Cadernos Saúde Coletiva
Cadernos Saúde Coletiva
Cadernos Saúde Coletiva
Cadernos da
SAÚDE COLETIVA
Integração Ensino-Serviço: Caminhos possíveis?
1ª edição
Coordenação Editorial
Alcindo Antônio Ferla
Conselho Editorial
Alcindo Antônio Ferla
Emerson Elias Merhy
Laura Camargo Macruz Feuerwerker
Rossana Baduy
Vanderléia Daron
João Campos
Márcia Regina Cardoso Torres
Vera kadjaoglanian
Rocineide Ferreira
Julio César Schweickardt
Revisão
Priscilla Konrat Zorzi
Mara Lucia Hippler
Sônia Guasque
I61 Integração ensino - serviço: caminhos possíveis?/ organizadores: Alcindo Antonio Fer-
la, Cristianne Maria Famer Rocha, Liliane Maria dos Santos. - Porto Alegre: Rede
UNIDA, 2013.
140 p.: il. - (Cadernos da Saúde Coletiva; v.2)
Bibliografia
ISBN 978-85-66659-13-9
APRESENTAÇÃO........................................................................................................................................................9
A COORDENADORIA DA SAÚDE DA UFRGS..............................................................................................11
A INTEGRAÇÃO ENSINO E SERVIÇO COMO UMA POLÍTICA ESTRATÉGICA...........................15
COMITÊ GESTOR DOS DISTRITOS DOCENTE-ASSISTENCIAIS GLÓRIA/CRUZEIRO/CRIS-
TAL E CENTRO.................................................................................................................................................................19
ENCONTROS ALEGRES: A GERÊNCIA DISTRITAL GLÓRIA/CRUZEIRO/CRISTAL E A
UFRGS................................................................................................................................................................................23
UMA NOVA EXPERIÊNCIA DA GERÊNCIA DISTRITAL CENTRO....................................................27
PRO SAÚDE I: SUA REPERCUSSÃO NA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UFRGS............29
Anexos
1. Seleção e Cadastro para Preceptores dos Projetos PET e
Pró Saúde Ufrgs e Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre-RS
2. Ficha de Inscrição para Seleção e Cadastro de Preceptoria PET UFRGS/SMS-POA
3. Projetos PET Saúde 2012/2013
4. Projetos PET Vigilância em Saúde 2013/2015
5. Projetos PET Redes de Atenção à Saúde 2013/2015
APRESENTAÇÃO
A integração ensino-serviço é o tema central deste número dos Cadernos da Saúde Coletiva,
cujo objetivo é socializar as vivências percorridas por estudantes, professores, trabalhadores
da saúde e comunidade usuária do Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal e do Distrito Centro.
Esses dois territórios assistenciais do sistema municipal de saúde de Porto Alegre são locais
com concentração de ações em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e constituem-se, de certa forma, territórios de saúde-escola para iniciativas de ensino
e extensão, além de atividades de pesquisa.
Interessa-nos destacar aqui duas questões de grande relevância para o contexto atual das
políticas de educação e de saúde: a aproximação entre o ensino e o sistema locorregional de
saúde e o relato de experiências como dispositivo de compartilhamento de conhecimento.
Em relação à primeira questão, a aproximação com a realidade dos sistemas locorregionais de
saúde é estratégia predominante das políticas de educação e de saúde contemporâneas para
produzir mudanças na formação das profissões. A constituição de uma experiência voltada
à organização do núcleo de saberes e práticas necessário ao trabalho no cotidiano, mais do
que um campo com escala para o desenvolvimento de habilidades instrumentais ou o domínio
de técnicas, é o que pretende essa estratégia. Desde a década de 1970, principalmente nos
projetos de Integração Docente-Assistencial (IDA), mas antes mesmo, na construção do
campo de conhecimentos “científicos” das profissões da saúde, a formação colada nos serviços
dá uma singularidade do aprender a fazer das profissões da saúde. No início centrada no
hospital e progressivamente – e na medida da complexificação da rede de serviços – voltada
para os territórios, o paradigma atualmente vigente informa a necessidade de aprendizagem
significativa, de aprendizagem permanente, permeada não só pelo conhecimento sistematizado
mas pelas características do cotidiano, e filtrada pelas relações que se estabelecem com o
cotidiano. A educação permanente em saúde, permanente porque intimamente colada nos
processos de trabalho do cotidiano e significada pelos problemas que precisam ser resolvidos
nessa dimensão, procura espaço na formação das profissões e no cotidiano dos trabalhadores
nos serviços. Ela se constitui em política de educação do SUS e característica transversal nas
Diretrizes Curriculares Nacionais para as profissões da área da saúde.
Os textos aqui apresentados são relatos que visam dar visibilidade ao movimento produzido
nestes caminhos, que não se colocam em linha reta e não são finitos, mas se apresentam
em movimentos que ziguezagueam, fazendo a saúde mais alegre, apesar dos conflitos que a
constituem. Relatos não são relatórios (texto informativo, mas morto de potencialidades) ou
descrições de fatos ocorridos. Textos que relatam experiências, vividas em ato, e que trazem
no seu conteúdo e forma os saberes desenvolvidos no cotidiano. Saberes predominantemente
transversais às áreas de conhecimento, muitas vezes transbordando de tecnologias leves
(relacionais entre indivíduos, com coisas e objetos, com os desafios do cotidiano), tendo
destacadas as dimensões micropolíticas e que formam, no seu todo, certamente não uma
nova verdade sobre a formação na saúde, mas uma rede de verdades locais, provisórias e que
reivindicam protagonismo dos seus atores, não apenas dos autores dessas experiências e/ou
dos relatos, mas dos seus leitores, para perguntar, o tempo todo, o que produziu de acúmulo
10 Cadernos da Saúde Coletiva
e o que poderia ter sido diferente. Mais ainda, como cada uma dessas experiências pode
conectar-se com o seu fazer cotidiano.
Nesta coletânea estão reunidos os três projetos do PET Saúde em desenvolvimento nos Distritos
Glória/Cruzeiro/Cristal e Centro: PET Saúde, PET Vigilância em Saúde e PET Redes de Atenção
a Saúde. Também estão presentes outras experiências desenvolvidas nesses territórios, como os
Estágios e Vivências na Realidade do SUS (VER-SUS), além de outras experiências institucionais,
como a Coordenadoria da Saúde (CoorSaúde) da UFRGS e a disciplina Práticas Integradas em
Saúde, que se constitui num embrião de formação de caráter multiprofissional e centrada no
território.
Por último, colocamos nos anexos os critérios para a realização da seleção e cadastro para
preceptor dos projetos Pró e PET Saúde UFRGS e Secretaria Municipal de Saúde de Porto
Alegre/RS, e na sequência o modelo de ficha de inscrição. Acrescentamos também nos anexos
os projetos Pró e PET Saúde encaminhados para o Ministério da Saúde.
Como dito acima, nenhum dos textos ou sequer eles na sua totalidade pretendem constituir
uma nova teoria sobre a articulação ensino e sistema de saúde, uma vez que não se trata de
uma produção na ótica dos modelos ideais da ciência predominante. Trata-se de uma rede
de experiências, com verdades pontuais e movediças, que reivindica protagonismos diversos,
mas que pretende contribuir com a produção de mudanças no cotidiano da formação e do
trabalho na saúde.
Alcindo Antônio Ferla, Cristianne Famer Rocha, Míriam Thaís Guterres Dias e Liliane Maria dos
Santos
A COORDENADORIA DA SAÚDE DA UFRGS
Referências
ALBUQUERQUE, V.S. et al. A Integração Ensino-serviço no Contexto dos Processos de
Mudança na Formação Superior dos Profissionais da Saúde. Revista Brasileira de Educação
Médica, Rio de Janeiro, v.32, n. 3, p 356-368, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/rbem/v32n3/v32n3a10.pdf>
BUENO, D.; TSCHIEDEL, R.G. A arte de ensinar e fazer saúde – UFRGS no Pró-Saúde II:
relatos de uma experiência. Porto Alegre: Libretos, 2011.
PIERANTONI, C.R.; VIANA, A.L.A. (Org.) Educação e saúde. São Paulo: Hucitec, 2010.
A INTEGRAÇÃO ENSINO E SERVIÇO COMO
UMA POLÍTICA ESTRATÉGICA
A SMS, como gestora do Sistema Único de Saúde no âmbito do município, entende como parte
importante da sua missão o investimento nas ações de integração ensino e serviço, conforme
preconiza a Lei Orgânica da Saúde (Leis Federais 8080/90 e 8142/90). Para isso, a articulação
da rede assistencial com as estruturas de ensino e com as instâncias do Controle Social, a
partir de uma concepção ampliada de formação, é condição indispensável, pois a formação
de profissionais não pode comprometer-se apenas com a produção de habilidades técnico-
científicas, mas também com a transformação das práticas profissionais e da organização
do trabalho em saúde, ou seja, não apenas formar profissionais para a área da saúde, mas
formá-los para o SUS.
A partir dessa visão estratégica, a Secretaria Municipal da Saúde tem investido na
transformação da rede assistencial em uma efetiva Rede Escola, através da construção de uma
Política Municipal de Integração Ensino e Serviço alinhada à Política Nacional de Educação
Permanente com os seguintes objetivos:
• direcionar as ações de ensino em serviço de acordo com os projetos e as prioridades da rede
municipal de saúde;
• criar sinergia entre os diferentes cursos e disciplinas que atuam nos serviços municipais
e destes com a rede assistencial, através do aprofundamento e continuidade dos projetos;
• articular os processos formadores e assistenciais, buscando a qualificação dos profissionais,
a mudança das práticas assistenciais e a produção de conhecimento para a melhoria
constante da atenção à saúde;
• contribuir para a reorientação da formação profissional conforme as necessidades do SUS.
Para avançar na construção dessa política, a SMS tem investido na qualificação e ampliação
das ações de integração ensino e serviço, através das seguintes linhas de ação:
• criação e investimento na consolidação da Comissão Permanente de Ensino e Serviço
(CPES), com a participação das coordenações estratégicas da SMS e do Conselho Municipal
de Saúde, como instância de gestão e qualificação das ações de integração ensino e serviço.
A CPES tem como finalidade analisar as propostas das Instituições de Ensino quanto à
integração ensino-pesquisa-assistência, de acordo com as diretrizes e princípios do Sistema
Único de Saúde e em conformidade com o Planejamento em Saúde da Secretaria, bem como
analisar Termos de Cooperação entre Instituições de Ensino e a SMS que envolvam os
interesses da municipalidade;
• criação de normas reguladoras e orientadoras (Resolução Nº 1/2012), com vista a estabelecer
a base normativa e os procedimentos técnicos e administrativos, visando dotar a Secretaria
de capacidade de gestão sobre as ações de integração ensino e serviço e superar a cultura
da informalidade;
• qualificação da integração ensino e serviço, através do processo de construção conjunta
do projeto pedagógico de inserção da Instituição de Ensino no cenário de prática e da
sua formalização através de dispositivos administrativos (Termo de Cooperação Técnica,
Planos de Atividade, Termos de Compromisso), de maneira que estes dispositivos não
sejam reduzidos a uma função burocrática, mas possam refletir efetivamente um contrato
pedagógico e garantir a corresponsabilidade entre as instituições formadoras e os serviços
de saúde;
• estruturação/organização das atividades de ensino em territórios Distritos Docente-
Assistenciais (DDA): as atividades de ensino em serviço das grandes instituições estão
sendo direcionadas para distritos sanitários específicos, constituindo os DDA, que são
coordenados por Comissões de Gestão e Acompanhamento Local (CGAL) compostos por
Cadernos da Saúde Coletiva 17
Referências
BRASIL. Lei Nº 8080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências.
BRASIL. Lei Nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação
da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.
PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Secretaria Municipal de Saúde.
Resolução Nº1, de 29 de agosto de 2012. Regulamenta os fluxos e procedimentos para ações
de integração ensino e serviço, na área da pesquisa, da extensão e do ensino, nos níveis
técnicos, de graduação e pós-graduação na Secretaria Municipal de Saúde.
COMITÊ GESTOR DOS DISTRITOS
DOCENTE-ASSISTENCIAIS
GLÓRIA/CRUZEIRO/CRISTAL E CENTRO
definição feita em comum acordo entre a Universidade e a SMS de Porto Alegre durante a
implementação do Pró-Saúde II.
Com a passagem da gestão do Pró-Saúde II para a CoorSaúde, em maio de 2011, acordou-
se a nova configuração para o Comitê Gestor, com a inclusão de professores representantes
dos projetos em saúde da UFRGS em execução no Distrito. A partir de 20 de junho de 2011,
o Comitê Gestor amplia a sua composição, incluindo o Pró-Saúde I da Odontologia, o PET
Saúde da Família, o PET Saúde Mental, o Horto Comunitário, o Telessaúde e a Disciplina
Integradora. A Gerência Distrital e a Equipe de Desenvolvimento de Servidores da SMS e o
Conselho Municipal de Saúde seguem na sua composição e a UFRGS passa a ser representada
pela Coordenadoria da Saúde (CoorSaúde), órgão vinculado a PROGRAD, responsável pelas
ações de integração ensino e serviço com a SMS de Porto Alegre. A representação discente
e a representação dos trabalhadores ainda não se efetivaram de forma constante, sendo
necessário criar meios para sua sustentação.
No ano de 2012 iniciaram-se movimentos na CoorSaúde para que o Distrito Sanitário Centro
fosse incluído no âmbito de ação preferencial da UFRGS. Esta proposição foi aprovada pela
SMS de Porto Alegre e, a partir de janeiro de 2013, a gerência do Distrito Centro passou a ser
integrante do Comitê Gestor.
O Comitê Gestor tem reuniões mensais, com registro em atas que são disponibilizadas para
download no site da CoorSaúde e no blog do Comitê Gestor. Nas reuniões são propostas,
monitoradas e avaliadas as ações referentes aos projetos de ensino em serviço. Também
são executados três projetos para intensificar permanentemente a integração e processos
de aprendizagem nos serviços e seu território: a Familiarização com os serviços do Distrito
Glória/Cruzeiro/Cristal, o Encontro de Integração dos PET-Saúde e o Blog.
A Familiarização é uma atividade semestral em que a UFRGS, a Gerência Distrital Glória/
Cruzeiro/Cristal, o Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS) e o Conselho Municipal de
Saúde de Porto Alegre se apresentam em dois dias, um no turno da manhã e outro no turno da
tarde, para estudantes, professores, profissionais que atuam no campo de prática, usuários,
e demais pessoas interessadas em conhecer a organização e funcionamento dos serviços de
saúde da rede na região. Nesta perspectiva, são apresentados os serviços de saúde do Distrito,
os projetos da UFRGS e o controle social em saúde na região, objetivando a divulgação das
atividades destes a todos que realizam ações em saúde, ensino e controle social neste Distrito.
O Encontro de Integração dos PET Saúde é realizado duas vezes ao ano, ao final de cada semestre,
buscando integrar estudantes, professores e preceptores. Nele são realizadas discussões e
debates, evidenciando conexões, integrações, melhorias e avaliações de procedimentos que
favoreçam esta integração e a realização dos diferentes objetivos de cada PET.
O Blog do Comitê Gestor do Pró-Saúde II foi criado para ser uma ferramenta de comunicação
e de divulgação das ações realizadas no âmbito desta instância. A partir da reconfiguração do
Comitê Gestor em 2011, o blog passa a ser o seu principal instrumento de publicação dos eventos
e projetos a ele relacionados. O blog pode ser acessado através do link: http://prosaude-ufrgs.
blogspot.com.br/
Uma ação importante idealizada e realizada pelo Comitê Gestor foi a institucionalização de um
processo de seleção e cadastro para preceptores dos Programas de Educação pelo Trabalho
para a Saúde (PET-Saúde) e demais projetos aprovados pelo Ministério da Saúde. Este
processo é fruto da necessidade de prontamente ocupar eventuais vagas abertas durante os
projetos em execução, bem como para dar agilidade e resposta qualificada para novos editais
que venham a ser lançados.
Com intuito de qualificar o processo de seleção dos preceptores, foi instituído um grupo de
Cadernos da Saúde Coletiva 21
trabalho composto por representantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
das Gerências Distritais Glória/Cruzeiro/Cristal e Centro, da Comissão Permanente de Ensino
e Serviço (CPES) da SMS de Porto Alegre, e do Conselho Distrital de Saúde, além de um aluno
bolsista. Para validar a proposta aqui apresentada, o documento foi recentemente submetido
para apreciação e aprovado no seu respectivo Comitê Gestor e na CPES.
Deste modo, constata-se que o Comitê Gestor tem sido um importante instrumento facilitador
e consolidador da integração ensino-serviço, envolvendo a Universidade e quatro Distritos
Sanitários distribuídos em duas Gerências Distritais da SMS de Porto Alegre.
Referências
BUENO, D.; TSCHIEDEL, R.G. A arte de ensinar e fazer saúde – UFRGS no Pró-Saúde II:
relatos de uma experiência. Porto Alegre: Libretos, 2011.
ENCONTROS ALEGRES:
A GERÊNCIA DISTRITAL
GLÓRIA/CRUZEIRO/CRISTAL E A UFRGS
1 Preceptora, Especialista em Saúde e Trabalho, Gerente da Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Porto
Alegre). daniellestein@sms.prefpoa.com.br
2 Preceptora, Mestre em Serviço Social, Assessora da Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Porto Ale-
gre). lilianesantos17@gmail.com
24 Cadernos da Saúde Coletiva
uma Unidade de Saúde no Presídio Feminino Madre Peletier. Além disso, a região conta com
serviços especializados* e uma Farmácia Distrital. Os Distritos Glória/Cruzeiro/Cristal tem
uma população, segundo dados do IBGE de 2010, de cento e sessenta mil habitantes. Cabe
relatar que a Gerência também é responsável por um serviço de saúde mental substitutivo,
o Residencial Terapêutico Nova Vida, que não é regionalizado e recebe usuários de todo o
município de Porto Alegre/RS. No Distrito também há um serviço de urgência e emergência,
o Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), que não está sob a administração da GDGCC,
embora esteja localizado no mesmo prédio.
Outro aspecto importante de pontuarmos na configuração dos serviços da GDGCC é a presença
no seu quadro funcional de trabalhadores com diversos vínculos empregatícios: contratos
temporários, trabalhadores com regime de trabalho estatutário, trabalhadores com regime
celetista, trabalhadores municipalizados das esferas do Governo Estadual e Governo Federal
e trabalhadores de convênios com instituições privadas. Estes convênios foram realizados
através de parcerias entre a PMPA/SMS com os Hospitais Divina Providencia, Mãe de Deus e
Vila Nova. Essas configurações retratam uma prática que tem sido majoritária nas prefeituras
municipais do país, se apresentando não só no contexto brasileiro, mas como uma tendência
verificada mundialmente. Nas palavras de Schwartz (2010, p.26), “esta forma de relações de
trabalho torna-se muito complexa, fica cada vez mais fluida”. Isto exige dos trabalhadores
e gestores outras formas de interlocução e atuação no trabalho, na medida em que, por
exemplo, as expectativas profissionais, salariais, entre outras, são diversas.
As mudanças ocorridas nos processos de trabalho, tais como o uso de novas ferramentas
incorporadas ao cotidiano do trabalho (por exemplo, prontuários e pontos eletrônicos) e as
novas configurações para atender as demandas da saúde pública (acolhimento, exclusão de
filas), entre outras mutações, têm exigido do gestor e dos trabalhadores em geral, criatividade
e outras formas de fazer saúde. Essas outras formas e ações nos convocam a pensar a gestão
para além da organização e do processo de trabalho, em um movimento onde vários vetores e
atores se conectam e desconectam em busca de respostas.
A Gerência, para atender as mudanças e os desafios sociais que afetam e produzem
movimentos nos serviços, estabeleceu alguns planos de ações e utilizou alguns dispositivos
para intervir na gestão em saúde dos Distritos Glória/Cruzeiro/Cristal. Conforme Foucault,
“o dispositivo é a rede de relações que podem ser estabelecidas entre elementos heterogêneos:
discursos, instituições, arquitetura, regramentos, leis, medidas administrativas, enunciados
científicos, proposições filosóficas, o dito e o não dito (...). O dispositivo tem, assim, uma função
estratégica” (CASTRO, 2009, p. 124). Utilizamos como estratégia de gestão a participação
da gerência nas reuniões de equipe dos serviços, a constituição de reuniões de equipe nos
serviços que não utilizavam esta ferramenta, a busca e a efetivação de espaço físico adequado
para os Centros de Atenção Psicossocial, e a criação de diferentes CNES (Cadastro Nacional
de Estabelecimento de Saúde dos Serviços), pois os serviços especializados desta gerência
estavam em um único CNES. Também reunimos esforços para a construção do que nomeamos
de Rede Intersetorial, com instituições como a Fundação de Assistência Social e Cidadania,
escolas da rede pública estadual e municipal, Conselho Tutelar, ONGs, etc., que se localizam
no território do DGCC. Ações foram efetivadas para a organização dos fluxos de trabalho entre
os serviços, para as mudanças no processo de trabalho com a implantação do acolhimento
em todas as Unidades de Atenção Primária, para a capacitação de fluxos administrativos,
para a capacitação e qualificação dos dados colhidos nos Boletins de Produção da Atenção
Primária (BPA), e também para a capacitação dos gestores dos serviços dos Distritos Glória/
* Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e outras Drogas-CAPS AD, CAPS Adulto, Centro de Especialidades Odontológicas,
Centro de Reabilitação, Centro de Referência em Tuberculose-CRTB, Equipe de saúde Mental e Matriciamento, Serviço Espe-
cializado da Saúde da Criança e Adolescentes, Centro de Reabilitação.
Cadernos da Saúde Coletiva 25
Referências
CASTRO, E. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, conceitos e autores. Belo
Horizonte: Autêntica, 2009.
CORAZZA, S.; SILVA, T. T. Composições. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
SCHWARTZ, Y.; DURRIVE, L. Trabalho e Ergologia, conversas sobre a atividade humana. 2ª ed.
Niterói: editora da UFF, 2010.
UMA NOVA EXPERIÊNCIA DA GERÊNCIA
DISTRITAL CENTRO
Cristina Kley1
Lori Maria Gregory2
A região da Gerência Distrital Centro é composta por 18 bairros: Auxiliadora, Azenha, Bela
Vista, Bom Fim, Centro, Cidade Baixa, Farroupilha, Floresta, Independência, Jardim Botânico,
Menino Deus, Moinhos de Vento, Mont’Serrat, Petrópolis, Praia de Belas, Rio Branco, Santa
Cecília e Santana. Conta com 276.491 habitantes, representando 19,62% da população do
Município, segundo o IBGE 2010. A população feminina é de 56,07% e a masculina 43,92%.
No Distrito Centro se concentra o maior percentual de idosos de toda a cidade, 21,75% acima
de 60 anos, totalizando 60.129, sendo que 12.920 estão acima de 80 anos.
O alto percentual de mulheres e população idosa exige uma atuação mais enfática em termos
de Saúde da Mulher e Saúde do Idoso, seja na prevenção de patologias, na orientação em
planejamento familiar e pré-natal, ou nas doenças próprias da terceira idade. A taxa de
mortalidade infantil é a segunda menor da cidade.
A Região Centro concentra a maior área de comércio e serviços e o maior número de instituições
financeiras, consultórios médicos e dentários, escolas de ensino fundamental e médio, e
escolas técnicas e de preparação para concursos. O Centro é uma área de intenso fluxo
de pessoas das mais diversas origens na busca por emprego, compras e serviços, além da
administração pública, seja Municipal ou Estadual.
A Região Centro tem a maior renda por responsável por domícilio entre todas as regiões da
cidade, com uma média de 16,80 salários mínimos. A taxa de analfabetismo é uma das menores
da cidade. Além disso, quase a totalidade dos domicílios tem água tratada e saneamento
básico. Em relação ao transporte coletivo, a região Centro conta com a maior frota de veículos
que se destinam aos mais diversos bairros da cidade e da região metropolitana.
O índice de vulnerabilidade social dos 18 bairros da GDC são os mais baixos da cidade,
mas existem comunidades de grande vulnerabilidade, que são atendidas pelas Equipes de
Estratégia de Saúde da Família.
Como porta de entrada no sistema de saúde, a Gerência Distrital Centro conta com a UBS
Santa Marta, a UBS Modelo, a UBS Santa Cecília, a USF Santa Marta, a USF Modelo e a USF
Santa Cecília, que fundamentam o seu trabalho no olhar e na construção multidisciplinar,
no acolhimento, vigilância em saúde, atendimento integral e visitas domiciliares às famílias
adstritas. Conta também com um Consultório na Rua que atende a população em situação
de rua, duas Farmácias Distritais, uma Farmácia Homeopática, um Centro de Especialidades
Médicas e Nutrição, Serviço de Audiometria, ECG, RX Dentário, Centro de Especialidades
Odontológicas (CEO tipo II), Serviço de Ostomizados, Equipe Especializada de Saúde da
Criança e do Adolescente, Ambulatório Especializado de Saúde Mental Adulto, Serviço de
Acupuntura, Homeopatia, Serviço de Atendimento Especializado Santa Marta (SAE), Centro
1 Cirurgiã Dentista, Gerente da Gerência Distrital Centro (GDC/SMS de Porto Alegre). cristinakley@sms.prefpoa.com.br
2 Nutricionista, Assessora da Gerência Distrital Centro (GDC/SMS de Porto Alegre). gregory@sms.prefpoa.com.br
28 Cadernos da Saúde Coletiva
programas PET para estes espaços de atividades acadêmicas. O programa PET Saúde também
teve um papel central na consolidação de nosso modelo de ensino, pois ampliou o acesso dos
estudantes às atividades de ensino-serviço.
Os resultados obtidos pela estratégia proposta pelo Ministério da Saúde estimularam a
administração central da UFRGS a articular as demandas dos demais cursos da área da
saúde, desencadeando a criação da Coordenadoria da Saúde na UFRGS (CoorSaúde). Desde
sua concepção inicial, este espaço de discussão contou com a presença de representantes do
gestor municipal e representantes dos usuários, que determinaram a definição de um Distrito
Assistencial vinculado à Universidade.
Este Distrito Assistencial representa, na atualidade, o espaço para o desenvolvimento de
diferentes projetos de ensino, treinamento em serviço e local de vivências pedagógicas no
andamento de nosso terceiro projeto, chamado Pró/PET Saúde, integrando praticamente
todos os cursos da saúde na UFRGS.
Para finalizar, é possível perceber que, baseado em nosso modelo de ensino e com o apoio
destas estratégias Pró e PET Saúde, foi possível ampliar com qualidade as oportunidades de
aprendizado de nossos estudantes, que acabam se graduando entendendo de maneira muito
mais profunda qual sua importância como agentes de saúde.
PROJETOS PET SAÚDE
ARTICULAÇÃO DOS SERVIÇOS DE
URGÊNCIA/EMERGÊNCIA E SAÚDE MENTAL
NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE PARA O
CUIDADO INTEGRAL E CONTINUADO EM
PORTO ALEGRE/RS
1 Tutora, Doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica), Professora do Curso de Farmácia, Faculdade de Farmácia. simonecastro13@
gmail.com
2 Tutora, Doutora em Psicologia Social, Professor do Curso de Psicologia, Instituto de Psicologia. rosetschiedel@gmail.com
3 Preceptora, Psicóloga, NASF Glória. elainesilveira@sms.prefpoa.com.br
4 Preceptora, Enfermeira, ESF Santa Tereza. jessicahl@sms.prefpoa.com.br
5 Preceptora, Psiquiatra, NASF Glória. luciana.regner@sms.prefpoa.com.br
6 Preceptora, Psicóloga, Serviço Especializado na Saúde da Criança e do Adolescente. walderez.lasalvia@sms.prefpoa.com.br
7 Preceptora, Assistente Social, Serviço Especializado na Saúde da Criança e do Adolescente. miriams@sms.prefpoa.com.br
8 Preceptora, Psicóloga, Serviço Especializado na Saúde da Criança e do Adolescente. vivianem@sms.prefpoa.com.br
9 Monitora, Acadêmica do Curso de Enfermagem. ana_fuhrmann@hotmail.com
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Fonoaudiologia. barbara-melissa-@hotmail.com
11 Monitora, Acadêmica do Curso de Enfermagem. brendafolador@hotmail.com
12 Monitora, Acadêmica do Curso de Psicologia. gabifpereira@gmail.com
34 Cadernos da Saúde Coletiva
como saúde mental pelo usuário e tampouco pelos profissionais, trazendo muitas especificidades
conforme a análise da conjuntura social e territorial. O modelo centrado no diagnóstico e no
atendimento médico ambulatorial ainda é hegemônico e, no que se refere a aspectos emocionais,
psicológicos e psiquiátricos, faz-se necessário dispor de outros recursos que incluam a dimensão
do contexto social, econômico e afetivo da pessoa assistida. Diante destas premissas, foi proposto
um levantamento de demandas em saúde mental em duas unidades de saúde (USF), para
que se especificassem estas necessidades em uma perspectiva de integralidade, utilizando-se
um questionário no acolhimento dos usuários no serviço, durante três meses, tendo em vista
contribuir para a construção de linhas de cuidado. Esta atividade propiciou a aproximação
dos monitores, preceptoras e docentes tutoras com as unidades, trazendo o enfoque da saúde
mental e a relevância do acolhimento como dispositivo essencial nesta linha de cuidado.
Concomitantemente a isso, ocorre igualmente como atividade do PET Saúde o mapeamento dos
serviços de saúde e demais recursos sociais do Distrito, através da familiarização dos estudantes
com as equipes de saúde da família, conhecendo os territórios destas regiões, buscando CAPS,
escolas, creches, ONGs, igrejas, centros comunitários, entre outros equipamentos sociais
disponíveis nestes locais que possam favorecer a ampliação da atenção e da assistência na rede
de alternativas terapêuticas para os usuários das unidades de saúde.
Um dos múltiplos sentidos da integralidade pode ser efetivado através de sistemas de referência
e contrarreferência monitorados por acompanhamento e avaliação. O sistema de referência
e contrarreferência é um mecanismo administrativo, onde os serviços estão organizados de
forma a possibilitar o acesso a todos os serviços existentes no SUS pelas pessoas que procuram
as Unidades Básicas de Saúde. Em caso de necessidade do usuário, as Unidades Básicas
de Saúde são, portanto, a porta de entrada para os serviços de maior complexidade. Essas
unidades de maior complexidade são chamadas “Unidades de Referência”. O usuário atendido
na Unidade Básica, quando necessário, é “referenciado” (encaminhado) para uma unidade
de maior complexidade a fim de receber o atendimento que necessita. Quando finalizado
o atendimento dessa necessidade especializada, o mesmo deve ser “contrarreferenciado”,
ou seja, o profissional deve encaminhar o usuário para a unidade de origem para que a
continuidade do atendimento seja feita. Assim, destaca-se a necessidade de integração dos
serviços e estabelecimento de fluxos formais de encaminhamento dos pacientes.
O principal objetivo do projeto de articulação emergência e Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal do
PET Saúde é estabelecer a continuidade do cuidado prestado aos indivíduos que receberem
alta hospitalar da emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), de modo a
atender as demandas identificadas, promovendo maior eficiência do serviço de referência e
contrarreferência do sistema público de saúde.
Alunos da UFRGS dos cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia, Psicologia, Fisioterapia,
Fonoaudiologia e Serviço Social, orientados por preceptores das áreas de Enfermagem,
Psicologia, Medicina e Serviço Social desde agosto de 2012, com a contribuição dos residentes
da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (RIMS) e outros profissionais do serviço
de emergência do HCPA, identificam todos os indivíduos pertencentes ao Distrito Glória/
Cruzeiro/Cristal que internam na emergência do HCPA. Sempre que possível, são contatados
profissionais da Atenção Básica para contrarreferenciar os usuários da emergência e
Este projeto iniciou em 2012, contando inicialmente com dois professores tutores da UFRGS
da área de Medicina (agora com apenas um), e preceptores e alunos bolsistas das áreas de
Enfermagem, Farmácia, Medicina, Psicologia e Serviço Social.
Os preceptores trabalham na atenção à saúde de pessoas com doenças sexualmente
transmissíveis, especialmente os soropositivos para o vírus HIV e os doentes de AIDS, através
do Serviço de Atenção Especial (SAE), do Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS) e
do Laboratório do Centro de Saúde da Vila dos Comerciários (CSVC). É nestes serviços que os
tutores e alunos bolsistas atuam neste projeto.
Objetivos
Ampliar as estratégias de integração ensino-serviço através da inclusão de temáticas
relacionadas à infecção pelas DST/HIV/AIDS, junto à rede municipal de saúde, suas Unidades
Básicas de Saúde (UBS) e Equipes de Saúde da Família (ESF).
1 Tutor, Doutor em Ciências Médicas, Professor do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina. Membro da Comissão Executiva
da CoorSaúde. joaofalk@terra.com.br
2 Coordenador do PET Vigilância, Doutor em Epidemiologia, Professor do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina. rkuchen@
gmail.com
3 Preceptor, Médico Infectologista, Serviço de Atenção Especial (SAE). alexandre.auler@terra.com.br
4 Preceptor, Mestrando em Ciências Médicas, Especialista em Infectologia, Serviço de Atenção Especial (SAE). carloshk@sms.prefpoa.
com.br
38 Cadernos da Saúde Coletiva
foi em 1983 e em crianças em 1985. O total acumulado até 31 de dezembro de 2010 foi de
21.005 casos, sendo destes 95,89% em adultos e 4,11% em crianças menores de 13 anos. O
coeficiente de incidência de AIDS no ano de 2010 estava em 98,59 casos para cada 100.000
habitantes, sendo que a média dos últimos 10 anos é de 90,58 casos para cada 100.000
habitantes. O coeficiente de prevalência é de 830,47 casos para cada 100.000 habitantes.
Dados do boletim de AIDS do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da
Saúde publicados em dezembro de 2011 apontam Porto Alegre como a capital brasileira com
maior incidência de casos de AIDS no Brasil.
Além disso, entre os municípios com maior incidência de AIDS no Brasil, muitos encontram-se na
região metropolitana de Porto Alegre, como é o caso de Viamão, Gravataí, Canoas, Alvorada, São
Leopoldo, entre outros. Na década de 90, com a chegada dos ARVs, o panorama da assistência e
da prevenção no Brasil ganhou novos contornos capazes de demarcar diferentes configurações
institucionais. Os pacientes migraram do nível de atenção terciária para os ambulatórios gerais
ou de especialidades, ambulatórios de hospitais, Unidades Básicas de Saúde, policlínicas,
Serviços de Assistência Especializada em DST/HIV/AIDS, e Equipes de Saúde da Família.
Por outro lado, a viabilização de novas tecnologias para a detecção dos anticorpos Anti-HIV
no sangue humano vem propiciando novas estratégias de prevenção da doença. Essas visam
interromper a cadeia de transmissão do HIV utilizando-se de duas possibilidades: 1) identificar
as pessoas com sorologia negativa, estimulando-as a reconhecerem suas práticas de risco e
formas de evitar a infecção; 2) identificar as pessoas com sorologia positiva e encaminhá-las
para Serviços de Assistência Especializada, procurando romper a cadeia de infecção do HIV,
bem como reforçar a adesão ao tratamento antirretroviral.
No sentido de otimizar a saúde da população do município de Porto Alegre, a Secretaria
Municipal de Saúde deu início, em abril de 2011, a um plano estratégico de enfrentamento da
epidemia na cidade, que tem como objetivo principal a descentralização da atenção do HIV/
AIDS e das DST junto à atenção primária em saúde.
A despeito do acesso universal e gratuito do tratamento da infecção pelo HIV no SUS, uma
parcela substancial de pessoas vivendo com HIV e AIDS são atendidas pelos serviços de
saúde em estágios tardios da infecção. O diagnóstico precoce da infecção pelo HIV segue como
um dos principais obstáculos à redução das taxas de transmissão do HIV e de morbidades
e mortalidade. Estudo publicado por Grangeiro e colaboradores sustenta ser possível obter
substantiva redução das taxas de mortalidade relacionadas ao HIV a partir de estratégias de
acesso mais precoces ao diagnóstico e tratamento da infecção pelo HIV.
Meta
A linha condutora desse processo é a ampliação da cobertura do diagnóstico do HIV através
da implantação do Teste Rápido Diagnóstico (TRD) junto às ESF e UBS. Esse plano contempla
as seguintes metas para 2012 a 2014: 1) acesso universal ao tratamento e assistência através
do aumento da cobertura de testagem do HIV, pela ampliação do teste rápido do HIV e da
sífilis; 2) diminuição das vulnerabilidades frente ao HIV; 3) estratégias de Controle das Perdas
de Oportunidades; 4) melhoria da Gestão Clinica em HIV/AIDS; 5) definição de protocolos
5 Preceptora, Especialista em Psicoterapia Psicanalítica, Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS). cformoso@terra.com.
br
6 Preceptora, Especialista em Saúde e Trabalho, Laboratório CSVC. elizane@sms.prefpoa.com.br
7 Preceptora, Especialista em Dentística Restauradora, Enfermeira do Serviço de Atenção Especial (SAE). ingridkrilow@gmail.
com
8 Preceptor, Especialista em Infectologia, Serviço de Atenção Especial (SAE). zenobio@sms.prefpoa.com.br - zenobiosoares@hot-
mail.com
9 Monitora, Acadêmica do Curso de Farmácia. meireles.anny@gmail.com
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Serviço Social. 00194824@ufrgs.br
Cadernos da Saúde Coletiva 39
de Saúde da Família (ESF). Os doze monitores, atualmente, são estudantes dos cursos de
Enfermagem, Nutrição, Farmácia e Fonoaudiologia, mas já participaram do projeto estudantes
de Medicina e Serviço Social. Foi estabelecida uma dinâmica de encontros periódicos entre
tutores e preceptores (quinzenais) e destes com os monitores (bimestrais), nos quais a
integração dos participantes é fortalecida pela troca de experiências e discussão dos temas
em desenvolvimento, processos estabelecidos e possíveis adequações necessárias.
Os objetivos iniciais do projeto foram revistos à luz das necessidades emergentes e o grupo
definiu temas prioritários, que incluem a vivência, pelas duplas de monitores, da educação
para o trabalho, de atividades rotineiras dos preceptores em no mínimo dois turnos semanais,
estudos teóricos e desenvolvimento de ações de pesquisa e extensão, descritos a seguir.
A Programação Anual de Saúde (PAS) é um documento que referencia instrumentos de
planejamento do SUS, a fim de orientar o gestor para efetivamente colocar em prática as ações
programadas para o ano. Neste mesmo contexto, o Programa Nacional de Melhoria do Acesso
e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) procura induzir a instituição de processos
que ampliem a capacidade das gestões federal, estaduais e municipais, além das Equipes de
Atenção Básica, de ofertarem serviços que assegurem maior acesso e qualidade, de acordo com
as necessidades concretas da população.
O DGCC é composto por 26 unidades de saúde de atenção básica e, destas, apenas 12
utilizam o PMAQ-AB. Algumas unidades utilizam apenas o Boletim de Produção Ambulatorial
(BPA), outras preenchem o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), por meio do qual
analisam seus indicadores.
Para se alcançar a efetividade desejada na Atenção Básica, é necessário o planejamento e a
implementação de ações de saúde em cada contexto. A finalidade é que as equipes analisem
a situação de seus indicadores na busca de melhorias no processo de trabalho, tendo como
base norteadora o PAS e o PMAQ-AB.
Assim, a temática do monitoramento de indicadores gerou o projeto de pesquisa “Plano de Ação
em Saúde e o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade como instrumentos
de trabalho das ESF do Distrito Glória da Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal em Porto
Alegre/RS”, que tem como objetivo geral contribuir para operacionalizar, institucionalizar e
implementar a utilização do PAS e do PMAQ como instrumentos de trabalho nas ESF.
Espera-se estimular a utilização dos dados de produção como instrumento de avaliação das
equipes, dar visibilidade aos resultados em saúde, buscando promover a reflexão e a ação
nas equipes, discutir com as unidades os resultados em saúde produzidos e as estratégias de
superação através da mudança do processo de trabalho, e trabalhar com os indicadores para
efetivar melhorias assistenciais no DGCC.
Outro projeto, que objetiva compilar e analisar os dados de diferentes fontes de informação
como principal ferramenta de monitoramento da gestão, está em elaboração e gerou a realização
de uma ação de extensão: “Monitoramento do Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal: como utilizar
vários instrumentos e ter uma informação?”. A justificativa para este estudo é a necessidade de
parametrização dos diversos dados gerados nas unidades e pelas áreas técnicas da Secretaria
com.br
6 Preceptora, Especialista em Farmácia Clínica e Especialista em Saúde da Família e Comunidade, Gerência Distrital Glória/
Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Porto Alegre). deise.reus@sms.prefpoa.com.br
7 Preceptora, Mestre em Serviço Social, Assessora da Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Porto Alegre).
lilianesantos17@gmail.com
8 Preceptor, Enfermeiro, Apoiador da Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Porto Alegre). marsam_teixeira@yahoo.
com.br
9 Monitora, Acadêmica do Curso de Enfermagem. ana.bortoletti@gmail.com
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Nutrição. carla.redin@gmail.com
11 Monitora, Acadêmica do Curso de Enfermagem. erika_hpr@hotmail.com
Cadernos da Saúde Coletiva 43
de “laboratório de experiências para reformas mais profundas nas formas de operação das
políticas sociais”. Entende-se que este estudo poderá incentivar e promover discussões
necessárias aos aspectos constituintes da atenção primária à saúde, qualificando, assim, o
seu papel ordenador do sistema de saúde e coordenador do cuidado integral.
Análise crítico-reflexiva
A experiência adquirida no PET-Saúde 2009 permitiu a iniciativa dessa nova proposta, que
busca incluir na experiência vivencial dos estudantes de graduação da saúde as atividades
diárias de gestores do SUS e refletir sobre as demandas apresentadas e a forma como são
trabalhadas por uma gerencia distrital da SMS/POA. Estas experiências de gestão são pouco
exploradas nos projetos pedagógicos, no elenco de atividades de ensino e nas experiências de
estágios. Outra vivência importante é o monitoramento de resultados através de indicadores e
planos estratégicos e as tomadas de decisão a partir dos dados apresentados. Essas reflexões
têm proporcionado avaliações ricas desse grupo, tanto aos monitores quanto aos preceptores
e tutores. Em 2014 serão desenvolvidas as ações de EP, a partir das demandas identificadas.
Referências
BRASIL. Edital n. 24, de 15 de dezembro de 2011. Seleção de Projetos de Instituições de
Ensino Superior. Diário oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, n.241, p. 268-70,
15 de dezembro. Seção 3.
CARNEIRO JUNIOR, N. et al. Relação entre Público e Privado na Atenção Primária à Saúde:
considerações preliminares. Saúde e Sociedade, São Paulo, v.20, n.4, p.971-979, 2011.
MARIN H. F. Sistemas de informação em saúde: considerações gerais. Journal of Health
Informatics. v. 2, n.1, p. 20-4, jan-mar, 2010.
OBSERVATÓRIO DE SAÚDE DOS
DISTRITOS GLÓRIA/CRUZEIRO/CRISTAL:
SOCIALIZAÇÃO DE INDICADORES PARA O
FORTALECIMENTO DO CONTROLE SOCIAL
1 Tutora, Doutora em Educação, Professora do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. cristianne.rocha@terra.com.
br - cristianne.rocha@ufrgs.br
2 Tutora, Doutora em Gerontologia Biomédica, Professora do Curso de Fisioterapia, Escola de Educação Física. lucianalaureanopaiva@gmail.
com
3 Especialista em Saúde Pública, Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Porto Alegre). celita.b@hotmail.
com
4 Preceptora, Especialista em Saúde Pública e Especialista em Saúde da Família, ESF Graciliano Ramos. glauciamendonca@hotmail.
com
5 Preceptora, Mestre em Enfermagem, Assessoria de Planejamento e Programação (ASSEPLA/SMS de Porto Alegre). julianamp@sms.prefpoa.
46 Cadernos da Saúde Coletiva
Sobre o processo
As atividades do PET Observatório são planejadas, desenvolvidas, monitoradas e avaliadas de
forma coletiva, por meio de reuniões quinzenais, em que todos participam (tutoras, preceptoras
e monitoras), na GDGCC e no Campus Saúde da UFRGS, alternadamente, buscando convergir
para um mesmo resultado. Os seis subgrupos constituídos por uma preceptora e dois
bolsistas realizam suas atividades ao longo da semana nos serviços em que as preceptoras
atuam, de forma a integrar os acadêmicos às rotinas das equipes de saúde, estimulando
assim a interprofissionalidade e uma maior reflexão sobre a inserção das diferentes formações
profissionais no SUS.
com.br
6 Preceptora, Enfermeira, Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Saúde de Porto Alegre). mariseldatecchio@gmail.
com
7 Preceptora, Especialista em Saúde da Família e Especialista em Saúde Coletiva, ESF Divisa. pfrocha@sms.prefpoa.com.
br - patricia.odontoesf@gmail.com
8 Preceptora, Especialista em Gestão de Programas para o Controle da Tuberculose, Laboratório de Análises Clínicas do Centro
de Saúde Vila dos Comerciários (CSVC). suzel.z@hotmail.com
9 Preceptora, Especialista em Administração Hospitalar, Ambulatório de Tisiologia do Centro de Saúde Vila dos Comerciários
(CSVC). taimarasa@hotmail.com
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Fonoaudiologia. alinenunes1991@hotmail.com
11 Monitora, Acadêmica do Curso de Serviço Social. camilareinheimer@gmail.com
12 Monitora, Acadêmica do Curso de Odontologia. carolineguarnieri@hotmail.com
Cadernos da Saúde Coletiva 47
Todas estas questões ainda não foram plenamente respondidas, embora, no processo de
discussão/análise/tomada de decisões, tenhamos construído (e estejamos ainda construindo)
coletivamente (com o máximo de atores que nos foi/está sendo possível incluir) o site do
Observatório de Saúde:
Outro aspecto importante de destacar no processo de desenvolvimento do PET Observatório
de Saúde diz respeito à novidade da convivência e à necessária articulação entre diferentes
núcleos profissionais com a finalidade de convergir em um projeto único. Por vezes, não
foi fácil nem tranquilo identificar e compreender as similaridades entre os participantes do
projeto. Ao mesmo tempo, nossas diferenças (de formação e de atuação profissional) acabaram
se atenuando diante de nosso objetivo maior: a criação do Observatório de Saúde dos Distritos
Glória/Cruzeiro/Cristal, que possibilita a todos os participantes atuarem enquanto um
coletivo, cujo maior benefício é o resultado de um trabalho conjunto, onde todos aprendem
uns com os outros, de acordo com as especificidades de sua atuação/formação profissional.
Por fim, nosso maior desafio, no tempo que nos resta, é incentivar que os profissionais
envolvidos no projeto passem, sempre mais, a utilizar as discussões e reflexões que fazemos
no âmbito do mesmo, envolvendo os monitores de forma ativa e criativa na realização das
atividades, a fim de qualificar o cotidiano do trabalho e da formação em saúde, mantendo o
foco no atendimento com qualidade e na aproximação com a comunidade.
PROMOÇÃO DA SAÚDE, PREVENÇÃO E CUIDADO
DE DOENÇAS CRÔNICO-DEGENERATIVAS:
ATIVIDADES FÍSICAS/PRÁTICAS CORPORAIS
& ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL/CULTURA
ALIMENTAR, MANEJO DO DIABETE E
HIPERTENSÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Resumo da Proposta
Várias iniciativas internacionais – “Estratégia Global sobre Alimentação, Atividade Física
e Saúde” da OMS – e nacionais – Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), a
criação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e o Programa Academia da Saúde –
visam o enfoque “integrado” preconizado pela OMS para promover a saúde e controlar as
enfermidades crônicas, centrado na atividade física e alimentação saudável. É fundamental
trabalhar o resgate das práticas corporais locais e das práticas alimentares tradicionais,
assim como incentivar o uso de práticas corporais significativas ajustadas ao perfil de cada
grupo envolvido e o consumo de alimentos saudáveis regionais, levando em consideração a
identidade cultural, os aspectos comportamentais e os laços afetivos.
Como consequência de um estilo de vida inadequado associado a outros fatores, as doenças
cardiovasculares são importante causa de morbi/mortalidade nas populações de adultos e
idosos, e o diabete (DM) e a hipertensão (HAS) figuram entre os principais fatores de risco
para estas doenças. Os estudos têm mostrado que aproximadamente 40-50% dos hipertensos
não atingem as metas pressóricas e aproximadamente 70-80% dos diabéticos não atingem
as metas de glicemia. Isto ocorre, porque o atendimento ao diabético restringe-se ao manejo
farmacológico das doenças e não é integrado por práticas complementares fundamentais como
1 Tutor, Doutor em Educação, Professor do Curso de Educação Física, Escola de Educação Física. brancofraga@gmail.com
2 Tutora, Doutora em Ciências Médicas, Professora do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina. cristinaneumann@via-rs.net
3 Tutora, Doutora em Epidemiologia, Professora do Curso de Nutrição, Faculdade de Medicina. michele.drehmer@gmail.com
4 Especialista em Farmácia Hospitalar, Farmácia Distrital. alexandrero@sms.prefpoa.com.br
5 Doutora em Educação, Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD). rosilelaine@gmail.com
6 Preceptora, Especialista em Medicina da Família e Comunidade, ESF Cruzeiro do Sul. cynthia.g.molina@hotmail.com
7 Preceptora, Especialista em Medicina Geral Comunitária, ESF Santa Anita. nancigoulart@yahoo.com.br
50 Cadernos da Saúde Coletiva
Atividades
Nas reuniões iniciais foram planejadas algumas atividades de reconhecimento de território,
através de caminhada com agentes comunitários e de educação, que atingiram todo o grupo,
tais como: a técnica da antropometria, aferição da pressão arterial, conhecimentos sobre
alimentação saudável, indicações de cuidados para as práticas corporais, diagnóstico, manejo
e avaliação das complicações da hipertensão e diabete. Para estas atividades, a técnica
didática utilizada foi o seminário, coordenado por alunos e privilegiando as áreas de maior
conhecimento do seu curso. Os professores e preceptores participaram como moderadores.
Os alunos trabalharam em um estudo transversal sobre o controle do DM e HAS na população
cadastrada na ESF, cujo objetivo foi avaliar se as metas de controle do diabete e da HAS
estavam sendo atendidas. A metodologia utilizada foi a revisão dos prontuários médicos pelos
acadêmicos dos cursos de Medicina, Fisioterapia e Nutrição, a fim de identificar, primeiramente,
quais pacientes na comunidade haviam sido diagnosticados com DM e HAS. Posteriormente,
cada prontuário dos pacientes diagnosticados foi analisado, buscando, entre outros dados,
informações sobre consultas, exames, avaliação antropométrica, controle pressórico, hábitos
de vida e controle das complicações crônicas naqueles portadores de diabete.
Na revisão dos prontuários de 2176 famílias, identificou-se 644 indivíduos com HAS e/ou
DM, dos quais 323 (50,1%) não consultaram com médicos e 568 (88,2%) não consultaram
com enfermeiras, no último ano. Não havia exames registrados no prontuário de 562 (87,3%)
pacientes. As metas terapêuticas foram atingidas na seguinte proporção de pacientes: pressão
8 Fisioterapeuta, Centro de Reabilitação CSVC. greiciane.buss@gmail.com
9 Especialista em Saúde Pública e Especialista em Enfermagem do Trabalho, ESF Nossa Senhora das Graças. rubia@sms.prefpoa.
com.br
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Nutrição. acarol_bpm@hotmail.com
11 Monitora, Acadêmica do Curso de Fisioterapia. bruna.catarino@hotmail.com
12 Acadêmica do Curso de Educação Física. catiane-souza@hotmail.com
13 Monitor, Acadêmico do Curso de Medicina. marques.ufrgs@gmail.com
14 Monitor, Acadêmico do Curso de Educação Física. ketzer_gabriel@hotmail.com
Cadernos da Saúde Coletiva 51
sistólica > 140 mmHg em 38%, pressão diastólica > 90 mmHg em 32%, Pressão Arterial
controlada em 50%. Hemoglobina glicada > 7% foi encontrada em 56% dos indivíduos,
mas este exame estava presente em somente 34% dos diabéticos. Considerando os fatores
de risco modificáveis, a prevalência de tabagismo foi 24%, de sobrepeso 24%, de obesidade
24% e de obesidade mórbida 29%. Em relação aos exames para detecção de complicações
relacionadas ao diabetes, somente 1% dos pacientes tiveram os pés examinados, 4% tem
relatos de exame oftalmológico e 1% teve pesquisa de microalbuminúria. Os dados obtidos
estão sendo utilizados para formatar uma segunda etapa de trabalho: o chamamento dos
pacientes identificados, a solicitação dos exames e orientações necessárias.
Paralelamente a estas atividades, o território foi mapeado com auxílio dos agentes
comunitários e da equipe, destacando-se os principais pontos para corporal em espaços
destinados ao lazer, equipamentos sociais, informações sobre a unidade de saúde
(atividades realizadas, processo de trabalho), bem como informações do perfil nutricional
da população. Foram identificadas as principais formas de acesso aos alimentos pela
comunidade na região: supermercados, bares, vendas e feiras locais. A partir daí, foram
organizados grupos terapêuticos e propostas atividades de promoção da saúde em
equipamentos como escolas e creches.
Uma das ações desenvolvidas foi o grupo de caminhada em áreas próximas às unidades.
Buscou-se inserir atividades que pudessem ser significativas e de fácil acesso à comunidade,
respeitando o ritmo pessoal e coletivo, fornecendo-lhes independência e propriedade sobre o
autocuidado.
O estado nutricional dos alunos de uma escola estadual e de uma creche comunitária foi
monitorado e atividades de educação nutricional foram planejadas e implementadas em
conjunto com uma das ESFs que se localiza dentro desta escola estadual. A avaliação
nutricional ocorreu dentro das atividades previstas pelo PSE, com resultados divulgados
aos pais. A partir daí, foram planejadas e executadas atividades lúdicas sobre alimentação
saudável, com base no livro do Banco de Alimentos “Jogos de Ensinar: instrumento de ensino
e aprendizagem na educação alimentar”, a fim de estimular a prática de hábitos alimentares
saudáveis. Na creche, houve uma conversa com as educadoras dos berçários sobre os 10
passos para uma alimentação saudável de crianças menores de dois anos.
Um grupo de educação em diabete também foi desenvolvido. Este grupo teve como objetivo
implementar um programa de atenção intensiva e foi ministrado por duas acadêmicas de
Fisioterapia, uma da Nutrição e uma da Medicina. Vinte e cinco indivíduos diagnosticados com
diabetes tipo II, em uso de insulina e cadastrados em uma das ESF, foram convidados para
participar do grupo, mas somente oito compareceram às reuniões. Os encontros ocorreram
uma vez por semana, abordando-se aspectos do diabete, aplicação de insulina, dúvidas dos
pacientes e alimentação saudável. Nos encontros aferia-se a pressão arterial, a glicemia, o
peso, e foram realizadas práticas corporais, como alongamentos, técnicas de relaxamento e
respiração. A adesão ao grupo foi diminuindo ao longo do programa, o que frustrou os alunos.
Os trabalhos realizados foram apresentados em vários eventos, tais como o Congresso
Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade, a XXI Jornada de Jovens Pesquisadores da
Associação de Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM), a Semana Científica do HCPA,
entre outros.
15 Monitora, Acadêmica do Curso de Nutrição. vianna.jessica@gmail.com
16 Monitora, Acadêmica do Curso de Medicina. juliana.nferrari@gmail.com
17 Acadêmica do Curso de Medicina. lisi.calegari@gmail.com
18 Acadêmica do Curso de Medicina. mariana.mascarenhasbg@gmail.com
19 Monitora, Acadêmica do Curso de Fisioterapia. re_pianezzola@terra.com.br
20 Acadêmica do Curso de Nutrição. smsilveira9@gmail.com
21 Acadêmica do Curso de Fisioterapia. tama_martini@hotmail.com
52 Cadernos da Saúde Coletiva
Conclusões e Perspectivas
Muitas atividades foram realizadas, mas a avaliação do quadro geral do cuidado ao paciente
é bastante preocupante. As dificuldades evidenciadas são relacionadas à baixa adesão ao
tratamento, cuidados insuficientes aos pacientes que buscam atendimento e baixa motivação
da equipe.
Os preceptores pertencentes a esse PET acreditam que houve uma ampliação da visão de
saúde entre as equipes com a chegada dos alunos. As novas práticas têm reforçado a ideia
de que saúde não é simplesmente a ausência de doença, sendo constituída por todos os
determinantes tanto proximais quanto distais envolvidos com o bem estar físico e mental dos
indivíduos. A partir desse entendimento foram fortalecidas e incorporadas no processo de
trabalho mais ações preventivas no serviço.
Dentre as perspectivas, um dos projetos de pesquisa que vem sendo desenvolvidos no âmbito
interinstitucional entre UFRGS, USP e UFES busca investigar e problematizar políticas
de formação voltadas para capacitação e sensibilização de estudantes de Educação Física
para atuação em saúde coletiva e análise da implementação de práticas corporais junto ao
SUS. Os estudos ocorrem no âmbito das ciências humanas e sociais e terão como ponto de
partida investigativo o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), que
se destaca como um elemento de potencialização da reorientação da formação em educação
física voltada para a saúde coletiva. Além das análises das propostas formativas e das práticas
promovidas em tal programa nos cursos de educação física, também serão desenvolvidos neste
projeto estudos que pretendam englobar investigações ampliadas que tematizem as relações
entre práticas corporais e saúde, desde seu trato conceitual até as distintas possibilidades
formativas e de intervenção.
PET CEGONHA: INTEGRANDO POLÍTICA
PÚBLICA, ENSINO E TRABALHO
O PET Cegonha também promoveu eventos abertos à comunidade em geral, tais como:
• “A Rede Cegonha no Rio Grande do Sul: facilidades e dificuldades de implementação”,
palestra proferida pela Dra. Virgínia Moretto, da Escola de Enfermagem da UFRGS;
• “Visitas guiadas à maternidade”, promovidas pelas tutoras Helga Geremias Gouveia e
Mariene Jaeger Riffel;
• “O SUS que dá certo”, projeção e discussão do filme sobre o hospital Sofia Feldmam;
• “As Maternidades e a Rede Cegonha”, palestra proferida pelo Dr. Marcos Augusto Bastos
Dias e pelo Dr. Dário Frederico Pasche, representantes do Ministério da Saúde;
• “A Episiotomia na Obstetrícia Moderna”, palestra proferida pela Dra. Melânia Amorim, da
Universidade Federal da Paraíba.
Alguns dos trabalhos produzidos no PET Cegonha foram encaminhados para apresentação
nos eventos científicos que seguem.
• IX Salão de Ensino da UFRGS, com o trabalho “Estimulação motora precoce em bebês
de zero a dois anos na Vila Cruzeiro”, de autoria de Emanuele Lazzari Cristofoli, Catia
Rubinstein Selistre, Mariene Jaeger Riffel e Helga Geremias Gouveia;
• XIV Salão de Extensão da UFRGS, com os seguintes trabalhos:
• “Ações de prevenção ao uso de drogas”, dos autores Marcelo Eduardo Moreira Goulart,
Cibele dos Santos, Bárbara Monteiro Volpatto, Mariene Jaeger Riffel e Helga Geremias
Gouveia;
• “A saúde bucal além do mundo da imaginação”, das autoras Juliane Severo da Silva, Helga
Geremias Gouveia e Mariene Jaeger Riffel;
• “Ações do PET Cegonha no programa Pra-Nenê”, das autoras Evelyne Duarte de Amorim
Silva, Helga Geremias Gouveia, Carmem Maria Tomazelli Lunardi, Fernanda Rippel de
Souza e Mariene Jaeger Riffel.
• “Um retrato do acompanhamento das mães e bebês na UBS Vila dos Comerciários de Porto
Alegre-RS”, de autoria de Isadora Damin, Bruna Montelli Lacerda, Helga Geremias Gouveia,
1 Tutor, Doutor em Ciências Médicas (Pediatria), Professor do Curso de Fonoaudiologia, Faculdade de Odontologia. marcio@franca.
bio.br
2 Tutor, Doutor em Enfermagem Psiquiátrica, Professor do Curso de Enfermagem, Escola de Enfermagem. lbpinho@ufrgs.br
3 Preceptora, Mestre em Reabilitação e Inclusão, Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD). alihessel@
ig.com.br
4 Preceptora, Especialista em Saúde Mental Coletiva e Especialista em Intervenção Social em Saúde Mental, Centro de Atenção
Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD). deisecardosonunes@yahoo.com.br
5 Preceptora, Especialista em Saúde Pública, Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD). dindagi@terra.
com.br
58 Cadernos da Saúde Coletiva
da demanda e redução de danos; etc. Estes pressupostos baseiam-se em cinco grandes pilares:
1) prevenção; 2) tratamento, recuperação e inserção social; 3) redução dos danos sociais e à
saúde; 4) redução da oferta; e 5) estudos, pesquisas e avaliações (BRASIL, 2008).
Nota-se que o investimento na qualidade do cuidado ao usuário de drogas perpassa a
composição de uma rede extensa de possibilidades, que vão desde os Centros de Atenção
Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD), passando pelos serviços hospitalares de
referência, até a Estratégia Saúde da Família.
No município de Porto Alegre, que conta com uma população em torno de 1.500.000 habitantes,
a rede de CAPS AD ainda é incipiente, com apenas cinco serviços. Nem todas as regiões da
cidade têm cobertura. Dos cinco serviços, um deles está em processo de credenciamento junto
ao Ministério da Saúde, enquanto os outros funcionam por meio de convênios estabelecidos
com instituições privadas ou públicas.
Entende-se que é possível constituir novos dispositivos de cuidado aos usuários de drogas no
Brasil. Para isso, é preciso compreender por onde circula o indivíduo, que relações estabelece,
qual sua rede de apoio, que instituições frequenta ou frequentou. É nessa perspectiva que
este projeto foi desenvolvido.
Sobre o projeto
Seu objetivo é proporcionar o entrelaçamento de saberes e práticas, fortalecendo as ações de
cuidado a usuários e famílias afetados pelo consumo de drogas no Distrito Glória/Cruzeiro/
Cristal, Distrito Assistencial do município de Porto Alegre e conveniado com a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, servindo de campo de práticas para os cursos da área de
saúde da Universidade. Nessa perspectiva, o projeto também buscou realizar levantamento
de informações sociodemográficas e indicadores de saúde, identificar usuários para
acompanhamento, visitar pontos da rede de apoio dos usuários e fomentar a formação de
estudantes dos cursos da área da saúde no âmbito da Atenção Psicossocial de usuários de
drogas.
O ponto estratégico das ações é o CAPS AD do Distrito, onde estão lotados todos os preceptores,
com formação diversificada: assistente social, enfermeiro, psicólogo, terapeuta ocupacional e
médico. Os acadêmicos que participam como monitores também são de diversas áreas da
saúde: Enfermagem, Medicina, Psicologia, Educação Física e Serviço Social, sendo que já
tivemos a participação de alunos da Odontologia e Fonoaudiologia. Este grupo tem como tutores
professores dos cursos de Fonoaudiologia e Enfermagem, com formação de pós-graduação
nas áreas de saúde mental, saúde coletiva, cuidado à família, infância e adolescência.
Entre as atividades desenvolvidas, destaca-se a análise das trajetórias clínicas e terapêuticas
de usuários de drogas em atendimento, bem como o mapeamento da rede de apoio dos
usuários. Tal ação mostra o grande desafio da constituição de uma rede de serviços/ações de
saúde que seja efetiva para usuários de drogas e suas famílias.
6 Preceptora, Especialista em Prevenção ao Uso Indevido de Drogas, Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas
(CAPS AD). E-mail: jozelia@sms.prefpoa.com.br
7 Preceptor, Médico, Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD). rodrigo.emerim@sms.prefpoa.com.
br
8 Monitor, Acadêmico do Curso de Enfermagem. bklafke@gmail.com
9 Monitor, Acadêmico do Curso de Medicina. guscanto91@gmail.com
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Enfermagem. min_ds@hotmail.com
11 Monitor, Acadêmico do Curso de Medicina. seelercorp@hotmail.com
12 Monitora, Acadêmica do Curso de Educação Física. larissadgonzaga@hotmail.com
13 Monitora, Acadêmica do Curso de Serviço Social. eduardamaria.vaz@gmail.com
14 Monitora, Acadêmica do Curso de Enfermagem. aladrenmariana@gmail.com
15 Monitora, Acadêmica do Curso de Serviço Social. marianatkoetz@gmail.com
16 Monitora, Acadêmica do Curso de Medicina. natimacedoc@hotmail.com
Cadernos da Saúde Coletiva 59
Além de proporcionar o reconhecimento das redes paralelas aos serviços de saúde acessadas
pelos usuários, espera-se que o projeto sirva como dispositivo de análise e intervenção sobre os
processos de trabalho da equipe, o que pode ser uma excelente contribuição desta experiência
de educação em serviço para a realidade assistencial.
Referências
BRASIL. Legislação e Políticas Públicas sobre Drogas. Brasília, Presidência da República,
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2008.
BRASIL. Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010. Institui o Plano Integrado de
Enfrentamento ao crack e outras Drogas, cria seu Comitê Gestor, e dá outras providências.
Brasília, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. A política do Ministério da Saúde para a atenção integral a
usuários de álcool e outras drogas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
SCISLESKI, A.; MARASCHIN, C. Redes Sociais e internação psiquiátrica Paradoxos nas
políticas de saúde para a juventude. In: CRUZ, L. R.; GUARESCHI, N. Políticas públicas e
assistência social: diálogo com as práticas psicológicas. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 162-78.
PROJETOS PET
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
PET VIGILÂNCIA E GESTÃO
CLÍNICA DO HIV/AIDS
Método
Relato de Experiência do PET Vigilância Clínica de Pacientes com HIV/AIDS
Em junho de 2013 o PET Vigilância iniciou as suas atividades no Serviço de Atendimento Especializado
(SAE) da Vila dos Comerciários em Porto Alegre, com o objetivo de fortalecer a integração entre a
vigilância epidemiológica e a assistência especializada aos pacientes com HIV por meio de estratégias
de integração dos sistemas de informação (SINAN, SIM, SISCEL, SICLOM e SIH) com o serviço de
saúde, por meio do Laboratório Central do Município de Porto Alegre no Distrito Glória/Cruzeiro/
Cristal.
Cadernos da Saúde Coletiva 65
Desta forma, a proposta se coaduna com o objetivo estratégico número 2 do Plano Estratégico
do Ministério da Saúde, que prevê “reduzir os riscos e agravos à saúde da população por meio
das ações de promoção e vigilância em saúde”.
Da mesma maneira, a proposta apresentada contempla as prioridades da Agenda Estratégica
da Secretaria de Vigilância em Saúde para o período 2011-2015, na medida em que pretende
somar-se com os esforços que vêm sendo empreendidos pela Secretaria de Saúde de Porto
Alegre e pela Secretaria de Vigilância em Saúde para o fortalecimento, a ampliação e a maior
integração das ações de Vigilância em Saúde com as Redes de Atenção à Saúde, e ampliação
das ações de vigilância de um agravo com importante carga de doença, além de contribuir
sobremaneira com a melhora da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS. Por
certo, em longo prazo, tais ações resultarão em controle e redução da transmissão do HIV/
AIDS.
Equipe de Trabalho
Quadro 1 – Equipe de Trabalho do PET Vigilância HIV/AIDS em Outubro de 2013
Atribuição na equipe PET Nome Área de Graduação
Tutora Bárbara Niegia Garcia de Goulart Fonoaudiologia
Resultados e Discussão
Decorridos quatro meses desde o início das atividades deste grupo PET, foi feita a aproximação
com o grupo PET HIV/AIDS, que já vinha desenvolvendo atividades no mesmo serviço há
aproximadamente doze meses, e estabelecida integração com a equipe e com as rotinas do
SAE.
Além disso, os bolsistas passaram a inserir-se neste serviço para acompanhar as rotinas de
consultas e do laboratório, bem como para conhecer o gerenciamento das informações dos
pacientes do serviço.
Uma sistemática de comunicação via e-mail e rede social a partir da criação de um grupo privado
foi estabelecida para a troca de informações entre a equipe do SAE envolvida com o PET, os
preceptores, os tutores e os bolsistas, e vem funcionando regularmente. Desde julho de 2013
foi proposta uma agenda de reuniões mensais com as equipes de ambos PET para a discussão
e circulação de informações e processos de trabalho ao longo de cada etapa das atividades
planejadas. Além disso, o gerenciamento das informações inicialmente coletadas pelo projeto vem
sendo feito via plataforma gratuita de armazenamento e sincronização de arquivos compartilhada
Cadernos da Saúde Coletiva 67
Referências
SANCHEZ M. Vigilância de Eventos Clínicos Relacionados ao HIV/AIDS. In: BRASIL.
Vigilância do HIV e das Hepatites Virais: abordagens e perspectivas. Seminário Brasil-
França. Brasilia: Ministério da Saúde, 2004. p. 37-39. Disponível em: < http://www.fef.br/
biblioteca/arquivos/data/brasil_francaport01.pdf >
BARFOD, T. et al. Physicians’ communication with patients about adherence to HIV
medication in San Francisco and Copenhagen: a qualitative study using Grounded Theory.
BMC Health Services Research, 2006. Disponível em: <http://www.biomedcentral.
com/1472-6963/6/154>
BLATT, C. R. et al. Avaliação da adesão aos anti-retrovirais em um município no Sul do
Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Minas Gerais, SMBT, 42(2), p.
131-136, mar-abr, 2009.
BONOLO, P.F. et al. Vulnerability and non-adherence to antiretroviral therapy among HIV
patients, Minas Gerais State, Brazil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 11, nov.,
2008.
BRITO, A. M.; SZWARCWALD, C.L.; CASTILHO, E. A. Fatores associados com interrupção
de tratamento anti-retroviral em adultos com Aids. Rio Grande do Norte, Brasil, 1999-2002.
Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 52, n. 2, abr., 2006.
CARVALHO, C.V. et al. Determinantes da adesão à terapia antirretroviral combinada em
Brasília, Distrito Federal, Brasil, 1999-2000. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(2), p
593-604, mar-abr, 2003.
FERNANDES, J. R. M. et al. Início da terapia anti-retroviral em estágio avançado de
imunodeficiência entre indivíduos portadores de HIV/AIDS em Belo Horizonte, Minas
68 Cadernos da Saúde Coletiva
1 Tutora, Doutora em Ciências Médicas, Professora do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. stelameneghel@gmail.
com
2 Preceptor, Assistente Social, Ambulatório Básico. joselsm@sms.prefpoa.com.br
3 Preceptora, Fisioterapeuta, Especialização em andamento em Saúde da Família e Comunidade, Centro de Reabilitação
CSVC. marlene@sms.prefpoa.com.br
4 Monitora, Acadêmica de Curso de Psicologia. adriana.msacramento@gmail.com
5 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. barbaradasilva01@yahoo.com.br
6 Monitor, Acadêmico do Curso de Saúde Coletiva. cassianotr@gmail.com
7 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. cpmeurer@yahoo.com.br
8 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. evithd@gmail.com
9 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. jujugalpa@hotmail.com
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. kcsdantas@hotmail.com
11 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. marianarmatins@gmail.com
70 Cadernos da Saúde Coletiva
deste PET.
Atividades
O PET Violências é composto por um tutor, dois preceptores, e oito alunos pertencentes
aos cursos de Psicologia e Saúde Coletiva. As atividades desenvolvidas no PET Violências
têm como objetivo trabalhar por uma cultura da paz, da promoção da saúde e da prevenção
das violências, além de motivar os profissionais da saúde para a notificação, acolhimento e
atenção a pessoas que vivem em situação de violência.
Para realizar as ações previstas neste projeto começamos pelo final, ou seja, antes de fazer
uma análise da situação de saúde (que já sabemos ser precária, com elevados índices de
violência, pobreza e desigualdades), iniciamos uma intervenção psicossocial em uma escola
onde há relato de conflitos e situações de violência entre os alunos. A ideia é estimular a paz e
as relações sem violência, através de oficinas, como a de bonecos sexuados, de comunicação
(Rádio Web) e argila. Essas atividades visam contribuir coletivamente na construção
dos saberes, oportunizando aos alunos vivenciar situações concretas e significativas, que
estimulem as suas capacidades, habilidades, criatividade, convivência e expressão.
As oficinas contemplaram alunos da Escola de Ensino Fundamental Brigadeiro Motta Silva,
da cidade de Porto Alegre/RS (selecionada pelos preceptores do PET), que atualmente estão
cursando a 7ª série no período matutino. As atividades beneficiarão aproximadamente 31
alunos adolescentes, entre 14 e 16 anos.
As oficinas serão desenvolvidas em 10 encontros com os alunos, divididos em dois grupos,
um dos quais trabalhará a ferramenta rádio e o outro a confecção dos bonecos. A oficina de
bonecos visa contribuir para a compreensão das diferenças corporais e sexuais culturalmente
criadas pela sociedade, problematizar as violências através da construção de bonecos
sexuados e motivar os participantes para as atividades de costura, que podem significar uma
possibilidade futura de profissionalização. A Oficina de Comunicação Rádio Web tem como
objetivo oferecer noções básicas e práticas de rádio pela internet, estimulando o protagonismo
juvenil e a discussão de temas polêmicos, entre os quais a violência e a expressão da cultura
local em atividades de promoção da paz e da vida.
Em um segundo momento, trabalharemos o sistema de vigilância epidemiológica das violências
no território. Esse trabalho também será realizado em oficinas com os profissionais de saúde,
buscando encontrar formas de melhorar a notificação e atenção aos casos com segurança
para o profissional. Isto compreende melhorar a notificação das situações de violência, o
acompanhamento (domiciliar, na escola, ou em outro local) das pessoas atingidas e o
encaminhamento destes sujeitos a atividades de acolhimento individuais (atendimento com
profissional de saúde) e coletivas (grupos de mulheres, jovens, familiares), além de atividades
de promoção da saúde e da paz realizadas em outros espaços.
Esperamos ao final melhorar a quantidade e qualidade das notificações de violência,
inicialmente nas dez ESF desse território, e fortalecer o referenciamento das situações de
violência para a rede de atenção primária e intersetorial, por meio do monitoramento dos
casos notificados, além de processos de educação permanente para todos os atores envolvidos
no projeto e serviços da rede. No momento atual estamos trabalhando nas oficinas com jovens
e construindo vínculos com professores, alunos e escola.
PET AVALIAÇÃO DA DESCENTRALIZAÇÃO DA
ASSISTÊNCIA DA TUBERCULOSE EM SERVIÇOS
DE ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE EM UMA
GERÊNCIA DE SAÚDE DE PORTO ALEGRE
Ricardo Kuchenbecker1
Sérgio Luiz Bassanesi2
Elaine Black Ceccon3
Lisiane Morelia Weide Acosta4
Bruna Caon Gentil5
Camila Spido da Silva6
Crislaine Silva Duarte7
Eduardo dos Santos Cardoso8
Fabiano Brufatto Lopes9
Francielle da Silva Santos10
Laura Henz11
Vinicius Maximiliano Ramos dos Santos12
Caracterização do problema
Porto Alegre apresenta uma alta endemicidade de tuberculose, com uma média de 1.613 casos
novos por ano no período de 2001 a 2011. No mesmo período, a forma pulmonar bacilífera
apresentou uma incidência média de 594 casos novos a cada ano, segundo dados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Estes números a colocam como a primeira capital
de estado brasileira em incidência da doença.
Entre as ações implementadas pelo Programa Municipal de Controle da Tuberculose de Porto
Alegre (PMCT), estão a descentralização do diagnóstico e tratamento dos casos de tuberculose,
forma pulmonar bacilífera, com Esquema Básico para os serviços da atenção primária de saúde.
Espera-se que esta ação possa impactar no futuro nos indicadores epidemiológicos e assistenciais
da doença, que ainda apresenta baixa taxa de cura e alta taxa de abandono de tratamento, com
baixa cobertura de Tratamento Diretamente Observado (TDO).
Considerando a necessidade de monitoramento do processo de descentralização, observando
todos os indicadores e variáveis de processo, de assistência e epidemiológicos, a avaliação desta
ação importantíssima para a assistência à saúde de Porto Alegre será foco do PET/VS com vistas
à promoção e integração ensino-serviço-comunidade.
1 Coordenador do PET Vigilância, Doutor em Epidemiologia, Professor do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina. rkuchen@
gmail.com
2 Tutor, Doutor em Ciências Médicas, Professor do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina. sergio.bassanesi@ufrgs.br
3 Preceptora, Doutora em Pneumologia, Área Técnica de Pneumologia (CGAPSES/SMS de Porto Alegre). elainebc@sms.prefpoa.
com.br
4 Preceptora, Mestre em Epidemiologia, Equipe de Vigilância das Doenças Transmissíveis (CGVS/SMS de Porto Alegre). lacosta@sms.prefpoa.
com.br
5 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. brugentil@hotmail.com
6 Monitora, Acadêmica do Curso de Nutrição. camila.spido@hotmail.com
7 Monitora, Acadêmica do Curso de Saúde Coletiva. crislaine.duarte@hotmail.com
8 Monitor, Acadêmico do Curso de Fisioterapia. dudusc@hotmail.com
9 Monitor, Acadêmico do Curso de Saúde Coletiva. fabiano.brufatto@ufrgs.br
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Fisioterapia. francielle.santos20@gmail.com
11 Monitora, Acadêmica do Curso de Nutrição. laurahenzbohn@hotmail.com
12 Monitor, Acadêmico do Curso de Saúde Coletiva. vi_ni_max@hotmail.com
72 Cadernos da Saúde Coletiva
Objetivos
Geral: Avaliar o processo de descentralização da assistência da Tuberculose em Porto Alegre
na atenção primária, monitorando indicadores de estrutura, de assistência, de vigilância
epidemiológica e de resultados.
Específicos:
1. Verificar as especificidades do processo de descentralização da tuberculose entre unidades
básicas de saúde e estratégias de saúde da família no território selecionado, como captação
de sintomáticos respiratórios e qualidade da assistência prestada, segundo preceitos do
Programa da Tuberculose do Ministério da Saúde.
2. Conhecer a prevalência de tuberculose entre comunicantes familiares de casos de tubercu-
lose diagnosticados na área de atuação dos serviços.
3. Integrar ações de assistência, educação permanente e vigilância epidemiológica nas ativi-
dades a serem desenvolvidas por profissionais da rede de saúde, de tutoria e dos bolsistas,
assim como na gestão em saúde da região.
Metodologia e Atividades
1. Avaliação de coorte dos serviços de saúde que prestam assistência à tuberculose na aten-
ção primária da Gerência Gloria/Cruzeiro/Cristal. Os serviços estão sendo avaliados em
suas características estruturais e funcionais em relação aos critérios de assistência preco-
nizados pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose, como disponibilidade de exa-
mes laboratoriais, profissionais capacitados, registros e fluxos assistenciais, no momento
inicial e no momento final da avaliação.
1. Informar todos os casos diagnosticados das áreas de atuação dos serviços avaliados, no
período de 2013 a 2014, à equipe da vigilância da tuberculose, responsável pelo SINAN,
assim como a vigilância informa os serviços e ao preceptor do PET se houver casos identifi-
cados no nível hospitalar pertencente às áreas de atuação das unidades, para seguimento
prospectivo do caso.
1. Cadastramentos de todos os comunicantes domiciliares dos casos de tuberculose em um
sistema de informação especifico para identificação e conhecimento dos comunicantes, pa-
ra análise de prevalência de variáveis clínicas, assistenciais e de vigilância.
Resultados Esperados
• Monitoramento contínuo do processo de descentralização da assistência à tuberculose na
atenção primária em saúde da região da Gerência Distrital Gloria/Cruzeiro/Cristal.
• Incorporação da avaliação de contatos de tuberculose na rede de atenção primária, que está
se apropriando desta metodologia de diagnóstico e tratamento.
• Criação um banco de dados específico para registro de comunicantes de casos de tubercu-
lose no município.
• Inserção dos alunos no universo da atenção primária em saúde, em especial, nas ações de
assistência e de vigilância da tuberculose.
PROJETOS PET REDES
DE ATENÇÃO À SAÚDE
PET CEGONHA AMAMENTA:
ENFATIZANDO A ATENÇÃO EM REDE
1 Tutora, Doutora em Ciências de Saúde, Professora do Curso de Enfermagem, Escola de Enfermagem. helgagouveia@uol.com.
br
2 Tutora, Doutora em Educação, Professora do Curso de Enfermagem, Escola de Enfermagem. marieneriffel@ig.com.br
3 Preceptora, Nutricionista, NASF Glória. carmenl@sms.prefpoa.com.br
4 Preceptora, Especialista em Enfermagem Obstetrícia, Unidade de Centro Obstétrico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
(UCO/HCPA). senger1402@ig.com.br
5 Preceptora, Mestre em Enfermagem, Unidade de Internação Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (UIO/
HCPA). fpcordova@terra.com.br
6 Preceptora, Especialista em Saúde Pública e Especialista em Administração dos Serviços de Enfermagem, ESF Mato
Grosso. naibert.jaqueline@gmail.com
7 Preceptora, Especialista em Saúde da Família e Comunidade, ESF Glória. luciana.ferreira@sms.prefpoa.com.br
8 Preceptora, Especialista em Medicina, Centro de Saúde Modelo. marciaqm@sms.prefpoa.com.br
76 Cadernos da Saúde Coletiva
Referências
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 11 de out. 2013.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Secretaria Municipal de Saúde.
Programação anual de saúde – PAS 2013. Porto Alegre, nov., 2012. Disponível em: <http://
lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/sms/usu_doc/pas_2013.pdf>. Acesso em: 11 de
out. 2013.
PET REDE DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS
E EMERGÊNCIAS NA UFRGS: PRÁTICAS E
REFERENCIAIS TEÓRICO-OPERACIONAIS
1 Tutora, Doutora em Saúde Coletiva, Professora do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. lianerighi@gmail.com
2 Preceptora, Especialista em Terapia Intensiva, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). alefranceschi@gmail.com
3 Preceptora, Enfermeira, Coordenação Municipal de Urgências (CMU/SMS de Porto Alegre). anars@hmipv.prefpoa.com.br
4 Preceptora, Especialista em Enfermagem de Urgência e Emergência Adulto e Pediátrica, Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (SAMU). dinacenci@gmail.com
5 Preceptora, Mestre em Ciências Farmacêuticas, Coordenação Municipal de Urgências (CMU/SMS de Porto Ale-
gre). fabianematos@sms.prefpoa.com.br
80 Cadernos da Saúde Coletiva
serviços de saúde oferecidos à população nos diversos pontos de atenção. Finalmente, assumimos
o desafio de inserção das necessidades dos serviços no desenvolvimento de nosso trabalho.
Estas necessidades apresentam-se como a fonte de produção de conhecimento e pesquisa,
aspecto relevante na proposta do PET. Este propõe o desenvolvimento de pesquisas “tendo em
perspectiva a inserção das necessidades dos serviços como fonte de produção de conhecimento
e pesquisa nas instituições de ensino” (BRASIL, 2010).
O Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011 define Rede de Atenção à Saúde como um
conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com
a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde (BRASIL, 2011). Nos pautamos
no conceito apresentado no decreto, em consonância com o edital, acrescentando que as
tecnologias precisam estar integradas, com apoio técnico, logístico e de gestão.
Consideramos ainda, para a direção do nosso fazer, os seguintes aspectos pautados: formação
de relações entre os pontos com o centro de comunicação na atenção básica e centralidade nas
necessidades de saúde da população, responsabilização na atenção contínua e integral pelo
cuidado multiprofissional e compartilhamento de objetivos e compromissos com resultados
(MENDES, 2011; BRASIL, 2010). É neste contexto que tecnologias como o Projeto Terapêutico
Singular (CUNHA, 2005; OLIVEIRA, 2010) passam a compor um projeto de desenho das redes
assistenciais com o fortalecimento da atenção básica. Seguindo Rovere (1999), pretendemos
desenhar redes colocando a ponta do compasso (o centro) na população. Como propõe Lévy (1993,
p. 26), “a rede não tem centros, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que são
como pontas luminosas perpetuamente móveis”.
A Portaria 1.600, de 7 de julho de 2011, reformulou a Política Nacional de Atenção às Urgências
e Emergências, instituindo a Rede de Atenção às Urgências no âmbito do SUS, seguindo o
estabelecido no decreto 7.508. Suas diretrizes ratificam os objetivos da proposta do trabalho
em Rede: atuação profissional e gestora visando o aprimoramento da qualidade da atenção
por meio do desenvolvimento de ações coordenadas, contínuas e que busquem a integralidade
e longitudinalidade do cuidado em saúde. A Portaria traz ainda toda a forma de organização
deste trabalho de articulação, tão fundamental para a efetividade da atenção integral.
Assim, a assimilação do conceito de rede representaria uma inovação importante para a
organização da atenção no campo da saúde: responsabilidades, poderes e funções diferentes,
sem hierarquizar complexidades ou importância da produção do cuidado. Um novo paradigma
cria condições para processos instituintes. É, portanto, diferente da organização em pirâmide,
com sua base e sua cúpula. Não há hierarquia de importância estável ou permanente entre os
que compõem a rede. Ou seja, na rede, a complexidade não tem endereço fixo (RIGHI, 2010).
CMU SAMU
PACS
Verificamos que estes pontos se conectam com pontos na Atenção Básica, na Atenção
Domiciliar, em PS em Hospital Geral, entre outros, formando a teia de aparato físico, tecnológico
e humano proposto no Decreto 7.508, de estruturação da amplitude das ações de saúde em
todos os seus níveis de complexidade de forma articulada, isto é, em movimento.
Trabalhamos com a perspectiva de que a formação de redes de produção de saúde está
relacionada a processos de cogestão. Esta compreensão nos levou ao estabelecimento de um
contrato para experimentação de metodologias de trabalho em rede. Dois bolsistas ficaram
vinculados a um preceptor e combinamos que a agenda de trabalho seria pactuada neste
espaço. Assim, seria mais fácil compatibilizar a agenda de cada bolsista ou dupla com a
agenda do preceptor e as necessidades do serviço ao qual estão vinculados.
A reunião quinzenal de duas horas com bolsistas, preceptores e tutora, previamente acordada,
tornou-se nosso espaço para avaliação, produção de contratos, deliberação de atividades e
estudo dos temas que são comuns às diferentes inserções.
Incluímos o tema da cogestão e dos contratos (CAMPOS, 2000) ao reconhecermos que a gestão
em redes está ligada a estes conceitos. Investimos no debate a respeito da importância de
pactuar compromissos e produzir novos contratos. A inclusão dos bolsistas nos espaços de
decisão a respeito das ações e projetos prioritários propicia a integração deste fazer na sua
formação para o trabalho em equipe e em rede.
Durante duas semanas, os alunos procuraram conhecer características dos pontos da rede
aos quais estavam vinculados. Ao final desta “experimentação”, decidiu-se por um período
de circulação nos cenários de prática. Esta mobilidade teve como objetivos a identificação
de novos pontos e a caracterização das conexões entre eles. A experimentação da gestão
e da atenção em redes, neste processo, se dá pela composição de ações sustentadas nos
compromissos com processos, projetos e com a agenda de um determinado ponto da rede
simultâneas à presença em locais e em ações que contribuam para a compreensão das regras
e características de toda malha e para intervenções no seu desenho.
Outra estratégia de formação é o compartilhamento das agendas. Há o compromisso (bolsistas,
preceptores e tutoria) com a comunicação de eventos e atividades que possam interessar ao
coletivo. Foram incluídas nesta agenda aulas, eventos ou projetos e ações não previstas no
cronograma dos serviços.
Temos um grande desafio quando nos propomos a entender e a construir redes: pensar no
seu significado. Para Gustavo Tenório Cunha*, a produção de redes deve assumir o desafio
de superar a fragmentação na atenção. Por isso, para a proposição de integralidade é preciso
sinergia de ações afinadas com diferentes olhares dos diferentes profissionais que compõem
essa rede. Ainda que vislumbremos a gestão, precisamos manter como nossa linha mestra o
pressuposto de que “pessoas cuidam e são responsáveis por pessoas”. Há um desafio político
grande, como todo processo vanguardista e inovador.
A partir destes movimentos, bolsistas e preceptores listaram as principais necessidades dos
serviços e elaboraram um roteiro de projeto de intervenção. A lista de projetos foi discutida
em reunião com todos os bolsistas e preceptores. Os projetos identificados pelo grupo como
estratégicos vinham ao encontro das necessidades apontadas na rede e da prática dos
preceptores:
1. Chamadas ao SAMU. Os preceptores elencaram inicialmente dois projetos estratégicos para
serem trabalhados. O primeiro projeto pretende caracterizar os pacientes que solicitam socorro,
* Como referência a fala de Gustavo Tenório Cunha em participação na Disciplina de Apoio Institucional e Redes de Produção
de Saúde (Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva),
em 02 de outubro de 2013. Esta atividade foi disponibilizada pelo compartilhamento de agendas.
Cadernos da Saúde Coletiva 83
porém não se encontram no local no momento da chegada do recurso. Este projeto tem como
objetivos conhecer o motivo pelo qual o paciente não aguardou a chegada da ambulância para
realização do atendimento e também conhecer o desfecho deste usuário.
O segundo projeto estratégico, a identificação dos pacientes que solicitam repetidas vezes
o socorro para o serviço de pré-hospitalar móvel em decorrência de agravos crônicos,
realizando o contato com os demais pontos da rede para garantir o acompanhamento
adequado e continuidade da assistência a este paciente. Este projeto de intervenção visa
garantir integralidade do atendimento aos pacientes que acionam o serviço móvel de urgência,
porém não apresentam agravos agudos à saúde. Existem pacientes atendidos pelo SAMU que
não possuem critério de gravidade que configure uma urgência em saúde. Estes usuários
geralmente possuem algum quadro clínico relacionado a uma doença crônica e deveriam
acessar ao serviço de saúde por outra porta de entrada que não a rede de urgências.
Para ambos os projetos será realizado o contato via telefone e/ou visita domiciliar com o
usuário e solicitante, realizando orientações de educação em saúde, além do contato com
as unidades básicas de saúde para referenciar os pacientes, buscando a continuidade da
assistência.
2. Avaliação do impacto da implantação das linhas de cuidado dos casos agudos de AVC e
IAM em Porto Alegre em dezembro de 2011. As linhas de cuidado para casos agudos de AVC
e IAM visam o desenho da rede sustentado por um conceito amplo de saúde que direciona a
intervenção e as respostas às necessidades, atuando na promoção e prevenção, diagnóstico,
monitoramento, tratamento e reabilitação a partir da constituição de Redes Regionalizadas de
Atenção, que atravessam diferentes situações de adensamento tecnológico e que são gerenciadas
por uma central de regulação bem estruturada. O projeto a ser elaborado deve contribuir para a
avaliação dos itinerários já pactuados. Poderá propor mudanças no desenho ou indicar formas
de gestão da rede.
3. Fluxograma de atendimento às Urgências e Emergências no PACS. Planeja identificar o
tempo de espera entre a emissão do boletim de atendimento até a chamada para a consulta
clínica e pediátrica em um Pronto Atendimento que utiliza a ferramenta de Classificação de
Risco Manchester, bem como relacionar o tempo real de espera com os tempos preconizados
pelo protocolo.
4. Avaliação dos Atendimentos em Asma na Emergência do PACS. A asma é umas das doenças
respiratórias de maior prevalência no estado e em Porto Alegre. Já existe um Programa da
Asma institucionalizado na cidade, com dispensação gratuita de medicamentos. Entretanto,
ainda assim permanece grande a procura pelos serviços de emergência, com episódios de
agudização que comprometem a qualidade de vida das pessoas e aumentam a demanda
de serviços. O objetivo deste projeto é buscar as causas destes atendimentos em asma,
identificando ligações e rupturas desta rede na Gerência Glória/Cruzeiro/Cristal e em quais
pontos podemos colaborar para a melhora na atenção à saúde destes pacientes.
Considerações Finais
Há problemas não solucionados, como a excessiva carga horária dos cursos da saúde e a
sobrecarga de trabalho e rotatividade dos trabalhadores na rede de urgência e emergência da
cidade. Já tivemos desistência de preceptor e de bolsista.
Entendemos que o tempo que o bolsista permanece realizando atividades em determinado
ponto da rede é uma questão em aberto e que precisamos compor alguma permanência com
alguma possibilidade de mobilidade. Por enquanto, concordamos que o desenvolvimento de
projetos exige vinculação com o serviço e com o preceptor. Ao mesmo tempo, desenvolvemos
84 Cadernos da Saúde Coletiva
estratégias para que todos conheçam todos os pontos e que possam realizar atividades de seu
interesse nos diferentes pontos da rede que estão no projeto.
Outra questão importante é buscar uma alternativa para que os seis bolsistas alunos do
curso de medicina e a aluna do curso de fonoaudiologia possam realizar algumas atividades
de seu núcleo profissional.
Trabalhar com o conceito de rede implica desenvolvimento de propostas para a atenção
e para a gestão. Nosso desafio é experimentar a cogestão também no desenvolvimento do
grupo. No nosso caso, planejar ações, ampliar a capacidade de análise sobre características e
necessidades da rede e participar da elaboração dos projetos de intervenção integra a formação
para o trabalho em rede.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Decreto nº
7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamentação da Lei nº 8.080/90. Brasília: Ministério da
Saúde, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.600/GM/MS, de 7 de julho de 2011. Reformula
a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no
Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, 31 de dezembro de 2010, Seção
I, página 89. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/
prt1600_07_07_2011.html>. Acesso em 16 de outubro de 2013.
BRASIL. Portaria Interministerial MS/MEC nº 421, de 3 de março de 2010. Institui o
Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET Saúde) e dá outras providências.
Disponível em <http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/inter-ministerial/103143-421.
html.> Acesso em 14 de outubro de 2013.
CAMPOS, G. W. S. Um método para análise e cogestão de coletivos. São Paulo: Hucitec,
2000.
CUNHA, G. T. A Construção da Clínica Ampliada na Atenção Básica. São Paulo: Hucitec,
2005
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática.
Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde,
2011.
OLIVEIRA, G. N. O Projeto Terapêutico Singular. In: Ministério da Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização. Atenção Básica. Brasília: Ministério da
Saúde, 2010.
RIGHI, L. B. Redes de Saúde: Uma Reflexão sobre Formas de Gestão e o Fortalecimento
da Atenção Básica Brasil. In: Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política
Nacional de Humanização. Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
ROVERE, M. Redes em salud: um nuevo paradigma para el abordaje de las organizaciones y
la comunidad. Rosario: Ed. Secretaría de Salud Pública/AMR; Instituto Lazarte (reimpresión),
1999.
IMPLANTAÇÃO DE LINHA GUIA DE CRITÉRIOS
E ORIENTAÇÕES PARA ABORDAGEM
INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA – PET REDE PESSOAS COM
DEFICIÊNCIAS (PcDs)
1 Tutora, Doutora em Ciência do Movimento Humano, Professora do Curso de Fisioterapia, Escola de Educação Física. carlaskilhan@
gmail.com - carla.skilhan@ufrgs.br
2 Preceptor, Especialista em Fisiatria e Especialista em Acupuntura, Centro de Reabilitação CSVC. airtonsvirski@terra.com.br
3 Preceptora, Especialista em Saúde Pública e Especialista em Saúde e Trabalho, Centro de Referência em Saúde do Trabalha-
dor (CEREST). ceciliafg@sms.prefpoa.com.br
4 Preceptora, Fisioterapeuta, Centro de Reabilitação CSVC. jmengue@sms.prefpoa.com.br
5 Preceptora, Mestre em Saúde Coletiva, Hospital Pronto Socorro (HPS). jandira@hps.prefpoa.com.br - jandirapsantos@yahoo.
com.br
6 Preceptora, Especialista em Educação Psicomotora, Fisioterapeuta, Centro de Reabilitação CSVC. mgschultz@sms.prefpoa.
com.br
7 Preceptora, Mestre em Educação, Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) Glória. priscila.bordignon@sms.prefpoa.com.br
8 Monitora, Acadêmica do Curso de Fisioterapia. analauragermano@hotmail.com
9 Monitor, Acadêmico do Curso de Fisioterapia. brunalucianofarias@gmail.com
10 Monitora, Acadêmica do Curso de Medicina. caroline_kribeiro@hotmail.com
11 Monitora, Acadêmica do Curso de Fisioterapia. francielle2004@gmail.com
12 Monitora, Acadêmica do Curso Saúde Coletiva. franciele.maciel@ufrgs.br - franciele.s.m@hotmail.com
86 Cadernos da Saúde Coletiva
1 Tutora, Doutora em Saúde Coletiva, Professora do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. mgc.godoy@gmail.com
2 Doutor em Educação, Professor do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. robertoamorim80@hotmail.com
3 Preceptora, Enfermeira, Consultoria de Rua – Centro. alexandra.marques@sms.prefpoa.com.br
4 Mestre em Educação Física, Unidade Álvaro Alvim – HCPA. aadamoli@hcpa.ufrgs.br
5 Preceptora, Médica, ESF São Gabriel. camila_azvd@hotmail.com
6 Preceptora, Especialista em Saúde Mental Coletiva, Especialista em Gestão Pública e Sociedade, Especialista em Saúde e
Trabalho e Especialista em Metodologia do Trabalho Comunitário, Geração POA. carmenvera@sms.prefpoa.com.br
7 Preceptora, Mestre em Psicologia Social e Institucional, Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) DGCC. danicalsa@terra.
com.br
90 Cadernos da Saúde Coletiva
rua, população de grande vulnerabilidade, com alta prevalência de transtornos mentais e abuso
de drogas. O CR atua sob dois grandes eixos: reinserção do indivíduo no sistema de saúde e
redução de danos;
b) Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA): serviço de livre demanda para realização de
testes e aconselhamento para HIV, hepatites B e C, sífilis e HTLV. No aconselhamento, o
usuário reflete sobre as situações de risco que o levaram a fazer os exames, é preparado para
o convívio com doenças crônicas adquiridas e estimulado a se tornar agente de seu cuidado;
c) Unidade Álvaro Alvim (HCPA): especializada no cuidado a usuários de álcool e outras
drogas, oferece tratamento ambulatorial e internação. O PET ocorre no serviço ambulatorial,
acompanhando consultas, grupos e reuniões de equipe;
d) Oficina Geração POA: oferece oficinas de geração de trabalho e renda que proporcionam ao
usuário vivências reais de trabalho e tomada de decisões. Neste serviço, a atividade trabalho é
a grande articuladora do exercício da cidadania, da saúde, das trocas sociais e subjetivas e da
inclusão social;
e) ESF São Gabriel: serviço territorial de atenção primária que oferece cuidados clínicos e
ações coletivas e de promoção da saúde a cerca de 2000 pessoas cadastradas;
f) Área Técnica de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde: equipe multiprofissional
responsável pela gestão municipal em saúde mental, realizando ações de planejamento, avaliação,
monitoramento e educação permanente através de espaços de pactuação e gestão compartilhada
entre trabalhadores e gestores, com a elaboração de linhas de cuidado congruentes com as
diretrizes estaduais e ministeriais.
Considerações finais
Os relatos e vivências de alunos, preceptoras e tutores indicam efeitos importantes da presença
do aluno nos serviços da Rede, com o desenvolvimento de um novo olhar e ideias e opiniões
diferentes da rotina diária dos serviços, participando e conhecendo os grupos e fluxos das
unidades, o território e as necessidades dos usuários. Tanto para a equipe quanto para o
grupo de usuários a presença de um elemento novo no cotidiano traz questionamentos acerca
do processo de trabalho.
Do ponto de vista dos alunos, fomenta-se a formação pela cidadania do profissional em saúde,
o amadurecimento profissional e a sensibilização acerca da realidade do usuário dos serviços de
saúde mental. Em especial, destaca-se a modificação de imaginários e a quebra de pré-concepções
da formação técnica sobre a realidade da experiência com o sofrimento psíquico do outro e seus
modos de tratamento.
Por fim, o PET em questão parece poder contribuir para a melhor articulação da RAPS no
território, para o acompanhamento de itinerários terapêuticos de usuários, e para a avaliação e
sistematização da experiência de integração ensino-serviço em consonância com a reorientação
da formação profissional em saúde, ao potencializar o trabalho em equipe e a atuação em rede
para o SUS.
mental para crianças e adolescentes tem sido referida como importante, entretanto ainda
requer a construção de uma efetiva linha de cuidado e de produção de conhecimento
para este segmento. De modo geral, a saúde mental no país tem apresentado lacunas em
relação à proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes, muitos em situação de
vulnerabilidade social, evidenciando a premência em trabalhar com ações voltadas para a
promoção, prevenção e cuidados direcionados a crianças/adolescentes. Cabe apontar que em
relação à infância e à adolescência, a desigualdade social e as suas decorrências são um dos
mais graves determinantes sociais e incidem consideravelmente na saúde mental. Também
os temas educação e escola, violências, proteção e direitos são relevantes para o contexto da
infância e da adolescência. A Portaria 3.088/2011/RAPS (BRASIL, 2011) igualmente indica
a prioridade de ações junto a crianças/adolescentes e seus pais/responsáveis, qualificando
pontos de atenção da rede, facilitando seus acessos e fortalecendo a proposição do trabalho
em redes de cuidado.
Considera-se fundamental a vivência e o trabalho em equipe multiprofissional e a atuação
coletiva em serviço desde a graduação, qualificando o trabalho da Rede de saúde e estimulando
a produção de conhecimentos e o compartilhamento de novas práticas para a construção
e transformação do trabalho na Rede. Participam do projeto estudantes de Enfermagem,
Medicina, Nutrição, Psicologia, Serviço Social e Fonoaudiologia, e o trabalho é desenvolvido a
partir do planejamento participativo na construção do Plano de Atividades.
Os objetivos centram-se em: mapear pontos de atenção à saúde da Rede, espaços de apoio
social, de cuidado e de atenção psicossocial para a infância/adolescência; identificar formas
de acesso, acolhimento e cuidado continuado nos diferentes níveis de atenção para a infância
e adolescência/juventude, assinalando as suas potencialidades e fragilidades; colaborar
na implementação de políticas em saúde mental para infância/adolescência no território;
assegurar a formação de estudantes de graduação de acordo com os princípios do SUS e
no âmbito da atenção psicossocial, incluindo crack, álcool e outras drogas; propor ações de
cuidado integral e multiprofissional, auxiliando a articulação dos pontos de atenção da rede
de saúde mental e as diferentes políticas no território; reforçar estratégias voltadas para o
apoio sócio-familiar nos diferentes níveis de atenção à saúde, com ênfase na Atenção Básica;
contribuir para efetivação das ações de promoção, prevenção, recuperação e reinserção
psicossocial, elevando a resolutividade do cuidado em saúde mental na infância/adolescência;
incentivar a articulação entre a rede de saúde e desta com os serviços e com a assistência
social, educação e proteção, incentivando a intersetorialidade e a interdisciplinaridade.
Algumas das atividades previstas para este projeto e que já estão sendo realizadas são:
participação nas atividades de apoio matricial, trabalhando na perspectiva da clínica
ampliada; realização de estudo interdisciplinar e acompanhamento de casos mapeados nos
pontos de atenção da RAS; elaboração de cartografias a partir da elaboração de projeto de
pesquisa, acompanhamento dos percursos e fluxos do usuário na rede de saúde e de saúde
mental, visando a atenção contínua e integral; elaboração de diários de campo; realização
de seminários; levantamento dos principais analisadores para elaboração propostas e de
Referências
BRASIL. Portaria Nº 3.088 de 23 de dezembro de 2011. Rede de Atenção Psicossocial.
BRASIL. Lei Nº 8.069 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. 1990.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Caminhos para uma política de saúde mental infanto-juvenil.
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2005. Disponível em: <portal.saude.gov.br/portal/
arquivos/pdf/caminhos_infantojuv.pdf>
OUTROS PROJETOS
DE INTEGRAÇÃO
ENSINO-SERVIÇO
PRÁTICAS INTEGRADAS EM SAÚDE:
ESTRATÉGIA DE ENSINO PARA MUDANÇAS
CURRICULARES NA UFRGS
Ramona Fernanda Ceriotti Toassi1
Denise Bueno2
Alzira Maria Baptista Lewgoy3
Jacqueline Oliveira Silva4
Raquel Canuto5
Alcindo Antonio Ferla6
Jaqueline Tittoni7
Roberta Alvarenga Reis8
Ilaine Schuch9
Introdução
A formação nos cursos de saúde tem se dado de forma isolada e compartimentalizada, a partir
de disciplinas das ciências da vida e atividades entre pares. A compreensão da complexidade
da produção da saúde e os diversos saberes e práticas que a constituem requer conhecimentos
interdisciplinares e, muitas vezes, sintetizados em ato no cotidiano do trabalho. Na maior
parte dos casos em que se realiza na formação, o contato multiprofissional e com o território
onde a saúde é vivida e produzida acontece de forma parcial, no interior de serviços, e ao final
dos cursos.
A atuação profissional não se dá exclusivamente a partir do conhecimento especializado do
seu núcleo disciplinar, mas abrange outras dimensões. A figura do ‘quadrilátero da formação’
para a área da saúde destaca as dimensões do ensino, da gestão, da atenção e da participação
social como alicerces para a mudança da formação e do trabalho na saúde (CECCIM; FERLA,
2011). Há quase duas décadas, os setores da saúde e da educação no país mobilizam-se para
a definição de diretrizes curriculares para os cursos, inserindo-os na consolidação do Sistema
Único de Saúde (SUS) e na atualização dos processos de formação, atendendo aos novos desafios
da contemporaneidade na produção de saberes e práticas profissionais, conforme registra a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 –,
considerando a relevância social das instituições formadoras.
No escopo dessas iniciativas, a UFRGS aprovou em 2007, junto ao Ministério da Saúde, o Projeto
de Extensão “Integralidade na Saúde”, elaborado com a participação de estudantes e docentes.
Ao longo da execução desse projeto, constatou-se a necessidade de uma ação institucional mais
propositiva, que favorecesse a discussão e a ação acadêmica com forte conexão às políticas
de saúde. Desse processo surgiu a Coordenadoria da Saúde (CoorSaúde), órgão colegiado da
1 Doutora em Educação, Professora do Curso de Odontologia, Faculdade de Odontologia. ramona.fernanda@ufrgs.br
2 Doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica), Professora do Curso de Farmácia, Faculdade de Farmácia. denise.bueno@ufrgs.
br
3 Doutora em Serviço Social, Professora do Curso de Serviço Social, Instituto de Psicologia. Coordenadora do Projeto de Exten-
são Intersossego. alzira.lewgoy@ufrgs.br
4 Doutora em Educação, Professora do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina. queline_oliveira@hotmail.com
5 Doutora em Ciências Médicas (Endocrinologia). Professora do Curso de Nutrição, Faculdade de Medicina. raquelcanuto@
gmail.com
6 Doutor em Educação, Professor do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. Coordenador da CoorSaúde. ferlaalcindo@gmail.
com
7 Doutora em Sociologia, Professora do Curso de Psicologia, Instituto de Psicologia. jatittoni@gmail.com
8 Tutora, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública, Professora do Curso de Fonoaudiologia, Faculdade de Odonto-
logia. robertaalvarengareis@ufrgs.br
9 Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, Professora do Curso de Nutrição, Faculdade de Medicina. ischuch@uol.com.
br
100 Cadernos da Saúde Coletiva
por meio de visitas coletivas aos serviços e à gestão distrital. Também acontecem atividades de
reflexão coletiva a partir das vivências no cotidiano. Como estratégias pedagógicas, privilegia-
se, ainda, a exposição dialogada e dinâmicas de problematização em pequenos grupos com
estudantes das diferentes equipes de campo.
A avaliação se dá a partir de um portfólio individual, da inserção nas atividades e da escrita
analítica da experiência de cada equipe, por meio de banner, informativo ou relatório, utilizados
para devolução aos serviços.
Referências
BUENO, D.; TSCHIEDEL, R. G. (Org.). A arte de ensinar e fazer saúde: UFRGS no Pró-Saúde
II: relatos de uma experiência. Porto Alegre: Libretos, 2011. p. 94-98.
CECCIM, R. B.; FERLA, A. A. Abertura de um eixo reflexivo para a educação da saúde: o
ensino e o trabalho. Em: MARINS, J. J. N.; REGO, S. Educação médica: gestão, cuidado,
avaliação. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: ABEM, 2011. p. 258-277.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Faculdade de Odontologia. Disciplina
Práticas Integradas em Saúde I. Plano de ensino. Porto Alegre, 2013.
ENSINO, SERVIÇO E SAÚDE URBANA:
OS DESAFIOS DA INTERDISCIPLINARIDADE,
INTERSETORIALIDADE E MOBILIZAÇÃO
COMUNITÁRIA
Alzira Maria Baptista Lewgoy1
Maria Inês Azambuja2
João Henrique Godinho Kolling3
Maurem Ramos4
Roberta Alvarenga Reis5
Anely Marmitt6
Cristiano Borges Martins7
Denise dos Santos8
Gabriela Zanin9
Jonathan Vargas Figueiredo10
Jovina Dornelles11
João Rodrigues12
Margery B. Zanetello13
Pamela Carolina Pasqualotto Rossetto14
Rafaela Faccin15
Scheila Stoffel16
O Ministério da Saúde tem enfatizado a necessidade de os profissionais de saúde adquirirem
conhecimento aprofundado do território de atuação de seus serviços como elemento
fundamental para o desenvolvimento de um processo de trabalho efetivo na Atenção Primária
(BRASIL, 2007). Contudo, entendemos que para de fato promover saúde é necessário intervir
também no contexto social, nas causas da má distribuição da saúde, ou seja, nos processos
sociais, econômicos e políticos que induzem e mantém a desigualdade que no grupo socialmente
desfavorecido se expressa como pobreza, assentamentos urbanos irregulares, más condições
de trabalho, baixa qualidade da educação e más condições de saúde (AZAMBUJA ET AL,
2011).
O Grupo de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana da UFRGS propõe-se a ser um laboratório
para o desenvolvimento de estratégias de promoção da saúde e intervenção sobre seus
determinantes sociais e ambientais. Eram desafios originalmente identificados pelo grupo: 1)
investigar se seria possível atuar sobre determinantes sociais do adoecimento no nível local;
e 2) problematizar a formação dos profissionais e sua capacitação para lidar com demandas
da gestão urbana que frequentemente requerem interdisciplinaridade, intersetorialidade e
participação comunitária. Para abordar estas questões, iniciou-se em 2011 um projeto de
extensão comunitária denominado Projeto Intersossego - Integralidade e Intersetorialidade:
trabalho multiprofissional em uma microrregião de Porto Alegre (LEWGOY E COLS, 2011),
desenvolvido em uma área de moradia irregular na região central da cidade, a Vila Sossego.
Apresentaremos a seguir uma breve contextualização da conjuntura na qual este projeto
está inserido, as estratégias construídas interdisciplinarmente e intersetorialmente junto à
comunidade, bem como alguns resultados e considerações finais.
1 Doutora em Serviço Social, Professora do Curso de Serviço Social, Instituto de Psicologia. alzira.lewgoy@ufrgs.br Coordenado-
ra do Projeto de Extensão Intersossego. alzira.lewgoy@ufrgs.br
2 Doutora em Clínica Médica, Professora do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina. Coordenadora Adjunta do Projeto Inter-
sossego. miazambuja@terra.com.br
3 Médico de Família e Comunidade, Serviço de Atenção Primária a Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - UBS Santa
Cecília. jhkolling@yahoo.com
4 Doutora em Ciências da Saúde (Cardiologia e Ciências Cardiovasculares), Professora do Curso de Nutrição, Faculdade de
Medicina. maurem.profnut@gmail.com
104 Cadernos da Saúde Coletiva
A conjuntura e o projeto
A comunidade foco é composta de aproximadamente 332 pessoas distribuídas em 104
moradias, que ocupam irregularmente, há mais de 30 anos, uma área central no município
de Porto Alegre, declarada Área Especial de Interesse Social (AEIS) pela Prefeitura em 2008.
A comunidade tem uma liderança formal morando em situação regular, fora do perímetro da
AEIS, e lideranças informais, como a dona do bar, a agente comunitária de saúde, alguns
representantes ou ex-representantes da comunidade no orçamento participativo, e alguns
moradores que, através da participação mais ativa na defesa de interesses pessoais e/ou
coletivos nas reuniões mensais do projeto, tornam-se referência para todos. São também
referências para a comunidade a Igreja Católica Divino Mestre, uma igreja evangélica próxima,
o Centro Comunitário da vila Vizinha, um Serviço de Apoio Socioeducativo (SASE) que presta
atendimento às crianças da vila no turno inverso ao da escola, uma academia de capoeira, a
Escola Estadual, a UBS HCPA/Santa Cecília e o Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) Centro, os dois últimos parceiros do Projeto InterSossego.
Foram etapas do desenvolvimento deste projeto, desde junho de 2011: a) a constituição da
equipe, por docentes e acadêmicos de diversos cursos de graduação da UFRGS (Serviço
Social, Medicina, Nutrição, Fonoaudiologia, Psicologia, Arquitetura, Educação, Políticas
Públicas, Comunicação, Odontologia, Saúde Pública, Direito), profissionais e agentes da
UBS HCPA/Santa Cecília e assistentes sociais do Centro de Referência em Assistência Social
(CRAS Centro/FASC-PMPA); b) a aproximação com a comunidade e o reconhecimento do
espaço geográfico, favorecidos pela relação entre ela e a equipe 1 da UBS HCPA/Santa Cecília;
c) visitas e reuniões mensais noturnas na Vila Sossego; d) reuniões mensais intersetoriais na
UBS (UBS, UFRGS, CRAS Centro), e reuniões do grupo da UFRGS (duas vezes por semana)
para estudo de conceitos-chave relacionados à Saúde Urbana; e) a edição e circulação de um
jornal, o Saúde Sossego (oito edições até o momento e uma edição extra), com contribuição da
UFRGS, da UBS, do CRAS Centro e de moradores da Vila, que tem servido como ferramenta
de comunicação e mobilização social; f) um levantamento conjunto UFRGS/UBS do número de
famílias e moradores da comunidade e de dados socio-demográficos, de saúde e de qualidade
de vida da população.
Resultados
Com relação aos objetivos:
1) Já foram debatidos e encaminhados em reuniões da Vila Sossego nos últimos dois anos:
situações de risco grave e iminente – muro alto com risco de queda, fiação irregular e risco
de incêndio; situação de risco à saúde – más condições de habitação, má disposição do lixo
doméstico e de recicladores no local, ratos, animais domésticos em excesso, mosquitos; o
baixo índice de resolução de problemas por parte dos órgãos públicos; a baixa participação dos
moradores na discussão dos problemas da Vila e o andamento do projeto de reurbanização;
o Cadastro Único da Assistência Social (necessário para o acesso à moradia popular); o censo
sócio-demográfico; epidemia de dengue; e a Feira da Saúde;
2) Modificações em determinantes sociais da saúde foram no máximo pontuais – substituição
de um muro com risco de queda, investimento público na pracinha local, melhoria na
5 Tutora, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública, Professora do Curso de Fonoaudiologia, Faculdade de Odonto-
logia. robertaalvarengareis@ufrgs.br
6 Acadêmica do Curso de Serviço Social. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. anely1992@hotmail.com
7 Acadêmico do Curso de Psicologia. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. cristiano_dudu@yahoo.com.br
8 Acadêmica do Curso de Serviço Social. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. machadodsantos@gmail.com
9 Acadêmica do Curso de Serviço Social. Bolsista do Projeto de Pesquisa InterSossego. pamelacpr@hotmail.com
10 Acadêmico do Curso de Políticas Públicas. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. jonathanvargasfigueiredo@hotmail.
com
Cadernos da Saúde Coletiva 105
Conclusões
Observou-se, até o momento, uma elevada autonomia dos diferentes setores prestadores
de serviços públicos, possivelmente decorrente do loteamento político das secretarias entre
os partidos da base aliada dos governos. Os setores usualmente se organizam a partir da
oferta especializada de seus profissionais, enquanto as demandas das populações locais
são frequentemente mais complexas, envolvendo vários setores simultaneamente. A baixa
articulação intersetorial dificulta um planejamento focado na resolução de problemas. É
exemplo disso a promessa recorrente de reurbanização, nunca cumprida, apesar de recursos
previstos no OP pela segunda vez desde 2010.
No projeto, a articulação entre parceiros no nível local (UBS HCPA/Santa Cecília e CRAS
Centro) tem se mostrado promissora. Estamos tabulando os dados da pesquisa realizada,
que deverão ser compartilhados entre a Universidade, a UBS, o CRAS, as escolas locais e
os moradores da Vila Sossego. No processo, esperamos compreender melhor os gargalos
para o trabalho em redes intersetoriais e as dificuldades para a participação mais efetiva da
11 Agente comunitária, Serviço de Atenção Primária a Saúde do Hospital de Clinicas de Porto Alegre – UBS Santa Cecí-
lia. jovinadornelles@hotmail.com
12 Acadêmico do Curso de Ciências Sociais. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. joba_tita@hotmail.com
13 Enfermeira, Serviço de Atenção Primária a Saúde do Hospital de Clinicas de Porto Alegre – UBS Santa Cecília. margez@bol.
com.br
14 Acadêmica do Curso de Serviço Social. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. gabrielaszanin@hotmail.com
15 Acadêmica do Curso de Nutrição. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. faelafaccin@hotmail.com
16 Acadêmica do Curso de Arquitetura. Bolsista do Projeto de Extensão Intersossego. scheila.stoffel@yahoo.com.br
106 Cadernos da Saúde Coletiva
Referências
AZAMBUJA, M. I. R. et al. Saúde urbana, ambiente e desigualdades. Rev Bras Med Fam
Com, v. 6, n.19, p. 100-105, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Atenção
Básica. 4ª ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
LEWGOY, A. M. B.; et al. Projeto de Extensão: Integralidade e Intersetorialidade: trabalho
Multiprofissional em uma micro região de Porto Alegre. UFGRS. Porto Alegre, 2013.
NOSSA CAMINHADA NA APS:
CULTIVANDO VIDAS NO HORTO
O Horto Ecológico foi iniciado em 2006 como projeto de doutorado (PICCININI, 2008) num terreno
contíguo ao posto da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Cruzeiro do Sul. Surgiu a convite
do coordenador desta equipe, por tratar-se de etnografia sobre conhecimento, cultivo e uso de
plantas medicinais por comunidades assistidas pelo PSF em Porto Alegre. A parte fitotécnica da
pesquisa foi feita desde o preparo do solo e das mudas até o processamento pós-colheita, onde
a secagem e o armazenamento foram feitos no sótão da própria ESF. O Horto, desde então, vem
sendo mantido de forma compartilhada entre UFRGS, comunidade e equipe de saúde. O fato de
que, há mais de 10 anos, a professora Gema atua nesse território como professora de estágio
em Enfermagem Comunitária e com projetos interdisciplinares de extensão também contribuiu
para o aceite. O Horto, inspirado em Capra (2005), Matos (1994) e Morim (1990), já tem um
lindo caminho trilhado, cheio de vida e de múltiplas convivências. Essas foram proporcionadas
através de projetos de extensão, pesquisa e ensino semestralmente, atravessando diversas
experiências e envolvendo a interdisciplinaridade dos atores no ambiente e nos momentos vividos.
Ao longo desses anos, acadêmicos de diferentes cursos já compartilharam essas experiências e
conhecimentos, como Enfermagem, Geografia, Biologia, Agronomia, História, Filosofia, Medicina,
Educação Física, Farmácia, Fonoaudiologia, Odontologia, Serviço Social, Psicologia, Arquitetura,
Saúde Coletiva, Nutrição, entre outros. A frequência e a intensidade dessas experiências foram
aumentando após a socialização do Horto com a comunidade do bairro Arquipélago no Delta do
Jacuí.
A ideia central de um horto ecológico-medicinal num espaço de saúde é valorizar a natureza e o
que ela pode nos oferecer, através da vivência e do contato integrado com todos os tipos de vida
presentes nesse local. O contato e envolvimento da comunidade e as trocas de conhecimento,
práticas e de materiais sobre as plantas, suas propriedades e seus significados impulsionam a
existência e o trabalho contínuo de cultivo e cuidado com o horto. Esses são os reais motivos
da existência e do cultivo do horto cada vez mais múltiplo: a saúde, o relacionamento entre as
pessoas e o bem-estar em manter-se envolvido nessa rede cheia de vida e energia positiva, que
integra o passado e o presente para garantir um futuro melhor porque ali se cultiva vidas.
Essas práticas de compartilhamento e envolvimento buscam a sustentabilidade do sonho e da
efetivação desse espaço como base para a adoção das propostas da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC), preconizadas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2006).
1 Doutora em Fitotecnia, Professora do Curso de Enfermagem, Escola de Enfermagem. Coordenadora do Projeto Horto Ecológi-
co. gema@enf.ufrgs.br
2 Acadêmica do Curso de História. jana.longhi@hotmail.com
3 Acadêmica do Curso de Filosofia. julianadeconto@gmail.com
4 Acadêmico do Curso de Geografia. luizfernandoleal@rocketmail.com
5 Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas. sofiagasparotto@yahoo.com.br
108 Cadernos da Saúde Coletiva
e relíquias em saúde.
Assim, para esses idosos, o Horto pode servir como um oásis, aonde eles vem reviver e abastecer
suas lembranças da vida deixada lá fora. Um espaço de acolhimento, de diálogo e partilha de
conhecimentos. Para nós, certamente um laboratório vivo de múltiplas culturas e conhecimentos,
interações e desmitificações.
Além disso, neste ano, o Programa Ilhas de Conhecimento, ancorado no Delta, estendeu sua rede de
atividades ao Horto da Vila Cruzeiro, fortalecendo sua parceria com escolas de ensino fundamental
da Cruzeiro e da Ilha da Pintada, no bairro Arquipélago. Construiu-se um arco-íris metafórico
entre uma localidade e outra, envolvendo as culturas e saberes que cada uma das comunidades
carrega consigo. Com isso, temos a multiplicação do conhecimento e da aprendizagem que cada
um pode ter com o outro, estimulando a consciência não só acerca da tradição local, mas também
sobre as riquezas humana e ecológicas existentes mundo afora. Trabalhos com hortos ecológicos
foram feitos na Ilha, além de outras atividades, envolvendo escolas, origens e desenvolvimento
social.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 971, de 03 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da
União. Brasília, 04 de maio de 2006.
CAPRA, F. Alfabetização Ecológica. 1 ed. São Paulo, 2005. 312 p.
MATOS, F.J. de A. Farmácias vivas: sistema de utilização de plantas medicinais projetado para
pequenas comunidades. 2 ed. Fortaleza: EUFC, 1994. 180p.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 2 ed. Lisboa: Instituto Piaget, 1990. 177p.
PICCININI. G. C. Abordagem Etnográfica e Fitotécnica sobre Plantas Medicinais utilizadas
por comunidades assistidas pelo programa de saúde da família, em Porto Alegre, na ótica da
aplicação da Fitotecnia em Atenção Primária em Saúde. Tese de Doutorado. 2008. 182p.
AFINAL, O QUE PODEM AS VIVÊNCIAS E
ESTÁGIOS NA REALIDADE DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE (VER-SUS) PARA A
FORMAÇÃO NA SAÚDE?*
1 Doutor em Educação, Professor do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. Coordenador da CoorSaúde. ferlaalcindo@gmail.
com
2 Doutora em Saúde Pública, Professora do Curso de Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem. izabmatos@gmail.com
112 Cadernos da Saúde Coletiva
formação como na organização dos processos de trabalho que impactam no próprio SUS. O
contato com o mundo do trabalho, a reflexão crítica sobre ele e o contraste com a formação
oferecida fortalecem o protagonismo do estudante na sua própria formação, na medida
em que dá subsídios para sínteses a partir do cotidiano do trabalho. Fortalece, portanto,
uma aprendizagem significativa. Percebe-se, pelos depoimentos de “viventes” em diferentes
fóruns, o reconhecimento da importância de trabalhar coletivamente, com diferentes áreas do
conhecimento, considerando diversos saberes, sejam eles científicos/sagrados ou populares/
profanos. O trabalho em equipe e a alteridade com profissões e áreas de conhecimento distintas
da sua de origem permitem avanços em relação a um aspecto ainda tênue na formação das
diferentes áreas de conhecimento com atuação na saúde. Destaca-se, ainda, a relevância da
troca de experiência para melhoramento dos serviços prestados na saúde e o reconhecimento
da convergência das diferentes áreas pensando a mesma temática e o SUS. Essa reflexão
ainda é inicial e se encontra em curso um processo mais denso de análise da experiência
realizada no VER-SUS Brasil, com a elaboração de manuscritos a serem encaminhados à
divulgação científica.
Assim, entende-se que a continuação do VER SUS/Brasil vai possibilitar aos estudantes
dos mais diversos cursos de graduação e de diferentes universidades do país o exercício da
experimentação e da ressignificação permanente do SUS, com intuito de melhorar os serviços e
as práticas sociais e em saúde, e a possibilidade de observar os êxitos e os limites dos serviços
oferecidos e proporcionar reflexões acerca da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade.
Ao possibilitar a experimentação de um novo espaço de aprendizagem, que é o cotidiano das
redes e sistemas de saúde, o projeto VER-SUS estimula a formação de trabalhadores para o
SUS, comprometidos eticamente com os seus princípios e suas diretrizes e que se entendam
como agentes sociais e políticos capazes de promover transformações.
A parceria com universidades, estados e municípios trouxe grande mobilização entre
estudantes que assumiram ainda mais o protagonismo, propondo a melhor logística para
as vivências/imersões a partir de seu ponto de vista. Os reflexos são sentidos na interação
mais intensa com os serviços e movimentos sociais disponíveis no território, que contribuem
para repensar as práticas em saúde e as necessidades da população, bem como no papel dos
profissionais de saúde e gestores na produção de uma saúde mais integradora e qualificada.
Nas edições de 2012 e 2013 houve também participação de estudantes estrangeiros, fato que
despertou interesse de universidades de diferentes países em estabelecer parcerias. Isso nos
permite reafirmar que o VER-SUS tem potência para, no contexto da educação permanente,
mobilizar efetivamente corações e mentes para o fortalecimento e a defesa do SUS, tanto nas
suas dimensões técnicas e cotidianas, quanto na militância política.
Referências
FERLA, A. A. et al. VER-SUS Brasil: cadernos de textos. Coleção VER-SUS/Brasil, 1. Porto
Alegre: Rede Unida, 2013. Disponível em: <http://versus.otics.org/acervo/caderno-de-
textos-do-ver-sus-brasil/caderno-de-textos-do-ver-sus-brasil-documento-eletronico.> Acesso
em 17 de setembro de 2013.
REDE Governo Colaborativo em Saúde. Revista da Rede Governo Colaborativo em Saúde, nº
01, maio de 2012. Disponível em: <http://www.otics.org.br/otics/estacoes-de-observacao/
saude-ufrgs/revista-rede-governo-colaborativo-em-saude-no-01>. Acesso em 17 de setembro
de 2013.
ANEXOS
Cadernos da Saúde Coletiva 117
ANEXO 1
SELEÇÃO E CADASTRO PARA PRECEPTORES DOS PROJETOS PET E PRÓ
SAÚDE
UFRGS E SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE PORTO ALEGRE-RS
UMA FERRAMENTA PARA QUALIFICAÇÃO DESTE PROCESSO
“Vale a pena sair dos lugares já destinados
para construir outros mundos”
Regina Benevides de Barros
Começamos com a citação de Barros, pois queremos registrar que estas parcerias entre a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e os serviços da Secretaria Municipal de
Saúde de Porto Alegre tem nos possibilitado construir a saúde pública de outras formas, bem
como rever as grades curriculares dos cursos da saúde desta Instituição de Ensino.
Um dos projetos que a SMS tem com a Universidade é através dos programas Pró e PET Saúde
do Ministério da Saúde, dos quais os serviços localizados nos Distritos Glória/Cruzeiro/Cristal
são cenários de prática.
É neste sentido que, no inicio do segundo semestre de 2012, com o objetivo de qualificar o
processo de seleção dos preceptores dos projetos Pró e PET Saúde, foi instituído um grupo
de trabalho composto por representantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
da Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal, da Comissão Permanente de Ensino e Serviço
(CPES) da Secretaria Municipal de Saúde, além de uma bolsista do CoorSaúde/UFRGS*. A
partir de novas configurações e do Edital do projeto PET Redes de Atenção à Saúde, a Gerência
Distrital Centro passou a compor essa Comissão e o Comitê Gestor.
O Regulamento para Cadastro e Seleção de Preceptores, documento 01, e o formulário,
documento 02, foram elaborados por várias mãos em um processo de construção e
desconstrução até chegarmos à versão que consta nesta Revista. Apresentamos os mesmos
no dia 17 de setembro de 2013, para apreciação e aprovação na Comissão de Educação
Permanente de Ensino e Serviço da SMS.
Estes documentos foram elaborados com o objetivo de viabilizarmos um processo com maior
visibilidade, além de termos um cadastro para atender de imediato as vagas abertas e atender
a necessidade de substituição durante os projetos em execução, bem como para dar agilidade
e resposta qualificada para novos editais que venham a ser lançados pelo Ministério da Saúde.
Segue abaixo o Regulamento para Cadastro e Seleção de Preceptores e o formulário eletrônico.
1 Especialista em Saúde e Trabalho, Enfermeira da Equipe de Desenvolvimento e membro da Comissão Permanente de Ensino
e Pesquisa (CPES/SMS de Porto Alegre). liliazzi@sms.prefpoa.com.br
2 Preceptora, Mestre em Serviço Social, Assessora da Gerência Distrital Glória/Cruzeiro/Cristal (GDGCC/SMS de Porto Ale-
gre). lilianesantos17@gmail.com
3 Doutora em Serviço Social, Professora do Curso de Serviço Social, Instituto de Psicologia. Vice-Coordenadora da CoorSaúde.
Coordenadora Adjunta do Pró/PET Saúde. miriam.dias@ufrgs.br
4 Bacharel em Psicologia, Acadêmica do Curso de Licenciatura em Psicologia, Bolsista da CoorSaúde. prizorzi@gmail.com
• Participaram neste processo: Alice Falcão Pereira (Assistente Social do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, membro
da CPES); Deise Rocha Réus (Farmacêutica na GDGCC); Erica Rosalba Mallmann Duarte (Professora do Curso de Enferma-
gem); Lori Maria Gregory (Nutricionista da GD Centro).
118 Cadernos da Saúde Coletiva
1. Do preceptor
1.1. Para ser preceptor, o profissional deve ter nível superior, estar inserido em serviços de saúde
devidamente cadastrados no CNES, com no mínimo especialização e 2 (dois) anos de experiência na
área da Saúde. Caso haja projeto com intervenção que inclua atividades de assistência, o preceptor
deverá necessariamente ser da mesma área do estudante, conforme recomendação do Ministério
da Saúde.
1.2. “O preceptor é um profissional de saúde com função de supervisão docente-assistencial
por área específica de atuação ou de especialidade profissional, que exerça atividade de
organização do processo de aprendizagem especializado e de orientação técnica a estudantes
em vivência de graduação ou de extensão” (BRASIL, 2012).
1.3. O preceptor deverá cumprir uma carga horária de no mínimo 8 horas semanais para o
trabalho de preceptoria PET, destinadas para as atividades previstas nos editais e respectivos
projetos, sem prejuízo das suas atividades de trabalho nos serviços de saúde: “Fica definido
que as atividades serão desenvolvidas em horário de trabalho, considerando que estas, por
sua definição e natureza, são de integração ensino em serviço. Entretanto, em ocorrendo
atividades fora do horário de trabalho, como eventos (reuniões, seminários), atividades de
estudo, pesquisa, relatórios e outras que se fizerem necessárias, os preceptores deverão estar
disponíveis, sem que se configure como horas extras ou passíveis de compensação” (Súmula
da Reunião de 16/10/2012 da Comissão Permanente de Ensino e Serviço da SMS – CPES).
2. Das vagas
2.1. A Comissão define que preferencialmente as vagas serão destinadas aos profissionais
lotados na GDGCC e GDC. Contudo, poderão ocorrer vagas para profissionais de outras
coordenações, como Vigilância Sanitária, CMS e/ou respectivos Conselhos Distritais,
ASSEPLA, GRSS e de outros serviços de saúde do SUS, que justifica-se devido a natureza
do projeto, onde a experiência da área se faz necessária para o desenvolvimento do mesmo.
Esta seleção para outras coordenações e de outros serviços de saúde do SUS serão realizadas
somente quando o Comitê Gestor assim deliberar, considerando as características dos projetos
e as vagas disponíveis.
2.2. As profissões que poderão participar nos projetos serão definidas pelo MS.
3. Da inscrição no cadastro
3.1. As inscrições serão realizadas por meio de formulário eletrônico, disponível em: http://goo.gl/
ent3I4
3.2. O Currículo Lattes e cópia dos certificados deverão ser entregues ao administrativo da
respectiva Gerência ou enviados digitalizados para o email da CoorSaúde (coordsaude@ufrgs.
br), sendo que os documentos originais do currículo deverão ser apresentados no momento
da entrevista para conferência.
Cadernos da Saúde Coletiva 119
4. Da seleção
4.1. Sempre que houver vagas em aberto nos subprojetos e/ou que novos projetos venham
a ser aprovados pelo MS, ocorrerá uma entrevista com os mais pontuados por profissão,
onde serão consideradas as categorias já contempladas no subprojeto a fim de garantir a
multidisciplinaridade possível dos profissionais. Poderão ser convidados profissionais de
saúde quando não houver profissional inscrito que preencha os critérios de local de atuação
profissional adequado à temática do projeto ou este não tenha experiência e/ou formação na
área temática.
5.1. Nos casos em que houver empate, será considerado o tempo de serviço nos Distritos. Nas
situações aqui não previstas, a Comissão irá analisar e deliberar.
7. Da comissão
7.1. O Comitê Gestor instituiu a Comissão Permanente de Seleção para Preceptores dos
Programas de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET Saúde), composta por representantes
da GDGCC, GDC, CPES, UFRGS e CMS e/ou respectivos Conselhos Distritais.
Referências
BRASIL. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde Secretaria-Executiva.
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 2. ed. – Brasília: Ministério da
Saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos, 44 p., 2012.
Cadernos da Saúde Coletiva 121
ANEXO 2
FICHA DE INSCRIÇÃO PARA SELEÇÃO E CADASTRO DE PRE-
CEPTORIA PET UFRGS/SMS-POA
Disponível em: http://goo.gl/ent3I4
122 Cadernos da Saúde Coletiva
Cadernos da Saúde Coletiva 123
ANEXO 3
PROJETOS PET SAÚDE 2012/2013
PROMOÇÃO DA SAÚDE, PREVENÇÃO E CUIDADO DE DOENÇAS CRÔNICO
DEGENERATIVAS: ATIVIDADES FÍSICAS/PRÁTICAS CORPORAIS &
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL/CULTURA ALIMENTAR, MANEJO DO DIABETE
E HIPERTENSÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
1. Introdução
A “Estratégia Global sobre Alimentação, Atividade Física e Saúde”, construída em 2003 pela
Organização Mundial da Saúde (EG/OMS), é um exemplo de estratégia voltada à promoção
da saúde. O referido documento é considerado um marco para o desenvolvimento de uma
Estratégia Mundial sobre alimentação, atividade física e saúde, de acordo com o enfoque
“integrado” preconizado pela OMS para controlar as enfermidades crônicas. Alguns exemplos
em âmbito nacional que incluem as práticas corporais na agenda nacional da atenção
em saúde são a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), a criação do Núcleo de
Apoio à Saúde da Família (NASF) e o Programa Academia da Saúde. Dentro da estratégia
de implementação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, o guia alimentar para a
população brasileira, primeiras diretrizes oficiais brasileiras sobre alimentação, consolida-se
como elemento concreto da identidade brasileira para implementação das recomendações no
âmbito da Estratégia Global visando à promoção da saúde.
Estas políticas demonstram que a promoção da saúde com ênfase na articulação atividade
física/práticas corporais e alimentação saudável/cultura alimentar é um dos elementos
fundamentais na composição do cuidado e da atenção à saúde no Brasil. Mas para promover
atividade física/práticas corporais e uma alimentação saudável é preciso levar em consideração
os aspectos biológicos e socioculturais, bem como o uso sustentável do meio ambiente, o
que implica no desenvolvimento de mecanismos que apoiem os sujeitos a adotar estilos
de vida saudáveis, num momento em que a globalização e a urbanização caracterizam-se
como movimentos aparentemente incessantes e contínuos, com importante impacto sobre
as práticas corporais e a alimentação saudável, principalmente no que se refere à adoção
de condutas consideradas de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas. Para
reverter esse processo, as ações de promoção da saúde devem ser amplas, incidindo sobre os
condicionantes e determinantes sociais de saúde, de forma intersetorial e com participação
popular, favorecendo escolhas saudáveis por parte dos indivíduos e coletividades no território
onde vivem e trabalham.
Como consequência de um estilo de vida inadequado associado a outros fatores, as doenças
cardiovasculares são importante causa de morbi/mortalidade nas populações de adultos e
idosos, e o diabete e a hipertensão figuram entre os principais fatores de risco para estas
doenças. Os estudos têm mostrado que aproximadamente 40-50% dos hipertensos não
atingem as metas pressóricas e aproximadamente 70-80% dos diabéticos não atingem as
metas de glicemia. Isto ocorre porque o atendimento ao diabético restringe-se ao manejo
farmacológico das doenças e não é integrado por práticas complementares fundamentais
como educação, orientação nutricional e prática de atividade física. Desta forma, incluir os
pacientes portadores de doenças crônicas em um programa de estimulo à nutrição saudável e
124 Cadernos da Saúde Coletiva
às práticas corporais além de prevenção secundária pode ser um motivador para os indivíduos
ainda não afetados por estas doenças.
Além do aspecto do estilo de vida, o tratamento do diabete em nosso meio apresenta algumas
dificuldades. A pesquisa de complicações crônicas do diabete não atinge a maioria dos
indivíduos, embora muitos dos métodos estejam disponíveis na rede. O rastreamento da
retinopatia feito pelo clínico por oftalmoscopia tem sensibilidade de 50% para o diagnóstico
de retinopatia proliferativa, não sendo adequado para rastreamento. Em nosso meio,
o rastreamento é realizado por referência ao oftalmologista. Não há disponibilidade de
consultas para avaliar todos os pacientes anualmente, o que gera um grande acúmulo de
encaminhamentos. Em outros países este problema tem sido resolvido por análise de fotografia
não midriática realizada por câmera especial para este fim. O rastreamento assim feito tem
sensibilidade de 75 a 95% (dependendo do número de campos realizados) e é considerado
custo efetivo.
2. Justificativa
Para as políticas de promoção da saúde centradas na relação atividade física/práticas corporais
e alimentação saudável/cultura alimentar é preciso desenvolver estratégias em um contexto
multidisciplinar, vinculando a universidade com os serviços de saúde em uma lógica docente-
assistencial. Para tanto, é fundamental trabalhar o resgate das práticas corporais locais e
das práticas alimentares tradicionais, assim como incentivar o uso de práticas corporais
significativas ajustadas ao perfil de cada grupo envolvido e o consumo de alimentos saudáveis
regionais, levando em consideração a identidade cultural, os aspectos comportamentais e
os laços afetivos. De forma complementar, é preciso investir na ampliação de ambientes que
favoreçam escolhas e práticas saudáveis, mediante melhor estruturação do ambiente físico
das comunidades.
Além disto, quando consideramos a importância epidemiológica das doenças crônico
degenerativas, seu potencial de prevenção primária e secundária, seu potencial de morbi/
mortalidade, custos, resultados terapêuticos pobres em nosso meio, embora os métodos de
tratamento disponíveis consistentemente modifiquem o curso destas doenças e reduzam a
morbi/mortalidade, a criação de uma linha de cuidado em diabete, que inicie na promoção
de saúde, incluindo o monitoramento dos resultados e o oferecimento de novas possibilidades
de rastreamento, pode ser acompanhada de melhora das condições de saúde da população.
3. Objetivos
• Identificar e analisar de forma crítica as práticas corporais mais usadas e os padrões
alimentares mais prevalentes na comunidade, juntamente com aspectos sociais, biológicos,
culturais e econômicos envolvidos;
• Mapear os espaços públicos de lazer e as práticas corporais populares na região adstrita ao
CSVC e analisar as possíveis relações com o projeto Academias de Saúde, com o Programa
Lazer e Saúde da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e com as academias populares
instaladas na região que compreende o Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal;
• Analisar as possibilidades de articulação das atividades físicas/práticas corporais e
alimentação saudável/cultura alimentar dentro do Programa Saúde na Escola;
• Desenvolvimento de ações para promover ambientes saudáveis em espaços comunitários
como escolas, locais de trabalho e creches;
• Trabalhar educação nutricional e a educação corporal através do diálogo entre profissionais
Cadernos da Saúde Coletiva 125
5. Plano de pesquisa
1) “Atividade Física no SUS na visão dos usuários do Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal”. Projeto
de pesquisa que tem por objetivo prospectar e mapear os sentidos atribuídos pelos usuários
do SUS do Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal (DGCC) em Porto Alegre, mais especificamente
aqueles pertencentes aos serviços de saúde que contam com monitores de Educação Física
do PET Saúde. Duração prevista: 1 ano.
2) “Políticas de formação em educação física e saúde coletiva: atividade física/práticas
corporais no SUS”. Projeto de pesquisa interinstitucional entre UFRGS, USP e UFES que busca
investigar e problematizar políticas de formação voltadas para capacitação e sensibilização de
estudantes de educação física para atuação em saúde coletiva e análise da implementação de
práticas corporais junto ao SUS. Duração prevista: 2 anos.
3) Identificação do padrão de consumo alimentar e estado nutricional da população atendida
pelas equipes de ESF da área do CSVC e análise do comércio de alimentos que abastece a
região. O desenvolvimento da pesquisa se dará mediante a aplicação de um questionário
de frequência alimentar validado para a população de Porto Alegre e de um instrumento de
avaliação das principais características da dinâmica do comércio e da oferta de alimentos
da região, bem como levantamento de dados referentes aos aspectos sociais, culturais,
econômicos e nutricionais dos indivíduos. Estudo transversal de base populacional. Duração
prevista: 1 ano.
4) Estudo de intervenção, tipo ensaio comunitário por cluster, que envolverá as diferentes
unidades ESF da área CSVC. Serão randomizadas as ESF que receberão as seguintes
Cadernos da Saúde Coletiva 127
1. Diagnóstico atual
Porto Alegre, desde o início da epidemia no Brasil, se destacou como uma das capitais com
importante concentração de casos de AIDS, sendo que o primeiro caso notificado em adultos
foi em 1983 e em crianças foi em 1985. O total acumulado até 31 de dezembro de 2010 é de
21.005 casos, sendo destes 95,89% em adultos e 4,11% em crianças menores de 13 anos.
O coeficiente de incidência de AIDS no ano de 2010 está em 98,59 casos para cada 100.000
habitantes, sendo que a média dos últimos 10 anos é de 90,58 casos para cada 100.000
habitantes. O coeficiente de prevalência é de 830,47 casos para cada 100.000 habitantes.
Dados do boletim de AIDS do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da
Saúde, publicados em dezembro de 2011, apontam Porto Alegre como a capital brasileira com
maior incidência de casos de AIDS no Brasil.
Além disso, entre os municípios com maior incidência de AIDS no Brasil, muitos encontram-
se na região metropolitana de Porto Alegre, como é o caso de Viamão, Gravataí, Canoas,
Alvorada, São Leopoldo, entre outros. Na década de 90, com a chegada dos ARVs, o panorama
da assistência e da prevenção no Brasil ganhou novos contornos capazes de demarcar
diferentes configurações institucionais. Os pacientes migraram do nível de atenção terciária
para os ambulatórios gerais ou de especialidades, ambulatórios de hospitais, Unidades
Básicas de Saúde, policlínicas, Serviços de Assistência Especializada em DST/HIV/AIDS e
Equipes de Saúde da Família. Por outro lado, a viabilização de novas tecnologias para a
detecção dos anticorpos Anti-HIV no sangue humano vem propiciando novas estratégias de
prevenção da doença. Essas visam interromper a cadeia de transmissão do HIV utilizando-se
de duas possibilidades: 1) identificar as pessoas com sorologia negativa, estimulando-as a
reconhecer suas práticas de risco e formas de evitar a infecção; e 2) identificar as pessoas com
sorologia positiva e encaminhá-las para serviços de assistência especializada, procurando
romper a cadeia de infecção do HIV bem como reforçar a adesão ao tratamento antirretroviral.
No sentido de otimizar a saúde da população do município de Porto Alegre, a Secretaria
Municipal de Saúde deu inicio, em abril de 2011, a um plano estratégico de enfrentamento da
epidemia na cidade, que tem como objetivo principal a descentralização da atenção do HIV/
AIDS e das DST junto a atenção primária em saúde.
A despeito do acesso universal e gratuito do tratamento da infecção pelo HIV no SUS, uma
parcela substancial de pessoas vivendo com HIV e AIDS são atendidas pelos serviços de
saúde em estágios tardios da infecção. O diagnóstico precoce da infecção pelo HIV segue como
um dos principais obstáculos à redução das taxas de transmissão do HIV e de morbidades
Cadernos da Saúde Coletiva 129
e mortalidade. Estudo publicado por Grangeiro e colaboradores sustenta ser possível obter
substantiva redução das taxas de mortalidade relacionadas ao HIV a partir de estratégias de
acesso mais precoce ao diagnóstico e tratamento da infecção pelo HIV.
2. Objetivos
Ampliar as estratégias de integração ensino-serviço através da inclusão de temáticas
relacionadas a infecção pelas DST/HIV/AIDS junto a rede Municipal de Saúde, suas UBS e
ESF.
3. Meta
A linha condutora desse processo é a ampliação da cobertura do diagnóstico do HIV através da
implantação do Teste Rápido Diagnóstico (TRD) junto às ESF e UBS. Esse plano contempla as
seguintes metas para 2012/2013: 1) acesso universal ao tratamento e assistência, através do
aumento da cobertura de testagem do HIV através da ampliação do teste rápido do HIV e da
sífilis; 2) diminuição das vulnerabilidades frente ao HIV; 3) Estratégias de Controle das Perdas
de Oportunidades; 4) melhoria da Gestão Clinica em HIV/AIDS; 5) definição de protocolos
assistenciais de manejo, referência e contrarreferência de pacientes vivendo com HIV e AIDS,
matriciamento, estruturação de linhas de cuidado e avaliação das ações implementadas;
6) vigilância epidemiológica, qualificação da informação e produção de conhecimento; 7)
promoção de direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/AIDS; e 8) promoção de
políticas intersetoriais no contexto do município de Porto Alegre.
4. Projetos previstos
1. Projeto DST/HIV/AIDS na Rede de Atenção Primária em Saúde para redução da Transmissão
Vertical.
Atividades Previstas:
• Inserção dos monitores junto à rede de atenção básica do Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal,
a partir da implantação do matriciamento e capacitação em aconselhamento e implantação
do teste rápido HIV/AIDS e sífilis nas unidades deste Distrito;
• Intermediação do fluxo entre unidades de saúde e serviço especializado em DST/AIDS;
• Monitoramento do fluxo de encaminhamento de gestantes com resultados de exames
anti-HIV positivos para o SAE e busca consentida de gestantes não aderentes, a partir da
identificação das mesmas pelo SAE ou pré-natal de alto risco dos hospitais;
• Monitoramento do fluxo de encaminhamento das puérperas sem indicação de uso de ARVs
para a atenção básica e busca consentida de puérperas não aderentes.
1.2 Acompanhamento de famílias de gestantes com resultados de exames anti-HIV E VDRL
positivos.
Atividades Previstas:
• Monitoramento da testagem dos parceiros e filhos destas gestantes;
• Busca consentida dos familiares não testados para o HIV e para a sífilis.
2. Projeto DST/HIV/Aids no serviço especializado SAE/CSVC e COAS.
Atividades Previstas:
• Inserção dos monitores junto às equipes do COAS e do SAE em parceria com as equipes de
Saúde da Família (ESF) visando:
130 Cadernos da Saúde Coletiva
1. Introdução
Considerando-se que as áreas de Urgência/Emergência e Saúde Mental constituem-se em
importantes componentes da assistência à saúde e que o crescimento da demanda por serviços
nestas áreas têm contribuído para a sobrecarga dos mesmos, torna-se fundamental a busca
de estratégias que visem amenizar tal problema e fortalecer a articulação entre as Redes de
Atenção à Saúde (RAS).
Os diferentes níveis de atenção devem relacionar-se de forma complementar por meio de
mecanismos organizados e regulados de referência e contrarreferência, sendo de fundamental
importância que cada serviço se reconheça como parte integrante deste sistema, acolhendo e
atendendo adequadamente a parcela da demanda que lhe acorre.
2. Justificativa
Neste contexto, este projeto visa fortalecer a continuidade e a integralidade do cuidado aos
indivíduos que receberem alta de serviços de urgência/emergência de referência da região
assistencial da UFRGS, de forma a prevenir a reinternação e a promover maior eficiência do
serviço público de saúde. Também visa consolidar um modelo de atenção à saúde mental em
rede de serviços substitutivos e integrados no território, englobando os diferentes níveis de
atenção e assistência.
3. Objetivos
3.1. Mapear, fortalecer e articular a rede de atenção psicossocial e os mecanismos de referência
Cadernos da Saúde Coletiva 131
e contrarreferência do DGCC;
3.2. Identificar e atender as necessidades de cuidados de indivíduos que receberem alta de
serviços de urgência/emergência para suas residências;
3.3. Promover a saúde e prevenir doenças, conforme demandas locais;
3.4. Reforçar estratégias de apoio sócio-familiar;
3.5. Realizar ações de promoção, prevenção e reinserção psicossocial com ênfase na infância,
adolescência e juventude;
3.6. Promover ações de orientação sobre o uso de medicamentos no domicílio.
5. Plano de pesquisa
A pesquisa terá como foco os fluxos dos pacientes atendidos em serviços de Urgência/
Emergência e Saúde Mental, motivos de internação e necessidades de cuidados com uso
de medicamentos e com a saúde em geral, de modo a melhor abordar suas demandas na
comunidade. Serão ainda avaliadas as necessidades de recursos materiais para unidades
de saúde e de preparo da equipe, indispensáveis ao cuidado integral e continuado, e como
poderão ser supridos. Os dados serão colhidos por monitores, utilizando-se de fontes primárias
e secundárias, referentes à região Glória/Cruzeiro/Cristal de Porto Alegre.
6. Métodos
Usuários com alta de serviços de urgência/emergência e saúde mental pertencentes ao
DGCC serão identificados, orientados em relação aos cuidados com uso de medicamentos
e com a saúde em geral e contrarreferenciados. Será realizado registro sobre seus fluxos,
132 Cadernos da Saúde Coletiva
cuidados necessários e prestados e dificuldades encontradas, para análise das ações que
deverão continuar, mudar/melhorar ou serem incluídas nesse processo. Será incentivada a
adequação da rede ao atendimento das situações apresentadas pelos usuários dos serviços da
rede, visando a redução de internações e reinternações.
1. Justificativa
No campo das políticas públicas de saúde, o consumo de substâncias psicoativas (álcool e
outras drogas) vem aumentando rapidamente em diferentes regiões do mundo, especialmente
em países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o custo com
o tratamento das incapacidades relacionadas ao uso abusivo de álcool (cirrose, acidentes
automobilísticos) representa quase 1% do PIB, embora em países como Canadá e Estados
Unidos esse número supere os 2%. Já no caso da drogadição, a prevalência situa-se entre 0,4
e 4%, embora o tipo de droga varie muito de região em região. É um grave problema de saúde
pública, que vem exigindo dos países respostas concretas e efetivas.
No caso do contexto brasileiro, essa realidade (não menos diferente) soma-se à ampla gama de
questões sociais, além das discussões, muitas vezes inconciliáveis, sobre as melhores estratégias
de combate aos efeitos nocivos do uso abusivo de substâncias psicoativas. Dentro da Política
Nacional de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Drogas, do Plano Emergencial de Ampliação do
Acesso a Tratamento em Álcool e outras Drogas no SUS e do Plano Integrado de Enfrentamento ao
crack e outras drogas, destacam-se as atividades de promoção, prevenção, tratamento e educação
para o uso abusivo de álcool e outras drogas, considerando estes como um grave problema de
saúde pública.
Trata-se de um grande desafio à oferta de serviços e ações de saúde, em todos os níveis de
atenção. Por isso, o Ministério da Saúde vem investindo no fortalecimento da rede de serviços
de saúde mental para álcool e outras drogas, incluindo nesse contexto o crack, sinalizando a
participação dos Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD), da
Estratégia Saúde da Família, dos Serviços Hospitalares de Referência para Álcool e Drogas, da
Política de Redução de Danos, dos consultórios de rua, dos centros de convivência e cultura
e dos chamados “leitos de atenção integral”, especialmente aqueles vinculados aos CAPS III
(com funcionamento 24h) e aos serviços hospitalares gerais.
Valorizando a importância da parceria ensino-serviço no contexto da formação em saúde, espera-
se que este subprojeto PET Saúde Mental seja mais um recurso no campo do cuidado em saúde
mental, com abordagem interdisciplinar. Pretende-se que atue como mais uma estratégia ao
fortalecimento da rede de saúde mental e da educação permanente em saúde, através da conexão
de saberes e diálogos entre os cursos de graduação envolvidos na proposta, os serviços de saúde
e a comunidade do Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal. As intervenções serão realizadas junto (e
em conjunto), ampliando o protagonismo dos atores na construção das ações de cuidado em
parceria, de forma dialógica.
2. Objetivos
Objetivo Geral:
• Estabelecer ações de cuidado a usuários de crack, álcool e outras drogas, na perspectiva da
Atenção Psicossocial, no Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal.
Cadernos da Saúde Coletiva 133
Objetivos Específicos:
• Fomentar a formação de estudantes de graduação na área da saúde no âmbito da Atenção
Psicossocial, dando ênfase às questões relacionadas ao crack, álcool e outras drogas;
• Construir estratégias de diálogo entre os alunos, os trabalhadores da rede e os usuários de
álcool, crack e outras drogas, com ênfase ao fortalecimento da rede de saúde mental;
• Promover a integração dos conhecimentos das diversas áreas da saúde da UFRGS,
possibilitando que os discentes construam um percurso de formação que favoreça o
desenvolvimento das habilidades, competências e atitudes interdisciplinares no contexto
da Atenção Psicossocial;
• Construir propostas de ações de cuidado a usuários de álcool, crack e outras drogas, visando
a melhoria da rede e dos processos de articulação entre os diferentes recursos disponíveis.
OBSERVATÓRIO DE SAÚDE:
VIGILÂNCIA DE INDICADORES DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO
DE PROGRAMAS E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
1. Introdução
A Política Nacional de Informação e Informática em Saúde do SUS (PNIIS) destaca a
relevância de políticas e estratégias setoriais de comunicação e informação em saúde, diante
das possibilidades de geração de novos processos e produtos, e de mudanças nos modelos
institucionais de gestão. Mesmo considerando os avanços obtidos, com a aprovação da PNIIS,
para a área de informação e comunicação em saúde, temos ainda um longo caminho a percorrer
para responder às crescentes demandas de gestores, trabalhadores e, particularmente, da
população em relação à necessária integração entre os sistemas de informação, assim como
em relação ao uso da informática para a melhoria da produtividade e qualidade do controle
social, da gestão e dos processos de trabalho em saúde. Corroborando com este propósito, a
Vigilância em Saúde (particularmente a Vigilância Epidemiológica) mostra-se uma ferramenta
indispensável à avaliação e monitoramento de projetos e programas. Para tanto, faz-se uso
de indicadores específicos, através dos sistemas de informação disponíveis no DATASUS e,
em especial, de indicadores pactuados entre as diferentes esferas de gestão. Neste sentido,
este projeto, através da cooperação técnica existente entre a UFRGS e o município de Porto
Alegre, permitirá que as informações sócio-sanitárias do Distrito Docente Assistencial Glória/
Cruzeiro/Cristal (DGCC) sejam disponibilizadas aos vários atores envolvidos no processo de
construção e divulgação das mesmas, de tal forma que sejam utilizadas para apoio às decisões,
com o uso criativo e inovador dos recursos disponíveis, contribuindo para o fortalecimento do
Sistema Único de Saúde (SUS) por meio do apoio à gestão e ao ensino na saúde.
2. Justificativa
Baseados na premissa de “que, com o uso adequado das tecnologias de informação e
comunicação, é possível melhorar a saúde de um país”, este projeto possibilitará que as
informações sócio-sanitárias do DGCC sejam disponibilizadas aos vários atores envolvidos no
processo de construção e divulgação das mesmas, de tal forma que as informações produzidas
sejam utilizadas para apoio à decisão em diferentes níveis do sistema de saúde. Entende-se
também que a compreensão dos processos de trabalho qualifica o sistema de notificação da
produção ambulatorial, através do uso de indicadores mais apropriados à realidade local.
Possibilita também contribuir com experiência e tecnologia para um processo permanente e
contínuo de participação, de gestão e de ensino no sistema de saúde.
3. Objetivos
a) Desenvolver e implementar um Observatório de Saúde no DGCC, composto por um conjunto
de soluções tecnológicas e operacionais;
b) Qualificar o monitoramento e a avaliação de indicadores de saúde produzidos;
c) Avaliar, em particular, os indicadores de cobertura vacinal, nascidos vivos com 7 consultas
no PN no DGCC comparativamente ao município de Porto Alegre e o Estado do RS;
d) Avaliar processos de notificação da produção ambulatorial de procedimentos odontológicos
e os indicadores de assistência à tuberculose e AIDS;
e) Ampliar a participação da comunidade na produção e no uso de informações em saúde;
f) Desenvolver e aplicar as TICS adequadas à realidade sociocultural.
Cadernos da Saúde Coletiva 135
1. Introdução
De acordo com as pesquisas realizadas no Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal (DGCC) do
município de Porto Alegre, na experiência do Pró-Saúde e nas estratégias de integração
docente-assistenciais iniciadas, desde 2008, essa proposta vem confirmar a integração
dessas instituições, e as experiências até agora vivenciadas buscaram solidificar ações para a
136 Cadernos da Saúde Coletiva
qualificação dos trabalhadores de Saúde e a formação dos acadêmicos dos cursos da saúde.
Os conhecimentos adquiridos promoveram benefícios para ambos os cenários e atores desse
envolvimento.
2. Justificativa
A qualificação da gestão, com vistas a consolidar as iniciativas de integração ensino-serviço-
comunidade e o desafio de institucionalizar a Educação Permanente (EP) como estratégia de
desenvolvimento e implantação de uma gestão e assistência de saúde inovadoras e qualificadas no
município de Porto Alegre.
3. Objetivos gerais
Construir coletivamente uma sistemática de gestão criando uma sistemática de monitoramento,
mapeamento e avaliações de ações integradas entre ensino e serviço, onde a base seja a gestão
do trabalho e a educação em saúde.
5. Resultados
Mapear e monitorar os projetos de pesquisa, extensão e ensino desenvolvidos no Distrito.
Cadernos da Saúde Coletiva 137
Ter domínio sobre as informações de gestão e educação que constituirão ferramenta para a
gestão, promovendo ações qualificadas no território. Conhecer as ações de integração ensino
e serviço, dando visibilidade às ações de maior impacto. Possibilitar, através dos resultados,
mudança das praticas e ensino na saúde. Desenvolver uma política que incorpore o conceito
de EP como orientador de mudanças no serviço e ensino de saúde.
REDE CEGONHA
1. Introdução
Consiste numa rede de cuidados para assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo
e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, e à criança o direto ao nascimento
seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis, através de um modelo que garanta
acesso, acolhimento e resolutividade e a redução da mortalidade materna e infantil.
2. Justificativa
Consolidar a integração ensino-serviço-comunidade e alinhar-se ao Programa Rede Cegonha.
3. Objetivo
Implementar ações de atenção à saúde das mulheres e crianças segundo os componentes da
Rede Cegonha e reorientar a formação de profissionais da área da saúde.
ANEXO 4
PROJETOS PET VIGILÂNCIA EM SAÚDE 2013/2015
PET VIGILÂNCIA E GESTÃO CLÍNICA DO HIV/AIDS1.
1. Introdução
Segundo o Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul é o estado com maior incidência de casos
notificados de AIDS no Brasil desde 2000 e vem tendo aumento da prevalência de portado-
res do vírus em sua população, de forma a serem fundamentais ações para fortalecer ativ-
idades de vigilância epidemiológica, controle da transmissão do vírus e monitoramento dos
doentes, incluindo educação para o autocuidado destes. Além disso, Porto Alegre apresenta
coeficiente de mortalidade por AIDS oscilando entre 30 e 37 óbitos por 100.000 habitantes
na década passada. Entre os óbitos, há elevada proporção de casos de coinfecção entre HIV,
tuberculose e hepatite C. Segundo o último boletim epidemiológico do Departamento de DST,
AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, dentre as cidades com população maior do
que 100.000 habitantes, Porto Alegre ocupa o segundo lugar na incidência de casos de AIDS,
sendo ultrapassada apenas por Alvorada, também no Rio Grande do Sul. Estudos estimam
que aproximadamente 50% dos indivíduos infectados com o HIV são diagnosticados e inici-
am seu atendimento numa fase avançada da doença, já com a apresentação de sintomas, o
que determina padrões de morbidade e mortalidade elevados e a perda de oportunidades em
relação a causas preveníveis de mortalidade e de internação relacionadas à doença. A Secre-
taria Municipal da Saúde de Porto Alegre promoveu a municipalização das ações de vigilância
epidemiológica da AIDS no ano de 2001, mas ainda apresenta limitações e dificuldades para
reduzir a subnotificação dos casos e a integração entre atividades de vigilância epidemiológica
e a assistência à saúde dos indivíduos portadores do vírus HIV.
Este projeto objetiva fortalecer a integração entre a vigilância epidemiológica e a assistência
especializada aos pacientes com HIV por meio de estratégias de integração dos sistemas de in-
formação (SINAN, SIM, SISCEL, SICLOM e SIH) com o serviço de saúde através do Laboratório
Central do Município de Porto Alegre (LACEN) no DGCC. Desta forma, a proposta se coaduna
com o objetivo número 2 do Plano Estratégico do Ministério da Saúde, que prevê “reduzir os
riscos e agravos à saúde da população por meio das ações de promoção e vigilância em saúde”.
Da mesma maneira, a proposta contempla as prioridades da Agenda Estratégica da Sec-
retaria de Vigilância em Saúde para o período 2011-2015, pois se soma aos esforços que
vêm sendo empreendidos pela SMS-POA e pela Secretaria de Vigilância em Saúde para o
fortalecimento, ampliação e maior integração das ações de Vigilância em Saúde com as Re-
des de Atenção à Saúde, a ampliação das ações de vigilância de um agravo com importante
carga de doença, além de contribuir sobremaneira com a melhora da qualidade de vida
das pessoas que vivem com HIV/AIDS. A longo prazo, tais ações resultarão em controle e
redução da transmissão do HIV/AIDS.
Objetivos
Geral:
• Desenvolver estratégia de integração entre as informações dos bancos de dados dos siste-
mas de informação do MS para caracterizar o perfil epidemiológico de indivíduos infectados
com o vírus HIV atendidos nos serviços especializados e que apresentem estágio avançado
140 Cadernos da Saúde Coletiva
Metodologia
I. Caracterização da capacidade de atendimento, dos fluxos e dos mecanismos de referên-
cia e contrarreferência entre o serviço de pronto atendimento da região Glória/Cruzeiro/
Cristal quando do atendimento de pacientes com HIV/AIDS;
II. Implementação de mecanismos de identificação e rastreamento de pacientes com HIV/
AIDS em situação de vulnerabilidade (quadro A) previamente testados no LACEN em proje-
to de parceria UFRGS/SMS (PET HIV/AIDS 2012-2013) no contexto do pronto atendimen-
to da região Glória/Cruzeiro/Cristal, visando aperfeiçoar fluxos de atendimento, reduzir
tempos de espera e garantir o acesso em tempo adequado aos serviços especializados;
III. Implementação de um sistema de comunicação entre LACEN e serviço de pronto aten-
dimento do PACS, Secretaria de Vigilância em Saúde e serviços especializados de aten-
dimento em HIV/AIDS, buscando otimizar a regulação e os mecanismos de referência e
contrarreferência;
IV. Criação e monitoramento de indicadores de processo e de resultados para avaliação da
qualidade da assistência dos pacientes com HIV/AIDS no SUS em Porto Alegre;
V. Em médio e longo prazo, estimular os serviços a implantar a busca ativa consentida de pa-
cientes, de maneira a promover a adesão ao tratamento e o vínculo (efetivo) com os serviços
de saúde.
Quadro A - definição de caso de atendimento prioritário de paciente com HIV/AIDS em condição de vulnerabilidade.
DEFINIÇÃO DE CASO:
Indivíduos com infecção documentada pelo HIV que se apresentam para atendimento nos
serviços de saúde:
• Com contagens de linfócitos CD4 inferiores a 200 células/mm3;
OU
• Com manifestação definidora de AIDS independentemente da contagem de linfócitos CD4;
MAIS
Situação sócio-familiar passível de ser caracterizada como pobreza extrema ou exclusão so-
cial, incluindo ausência de moradia (morador de rua ou institucionalizado).
Cadernos da Saúde Coletiva 141
PET VIOLÊNCIA
As violências e acidentes, ao lado das doenças crônicas e degenerativas, estão se configuran-
do como um problema de saúde em Porto Alegre e no Brasil. As informações a respeito não
estão sendo realizadas de forma efetiva por todos os serviços de saúde, necessitando melhora
tanto na qualidade do sistema de informação quanto nas ações desencadeadas pela vigilância
desses eventos.
Tendo como ponto de partida as vivências dos territórios Cruzeiro e Cristal através das dis-
cussões de caso nos serviços de saúde, da Rede e Redinhas intersetoriais, constata-se um
aumento considerável de todos os tipos de violência, incluindo as violências interpessoais in-
trafamiliares (perpetradas por parceiro íntimo, entre os membros da família, contra crianças,
mulheres e idosos) e comunitária (entre jovens, violência sexual, violência no espaço escolar).
A esse agravos sobrepõem-se a violência estrutural, ocasionada pelas desigualdades econômi-
cas, culturais, de gênero e raça que expressam a precariedade das condições de vida em con-
textos de miséria e a exploração. A violência institucional também foi apontada e se expressa
na falta de acesso a serviços sociais ou na inexistência destes ou de equipamentos que de al-
guma forma poderiam auxiliar no enfrentamento da violência. A região Cruzeiro (bairro Santa
Tereza), área de intervenção do programa “Território da Paz”, é a área do município que possui
as maiores prevalências de violência, destacando-se os jovens de 15 a 29 anos.
Na GDGCC já há uma equipe de NASF formada por uma equipe interdisciplinar de sete profis-
sionais atuantes em dez unidades e em quinze equipes de ESF da região. O NASF apoia os
profissionais das equipes da ESF, das Equipes de Atenção Básica e academia de saúde. Entre
seus objetivos, estão: contribuir para a continuidade e integralidade do cuidado dos usuários
do SUS na atenção básica através da proposta da clínica ampliada; fomentar o trabalho coleti-
vo, interdisciplinar e integrado das equipes da atenção básica e outros serviços, aumentando a
resolutividade e a promoção da vida; incentivar a integração entre promoção, prevenção, cura
e reabilitação nas ações em saúde; contribuir para a articulação entre os serviços da rede in-
tra-setorial da saúde e os serviços da rede intersetorial; integrar ações de vigilância em saúde
com a clínica ampliada e a promoção da saúde, identificando e intervindo sobre situações de
risco e vulnerabilidade no território.
Objetivo
Articulação das ações direcionadas a pessoas ou grupos em situação de violência a partir da
integração com a Rede de atenção e proteção do território.
Atividades
Revisão teórica sobre a temática e construção do projeto de intervenção; análise documental
das notificações de violência e dos prontuários dos serviços de atenção básica dos casos no-
tificados; capacitação das equipes de saúde para realizar ações de vigilância das violências;
implantação da notificação de violência nas USF que não implantaram; monitoramento e
acompanhamento dos casos notificados; visitas sistemáticas aos serviços de saúde; visitas
domiciliares; organização de atividades grupais para acolhimento de pessoas em situação de
violência; organização de atividades de promoção da paz junto às escolas do território; par-
ticipação nas reuniões da Rede (intersetorial) de atenção e proteção do território; reuniões
sistemáticas do grupo de preceptores, alunos e tutor; elaboração de relatórios e trabalhos
para eventos técnico-científicos.
142 Cadernos da Saúde Coletiva
Objetivos
Geral:
Avaliar o processo de descentralização da assistência da Tuberculose em Porto Alegre na
atenção primária, monitorando indicadores de estrutura, de assistência, de vigilância epide-
miológica e de resultados.
Específicos:
• Verificar as especificidades do processo de descentralização da tuberculose entre Unidades
Básicas de Saúde e Estratégias de Saúde da Família no território selecionado, como capta-
ção de sintomáticos respiratórios e qualidade da assistência prestada, segundo preceitos do
Programa da Tuberculose do Ministério da Saúde;
• Conhecer a prevalência de tuberculose entre comunicantes familiares de casos de tubercu-
Cadernos da Saúde Coletiva 143
Metodologia e Atividades
• Avaliação de coorte dos serviços de saúde que prestarão assistência à tuberculose na atenção
primária da Gerência Gloria/Cruzeiro/Cristal. Os serviços serão avaliados em suas carac-
terísticas estruturais e funcionais em relação aos critérios de assistência preconizados pelo
Programa Nacional de Controle da Tuberculose, como disponibilidade de exames laborato-
riais, profissionais capacitados, registros e fluxos assistenciais, no momento inicial e no mo-
mento final da avaliação;
• Informar todos os casos diagnosticados das áreas de atuação dos serviços avaliados, no pe-
ríodo de 2013 a 2014, à equipe da vigilância da tuberculose, responsável pelo SINAN, assim
como a vigilância informará ao serviço e ao preceptor do PET se houver casos identificados
no nível hospitalar pertencente às áreas de atuação das unidades, para coorte do caso;
• Cadastrar todos os comunicantes domiciliares dos casos de tuberculose em um sistema de
informação especifico para identificação e conhecimento dos comunicantes, com posterior
analise de prevalência de variáveis clínicas, assistenciais e de vigilância.
Resultados Esperados
• Monitoramento contínuo do processo de descentralização da assistência à tuberculose na
atenção primária em saúde da região da Gerência Distrital Gloria/Cruzeiro/Cristal;
• Incorporação da avaliação de contatos de tuberculose na rede de atenção primária, que está
se apropriando desta metodologia de diagnóstico e tratamento;
• Criação um banco de dados específico para registro de comunicantes de casos de tubercu-
lose no município;
• Inserção dos alunos no universo da atenção primária em saúde, em especial nas ações de
assistência e de vigilância da tuberculose.
Cadernos da Saúde Coletiva 145
ANEXO 5
PROJETOS PET REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE 2013/2015
CEGONHA AMAMENTA
Este projeto relaciona-se à implementação das diretrizes preconizadas pela estratégia da Rede
Cegonha. A SMS-POA, em seu PAS 2013 para o DGCC, prioriza metas relacionadas à Rede,
como redução da mortalidade infantil para menos de 9/1000 nascidos vivos, com equidade
segundo raça/cor; aumento da taxa de aleitamento materno exclusivo na primeira consulta
do recém-nascido em crianças acompanhadas pelo programa Prá-Nenê; aumento da taxa de
aleitamento materno exclusivo em crianças aos quatro meses de vida acompanhados pela
ESF; aumento do índice de peso adequado de recém-nascidos ao nascimento; e aumento da
média de consultas de profissionais da saúde a crianças menores de um ano.
Objetivos
• Papel chave da atenção básica como coordenadora do cuidado: capturar gestantes para o
inicio precoce da atenção pré-natal; gerar autonomia no cuidado à gestação; produzir saberes;
oportunizar escolhas entre práticas disponíveis e adequadas à realidade de profissionais e
usuários; orientar fluxo de atenção através da demanda à gestante e sua família e avaliação
de risco; direcionar/encaminhar gestantes para atenção hospitalar conforme sinais e
sintomas que indiquem tal necessidade; implementar ações de ambientação de gestantes
para o parto; discutir a implementação do plano de parto e da orientação da utilização de
métodos não farmacológicos de alívio à dor; estimular presença do acompanhante de livre
escolha e aleitamento na primeira hora de vida e exclusivo até 6 meses de idade.
• Modelagem que orienta e controla o acesso e fluxo dos usuários e a gestão do sistema: o
projeto é baseado na necessidade de formação de uma população saudável promovida pelo
Estado em conjunto com a população. Algumas ações que contribuem para a melhora dos
indicadores poderão ocorrer por meio da captura precoce da mulher ao pré-natal, pela
busca ativa e acompanhamento da gestante ou da puérpera e da criança até os dois anos
de vida em áreas adstritas da rede, favorecendo a qualificação da assistência e a assistência
qualificada. Tais ações são mais bem disseminadas através do matriciamento, pelo trabalho
em equipe, favorecendo a integralidade e resolutividade de atenção.
Metodologia
Monitoramento e avaliação das práticas necessárias a atenção de gestantes e famílias;
observação e implementação de boas práticas nos cenários de cuidado da rede; e práticas de
educação permanente.
Resultados esperados
A área da saúde materno-infantil é interesse crescente entre os acadêmicos que procuram
oportunidades de qualificar suas formações. A busca de modelos de profissionais para atenção
qualificada e adequada as necessidades da população abrangida pela Rede Cegonha pode ser
contemplada por este projeto. Ele visa a implementação de boas práticas em consonância com
as normas dos diferentes níveis de governo e de formas de ensino, a partir das necessidades
já identificadas e outras por identificar, por meio do trabalho com diferentes profissionais e
146 Cadernos da Saúde Coletiva
diferentes abordagens que envolvam o ensino e a pesquisa por meio da atividade de extensão,
estreitamento entre as diversas instituições, profissionais e usuários da rede.
Justificativa
A abordagem da deficiência e a reabilitação devem ser acolhidas pela sociedade, não só no
respeito às diferenças e limitações, mas também na oferta de serviços e qualificações dos
profissionais que atendem este público. A educação permanente nos serviços institucionalizados
apresenta potencial de contribuição progressiva para esta qualificação, mas perde efetividade
quando desenvolvida sem definições claras dos critérios clínicos.
O processo de reabilitação de “duração limitada e com objetivos definidos, permite que uma
pessoa com deficiência física alcance meios de modificar a sua própria vida”, através de
orientações e critérios estabelecidos. O censo demográfico de 2010 revelou que Porto Alegre
tem mais 336.000 pessoas com uma das deficiências investigadas (visual, motora, mental
ou intelectual), representando quase 1/4 da população (23,87%). Em 2000, o percentual de
deficiências era 14,30% dos residentes na capital. Na última década, houve uma elevação de
aproximadamente 67% de pessoas com pelo menos uma das deficiências estudadas.
O acréscimo apontado precisa ser mais estudado, pois pode significar tanto aumento real do
número de deficientes quanto aumento de pessoas que declaram alguma deficiência, pois
esta informação é por autodeclaração dos pesquisados. Em 2000, 5,44% dos residentes na
capital declararam alguma dificuldade para caminhar. Em 2010, esse percentual passou para
7,39%, sendo que quase 7.000 pessoas que declararam deficiência motora não conseguem de
modo algum se locomover.
Objetivos
Geral
Construir e implantar uma linha guia orientadora de trabalho de educação permanente
aos profissionais que atuam diretamente com os usuários com deficiência nos diversos
pontos da rede de emergência/urgência, ESF e NASF no intuito de modificar a realidade nos
encaminhamentos das PcD quanto ao seu tratamento na Rede.
Específicos
Cadernos da Saúde Coletiva 147
Metodologia
Os pontos de atenção da rede devem articular-se nos cenários práticos de Cuidados a PcD na
Atenção Básica e na Atenção Especializada em Reabilitação. A intervenção poderá modificar a
realidade no território e o processo de trabalho, incorporando novas competências ao âmbito
da clínica e da gestão. A interdisciplinaridade favorecerá a atuação coletiva, envolvendo ações
conjuntas por estudantes de diferentes cursos, bem como um trabalho que converse com
profissionais de Residência Multiprofissional. O contato permanente com a comunidade
promoverá a troca de experiências em processo crítico e de mútua aprendizagem.
Serão elaborados processos e metodologias problematizadoras de intervenção na comunidade
e nos serviços de saúde em todos os níveis de atenção, avaliação, publicação de materiais
didáticos e artigos científicos e de recursos multimídia.
Para a construção da linha guia, o grupo estabelecerá critérios e orientações para multiplicação do
conteúdo aos profissionais que atuam com usuários com deficiência: folders, cartilhas, oficinas,
seminários. Serão implantados os conteúdos desenvolvidos nas práticas de educação permanente
às equipes dos locais diversos de emergência/urgência, atenção especializada, atenção básica e
NASF.
Espera-se que o usuário seja submetido a um fluxo de atenção que permita a integralidade
na sua assistência e reabilitação ao ingressar na Rede de cuidado das PcD. Existirão dois
momentos de avaliação do processo, o primeiro com os profissionais da Rede participantes
da Educação Permanente por meio de questionários e o monitoramento de usuários pré-
definidos da Rede.
Justificativa
A saúde mental para crianças e adolescentes tem sido nomeada como importante nas políticas
públicas, entretanto ainda requer a construção de uma efetiva linha de cuidado. De modo geral, a
saúde mental no país tem apresentado falhas e nós críticos, decorrentes do contexto de políticas
neoliberais.
O Relatório Anual de Gestão/2012 aponta a necessidade de “elaboração de diagnóstico de
infraestrutura e necessidades de RH nos Serviços Especializados em Saúde Mental, reestruturação e
ampliação das ações intersetoriais; indica que 63,7% das internações para transtornos decorrentes
do uso de álcool/crack/outras drogas foram na faixa etária de 10 a 19 anos”, evidenciando a
premência em trabalhar com ações voltadas para a promoção, prevenção e cuidados direcionados
a crianças e adolescentes, pois existem lacunas em relação à sua proteção e garantia de direitos,
muitos em situação de vulnerabilidade social. A Portaria 3.088/2011/RAPS indica a prioridade
de ações direcionadas a crianças e adolescentes e seus pais/responsáveis, qualificando pontos
de atenção da rede, facilitando seus acessos e fortalecendo a proposição do trabalho em redes
de cuidado. Considera-se fundamental a vivência e o trabalho em equipe multiprofissional
e a atuação coletiva em serviço desde a graduação, qualificando o trabalho da rede de saúde
e estimulando a produção de conhecimentos e o compartilhamento de novas práticas para a
construção e transformação do trabalho na rede.
Objetivos
• Mapear pontos de atenção à saúde da rede, espaços de apoio social, de cuidado e de atenção
psicossocial para a infância/adolescência;
• Identificar formas de acesso, acolhimento e cuidado continuado nos diferentes níveis de
atenção, assinalando as suas potencialidades e fragilidades, colaborando na implementação
de políticas em Saúde Mental para Infância/Adolescência no território;
• Propor ações de cuidado integral e multiprofissional auxiliando a articulação dos pontos de
atenção da rede de saúde mental e as diferentes políticas no território;
• Reforçar estratégias voltadas para o apoio sócio-familiar nos diferentes níveis de atenção à
saúde, com ênfase na Atenção Básica;
• Contribuir para efetivação de ações de promoção, prevenção, recuperação e reinserção
psicossocial, elevando a resolutividade do cuidado em saúde mental na infância/
adolescência;
• Fomentar a articulação entre a rede de saúde e desta com os serviços e com a assistência
social, educação, proteção, incentivando a intersetorialidade e a interdisciplinaridade;
• Assegurar a formação de estudantes de graduação de acordo com os princípios do SUS e no
âmbito da Atenção Psicossocial, incluindo crack, álcool e outras drogas.
Metodologia
Participação nas atividades de apoio matricial, trabalhando na perspectiva da clínica
ampliada; realização de estudo interdisciplinar de casos mapeados nos pontos de atenção da
RAS; elaboração de cartografias: acompanhamento dos percursos e fluxos do usuário na rede
de saúde e de saúde mental, visando a atenção contínua e integral; elaboração de diários de
campo; realização de seminários; levantamento dos principais analisadores para elaboração
de projetos de intervenção e de planos terapêuticos singulares; identificação dos diferentes
níveis de atenção psicossocial e itinerários percorridos pelos usuários; supervisões coletivas;
desenvolvimento de atividades de formação para trabalhadores e estudantes.
Cadernos da Saúde Coletiva 149
Plano de Pesquisa
A pesquisa-intervenção será desenvolvida em duas fases: 1) levantamento e análise, por ciclo
de vida (infância/adolescência) e gênero, dos dados produzidos pelos pontos de atenção em
saúde mental descritos no cenário de práticas e dos dados de banco de dados; e 2) identificação
dos fluxos formais e informais dos encaminhamentos, decorrentes do atendimento em rede,
através de estudos de casos e da elaboração de cartografias.
Resultados Esperados
Contribuir para a construção de indicadores da linha de cuidado em saúde mental para
a infância/adolescência; auxiliar na construção e divulgação dessa linha de cuidado, com
fluxos entre os serviços/pontos de atenção; contribuir para criar novas tecnologias de cuidado
na atenção psicossocial para a infância/adolescência; integrar ESF, pontos de atenção em
saúde mental e RAS e rede social na comunidade, no ciclo de vida e linha de cuidado nos
Distritos Glória/Cruzeiro/Cristal e Centro, através do monitoramento com registros das ações
realizadas e sua divulgação; sistematização da articulação entre experiências de integração
ensino-serviço, para o dimensionamento da relação IES e Distritos, como cenários de práticas
interdisciplinares e multiprofissionais, potencializando a Atenção Básica como ordenadora e
coordenadora do cuidado.
Objetivos
• Análise situacional básica da RAPS no território: mapear pontos de atenção psicossocial das
redes de saúde, assistência social e outros, incluindo espaços terapêuticos comunitários
e informais; caracterizar o acesso, acolhimento e fluxo da população nos pontos de
atenção da RAPS, assinalando potências e fragilidades destes na perspectiva de usuários
e trabalhadores; levantar necessidades e demandas em atenção psicossocial, indicadores,
analisadores e determinantes psicossociais no território; descrever ações individuais
e coletivas realizadas pelas equipes (promoção, prevenção, assistência, reabilitação);
identificar espaços de controle social e participação popular; identificar ações de educação
permanente em atenção psicossocial.
• Atividades junto às equipes de saúde e no território: acompanhar atividades territoriais e
coletivas das equipes (ações de promoção, prevenção, recuperação, reinserção psicossocial
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e produção de autonomia dos usuários, articulação entre equipes de saúde, apoio matricial,
visitas domiciliares, abordagens de rua, e reuniões de equipe e com outros espaços
intersetoriais); acompanhar elaboração e andamento de projetos terapêuticos singulares de
usuários; mapear itinerários terapêuticos e fluxos trilhados por alguns usuários; identificar
e conhecer espaços de cuidado e atuação de especialistas populares da cura do território.
• Atividades integradoras entre serviços e universidade: formar grupo de pesquisa-intervenção
para desenvolver os objetivos supracitados; realizar oficinas, grupos e seminários de estudos
conforme as demandas do processo pedagógico e das equipes dos serviços, envolvendo
alunos, preceptores, tutores e equipes de saúde.
Metodologia
Adoção da cartografia como método investigativo, por valorizar dimensões relacionais e
subjetivas dos sujeitos envolvidos em sua interação com espaços significativos do território. O
registro da experiência pedagógica será realizado através de portfólio, instrumento de registro
de descrições e impressões subjetivas de alunos e preceptores.
Serão desenvolvidas e utilizadas técnicas conjugadas de registro segundo os objetivos acima
assinalados (questionários, entrevistas, grupos focais, observação participante, entre outros),
bem como serão realizadas análises de fontes secundárias de dados utilizando bases de dados
e programas disponíveis, como o TABWIN.
Resultados esperados
Contribuição para a articulação da RAPS no território através do reforço à integração de seus
diversos componentes junto às ações intersetoriais e comunitária; apresentação de pesquisa
com levantamento de indicadores, analisadores e determinantes psicossociais, e mapeamento
de pontos de atenção psicossocial da RAPS e rede intersetorial relacionada, espaços terapêuticos
comunitários, fluxos e encaminhamentos formais e informais da população; participação na
construção e divulgação de Linhas de Cuidado Psicossocial; sistematização da experiência de
integração ensino-serviço em consonância com a reorientação da formação profissional em
saúde.
Objetivos
Geral:
Ações de integração entre UFRGS, Rede de Urgência (SMS/CMU) e a GDGCC, proporcionando
aproveitamento do conhecimento acadêmico para melhoria dos processos de trabalho das
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Resultados esperados
Integração IES e Rede de Urgência, permitindo troca de saberes e ações; produção de
melhoria nos processos de trabalho que qualifiquem o cuidado na Rede de Atenção de
Urgência/Emergência e nos serviços de saúde da região; contribuição na formação do aluno;
e participação na produção e validação de protocolos e fluxograma.