Mensagem Fernando Pessoa

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Segunda Parte- Mar Português desconhecido, que remetem para a face

oculta da realidade) e o mar posterior a esse


O Infante feito ("coral e praias e arvoredos",
O segundo dos dois poemas dedicados ao "Desvendadas", "Abria", "´Splendia" - palavras
Infante D. Henrique reforça a ideia do herói que contêm a ideia de descoberta).
mítico,o que obedece às suas ordens, A expressão "naus da iniciação" (v. 6) é uma
cumprindo a missão que lhe é destinada. referência às naus portuguesas que,
O primeiro verso do poema como impulsionadas pelos ventos do "sonho", da
paradigmático desta relação Deus/ homem "esperança" e da "vontade", abriram novos
/obra - "Deus quer, o homem sonha, a obra caminhos e deram início a um novo tempo.
nasce". A segunda estrofe é essencialmente
Este homem, o infante, é escolhido por descritiva. Essa descrição é feita por
Deuspara: aproximações sucessivas, de um plano mais
-unir a terra afastado para planos mais próximos.
-desvendar os mares"Que o mar unisse"; O sujeito poético, na última estrofe,
- possibilitar a descoberta de que a terra era apresenta uma definição poética de sonho:
redonda O sonho é ver o invisível, isto é, ver para lá
Os dois últimos versos do poema oscilam do que os nossos olhos alcançam (ver longe);
entre a euforia da constatação da grandeza do o sonho é procurar alcançar o que está mais
passado: "Cumpriu-se o Mar além (é esforçar-se por chegar mais longe); o
-o desencanto do presente "e o Império se sonho é alcançar/aceder à Verdade, sendo
desfez" que esta conquista constitui o prémio de quem
- e o apelo à construção de um Portugal novo, por ela se esforça.
numa já clara alusão ao mito do Quinto De salientar, aqui, o uso do presente do
Império - “Senhor, falta cumprir-se Portugal!" indicativo - "é" - que confere, a estes versos,
um carácter intemporal e programático.
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. No verso 1 da terceira estrofe temos o uso
Deus quis que a terra fosse toda uma, da antítese - ver/invisíveis.
Que o mar unisse, já não separasse. Nos versos 16-17 é reforçada a passagem
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
do abstrato ao concreto. Essa passagem é
E a orla branca foi de ilha em continente,
reforçada pela acumulação, no verso 17, de
Clareou, correndo, até ao fim do mundo, nomes concretos, precedidos de artigos
E viu-se a terra inteira, de repente, definidos: "A árvore, a praia, a flor, a ave, a
Surgir, redonda, do azul profundo. fonte".
Este poema apresenta-nos o sonho como
Quem te sagrou criou-te português. motor da ação dos Descobrimentos. É o
Do mar e nós em ti nos deu sinal. sonho que, movido pela esperança e pela
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
vontade, desperta no homem o desejo de
Senhor, falta cumprir-se Portugal!”
conhecer, de procurar a verdade.
“Horizonte” O título "Horizonte" evoca um espaço
O horizonte é símbolo do indefinido, do longínquo que se procura alcançar
longe, do mistério, do desconhecido, do funcionando, assim, como uma espécie de
mundo a descobrir, do objetivo a atingir. metáfora da procura, como um apelo da
Através da apóstrofe inicial, "Ó mar anterior a distância, do "Longe", à eterna procura dos
nós", o sujeito poético dirige-se ao mar mundos por descobrir.
desconhecido, ainda não descoberto/
navegado.
Na 1ª estrofe encontramos uma oposição
implícita. A oposição refere o mar anterior aos
Descobrimentos portugueses ("medos",
"noite", "cerração", "tormentas", "mistério" -
substantivos que contêm a ideia de
Ó mar anterior a nós, teus medos "Navegar não pode ser entendido apenas no
Tinham coral e praias e arvoredos. sentido literal. No poema, surge, também,
Desvendadas a noite e a cerração,
como metáfora de toda a procura.
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério Embora "ousada", a "obra é [sempre]
Esplendia sobre as naus da iniciação. imperfeita", por isso a exemplaridade do herói
reside, sobretudo, na sua atitude de
Linha severa da longínqua costa — permanente insatisfação diante do já feito. É
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
isto que o eleva acima da medida humana
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: comum.
E, no desembarcar, há aves, flores, O "eu" do poema é um herói predestinado: "A
Onde era só, de longe a abstracta linha. alma é divina", "O por-fazer é só com Deus",
"Só encontrará de Deus [...] / O porto sempre
O sonho é ver as formas invisíveis
por achar".
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade, O padrão não assinala a viagem conseguida,
Buscar na linha fria do horizonte pois o importante não é chegar, é partir. O
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte — padrão é o «marco sempre penúltimo da
Os beijos merecidos da Verdade. viagem começada».

Padrão O esforço é grande e o homem é pequeno.


O padrão é outro elemento que assinala não Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
só o terreno conhecido do desconhecido, mas Este padrão ao pé do areal moreno
a obra humana, a demanda de "O porto E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
sempre por achar". Neste poema, o sujeito
Este padrão sinala ao vento e aos céus
poético parece apontar na direção do novo Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
império, o quinto. O por-fazer é só com Deus.
Num discurso de primeira pessoa, Diogo Cão E ao imenso e possível oceano
assinala as oposições que norteiam a Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
demanda do desconhecido: Que o mar com fim será grego ou romano:
• o esforço é grande/o homem é pequeno; O mar sem fim é português.
• alma divina / obra imperfeita; E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
• parte feita / por-fazer;
Só encontrará de Deus na eterna calma
• o mar com fim / o mar sem fim. O porto sempre por achar. (poema padrão)
Aponta ainda os elementos constitutivos do
padrão:
• as quinas que ensinam que "O mar sem fim
é português":
•a Cruz que "diz que o que me há na alma" o
leva, metaforicamente, a
procurar "O porto sempre por achar".

Subjaz ao último verso de cada quadra a ideia


da eterna procura ("para diante"; "o por-fazer";
"o mar sem fim"; "sempre por achar") que se
liga à "febre de navegar", à ânsia, à
insatisfação.
Mais importante do que a imperfeita obra
realizada é o "por-fazer", é a necessidade de
navegar "para diante" , no "mar sem fim", na
demanda do "porto sempre por achar".
O Mostrengo consciência do lugar que ocupa e do que está
ali a fazer.
O texto abre com uma referência ao A princípio mostra-se medroso.
mostrengo (v. 1) e fecha aludindo a «El-rei D. Contudo, a pouco e pouco a determinação de
João Segundo!» (v. 27). que se encontra possuído vai vindo ao de cima
e ele assume a convicção de que ali não se
São exactamente eles os representantes das representa a si mesmo (v 22) mas a uma causa
duas forças que se contrapõem no texto: transcendente:
•o poder e os perigos do mar (forças da · A vontade do seu rei e a determinação do
natureza), representados pelo Mostrengo; seu povo (vs. 22 – 27).
• a determinação dos portugueses,
representada por El-rei D. João II. A tomada de consciência do homem do leme,
Ambos ocupam no texto um lugar de acerca do lugar que ocupa, é gradual:
destaque: · Da 1ª vez que responde ao mostrengo,
são referidos ao longo do poema por 3 vezes: mostra-se medroso – ele «disse, tremendo» (v.
Mostrengo – vs. 1, 12, 24; 8) e apenas responde «El-rei D. João
Rei – vs. 9, 18, 27. Segundo!» (v. 9)
· Da 2ª vez, nota-se uma evolução: «disse,
Os 3 versos em que é referida a pessoa do rei tremendo» para «tremeu e disse» (v. 17)
ocupam no poema a posição de refrão. O que · Da 3ª vez, tudo é diferente.
coloca D. João II em posição de superioridade Ele ainda se sentiu tentado a erguer as mãos
em relação ao Mostrengo. do leme, a desistir do lugar que ocupava (vs.
Ao Mostrengo é dado o privilégio de titular o 19/20), mas logo caiu em si
poema saindo assim valorizada a vitória de «E disse no fim de tremer três vezes (v. 21)
El-rei sobre ele. É o recuperar definitivo da coragem, o
Mas a contraposição de ambos não é feita assumir das responsabilidades de que se
directamente. encontrava investido.
O Mostrengo habita o mar, «está no fim do O homem do leme recobra energias, e o
mar» (v. 1), é o senhor do mar e dos seus mostrengo vai-as perdendo. É o domínio do
segredos (vs. 6/7), identifica-se com o mar mar que muda de mãos.
tenebroso e desconhecido (vs. 15/16). Quanto mais a presença do mostrengo se
Ao encontro desse poderio oculto, parte D. apaga, mais se revela a do homem do leme, de
João II, mas não directamente, através de um El-rei, do povo português.
intermediário que enviou em seu nome Þ o É a fase oculta do mar que se desvenda, o
homem do leme (Bartolomeu Dias). mundo até aí desconhecido que se vai revelar.
O confronto é pois estabelecido entre o Este poema é dominado pelo tom dramático
mostrengo e este último, que representa o rei que se consegue através de:
e, na pessoa do rei, todo o povo português. a) alternância do discurso directo-indirecto
Apesar das diferenças, ambas as b) grande tensão entre as duas personagens
personagens( mostrengo e adamastor) c) elevada tensão emocional
representam o mar desconhecido, os segredos d) dinâmica agressiva do texto
ocultos, o medo, os perigos que os portugueses e) ambiente de terror e mistério:
se viram obrigados a enfrentar. f) Atitudes sinistras do mostrengo:
g) Predominância das formas verbais e
O mostrengo com os círculos que tece em roda quase ausência de adjectivos denunciam a
da nau (vs. 3, 4, 12, 13, 25) parece querer sucessão incontrolável, dramática dos
asfixiar os portugueses com a sua presença. acontecimento.
Pretende provocar neles o medo e levá-los a
voltar para trás, a desistir do empreendimento Não esquecer o carácter épico deste poema.
começado.
O homem do leme, diante da garbosidade do
mostrengo, revela a humildade de quem tem
OS COLOMBOS
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
Este título plural é intencionalmente irónico,
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar, evocando o contencioso entre Portugal e
E disse: «Quem é que ousou entrar Espanha em volta da figura do navegador
Nas minhas cavernas que não desvendo, Cristóvão Colombo.
Meus tectos negros do fim do mundo?»
O sujeito poético alude então à falta de
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!» "Magia" do navegador, capaz de conferir
grandeza às descobertas - "o que a eles não
«De quem são as velas onde me roço? toca / É a Magia que evoca/O Longe e faz dele
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
história."
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso, O poema evoca ainda o exemplo que os
Que moro onde nunca ninguém me visse portugueses constituíram para outros
E escorro os medos do mar sem fundo?»
navegadores, de que Colombo é metonímia.
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Outros haverão de ter
Três vezes do leme as mãos ergueu, O que houvermos de perder.
Três vezes ao leme as reprendeu, Outros poderão achar
E disse no fim de tremer três vezes:
O que, no nosso encontrar,
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu; Foi achado, ou não achado,
E mais que o mostrengo, que me a alma teme Segundo o destino dado.
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme, Mas o que a eles não toca
De El-Rei D. João Segundo!»
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS É justa auréola dada
É o poema mais curto de Mensagem e canta a Por uma luz emprestada.
coragem do navegador, porque dominou o
mar- "Dobrado o Assombro" - e transformou o
mundo - "Atlas, mostra alto o mundo no seu
ombro."

Jaz aqui, na pequena praia extrema,


O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.

Ocidente
O poema refere-se à descoberta do Brasil, obra de Com duas mãos — o Acto e o Destino —
uma tempestade que teria desviado as naus de Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Cabral, a caminho da India, para ocidente. Uma ergue o facho trémulo e divino
Mais uma vez, a tarefa de descobrir, desvendar, E a outra afasta o véu.
demandar, é fruto da conjugação da vontade de Fosse a hora que haver ou a que havia
Deus e da ação do homem - "Com duas mãos - o A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Ato e o Destino-/ Desvendámos.": Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia
• Deus - "ergue o facho trémulo e divino": "Foi Da mão que desvendou.
alma a Ciência"; "Foi Deus a alma"; Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
• Homem - "afasta o véu"; "e corpo a Ousadia / A mão que ergueu o facho que luziu,
Da mão que desvendou."; "e o corpo Portugal" Foi Deus a alma e o corpo Portugal
O poema não deixa de referir as dúvidas Da mão que o conduziu.
associadas à descoberta do Brasil - "Fosse Acaso,
ou Vontade, ou Temporal".
Fernão De Magalhães MAR PORTUGUÊS
Trata-se de um poema narrativo que pretende
sublinhar a persistência do espírito aventureiro O poema abre com uma apóstrofe que indicia a
de Magalhães, mesmo após a sua morte. Na atmosfera emotiva do poema criada por aspetos
primeira estrofe, o sujeito poético faz-nos como:
visualizar um vale onde "clareia uma fogueira" e •a expressividade da enumeração de todos
"Uma dança sacode a terra inteira". A segunda quantos participaram na saga sofrida das
estrofe apresenta os protagonistas dessa dança descobertas;
- "os Titãs, os filhos da Terra," - que celebram a • o valor simbólico da circularidade da primeira
morte do marinheiro. estrofe - "Ó mar (...) ó mar!";
Nas terceira e quarta estrofes, refere-se o facto • a interrogação retórica que inicia o carácter
de os Titãs desconhecerem que "a alma ousada reflexivo da segunda estrofe;
/ Do morto ainda comanda a armada", numa •o mar como espaço de conciliação do perigo e da
recompensa;
clara afirmação da invencibilidade do marinheiro
• o mar como símbolo da conquista de absoluto.
herói.

No vale clareia uma fogueira.


Metáfora ⇒ «Por te cruzarmos...» (v.3) →
Uma dança sacode a terra inteira. Aponta para cruz, sofrimento.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão A primeira estrofe tem analogias claras com o
Subitamente pelas encostas, episódio das despedidas em Belém, narrado no
Indo perder-se na escuridão. Canto IV de Os Lusíadas. No entanto, a
globalidade dos dois textos transmite a ideia de
De quem é a dança que a noite aterra? que o sofrimento é inevitável em qualquer
São os Titãs, os filhos da Terra, conquista, e que a empresa das descobertas
Que dançam da morte do marinheiro constituiu um esforço nacional, envolvendo os
Que quis cingir o materno vulto — marinheiros e os que ficavam - mães, mulheres e
Cingi-lo, dos homens, o primeiro —, filhos.
Na praia ao longe por fim sepulto.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
Dançam, nem sabem que a alma ousada São lágrimas de Portugal!
Do morto ainda comanda a armada, Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Pulso sem corpo ao leme a guiar Quantos filhos em vão rezaram!
As naus no resto do fim do espaço: Quantas noivas ficaram por casar
Que até ausente soube cercar Para que fosses nosso, ó mar!
A terra inteira com seu abraço.
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Violou a Terra. Mas eles não Se a alma não é pequena.
O sabem, e dançam na solidão; Quem quer passar além do Bojador
E sombras disformes e descompostas, Tem que passar além da dor.
Indo perder-se nos horizontes, Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Galgam do vale pelas encostas Mas nele é que espelhou o céu.
Dos mudos montes.

ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA


Trata-se de uma verdadeira aparição, no sentido de
revelação: a figura do Argonauta emerge como um Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
eleito que, cumprida a sua mis são na terra,
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
ascende aos céus, tal como Cristo. Veja-se o modo Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
visual como é apresentada essa subida aos céus: Primeiro um movimento e depois um assombro.
• o movimento; Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.
• o assombro;
• o rugir das nuvens; Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
• os clarões. Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta.
Este poema é como que um espelho do episódio da
Ilha dos Amores de Os Lusíadas, uma vez que nos
dois textos o prémio consiste na comunhão do
herói com o transcendente.
A ÚLTIMA NAU Prece
O poema inicia-se com a partida da nau de D. O início do poema é uma invocação ao
Sebastião envolta num clima de "pressago / "Senhor", a quem é pedido que remoce "a
Mistério", ou seja, de mau augúrio. Essa
chama do esforço", para que "outra vez
partida não teve regresso - "Não voltou mais".
No entanto, o sujeito poético não tem certezas conquistemos a Distância". É claramente um
relativamente a esse não regresso e acredita pedido para que se realize o milagre, uma vez
que Deus exercerá a sua ação protetora - "Deus
guarda o corpo e a forma do futuro". O resto que Portugal está espiritualmente morto "a
do poema adota um tom notoriamente noite veio e a alma é vil". Esta morte de
sebastianista: Portugal «deve-se à "tormenta" e à "vontade!",
• crença na empresa do rei;
• fé no seu regresso; que esgotaram o país, mas não é definitiva,
• desejo de renovação da pátria; porque "O frio morto em cinzas" oculta a
• certeza de que o Império se manterá. chama que poderá reacender-se.

As duas últimas estrofes locais o retorno de Este poema, o último de Mar Português,
D.Sebastião, que o poeta diz ser certo embora reitera a ideia de outros escritores portugueses
não saiba quando. E ao regressar vem ainda de que o adormecimento de Portugal é
com a determinação de construir um império
universal (se bem que não material, mas do temporário e, um dia, o seu ressurgimento será
espírito como se depreende de outros escritos realidade.
de Fernando Pessoa). Os dois últimos versos do poema clarificam,

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,


assim, a ideia do mito do Quinto Império que
E erguendo, como um nome, alto o pendão anuncia uma nova era de conquista "Do mar
Do Império,
ou outra, mas que seja nossa!"
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério. Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Aportou? Voltará da sorte incerta
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
Que teve?
O mar universal e a saudade.
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
Mas a chama, que a vida em nós criou,
E breve. Se ainda há vida ainda não é finda.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta, O frio morto em cinzas a ocultou:
Mais a minha alma atlântica se exalta A mão do vento pode erguê-la ainda.
E entorna, Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou
E em mim, num mar que não tem tempo ou ânsia —,
espaço. Com que a chama do esforço se remoça,
Vejo entre a cerração teu vulto baço E outra vez conquistemos a Distância —
Que torna. Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.

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