Estudo Climatologico
Estudo Climatologico
Estudo Climatologico
RESUMO
O conhecimento climatológico de uma região é essencial para o desenvolvimento
das atividades sociais e econômicas, além de proporcionar um adequado
planejamento das intervenções humanas no ambiente. Regiões com poucos
estudos, como o município de Joanópolis/SP, justificam trabalhos técnicos e
científicos neste plano, principalmente pelas variações topográficas e climáticas
impostas pela Serra da Mantiqueira, e a importância ambiental do município.
ABSTRACT
The climatological knowledge of a region is essential for the development of social
and economic activities as well providing an adequate planning of human
interventions in the environment. Regions with few studied as the city of
Joanópolis/SP justify technical and scientific papers in the plan, mainly by
topographic and climatic variations imposed by the Saw Mantiqueira, and the
environmental importance of the city.
INTRODUÇÃO
Conhecer a atmosfera do planeta Terra é uma das aspirações que vêm sendo
perseguidas pela humanidade desde os tempos mais remotos. A partir do momento
em que o homem tomou consciência da interdependência das condições climáticas
e daquelas resultantes de sua deliberada intervenção no meio natural como
necessidade para o desenvolvimento social, ele passou a produzir e registrar o
conhecimento sobre os componentes da natureza (MENDONÇA & DANNI-
OLIVEIRA, 2007).
O clima do planeta e suas mudanças têm sido um dos assuntos mais
debatidos na atualidade. A identificação dos fatores que influenciam a mudança e
variabilidade climática, manifestados no superaquecimento global e aumento de
frequência de eventos extremos, tem se constituído num dos maiores desafios da
ciência, bem como o estudo de suas consequências e medidas de prevenção
(TAVARES, 2009).
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1226 - 2012
O desenvolvimento técnico-científico da sociedade no período pós-guerra
permitiu a invenção de inúmeros aparelhos para mensuração dos elementos
atmosféricos com maior confiabilidade. O lançamento de satélites meteorológicos, a
partir da década de 1960, permitiu a análise e o monitoramento minuto a minuto das
condições atmosféricas em escala regional e planetária (MENDONÇA & DANNI-
OLIVEIRA, 2007).
Na atualidade, com o aumento da velocidade do sistema de comunicação
planetário possibilitado pela Internet, inaugurou-se um período de intensa circulação
de informações, o que facilitou sobremaneira a difusão de dados meteorológicos e
climáticos. O fácil acesso a essas informações possibilitou um melhor conhecimento
da dinâmica atmosférica planetária e regional, contribuiu para a elaboração de
pesquisas e popularizou a climatologia (MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Conforme MONTEIRO (1971), o ritmo climático só poderá ser compreendido
por meio da representação concomitante dos elementos fundamentais do clima em
unidade de tempo cronológico pelo menos diária, compatíveis com a representação
da circulação atmosférica regional, geradora dos estados atmosféricos que se
sucedem e constituem o fundamento do ritmo.
Os clássicos conceitos de clima (climate, climat) revelam a preocupação com
a apreensão do que seja a característica do clima em termos do comportamento
médio dos elementos atmosféricos, tais como a média térmica, pluviométrica e de
pressão. Formulados conforme as prerrogativas da OMM (Organização
Meteorológica Mundial), alguns conceitos internalizam também a determinação
temporal cronológica para a definição de tipos climáticos, de onde as médias
estatísticas devem ser estabelecidas a partir de uma série de dados de um período
de 30 anos (MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA, 2007).
É comum haver confusão no emprego dos termos clima e tempo, como por
exemplo, quando se diz que o clima em determinado dia está quente e chuvoso,
sendo na verdade o tempo atmosférico que estaria naquelas condições (TAVARES,
2009). O tempo atmosférico é o estado momentâneo da atmosfera em um dado
instante e lugar. Entende-se por estado da atmosfera o conjunto de atributos que a
caracterizam naquele momento, tais como radiação (insolação), temperatura,
umidade (precipitação, nebulosidade, etc.) e pressão (ventos, etc.) (MENDONÇA &
DANNI-OLIVEIRA, 2007).
O clima pode ser o mais importante componente do ambiente natural, pois ele
afeta os processos geomorfológicos, os da formação dos solos e o crescimento e
desenvolvimento das plantas. Os organismos, incluindo o homem, são influenciados
pelo clima. As principais bases da vida para humanidade, principalmente, o ar, a
água, o alimento e o abrigo, dependem do clima. O ambiente atmosférico influencia
o homem e suas atividades, enquanto o homem pode, através de suas várias ações,
deliberada ou inadvertidamente, influenciar o clima (AYOADE, 1991).
Segundo MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA (2007), a evolução do sistema
produtivo, a intensificação da urbanização e a eclosão da questão ambiental
tornaram evidentes os problemas sociais derivados da degradação da qualidade de
vida e do ambiente.
A Região Bragantina do Estado de São Paulo, localizada no cone leste
paulista, geomorfologicamente no Planalto Paulistano e na Serra da Mantiqueira,
constitui uma região ainda pouco estudada do ponto de vista do ambiente climático,
caracterizado por estudos pontuais e/ou temas isolados.
A importância ambiental, social e econômica da região, que abrange as
cabeceiras de drenagem do Sistema Cantareira (maior sistema de abastecimento
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1227 - 2012
público de água da Região Metropolitana de SP) e das Bacias PCJ
(Piracicaba/Capivari/Jundiaí), além de uma crescente e dinâmica economia
(indústria, turismo, serviços e agropecuária); associados à recorrência de desastres
naturais e eventos extremos, afetando parte das comunidades locais, tomam
dimensões urgentes, justificando trabalhos técnico-científicos.
OBJETIVO
Estudar o clima da área territorial do município de Joanópolis, Estado de São
Paulo, bem como suas variações topoclimáticas causadas pelos fatores e aspectos
predominantes na Serra da Mantiqueira paulista.
MATERIAIS E MÉTODOS
Segundo MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA (2007), o clima pode ser
estudado por meio de sua dimensão espacial e de sua dimensão temporal, sendo as
duas dimensões, de forma geral, empregadas conjuntamente nos mais variados
estudos. As escalas espaciais ganham maior destaque na abordagem geográfica do
clima, sendo as mais conhecidas as escalas macroclimáticas, mesoclimáticas e
microclimáticas.
O clima local e o topoclima também se configuram em subunidades do
mesoclima. O primeiro é definido por aspectos específicos de determinados locais,
como uma grande cidade, um litoral, uma área agrícola, uma floresta, etc.; o
segundo é definido pelo relevo; ambos, entretanto, estão inseridos no clima regional
(MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Os fatores climáticos correspondem àquelas características geográficas
estáticas diversificadoras da paisagem, como latitude, altitude, relevo, vegetação,
continentalidade/maritimidade e atividades humanas (MENDONÇA & DANNI-
OLIVEIRA, 2007).
A metodologia utilizada consistiu no levantamento e análise dos dados
climáticos do município (temperatura e precipitação), associado à dinâmica da
circulação atmosférica regional. Os pontos de análise avaliaram o ambiente
climático, principalmente pela variação topoclimática imposta pelos fatores
topográficos locais, com dimensão temporal histórica e contemporânea. Os dados
analisados para a elaboração do presente estudo abrangem o período
compreendido entre os anos de 1937 e 2011.
Os dados de temperatura e precipitação do município foram obtidos das
seguintes fontes: Mapas Históricos do IAC (Instituto Agronômico de Campinas);
mapas e informações do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia); CEPAGRI-
UNICAMP (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à
Agricultura, da Universidade Estadual de Campinas); Banco de Dados
Pluviométricos do Estado de São Paulo do DAEE (Departamento de Águas e
Energia Elétrica), na página da internet do SIGRH-SP (Sistema de Informações para
o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo); SABESP
(Empresa de Saneamento Básico do Estado de São Paulo); coletas pessoais e
estudos desenvolvidos na região. Depois de compilados, corrigidos e ajustados em
planilha eletrônica, os dados foram trabalhados para obtenção dos valores médios e
outros resultados de interesse deste trabalho.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1228 - 2012
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo abrange a porção territorial correspondente ao município de
Joanópolis, localizado na Região Bragantina do Estado de São Paulo. O território do
município abrange uma área de 37.700 ha (hectares) ou 377 km² (DA SILVA, 2010).
As coordenadas geográficas da área central do município são Latitude 22º 55’
49” S Longitude 46º 16’ 30” W. A Província Geomorfológica da área de estudo é o
Planalto Atlântico, representado pela Zona Serra da Mantiqueira Ocidental (IPT,
1982).
O município de Joanópolis está localizado no setor leste da Bacia do rio
Piracicaba ou UGRHI-05 (PCJ – Piracicaba/Capivari/Jundiaí).
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1229 - 2012
altas declividades não permitiam a agricultura mecanizada. A área é englobada pelo
Bioma Mata Atlântica, de Domínio da Floresta Ombrófila Densa e Mista.
RESULTADOS
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1230 - 2012
- Massa Polar Atlântica (Pa);
- Massa Equatorial Continental (Ec), oriundo da Amazônia Ocidental.
Conforme MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA (2007), massas de ar é uma
unidade aerológica, ou seja, uma porção da atmosfera, de extensão considerável,
que possui características térmicas e higrométricas homogêneas.
As facilidades das trocas entre os sistemas tropical e intertropical na América
do Sul colocam o território paulista na faixa de conflito entre os dois. A grande
amplitude da área de flutuação da Frente Polar, do Rio do Prata ao trópico de
Capricórnio, tem justamente no território paulista, não só uma acentuada frequência
de passagens, como também sua área de oscilação e permanência, que se estende
do trópico ao Estado do Espírito Santo (MONTEIRO, 1973).
O Estado de São Paulo está em plena encruzilhada das correntes tropicais
marítimas do E-NE, das correntes polares do sul e das correntes do W-NW do
interior do continente. Este centro de choques de massa de ar alia-se à presença da
faixa limítrofe entre duas grandes regiões climáticas da vertente atlântica da América
do Sul. Justamente a transição entre o Brasil Meridional, permanentemente úmido, e
o Brasil Central, com alternância de períodos secos e úmidos bem definidos,
encontra-se o Estado de São Paulo (MONTEIRO, 1973).
Segundo MONTEIRO (1973), os mecanismos gerais de circulação
atmosférica sul-americana, pulsando sob o controle da dinâmica da Frente Polar,
trazem ao território paulista o fluxo destas três grandes correntes antagônicas –
polar atlântica, tropical atlântica e tropical continental.
Quanto aos ventos que atingem os paralelos de 20º a 24º de latitude Sul,
estes são mais frequentados nas áreas litorâneas. Esses ventos têm origem nas
Altas Pressões subtropicais, ou ventos de composição variável de ocasionais
núcleos de Altas de Inferior. A chegada de correntes perturbadas cessa a
estabilidade do tempo ensolarado (FILHO et al., 2008).
São três os principais sistemas de correntes perturbadas que chegam ao
Sudeste do Brasil: as correntes perturbadas do sul, inversão de anticiclone polar; as
correntes perturbadas de W; as correntes perturbadas de E, ondas de este (EW). As
propriedades dessas correntes perturbadas derivam de sua origem (SW para NE)
até chegar à região Sudeste (FILHO et al., 2008).
NIMER (1989) afirma que apesar de sua notável diversificação climática, o
sudeste do Brasil constitui certa unidade climatológica advinda do fato desta região
estar sob a zona onde mais frequentemente ocorre o choque entre os sistemas de
altas tropicais e o de altas polares, que se dá em equilíbrio dinâmico.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1231 - 2012
18ºC; enquanto as áreas de Serra no intervalo de 15 a 17ºC; e as áreas mais
elevadas abaixo de 15ºC. A isoieta abaixo dos 15ºC insere determinados trechos do
município entre as áreas mais frias do estado.
Quanto aos Índices Hídricos Anuais, as áreas mais baixas do município são
classificadas como Úmido e as áreas de Serra como Superúmido. A Evaporação
Potencial Anual é de 800 a 900 mm nas áreas mais baixas e de 700 a 800 mm nos
trechos de Serra. No mapa de Umidade Relativa Anual o município está localizado
na isoieta acima de 85%, inserindo o município na faixa mais úmida do estado.
Os mapas publicados pelo IAC em 1974 têm peso especial como documento
histórico, apesar de ter sido compilado de dados das poucas Estações
Meteorológicas e Postos Pluviométricos existentes na época. Ainda assim
representa uma importante fonte de consulta e classificação.
CEPAGRI-UNICAMP
O CEPAGRI-UNICAMP disponibiliza em sua página na internet
(www.cpa.unicamp.br/outras-informacoes/clima-dos-municipios-paulistas.html)
informações sobre os diferentes climas dos municípios paulistas, pela Classificação
Climática de Köppen, baseada em dados mensais pluviométricos e termométricos.
Segundo este levantamento, o estado de São Paulo abrange sete tipos climáticos
distintos, a maioria correspondente a clima úmido.
O modelo de Köppen é simples e compreende um conjunto de letras
maiúsculas e minúsculas para designar os grandes grupos climáticos, os subgrupos
ou ainda as subdivisões que indicam características especiais sazonais. Os cinco
grandes grupos climáticos principais são designados pelas letras iniciais do alfabeto
maiúsculas (A, B, C, D e E), e correspondem às regiões fundamentais, do Equador
aos Polos. Essas regiões são divididas em subgrupos, considerando a distribuição
sazonal da precipitação acrescida das características da temperatura, totalizando 24
tipos climáticos (MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA, 2007).
No caso do município de Joanópolis, este levantamento classifica no tipo
climático Cwa – Clima tropical de altitude, com chuvas no verão e seca no inverno,
com a temperatura média do mês mais quente superior a 22ºC (Figuras 2 e 4). Um
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1232 - 2012
detalhe importante é que neste levantamento o município foi classificado em suas
áreas baixas (área urbana), pelas seguintes coordenadas geográficas:
- Latitude: 22º 32’ S Longitude: 46º 09’W Altitude: 930 m.
Segundo o CEPAGRI-UNICAMP, a temperatura média anual do município é
19,2ºC e o volume médio de precipitação anual é 1.510,1 mm (Figura 3).
300,0
242,6
250,0
) 210,0 216,3
m200,0 191,2
(m 139,0
152,0
e 150,0
m
u
l 100,0 85,8 76,5 80,1
o
V 46,7 32,7 37,2
50,0
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
22,0
250,0
) 21,0 )
m C
(m
200,0 (°
20,0 a
o i
ã d Precipitação (mm)
ç 150,0 19,0 é
a
ti M Temp. Média (ºC)
.
ip 18,0 p
c 100,0 m
re e
T
P 17,0
50,0
16,0
0,0 15,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1234 - 2012
Já o segundo posto (Prefixo D3-054, Altitude 955 m), a série histórica abrange
o período compreendido entre os anos de 1952-2006 (DAEE) mais o intervalo 2009-
2011 (coletados pelo autor). Por constar de uma série de dados mais consistentes,
do posto estar localizado na atual Estação de Tratamento de Água (ETA) da
SABESP e dentro do perímetro urbano, o posto apresenta uma série histórica de 58
anos analisados (Figura 6).
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1235 - 2012
Volume de Chuva Mensal - Posto D3-054 - 955 m. -
Joanópolis/SP - Período analisado: 1952 - 2011
300,0
252,0
250,0
211,2 216,4
) 187,2
m200,0
m
( 155,9
e 150,0 138,0
m
u
l 79,0
o 100,0 83,6
V 75,8
47,4 35,2 34,2
50,0
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1236 - 2012
- Código P7, Posto Bairro dos Cunhas (Mato Mole), Altitude 900 m., Latitude
22.5940º e Longitude 46.1430º, Bacia do rio Cachoeira.
O primeiro posto (Cód. P4 – Altitude 1.180 m.) abrange o intervalo
compreendido entre os anos de 1970-2007, ou seja, 38 anos de dados consistentes
(Figura 7). O segundo posto (Cód. P7 – Altitude 900 m.) apresenta dados
compreendidos entre os anos de 1981-2007, ou seja, 27 anos de dados consistentes
(Figura 8).
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1237 - 2012
Volume de Chuva Mensal - Posto P7 SABESP - 900 m. -
Joanópolis/SP - Período analisado: 1981 - 2007
300,0
270,2
250,0 224,3
) 193,9
m200,0 179,7
m
( 156,6
141,5
e 150,0
m 97,5
u
l 100,0 76,2 86,5
o 48,0 46,5 33,9
V 50,0
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1238 - 2012
ONG Pró-Joá e obtidos recentemente, trabalhados e compilados em planilhas
secundárias. O registro diário da temperatura do ar é realizado desde o ano de 1997
(Figura 9) e os dados pluviométricos desde 1998 (Figura 10).
Ressalta-se que este posto e o registro dos dados é fruto de um esforço diário
do Sr. Susumu Yamaguchi, morador do Bairro do Pico, próximo à área urbana do
município de Joanópolis/SP, apresentando 15 anos contínuos de acompanhamento
e registro do tempo no local, com dados de temperatura do ar (média, máxima
absoluta e mínima absoluta) e volume de chuva.
A temperatura média anual (parcial – 15 anos) do Bairro do Pico é 19,8ºC e o
volume médio de precipitação anual é 1.892,0 mm. A análise dos dados permite
classificar, ainda que de forma parcial (15 anos), no tipo climático Cwb – Clima de
algumas áreas serranas, com chuvas no verão e seca no inverno, com o verão mais
ameno e temperatura média do mês mais quente inferior a 22ºC (Figura 11).
) 22,0
C 21,7 22,0 21,5
°( 21,0
a 21,4
i 20,1
d 20,0 19,4
é 20,4 20,5
M
. 19,0
p 18,6
m 18,0
e 17,5
T
17,0
17,3 17,4
16,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1239 - 2012
Volume de Chuva Mensal - Bairro do Pico - Joanópolis/SP -
Período analisado: 1998 - 2011
450,0
387,7
400,0
) 350,0 296,6
m300,0
m
( 250,0 229,4
e 212,7 193,7
m200,0
u
l 164,1
o 150,0
V 92,9 83,1 92,1
100,0
41,0 57,7 40,9
50,0
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1240 - 2012
QUADRO 6 – Informações Posto Bairro do Pico–Sr. Susumu Yamaguchi.
Temperatura Máxima Absoluta Diária: 34,0ºC (Setembro/1997)
Temperatura Mínima Absoluta Diária: 1,0ºC (Julho/2000)
Ano com maior temperatura média anual: 2002 (20,7ºC)
Ano com menor temperatura média anual: 2008 (19,3ºC)
Maior volume de chuva mensal: 646 mm (Janeiro/1999)
0 mm
Menor volume de chuva mensal:
(ocorrência em 5 meses)
Ano mais chuvoso: 2005 (2.288 mm)
Ano menos chuvoso: 2007 (1.510 mm)
Cwb – Chuva de verão /
Classificação Climática de Köppen
verão moderadamente
(parcial – 15 anos de dados):
quente
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1241 - 2012
sofridas pela direção e velocidade dos ventos. Os outros parâmetros analisados são
a precipitação, a umidade relativa e a temperatura do ar. As séries históricas dos
dados analisados compreendem anos anteriores e posteriores ao enchimento do
lago. A decisão de uma variação ser ou não significativa é tomada com base em
testes estatísticos, denominados testes de hipótese. A partir dessas análises
concluiu-se que a presença de um grande lago artificial pode alterar a circulação do
ar e o clima das regiões circunvizinhas.
SANCHES & FISCH (2005) apud SOUZA & GALVANI (2010) relatam que
existem muitas preocupações ecológicas dos impactos que a construção de grandes
lagos na Amazônia podem provocar, principalmente relacionadas ao microclima.
Este estudo visou aumentar o conhecimento científico sobre a distribuição de chuvas
antes e depois da formação do lago artificial da Usina Hidroelétrica de Tucuruí, no
Estado do Pará. Foram utilizados dados diários de precipitação dos períodos de
1972 a 1983 (pré-enchimento) e de 1984 a 1996 (pós-enchimento) para as cidades
de Tucuruí e Marabá (PA). Comparando-se os totais mensais (pré e pós-
enchimento), não se observam diferenças estatisticamente significantes (foram
aplicados os testes de Fisher e Man-Whitney). Analisando-se a ocorrência de dias
com precipitação superior a 5 e 25 mm/dia, também não se observam diferenças
estatisticamente significativas. Houve um leve aumento do número de dias com
chuvas leves no final período seco após a formação do lago, talvez devido a alta
evaporação do lago artificial. Também não se observaram modificações do início ou
final da estação chuvosa.
Segundo DA SILVA (2011), a presença do reservatório Jaguari/Jacareí na
área é responsável por um processo de retenção de umidade na região, devido ao
alto volume de evaporação do barramento.
Com o objetivo de avaliar a possibilidade da implantação do reservatório
Jaguari/Jacareí ter influenciado o microclima local, principalmente na incidência de
precipitações convectivas intensas (acima de 50 mm/dia), pois a termodinâmica
(temperatura e umidade) associada à orografia são os fatores que influenciam este
tipo de precipitação na região; foi realizada uma compilação e análise dos dados do
Posto Pluviométrico D3-054 – Altitude 955 metros (Figuras 12 e 13), na área urbana,
pela proximidade com o lago formado pelo reservatório. Os resultados da análise
estão locados nos gráficos e quadro abaixo:
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1242 - 2012
Distribuição das Chuvas Intensas - Acima de 50 mm - Joanópolis -
Posto DAEE D3-054 - 955 m - Período analisado: 1952 - 2011
35 31
30
25 25
e25
d 20
a
it 20
d 17
n15
a
u 10 10
Q10
4 3 5
5 2 0
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
Após 82 95
Até 1981 57
0 20 40 60 80 100
Quantidade
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1243 - 2012
QUADRO 7 – Informações chuvas intensas – Posto D3-054 - Joanópolis.
Quantidade de Anos e Dias da Amostragem: 58 anos (21.184 dias)
Quantidade de Anos e Dias antes da implantação
30 anos (10.958 dias)
do reservatório (até 1981):
Quantidade de Anos e Dias após a implantação do
28 anos (10.226 dias)
reservatório (após 1982):
Incidência Média de Chuvas Intensas: 2,62 dias (0,72%)
Incidência Média antes da implantação do
1,90 dia (0,52%)
reservatório (até 1981):
Incidência Média após a implantação do
3,39 dias (0,92%)
reservatório (após 1982):
Volume Médio Anual de Chuvas antes da
1.461,0 mm
implantação do reservatório (até 1981):
Volume Médio Anual de Chuvas após a implantação
1.573,1 mm (+ 7.67%)
do reservatório (após 1982):
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1244 - 2012
Distribuição das Chuvas Intensas (Acima de 50 mm) no
município de Vargem/SP - Período analisado: 1937 - 2011
35
32
30 28
25
e25
d 19
a20
d
it 15
n15
a 12
u
Q10
6 7 5 3 4
5
1
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
Após 1982 86
Até 1981 91
82 84 86 88 90 92
Quantidade
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1245 - 2012
QUADRO 8 – Informações chuvas intensas – Vargem/SP.
Quantidade de Anos e Dias da Amostragem: 73 anos (26.663 dias)
Quantidade de Anos e Dias antes da implantação
44 anos (16.071 dias)
do reservatório (até 1981):
Quantidade de Anos e Dias após a implantação
29 anos (10.592 dias)
do reservatório (após 1982):
Incidência Média de Chuvas Intensas: 2,42 dias (0,59%)
Incidência Média antes da implantação do
2,07 dias (0,57%)
reservatório (até 1981):
Incidência Média após a implantação do
2,97 dias (0,81%)
reservatório (após 1982):
Volume Médio Anual de Chuvas antes da
1.470,8 mm
implantação do reservatório (até 1981):
Volume Médio Anual de Chuvas após a
1.566,8 mm (+ 6,52%)
implantação do reservatório (após 1982)*:
*Obs.: Volume Médio Anual de Chuvas considerando apenas os dados
pluviométricos do Posto DAEE D3-018 até Março/2004.
DISCUSSÃO
PEREIRA (2007), analisando os volumes de chuva em parte do território do
município (bacia do rio Cachoeira), define que as informações mensais permitiram
identificar a sazonalidade do regime de chuvas na área de estudo. Observando os
valores das máximas, médias e mínimas para cada mês nota-se que os meses de
maior ocorrência de chuvas são janeiro, dezembro e fevereiro.
Ainda segundo PEREIRA (2007), em suma:
“As áreas com os maiores valores de ocorrência de
eventos de chuva na bacia do Cachoeira localizam-se
nas altitudes de 1.220 a 1.984 metros, demonstrando a
influência do relevo no regime de chuvas mensal das
bacias”.
Complementando o descrito anteriormente, PEREIRA (2007) explana que os
valores de altitude e ocorrência de chuvas no período mensal nas bacias também se
comportam de maneira diretamente proporcional: nas altitudes mais elevadas
ocorrem maiores valores de chuvas.
De acordo com NIMER (1989), o paralelismo das escarpas do Mar e da
Mantiqueira, opondo-se frontalmente à direção dos ventos das correntes de
circulação atmosférica perturbada, representada, sobretudo, pelas descontinuidades
polares, exerce sensível influência sobre as precipitações pluviométricas, que
crescem na proporção direta da altitude. Os níveis mais elevados da Mantiqueira
recebem em média entre 2000 e 2500 mm de chuva durante o ano.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1246 - 2012
Segundo o CBH-PCJ (2007), em toda a região das bacias hidrográficas dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (na qual Joanópolis está inclusa), predominam
os ventos do sul.
DA SILVA (2011a) descreve que o fenômeno de geada é comum no
município, principalmente nas áreas mais altas da Serra da Mantiqueira e nas
baixadas margeadas pelos cursos d’água.
NIMER (1971) afirma que vastas extensões de Minas Gerais e São Paulo
registram ocorrências de geadas, após a passagem de frentes polares (...), sendo
que as temperaturas mais baixas são registradas nas áreas mais elevadas.
Outro atributo observado na área é a frequente presença de nevoeiros e de
cobertura de nuvens nas áreas altas, expondo as áreas mais altas a um menor
tempo de insolação, comparado com as áreas baixas do município. A topografia
também influencia o volume de chuvas tanto pela ascendência orográfica da Serra
da Mantiqueira quanto pela turbulência do ar provocada pelo relevo (DA SILVA,
2011b).
A ausência de estações meteorológicas distribuídas na área do município e
com dados de longo tempo limita a interpretação dos diferentes tipos e subtipos
climáticos existentes, principalmente pela influência do relevo. Esta tese pode ser
comprovada pela interpretação dos dados do Bairro do Pico, localizada em altitudes
em torno de 1.100 metros, que, parcialmente, demonstra ser uma área de transição
entre a classificação climática Cwa (das áreas baixas do município) para Cwb (das
áreas mais altas, principalmente na Serra da Mantiqueira e nas cabeceiras dos
cursos d’água).
Segundo NIMER (1971), nas áreas mais elevadas da Serra da Mantiqueira, a
temperatura média pode ser inferior a 18ºC, pelo efeito conjugado da latitude com a
frequência de incursão das correntes polares.
Quanto aos dados pluviométricos, a existência de diversos postos
pluviométricos, com dados de longo tempo, possibilita uma interpretação mais
concreta, demonstrando a sazonalidade da distribuição das chuvas e a influência
dos fatores topoclimáticos no volume de cada região geográfica. Portanto, nas
altitudes mais elevadas ocorrem maiores valores de chuvas.
Aliado ao fator altitude, também se observa a orografia atuando como uma
forçante na ocorrência de chuvas convectivas, pois os terrenos montanhosos têm
um papel importante no início e desenvolvimento da atividade convectiva, como
demonstrado por MARSHALL & PETERSON (1980) apud VICENTE et al. (2002), em
estudo climatológico de ecos de radar. Segundo THIELEN & MCIIVEEN (1992) apud
VICENTE et al. (2002), a topografia e as características da superfície também têm
uma considerável influência na organização de tempestades convectivas.
VICENTE et al. (2002) analisaram no período de setembro a março (período
chuvoso) de 1990 a 1995, entre as 12:00 hs às 17:00 hs, os eventos mais
significativos (intensos) de precipitação convectiva na área de abrangência do radar
meteorológico de São Paulo, sendo que o município de Joanópolis foi classificado
na área denominada Serra da Mantiqueira no referido estudo. De um modo geral,
observou-se que 40% dos casos têm origem na Serra da Mantiqueira e estão
associados à orografia, sendo a região preferencial para o início da convecção,
predominantemente forçada pela orografia (VICENTE et al., 2002).
A maioria dos eventos de precipitação analisados no estudo, relativos à região
da Serra da Mantiqueira, tiveram início entre 13 e 15 hs. O tempo de vida médio dos
eventos variou de 2 a 5 hs, com predominância das durações entre 2,5 e 3,5 hs
(VICENTE et al., 2002).
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1247 - 2012
Na análise do possível impacto da implantação do reservatório Jacareí no
microclima local, do aspecto precipitações intensas (acima de 50 mm/dia), resultou
numa correlação positiva nos 2 locais analisados, próximos do lago formado pelo
reservatório (Joanópolis – área urbana e Vargem). O estudo dos dados indica que o
reservatório é responsável por um processo de retenção de umidade na região,
devido ao alto volume de evaporação do barramento, influenciando as precipitações
convectivas intensas nas áreas próximas do lago formado, elevando a incidência
média da quantidade de chuvas intensas (acima de 50 mm/dia) nos locais
analisados.
Quanto à circulação atmosférica regional, nota-se que os mecanismos gerais
de circulação atmosférica sul-americana, pulsando sob o controle da dinâmica da
Frente Polar, trazem à região o fluxo das três grandes correntes antagônicas: polar
atlântica, tropical atlântica e tropical continental. A região analisada está em plena
encruzilhada das correntes tropicais marítimas do E-NE, das correntes polares do
sul e das correntes do W-NW do interior do continente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo comprova a forte influência topográfica no clima da região, com
variações bastante relevantes, modificando inclusive os tipos e subtipos climáticos
de cada área.
A existência de vários postos pluviométricos com dados de longo termo,
distribuídos pelo território municipal, possibilitou uma análise mais precisa dos
volumes de chuva, concordando que nas maiores altitudes ocorrem os maiores
volumes de chuva anuais, bem como na sazonalidade das chuvas. No entanto, a
ausência de um bom número de estações meteorológicas (temperatura do ar), com
dados de longo tempo, impossibilita o mesmo detalhamento, mas, ainda assim,
observa-se uma relação semelhante, compartilhado pelos dados expostos nos
Mapas Históricos e na bibliografia especializada.
A análise da circulação atmosférica regional possibilita determinar a forte
influência da Frente Polar no controle climático da região, trazendo o fluxo das três
grandes correntes antagônicas, ou seja, a tropical atlântica, a tropical continental e a
polar atlântica.
Quanto à possível influência da implantação do reservatório Jaguari/Jacareí
(integrante do Sistema Cantareira) no microclima local, foi encontrada uma
correlação positiva de elevação da incidência de chuvas intensas (acima de 50
mm/dia) após a implantação do reservatório, nos postos pluviométricos próximos ao
lago formado. Recomendamos estudos mais detalhados sobre o tema, com o
objetivo de avaliar melhor este possível impacto proveniente da implantação de
grandes reservatórios.
Com relação aos desastres naturais, as etapas de preparação, prevenção e
resposta devem ser trabalhadas sob a óptica dos aspectos de conhecimento da
circulação atmosférica regional e das variáveis pluviométricas apontadas neste
estudo, como: intensidade, distribuição, ocorrência horária e influência orográfica na
pluviometria local.
REFERÊNCIAS
AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1991. 332p.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1248 - 2012
CBH PCJ. Plano de bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
para o quadriênio 2008-2011 (PBH). Piracicaba: STS-Engenharia Ltda., 2007.
655p.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1249 - 2012
NIMER, E. Clima da região Sudeste. In: Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE,
1971.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p.1250 - 2012