Memorias Fluminenses 4 Miolo Versao-Inferior Final-25-07 Site
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2019
© 2019 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
1. Campos dos Goytacazes (RJ) – História. 2. São João da Barra (RJ) – História. I.
Título. II. Série.
Essentia Editora
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Pró-Reitor de Pesquisa, Extensão e Inovação Vicente de Paulo Santos de Oliveira
Diretor de Pesquisa e Extensão Tecnológica Pedro de Azevedo Castelo Branco
Equipe Editorial
Capa, Projeto Gráfico Caíque Pereira de Sá Cavalcante
Diagramação Caíque Pereira de Sá Cavalcante
Cláudia Marcia Alves Ferreira
Catalogação Henrique Barreiros Alves
Preparação do texto Marcela Luiz Francisco Azeredo
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................. 7
PREFÁCIO DA PRESENTE EDIÇÃO ............................................ 9
AO LEITOR ........................................................................................... 17
8
PREFÁCIO
DA PRESENTE EDIÇÃO
10
PREFÁCIO DA PRESENTE EDIÇÃO
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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PREFÁCIO DA PRESENTE EDIÇÃO
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
destas terras e de outras venham a surgir cada vez mais interessados em dar
continuidade ao magnífico trabalho de pesquisa historiográfica regional
deixado pelo pioneiro-escriba de nossa história, o Major Fernando José
Martins, e por outros ainda não descobertos.
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A historia é o thesouro da vida humana. Imaginai em que
horrorosas trevas e em que lamaçal de ignorancia bestial e pestifera
estariamos mettidos, se as recordações de tudo o que se fez ou aconteceu
antes de nós nascermos, estivessem inteiramente abolidas e extintas.
(AMYOT.)
AO
LEITOR
Apezar de sinceramente reconhecermos a nenhuma habilitação da
nossa parte, para bem podermos desempenhar a espinhosa tarefa a que
nos propozemos, pela falta de solidos conhecimentos necessarios para
um tão melindroso fim ; e ainda mais por caber a uma só penna e a um
só individuo trabalho tão arduo e fastidioso, qual o da investigação de
notas e documentos escriptos ha dous seculos, combinações de datas,
coordenações de materias, a importancia dos factos, para evitar da melhor
fórma possivel a confusão e desarranjo de papeis amontoados sem ordem
; apezar, dissemos, de todas essas difficuldades, não desanimamos ; antes
com muita satisfação apresentamos o esboço do que podemos colher
em resultado de nossos exforços e perseverança. E isto por seguirmos o
judicioso convite do insigne general, autor da Historia do Brasil, quando
no seu prefacio tratando da nossa regeneração intellectual, admoesta aos
Brasileiros a repararem o tempo perdido, preparando os elementos d’uma
litteratura propriamente nacional ; e accrescenta : « neste caso todo aquelle
que lançar uma pedra no cimento do edificio, fará importante serviço á sua
patria, embora não tenhamos grande material por ora, porque o tempo, e
só o tempo póde reunil-o com proveito. »
Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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PRIMEIRA
PARTE
HISTORIA SOBRE A POVOAÇÃO E
FUNDAÇÃO DA CIDADE DE
S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS
GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA
DA PARAHYBA DO SUL
No extremo da provincia do Rio de Janeiro, do lado do norte, e
a sessenta e quatro leguas da capital, fica a importante cidade de S. João
da Barra ; cujo porto, por seu bem activo commercio, é um dos mais
importantes do territorio Brasileiro ; a qual com a denominação de villa
da Parahyba do Sul, foi creada em o anno de 1676 pelas condições a que
ficaram sujeitos o visconde d’Asseca Diogo Corrêa de Sá, e seu irmão João
Corrêa de Sá, general do Estreito, quando obtiveram doação das terras
que, por patrimonio real, haviam ficado, pela ausencia de Pedro de Góes
da Silveira ; a qual villa tendo deixado primitivo nome, e pouco tempo
depois tomado o de S. João da Praia cabo S. Thomé, ficou ultimamente
com a denominação que hoje conserva ; aliás bem expressiva do local
onde é situada e invocação do seu padroeiro.
Divisão e localidade
* No anno de 1709, segundo uma declaração que encontrámos, tinha a barra 13 palmos de fundo. Mas no
meado do 17° seculo, no tempo do descobrimento, tinha esta barra apenas um friso coberto de geobêras,
que o povo ia desentupindo em épocas de enchentes ; porque a exportação primitiva era levada á Barra
Sêcca, e pela valeta á barra do Assuesinho, em Iguassú, onde os pequenos barcos a tomavam de canôas
de voga que fazião o serviço daquella baldeação. Estas canôas estacionavão por dentro da dita barra,
nos alagados chamados Brejos de Dentro, e conduzião para fóra o carregamento aos barcos que por elle
esperavão 3 e 4 dias.
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PRIMEIRA PARTE: HISTORIA SOBRE A POVOAÇÃO E FUNDAÇÃO DA CIDADE DE
S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
Praças
* Quando tratarmos em particular desta igreja, trancreveremos o documento que prova esta asserção.
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Ruas
As principaes são a rua da Boa-vista, que foi a primeira e sempre
mais povoada, e a unica que com a denominação de rua Direita existiu por
espaço de muitos annos ; fica á margem do rio, e seu ornamento consta de
35 casas terreas, 4 sobrados e um trapiche.
2ª a rua Direita, que foi aberta pelos moradores do Matto-grosso,
logar proximo á barra, para virem á missa e a seus negocios na villa.
Chamou-se em principio rua do Caminho Grande ; em 1774 rua do
Açougue ; de 1800 a 1835 rua de Baixo ; e hoje rua Direita : tem 101 casas
terreas e 5 sobrados.
3ª a rua do Rosario, aberta em 21 de Janeiro de 1750, com o nome
de rua Nova, que conservou até 1835 ; tem 260 braças d’extenção, com
107 casas terreas e 5 sobrados.
4ª a dos Passos, que tem a mesma extenção da 3ª ; tendo sido aberta
em 1778 com o título de rua de S. Benedicto, tambem mudou para o que
hoje conserva ; tem 126 casas terreas e 5 sobrados.
5ª é a do Sacramento, aberta em 1792, quando se fez o rasgo a sahir
na praça da Matriz para franquear a passagem do Terço de N. Senhora
aos domingos, com a denominação de rua da Restinga ; tem 73 casas
terreas e 5 sobrados.
6ª a rua da Banca, que fórma parte da frente da cidade vindo do
lado da Barra ; tem 22 casas terreas e 10 sobrados, e foi aberta em 28 de
Novembro de 1811 em correição do ouvidor José Freire Gamero, onde
tambem deliberou que os chãos fossem de 100 palmos de fundos, e a ilha da
Cataia (antiga de Feliciana Bernarda e hoje do Moreira) ficasse para a camara
; e ordenou que os moradores da rua de Baixo (hoje rua Direita) podessem
puchar os fundos de suas casas até a dita rua da Banca.
Além destas principaes ruas tem a cidade as ruas do Alecrim, aberta no
dia 23 de Fevereiro de 1783 com o titulo de rua Travessa ; a Detraz da Boa-
Morte, que foi aberta em 1780 com a denominação de Becco de José Manuel
; a do Cotovello que teve em principio o nome de rua do Jogo da Bóla ; a de
S. João ; de S. Benedicto ; das Flôres ; a do Cajú, aberta em correição geral da
camara de 1792, de um esteio do canto da casa de Catharina de tal seguindo
para o mato encostado ao bardo de Manuel Moreira dos Santos, onde havia
grandes cajueiros ; a do Açougue, aberta em 1780 ; a de S. Pedro ; do Cunha
; do Sapo. E os Beccos de José do Porto, do Riacho, dos Namorados, e do
Rei, da Cadêa e do Pelourinho.
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PRIMEIRA PARTE: HISTORIA SOBRE A POVOAÇÃO E FUNDAÇÃO DA CIDADE DE
S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
População do termo
Póde-se calcular em mil e sete centos fogos, com 8,700 almas livres
e 7,000 captativos. Quanto aos nossos Indigenas depois do anno de
1823, epocha em que ainda appareciam na fazenda da Moribeca nunca
mais se encontraram neste territorio. No sertão de Cacimbas sòmente
appareceram em 1780, pouco mais ou menos, e levaram Manuel da Silva
Pachêco, que se achava caçando ou tirando embiras na ponta de uma
peninsula, onde abre o Macabú dous braços : fica este logar agora ali em
frente á fazenda dos herdeiros do capitão Antonio da Silva Cordeiro.
Terreno
Rios e lagos
O rio Parahyba do Sul que divide o termo em duas partes quasi iguaes
na distancia de 4 leguas, é o mais consideravel. Corre ao rumo do nordeste,
e nas grandes enchentes que ordinariamente vem nos mezes de Dezembro
a Março, sahe do seu leito natural e precipita todos os campos visinhos, por
onde dá navegação ás canôas e embarcações pequenas. Nos outros mezes
navegam barcas de 700 arrobas com alguma difficuldade, porque não lhes
offerece mais de 3 a 4 palmos d’agua.
O rio Itabapuana é estreito e bastante fundo, e a barra que dista da
do Parahyba cousa de 5 leguas, é pessima e desabrigada. Suas margens são
excellentes para grandes estabelecimentos de lavoura : pertencêram estas
terras aos extinctos padres da companhia de Jezus, e foi aqui que Pedro
de Góes da Silveira, fidalgo portuguez, fundou em 1539 sua povoação.*
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Clima e meteorologia
Agricultura e exportação
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PRIMEIRA PARTE: HISTORIA SOBRE A POVOAÇÃO E FUNDAÇÃO DA CIDADE DE
S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
extensos, onde seus moradores encontram faceis meios de vida, que pela
maior parte consta de criações de gado vaccum e cavalar. Estes campos, que
o mais notavel é o Tahy da Praia, cujo lado opposto nunca a vista alcança,
pertencem a varios proprietarios, os quaes não vedam que a pobreza d’elles
se utilize para pasto de seus rebanhos.
No Sacco dos Cupis, hoje — Canto do Caetá —, logar deste grande
campo, que mais se approxima do Parahyba, foi o centro da notavel fazenda
de criar, pertencente ao morgado de Martim Corrêa de Sá e Benavides, que
sendo penhorada em 1732 ao coronel Pedro de Souza Castello Branco,
pela quantia de 3:081$766, passou áquelle dominio ; esta fazenda constava
igualmente de casas e curraes nos logares do Caetá, Matamba, Guepari,
Santo Antonio, Sacco, Engeitado, Ponta Araçahy, S. João e Caroára.
Em 1756 querendo a camara proteger a criação de animaes, então
principal genero de exportação do paiz, marcou nestes campos certas
localidades que ficariam communs a todos e com serventia publica, o que
logo entraram a aproveitar-se deste beneficio sem contestação de pessoa
alguma : taes foram o — Capão das Carnes —, Gombô —,* Capão dos
Colhudos —, Matheus Cabeça —, Sacco da Justa —, Imbahyba —, Capão
das Aboboras —, Pitanga —, Capão do Cedro —, Coitinho — e Matamba.
Não obstante a grande porção de terreno reservado para os pastos e
nutrição de nomerosa quantidade de animaes, o resto do continente de S. João
da Barra produz bem a cana, café, arroz, a mandioca, feijão, em que tem,
nos ultimos annos, feito progressos na exportação. Presentemente consta
ella de 65:000 arrobas d’assucar em 1:298 caixas ; 600 pipas d’aguardente,
pouco mais ou menos ; 8:000 arrobas de café, alem de outros generos. A
exportação da madeira de construcção, que tanto abunda nos sertões, tem
sido consideravel ; assim como o jacarandá.
Importação e consumo
* A origem deste nome vem de um escravo chamado Mandú Gombô, que em 1702 administrava o curral que
neste lugar tivera seu senhor o capitão Ignacio Corrêa.
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PRIMEIRA PARTE: HISTORIA SOBRE A POVOAÇÃO E FUNDAÇÃO DA CIDADE DE
S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
Commercio e industria
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PRIMEIRA PARTE: HISTORIA SOBRE A POVOAÇÃO E FUNDAÇÃO DA CIDADE DE
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com pequena differença, e 115,200, telhas que servem para consumo do paiz,
sendo parte exportada para algumas villa da provincia do Espirito Santo.
O commercio dos Goytacazes, nos primeiros tempos da sua
povoação, cifrava-se na exportação de carne salgada, couros, queijos e
algodão em caroço ; e para animar o trabalho e industria dos habitantes
vierão em certa data ordens, como diremos na 2ª parte desta obra, para
se cominar penas a quem conduzisse para fóra o algodão sem ser tecido,
e tambem convidando-os á plantação da mandioca para remetterem a
farinha ao Rio de Janeiro, onde seria comprada pela junta da fazenda, caso
não tivesse logo prompta venda.
Quanto ás producções vegetaes, criação de gados e a ornithologia
ou das varias castas de aves, tudo se encontra no termo, com poucas
excepções, iguaes aos de todo imperio. Do reino vegetal a ipecacuanha,
a baunilha, o cedro, o jacarandá, vinhatico, o sobro, araribá, o ipê, o
grumarim, a canella e especialmente a peroba, de que é prodigiosamente
rico o sertão das Cacimbas : o tapinhoan só se encontra do rio Itabapuana
para o norte, ou do Parahyba para o sul nas visinhanças do rio Imbê, do
termo de S. Salvador ; muitos cereaes, e a maior abundacia de fructas bem
saborosas. E do reino animal produz excellentemente o gado de todas as
especies ; e nas matas e riachos mais desertos encontra-se variadissimo
numero de animaes silvestres e de aves do paiz, e as de arribação que
em certas estações descem das serras, assim como passaros aquaticos: o
papagaio, a colhereira, o encontro, o mutum, jacú, o beija-flor, o sabiá,
o canario, as irêrês ; e dos animaes o veado, anta, quati, porcos do mato,
eaitatus e de outros muitos generos, apparecem constantemente.
Relativamente á ichtyologia encontra-se no rio e nos lagos do
Campello, Tahys grande e pequeno, e nos de Terra-nova e Campo-novo,
muitas especies de peixes saborosissimos, nos mezes de março a agosto
; os bellos robalos descem das cachoeiras de S. Fidelis com as primeiras
chuvas e ventos do sul do mez de abril para desovar na barra ; e as gostosas
tainhas nos chegam quando, em fins de junho, aquelles regressam á sua
antiga vivenda. Esta qualidade de pescado sahe do Rio Grande do Sul ao
pêrêquê, dizem, em janeiro ou fevereiro, e correndo a costa de arribação
aqui nos chega, as que se não resolveram a enfiar-se nas outras barras, logo
em principio de julho ou fins do mez antecedente.
De setembro a março, mezes das innundações, é a quadra dos
bagres, ou mulatos velhos tambem do Rio Grande, e das pescarias de barra
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Educação publica
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Estradas geraes
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Monumentos curiosos
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S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
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S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
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S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
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S. JOÃO DA BARRA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES, DA ANTIGA CAPITANIA DA PARAHYBA DO SUL
O morro de Cacimbas
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SEGUNDA
PARTE
HISTORIA
CAPITULO
PRIMEIRO
Tendo o rei D. João III verdadeiro conhecimento da importancia e
interesses que, em beneficio da corôa e dos estados, proviriam da povoação
e aproveitamento das terras ha pouco casualmente descobertas, e não lhe
sendo possivel cuidar ao mesmo tempo (suppomos) na exploração, por
sua conta, do novo continente e da India, em que se achava igualmente
empenhado, resolveu dividir o territorio, já então conhecido, em capitanias
feudaes, confiando-as a aquelles de seus vassallos que melhores garantias
offerecessem por suas riquezas, coragem e serviços prestados á patria
n’outras emprezas arriscadas.
A’ Pedro de Goes da Silveira, fidalgo de sua casa, coube a capitania
da Parahyba do Sul, com 30 leguas de costa entre a de S. Vicente e Espirito
Santo, cujos titulos foraes, passados em 29 de fevereiro e 1º de março de
1536, dando-lhe o rei, assim como a todos os outros donatarios, amplas
attribuições no governo da capitania, são os seguintes :
« Dom João, por graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves d’aquem
e d’alem mar, em Africa senhor de Guiné e da conquista, navegação,
commercio da Ethyopia, Arabia, Persia e da India, etc. A quantos esta
minha carta virem, faço saber que eu fiz ora doação e mercê a Pedro
de Goes, fidalgo da minha casa, para elle e todos os seus filhos, netos,
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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* Em todos os papeis vindos de Lisboa, nos ultimos tempos da colonia ; nas cartas do visconde d’Asseca ; os
titulos por que ainda hoje se conhecem os logares de Santa Catharina dos Amós, taes como a barreira de
Gil de Góes e outros ; assim como tambem o soccorro pedido á capitania do Espirito Santo, tudo é feito
e dirigido por Gil de Góes da Silveira, filho e immediato herdeiro e successor do capitão Pedro de Góes.
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
perigo, e sim seu filho Gil, chefe então da capitania, natural, sem duvida
alguma, do paiz, pois que no principio nunca delle se tratou.
Ora, se Gil de Góes nasceu no Brasil, ou si em Portugal sendo
então neto e não filho do capitão fundador, como se deprehende dos
factos apontados ; e se na época do abandono da capitania elle já antes
a administrava, é fóra de duvida que se primitivo estabelecimento
durou muito mais tempo do que se suppõe, e todos os escriptores tem
mencionado, tendo-lhe um delles dado apenas a duração de 4 annos.
Em virtude pois de continuadas guerrras nunca pôde Góes
aproveitar-se, como desejava, da natureza e fertilidade das terras de
sua donataria ; e sua agricultura limitou-se a bem pouco espaço em
derredor da povoação.
Francisco Dias, primeiro povoador da barca de Itabapuana depois
do donatario, ali encontrou todos os signaes, restos e ruinas da nascente
colonia á margem da pequena lagôa Doce, (que divide as 2 barreiras, de
Gil de Góes, e a do Salgado) taes como fornos, fragmentos de muralhas
e outros objectos que não poderam ser, no choque, transportados para
bordo das caravelas ; e quanto aos signaes de cultura, que só se estendiam
ao Amontoado, cerca de duas mil braças para o centro, onde é actualmente
roças da fazenda do Largo.
A reunião effectuada dos Goytacazes e Xipotós com os ferozes
Botocudos ou Aymorés das margens do rio Doce, deu o ultimo golpe á
colonia ; e Gil de Góes, com o socorro do chefe da do Espirito Santo,
Vasco Fernandes Coutinho, pôde evadir-se e escapar, com sua gente e
trem de mais facil conducção, ás crueis vinganças e supplicios que lhes
estavam destinados.
Os mais antigos descendentes dos hereos daquelle lugar referem,
por tradicção, um facto então acontecido que foi sempre tido entre elles
como origem do ultimo encarniçamento e contumacia dos Indios contra
o donatario, até a sua explusão ; o qual aventuramos e o transmittimos a
nossos leitores da mesma maneira que ouvimos.
Gil de Góes, entre outros Indios que consegiu domesticar, acolheu
uma menina de tenra idade, filha ou parenta proxima de um cacique (chefe
de tribu) da visinhança, a quem fez baptizar com o nome de Catharina.
Crescendo no corpo, na idade e na formosura, a pupilla do chefe
augmentava tambem na belleza ; e este não tivera forças para resistir ao
encantos da seductora filha das brenhas, nem tão pouco esta aos amorosos
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
* Allude a D. Pedro II, então regente em nome de seu irmão D. Affonso VI, rei de Portugal.
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
* « A alçada que por esta doação se concede ao dito capitão e governador em piões, cristãos novos, e livres
até a pena de morte natural, hei por bem que haja nella appellação para a maior alçada. Que nos 4 casos
declarados, haja outro sim appellação para a maior alçada em toda a pessoa de qualquer qualidade que seja.
« No tocante a clausula que diz, que na dita capitania não entram corregedor nem outras justiças, hei por
bem que eu e meus successores, sem embargo da dita clausula, possamos mandar corregedor com alçada á
dita capitania quando nos parecer necessario, e cumprir o meu serviço, e a boa governança da dita capitania.
« Com estas declarações e limitações mando qua a dia carta se cumpra e guarde inteiramente como nella se
contem. Pelo que mando ao meu governador e capitão general do estado do Brazil, governador da capitania
do Rio de Janeiro, a todos os mais ministros da justiça e fazenda do mesmo estado, a que pertencer que, com
as ditas declarações e limitações, cumpram e guardem esta minha carta como nella se contem, e deem posse
ao dito visconde da dita capitania e terras della ; e registrará os livros dos contos da cidade do Salvador, nos
da camara da dita capitania, e nas mais partes onde for necessario, de que os escrivães que as registrarem
passarão suas certidões nas costas della ; o qual por firmeza de tudo lhe mandei passar, por mim assignado
como meu sello de chumbo pendente ; e esta se passou por duas vias, e pagou do novo direito 54$500 reis,
que se cerregaram ao thesoureiro João da Rocha. Dada na cidade de Lisboa aos 15 dias do mez de setembro.
— Antonio Serrão de Carvalho a fêz no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1674. —
Secretario, Manoel Barreto de Sampaio a fêz escrever. — PRINCIPE. »
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CAPITULO
SEGUNDO
O autor da Corographia Brazileira dá vinte dias de intervallo
da creação da villa de S. Salvador, pelo visconde donatario, á da de S.
João da Praia ; e diz que o procurador bastante deste convidara para
a execução das solemnidades o ouvidor do Rio de Janeiro, o qual por
se achar impossibilitado deu commissão ao juiz ordinario de Cabo
Frio Geraldo Figueira. Dos documentos que encontrámos apenas ha a
differença dos dias que foram oito ; quanto ao mais deu-se com effeito
o facto da instituição da villa pelo juiz ordinario da cidade Cabo Frio,
acompanhado do capitão mór-procurador do donatario e outros, que
para isso foram convidados.
Pelo mappa seguinte verá o leitor a população, idades e qualidades
da gente que havia reunida em torno da pequena ermida de S. João, e
com a qual, e com os habitantes dos suburbios criadores de gado, foi
fundada a nova villa.
Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
vão capitães e outros officiaes maiores, sempre o dito capitão-mór hade dar o nome, e os mais hão de estar
ás suas ordens, visto a homenagem que fez pela dita capitania, cuja defensa e segurança corre por conta delle
dito capitão-mór ; e só no caso que este governo disponha o contrario e mande com ordem expressa sua tal
pessoa que convenha ao serviço d’el-Rei meu senhor obedecer-lhe, o dito capitão-mór estará em tudo ás suas
ordens ; mas nem ainda assim ficará livre da homenagem que deve.
« 4.º Tudo que contem o capitulo antecedente se entende havendo sido o capitão-mór de infanteria soccorrel-o,
governarão ambos juntos, e disporão o que convier á defensa da capitania, dando alternativamente o nome,
mas sendo sargento-mór ou outro official maior pago, estará o capitão-mór que não houver sido capitão de
infanteria ás suas ordens, e sempre obrigado ao juramento e homenagem que deu da capitania.
« 5.º Achando vaga ou vagando depois alguma companhia das que houver de infanteria paga, ordenanças ou
auxiliares, governará o seu alferes emquanto o capitão-mór me faz aviso, dando-me logo noticias das pessoas
de mais merecimento que ahi houver para eu mandar o que convier.
« 6.º E achando tambem vago ou vagando algum officio da justiça ou fazenda na fórma da sobredita ordem de 21
de julho, me fará logo officio para provimento. E para que o curso das cousas ou negocios que delle depende, se
não suspenda, passará em virtude deste capitulo provisão á pessoa benemerita e sufficiente para que o sirva por
tempo de dous mezes, se fôr da capitania das do norte ou desta (da Bahia) até o Espirito Santo inclusivé ; e de
seis mezes se for do Espirito Santo para o sul * para que continuem emquanto eu não provejo. Será o capitão-mór
obrigado a ter particular cuidado nesta materia, para que de nenhum modo sirvam com seu provimento mais que
naquelle interino preciso, que é necessario para me chegar o aviso e vir a provisão, para evitar as nullidades que
do contrario podem resultar nos negocios e justiças das partes, pois que não tem jurisdicção alguma para prover.
« 7.º De nenhum modo se entrometterá o capitão-mór na administração da fazenda real da capitania, por
estar incubida propriamente ao provedor della, e só para o favorecer e augmentar terá o cuidado que deve,
evitando com diligencia possivel que nos dizimos não haja suborno, nem elle se faça parcial na inclinação
de alguns lançadores, antes anime a todos ao maior beneficio das rendas reaes ; e quando o provedor da
fazenda, escrivão ou almoxarife não façam o que devem, os advirta para que sirvam como são obrigados, e
não se emendando os deixará, comtudo, servir seus officios ; porque não tem os capitães-móres jurisdicção
ou poder algum para privar dos postos ou officios os providos nelles ; e me enviará logo dando-me particular
noticia com toda a certeza das más culpas e erros de officios para que resolva o que mais conveniente for
; tendo o dito capitão-mór entendido que fará nisto grande serviço a el-rei meu senhor, porque quanto
for mais o terror que os officiaes da fazenda tiverem de me ser presente por sua via o seu máo proceder,
procurarão melhor têl-o bom, e não faltarão ás suas obrigações.
« 8.º A mesma liberdade deixará tambem o mesmo capitão mór ter o ouvidor e officiaes de justiça na administração
della, não se intromettendo por nenhum caso na sua jurisdicção, assim como nem o ouvidor na do capitão-mór,
para que cada qual proceda como é justo no que lhe toca ; advertindo que de nenhuma maneira pertence aos
ouvidores nem aos provedores os provimentos de serventias d’officio algum que vague nos seus juizos, e só toca
ao capitão-mór o cuidado de saber se obra o ouvidor e seus officiaes como devem, avisando-me logo com mais
exacta averiguação das culpas que tiverem e clarezas das pessôas queixosas, para eu dispor o que convier.
« 9º Com as camaras e obrigações que são proprias desses senados, não entrometterá tambem o capitão-mór,
antes favorecerá aos seus officias em tudo que for a beneficio dessa republica.
« 10º Mas succedendo haver caso em que o capitão-mór mande prender alguma pessôa, o não poderá o
senado mandar soltar sendo materia leve, mas que o mesmo capitão mór ; e sendo grave mandará contar da
tal prisão, e causa que para ella teve para eu mandar o que convier.
« 11º De nenhuma maneira consentirá que dessa capitania se dê appellação ou aggravo em nenhum juiz mais
que para a Relação deste Estado, excepto nas materias da fazenda real, que immediatamente hão de vir á
provedoria mór do Estado, d’onde se seguirá o que for de estylo pelo regimento da fazenda.
« 12º Sendo a capitania d’el-Rei meu senhor, e havendo algumas terras vagas ou se descubram de novo, as
não dará de sesmaria o capitão-mór por não ter jurisdicção para isso, mas que o governador e capitão general
ou vice-rei, a cujo cargo estiver o estado ; ao qual sómente tem el-Rei meu senhor dado em seu regimento a
fórma com que os hão de distribuir ; e recorrerão as partes que as pedirem, por si ou por seus procuradores,
a este governo onde se lhes defirirá. »
*
Havia por estes tempos na villa do Espirito Santo uma postura, costume da terra, preceito militar ou o quer
que fosse, para castigo de faltas, que impunha ao convencido d’ellas a pena de ser, por certo tempo, degradado
para o Rio de Janeiro! O que são os tempos!
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* Grande parte ou talvez estes e outros absurdos dos filhos de Santo Ignacio fossem a principal origem
das não interrompidas desordens dos Goytacazes desde o começo de sua povoação até a total instituição
da autoridade do donatario ; disturbios que, segundo o que mencionaremos, parece deduzir-se os largos
interregnos de seu dominio de facto.
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CAPITULO
TERCEIRO
Tratando da cadêa e casa das vereanças, (que até o presente ainda serve
um só edificio) era preciso para celebrar seus trabalhos reunir-se o senado,
ora na varanda da igreja de S. João, ora na casa do sargento-mór João Velho
Pinto. O corregedor do Rio de Janeiro, á cuja comarca pertenciam os campos,
viera fazer a primeira correição no dia 1° de setembro de 1692, e encetou os
melhoramentos que mais se necessitava ; foi este o Dr. Miguel de Siqueira
Castello Branco, porem o seu successor Manoel de Souza Lobo foi que em
1694 deu grande impulso ás causas publicas da nascente villa.
Cumpre das ao leitor noticia do modo e fórma das correições dos
ouvidores desses tempos, e que prevaleceram até a extincção dessa autoridade
com pouca alteração. O corregedor, em chegando a qualquer termo, abria
a audiencia, em presença do juiz ordinario e camaristas, e procedia nos
termos de perguntas da maneira seguinte : De quem é esta villa ? Em quanto
pertencemos ao donatario, respondia-se que — delle ; e quando passemos
ao dominio da corôa, dizia-se — d’el-rei nosso senhor, que Deos guarde.
Perguntava se havia alguma pessoa ou pessoas que usurpassem a
jurisdicção real, ou repugnassem pagar seus direitos ? Sim ou não ? Se
havia alguma parcialidade ou clubs de pessoas que perturbassem o socego
dos habitantes ? Se havia alguma postura prejudicial aos interesses da
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CAPITULO
QUARTO
Se fosse este pedido feito nos nossos dias, que ninguem se lembra do
que aconteceu ha cem annos, podia muito bem passar por ficticio o motivo
allegado ou pelo menos com o fim de alcançar o padre Diogo por esse meio
mais avultada esmola ; porem naquelle tempo, quando a veracidade do caso
estava ainda na memoria de todos, é de justiça que se lhe dê todo o credito.
A segunda capella da capitania fôra talvêz a de N. S. do Sacco ou de S.
Salvador feita por Salvador Corrêa de Sá, então governador do Rio de Janeiro,
em 1653 como dissemos ; ou ainda a de S. Antonio dos Guarulhos.
Se ainda existisse a capella de Santa Catharina, edificada sem duvida
pelos annos de 1540 a 1550, no pontal do sul da barra do rio Itabapuana,
e que éra a Matriz da primitiva freguezia da capitania, a cujo lugar se deu
o nome de de S. Catharina das Amós, que actualmente conserva, ninguem
por certo lhe poderia roubar os foros de primaria entre todas as outras.
Assim mesmo á vista do notavel augmento e estado de engrandecimento
da povoação no presente, é nossa opinião que em vêz de pedirem a
freguezia com a invocação de S. Sebastião, tivessem lembrado a da antiga
padroeira, podiam allegar esse titulo de antiguidade sem obstaculo algum ;
porque os exercicios da antiga freguezia foram suspensos por força maior,
ou por outra, houve um interregno, que agora continúa.
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* Natural do Espirito Santo, filho do capitão Manoel Teixeira Freire ; havia, antes de tomar ordens, servido nas
entradas dos sertões da capitania como ajudante de milicias.
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deixando-a sem uma missa se quer : por isso pede a vossa illustrissima seja
servido, attendendo ao referido, dispor o que fôr de justiça ; e receberá
mercê. — Não constando o contrario da disposição do testador, deve
o reverendo parocho de S. Salvador partir com o reverendo supplicante
por rata a esmola deixada por os suffragios, na fórma da constituição.
Rio, em meza, 16 de maio de 1727. — Araujo, doutor vigario geral. »
Apesar das disputas que sustentava o doutor Pedro Marques com
o seu collega Braz Lopes, em cuja lide ás vezes era réo e outras vezes
fazia de autor, mas sem nunca arrear bandeira, assim mesmo não se
descuidava da matriz ; porem nada absolutamente pôde fazer, porque
seu contendor intrigava-o tambem com os freguezes, e esse genero de
combate lhe era mais funesto.
Foi por vezes chamado ao Rio de Janeiro a dar contas de varios
capitulos de accusação. D’uma dessas denuncias era signatario o tabellião
André Franco da Motta, e entre varios artigos escriptos contra elle
achavam-se estes :
Item. O vigario Pedro Marques diz missa de chinellas.
Item. Negoceia com facturas de embarcações.
Item. Não sabe dizer missa.
Chegando ao Rio, deu-se-lhe audiencia para defender-se perante o
bispo ; e sendo interrogado sobre o primeiro artigo : se dizia missa de
chinellas, respondeu ao prelado : e se V. Sª. lá estivesse havia de dizêl-a de pé no
chão, porque os bichos são tantos que trago os pés todos inchados.
A respeito do segundo, disse : que na freguezia existindo muita
gente preguiçosa e inutil vivendo 10 de furtos, elle, por lhes dar que
fazer, promovia á factura de lanxas e pequenos barcos com o fim de
tiral-os da mandriice.
E que sobre o terceiro ponto, podia celebrar d’elle bispo para ser
julgado. O que com effeito fêz, e foi, em resumo, absolvido da accusação
e mandado regressar a sua freguezia.
Depois de reintegrado nas funcções parochiaes, e ao celebrar a
primeira missa conventual, aconteceu ao virar-se para dizer o dominus a dar
com a vista no seu accusador e patricio Franco da Motta (ambos eram de
Peniche) ; parou e dirigio-lhe estas palavras de remoque, em vós alta : —
senhor André Franco, veja se vai a seu gosto ! Alludia ao capitulo sobre o não
saber elle dizer missa.
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padroeiro recolheu-se á capella do Senhor dos Passos, onde esteve até 1806,
porque nesta data emparedando-se o arco cruzeiro, ahi se collocou o altar
mór emquanto em 1818 se construiu de pedra e cal o solido edificio que
hoje existe. A varanda e obras que se vêem puxadas da capella mór do lado
do rio, é trabalho do vigario collado Francisco José Pereira de Carvalho, em
1840, com o legado pio do bem-feitor padre Belxior Alves Rangel e Silva.
Era já prompta esta ultima capella mór, e já funccionava com o
ornamento de pinturas do insigne mestre o ajudante Clemente de
Magalhães Basto, da Villa de S. Salvador, cujo primor ainda se observa no
quadro do Homem-Deos, que lá se vê no pinculo do edificio, e o vigario
da freguezia não tratava de fazer a mudança de sacristia, allegando como
posse da dos Passos o lapso de mais de cincoenta annos que a occuparam
seus antecessores ; porem o obrigaram a retirar-se em 1823, em virtude
de disputas com o irmão thesoureiro do Sacramento, Francisco Antonio
Gomes, que nesse anno era influente na confraria.
O padroeiro S. João Baptista nunca teve irmandade nem
administração mais do que a direcção dos vigarios e de um thesoureiro
nomeado pelo ouvidor ou pelos mesmos vigarios, pois não encontrámos
titulo algum que indicasse nesse cargo feições officiaes.
O thesoureiro guardava as esmolas dos fieis, e promovia as obras
da igreja, a principio de accôrdo com o senado da camara, e depois
com o parocho ; os bens constavam de algumas joias, uma ilha perto do
Vianna, chamada de S. João e lanço e meio de casas na praça da Matriz,
regular aposentadoria dos primeiros vigarios, onde houve a aula de latim
do padre José Soares. A irmandade que está presentemente organisada,
instituio-a o commendador Joaquim Thomaz, pelos annos de 1857, com
seu compromisso approvado legalmente.
A capella do Senhor dos Passos, que fica contigua á Matriz do
lado do Evangelho foi edificada de madeira antes de 1730, épocha em
que instituiram a irmandade, cuja obra já estava a cahir em 1749. Essa
primitiva casa era, sem duvida, mais pequena e de menores dimensões do
que a actual, que foi terceira, e tem o espaço da segunda, visto que esta foi
accrescentada pelo que se vê do termo seguinte : — « Aos cinco dias do
mes de junho (vai a mesma orthographia) de mil e sete centos e quorenta
e noue nesta matriz da vila de S. joão da Bara na mesma se ajuntarão o
irmão prouedor do sr. dos pasos para com efeito concordarem em huo
nouo edifisio na capela do dito snr. e sem duuida ajustarom e mandarom
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Das irmandades que ainda funccionam nas matrizes só nos resta dar
noticia da de S. Miguel e Almas, que tem ao presente seu altar proprio por
ter a confraria comprado o de S. Benedito quando este santo se trasladou
para a sua igreja ; sendo que anteriormente esteve n’um nicho ao lado do
altar do Senhor dos Passos.
A irmandade instituiu-se pelos annos de 1740, com certas regalias e
privilegios. Possuiu umas terras no districto do Porto-escuro, e um curral de
gado com quinze cabeças em arrendamento. Em 20 de janeiro de 1806 indo
sahir a procissão de S. Sebastião, travou-se grave conflicto entre esta irmandade
e a do Rozario sobre qual dellas deveria preceder no prestito ; o senado da
camara decidiu a favor da primeira. Por este facto ficamos entendendo que só
daquella data em diante é que a irmandade de S. Miguel muniu-se de perdão e
mais alfaias proprias de sahir ás ruas nas funcções publicas.
As outras capellas que ora existem no termo são : a de N. S. da Penha,
do morro do Coco, levantada a expensas dos exploradores daquellas mattas
á pouco incultas ; os quaes para lá affluiram, vindo quasi todos das freguezias
de S. Sebastião e S. Gonçalo do municipio da cidade de Campos ; que
apenas se pozeram em melhores circumstancias, trataram logo da factura da
requerida capella. A sua posição é no centro da freguezia de S. Francisco de
Paula e a cinco leguas, pouco mais ou menos, da costa do mar ; e datando a
sua construcção de pouco mais de 20 annos, já foi erecta em freguezia.
Ainda pende de decisão legislativa a sua filiação municipal, porque
os do termo de Campos ambicionam esbulhar-nos de sua posse.
A matriz de S. Francisco de Paula, a duas mil braças da costa, é
um templo vasto e de superior construcção para as forças dos habitantes.
Em 1853 começou-se a obra com algumas esmolas e sob os auspicios
de uma directoria escolhida entre os bemfeitores, e deu-se por acabada
a grande capella mór, com sacristia e corredores sufficientes, em 1856,
tempo em que se instituiu a freguezia. A importante obra da capella mór,
de que fazemos menção, calculou-se que custara oito conto de réis, mas
as esmolas para ella adquiridas talvez não chegassem á terça parte desta
somma. Então Francisco José Rodrigues Fernandes, grato pela attenção
de acceitar-se para padroeiro da nova freguezia a invocação e a propria
imagem de seu oratorio, o Santo de sua devota predilecção, abriu sua
bolsa e poz á disposição dos operarios todas as ferias, como se estivesse
construindo uma casa de sua propriedade. E’ bem verdade que elle fazia a
despeza a titulo de emprestimo, e com a condição de a directoria cotisar-se
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* Do lado opposto e fronteiro a fazenda divisa-se no solo um vallado em terras de Antonio da Silva Riscado
Maciel, ao qual chamam as Valletas, e é o ponto de limite desta cidade com a de Campos.
Em epochas remotissimas foi esta a direcção do Parahyba, pois que nas innundações por ahi corre elle ao
Itay, lagôa do Jacaré, Bananeiras, Corrego Fundo a sahir na barra do Furado, e na do antiguissimo Asusinho,
hoje Iguassú.
No mesmo districto na parte do norte demora, á duas mil braças distante do rio, a notavel lagôa do
Campello, que deveria em tempos tambem remotos desaguar por uma barreta em frente no logar das
fleixeiras. Quer uma quer outra das duas barretas, acham-se ao presente entupidas e já estavam desde o
estabelecimento das villas, sendo d’ahi que proveio a esse lugar o nome de Barra Sêcca.
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CAPITULO
QUINTO
Depois de noticiarmos e descrevermos a fundação dos templos,
capellas, oratorios priviligiados e irmandades, cumpre-nos voltar a tomar
o fio dos successos mais notaveis do governo administrativo e economico
da villa, quanto á autoridade do donatario que deixamos em principio do
seculo passado para não interromper o das casas da oração.
Já dissemos que o dominio do donatario pareceu vacillante, pele
menos lá nos Goytacazes, ou por poucos intervallos governou de facto
apesar dos innegaveis e legaes titulos de sua propriedade. Em S. Salvador
andavam os povos em continuos disturbios e opposição ao governo
do visconde, e não havia um só procurador deste que fizesse chegar á
sujeição os vassallos. A luta, pelo que iremos transcrevendo para prova do
que avançamos, tornara-se contumaz de parte a parte, e não se limitava
sómente ás desordens e desobediencias formaes dos povos cá nos
campos. Cada parcialidade procurava com avidez fazer valer perante o
throno, vice-rei, ou perante o governador, suas queixas e aggravos do seu
rival. O donatario continuava a nomear, segundo lhe era permittido, os
empregados da justiça e militares, e tambem a autoridade principal que era
o ouvidor da lei ; e ás vezes conseguia obter do governo geral uma medida
em seu favor, mas que a camara de S. Salvador e o povo logo destruia.
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
que eu não posso como procurador de meu pai exercitar nesta capitania a
sua jurisdicção, por me faltarem as circumstancias que se declara na mesma
ordem ; e como até agora governei esta capitania entendendo que o podia
fazer em virtude da carta de duacão e agora vejo que Sua Magestade o não
approva, declaro a vossas mercês que ao governador do Rio de Janeiro
devem obedecer, e que eu me desobrigo do governo que tive até agora, em
observancia da real ordem de Sua Magestade : satisfaçam vossas mercês o
que elle lhes manda, e mandem registrar esta minha carta para que a todo o
tempo conste esta minha obediencia. Deus guarde a vossas mercês muitos
annos. Engenho do Carmo, 31 de março de 1729 — Senhores officiaes do
senado da camara da villa de S. João. — Martim Corrêa de Sá. »
E’ preciso notar que nas disputas e contestações dos campistas
contra o donatario e seus procuradores, não eram envolvidos os desta
villa de S. João da Barra, como se verá ; os de S. Salvador é que com elles
jogavam as christas, e ora venciam, ora eram derrotados. Taes motivos não
podiam deixar de trazer aos Goytacazes a calamidade do levante.
Por aqui passou em 1730 o senado todo de S. Salvador encorrentado
de viagem para a Bahia á presença do vice-rei, por ordem do donatario.
Mencionamos com a mesma orthographia o recibo do mestre da lancha
que os conduziu, e registro do mesmo :
« Rezisto de hum Resibo que mandou botar nesta nota o Capitam
Manoel Hanrriques do amaral. — Resebi do Senhor Juis Manoel Hanrriques
nesta barra da paraiba tres omens prezos de corentes dois com algemas e
hum com grilhom asim mais resibi duas cartas para o Senhor Conde de
outoguia governador da cidade da bahia, a saber João Soares Domingos
Rodriguus Fr.co da terra omens bons da cambra dos oytacazes e pera sim
ser uerdade auer Resibido os ditos omens e cartas e ferros lhe pasei este
por mim feito e asinado villa de S. João, tres de junho de mil setesentos
trinta annos — João Lopis. »
Os homens tinham chegado a esta villa em 20 de maio, e estiveram
na cadêa á espera de monção até 3 de junho seguinte. Quem motivava a
guerra aberta entre o chefe e os vassallos não seria a dureza daquelle e muito
menos a desobediencia premeditada destes, mas sim a irresponsabilidade
e imprudencia dos procuradores ; e d’entre todos os mais malignos foram
o filho do visconde, Martim Corrêa, e um tal prior Chaves. Sobre o
caracter do primeiro temos para prova o que acima deixamos, e tambem
a carta regia de 14 de setembro de 1729, vinda ao governador Luiz Vahia
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Monteiro, respeito a usurpação com que elle exercia fóra dos limites da
capitania o poder de que era revestido na carta de doação (eram ordens
vindas pró e contra quasi em actos successivos) ; e a respeito do prior, cuja
presença era sempre de mau agouro, poremos aqui com o mesmo estylo o
decreto em que foi elle destituido de uma vez :
« Dom Joam per grassa de deus Rei de pertugal e dos algarues da
quem e dalem mar em africa senhor de guine e da conquista nauegação
comercio e deteopia arabia percia e da jndia &.a faso saber aos que a
presente minha carta viram especialmente os Juizes ordinarios das villas de
S. Salvador e de S. João da praia capitania dos campos dos goytacazes que
eu fui seruido por rresolução minha de catorze de abril E mil setesentos
e doze Resolver e mandar que nestas capitanias ficassem sem uzo algum
de jurisdição os donatarios e que aquella de que tem uzado o prior duarte
teixeira xaues eo uisconde da Acequa lhes fosse sequerstada, e posta na
coroa para o que mandei passar ordem ao ouvidor geral do Rio de Janeiro
asim o exzecutar e não consentir que Algu dos sobreditos exzercitace mais
os poderes e uso de tal donataria sem embargos de coaes quer embargos,
apellação ou agrado per que tudo hauia de deferir sómente no efeito
deuolotivo. E por quanto o dito meu ouidor se ache empedido por não
hir pessoalmente na ocazião prezente fazer esta deligencia vos ordeno
que sendouos esta aprezentada hindo primeiro por elle asinada a fasais
cumprir e goardar enuiolavelmente com seu comprimento, conuocareis
ao lugar costumado os oficiaes da camera E homens bons dessas villas e
prezentes todos mandareis pelo Escrivão da mesma camera fazer auto no
livro das uereanssas para que conste que no dia da prezentação desta ou no
seguinte foj socrestado a jurisdição que os ditos tinhão e metido em minha
corôa Real e hauidos por nullos todos cuaes quer prouimentos que os
ditos prior e uisconde ham passado mandado, outro si notificar a todos os
prouidos assi em officios da justiça como em postos das ordenanças que
mais não uzem das prouizoens ou patentes que tiuerem antes recorreram
loguo ao gouernador geral do mesmo Rio para os prouer ualidamente na
forma do seu Regimento e não fazendo asi mandareis delles fazer auto
em que preguntareis testemunhas com as partes citadas eos Remetereis
ao dito meu ouidor geral para elle o ditriminar como lhe parecer justissa,
e no cazo que algum uenha com embargos apellação ou agrauo ao nosso
procedimento lho não adimitireis se não em auto separado e sem prejuizo
de exzecução Remetendo tudo na forma sobredita ao dito meu ouidor
geral, e de como asi o cumpristes mandareis sertidão passada pelo nosso
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
Escriuão da camera que Rezistará esta no liuro dos Rezistos para della
contar a todo o tempo. El-Rei Nosso Senhor o mandou pello doutor Luiz
Fortes Bustamante Saá seu ouvidor geral e auditor da gente de guerra
desta capitania de S. Sebastiam do Rio de Janeiro ; dado em maricá termo
da mesma cidade em quinze dias do mez de Junho e anno do nascimento
de Nosso Senhor Jezus Christo de mil e setesentos e treze, e eu Julião
Rangel de Souza o escreui ; Luis fortes bautamante E Saá. »
O preor Chaves era decidido parcial do visconde donatario, e
como tal acompanhava-o constantemente em todas a vicissitudes de seu
poder e antoridade. Depois desta refrega ainda apparece elle na villa dos
Goytacazes em 1721 ; e de taes ardis e intrigas lançou mão que tirou desta
vêz a desforra de algumas desattenções e desobediencias atrazadas.
Em dia da Ascenção do referido anno de 1721 ordenou, em nome
do fidalgo senhor da villa, ao ouvidor da lei João de Andrade Leitão que
fizesse immediatamente prender a um tal José Pereira, por desaforos antigos,
sob pena de ser o ouvidor tido por rebelde ; mas, achando José Pereira
na Matriz ouvindo missa, recusou o ouvidor cumprir a ordem visto os
privilegios e immunidades dos templos guardados nessas eras. Tendo o
prior participação do obstaculo, ajuntou gente ; e acompanhado do mesmo
ouvidor Leitão, cercaram a Matriz, ao tempo que por parte do perseguido
José Pereira havia já dentro da igreja grande porção de seus parciaes.
Travou-se de parte a parte renhido combate ; de fora o ouvidor, o
prior Duarte Teixeira Chaves e a gente do visconde donatario, pretendiam
forçar a entrada do templo ; da parte de dentro o povo tratava de obstar
tal tentativa. O fogo de ambos os campos era mortifero, e o tumulto
assombroso. Os combatentes de dentro levaram vantagem aos atacantes
porque tinham-se munido de armas e munições de peleja, motivo porque
o chefe Chaves teve de mandar cessar o fogo e fazer abandonar a empreza.
Houve de um a outro lado bastantes mortos e feridos, sendo contado entre
os primeiros um coronel Francisco Mendes ; (o escripto d’onde colhemos
a noticia deste facto não esclareceu a que partido pertencia o infeliz official)
deve entender-se que este Francisco Mendes não é por certo um outro
commandante em que teremos de fallar de nome Francisco Mendes Galvão.
Bastante irritados ficaram os animos, como é de prever, por semelhante
desacato, e uma guerra de exterminio principiou então a desenvolver-se
entre os vassalos e o senhor, em aqual entravam tambem os Jesuitas, que
estiveram da parte do povo no dia do combate da Matriz.
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
povo, camaras e Jezuitas, como até o chefe da força do districto, que por
esses tempos ainda residia no capitão-mór e sargento-mór. Não se dava
posse a Pedro Velho Barreto sem ordem muito terminante, * até que
desenganados pelas ameaças do governador Mathias Coelho, sujeitou-se
o districto a sua obediencia.
Os Jesuitas, que á sombra dos capitães chamados hereos vieram
edificar sua capellinha nos Campos para a simples cathequese dos gentios,
haviam-se voltado contra elles, no ensejo da posse do visconde, ao passo
que depois negavam o direito deste ás terras do norte do Parahyba,
comprehendidas entre este e o Itabapuana, só porque elles para ahi
pretendiam extender a fazenda da Moribeca e o novo donatario havia
concedido a sesmaria de Manguinhos a Pedro Velho, Euzebio Cordeiro e
outros ; e no seu interesse acompanhavam a revolta a favor do rei.
Com effeito, o titulo do visconde d’Asseca era legal, e assim deve ser
reputado não obstante as interrupções accidentais de seu dominio ; e tambem
era bem merecido á vista dos relevantes serviços por elle prestados no Brasil
e nas partes da Africa e Asia ; e uma unica circunstancia poderia causar no
futuro serias controversias com hereos, que em 1627 haviam obtido por graça
as terras da capitania de Pedro Goes, por este desamparada, e ter-se ao visconde
em 1674 dado as mesmas terras de Pedro de Goes pelo mesmo notivo do
desamparo deste, a não ficar pela ulterior doação derrogada a primeira.
Mas para o estado de irresolução a que chegaram os negocios
da capitania no longo reinado do magnanimo Dom João 5°., pois que
* Diz um termo de vereança : — « Por noticia que tinham os da vereança de andar Pedro Velho Barreto
arvorado em sargento-mór sem elles lhe haverem dado posse, mandaram que o alcaide o notificasse para que
viesse na primeira vereança dar noticia e mostrar os poderes que tinha para andar arvorado de sargento-mór,
e não fazendo se lhe formar culpa. » Em seguida está o título assim concebido : « Mathias Coelho de Souza,
mestre de campo de infanteria de um dos terços da guarnição da praça do Rio de Janeiro a cujo cargo está
o governo della e suas capitanias ; por quanto sendo encarregado o sargento-mor Pedro Velho Barreto do
governo da capitania dos campos dos Goytacazes, por não ter o visconde de Asseca donatario della a quem
Sua Magestade foi servido conceder o uso da jurisdicção e provido em forma a capitão-mór que a regesse,
não foi pelos officiaes da camara conhecido por commandante negando-lhe a posse que se lhe devia dar e
dando accasião a grandes differenças ; e porque estas se devem compor promicionalmente no modo que a
distancia o permitte, mando declarar por este bando, que será apregoado a toque de caixas destemperadas,
a todos os officiaes de milicia, justiça, soldados e todas as mais pessoas moradoras na dita capitania tenha
o dito sargento-mór Pedro Velho Barreto por seu commandante e como tal obedeçam as suas ordens,
dando cumprimento a tudo o que por elle lhe for encarregado tendo entendido uns e outros que quando
o contrario obrem serão autoados, presos e remetidos a esta cidade á ordem do doutor auditor geral para
proceder contra os cumplices como dispõem os regimentos militares. E para que chegue a noticia de todos
se lançará este bando na villa de S. Salvador e S. João da Praia, registando-se primeiro no livro da secretaria
deste governo, nos da auditoria e nos das camaras das ditas villas. Dado nesta cidade de S. Sebastião do
Rio de Janeiro ao primeiro de outubro de 1740 annos ; fez escrever no impedimento do official maior da
secretaria delle Pedro Fagundes Varella. ‒ Mathias Coelho de Souza. — Julião Rodrigues Freire, trasladei. »
122
SEGUNDA PARTE: HISTORIA
* Tratando do gráo de tibieza a que chegou o governo daquelle monarcha, diz um escriptor : « Em abono
da nossa opinião, poremos aqui duas cartas, uma de D. Luiz da Cunha, e outra de Alexandre de Gusmão,
que não fazem ao intento, mas servem para caracterizar os ministros e côrte de Portugual naquella epocha :
« 1.ª Eu convido a el-rei nosso senhor para figurar na Europa, sem ter partes nas desgraças della. Os principes
belligerantes se acham cansados da guerra, e todos desejam a paz. Esta pretendo eu se faça em Lisboa, e que
nosso amo seja o arbitro della ; mas não posso entrar neste empenho sem V. S. tomar parte nelle, porque
conheço as difficuldades que heide encontrar com el-rei e seus ministros d’estado. Ajude-me V. S. a vencer
este negocio, pois que só V. S. é capaz de fazel-o persuadir. Espero dever a V. S. este favor, segurando-lhe
que responderei pela condescendencia dos contrahentes, e tambem pelas inquietações e prejuisos que el-rei
possa recear ou sentir. Sirva-se V. S. dar-me resposta e occasião de servir a V.S. como desejo e Portugual ha
de mister. Paris, 6 de dezembro de 1746. — Dom Luiz da Cunha. »
« 2.ª carta. — Ainda que eu já sabia, quando recebi a carta de V. Exc., que não havia de vencer o negocio
em que V. Ex. se empenhou, comtudo, por obedecer e servir a V. Ex., sempre fallei a Sua Magestade e aos
ministros actuaes do governo.
« Primeiramente o cardeal da Motta me respondeu que a proposição de V. Ex. era inadimissivel, em rasão de
poder resultar della ficar el-rei obrigado ao cumprimento do tratado, o que não era conveniente. Emquanto
fallamos na materia se entreteve o secretario d’estado, seu irmão, na mesma casa, em alporcar uns craveiros,
que até isso fazem fóra de lugar e tempo.
« Procurei fallar a sua reverendissima mais tres vezes primeiro que ouvisse, e o achei contando a apparição de
Sancho a seu irmão, que traz o padre Causino na sua côrte santa, cuja historia ouviram com grande attenção,
o duque de Lafões, Fernão Freire e outros. Respondeu-me — que Deus nos tinha conservado em paz, e que
V. Ex. queria meter-nos arengas, o que era tentar a Deus.
« Finalmente fallei a el-rei (seja pelo amor de Deus) que estava perguntando ao prior da freguezia por quanto
rendiam as esmolas das almas, e pelas missas que se diziam por ellas. Disse-me que a proposição de V. Ex. era
muito propria das maximas francezas, com as quaes V. Ex. se tinha connaturalisado, e que não proseguisse mais.
« Se V. Ex. cahisse na materialidade (de que está muito livre), de querer instituir algumas irmandades e me
mandasse fallar nellas, haviamos de conseguir o empenho e ainda merecer-lhes alguns premios. A pessoa
do V. Ex. guarde Deus como desejo para defeza e credito de Portugual. Lisboa, 2 de fevereiro de 1749. —
Alexandro de Gusmão. »
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
* Esta alçada muito se assemelha ao juizo privativo dos Feitos da Fazenda creados hoje e estabelecidos nas
capitaes das provincias para julgar as causas e pleitos entre a Fazenda, que é o governo, e o collectado, que é
o povo ; isto é, uma das partes é quem nomêa o juiz para julgar a demanda !
A incoveniencia desta medida ainda se observa na impossibilidade de ir a parte defende seu direito ás
vezes á 50, 60 e mais leguas, que tanto dista na capital onde está o juizo, e que só na viagem, se ella tiver o
descoco de a emprehender ahi por uns 10 ou 12$000 mal levados pelo exactor do fisco da sua aldêa, gastará
o triplo. Sobre este assumpto discorreu mui judiciosamente um autor portuguez analisando a creação da
Junta do Desempenho em 1636, pelo governo hespanhol para haver de Portugual, quando era senhoreado por
Felippe III, 500,000 crusados annuaes ; e assim se expressa : « . . . . . . . Mais do que os 50,000 cruzados
annuaes que haviam sido pedidos e negados, imaginou elle (Miguel de Vasconcellos, ministro da princeza
governadora de Portugual) e imaginaram os que delle tinham feito instrumento de ruina para Portugual se
poderiam tirar por sua intervenção deste malfadado e empobrecido paiz ; mas desenganaram-se por fim
que inutel seria a campanha. Contentaram-se pois com o expediente de reduzirem todos os novos tributos
ao serviço ou dadiva dos 500 mil cruzados annuaes, deixando aos portuguezes o direito de proverem no
modo do pagamento, e creando uma Junta de Desempenho em que as dependencias do negocio se decidissem.
Esta Junta estabeleceu-se, não em Lisboa, mas em Madrid : o que em verdade era um beneficio. Qualquer que se visse
lesado pelos exactores, inhibido assim pela distancia e mais difficuldades de recorrer á junta suprema, pagaria a imposto sem se
queixar e pouparia as despezas do inquerimento ; porque á muitos annos que a justiça não dá as orelhas de graça. » Se ainda
o governo, que é uma das partes, nomeasse embora o juiz que hade julgar o pleito entre elle e o collectado,
mas o pozesse nos termos, isto é, ao alcance da parte demandada, podia assim evitar a perseguição de um
collector malevolo ou injusto, porque a parte poderia com facilidade patentear uma exigencia por ventura
absurda e iniqua ; mas retirando o juizo para tão longe, ficaram sem remedio muitas extorsões.
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CAPITULO
SEXTO
Deixamos o seguimento dos successos da povoação da nova villa de
S. João da Praia, para não enterromper os acontecimentos do governo do
donatario, e descripção dos templos e irmandades, de que tractemos nos
dous capitulos precedentes ; e agora continuaremos.
A mesma confusão que, em maior escala, se dava no que dizia
respeito ao governo do senhor feudal da capitania via-se até nos detalhes
de menos importancia. As camaras eram nomeadas annualmente, ora pelo
procurador do donatario, e outras vezes pelos camaristas do anno anterior,
e as de 1701 a 1703 o foram pelo capitão-mór Fernando da Gama, assim
como a de 1711 pelo de igual autoridade Luiz de Mattos Bezerra. * As fintas
para seus rendimentos eram as que já mencionemos, e os camaristas se
iam lembrando de outros. Em 1701 impôz-se 6$000 réis de condemnação,
aplicados para as obras da Matriz, a todo o escravo que usasse de marcar
gado e vendesse cavalgadura.
Os alvaraes de licença de porta aberta tiveram principio em 9 de
agosto de 1711, dia em que foi instituido e publicado pelas ruas n’um
bando, com caixas destenperadas, impondo a camare 20 dias de cadêa
e 4$000 réis de multa aos que vendessem publicamente sem sua licença
; bem como foi por este mesmo tempo criada a finta de meia pataca
* O primeiro recrutamento feito nesta villa promoveu-o o juiz ornario alferes Manoel Ferreira Soares por ordem
deste capitão-mór ; cuja ordem diz : ser muito preciso ajudar com gente o Rio de Janeiro, que neste anno só
tinha duas freguezias, a de S. José e a da Candelaria, afora a da Sé.
Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
por cada rez que se vendesse, sendo o marchante obrigado a dar parte
ao almotacé afim de mandar este pezar a carne pelos pezos da camara ;
assim como o sal vindo de fóra ninguem o poderia vender senão pelo
meio alqueire que já se havia posto em casa do alcaide. Nenhum mestre
de embarcação poderia consentir, sob pena de 10 dias de cadêa, que della
tirassem barril ou pipa sem pagar-se ao concelho 320 réis por cada um
dos primeiros, e 1$280 réis pelas segundas.
A navegação era então dirigida toda para a Bahia, e a exportação
consistia em carne salgada, queijos, feijão, milho e couros, e estes não se
embarcavam sem primeiramente ser registrada a marca. Toda a pessoa
que apanhasse cavalgadura, sendo branca era multada em 2$000, e sendo
escravo em 50 açoites no pelourinho. Ninguem poderia tecer panno a
olho sem tirar licença, nem pescar, estando a barra aberta, nas lagôas de
Goraçahy, Lucrecia (Guipary), e da Castanheta (Assú) ; sendo esta pena
extensiva aos de S. Salvador (cuja villa contava já em 1708 duzentos fogos)
se cá viessem pescar.
As camaras, na ausencia do ouvidor e capitão-mór, exerciam
a autoridade no termo, tanto no lançamento das fintas como na
arrecadação dellas. Em 26 de março de 1714 negou ao ouvidor a
lei Francisco de Benavides o attestado de bons serviços prestados
por elle, porque o juiz ordinario informara contra o procedimento
daquelle no negocio de uns bens de certos herdeiros. Por ser curiosa
a precatoria do juiz ordinário a Benavides, tendente ao dito facto, ao
diante mencionamos como está escripta :
« Carta precatoria do juiz ordinario desta villa o capitão Manoel
Borges Souza, ao ouvidor da lei Francisco de Benavides. — O capitão
Manoel Borges Senra juiz ordinario desta villa de S. João, por eleição canonica
na forma da lei, saude e paz, etc. Faço saber ao senhor ouvidor da lei desta
capitania Francisco de Benavides que a mim me foi presente uma ordem
vinda de Lisboa passada por india e mina para entregar os bens que ficaram
ao auzente Francisco Pinto, pertencente a sua mulher Maria Carvalho e
aos seus herdeiros, e como de proximo me fizeram requerimento os seus
bastantes procuradores para lhe entregar os ditos bens e eu não posso
fazer por quanto Vossa Mêrce, senhor ouvidor da lei, levou os ditos bens
pertencentes a esses ditos herdeiros deste juizo, sem lhe pertencer, pois
Vossa Mêrce só podia tomar conhecimento por requerimento de partes
que he por appellação ou aggravo e não metter-se Vossa Mêrce em nos
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
querer tirar a nossa jurisdição que nos pertence e que só o que Vossa
Mercê obrou em audiencia por um termo que fez nesta villa de S. João
vindo a fazer a eleição só pertence ao nosso corregedor da comarca, pois
só elle tem esse direito de poder tomar o tal conhecimento de semelhantes
inventarios ; pesso a V. Mêrce que me o remetta logo o dito inventario pelo
meu escrivão para fazer justiça aquem pertencer ; cumpra-o assim e al não faça,
e em cumprimento do qual meu despacho lhe paço o presente pela qual
lhe requeiro da parte de Sua Magestade, que Deos Guarde, e da minha
rogo a Vossa Mercê que sendo-lhe apresentada e por assignada e sellada
com o sello deste juizo e cumpra e faça guardar como nella se contem em
seu cumprimento e mande que o seu escrivão do seu juizo entregue o dito
inventario como deste cartorio o levou e consta dos livros da camara desta
villa, e se Vossa Mercê obrar ao contrario desta minha precatoria, já desde
logo aggravo de Vossa Mercê para o meu corregedor da comarca. dada
e sellada nesta villa de S. João dos campos dos Goytacazes e da capitania
da Parahyba do Sul em 27 de fevereiro de 1714. — Agostinho Esteves
Negrão. escrivão da camera o escrevi. — Manoel Borges Senra. »
O juiz ordinario em camara é quem despachava e dava direcção aos
dinheiros do cofre dos orphãos e reforçava as fianças ; e o almotacé ahi
vinha lavrar os termos de correição nos mesmos livros. Poremos aqui as
contas do procurador do senado em um desses annos para se conhecer
o como então se praticava, e em que consistiam as differentes verbas de
receita e despeza :
« Aos 21 de dezembro de 1710, em ureança estando todos os officiaes
juntos em camara nella foram tomadas contas ao procurador deste senado
pelo qual foi dito que o procurador do anno passado Antonio da Silva
Esteves lhe não fôra entregue dinheiro algum, sendo somentes hu bufete
sinqo uaras de ureadores e almontaceis e hu pano de meza, e meyo alquere
e 1 medida uara e couado, tudo que serue de padrão, e seis tamboretes
como consta do termo dyte liuro a fl. donde entraõ os sucidios que deue
P°. da Costa e Joam de Oliueira que não cobrara elle dito procurador
pelos ditos estarem auzentes. declarou o dito procurador hauer recebido
o seguinte. etc. etc.
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Tirada a pataga para a missa por alma dos ureadores ficou de saldo
a fauor sete pataquas e meia. *
No que tocava á policia para evitar o furto dos animaes vacum, cuja
criação progredia, deram-se as mais efficazes providencias na creação de
* Nas contas do procurador da camara de 1722 e do almotacé lê-se : « Recebeu o procurador deste senado Pedro
Carvalho, cinco pataquas e meia da mão do procurador que servia, das quaes tirando a pataqua para a missa dos
officiaes da passada ficaram quatro pataquas e meia : — Digo eu Nicolau de Mendonça Gomes, que almotacei
a Domingos Pires um barril de aguardente do reino a dous cruzados a medida e fazendo o contrario será
condemnado em dez tostões — fica rezistado a fl. 31. Almotacei um rolo de fumo a Raymundo Pereira, 21 réis,
por ser verdade etc. Dos gastos que se fizeram com o ouvidor quando veio fazer eleição e correição, comestives
de peixe, carne, farinha e azeite da candeia cinco mil reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5$000
Meia pataca que se mandou dar ao alcaide do seu salario do mez passado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 320
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
* A este ultimo foi ordenado o apregoamento das pazes celebradas com a França, e era estylo assim se praticar
por identicas circumstancias sempre que ellas se davam. — « Bando pelas pazes. — Pedro Velho Barreto,
sargento-mór desta villa e seu districto, com patente de Senhor Dom Francisco Xavier de Tavora, governador
geral da cidade do Rio de Janeiro de S. Sebastião e suas capitanias. Faço saber a toda a pessoa de qualquer
qualidade que for, que este meu bando ouvir e a noticia lhe for, acudam todos com suas armas de fogo, e
os que as não tiverem tambem acudam nesta villa á ultima oitava que se contam tres de abril, com penas de
cinco tostões applicados para polvora e balas, advirtindo que os officiaes de milicias, alferes e sargentos,
appareçam alvorados para o dito tempo e com a pena de dez tostões, para que assim marchem todos desta
companhia em louvor das pazes que em estas capitanias se celebram ao som de caixas destemperadas. Dado
e passado nesta villa de S. João aos 5 de março de 1714. — Pedro Velho Barreto. »
132
SEGUNDA PARTE: HISTORIA
essa falta era muito para admirar, e elle governador a conservava, visto
ser esta villa de S. João a mais natovel dos campos dos Goytacazes. — » *
O senado, por ordem deste mesmo governador, foi á capital, para
concordar no melhor meio de se haver nos Campos o donatario de
oitenta mil cruzados para o casamento dos Infantes, sem muito gravame
dos povos ; e na volta assignou o sargento-mór Pedro Velho e capitão
Salvador Alves de Magalhães, em 2 de Agosto de 1728, um termo para
contribuirem annualmente com 20$000 réis até que fossem os donativos
satisfeitos. Parece que a allegação de pobreza, que vimos na nota abaixo,
não izentava o povo dos pedidos extraordinarios, signal incontestavel
da prosperidade ; pois que em dezembro do dito anno appareceu o
capuchinho frei Gregorio de Sant’Anna com cartas do ouvidor Manuel
da Costa Mimoso, para se lhe dar esmolas com que ajudassem a edificação
dos templos do Rio de Janeiro, e em 7 de fevereiro de 1832 recebeu-se
um prego (assim reza o termo lavrado por esta occasião) do governador,
em virtude de ordem regia, para se tirar do povo a competente quota
que se destinava á creação da Relação do Rio de Janeiro, visto que Villa
Rica e o Ribeirão do Carmo haviam reclamado essa medida pela muita
distancia da cidade da Bahia.
Tambem pagava esta villa ao secretario do conselho ultramarino do
reino 1$200 réis annuaes a titulo de propinas, e a remessa dessa quantia
não era licito demorar de uns para outros, segundo se collige da carta do
ouvidor que transcrevemos :
« Ao secretario do conselho ultramarino paga de propina essa
camera mil e duzentos réis cada anno, e está devendo a que se venceu
neste anno de mil setecentos e trinta e cinco e o do anno de mil sete centos
* Pedindo o governador nessa mesma carta á camara que lhe enviasse ella o seu foral, foi-lhe respondido : — «
Senhor governador. Recebemos a carta do V. S. de 31 de dezembro pela qual vemos a admiração que lhe
causa a falta de noticias que se acham desta villa nessa secretaria, e he certo que a sua pequenhez, apezar de
principal destes campos, deve ser a sua principal origem deste descuido de que só poderá ter culpa os nossos
antecessores. Quanto aos provimentos dos officios desta villa que vossa senhoria nos ordena se vão procurar
a essa cidade, nenhuma duvida se nos offerece, mas por emquanto lhe não chegaram os emolumentos para as
despezas das propinas por constar o ordenado só de 8$000 (cremos ser o emprego de escrivão da camera e
judicial) e não renderem a escripta para papel e tinta. A copia do foral que vossa senhoria nos pede, se não acha
registado nos livros desta camera e só temos a noticia de que a villa de S. Salvador se remetteu a vossa senhoria
por copia e nos parece fica menos prejudicial a falta deste documento em que se nos não apresenta pelo nosso
donatario não temos achado outro algum papel neste cartorio mais do que o estabelecimento desta villa feito
por ordem do senhor donatario o qual remetteremos a vossa senhoria quando lhe for necessario. Ficamos
promptos para observar em tudo as ordens e resolução que se tomou sobre o donatario nos generos que tem
esta villa, porem a pequenhez de seu negocio não dá esperanças de que seja importante a producto delles ; em
tudo o mais em que for do agrado de vossa senhoria achará sempre prompta a nossa obediencia. GuardeDeus
a V. S. muitos annos, feita em camera a 16 de fevereiro de 1728. »
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
e trinta e quatro, que importa dous mil e quatro centos réis que devo
remetter nesta frota, sirvão-se vossas mercês ordenar ao thesoureiro ou
procurador remetta a dita quantia de dous mil e quatro centos réis logo e para os
annos seguintes faram vir os ditos mil e duzentos réis a tempo de que se
possa remetter. Deus Guarde a vossas mercês. Rio de Janeiro 31 de março
de 1735 annos. — Agostinho Pacheco Felis — senhores juizes ordinarios,
vereadores e procuradores do senado da villa de S. João da Praya — »
A’ algumas exigencias pecuniarias, não obstante o costume de
pontualidade, a governança arripiava carreira ; e nestes casos o conflicto
era certo ; e do que imos aqui tractar, por ter acontecido nesta época,
resultou a excommunhão maior do senado !
Vindo certos disimeiros de miunças, bocas e gado, Domingos
Gonçalves dos Santos e Rodrigues Pinto, a camara fêz publicar um
bando ordenando, que niguem pagasse os taes disimos sob pena de
cadeia ao que contribuisse com a menor quantia ; e esse preceito foi
rigorosamente observado. Sendo este caso succedido em 13 de junho
de 1742, veio uma ordem expressa com dacta de 8 de fevereiro do anno
seguinte, do vigario geral do bispado, excommungando os camaristas,
e chamando-os ao Rio de Janeiro a darem conta do seu procedimento
; e lá se apresentaram, onde a muito custo foram absolvidos, depois de
jurarem dar inteiro cumprimento ao pagamento dos direitos exigidos.
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CAPITULO
SETIMO
Mencionaremos neste capitulo a forma das letras do cambio que
então se usava, a lei sobre o trajo e o preceito municipal á taxa dos preços
dos vestidos e calçados.
As letras eram assim concebidas e escriptas : « Jesuz Maria Jozeph,
campos 21 de dezembro de 1730 (as duas que copiamos dão idéa do uso).
A’ vista desta minha primeira letra segura, não havendo feito segunda
via, V. Mce. senhor Antonio Rodrigues na cidade do Rio de Janeiro ao
Sr. Bernardo Pereira da Foncequa pagará a contia de cento tres mil nove
centos e oitenta réis em dinheiro de contado não em outra especie, que são
procedidas de outros tantos que nesta villa de S. Salvador recebi da mana do
Sr. Manoel Rodrigues Pinto, a seu tempo lhe fará V. Mec. bom pagamento
sim por escripto com toda a hera acima. Pedro da Sylua. — Aceita como
diz, vendida que seja a carga Antonio Rodrigues. Recebi o contheudo nesta
letra. Rio 4 de fevereiro de 1731 — Benardo Pereira da Foncequa.
Outra. — « Jesuz Maria Jozeph Bahia e de novembro 16 de
1744. Principal 100$000, avanço 10$000. A vista depois da chegada a
salvamento dos campos dos atacazes a sumaqua por invocação Santo
Antonio e Almas, de que sou mestre Manoel da Cunha de Aguiar pagarei
por esta unica letra a risco que lhe tomei ao Sr. Manoel Gonçalves de
Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Amorim cem mil réis a dés por cento premio em que nos ajustamos,
junto ao principal faz a sobredita coantia de cento e des mil réis que
lhe pagarei a elle dito Sr. ou aquem este me apresentar em dinheiro de
contado sem a isso por duvida alguma que o recebi e assignei da mão do
dito Manoel Gonçalues de Amorim para empregar em fazendas que levo
carregadas na dita sumaqua pelo risco que o dito Sr. lhe vae correndo a
referida coantia, de mar, fogo, corsario, não de outra avaria ou lezação
que haja, que esse havendo-a desde logo a toma sobre mim com
declaração porém que naufragando a dita sumaqua, que Deus tal não
permitta, salvando-se os effeitos della ficará esta vendida por ratiação,
cuja letra vencida que seja não a pagando ao tempo do vencimento que
são dés dias lhe pagarei os juros, obrigando minha pessoa e bens e delles
os mais bem amparados, por não saber ler nem escrever roguei ao Sr.
Manoel Antonio d’Oliveira Porto assignasse com meu signal do costume
que he huma cruz tudo sendo com Jesuz Christo. Bahia erat supra como
testemunha que fis Manoel Antonio de Oliveira Porto. »
Não era licito vistir, galões e rendas, mas sim o que se tinha
marcado na pragmatica de 24 de maio de 1749, * que em 21 capitulos se
mencionava o trajo permittido as differentes classes, côres e condicções.
Ninguem, por exemplo, podia trazer prata, bordado e galões em seus
vestidos sob certas e determinadas penas ; no capitulo 7º prohibia aos
negros e mulatos filhos dos negros e mulatos de mais pretas com brancos,
e de qualquer xexo ainda que se achassem forros, trazerem vestidos de
prata, ouro, tecidos de lãa, olandas, esquiões, linhos, joias, etc., sob pena
de açoites e degredo para a ilha de S. Thomé.
No capitulo 9º vedava-se que nas alfandegas se recebessem de
importação objectos de luxo, como carruagens, mesas, bufetes, commodas,
papeleiras, cadeiras, tamboretes remalhados, treinós, meias de seda ; no 12º
cominava-se a pena de degredo para Angola aos que trouxessem roupa
branca com franjas de ouro ou galões ; no 13º não se permittia o uso de
carapuças de rebuços, e ninguem poderia andar embuçado de capote a
ponto de se lhe não ver a cara, pena de perder o capote e a carapuça ; e no
capitulo 30 ordenava que não seria preciso corpo de delicto para a punição
dos transgressores, mas seria bastante a noticia do delicto ; e se taxava os
preços de certas fazendas permittidas.
* E’ de 18 de agosto de 1847 o alvará com força de lei que mandou subir ao juizo superior os proprios autos
em caso de appellação, ficando os traslados ; até essa data iam estes e ficavam aquelles.
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
* No anno do 1775 foi dado novo regulamento pelo corregedor Athayde para as pescarias do rio, lagos e costa
do mar, e destinou dias determinados para as pocuzeiras do mar entre o cordão da barra, cujo serviço era feito
por Manoel Fernandes Marçal, Francisco Luiz d’Andrade e Ignacio de Aranjo Silva e Sá.
** Tempo em que o senado mandava annualmente certa quantia de seu cofre para despezas reaes a entregar
ao almoxarife da fazenda real no Rio de Janeiro, Agostinho de Faria Manteiro, cujos conhecimentos eram
passados pelo escrivão dessa repartição Francisco Rodrigues Silva.
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CAPITULO
OITAVO
Era preciso, como dissemos, dar fórma mais conveniente á força
publica segundo as necessidades apontadas. A capitania tivera um Mestre de
Campo em annos anteriores, 1730, Domingos Teixeira d’Andrade, mas fôra
em tempos do dominio do donatario, em que, como temos relatado, reinava
grande perplexidade nos governantes e todos davam ordens por seu turno.
Hum prior, um capitão-mór, o procurador do visconde, qual quer finalmente
era um chefe ; por isso em patente de 4 de julho de 1768 nomeou-se a
João José de Barcellos Coutinho, Mestre de Campo do terço novamente
organisado, chamado auxiliar, milicia creada pelo Vice-Rei conde da Cunha.
Então o governo do Estado tinha resolvido a mudança do chefe do
continente brasileiro da Bahia para o Rio de Janeiro, e o tenente-general de
artilharia Antonio Alvares da Cunha, conde do mesmo titulo, ali aportára
a 15 de outubro de 1763, e tomára posse a 19 do mesmo mez. Dera
elle principio á organisação dos terços auxiliares, creados no Brasil por
alvará de 22 de março de 1766, cujo regimento pouco se apartava do de
ordenanças de 30 de abril de 1758 ; mas seu successor D. Antonio Rollim
de Moura, conde de Azambuja, lhe deu formal impulso e fez promover
o alistamento e formação dos corpos, principiando nos Goytacazes pela
nomeação do chefe Barcellos Coutinho.
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CAPITULO
NONO
Do anno de 1780 por diante a povoação tomara melhor aspectos ; e
da Matriz para baixo o que d’antes constava de uma estrada erma, serventia
dos moradores do Matto-grosso, tornara-se então em rua, primeiro do
Caminho Grande, depois de Baixo, e hoje Direita, como se disse na 1.ª parte.
A do Cotovello, que hoje desemboca na rua Direita, não fôra mais que o
seguimento daquella estrada, que o viandante era obrigado a ladear para
desviar-se do pantano da restinga chamada de Manoel Machado, que não
dava passo ; lugares estes onde hoje se vêem bons edificios. Por outra
parte concorria em não pequena escala para este augmento as grandes
funcções de S. João Baptista, que a principio o senado, com autorisação
do governo, e depois os devotos de todo o districto entraram a fazer ; e o
enthusiasmo tornou-se geral e de sagrado dever.
Se os que eram nomeados festeiros empenhavam-se fortemente para
não desmentir o conceito de devotos do Precursor, o novo em geral, quer
de S. João ou de S. Salvador, gastava rios de dinheiro, em fogos, dansas,
banquetes ; de maneira que houverem annos em que não era possivel
distinguir d’entre o povo quem tinha o privilegio de juiz da festa. Tanto os
maritimos, como os fazendeiros do termo visinho e commerciantes, em
lhe tocando a vêz, gastavam sem conta.
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
sua derrota pelo riacho grande ou Rabo do Macaco ; mas tendo a sahida ao
Parahyba o inconveniente de grande volta, por ser proxima ao sobrado do
sitio de Manoel Leite de Faria, mandou o senado fazer um rasgo, em 1806,
por um pequeno furo natural, entre as duas ilhas do Lima e Moritiba,
ficando essa passagem quasi em frente a cidade e em posição commoda.
De grande proveito servio o cultivo deste sertão na fome geral que
grassou nos Campos no anno de 1793. Se em S. Salvador o mal foi horroroso,
apesar de contar já vastos sertões explorados (ainda ha bem poucos annos
dizia-se o — Sertão — tudo que passava do Fundão para cima) em S. João
deveria ser mais funesto a não haver soccorro das Cacimbas, e tambem
dos portos do norte até Caravellas, que frequentemente aqui entravam em
pequenos hiathes. Por occasião dessa calamidade o senado de S. Salvador
dirigio uma precatoria ao de S. João significando que seus municipes
morreriam de fome se este não desse providencias com que se evitasse a
sahida dos generos de primeira necessidade : e as medidas foram tomadas,
e approveitou o ensejo para pedir o padrão dos pezos e medidas desto
para regular por elles os seus. *
O impulso do progresso dos Goytacazes tinha feito com que se
importasse então avultada copia de escravatura, motivos allegados pelo
desembargador João de Figueiredo, procurador da Fazenda real, quando
em 1796 escrevia ao senado que evitasse a sahida delles para portos
estrangeiros ; e o desembargador do Paço José Joaquim Vieira Godinho,
que em 1800 occupava o mesmo encargo, fêz nesta dacta identica
recommendação por igual motivo, o da grande importação dos generos.
Para prova do adiantamento que tomava o dritricto campista nesta
época basta dizer-se que, em S. João da Barra, ja então muito menor em
recursos relativamente ao termo visinho, fêz o conselho construir á sua
custa em 1797 a nova cadêa de pedra e cal e com solidos alicerces, com
que despendeu cerca de nove mil cruzados ; foi forçado pelo corregedor
Joaquim José Coutinho Mascarenhas, em 1788, a emprestar á camara
da villa da Victoria (actualmente capital do Espirito Santo) dous mil
cruzados, e que até o presente ainda não foi embolçado, por mais
diligencias que tenha empregado, contra cujo arbitrio do corregedor o
senado queixou-se ao vice-rei em 5 de Junho do dito anno de 1788 ;
e finalmente concorreu com tres mil cruzados para o casamento das
* Havia em 1795 na villa de S. João da Barra 8 vendas, e cortava-se no açougue 10 a 12 rezes por anno, e a
carne era vendida a 20 réis a libra ; em 1816 a 30 réis ; por deliberação de 7 de janeiro de 1818 a 35 réis ;
em 1824 a 40 réis ; por postura da camara ; em 1831 a 50 réis ; e hoje a 110 rs., tendo já alcançado 140 rs.
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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CAPITULO
DECIMO
DE 1800 A 1820.
Daqui em diante, até o fim desta 2º parte iremos capitulando por
épocas, e nelles fazendo menção dos successos mais notaveis, visto termos
esgotado as materias e assumptos que abrangiam mais lapso de tempo e
não convinha interromper.
Em 1801, por virtude das guerras do sul e receio de piratas na costa,
os barcos desta carreira navegavam comboiados ; e o brigue Balão é quem
fazia este serviço juntamente com duas barcas chamadas arthilheiras, que
igualmente conduziam o assucar, do principe Regente (assim se dizia).
O brigue Real João veio algumas vezes em 1802, e levava, alem do
assucar, as madeiras do rei ; estes navios da armada real vindo ao porto
de S. João da Barra, em cuja entrada e sahida corriam eminente risco, por
não haver então signaes nem regularidade pratica na barra, fêz desperta
a necessidade de uma direcção de pilotagem, ou de um priveligiado que
debaixo de certas condições se encarregasse dos signaes da altura da maré
e caminho mais seguro no barco.
Até ahi o costume era ajudarem-se mutuamente os mestres com
suas tripolações para entrar ou sahir : quem ficava tinha por obrigação ir ao
lagamar sondar o fundo e proteger a sahida do que fazia viagem, e por seu
turno era recompensado com iguaes sacrificios. Havia sinistros, mas não
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
mais puro de quantos occuparam o throno luzitano, Dom João 6º. Quanto
devemos ao generoso monarcha que nos trouxe independecia e liberdade,
e nos constituio na lista das nações modenas !
Entretanto o senado de S. João, assim como os demais da então
colonia, esmerou-se em saudações por por tão subidas novas ; e em
proporção de seus recursos e dos que lhe forneceu voluntariamente uma
grande parte dos habitantes, fez logo promover a festejos e demonstrações
publicas de regosijo ; e nomeou uma commissão d’entre seus membros
para irem á côrte levar suas homenagens ao principe regente. Os
nomeados foram o vereador mais moço Manoel de Brito Coutinho Pinto,
e o procurador Antonio Pinto Netto, fornecendo a cada um deles 128$000
para os gastos da viagem. Tambem não se negou a camara ao convite do
monarcha na creação do Banco do Brasil, para o qual concorreu, em 27 de
novembro de 1812, com cinco mil cruzados de que até o presente recebe
o correspondente dividendo.
Em setembro do mesmo anno de 1812 recebeu Campos a honrosa
visita do prelado diocesano. Occupava então esta alta dignidade Dom José
Caetano da Silva Coutinho, que muito a illustrou ; e nos Goytacazes teve
o honrado visitante, em ambas as villas, ovações que bem patenteavam a
admiração e respeito de que se achava o povo possuido. Antes desta data
vinham visitadores incumbidos da correição official em nome do prelado
; mas sem este caracter de autoridade por aqui passaram varões religiosos
da mais exemplar conducta publica e particular, a pregar missões, e tirou-se
grande proveito das sans doutrinas que ensinavam.
Os primeiros foram alem do que veio em 1726, o sabio frei José
do Amor Divino e frei Salvador, os quaes pregaram por muitos dias no
anno de 1775 ; alternavam entre si os dias da predica na Matriz ; e frei
José deixou o povo fulminado da graça do Senhor, pois que, grande
mestre da materia, suas palavras eram raios de luz e verdades evangelicas.
Este grande homem foi util com a palavra e tambem com as obras ;
desde Caravellas que principiara sua pregação, e não ficara um só pai
amancebado ; elle casava-os, e quem a isso se negava, instava, pedia até
conseguir o louvavel fim de suas dedicações.
Depois deste dois religiosos vieram, em 1786, frei Pedro e frei
Cosme, barbadinhos ; e em 1796 aqui pregou pela primeira vez frei João,
da mesma ordem e da aldêa de S. Fidelis de Sigmaringa, o qual continuou
em suas edificantes visitas até 1808.
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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CAPITULO
DECIMO PRIMEIRO
De 1820 a 1830.
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
; e o ouvidor fez uma falla e arengou á multidão, a qual foi victoriada com
bastante enthusiasmo e assignaram termo, no fim do qual seguiram para a
matriz, onde cantou-se o Te-Deum laudamus por tão grata noticia. Saudação
que repetio-se em outubro, ao receber-se a participação da acclamação do
principe regente á eminente dignidade de imperador ; e tambem a de 3 de
agosto de 1823 quando chegou a noticia da restauração da Bahia.
Após estas medidas, que essaz revelam as idéas já maduras da nossa
emancipação, vieram ao senado desta villa muitas memorias e proclamações
para serem lidas ao povo, a que elle ia-lhes dando o devido cumprimento.
A linguagem destas peças excitou, como é de ver, bastante exaltação,
e o senado apressava-se, assim como é natural que todos os das outras
cidades e villas fizessem o mesmo, em lhes dar toda a publicidade.
Alguns portuguezes maritimos, sem perceberem talvez o sentido das
proclamações, que todas tendiam a consolidar o imperante no governo
do paiz onde elles viviam casados e com familias, e que aquellas palavras
energicas revelavam os embaraços em que se via o chefe da nação de lutar
para firmar sua autoridade em beneficio e proveito de todos, assentaram
de pedra e cal que elles eram offendidos, e se pretendia nada menos do que
persegui-los e expulsa-los do imperio ; e reunidos a outros seus patricios
estabelecidos em terra, começou em S. João uma luta mais jocosa que
aterradora. Os filhos do paiz mais imprudentes por sua parte faziam o que
podiam em represalia aos contrarios, dizendo que desde tempos muito
anteriores foram sempre elles portuguezes os provocadores. *
* Alludiam ás providencias tomadas pelo vice-rei, em 1791, para debellar os portuguezes que em Campos
se haviam tornado o flagello dos incautos filhos da terra. Uma dessas providencias é a carta do vice-rei ao
sargento-mór Brum : « Attendendo á obediencia e respeito com que os povos dessa capitania devem observar
inviolavelmente as reaes ordens de S. Magestade, confiadas pela mesma senhora a todos as magistrados civis
e militares para melhor annuencia e vantagem dos seus vassallos, não devo tolerar a mais leve alteração em
um objecto de tanta gravidade pelas consequencias que possam resultar quando as differentes corporações
que compõem o Estado excedam os limites que a lei, a pratica e as providencias lhe tem determinado.
Presentemente imagino a villa dos Campos dos Goytacazes nesta triste situação, machinada e difundida
pelos commerciantes que hoje se acham estabelecidos n’ella ; tendo chegado da Europa a este porto só
acompanhados de pobreza e indigencia ; nada me queixo dos nacionaes e dos humildes porque todos ou a
maior parte tem sido as victimas da abominavel intriga com que os referidos negociantes, com parcialidades
e partidos, tem subornado as justiças com offerecimentos consideraveis, e tambem com o respeito de
poderosos. Eu teria procedido ha muito tempo se me devessem fé as representações e informações que da
mesma villa me tem feito e sido dirigidas, porem como presentemente de ninguem faço conceito, á excepção
do mestre de campo, o qual me não podia informar exactamente daquellas novidades que appareceram
achando-se elle nesta cidade, encarrego a V. Mce., para bem do serviço publico e de S. Magestade, para
socego dos seus vassallos e para castigo exemplar dos delinquentes, passe a villa de Campos dos Goytacazes
a examinar na sua origem a causa da desunião dos moradores, quaes são os opprimidos pelos poderosos
e ultimamente aquelles que mereçam uma demonstração severa a respeito da sua conducta, sabendo ao
mesmo tempo sa os evcessos tem sido animados ou protegidos pelo corpo do senado da camara ou por
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
com os portuguezes, idéa esta que traz com sigo os horrores da anarchia,
e que tanto perturba a boa ordem e tranquilidade publica ; chegando ao
excesso de correr á casa de um cidadão sem ordem alguma judicial, só
por uma mera desconfiança, e com frivolo pretexsto ; e sendo das sabias
determinações de S. M. o Imperador que entre os seus subditos jámais
deve haver a perniciosa distincção de nacionalidades dos cidadãos deste
Imperio : por isso, em nome do mesmo Augusto Senhor, recommendo
aos habitantes desta villa que devem inteiramente cessar-se semelhante
distincção de lugar de nascimento, devendo só distinguir o verdadeiro
Brasileiro, quer seja neste ou naquelle hemispherio, uma vêz que tenha
abraçado a sagrada causa do nosso Imperio, devendo só distinguil-o á
maior adhesão á mesma sagrada causa, pois que todos são membros
desta sociedade. E todo aquelle que insultar por palavras, ou de outra
qualquer maneira em razão de sua naturalidade, serão immediatamente
processados com todo o rigor das leis, o que espero não será preciso
pôr em pratica, pois confio na obediencia e fidelidade deste povo. E
para que chegue a noticia de todos, mandei passar e escrever este bando,
que será apreguado pelas ruas. Dado nesta Villa de S. João da Barra aos
9 de janeiro de 1824. Eu Manuel Gomes Moreira, escrivão da camara o
escrevi, — José Libanio de Souza. »
Por occasião das precedentes medidas do ouvidor interino com
o fim de socegar os animos, e que em virtude dellas a paz succedeu ás
rixas e perturbações, o senado da camara endereçou-lhe em data de 25
do mesmo mez uma carta em agradecimento por tal motivo.
Declinamos nomear os autores das rixas, e das mulheres nellas
envolvidas, porque ainda vivem algumas talvêz sem lembrança
do passado. Manuel Antonio Dias, e outras victimas dos insultos,
queixaram-se ao ouvidor do 2º camarista e do tabellião, dizendo
que estes haviam promovido, ou pelo menos autorisado o barulho
e animosidades de seus patricios contra os pacificos filhos da terra ;
porem o magistrado Libanio soube apasigual-os por enquanto. Mas na
seguinte correição do ouvidor proprietario Accioles, fazendo reviver
a denuncia, foram todos pronunciados em devassa geral por crime de
assuada, e de serem contra a causa do Brazil.
Os criminosos esperaram pela proxima correição do mesmo
Accioles ; e então tendo aggravado, e protextado innoccencia e desvario,
foram absolvidos, menos um que nada requerendo não foi tambem
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
José chegou á povoação mais morto que vivo ; uma pessoa desta
cidade, que ainda vive, bem como outro irmão do jovem de nome
João, que por ser menor ficara, alli se achavam quando elle entrou na
carreira, noticiando a desgraçada sorte de seu pai e dos companheiros
de viagem ; trajava calça de ganga amarella e camiza. Ajuntou-se um
pequeno destacamento de pedestres que ahi havia, e com o auxilio de
alguns pescadores seguiram no outro dia para o lugar da catastrophe. O
primeiro encontro foi sobre umas pedras, n’um recanto da barreta da
Tabua, o cadaver da desditosa Clara ; tinham-lhe duas settas atravessado
o coração, e a extremidade duma dellas via-se obra de 4 polegadas fora
das espaduas. Depois de sepultado o cadaver, um pouco afastado da
praia, o contingente seguio a exercitar o mesmo acto aos fragmentos dos
mais corpos, e d’ahi rastejando a maloca dos botocudos, descobrirão-na
e a fizeram dispersar com igual incarniçamento, e poucos escaparam á
vingança : achou-se espetadas de carne humana, umas já assadas e outras
em estado de putrefacção.
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Eram elles d’uma aldêa chamada de S. Miguel, que por ajuste com
o seu capitão-mór Innocencio Gonçalves d’Abreu, que os acompanhou,
foram apresentar-se ao Imperante. O ouvidor Libanio ordenou ao senado
que lhes prestasse o necessario em quanto aqui permanecessem á espera
de monção ; e nesses dias deu que entender o andar pelas ruas homens e
mulheres inteiramente nús.
Alguns gracejos houve da parte, sendo dos indios explicados
por um interprete ou pelo capitão-mór ; ao approximar-se delles o
vigario Manoel Gomes, que era extremamente gordo, viu-se em alguns
gestos pronunciados e murmurios entre dentes, e pedindo ao lingua a
explicação, este disse que estavam possuidos de grande magoa por não
terem encontrado o vigario lá nas brenhas, pois seria mantimento para
uma lúa (sem duvida 30 dias).
Mas apesar das condescendencias daquelle proprietario Silva
Vianna, e de seu administrador Leite, os botocudos principiaram a abusar
; e começando a destruir e a estragar os animaes, ameaçavam a gente que
se dispersava, e então foi indispensavel empregar a força e rigor.
Desamparando a Maribeca avisinharam-se do rio Itapemerim, onde
alguns fazendeiros tentaram igualmente a principio chamal-os á paz e
amizade ; porém foram tantos os latrocinios, que José Dias, capitão Alves
e outros, em desaggravo dos males que soffreram, fizeram-nos evacuar
o districto forçando-os a vadear o rio para o norte, na passagem do qual
pereceram alguns na confusão da refrega. O resto entranhou-se para o rio
Doce, e desde essa época nunca mais appareceram no continente campista.
Neste mesmo anno de 1823 deu-se á villa de S. João da Barra uma
prova não equivoca de seu progressivo augmento e importancia. Já o vice-
rei Dom Luiz de Vasconcellos havia escripto ao senado convidando-o a
fazer persuadir aos povos do seu termo as vantagens de qualquer paiz em
relação a sua exportação, com o justo fim de os excitar a plantar e colher
muito, sem o que nunca haviriam sobras para vender ou permutar fora da
terra ; e agora o senado da côrte endereçava-lhe um convite mais positivo
com dacta de 5 julho de 1825, e enviava-lhe inclusa uma nota dos preços
correntes da praça, para seu conhecimento.
168
SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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CAPITULO
DECIMO TERCEIRO
De 1830 a 1840.
Em 1830 creou-se a primeira escola publica, sendo professor
Francisco Antonio da Silva, * que tomou posse a 2 de outubro por provisão
do presidente da provincia (ainda do Espirito Santo) Monjardim ; do qual
foi igualmente a ordem para que fossem publicos d’então em diante os
termos dos processos erimes ; e estabeleceu-se, em 2 de Janeiro do mesmo
anno, a agencia do correio com direcção para S. Salvador, sendo Manuel
Francisco da Cruz o primeiro agente nomeado pela camara.
Havia-se por este tempo organisado uma quadrilha de ladrões com
bandoleiros de Campo-limpo, municipio de S. Salvador, os quaes infestavam
com suas correrias e latrocinios ambos os termos ; denominavam-se —
a quadrilha dos muxuangos —, appellido tirado de um lugar ou campo
visinho de Santo Amaro. Não era numerosa a caravana, porem nimiamente
ousados os bandidos, que conheciam-se mais por alcunhas que pelos
nomes proprios. O chefe, a quem obedeciam, era um Manoel de tal, moço
ainda e o mais audaz : chamavam-n’o o táboa ; os soldados ou quadrilheiros
eram o Antonio grande, o Joaquim saracura, o João bolo, o Antonio babados,
o Carrinho juapaca e mais dois.
* O segundo, Carlos Leopoldo Frederico da Costa e Almeida, muito illustrou este magisterio.
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CAPITULO
DECIMO TERCEIRO
De 1840 a 1850.
No decenio que faz parte deste capitulo pouco ha a referir de
notavel, á excepção de algumas mudanças no pessoal da administração da
justiça e da Igreja ; cuja origem ainda se deve remontar aos movimentos
relatados no antecedente.
O primeiro juiz de direito que tivera a comarca, Cesar do Amaral,
foi substituido por Silva Coito, que o era de Cantagallo, sendo aquelle
mandado para uma comarca de ordem inferior. O que deu motivo para
um tal rompimento de hostilidades contra um dos magistrados mais
distinctos que tenham vindo á Campos, consignaremos aqui, pois que
então andou na boca de todos.
No anno de 1831 até abril, e durante os fumos da victoria, os
partidos politicos que se achavam em scena eram, como é corrente, o
exaltado e o caramurú : aquelle, que promovera a revolução, e este, que se
via esmagado pelo facto da abdicação. Como é raro ou impossivel, tal é
a triste condição da humanidade, haver victoria sem abuso, os exaltados
pretenderam ir mais longe, e então fallou-se no celebrado 30 de julho.
Mas os homens sensatos de ambos os partidos, julgando que a desordem
devia cessar porque o fim ficava satisfeito, resolvearam crear, e de facto
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SEGUNDA PARTE: HISTORIA
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188
SEGUNDA PARTE: HISTORIA
189
TERCEIRA
PARTE
CAPITULO
PRIMEIRO
Juizes ordinarios e vereadores, e annos
de sua serventia
194
TERCEIRA PARTE
195
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TERCEIRA PARTE
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TERCEIRA PARTE
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200
TERCEIRA PARTE
201
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204
TERCEIRA PARTE
* Em 9 de Novembro deste anno de 1806 tomou posse o Juiz de Fóra Dr. José de Azevedo Cabral, que o era
de S. Salvador, e alcançou reunir os dous termos. O primeiro Juiz de Fóra de Campos, o Dr. Sebastião Luiz
Tinoco da Silva, sollicitara esta ampliação da sua autoridade, porem lhe não aproveitou por já ter ido quando
chegou a ordem, no tempo do 2º juiz Cabral.
Desta fórma não houveram mais juizes ordinarios ; na ausencia do Juiz de Fóra eram substituidos pelos
vereadores, que se denominavam — Juizes de Fóra pela lei.
205
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e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
1
Daqui em diante pegam as camaras municipaes, da leis do 1º de Outubro de 1828.
206
TERCEIRA PARTE
207
CAPITULO
SEGUNDO
Dos ouvidores da lei, corregedores da comarca e
juizes de direito que os substituirão.
Dr. Manoel Dias Raposo, 1667. Dr. João Velho d’Azevedo, 1670.
Dr. André da Costa Moreira (chamava-se, da repartição do Sul), 1683.
Dr. Miguel de Siqueira Castello Branco, 1690. Dr. Manoel de Souza Lobo,
1694. Dr. Miguel de Siqueira Castello Branco, 1698. Dr. Vital Cazado
Rotil, 1712. Hypolito Guedes, intirino, e como juiz de Fora do Rio de
Janeiro, 1713. Francisco Viegas d’Azevedo, interino, e como vereador
mais velho do senado do Rio de Janeiro, 1714. Dr. Fernando Pereira de
Vasconcellos, 1716. Dr. Paulo de Torres Rio Vieira, 1722. Dr. Antonio de
Souza de Abreu, 1725. Desembargador Manoel da Costa Mimoso, 1730.
Desembargador do Paço Fernando Leite Lobo (sequestrou d’uma das
vezes a capitania para a corôa), 1733. Dr. Agostinho Pacheco Felix, 1736.
Dr. João Soares Tavares, de 1738 a 1740. Dr. João Alves Simões, 1741.
Desembargador da Relação da Bahia Pascoal Ferreira de Veras, 1744. Dr.
Matheus Nunes José de Macedo (bom magistrado) de 1746 a 1749. Dr.
Bernardino José Falcão de Gouvêa, de 1749 a 1752.
210
TERCEIRA PARTE
Juizes de direito.
De uma vez saltára elle nesta villa de S. João, vindo de S. Salvador, de noite, com arxotes acompanhado de
tropa e quasi foragido, sahido para o norte tambem em horas incertas. Os lavradores retiravão seus animaes
com antecedencia do caminho por onde tinha de transitar a comitiva do Ouvidor, porque o que se encontrava
, cavallos, canôas, gente, carros, tudo era apresado pelos officiaes e seus agentes para o trasporte, e desgraçado
daquelle que se negava á intimação, porque era incontinente preso e levado á cadêa, por mezes e até annos
; as prisões enchiam-se de insubordinados. Tambem os campistas faziam por sua parte o ministro pagar caro
a sua má vontade. De uma vez indo-se á sua porta ler um bando de festividade (era um sobrado que está na
cidade de Campos ; em frente ao porto chamado do Ouvidor), elle da sacada pedio o papel, que o doestava
um favor, e fazendo-o em pedaços atirou com as tiras na rua, e Miguel de Moraes, um dos convivas, atirou-
lhe um laço, com o fim de puxal-a de rasto, mas a corda não acertou por desviar o corregedor a cabeça com
rapidez. Moraes, sendo perseguido, atirou-se no porto Grande á nado, mesmo a cavallo, e salvou-se tomando
terra no outro lado.
Em certa occasião, indo a passeio pelo cercado do Furtado, sahio-lhe Joaquim José Nunes, com uma lança
para o ferir ; o que pelo amparo de Joaquim da Motta ainda foi livre desta refrega.
1
Exemplar conducta, austero juiz ; a destituição do escrivão de orphãos Lobo, acarretou-lho bastante má
vontade e animosidade da parte dos parciaes deste. Em 1833 tinham estes, á força de diligencia, feito lavrar
na côrte, segundo corria, o decreto de transferencia de Cezar do Amaral para o Espirito-Santo, porem que o
regente Lima, grande apreciador de suas excellentes qualidades, o fizera deixar em Campos.
2
Que a todos os respeitos faz honra á illustre classe a que pertence. Não póde vir aos Goytacazes, como
magistrado, quem o exceda em rectidão e pureza de suas decisões. Vimos publicado um soneto dirigido á
este digno Bahiano ; o qual aqui estampamos, porque qualificando-o seu autor, no conceito, de humano juiz,
crêmos que se não podia carecterisar melhor o nobre varão de quem nos occupamos.
211
Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
CHARADA.
}
Não é por ser conde que me ufano,
Nem Dom juntar á meu nome de baptismo ; 3
Mas sim por detestar o philosophismo
E ser do Rio antistete diocesano *.
}
A patria do heróe Pernambucano.
Muito illustrei e salvei do abysmo ; 3
Partido que tomei por eccletismo,
Com Dias, e Vieira, o açoriano.
CONCEITO.
212
CAPITULO
TERCEIRO
Dos vice-reis, com relação á creação da villa,
governadores da provincia, capitães-móres e
commandantes militares dos goytacazes, e chefes
particulares da villa de S. João da praia.
Vice-reis do Estado.
Por morte de Affonso Furtado de Mendonça, visconde de Barbacena,
em 1675, ficou um triumvirato governando até Roque de Castro Barreto,
que tinha governado a Estremadura como sargento-mór de batalha em
1678. Antonio de Souza Menezes, o braço de prata, assim chamado por
trazer um em lugar do que perdera em Pernambuco, em 1682. Dom João
de Alencastre, em 1696. Dom Vasco Fernandes Cesar de Mello 1, 1º conde
de Sabugosa, 1721. Conde de Authoguia (Dom Luiz Pedro Peregrino de
Carvalho), 1730. André de Mello e Castro, posse a 11 de maio de 1735.
Conde de Galveias, de 1738 até 1746. O arcebispo, o chanceller e o coronel
Lourenço Monteiro, governaram inteiramente, 1753. Dom Marcos de
Noronha, conde dos Arcos, nomeado por carta de 18 de janeiro de 1754.
1
A’ este vice-rei o senado pedio varias providencias sobre a Ilha Grande de Arena, iguaes as que elle havia concedido
a villa real de Santa Luzia, em Sergipe, no tocante á criação de gado, em lugarejos que se plantasse mandiocas.
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TERCEIRA PARTE
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Commandantes Superiores.
Na primeira eleição, pois que procedeu a assembléa fluminense esperava-se que a maioria coubesse ao
décano dos seus membros o Dr. José Benardino Baptista Pereira, então seu presidente. Porem verificada
a votação, produzio : 1º, Dr. Antonio Joaquim Fortes de Bustamante, com mais um voto que 2º Dr. J. B.
Baptista Pereira ; 3º, Dr. Paulino ; 4º, coronel Oliveira ; 5º e 6º Vaz Vieira e Caldas Vianna. Em consequencia
do que, constou que na primeira vocatura, Bustamante e Baptista Pereira declinaram tomar o governo, vindo
a ser Paulino o primeiro vice- presidente que teve a provincia.
1
Este posto foi criado propriamente para os chefes dos regimentos da 1ª linha. Chegou á Campos no tempo que
o estenderam aos da 2ª ; e evidentemente offuscando o poderio dos capitães-móres, veio a dar lugar a alguns
choques e disputas, taes como a que fizemos menção na 2ª parte, entre José Caetano e o capitão-mór Cruz.
2
Nesta época toda milicia auxiliar do Rio de Janeiro foi organisada por batalhões da arma de caçadores,
e numerados ; vindo a caber aos Goytacazes os numeros 18, 19 e 20 dos tres corpos aqui formados. O
marechal de campo José Joaquim de Lima e Silva foi quem veio operar a organisação, sendo o de n. 18
commandado pelo coronel Montenegro, e o 20 pelo coronel Pereira Baptista, pertencentes a S. Salvador ; e
o de n. 19, tendo por chefe o tenente-coronel Desiderio a S. João da Barra.
Até o anno de 1822 foi Campos governado militarmente por capitães-móres, ou mais propriamente por
mestres de campo, e d’ahi em diante pelos commandantes militares.
216
TERCEIRA PARTE
Guarda Nacional.
Capitães-móres.
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
218
TERCEIRA PARTE
pelas ruas, pois segundo me consta pizam as crianças que se acham descuidadas e tambem descompõem
as pessoas grandes, será preso e levará no pelourinho 200 açoites sem appello nem aggaravo, e não quero que
de hoje em diante ninguem corra a cavallo pelas ruas ; e porque entendo eu serem estas ordens de muito
proveito de Deus e de Sua Magestade que Deus guarde, mando que sejam pelas ruas lidas no bando com
caixas rufadas e destemperadas para que ninguem allegue ignorancia. Dado e passado nesta villa sob meu signal
sómente e registre-se nos livros da camara, nesta villa de S. João da Praia dos campos dos Goytacazes da
Parahyba do Sul aos 11 dias do mez de julho de 1745. — Antonio Teixeira Nunes. »
Havia o capitão-mór Pedro Velho representado a necessidade de separar-se o emprego, tendo em attenção
a distancia de S. Salvador, em caso de perigo de inimigos na barra, e de facto assim se fez. Por morte deste
e entrada de Belxior Rangel, em 1781, reuniu o novo chefe ambos os districtos ; mas o senado de S. João
instou em pedir ao vice-rei um capitão-mór privativo da villa, ou continuação da antiga pratica, cuja resposta
foi a seguinte, dada no ensejo de se fazer nova nomeação por morte de Belxior :
« Achando-se á tempo consideravel vago o posto de capitão-mór das ordenanças do districto desta villa me
parece dizer a vossas mercês que será muito conveniente que façam a sua proposta e me remettam ; como
tambem lembrar a vossas mercês que me não será desagradável que na mesma proposta contemplem a José
Joaquim Pereira, tenente do terço auxiliar desse districto. Deus guarde a vossas mercês. Rio, 24 de março de
1794. — Conde de Rezende — Srs. Juizes e mais officiaes da camara de S. João da Barra. »
Em 9 de abril do mesmo anno o senado enviou a lista pedida, organisando-a como se segue :
Capitão de ordenanças, Manoel Antunes Moreira.
Capitão de forasteiro José Freire Vital.
Tenente do terço auxiliar José Joaquim Pereira.
João Martins da Silva Coutinho.
José de Freitas Silva.
José Barreto de Andrade.
Antonio Martins da Costa.
Miguel Antunes Moreira.
Porem a nomeação nunca se effectuou, não obstante o empenho do vice-rei, nem consta o motivo da
difficuldade ; e José Francisco governou ambos os termos, e o mesmo fez seu successor até 1832.
219
CAPITULO
IV.
De outros empregados de antiga usança da classe
governista : dos officiaes do recrutamento e da
capitania do porto.
Do capitão regente. 1
Alcaide-mór.
Alcaide-menor.
Guarda-mór.
Capitão de forasteiros.
222
TERCEIRA PARTE
Mamposteiro.
Este emprego ou encargo não tinha jurisdição, por assim dizer, mas o
Mamposteiro-mór podia impor multas, suspender os tabelliões, suspender
os mamposteiros pequenos (o das villas) : destinava-se ao ministerio que
se verá na carta da nomeação de Domingos Moreira.
« Bento de Oliveira Braga, Manposteiro-mór da redempção dos
captivos desta cidade de S. Sebatião do Rio de Janeiro e de todo o seu
bispado, juiz dos aggravos feitos aos manposteiros pequenos, executor e
conservador de seus privilegios e de todas as suas causas crimes e civeis
em que forem autores e réos, como tambem procuradores e mais officiaes
e pessoas priviligiadas subordinadas a esta mamposteria-mór e de todas as
penas e causas pertencentes aos captivos com alçada, por Sua Magestade ;
que Deus guarde etc. Faço saber a vossas mercês senhores juizes ordinarios
e mais officiaes do senado da villa de S. João Baptista da Praia dos Campos
dos Goytacazes, e outras quais quaes quer pessôas a que pertencer que
pelo poder que por el-rei nosso senhor para isso me têem dado pelo
regimento de meu officio, eu dou ora por mamposteiro pequeno dos
captivos da freguezia de S. João Baptista dessa villa a Domingos Moreira,
morador da mesma, por quanto me foi por vossas mercês para o dito
cargo apresentado, por tanto o notifico assim para d’elle serem certos e
lhe deixarem servir o dito officio e lhe mandarem guardar e cumprir os
privilegios e liberdades que pelo dito senhor lhe são outorgados, as quaes
são estas que se seguem.
« Primeiramente que não seja constrangido para levar captivos
alguns nas procissões geraes e solemnes qual o fazem em cada um anno
nas cidades e villas de seus reinos e senhorios, nem será constrangido
para outro encargo do conselho de qual quer maneira que sejam, nem
seja tutor nem curador salvo se as tutorias forem lidimas (legitimas),
nem seja sacador de pedidos nem pousem com elles em suas casas de
moradas, adegas, nem estribarias nem lhe tomem cousa alguma de seu
contra sua vontade, nem roupas de cama nem alfaias de casa nem bestas
de sella nem de albarda nem seus obreiros para nenhuma pessôa de
qualquer estado ou condição que seja, posto que o dito senhor, rainha
ou princepe, nossos senhores, sejam na terra ; por cuja causa Sua Alteza
manda que se não guardem algum privilegio porque em especie quer que
estes nestes casos e outros quaes quer que sejam com tudo guardados
223
Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
muito inteiramente, e posto que outros devessem por seus alvaras não
se intendam neste salvo se em especial os derroga, nem sejam nenhum
official do conselho contra sua vontade, seja juiz, vereador ou almontacé,
nem seja recebedor de siza nem nenhum outro cargo, sem embargo de
quaes quer ordenações de Sua Alteza e regimento de sua fazenda em
contrario, nem seja acontiado em borsa de garruncha nem de polé nem
de conto nem de alguma quantia ou finta posto que para ella haja fazenda,
salvo em cavallo e armas se houver bens, porque segundo ordenança do
dito senhor lhe deva ser lançado, porque disto ha por bem Sua Alteza ser
escuso de pessôa alguma e seja posto em algumas das sobreditas quantias
ou outras que sejam d’ellas tirado e lhe não sejam mais lançado emquanto
o dito cargo tiver, nem pague pela levada de presos nem de outra finta
que pelo dito senhor e seus conselhos sejam lançados, salvo em pontes,
muros, fontes, calçadas e testadas de suas heranças, nem sejam obrigados
a ter ganxo na sua porta porque o dito senhor o escusa e ha por escusado
aos mamposteiros pequenos dos captivos de terem os ditos ganxos am
suas portas, e sem embargo de que pela ordenação dos ditos ganxos sejam
obrigados a os terem, o que tudo assim Sua Alteza ha por bem mêrce á
redempção dos captivos, havendo respeito ao muito continuo trabalho
que os ditos mamposteiros levão em servir os ditos cargos e em pedir e
tirar as esmolas e peditorios para os ditos captivos, e para o que daqui em
diante com melhor obra folguem de habitar e servir, porem faço assim a
todos saber da parte do dito senhor que lhe guardem e façam em tudo
cumprir e guardar os ditos privilegios e liberdades sem irem contra alguma
dellas sob pena de pagar cada um 2$000 rs. para a dita redempção ; e por
este mando a qualquer tabellião que for requerido que sob pena de ser
suspenso do officio que dê instrumento de aggravo que lhe é feito para
perante mim vir requerer sua justiça, e sobre ser o seu aggravo provido
segundo a ordenação e regimento do dito senhor pelo poder que me tem
dado de dar execução a dita pena nos que lhe seu privilegio quebrar, e
este privilegio o guardará inteiramente, assim os mamposteiros pequenos
que já forem feitos como ao presente promovido Domingos Moreira e
aos mais que daqui em diante se fizerem ; pelo que em cumprimento do
referido deverão servirem o dito mamposteiro pequeno como dito é, e
tirar suas esmolas e peditorios para os ditos captivos, o que será obrigado
a me dar conta dellas todos os annos para se carregarem no livro da minha
receita pelo escrivão do meu cargo, de que haverá posse e juramento para
224
TERCEIRA PARTE
servir o dito officio, e com elle poderá tambem requerer tudo que aos
captivos pertencer ; em firmesa do que se lhe passou a presente carta de
privilegio de mamposteiro pequeno por mim assignada e sellada. Dada
nesta cidade do Rio de Janeiro, aos 20 dias do mez de maio de 1751 ; e eu
Cypriano Ferreira escrivão da mamposteria-mór dos captivos, nesta cidade
de S. Sebastião, e todo o bispado, o subscrevi e assignei. — Bento de Oliveira
Braga. — Cypriano Ferreira. »
O regimento desta autoridade é de 1703, e manda que se observe os
mesmos privilegios relativamente ao tabaco, alem dos acima transcriptos.
Chama-se tambem mamposteiros da bulla da santa crusada os
thesoureiros que vendiam estas cartas de indulgencias ¹. O mamposteiro-
mór, em 1783, era do Rio de Janeiro o Dr. Manoel de Jesus Valdetaro, que
servia com seu adjunto o D. Francisco Gomes Villas-Boas, vigario geral,
cujo emprego largara o capitão Caetano de Sá Caldas ; e nomearam nesta
villa de S. João a Francisco Luiz de Andrade, 1783.
Nomearam igualmente os mamposteiros de Santo Antonio de
Lisboa, e de outras devoções, que ordinariamente recahia no dos captivos.
1
« Dom Francisco de Souza, do concelho de Sua Magestade, seu sumiller da cortina, deputado da meza da
consciencia e ordens e do santo officio, conego doutoral da Sé da Guarda e comissario geral apostolico da
bulla da santa cruzada. nestes reinos e senhorios de Portugal etc. Fazemos saber aos senhores corregedores,
juizes de fóra ou vereadores e mais justiças desse reino e suas conquistas, que Sua Magestade passou dous
alvares por elle assignados, um que ha por bem que os thesoureiros, escrivães, officiaes e mais ministros que
entenderem no negocio da dita bulla da santa cruzada, gozem e usem dos privilegios e liberdades de que
gosam os mamposteiros dos captivos ; outro porque ha por bem que os thesoureiros e mamposteiros da
cruzada gozem de seus privilegios ainda que tenham duzentos mil réis de seu e d’ahi para cima, dos quaes
alvaraes e privilegios o translado é e seguinte : ..........»
Segue os privilegios, com pouca differença dos de mamposteiros, assignados já em 1746 por Matheus Nunes
José de Macedo, procurador e thesoureiro da bulla, e por Francisco Pereira de Barcellos, thesoureiro e
mamposteiro de Santo Antonio de Lisboa nesta freguezia de S. João da Praia.
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Historia do descobrimento e povoação da cidade de S. João da Barra
e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Capitães do matto.
Havia antigamente nos termos esta alçada, que foi abolida em 1827
com a creação dos commissarios de policia, cuja nomeação era exclusiva
do senado, e sua occupação especial a destruição dos quilombos, para cujo
mister nomeava subalternos. Os de que temos noticia foram :
Cypriano Moreira, de 1792 a 1812. José dos Santos Couto, 1813.
João Luiz da Silva, 1816.
1
Um dos mais honrados chefes, excellente cidadão.
226
TERCEIRA PARTE
227
CAPITULO
V.
Dos vigarios, thesoureiros de Orphãos e ausentes.
Vigarios.
Francisco Gomes Sardinha, encommendado, 1676. Francisco do
Sarmento, (religioso do Carmo), 1680. Matheus Teixeira de Mendonça, de
1681 a 1694. Domingos de Mattos, até 1711. Gabriel Pereira d’Araujo, 1º
collado, até 1724. Bacharel Pedro Marques Durão, 2º dito, entrou em 1725.
Francisco Xavier da Fonseca, por auzencia do proprietario, 1727. Luiz
Lourenço da Cunha, idem, 1742. Ignacio da Costa Antunes do Rozario,
idem, 1766. João Silveira Machado, coadjuctor, idem, 1768. Manoel Furtado
de Mendonça 1, 3º collado, entrou em 1769 a 1805. Diogo de Carvalho da
1
Pizarro no 6º Vol. de suas Memorias Historicas a fl. 174, diz o seguinte tratado dos conegos da 5ª cadeira da Sé
cathedral fluminense : « 2º Manoel Furtado de Mendonça, natural do Rio de Janeiro e mestre em artes, com
os serviços de sachristão mór e de capellão da Sé, de parocho das igrejas de N. S. da Conceição do Castello
e de S. João da Barra, foi 5º proprietario da 1ª cadeira de meia prebenda da creação da cathedral desde o 1° de
março de 1710, até que ascendeu a esta pela posse a 22 de maio de 1716. Parochiou o curato da Sé (em cujo
cathalogo é contado 7º cura) desde 1721 até o mez de agosto de 1722. Falleceu no anno de 1724, e jaz na
capella da ordem terceira de S. Francisco. »
Cremos que seria engano do illustre autor, visto que algum conego deste nome serviu na cathedral e morreu
em 1724, não parochiou por certo a freguezia de S. João da Barra, porquanto o padre Manoel Furtado de
Mendonça, que cá servio, é o de que fazemos menção ; o qual falleceu em 1806, pouco mais ou menos, e não
consta que fosse elevado á dignidade de conego.
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Doutores.
230
TERCEIRA PARTE
Sacerdotes.
Thezoureiros de auzentes.
1
Dizia sempre a seus confessados — meu filho, ou filha, a verdadeira confissão é a emenda da vida.
231
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e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
Thezoureiros de orphãos.
Thezoureiro do sello.
232
CAPITULO
VI.
Dos escrivães, e estatistica dos crimes e reos
desde os primeiros tempos da villa.
Escrivães.
1679. — Summario.
1692. — Devassa.
234
TERCEIRA PARTE
1706. — Devassa.
1708. — Devassa.
235
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
1716. — Summario.
236
TERCEIRA PARTE
1734. — Devassa.
237
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
1745. — Devassa
1747. — Devassa
1747. — Devassa
238
TERCEIRA PARTE
1750. — Devassa.
1752. — Devassa.
1753. — Devassa.
239
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e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
1655. — Devassa.
240
TERCEIRA PARTE
1757. — Devassa.
1762. — Devassa.
1765. — Devassa.
241
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
e da causa e origem do levante denominado – dos Fidalgos –
FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
1768. — Devassa.
1770. — Devassa.
1771. — Devassa.
1773. — Devassa.
1775. — Devassa.
242
TERCEIRA PARTE
Réo, Simão Nogueira da Paz ; foi absolvido por provar que deu em
Joaquim Pereira a bofetada com a mão fechada e não aberta. O ouvidor
José Ribeiro Guimarães Attahyde, não tomou conhecimento do caso, na
futura correição, por suspeito em razão de ser o réo escrivão da vara de seu
meirinho ; assim o declarou nos autos.
1775. — Devassa.
Juiz ordinario, o Alferes Domingos Alves de Barcellos. — Morte.
Réo, Simão Nogueira da Paz, dono das fazendas da Barra Sêcca e
Campello ; Antonio Bahia, congo, Casimiro, mina, Domingos e Antonio,
benguelas ; por matarem estes a André, cabra seu parceiro, por ordem do
dito seu senhor na occazião de o prender.
1776. — Devassa.
Juiz ordinario, capitão José Gonçalves da Silva. — Bofetada
com mão aberta.
Ré, Maria da Conceição, parda ; por dar uma bofetada com mão
aberta em Faustina das Neves, mulher de Manoel da Silva Marvilha.
1801. — Devassa.
Juiz ordinario, Domingos Gomes d’Azevedo. — Vender o que
não é seu.
Réo, Ignacio Xavier Barreto ; por vender umas terras letigiosas.
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e dos Campos dos Goytacazes antiga Capitania da Parahyba do Sul
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
________
244
CAPITULO
VII.
Dos principaes fundadores da villa,
e sua descendencia.
Seus filhos :
1º Euzebio Corrêa de Alvarenga, nasceu em 1671.
2º O capitão-mór Pedro Velho Barreto (era a principio Pedro
Velho Arraz).
3º O capitão Gregorio Barreto de Mendonça.
4º João Velho Barreto, nasceu em 1678.
5º Antonio Velho Barreto, nasceu em 1680.
6º Violante Arraz de Mendonça.
Euzebio Corrêa de Alvarenga casou com Margarida Coutinho, 2º neta
de Vasco Fernandes Coutinho, donatario do Espirito Santo, sobrinha do
vigario interino Mathias Teixeira de Mendonça. Tiveram os filhos seguintes
: 1º o tenente José Nunes de Mendonça, casado com Helena Vieira, que
foram progenitores de Domingas, que morreu solteira, e Maria José, que foi
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
casada com Manoel Moreira dos Santos, o frigir dos ovos ; 2º Ignacio Alves de
Alvarenga, casado com Violante do Cêo ; 3º João Nunes de Alvarenga ; 4º
Pedro Velho Celestino, casado com Anna das Neves ; e 5º Victoria de Jesus,
que casou com o tenente João Martins da Costa, e foram progenitores de
João Martins da Silva, casado com . . . . . . , paes de João Martins da Silva,
casado com Anna Joaquina, filha de Francisco Pereira de Barcellos ; Filippe
Martins da Silva, Josefa, mulher de Antonio Gonçalves Real ; Mariana,
casada com Manoel Ferreira Soares 1 ; o segundo filho de Victoria de Jesus
foi Antonio Martins da Costa, casado com Joanna do Nascimento, filha do
capitão Manoel Rodrigues da Purificacão, e foram paes de Maria, mulher
de Manoel Gomes de Azevedo, de quem foi filho o vigario Manoel Gomes
de Azevedo ; de Francisco Martins da Costa, casado com Mariana, filha de
Manoel de Freitas Silva ; Antonio Martins ; Raphael Rodrigues do Rosario.
Terceiro filho foi o capitão José Gonçalves da Silva, casado em primeiras
nupcias com Luzia, de quem houve Catharina, mulher de José Caetano (do
Mergulhão), e Josefa das Neves, 1º mulher de João Jorge da Silva ; e em
segundas nupcias casado com Micaela, filha de Placido da Silva, de quem
houve Anna, mulher de José Gomes ; João Pedro Nolasco ; Antonio José
Gonçalves da Silva ; Placido da Silva ; Victoria, mulher de Joaquin José
Freitas ; Margarida, mulher do capitão José Freire da Silva ; e Maria, mulher
de José Francisco Feijó.
Quarto filho de Victoria : Salvador Martins da Costa, morreu
solteiro. Quinto : Manoel Gonçalves da Costa, casado com Josefa da
Conceição, paes de Francisco Antonio Gonçalves ; Quintina, mulher
de João de Amorim ; Anna, casada com Ignacio Moreira da Silva ; e
Victoria, casada com José da Cunha e Silva. Sexto : Maria, 1º mulher de
André Franco da Motta, paes de Salvador Franco da Motta e de João
Martins da Motta. Setimo : Margarida Coutinha, casada com Leonardo
Felix, paes de João Martins da Silva Coutinho ; do padre José Antonio
da Silva ; de Thereza, casada com Amaro Geesteira Passos ; de Antonio
José de Andrade ; de Manoel Felix ; e de Anna, casada, 1º com Manoel
Francisco da Cruz (irmão do capitão-mór José Francisco da Cruz) ; e 2º
com Domingos da Fonseca Carneiro (minguta).
2º filho do sargento-mór Velho Pinto : o capitão-mór Pedro Velho
Barreto, casou 1º com Francisca de Magalhães (morreu em 6 de julho de
1743), filha do capitão Antonio Viegas de Brito e sua mulher Catharina
de Ceia (de Cabo Frio), neta materna de Antonio de Ceia de Almeida
1
Para não coufundir a narração julgamos não passar do gráo que mencionamos, pois que d'ahi em diante os
descendentes destes são bem conhecidos da geração actual.
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TERCEIRA PARTE
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TERCEIRA PARTE
1
Do primeiro casamento teve ella um filho, o tenente Balthazar Rangel do Azeredo Coutinho e Souza ; e
do segundo dous, Julião Baptista de Souza Cabral, o coronel Manoel Joaquim Pereira Baptista ; campistas
generosos, dotados de brio e pundonor, e a todos os respeitos dignos de recordação.
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O ajudante Manoel de Freitas Silva. – Maria Pinta das Neves, sua mulher
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TERCEIRA PARTE
Mariana de Freitas.
Anna de Jesus Maria.
Maria de Freitas.
O primeiro, José de Freitas, não casou. O segundo, Joaquim Pinto,
casou com Anna Coutinha, filha de Antonio Ferreira Coutinho, e foram
progenitores de Manoel de Brito Coutinho, Antonio Ferreira Coutinho,
padre José Pinto da Silva, Maria Pinta, casada com Francisco José Rodrigues
Fernandes, e Maria da Penha, casada com Francisco de Carvalho, morador
em campo-novo 1. O terceiro, Manoel de Freitas, não casou.
O quarto, Ignacia, casou com Severo da Silva, de S. Salvador, cuja
descencencia ainda vive, pela maior parte. O quinto, Quiteria, casou com
Nicolau de tal, irmão de Luiz de Mello, e foram donos da fazenda do
Espirito Santo, tambem em S. Salvador. O sexto, Mariana, casou com
Francisco Martins da Costa. O setimo, Anna, casou com Francisco Martins
de Andrade. O oitavo, Maria, não casou.
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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TERCEIRA PARTE
casada com Manoel Francisco Roza. Terceiro, José Luiz de Mello. Quarto,
Sebastiana Maria Coutinho, casada com Francisco Luiz de Andrade, (ao
diante ver-se-ha a descendencia deste). Quinto, Margarida Coutinha de
Mendonça, casada com Antonio de Lemos d’Andrade (veja-se tambem
adiante). Sexto, Izabel Ferreira de Attayde, casada com Manoel Freire
d’Andrada (tres irmãos casaram com tres irmãs). Setimo, Cathariana de
Mendonça, casada com Ignacio de Mendonça, não perfilharam. Oitavo,
João Ayres Teixera, casado, 1º com Polonia da Veiga, (morta em 6 de
fevereiro de 1765,) e 2º com Maria Roza Pereira ; e houve os filhos,
Beathris, Joanna, Anna, Antonia e Maria. Nono, Antonio Teixeira Nunes,
casado com Margarida, filha do capitão Nicolau Tolentino Lisboa, de
quem houveram os filhos : Nicolau Tolentino Lisboa, José Teixeira Nunes,
Anna, casada com Braz de Souza, Maria Teixeira, casada com Antonio
Francisco, e Thereza, casada com Manoel Pires.
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
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FERNANDO JOSÉ MARTINS acontecido no meado do seculo passado. Dividida em tres partes
capitão Jeronymo Pinto Netto, Bernardo Pinto Netto, Caetano, Manoel e outros, desfructaram e deixaram
bens em abundancia a seus descendentes.
Fernandes Marçal e sua mulher Anna dos Reis, houveram 4 filhos ; Anna mentecapta ; Maria Fernandes, casada
com seu primo Antonio Pinto Netto ; Mariana, casada com João Rodrigues das Neves, filho de Ignacio Bueno
Xavier ; e Josefa Fernandes, casada com Manoel Pereira Santiago.
Anna dos Reis, em quanto viveu prodigalisou a seus visinhos enfermos, medicamentos e soccorros expontaneos,
sem vista em interesse e lucros pecuniarios, e só por instincto e indole bemfazeja ; era uma mulher que, com a
pratica dos curativos quotidianos operados, havia adquirido nomeada de caritativa cirurgiôa do lugar.
Sua filha Josefa Fernandes, desde menina acomhanhava o anjo consolador dos afflictos ; e mais de uma vez
foi com sua mãe á S. Salvador á convite de alguem, para curar enfermos em falta de licenciados.
Dotada a filha dos puros e virtuosos sentimentos de sua mãe, e fazendo estudo particular, com a pratica, de
graves curativos, tornou-se Josefa Fernandes em S. João da Barra, onde não havia medicos de profissão, o
unico refugio dos doentes. Ajunte-se o bom exito quasi sempre infallivel de suas curas, á uma alma caridosa
e por genio amante do seu semelhante, desvelada no empenho de agradar e acertar nos seus curativos, e o
leitor fará idéa do gráo de interessantes merecimentos de uma tal matrona !
Sua casa, na praça da Matriz (ainda ali se vê, pois é mais proxima do rio), era um verdadeiro consultorio,
de dia e de noite. Casada com austero Santiago, muitas vezes em nossa infancia o vimos á noite deitado em
uma rede na sala, a porta aberta, e a cirurgiôa n’um estrado pegando no pulso de um que havia entrado,
ministrando um mólho de hervas a outro que sahia ; entregando á sua escrava Antonica uma gallinha para ir
depressa levar a certo doente ; ordenando á outra escrava Bibiana a prompta remessa do senapismo de que
lhe incumbira ; e todo este cuidado e desvelos pelo proximo, todos estes sacrificios pelo povo não eram com
vistas de receber em retribuição um só real !! Santa mulher, incomparavel anjo de bondades.
Nasceu a nossa heroyna em 1766, e falleceu em 1829 ou 30 ; sua existencia venturosa foi uma serie, nunca
interrompida de serviços prestados á humanidade. A arte que praticamente exercia, a seus limitados haveres,
além da extraordinaria dedicação por quantos a procuravam para o allivio de seus padecimentos, tudo, tudo
emfim, prodigalisava com mão larga : invejavel existencia. Legou Josefa Fernandes á seus parentes (não teve
filhos) e patricios a virtuoso nome, que jámais se riscará de nossa memoria.
Nunca desamparou sua irmã desasisada, e foi della mãe, assim como de seus sobrinhos e dos desvalidos em
geral. Os rigidos descobrimentos de seu esposo não foram causa de privar á esta inclyta Izabel de nossos
tempos de exercer actos de sublime piedade.
Tiveram no seculo XIV, e ainda hoje, grande nomeada os desta piedosa rainha portuqueza, é verdade ; e
a gerarchia do nascimento muito faz sobresahir os dotes pessoaes ; mas guardadas as devidas proporções
releve-se-nos o simile. Tambem foi austero D. Diniz, e esse genio ainda mais fez realçar e polir as virtudes
da santa esposa. Josefa Fernandes não teve, por certo, um throno por alicerce de sua fama, mas distribuindo
com piedade pelos enfermos e desvalidos todos os seus haveres materiaes e intellectuaes, plantou em nossos
corações immorredoura lembrança de suas virtudes, e uma lagrima de saudade pela matrona que tanto
servio á nossos antepassados.
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TERCEIRA PARTE
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CAPITULO
VIII.
Imperadores do espirito-santo.
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TERCEIRA PARTE
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