A Afetividade Na Formacao Da Autoestima Do Aluno

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 36

CÉLIA Mª MORAES DE SOUZA

A AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO DA AUTO-ESTIMA DO


ALUNO

Belém - Pará
2002
CÉLIA Mª MORAES DE SOUZA

A AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO DA AUTO-ESTIMA DO


ALUNO

Trabalho de Conclusão de curso apresentado

ao Curso de Pedagogia do Centro de

Ciências Humanas e Educação da UNAMA,

como requisito para obtenção do grau de

Licenciado Pleno em Pedagogia, orientado

pela Profª. Ms. Rosa Helena Nogueira

Ferreira.

Belém - Pará
2002
CÉLIA Mª MORAES DE SOUZA

A AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO DA AUTO-ESTIMA DO

ALUNO

Avaliado por:

_______________________________________

Profª. Ms. Rosa Helena N. Ferreira. (UNAMA)

Data: 29 / 10 / 2002

Belém – Pará
2002
Dedico este trabalho a Deus, que colocou em minha

vida acadêmica pessoas significativas, que

transformaram as difíceis situações em desafios para

serem superados com determinação e aprendizado.

Fazendo com que a verdadeira amizade demonstrada

seja de fato o diferencial na relação interpessoal.


A Deus, pelo dom da vida e força que representa

em minha vida estando presente durante os desafios

da caminhada.

A meus pais e familiares, em especial à minha mãe,

que sempre me encorajou, acreditando em mim e a

quem retribuo tanto afeto recebido.

Ao meu marido e filho o meu eterno agradecimento

por entenderem tantas renúncias em família, para

focalizar a busca pela formação acadêmica.

Aos meus professores que dividiram seus

conhecimentos com responsabilidade, em particular

minha orientadora profª. Ms. Rosa Helena, que com

sua competência transformou estes momentos em

grandiosos saberes.
Dizem-nos que, se dermos mais atenção sistemática à

inteligência emocional, ao aumento da

autoconsciência, a lidar mais eficientemente com

nossos sentimentos aflitivos, manter otimismo e a

perseverança apesar das frustrações, aumentar a

capacidade de empatia e envolvimento, de

cooperação e ligação social, o futuro pode ser mais

esperançoso.

Daniel Goleman
RESUMO

O texto tem como abordagem a formação da auto-estima do aluno, um tema que vem sendo visto
por alguns profissionais da educação, como o caminho para a obtenção de bons resultados
escolares e conseqüentemente, na vida adulta destes alunos. A priori são apontadas as estratégias
mais utilizadas pela escola, na figura do professor, como atitudes, que acredita, viáveis para
resolução de problemas de sala de aula. Em outro momento, tendo como base, teóricos que
tratam desse assunto, são apresentadas sugestões consideradas ideais para que, a relação
professor e aluno, contribua para o aprendizado e para a conquista da auto-estima do aluno,
através do relacionamento afetivo pautado em respeito, autonomia e compreensão entre ambos.
Esta pesquisa tem como objetivos, refletir sobre a afetividade como fator importante no
relacionamento professor e aluno, desenvolvendo análises sobre a interligação entre a
aprendizagem e a afetividade na formação da auto-estima; analisar que ações pedagógicas
favorecem a afetividade no trabalho do professor e identificar as dificuldades na relação professor
e aluno, que envolvem a questão da afetividade com a aprendizagem além de discutir a postura
do professor diante das dificuldades no relacionamento com alunos. Este trabalho foi
desenvolvido com um enfoque qualitativo e de cunho bibliográfico em que, por meio desta
metodologia, compreendi os acontecimentos históricos educacionais e as relações sociais que
indicaram a trajetória da relação professor e aluno tendo como ponto fundamental a questão
afetiva na formação do aluno e sua vinculação com o processo educacional. Através da pesquisa,
observei que a afetividade e a educação é um desafio para a aprendizagem significativa e consiste
num processo de educação para a vida, numa parceria entre professor, aluno, família e
comunidade, grupos sociais tão importantes no sucesso da aprendizagem do aluno. Confirmando
desta forma, que o funcionamento psíquico humano não é composto somente da dimensão
cognitiva, mas, também, pela dimensão fundamental de sua existência que é a afetiva. Nesta
perspectiva verifiquei que afetividade, moral e educação estão intrinsecamente ligadas na
aprendizagem. A afetividade influencia de maneira significativa à forma pela qual os seres
humanos resolvem os conflitos de natureza moral. A organização do pensamento influencia o
sentimento, e o sentir também configura a forma de pensar. Neste sentido, a afetividade perpassa
o funcionamento psíquico, assumindo papel organizativo nas ações e reações.

PALAVRAS-CHAVE: Afetividade, autoconceito, autonomia, professor-aluno.


SUMÁRIO

CAPÍTULO I – INTRODUZINDO O CAMINHO DA PESQUISA.

MEMORIAL................................................................................................................8

1.1 – Justificativa.........................................................................................................10

1.2 – Situação Problema..............................................................................................12

1.3 - Objetivos

1.3.1 – Geral.......................................................................................................13

1.3.2 – Específicos.............................................................................................13

1.4 – Metodologia........................................................................................................14

CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – A influência social na formação inicial do autoconceito....................................15

2.2 – O papel da escola na formação do autoconceito.................................................19

2.3 – A auto-estima e a aprendizagem.........................................................................22

2.4 – A necessidade de todo ser humano.....................................................................25

CAPÍTULO III – CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................29

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................34
CAPITULO I – INTRODUZINDO O CAMINHO DA PESQUISA

MEMORIAL

Ninguém nasce sabendo como será seu futuro, porém, durante seu crescimento físico,

psicológico e social, começa a ter contatos com pessoas e situações diferentes proporcionando

desta forma, a construção e identificação do indivíduo em sua personalidade e escolha

profissional.

Cresci em uma família em que meus pais sempre valorizaram a formação escolar e,

principalmente, a relação afetiva entre todos. Assim, quando chegou o momento da escolha

profissional, optei pelo magistério e comecei a estagiar em sala de aula, desde o primeiro ano do

curso. Uma experiência encantadora e com grandes desafios. O contato com a sala de aula

despertou-me curiosidade para entender por que alguns alunos apresentavam dificuldades na

aprendizagem.

Ao terminar o magistério, fui convidada pela direção do colégio para trabalhar como

professora, onde assumi uma classe de alfabetização. O trabalho em sala de aula me encantava

cada vez mais e a vontade de aprender tornava o dia-a-dia maravilhoso, com inúmeras

descobertas pessoais e profissionais.

A necessidade de fazer um curso superior surgiu quando percebi que precisava ter

conhecimentos acadêmicos para entender novas situações educativas que estavam surgindo em

minha vida profissional. As experiências com classes de alfabetização por dez anos

proporcionaram-me oportunidade de trabalhar em outros colégios, observando assim diferentes

relações entre professor e aluno.


Todavia, as inquietações aumentaram quando percebi a relação professor e aluno por

outro prisma, pois o desempenho escolar e pessoal dos alunos tinha outras dimensões quando

pautadas no respeito, carinho e principalmente quando humanizadas. Assim, decidi partir para

uma pesquisa voltada para a relação afetiva entre professor e aluno como fator fundamental para

a construção da auto-estima do aluno.


1.1 – JUSTIFICATIVA

As ciências da Educação e a Psicologia têm dado uma progressiva atenção aos estudos

da afetividade na formação da auto-estima dos alunos. Neste texto, pretendo discutir de que

forma a relação afetiva entre professor e aluno pode ajudar os alunos a desenvolverem atitudes e

pensamentos positivos que estariam contribuindo na sua auto-estima, através da valorização deste

relacionamento em sala de aula. Falar em afetividade e auto-estima é acreditar em uma educação

com relevância social e, logo, em uma escola construída a partir de respeito, compreensão e

autonomia de idéias. Uma vez que se pretende formar cidadãos honestos responsáveis, a

formação da auto-estima é fundamental para qualquer indivíduo.

A relevância do tema está em levantar uma questão que parece começar a incomodar

alguns profissionais da área educacional. Portanto, é de fundamental importância abordar que

ação pedagógica deve nortear a relação afetiva que influenciará diretamente na auto-estima do

aluno, tendo em vista diferenças individuais e comportamentais inerentes ao ser humano. Para

TIBA (1999) a auto-estima “É o sentimento que faz com que a pessoa goste de si mesma.

Aprecie o que faz e aprove suas atitudes. Trata-se de um dos mais importantes ingredientes do

nosso comportamento”. (p.157).

Como futura pedagoga, encontrei no tema afetividade e auto-estima um grande desafio

para o professor que geralmente tem em sua formação profissional, orientações voltadas, muitas

vezes, para conceitos cognitivos ou convivência com pessoas “competentes”, desconsiderando

desta forma, os conceitos afetivos necessários para a valorização da auto-estima do aluno.

Sendo assim, a escolha deste tema visa uma contribuição para fomentar maior discussão

e interesse dos pedagogos que, assim como eu, acreditam no sucesso escolar tendo como

princípio básico a afetividade em sua relação educacional e, conseqüentemente, contribuindo para


uma auto-estima positiva. Nesta perspectiva, demonstrarei que, podemos construir um ambiente

escolar pautado no respeito, favorecendo a construção da auto-estima que está intimamente ligada

à afetividade.

Ao lidar com os problemas da educação nos dias de hoje, os especialistas afirmam que

devem concentrar-se em um processo essencial: o estímulo e o reforço da auto-estima das

crianças, pois os estudos avaliam que a importância da auto-estima no bom desenvolvimento das

crianças proliferam nos países desenvolvidos, onde os problemas básicos já foram resolvidos e é

possível se concentrar nas angústia da alma.

A auto-estima é, numa abordagem simplificada, o que a pessoa sente em relação a si

mesma. Quando positiva, significa que a pessoa tem uma boa imagem de si, acredita que os

outros gostam dela e confiam em sua habilidade de lidar com desafios. Quando negativa, acha

que não merece o amor de ninguém, não acredita em seu potencial, que não é capaz, e considera

que não sabe fazer nada direito.

Na escola diante de diferentes profissionais o professor é que tem mais contato com a

criança dentro do espaço educacional, por isso, torna-se o referencial para a construção da

personalidade da criança e da sua auto-imagem, no sentido de oferecer atenção devida ao seu

desempenho escolar, fazendo com que o amor-próprio seja solidificado, pois faz parte do

processo de aprendizagem de vida e é o sentimento obrigatório em uma existência satisfatória.

A família também desempenha um papel fundamental na formação da auto-estima, e é,

em muitos casos, o primeiro grupo social que as crianças têm contato. Vale ressaltar que existem

outras construções familiares que não são tradicionalmente pai, mãe e filhos, porém a afetividade

é um fator fundamental na relação com as pessoas que estão envolvidas com o desenvolvimento

integral da criança.
1.2 – SITUAÇÃO PROBLEMA

Freqüentemente nos defrontamos com situações que refletem a ausência de práticas

pedagógicas que respeitem as diferenças existentes em sala de aula. Com isso, é cada vez mais

comum encontrarmos professores que reclamam de determinados “alunos problemas”, assim

considerados, por não conseguirem um relacionamento satisfatório dentro da sala de aula.

Sabe-se, porém, que algumas dificuldades existem nesta relação professor e aluno, e que

muitos alunos, em especial no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries, são encaminhados para o

Serviço de Orientação Escolar desde o início de sua vida de estudante, com o rótulo de

“problema”. Tendo em vista que uma grande porcentagem destes “problemas” pode ser de cunho

afetivo e que, acontecendo com certa freqüência, pode comprometer a auto-estima deste aluno,

procurei, por meio desta pesquisa, buscar respostas para questionamentos que surgiram a partir

destas observações inquietantes.

Este trabalho tem como proposta desvelar a relação existente em sala de aula na

relação professor e aluno no que diz respeito à afetividade como fator fundamental para a

valorização da auto-estima do aluno e, com isso, responder a algumas inquietações que procurei

utilizar como questões norteadoras para a pesquisa como:

Que vínculo pode existir na relação entre professor e aluno que pode influenciar na

construção da auto-estima do aluno?

Como os professores reagem diante de um aluno indiferente ou agressivo?

Existe relação entre a afetividade e a falta de interesse escolar?


1.3 – OBJETIVOS

1.3.1 – GERAL:

¾ Refletir sobre a afetividade como fator importante no relacionamento professor e aluno,

desenvolvendo análises sobre a interligação entre a aprendizagem e a afetividade na formação da

auto-estima.

1.3.2 – ESPECÍFICOS:

¾ Analisar que ações pedagógicas favorecem a afetividade no trabalho do professor.

¾ Identificar as dificuldades na relação professor e aluno, que envolvem a questão da

afetividade com a aprendizagem.

¾ Discutir a postura do professor diante de dificuldades no relacionamento com alunos.


1.4 – METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido com um estudo qualitativo de cunho bibliográfico em

que, por meio desta metodologia, compreendi os acontecimentos históricos educacionais e as

relações sociais que indicaram a trajetória da relação professor e aluno, tendo como ponto

fundamental a questão afetiva na formação do aluno e sua vinculação com o processo

educacional.

Desta forma, por buscar a análise histórico-crítica da relação professor e aluno com

observações e leituras, acredito que o contato com autores que tratam deste tema proporcionou-

me um esclarecimento maior e me oportunizou melhorias no desempenho profissional na área

educacional, haja vista que as leituras abrem as mentes e concretizam ou mudam idéias que

formamos no decorrer de nossa vida.

Para que o referencial teórico transcorresse de forma positiva e que o desafio proposto se

transformasse em um grande aprendizado, houve a necessidade de um trabalho de fichamento de

livros, textos, periódicos pesquisados, estruturação dos capítulos e análise bibliográfica. Desta

forma os autores pesquisados foram: Aminah Clark & Harris Clemes & Reynold Bean (1995),

Ana M. Bock (1998), Celso Antunes (1996), Dorothy Briggs (2000), Eliete A. Godoy (1997),

Firmino Sisto & Gislene Oliveira & Lucila Fini (2000), Gabriel Chalita (2001), Içami Tiba

(1999), Luis C. Menezes (2000), Marta Kohl (1998), Menga Ludke (1996), Maria da Glória

Seber (1997), que descrevem a respeito da relação afetiva no comprometimento da formação da

auto-estima e, conseqüentemente, o desempenho do aluno no processo ensino-aprendizagem.


CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – A INFLUÊNCIA SOCIAL NA FORMAÇÃO INICIAL DO AUTOCONCEITO

O desenvolvimento humano não está pautado somente em aspectos cognitivos, mas

também e, principalmente, em aspectos afetivos. Assim, a sala de aula é um grande laboratório

para que se observe e questione os motivos que levam o convívio escolar do professor e aluno,

muitas vezes, a ficar desgastado e sem estímulo.

Sabe-se que o ser humano tem grande necessidade de ser ouvido, acolhido e valorizado

contribuindo dessa forma para uma boa imagem de si mesmo. Neste sentido, a afetividade está

intimamente ligada à construção da auto-estima. Sendo assim, sua importância em toda relação é

fundamental para os sujeitos envolvidos. Logo, a relação entre professor e aluno, deve ser mais

próxima possível, pautada em partilha de sentimentos e respeito mútuo das diferentes idéias.

Vale ressaltar que a tarefa de educar deveria ser, para a maioria das famílias e

professores, uma função tão natural quanto respirar ou andar. No entanto, educar apresenta em

suas ações familiares e educacionais, e dentro de teorias consideradas ideais, uma complexa

tarefa a ser desempenhada.

O contato com diferentes grupos sociais possibilita a construção do autoconceito da

pessoa. A família e outras pessoas que convivem com a criança, fazem parte do seu primeiro

grupo social representando neste momento, seu contato afetivo, que pode ser positivo ou

negativo, influenciando no futuro desta criança. O autoconceito que essa criança terá de si

refletirá em suas ações e na forma como será tratada ou mesmo percebida pelos outros.

Quando a criança ingressa na escola e tem uma visão negativa de si, demonstra um

comportamento diferente dos demais colegas como, agressividade ou apatia e, na maioria das
vezes é considerado preguiçoso, desatento, irresponsável, ou seja, “aluno-problema” e,

automaticamente, encaminhada pela professora ao Serviço de Orientação Educacional, pois seu

desempenho escolar apresenta-se comprometido. Porém, a questão está relacionada a inúmeros

fatores, inclusive, no autoconceito que este aluno faz de si, quando não acredita no seu potencial

de resolver situações desafiadoras e desanima no primeiro obstáculo que encontra.

Por isso, a escola, enquanto segmento de grupo social que constrói diferentes relações,

deve propiciar melhores condições de aprendizagem, selecionando atividades e posturas

necessárias, que promovam o resgate da auto-estima do aluno. Para OLIVEIRA (1998), o aspecto

afetivo tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele pode acelerar ou

diminuir o ritmo de desenvolvimento, e determinar sobre que conteúdos a atividade intelectual se

concentrará e, na teoria de Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois

componentes: um cognitivo e outro afetivo que, desenvolvem-se paralelamente. Afeto inclui

sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e emoções em geral.

O afeto apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos (amor, raiva,

tristeza...) e aspectos expressivos (sorrisos, gritos, lágrimas...). Para SEBER (1997), dentro da

teoria de Piaget, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência e, é

responsável pela ativação intelectual. Com suas capacidades afetivas e cognitivas expandidas

através da contínua construção, as crianças tornam-se capazes de investir afeto e ter sentimentos

validados nelas mesmas. Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a

motivação ou interesse da criança para aprender. O afeto é o princípio norteador da auto-estima.

Desenvolvido o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina tornam-se

conquistas significativas para o autocontrole do aluno e seu bem estar escolar.Percebe-se uma

forte relação entre professor e aluno, influenciando na formação da auto-estima, pois o professor
que não tem amor pela profissão, e apresenta diferentes reações diante de um aluno indiferente ou

agressivo, pode comprometer o desenvolvimento escolar da turma.

Segundo BEAN et al, (1995), a auto-estima afeta o aprendizado. As pesquisas sobre a

auto-imagem e o desempenho escolar mostram a forte relação entre a auto-estima e a capacidade

de aprender. A elevada auto-estima estimula a aprendizagem. O aluno que goza de elevada auto-

estima aprende com mais alegria e facilidade. Enfrenta as novas tarefas de aprendizagem com

confiança e entusiasmo. Seu desempenho tende a ser um sucesso, pois a reflexão e o sentimento

precedem a ação, demonstrando “firmeza” e expectativas positivas, diferente de um que se sente

incompetente, fracassado.

O desempenho bem-sucedido reforça seus bons sentimentos. A cada sucesso alcançado,

ele se considera mais competente. Sua capacidade de enfrentar desafios é maior e mais saudável

psicologicamente do que daquele que tem uma visão negativa de si, pois acha-se um derrotado e

teme situações que possam expor seus pensamentos e sentimentos.

Teóricos da educação, educadores e autores tratam da afetividade como fator

preponderante para a construção do autoconceito do aluno. Ela vem sendo abordada com mais

intensidade, porque a violência, a agressividade e o desrespeito vivido hoje pela maioria das

pessoas podem ter causas de fundo afetivo, por conta da falta de valorização da pessoa como ser

humano. Desta forma, inevitavelmente, seu autoconceito é alterado.

OLIVEIRA (1998), aborda as idéias de Vygotsky que sempre se preocupou com o

aprendizado inserido no desenvolvimento sócio-histórico da pessoa como um processo que

apresenta diferentes fases que estão interligadas entre si. Independentemente da fase que esteja

vivendo, o ser humano está convivendo com grupos diversificados de pessoas que, contribuem a

todo o momento com a construção de sua auto-estima.


Na tentativa de mudanças das práticas pedagógicas, algumas escolas começam a investir

na formação do professor, buscando referenciais teóricos que auxiliem no desempenho do aluno

no processo ensino-aprendizagem, tendo como base a afetividade como resgate da auto-estima,

procurando assim atenuar as dificuldades de aprendizagem como de relacionamentos

interpessoais encontradas pelos alunos.

Observa-se que cada vez mais os casos de agressões e desrespeitos verbais entre alunos

e professores vêm aumentando nas escolas e na comunidade externa, despertando, em alguns

educadores e pais, a preocupação em resgatar nestes alunos e professores uma relação de

afetividade considerada fundamental para que situações como estas sejam superadas.

Para SISTO (2000), a pesquisa realizada com jovens da cidade de Campinas foi uma

considerável colaboração para os estudos sobre afetividade, pois teve como objetivo verificar se a

auto-estima pode ser alterada numa situação de provação. A pesquisa também observa que,

durante todas as fases da vida, desde a infância, a adolescência e a fase adulta a auto-estima passa

por mudanças, ocasionadas pelas situações e pelo próprio contexto social vivido.

Ninguém nasce bom ou mau, porém o autoconceito que cada um tem de si e a visão que

o próprio mundo tem de cada pessoa, faz com que ela acredite nesta imagem e viva como tal.

Assim, a pessoa marginalizada, discriminada, sente a rejeição em sua vida e passa a considerar-se

inferior aos outros e na maioria das vezes pessimista, tornando-se muitas vezes agressiva, hostil

ou indiferente, apática. Em contrapartida, a pessoa que é amada e em quem depositamos

confiança cresce com uma imagem positiva e enfrenta os desafios que surgem com mais

otimismo e segurança. Demonstra alegria, determinação e afetividade nos relacionamentos que

constrói, vendo-se em cada ser humano que encontra pela frente.


2.2 – O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DO AUTOCONCEITO

O papel da escola, enquanto relação professor e aluno, é de suma importância para que a

formação da auto-estima seja pautada em segurança, autonomia de idéias, conceitos que o próprio

aluno tenha de si e que contribuem para seu desempenho escolar e de sua vida como um todo.

A questão da afetividade e auto-estima é uma preocupação mundial. Todos os segmentos

da sociedade têm essas abordagens em seus discursos e buscam práticas que possam condizer

com o que acreditam verdadeiramente. A afetividade no trato com as pessoas é um pressuposto

do que autores referem-se como o resgate a valores humanos esquecidos por nós que estamos

envolvidos com a agitação do dia-a-dia.

Acreditando nisto, ANTUNES (1996, p.56) afirma que a relação professor e aluno deve

ser baseada em afetividade e sinceridade, pois:

Se um professor assume aulas para uma classe e crê que ela não aprenderá, então está
certo e ela terá imensas dificuldades. Se ao invés disso, ele crê no desempenho da classe,
ele conseguirá uma mudança, porque o cérebro humano é muito sensível a essa
expectativa sobre o desempenho.

Como se pode ver a escola, como parte integrante e fundamental em uma sociedade, não

pode ficar alheia a esta busca. Entretanto, apropria-se de pensamentos de teóricos como

WALLON, PIAGET e VYGOTSKY, para basear suas ações pedagógicas e transformar a relação

professor e aluno em um momento mais rico no processo ensino-aprendizagem.

Tais conhecimentos perdem sua validade quando professores e técnicos não estão

comprometidos com mudanças em suas idéias tradicionais ou posturas, que trazem ranços de

práticas escolares que apenas depositam informações nos alunos, desconsiderando assim a

afetividade no processo ensino-aprendizagem.


Diante disso, é preocupante o número de casos que mostram alunos envolvidos em

agressões entre colegas ou discussões com professores, casos estes, que observados em sua

essência, demonstram carência afetiva, demonstrando que o conceito que o aluno tem de si é

negativo.

Sabe-se, no entanto, que a escola não é a solução para todas as dificuldades existentes do

ser humano, porém, como órgão educacional que tem como uma de suas funções a formação do

cidadão como sujeito construtor do seu contexto histórico, pode e deve contribuir para mudanças

significativas na relação professor e aluno, pois, além da sala de aula que oferece conteúdos e

provas, a afetividade está presente em cada ação e busca seu espaço no espelho que a turma

repassa aos técnicos quando dispõem do diário de notas, conselho de classes, conselho escolar e

tantos outros instrumentos e setores que retratam esta relação.

Para TIBA (1999), cuidar é mais que um ato, é uma atitude, portanto abrange mais que

um momento de atenção, de zelo e desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação,

responsabilização e envolvimento afetivo. Por isto, é preciso cuidar da terra antes e depois da

semente ser lançada, para que a planta possa crescer, florescer e dar bons frutos.

Por conseguinte, para a construção da auto-estima é necessário buscar a

responsabilidade e não a culpa, criar um clima de confiança que faça com que a pessoa sinta-se

genuinamente aceita, compreendida e respeitada, sentimentos que ajudam a trabalhar núcleos

emocionais que bloqueiam condutas inadequadas. Os educadores sabem que as crianças

aprendem melhor quando estão satisfeitas com elas mesmas e que bons sentimentos são

importantes.

No entanto, alguns professores desconhecem seu papel de “espelho” dentro de uma sala

de aula, esquecendo que seus alunos os admiram e estão preocupados em ser iguais a eles,

acabando por imitá-los em suas atitudes e até pensamentos. Se os professores percebessem essa
imitação sem dúvida procurariam policiar suas palavras e posturas. Que maravilhoso seria se

professores e alunos pudessem espelhar-se em fatos e pessoas positivas, que emanassem

confiança, autonomia e sinceridade.

Esperam-se mudanças na educação a partir de conscientização de novas metodologias

que insiram cada vez mais o aluno em uma vida escolar que retrate sua realidade e que busque a

contextualização, porém, olhando-se de outro prisma, a solução para a educação pode estar no

afeto. Afeto este que inclua, que proporcione crescimento e valorização do ser humano e

reconhecimento pessoal como sujeito ativo na construção da história.

Mais do que aula, muitas vezes o aluno vai para a sala de aula em busca de respostas que

esclareçam o seu verdadeiro papel na sociedade. Considera esta escola, como grupo social que

pode contribuir para sua formação como cidadão e, na maioria das vezes, o professor não se

preocupa com o “tipo” de aluno que está convivendo, muito menos, em estabelecer um vínculo

afetivo mais forte nesta relação favorecendo atitudes positivas que favoreçam na formação da

auto-estima do aluno.

Neste sentido, a emoção será compreendida dependendo da ativação ou redução da

afetividade, no entanto, o autocontrole não é uma habilidade que se desenvolve “naturalmente”

dada à maturação temporal da criança. Todas precisam de uma aprendizagem específica, pois

uma relação é algo que se constrói dia-a-dia, no entendimento de si e do outro.

Por isso, é preciso que se tenha cuidado com as palavras escolhidas para a comunicação,

levando em consideração o tom de voz que deve ser firme e não acusador e padrões de linguagem

que encorajem a auto-avaliação e o automonitoramento por parte da própria criança, fazendo com

que ela aprenda a amar-se, conhecendo seus limites pedindo ajuda quando necessário.
2.3 – A AUTO-ESTIMA E A APRENDIZAGEM

Aprender o valor do autocontrole na infância não significa apenas ser passivo, pelo

contrário, significa ter capacidade de discriminar os contextos apropriados para falar, brincar,

rir... É preciso aproveitar o melhor das possibilidades da infância nas diferentes situações, de

forma a beneficiar-se com o que tais situações podem proporcionar ao seu desenvolvimento.

Crianças não aprendem sozinhas, precisam de apoio para aprenderem a manter seu

comportamento direcionado a uma meta, com aprendizagem consistente de valores que as guiem.

Segundo BRIGGS (2000), a auto-estima das crianças não é formada unicamente em uma

fase, mas eternamente construída e sujeita a mudanças, por isso a base familiar e escolar desta

criança deve ser segura e confiante para que possa superar as dificuldades da vida com mais

facilidade.

A escola está, a todo o momento, buscando mudanças para que possa melhorar a

qualidade do ensino e, o professor em sua formação continuada tem contato com novas

metodologias que sugerem o respeito pela produção do aluno, valorizando o que consegue fazer e

incentivando o que pode vir a fazer.

Necessariamente o professor deve rever as práticas pedagógicas que apenas preocupam-

se com o conteúdo a ser trabalhado, avaliando somente o lado cognitivo, e com isso, desprezando

o que o aluno tem a oferecer ou precisa receber, que é a afetividade nesta relação, favorecendo

assim, um melhor desempenho.

No entanto, alguns professores temem esta mudança na postura por considerar

liberalismo sem repressão, despertando no aluno a rebeldia, agressividade por não referencial de

limites, porém, o que se pretende não é tirar a autoridade pedagógica do professor, mas sim, o

autoritarismo que faz da relação escolar, um momento de dor, medo e lembranças tristes.
Neste momento, observa-se que todos nós lembramos de alguns professores que

marcaram nossa vida, uns de maneira alegre e amorosa, outros de forma dolorosa, por ter nos

feito passar por situações vexatórias ou humilhantes diante da turma, fazendo com que a figura

do mesmo se tornasse monstruosa.

É obvio que a afetividade tem grande influência em nossa vida, pois quem gosta de ser

maltratado por outra pessoa em uma loja, no cinema? E de ser chamado atenção de maneira

grossa na frente de outras pessoas? Ninguém nasceu para sofrer ou fazer outro sofrer. Desta

forma, o aluno também tem o direito de receber tratamento que o respeite enquanto cidadão e que

trate o outro da forma como vem recebendo atenção.

Vale ressaltar que, todas relações iniciam a partir do momento que as limitações de um

são respeitadas, o que favorece o reconhecimento das limitações do outro. A afetividade nas

relações deve ser recíproca e permeada em valores verdadeiramente humanos.

Ensinar e aprender é o estabelecimento de uma relação de causa e efeito, é produto da

troca das informações e das experiências pessoais entre aprendiz e mestre. Nessa troca ninguém

sai ileso e os resultados serão marcantes e especiais, na medida em que marcantes e especiais

forem o empenho, a responsabilidade e as influências mútuas de quem ensina aprendendo e de

quem aprende se educando.

Neste relacionamento educador-educando o vínculo afetivo será um grande facilitador

no processo de ensino aprendizagem, pois, pela criação de um forte vínculo afetivo, a criança não

se sentirá sozinha, facilitando, assim, seu aprendizado. Certamente o clima criado será de prazer,

acolhimento, alegria, companheirismo, ou seja, prazerosamente o conteúdo será apresentado, as

dificuldades serão percebidas e acolhidas como parte do processo, auxiliando-a, desta forma, na

superação das dificuldades.


A criança interage livremente com aquilo que descobre à sua volta, sem a influência de

idéias preconcebidas. Manipula, experimenta e explora. A criança, cuja curiosidade é aceita como

válida, recebe a luz verde para aprender.

Infelizmente, algumas crianças aprendem muito cedo a não aprender. Como isto

acontece? É comum a criança utilizar determinado brinquedo ou produtos de outra forma, pois a

curiosidade faz com que esta manipulação seja guiada pela imaginação; porém, por uma questão

de segurança, as investigações devem ser, em certos casos, limitadas, mas as freqüências

excessivas destas limitações são desnecessárias. Suas necessidades de descobrir não encontram

apoio e a curiosidade é eliminada para evitar a desaprovação.

Logo, a indagação e a experimentação do desconhecido formam a base do progresso em

todos os campos. Se essas qualidades, que existem em todas as crianças forem eliminadas, elas

sentir-se-ão diminuídas por desejar saber e serem tolidas.

As crianças não só precisam de uma atmosfera que estimule a curiosidade e a

exploração, como também precisam de amplos contatos com uma grande variedade de

experiências. Para BRIGSS (2000, p.162), “Toda criança precisa do máximo de experiência

direta possível. Só dessa maneira ela pode chegar a conhecer o seu ambiente pessoal”.

As escolas oferecem, evidentemente, grande ênfase à palavra falada e a escrita, uma

prática utilizada no lar, que desenvolve uma habilidade muito valorizada na escola, a linguagem

escrita. No entanto, podemos estimular a criança a falar através dos exemplos familiares

respeitando as suas idéias e sentimentos. A comunicação realmente aberta só floresce num clima

de segurança.
2.4 – A NECESSIDADE DE TODO SER HUMANO.

Saber ouvir alguém, pensar a respeito do que foi dito por essa pessoa, é uma forma de

valorizar aquilo que ela falou, é a melhor maneira de iniciar um relacionamento, pois, todas as

pessoas têm necessidade de ser ouvidas. Assim, quando se age desta maneira, caminha-se na

direção de um diálogo franco, aberto, tendo oportunidade de descobrir o que a outra pessoa

realmente quer.

A maior dificuldade encontrada em sala de aula está relacionada à necessidade que os

alunos têm de serem ouvidos, respeitados em suas idéias e como sujeitos construtores da história

cultural. Logo, apresentam comportamentos diferenciados para serem notados e assim,

conseguirem a atenção do outro, geralmente, do professor.

Uma prática que está se tornando comum em algumas escolas é de encaminhar a criança

que apresenta este comportamento ao Serviço de Orientação Educacional (SOE). O orientador ao

ouvir essa criança sabe que seu retorno à sala será com outra postura, haja vista que conseguiu ser

ouvido e trocou idéias com o outro, atitude esta que o faz sentir respeitado.

Sabe-se que não se pode atribuir a todo tipo de inadequação em sala de aula do aluno um

problema de auto-estima, porém, em sua grande maioria é a razão das dificuldades nos

relacionamentos. Por isso, a necessidade de valorização pessoal de cada um contribui para um

bom desempenho do aluno quer na vida escolar como pessoal.

Vale ressaltar que sempre que a criança apresenta alguma dificuldade em aprender é

importante descobrir a causa. A criança, cujas necessidades emocionais não são satisfeitas, tem

menos probabilidade de conseguir êxito na escola. O homem com fome, não tem motivação para

aprender. Ele tem, primeiro, que matar sua fome para depois se concentrar no estudo. A criança

que está convencida de ser um fracasso tem pouca motivação para tentar. E a criança com um
acúmulo de repressão, não tem muita energia para enfrentar os desafios da escola, porém, os

desafios tornam-se interessantes quando se pode enfrentá-los e a autoconfiança é o primeiro

segredo do sucesso.

BRIGGS (2000, p.169) afirma em suas observações e análises que, “a causa mais

comum do bloqueio ao aprendizado, particularmente em crianças de famílias da classe média,

vem da pressão indevida que sofrem para atingir certas metas que estão além de sua capacidade”.

Todavia o excesso de ambição é recebido pela criança como falta de

aceitação.Expectativas muito altas significam decepções grandes. E as decepções prejudicam a

auto-estima. Elas acabam com a energia e a criança passa a ter menos interesse e curiosidade.

Outro obstáculo ao crescimento intelectual é uma disciplina tolerante, protetora ou rígida

demais. Os pais dominadores aumentam a hostilidade, a dependência e a inadequação –

sentimentos que bloqueiam o funcionamento intelectual. Pais excessivamente protetores, ou pais

que se recusam a estabelecer limitações fazem com que as crianças se sintam incapazes e não

amadas. Essas atitudes são negativas para a auto-estima, que por sua vez afeta a motivação de

aprender.

A disciplina democrática desenvolve o crescimento intelectual, estimulando a

participação, o raciocínio, o pensamento criativo e a responsabilidade. A divisão do poder no

estabelecimento de regras tem um papel importante no estímulo à competência mental. O estudo

de Goleman abordado por BRIGGS (2000, p.172), mostra que o maior fator para motivar a

criança a aprender é a imagem que tem de si, é o sentimento de que “Eu tenho um certo controle

do meu destino”.

Verificou-se também nesse estudo que as crianças que apresentavam facilidade em

aprender, tinham sua autoconfiança intensificada a medida que essa facilidade aumentava com o

tempo. Elas tinham confiança, a certeza de serem amadas, estavam à vontade com os outros,
pensavam de maneira mais original. Em suma, apresentavam as características de uma elevada

auto-estima.

Entretanto, as crianças que eram dependentes, menos seguras de ser amadas, menos

capazes de participar de projetos próprios, e que precisavam de muita atenção, apresentaram

dificuldades de aprender.

Diante do estudo, observou-se que uma auto-estima elevada afeta acentuadamente o

modo pelo qual a criança utiliza as habilidades de que dispõe. É certo que outro obstáculo ao

aprendizado surge quando as linhas de comunicação estão obstruídas, ou fechadas.

As crianças que se saem bem em suas atividades escolares, vêm, em geral, de famílias

onde há muita comunicação. Quando pais e filhos interessam-se carinhosamente pelas atividades

mútuas e, quando os filhos se sentem seguros em partilhar suas idéias e seus sentimentos, o

crescimento cognitivo e emocional é estimulado.

Ao examinar os obstáculos do aprendizado não se pode desconhecer a importância das

boas escolas, dos professores influentes e dos currículos flexíveis, ligados aos interesses das

crianças. As crianças autoconfiantes e motivadas podem perder o estímulo de aprender quando se

vêem em salas de aula muito cheias, com professores incompetentes que usam metodologias

ultrapassadas.

Além disso, quando as crianças têm uma participação ativa nas atividades escolares que

estão de acordo com seus interesses, elas reagem de maneira muito diferente do que quando são

tratadas como simples recipientes vazios, onde se despeja o conhecimento velho dos manuais.

A compreensão das coisas que atingem as crianças proporciona um instrumento para

verificar o clima que lhe é oferecido, o que pode detectar áreas que precisam ser mudadas. E, o

que é mais importante, contribui muito para poupar os professores e as crianças dos resultados de

uma atitude baseada na tentativa e erro, na experimentação.


BRIGGS (2000, p.7) define a importância da afetividade na vida de uma criança como:

“Ajudar as crianças a desenvolver sua auto-estima é a chave de uma aprendizagem bem-

sucedida”. Logo, as intenções dos professores terão maiores possibilidades de se concretizarem

se as convivências com os alunos lhes proporcionarem satisfação por serem quem são. Não se

pode desconhecer, ou ignorar, a característica mais importante da criança – seu grau de auto-

respeito.

Geralmente pais e professores querem evitar o mau comportamento das crianças sempre

que possível. A vida é mais agradável, para eles e para as crianças, sem tal comportamento. A

disciplina é um assunto muito importante e, se souber que o comportamento corresponde à auto-

imagem, poderá ver que uma das causas do mau comportamento é um autoconceito negativo. A

criança que se considera má modela seus atos para que se enquadrem nesta concepção. Ela

desempenha o papel que lhe é atribuído.

Normalmente, quanto pior o comportamento da criança, mais ela é censurada, punida ou

rejeitada. E, em conseqüência, mais profunda se torna a sua convicção íntima de que é “má”. O

mau comportamento crônico pode se basear numa visão deformada do eu, embora uma auto-

estima precária não seja a única causa do mau comportamento.


CAPÍTULO III – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar na construção de uma sociedade escolar mais justa e solidária é refletir sobre os

valores e afetos que fazem a diferença humana nas relações escolares no dia-a-dia. Através deste

estudo foi possível confirmar as expectativas sobre a educação que MENEZES (2000, p.13)

acredita como, “a boa educação é aquela que promove gostosamente a diferença humana,

preparando para a vida”.

Nesta perspectiva verifiquei que afetividade, moral e educação estão intrinsecamente

ligadas à aprendizagem. A afetividade influencia de maneira significativa a forma pela qual os

seres humanos resolvem os conflitos de natureza moral. A organização do pensamento

prepondera o sentimento, e o sentir também configura a forma de pensar. Nesse sentido, a

afetividade perpassa o funcionamento psíquico, assumindo papel organizativo nas ações e

reações.

Ao destacar a capacidade moral autônoma de resolver os conflitos do cotidiano, busca-se

pensar em uma escola que trabalhe o estado emocional de todos os profissionais de forma

positiva, baseada na confiança, respeito, satisfação interna, para assim desempenhar de maneira

eficiente seu papel.

Família e escola devem trabalhar juntas para ajudar a criança a desenvolver todas as

partes de si mesma, de modo a ser livre para aprender e criar. Só o respeito à sua total

originalidade permite à criança o desenvolvimento da própria capacidade individual.

A criança precoce ou não, aproveitará o apoio e a conversa franca sobre o seu

crescimento. As crianças que se desenvolvem mais devagar irão se beneficiar muito com o

desenvolvimento de habilidades específicas. A competência compensa o “fracasso” de um corpo

franzino, ou de crescimento lento.


Apesar da consciência e das habilidades, a criança poderá se lamentar sobre seu

desenvolvimento se esse estiver visivelmente em desacordo com o de seus companheiros. Logo, a

apreciação da natureza humana é fundamental para a auto-estima na vida de toda criança. Vale

ressaltar que, os seres humanos adaptam-se e ajustam-se até mesmo aos ambientes psicológicos

mais desfavoráveis, portanto, a tendência para um desenvolvimento sadio floresce até mesmo nas

pessoas que tiveram poucos estímulos psicológicos e que já estão em idade avançada.

Algumas escolas adotam ainda práticas que valorizam o crescimento cognitivo dos

alunos desconsiderando o emocional, por isso as crianças terão mais probabilidade de efetuar o

que prometem se participarem de num clima que lhes permitam crescer no memento adequado, à

sua própria maneira.

As crianças precisam de compreensão afetiva quando atravessar o difícil caminho da

dependência para a independência. Se forem dados os elementos básicos necessários, elas só

terão como alternativa gostar de si próprias.

Vale ressaltar que a criança saudável é verdadeira consigo mesma, o que lhe assegura a

integridade pessoal. Ela faz o que pode com o que tem e isso lhe dá uma paz interior. Há um

ditado popular que diz: “Eu não posso estar bem com alguém se não estou bem comigo mesmo”.

O que a criança sente em relação a si mesma afeta seu modo de viver. Uma auto-estima elevada

baseia-se na convicção que a criança tem que ser amada e valorizada, precisando saber que é

importante justamente porque existe.

Ao sentir-se competente para lidar consigo mesma e com o ambiente que a cerca, a

criança percebe que tem algo para oferecer aos outros, por isso a auto-estima elevada não é

pretensão: é a tranqüila aceitação da criança em ser quem é.

É fundamental que os professores saibam que toda a criança tem o potencial de gostar de

si mesma, e que aprende a ver a si mesma tal qual as pessoas importantes que a cercam a vêem,
pois, ela constrói sua auto-imagem a partir das palavras, da linguagem corporal, das atitudes e

dos julgamentos dos outros.

A promoção da afetividade é um terreno em que se torna difícil propor sugestões já que

as necessidades das crianças são diferentes. Assim, por exemplo, o que é útil para uma criança

impulsiva pode não ser para uma inibida, daí a necessidade do uso de recursos e metodologias

variadas pelo professor.

Neste sentido, a escola deve ser um ambiente aberto ao debate da cidadania, da

liberdade, da responsabilidade, da justiça social, do respeito. Uma organização que aprende e que

e que seja capaz de ensinar. O aluno deve apresentar um comportamento ativo e livre no processo

de aprendizagem, dando-lhe uma sensação de autodireção e decisão.

As escolas devem também se preocupar com a formação deste professor que hoje tem

um perfil de mediador, de orientador no processo ensino-aprendizagem, buscando ou formando

profissionais que incluam em sua visão educacional a dimensão emocional como fundamental

para o bom desempenho do aluno.

GODOY (1997, p.35) descreve a importância de alguns aspectos que propiciam o

aprender como:

Aspectos como autoconhecimento, autonomia e auto-regulação de condutas são um


desafio para qualquer educador, mas não se pode considerar como impossíveis se serem
trabalhadas quando se propiciem atividades de reflexão sobre o autoconhecimento e
auto-aceitação.

Essas e outras atividades podem ser inseridas no dia-a-dia escolar sem riscos de

prejuízos ao desenvolvimento dos conteúdos programáticos, acrescentando e enriquecendo

conteúdos. É fundamental valorizar a atividade docente como um ato de amor e competência. A

formação pela vida e para a vida perpassa caminhos complexos.


Somente a partir do conhecimento e do comprometimento é que construiremos um

futuro melhor, mais amável e lúdico, com pessoas cada vez mais humanas, completas em todos

os seus aspectos (afetivo, social, cognitivo etc.).

É importante ressaltar que o funcionamento psíquico humano não é composto somente

pelos aspectos cognitivos, mas que os sentimentos e emoções também configuram o pensamento.

Quanto mais humanos formos maior será a nossa capacidade de amar, mais divino nos

tornaremos.

A mente humana é o depósito de todas as experiências, de todos os condicionamentos

que são delineados perante as exigências impostas. Faz parte da natureza errar: o grande desafio é

saber aceitar as limitações e amar outros seres tão imperfeitos quanto nós.

Em um mundo cada vez mais conturbado, que exige uma formação maior dos

profissionais da educação responsáveis pela educação moral e afetiva do ser humano, conseguir

manter princípios coerentes, na forma de pensar sobre os desafios para a aprendizagem

significativa, pode ser uma arma poderosa na mão de educadores conscientes de seu papel na

sociedade.

Ter como características pessoais a manutenção de estados emocionais positivos,

alegres, satisfeitos e felizes podem trazer conseqüências benéficas para a educação e para os

alunos de maneira específica. Por outro lado, pessoas infelizes, tristes, tendem a demonstrar

maior instabilidade em sua forma de resolver conflitos de natureza moral.

Em suma, hoje pensamos que educar significa também preocupar-se com a construção e

organização da dimensão afetiva das pessoas, afinal a escola, para cumprir seu papel, deve ser um

lugar de vida e, sobretudo, de sucesso e realização pessoal para alunos e professores. A

experiência entre professor e aluno promove o ser, reduz a angústia, facilita os acertos da vida,
conduzindo-os a vencer desafios da afetividade e educação na conquista da aprendizagem

significativa.

Diante disso, observa-se que as crianças que vivem com expectativas realistas, encontros

autênticos, cooperação nas tarefas da individualidade, aceitação compreensiva de todos os

sentimentos, mesmo quando se limitam os atos e, disciplina democrática, se sentirão amadas.

Com esta sólida base interior, o potencial se expandirá, as crianças serão motivadas,

criativas e terão um objetivo na vida. Elas se relacionarão bem com os outros, terão paz interior,

resistência às tensões, e maior oportunidade de realizar seus desejos. E é pela forma de

relacionar-se com o outro que imaginamos como as pessoas são e sua influência dos

relacionamentos infantis e juvenis na vida adulta.

Ao admirarmos toda magnitude de um iceberg, com seus blocos de gelo submersos nas

águas mostrando sua resistência ou sua fragilidade diante dos intempéries da natureza, não

imaginamos que sua formação inicial está em sua base. Ela determinará seu tempo de existência e

como será observado pelas pessoas.

Assim é o ser humano. Quando observamos suas atitudes, sua visão de mundo, sua

forma de resolver diferentes situações não imaginamos o seu interior, sua base de formação que

influenciou seu modo de ser, sua maneira de valorizar o outro.

Para BRIGGS (2000, p.27) “A chave da paz interior e da vida feliz é a auto-estima

elevada, pois é ela que está por trás de todo relacionamento bem-sucedido com os outros”.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Celso. Alfabetização Emocional. São Paulo: Terra, 1996.

BEAN, Reynold et al. Adolescentes Seguros: Como aumentar a auto-estima dos jovens. São
Paulo: Gente, 1995.

BOCK, Ana M. Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo:
Saraiva, 1998.

BRIGGS, Dorothy C. A auto-estima do seu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001.

GODOY, Eliete Aparecida de. Educação, afetividade e moral. Revista Educação e Ensino –
USF. Bragança Paulista: v. 2. n. 1. p. 35. jan/jun., 1997.

LUDKE, Menga. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1996.

MENEZES, Luís Carlos. Os Novos Rumos da Educação. Revista Impressão Pedagógica.


Campinas.São Paulo: Gráfica Expoente. v.9.n.21. mar/abr., 2000.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-


histórico. São Paulo: Scipione, 1998.

SEBER, Maria da Glória. Piaget: O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.


São Paulo: Scipione, 1997.

SISTO, Fernandes Firmino et al. Leitura de Psicologias para formação de Professores. Rio de
Janeiro: Vozes, 2000.

TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. São Paulo: Gente, 1999.

Você também pode gostar