Ana (2009)
Ana (2009)
Ana (2009)
Em 30 de setembro de 2009.
INTRODUÇÃO
1. Esta Nota Técnica trata das análises técnicas empreendidas pela ANA sobre a
Declaração de Reserva de disponibilidade hídrica relativa ao aproveitamento hidrelétrico Belo
Monte, a ser implantado no rio Xingu, na bacia hidrográfica do rio Amazonas, formulada pela
Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL.
HISTÓRICO
10. Com base nas pré-análises realizadas e nos encaminhamentos da reunião do dia 8
de junho, a ANA encaminhou o Ofício nº 791/2009/SOF-ANA, em 17 de junho de 2009, pelo
qual solicita à ANEEL, com cópia para a projetista, complementações nos estudos referentes
a:
15. Esta Nota Técnica contempla os itens definidos pela Resolução ANA nº 131, de
11 de março de 2003, que dispõe sobre os procedimentos referentes à emissão de declaração
de reserva de disponibilidade hídrica e de outorga de direito de uso de recursos hídricos, para
uso de potencial de energia hidráulica superior a 1 MW, em corpos de água de domínio da
União, e dá outras providências. A análise do empreendimento feita nesta Nota Técnica é
organizada em 3 blocos: hidrologia, usos múltiplos e análise do empreendimento, conforme
mostrado na Figura 2.
ANÁLISES
16. A declaração de reserva de disponibilidade hídrica poderá ser emitida pela ANA
em atendimento ao disposto na Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, e em conformidade com
as diretrizes da Resolução ANA nº 131, de 2003. Tendo em vista que a declaração de reserva
de disponibilidade hídrica será transformada automaticamente, pela ANA, em outorga de
direito de uso de recursos hídricos, as análises técnicas abordaram as alterações na quantidade,
qualidade e regime das águas resultantes da implantação do AHE Belo Monte e a
disponibilidade hídrica existente no período de outorga, coincidente com o período de
concessão do uso do potencial hidráulico.
Sistema Hídrico
17. O rio Xingu é formado pela confluência dos rios Culuene e Sete de Setembro,
ambos procedentes da Serra do Roncador. Percorre 2.271 km desde suas nascentes, situadas a
uma altitude da ordem de 600 m até sua foz, no rio Amazonas, na cota 3-4 m. Sua bacia
abrange uma área total de 509.700 km², banhando terras de 46 municípios do Mato Grosso e
42 municípios paraenses. A área das nascentes do rio Xingu é a de maior ocupação da bacia.
18. Os principais afluentes, de montante para jusante, são os rios Suiá-Miçu, Auaiá-
Miçu, Comandante Fontoura, Fresco e Bacajá pela margem direita; e Curisevo, Pardo, Iriri e
Acarai, pela margem esquerda. Dentre eles, o Iriri é o mais importante, possuindo uma área de
drenagem de 142.082 km2 e nascentes na Serra do Cachimbo. As feições mais marcantes da
bacia do Xingu são a forma quase circular de seu trecho mais superior, denominado neste
trabalho de “Nascentes do Xingu”, com um diâmetro de aproximadamente 390 km e rios com
drenagem radial convergente. Outra peculiaridade da bacia é a chamada Volta Grande do
Xingu, logo a jusante da foz do Iriri, onde o rio apresenta acentuada declividade e tem seu
curso marcado por cachoeiras e corredeiras, justamente o local onde haverá o desvio do rio
para geração de energia no AHE Belo Monte. A Figura 3 apresenta a localização das bacias
afluentes ao AHE Belo Monte.
19. O primeiro estudo de Inventário Hidrelétrico da bacia do rio Xingu foi finalizado
em janeiro de 1980, e foi realizado pela ELETRONORTE. Neste estudo, foram identificados
7 locais para implantação de UHE´s, com destaque para a região da Volta Grande do Xingu,
na qual foram previstos dois aproveitamentos (Babaquara e Kararaô), com potência instalada
de cerca de 14.000 MW apenas neste local, totalizando cerca de 20.000 MW em toda a bacia.
Nesta configuração, o reservatório formado pela UHE Babaquara também teria a função de
regularizar as vazões para a UHE Kararaô, usina que teria uma área alagada entre 3.940 e
6.140 km², dependendo da alternativa escolhida, enquanto Kararaô teria uma área alagada de
1.160 km² nas duas alternativas estudadas. Os deplecionamentos previstos seriam de 19,3 a
23,3 m para Babaquara, e de 1,0 m para Kararaô. A Figura 4 apresenta a configuração prevista
para as UHEs Babaquara e Kararaô.
20. Uma atualização dos estudos de Inventário Hidrelétrico da bacia do rio Xingu foi
finalizada em outubro de 2007, realizada em paralelo com os Estudos de Viabilidade do AHE
Belo Monte. A atualização do Inventário foi realizada por um grupo de empresas liderado pela
ELETROBRÁS. Nesta atualização do Inventário, que selecionou novos locais para os
aproveitamentos, foi descartada a UHE Babaquara, e a barragem principal do AHE Kararaô,
agora chamado de Belo Monte, foi deslocada 70 km a montante do local previsto no estudo de
Inventário original, reduzindo a área alagada para 440 km². Para manter o aproveitamento da
queda de cerca de 90 m existente na volta grande do Xingu, o novo arranjo do AHE Belo
Monte previu um desvio a montante da barragem, com o fluxo sendo conduzido por canais até
o sítio Belo Monte, onde será construída a casa de força principal. Nesta nova configuração, a
barragem principal deslocada para montante abrigará uma casa de força complementar que
aproveitará as vazões remanescentes a serem mantidas na volta grande do Xingu. A Figura 5
apresenta o novo arranjo estudado para o AHE Belo Monte.
22. O AHE Belo Monte se configura como um aproveitamento a fio d’água com
desvio de vazões para aproveitamento de queda existente, gerando uma alça de vazão reduzida
de cerca de 100 km no trecho do rio Xingu denominado “Volta Grande”. A barragem
principal do AHE Belo Monte, destinada a formar um reservatório para manter um NA
constante para desvio das vazões do rio Xingu, estará localizada cerca de 40 km a jusante da
sede do município de Altamira, em local denominado Sítio Pimental. Neste local, também
será construído o vertedor principal e uma casa de força complementar, que turbinará as
vazões remanescentes destinadas ao trecho de vazão reduzida (TVR). O NA normal previsto
para o reservatório a ser formado é 97,0m.
23. A partir do reservatório formado pela barragem principal, as vazões do rio Xingu
serão desviadas por meio de canais naturais e novos canais até o Sítio Belo Monte, onde será
construída a casa de força principal. Este desvio formará um trecho de vazão reduzida (TVR)
de cerca de 100 km no rio Xingu, entre os Sítios Pimental e Belo Monte.
24. Já o Sítio Bela Vista, localizado no trecho médio do Trecho de Vazão Reduzida,
receberá barragens e vertedor complementar, que restituirá ao trecho médio da Volta Grande
as vazões vertidas dos canais naturais e artificiais de desvio nas épocas das cheias. O arranjo
geral do AHE Belo Monte é apresentado na Figura 6.
HIDROLOGIA
26. A Nota Técnica NHI nº 04/2008 (próton 14799/2008) tratou da análise das cotas
disponíveis para a estação Altamira, para possível utilização na extensão da série de vazões
daquela estação fluviométrica.
27. Naquela NT, para o período de 1928 a 1959, foram gerados gráficos do tipo Box-
plot nas séries de cotas diárias deste período e do período recente (69-2006) para comparação
de valores médios e extremos das duas séries, conforme Figura 7.
900
800
700
600
500
Cota (cm)
400
300
200
100
0
1929-1956 1969-2006
28. Nota-se, além do deslocamento da tendência central observado entre as duas séries
(mediana), comportamentos distintos dos valores extremos. A flutuação das cotas mínimas do
período 1969-2006 apresenta menor amplitude quando comparada com a do período 1929-
1956. Por outro lado, em relação às cotas máximas, a flutuação das cotas do período 1969-
2006 tem uma amplitude maior que as de 1929-1956.
29. Uma avaliação da média das cotas mínimas anuais observadas (Tabela 2) indicou
que estas eram em torno de 107 cm no período 1929-1956 e passaram a 248 cm no período
recente (diferença de 141 cm). Enquanto a média das cotas máximas anuais observadas passou
de 649 para 734 cm (diferença de 85 cm). Portanto, os comportamentos distintos das séries
sugerem que as cotas registradas entre 1929 e 1956 não foram lidas na mesma seção
transversal do rio em que são realizadas as leituras atuais. Também foram realizados testes
estatísticos nas cotas dos dois períodos para verificar se estas são provenientes da mesma
população. Ao nível de significância de 5%, as hipóteses das amostras possuírem a mesma
média (teste t) e a mesma variância (teste F) foram rejeitadas.
30. Aquela NT também calculou as vazões diárias para o período compreendido entre
1929 e 1956, acrescentando 99 cm às cotas diárias da série antiga, referente à diferença entre
as médias das cotas dos dois períodos, e aplicando a relação entre cota e descarga válida desde
1971 até os dias atuais. Admitiu-se que a curva-chave extraída mediante as medições
realizadas recentemente fosse também válida para a série antiga. Os resultados deste cálculo
estão na Figura 8 e Tabela 3.
35.000
30.000
25.000
20.000
Vazão (m3)
15.000
10.000
5.000
0
1929-1956 1969-2006
31. Aquela Nota Técnica concluiu que, tendo em vista os resultados encontrados, não
devem ser geradas vazões para o período compreendido entre 1928 e 1959 a partir da relação
cota-vazão vigente aplicada à série de cotas antigas de Altamira, pelo fato dessa relação não
ser válida para aquele período.
33. Assim, resta determinar a série de vazões para o período compreendido entre
01/1931 e 06/1968, para compor a série completa que caracteriza a disponibilidade hídrica
para aproveitamentos hidrelétricos, que vai de 1931 até 2 anos antes da DRDH. Neste sentido,
para a análise da série de vazões do AHE Belo Monte neste período, foram analisados e
auditados os dados dos 6 postos pluviométricos disponíveis no EVI, e que foram utilizados na
aplicação do modelo matemático chuva-deflúvio utilizado no EVI para extensão da série até
1931. Adicionalmente, solicitou-se também que se fizesse uma atualização do período de
calibração do referido modelo, originalmente calibrado de 1968 a 1987, para o período de
1968 a 1999.
34. A partir das referidas orientações, a GEREG/SOF auditou os dados dos 6 postos
pluviométricos, disponíveis na base de dados HIDRO e complementados com dados recebidos
do INMET. Não foram encontrados erros grosseiros nos dados pluviométricos do período
1931 a 1987, em que pese a dificuldade de se auditar, a partir da documentação apresentada, a
forma de preenchimento das falhas dos postos neste período. Para o período 1988 a 2005,
foram encontradas inconsistências no preenchimento de algumas falhas nos dados de um dos
6 postos pluviométricos utilizados, que foram corrigidas. O resultado da nova calibração do
modelo matemático dos Estudos de Viabilidade é apresentado na Figura 9.
35000
gerada
obs
30000
25000
20000
m³/s
15000
10000
5000
0
8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6
l/6 l/6 l/7 l/7 l/7 l/7 l/7 l/7 l/7 l/7 l/7 l/7 l/8 l/8 l/8 l/8 l/8 l/8 l/8
ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju ju
35. A série de vazões médias mensais em Altamira gerada, para o período 01/1931 a
06/1968, pelo modelo do Estudo de Viabilidade a partir dos dados dos 6 postos
pluviométricos utilizados no EVI com as correções já descritas, complementada pela série de
vazões de 07/1968 a 12/2007, foi transferida para o local do AHE Belo Monte por relação de
áreas de drenagem (1,002566) e acrescentada dos usos consuntivos, tendo-se assim a série de
vazões naturais médias mensais afluentes ao AHE Belo Monte constante do Anexo 1 desta
NT.
VAZÕES MÁXIMAS
38. Desta forma, este tópico da análise inicialmente descreve o estudo feito, e a seguir
compara com uma estimativa feita pela própria SOF/ANA, desta vez considerando os dados
mais recentes, de forma a verificar se a incorporação destes leva a mudanças significativas na
vazão decamilenar.
Estudo apresentado
39. O estudo de vazões máximas apresentado utilizou vários modelos estatísticos para
ajustar a distribuição de vazões máximas anuais em Altamira (estação 18850000),
considerando igualmente vários cenários de disponibilidade de dados. Os modelos estatísticos
adotados foram: Exponencial, Log Normal e Gumbel. No caso deste último, foram testados
ainda dois procedimentos para estimativa dos parâmetros, o método dos momentos e o
método dos fatores de freqüência. Já os diferentes cenários dizem respeito à disponibilidade
de dados de vazões máximas. São eles:
a. Cenário 1: estudo original – corresponde ao estudo de vazões máximas
realizado nos estudos de inventário, datado de 1982, quando se contavam com
13 anos de dados. A cheia de 1980 foi substituída pele vazão máxima
observada no rio Tocantins no mesmo ano, transposta a partir da relação entre
áreas de drenagem1;
b. Cenário 2: corresponde ao estudo de vazões máximas com a série até o ano
2000, utilizando-se como máxima, no ano de 1980, a vazão observada no rio
Tocantins, transposta a partir da relação entre áreas de drenagem;
c. Cenário 3: em complemento ao cenário anterior, foram levantadas marcas de
cheias históricas na bacia do Tocantins, que foram associadas a vazões
máximas naquele rio, sendo que estas foram transpostas para o Xingu;
d. Cenário 4: corresponde ao estudo original completado com os dados de 1982 a
2000, contando com uma série de 32 vazões máximas anuais observadas;
e. Cenário 5: a série de vazões máximas de 32 anos foi estendida até 1931, a
partir da relação entre médias mensais e máximas anuais no período com
observação;
1
A cheia de 1980 no rio Tocantins foi bastante impactante pois ocorreu durante a obra da UHE Tucuruí,
exigindo alteamento emergencial das ensecadeiras. A vazão máxima observada em Altamira naquele ano foi de
32.330 m3/s, enquanto a vazão transposta do rio Tocantins através da relação entre áreas de drenagem resultaria
em 49.412 m3/s. Assim, neste cenário usou-se esta última vazão como a máxima de 1980, supondo que esta
vazão aconteceria no Xingu na hipótese de ocorrência de uma precipitação igual à ocorrida no Tocantins
(hipótese mais conservadora)
1 2 3
Distribuições 4 5
Evento raro
Observada Estendida
120 anos
(Original) (Atualização) 1969-2000 1931-2000
49.412m3/s
Exponencial 64.710 59.910 61.889
Gumbel Fatores 59.104 57.803 57.633
Gumbel Momentos 57.159 53.181 54.971
Log Normal 75.965 58.701 50.039 47.977 49.620
41. Como se vê, a maior vazão decamilenar foi obtida para o cenário 1, em que se
dispunha de uma série curta de dados e uma vazão bastante alta (máxima transposta do rio
Tocantins), de forma que os resultados são coerentes.
42. O estudo opta então por descartar as vazões decamilenares obtidas nos cenários 1
a 3, considerando que estas foram obtidas a partir de séries modificadas com a introdução de
um evento raro obtido de forma sintética. Dos cenários restantes, o maior valor para a cheia
milenar é obtido para o cenário 5, adotando a distribuição exponencial, de forma que o valor
adotado para a cheia decamilenar é de 61.889 m3/s. Esta é a vazão adotada para
dimensionamento dos vertedores, sendo que o vertedor do Sítio Pimental escoa 47.400 m3/s e
o do Sítio Bela Vista, 14.600 m3/s sem sobrelevação.
Verificação
43. O estudo apresentado pode ser considerado adequado, procurando comparar várias
distribuições estatísticas e considerando vários cenários de dados observados e sintéticos.
Mesmo assim, optou-se por fazer uma verificação expedita da vazão decamilenar obtida,
usando-se para isso os dados observados de 1969 até os dados da cheia mais recente, ocorrida
em maio de 2009. Ajustou-se a distribuição Gumbel à série de vazões máximas anuais,
obtendo-se um bom ajuste, conforme Figura 10.
44. Resultou daí uma vazão decamilenar de 53.453 m3/s, ou seja, inferior ao que o
estudo propõe. Esta diferença é compreensível, visto que o estudo adotou a maior vazão
resultante de uma série de metodologias, estando a favor da segurança e mostrando que o
estudo de vazões máximas apresentado é consistente. Como o valor verificado pela ANA para
a vazão máxima diária em Altamira foi razoavelmente inferior ao valor adotado pelo EVI, não
foi realizada a transferência do valor verificado pela ANA para o local do sítio Belo Monte,
nem efetuada a correção da vazão máxima diária para máxima instantânea, correções estas
que não resultariam em uma cheia decamilenar superior à já adotada no EVI.
45. Deve ser ressaltado que foram levados em conta critérios dados por manuais do
setor, como o Guia para Cálculo de Cheia de Projeto de Vertedores, da ELETROBRÁS e o
Manual de DRDH da ANA, para os quais, em amostras de tamanho maior (40 anos, neste
caso) pode ser usada a vazão decamilenar como base para o dimensionamento.
47. Portanto, recomenda-se que figure na resolução de DRDH a vazão de 62.000 m3/s
como vazão para dimensionamento do vertedor.
EMPREENDIMENTO
ENCHIMENTO
53. Como se vê, mesmo adotando um critério de vazão remanescente mais restritivo
no período de enchimento, o tempo para atingir a cota 97m é pequeno, desde que o
fechamento do reservatório se dê nos meses de janeiro a julho. Mesmo em um ano seco (95%
de garantia) este tempo seria de, no máximo, 21 dias, na hipótese de fechamento no mês de
abril.
QUALIDADE DA ÁGUA
54. A qualidade de água dos futuros reservatórios do AHE Belo Monte foi tratada nos
Estudos Ambientais do empreendimento, elaborados pela LEME Engenharia Ltda. (2009).
57. Com base nas informações e resultados desses estudos, o Volume 33 traz
proposições de planos, programas e projetos para prevenir, mitigar, monitorar, potencializar e
compensar os diversos impactos identificados e caracterizados nos estudos ambientais.
58. Com o objetivo de embasar a definição de uma regra operativa clara e capaz de
manter padrões aceitáveis de qualidade de água nos mananciais impactados pelo AHE Belo
Monte, resumem-se a seguir os estudos de qualidade de água realizados pelo requerente.
Apresentam-se também os resultados preliminares de estudos de modelagem de qualidade de
água realizados na GEREG. Apoiando-se nas tendências mostradas por tais estudos, são
propostas condicionantes para a Reserva de Disponibilidade Hídrica e para a sua futura
conversão em outorga de direito de uso.
Estudos Apresentados
65. No trecho de vazão reduzida – TVR, as águas do igarapé Tucuri e do rio Xingu
possuem altas temperaturas, baixa turbidez e boa oxigenação.
78. A qualidade da água a jusante da Casa de Força Principal será mais crítica em
curto prazo, após o período de estiagem, quando haverá aumento da geração de energia e
conseqüente aumento de volume da água turbinada.
81. Por outro lado, no Reservatório dos Canais, a água estagnada durante o período de
estiagem, que passou por diversos processos de degradação de sua qualidade, principalmente
no teor de oxigênio dissolvido, poderá afetar, momentaneamente, a qualidade da água e as
condições ecológicas do trecho de restituição de vazão.
82. A própria vazão do rio Xingu e o turbilhão formado pela água ao passar pelas
máquinas minimizarão esse impacto, que poderá variar de 50 a 330 km a jusante da Casa de
Força Principal, em um período de tempo de 1 a 5 dias.
86. Conforme os resultados obtidos nas simulações do modelo, verificou-se que para
vazões de até 200 m³/s não há problemas de qualidade da água no Trecho de Vazão Reduzida.
Portanto, considera-se que, para os coliformes fecais também não haverá problemas de
qualidade.
96. A descrição dos modelos utilizados, MQUAL e IET, foi bastante superficial,
indicando apenas as variáveis de entrada, sendo:
- Cargas difusas: provenientes do processo de uso e ocupação da bacia e estimadas com base
em índices de produção apresentados na literatura e no efeito das chuvas no carreamento
dessas matérias até os reservatórios.
- Cargas pontuais: trata-se do lançamento direto de esgotos domésticos. As cargas desses
efluentes foram estimadas por índices de produção apresentados na literatura.
- Volume e Vazão: características que influenciam na definição do tempo de residência dos
reservatórios e da capacidade de diluição/assimilação de cargas poluentes.
101. O resultado da simulação das cargas pontuais indicou uma maior concentração de
fósforo no reservatório Principal, no período de vazões máximas, sendo de 0,01835 g/m³, para
o final da simulação, ano 2035.
108. A falta de maiores detalhes acerca da metodologia utilizada e das cargas estimada
dificulta a verificação desse equívoco.
110. Outra questão que dificultou a interpretação desses resultados foi a falta de
detalhamento e quantificação das variáveis consideradas, uma vez que o texto não esclarece se
a simulação considerou também as cargas difusas e que tipo de tratamento (eficiência de
remoção de cargas de fósforo) referenciou os cenários avaliados.
112. A simulação posterior tratou da estratificação do reservatório dos Canais, uma vez
que os dados hidráulicos e de morfologia do reservatório Principal, de acordo com a literatura,
não acarretará o desenvolvimento desse fenômeno.
Alta oxigenação.
Transporte elevado de material em suspensão e de plâncton.
Alta capacidade de autodepuração.
121. Para tanto, utilizou-se o mesmo modelo indicado nos documentos apresentados –
Método de Vollenveider – e o cenário mais restritivo de regra de operação proposto naqueles
estudos, que corresponde ao período de estiagem. A Tabela 11 apresenta esses resultados.
123. Contudo, destaca-se que o maior problema identificado pelos estudos ambientais -
eutrofização do reservatório dos Canais - não foi avaliado adequadamente ou, pelo menos, as
informações apresentadas não foram suficientes para explicar e concluir os efeitos decorrentes
do processo de formação do reservatório dos Canais e seus respectivos impactos.
125. Por fim, entende-se que a decisão referente à vazão mínima circulante no
reservatório dos Canais deve ser conservadora, visto as incertezas metodológicas e dos
resultados dos estudos apresentados, bem como o cenário resultante da avaliação simplificada
realizada. Assim, recomenda-se manter uma vazão mínima de circulação no reservatório dos
Canais de 300 m³/s. Os estudos complementares sugeridos deverão avaliar corretamente o
ganho, em termos de qualidade de água, com a manutenção dessa vazão mínima no
reservatório dos Canais.
Estudos Complementares
Escopo
133. Para tanto, serão utilizados dados de ventos locais, vazões afluentes, dados
operativos definidos, dados batimétricos, dados meteorológicos da região (evaporação e
precipitação), dados de qualidade de água e outros parâmetros para simular o impacto do AHE
Belo Monte.
135. O domínio modelado deverá se estender por todo reservatório Principal, desde o
trecho a montante de Altamira, e pelo reservatório dos Canais.
Dados batimétricos
Ventos
138. As dimensões do reservatório dos Canais exigem dados de ventos médios a cada
meia hora para simulação adequada da recirculação forçada por tais ventos. No entanto, a
maioria dos históricos de vento, possui freqüências menores de amostragem. Sugere-se a
obtenção do histórico de ventos junto ao aeródromo de Altamira, administrado pela
INFRAERO.
Dados de vazão
140. Pretende-se construir um cenário crítico que considere as vazões ocorridas no ano
crítico de 1969, nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro. Esses foram os meses
para os quais a vazão afluente foi menor que 1.000 m³/s naquele ano. Com a regra proposta de
simulação, em tais condições a vazão mínima de 300 m³/s afluente ao reservatório dos Canais
seria mantida às custas do deplecionamento do reservatório Principal.
141. Entende-se, portanto, que a conjunção de tal condição com as cargas oriundas da
ocupação da bacia de montante para o fim de plano constituiria o cenário crítico. As vazões
citadas acima devem ser prescritas como condições de contorno de fluxo de montante.
Resultados esperados
148. Para a emissão da outorga ao titular do AHE Belo Monte, deverá ser exigido o
aprofundamento dos estudos de qualidade da água conforme detalhado nesta Nota Técnica.
Qs = 0,8506 . Q0,8309
152. A carga total diária de sedimentos transportados pelo rio Xingu em Altamira,
calculada a partir da curva-chave proposta, foi de 8.702 ton/dia. Foi considerada pela
projetista uma taxa de crescimento das descargas sólidas de 6% ao ano. Esta taxa foi aplicada
durante 16 anos, resultando num multiplicador de 2,5 ao transporte sólido médio anual.
153. O peso específico adotado para os sedimentos foi de 0,852 ton/m³, para o início da
operação, e 1,053 ton/m³ após 50 anos de operação, valores considerados conservadores.
154. Para estimativa da vida útil do reservatório do Xingu e do reservatório dos canais,
foi adotada pela projetista uma partição de vazões entre a calha do Xingu e a vazão derivada
para os canais, de 30% e 70%, respectivamente. Considerou-se que a descarga sólida segue a
mesma proporção.
155. Para a tomada d’água principal, o estudo apresentado adotou duas abordagens para
avaliação da vida útil: uma considerando um reservatório único e, a outra, a existência de dois
volumes de reservação interligados pelos canais de derivação. Esta segunda abordagem
contemplou ainda duas variantes, a seguir descritas:
157. Os estudos apresentados mostram que a vida útil, considerada como o tempo em
que os sedimentos atingem a cota da soleira da tomada d’água da casa de força principal, seria
de 180 anos (considerando reservatório único), de 248 anos (dois reservatórios, sedimentos
integralmente transferidos para o reservatórios dos canais) ou de 513 anos (dois reservatórios,
partição das descargas sólidas conforme equação citada).
159. Para verificação dos estudos apresentados, inicialmente foi realizada uma consulta
ao Mapa de Potencial de Produção de Sedimentos do Brasil, publicado pela ANEEL em 2005.
Para a bacia do rio Xingu, praticamente toda a bacia foi classificada como potencial muito
baixo de produção de sedimentos (< 5 ton/km².ano), com exceção das cabeceiras na região de
Paranatinga, que apresentam um potencial de produção de sedimentos bem maior, mas se
restringem a uma pequena porção da área total da bacia. Aplicando-se a taxa de 5 ton/km².ano
à área de drenagem do AHE Belo Monte, chega-se a um potencial anual de 2.235.000 ton/ano,
o que resulta em um potencial de produção de sedimentos de 6.123 ton/dia, valor inferior ao
calculado em Altamira a partir da curva-chave de sedimentos apresentada pela projetista.
46 100
41
36
concentração (ppm)
concentração (ppm)
31
26
10
21
16
11
1
1000 6000 11000 16000 21000 26000 31000 36000 1
1000 10000 100000
vazão (m³/s)
vazão (m³/s)
167. A seguir foi aplicado o método empírico de redução de área, de Borland e Muller,
para avaliação da deposição dos sedimentos no pé das barragens. O tipo de reservatório
adotado foi Tipo I, a mesma tipologia utilizada nos estudos apresentados à ANA. Foi possível
a aplicação apenas aos reservatórios considerados em conjunto, pois as curvas cota-área-
volume (CAV) dos compartimentos Xingu e canais do reservatório não foram apresentadas
isoladamente.
171. Em função das considerações acima, e também por conta dos resultados dos
estudos apresentados pela projetista, que sugerem uma vida útil inferior para o reservatório do
rio Xingu, com previsão de estrutura de proteção para a tomada d’água do sítio Pimental,
recomenda-se que, para conversão da DRDH em outorga, seja exigido um detalhamento do
estudo de assoreamento, com as seguintes premissas:
172. Recomenda-se também que seja exigida uma atualização, a cada 5 anos, das linhas
de remanso do reservatório do rio Xingu para as cheias características, em função da evolução
do assoreamento no reservatório.
REMANSO
173. Os estudos de remanso da UHE Belo Monte foram iniciados na fase dos Estudos
de Viabilidade, mas foram mais bem detalhados nos estudos ambientais. Por conta disso, a
análise aqui feita baseia-se fundamentalmente nos relatórios apresentados no EIA. Estes
estudos tiveram por finalidade principal caracterizar as condições de escoamento no rio Xingu
a montante do barramento, após a implantação do reservatório, e avaliar a elevação da linha
d’água, tanto no rio Xingu quanto nos igarapés localizados na cidade de Altamira, buscando
determinar a influência da presença do reservatório, especialmente sobre a cidade de Altamira.
Para isso, o estudo foi conduzido separadamente para o rio Xingu e para os 3 igarapés de
Altamira.
174. O estudo do remanso do reservatório contemplou todo o estirão do rio Xingu que
abrigará o reservatório, estendendo-se desde o barramento principal, localizado no sítio
Pimental, até o local denominado Furo da Boa Esperança, totalizando uma extensão de
aproximadamente 84,5 km.
177. Para a calibração do modelo, foram utilizados dados de níveis d’água em 6 seções,
obtidos de curvas-chaves estabelecidas em cada uma. Uma dessas seções corresponde ao
posto fluviométrico de Altamira, operado pela ANA (código 18850000), cujos dados
analisados no estudo cobrem o período de 1978-2001. Nas outras 5 seções, as curvas-chaves
foram estabelecidas nos levantamentos de campo, cobrindo o período de 2001-2002, cujos
dados abrangem vazões de até 30.000 m³/s. Estas curvas-chaves apresentam uma boa
regularidade gráfica, com pouca dispersão dos valores medidos em relação à curva
estabelecida, de forma que os erros cometidos com o emprego da equação não comprometem
a precisão dos resultados. Em outras 3 seções, as localizadas mais a montante, foram
levantados níveis d’água somente em uma ocasião, o que não permite avaliar se a calibração
consegue reproduzir as variações de níveis para as outras situações. A Tabela 14 resume o que
foi exposto.
bifurcações) do que a rugosidade da calha. Por isso, para estas cotas, os coeficientes
resultaram em altos valores, variando de 0,075 a 0,2. Em contrapartida, para as cotas mais
altas, quando os níveis d’água cobrem a maior parte das deformidades, os coeficientes de
Manning reduzem-se para valores que variam de 0,02 a 0,05.
181. O ajuste conseguido na calibração foi considerado aceitável para todas as seções,
embora tenham ocorrido algumas diferenças significativas entre os valores observados e
simulados. A Figura 13 apresenta os resultados obtidos na calibração do modelo e a
localização das seções utilizadas. Observe-se que, na seção BM2, essa diferença foi superior a
1,0 m para a vazão mais baixa, enquanto que, nas demais seções, houve diferenças acima de
0,5 m em situações variadas. Porém, no geral, as diferenças foram consideradas pequenas.
Contudo, na seção Altamira, que representa o local de maior interesse para este estudo, as
diferenças foram consideradas muito pequenas, frente às discrepâncias observadas na sua
curva-chave. Com isso, os coeficientes de Manning puderam ser considerados válidos.
104
102
100
98
96
Níveis d'água (m)
94
92
90
88
86
Babaquara BAb1b
84
Cana Verde I
82
Altamira
80
Taboca
Nova 1
Nova 2
Nova 3
BM1
BM2
78
76
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000
Distância ao eixo Pimental (m)
Q 3450 m³/s Obs Q 9200 m³/s Obs Q 12300 m³/s Obs Q 20078 m³/s Obs
Q 30250 m³/s Obs Q 34795 m³/s Obs Q 3450 m³/s Sim Q 9200 m³/s Sim
Q 12300 m³/s Sim Q 20078 m³/s Sim Q 30250 m³/s Sim Q 34795 m³/s Sim
182. Com o modelo calibrado, foram simulados os perfis da linha d’água para as
situações natural e com o reservatório implantado. Foram simuladas as vazões características
determinadas no estudo estatístico, variando desde a vazão média das mínimas anuais
(MMA), passando pela média histórica (MLT) e pela cheia média anual (CMA), até as vazões
máximas com tempos de recorrência de 5, 10, 25, 50 e 100 anos. A Tabela 15 apresenta os
valores dessas vazões.
TR 10 anos 29.518
TR 25 anos 33.812
TR 50 anos 37.060
TR 100 anos 40.309
183. Observa-se que não foram simuladas situações de cheias com maiores tempos de
recorrência. No entanto, essas situações podem ser dispensadas por não serem condicionantes
para a definição da faixa de desapropriação e nem para a relocação das estruturas viárias.
102
Natural
100 Com reservatório
Níveis d'água (m)
98
96
TR 100 anos
94
TR 10 anos
TR 25 anos
TR 50 anos
TR 5 anos
92
MMA
CMA
MLT
90
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000
Vazão (m³/s)
188. Na cidade de Altamira, existem 3 igarapés de porte considerável que tem relevante
interesse para o estudo dos efeitos do remanso do reservatório, pois implicam em áreas
sujeitas a inundações, que afetam diretamente parte da população da cidade. São os igarapés
Altamira, Panelas e Ambé.
190. Como não existiam dados fluviométricos nos igarapés, as vazões de cheias foram
estimadas pela aplicação de um modelo chuva-vazão para as suas bacias. Foi empregado o
modelo HEC-HMS, que determina a vazão com base no hidrograma unitário adimensional do
SCS. Para este modelo são necessários dados da bacia como a área, a chuva distribuída no
tempo, o índice CN e o tempo de concentração.
191. Tendo como base a Carta Topográfica do IBGE para a região, na escala
1:100.000, foram traçadas e planimetradas as áreas das bacias hidrográficas de cada um dos
igarapés. As áreas encontradas para os igarapés Panelas, Altamira e Ambé foram,
respectivamente, de 508 km², 72 km² e 222 km².
100
90 TR 100 anos
80 TR 10 anos
Precipitação (mm)
TR 2 anos
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Tempo (h)
193. O índice CN foi obtido de valores padronizados, obtidos da literatura, com base
nas informações de tipo de solo e do tipo de ocupação da bacia. Foram assumidos, para os
igarapés, valores próximos a 70.
194. Por fim, o tempo de concentração foi determinado utilizando a equação de Dooge,
com base nas informações de área e declividade do talvegue, obtidas da Carta Topográfica do
IBGE, na escala 1:100.000. Os tempos de concentração encontrados para os igarapés Panelas,
Altamira e Ambé foram, respectivamente, de 12,3 h, 5,6 h e 9,5 h.
195. Com esses resultados, foi empregado o modelo matemático HEC-HMS, com o
qual foram determinadas as vazões máximas apresentadas na Tabela 17.
196. Para este estudo, foi utilizado o modelo HEC-RAS, em contraposição ao modelo
utilizado anteriormente no estudo do remanso no rio Xingu.
198. Como não existem medições fluviométricas em nenhum dos igarapés, não seria
possível determinar uma relação entre vazões e níveis que pudesse ser utilizada para a
calibração do modelo. Por conta disso, partiu-se para uma solução alternativa. Foram
realizadas entrevistas com os moradores locais e identificados os níveis d’água máximos
atingidos nas cheias observadas nos igarapés.
200. Assim, com o modelo configurado, foi verificado que tempos de recorrência
estavam associados aos níveis d’água máximos coletados nas entrevistas com os moradores.
Nos 3 cenários avaliados, partindo dos níveis d’água obtidos no rio Xingu, foram testadas
várias vazões para tentar reproduzir os níveis máximos coletados nas entrevistas. Em geral,
observou-se que cheias de recorrência de 10 anos no rio Xingu, sem contribuição significativa
dos igarapés, já são suficientes para promover os níveis observados em campo e coletados nas
entrevistas.
201. Procurando atender os Termos de Referência do IBAMA, que exigiu a análise dos
efeitos do remanso para uma recorrência de 100 anos, que corresponde a uma probabilidade
de 1%, o projetista avaliou que as cheias do rio Xingu e dos igarapés são eventos
independentes, baseado principalmente na grande diferença de porte das suas áreas de
drenagem. Dessa forma, procurou-se combinar cheias com diferentes tempos de recorrência
no Xingu e nos igarapés de modo que a probabilidade final resultasse em 1% (TR 100 anos).
Com isso, a probabilidade final seria o produto das probabilidades individuais. As
combinações utilizadas são apresentadas na Tabela 18.
TABELA 18 – CONDIÇÕES DE VAZÕES NO RIO XINGU E NOS IGARAPÉS, PARA TR 100 ANOS
Xingu Igarapés
Vazão Vazão (m³/s)
Recorrência Recorrência
(m³/s) Panelas Altamira Ambé
CMA (1 ano) 23.414 100 anos 1.077 259 617
10 anos 29.518 10 anos 540 130 317
100 anos 40.309 CMA (1 ano) 294 70 178
202. Com o modelo configurado, foram simulados os perfis da linha d’água para as
situações natural e com o reservatório implantado, seguindo as condições propostas na Tabela
18. Em todas as situações, foram adotados, como condição de contorno, os níveis atingidos
pelo reservatório junto à cidade de Altamira, mais precisamente, aqueles associados à seção
Altamira, estudada anteriormente e apresentada na Tabela 16.
205. Contudo, a consideração de que os eventos no rio Xingu e nos igarapés sejam
independentes não significa que os mesmos sejam excludentes. Observa-se, pelos resultados
finais, com a presença do reservatório, obtidos para os igarapés, que as cheias de maior porte
promovem alterações significativas nas linhas d’água para montante, à exceção do igarapé
Ambé. Isso significa que, no caso de uma ocorrência de cheias com altos tempos de
recorrência em conjunto, a extensão do reservatório e a sua influência sobre a cidade de
Altamira podem tornar-se muito mais expressivas.
206. Por conta disso, recomenda-se, para a conversão desta DRDH para a outorga, que
seja estudada a situação de cheias simultâneas no Xingu e nos igarapés, contemplando
principalmente aquelas com tempos de recorrência de 50 e 100 anos ocorrendo
simultaneamente no rio Xingu e em seus afluentes. Os seus resultados deverão ser
apresentados em planta, com as manchas de inundação sobre a cidade de Altamira em escala
adequada.
208. O arranjo proposto para o AHE Belo Monte prevê um barramento no local
denominado Sítio Pimental, a partir do qual a vazão é conduzida para o reservatório dos
canais, paralelo à margem esquerda do rio Xingu, até o barramento do Sítio Belo Monte, onde
se encontra a casa de força principal. Este arranjo acarretará que um trecho de cerca de
100km, conhecido como a Volta Grande do Xingu, terá sua vazão diminuída. Este trecho é
citado nesta NT como Trecho de Vazão Reduzida, ou TVR.
209. Cabe salientar que a barragem do Sítio Pimental também é dotada de uma casa de
força com 233 MW, de forma a aproveitar a vazão remanescente para geração de energia. No
entanto, do ponto de vista unicamente do uso para geração hidrelétrica, a operação “ótima”
seria desviar toda a água para o reservatório dos canais e geração no Sítio Belo Monte, onde a
queda, e portanto a potência, são muito mais elevados.
213. Se, em determinado ano, a geração de energia for priorizada (hidrograma A), no
ano seguinte o empreendimento deve necessariamente operar de forma a manter o hidrograma
B no TVR. Na hipótese de vertimentos, a vazão excedente também fluirá pelo TVR.
214. Um outro ponto a ser definido diz respeito à variação permitida na vazão diária
em relação à média mensal prescrita para o TVR. Este ponto é importante, pois sua não-
definição poderia levar o empreendedor a variar a vazão de outubro de 0 a 1400 m3/s de um
dia a outro, por exemplo, o que certamente não é interessante do ponto de vista da navegação
e dos ecossistemas no TVR. Sendo assim, sugere-se que a cada mês, a vazão instantânea não
possa ser inferior à vazão média prescrita para o mês anterior (em casos de ascensão do
hidrograma) ou do mês seguinte (recessão). A exceção é o mês de outubro, em que a mínima
instantânea não deve ser inferior à vazão requerida para a navegação, 700 m3/s. O resultado
prático desta proposta pode ser visualizado na Tabela 20.
TABELA 20 – VAZÃO INSTANTÂNEA MÍNIMA QUE PODE SER PRATICADA NO TVR (M³/S)
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
900 1100 1600 1800 1200 1000 900 750 700 700 700 800
216. Do ponto de vista de recursos hídricos, o estudo de vazão remanescente pode ser
considerado bastante satisfatório, pois expressou as necessidades dos ecossistemas em termos
de vazões, o que possibilita que o cotejo entre os usos múltiplos existentes seja realizado com
mais propriedade.
219. Os estudos apresentados não propõem regra de operação para estas condições.
Portanto, a documentação apresentada, olhada como um todo, é contraditória, pois em dado
capítulo recomenda a vazão de 300 m3/s nos canais e em outro prevê que esta vazão será nula
para vazões afluentes muito baixas. Não há, ao longo da documentação apresentada, uma
descrição de como as condições operativas podem ser compatibilizadas em períodos de vazão
muito baixa. No entanto, as curvas de permanência no TVR com e sem reservatório,
apresentadas no EVTE e mostradas na Figura 16, mostram que para vazões muito baixas, com
permanência acima de 95%, não há alteração da vazão no TVR.
4
x 10 Curva de Permanência
3 18850000
cenario 10
2.5
2
Q(m³/s)
1.5
0.5
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
Fração do tempo (%)
223. Pode-se perceber que, para manter uma vazão de 300m3/s nos canais, sem prejuízo
ao TVR, o reservatório teria de deplecionar em até 9m. Este deplecionamento é
operacionalmente possível, visto que a soleira da conexão entre o reservatório do Xingu e do
reservatório dos canais fica à cota 85m, abaixo do nível mínimo estimado nesta NT (97m-
9,2m= 87,8m).
226. Considera-se que a definição pela proposta b, embora não esteja explicitada no
EVTE, resguarda a manutenção dos usos múltiplos, pois acata diretrizes ambientais, de
qualidade da água, energéticas e de outros usos, notadamente navegação, ao custo de uma
alteração bastante esporádica nos níveis d'água do reservatório.
USOS MÚLTIPLOS
227. A documentação apresentada não faz referência a usos consuntivos, tanto atuais
quanto futuros, a montante do AHE Belo Monte. De fato, o uso atual é muito pequeno, devido
à pequena população residente na bacia e à pouca atividade de irrigação, que normalmente
representa a maior parte do consumo em bacias brasileiras. No entanto, é importante fazer
uma projeção correta do crescimento do uso ao longo da concessão da AHE Belo Monte (35
anos), de forma a garantir segurança ao gerenciamento de recursos hídricos na bacia, por parte
da ANA e dos órgãos gestores do Pará e Mato Grosso, sem prejudicar a viabilidade do
empreendimento hidrelétrico.
229. Desta forma, optou-se por reavaliar os usos consuntivos existentes por setor, de
forma a projetar consumos separadamente e após agregar. Estas estimativas são baseadas no
estudo de ONS (20032) e ONS (20063), que levam em conta dados de censos demográficos,
agropecuários e econômicos. Uma vez que não existem informações da distribuição da
agropecuária e da população rural sobre o município, esta distribuição é considerada
homogênea, e o consumo correspondente é proporcional à área municipal abrangida pela
bacia. A Figura 18 mostra o contorno da bacia e os municípios abrangidos, enquanto a Tabela
21 mostra a proporção da área do município interna à bacia, e a informação sobre a posição da
sede municipal em relação à bacia (sim-interno; não-externo).
2
ONS (2003) Estimativa das Vazões para Atividades de Uso Consuntivo da Água nas Principais Bacias do
Sistema Interligado Nacional – Metodologia e Resultados Consolidados – Relatório Final. Operador Nacional do
Sistema Elétrico. Brasília, DF. 209p
3
ONS (2005) Estimativa das Vazões para Atividades de Uso Consuntivo da Água em Bacias do Sistema
Interligado Nacional – Metodologia e Resultados Consolidados – Relatório Final. Operador Nacional do Sistema
Elétrico. Brasília, DF. 236p
Dessedentação animal
232. Cabe ressaltar que os dados de consumo foram obtidos considerando-se uma
demanda de 50 l/cabeça/dia, multiplicada pelo BEDA (bovinos equivalentes para demanda de
água) obtido em cada censo. Considera-se ainda um coeficiente de retorno de 20%, conforme
metodologia de ONS (2005).
233. Embora a curva logarítmica não seja a que se ajusta melhor aos dados censitários,
optou-se por ajustar esta curva devido à expectativa de redução das taxas de crescimento de
rebanhos na Amazônia, já citada acima.
234. Para o setor de abastecimento urbano, podem-se prever taxas de crescimento altas,
uma vez que as cidades da bacia têm atraído migrantes. De fato, as taxas de crescimento entre
os últimos censos foram superiores a 7% ao ano. A própria construção do AHE Belo Monte
tende a ser um fator de crescimento populacional. Já o abastecimento rural tende a crescer
menos. A Figura 20 mostra os consumos censitários e a projeção ao longo do prazo da
DRDH/outorga.
Indústria
236. O setor industrial tem pouca importância em termos de consumo de água nesta
bacia, e não há elementos para crer em mudanças neste quadro. A Figura 21 mostra os dados
de consumo obtidos dos censos econômicos e a projeção para o período da concessão/outorga.
237. Para projeção deste setor, adotou-se a taxa de crescimento observada entre os dois
últimos censos.
Irrigação
239. Como se vê, mesmo adotando uma equação de regressão como esta, o consumo
previsto ao fim da concessão é pequeno para o tamanho da bacia. Cabe salientar que o dado
informado pela SPR para o ano de 2007 era de retiradas de água para irrigação, e não de
consumos. Desta forma, adotou-se um coeficiente de retorno de 20% para a consideração do
dado da SPR no ajuste da reta.
Consumo total
240. A Tabela 22 mostra o resumo por setor e totalizado das projeções de consumo
realizadas.
245. O sistema de produção de água, com capacidade de 75 L/s (270 m³/h), consiste de
uma captação em balsa flutuante no rio Xingu a jusante do Igarapé Panelas, uma estação
elevatória, uma adutora de água bruta, uma ETA, cinco reservatórios de água tratada e a rede
de distribuição de água tratada. A ETA tem capacidade de tratar 380 m³/h, com possibilidades
de ampliação, mas é limitada atualmente pela capacidade das demais estruturas do sistema.
Nesse sentido, encontra-se em implantação uma nova estação elevatória com capacidade de
600 m³/h.
246. A equipe de pesquisa de campo para elaboração do EIA observou que a prefeitura
abastece algumas áreas da sede urbana não servidas pela rede geral com carros-pipa que
coletam água no Igarapé Ambé e a fornecem à população sem nenhum tipo de tratamento.
Outras regiões não atendidas pela rede geral são abastecidas por sistemas isolados,
constituídos de poços profundos que alimentam diretamente reservatórios, sem tratamento. Já
os bairros mais distantes do centro não dispõem nem de sistemas isolados, e assim a
população utiliza poços individuais, alguns próximos aos Igarapés, que são inundados na
época das chuvas e acabam contaminados.
248. Tendo em vista que o consumo humano é um uso prioritário, recomenda-se que a
DRDH estabeleça como condicionante a elaboração de um projeto básico, por conta do futuro
outorgado, do novo sistema de abastecimento de água de Altamira (captação, tratamento e
distribuição), incluindo eventuais relocações, devendo ser realizado em comum acordo com a
concessionária do serviço. Outra condicionante recomendada é que, em nenhum momento da
implantação, enchimento do reservatório e da entrada em operação do AHE Belo Monte
poderá ocorrer interrupção do abastecimento de água tratada pela rede geral, que hoje já
atende uma parcela da sede do município.
NAVEGAÇÃO
249. O Plano Nacional de Viação, de 1973, informa que há previsão de uma hidrovia
no rio Xingu entre Porto de Moz e Altamira (Belo Monte), numa extensão de 298 km. Pela
descrição do referido Plano, não foi prevista a transposição das corredeiras da Volta Grande a
montante do sítio Belo Monte, que são um obstáculo natural à navegação. O arranjo previsto
para o AHE Belo Monte não propiciará melhores condições de navegação na Volta Grande
em relação às atuais, pois este trecho não será inundado pelo reservatório do aproveitamento.
253. Assim, a proposta de uma vazão mínima de 700 m³/s a sem mantida no TVR para
fins de vazão ecológica também é necessária para a manutenção da navegação existente nesta
região, além da necessidade da implantação de um mecanismo de transposição de barcos na
barragem do Sítio Pimental.
254. Desta forma, além da vazão mínima a ser mantida no TVR, recomenda-se que
conste na DRDH uma condição de manutenção, durante o todo o período de implantação e de
operação do empreendimento, das condições atuais de navegação, adequadas ao porte de
navegação existente atualmente na região (inclusive as embarcações de transporte regular de
passageiros), para todas as comunidades que se utilizam deste transporte, inclusive os núcleos
rurais.
LAZER
257. Assim, recomenda-se que a DRDH estabeleça como condicionante para conversão
em outorga a apresentação do detalhamento do referido Projeto de Recomposição das Praias e
Locais de Lazer.
CONCLUSÃO
I. coordenadas geográficas do eixo do barramento dos canais no sítio Belo Monte (casa
de força principal): 03º 07’ 35’’ de latitude sul e 51º 46’ 30’’ de longitude oeste;
II. coordenadas geográficas do eixo do barramento da calha do rio Xingu (casa de força
complementar): 3º 26’ 15’’ de latitude sul e 51º 56’ 50’’ de longitude oeste;
III. nível d’água máximo normal a montante do reservatório do rio Xingu: 97,0 m;
IV. nível d’água máximo maximorum a montante do reservatório do rio Xingu: 97,5 m;
VI. nível d’água máximo normal a montante do reservatório dos canais: 97,0 m;
VII. nível d’água mínimo normal a montante do reservatório dos canais: 96,0 m;
VIII. área inundada do reservatório do rio Xingu no nível d’água máximo normal: 386 km2;
IX. área inundada do reservatório dos canais no nível d’água máximo normal: 130 km2;
X. volume do reservatório do rio Xingu no nível d’água máximo normal: 2.510 hm3;
XI. volume do reservatório dos canais no nível d’água máximo normal: 2.231 hm3;
XII. vazão máxima turbinada: 13.900 m³/s (principal) + 2.277 m³/s (complementar);
§ 1º Os vertedores deverão ser verificados para a cheia máxima provável, mantendo uma
borda livre em relação às cristas das barragens adequada para o porte do
empreendimento;
§ 8o Deverá ser removida 100% da cobertura florestal na área a ser inundada devido à
formação do Reservatório dos Canais, conforme preconizado no Programa de
Desmatamento e Limpeza das Áreas dos Reservatórios, de forma a evitar a degradação
da qualidade da água;
III. Projeto Básico do novo sistema de captação de água para abastecimento de água de
Altamira, desenvolvido em articulação com a concessionária do serviço de saneamento
e em conformidade com as projeções de incremento da demanda decorrentes da
implantação do empreendimento;
Atenciosamente,
De acordo,
Anexo 1 – Série de vazões naturais médias mensais afluentes ao AHE Belo Monte
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
1931 6720 15603 15024 28377 21385 11156 3204 1615 1063 1531 2414 4409
1932 8288 10831 20099 15360 8821 3947 2854 1707 1348 1353 1737 3461
1933 5586 13325 16684 19387 16123 6687 2589 1242 846 1233 2173 3482
1934 5542 11151 16869 31431 19243 8035 2668 1394 1036 1191 1555 4514
1935 12456 14571 18767 32162 18893 12845 3215 1653 1143 678 1496 4709
1936 11863 18970 14371 18281 10131 4395 1883 1250 1016 761 1428 4175
1937 4365 5908 10586 20528 11789 5276 2947 1763 1392 1272 1633 3254
1938 8511 10827 11769 31154 21481 10025 2645 1475 1177 1254 2444 2511
1939 14508 19005 21863 19728 11199 6848 3631 1789 1276 1201 1966 5070
1940 9770 17682 19653 22773 24638 13201 3582 1575 967 870 1977 2810
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