A Profissionalização Da Pessoa Com Deficiência À Luz Da Legislação
A Profissionalização Da Pessoa Com Deficiência À Luz Da Legislação
A Profissionalização Da Pessoa Com Deficiência À Luz Da Legislação
INTRODUÇÃO
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e
pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os estudantes de estar juntos, aprendendo e
participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma
educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença
como valores indissociáveis.
A escola é o espaço em que, em alguns casos, acontece um dos primeiros contatos do ser
humano em um ambiente social fora do campo familiar. Para pessoas com deficiência essa
importância é ainda maior. É lá que, com a ajuda dos educadores e pais, que um sujeito se constitui
como ser pensante, questionador. A escola poderá conservar isso, despertando em seus alunos
potenciais criativos, curiosidades, talentos ou poderá minimizar todas essas formas de expressão da
subjetividade da criança. Para muitos alunos, a escola constitui uma oportunidade única para
romper com situações econômicas e sociais desfavoráveis e precárias. Por isso, além do
aprendizado acadêmico é imprescindível que, ainda na escola, seja possível para o aluno uma
prática laboral que dê a ele a experiência do que o espera no pós-escola, além do apoio necessário
para o desenvolvimento de habilidades e capacitação para o mundo do trabalho.
1
Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail:
[email protected]
2
Estudante do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e bolsista de Iniciação Científica
CNPq. E-mail: [email protected]
3
Estudante do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected]
Além da inclusão escolar do sujeito com deficiência, possibilitar que ele consiga ter acesso
ao mercado de trabalho, almejar uma profissão e se realizar como pessoa ativa no contexto social é
também considerada uma forma de inclusão. É importante que a sociedade consiga considerar que a
inclusão do jovem com deficiência é positiva, não somente para ele, mas para o coletivo, sua
família, amigos, colegas de trabalho, enfim para o próprio indivíduo e os que convivem com ele.
Metodologia
O estudo baseou-se na pesquisa qualitativa, com análise documental. A análise documental
pode se tornar uma técnica importante para a coleta de dados qualitativos, seja completando
informações ou descobrindo novas características de uma situação. Levando em conta que a opção
pela metodologia está intimamente ligada ao objeto a ser investigado no estudo e aos objetivos que
se quer atingir, nosso trabalho foi estruturado da seguinte forma: em um primeiro momento, foi
feita uma pré-análise do material, envolvendo a seleção e organização dos textos e a segunda etapa
consistiu na análise qualitativa desse material.
Já no artigo 8, da Lei 7.853/89 (BRASIL,1989) prevê que caso haja impedimento ao acesso
a qualquer cargo público, devido à alguma deficiência ou de negar emprego ou trabalho, pelo
mesmo motivo, será considerado crime e punição com reclusão de dois a cinco anos e multa. Em
1990, foi promulgada a Lei 8112 (BRASIL, 1990a) que obriga a reserva de até 20% do percentual
das vagas em concursos públicos para pessoas com deficiência.
Essas leis ganharam mais ênfase em 1991, com a Lei 8.213 (BRASIL, 1991) conhecida
como a Lei de Cotas para pessoas com deficiência, garantindo assim uma porcentagem de vagas a
partir da quantidade de funcionários da empresa, sendo elas de 2% para empresas que tenham até
200 funcionários; 3% para as que possuem entre 201 a 500 funcionários; 4% para 501 a 1.000 e de
1.001 em diante, 5%. Tais leis quebram com o preconceito referente a esses sujeitos e os colocam
com maior possibilidade de inserção no mercado de trabalho, que é direito de qualquer cidadão.
Essa lei determina a contratação mínima, sob pena de multa administrativa, se não for cumprida. A
dispensa de funcionário só poderá ser feita após contratação de outro, em condições semelhantes.
A partir deste Decreto 3.298 (BRASIL 1999a), podemos perceber que há possibilidades
tanto de formação e capacitação profissional destas pessoas em diferentes níveis de escolaridade
quanto a sua colocação no mercado de trabalho com apoios especializados de acordo com as
necessidades do indivíduo com deficiência.
A Portaria nº 1.199 (BRASIL, 2003), em seu artigo 2, informa que a multa por infração ao
não cumprimento da Lei de Cotas (BRASIL, 1991) será calculada na seguinte proporção:
Para empresas com um quadro de 100 a 200 empregados deve se multiplicar o número de
trabalhadores com deficiência ou beneficiários reabilitados que não foram contratados, no
valor mínimo legal exigido, acrescido de zero a vinte por cento. Empresas com 200 a 501
funcionários, deve se multiplicar o número de trabalhadores com deficiência ou beneficiários
reabilitados que deixaram de ser contratados pelo valor mínimo legal, acrescido de 20 a 30%.
Empresa com 500 a 1000 empregados multiplica-se esse número acrescido de 30 a 40%.
Empresas com mais de mil empregados o percentual é de 40 a 50%.
Na Lei 12.513 (BRASIL, 2011a) que institui o Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec), tem a finalidade de ampliar a oferta de educação profissional e
tecnológica, por meio de programas, projetos e ações de assistência técnica e financeira. Além do
Pronatec, essa lei promulga várias outras providências. Destaque para o artigo 2 sobre prioridades
de atendimento:
A Lei 12.764 (BRASIL, 2012) no capítulo V, coloca o estímulo à inserção da pessoa com
transtorno do espectro autista no mercado de trabalho, observadas as peculiaridades da deficiência e
as disposições da Lei nº 8.069 (BRASIL, 1990b), Estatuto da Criança e do Adolescente. Isso
significa que se deve estar atento ao comportamento e motivações dessa pessoa. Então, significa a
importância de se inserir a pessoa com deficiência no tipo de trabalho que ele mais se identifica e
que mais tem afinidade, para que o jovem se sinta realmente realizado e útil para a sociedade de
acordo com suas habilidades (REDIG, 2016). Essa lei também aponta que as pessoas com
transtorno do espectro autista têm direito à educação, ao ensino profissionalizante e ao mercado de
trabalho, entre outros direitos como as demais pessoas com deficiência.
No que diz respeito à formação profissional, a Portaria 817, (BRASIL, 2015b) possibilita
que a bolsa formação atenda prioritariamente pessoas com deficiência com cursos de formação
inicial e continuada. Observamos, então, que os documentos legais preconizam a formação e
capacitação profissional da pessoa com deficiência e oportunizam que esses sujeitos tenham acesso
ao ensino profissional e a escolha de uma carreira. Redig (2016, p.80) enfatiza a importância do
jovem com deficiência de trabalhar no que gosta, a partir das suas habilidades e interesses, por isso
é necessário que a escola trabalhe em prol da aquisição e/ou descoberta das suas competências.
Em um estudo com jovens e adultos com deficiência intelectual empregados em diferentes
empresas, Cezar (2012) verificou que um dos fatores para o desligamento do trabalho era a
insatisfação com o serviço. Essa observação corrobora a ideia apontada por Luecking (2009)
sobre a importância de identificar em que as pessoas querem trabalhar, como o objetivo de
compreender em qual atividade laboral elas podem ser inseridas.
O artigo número 9 desta Portaria 817 (BRASIL, 2015b) aponta que esses sujeitos terão
direito ao atendimento preferencial nos cursos ofertados por meio da Bolsa-Formação, em cursos de
Formação Inicial e Continuada e técnicos concomitantes. Os cursos profissionalizantes deverão
Na Lei 13.146 (BRASIL, 2015a), artigo 34, firma o conceito de que o indivíduo com
deficiência tem o direito ao trabalho de sua livre escolha, em ambiente acessível e em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas e remuneração, sem qualquer discriminação devido à
deficiência. O funcionário com deficiência deve participar dos cursos e treinamentos oferecidos
pelo empregador. A empresa deve oferecer um ambiente acessível com tecnologias assistivas, se
necessário e até mesmo a individualização de atividades funcionais. Nessa lei, fica claro e objetivo
os direitos de pessoas com deficiência no mercado de trabalho e as obrigações do empregador.
As leis são dirigidas para que haja igualdade na sociedade respeitando a diversidade
existente na sociedade. Esses documentos legais visam garantir oportunidades de colocação no
mercado de trabalho para as pessoas com deficiência de acordo com suas dificuldades e habilidades.
Dessa forma, a deficiência não deve ser vista como um impedimento para a execução de atividades
laborais, mas é preciso encontrar um equilíbrio entre os recursos oferecidos pelas empresas, como
acessibilidade, equipamentos e as competências do funcionário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio das diretrizes estabelecidas, o Estado e as instituições de ensino particulares devem
garantir à pessoa com deficiência um ambiente adequado para desenvolver suas capacidades físicas,
sensoriais, intelectuais e sociais em igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas,
para que posteriormente, possam ter a oportunidade de seguirem seu caminho laboral.
Outro ponto positivo é o fato das empresas, seus gestores e colaboradores, terem a
oportunidade de conhecer de perto as necessidades das pessoas com deficiência, o que favorece a
desmistificação desta condição e até eliminação de possíveis preconceitos preexistentes. Do ponto
de vista econômico, este processo de inclusão também funciona como um propulsor positivo.
Afinal, quanto mais pessoas estiverem exercendo atividades remuneradas, adquirindo poder de
consumo, mais aquecida será a economia.
Todos esses aspectos acabam incentivando aos sujeitos com deficiência a buscarem uma
formação profissional adequada, o que mais uma vez favorece a sociabilidade e a melhoria da
qualidade de vida. Este tipo de inclusão demonstra, ainda, a forma como as empresas podem
exercer uma função social importante, sem abrir mão da manutenção de sua lucratividade e
qualidade no serviço. Por outro lado, nos cabe lembrar que a escola junto com o Estado são
responsáveis pela garantia da inclusão social, educacional e laboral das pessoas com deficiência.
Sendo assim, levando em conta todas as informações que foram expostas, devemos lembrar
que as leis de inclusão estão sempre evoluindo de acordo com a realidade de cada sociedade e a sua
época. As reivindicações por parte das pessoas com deficiência, seus familiares, educadores e
outras pessoas envolvidas no processo de inclusão escolar e social, que abrange também o mercado
de trabalho, contribuem para que a pessoa com deficiência seja reconhecida e valorizada dentro de
suas possibilidades. A democracia e cidadania são colocadas em prática quando a igualdade de
oportunidades é comum para todos. Nesse sentido, cada vez mais as leis de inclusão devem atender
à demanda desta população, as empresas devem aceitar as particularidades de cada indivíduo e
valorizar suas qualidades e aptidões.