Apontamentos Jacques de Medina 13-07-2018
Apontamentos Jacques de Medina 13-07-2018
Apontamentos Jacques de Medina 13-07-2018
ESTABILIZAÇÃO DE
SOLOS
(Baseado em Notas de Aula do autor da década de 1980)
Jacques de Medina
Junho 2018
i
SUMÁRIO
Dedicatória V
Agradecimentos VI
INTRODUÇÃO VII
iii
6.4 – Ensaios de Durabilidade........................................................................................................ 91
6.5 – Comentários sobre os Ensaios de Laboratório ...................................................................... 92
6.6 – A Pista Experimental de Santa Catarina ............................................................................... 95
6.7 – Observações finais da pista experimental de Santa Catarina ................................................ 99
CAPÍTULO 7 – ESTABILIZAÇÃO DO SOLO LATERÍTICO COM ÁCIDO FOSFÓRICO H3PO4
.......................................................................................................................................................... 103
7.1. Generalidades ........................................................................................................................ 103
7.2. Propriedades do solo estabilizado ......................................................................................... 104
7.3. Pesquisa de Estabilização de Solos Lateríticos com Ácido Fosfórico .................................. 105
CAPÍTULO 8 – SOLO – BETUME E SOLO – CLORETO ........................................................... 108
8.1. Solo – Betume ....................................................................................................................... 108
8.1.1. Introdução ...................................................................................................................... 108
8.1.2. Modos de estabilização possíveis .................................................................................. 108
8.1.3. Mecanismos fundamentais ............................................................................................. 108
8.1.4. Tipos construtivos usuais ............................................................................................... 108
8.1.5. Materiais Comumente Utilizados................................................................................... 109
8.1.6. Propriedades do Solo-asfalto ......................................................................................... 109
8.1.7. Dosagem do solo-betume ............................................................................................... 111
8.1.8. Resultados verificados com solo-asfalto ........................................................................ 112
8.1.9. Outros usos da estabilização com asfalto ....................................................................... 113
8.2. Solo-Cloreto ...................................................................................................................... 113
8.2.1. Generalidades ................................................................................................................. 113
8.2.2. Mecanismos da Estabilização ........................................................................................ 114
8.2.3. Ensaios ........................................................................................................................... 116
8.2.4. Benefícios e Limitações da Estabilização com Cloretos (Ca Cl2)................................. 116
COMENTÁRIOS FINAIS ........................................................................................................... 118
ANEXO 1 ......................................................................................................................................... 119
ANEXO 2 ......................................................................................................................................... 120
ANEXO 3 ......................................................................................................................................... 122
ANEXO 4 123
iv
Dedicatória
Dedico este livro aos colegas e amigos do DER-RJ (ex. DER-GB) e do IPR-DNIT (ex. DNER), em
reconhecimento pelo que, juntos, semeamos.
v
AGRADECIMENTOS
Sou eternamente grato à Professora Laura Maria Goretti da Motta pelo seu apoio a este livro e sua
divulgação. Agradeço a gestão final que o Eng.º Dr. Marcos Antonio Fritzen realizou com muito
empenho. Serei sempre grato ao amigo Álvaro Augusto Dellê Vianna na transcrição das figuras. E à
Maria Alice pela digitação.
vi
INTRODUÇÃO
O início das aulas de propriedades físico-químicas dos solos da Área de Mecânica dos Solos,
Programa de Engenharia Civil, COPPE/UFRJ, deu-se em 1968. Este autor veio para a COPPE em
novembro de 1967, cedido pelo DER-RJ, ex - DER - GB. Seu curso, que se confundia com o de
Estabilização dos Solos, baseou-se nos ensinamentos do Professor James K. Mitchell da
Universidade da Califórnia, Berkeley, que lhe foram transmitidos em 1962. À mesma época e local
obtinha os fundamentos da moderna Mecânica dos Pavimentos deixados pelo Professor Carl
Monismith.
Cabe observar que desde 1959 a atenção do autor esteve voltada para os trabalhos pioneiros
divulgados pela A.S.C.E. no Journal of Soil Mechanics and Foundations, Proceedings, escritos por
Rosenqvist, Lambe, Grim e Taylor, todos sobre propriedades físico-químicas dos solos. Em 1960,
por minha sugestão e insistência, o Professor Cordeiro da Graça ministrou para um pequeno grupo
de engenheiros de solos e pavimentos um curso de curta duração sobre os fundamentos da físico-
química. A principal aplicação em vista era a compreensão da microestrutura dos solos argilosos à
luz de teoria da dupla-camada de misturas coloidais. Íamos aos sábados de manhã a uma salinha da
Escola Nacional de Engenharia, Largo de São Francisco de Paula, no Centro, Rio de Janeiro.
Tínhamos o apoio da ABPv.
O citado Professor Mitchell tornou-se conhecido do colega Willy Alvarenga Lacerda quando
este foi para o mestrado e doutorado em Berkeley, em 1968. Ele veio ao Brasil em 1973, quando de
sua licença sabática e ministrou na COPPE/UFRJ um curso de "Soil Behavior" no qual desenvolveu
a compreensão do solo em termos de composição, estrutura e influência dos fatores ambientais. As
aulas deram-se de 28/11/1973 à 13/12/1973 (duas semanas) de duas horas cada, prolongado pelo
atendimento dos alunos e visitantes.
Pode se dizer que nosso enfoque em Mecânica dos Pavimentos, manifestou-se com as teses
de mestrado do Eng.º Ernesto Simões Preussler, 1978, e da Eng.ª Laura Maria Goretti da Motta em
1979.
vii
CAPÍTULO 1 – NOÇÕES DE ESTRUTURA DA MATÉRIA
A carga eletrônica e é igual a 4,803 x 10-10 statcoulomb ou 1,60 x 10-19C. A carga do núcleo
é, portanto, igual a Ze.
Pode o átomo ganhar ou perder elétrons, passando a íon negativo ou positivo, isto é, anionte
e cationte.
O átomo mais singelo e mais leve é o de hidrogênio, que tem um elétron e um próton; seu
número atômico é 1. A seguir vem o hélio, de número atômico 2. Os elementos químicos de maior
número atômico são o nobélio, No (Z = 102) e o laurêncio, Lr (z = 103) ambos radioativos de vida
curtíssima. Aliás, os elementos de número atômico superior a 83 têm núcleos instáveis ou
radioativos: desintegram-se emitindo partículas e radiações eletromagnéticas.
1
Ao invés de exprimir as massas dos átomos em gramas, o que resulta em números muito
pequenos, costuma-se fazê-lo em unidades de massa atômica. A referência é o isótopo do oxigênio
16. A massa do próton é de 1,007582 unidades de massa atômica.
A maioria dos elementos ocorre na natureza como mistura de vários isótopos, isto é, átomos
de igual número atômico, mas diferentes números de massa A (número total de prótons e nêutrons
no núcleo). O oxigênio, por exemplo, tem 3 isótopos de números de massa 16, 17 e 18, sendo todos
de número atômico 8; nota-se, porém, que a abundância de O16 é de 99,76% em relação à
ocorrência dos 3 isótopos, o isótopo do hidrogênio, chamado deutério ou hidrogênio pesado, tem
número atômico 1 e número de massa 2. A diferença A-Z corresponde ao número de nêutrons do
núcleo.
Fonte: https://www.tabelaperiodica.org/wp-content/uploads/2017/03/Tabela-completa-5-algarismos-sem-intervalo-v4-colorida.jpg
Hidrogênio Z = 1
-e
3
Lítio Z = 3 Lítio Z = 3
1 eletron
externo
Lítio Z = 3
1 eletron
2 elétrons
externo
internos
2 elétrons
O elétron externo está em parte isolado internos
da Berílio
atraçãoZ =nuclear
4 de carga + 3e pelos dois elétrons
internos, tornando bastante fácil sua remoção, o que repercute nas propriedades químicas.
Berílio Z = 4 Berílio Z = 4
Boro Z = 5
Temos aqui dois lobos (órbitas) simétricos em relação a um eixo; são duas nuvens eletrônicas em
forma de pera correspondentes aos elétrons externos.
Boro Z = 5
Boro Z = 5
Carbono Z = 6
Carbono Z = 6
São três lobos de 3 eixos coplanares formando ângulos de 120o. Cada lobo tem 1 elétron.
Oxigênio Z = 8
Carbono Z = 6
Oxigênio Z = 8
São quatro lobos dispostos segundo um tetraedro regular, cada lobo tem 1 elétron.
4
Oxigênio Z = 8
Para cada grupo de classificação tem-se um determinado arranjo da nuvem externa e propriedades
químicas comuns.
5
O poder de combinação de um átomo exprime-se numericamente pela valência. No metano,
CH4, a valência do C é 4, no ácido clorídrico, HC1 a do CL é 1; correspondendo, nesses exemplos,
ao número de átomos de hidrogênio com o qual o elemento considerado se combina. Já no NaC1 a
valência de Na é 1, e corresponde ao átomo de hidrogênio que ele deslocou do HC1.
As ligações entre átomos e moléculas são de natureza elétrica. Classificam-se em
intramoleculares ou primárias e intermoleculares ou secundárias, aquelas mais intensas que estas.
Tem mais interesse para as aplicações aos solos argilosos o estudo das ligações secundárias.
Contudo, referir-nos-emos a todas elas.
a) Ligação iônica ou polar: é uma ligação primária que resulta da atração dos dois íons, seja da
combinação de átomos de elementos que podem ganhar ou perder facilmente elétrons de sua
órbita externa ou nuvem eletrônica, exemplo: NaCl, que resulta da atração dos íons Na+ e
C1-; LiF, que resulta da atração dos íons Li+ e F-.
Z = 17
Z = 11
Hl +17
Na Cl
O elétron da última órbita do sódio completa a órbita do cloro; e os 2 átomos assim ligados formam
a molécula de cloreto de sódio.
Note-se que as ligações iônicas ocorrem entre os elementos dos grupos IA (Li, Na, K, Rb, etc.) e
IIA (Be, Mg, Ca, Sr, etc.) de um lado, e os elementos dos grupos VIIB (F, Cl, Br, etc.) e VIB (O, S,
Se, etc.) de outro, resultando uma estrutura eletrônica semelhante à dos gases inertes (He, Ne, Ar,
etc.) e que é naturalmente estável. Os compostos iônicos comuns são, portanto, os fluoretos,
cloretos, brometos, óxidos, sulfetos, nitratos (NO3)-, sulfatos (SO4)=, fosfatos (PO4)=, etc., dos
metais dos grupos I e II.
Os compostos iônicos simples são cristalinos, via de regra. Os átomos, ou melhor, os íons,
se dispõem em unidades estruturais bem definidas, constituindo os cristais. Suas nuvens eletrônicas,
tal como nos gases inertes, são esféricas. Observa-se que as dimensões dessas esferas crescem à
medida que crescem os números atômicos de um mesmo grupo da classificação periódica. Por outro
lado, ao considerar-se uma fileira da classificação (números atômicos crescentes de uma unidade),
verifica-se serem os diâmetros dos átomos decrescentes com o aumento da valência; assim, os raios
dos íons Na+, Mg++ e Al+++ são, respectivamente, 0,95 Å, 0,65 Å e 0,50 Å. Quanto maiores forem as
cargas positivas do núcleo, tanto mais puxarão os elétrons periféricos para o núcleo. Este puxão não
é tão forte no caso de íons negativos, o que explica terem os aniontes dimensões maiores que os
cationtes de número atômico mais próximo.
Cl
Na
Ca
C1
NaCl
Numa estrutura iônica não há unidade simples que se possa chamar molécula, mas
macromolécula.
H H
H²
As atrações entre núcleos e elétrons prevalecem sobre as repulsões entre núcleos ou entre
elétrons; redistribui-se a carga com mais concentração entre os núcleos. A nuvem de carga
resultante entre os núcleos diminui a repulsão entre estes.
A ligação covalente pode ligar átomos iguais assim como átomos diferentes, ao passo que a
iônica liga apenas átomos diferentes.
No ácido clorídrico (HCl) tem-se o átomo do cloro com a nuvem de elétrons externos em
forma de tetraedros: 3 lobos com 2 elétrons cada, e 1 lobo simples; a nuvem eletrônica do
hidrogênio entrosa-se com o lobo simples do cloro formando uma ligação covalente entre os dois
átomos da molécula de HCl.
7
No metano (CH4) tem-se o átomo de carbono com seus 4 lobos simples em forma de
tetraedro; cada um destes entrosa-se com a nuvem eletrônica de um átomo de hidrogênio. As
ligações covalentes C-H dispõem-se, portanto, segundo as retas que unem o centro do tetraedro a
seus vértices e formam entre si ângulo de 109,47º.
No tricloreto de bório (B Cl3) o lobo simples do cloro entrosa-se com um dos lobos do boro,
fazendo-o com superposição máxima das nuvens eletrônicas, ou seja, em coincidência do eixo do
lobo do boro com o do cloro; e isto para 3 lobos simples do boro (arranjo coplanar) com eixos das
nuvens formando ângulos de 120º.
Exemplo de grande relevância no nosso estudo é o da molécula de água (H2O). Já vimos que
a distribuição eletrônica do átomo de oxigênio é tetraédrica, com 2 lobos simples e 2 lobos duplos.
Cada um dos lobos ou órbitas simples entrosa-se com um átomo de hidrogênio. Os lobos duplos não
participam da ligação covalente.
H lobo simples do H
oxigênio
1.d.
lobo (+)
duplo do
(-)
oxigênio 104,5°
oxigênio 1.s
H
H
O ângulo entre as ligações O-H é de 104,5º e não de 109,47º como ocorre no tetraedro, devido à
ação distorcida produzida pelas nuvens eletrônicas dos pares de elétrons do oxigênio.
A diferença saliente entre compostos iônicos e covalentes é que estes não conduzem
corrente elétrica nas temperaturas usuais.
c.l.+l- dipolo
l
+ - + -
8
O polo negativo situa-se próximo do núcleo do elemento de maior carga nuclear. Para dois
elementos químicos de um mesmo período (fileira horizontal) da classificação periódica (ex: Li, Be,
B, C, N, O, F, Ne), quanto mais afastados estiverem entre si, tanto mais polar será a ligação. Assim
a ligação C-F é mais polar que C-O. Se dois elementos de um mesmo grupo (F, Cl, Br, I, At) se
combinam é o de menor massa atômica que se torna carregado negativamente; ex: C1+F-. At =
Astatíneo, grupo VIIa: vários isótopos radioativos.
d) Ligação metálica: nas redes cristalinas dos metais cada átomo é cercado por grande número
de outros átomos iguais, existindo elétrons livres responsáveis pela boa condutividade
elétrica. A nuvem eletrônica não pode ser localizada entre dois átomos determinados. Trata-
se de ligação muito comum visto que cerca de três-quartos do número de elementos
químicos são metais.
H H
O O
H
H H H
O O
proton
H+
H H
Há autores que a classificam como ligação primária e outros como secundária. É mais forte
que as ligações secundárias usuais.
f) Ligação de hidroxila: Ocorre entre duas estruturas cristalinas lamelares vizinhas, quando há
atração entre as partes contrárias de hidroxila.
ligação de
hidroxila
O- H+
H+ O-
estrutura estrutura
cristalina cristalina
9
g) Ligação de valências secundárias: (também chamadas forças de valência residuais, forças de
Van Der Waals ou de Van der Waals-London, e forças intermoleculares da atração ou de
coesão): é atribuída aos dipolos elétricos das moléculas individuais; é mais fraca que as
ligações primárias.
As forças eletrostáticas entre dipolos são tanto mais intensas quanto maiores os momentos dos
dipolos: p x λ, carga de polo multiplicado pela distância entre os dois polos.
-
p + p
ligação
- +
molécula individual
Mas as forças intermoleculares manifestam-se mesmo entre moléculas não polares, ou melhor
dizendo, em média não polar, pois se a imagem estática é de não polaridade o movimento dos
elétrons em relação aos núcleos faz com que o próprio átomo eletricamente neutro seja um dipolo
oscilante. Resultam predominantes as forças de atração. Este é o efeito dispersivo que ocorre em
todas as moléculas e independe da temperatura. Estas forças assim manifestadas explicam a atração
entre os átomos de gases raros. A indução elétrica é outro efeito responsável pelas forças de Van
Der Waals; depende da temperatura.
- + - +
- + - +
A orientação é o terceiro efeito responsável pelas forças de Van Der Waals. Vem a ser a
atração dos extremos opostos de cargas contrárias dos dipolos; depende muito da temperatura, pois
a agitação térmica tende a transtornar o alinhamento.
- +
+ + - -
+ -
Nas moléculas de água, segundo cita LAMBE, a importância relativa desses três efeitos é:
orientação 77%, dispersão 19%, indução 4%.
10
Exemplos de moléculas não polares: sulfeto de carbono CS2, tetracloreto de carbono CCl4,
hidrogênio, oxigênio, gases raros (He, Ne, etc.).
Exemplos de moléculas polares: água H2O, ácido cianídrico HCN, ácido clorídrico HCl,
brometo de potássio BrK.
As forças de interação entre dipolos são responsáveis pelo agrupamento de moléculas de
líquidos em cachos ou supermoléculas, de que é um exemplo típico a água. Forma-se uma estrutura
semicristalina tanto mais acentuada quanto maior for o momento de dipolo. Esses cachos estão a
quebrar-se e refazer-se constantemente.
( ) ( )
Dipolo-molécula não polar: F prop. a (gás não polar, H2, gases dissolvidos em água ou
outro líquido polar).
As três últimas são forças de Van Der Waals. Vemos que estas forças de atração decrescem
mais rapidamente que as três primeiras com o aumento da distância entre as partículas. Os sólidos
cujos átomos mantêm-se interligados por essas forças são facilmente deformáveis, tem ponto de
fusão baixo e alta tensão de vapor (a tensão ou pressão de vapor elevada é um indício da facilidade
com que determinadas moléculas libertam-se das demais passando ao estado de vapor).
11
1.6 – Forças de Repulsão
Lembretes:
Redução: Na+ + le = Na: ganho de elétrons; (era considerado processo em que a proporção
de oxigênio era reduzida).
12
CAPÍTULO 2 – CRISTALOGRAFIA
A ideia de uma repetição de unidades cristalinas bem definidas na constituição dos cristais já
era acolhida por HAUY no fim do século XVIII. Em 1850, BRAVAIS apresentou uma teoria
reticular sobre a estrutura dos cristais: os centros de gravidade das partículas de matéria constituem
os nós ou pontos de uma rede espacial ou rede cristalina. BRAVAIS deduziu geometricamente a
existência de 14 redes diferentes (DANA, pag. 8).
A rede cristalina pode ser considerada como formada pela justaposição de celas unitárias
tendo como vértices os nós. Pode haver nos centros do volume de cela e nos centros das faces.
A cela unitária a menor representante das propriedades do cristal e constituída por vários
átomos ou íons, em número inteiro e múltiplo do número de átomos da fórmula química mais
simples do cristal, p. ex.: 3 (SiO2) no quartzo, e 4 (NaCl) no cloreto de sódio. Os átomos, iontes e
grupos iônicos que constituem os cristais podem ser considerados agrupados de acordo com regras
geométricas em torno de nós ou pontos definindo a rede de BRAVAIS. Os vários modos de
agrupamento nos 14 tipos da rede dão 230 arranjos, chamados grupos espaciais.
13
2.4 – Forma Externa dos Cristais
A forma externa assumida por um cristal depende da sua cela unitária e das condições
ambientais (temperatura, pressão, natureza da solução, velocidade de crescimento dos cristais,
tensão superficial e direção do movimento da solução). Assim é que, conforme o local, podem os
cristais de um mesmo mineral assumir formas externas diferentes. Há, contudo, planos mais
frequentes para as faces do cristal: correspondem aos planos de maior densidade de nós ou de
átomos.
2.5 – Clivagem
É a propriedade que tem o cristal de dividir-se segundo planos paralelos em todo o seu corpo
nas direções de maior densidade atômica e, portanto, paralelamente às faces existentes ou possíveis.
Nos cristais, diferentemente das substâncias amorfas, a luz em geral não se propaga
igualmente em todas as direções.
A luz é uma radiação eletromagnética de energia, cujo comprimento de onda está entre 0,71
e 0,40 µm.
14
E
No caso simples de uma onda plana (fonte muito afastada ou raios passando por um colimador
monocromático (um só) e propagada retilineamente; os campos estão em fase e são perpendiculares
entre si).
O átomo é equivalente a um pequeno dipolo oscilante; seu momento de dipolo é, em média, nulo,
mas não o é instantaneamente.
A refração da luz é um fenômeno bem conhecido: quando a luz passa de um meio (digamos
o ar), para outro mais denso (seja o cristal), sua velocidade diminui. O índice de refração é a relação
entre a velocidade da luz e a velocidade da luz no cristal; a mudança de velocidade é acompanhada
por mudança de direção do raio refratado, de acordo com a lei de Descartes: sen i = n sen r.
C
B
A
P
i S
o R
cristal
̅̅̅̅
Enquanto o raio C percorre PR no ar com velocidade V = l, o raio A percorre no mesmo tempo e
̅̅̅̅
raio B, , a frente de onda podendo ser traçada como a tangente aos arcos de círculo.
( )
15
Exemplos: fluorita (Ca F2); n = 1,43
água n = 1,334
0
1
raio ordinário
raio extraordinário
Este cristal tem um único eixo de simetria (ternário): é o eixo ótico. O raio de luz natural é
equivalente à soma de dois raios polarizados cujas vibrações são perpendiculares entre si. Ao
atravessar o cristal o raio cuja vibração é perpendicular ao eixo ótico propaga-se
perpendicularmente ao plano de onda tal como numa substância isótropa: é o raio ordinário da
birrefringência. O raio cuja vibração está no mesmo plano que contém o eixo ótico não é
perpendicular ao plano da onda: trata-se do raio extraordinário da birrefringência.
λ0= depende do ângulo da vibração com o eixo ótico sendo que a diferença
| | é máxima quando a vibração é paralela ao eixo ótico.
16
2.7 – Difração dos Raios-X nos Cristais
Os raios X são radiações eletromagnéticas cujo comprimento de onda está entre 100 Å e
0,01 Å. São produzidos nos tubos de Coolidge, quando elétrons acelerados por elevadas diferenças
de potencial vão de encontro a um obstáculo (tungstênio, molibdênio). Cabe lembrar que a luz
visível tem radiação entre 7.100 Å e 4.000 Å.
Quando uma radiação luminosa monocromática passa por uma fenda estreita e projeta-se
sobre uma tela, observa-se o espectro da difração constituído por uma franja luminosa central larga
e, de ambos os lados, franjas de intensidade decrescente alternadas com franjas escuras.
Se, ao invés de uma única fenda, tivermos uma grade de malhas muito estreitas, obtida por
uma série de riscos muito finos dados por uma ponta de diamante numa placa de vidro, os vários
espectros de difração interferem. Aplica-se aqui, também, o princípio de Huygens.
lente Tela no
A plano focal
da lente
e
f ?
c
d
a
b
P1
A
grade da difração
Tem-se ̅̅̅ = 2 λ, ̅̅̅ = 3 λ; etc. Assim é que os pontos no plano AA estão em fase e as ondinhas
atingem P1 em fase.
Somam-se as amplitudes das ondas, ou seja, cada feixe difratado segundo o ângulo θ1
contribui para a intensidade da radiação em P1. Para um outro ângulo θ = θ2, tal que ̅̅̅ = 2 λ, obter-
se-ia num outro ponto P2, mais afastado de 0, novo máximo. Esta situação repete-se para ̅̅̅ = m λ,
com m = 0, 1, 2, 3, etc., porém com intensidades decrescentes; tem-se θ = arc sen , onde d é o
espaçamento da grade.
Ao pesquisar a natureza dos raios-x, que haviam sido descobertos por Roentgen em 1895,
Laue procurou verificar, experimentalmente, em 1912, a hipótese de terem essas radiações
comprimentos de onda muito pequenos e, portanto, indiscerníveis por difrações das grades
artificiais de então, dado que necessária a condição de ser d da ordem de grandeza de λ. Já se
admitia naquela época, que cristais deveriam ter estrutura interna regular expressa na sua forma
externa. As experiências de difração conduzidas por Laue em cristal de cloreto de sódio
confirmaram as hipóteses sobre a natureza dos raios-x e, concomitantemente, sobre a estrutura
interna dos cristais.
Os raios-x ao incidirem sobre alvo material provocam a emissão de radiações por parte dos
átomos desse material em várias direções e com intensidades diferentes. Chama-se a esse fenômeno
de espalhamento (“scattering”). O espectro contínuo corresponde à radiação emitida pelos elétrons
que são acelerados no campo de força coulombiano dos núcleos dos átomos do alvo. Os espectros
lineares provem das variações de energia que se verificam por ocasião do rearranjo dos elétrons de
vários níveis energéticos, provocado pela energia cedida pelo projetil eletrônico ao átomo alvejado.
Cada átomo emitindo raios-x espalhados passa a ser, pelo princípio de Huygens, uma fonte
de ondinhas. Estas se destroem mutuamente ao se superporem ao acaso, exceto quando se verificam
as duas condições estabelecidas por BRAGG:
1º) Os raios emergentes estão no plano normal à superfície do cristal que contem os raios
incidentes, e o ângulo dos raios emergentes com a superfície do cristal é igual ao ângulo dos raios
incidentes com essa mesma superfície.
camada 1
2
d
a c
2
b
18
A grade de difração nos cristais sendo tridimensional, d, é a distância entre os átomos, o que
corresponde aqui à abertura da fenda ou malha. A diferença de percurso entre os raios refletidos na
2ª camada e os refletidos na 1ª camada é: ̅̅̅ ̅̅̅ (d sen θ). Para que haja superposição
construtiva das amplitudes, ̅̅̅ ̅̅̅ deve ser igual a mλ, onde m é um número inteiro: ordem do
espectro.
m λ = 2 d sen θ
Lembremo-nos de que o cristal pode ter mais de um valor típico de d, dependendo da família
de planos atômicos considerada, cada um com diferente concentração de átomos.
Assim pode Bragg usar o cristal como grade de difração num espectrômetro de raios-x. Faz-
se incidir um feixe de raios-x (que passam por um orifício aberto num anteparo de chumbo) sobre a
face de um cristal, varia-se θ girando o cristal; o feixe emergente, que faz um ângulo de 2θ, com o
feixe incidente, é detectado por uma tela fluorescente ou por uma película fotográfica. Lê-se o valor
de θ por ocasião da reflexão; e conhecido d obtém-se λ ou vice-versa.
1º Método de LAUE
2º Método de rotação
Coloca-se o cristal numa câmara fotográfica cilíndrica, com seu eixo principal coincidindo
com o da câmara. Adapta-se uma película fotográfica à superfície interna da câmara em volta do
cristal. Um feixe de raios-x monocromático passa por uma fenda na câmara e na película, e vai
incidir sobre o cristal. Ao se fazer girar o cristal, dá-se a “reflexão” para determinados valores de θ,
e para vários m. Obtém-se na película, séries de manchas dispostas em linhas de curvatura crescente
que são as interseções dos vários cones de difração com a película. Conforme seja o sistema
cristalino, podem ser necessárias outras fotografias segundo outros eixos, a fim de determinar a
célula unitária.
3º Método do pó
Neste método desenvolvido por Debye e Scherrer, ao invés de empregar um cristal grande,
utiliza-se um pó de cristais minúsculos orientados a esmo. Este pó e aglomerado por um material
19
amorfo sob a forma de uma agulha muito fina. A agulha é colocada no eixo da câmara fotográfica
cilíndrica e chata. Como no método anterior, utiliza-se radiação monocromática. Devido à grande
quantidade de cristais minúsculos, há sempre dentre estes grande número que apresentam
determinada família de planos satisfazendo a equação de Bragg.
Feixe S
de
raio
2
x
4
Cone
de
Difração
Como o raio refratado (refletido num plano atômico) forma um ângulo 2θ com o incidente,
obtém-se tg 2θ= , porém S é na realidade uma corda da câmara cilíndrica, e o que se mede na
película estudada é o arco, logo: S = R x 4θ, onde R é o raio da câmara e o θ o ângulo em radianos.
Conhecido θ, determina-se d pela equação de Bragg. Entretanto, como m é desconhecido, admite-se
seja igual a 1, e assim a reflexão de segunda ordem (m = 2) é considerada como correspondendo a
planos separados por metade da distância d da rede.
A simetria cristalina é referida a eixos, planos e a um ponto central; resulta ela da estrutura
interna do cristal.
c
x
y y
b
a
Marcando-se nos eixos cristalográficos as distâncias constantes da cela que compõe a rede
cristalina, pode-se definir os paralelepípedos fundamentais dos 6 sistemas cristalinos, pois se os
comprimentos das arestas dependem de cada substância cristalina, as dimensões relativas são
características de cada sistema.
Os comprimentos das arestas da cela unitária da rede cristalina podem ser determinados
empregando-se as técnicas da difração dos raios-x. No caso do enxofre, que cristaliza no sistema
ortorrômbico, obtém-se:
21
a:b:c = 0,81:1:1,90, o que define os comprimentos relativos ou coeficientes axiais (“axial
ratios”).
As direções das faces dos cristais podem definir-se pelos parâmetros ou interseções do plano
da face com os eixos cristalográficos; estes parâmetros vêm a ser múltiplos ou submúltiplos dos
coeficientes axiais do paralelepípedo fundamental a que pertence o cristal considerado.
y
b
A face que passa pelos pontos de coordenadas a, b e c terão os parâmetros 1a, 1b, 1c; uma face que
cortasse o eixo vertical a uma distância 2c (seja 49,1 Å) teria os parâmetros 1a, 1b, 2c, e a uma
distância 1/3 c (seja 8,15 Å), 1a, 1b, c.
Quando uma face é paralela a um eixo, tem-se um dos parâmetros infinito, quando paralelo a
dois eixos, têm-se dois parâmetros infinitos.
Os índices de MILLER universalmente adotados para definir os planos das faces dos cristais
são obtidos da forma seguinte:
Exemplos:
Ao estudarmos a ligação iônica ou polar entre átomos, dissemos que os compostos iônicos
são, via de regra, cristalinos. As nuvens eletrônicas são consideradas esféricas, embora nem sempre
o sejam na realidade. Definimos, então, o número de coordenação de um cátion, como sendo o
número de aníons do poliedro em contato com o cátion. No caso da halita são seis Cl em torno de
um Na+ (NC = 6), na fluorita cada Ca++ está cercado por oito F- (NC = 8). Da mesma forma
definimos a coordenação dos aníons que, nos exemplos citados é de 6 para o cloro no primeiro
cristal e de 4 para o flúor no segundo cristal. Lembramos que o cristal como um todo resulta
eletricamente neutro.
A geometria ou arranjo espacial dos íons nos cristais sob a ação de forças eletrostáticas é
condicionada pelo tamanho relativo dos íons. Define-se a relação radial (“radius ratio”) de íons
coordenados como a relação entre o raio do íon menor (geralmente o cátion) e o raio do íon maior:
- Halita, NaCl; RNa + = 0,97 Å; RCl - = 1,81 Å; RNa : RCl = 0,97/1,81 = 0,54
A correlação entre a relação radial e o número de coordenação é válida para ligações iônicas.
Quanto menor e mais fortemente polarizante o cationte coordenador, ou quanto maior e mais
polarizável o anionte, tanto mais nos afastamos das condições ideais em que foram estabelecidas as
relações radiais (figuras poliédricas e íons esféricos). Observa-se quanto maior o número de
coordenação, tanto mais fraca é a ligação. É evidente, também, que para uma mesma distância entre
íons, quanto maior a carga dos íons coordenados (i.e. maior a valência do cátion) tanto maior é a
resistência da ligação. Podemos definir a resistência relativa da ligação como ( ) seja relação
entre a valência química do cátion e o número de coordenação. Também é chamada de valência
eletrostática (PAULING). Vejamos alguns exemplos:
SIO4 tetraedro; V = 4; NC = 4;
Al(OH)4 tetraedro; V = 3; NC = 4;
Al(OH)6 octaedro; V = 3; NC = 6;
23
A resistência da ligação manifesta-se nas propriedades físicas dos cristais. Quanto maior for
a resistência tanto maiores serão, por exemplo, o ponto de fusão e a dureza (Mohr).
Os poliedros constituídos por cationtes e aniontes coordenados, reúnem-se entre si. Porém
como os cátions de unidades vizinhas tendem a manter-se o mais afastado possível, as reuniões dos
poliedros são mais comuns pelos vértices do que pelas arestas ou faces, o que pode ser facilmente
compreendido ao se considerar dois tetraedros reunidos.
24
CAPÍTULO 3 – MINERALOGIA DAS ARGILAS
3.1 – Introdução
O estudo da Mineralogia das Argilas progrediu muito a partir da segunda década do século
XX, graças ao desenvolvimento das novas técnicas de difração dos raios-x e da microscopia
eletrônica de transmissão. O microscópio eletrônico de varredura (existe um na COPPE, no
Laboratório de Metalurgia) trouxe novas possibilidades de observação das argilas principalmente da
sua estrutura (tese M.Sc.: M.M. Alvarenga, “Estrutura de Solos; Métodos de Observação”, COPPE,
1974).
Antes dessa época, era através das análises químicas que se revelava a composição das
argilas, que eram supostamente substâncias amorfas. Pensava-se, também, que a caulinita (silicato
de alumínio hidratado) fosse o único mineral argílico existente, e que misturado a diversas
impurezas constituía os vários solos argilosos conhecidos.
Em 1923 e 1924, Hadding (Suécia), Rinne (Alemanha) e Ross (EUA) examinando materiais
argilosos, com o emprego de raios-x e da técnica de difração destas radiações eletromagnéticas,
revelaram a natureza cristalina das argilas e a existência de um número limitado dos chamados
minerais argílicos. A constituição dos argilominerais foi consubstanciada pelos trabalhos de
Marguin na França, e Pauling nos EUA, por volta de 1930.
Nossa principal fonte de referências estrangeira é a obra do Prof. Ralph E. GRIM, que
lecionou na Universidade de Illinois durante muito tempo. No serviço de Geologia de Illinois, ele
desenvolveu importantes pesquisas sobre argilas, a partir de 1931. Foi GRIM o Presidente de Honra
da 1ª Conferência Americana de Mineralogia das Argilas, realizada em 1951 na Califórnia. Sua
atividade nessa especialidade é de âmbito internacional. Publicou os compêndios: “Mineralogia das
Argilas” (McGraw Hill- la Ed. 1953, 2ª Ed. 1968) e “Aplicações de Mineralogia das Argilas”
(McGraw-Hill, 1963).
São muito variados os empregos do material argila (engloba rochas, argilito, folhelho
argiloso e solo) em vários setores da atividade humana, de modo que neles podemos obter
informações sobre as argilas.
d) Fundição: usam-se moldes de areia ligada por argila, nos quais verte-se o metal fundido.
e) Papel: usa-se a argila como “fíler” para a uniformização e encorpamento das fibras de
celulose; o papel pode ter até 35% de fíler, em peso.
f) Vários usos: agente emulsificador, clarificador (de vinho, cerveja, etc.), adesivos,
cimento portland, minério de alumínio (embora a bauxita seja a mais comum) despejos
de materiais radio ativos, tintas, cosméticos, borracha, purificação da água, lamas
medicinais, lamas tixotrópicas em membranas ou paredes moldadas no local (na
engenharia civil).
Define-se argila: “material natural terroso finamente dividido que se apresenta plástico
quando misturado com pequena quantidade de água”. As partículas de argila são inferiores a 2µm
ou 5µm.
Os minerais argílicos são, sob o ponto de vista químico, constituídos de silicatos hidratados
de alumínio, com magnésio ou ferro substituindo total ou parcialmente o alumínio em alguns
minerais, e com metais alcalinos (Na, K) e alcalino-terrosos (Cs, Ba) também presentes como
constituintes essenciais.
Pode a fração argila compreender mais de um mineral argílico e conter minerais não-
argílicos (óxidos de ferro e de alumínio, quartzo, calcita, feldspato e pirita), matéria orgânica e sais
solúveis na água.
As propriedades das argilas dependem dos fatores seguintes: minerais argílicos, minerais
não-argílicos, matéria orgânica, iontes trocáveis e sais solúveis, e estrutura (textura incluída).
A matéria orgânica apresenta-se quer sob a forma de partículas discretas de madeira, folhas,
etc., quer como moléculas orgânicas adsorvidas pelas partículas argilosas.
26
Algumas argilas contêm sais solúveis na água dos interstícios, trazidos pela percolação ou
proveniente da meteorização. Os iontes trocáveis desempenham importante papel nas propriedades
dos solos argilosos, de modo que, alternando-se em espécie e quantidade, pode-se melhorar as
propriedades mecânicas dos solos para os fins em vista (processos de estabilização).
As estruturas atômicas dos minerais argílicos usuais foram determinadas por vários
pesquisadores, baseando-se em generalizações de PAULING para a estrutura das micas e minerais
afins (1930).
São duas as unidades construtivas ou dois os blocos fundamentais dos minerais argílicos: o
tetraedro de silício e o octaedro de alumínio.
a) Tetraedro de silício
5A
2,5
4+
Si
2-
O
4-
(SiO4)
O silício é um átomo pequeno (raio = 0,31 Å) em relação ao oxigênio (1,32 Å), e seu número de
coordenação é 4, igual à sua valência química.
Os tetraedros reúnem-se numa camada elementar (folha ou lamela) de modo que os oxigênios da
base são compartilhados por tetraedros vizinhos, resultando uma rede hexagonal. (1 Å = 10 -7mm =
10-4µm)
27
Podemos representar o tetraedro:
1O -2
1 Si +4
3O
A sílica hidratada que integra os silicatos pode ser representada esquematicamente como:
4 OH -4
4 Si +16
6O
b) Octaedro de alumínio
[Al (OH)6]3-
28
Na unidade estrutural a distância entre os centros dos OH é de 2,94 Å. O espaço disponível
para o cationte em coordenação octaédrica é 0,61 Å. A altura teórica da unidade ou da camada de
alumínio hidratada sem distorção é de 5,05 Å nas estruturas das argilas.
Os octaedros reúnem-se de modo que as oxidrilas ou os oxigênios formam duas camadas
densamente arrumadas, entre as quais fica a camada de cationtes Al ou Mg (ou Fe).
3 OH -3
1 Al +3
3 OH
A gibsita, formada pela repetição desta unidade, tem por fórmula Al2O3. 3H2O ou Al2(OH)6,
e pode ser representada por:
6 OH -6
4 Al +12
6 OH
É um cristal monoclínico.
Os alumínios ocupam apenas 2/3 das possíveis posições catiônicas, o que se percebe melhor
num modelo tridimensional de esferas. Diz-se que a gibsita é di-octaédrica.
29
3 OH -3
1 Mg +2
3 OH
É um cristal romboédrico.
A brucita, formada pela repetição desta unidade, tem por fórmula Mg3 (OH)6 e pode ser
representada na forma seguinte:
6 OH -6
6 Mg +12
6 OH
Na brucita o magnésio reparte sua dupla valência química entre 6 oxidrilas, sendo uma
forma mais compacta que a gibsita. Diz-se que a brucita é tri-octaédrica.
A combinação desses blocos resulta em lamelas cristalinas unitárias dos minerais argílicos,
que se estendem indefinidamente nas direções a e b.
30
x
x x
x
Oxigenio
Hidroxila
K K Silício
x x Alumínio
x x
Oxigênios
TETRAEDROS Silícios
Oxigênios e oxidrilas
OCTAEDROS Alumínios
Oxidrilas
S Clorita
G pennina,
S
Cloritas trioctaédricas clinocloro,
X variável
proclorita
B
1:1
Caulinita-serpentina Caulinitas caulinita haloisita
S Serpentinas crisolita, lizardita,
G X~0 antigorita
* O “status” da ilita (ou mica hidratada), sericita, etc. deve ser, por enquanto, deixada em aberto, pois não está
claro em que nível se deve entrar na tabela; muitos materiais com essa designação podem ser inter-
estratificados.
32
O grupo alófano é bastante raro nos solos não tropicais; porém sua presença é assinalada nos
solos tropicais ocorrendo em até 30% na fração argila da terra roxa estruturada de São Paulo.
Embora a observação aos raios-x e até mesmo à difração eletrônica não permita distinguir a
estrutura cristalina da alófana, é possível admitir que os octaedros e tetraedros existam, porém
dispondo-se desordenadamente. O amorfismo da alófana não seria absoluto. A palavra alófana vem
do grego e significa “parecer-se com outro”, devido à mudança frequente de aparência vítrea para
terrosa, em virtude da perda de água.
A caulinita tem como unidade estrutural uma camada octaédrica de alumina e uma
tetraédrica de sílica, formadas conjuntamente.
A unidade estrutural ou folha de caulinita pode ser encarada como uma sucessão de camadas
de oxigênio, silício, oxigênio e oxidrila, alumínio, e oxidrila. Sua espessura é de cerca de 7 Å
(dimensão c), e prolonga-se indefinidamente nas outras duas direções (a e b), daí seu aspecto
achatado ou foliar plano.
O mineral caulinita é um empilhamento dessas folhas (70 a 100 folhas), que se mantêm
presas por ligações de hidrogênio. Sendo estas fracas o mineral é facilmente clivado segundo as
superfícies planas dessas unidades de 7 Å.
As dimensões das camadas de tetraedros e de octaedros são bastante próximas nas direções a
e b, de modo que as camadas formam-se facilmente.
A gibsita (Al), assim como a brucita (Mg) são eletricamente neutras e interligadas pelas
forças de Van der Waals, pouco intensas, como já sabemos.
A folha de Si2O5 não é eletricamente neutra; entretanto os oxigênios dos vértices dos
tetraedros compartilham das oxidrilas das camadas da gibsita e resulta uma espessura eletricamente
neutra. A concordância das camadas G e S faz-se com distorções pequenas (alternadamente, no
sentido horário e no anti-horário) dos hexagonos das bases dos tetraedros e encurtamento das
arestas comuns dos octaedros, e resultando desvios dos eixos cristográficos (“forced fits”).
33
Os minerais do grupo caulinita são variedades que decorrem do modo de superposição das folhas ou
lamelas de (G + S) e da posição dos átomos de alumínio nas possíveis dos octaedros.
7,2 A
G
OH ligação de
hidrogênio
O
S
A dickita e a nacrita têm suas unidades estruturais ou celas unitárias compostas de duas ou
mais camadas unitárias.
S
10 A
G
H2O
Tal como na caulinita, a haloisita não apresenta substituição na sua rede cristalina
(substituição isomórfica), de modo que não existem cargas insatisfeitas na superfície das unidades
estruturais.
A montmorilonita ou esmectita tem sua unidade estrutural constituída de três camadas; duas
de sílica e uma de gibsita de permeio. As ligações entre as folhas ou lamelas fazem-se através de
cationtes absorvidos entre os oxigênios das bases dos tetraedros, e sendo fracos esses elos (mais do
que os da caulinita) a água penetra facilmente. A esmectita ocorre em partículas muito pequenas,
donde ser difícil difratometria precisa.
G
9,6 A
S
O
0,36
cationte
O adsorvido. nH²O
S c
G b
a
S
O, Si, O e OH,
Al (e Mg ou Fe),
O e OH, Si, O.
Quando o Al é o único ocupante das posições dos octaedros apenas 2/3 das posições possíveis são
preenchidas (dioctaédrico); quando é o Mg, quase todas as posições preenchidas (trioctáedrico).
Uma pequena quantidade (inferior a 15%) de alumínio pode substituir o silício nos tetraedros
(substituição isomorfa: um cationte no lugar do outro sem alterar a forma do cristal).
35
Quando o Al3+ toma o lugar do Si4+ no tetraedro de sílica ou o Mg2+ toma o do Al3+ no
octaedro da gibsita, resulta uma deficiência global de cargas positivas, isto é, o cristal carrega-se
negativamente: a deficiência de carga é de 0,66- por cela unitária. Para equilibrar essas cargas,
cationtes são absorvidos nas superfícies externas das folhas, entre estas e nos seus bordos. Esses
cationtes são quase sempre trocáveis, daí o fenômeno de troca ou permuta de bases ou cationtes,
que é tanto mais intenso quanto maior o poder de retenção ou sortivo da argila, resultante do vulto
das substituições isomórficas. É preciso ressaltar que estas substituições dão-se no processo da
formação da argila, enquanto que a troca de bases é um fenômeno corrente que não altera a
constituição química do cristal.
A substituição do Al2+ dos octaedros por Mg2+ ocorre na saponita, por Fe3+ na nontronita,
por Cr na volkhonskoita e por Zn2+ na sauconita.
2+
G
10 A
36
Nas micas o cationte entre as unidades cristalinas é o K. Vejamos as diferenças entre as ilitas e
as micas propriamente ditas:
a) Enquanto que nas ilitas apenas cerca de 1/6 dos silícios são substituídos por alumínios, nas
micas ¼ o são: resulta daí uma razão molecular sílica/alumina nas ilitas maior do que nas
micas bem cristalizadas; há uma deficiência de carga elétrica por cela cristalina de 1,3 ao
invés de 2 como na mica;
b) As ilitas podem apresentar parte dos K+ substituídos por Mg++, Ca++, H+; as micas, não;
a) A deficiência de carga elétrica por substituição isomorfa é de 1,30 a 1,50 por cela na ilita e
de 0,66 para a esmectita;
c) O cationte que na ilita contrabalança a deficiência da carga é, principalmente, o K+, que não
é trocável (salvo se nos bordos);
d) Como as unidades estruturais das ilitas são relativamente fixas os iontes polares dificilmente
penetram entre elas, por isso que a ilita tem rede cristalina não expansiva.
As cloritas (2:1:1) tem suas unidades estruturais constituídas de mica (S-G-S) e brucita (B,
octaedros de Mg, ou Fe e Al, rodeado por 6 oxidrilas) sendo, pois, camadas mistas regulares.
S
G mica
14 A
S
B brucita
S
G
S
B
37
As ligações entre unidades são parcialmente eletrostáticas como resultado das substituições
na rede e parcialmente ligações de hidrogênio entre O e OH vizinhos, tal como na caulinita.
Existem referências mencionadas por GRIM de cloritas que não se reduzem ao serem
aquecidas, mas que se expandem ligeiramente quando tratadas por etileno-glicol. Sugere GRIM que
essas cloritas expansivas têm a brucita descontínua, formando ilhas entre as camadas de sílica não
impedindo a expansão.
S
B
9,3
14 A
S
4,98
duas camadas
de moléculas
S
de água
B
S
Este mineral não se expande quando tratado por agentes polares, porém entra em colapso,
reduzindo-se a cerca de 10 Ǻ, quando aquecido a 100oC (esfoliação) tal como na montmorilonita e
contrariamente à clorita.
Há substituição isomorfa de Si4+ por Al3+ nos tetraedros. A deficiência de carga positiva
resultante é parcialmente contrabalançada por outras substituições, porém ocorre sempre uma
deficiência de 1 a 1,4 por cela unitária, que é contrabalançada por cationtes Mg2+ adsorvidos entre
as camadas. A capacidade de troca de base é igual ou superior à da esmectita.
Quando se aquece a vermiculita até 500oC, a água entre as camadas é expulsa, porém o
mineral reidrata-se facilmente quando exposto à umidade, à temperatura ambiente. Se aquecido a
700oC não ocorre nova expansão. A expansão é limitada a 4,98 Ǻ, seja a espessura de duas
moléculas de água. Esta limitação na expansão diferencia-a da esmectita.
Os minerais argílicos, de camadas mistas (“mixed layers”) irregulares, ocorrem devido à
relativa semelhança estrutural dos argilominerais, sendo tão estáveis quanto os minerais simples.
A rigor, pode-se considerar a clorita como um mineral deste tipo posto que é o produto de
uma interestratificação regular de mica e brucita.
Outro tipo é que resulta da interstratificação a esmo, irregular, de camadas, sem repetição
uniforme. Têm-se exemplos mais frequentes de misturas de minerais de camada tríplice: ilita com
montmorilonita, clorita com vermiculita. A identificação e a nomenclatura são difíceis.
O que já vimos de mineralogia das argilas permite-nos explicar o fato de serem as partículas
de argila de dimensões coloidais.
38
1o) A arrumação forçada das diferentes camadas cristalinas (“forced fits”); vimos a distorção
que ocorre na superposição dos tetraedros de sílica e octaedros de alumina ou gibsita.
I, área primária
Num dos exemplos transcritos por GRIM, tem-se superfície específica de uma
montmorilonita determinada pela sorção do N igual a 30 mg⁄g e pela sorção do vapor d’água igual a
164 mg⁄g (na dessorção obteve-se 206), aquele correspondente, pois, à área primária e este à área
secundária.
39
CAPÍTULO 4 – FORMAÇÃO E COMPOSIÇÃO – OS SOLOS TROPICIAS
4.1.1 – Introdução
Os solos formam-se a partir da meteorização (intemperização) das rochas, por meio de ações
físicas e químicas.
Distingue-se outro tipo de solo formado “in situ”, mas que não resulta da alteração da rocha
– é o solo orgânico, que provém da acumulação de restos de organismos vegetais e animais. O
exemplo mais comum é a turfa.
Provindo os solos não orgânicos, direta ou indiretamente, de rochas, convém recordar alguns
dados essenciais sobre estas.
40
Os sedimentos mencionados acima são do tipo detrítico (significa desgastado), pois derivam
de meteorização e erosão de outras rochas. As rochas resultantes são, pois sedimentares detríticas.
Outros depósitos têm origens químicas, p. ex., o sal que resulta da evaporação de água salgada, e o
coral que extrai o carbonato de cálcio da água do mar a fim de constituir esqueleto de calcita.
Quando os animais morrem forma-se a rocha calcária cuja origem é bioquímica. Têm-se, assim, as
rochas sedimentares químicas.
A crosta terrestre ou litosfera apresenta solos até cerca de 100 metros de profundidade
(grandes profundidades de solos de alteração de rocha em regiões tropicais). Chama-se de regolito
ou manto de intemperismo a parte superficial da rocha que sofreu a ação do tempo e de seres vivos,
e que recobre a rocha fresca.
A espessura da crosta varia de 60 km, sob a terra, a 8 km, sob o mar. Vê-se quão pequena é a
espessura da crosta face ao diâmetro da terra – cerca de 12.700 km.
Sob a crosta tem-se um manto espesso, cuja rocha predominante é o peridotito (rocha ígnea
de pouca sílica, textura granítica). No centro tem-se o núcleo, externamente líquido, e internamente
sólido constituindo o NIFE, onde predominam o níquel e o ferro. Enquanto a densidade da crosta é
de 2,3 a 2,7, a do núcleo é de 12,2, a densidade média da Terra é de 5,5.
41
Quando mais baixa a temperatura em que se forma ou solidifica o cristal, a partir do magma
fundente, tanto mais estável é o cristal ao intemperismo. O quartzo (SiO2) – um dos mais estáveis
minerais não argílicos tem uma temperatura de cristalização relativamente baixa: 573oC para o α-Q.
42
4.1.3 – Intemperização
Estes processos conduzem à redução das dimensões das partículas sem modificação da
composição química; em consequência uma maior superfície fica exposta ao ataque químico.
Olivina
Plagioclásio Cálcio
Augita
Plagioclásio Álcali-Cálcio
Plagioclásio Alcalino
Biotita
Feldspato Potássico
Muscovita
Quartzo
43
Os processos químicos de intemperização são os seguintes: hidratação, hidrólise, troca
catiônica, oxidação, redução, carbonatação, chelação, solução e reconstituição química.
a) Hidratação
A hidratação vem a ser a absorção superficial da água nos minerais. Este processo precede
os demais, que exigem esta presença da água.
b) Hidrólise
K + H+OH- H + K+OH-
Ortoclásio: silicato de Al e K
Ou
H
Ca + H+OH- H
+ Ca++ (OH)2-
Anortita: silicato de Al e Ca
A reação final dos silicatos pode ser expressa (segundo KELLER “The Principles of
Chemical Weathering”):
M Si Al n + H+ H- [ ( ) ]
[ ( )] ( ) ( ) de octaédrica, t de
tetraédrica.
Onde:
n – relação atômica indefinida
o, t – coordenações octaédricas ou tetraédricas
M – cationtes metálicos (K, Ca, Na)
Al – intercalado entre o Si e o O, está no lugar do Si
O produto final (M, H) Alo Si Alt On compreende, pelos menos, três substâncias possíveis:
mineral argílico, zeólita, e os destroços do silicato (“silicate wreckage”). As zeólitas têm estrutura
mais aberta que os feldspatos, formando canais onde a água e outras substâncias podem ficar
retidas.
44
O processo de intemperização ao longo de milhões de anos tem levado para os oceanos os
hidróxidos de metais e deixado na terra os íons H combinados com alumino-silicatos sob a forma de
minerais argílicos. Neste processo o que importa quanto à ação da água não é que esta permaneça
saturando a rocha, mas que haja renovação de água limpa que carrega os produtos solúveis da
hidrólise.
A remoção dos produtos da hidrólise dos minerais da rocha intemperizada, pode realizar-se,
segundo KELLER, por diferentes mecanismos químicos e físico-químicos:
A lixiviação repetida das rochas por água fresca desloca as substâncias solúveis da rocha
assim como os produtos de meteorização: iontes de Na, K, Ca, Mg, Fe, Cl, SO4, CO3, HCO3, H,
OH, e SiO2 e Al2O3 coloidais ionizados. Esses produtos são identificados na análise de água das
fontes e dos rios.
Quando a água de chuva que percola é abundante – regiões de pluviosidade elevada – ela
tende a manter constantes no sistema meteorizado o pH e o potencial de oxidação que são
características da água da chuva. Por outro lado, o pH do sistema meteorizado exerce influência nos
produtos formados.
A água da chuva é de per si neutra (pH 7) ou quase, mas pode ser modificada na sua acidez
ou alcalinidade enquanto desce das nuvens até o sistema de rocha intemperizada. Ela pode dissolver
CO2 e outros gases geradores de ácidos, do ar e da atmosfera do solo, e ácidos orgânicos do solo,
tornando-se ácida, ou a ela pode incorporar-se suspensão de água e sais dos mares, e os sais
alcalinos de certos solos, tornando-se alcalina. É importante notar que estes fatores que modificam o
pH da água pura tornam-se tanto mais irrelevantes quanto maior a pluviosidade.
Portanto, quanto maior a pluviosidade tanto mais próxima da neutralidade da água estará o
sistema intemperizado, condição esta que conduz à laterização. Por outro lado, se a pluviosidade for
escassa (inferior à evaporação), ou se distribuída em incrementos tais que a acidez atribuída pela
matéria orgânica e gases tornar-se bem elevada, não se verificam os efeitos resultantes da lixiviação
repetida.
Quando se mede o pH dos minerais de silicato constituintes das rochas, após pulverizá-los
na água, obtém-se, geralmente, pH 7 ou maior:
- anfibólios: 10, 11
- carbonatos: 8 (calcita); 9 e 10 (dolomite)
- minerais argílicos e óxidos de alumínio; 5, 6, 7 (caulinita) 6, 7 (montmorilonita, gibsita)
- feldspatos: 8 a 10
- feldspatoides: 10, 11 (nefelina), 10 (leucita)
- micas: 7 a 9
- olivina: 10, 11
- piroxênios: 8 a 11
- quartzo: 6 a 7
45
Estes valores ocorrem próximo às superfícies dos minerais que se alteram. Longe, nos
cursos d’água, é comum o pH ácido ou neutro, embora em rios e lagos de regiões vulcânicas ainda
se observe pH alcalino.
11
10 Al2O3
7
Milimol/litro
6
Correns
(1941)
5
)
66
4 ( 19
on
es
M
3 er
SiO2 and
Alex all
2 et
4)
(195
O3
Al 2
1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
pH
Por exemplo, num meio de pH 10 ou 11, obtida pela hidrólise de nefelina NaAlSiO 4 e
anfibólios (SiO3)8 AlFeH2CO2, desgastados, a sílica e a alumina resultantes dessa hidrólise são
relativamente solúveis e podem ser carregados em solução. Se o pH dessa solução for reduzido a 8,
o que é razoável na natureza, a solubilidade do Al2O3 cai a zero, mas a de SiO2 reduz-se a 2 ou 5
milivolts/l. Precipita-se a alumina (Al2O3 3H2O; gibsita, ou Al2O3 H2O: diásporo ou boemita, que
são os minerais comuns na bauxita) e a sílica permanece em solução e é carreada.
A sílica (SiO2) pode encontrar-se na água como solução verdadeira (sílica hidratada,
Si(OH)4 ou SiO4.H4, ácido mono-silícico) ou como solução coloidal (partículas amorfas ou de altos
polímeros de sílica hidratada). Para pH menor que 9 tem-se o ácido mono-silícico não ionizado e
molecular; se o pH for superior a 9 há ionização e formam-se íons silicatos (OH)3SiO- ao lado de
moléculas dissolvidas. Polímeros do ácido formam-se a pH maior que 5.
46
Em resumo:
- Chuvas abundantes (água, pH 7) e hidrólise de nefelina e anfibólio (pH 10, 11), leva a pH
intermediário porém alcalino (pH > 7) no sistema intemperizado; resulta bauxita (Al 2O3) e SiO2
solúvel, ou sílica secundária, às vezes.
- Chuvas moderadas, a água é suficiente para remover a maioria dos iontes metálicos, mas não é
bastante farta para lavar os H+ do H2CO3, a argila orgânica e os ácidos das plantas. O pH é então
suficientemente baixo para reter o Al2O3 e o SiO2 relativamente insolúveis. A combinação de H,
Al2O3 e SiO2 resulta na formação de minerais argílicos cauliníticos.
A introdução dos iontes H é um dos mecanismos de remoção dos produtos da hidrólise dos
minerais da rocha intemperizada. Nos locais de chuvas moderadas e fracas, a água das chuvas pode
dissolver iontes que atuam na hidrólise. São estes ou cationtes dos metais das rochas, e iontes H, ou
aniontes SO4, NO3, CO3, HCO3, OH, e radicais ácidos orgânicos. Entretanto, o ionte H, devido ao
seu pequeno tamanho, penetra em muitas estruturas: ele tem carga grande para seu tamanho e
substitui facilmente outros cationtes, forma a chamada ligação de hidrogênio, combina-se com OH,
que se forma constantemente na hidrólise, permitindo que esta se processe. O aumento da
concentração de iontes H diminui a solubilidade do Al2O3 e SiO2, levando-os a combinarem-se
como minerais argílicos num meio neutro ou fracamente ácido.
O ionte H pode ter outras origens que não a hidrólise dos silicatos vista acima, a saber:
a) água da chuva com ácido carbônico (H2CO3) proveniente da dissolução do CO2 do ar; o
H2CO2 não somente fornece H como retira Ca, Mg, Fe, etc. do sistema (sob forma de
hidrocarboneto, ou precipitando carbonato);
b) ácido minerais fortes – da oxidação da pirita, marcassita etc; ocorrência local limitada;
c) argila ácida – é uma argila que tendo muitos iontes H nas posições de troca catiônica, ao
recobrir uma partícula de silicato, ataca-a quimicamente;
d) plantas – fornecem ionte H à argila coloidal em contato nas raízes, tornando-a ácida e
susceptível de atacar os silicatos vizinhos dos siltes e areias. As raízes das plantas trocam os
seus H por Ca, Mg, K e outros elementos nutrientes. A argila coloidal e a matéria orgânica
que recobrem a rocha e os minerais inalterados constituem a frente de ataque da
meteorização, que é continuamente renovada com os H das raízes das plantas.
47
+
+
Raiz H
x argila coloidal
+
H + ral x ionte H
x +
ine
m + cationte M
x
argila argila + (Ca, Mg,K, etc)
+
x x
x
x "volume oscilante"
+ dos coloides e
cationtes
As plantas mais primitivas (líquens) tem maior capacidade de extrair os iontes nutrientes
(K). As algas diatomáceas alteram o silicato para retirar a sílica de que precisam, deixando o
resíduo de alumina. Alguns líquidos orgânicos produzidos pelas raízes das plantas são agentes de
chelação que retiram íons nutrientes dos minerais.
O húmus apresenta vários compostos com essa propriedade (quelação). Outros são: certos
ácidos (amino, cítrico, láctico, tartárico, etc.) e substâncias dos organismos vivos (hemoglobina,
clorofila, etc.).
É a substituição dos cationtes (H, K, Ca, Al, etc) dos minerais por outros sem modificação
da estrutura da substância. Os minerais argílicos do tipo esmectita ou montmorilonita têm muitos
cationtes trocáveis nas superfícies das partículas, inclusive nos espaços entre as unidades cristalinas
lamelares. Também ocorrem cationtes nos bordos quebrados dos cristais. As zeólitas (naturais ou
artificiais - permutites) e resinas artificiais são eficientes trocadoras de iontes.
b) os iontes presos pelos SiO2 e Al2O3 influenciam o tipo de argila que se forma;
48
Os minerais argílicos sendo substâncias coloidais estão sujeitos a alteração (ou
intemperização) por diálise na água. A difusão dos cationtes adsorvidos na água até o equilíbrio
(efeito Donnan) realiza-se em relação a uma membrana semi-permeável, que no caso das argilas é a
dupla-camada difusa. Argilas contendo, por exemplo, K, são modificadas na natureza em argilas H.
É um processo natural lento, que pode, no entanto, acelerar-se quando a concentração de iontes H
na água aumenta, p. ex., pela solução de ácidos orgânicos, H2S e CO2 na água.
d) Oxidação
( ) ( ) ( )
A oxidação dos minerais por oxigênio gasoso processa-se por intermédio da água.
O potencial de oxidação da água é suficiente para oxidar o Fe++ em Fe+++ nas rochas
próximas à superfície: Fe++- e = Fe+++.
O óxido de ferro na natureza pode provir da oxidação dos sulfatos. As reações são idênticas
às observadas nos refugos das minas de carvão, ao queimarem-se.
É muito importante o fato de que a oxidação é uma reação exotérmica, ficando disponível a
energia liberada, que no caso do Fe é enorme. Este metal é muito susceptível de oxidar-se; se ele
encontrar-se ligando os tetraedros de sílica num silicato, reage com o oxigênio dando um óxido de
ferro, e rompe-se a estrutura do silicato. Isto explica porque os silicatos contendo ferro se
intemperizam tão rapidamente.
e) Redução
f) Carbonatação
( ) ( ) ( )
49
4.1.4 – Produtos de Meteorização
2) Clima: cl
3) Relevo ou topografia: r
4) Biosfera ou organismos: o
5) Tempo: t
O clima faz-se sentir a fundo nos solos maduros, e manifesta-se pela pluviosidade e
temperatura (a velocidade de reação dobra a cada acréscimo de 10oC), e determina o tipo de
cobertura vegetal.
50
4.1.6 – Formação dos Minerais Argílicos por Intemperização
Aqui, trata-se da formação por intemperização; outros processos existem, tais como:
cristalização de soluções e alteração hidrotermal de rochas.
Os coloides sílica SiO2 e alumina Al2O3, produtos da hidrólise dos feldspatos, sofrem as
seguintes influências antes e durante a cristalização dos argilominerais, com repercussão no tipo de
argilomineral formado:
1) Al (ou Al2O3) abundante e Si (ou SiO2) escasso, pois a caulinita é um mineral 1:1 Si Al –
pH baixo, concentração eletrolítica alta, e remoção rápida do Ca++ e Mg++
Caso o Fe não for lixiviado durante a caulinização, ele poderá oxidar-se em Fe2O3 que é insolúvel
na água. Neste caso a caulinização é acompanhada de laterização, com aumento de quantidade de
sesquióxidos. Ver-se-á mais a esse respeito.
2) Material originário rico em terras alcalinas: rochas ígneas básicas e intermediárias, tufos
vulcânicos (vítreos).
51
As condições que favorecem a formação da ilita são:
2) Essencial o ionte K+: rochas ígneas ácidas ou claras como para a caulinita, porém em
condições de intemperização semelhante às da montmorilonita.
4.1.8 – Pedologia
A: Matéria orgânica; lixiviação de argila e de óxidos; a cor é geralmente mais clara que em
B. (Eluviação).
B: Acúmulo de argila e óxidos; mais densa e cor mais escura que em A (Iluviação).
Os solos zonais são solos evoluídos em que se manifestam exclusivamente os fatores ativos
de gênese (clima e organismos vivos); independentemente do material originário.
Os solos intrazonais são parcialmente evoluídos; eles refletem alguma condição local
(drenagem deficiente, excesso de sais, etc.) que não deixa atuar completamente o clima.
Os solos azonais são solos não evoluídos que não apresentam perfil definido; neles
predominando as características do material originário.
A seguir está a classificação de solos segundo Baldwin, Kellog e Thorp, do U.S. Soil Survey
(1938).
5. Claros podzolizados de
regiões de florestas Podzólicos
6. Lateríticos de regiões de
florestas quentes a Lateríticos
temperadas e tropicais
Intrazonal 1. Halomórfico (salinos e Solos salgados (“solonchak”)
alcalinos) de regiões e alcalinos (“solonetz”)
áridas mal drenadas e
litorâneas
3. Calcimórficos Rendzina
Azonais Litossolos
Regossolos
Aluviais
53
Os solos zonais podem ser correlacionados ao clima, de modo que se tem: laterita, laterítico
castanho-avermelhado e laterítico castanho-amarelado nos climas quentes úmidos, podzol nos
climas úmidos temperados a úmidos, chestnut e chernozen nos climas semi-úmidos a semi-áridos,
frios e temperados.
Marbut designou de pedalfer o solo onde há transferência de alumina e óxido de ferro para
baixo do perfil sem acúmulo de carbonatos (é o solo de regiões úmidas) e de pedocal o solo de
horizonte de carbonatos acumulados (é o solo de regiões áridas e semi-áridas).
Existem diversas classificações de solos sob o ponto de vista agronômico. A FAO, uma
organização da UNESCO, desenvolveu uma classificação usada no Mapa de Solos Mundial. Trata-
se de um compromisso das principais classificações a seguir comentadas.
II) Nos E.U.A. os levantamentos de solo iniciaram-se no começo do século passado, por
Whitney, que desenvolveu uma primeira e simples classificação. No período de 1992 a
1936, Marbut desenvolveu a segunda classificação, baseada em Dokuchaev,
reconhecendo 1500 séries e 5000 tipos de solos, e 12 grandes grupos divididos em
pedocals e pedalfers. A terceira classificação é de Baldwin, Kellog e Thorp, baseados em
Sibirtsev. Compreende 3 ordens (zonais, intrazonais e azonais), 10 sub-ordens, e 37
grandes grupos (esta apresentada resumidamente acima). Devido às dificuldades
surgidas a partir de 1946, de enquadrar todas as séries de solos (cerca de 2000, em 1938)
nas famílias e nos grandes grupos, o Soil Survey partiu para outra classificação,
aperfeiçoando-a em aproximações sucessivas. A 7ª aproximação (de 1965) inclui cerca
de 8000 séries de solos. O sistema de classificação de solos é influenciado pela escala do
mapeamento, e deve considerar as propriedades do solo referentes ao uso da terra, e a
gênese. A classificação da década de 1980usa uma terminologia nova baseada em raízes
gregas e latinas; p. ex. o solo árido é o aridosol, e se tiver um horizonte de argila iluviada
é argid, e, ainda mais, se este horizonte for cimentado por opala (sílica amorfa) é um
duragid. Entre as 10 ordens existentes tem-se os oxi-solos que abrangem alguns dos
antes chamados latossolos, solos lateríticos, solos de laterita de lençol d’água, etc. Nesta
classificação não existem mais as ordens dos hidromórficos e dos halomórficos,
separadamente considerados. Nela admitiram-se novos conceitos, como o de pedon –
menor volume que ainda se pode chamar de “um solo” sob o ponto de vista pedológico –
com três dimensões, sendo o limite inferior o “não solo” (rochas) e os laterais
permitindo o estudo da natureza de qualquer horizonte presente (pode ser de espessura
variável ou descontínua); sua área variando de 1 a 10 metros quadrados. O indivíduo
solo pode compreender um ou mais pedons contíguos, limitados por não-solos ou
pedons diferentes.
Os agentes de transportes são: água dos rios, gelo, ondas, vento, água de percolação e
correntes oceânicas.
O movimento das partículas sólidas na água corrente faz-se: em suspensão (siltes e argilas),
por arrastamento ou tração (partículas grandes que escorregam e rolam no fundo do rio), e por
saltos (partículas intermediárias).
(considerando-se
mesma velocidade)
concentração
leito
Saltação: é interme-
diária entre tração e
suspensão.
No transporte feito pelos rios pode-se relacionar a velocidade média do rio ao tamanho das
partículas.
1000
EROSÃO
velocidade média, cm/s (log)
TRANSPORTE
10
DEPÓSITO
.01
.001 .01 .1 1 10 100
diâmetro, mm (log)
55
Verifica-se que tanto o cascalho quanto a argila têm velocidade de erosões superiores a 100
cm/s, ao passo que, a areia média tem-na superior a 10 cm/s. Abaixo da linha aproximadamente
diagonal do gráfico, tem-se deposição das partículas; verifica-se que quanto maior a partícula,
maior a velocidade da corrente necessária a carrear a partícula sólida.
argila
cascalho
As partículas do leito rodam, deslizam e chocam-se. As maiores que 0,2 mm atuam como obstáculo
à corrente e formam redemoinhos, e as forças que sobre elas atuam podem arrastar a partícula no
leito ou coloca-las em suspensão. As argilas permanecem mais facilmente em suspensão.
O vento não é um agente de transporte dos mais importantes, mas tem efeito separador. O
loess é um solo siltoso com cimento calcário depositado por ação do vento sobre áreas periglaciais.
A separação pode dar-se em bancos (de areia) e lentes localizadas em vários pontos do
curso, ou pode dar-se longitudinalmente. O tamanho das partículas diminui à medida que nos
dirigimos para o mar; entretanto, como a vazão varia com a época do ano, e com ela o tamanho das
partículas em cada trecho, também ocorre a separação local. A diminuição de tamanho, corresponde
a partículas mais arredondadas e partículas menos densas, pois as densas sedimentam primeiro.
A sedimentação da argila dá-se de acordo com a lei de Stokes (velocidade limite); quando
chega ao mar ela pode flocular devido à elevada concentração eletrolítica da água.
56
P P P'
b) Atrito crescente
dique natural
Quando é o vento, o agente, o pó deposita-se das nuvens de poeira. A areia de dunas move-
se aos saltos e por rolamento. O “loess” transportado pelo vento deposita-se em pequenas
quantidades, as plantas que aí crescem são cobertas e morrem deixando vazios os espaços antes
ocupados por raízes verticais; tem a propriedade de manter-se em cortes verticais, porém quando
molhado e vibrado perde a estabilidade.
Quando o agente é o gelo depositam-se na frente e lados das geleiras partículas de várias
dimensões que são transportadas.
Os depósitos de materiais não clásticos formam-se por evaporação; sais, coral, etc.
d) Vulcanismo periódico.
57
gelo
muito silte
e areia
areia, silte, argila
argila
argila
areia, silte
No verão, a geleira e a areia e o silte vão para o fundo do lago (água de geleira) enquanto
que a argila deposita-se lentamente; durante o inverno a areia e o silte não se depositam, e a argila
prossegue sedimentando; no verão seguinte há nova carga de areia e silte, etc. A argila de varvito é
anisotrópica.
A. Terrestre
1. Glacial – tilito glacial: partículas de todas as formas e dimensões, sem
segregação salvo por água da fusão do gelo; os cascalhos são separados pela
água.
C. Lacustre
2. Salino
1. Lagoa de maré – areias finas e siltes nos canais, lamas em áreas sossegadas, e
matéria orgânica abundante.
2. Praia
58
3. Planície de marés – solos finos, escuros, com algumas lentes e colares de
cascalhos.
B. Deltas: depósito aluvial na foz de rio, formando leque na direção do mar. Sua
formação exige ausência de correntes, fundo raso e abundância de detritos.
a) Alteração química,
b) Transformação mineralógica,
c) Rearranjo físico.
III) Adensamento – é a diminuição dos poros saturados das argilas por expulsão da água
intersticial sob o peso das camadas superiores.
IV) Cimentação – a sílica, a alumina e o óxido de ferro, como coloides, substâncias amorfas,
podem precipitar entre as partículas dos sedimentos. A sensibilidade de certas argilas
cresce com os teores de Al2O3 e Fe2O3 livres.
VII) Lixiviação – a percolação da água doce em argilas de origem marinha altera suas
propriedades, tornando – as mais sensíveis.
IX) Autogênese – é a cristalização dos minerais “in situ” após deposição; este processo é em
sentido oposto ao intemperismo. Ocorrem quartzos e feldspatos desta origem.
59
4.1.12 – Solos Submarinos
Plataforma
Continental Talude
(˜ 70 km: 0 a 1000 km) Continental
"shelf"
zona nerítica a> 3.600 m
-200
(6% é > 5.400 m;
"d
maior prof. 11.000 m
ee
nas Filipinas)
p
zona
se
a
batial
fa
r"
ou
hipabissal
Nas regiões equatoriais e polares as águas superficiais tem elevada produtividade orgânica.
Nessas regiões os sedimentos são calcários nas águas mais rasas (até 4000m) e silícicas nas mais
profundas. Em regiões de menor produtividade orgânica o fundo do mar é recoberto de vasa
calcária nas águas mais rasas e de argilas castanhas nas mais profundas (onde parecem dissolver-se
os carbonatos).
A vasa calcária, cobrindo cerca de 36% do fundo do mar, compõe-se de conchas vazias ou
restos (carapaças) de foraminíferos (protozoários). A vasa globigerina (gênero de foraminífero)
cobre a maior parte do fundo do oceano Atlântico e grande parte do Pacífico Sul. É a vasa calcária,
geralmente não plástica, cor creme e branca, e composta de partículas de dimensões de areia e silte,
ocas e que se esmagam facilmente (resistência à compressão simples menor que 0,11 kg/cm2).
A vasa silícica compõe-se de restos de plantas silícicas, e situam-se num cinturão largo à
volta da Antártida e a NE do Japão.
60
Ilita: 26 a 55% (47% no Atlântico Sul)
Caulinita: 8 a 20% (17% no Atlântico Sul)
Todos esses argilominerais tem origem continental; apenas a montmorilonita pode formar-se
em ambiente marinho, em quantidade significativa.
A argila castanha, no fundo da maior extensão do Pacífico Norte e na parte mais profunda
do Atlântico tem plasticidade média a elevada; a resistência à compressão simples é de 0,037 a
0,047 kg/cm2, a sensibilidade é de baixa a média, e a umidade natural de 100 a 200%.
4.1.13 – Laterização
O grau de laterização de um solo pode ser avaliado pela relação sílica/sesquióxido, da fração
coloidal.
1) Desagregação e lixiviação das rochas ígneas expostas à meteorização tropical de que resulta
um processo de empobrecimento dos respectivos terrenos residuais em bases solúveis (Na,
K, Ca, etc.) e um enriquecimento relativo em bases insolúveis (Fe, Al, Ti, etc.). Esta
concentração de sesquióxidos (Fe2O3 e Al2O3) dá aos terrenos uma coloração de tijolo e, em
61
geral, um concrecionamento das respectivas partículas cuja intensidade e distribuição são
muito variáveis.
Nas laterais a alumina livre apresenta-se sob a forma de gibsita: Al(OH)3, e o ferro como
goetita: Fe O.OH ou Fe2O3. H2O, e hematita: Fe2O3. A goetita provém da desidratação e
cristalização da limonita amorfa (2Fe2O3 . 3H2O), e a hematita, Fe2O3, produto final, duro e estável,
provém da desidratação da goetita (a 350ºC). A laterita costuma apresentar goetita e alguma
hematita.
O mineral argílico típico dos solos lateríticos é a caulinita. As lateritas são tipicamente
endurecidas, formando concreções, crostas e nódulos ou pisólitos.
4.2.1 – Introdução
Sob o ponto de vista pedológico as figuras a seguir ilustram um perfil de um solo tropical e a
lista das classes de solo adotadas pelo SiBCS – Sistema Brasileiro de Classificação de Solos da
Embrapa. A figura mostra um perfil de um Argissolo Vermelho Amarelo e a tabela a etimologia dos
termos usados no 1º nível categórico do SiBCS (extraídos do Manual de Pedologia, IBGE, 2017).
62
Solo tropical é o que resulta de intensa meteorização à temperatura e à pluviosidade
elevadas, com formação de espessos mantos de intemperização, e do processo pedogenético de
laterização, sendo comum o concrecionamento ferruginoso.
63
para bases estabilizadas granulometricamente deveriam, necessariamente, diferir das originadas da
experiência norte-americana (1). Vinte anos depois participava da Comissão que elaborou novas
especificações para bases e sub-bases de solos lateríticos (2). Em 1958, no Senegal e na Costa do
Marfim, teve o Autor a oportunidade de acompanhar os estudos geotécnicos de solos de laterita para
a pavimentação rodoviária. Reunindo a experiência neste país e na África Ocidental escreveu um
trabalho para Associação Brasileira de Pavimentação (3) em 1961, o qual foi vertido para o francês
em 1963 (4).
Alexandre e Cady (1962), segundo Maignien (Ref. 5), definem: laterita é um material altamente
intemperizado, rico em óxidos de ferro e/ou alumínio secundários; é quase totalmente desprovido de
bases e silicatos primários e pode conter grande quantidade de quartzo e caulinita; é duro ou pode
vir a endurecer quando sujeito a molhagem e secagem.
64
resultou do concrecionamento de solos por precipitação de Fe e Al, transportados nas águas
freáticas.
c) Oxisols – termo criado, também, na 7ª aproximação, inclui os Latosols (Kellog, 1949) que,
no Brasil são os Latossolos. Correspondem, aproximadamente, aos Ferralsolos
(FAO/UNESCO) e aos solos Ferralíticos (França). São solos de elevado teor de sesquióxido
na fração argila; tem o horizonte B óxido, que não apresenta, praticamente, mineral
alterável, e sua fração argila é composta quase que exclusivamente de caulinita e/ou óxidos,
com gibsita, frequentemente, e, às vezes, géis de alumino-silicatos; a razão Si O2/Al2O3 é
cerca de 2 ou menor; tem forte coloração vermelha ou amarela devido ao grande acúmulo de
óxidos de ferro; apresenta argila residual, não migrada, e espessuras de 5 a 10 metros.
65
1ª ZONA (porosa); pode atingir 10 m ou mais
Concreções
5ª ZONA - rocha sã
O Prof. Victor de Mello refere-se, no seu trabalho sobre a engenharia de solos residuais
(Ref. 12), em 1972, ao perfil de alteração segundo Deere e Patton. Sugere a subdivisão do perfil em
três horizontes básicos: “o superior de solo maduro tratado exclusivamente como solo de acordo
com os métodos convencionais empregados em Mecânica dos Solos, o intermédio de solo residual
(saprolito), cujo comportamento é ainda de solo, mas que deve levar em conta as extremas
heterogeneidades e descontinuidades da estrutura reliquiar; finalmente, o horizonte inferior de rocha
decomposta (e suas gradações), cujo comportamento é predominantemente o de uma rocha fraca,
com descontinuidades ainda mais fracas, material este tratado rotineiramente na Mecânica das
Rochas”.
Foi o termo saprolito (rocha podre) criado por Becker em 1895 (apud Aleva, Ref. 13) para
designar: “rocha branda, terrosa, rica em argila, completamente decomposta, que se formou in situ
por intemperização química de rochas ígneas e metamórficas; constitui, frequentemente, camada ou
cobertura espessa (até 100m), especialmente em clima úmido tropical e subtropical; a cor é,
usualmente, avermelhada ou acastanhada”.
66
Solo transportado
(form.neo-senozóicas) Horizonte de solo superficial
Horizonte de
solo saprolítico
Solo transportado
form. cenozóicas (quaternário)
"Bedrock
O horizonte superficial pode ter espessuras de alguns centímetros a uma dezena de metros
(caso da terra roxa); distingue-se das camadas subjacentes (horizonte de alteração de rocha,
sedimento, solo transportado) pelo fato de ser, aparentemente, homogêneo e isotrópico, ter cores
bem distintas (predominância de vermelho e amarelo, nas áreas bem drenadas das regiões tropicais)
daquelas prevalecentes nas camadas subjacentes e, além disso, quase sempre, são mais resistentes à
erosão (Ref. 14).
67
% em rela-
% em relação a fração argila
ção ao solo
30 20 10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% em rela-
13 A1p % em relação a fração argila
A3 ção ao solo
43
B30
21 20 10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
70
13 B A1p
105 A223
43
B21
70
BC
B22
105
180
CBC
1
230
180
C2
C1
280
230
CC3
2
330
280
CC43
380
330
C5
405 C4
380
C5TERRA ROXA LEGÍTIMA DE CAMPINAS, CENTRO-LESTE DE SÃO PAULO
405
Terra RoxaROXA
TERRA Legitima de Campinas,
LEGÍTIMA Centro
DE CAMPINAS, – Leste de
CENTRO-LESTE DESão
SÃOPaulo
PAULO
10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
6 A1
20 A 2 90 100
A 10 0 10 20 30 40 50 60 70 80
406 A1 3
20 B1 A2A
40 3
90
BB21
1
120
90 B
B2221
155
120
B
B22
3
155
200
B3
200
C1
C1
300
300
C2cn
C2cn
390
390
MICA GIBBSITA
GIBBSITA VERMICULITA
MICA VERMICULITA
68
da COPPE técnicas de ensaio, calcadas em métodos de vários autores, e que representam uma
expansão dos métodos adotados, por exemplo, pela EMBRAPA.
Classificação Proctor
γg CBR % Pass. Peneiras (mm)
Solo Descrição LL LP IP LC Normal
(gf/cm3) (%)
Local γs max hot 4,8 0,42 0,075
A-6 (7)
15 39 23 16 18 2,73 1,74 17,8 16 100 94 57
CL
A-7 (9)
16 43 24 19 14 2,71 1,75 17,0 12 98 85 57
CL
A-7 (16)
17 56 29 27 21 2,70 1,69 20,3 28 98 88 63
CH
A-7 (8)
19 45 25 20 32 2,65 1,76 15,0 14 90 64 53
CL
A-6 (7)
20 38 19 19 - 2,75 1,81 15,0 - 87 70 51
CL
Composição Mineralógica
Solo Kt Ki pH Ox.
Caulinita Amorfo Resíduo Ti O2 Total Fe2O3
Ferro
15
1,69 2,07 5,8 82,1 12,4 3,3 3,2 0,42 101,4 10,8
16
1,72 1,96 5,7 81,3 7,9 2,8 4,9 0,80 97,7 7,2
17
1,59 1,83 6,2 73,5 8,4 4,2 10,3 1,20 97,6 7,3
19
1,81 2,08 5,4 88,8 8,9 1,9 0,6 0,64 100,8 7,7
20
1,43 1,92 5,0 73,5 16,2 3,8 3,0 1,10 97,6 11,8
69
Caracterização Geotécnica, Química e Mineralógica de Solos Argilosos Lateríticos (COPPE, 1980).
1 2 3
Símbolos dos
Divisões Principais Grupos e Subgrupos de Solos e Nomes Típicos
Grupos
Siltes e areias muito
Inorgânicos (exceto
finas, areias finas ML
o tipo caulinítico)
siltosas ou argilosas,
Solos de Granulação fina com pouco ou nenhum material graúdo
argilas siltosas, de
plasticidade
Compressibilidade Orgânico OL
pequeníssima ou
pequena a média pequena
LL < 50 Inorgânicas (exceto
Argilas de plasticidade CL
o tipo caulinítico)
pequena a média, argilas
arenosas, argilas
siltosas, argilas magras Tipo caulinítico KL
Micáceas,
MH
Diatomáceas, outros
Solos arenosos finos e
siltosos, siltes elásticos
Orgânicas OH
Compressibilidade
grande
LL > 50 Inorgânicas (exceto
CH
Argilas de plasticidade o tipo caulinítico)
média a pequena, argilas
gordas
Tipo caulinítico KH
Em 1969, Little sugeriu uma classificação de solo tropical residual de acordo com o grau de
intemperização, seu reconhecimento no campo e as correspondentes propriedades de engenharia
(Ref. 16). A rocha de origem é sempre indicada juntamente com a classe de intemperização.
70
Chegamos ao ponto crucial da reprodutibilidade dos ensaios de caracterização
(granulometria, limites de Atterberg, e densidade dos grãos), e dos procedimentos mais adequados
de ensaios de solos que contenham concreções mais ou menos friáveis, aglomerados de partículas
argilosas floculadas recobertas por sesquióxidos, e material amorfo coloidal.
O Prof. Milton Vargas discutiu o uso dos limites de Atterberg na classificação de solos
tropicais, no VII COBRAMSEF (Ref. 17). Pondera, ele, que os limites de Atterberg sendo
“propriedades índices” para a determinação e classificação da “natureza” dos solos, nada dizem
sobre os “estados” em que esses solos se possam apresentar. Assim, ao executarmos os ensaios de
LL e LP destruímos, primeiramente, qualquer característica de “estado”, tais como: estrutura,
compacidade, dispersão dos grãos, etc. Não podem, portanto, esses ensaios, simular a plasticidade
do solo face à umidade. Os solos concrecionados, quando remanejados têm a estrutura natural
parcial ou totalmente destruída. O esforço aplicado no destorroamento, no peneiramento, e
preparação de amostras, deve ser considerado. Nesse trabalho o Prof. Milton Vargas mostra a
influência do tempo de manipulação no valor do LL. Também está indicado o efeito do tratamento
prévio da amostra em relação à secagem, e sugerido o uso conjugado do gráfico de atividade
“versus” LP como o de LL “versus” LP. Sua preocupação com a natureza do mineral argílico, em
relação à classificação dos solos residuais finos se manifesta na discussão do trabalho de Arthur
Casagrande sobre Classificação e Identificação de Solos, em 1948 (Ref. 18). Sugeria, ele, a adoção
de subdivisões dos grupos de solos conforme a composição mineralógica, para o que introduzia as
classes KL e KH de argila caulinítica, de baixa e alta plasticidade indicada na Tabela a seguir.
Uma experiência brasileira bem sucedida em pavimentos, fora dos cânones federais, é a
utilização de areias finas lateríticas em camadas de base de pavimentos flexíveis. Dois de seus
principais responsáveis – Nogami e Villibor – têm dado conta de uma nova classificação de solos
com finalidades principalmente rodoviárias (Ref. 19 a 20). Consideram eles que esta classificação
surgiu como um subproduto da sistemática simplificada de ensaios que utiliza corpos de prova
compactados de dimensões reduzidas (5 cm de diâmetro) e de solo que passa na peneira de 2mm de
malha. Os ensaios realizados são o de compactação mini-MCV (“moisture condition value”), e o de
perda de peso por imersão. Duas grandes classes são estabelecidas: solos de comportamento
laterítico e solos de comportamento não-laterítico. Manifestam os autores citados o interesse no
relacionamento mais completo da origem geológica e pedológica dos solos tropicais com os grupos
da classificação proposta. Esta classificação, denominada de MCT (miniatura, compactado,
tropical) já é bem conhecida e utilizada no país, tendo sido estabelecidos métodos de ensaios tanto
no DER de São Paulo quanto no DNER/DNIT desde a década de 1980. São muitos quilômetros já
implantados, principalmente no estado de São Paulo e também em outros locais, com os solos
selecionados por este método de classificação e seleção de solos, com muito sucesso.
As classificações são feitas a fim de atender a fins práticos específicos. Se as finalidades são
diversificadas pode-se supor mais de uma classificação, e sua adaptação progressiva aos novos
conhecimentos adquiridos. Entretanto, uma estrutura taxonômica deve existir no relacionamento das
classes de diferentes níveis.
71
4.2.3 – Gênese e Distribuição
A gênese dos solos lateríticos é descrita por Gidigasu no seu alentado tratado sobre a
Engenharia de Solos Lateríticos (Ref. 23). As couraças de laterita têm sua formação estudada com
profundidade por Maignien (Refs. 5 e 24).
Quando adotamos o modelo da alteração química do feldspato para explicar a formação de
solos tropicais, simplificamos demasiadamente a questão. Outros minerais se alteram
simultaneamente ou a seu tempo. As bases solúveis saem de cena com maior ou menor mobilidade
conforme a pluviosidade e a drenagem interna do maciço alterado.
Reportemo-nos à figura seguinte, transcrita do trabalho de Mitchell e Sittar (ref. 25), a qual
mostra os diferentes estágios da intemperização de basaltos de regiões tropicais, e correlaciona a
composição mineralógica à estrutura e parâmetros de resistência ao cisalhamento. Verificamos no
estágio 4 a diminuição de caulinita, a qual se transforma em gibsita, enquanto também aumenta o
óxido de ferro, e, portanto, o teor de sesquióxidos. No estágio 5 há cimentação crescente.
ESTÁGIOS
1 2 3 4 5 6
C = Caolinita
c R2O3 = Sesquióxidos
R 203
c = coesão
? = ângulo de atrito interno
c
?
Rocha Rocha
primária INTEMPERIZAÇÃO secundáriao
72
A forte intemperização tropical pode levar à transformação de mica diretamente em
caulinita, guardando esta a forma da mica, que tanto pode ser primária como secundária, seja
proveniente da alteração do feldspato. Assim a análise mineralógica pode revelar uma quantidade
de mineral caulinita maior do que a fração argila, o que significa estar presente este mineral
secundário também nas frações silte e areia. A alteração pedogeoquímica faz-se de modo rápido e o
mineral 2/1 passa ao 1/1 sem a etapa intermediária 2/2 (Ref. 26).
A distribuição de solos do horizonte superficial pode ser vista nos mapas de solos de
finalidade agrícola. Dispõe-se, entretanto, do mapa da América do Sul, a 1:5.000.000, de 1971, da
FAO/UNESCO, e o de solos do Brasil, de 1981, do SNLCS/EMBRAPA, na mesma escala. Servem
para planejamento de pesquisa.
Estudaram Melfi e Pedro (Ref. 27) os solos e formações superficiais sob o ponto-de-vista
pedogeoquímico, referindo-se essencialmente ao tipo de evolução da fração mineral dos solos. O
processo pedogenético da ferralitização ou laterização atinge 65% do território nacional. A gibsita
não aparece em todos os latossolos, ocorrendo, principalmente, entre 20º e 25º de latitude Sul, em
solos derivados do basalto da Bacia do Paraná, e, também, na região de Brasília e no Sudoeste da
Amazônia.
Devemos notar que a área de solos superficiais de fração argilosa esmectita, mineral 2/1 de
grande superfície específica (cerca de 20 vezes maior que o da caulinita), e que corresponde aos
vertissolos é de apenas 0,4% do território nacional. Contudo, nos saprolitos podem ocorrer minerais
secundários expansivos, de modo que, no interesse do geotécnico, aumenta a área de ocorrência de
solos expansivos.
Melfi e Pedro assinalaram a extensão das principais coberturas de alteração no Brasil, que
são: a) alteração ferralítica sem gibsita (Ki< 1); b) alteração ferralítica com gibsita (1 < Ki< 2); c)
alteração sialítica mista (2 < Ki< 3), sem montmorilonita, com caulinita e alteração incompleta; d)
alteração montmorilonítica (3 < Ki< 4) quando este mineral ocorre só ou em mistura com
vermiculita e ilita.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
4- MEDINA, Jacques, “Les Latérites et leur application à la technique routière”, Rev. Gen. des
Routes et Aérodromes, Paris, Nov. 1963; tradução do Dr. J.C. Vogt.
73
5- MAIGNIEN, Roger – “Review of research on laterites”, UNESCO, Paris, 1966.
7- MC FARLANE, M.J. – “What is laterite” – Part III – I.G.C.P. – 129, Newsletter III, India,
1981.
10- VARGAS, Milton – “Structurally Unstable Soils in Southern Brazil”, VIII Congr. Intern.
Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, Moscou, 1973.
11- VARGAS, Milton – “Progresso dos Estudos Geotécnicos dos Solos Tropicais em São
Paulo”, (Conferência), Simp. Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Set. 1981.
12- MELLO, Victor – “Apreciações sobre a Engenharia de Solos aplicável a solos residuais”,
tradução nº 9, da ABGE (trabalho original dos Anais da III Conf. Sul – Asiática de
Eng. Solos, Hong Kong, nov. 1972), São Paulo, nov. 1979.
13- ALEVA, G.J. – “Facts of debate – Classification and Nomenclature of Laterites”, I.G.C.P. –
129, Newsletter V, India, 1982.
14- NOGAMI, Job Shuji – “Glossário de Minerais e Rochas (Utilização em obras civis)”, Escola
Politécnica, U.S.P., 1976.
15- MONIZ, A.C.; JACKSON, M.C. – “Quantitative Mineralogical Analysis of Brazilian Soils
derived from Basic Rocks and Slate”, Wisconsin Soil Science Report 212, 1967.
16- LITTLE, A.L. – “The Engineering Classification of Residual Tropical Soils”, Sessão
Especial – Propriedades de engenharia de solos lateríticos – VII Conf. Intern. Mec
Solos e Eng. Fundações, México, 1969.
17- VARGAS, Milton – “O uso de limites de Atterberg na classificação de solos tropicais”, VII
Congr. Brasil. Mec. Solos Eng. Fundações, Olinda e Recife, 1982.
19- NOGAMI, Job Shuji; VILLIBOR, Douglas Fadul – “Uma nova classificação de solos para
finalidades rodoviárias”, Simp. Bras. Solos Tropicais em Engenharia, COPPE/UFRJ,
Rio de Janeiro, Set. 1981.
74
20- NOGAMI, Job Shuji; VILLIBOR, Douglas, Fadul – “Algumas comparações entre uma nova
classificação de solos e as tradicionais, principalmente para finalidades rodoviárias”,
VII Congr. Brasil. Mec. Solos e Eng. Fundações, Olinda e Recife, 1982.
24- MAIGNIEN, Roger – “Le cuirassement des sols en Guinée”, Univ. Strasbourg e ORSTOM,
França, 1958.
25- MITCHELL, James K.; SITAR, Nicholas – “Engineering Properties of Tropical Residual
Soils”, Proceedings ASCE Specialty Conf. Engineering and Construction in Tropical
and Residual Soils”, Havaí, 1982.
26- CASTRO, Francisco José Casanova Oliveira – “Some remarks on the weathering of mica in
tropical soils”, II Seminário Inter. Processos de Laterização, São Paulo, 1982.
27- MELFI, Adolpho José; PEDRO, George – “Estudo geoquímico dos solos e formações
superficiais do Brasil”, Rev. Brasil. de Geociências, vol. 7, 1977.
75
CAPÍTULO 5 – ESTABILIZAÇÃO DE SOLO COM CIMENTO PORTLAND
5.1 – Introdução
O solo modificado é julgado pela alteração dos índices físicos e/ou capacidade de suporte do solo. É
não endurecido ou semi-endurecido.
O cimento portland compõe-se de: C3S, C2S, C3A e C4AF, sendo C = CaO, S = SiO2, A =
Al2O3, F = Fe2O3, H = H2O, de acordo com nomenclatura usual da química do cimento.
Hidratação: C3S + H2O →C3S2HX (gel hidratado) + Ca (OH)2; o silicato de cálcio hidratado
é o produto cimentante primário.
b. A cal produzida na hidrólise ataca os minerais argílicos e a sílica e alumina amorfas (estes
mais facilmente do que os cristais) e forma novos compostos:
Ca++ + 2(OH)- + SiO2 (sílica do solo) → CSH, este, também, produto cimentante que
provém da sílica do solo enquanto que o C3S2Hx provém da sílica do composto C3S do cimento. O
CSH assemelha-se ao mineral tobermorita (alongado).
Ca++ + 2(OH)- + Al2O3 (alumina do solo) → CAH. Diminui, nesse estágio, o pH pelo
consumo do OH-.
C3S2Hx (em pH baixo) hidrólise CSH + cal; assim, na malha do gel recém-formado
precipita silicato adicional.
c. A capacidade de permuta iônica elevada dos minerais argílicos faz com que estes
atraiam cationtes que assim deixam de participar da formação do material cimentante. Já
77
a sílica e a alumina amorfas, finamente divididas, estão mais sujeitas ao ataque químico
e constituem fonte de material cimentante.
água
unidade de esqueleto grão ou núcleo
da argila-cimento de gel do
matriz da argila cimento hidratado
partícula de
argila alterada
(em camadas)
Dependem de:
78
Resistência à compressão
Tipo de Solo % Peso de Cimento Simples MPa
7 dias 28 dias
Areias e pedregulhos:
A-1, A-2, A-3
GW, GC, GP, GM 4–9 2,1 – 4,2 2,8 – 7,0
SW, SC, SP, SM
Determinada em vigas (p.ex. 7,5 x 7,5 x 30 cm); obtêm-se valores entre da resistência
à compressão. A resistência à tração é cerca de 1/10 da resistência à compressão (no teor ótimo e
densidade máxima).
a. Na compressão (estática), para 1/3 da carga de ruptura, varia de 700 a 14.000 MPa.
d. Cargas repetidas (resiliência) – 1.400 a 20.000 MPa, conforme tipo de solo e teor de
cimento.
5.5.5 – C B.R.:
Atinge valores superiores a 100 em solos tratados pelo cimento. Em alguns países, o C.B.R.
foi usado para avaliar a resistência do solo-cimento no passado.
79
5.5.6 – Plasticidade:
O tratamento pelo cimento tem pouca influência no LL; entretanto, parece que reduz um
pouco o LL de solos de LL superior 40 e aumenta o de solos de LL inferior a 40 (dados de Carolina
do Sul dos EUA). Como o LP cresce, o IP cai bastante com quantidade crescente de cimento.
Não diferem muito os valores de solo-cimento dos do solo natural. A densidade aumenta
para os solos arenosos e, às vezes, um pouco para argilas gordas, pouco ou nada para argilas magras
e médias, e pode ocorrer diminuição para os siltes. O teor ótimo diminui nas argilas, aumenta nos
siltes e pouco varia para os solos arenosos.
Pouco difere do hot do solo natural. A água que se acrescenta para compactar o solo é,
também, suficiente para a hidratação do cimento, desde que se garanta a cura.
80
5.6.3 – Densidade:
Valores típicos:
No caso do cimento portland comum, variar o teor de álcalis, pode ser favorável à
resistência do solo-cimento. Quando se emprega o cimento portland de alta resistência inicial (é
mais caro), os resultados variam conforme o tipo do solo.
5.6.6 – Mistura:
81
5.6.8 – Temperatura:
Pesquisas feitas no T.R.R.L da Inglaterra revelam que a resistência a 7 dias aumenta com a
temperatura à razão de 2 a 2,5% por grau centígrado, quando próximo de 25 oC. Se o critério de
dosagem for apenas a resistência a compressão, precisa-se de menor teor de cimento, caso a
dosagem for feita em tempo quente. Comparando-se duas construções semelhantes de mesma
dosagem de cimento, a que for feita no verão será 50 a 100% mais resistente, pelo menos durante os
três primeiros meses.
5.6.9 – Idade:
5.6.10 – Aditivos:
São aditivos do solo-cimento: cal viva, cal extinta, materiais betuminosos, cinzas volantes,
cloretos de cálcio, e traços de reagentes químicos (menos de 1%), As cais são efetivas para anular a
ação retardadora da matéria orgânica, e para diminuir a plasticidade de solos muito plásticos
facilitando a pulverização e mistura do cimento. Faz-se tratamento com 2 a 3% de cal, e a cura do
material solto ou compactação por três dias, antes de acrescentar o cimento. Deve-se explorar esta
possibilidade prática entre nós. O emprego da emulsão betuminosa (5 a 7,5%) e cimento (3 a 5%) é
referido como processo bem sucedido pelos engenheiros britânicos. A emulsão permanece estável
quando misturada a solo fino, dispersando-se bem; o cimento acrescentado a seguir provoca a
quebra de emulsão, absorve um pouco da água livre, e aumenta a resistência de mistura.
Parece que as cinzas volantes reduzem tão somente o trincamento. O cloreto de cálcio anula
o efeito retardador da matéria orgânica, e pode exercer melhoria geral da resistência.
O Dr. MOH explica o efeito de sódio da forma esquemática seguinte (“Reações dos minerais
dos solos com cimento e reagentes químicos”, H.R.B., 1965):
82
Ca++ + 2 (OH)- + Al2O3 (alumínio do solo) → CAH
Na2X + Ca(OH)2 → CaX + 2 Na+ + 2 (OH)-, o pH sobe mais do que somente com hidrato de
cimento
Estes aditivos aumentam a reatividade do solo com cimento (maiores velocidades e extensão
da solubilização da sílica e alumínio) e aumentam a quantidade de produtos cimentantes (CSH,
CAH, etc.) pelo atraso da precipitação de gel de silicato de cálcio e formação de géis altamente
hidratados de silicato de cálcio, contendo Na. Já se obteve redução de até 50% do cimento para uma
mesma resistência.
O Prof. Jorge Augusto Pereira Ceratti, D.Sc. pela COPPE / UFRJ em 1991, com a tese
“Estudo do comportamento a fadiga de solos estabilizados com cimento para utilização em
pavimentos”, procedeu a caracterização em laboratório do comportamento de fadiga de corpos de
prova de solo-cimento compactado, com a determinação do módulo resiliente (é o módulo de
elasticidade sob carga pulsante como é próprio das rodovias). Os corpos de prova atuados
diametralmente tinham 10 cm de diâmetro e em torno de 3,5 cm de espessura, obtido pelo corte das
amostras cilíndricas compactadas de 20 cm de altura, ensaiadas após 90 dias de cura. A frequência
de aplicação das cargas repetidas é de 60 por minuto. As amostras após o corte sofrerá imersão na
água por 24 horas. Os ensaios de fadiga do solo-cimento foram realizados a tensão controlada em
equipamento que nosso laboratório tem desde 1977. O primeiro era para corpos de prova de 5 cm de
diâmetro de diâmetro e 10 cm de altura (ver pág. 180 a 199, de “Mecânica dos Pavimentos”, 3a ed.,
de Medina e Motta, 2015). Em 1986 o apoio técnico da UFRGS permitiu-nos uma câmara para
corpos de prova de 10 a 15 cm de diâmetro, em alturas de 20 a 30 cm, respectivamente, o que
propiciou ensaios de materiais granulares mais graúdos. Fogem ao escopo destes apontamentos os
pormenores da tese do Dr. Ceratti, mas sua leitura é recomendada aos que desejarem se aprimorar
no assunto.
Nesta altura cabe uma descrição ainda que sumária do método físico-químico de dosagem
do solo-cimento do pesquisador indiano Chadda (1971), Instituto Central de Pesquisa Rodoviária da
Índia. A referência básica é: Chadda, L.R. (1954), “The rapid determination of cement in cement
soil mixtures” no The Indian Cement Journal, vol. 28, 446-448. O pesquisador indiano publicou
outro, mais tarde; Chadda, L.D. (1971) “A rapid method of assessing the cement requirement for
the stabilization of soils”, Indian Concrete Journal, vol. 45(7), 298 – 314. Extraiu-se o julgado
essencial para este comentário.
83
autor destes apontamentos, tem um texto longo e pormenorizado e é tão consistente em toda a
extensão que custa resumi-lo no que interessa mais a estes apontamentos.
O colega F.J. Casanova O. Castro tem vários trabalhos sobre geoquímica dos solos e os
aditivos, cujo acesso poderá ser feito conforme indicado no seu currículo Lattes, do CNPq-
http: lattes.cnpq.br 5512626776807619.
Cita-se também a dissertação de mestrado da química Maria da Glória Marcondes
Rodrigues, 1992, “Contribuição ao Estudo do Método Físico-Químico de Dosagem do Solo-
cimento”, Trata-se de outra referência importante.
O trabalho dos colegas citados, Ceratti e Casanova, no formato disponível, têm 22 páginas,
sendo as dez finais de tabelas e figuras. Os métodos de estabilização dos solos dependem
essencialmente da composição química coloidal, da dispersão e dos ligantes. O referido trabalho diz
respeito a propriedades físico-químicas de oxissolos. No “Vocabulário de Ciência dos Solos”, Soc.
Bras. Ciência Solo, 1993, encontra-se a definição seguinte: “Oxissolo (“oxisol”). Ordem no sistema
abrangente de classificação americana de solo (“soil taxonomy”). Classe de solos que apresentam
um horizonte óxico dentro de 2m da superfície ou plintita como uma fase contínua dentro de 30 cm
de superfície e que não tem um horizonte espódico ou argílico acima do horizonte óxido”. E mais,
plintita: mistura de argila, pobre em húmus e rica em ferro e alumínio, com quartzo e outros
minerais. No perfil do solo ocorre comumente sob a forma de mosqueados vermelho e vermelho-
escuros, etc. Nós, engenheiros, ainda usamos o termo laterita para as concreções ferruginosas que
podem ser aproveitadas em camadas granulares de pavimentos.
Esta dosagem físico-química expedita do cimento, introduzida por Casanova a partir dos
estudos de Chadda, permitiram que o primeiro fizesse a moldagem a frio de tijolos de solo-cimento
em simples compressão de prensa de acionamento manual. Assim uma comunidade carente pode ter
seu balcão de ensaios com provetas e balanças para a dosagem de solo-cimento com material
terroso local e saco de cimento portland, e proceder à fabricação de tijolos para recompor suas
moradias modestas. O Casanova mostrou neste aspecto e teve o reconhecimento internacional. A
ele se deve a expansão mundo afora do chamado “tijolo ecológico” e um testemunho da prioridade
social nos trabalhos universitários pertinentes.
Tabela 1 – Leituras volumétricas (cm3) e variações volumétricas (%) máximas das misturas de solo-
cimento sedimentadas – Método Físico-químico de dosagem de solo-cimento.
Cimento Tempo decorrido (dias) Variação
Amostra
% 0 1 3 7 10 volumétrica
3 26 36 42 42 - 61
7 6 25 40 62 60 - 148
9 26 48 78 74 - 200
850684 12 27 56 84 74 - 211
15 27 62 82 75 - 203
3 20 24 30 30 30 50
8 6 22 28 39 56 56 154
9 24 42 68 74 72 208
850739 12 24 43 68 64 - 183
15 26 51 72 65 - 177
3 22 30 - 36 35 64
9 6 22 37 - 62 60 184
9 24 45 - 70 64 192
850610 12 23 48 - 72 65 213
15 24 52 - 68 67 183
3 22 30 42 50 50 127
11 6 22 43 64 75 72 240
9 24 52 75 79 74 229
850626 12 24 56 75 78 75 225
15 27 56 77 82 74 203
3 27 35 48 48 47 78
17 5 28 42 68 73 67 161
7 26 44 74 78 71 200
850747 9 26 49 78 75 - 189
12 29 57 83 74 - 186
85
200 200 200
Solo - 7 Solo - 8 Solo - 9
Variação volumétrica, %
50 50 50
3 6 9 12 15 3 6 9 12 15 3 6 9 12 15
Quantidade de cimento, %
50 50 50
3 6 9 12 15 3 6 9 12 15 3 6 9 12 15
Quantidade de cimento, %
86
Kaolinite - Georgia (USA)
40 40
30 30
Variação volumétrica, %
20 20
10 10
1 2 3 4 5 6 7 1 3 5 7 9
Quantidade de cimento, %
80 80 SAz - 1 Ca - Montmorillonite
STx - 1 Ca - Montmorillonite
Texas (USA) Arizona - USA
70 70
60 60
Variação volumétrica, %
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
5 10 15 20 25 5 10 15 20 25
Quantidade de cimento, %
87
Cimento Tempo decorrido (dias) Variação
Amostra
% 0 1 3 7 10 volumétrica
3 18 40 50 50 48 178
18 6 18 51 54 52 50 200
9 19 61 60 60 56 221
850676 12 22 68 65 62 60 209
15 21 68 64 63 63 208
3 22 26 32 48 46 118
4 5 22 36 54 54 54 145
7 20 37 56 58 55 190
850699 9 20 38 56 57 55 185
12 22 37 57 59 55 168
3 20 30 - 52 52 160
22 6 22 40 - 60 59 173
9 20 42 - 62 62 210
840392 12 21 44 - 62 62 195
15 26 50 - 70 68 169
3 24 35 34 33 32 46
25 6 24 60 70 68 62 192
9 25 78 72 70 65 212
840616 12 25 78 71 70 64 212
15 26 75 72 69 65 188
0,5 52 51 52 48 - 0
KGa-1 1 80 79 95 92 - 19
2 62 84 84 84 - 35
Kaolinite 3 84 84 100 92 - 19
(Geórgia) 5 91 90 102 98 - 12
7 90 90 98 94 - 9
3
Tabela 2 – Leituras volumétricas (cm ) e variações volumétricas (%) máximas das misturas de solo-
cimento sedimentadas.
88
CAPÍTULO 6 – ESTABILIZAÇÃO DE AREIA COM CAL E CINZA VOLANTE – PISTA
EXPERIMENTAL DE SANTA CATARINA
6.1 – Introdução
Gases sem
cinzas volantes
Caldeira
Tremonha de estocagem
de cinzas volantes
Cinzas volantes
Cinzas de
fornalha
6.2 – Materiais
Pinto (1971) utilizou areia de duna da planície de Jacarepaguá; Nardi (1975) e Marcon
(1977) areia das dunas costeiras, próximas de Imbituba, SC. As granulometrias estão na Tabela 1. A
ação pozolânica dá-se entre a cal e a cinza volante; a areia pura não interfere na reação. As
características químicas e físicas das cinzas e do cimento estão na Tabela 2
89
Tabela 1 – Granulometria das areias (% que passa)
Peneira nº (mm) Rio de Janeiro Santa Catarina
16 1.2 100 100
30 0.6 86 – 79 100
40 0.42 42 – 37 100 – 99
50 0.3 7–5 95 – 76
60 0.25 4–3 83 – 51
100 0.15 2–0 8–2
200 0.075 0 1–0
2,0
M'In
Peso específico seco, s, g/cm3)
M'Ii
1,9
M Ii
1,8 M In
M IIi
M IIn
1,7
M IIIi
MIIIn
1,8
1,8
0 5 10 15
Teor de umidade de moldagem, %
S – areia;
L – cal;
F – cinza volante (fly ash)
A – agregado graúdo (brita de gnaisse; porcentagens que passam: 25.4mm (100%), 19.0mm (99%);
12.7mm (48%); 9.5mm (13%); 4.8mm).
n – normal ou padrão (Proctor)
i – intermediário (2,2 x energia Proctor)
m – A.A.S.H.T.O modificado
Os corpos de prova depois da cura na estufa foram imersos na água por 24 horas. Para cada
ponto da curva de compactação, moldaram-se três corpos de prova. A compressão axial fez-se à
velocidade de 1,5 mm/min. Ensaiou-se à compressão diametral uma mistura à qual se acrescentou
brita. O módulo de elasticidade estática definiu-se pela secante da curva tensão-deformação, para
metade da tensão de ruptura. Obteve-se o módulo dinâmico com um aprimoramento de vibração e
calculado a partir da frequência de ressonância; a aparelhagem era da DER-RJ onde o autor
trabalhara durante longo período em excelente companhia.
Estudou Marcon (1977) três métodos: o da Portland Cement Association e ASTM (DSS 9),
o da Universidade de Iowa que utiliza corpos de prova de 10 x 20 cm ao invés de 5 x 5 cm como era
comum, e um novo procedimento proposto pelo mestrando de então. No primeiro método os corpos
de prova do tamanho usado no ensaio de compactação Proctor normal são curados por 7 dias,
91
seguindo-se imersão, secagem e escovação, num total de 12 ciclos de 48 horas cada (5 horas de
imersão, 42 horas de secagem na estufa e 1 hora de escovação e operações de pesagem),
determinando-se a perda de peso após cada ciclo. No método de Iowa os corpos de prova são
submetidos à cura de 14 dias, a seguir a ciclos de 2, 4, 6, 8 e 12 dias de imersão e secagem a
temperatura ambiente do laboratório e, finalmente, compressão até a ruptura; outros corpos de
prova são igualmente curados a iguais idades e, a seguir, comprimidos, sendo que a razão das
resistências, nas mesmas idades, de corpos de prova ciclados e os normalmente curados serve de
medida da durabilidade.
10
Resistência à compressão (kgf/cm2)
M'IIIi
50
40
M IIIi
30
M'IIi
M IIi
20
M'Ii
10
M Ii
M'IIi
0 5 10 15
Teor de umidade de moldagem, %
92
40
30
M'Ia
M'Ic
20
M'Ia
M'Ib
M'Ia
10
0
2 3 4 5 6
15 16 17 18 19
7,5 5,3 4,3 3,6 3,2
cal
cal + cinza volante
(cal + cinza volante)/cal
Figura 4. Efeito do calor da cal na resistência
Na Figura 4 mostra-se que para o mesmo teor de cal (13%) a inflexão da curva de resistência
dá-se à volta de 4% de cal e que mais de 5 a 6% de cal é desnecessário, o que é importante face ao
preço da cal ficar perto do preço do cimento portland (1977). A mais alta resistência a 28 dias
obtém-se com a mistura de areia 53%, cal 4%, cinzas 13%, pedra 30%, cimento portland de 1% em
relação aos demais insumos: 62kgf/cm2; é apenas um dado ilustrativo.
Como curiosidade e para mostrar a louvável completitude da pesquisa dos três mestrandos
de então, são aqui reproduzidas as Figuras 5, 6 e 7. Referem-se, respectivamente, a efeito do tempo
de cura na resistência (misturas usadas na pista), ensaios de durabilidade (PCA e Iowa) e
comparação de ensaios estáticos e dinâmicos quanto ao módulo em função do tempo de cura (8th
Int. Road Federation World Meeting 1977, Japão).
M3
40
Resist. max. à comp. simples
M4
30 M2
(kgf/cm2)
20
M1
10
0
0 7 14 21 28
Dias de cura (24 ± 2°C)
93
M'I
30
Perda de peso, %
20
M'II
10
M'III
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Número de repetições
100
M'III
92
M'II
Perda de resistência, %
80 84
M'I
70
60
40
Método Iowa
20
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Número de repetições
18 M'III
16
Módulo de elasticidade, kgf/cm2 x 104
M'II
14
M'I
12
M'II
M'III
10
M' I
8
4
Dinâmico
2
Estático
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tempo de cura, dias
94
6.6 – A Pista Experimental de Santa Catarina
Descrição Sumária
Foi construída no último trimestre de 1976 pelo DNER através do 16º Distrito Rodoviário
Federal, entre os kms 261 + 510 m e 282 + 500 m, da BR-101, na localidade de Nova Brasília,
Município de Imbituba. O trecho construído em “by-pass” tinha um comprimento de cerca de 1000
metros, com 12 trechos de teste em tangente, de 54 metros cada. Eram, portanto, 648m de
pavimentos a serem testados e mais os acessos norte e sul. É uma região de dunas de areia e fica
próxima à usina termoelétrica da SOTELCA, perto de Tubarão. Vide Tabela 4 dos doze subtrechos,
aos quais se acrescentam os acessos norte e sul.
Parte da base estabilizada foi cortada após Uma vista geral do trecho. As seções com
vários anos de uso, quando da reformulação presença de cimento apresentaram trincas de
geométrica do trecho foi colocada como um retração logo nos primeiros meses, que foram
“monumento” na faixa de domínio (foto de seladas e não evoluíram durante o período de
1996). acompanhamento (foto de 1981).
95
Tabela 4 Perfil longitudinal da pista experimental de Santa Catarina
SUL NORTE
MISTURA 1 (54 MISTURA 1 (56 MISTURA 1 (54 MISTURA 1 (54 MISTURA 2 (54 MISTURA 2 (54 MISTURA 3 (54 MISTURA 3 (54 MISTURA 4 (54 MISTURA 4 (54 BRITA BRITA
m) m) m) m) m) m) m) m) m) m) GRADUADA GRADUADA
(54 m) (54 m)
BASE BASE
21 cm 22 cm
BASE BASE BASE
15 cm 16 cm 24 cm
BASE BASE BASE BASE BASE BASE
31 cm 21 cm 19 cm 28 cm 31 cm 21 cm
MISTURA 1 (54 MISTURA 1 (56 MISTURA 1 (54 MISTURA 1 (54 MISTURA 2 (54 MISTURA 2 (54 MISTURA 3 (54 MISTURA 3 (54 MISTURA 4 (54 MISTURA 4 (54 BRITA GRADUADA BRITA GRADUADA
SUB TRECHOS m) m) m) m) m) m) m) m) m) m) (54 m) (54 m)
Revestimento
5 5 5 10 10 5 5 10 10 5 5 10
Asfáltico (cm)
Base (cm) 21 41 31 21 19 28 22 15 16 24 31 21
Sub-base (cm) 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
Aterro (cm) 59 39 49 54 56 51 58 60 59 56 49 54
Areia 83 83 83 80 ---
Cal 4 4 4 7 ---
Cinza 13 13 13 13 ---
Espessura granular e
equivalente do 41 61 51 51 49 48 52 45 46 44 51 51
pavimento (cm)
96
A descrição acessível mais completa da pista é a da Professora Laura Maria Goretti da
Motta, intitulado “Observações sobre a pista experimental de Santa Catarina (areia-cal-cinza
volante)”, apresentado à 16ª Reunião Anual de Pavimentação, ABPv - Recife, 1981.
O subleito da pista é de aterro de solo arenoso local de CBR de 15%, a sub-base de solo
residual de gnaisse de CBR de 33% e espessura de projeto de 10 cm. Fixou-se em 4 x 107 repetições
do eixo de carga equivalente de 8,2 tf, o número de projeto para 10 anos. Era o procedimento de
dimensionamento do DNER do então, em que se adotaram coeficientes estruturais que variaram de
1,0 a 1,4 para as camadas de sub-base e base, e de 2,0 para o revestimento. Era como se
transformava em espessuras granulares equivalentes. Era o ano de 1976, quatro décadas atrás. No
caso, a espessura granular equivalente da estrutura na pista varia de 44 a 51 cm, predominando 51
cm, salvo os sub-trechos 1 e 2 admitidos sub e superdimensionados e de espessuras granulares
equivalentes de 41 cm a 61 cm.
Adotou-se o valor do tráfego médio diário de projeto de 4500 veículos, sendo 54% de carros
de passeio, 41% de caminhões e 5% de ônibus, o que resultou num número de projeto de 4 x 107
passagens de eixo padrão de 8,2 tf em 10 anos. Pelas contagens do tráfego na pista em 6/1979 e
5/1980 verificou-se que estas estavam próximas ao valor de projeto. Dados estatísticos condizentes
com estes foram observados em Tubarão e Araranguá. Portanto, para a verificação do número N de
solicitações já ocorrido no trecho experimental tomou-se o mesmo VMD de projeto (4500 veículos
diários).
Foram feitas duas pesagens na pista, sendo a primeira incompleta; a segunda em dezembro
de 1980. No relatório original dispõem-se de curvas de pesagens (% dos eixos) dianteiros e traseiros
versus peso do eixo (tf) de ônibus (7 e 10 tf), caminhão leve (5 e10 tf), caminhão pesado (5 e 17 tf),
semirreboque de eixo traseiro simples (5 e 10 tf), semirreboques: o eixo traseiro duplo (17 tf)
semirreboque de eixo traseiro triplo (25,5 tf).
Vamos, agora, aos dados da construção. A camada de base foi construída com 5 diferentes
misturas.
O acesso sul teve base de brita graduada e a norte de mistura cal-cinza-cimento portland comum e
cal-cinza-areia.
7- Medição de pressão total em vários níveis do pavimento com células do tipo Nottingham,
inseridas no pavimento durante a construção; medição por ocasião das provas de carga de
pneus; os fios ligados aos extensômetros elétricos da célula vão ter as caixas de terminais no
acostamento.
10- Deformada da superfície (bacia de deflexão) em provas de carga de rodas pneumáticas, com
o Deflectógrafo LNEC, registro automático.
13- Extração de corpos de prova com sonda rotativa de revestimento e ensaios de laboratório.
Esta experiência de campo deveria trazer inspiração para outros trechos experimentais. Mas
seu objetivo principal foi, sem dúvida, verificar o comportamento de misturas do tipo areia, cal e
cinza volantes de uma satisfatória experiência de laboratório, tendo duas espessuras de revestimento
usual de concreto asfáltico de 5 e 10 cm, para outra de construção de misturas pozolânicas,
incluindo: compactação, cura, equipamento apropriado, etc. Ao ensejo adquirir certo traquejo de
instrumentação de pavimentos.
98
Considerem-se alguns aspectos da construção. A plataforma (subleito) do trecho
experimental era em aterro de solo arenoso local, de CBR = 15%. A sub-base era de solo residual
de gnaisse, CBR = 33%, obedecendo às Especificações Gerais de DNER, A espessura de projeto da
Sub-base fixou-se em 10 cm em toda a extensão do trecho.
2- A mistura considerada básica, (83% de areia, 13% de cinza volante e 4% cal – vide
Figura. 7) apresentou comportamento satisfatório para o mínimo de repetições de carga
de eixo padrão no período de projeto, seja N = 6 x 107, na espessura de 31 cm de base
com 5 cm de revestimento asfáltico.
6- Os componentes da mistura podem ser misturados a seco desde que a usina seja do tipo
solo-cimento.
7- Os silos para alimentação da cal e da cinza deverão ser fechados, com disponibilidade de
carregamento a granel, e com dispositivos de alimentação apropriados para garantir a
proporção correta dos constituintes na mistura.
8- A mistura úmida deverá ser espalhada na pista com a utilização de uma distribuidora
mecânica, a fim de obter espessura uniforme em toda a extensão da camada.
9- Após compactação a camada deverá ser coberta com lençol plástico, ou por outro
processo apropriado, para manter a umidade necessária ao desenvolvimento da reação
pozolânica.
10- Areias de duna podem ser estabilizadas com 4 a 6% de cal hidratada para teores de cinza
em torno de 13%, em peso.
A operação de compactação foi iniciada logo após o espalhamento da mistura com um rolo
de pneu (SP-6000) de pressão variável. A pressão inicial do pneu era de 40 1b/pol2 e a final 80
1b/pol2, sendo necessário cerca de 8 passadas do equipamento para atingir o grau de compactação
de 100%, em relação a massa específica seca máxima, correspondente à energia do ensaio Proctor
intermediário.
Terminada a operação de compactação, a camada era logo coberta com lençol plástico
durante um período de cura de 7 dias, com o objetivo de manter a umidade necessária ao
desenvolvimento da reação pozolânica ou cimentação. Nos subtrechos 1, 2, 3 e 4 observou-se a
presença de alguns borrachudos decorrentes do excesso de umidade na mistura, que foram
escarificados e recompactados. Nos sub-trechos 5 e 6 o vento muito forte, frequente na região,
arrastou os lençóis de plásticos, deixando a base desprotegida por algum tempo, o que provocou o
carreamento dos finos ainda não perfeitamente cimentados, trazendo uma redução na espessura da
camada de base de cerca de 4 cm.
100
O revestimento betuminoso do trecho foi de concreto asfáltico preparado em usina
volumétrica Barber-Greene com unidade graduadora, espalhado por vibro-acabadora e compactado
com rolo de pneu de pressão variável. Em vista do dimensionamento e como termo comparativo os
sub-trechos receberam revestimento de 5 cm e 10 cm.
A hematita Fe2O3 e magnetita Fe3O4 ocorrem com baixa frequência em todas as cinzas
estudadas e provêm da decomposição e oxidação de pirita, marcassita e pirrotita dos carvões. Os
teores mais altos foram observados nas cinzas das termelétricas de Figueiras (PR) e São Jerônimo
(RS).
102
CAPÍTULO 7 – ESTABILIZAÇÃO DO SOLO LATERÍTICO COM ÁCIDO FOSFÓRICO
H3PO4
7.1. Generalidades
Na engenharia tem-se estudado a solidificação química dos solos finos com ácido fosfórico e
outros compostos de fósforo. O resultado desse tratamento é a formação de fosfatos de ferro e de
alumínio no solo. A fórmula exata dos compostos resultantes depende do pH do meio e dos íons
existentes na solução. Os compostos resultantes são duros e bastante insolúveis.
A reação se dá até que as concentrações de Al3+ e H2PO-4 em equilíbrio com suas fontes
respectivas sejam iguais às concentrações em equilíbrio com o produto fosfato.
O Fe também forma fosfatos semelhantes, sendo que o óxido de ferro livre propicia esta
reação. Daí o interesse que se teve na COPPE em pesquisar a estabilização de solos lateríticos com
o ácido fosfórico, com perspectivas que se afiguravam bem melhores do que nas regiões de clima
temperado ou frio e solos não-lateríticos. Estas possibilidades técnicas foram confirmadas na tese de
Hugo Nicodemo Guida – “Estabilização de um solo laterítico fino pelo ácido fosfórico”, defendida
a 3/9/71.
A principal fonte de ferro é o óxido de ferro livre; não existe muito Fe na estrutura cristalina
dos argilominerais visto que este elemento se oxida facilmente.
103
A reação do ácido fosfórico com os minerais é rápida enquanto existir a alumina e o óxido
de ferro, livres; a velocidade da reação diminui a seguir, dependendo da dissolução do mineral
argílico, o que, por sua vez, depende do pH. Os pH ótimos estão entre 2 e 4, seja ácido. O processo
aplica-se preferivelmente a solos com quantidade apreciável de finos. Com solos lateríticos finos,
pequenas porcentagens de ácidos, da ordem de 3 a 5% dão bons resultados.
A cimentação produzida pela reação do ácido fosfórico com as fontes de alumínio e ferro
resulta em aumento da resistência à compressão simples, modo usual de avaliar este tipo de
estabilização. O peso específico aparente para alguns solos cresce e para outros pouco varia ou
diminui um pouco. Solos muito plásticos reagem mal pela dificuldade de o reagente penetrar nos
grumos. Os solos finos, siltosos, pouco argilosos são os mais indicados. Se o Al e o Fe estiverem
predominantemente sob a forma de óxidos livres a reação será mais rápida do que se constituírem
parte de argilominerais, e, em curto prazo, as resistências crescem bastante. A reação rápida pode
prejudicar a densificação como se tem observado em solos que contém óxido de ferro livre, o que é,
entretanto, compensado pela elevada rigidez obtida.
30
Rcs (kgf/cm2)
20
10
0 30 60
T(horas)
(a) Silte argiloso, de Massachusetts, fração de diâmetro inferior a 0,01 mm 22%, e a 0,002 mm
10%; quartzo 35%, feldspato 20%, ilita 30% (Michaels et al; Ind. and Eng. Chemistry, junho
1958). Com 5% ácido fosfórico.
104
30
Rcs (kgf/cm2)
20
10
0 7 14 28
T(dias)
(b) Solo laterítico fino (terra roxa de alteração de diabásio, de Campinas, SP), 70% passa na
peneira 200, LL = 43, IP = 15 ML, A-7-6, gibsita, caulinita e 20% de óxido de ferro livre
(tese de Hugo Guida, 1971, COPPE). Com 5% de ácido fosfórico
A forma da curva em (a) indica reação de cimentação em duas etapas: primeiro a reação do
ácido com o solo dando um produto intermediário não-cimentante, e, depois, a transformação
gradual deste produto intermediário no cimento que adere à superfície dos grãos de solo
interligando-os.
A compactação deve ser feita na umidade ótima, sendo umidade aqui considerada teor de
fluidos. Nos estudos já realizados não se notou degradação ou intemperização das misturas com a
idade. Nos solos que contêm carbonatos há que utilizar parte do ácido para neutralizá-los
(observam-se valores de 1,25% para esse fim).
Se o P2O5 (pentóxido de fósforo) for utilizado ao invés de ácido, ele reagirá com a água e
resultará o ácido. Outra possibilidade é o emprego de rocha fosfatada com ácido sulfúrico,
resultando o ácido fosfórico.
O teor de fluídos para o qual se verifica a resistência máxima costuma ser inferior ao teor
ótimo de umidade da curva de compactação.
Amostra A – Solo residual de diabásio (terra roxa); cerca de 20% de Fe2O3 livre; de Campinas, SP.
Composição mineralógica: gibsita, caulinita, óxido de ferro livre (goetita e pouca
hematita).
LL = 43; IP = 15, % passante peneira 200 = 70, A-7-6, ML, razão sílica-alumina 0,91.
(Foi a amostra estudada na tese de Guida)
105
Amostra B – Solo laterítico fino, de Anápolis, Goiás.
Composição mineralógica: goetita, caulinita, gibsita.
LL = 48; IP = 19, % passante peneira 200 = 90, A-7-6, CL, razão sílica-alumina 0,78,
razão sílica-sesquióxidos 0,69.
Neste estudo prepararam-se soluções com ácido fosfórico contendo 85,4% de H3PO4,
densidade 1,678, diluído na água de tal modo que para o teor de umidade previsto (h = Pa/Ps)
resultasse a porcentagem ponderal de ácido (Pácido/Ps) desejada. No estudo principal com a amostra
A foram utilizados 5 teores de ácido: 1 – 2 – 3 – 4 e 5%; para a curva completa de resistência à
compressão simples contra o teor de umidade de moldagem foram necessárias 25 soluções
diferentes. Os corpos de prova cilíndricos tinham 50 mm de diâmetro por 50 mm de altura,
moldados com o equipamento prescrito pela Portland Cement Association para solos finos e
introduzidos no nosso meio pelo Eng.º Carlos Souza Pinto, de São Paulo. Utilizaram-se três
energias de compactação (Proctor normal, intermediário e modificado). Ensaiaram-se cerca de 500
corpos de prova, cada ponto em triplicata. A amostra C, de cascalho, foi moldada em cilindro
Proctor. A cura dos corpos de prova, dentro de sacos plásticos, na câmara úmida, a 28ºC 2ºC foi
feita por período de 7, 14 e 28 dias, no último dia, antes da compressão, ficavam imersos n’água.
Isto pode ser devido à formação rápida de ligações resistentes entre as partículas do solo,
agregando-as e impedindo que se acomodem.
solo puro
1,6
solo H3PO4
(g/cm3)
Amostra A,
1,5 energia Proctor
normal
0 22 23 24 25
W(%)
106
b) As resistências à compressão simples crescem com a percentagem do ácido.
c) A evolução da RCS com idade de cura apresenta o ponto baixo a 14 dias já comentado no
item 3.
A reação é tanto mais rápida quanto maior a quantidade de óxido de ferro livre.
A tese de mestrado de Hugo Guida é de 1971 e refere-se ao solo coletado em Campinas, SP,
por indicação do orientador, o qual considerou a composição do mesmo muito favorável aos
experimentos-solo residual de rocha tipo basáltico, conhecido como “terra roxa”. O autor da tese era
à época, Cel. Eng.º do Ministério de Aeronáutica.
Budny (2018) retomou este assunto do uso do ácido fosfórico para estabilização de solo
tropical, combinando também com cinza de casca de arroz. Ensaios de módulo de resiliência foram
usados para definir as melhores combinações dos dois resíduos.
Estas teses e outras citadas no Anexo estão disponíveis na página www.coc.ufrj.br.
107
CAPÍTULO 8 – SOLO – BETUME E SOLO – CLORETO
8.1.1. Introdução
1- Mistura íntima: cada partícula de solo é envolta por uma película betuminosa.
1- Solo-asfalto: solo coesivo (pouco plástico) que o asfalto faz à prova d’água.
4- Tratamento de óleo: a superfície de uma estrada de terra tem sua resistência à água e ao
desgaste aumentadas pela aplicação de asfalto diluído de cura lenta (“road oil”).
108
8.1.5. Materiais Comumente Utilizados
d d
0
2
4
%
de
6
as
fa
(segundo alguns
lto
autores)
teor de fluido
(água + asfalto) teor de fluido
109
b) Resistência-compressão simples de corpos de prova compactados e curados.
Rcs
teor de asfalto
Outros ensaios: Índice de Suporte Califórnia (CBR), penetração de cone (corpos de prova de
50 mm de diâmetro), ensaio Flórida para areia-asfalto, etc.
c) Absorção de água
28 dias de
embebição
Absorção
4%
d) Mistura
Absorção
0 2 4 6 8
Tempo da mistura
110
e) Cura
É a evaporação de voláteis dos asfaltos diluídos e de água das emulsões. As opiniões variam
quanto aos benefícios de uma cura maior ou menor antes da compactação. O arejamento é sempre
conveniente antes da compactação e de se colocar a camada seguinte.
Vários aditivos químicos têm possibilidade de permitir a estabilização de solos finos com
ligantes betuminosos. Reporta-se aqui ao estudo de Michaels e Puzinauskas, do M.I.T., publicado
no Boletim 129, do T.R.B., 1956. Solo estudado: silte argiloso com 31% passando peneira. Nº 200,
argilo – mineral predominante ilita, LL 20%, IP 5%, hot 12%, ysmax. 1,97. Ligantes: asfaltos
diluídos de cura rápida e emulsão asfáltica. Aditivos estudados: pentóxido de fósforo (P2O5) – 0,25
a 0,5% em relação ao peso de solo seco, com asfalto diluído; sabões e aminas em emulsões
asfálticas catiônicas; e aminas como adesíforos em asfalto diluído.
A = % retido na peneira. Nº 10
P = % de asfalto.
Em torno desse valor varia-se a porcentagem de asfalto para o estudo das propriedades
físicas e mecânicas da mistura, levando-se em conta o tipo de ligante para conhecer o asfalto
residual.
111
3. Tendência a absorver água, através de ensaios: absorção por capilaridade (TRRL), a imersão
completa (é demasiadamente severa) banho de areia, e susceptibilidade ao vapor d’água
(Califórnia).
corpo-de-prova corpo-de-prova
areia
lâmina metálica
água
feltro
água
banho de areia
4. Resistência determinada por um dos ensaios seguintes: CBR (80% ou mais), Hubbard Field
(para areias e solos finos), suporte Florida (para areias), estabilômetro de HVEEM (melhor
avaliação do efeito dos finos e do teor de asfalto), o cone de penetração, e a resistência à
compressão simples.
Na célebre pista experimental de AASHO, a comparação das bases estabilizadas com a base
granular revelou:
20
brita
15
o
10 ent
cim
com
lto
asfa
com
5
0
12 16 20 24 28 30
Não se pode generalizar esta conclusão, pois depende dos materiais empregados e tipo de subleito
(o da AASHO era muito resiliente).
112
Na Argentina era bem sucedida a construção de bases de mistura solo calcário-areia-asfalto,
com 8 a 9% de CAP 70-100, e a estabilidade determinada no aparelho Marshall. A mistura tem as
características de uma argamassa asfáltica diferente do concreto asfáltico.
1- Membrana de proteção
pavimento
aterro
compactado
membrana
asfaltica
Experiência em aterros de argila plástica em Houston, Texas. Uso de asfalto oxidado (“air
blown catalyst”) de penetração 50-60, desenvolvido para uso em canais, à razão de 4,5 1/m2 solo,
compactado no hot ou pouco abaixo.
Asfaltos diluídos de cura lenta e cura média, graus 1 e 2 . A penetração é de cerca de 2,5 cm,
e o consumo 4,5 1/m2, em duas ou mais aplicações. Antes da pintura poderá ser necessário
umedecer a superfície.
3- Espuma de asfalto
8.2. Solo-Cloreto
8.2.1. Generalidades
Os cloretos de sódio e cálcio são usados nos EUA desde o começo do século XX como
paliativos contra o pó nas estradas de terra. Esses sais mantêm as estradas umedecidas nos períodos
secos, visto que eles retardam a evaporação e atraem a umidade do ar. São bastante comuns:
salgema, água do mar, salmouras naturais, salmouras artificiais refugadas do processo Solvay
(fabricação do carbonato de sódio com emprego da amônia, a partir do NaCl e do CaCO 3). Os
cloretos são lixiviados ou carreados pela água quando expostos nos leitos das estradas, ao fim de
certo tempo. As superfícies de estradas de terra ou encascalhadas devem ser tratadas uma ou duas
113
vezes por ano à razão de cerca de 0,5 kg/m2 a 1 kg/m2 a fim de manter a concentração de sal. A
porcentagem em peso usual é de 0,5 a 1%. Em camadas de base há menos lixiviação do sal, sendo
este aplicado à razão de 1 kg de sal por m2 para cada 5 cm de espessura da camada compacta.
Vejamos as umidades relativas para as quais os cloretos começam a absorver água do ar:
25 100% U.R.
23,8
Pressão de vapor, mmHg a 25°C
15 B"1
B"
50%
10
7 A cristal
25%
5 solução
saturada
38
0 20 40 60 80 100
% CaCl2.2H2O em solução
Sobre a curva há o equilíbrio, i.e., a pressão de vapor d’água da solução salina iguala-se à pressão
de vapor d’água da atmosfera. Não há absorção da água da atmosfera diluindo a solução.
114
Se ∆HR > 0 há instabilidade; restabelecido o equilíbrio pela absorção de água do ar, o que
acarreta diluição da solução.
A higroscopicidade ou quantidade final de água absorvida será bastante para reduzir a tensão
de vapor da solução ao mesmo valor da tensão de vapor da água na atmosfera.
Vê-se pela figura 1 que para U.R. de 75% na atmosfera, a solução de cloreto absorverá água
até que sua tensão corresponda ao ponto B. Neste ponto a solução terá 100 – 31 = 69% de água. Se
a umidade relativa diminuir aquém de 75%, cessa á absorção, e a água passa a evaporar-se, e há
recristalização do sal.
b) Tensão Superficial
50
Aumento da tensão superficial
HgCl2 a 20°C
40
COCl2 a 25°C
30
20
NaCl a 20°C
10
0 10 20 30 40 50 60
% Cloreto anidro em solução
O Ca++ vai flocular a argila; entretanto, para os tipos de solo que se costuma tratar com
CaCl2 não é de relevância este mecanismo de estabilização. Já o NaCl tenderia a dispersar a argila
tornando-se mais expansiva, poderia, contudo, trazer o benefício de vedar os poros evitando perdas
por lixiviação.
d) Lubrificação
115
do NaCl deve-se também, à dispersão, o que tem inconvenientes (fica mais pegajosa e mais difícil a
mistura).
e) Cristalização
Embora a umidade relativa do ar no solo costume ser elevada, é frequente, em tempo seco, a
cristalização do sal numa espessura de alguns milímetros da superfície da estrada. Numa base, mais
dificilmente se verificará isto. A cristalização é o mecanismo da estabilização pelo NaCl.
40
NaCl
Ponto de congelamento, °F
20
HgCl2
0
-20
CaCl2
-40
-60
0 10 20 30 40
% Cloreto anidro na solução
8.2.3. Ensaios
Benefícios:
116
2. Aumento da massa específica aparente seca na compactação
3. Tensão superficial acrescida provoca aumento da γs durante a cura
4. Os íons Ca++ podem melhorar as propriedades de argila montmorilonita
5. Abaixamento do ponto de congelamento
Limitações
Benefícios
Limitações:
117
COMENTÁRIOS FINAIS
É o Prof. Casanova o responsável, dentro e fora do nosso país, pelo “tijolo ecológico”. Ele
tem viajado pelo mundo afora na implantação deste tipo de tijolo. Alguns munícipios já se têm
aventurado na construção de casas populares com este tipo de tijolo; no exterior, também. É um
esforço humanitário no sentido da “Casa Comum”...
A físico-química desenvolveu-se a partir dos fins do século XIX, graças aos trabalhos de
Ostwald sobre eletroquímica. A sua evolução foi, no início, predominantemente marcada pela
evolução da química de que era fortemente subsidiária (em alguns textos ainda se usa a
determinação químico-física, para assinalar esta dependência). A rápida expansão da física e a
diversificação de um domínio mostraram a necessidade de uma ciência de fronteira em que tanto a
física como a química, tivessem importância e contribuíssem simultaneamente para a resolução dos
seus problemas. Atualmente, é flagrante a predominância dos processos físicos, não só na
investigação experimental, como na análise teórica dos fenômenos físico-químicos.
119
ANEXO 2
1- “Estabilização de areia com adição de cal e cinza volante” Salomão Pinto, 3/1971.
2- “Estabilização de um solo laterítico fino pelo ácido fosfórico” Hugo Guida, 9/1971.
3- “Solos expansivos; sua estabilização com cal” – Juan J. Menéndez G., 3/1973.
4- “Estabilização de areia com cal e cinzas volantes; estudo do efeito da adição de cimento e
de brita” – José Vidal Nardi, 12/1975.
10- “Estudo comparativo entre o método mecânico e o método físico-químico para dosagem de
solo-cimento” – Márcio Alvarado E., 5/1991;
12- Franklin José Chaves. “Estudo de misturas de areia asfalto a frio em pavimentação de baixo
volume de tráfego no estado do Ceará - contribuição ao método de dosagem”. 2010. Tese
(Doutorado em Engenharia Civil) - Universidade Federal do Rio de Janeiro
13- César Augusto Alves de Castro. “Estudo da técnica de anti-pó com emulsão de xisto em
pavimentos para baixo volume de tráfego”. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) - Universidade Federal do Rio de Janeiro
14- Giuseppe Miceli Junior. “Comportamento de solos do estado do Rio de Janeiro estabilizados
com emulsão asfáltica”. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes) -
Instituto Militar de Engenharia, Coorientadora: Laura Maria Goretti da Motta.
15- Valeria Vaca Pereira Soliz. “Estudo de três solos estabilizados com emulsão asfáltica”.
2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
120
16- Rodrigo Fidelis Viana de Oliveira. “Análise de dois solos modificados com cimento para
dimensionamento de pavimentos”. 2011. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Minas) -
Universidade Federal de Ouro Preto. Orientador: Laura Maria Goretti da Motta.
17- Louise dos Santos Erasmi Lopes. “Análise do comportamento mecânico e ambiental de
misturas solo-cinzas de carvão mineral para camadas de base de pavimentos”. 2011.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Coorientadora: Laura Maria Goretti da Motta.
18- Tamile Antunes Kelm. “Avaliação do uso de lodo de estação de tratamento de esgoto na
estabilização de materiais para pavimentação”. 2014. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) - Universidade Federal do Rio de Janeiro
20- Jaelson Budny. “Verificação do Potencial de Estabilização de um Solo Laterítico com uso
de Ácido Fosfórico, Ácido Cítrico e Cinza de Casca de Arroz”. 2018. Tese (Doutorado em
Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
121
ANEXO 3
Le rapport moléculaire S/R qui sert à la caractérisation géochimique des sols, fut etudié par
l’équipe de M. Vettori de l’Institut de Chimie Agricole il y a trente ans. La méthode développée fait
usage de l’acide sulfurique pour la détermination assez simples et rapide-du point de vue des
chimistes-des rapports ki et kr, au lieu du procédé lent et difficile de la fusion alcaline effectuée
directement sur la fraction argile (< 2µm). Des centaines d’essais ont montré la satisfaisante
comparation avec l’ataque sulfurique de la fraction terre fine (< 2mm).
Il est sûr que les valeurs de ki obtenus sur la terre fine sont plus grands que ceux determinés
sur l’argile, quand la méthode de l’acide sulfurique est appliquée pour des sols ayant dans leurs
fractions grosses des minéraux primaires qui peuvent subir encore des altérations; tels sont les
micas, les amphiboles et les pyroxènes. Pourtant, ce n’est pas le cas des horizons superficiels des
sols brésiliens. Prés de 65% des formations superficielles (voir A. Melfi e G. Pedro, Revue
Brésilienne de Géosciences, vol. 7, 1977) sont ferralitiques avec ou sans gibbsite.
Le vrai rôle de l’acide sulfurique (d = 1,47, à présent 1:1) c’est la destruction sélective du
liberée par l’ataque sulfurique est mise en solution par la NaOH – 0,5N, et sur l’extrait acide sont
faits les dosages du fer et de l’aluminium.
Pourtant, pour calcul de ki e kr, la silice c’est bien celle provenant des minéraux d’argile; la
silice primaire n’intervient pas.
L’observation selon l’aquelle le rapport S/R depends de la fraction du graveleux utilisée est,
pour sûr, correcte. Mais les résultats des déterminations sur la terre fine para la méthode usuel des
agronomes et géotechniciens brésiliens coincident suffisament avec les valeus obtenus pour le
complexe coloidal. Il faut se rendre compte aussi que les graveleux latéritiques, les carapaces et les
cuirasses, ne constituent pas l’objet des agronomes; pour ceux-ci ses formations ne sont pas des
sols, mais une “maladie”, tragiquement appelée” lèpre pedologique” ...
122
ANEXO 4
Algumas fotos do trecho experimental de areia-cal-cinza volante construído pelo IPR/DNER em
1977 em parceria com a COPPE/UFRJ.
Instrumentação
Leitor dos termopares inseridos no pavimento para medir temperatura
123
Medidor de umidade relativa do ar e de altura de chuva
124
Medição de deflexão com viga Benkelman (1978)
125
Pesagem de veículos com balança móvel (1978)
126
Vista geral das seções do trecho experimental (1978)
127