenvolvimento da Escola Municipal de
Música;
V - divulgar a música erudita, para elevação cultural da
população;
VI - participar ativamente dos objetivos culturais das
demais Secretarias
(LEI Nº 2769 DE 17 DE SETEMBRO DE 2014).
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frequentem também as salas de concerto, porém, que não venham por
causa disso, abandonar sua principal vocação.
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Considerações finais
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de continuidade do trabalho das bandas do antigo município de
Santo Amaro em várias formas como, por exemplo, a manutenção do
repertório tradicional escrito especificamente para bandas. No entanto,
há também de se considerar que as semelhanças não se referem apenas
pela opção no que diz respeito à manutenção do repertório tradicional
desse modelo de banda, que é composto por marchas, dobrados e
canções do imaginário popular. Essa inter-relação com as antigas
bandas de Santo Amaro se fortalece também pela participação ativa
nas festividades locais, como também nas habituais apresentações
no coreto e nas alvoradas musicais13, além de oferecer um tom mais
patriótico em inaugurações de equipamentos públicos, sobretudo, em
cerimônias que ainda preservam a necessidade da execução ao vivo
do Hino Nacional Brasileiro, antecedendo à fala oficial das autoridades.
Referências
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REV. TULHA, RIBEIRÃO PRETO, v. 6, n. 1, pp. 206-237, jan.–jun. 2020
html. Acesso em 30/01/2020. Corporação Musical de Santo Amaro.
Publicado em 3 de abril de 2013.
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Sobre o autor
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6803-6013
Recebido em 20 /02/2020
Aprovado em 06 /05/2020
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1 Agradecimento às pessoas que contribuíram para a realização desta pesquisa. Ao
historiador Carlos Fatorelli, à maestrina Mônica Giardini, Secretaria de Cultura de Embu
das Artes na pessoa de Lindomar Peixoto, ao maestro Hamilton Oliveira, ao ex-músico
clarinetista da banda de Embu, e também ex-vereador de Embu das Artes, Gabriel Fi-
delis, ao Gian Marco Mayer de Aquino (Franguinho), maestrina Silvia Luisada, a todos
os músicos da Banda Municipal de Embu das Artes representados por Heder Cardoso,
Débora Simões, André de Oliveira Samogyi, Dr. Marcelo Lantyer, Suzana Chieme Miura e
aos ex-músicos da banda de Embu, o jornalista e clarinetista Marcos Lemes e o artista
plástico e saxofonista Camilo Filho.
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