13 Insights Da Troiano Branding

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introdução
O ano que se inicia será muito especial para nós. Em 2013, o Grupo
Troiano de Branding completa 20 anos. É muito gratificante olhar para
trás e ver que por nossa empresa já passaram mais de mil marcas, de
diferentes setores da economia, e que nos alimentaram com os mais
diversos desafios do universo de Branding.

Precisamos admitir que celebrar 20 primaveras nos garante certa


sensação de maturidade e muito orgulho por termos sido uma
empresa pioneira, a primeira 100% dedicada à gestão de marcas no
Brasil. No entanto, é inegável que continuamos sendo movidos pela
mesma inquietação e curiosidade que tínhamos no momento em
que cada uma das empresas nasceu.

O Brasil, o mundo e também os consumidores mudaram muito


ao longo desses 20 anos. E, junto com eles, nós também mudamos
e fomos nos tornando melhores a cada dia, fruto de nossa eterna
vontade de compreender e olhar criticamente as movimentações da
sociedade que nos cerca.

Os profissionais que compõem as três empresas do Grupo Troiano


de Branding, Troiano, BrightHouse Brasil e a Brands & Values, são um
reflexo disso. Administradores, antropólogos, engenheiros, psicólogos,
sociólogos, publicitários e designers. Brasileiros, franceses, americanos,
italianos e portugueses. Pessoas que pensam, criam, estudam e
realizam. E que têm contribuído, cada uma com seu olhar particular,
para que nunca nos acomodemos em fórmulas prontas, pensamentos
antigos e engessados.

O conjunto de textos deste livro é resultado de algumas das


inquietações que nos moveram recentemente e uma pequena
contribuição de alguns de nós para inspirá-los em 2013.

Boa leitura!

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Grupo Troiano de Branding P5
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ÍNDICE 13INSIGHTS

1 “POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS”:


UMA HISTÓRIA SOBRE MULHERES E TECNOLOGIA
Ana Luisa Negreiros, Ana Paula Moraes, Camila Melo, Patricia Valério e Paula Valério P09

2 A ERA DAS MARCAS CORPORATIVAS


Ricardo Klein P17

3 HERMÈS, PRADA, MERCEDES-BENZ, TIFFANY…


AGRADECEM À CLASSE C
Marie-Océane Gazurek e Jaime Troiano P21

4 AULAS DE AMOR COM JULIA


Ana Luisa Negreiros P25

5 A TUA PRESENÇA
Zanna e Jaime Troiano P29

6 BRAND INSIDE: VITRINES X TAPUMES


Renata Natacci P33

7 AS TENDÊNCIAS E OS INSIGHTS DE INOVAÇÃO


Luis Rasquilha P37

8 HOMENS E MULHERES: MUITA COISA MUDOU.


NEM TUDO MUDOU!
Cecilia Russo P43

9 PROPÓSITO: A HORA DA VERDADE


Fábio Milnitzky P49

10 QUAL O STATUS DO RELACIONAMENTO?


PERGUNTE AO SEU MANOEL!
Andrea Russo P53

11 A COMPRESSÃO DO TEMPO
Patricia Valério e Jaime Troiano P57

12 DESIGN DE IDENTIDADE VISUAL:


QUE SEJAM ETERNOS ENQUANTO DUREM
Mariana Jorge P61

13 THE FRUITS ARE IN THE ROOTS


Joey Reiman P67

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Grupo Troiano de Branding P7
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13INSIGHTS

“Por mares nunca


dantes navegados”:
uma história sobre
mulheres
e tecnologia
Ana Luisa Negreiros, As mulheres são responsáveis por boa parte
Ana Paula Moraes, Camila Melo, das mudanças sociais, econômicas e políticas
Patricia Valério e Paula Valério que o mundo vem vivenciando nas últimas
décadas e, certamente, continuarão tendo um
papel de destaque ao longo de todo o século
XXI. Paralelamente, a tecnologia é outro aspecto
que vem ganhando cada vez mais importância
em inúmeras esferas de nossas vidas. Nas mais
diversas formas e intensidades, ela vem trans-
formando relações, espaços, nosso modo de
existir no mundo, nosso dia a dia e a maneira
como decodificamos a vida.
Decidimos então reunir esses dois universos
tão particulares em um estudo sobre a relação
das mulheres com tecnologia. Reunimos mu-
lheres de classes A2 e B1 (Critério Brasil) em
grupos de discussão, cada um com integrantes
de uma determinada faixa etária. Nosso objetivo
era levantar alguns dos sentimentos mais laten-
tes que elas vivenciam quando se aventuram
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Grupo Troiano de Branding P9
13INSIGHTS

por esse universo que, historicamente, nasceu


tão longe delas. Posteriormente, também rea-
lizamos uma pesquisa quantitativa com 1000
mulheres de todo o Brasil para validar alguns
de nossos insights.
O primeiro fenômeno que detectamos ao
ouvir essas mulheres está relacionado aos im-
pactos de uma história da qual elas estiveram e
até hoje permanecem nos bastidores. As figuras
do cientista e do inventor estão intimamente
ligadas à identidade masculina e, nesse sentido,
a história da tecnologia já começou marcada
pela diferença de gênero. O Professor Pardal,
famoso personagem dos quadrinhos Disney, é,
assim como quase todos os cientistas e inven-
tores de que conseguimos nos lembrar, uma
figura masculina.
Uma das participantes do estudo, em uma
frase, ilustrou bem como o gênero é um mar-
cador na relação das mulheres com a tecno-
logia. “Chegou o iPhone em casa eu podia
aparecer de qualquer jeito, nem tchum, ele
nem conversa comigo. Todo mundo fala, se
você gosta de transar, nunca dê um videogame
para o seu namorado”.
Diversas mulheres também trazem repeti-
damente o filho como um intermediário entre
elas e a tecnologia. Para muitas delas, a rela-
ção com a tecnologia ainda se dá por meio de
uma figura masculina. No estudo quantitativo
que realizamos sobre o tema, quase 50% das
mulheres disseram recorrer aos filhos, marido
ou companheiro quando têm dúvidas sobre
computadores e internet.
E várias delas, em todas as faixas etárias, têm
uma relação com a tecnologia de obrigatorie-
dade, como se elas precisassem “correr atrás do
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P10 Grupo Troiano de Branding
“POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS”: UMA HISTÓRIA SOBRE MULHERES E TECNOLOGIA

prejuízo” e dar conta de acompanhar algo


que é totalmente alheio ao mundo delas.
Como elas mesmas dizem, enquanto para
homens um produto tem “componentes”, para
mulheres, o mesmo aparato composto por
toda uma “parafernália”.

Bolhas geracionais

Considerando que cada uma das gerações pre-


sentes no estudo acompanhou o surgimento
de produtos tecnológicos diferentes, é claro
que elas têm uma relação de maior ou menor
proximidade com cada um deles. É como se
cada um desses grupos de mulheres vivesse
em uma “bolha” cronológica particular quando
o assunto é tecnologia.
Entretanto, em todas as gerações existem mu-
lheres que “estouram” as bolhas em que estão
inseridas e têm experiências muito significativas
com elementos próprios da bolha de outras
gerações. Elas são as bubble poppers!
Basicamente, identificamos três acionadores
que fazem com que mulheres de diferentes
idades estourem suas bolhas e se apropriem
de elementos próprios de gerações posterio-
res. O primeiro deles é o trabalho, já que ele
acaba obrigando o uso dos mais diversos itens
tecnológicos que potencializem a produtivi-
dade. O segundo são filhos e netos, pois o
desejo de aproximação e conexão gera nessas
mulheres uma vontade de conhecer aquilo
que é importante para eles e acompanhar
minimamente as atualizações tecnológicas.
O terceiro são os hobbies, que despertam
nelas o anseio de saber usar a tecnologia para
explorar universos específicos.
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13INSIGHTS

As bolhas geracionais acabam também por


gerar, especialmente para as mães, uma sensa-
ção de muita angústia ligada ao generation gap
que a tecnologia potencializa entre elas e seus
filhos. O gap entre gerações é um conceito an-
tigo, elaborado nos anos 1970 pela antropóloga
Margaret Mead, e diz respeito a diferenças de
valores e comportamento de uma geração para
a outra. O que nos interessa aqui é observar
como a tecnologia faz com que o gap se torne
mais intenso em um intervalo menor de tempo,
portanto, maior entre gerações muitas próximas
e gigantesco entre pais e filhos.
Percebemos que as mulheres entre 25 e
50 anos demonstram uma clara insegurança
sobre as possíveis consequências da tecnolo-
gia na vida das gerações posteriores e certo
sentimento de nostalgia em relação a uma
época, que elas viveram, menos tomada pelos
aparatos tecnológicos.

Para toda luz há uma sombra.


E vice-versa.

Todos sabemos que a tecnologia gera inúmeros


sentimentos positivos por conta das facilidades,
rapidez, acessibilidade e divertimento que traz
para a vida das pessoas. Por outro lado, para
cada um dos benefícios, as mulheres levan-
tam um senão. Retomando o conceito de luz e
sombra elaborado por Carl Jung, notamos que
para cada aspecto “luz” da tecnologia, há uma
ou mais “sombras”.
Enquanto produtos como celulares, redes
sociais, internet etc trazem muita praticidade
e entretenimento, especialmente vinculado à
sociabilidade, para o dia a dia das mulheres, eles
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“POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS”: UMA HISTÓRIA SOBRE MULHERES E TECNOLOGIA

também têm alguns aspectos sombrios que são:


a falta de contato físico entre as pessoas, um
intenso sentimento de ansiedade provocado
pela exposição da vida privada nas redes e um
caráter de dependência desses itens, que, logo
que entram em nossas vidas, não conseguimos
nos imaginar sem eles.
Outro aspecto positivo é a diversidade de canais
para comunicação, que muitas vezes se mos-
tra um excesso. Se, por um lado, é bom poder
estar em contato com muita gente ao mesmo
tempo e em diferentes lugares, as mulheres
trazem uma sensação que chamamos de No
Touch, um sentimento de que nunca se está
em lugar algum de fato.
Além disso, a ideia de que é possível estar
em contato com o mundo o tempo todo gera
certa dependência emocional. Quando não
estão acessíveis, muitas das mulheres têm um
desconforto parecido com o de estar perdendo
uma grande festa. “Quando você sai sem celular
é como se estivesse faltando uma parte do
seu corpo. Você fica sem novidade...”, resumiu
uma universitária.
Esse sentimento de ansiedade ficou evidente
na fase quantitativa do estudo. Quando pergun-
tadas sobre o que sentem quando percebem que
esqueceram o celular em casa, 45% de mulheres
até 29 anos dizem querer voltar imediatamente
para buscar.

Mulheres e o mar da tecnologia

Associando tecnologia a um imenso mar a ser


desbravado, que pode oferecer sensações muito
prazerosas, mas também de muita insegurança
e exaustão, levantamos cinco perfis para definir
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13INSIGHTS

a atitude das mulheres: surfistas, mergulhadoras,


salva-vidas, turistas e garotas da praia.
As Surfistas são aquelas que “seguem a
onda” do momento. São dependentes emo-
cionais da tecnologia, têm a necessidade de
estar conectadas 24x7, mas não aprofundam
o uso que fazem dos aparatos. Usam os pro-
dutos de uma forma mais recreativa e com
base em certa idealização do “eu” e, por isso,
são extremamente ligadas em marca.
Mergulhadoras são as mulheres que vão
fundo no uso que fazem da tecnologia. São
dependentes tanto emocionais quanto práticas,
early adopters, têm um instinto exploratório agu-
çado e avaliam bem as configurações de um
produto antes de adquiri-lo.
As Salva-vidas são dependentes práticas e
ponto final. Para elas, o objetivo principal do
uso da tecnologia é simplificar as tarefas do
seu dia a dia. O importante é ter o jantar na
mesa na hora certa ou o e-mail de trabalho
respondido. Marca, para elas, não é fator deci-
sivo na hora da compra e o uso dos produtos
se limita à necessidade.
As Turistas têm uma relação bastante dis-
tanciada da tecnologia. Elas são as poucas mu-
lheres que dizem que não sentiriam um grande
impacto caso ficassem sem celular ou compu-
tador por um tempo, ou seja, não se sentem
nada dependentes. Também não apresentam
muita vontade de entender o funcionamento
dos aparatos. Basicamente, a tecnologia é um
universo desconhecido e estranho para elas,
então as turistas precisam de um “guia”, ou seja,
um intermediário, caso queiram se aprofundar.
Por último, as Garotas da praia são aquelas
mais dependentes emocionais que práticas. Para
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P14 Grupo Troiano de Branding
“POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS”: UMA HISTÓRIA SOBRE MULHERES E TECNOLOGIA

elas, saber como determinado aparato funcio- latentes que mulheres de diferentes gerações
na é menos importante que ter, caso seja o manifestam em relação à tecnologia neste início
produto da moda. A marca, então, tem obvia- da segunda década do século. Parece claro que,
mente um papel fundamental na construção com maior ou menor dificuldade, de turistas
da identidade delas. a mergulhadoras precisam, ao menos, molhar
Se, para as mulheres que ouvimos neste estu- os pezinhos nesse imenso mar da tecnologia.
do, um dos principais sentimentos é de absoluta Para 70% de mulheres de todas as idades, é
incerteza sobre os impactos que a tecnologia impensável viver sem computador, conforme
deverá trazer para a vida delas a médio e longo a fase quantitativa de nosso estudo indicou. E
prazo, nossa percepção acerca dos resultados esse é um número bastante considerável, que
não poderia ser muito diferente. Estamos tes- certamente abraça mulheres de todos os tipos.
temunhando um período em que mudanças Mas tanto o mar quanto as mulheres que
econômicas e sociais ocorrem em um ritmo circulam nessa praia estão em constante mo-
cada vez mais acelerado. Perceber, acompanhar vimento. Por isso, essas ideias aqui apresenta-
e compreendê-las não é tarefa fácil. E é porque das permanecerão em construção, como é a
sabemos disso que somos incansáveis no exer- própria trajetória das mulheres se aventurando
cício de perguntar, investigar e reestudar aquilo nessas águas. Continuaremos, ao longo dos
que vemos a nossa volta. próximos anos, a acompanhar e escrever essa
Levantamos aqui alguns dos sentimentos mais história com elas.

O QUE AS MULHERES SENTEM IDADE


QUANDO PERCEBEM QUE   ATÉ 29 DE 30 A 55 ANOS
SAIRAM DE CASA SEM O
CELULAR ANOS 54 ANOS OU MAIS
Sente que vai fazer falta mas não se
%
preocupa tanto 38 43 53,4
Tem vontade de voltar para pegar % 45,8 39 24
Fica bem ansiosa % 13,5 10,1 6,2
Não se preocupa % 2,6 7,9 16,4

A dependência emocional dos novos aparatos tecnológicos, como o celular, parece ser inversamente
proporcional à idade das mulheres.

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Grupo Troiano de Branding P15
13INSIGHTS “POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS”: UMA HISTÓRIA SOBRE MULHERES E TECNOLOGIA

A QUEM ELAS RECORREM IDADE


QUANDO TÊM DÚVIDAS SOBRE TOTAL ATÉ 29 DE 30 A 55 ANOS
COMPUTADORES OU INTERNET ANOS 54 ANOS OU MAIS
Filhos % 24,1 0,5 24 55,5
Marido/ companheiro % 23,3 27,1 25,4 8,9
Internet % 21,6 32,3 20,9 10,3
Amigos % 10,2 10,9 10,1 9,6
Parentes % 7,6 11,5 6,9 5,5
Outra % 3,4 2,1 3,1 6,8
Ninguém % 9,8 15,6 9,5 3,4

Os filhos, marido ou companheiro são a principal fonte de informação das mulheres sobre tecnologia.

IDADE
RELAÇÃO DAS MULHERES COM   TOTAL ATÉ 29 DE 30 A 55 ANOS
O COMPUTADOR
ANOS 54 ANOS OU MAIS
Sem ele não consigo mais viver. %
Principalmente pelo trabalho. 70,6 85,9 72,1 43,8
Aprendi a duras penas. mas hoje %
uso para o que preciso. 26,5 13 25,1 50
Limitada. Sempre peço ajuda para %
usar. 2,6 1 2,3 6,2

%
Um bicho de sete cabeças. 0,3 - 0,5 -

Mais de 70% das mulheres diz não conseguir viver sem computador. Para aquelas de até 29 anos, esse
percentual sobe para quase 86%.

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P16 Grupo Troiano de Branding
13INSIGHTS

A era das marcas


corporativas
Ricardo Klein P arando para refletir um pouco sobre a impor-
tância das marcas no cenário mundial, pode-se
afirmar que até o início dos anos 90, aproxima-
damente, o mundo olhava e valorizava apenas
as marcas de produto. E as razões para isso são
muito compreensíveis. Eram elas as grandes es-
trelas, as protagonistas de uma relação muito
próxima com os consumidores, em mercados que
movimentam bilhões de dólares ano após ano.
Mas ao longo da história do Grupo Troiano de
Branding, sempre estivemos atentos também à
uma outra dimensão: o papel e relevância das
marcas corporativas. E percebemos claramen-
te que o “domínio” das marcas de produto foi
transformado nos últimos 13 anos, pelo menos.
Investimos muito para entender o papel da
marca corporativa nas relações com as marcas
de produto e com os stakeholders das organi-
zações. Nos trabalhos de consultoria em gestão
de marca que realizamos, identificamos um claro
crescimento da relevância das marcas corpo-
rativas. E ficamos muito felizes em ter ajudado
várias empresas neste movimento.
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Grupo Troiano de Branding P17
13INSIGHTS

Estamos vendo o crescimento das marcas


corporativas nas relações com os clientes, con-
sumidores, colaboradores, fornecedores e investi-
dores. Aquilo que ficava muitas vezes escondido
atrás das embalagens ou em letras miúdas em
peças de comunicação começou a assumir uma
nova expressão.
O que era apenas uma referência de cará-
ter institucional usada com inibição e discrição
passou a ser muito mais importante. O que
foi durante muito tempo apenas um protocolo
transformou-se em uma entidade fundamental
nas relações da empresa com seus stakeholders.
E hoje o mercado dá sinais mais do que con-
cretos de que as marcas corporativas deixaram,
definitivamente, de ser uma pálida referência
que identifica as organizações.
Por que esse tema transformou-se em algo
tão importante? Quatro razões principais:
Primeira razão: os clientes e consumido-
res importam-se cada vez mais em conhecer
quem está por trás dos produtos e serviços que
adquirem. Buscam uma maior compreensão da
empresa que fornece aquele produto específico
que estão consumindo. Será que ela é idônea?
Será que pratica boas políticas de responsabili-
dade social e ambiental?
Segunda razão: está mais do que docu-
mentado que marcas corporativas sólidas e de
prestígio estão associadas a performances mais
positivas no mercado de capitais. Os números
mostram que, quanto maior o prestígio e re-
putação de uma marca corporativa, maior será
seu valor de mercado.
Terceira razão: marcas corporativas de
respeito alimentam profundamente o orgulho
motivacional de seus colaboradores. Todos nós
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P18 Grupo Troiano de Branding
A ERA DAS MARCAS CORPORATIVAS

sabemos o que é carregar no peito um crachá De maneira bem sucinta, o que aprendemos
que tenha esse peso. Sem falar no quanto o nesse período:
respeito pela marca corporativa atrai os me- • Awareness ou o conhecimento das marcas
lhores profissionais do mercado e ajuda a reter corporativas afeta positivamente sua reputação.
os talentos. • As empresas de maior reputação têm maior
Quarta, e não menos importante razão: marcas capitalização de mercado ou valor de mercado.
corporativas de prestígio são uma verdadeira • As empresas de maior reputação, após mo-
blindagem para proteger contra ameaças ex- mentos de crise, retomam o crescimento de
ternas que nós nem sempre podemos prever. seu valor mais rapidamente.
Marcas que têm melhor blindagem corpora-
tiva resistirão melhor aos altos e baixos que a Portanto, mais do que nunca é essencial olhar
economia mundial atravessa. Elas podem não para as marcas corporativas como matrizes or-
evitar crises, mas contribuem para atenuar seu ganizadoras da ação e da reação em ambientes
impacto e tornar a recuperação mais rápida. cada vez mais competitivos e dinâmicos. As
No ano de 2012 completamos a quinta edição empresas em geral, operem elas no B2C ou
de um estudo conduzido para a revista Época B2B, estão expostas a desgastes que não podem
Negócios, onde medimos a reputação corpo- ser previstos, a eventuais decisões equivoca-
rativa das maiores empresas no Brasil. das de seus gestores e a gestos agressivos dos
Nele, ouvimos mais de 15 mil consumido- competidores mais diretos. Contra esse clima
res em todo o Brasil e avaliamos as marcas de disputas e incontroláveis ameaças, a marca
em seis dimensões: (a) Qualidade dos pro- e a reputação corporativas são eficientes “anti-
dutos ou serviços, (b) Confiança e Ética, (c) corpos” que ajudam a superar ciclos, mantém
Compromisso social e ambiental, (d) Postura estruturas e organizações sustentáveis e ajudam
inovadora, (e) Admiração e História e (f) Evo- a pavimentar a construção de uma linha de
lução da empresa. maior continuidade.

101
Valor de mercado (Bi R$)

76 75 70
65 Empresas de > prestígio

13 13 13 Empresas de < prestígio


10 7

2008 2009 2010 2011 2012

Ano
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Grupo Troiano de Branding P19
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Hermès, Prada,
Mercedes-Benz, Tiffany…
agradecem à classe C

Marie-Océane Gazurek e Q ue grande ironia, hein? Pode parecer brinca-


Jaime Troiano deira, mas a verdade é que uma parte substancial
do crescimento do mercado de luxo precisa ser
atribuída à emergência social da, assim deno-
minada, classe C.
O que tem acontecido com esse segmento
social, desde o Plano Real, é uma migração de
consumo vertical. Ele tem deixado de se abaste-
cer dos produtos e serviços que classicamente
lhe eram dirigidos e passou a “invadir territó-
rios” que antes eram ocupados pelos grupos
sociais no topo da pirâmide. Suas conquistas
sociais refletem, principalmente, maior poder
de compra e de realização de desejos há mui-
tas décadas recalcados. Tudo se passa como
essas pessoas estivessem, numa linguagem
bem banal, “tirando o atraso”.
Todos já deram as boas vindas a esse fantástico
contingente de novos consumidores a caminho
de suas realizações materiais. O próprio ciclo de
crescimento e estabilidade de nossa economia
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Grupo Troiano de Branding P21
13INSIGHTS

tem dependido muito desse movimento, que


alimenta o PIB. O que foi negado a eles duran-
te muito tempo hoje está ao alcance de suas
mãos, ou melhor, de sua renda discricionária.
Seja em facilitadas e suaves parcelas, ou à vista,
marcas outrora reservadas à elite hoje em dia
são acessíveis para a chamada “nova classe mé-
dia”, constituindo-se como verdadeiros ingressos
para um grupo social superior. A abundância de
crédito e redução de taxas de juros são parte
de dessa mesma equação.
É lógico que, no horizonte, existem nuvens
preocupantes de endividamento descontrolado
ou do efeito dos solavancos internacionais. Mas,
de qualquer maneira, o que temos visto até agora
é uma renovada capacidade de consumo dessa
classe C. Eles não estão se transformando em
cidadãos plenos ainda porque a ascensão social
não depende apenas de mais dinheiro no bolso,
mas de um projeto mais amplo que envolve
níveis educacionais mais alinhados com aquilo
que o desenvolvimento permanente exigiria.
De qualquer maneira, a classe C tem penetrado
em “jurisdições de consumo” para as quais ela
nunca havia sido convidada antes. E aí é que
nasce a ironia em relação ao mercado de luxo.
Os habitantes tradicionais desse mercado, o
topo da pirâmide ou regiões próximas, têm as-
sistido com certo constrangimento à chegada
dos “Visigodos às portas do Império”.
O que eram produtos e serviços de acesso
exclusivo dos grupos de elite começaram a ser
comprados pela classe C. O que eram bens
posicionais, na linguagem de Eduardo Gianetti,
que serviam para marcar as diferenças de uma
classe para outra, perderam esse poder. Marcas
que realmente marcavam diferenças sociais hoje
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P22 Grupo Troiano de Branding
HERMÈS, PRADA, MERCEDES-BENZ, TIFFANY…AGRADECEM À CLASSE C

são consumidas por segmentos inferiores. É co-


mum escutarmos em corredores de shoppings
que determinadas marcas democratizaram-se
demais; “veja agora quem está usando!”... Con-
tinuamos a ouvir em saguões de aeroportos
incômodas conversas de viajantes que sentem
que aqueles espaços não pertencem mais eles
apenas. Clubes de compras virtuais oferecem
marcas por preços menores. São praias que foram
democratizadas. Ao mesmo tempo, vejam como
têm crescido o número de lounges exclusivos e
espaços (virtuais ou não) exclusivíssimos onde
os mais incomodados podem se exilar.
O que estamos vendo acontecer hoje já foi
extensivamente tratado por vários estudiosos. E
é o que Georg Simmel chamou de efeito trickle-
-down: os segmentos mais afluentes abandonam
o uso de certos produtos e marcas quando pú-
blicos menos diferenciados passam a consumi-
-los. E como as diferenças sociais são elementos
estruturais em qualquer sociedade humana, o
que os públicos mais afluentes fazem é recorrer
a produtos, serviços e marcas enfim que reafir-
mem o traçado dos limites das classes. Marcas
que sejam bens posicionais, de fato.
Quanto do mercado de luxo é alimentado
por esse movimento de uma nova necessidade
diferenciação social é difícil dizer. Por irônico que
possa parecer porém, Hermès, Prada, Mercedes-
-Benz, Tiffany etc têm muito que agradecer à
ascensão classe C.
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13INSIGHTS

AULAS DE AMOR COM JULIA


Ana Luisa Negreiros “Big mistake, big mistake, huge!” – foi o que
disse o personagem de Julia Roberts no filme
“Uma Linda Mulher” quando saiu da loja em que,
em uma ocasião prévia, havia sido maltratada.
Cheia de sacolas de roupas de outras marcas
nas mãos, seu objetivo era relembrar aquelas
infelizes vendedoras, não somente da necessi-
dade de um bom atendimento, mas também
de um bom acolhimento.
A transformação do personagem de Julia Ro-
berts, em que passa de prostituta para princesa
de um conto de fadas moderno, só aconteceu
quando foi finalmente tratada de uma forma mais
do que educada. Quando foi recebida por uma
vendedora que a atendeu com preocupação e
empatia, a personagem se sentiu acolhida, e
gastou os tufos.
O intuito do acolhimento, no entanto, não
é fazer com que o consumidor gaste fortunas
e se vá para sempre, no modelo “one shot”. O
propósito do acolhimento é gerar o início de
uma relação duradoura. Como um casamento.
Naquele instante em que foi acolhida, a per-
sonagem de Julia iniciou seu casamento com
aquela loja, com aquela marca. A lealdade estava
conquistada.
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13INSIGHTS

Por muito tempo, os profissionais de marketing


defendiam a importância de um bom atendi-
mento nos pontos de contato da marca com
o consumidor como uma das ferramentas de
construção de imagem. Mas o que fica cada
vez mais evidente entre os consumidores é que
um bom atendimento já não é mais suficiente.
Consumidor tem uma necessidade maior do
que ser bem tratado, tem que se sentir cuidado.
Um atendimento cordial e educado garante,
no máximo, um bom romance, um ‘affair’; não
necessariamente algo duradouro.
Um grande equívoco é acreditar que acolher
é privilégio de marcas que costumam cobrar
mais alto por seus produtos ou serviços. Como
se essa experiência fosse parte do pacote que a
gente paga para receber. A verdade é que tive a
feliz experiência de ser por vezes bem acolhida
sem desembolsar grandes montantes. Uma vez
fui a um restaurante estilo tex-mex e pedi que o
prato viesse sem jalapeños (um tipo de pimenta
forte). O garçom poderia ter dito “sim, senhora”,
mas ao invés disso me descreveu como o mo-
lho era feito. Disse que se eu tirasse a pimenta,
teria que ficar sem molho, pois ela fazia parte do
tempero. Mas antes que eu entrasse em dúvida
ele me sugeriu outro molho para acompanhar,
adicionando o molho apimentado à parte, para
que eu tivesse a chance de experimentar se eu
quisesse. Não precisa dizer que hoje sou fã de
carterinha do restaurante e do prato picante.
E já que estamos falando em preços mais
apimentados, não podemos nos esquecer dos
paradigmas do mundo chique. Tem gente que
acredita em que lugares mais luxuosos a regra
é receber um tratamento esnobe. Um casal de
amigos meus visitou um famoso restaurante
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P26 Grupo Troiano de Branding
AULAS DE AMOR COM JULIA

brasileiro, que é reconhecido como um dos 10 funcionário. Ele precisa tomar propriedade sobre
melhores do mundo. A gente costuma imaginar o negócio, representando a marca na alegria
um maître de estilo pomposo, nariz empinado e e na tristeza. A relação entre um funcionário
cheio de “não-me-toques”. Porém uma surpresa: acolhedor e a marca para quem trabalha não
a gestão daquele lugar criou uma forma de deixa de ser um casamento também.
entregar uma experiência culinária espetacular, O que se aprende com tudo isso é que
juntamente com um acolhimento educado, acolhimento não tem restrição. Ele pode ser
humilde e muito simpático. Sem dúvida, com completamente democratizado, utilizado por
uma alma verdadeiramente brasileira. marcas de todos os tamanhos e gostos. O que
A experiência reversa aconteceu quando pedi a sonhadora e carismática Julia nos ensinou é
uma entrega de almoço por telefone. Além de que marcas que acolhem escrevem uma his-
ultrapassarem o tempo previsto de entrega, tória de amor que não precisa ter um fim, ela
recebi apenas parte do que havia comprado. pode ser eterna. E ainda que o consumidor não
Contatei novamente o restaurante, que me seja eterno, essa história pode ser contada para
respondeu que não possuíam entregadores filhos e netos. Marcas podem ser um livro de
disponíveis para trazer o item faltante. Insisti páginas infinitas. Nesse sentido, ultrapassamos
dizendo que não era a culpada, mas recebi as barreiras do amor “eterno enquanto dure”.
um sonoro “a culpa também não é minha, se Se antes falávamos de atendimento, hoje é
quiser, você pode reclamar com o gerente”. preciso acolher. É a diferença entre um sexo
Não preciso dizer que, por mais saborosos que casual e um amor perpétuo pelas marcas. Se
fossem os pratos, nunca mais liguei. Rita Lee reescrevesse sua música “Amor e Sexo”,
Não podemos nos esquecer de que o aco- certamente incluiria a estrofe “Amor é acolhi-
lhimento depende principalmente da atitude do mento. Sexo é Atendimento.”

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Grupo Troiano de Branding P27
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13INSIGHTS

A TUA PRESENÇA

Zanna e Jaime Troiano N ós somos verdadeiros hospedeiros das marcas.


A sua existência é o conjunto, às vezes mais,
às vezes menos organizado, de percepções e
sentimentos que internalizamos.

“A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença”
(Caetano Veloso)

É assim que elas entram em nós e em nos-


sas vidas.
O quanto elas permanecem ou não é outra
história. Em geral, a maior parte delas se hospeda
por muito pouco tempo e se dissipa. Delas, fica
muito pouco. Uma lembrança difusa quando muito.
Depois de algumas décadas observando como
isso acontece, não temos mais dúvidas: ficam
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Grupo Troiano de Branding P29
13INSIGHTS

as marcas que, além de um conceito relevante,


sabem como penetrar bem pelos “sete buracos
da minha cabeça”, ou pelo menos por alguns.
Difícil é a arte de integrar recursos sensoriais.
Martin Lindstron, no seu “Brand Sense”, não deixa
qualquer dúvida a respeito. Ele diz algo como:
até agora temos feito o básico para construir
marcas. Belos visuais e áudio perfeito. “Isso é
onde o processo de construção de marcas tra-
dicionalmente pára. Ele para, apesar do fato de
que uma experiência sensorial total pelo menos
duplicaria, ou mesmo triplicaria a possibilidade
do consumidor memorizar a marca”.
Convenhamos, estamos sendo preguiçosos
ou displicentes no uso de todos os recursos que
poderiam entrar pelos sete buracos da cabeça.
Que não sejam os sete, que tal dar o devido
valor a alguns deles pelo menos?
Nós, adultos, não fomos treinados nessa mara-
vilhosa habilidade infantil de brincar com nossos
sentidos. Ao contrário, fomos pouco a pouco nos
aperfeiçoando nas ferramentas que operam com
o hemisfério esquerdo do cérebro. Fomos nos
esquecendo do poder de retenção que tiveram
alguns registros sensoriais em nossas vidas? Eu
sinto até hoje o aroma que exalava do espaço
sob a escada de madeira na casa da minha tia
em Poços de Caldas. Basta fechar os olhos. E
alguém se esqueceu do tlec-tlec do vendedor
do bijú na sua tabuleta de madeira ou do apito
da gaita do afiador de faca? E do insuportável
“Pour Elise” dos caminhões de gás?
Está mais do que na hora de resgatar esses
fantásticos recursos no planejamento de branding.
É hora de dar plenitude sensorial às marcas. E
multiplicar seu poder de retenção e de fascínio.
Tudo se passa como se, até hoje, estivéssemos
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P30 Grupo Troiano de Branding
A TUA PRESENÇA

ainda operando com branding na soleira da porta.


De todos os registros sensoriais que são capazes
de potencializar a expressão da marca, proponho
concentrar-me num deles: os registros sonoros
que habitam algumas marcas e que evocam
os sentimentos e percepções que temos delas.
Não estamos falando de trilhas sonoras e de
músicas incidentais que integram peças publicitárias.
Estamos falando das vibrações que tocam nosso
corpo todo e condicionam nosso ritmo, nos atiram
na melancolia ou nos colocam em puro estado de
êxtase. Estamos falando do poder que a música
tem de criar intimidade entre marcas e pessoas.
A sua presença é absolutamente ancestral na
história do nosso desenvolvimento! Hoje, na ciência,
isso se explica através da teoria mais moderna da
física, a teoria das cordas, que diz que o som, a
vibração, é a fonte de tudo o que existe. Como
disse o físico Brian Greene em “O Universo Elegan-
te”: “No interior mais profundo da matéria vibram
cordas como as de um instrumento musical.”
Imaginem o mundo antes da fala, os homens
emitiam sons para se comunicarem. Depois
vieram os sons com significados agregados. Os
rituais, desde sempre, são vestidos de música. As
mesmas igrejas badalam seus sinos para chama-
rem a atenção dos seus fiéis. Da mesma forma,
as fábricas tocam sirenes para chamarem seus
operários. Toques de recolher em tempos de
guerra, sirenes de ambulâncias, carros de polícia
e bombeiros. Está aí o principio ativo da comu-
nicação de massas: toques sonoros associados
a comandos a que as pessoas obedecem.
Tire o som de um filme. Veja! Pare de olhar as
imagens. Ouça! O som entra pelos dois buracos
de nossas cabeças, nos tocam o corpo todo
através das suas vibrações e, assim, a comuni-
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Grupo Troiano de Branding P31
13INSIGHTS A TUA PRESENÇA

cação sonora se dá a 360˚, não temos escolha. manifestações sonoras que se ocupam de estreitar
Qual das artes tem o poder de juntar multidões, o relacionamento entre a marca e o público. A
lançar tendências, influenciar comportamentos? exemplo do TIM Festival, lavadoras tocadoras
De todas, qual delas é a mais arrebatadora, en- de música, atendimentos super-humanizados
volvente, alucinógena e emocionante? na telefonia, seleção musical nas lojas e por aí
Quem não se lembra de certos jingles his- vai. O nome de todas essas expressões juntas
tóricos, que estão impregnados na nossa me- é: sound branding, uma ferramenta inovadora
mória coletiva? “Hoje, é um novo dia de um que já mostra que veio para ficar.
novo tempo...”, “Me dá, me dá, me dá, me dá As marcas compõem nosso mundo e dizem
Danoninho, Danoninho já...”, e tantos outros muito sobre nós. Mas tudo agora virou mídia. Para
que nos fazem ter carinho, admiração, nos abrirmos os olhos já deveríamos estar ganhando
tornam íntimos de muitas marcas. Passamos royalties. É nesse mar de pop-ups holográficos
também pela era do barulho, das marcas que que nos dizem o tempo todo: Compre! Com-
gritam para chamar a atenção e, por proteção, pre! Compre! É nesse mar de cada vez mais
muitos começaram a tirar o som das TVs na estímulos que os próprios pop-ups nos vendem.
hora do comercial. Só vai sobreviver quem realmente tiver algo a
Mas nem tudo está perdido. Estamos entrando dizer, quem souber conquistar a nossa presença,
na era da cognição na comunicação, e o som entrar para o clube das nossas crenças e se
tem se mostrado absolutamente eficiente nesse hospedar em nosso coração.
quesito. Com apenas três segundos de um toque O futuro manda saudações! A sua presença
sonoro, as pessoas se lembram de uma marca. nos permite ver que estamos a caminho de
Não há como não citar as apenas quatro notas integrar comunicação e sentidos. O resultado
da INTEL, que fizeram crescer a percepção da serão lindas experiências, memórias para a vida
marca de 24 para 85%. Mas, além dessa, há outras e marcas ajudando a criar e manter culturas.

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P32 Grupo Troiano de Branding
13INSIGHTS

BRAND INSIDE:
VITRINES x TAPUMES

Renata Natacci Muitas indústrias e empresas ainda vivem uma


grande ilusão: investimentos de marketing e
comunicação seriam capazes de criar uma
percepção favorável das marcas no mercado,
independente de sua relação com o ambiente
interno, com os colaboradores.
Marcas não são tapumes que escondem o
que se passa da porta da rua para dentro da
organização. Situações como a ilustrada no
Gráfico A são insustentáveis. A pirâmide revela
qual é a força da marca, indo do seu puro Des-
conhecimento por clientes e consumidores ao
grau máximo de envolvimento por ela, que é
o patamar da Idealização. (Rejeição é o que o
próprio nome indica. Familiaridade é tê-la apenas
como conhecida, sem sentimentos positivos ou
negativos. Preferência, o penúltimo patamar, é
ter a marca como uma das prováveis opções
de compra ou escolha.)
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Grupo Troiano de Branding P33
13INSIGHTS

10% Idealização 21%

20% Preferência 27%

55% Familiaridade 41%

15% Rejeição 8%

Desconhecimento
- 3%

Colaboradores Clientes/consumidores
(Ambiente Interno) (Mercado)

Gráfico A

Situações de mercado, como ilustradas no colaboradores da organização, aqueles que a


Gráfico A, são insustentáveis porque os próprios carregam no crachá em seu peito. Neste caso,
colaboradores acreditam menos na marca da os patamares superiores da pirâmide concen-
25% coisa, estãoIdealização
empresa, ou o que é mesma menos tram mais interessados12% ou defensores da marca
envolvidos por ela. O efeito de corrosão que quando o retrato de sua força é feito dentro da
27% Preferência 16%
isso causa no poder mercadológico da marca é empresa comparado ao retrato do mercado,
inevitável. Não há investimento
46% de marketing e daqueles que são clientes
Familiaridade 58% e consumidores.
comunicação que seja capaz de combater essa Se no primeiro cenário, tínhamos um efeito
corrosão. Se isso já era insustentável há alguns de corrosão, neste segundo temos um efeito
2% Rejeição 8%
anos, hoje mais ainda porque as empresas estão de propagação positiva da força e prestígio da
“nuas” e transparentes diante do mercado. Não marca. No segundo cenário, cada colaborador
Desconhecimento
- 6%
há tapume que oculte o que se passa da porta pode ser um “apóstolo” que dissemina orgulho-
da rua para dentro num mundo de democracia samente o que a marca significa e quais são os
digital e mídiasColaboradores
sociais instantâneas. seus valores.Clientes/consumidores
(Ambiente Interno) (Mercado)
Ao contrário disso, o que se espera em uma É uma expectativa perversa supor que marcas
gestão mais saudável e sustentável das marcas Gráficopossam
B ser um recurso cosmético que oculta
é o que está ilustrado no Gráfico B. O envol- as imperfeições e desajustes organizacionais e
vimento maior pela marca acontece entre os que o marketing possa ter esse triste papel. Ou
seus stakeholders mais “íntimos”. Ou seja, os como se fosse um creme que esconde rugas,
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P34 Grupo Troiano de Branding
BRAND INSIDE: VITRINES x TAPUMES

25% Idealização 12%

27% Preferência 16%

46% Familiaridade 58%

2% Rejeição 8%

Desconhecimento
- 6%

Colaboradores Clientes/consumidores
(Ambiente Interno) (Mercado)

Gráfico B

estrias, envelhecimento etc, e pudesse revelar Na verdade, mais do que serem simplesmente
para o mercado sempre uma aparência jovem, informados sobre as mensagens da marca, os
saudável e atraente. profissionais precisam internalizar seus princí-
Marca é um “contrato” entre os vários stakehol- pios e serem emocionalmente envovidos por
ders. Este “contrato” virtual está apoiado nos valores ela. Bons “apóstolos” não apenas conhecem os
que a empresa pratica, de fato, e acaba espelhan- preceitos de sua “religião”, mas acreditam em
do tudo que a marca projeta para o mercado. seus valores.
Quando estes valores que a marca projeta não Nos trabalhos que temos ajudado a conduzir,
reproduzem o que é o ambiente organizacional, alguns deles envolvendo RH também, fica cada
o que se passa com a gestão de pessoas inter- vez mais evidente o efeito vitrine ao contrário
namente, o “contrato” está sendo desonrado e de um pretenso efeito tapume. O que temos
acaba desmascarado em algum momento. diagnosticado da porta da rua para fora, junto a
Ao contrário do que muita gente ainda pensa, clientes e consumidores, nasce dentro da em-
as marcas são construídas de dentro para fora, presa e, por corrosão ou propagação positiva da
isto é: começam da porta da rua da empresa imagem da marca projeta-se para o mercado.
para dentro. Não exclua nunca seus funcionários Marcas são vitrines, elas revelam, para o bem
da cadeia de transmissão de valores da marca. ou para o mal o que é a organização, não são
Sem eles, tudo o que acontece da porta da rua tapumes que escondem. Não esperem nunca
para fora não é sustentável. que ocorra o inverso!
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Grupo Troiano de Branding P35
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13INSIGHTS

AS TENDÊNCIAS E OS
INSIGHTS DE INOVAÇÃO

Luis Rasquilha A s Tendências ainda são muito confundidas


com Ondas e Modas, pelo que vale a pena co-
meçar este capítulo com uma breve ilustração
do que cada uma representa:

TENDÊNCIA
Resultado de uma mudança de
comportamento. Começam de forma
mais timida que a Onda e a Moda
mas a sua duração é grande e com
impactos profundos. Assumidas
como mentalidades emergentes e
dominantes.

MODAS
Incorporadas de forma
ONDAS consciente na rotina diária. Não
Vêm com um impacto grande, acarretam mudança de
mas dissipam-se rapidamente. comportamentos.
As pessoas as incorporam sem Têm um impacto menor que as
entenderem por quê. Ondas mas duram mais tempo.

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Grupo Troiano de Branding P37
13INSIGHTS

Assim, quando falamos de Tendências e Men-


talidades do Consumidor, falamos de como os
consumidores estão se sentindo e se comportan-
do com relação a uma determinada conjuntura
social, política, econômica, tecnológica etc, e o
que eles nos dão como fonte de inspiração para
a inovação em negócios, o que nos fez desen-
volver e aplicar diversas técnicas e metodologias,
como os Coolhunts, que são a observação e o
registro disciplinados de acontecimentos
e fenômenos:

1. Sociais, Culturais e Comportamentais


2. De Marketing (produto e serviço)
3. De Comunicação e Marca

O entendimento do que são Tendências e Coo-


lhunts e a sua aplicação para inovação exige ainda
a existência de uma disciplina de pensamento
que possa gerar insights de negócios verdadei-
ramente inovadores, como o modelo InnovAyr,
desenvolvido e praticado pela Ayr Consulting.

1 input 2 3 4 5 output
Objetivos de negócio
+ Tendências e INSIGHTS DE
Metalidades do INOVAÇÃO PARA
consumidor NEGÓCIOS

TREND BASES DE RECURSOS


& COOL IDEIAS INOVAÇÃO CAPACIDADES
EXAMPLES

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P38 Grupo Troiano de Branding
AS TENDÊNCIAS E OS INSIGHTS DE INOVAÇÃO

Ele usa os Objetivos de Negócio e as Ten-


dências como principais inputs do processo
de inovação, cruzando o que se quer atingir
com as mentalidades dos consumidores a par-
tir de Tendências selecionadas como fonte de
insights iniciais segundo cada caso. A seguir, são
desenvolvidas as bases iniciais de inovação e
submetidas ao crivo dos recursos e capacidades
existentes e necessários para levá-las a cabo e,
assim, chegar-se aos verdadeiros Insights de
Inovação – aplicáveis, em linha com os objetivos
e oportunidades de negócio de uma empresa
e, sobretudo, que acresçam valor tanto para a
empresa como para os seus consumidores.
Vamos ver um exemplo. O Brasil já é o maior
mercado da América Latina de e-commerce, e
isto crescerá ainda mais devido ao aumento dos
acessos à Internet, da expansão das redes de
banda larga e da combinação de duas mega-
-tendências revolucionárias:

• “Global Connection and Convergence” – iden-


tificada e estudada pelo Trends Research Cen-
ter da YR Consulting e parte do seu World
Trend Report já publicado – e que se baseia
no fato de que a Web não somente está se
tornando numa “Web Viva” como ainda está
convergindo de forma crescente.

• “(R)etail (R)evolution”, identificada e estudada


pela Trendwatching, e que pode ser resumida
como o comércio tradicional está sendo afe-
tado pelo comércio eletrônico e, pela mesma
moeda, o comércio eletrônico está sendo
afetado pelos mesmos comportamentos gerais
do consumidor ao longo de todos os meios
– sejam eles interativos ou não.
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Grupo Troiano de Branding P39
13INSIGHTS

Portanto, a web está se tornando cada vez


mais “viva” e já está na hora dos empresários e
marketers sairem do limitado “Funil de Disposição
do Consumidor” para abraçar o “Modelo Web
Viva Instantâneo”, identificado e desenvolvido pela
Ayr Consulting e que se baseia na capacidade
de obter informação e feedback em tempo real
do consumidor online e agir sobre ela segundo
cada momento e caso e que predica:

Do: Para:

“Funil” Tradicional de Disposição do Consumidor Modelo Web Viva Instantâneo

Atenção Interesse

Feedback
instantâneo do
ão

consumidor para

ação imediata
e

er
o

o
ss
çã

id

isã
re

ns
en

ec
te

Co
At

In

Decisão Consideração

• Obter feedback em tempo real dos consu-


midores, em vez do modelo reativo/passivo
(resquest/response) sob o qual a maioria do
comércio eletrônico, websites e programas
de CRM ainda operam.
• Sair do “feedback passado” (n-1) do consumidor
para o seu seguimento em tempo real a cada
instante e com interação tangível com ele;
• Desenvolver aplicativos que sejam únicos
e baseados em tecnologia de tempo real
que tenham, boa relação performance/cus-
to, sejam rápidos de desenvolver e lançar e
gerem inovação, relevância, recorrência e
recompensa na relação com o consumidor.
E isto não custa mais, não é complicado
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P40 Grupo Troiano de Branding
AS TENDÊNCIAS E OS INSIGHTS DE INOVAÇÃO

e nem exige que uma companhia “feche” as


suas operações online para a instalação destas
novas tecnologias, uma vez que já existe uma
tecnologia que atende a todos estes quesitos e
já está revolucionando a Web: Realtime Web®
(pode vê-la em www.realtime.co).
Aproveitar esta e outras revoluções passa pelo
entendimento das Tendências e dos mercados
e da existência de métodos e disciplina para
transformar este entendimento em insights que
beneficiem as empresas, as marcas e os negócios.
Termino com um agradecimento profundo
ao Grupo Troiano de Branding, pela fantástica
parceria estratégica que temos, já faz três anos
e onde vemos uma grande complementaridade
de trabalho – entre as Tendências e Insights
de Inovação e o Branding. Que o futuro nos
permita desenvolver em conjunto, com parcei-
ros e clientes, mais Insights que gerem maior
Inovação para as Marcas.

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Grupo Troiano de Branding P41
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13INSIGHTS

Homens e mulheres:
MUITA coisa mudou. Nem
TUDO mudou!
Cecilia Russo O que mais se ouve falar é o quanto os papéis
sociais, de homens e mulheres mudaram ao
longo dos útimos anos. Mulheres não votavam,
hoje votam. Homens não se preocupavam com
estética, hoje se preocupam. Mulheres não li-
deravam empresas, hoje lideram. Homens não
frequentavam reuniões de escola, hoje frequen-
tam. A lista poderia seguir com outras muitas
coisas que hoje, diferentemente do passado,
homens e mulheres fazem diferente. Claramente
os papéis se transformaram e vivemos numa
sociedade muito diferente daquela de nossos
pais ou avós. Até ai, sem novidades.
Mas o que mais me surpreende não são as
mudanças e sim a preservação de certos pa-
drões comportamentais. Sobre o que não muda,
há menos espaço de discussão. Acredito que
as pessoas, e até mesmo a imprensa, gostem
muito mais de enaltecer as mudanças e o lado
contemporâneo da sociedade, do que lembrar
o que pouco ou nada muda. Falar do que se
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Grupo Troiano de Branding P43
13INSIGHTS

transforma é mostrar-se uma pessoa atualizada


e “cool”. Falar do que não muda pode parecer
ser alguém retrógrada e careta.
Mas não me envergonho em nada em mos-
trar, pelo menos em alguns momentos, que não
mudamos em tudo no que se refere a papéis
de homens e mulheres. Para ilustrar esse ponto,
revelo o que aconteceu, dentro de minha familia.
Minha filha, com 19 anos, estuda fora do país.
Ao se mudar, no ano passado, precisava arrumar
o novo apartamento onde iria morar com uma
colega de faculdade, dentro do próprio campus.
Sem nem discutir o assunto, “naturalmente”, fui
a escolhida para acompanhá-la nessa mudança,
afinal, poderia ajudá-la a escolher os comple-
mentos necessários para equipar o novo “apê”:
abajur, colcha, utensillios de cozinha, panelas, um
quadro para enfeitar a parede e ainda decidir a
melhor posicão para organizar os móveis. Não
houve sequer um segundo de dúvida, eu seria
a pessoa ideal para ajudá-la. Por quê? Simples-
mente porque isso não mudou: quem é a pessoa
mais habilitada para assuntos domésticos, dessa
natureza, são as mulheres. Ou seja, coube a
mim essa missão. E confesso que adorei, claro.
Um ano depois, uma outra situação, também
vivida por minha filha. Dessa vez, o apartamento
já estava mobiliado e funcionando. A função
da mulher já estava resolvida. Surge uma nova
demanda: ela iria comprar um carro usado e
precisava de apoio para uma escolha mais se-
gura. Adivinhem quem foi? Meu marido! Por
quê? Simplesmente porque carro é território
mais do masculino. Falar das vantagens do freio
ABS, quantos cavalos tem o carro ou dizer se
esse fabricante tem maior valor de revenda do
que o outro tendem a ser temas mais instigan-
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P44 Grupo Troiano de Branding
HOMENS E MULHERES: MUITA COISA MUDOU. NEM TUDO MUDOU!

tes para homens. Claro, ambos foram juntos e


resolveram com eficiência a compra do carro.
Por que contar toda essa história? Em ne-
nhum momento para mostrar que mulheres são
incompetentes para comprar carros nem que
homens não entendam nada de decoração. Sa-
bemos todos que isso não é verdade. Há homens
craques em decoração e mulheres experts em
carros. Mas, apesar disso, ainda esses territórios
têm uma espécie de “gene dominante”. Ainda
no universo da decoração o “gene dominante”
é feminino e nada mais natural do que a mãe
ir acompanhar a filha nessa tarefa. Da mesma
forma, no território dos automóveis, o “gene
dominante” é masculino e meu marido se de-
dicou com afinco à tarefa, mesmo não sendo
um homem daqueles superentendidos de carros.
E o mais interessante de tudo isso é que, para
nossa filha, as tarefas atribuídas para cada um
de nós, soou muito natural. Ela sentiu-se ab-
solutamente segura com a divisão de tarefas
que promovemos. Sentiu-se tão bem que nem
passou pela cabeça dela questionar. Mais do
que isso, ouvi-a falar várias vezes para mim algo
como: “ainda bem que você que está comigo
para escolher a estampa da colcha, o papai
não teria essa paciência”. Mesmo uma jovem
de 19 anos, cabeça muito arejada, cidadã do
mundo, vê com naturalidade essa divisão de
papeis entre homens e mulheres. E mais do
que isso, enxerga que esse formato é o que
traz os melhores resultados.
Não sei dizer se isso vai mudar ou não. Tam-
pouco sei se esse modelo que temos hoje é
bom ou ruim. Apenas tenho a certeza, ao analisar
essa situação que acabei de descrever, de que
as coisas não mudaram totalmente. Ou seja,
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Grupo Troiano de Branding P45
13INSIGHTS

mesmo com as mulheres chefiando mais de um


terço dos lares, mesmo com os homens cada
vez mais presentes na vida dos filhos, mesmo
com as mulheres estudando muito mais, mesmo
com os homens sendo cada dia mais vaidosos,
ainda temos “genes dominantes” muito fortes que
estão impregnados em nossa cultura. Sabe-se
lá se algum dia eles se tornarão recessivos. É
viver para ver!
E o que isso tudo tem a ver com gestão de
marcas? TUDO! Se esse é um dilema real das
pessoas também é um enorme desafio para as
marcas. Esse desafio se expressa pela polaridade
entre mostrar que os consumidores de hoje
são totalmente diferentes do que no passado
ou mostrar que eles ainda carregam um forte
sentido de preservação. Diante disso, o que fazer?
Claro, se uma determinada marca é mostrada
como associada apenas a traços de estabilidade
de seu consumidor ela pode ficar impregnada
de um conceito de marca “desatualizada”. Se
por outro lado, ela se apresentar apenas como
uma marca privilegiando a face da mudança,
ela mostrará uma visão parcial do consumidor.
A inteligência para as marcas é combinar
essas duas dimensões: resgatar aquilo que é
desejado na estabilidade e valorizar o elemento
de mudança e renovação. Parece fácil, quando
escrito, mas no dia a dia da gestão de mar-
cas isso é bem complexo. Há muitas iniciativas
que carregam em apenas um dos polos, seja
mostrando-se com uma marca que mais parece
usada pela minha avó ou outras, no extremo
oposto, que parecem dirigidas a meia dúzia de
pessoas inovadoras que vivem na Escandinávia.
Mas há bons exemplos de um bom balanço
entre essas polaridades e um deles, bem re-
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P46 Grupo Troiano de Branding
HOMENS E MULHERES: MUITA COISA MUDOU. NEM TUDO MUDOU!

cente, me salta aos olhos: a marca de varejo


EXTRA. A história do Extra está sendo constru-
ída em torno da ideia de família. Inspirada pelo
propósito da marca, sua campanha assina “Por
uma vida mais família”. Olhando apenas por esse
tema da campanha, vê-se que a marca traduz
algo que tem um valor enorme e eterno para
os brasileiros: o valor da família. Isso não tem
nada de novo: já era uma verdade há muitos
e muitos anos. E nada indica que será diferente
nas próximas gerações.
Por outro lado, essa mensagem está ambien-
tada e é expressa num contexto absolutamente
contemporâneo. As atuais iniciativas de comu-
nicação da marca não deixam dúvidas disso.
Seja no Facebook, na televisão, nos encartes ou
nas próprias lojas, o Extra respira o ar contem-
porâneo. Suas peças, o tom da comunicação,
as cores e clima da marca em nada lembram
coisas do passado. É o balanço bem feito da
estabilidade e da mudança.
Talvez esse seja a maior verdade nessa batalha
entre a preservação do que é eterno e a volúpia
pela mudança: a busca por um caminho inte-
ligente que combine os dois polos. Sem negar
que há coisas que não mudam e sem tapar os
olhos para as mudanças. Muita coisa mudou.
Mas nem tudo mudou!

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Grupo Troiano de Branding P47
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13INSIGHTS

propósito: A hora
da verdade

Fábio Milnitzky E ntender a evolução das marcas passa por


entender a evolução do comportamento das
empresas. Após o fortalecimento da produção
industrial no início do século XX, quando bom
resultado era produzir (e vender) muito, o design
começou a se tornar fator de diferenciação.
Nesse período, os produtos investiam em cores,
tamanhos e formas. O tempo foi passando e as
empresas começaram a tomar nota de quem
comprava e não comprava seus produtos. Surgi-
ram as bases de dados, ainda arcaicas, e intuiti-
vamente as empresas começaram a segmentar
seus consumidores – naquela época chamados
de público-alvo – em nichos de mercado. Com
base em informações de clientes, as empresas
foram ampliando e diversificando seus portfólios.
Falar com o público-alvo tornou-se o grande
desafio. Nas décadas de 70 e 80, destacava-
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Grupo Troiano de Branding P49
13INSIGHTS

-se a figura caricatural do publicitário com


ideias brilhantes desenvolvendo campanhas
milionárias. O plano era atingir as massas com
anúncios impactantes.
Com o surgimento de novas tecnologias de
informação e comunicação na década de 90,
houve uma mudança relevante. Os consumidores
passaram a demandar mais consistência e coe-
rência, especialmente das marcas corporativas. A
comunicação unidirecional foi substituída pelo
diálogo. Desde então, e em ritmo cada vez mais
acelerado, comunicação que não transmite a
verdadeira identidade das empresas vem per-
dendo espaço. Arriscaríamos até mesmo dizer
que está em processo de extinção.
A novidade é que agora existe uma outra
fronteira a ser cruzada pela comunicação. A
batalha das marcas dirigiu-se para o campo
da afetividade: mais importante que a relação
com o consumidor é o vínculo. E para se es-
tabelecer vínculo é fundamental que os valores
mais essenciais de marcas e pessoas estejam
conectados. Por isso a necessidade de uma
comunicação que começa do lado de dentro
das empresas, refletindo uma cultura e uma
razão de ser que faça sentido para todos seus
stakeholders. Na BrightHouse, chamamos essa
razão de ser de propósito.
O propósito espelha a cultura de uma empresa
e sua visão em relação ao seu futuro e ao futuro
do mundo. Ele serve para estabelecer critérios
simples que orientam a estratégia da empresa, o
posicionamento de seus produtos, contratações
e avaliações de pessoal, para, posteriormente,
orientar também a comunicação. Nasce do lado
de dentro, pois o que há de mais original em
uma empresa está em sua origem e sua história.
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P50 Grupo Troiano de Branding
PROPÓSITO: A HORA DA VERDADE

É impossível imaginar a história da Votorantim


sem Antonio Ermírio de Morais, da Natura sem
Luiz Seabra ou da Apple sem Steve Jobs. Talvez
o maior mérito desses líderes visionários tenha
sido justamente permear em toda a organização
o propósito de suas empresas.
A consciência de que nos dias de hoje o maior
diferencial competitivo de uma marca está na
unicidade de sua cultura é o reconhecimento
da importância da identidade corporativa e do
seu propósito. Em um mundo em que pratica-
mente tudo é fácil de se copiar, as marcas têm
compreendido que seu diferencial mais valioso
e difícil de ser copiado está em sua história,
em suas pessoas, no seu jeito de pensar e agir,
pois é essa a soma que vai fazer a diferença
para o mundo. E será dessa diferença que sur-
girá a nova diferenciação. Uma diferenciação
que não está mais no que as marcas têm de
diferente, mas da diferença que elas podem
fazer para o mundo.
Na nossa visão, não haverá anúncio que so-
breviverá a inconsistências ou meias-verdades.
E, como consequência, a melhor publicidade
será das marcas que puderem compartilhar e
viver o seu propósito com o mundo.
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Grupo Troiano de Branding P51
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13INSIGHTS

Qual o status do
relacionamento?
Pergunte ao Seu Manoel!
Andrea Russo
Q uem não se lembra das pequenas vendas de
bairros, que eram um mix de mercearia, padaria e
mercadinho do tipo “um pouco de tudo”? Dizem
até que foram as precursoras das atuais lojas de
conveniência. As atuais lojas de conveniências
são reconhecidas pelos consumidores como um
“lugar de confiança” para qualquer hora do dia
ou da noite, pois ali se encontra certo padrão
de atendimento, qualidade e uma promessa
que se cumpre.
Sim, isso tem um grande valor para a marca
destas redes de varejo. Porém, essas lojas não
têm a personalização no atendimento que as
antigas mercearias ofereciam (em muitos lugares
ainda oferecem) por conta do conhecimento
aprofundado sobre o cliente, o relacionamento
próximo e a visão e experiência de Seu Manuel,
Seu João, Dona Rosa, Dona Tereza, Seu Zé e
Dona Madalena espalhados por aí.
E quem não se lembra da caderneta e da
caneta veloz do seu Manoel da mercearia? Seu
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Grupo Troiano de Branding P53
13INSIGHTS

Manoel conhecia seus fregueses, anotava tudo


na sua caderneta, sabia o hábito e frequência de
compra de cada um e suas marcas preferidas. E
sabia também muito mais, por exemplo, quando
um novo integrante entrava para a família, fosse
um bebe ou um animal de estimação, pois, a
partir deste marco, os itens da lista de compra
se alteravam.
Seu Manoel foi mais do que o precursor das
atuais lojas de conveniência, Seu Manuel foi o
precursor de toda uma técnica de observação,
que envolve um processo de armazenamento
de dados, informações demográficas e psicográ-
ficas, análises valiosas a respeito dos diferentes
tipos de clientes da sua lojinha e insights im-
portantes para seu negócio. Seu Manoel tinha
uma visão de negócios a curto, médio e longo
prazo, o conhecimento sobre a clientela era
usado como diferencial de sua mercearia, seu
preço certamente não era o melhor do bairro,
mas ele sabia exatamente o que, como e quan-
do oferecer seus produtos e serviços com total
conveniência para seus clientes. Seu Manoel é
um exemplo completo de relacionamento entre
marcas e consumidores!
Muitas das marcas que consumimos fazem
parte de nossas vidas, participaram ou ainda
participam de momentos de nossa trajetória.
Momentos bons, ruins, inevitáveis ou relacio-
nados a metas às quais nos propomos. Elas
nos acompanham de alguma forma, seja em
nosso café da manhã, em nossa conexão com
o mundo, em momentos de diversão, viagens,
no pagamento de contas e até no tratamento
de doenças. Nos relacionamos com as marcas e
com os sentimentos que elas nos proporcionam
muito mais intensamente e frequentemente do
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P54 Grupo Troiano de Branding
QUAL O STATUS DO RELACIONAMENTO? PERGUNTE AO SEU MANOEL!

que normalmente percebemos, basta observar,


durante um dia, todos os produtos e serviços
e as marcas ligadas a eles que você utiliza. Da
hora que acorda, com o toque do seu celular
X e toma seu café de marca Y, até a hora de
dormir, no colchão e travesseiros que comprou
na loja Z, você certamente vai se surpreender
com a enorme lista e com o quão estreita pode
ser o status da relação encontrada com cada
um delas.
Depois de tantos anos atuando no plane-
jamento e na implantação de estratégias de
marketing de relacionamento e comunicação
dirigida entre empresas de diferentes segmen-
tos e seus targets, percebemos claramente o
quanto essa experiência nos permitiu mergulhar
a fundo no universo das marcas. Analisando
dados de comportamento de consumidores
e empresas, identificando clusters, testando a
comunicação mais efetiva para cada um deles,
taxas de conversão que variavam por mudanças
muitas vezes sutis no perfil de base de dados
utilizada, na cor de um envelope, na persona-
lização de um nome em tipologia manuscrita,
utilizando técnicas fundamentalmente de ma-
rketing direto, fica muito clara a importância
da verdadeira convergência entre as diversas
disciplinas de comunicação.
Neste momento, vemos que existe muita
técnica e trabalho por trás da construção des-
tes relacionamentos e vínculos entre marcas e
consumidores. E que, além de metodologia e
conhecimento para a construção de uma marca
forte e atraente, precisa existir nesta relação fun-
damentalmente: verdade e entrega, ou seja, o
cumprimento de uma promessa, seja ela qual for.
Acredito que o grande passo é identificar
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Grupo Troiano de Branding P55
13INSIGHTS QUAL O STATUS DO RELACIONAMENTO? PERGUNTE AO SEU MANOEL!

a natureza da relação entre a marca e seus


stakeholders: se por dependência, por falta de
opção, por livre escolha, um mal necessário,
ou por conveniência. Na linguagem das redes
sociais a pergunta seria: Qual o seu status de
relacionamento? É preciso se aprofundar neste
tema por stakeholders e, a partir daí, encontrar
a melhor forma de se posicionar, contando que
esse posicionamento faça sentido com cada um
deles e, em seguida, se comunicar com clareza
e adequação. E depois, claro, gerenciar expec-
tativas de acordo com a relação estabelecida
entre a marca e o seu interlocutor.
Parece fácil? Pergunte ao Seu Manoel quantos
anos de dedicação ele levou para conhecer,
conquistar e manter sua clientela. Ele também
teve que, de alguma forma, aprender que a na-
tureza do relacionamento com a marca define
o que ela representa e o quanto ela vale para
cada consumidor.

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P56 Grupo Troiano de Branding
13INSIGHTS

A COMPRESSÃO DO TEMPO
Patricia Valério e Jaime Troiano
C omeço da noite. São oito horas de uma sexta-
feira e eu pergunto ao meu filho, de 23 anos: “E
aí, vai sair hoje?” A resposta é imediata: “Ainda
não sei...” Meu olhar denuncia minha surpresa.
“Pai! Ainda é muito cedo...”. Eu paro por alguns
instantes, tentando entender como pode ser
cedo, se a noite já começou e os possíveis pro-
gramas ocorrerão na própria sexta e na virada
da sexta para o sábado.
Fiquei pensando. O que é cedo afinal? O fi-
lósofo J.M.E. McTaggart, em 1908, já defendia a
irrealidade do tempo. Para ele, a ordem temporal
das coisas é mera aparência. Assim como são as
noções de cedo ou tarde. Até aí, tudo bem. Mas,
conversando com meu filho, não pude deixar
de notar que cedo é um espaço de tempo que,
no período de uma geração, foi comprimido a
algumas horas.
Quando eu tinha a idade dele, saberia dizer
com duas semanas de antecedência a qual a
festa eu iria. O tempo que me separava do evento
não continha qualquer indecisão sobre aonde
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Grupo Troiano de Branding P57
13INSIGHTS

e quando ir. Era só esperar os dias passarem.


Nenhuma tensão sobre quem iríamos encontrar,
na casa de quem e a que horas chegaríamos.
Mais uma vez, volto a perguntar: “Mas você
não tem ideia mesmo de onde vão?”
E ele responde outra vez, com um olhar li-
geiramente entediado: “Pô pai, é muito cedo...”
Lá pelas oito e meia, ouço um sinal de mensa-
gem chegando no celular que ele havia largado
pelo caminho. “Marcelo, seu celular!” De longe,
vem a resposta: “Tudo bem, pai.” Ele parece não
se importar e continua entretido com alguma
coisa em seu quarto. E eu louco para saber se
aquilo era a mensagem que definiria o horário
e o local do programa. Tolinho! Nada disso. O
tempo avança mais um pouco e nada.
Estou diante da TV assistindo ao Jornal Nacio-
nal e ele se senta ao meu lado. A proximidade
é tentadora e não resisto: “Novidades sobre o
programa?” Sou obrigado a ouvir: “É, o Jornal
Nacional tem mudado de vez em quando, né?”. “É
lógico que não é desse programa que eu estou
falando, né Marcelo?”, respondo. E ouço mais
uma: “Ah, do outro? Relax que é cedo ainda...”
São dez e tanto agora. A essa altura, estou
quase certo de que não vai ter programa algum.
Consumido pela curiosidade, vou até a sala onde
ele está e o flagro vidrado no chat do Facebook.
Ele logo percebe minha aproximação e imagina
o que o insistente “inspetor de quarteirão” quer
saber. “Tô vendo com a galera o que vai rolar...”,
solta sem me dar tempo de perguntar. Eu me
seguro para não dizer algo como “Mas já passa
das dez!”, quando ouço o zumbido de mais uma
mensagem vindo do celular.
Daí em diante, não preciso descrever detalhes
a vocês. Entre ligações de celular, novas mensa-
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P58 Grupo Troiano de Branding
A COMPRESSÃO DO TEMPO

gens e conversas pela internet, estava montada


a rede de conexões de amigos devidamente
preparados para ir a uma festa que se iniciaria
por volta da uma da manhã! E todos estavam
bastante tranquilos para decidir que festa seria
essa na meia hora que a antecedesse.
Essa história, que já deve ter sido vivida por
qualquer leitor que tenha filhos em torno dos
“twentysomething”, é uma fantástica ilustração
sobre a drástica mudança na forma de conviver
com o tempo e sua compressão. E esse mesmo
ritmo e equacionamento de tempo que esta
nova geração está praticando tem invadido o
dia a dia das gerações mais adultas.
A cultura da compressão do tempo está sendo
vivida por todos nós. ASAP – as soon as possible
– é uma sigla presente em muitos e-mails pro-
fissionais. Aprender a lidar com o outro padrão
de velocidade e, para isso, ter como recurso
todos os atuais sistemas de comunicação digitais
e virtuais disponíveis, passará a ser um estado
default e não mais eventual. Não dá mais para
se esconder atrás do biombo do “mas eu tenho
mais de 40 anos”. Essa nova noção de tempo, do
que é cedo ou tarde, vale para todos e também
para as marcas.
É possível dividir o mercado em marcas rá-
pidas e marcas lentas. Ser lenta ou rápida não
depende do tipo de indústria em que ela atua.
Há marcas lentas em mercados de tecnologia
e há marcas rápidas no mercado de alimentos,
por exemplo. Uma revista ou jornal que entrega
no sábado uma assinatura feita na sexta é uma
marca rápida. Um banco que dá respostas em
cinco dias é uma marca lenta.
Por favor, não confundam: rapidez não significa
imediatismo nem atropelo!
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Grupo Troiano de Branding P59
13INSIGHTS A COMPRESSÃO DO TEMPO

Os serviços do Poupa Tempo, oferecidos pela


Prefeitura de São Paulo, o pagamento eletrônico
em pedágios e estacionamentos do Sem Parar,
o sistema de busca do Google e o check-in
de companhias aéreas via internet são apenas
alguns exemplos que mostram que uma vida
rápida não é, necessariamente, uma vida de
atropelos e maus serviços.
Muitos de nós nascemos ouvindo que “piano
piano se va lontano”. Para nós, isso soa apenas
um longínquo ensinamento. Independente da
indústria, do tipo de produto e de serviço, seja
B2C ou B2B, o driver de velocidade e de com-
pressão do tempo são um componente darwi-
niano das marcas e empresas que sobreviverão.
Fazer mais, melhor e em menos tempo. Ofe-
recer a possibilidade da gratificação instantânea
para um consumidor cujo tempo de decisão
também foi comprimido. É isso que o Marcelo
e os novos tempos exigem de nós. Será que
vamos conseguir?

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P60 Grupo Troiano de Branding
13INSIGHTS

DESIGN DE IDENTIDADE
VISUAL: QUE SEJAM ETERNOS
ENQUANTO DUREM
Mariana Jorge O design de identidade visual corporativa, entre
todas as formas de expressão da marca, é a
menos suscetível a modismos. Apesar disso, as
identidades visuais corporativas sempre foram
influenciadas pelo contexto filosófico-social em
que foram criadas: signos de nobreza e reli-
gião tornaram-se comerciais com a revolução
industrial; logotipos figurativos e quase verbais
contaram a saga da industrialização nos anos
20 e 30; signos assépticos e construtivistas do
período Bauhaus assumiram as formas geo-
métricas simples para falar do seu tempo; até
chegar nos logos-soft, maleáveis e adaptáveis
às mudanças de tecnologia e gosto, portanto
ajustados à demanda da década de 90.
Nos anos 60 as empresas buscavam princi-
palmente diferenciação, identificação e memo-
rização. Desejavam enquadrar-se nos princípios
de design moderno. Suas identidades eram de-
senvolvidas para serem únicas e eternas. Sua
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Grupo Troiano de Branding P61
13INSIGHTS

principal função era a de rápida identificação


da marca e, para tal, eram aplicadas seguindo
rigorosas regras. As premissas valorizam a esta-
bilidade, estética universal e atemporal.
A partir dos anos 90 as empresas procura-
vam comunicar, através de sua identidade visual,
atributos relacionados à sua essência de marca,
influenciadas pelo branding. A marca deixa de
ser exclusivamente visual, como nos anos 60, e
passa a ter a responsabilidade de representar os
valores da empresa; vemos a máxima dos anos
60, “a forma segue a função”, ser substituída por
“a forma segue a emoção”.
Mas vivemos hoje tempos hipermodernos, em
“uma sociedade liberal, caracterizada pelo movi-
mento, pela fluidez, pela flexibilidade; indiferente
como nunca antes se foi aos grandes princípios
estruturantes da modernidade, que precisaram
adaptar-se ao ritmo hipermoderno para não de-
saparecer” (Lipovetsky, 2004). A complexidade se
expressa na flexibilidade e fluidez dos sistemas
de identidade visual. De acordo com as novas
premissas do design de identidade visual corpo-
rativa os sistemas devem ser flexíveis pois são
facilmente adaptáveis às necessidades dos mais
variados pontos de contato, além de assegurar
relevância e novidade às comunicações. Os de-
signers precisam antecipar e criar infra-estruturas
que se acomodem a situações de mudanças
futuras, no caso de novos mercados ou de nova
posição na arquitetura de marca. Tornou-se de-
sejável quebrar a rigidez, acabar com a estrutura,
gride é igual a grade. “A flexibilidade é combinada
com a capacidade de renovação constante... Os
sujeitos da era do up grade não aceitam o velho...
Urge ser atual, renovado e recente a qualquer
custo.” (Kopp, 2002).
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P62 Grupo Troiano de Branding
DESIGN DE IDENTIDADE VISUAL: QUE SEJAM ETERNOS ENQUANTO DUREM

O pragmatismo da forma deixa de ser pri-


mordial. A emoção provocada é mais importan-
te do que a lembrança exata da forma de seu
desenho. Marca emocional é aquela que tem a
capacidade de se comunicar com o usuário no
nível dos sentidos e das emoções e é um dos
ingredientes propulsores nos projetos gráficos
de marcas contemporâneas. Os desenhos se-
guem uma tendência abstrata, humanista, gestual,
como frascos vazios abertos à interpretação e
dedução do usuário.
Diante deste quadro, nos deparamos com pro-
jetos menos preocupados com a durabilidade, de
acordo com a lógica de outrora. Os tempos de
solidez e de projetos pensados para durar estão
definitivamente encerrados. Em um mundo que
valoriza o volátil e o imediato, ainda faz sentido
pensar em um projeto que pretenda durar décadas?
Não seria desejável, então, que as marcas
nos oferecessem segurança, constância e per-
manência? Diante desse panorama, de tanta
efemeridade, inconstância e instabilidade dos
valores, seria possível esperar um resgate aos
valores de estabilidade, tônica dos anos 60?
Precisamos encontrar o ponto de equilíbrio
entre a marca moderna e a marca contempo-
rânea. Estamos cometendo excessos em busca
de apelo emocional, tentando ocupar um es-
paço que pode ser papel de outras formas de
comunicação corporativa. Bom design é síntese
– menos é mais, deve transmitir o máximo de
informações com um mínimo de elementos.
Facilitando inclusive a rápida identificação da
marca, primordial em tempos de decisões em
um piscar de olhos.
Outro paradigma dos sistemas de identidade
visual dos anos 60, a preocupação com a lin-
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Grupo Troiano de Branding P63
13INSIGHTS

guagem universal é bastante relevante diante


de um mundo globalizado, em que as marcas
devem competir em um cenário internacional.
E isto não quer dizer parecer global, mas saber
se comunicar globalmente.
Defendo também criações mais preocupadas
com a longevidade, pois o desenho do logo-
tipo deveria sofrer alterações apenas quando
necessário já que o usuário se afeiçoa a eles.
Portanto, se houver mudança, esta tem que ser
comunicada e muito bem justificada. Sendo
assim, seria de extrema importância que proje-
tos de identidade visual corporativa buscassem
ser atemporais.

Redesenho da marca Companhia de Jesus do Brasil. Atualização cuidadosa realizada em parceria pelo Grupo
Troiano de Branding e F.I.Bra.

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P64 Grupo Troiano de Branding
DESIGN DE IDENTIDADE VISUAL: QUE SEJAM ETERNOS ENQUANTO DUREM

Hoje temos distanciamento histórico para


concluir que as melhores práticas são as que
conservam seu logotipo quase inalterado, ga-
rantindo novidade, relevância e frescor através
de seu sistema de elementos gráficos, como
cores, tipografia de apoio, texturas, padronagens
e nas peças de comunicação.

Evolução do símbolo da Volkswagen de 1939 até os dias de hoje. (Fonte: www. markzone.wordpress.com)

Designers responsáveis praticam o respeito


ao patrimônio visual das empresas. E se o caso
for de criação de uma marca nova, eles aliam
as bases teóricas clássicas de construção de
identidade corporativa à intenção de representar
a essência da marca de forma autêntica, verda-
deira e relevante. Afinal legibilidade, pregnância,
replicabilidade ainda são preceitos desejáveis.
Designers responsáveis fogem de modismos e
apelos puramente estéticos.
Sobre os designers de identidade visual de
hoje, Décio Pignatari (in Melo, 2005) fala que
o melhores designers são aqueles que “sabem
que design traz em si as ideias amalgamadas
de signo, desenho e desígnio, uma concepção
dinâmica de projeto e programa, que recebe da
marca os fluídos irradiantes que lhe conferem
coerência e significação.”
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Grupo Troiano de Branding P65
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13INSIGHTS

THE FRUITS ARE IN


THE ROOTS
Joey Reiman T here is a remarkable power found in the roots
of every organization. Here is where companies
and brands literally begin to grow, where their
ethos lies, where the core sentiment, the seed of
the organization, was originally planted.Here in
the roots we discover and recover what makes
our enterprise distinctive, powerful and precious
- what makes it soulful in a world of sameness.
It is in these roots where the organization’s DNA
resides, where its potential first blossomed, whe-
re it possessed what I call Soulful Excellence--
-organizational vitality radiating from its original
purpose.Too often companies, even the biggest,
loose their way from what made them great
in the first place. It’s easy to do so in a world
that demands daily operational excellence. But
there is a costly price associated with leaving
your company’s past behind - from cutting your
company off from its roots.Conversely, there are
rich rewards for those who reconnect with their
company’s origin.
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Grupo Troiano de Branding P67
13INSIGHTS THE FRUITS ARE IN THE ROOTS

When you rediscover your organizations true


identity - what it stood for, then you will gain
fresh insight into the reasons for its existence, its
essence, its why - its very soul.It doesn’t chan-
ge over time. Yet too many loose sight of it
and don’t know how to get it back.  Too many
companies, in America, become lost souls. So
many brands stand for no-thing. They have lost
their purpose and meaning. To discover what
will make your company or brand truly great in
the years to come is to discover its history--its
Why-- and rebuild from there.
With the global search for meaning in the 21st
Century, from corporations as well as individuals,
this work is ripe for the picking.
It is a road map to the way back to our roots
that will produce new fruits for our labors. Re-
connecting with your business’s initial, historic,
literally groundbreaking, unique, authentic, trans-
formative thinking will fertilize, nourish, restore and
grow unprecedented emotional, intellectual and
financial revenues.“Soulful Excellence” promises
to help leaders, organizations, companies big
and small and marketers excavate the treasures
that lie right beneath them.

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P68 Grupo Troiano de Branding
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Grupo Troiano de Branding P69
13INSIGHTS

ANA LUISA NEGREIROS


TROIANO
[email protected]

ANA PAULA MORAES


TROIANO
[email protected]

ANDREA RUSSO
GRUPO TROIANO DE BRANDING
[email protected]

CAMILA MELO
TROIANO
[email protected]

CECILIA RUSSO
GRUPO TROIANO DE BRANDING
[email protected]

FÁBIO MILNITZKY
BRIGHT HOUSE BRASIL
[email protected]

JAIME TROIANO
GRUPO TROIANO DE BRANDING
[email protected]

JOEY REIMAN
BRIGHT HOUSE
[email protected]

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P70 Grupo Troiano de Branding
AUTORES
LUIS RASQUILHA
AYR CONSULTING WORLDWIDE
[email protected]

MARIANA JORGE
F.IBRA
[email protected]

MARIE-OCÉANE GAZUREK
BRIGHT HOUSE BRASIL
[email protected]

PATRICIA VALÉRIO
TROIANO
[email protected]

PAULA VALÉRIO
TROIANO
[email protected]

RENATA NATACCI
TROIANO
[email protected]

RICARDO KLEIN
TROIANO E BRANDS & VALUES
[email protected]

ZANNA
ZANNA SOUND
[email protected]

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Grupo Troiano de Branding P71
13INSIGHTS

UVXZ
CRIAÇAO E DIAGRAMAÇÃO

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P72 Grupo Troiano de Branding
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