(Livro 1) Meu Alfa Me Odeia - Natchan93
(Livro 1) Meu Alfa Me Odeia - Natchan93
(Livro 1) Meu Alfa Me Odeia - Natchan93
Acasalamento...
Imprinting...
Alma gêmea...
Amor verdadeiro
Ao crescer na sociedade dos lobos, ouvi muito essas palavras em nossa
aldeia.
Sim, você leu direito. Sociedade dos lobos.
Eu sou uma lobisomem. Acredite ou não, nós existimos. Na verdade,
a gente vive entre os humanos — fato totalmente ignorado por eles.
Normalmente, a gente anda por aí nas nossas formas humanas e
desenvolvemos a capacidade de nos transformarmos em lobos no nosso
aniversário de 18 anos.
E, quando isso acontece, encontramos nosso parceiro.
Funciona assim: a Deusa da Lua criou uma alma gêmea para cada um
de nós. E, quando a encontramos, não amamos ninguém que não seja
aquela pessoa para o resto de nossas vidas.
Porém, poucos de nós temos essa chance. Hoje em dia, é raro um lobo
conseguir encontrar seu parceiro.
Principalmente porque, a cada dia, somos menos e menos lobos,
graças à incessante perseguição de caçadores humanos e rastreadores
renegados.
Meus pais foram alguns dos poucos sortudos que conseguiram se
casar com seus parceiros.
Meu pai conheceu minha mãe em uma reunião das aldeias vizinhas,
e, logo de cara, se apaixonou profundamente por ela. Mas, infelizmente,
minha mãe morreu no parto — enquanto eu, Aurora Craton, nascia.
Na solidão do luto, meu pai se casou novamente, e sua segunda
esposa, que virou minha madrasta, passou a governar a família Craton.
Meu pai era um guerreiro da nossa matilha, o gama, para ser mais
precisa, mas, há cinco anos, ele morreu em ação.
Agora, eu estava a poucos dias de completar dezoito anos. E estava
nervosa com a expectativa de finalmente conhecer minha loba.
E, o mais importante, de encontrar meu parceiro.
— Aurora! Você já terminou de lavar a roupa? O jantar está pronto! —
gritou minha madrasta de dentro de casa.
— Já estou indo, Montana! — respondi também gritando, enquanto
pendurava a última peça de roupa no varal. Olhei para o céu,
aproveitando o calor que o sol oferecia.
Era um acontecimento raro, já que nós morávamos em uma pequena
aldeia chamada Iliamna, no Alasca.
Nossa matilha, a Lua de Sangue, vivia entre humanos que não faziam
ideia da nossa existência.
Quando entrei em casa, fui recebida pela careta horrenda da minha
madrasta.
— Por que você demorou tanto? Estou morrendo de fome! — ela
reclamou.
— Você podia ter começado sem mim, — respondi, me sentando para
comer.
Eu preciso dar esse crédito para a Montana. A comida dela é
excelente.
— Então, Rory... em alguns dias você irá fazer 18 anos, certo? —
perguntou minha madrasta.
Olhei para ela, por cima do meu prato. — Oi? Ah... sim, — murmurei,
voltando a atenção para a minha comida.
— Sabe... já está na hora de você começar a ganhar seu próprio
dinheiro. A pensão do Rodrick está ficando cada vez mais minguada.
Olhei para ela de novo, quase engasgando com a minha comida.
— Como é?
— Sim, já não era grande coisa para começar, querida. E ter que
dividi-la entre nós duas tem causado um enorme impacto sobre as
finanças, — ela disse.
— Então, decidi oferecer seu nome para a casa do líder. Eles precisam
urgentemente de criados para trabalhar na comemoração do aniversário
do alfa, — continuou.
— Você fez o quê? — gritei. Então, me levantei tão bruscamente que
minha cadeira caiu para trás. — Como você pôde?
— Preste atenção, Rory! Já passou da hora de você ajudar com as
despesas por aqui.
Ela cruzou os braços.
— A festa do alfa é um dos maiores eventos do ano. Eles precisam de
qualquer mão extra que conseguirem.
Ela levantou as sobrancelhas.
— Pense nisso! Talvez você conheça seu parceiro nessa noite.
Eu não conseguia acreditar naquilo. Bufei, irritada, e saí pisando duro
em direção ao meu quarto. Eu não queria ficar nem mais um minuto
perto dela.
Não que ela fosse uma má pessoa. A Montana praticamente me criou
após a morte do meu pai. Mas ela era tão irritante às vezes, presumindo
que fosse lá o que ela decidisse por mim era a escolha certa.
Peguei meu celular e fiz uma chamada de vídeo para a minha melhor
amiga, Emma Johnson.
— Ei, boo! — ela me cumprimentou com uma gosma preta
assustadora no rosto.
— Que diabos você tem na cara? — perguntei, erguendo uma
sobrancelha.
— Ah, é uma máscara de carvão. Tracy deu a dica, então decidi
experimentá-la, — disse ela, encolhendo os ombros enquanto engolia um
Cheetos.
— E aí? Quais são os planos para o seu niver? Você deve estar super
animada em fazer 18 anos. Você vai conhecer seu parceiro! — ela gritou,
entusiasmada.
Revirei meus olhos.
— Mal posso esperar para fazer 18 anos, — continuou Emma.
— Antes de mais nada, nem tenho certeza de que vou mesmo
conhecer meu parceiro. Você sabe que isso é uma coisa que só acontece
uma vez durante a lua azul.
Eu rolei sobre a cama e abracei meu ursinho de pelúcia.
— E vou ter que trabalhar no meu aniversário, então não vai dar para
fazer muita coisa.
— Como assim você vai trabalhar nessa noite? — ela perguntou
ofegante. — Ô, minha Deusa. — Você não... — ela me lançou um olhar
desconfiado.
— Não, eu não. Mas a Montana sim, — eu disse, revirando os olhos
novamente.
— O quê?! Por que ela fez isso? — perguntou Emma, confusa.
— Ela disse que essa seria a melhor maneira de eu encontrar meu
parceiro.
— Ah, vai! Ela não pode estar falando sério! — as narinas da Emma se
abriram. — Às vezes não consigo entender sua madrasta, cara.
— É, bom... não tem muito que fazer. Vou na porcaria do baile,
trabalhar a noite toda, ganhar meu dinheiro e voltar para casa, — eu
disse, sufocando um bocejo.
— Bom... se você está dizendo... Eu te ligo mais tarde, então. Vou lá
tirar essa coisa da minha cara e pegar algo para comer. Te amo, boo, —
disse ela, saltando da cama.
— Amo você mais.
Desliguei e me estiquei na minha cama.
É mesmo tão importante assim encontrar meu parceiro?
Já nem é mais uma coisa tão comum.
E se ele for um esquisitão?
Essas perguntas ficaram dançando na minha cabeça até eu cair no
sono.
Acordei algumas horas mais tarde. Saí da cama, desci e descobri que
estava sozinha em casa.
— Montana deve ter saído, — pensei em voz alta antes de voltar para
o meu quarto. Eu não estava com fome, então não me preocupei em
preparar nada.
Como de costume, minha madrasta não estava em casa, então eu
também não precisava me incomodar com ela. Mas suas palavras idiotas
continuavam ecoando na minha cabeça.
E se eu encontrar meu parceiro nessa noite?
Vou embora com ele imediatamente?
Ele vai mesmo gostar de mim? Eu vou gostar dele?
— Argh! Isso é tão irritante! — bufei, apertando meu travesseiro.
No dia seguinte, acordei com um barulho parecido com uma
martelada na porta do meu quarto.
— Já estou acordada, já estou acordada! — gritei. Pulei da cama,
tropecei até a porta, abri e dei de cara com a minha madrasta.
— O que você quer? — perguntei.
— Querida, você já deveria estar vestida. Você tem que estar na casa
do líder em uma hora. — ela disse, sorrindo.
— Por quê? — perguntei, exasperada.
— Como assim 'por quê'? Já falamos sobre isso, Aurora. — ela disse.
— Não, não falamos! Você tomou a decisão por mim. — eu devolvi. —
Sabe de uma coisa? Eu vou, sim, e espero encontrar meu parceiro lá, para
ele me levar para longe deste lugar e de você!
Bati a porta na cara dela.
Uma hora depois eu estava vestida e a caminho da casa do líder,
reclamando baixinho sobre como a minha vida era miserável.
Mal sabia eu...
— Eu provavelmente deveria pedir desculpas para Montana na volta.
— murmurei para mim mesma.
Ao me aproximar da casa do líder, não pude deixar de me sentir
perturbada por sua opulência. Era extravagantemente grande.
Quantas pessoas moravam ali?
Um guarda estava a postos na entrada. Ele me olhou da cabeça aos
pés antes de falar.
— Qual é o motivo da sua visita?
— Hum, fui contratada como criada para ajudar na celebração do
alfa. — respondi, me sentindo um pouco intimidada.
— Nome? — perguntou ele, puxando uma prancheta.
— É, hum... Aurora Craton, senhor. — minha voz saiu num guincho.
Ele verificou a lista e acenou com a cabeça. Levei um segundo para
entender que isso significava que eu tinha permissão para entrar.
Eu estive na casa do líder apenas uma vez, quando meu pai ainda era
vivo.
Eu tinha uns seis anos e nós dois estávamos brincando no parque
quando ele foi convocado para uma reunião urgente.
Como não tinha mais ninguém com quem me deixar em tão pouco
tempo, meu pai me levou com ele.
Eu me lembro de ele ter me colocado numa cadeira do lado de fora da
sala de reunião.
— Fique aí quietinha, Rory. Não vou demorar. — Ele deu uns
tapinhas na minha cabeça e entrou no espaço cheio de outros
lobisomens.
Enquanto eu estava sentada ali, um homem enorme veio caminhando
na minha direção.
Ele tinha cabelos longos e pretos, olhos escuros como ônix e um
horrível corte no rosto.
Ao lado dele estava um garoto, com a mesma massa de cabelos negros
e os mesmos olhos azuis brilhantes. O menino estava discutindo com o
homem mais velho.
— Mas eu sou o futuro alfa, pai! Eu deveria estar nessa reunião com
você!
Eram o alfa da matilha e seu filho.
— Você ainda não está pronto para reuniões como essa, filho. —
respondeu o alfa em uma voz monótona e com uma expressão estóica.
Eles se aproximavam cada vez mais, então rapidamente deslizei da
cadeira e curvei minha cabeça em sinal de respeito.
Era o que meu pai e os outros aldeões sempre faziam quando viam o
alfa.
Eles nem tomaram conhecimento da minha presença, apesar de eu
estar bem na frente deles. Os dois apenas continuaram conversando.
— Eles mataram minha mãe! Aqueles desgraçados mataram minha
mãe e quero que eles paguem por isso. — gritou o garoto.
Ele estava tremendo e as lágrimas ameaçavam cair do canto dos seus
olhos.
Seu pai ficou ali, sem expressão, antes de finalmente falar.
— Filho, quando chegar a hora, você irá se juntar a nós na sala de
reunião. Mas, por enquanto, continue com seus treinos de defesa, —
disse o homem, enquanto girava a maçaneta da porta.
— Eu vingarei sua mãe, — completou o alfa em um tom ameaçador
antes de desaparecer atrás da porta.
Eu levantei um pouco a cabeça para olhar para o menino, que estava
encarando a porta. Seus olhos estavam vermelhos com as lágrimas
querendo cair, seus punhos cerrados.
O garoto finalmente me notou. Ele se virou para mim e me encarou,
enxugando rapidamente as lágrimas com o braço.
— Há quanto tempo você está aí? Quem te deixou entrar? — ele
perguntou, ainda me encarando.
— Hum... meu pai foi convocado para uma importante reunião com
os alfas e os anciãos, senhor. — respondi rapidamente, curvando minha
cabeça mais uma vez.
— Quem é seu pai? Qual é o nome dele? — perguntou ele, ainda não
convencido.
— Rodrick Craton, senhor. — respondi, mexendo as mãos
nervosamente.
— Craton? Seu pai é o gama? — ele perguntou, mais calmo dessa vez.
Naquela época, eu não estava muito familiarizada com os status da
matilha. Eu sabia que havia o alfa, o líder. Depois o beta, o seu segundo
em comando.
E o gama, responsável pela estratégia e organização de todos os
eventos e reuniões.
Depois havia os anciãos, os curandeiros ou médicos lobisomens, os
guerreiros, os buscadores e os pacificadores.
Eu sabia que o papel do papai na matilha era importante, mas eu não
entendia o quanto.
— Hum... sim? — eu disse.
— Isso é uma resposta ou uma pergunta? — ele perguntou, zombando
de mim.
— Ééé... resposta, senhor. Meu pai é o gama, — respondi, tentando
falar com mais confiança.
Ele me olhou nos olhos por um momento, depois balançou a cabeça e
acenou com a mão, me dispensando.
— Continue com... com o que você estava fazendo aí. — E, com isso,
ele girou sobre os calcanhares e foi embora.
— Ei, você aí! — Fui arrancada das minhas lembranças por uma voz
gritando comigo.
Uma senhora de cinquenta e tantos anos estava andando em minha
direção o mais rápido que conseguia. Seu rosto era uma carranca.
— Você é uma das criadas voluntárias para o baile de gala? — ela
perguntou.
— S-sim, senhora. Sou Aurora Craton, senhora, — respondi,
curvando minha cabeça.
Senti uma leve pancada no ombro e levantei a cabeça para ver a
senhora tapando a boca com a mão.
— Rory? — perguntou ela.
— Sim, senhora, — respondi, confusa com sua mudança de atitude.
Ela me surpreendeu ao me dar um grande abraço.
— Aaah, Rory! A última vez que eu te vi você era apenas uma menina.
Veja como você cresceu! — Ela me empurrou de volta, me analisando da
cabeça aos pés.
— Você já encontrou um parceiro? — perguntou.
— Hum, não, senhora. Eu só faço 18 daqui a alguns dias. Eu... eu te
conheço? — perguntei.
— Ah! Desculpe, minha criança. Eu sou Kala, a criada-chefe da casa
do líder e a parteira da aldeia. Conheci seu pai, quando ele era o gama da
matilha. E conhecia sua mãe também.
Sua expressão se tomou triste.
— Eu estava lá no dia em que ela... — Kala não conseguiu terminar a
frase. — Sinto muito por não ter conseguido salvá-la, querida.
Coloquei uma mão em seu ombro para tranquilizá-la.
— Está tudo bem, Senhora Kala, — eu disse, sorrindo. — É um prazer
conhecê-la.
— Então você está aqui para nos ajudar para a grande noite de
amanhã, hein? — ela perguntou, caminhando na direção de onde veio.
Eu a segui.
— Sim, senhora. Minha madrasta ofereceu meu nome. Lamento dizer
que eu nem sabia que tanta ajuda era necessária. — eu disse, coçando
minha cabeça.
— Bem, graças à Deusa ela fez isso. Precisamos de todo apoio que
conseguirmos. — ela respondeu. Enquanto falava, abriu duas grandes
portas douradas que revelaram um vasto salão.
Não é de admirar que eles precisem de tanta ajuda, pensei.
O lugar era enorme!
Capítulo 2
Aurora
Levamos um dia inteiro e mais metade do outro dia para preparar o local
para a festa.
A Senhora Kala me contou que haveria mais de seiscentos
convidados, entre nossa matilha e as vizinhas, com as quais
compartilhamos um tratado de paz.
Quando terminamos de arrumar tudo, a Senhora Kala me mandou
para casa para que eu pudesse descansar algumas horas. Eu tinha que
estar de volta à casa do líder ao cair da noite. A festa não começaria antes
das nove horas.
Quando cheguei em casa, fui recebida pela desagradável visão de
minha madrasta andando nua pela sala...
— Ecaaalt, — eu disse em voz alta, para chamar a atenção dela. —
Sabe, esses cômodos foram feitos especificamente para a nossa
privacidade. Não para andarmos completamente nuas pela casa.
Eu virei de costas, esperando que ela pegasse algumas roupas.
— Ah, desculpe por isso, querida. Eu não estava esperando você tão
cedo. Acabei de voltar da patrulha na área sul do vilarejo, — ela
respondeu, indiferente.
Minha madrasta era uma buscadora, ela tinha um olfato apurado.
Ocasionalmente, o alfa a designou para a patrulha, para ver se ela
conseguia farejar os renegados que andavam pela fronteira ultimamente.
— Que seja, — revirei os olhos para ela, subi direto para o meu quarto
e me joguei na cama.
Tentei dormir, mas o sono não chegou, então me levantei e decidi
descer para preparar o jantar.
Quando cheguei lá embaixo, percebi que estava completamente
sozinha em casa. Montana saiu de novo.
Encolhi os ombros.
— Melhor para mim.
Entrei na cozinha e fiz uma massa, depois sentei em frente à TV e
comecei a procurar um filme para assistir.
Meu celular tocou. Olhei para a tela e sorri quando vi que era minha
amiga.
— Ei, Em, — atendi, enquanto descia a lista de filmes na TV.
— E aí... como foi a limpeza e a preparação para a grande festa? — ela
perguntou.
— Até agora, bem cansativo. Aquele lugar é enorme. Achei que a
gente nunca terminaria a decoração. — Enquanto falava, enfiei uma
garfada na boca.
— Argh, posso imaginar. Que horas começa? — ela perguntou.
— Eu tenho que estar lá por volta das cinco e meia. O tormento todo
começa às oito.
— Você sabe que horas vai sair?
— Não, na verdade, mas tenho certeza que não vai ser antes da meia-
noite
— Puxa... que saco isso. Acho que vou ter que te desejar um feliz
aniversário amanhã.
— Sim, eles me mandaram deixar o celular em casa, então não vou
conseguir ler nenhuma mensagem até voltar para cá.
Emma rosnou.
— Isso, sim, é um saco.
Não pude deixar de dar uma risadinha.
Passamos o resto da tarde conversando e rindo. Eu mal me dei conta
do tempo voando.
Poucas horas depois, estava a caminho da casa do líder. Eu me
apresentei no portão, fui para os aposentos dos criados e vesti meu
uniforme oficial.
A roupa consistia em uma camisa branca com mangas compridas, um
laço vermelho, calças pretas de cintura alta e sapatos de salto pretos.
Quando terminamos de nos vestir, nós todos, criados, fomos para a
sala de gala, onde as luzes estavam apagadas. Cada um de nós pegou uma
bandeja e se preparou para receber os convidados.
A Senhora Kala designou a cada criado uma seção de mesas, em que
deveríamos ficar de olho, depois nos instruiu a ficar de pé contra a parede
mais próxima da área determinada.
O espaço logo começou a se encher de pessoas, todas vestidas com
seus trajes mais caros.
Os últimos a entrar foram nossos aliados, a matilha Lua Azul, vinda
do oeste.
Seu alfa entrou com a filha, Tallulah Wilhelm. Ela era a garota mais
bonita que eu já tinha visto.
Ela tinha um cabelo loiro, longo e lindo, uma pele bronzeada e
brilhantes olhos de avelã. Todo o seu ser exalava perfeição.
Depois deles, entrou o gama da nossa matilha, Remus Boman, que
estava na casa dos vinte e tantos anos. Ele estava de mãos dadas com sua
parceira, Aspen.
Remus tinha cabelos escuros, com alguns fios grisalhos aqui e ali. Ele
tinha olhos castanhos e era um dos homens mais baixos da nossa aldeia.
Mas, apesar do tamanho, ele não somente era um dos mais
inteligentes da matilha, mas um dos mais fortes.
Em seguida veio o beta, Maximus Barone. Ele era alto, com cabelos
loiros e olhos verdes.
Todas as meninas eram loucas por ele, apesar de ele ser um
mulherengo. Maximus era o segundo lobo mais forte do grupo.
Por último, mas não menos importante, o herói do momento pisou
no salão.
Nosso alfa, Wolfgang Fortier Gagliardi. Se o beta deixava as mulheres
loucas, era o alfa quem tinha o poder de fazer calcinhas caírem.
Ele tinha uma massa de cabelos negros — que davam sempre a
impressão de que ele acabou de sair da cama — e olhos tão azuis que
brilhavam como safiras.
Ele era enorme, e eu podia ver os músculos salientes marcando suas
roupas. Era como se ele tivesse sido desenhado pela própria Deusa.
Mas havia um problema com ele...
O homem não sabia sorrir, nem ser simpático com ninguém.
Apesar de ser lindo de morrer, aquela cara fechada, combinada à sua
poderosa aura alfa, afugentava as pessoas.
Na maioria das vezes, ele era visto apenas com o seu beta, que, por
acaso, era seu amigo de infância. Ou com Tallulah, a filha do outro alfa.
Por um momento, nossos olhos se encontraram, e seu olhar intenso
me pregou no chão. A coisa toda durou uma fração de segundo, mas foi o
suficiente para mexer comigo por dentro.
Quando o alfa tomou seu lugar, todos fizeram o mesmo.
E assim começou a festa.
Estava passando tudo muito rápido. Eu estava tão ocupada com
minhas mesas que nem me dei conta da velocidade com que o tempo
corria.
— Rory, a Senhora Kala precisa de você na cozinha, — disse um dos
meus colegas de trabalho.
— Vou lá num minuto, — respondi, recolhendo pratos vazios e
enchendo algumas taças de champanhe.
Quando entrei na área da cozinha, fui recebida com uma chuva de
confetes.
— Feliz aniversário, Aurora! — todos gritaram. Trouxeram um lindo
bolo com dezoito velas.
— Ah, minha Deusa! Gente, vocês não precisavam! — eu disse,
olhando para o bolo maravilhada.
— Ah, pára com isso! Não é todo dia que se faz dezoito anos, — disse
um dos cozinheiros.
— Sim, muito em breve você irá ouvir sua loba.
— Então será capaz de se transformar e... — a Senhora Karla arrastou
o 'e' enquanto olhava para todos. — ... encontrar seu parceiro!
Revirei meus olhos enquanto eles davam risada.
Comemos um pouco do bolo e voltamos para o salão para continuar
nosso trabalho.
De repente, ouvi uma voz estranha na minha cabeça.
— Olá, Aurora..., — era sutil, mas clara como o dia.
Era a minha loba. Ela tinha finalmente despertado.
— Hum... olá? — respondi em minha mente.
Ela riu e veio à tona. Seu pêlo era branco como a neve e seus olhos
eram roxos.
— É um prazer conhecê-la. Meu nome é Rhea. Eu sou sua loba, — disse
ela, sentada ali, olhando para mim.
— O prazer é meu, Rhea, — respondi. — Espero que consigamos nos dar
b...
Minhas palavras foram interrompidas por um aroma delicioso que
encheu minhas narinas. O cheiro era uma mistura de pinheiro-bravo,
amêndoas e âmbar.
Era inebriante, quase como se estivesse me atraindo em sua direção.
Rhea também sentiu. Ela apontou o focinho lá para o alto, farejando.
Em seguida ela disse algo que me arrepiou até os ossos.
— Nosso parceiro está aqui. Posso sentir o cheiro dele.
Capítulo 3
Wolfgang
Não acredito que deixei Max e Remus darem essa festa de merda.
Meu aniversário foi há três meses. Qual é o sentido de comemorar
agora?
Eu sabia que eles só queriam uma desculpa para dar uma festa.
— Vamos, Wolfgang, é só uma noite! Quero ver se consigo finalmente
encontrar minha parceira. — Max choramingou. Ele apoiou o queixo na
minha mesa, implorando.
— Você vive dizendo isso. E, nessa busca pela sua parceira, você já
dormiu com cerca de 90% da população feminina. — Remus
argumentou. Ele tinha uma pilha de papéis nas mãos.
— Ah, cala a boca. Você não liga porque já tem uma parceira. — Max
disparou para Remus, que era o mais velho de nós três.
Ele tinha 29 anos e Max e eu tínhamos 26.
Todos nós havíamos assumido os papéis que nos foram designados no
início da vida, após a grande guerra.
E após a maioria dos líderes — incluindo meu pai, o falecido Alfa, o
pai de Max, seu segundo em comando, e o gama Craton — terem
morrido em combate contra os renegados.
— O fato de eu estar com a Aspen não tem nada a ver com isso. Eu
quero um momento para relaxar tanto quanto você, Max, mas nossas
obrigações vêm primeiro. — Remus argumentou.
— Mas eu quero encontrar minha parceira! — Max reclamou,
parecendo uma criança. Às vezes, eu me perguntava como diabos ele
conseguiu o título de beta.
— Você vai encontrar sua parceira no devido tempo. Agora, a gente
precisa descobrir um jeito de nos livrar do renegado Klaus e dos seus
lacaios. — Remus disse.
— Argh. A gente está correndo atrás desses idiotas há um ano! Uma
noite de folga não vai fazer mal a ninguém. Além disso, quem sabe você
finalmente não encontra sua parceira também, Wolfie? — disse Max,
erguendo as sobrancelhas.
— Não estou interessado, — respondi. E era verdade.
A última coisa que passava pela minha cabeça era encontrar minha
parceira — e ter que me preocupar com a segurança dela e da minha
prole.
Tudo o que eu queria era pegar aquele desgraçado do Klaus e acabar
com essa guerra.
— Como assim 'não estou interessado'? Sabe, estou começando a
achar que você pode não se interessar por lobas... — ele disse com um
sorriso, recebendo de volta meu olhar fulminante.
— Se você me permite dizer, senhor, ele está certo. Ninguém nunca
viu você interessado em uma mulher. Aliás, a gente nunca nem viu você
falando com uma. — Remus acrescentou.
Eu o encarei, enquanto Max dava risada do meu lado.
— Tá bom! Vou permitir que vocês deem essa maldita festa no fim do
mês, — eu disse, apertando meu nariz. — Mas, depois disso, a gente volta
direto para caçar e aniquilar o Klaus.
— Oba! — Max deu um pulo de alegria.
— Sim, senhor, — disse Remus. — Vamos começar então os
preparativos para a gala.
Foi assim que acabei aqui hoje, nesta festa onde eu nem queria estar.
Agora, nós, os líderes — o alfa da matilha Lua Azul e sua filha
Tallulah, Remus e sua parceira, Max e eu, — estávamos do lado de fora da
porta do grande salão, esperando o anúncio.
Um por um, eles entraram quando seus nomes foram chamados.
Meu nome foi o último. Entrei, sem me preocupar com as pessoas ao
meu redor.
Assim que cheguei à mesa, olhei à minha volta. Meus olhos
encontraram um par de olhos acinzentados que pareciam conseguir
enxergar minha alma.
Era uma criada simples, que estava no canto mais distante, à minha
esquerda. Ela parecia intrigante, com aqueles enormes olhos cinzentos e
cabelos castanhos.
Eu rapidamente desviei o olhar e concentrei meu foco em outro lugar.
A festa seguiu devagar, para o meu desgosto. Eu já estava entediado
de ter que rejeitar constantemente as garotas me convidando para
dançar.
Até a filha do alfa Lua Azul, a Tallulah, veio até mim, batendo os cílios
e tentando me seduzir.
— Ei, Wolfgang, — disse ela com uma voz doce. Eu só acenei para ela
com a cabeça e continuei com os braços cruzados.
— Bela festa a sua. Eu não sabia que você era o tipo de cara que dava
festas como essa, — disse ela.
— Eu não fiz merda nenhuma. Max e Remus que inventaram essa
festa. Apenas dei minha autorização, — respondi, já perdendo a pouca
paciência que tinha.
Naquele momento, fui abordado por um idiota bêbado.
— Ei, aniversariante! — Max passou o braço por cima do meu ombro
enquanto tentava manter o equilíbrio.
— Sabe, meu aniversário foi há meses. Isso aqui é só para tirar você do
meu pé, — respondi.
— Ah, vamos lá, não seja estraga-prazeres. Não é possível que você
esteja entediado, — ele disse com a fala arrastada, enquanto bebia sua
cerveja.
— Estou, sim, na verdade. Só continuo aqui porque sou o anfitrião, —
olhei para ele. — Você já encontrou sua parceira? Eu quero acabar com
essa festa logo.
Lamentei a pergunta no momento em que ela saiu da minha boca.
Max começou a chorar e jogou os braços sobre os meus ombros.
— Não! Estou começando a acreditar que não tenho um par. Ah,
Deusa da Lua! Será meu destino ser um lobo solitário para sempre? — ele
gritou, segurando meus braços.
— Me solta, seu idiota!
Mas ele me segurava com uma mão de ferro.
— Não, você precisa me consolar! Estou com o coração partido, não
consigo encontrar minha parceira.
— Eu disse para você me largar! — Parei abruptamente quando um
perfume celestial penetrou em minhas narinas. Empurrei Max para o
lado, tentando farejar o ar em busca da fonte.
— O que... ei! — Max começou a choramingar, mas eu o interrompi.
— Você está sentindo esse cheiro? — perguntei a ele.
— Que cheiro? — perguntou Tallulah. Esqueci completamente que
ela ainda estava ali.
— Hum? — Max cheirou o ar. — Eu não sei exatamente que cheiro
devo sentir, cara.
Eu o ignorei. O cheiro era doce e delicado, como baunilha e
marshmallow.
De repente, meu lobo, Cronnos, estava uivando como um louco na
minha cabeça. Ele deu um pulo e correu de um lado para o outro,
também farejando o ar.
— Cara... eu posso sentir o cheiro dela. Sinto o cheiro da minha parceira
disse Cronnos dentro da minha mente.
Eu gelei. Isso não podia estar acontecendo. Eu não consegui
encontrar minha parceira em oito anos. Por que agora?
— Wolfgang? Você está bem? — Tallulah perguntou.
— É, cara. Você ficou muito pálido. Tá tudo bem? — Max perguntou.
— Hã... sim. Estou bem, — eu disse, ainda focado naquele cheiro.
— Nossa parceira está aqui, garoto, finalmente. Vá encontrá-la! Eu posso
sentir o cheiro dela! — Cronnos gritou.
Eu saí do transe.
— Preciso usar o banheiro. Desculpem. — Afastei-me de Max e
Tallulah.
Eu tinha que encontrá-la. Aquele perfume estava me atraindo como
um ímã.
Caminhei entre os convidados, sem reconhecer nenhum deles.
Tudo o que eu tinha em mente era encontrá-la. Cronnos ainda estava
gritando na minha cabeça.
Continuei andando até que minha mão instintivamente agarrou
outra mão, pequena e macia.
Olhei para frente e fiquei cara a cara com ninguém menos que a
criada de olhos acinzentados que eu tinha visto antes.
— Parceira... — nós dois dissemos ao mesmo tempo.
Capítulo 4
Aurora
C R
Cara R y,
Não consigo i gi r o quanto tem si fícil para você
nter sua boa ín le e seu c ação ter neste n cruel.
Mas sei que você será a luz escuridão. Aquela que não
cederá à neg ivi de.
A esta altura, você certamente a receu e se t u
u bela e talent a jovem, e a qualquer mento poderá
encontrar seu ver deiro e ú co a r.
Não se desespere caso ele não apareça ime amente.
Ape s a Deusa Lua sabe o p quê s decisões dela.
Mas, se você se sentir zanga , goa ou desaponta ,
saiba que, mes que eu ten parti , sem e estarei ao seu
la .
Não deixe que seus sentiment a impeça de ver as bênçã
que a cercam.
Peça à Deusa Lua para per tir que você veja o
n neira co sua mãe e eu o vi s, e você se
t rá a lher que deseja ser...
Um reflexo s seus pais. Para seus a g e seu turo
parceiro.
Com to o a r que existe meu c ação,
Papai.
O dia amanheceu, com um sol forte para contrastar com meu humor
sombrio. Eu fiquei com as palavras do meu pai na cabeça e fiz o possível
para não ficar pensando na noite péssima que tive.
Tomei um banho e procurei algo para vestir, eu ia voltar à casa do
líder para devolver o uniforme.
E também para confrontar Alfa Wolfgang sobre a noite passada.
Qual é a pior coisa que poderia acontecer? pensei comigo mesma.
Se ele não gosta de mim, pode me rejeitar Então, nós dois seguiremos em
frente.
Mas a ideia de ser rejeitada por ele me fez estremecer.
Se ele me desse as costas, eu ficaria sem um parceiro pelo resto da
minha vida — ao contrário dele, que tem o poder de escolher outra
pessoa, mesmo sem conexão.
Como um alfa, ele podia rejeitar qualquer loba que a Deusa da Lua
designasse como sua parceira.
E se ele me rejeitar? Eu me perguntei enquanto uma gota de suor
gelado escorria pela minha têmpora.
— Ele não vai te rejeitar. Relaxa. Apenas fale com ele, — Rhea tentou me
tranquilizar.
— Rory! Você poderia vir aqui por um momento? — minha madrasta
gritou lá de baixo.
— Estou indo, — respondi. Escovei meu cabelo e coloquei uma
presilha para segurar minha franja. Estava começando a ficar muito
longa.
Herdei os cabelos longos e sedosos, e a pele clara da minha mãe, e
ganhei os fios castanhos e os olhos acinzentados do meu pai. Eu era uma
mistura completa dos dois.
— Aurora! Desça agora mesmo! — minha madrasta gritou mais uma
vez.
— Argh! Qual é o problema dela logo cedo? — resmunguei. Peguei a
sacola com o uniforme cuidadosamente dobrado e, o meu celular e saí do
quarto.
— O que você quer, Monta..., — o resto das palavras ficaram presas na
garganta quando meus olhos se conectaram com os olhos azuis gelados
que me encaravam.
— A-Alfa Wolfgang, — eu disse, ofegante e surpresa. Ele estava
parado no meio da nossa pequena sala, com seu gama e a Senhora Kala.
— Aurora, tenha mais respeito, — Montana sibilou ao meu lado, me
despertando do meu transe.
— Ah, me desculpem. Bom dia, alfa Wolfgang, gama Remus, Senhora
Kala, — eu disse, curvando minha cabeça em sinal de respeito.
— Senhora Craton, estamos aqui para recuperar algo que você tirou
do baile de gala ontem à noite. Não iremos acusá-la de roubo, mas
faremos disso um aviso, — disse gama Remus.
— Hum... algo que eu peguei? Não peguei nada. — Fiquei chocada e
confusa. Do que eles estavam falando?
— Hum, você levou o uniforme com você na noite passada, querida,
— a Senhora Kala esclareceu.
— Ah! É isso? Eu estava prestes a levá-lo de volta..., — comecei a dizer,
mas fui interrompida por alfa Wolfgang.
— Roubos não são tolerados neste bando, Senhorita Craton. Você
tem sorte de estarmos apenas avisando desta vez. Da próxima, o chicote
será sua punição e vamos trancá-la na masmorra por um mês!
Sua voz era tão áspera que comecei a tremer.
— Tenho certeza de que deve ter sido um mal-entendido, alfa
Wolfgang. Eu sei que Rory não faria uma coisa dessas, — disse a Senhora
Kala.
— Isso mesmo, — Montana concordou. — Eu garanto a você, alfa,
que minha Rory não é uma ladra. Algo ou alguém fez com que ela fosse
embora correndo da festa. Ela chegou em casa chorando ontem à noite.
Montana entrou na minha frente, tentando me defender.
— Certamente, em sua pressa de chegar em casa em segurança e
longe de quem quer que a tenha machucado, ela se esqueceu de devolver
o uniforme.
Eu não conseguia falar. Eu estava tremendo, pregada no chão,
lutando contra as lágrimas que queriam desesperadamente cair.
Por que ele estava sendo tão mau comigo?
— Quem fez isso com você, Rory? — a Senhora Kala perguntou de
repente.
Olhei para o alfa, que me deu um aviso silencioso. Fechei minha boca
com força e olhei para os meus pés.
— Posso ter uma palavra com a Senhorita Craton? Sozinho? — o alfa
Wolfgang perguntou.
Eu me virei para Montana, que me encarou brevemente e então olhou
para as três pessoas que estavam diante de nós.
— Hum. Claro, — ela disse. Meu coração deu um salto, em pânico. —
Por aqui. Vou servir chá para vocês.
Ela acompanhou o gama e a Senhora Kala até a cozinha, me deixando
sozinha com o alfa.
Ficamos ali em silêncio por alguns minutos antes que ele finalmente
falasse.
— Vou dizer isso apenas uma vez, então ouça com atenção, Senhorita
Craton. Eu sou o alfa deste bando, conhecido pela minha força e minha
destreza em cuidar desta vila, assim como meu pai e meus ancestrais
fizeram.
Ele olhou para mim.
— Todos esperam muito de mim. Especialmente o tipo de parceira
que apresento como minha Luna...
Ele parou de falar por um momento, enquanto me avaliava da cabeça
aos pés.
— E tenho certeza que você não se qualifica. Espero, para o seu
próprio bem, que ainda não tenha contado a ninguém. Porque eu vou
negar.
Pronto, era isso.. Olhei para ele lá, parado, sua expressão estóica
como sempre.
Era o que eu mais temia. Ele ia me rejeitar.
Eu seria solitária pelo resto da minha vida.
— Por que não sou boa o suficiente, alfa? — ousei perguntar, minha
voz trêmula, saindo quase como um sussurro.
— O quê?
— Eu perguntei... por que não sou boa o suficiente para você? Por que
você vai me condenar a ser uma loba solitária? — perguntei, agora
olhando diretamente nos olhos dele.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto.
— Porque você não passa de uma plebeia. Você seria um risco para
mim se fosse minha parceira, — ele disse.
Wolfgang balançou a cabeça.
— Eu mandei te investigarem. Você não tem nenhum talento nem
habilidade que possam ser úteis para mim como líder, para governar e
proteger minha matilha.
Baixei a cabeça de vergonha. Era isso e apenas isso o que ele pensava
de mim..
Um risco. Uma pessoa sem valor algum. Alguém que não tinha nada a
oferecer a ele como parceira.
— Eu... eu entendo.., — eu disse, sem olhar para ele.
Tinha como minha vida ficar pior que isso?
Capítulo 6
Wolfgang
— Pronto, querida, aqui estamos. Sua nova casa, — disse a Senhora Kala
enquanto caminhávamos pelo enorme corredor que levava às escadas.
Encontramos o beta e o gama no fim dos degraus.
— Ela finalmente está aqui! — gritou o loiro. Ele se aproximou e
pegou minha mala.
— Bem-vinda, Aurora. Estou ansioso para conhecer a garota que
chamou a atenção de nosso alfa, — ele disse, estendendo sua mão livre.
— Hum, oi, beta Maximus. — Tentei fazer uma reverência, mas fui
interrompida no meio da descida.
— Não precisa ser tão formal comigo. Você pode me chamar de Max.
— Ele me deu uma piscadela, mas foi empurrado pelo gama.
— Já se apresentou o bastante, Max. A garota deve estar assustada o
suficiente sem o seu flerte. Senhorita Craton, sou o gama Remus
Bowman. Bem-vinda à casa do líder.
Ele empurrou os óculos enquanto falava, um cacoete.
— O-obrigada, gama Bowman, — respondi, curvando minha cabeça.
— O alfa requisitou você como criada pessoal. Seu quarto é o vizinho
ao dele, — ele disse.
— Hã? — Eu fiquei boquiaberta, mas ele ignorou meu choque e
continuou falando.
— Você ficará encarregada de levar suas refeições e também de
entregar sua roupa lavada todas as manhãs, entendido?
Remus ergueu uma sobrancelha e me olhou com cautela.
— Hum, sim. Mas por quê? — perguntei. Olhei para a Senhora Kala.
— Pe...pensei que eu seria apenas uma criada comum.
— Não, minha querida, foi uma ordem específica do alfa designar
você como sua criada pessoal, — a Senhora Kala disse, sorrindo
docemente.
— Mas por que eu? — perguntei, ainda pasma.
— Porque eu mandei. Por isso. — ecoou uma voz grave sobre as
nossas cabeças. Os calafrios percorreram minha espinha.
Todos nós olhamos para o topo das escadas para ver o alfa, cujos
olhos azuis gelados olharam diretamente para mim.
Nós quatro curvamos nossas cabeças quando vimos nosso líder.
— Alfa Wolfgang, — dissemos em uníssono, enquanto ele descia as
escadas.
— Muito bem. Venha. — Ele se virou e me conduziu escada acima,
para longe de todos os outros.
Caminhamos pelo corredor e entramos à direita, parando diante de
uma enorme porta dupla de mogno.
Wolfgang pegou uma chave e abriu-a, depois entrou. Nervosamente,
eu o segui.
A sala era sofisticada e elegante, com paredes pintadas de azul-escuro.
A parede à esquerda tinha uma enorme biblioteca cheia de livros que iam
até o teto.
Do lado oposto, estava um sofá de couro em forma de L com uma
linda mesa de chá na frente dele. Havia ainda uma enorme janela com
belas cortinas aveludadas.
Com vista para a janela, estava uma grande mesa com um
computador Apple ao lado de uma pilha de papéis, canetas e outras
coisas.
Tinha uma cadeira de couro atrás dela e duas menores de madeira na
frente, para convidados.
As paredes estavam repletas de retratos, nos quais reconheci nossos
alfas anteriores.
Este deve ser o escritório dele.
Alfa Wolfgang contornou a grande mesa e se sentou. Fiquei parada na
frente dele, sem saber se deveria sentar ou não. Decidi ficar em pé.
— Espero que ainda hoje você esteja devidamente instalada. Seus
deveres começam amanhã. Eu bebo minha primeira xícara de café às seis
da manhã em ponto. Minhas roupas devem estar prontas às sete, e o café
da manhã deve ser servido às oito e meia no meu quarto.
Ele me olhou com sua costumeira expressão estóica.
— Enquanto faço minha refeição, você vai arrumar minha cama e
recolher minha roupa suja. Bebo outra xícara de café às onze e espero o
almoço pronto à uma da tarde. O almoço é sempre servido na sala de
jantar do alfa. Kala vai te mostrar onde fica.
Fiquei lá, na frente dele, ouvindo suas ordens e fazendo o possível
para memorizá-las.
— Depois do almoço, estarei patrulhando, então você terá as tardes
livres para fazer o que quiser, com exceção de deixar a mansão. O jantar é
servido na sala de jantar às sete horas em ponto. Está tudo claro?
Fiz que sim com a cabeça.
— Prefiro palavras em vez de sinais corporais, entendeu, Senhorita
Craton?
— S-Sim, senhor, — chiei.
— Muito bem. Seu quarto é aquele ao lado do meu. Vá se acomodar.
Com isso, ele voltou sua atenção para os papéis que estavam sobre sua
mesa.
Fiquei lá, incapaz de me mover um centímetro. Havia algo que eu
precisava perguntar, mas não sabia como. Ele percebeu minha confusão.
— Teve alguma coisa que você não entendeu? — ele perguntou,
exasperado.
— N-não senhor. Eu... eu queria perguntar sobre a Montana. Minha
madrasta. — eu disse.
— O que tem ela? — ele perguntou, sem se preocupar em olhar para
mim.
— Terei permissão para visitá-la?
Ele largou o papel que estava lendo e olhou para mim por um minuto
antes de voltar sua atenção de novo para o trabalho.
— Você pode vê-la aos domingos. Esse será o seu dia de folga, — disse
ele. — Você pode ir agora. Eu também tenho trabalho para terminar.
Eu tomei isso como minha deixa para sair.
— Sim senhor.
Capítulo 10
Aurora
Corri para o hospital o mais rápido que pude e, lá, marchei para a sala de
emergência.
Encontrei Remus e Aspen sentados na sala.
— Onde ela está? — perguntei.
— Ela está bem, alfa. Eles deram a ela algo para a febre e estão
tratando as feridas em suas costas, — respondeu Aspen.
— Tratando as feridas? Elas já não deveriam estar cicatrizadas? —
Nossos poderes de lobo deveriam ter curado aquelas feridas no mesmo
dia em que foram feitas.
— Estavam todas intactas e, na verdade, infectadas. É por isso que ela
estava com essa febre tão alta. — disse Remus.
Meu estômago começou a se agitar.
Como isso foi possível? Por quê suas feridas ainda estavam abertas,
depois de quase uma semana?
— O beta Barone encontrou Aurora semiconsciente e alucinando, —
acrescentou Aspen.
Eu estava ficando ainda mais ansioso.
— Eu ainda não consigo senti-la. Eu não consigo sentir sua loba, —
Cronnos disse, atormentado.
— O médico disse alguma coisa sobre ela não ter se curado? —
perguntei, tentando manter uma expressão fria. Mas, no fundo, eu queria
gritar.
— Não senhor. Eles fizeram exames de sangue e alguns outros
exames. Estamos aguardando os resultados. Mas agora ela está estável. —
disse Remus.
— O beta Barone está no quarto, esperando a Aurora acordar. — ele
completou.
Deveria ser eu lá com ela. Segurando suas mãos, esperando que ela
acordasse.
— Você gostaria de vê-la? — Aspen perguntou, como se soubesse o
que estava em minha mente.
— Sim! — Cronnos gritou na minha mente.
— Não, vou ver se eles examinaram o vídeo. Mas me avise se houver
alguma novidade. — eu disse.
Cronnos rosnou.
— Remus, venha comigo. — continuei.
Remus se levantou e beijou sua parceira na testa.
— Qualquer novidade, me avisa.
— Com certeza. — A ruiva sorriu de volta.
Eu não pude deixar de sentir inveja do meu gama e da sua parceira.
Por que eu não podia ser assim com a Aurora?
— Porque você é o maior idiota do planeta, só por isso! — gritou meu
lobo na minha cabeça.
— Remus, vamos embora. Precisamos investigar essa acusação.
Poucos minutos depois, estávamos de volta à casa da matilha.
Eu tinha que chegar ao fundo dessa acusação. Eu sabia que Aurora
não era uma ladra.
Mas quem a teria incriminado?
E por que suas feridas ainda estavam abertas? Elas deveriam ter se
curado há muito tempo. O que havia de errado com seus poderes de
lobo?
Eu precisava encontrar essas respostas para poder voltar ao hospital e
ficar ao lado dela.
— Você quer ficar ao lado da Aurora? Então, vamos! — Cronnos gritou
na minha cabeça, abanando o rabo, esperançoso.
— Ainda não. Primeiro, preciso descobrir quem a incriminou. Depois,
preciso falar com Tallulah. Eu não posso mais manter essa farsa com ela. Não
é certo para nenhuma delas.
— Até que enfim você recobrou o juízo. Tudo bem, vamos farejar quem
aprontou para a nossa parceira e voltar correndo para ela. — Cronnos
concordou.
Aguente mais um pouco, Aurora, implorei.
Aurora
Passaram-se três dias desde que fui levada ao covil dos renegados.
Depois que me tiraram do hospital, os bandidos me vendaram e me
levaram para o esconderijo deles.
Suspeitei que fosse em algum lugar perto da fronteira da aldeia,
porque levamos apenas um dia e meio de caminhada para chegar lá.
Quando chegamos, fui carregada para uma masmorra velha e deixada
lá.
Desde então, eu só tinha visto um dos renegados, uma vez por dia,
quando ele me trazia minha refeição.
Descobri que o nome do líder era Klaus. Seu pai era Jacques Roulette.
O bandido que tentou destronar o falecido Alfa Adalwolf, mas, no
fim, morreu nas mãos do próprio.
Eu estava tentando falar com a minha loba, mas era como se Rhea
tivesse desaparecido.
Se eu pudesse alcançá-la, ela contataria Wolfgang e o resto da
matilha, e eu relataria meu paradeiro, para que eles pudessem me salvar.
Eu me perguntei se Wolfgang enviaria alguém para me resgatar.
Eles não me abandonariam, certo?
Mas já se passaram três dias e eu ainda não tinha ouvido nenhuma
notícia deles. Os renegados não receberam nenhuma carta respondendo
às suas demandas.
Eu ouvi passos e o tilintar de chaves. A porta se abriu, revelando
Klaus.
— Já se passaram três dias, pequena, e ainda nenhuma resposta de seu
alfa ou do seu bando. — ele rosnou. — Espero que você não esteja
mentindo para mim para proteger a verdadeira Luna.
Ele se ajoelhou diante de mim, tirando uma adaga da cintura. Ele
apontou para o meu rosto.
Estava a apenas alguns centímetros da minha bochecha. Eu podia
sentir minha pele queimar. A lâmina devia ser feita de prata.
— Você se esqueceu da marca no meu pescoço? Eu sou a verdadeira
Luna. — eu disse.
Ele levantou meu queixo com os dedos.
— Qualquer homem poderia marcar você se quisesse. A questão é que
eu não acho que você marcou seu companheiro.
Ele se aproximou.
— Se eu quisesse, poderia remover essa marca e fazer o que me desse
vontade com você. — Um sorriso sinistro surgiu em seu rosto.
Eu vi a luxúria nos seus olhos nojentos.
Tentei afastá-lo, mas ainda estava muito fraca.
Por que minha força foi drenada? Onde estava Rhea?
— Agora que dei uma olhada em você, você não é feia, pequenininha,
mocinha. — disse ele.
Ele mordiscou minha orelha, me segurando com uma mão enquanto
a outra se movia entre minhas coxas.
O pânico tomou conta de mim. Senti as lágrimas escorrendo pelo
meu rosto.
— Por favor, não... — implorei. — Se você me tocar, o alfa Wolfgang
vai saber por causa do nosso vínculo. E você prometeu que não iria me
machucar.
— Ah.. Estou contando com que o alfa descubra, — ele disse,
sorrindo.
Wolfgang
— Max, você não tem que fazer isso. Sou perfeitamente capaz de cortar
minhas próprias maçãs. — disse ao beta, que estava cortando
desajeitadamente o pobre e inocente pedaço de fruta.
— Você é a paciente e está doente. Eu posso lidar com isso. — disse
ele, continuando a massacrar a maçã.
Ouvimos uma batida na porta. Max deixou escapar um suspiro de
frustração.
Rhea ergueu a cabeça no meu subconsciente, uma orelha erguida no
ar. Ela fungou, então deu um pulo, animada.
— Cronnos! Cronnos está aqui! — ela pulou de empolgação.
Max entregou as fatias de maçã para mim e se dirigiu para a porta.
Quando ele abriu, Wolfgang estava do outro lado.
— O que você quer, alfa? — Max rosnou para ele. Fiquei surpresa com
a hostilidade em sua voz.
— Posso ter uma palavra com a Aurora? — ele disse a Max com uma
voz calma, mas autoritária.
— O que quer que você tenha a dizer a ela, pode falar comigo aqui,
porque não vou me mexer daqui. — Max rosnou.
— Eu sou seu alfa, beta Barone, e estou lhe dando uma ordem direta.
— Wolfgang comandou.
— Pareceu mais como um pedido para mim, alfa. Eu não vou sair do
lado dela. — Max rebateu.
Os dois ficaram de pé, olhando um para o outro. Por um momento,
pensei que eles fossem começar uma briga, mas então houve uma
segunda batida na porta, distraindo os dois.
A porta se abriu novamente e os três anciãos entraram na sala.
— Lá está ela! Senhora Aurora! Bem-vinda ao lar, — me disse um dos
anciãos.
— Senhora? — devolvi, confusa.
— Claro. Afinal, esse é o seu título legítimo. Como você está se
sentindo? — ele me perguntou.
— Estou me recuperando aos poucos, mas bem. O que você quer
dizer com 'título legítimo'? — perguntei aos anciãos, ainda sem entender
a mudança repentina de comportamento deles em relação a mim.
Quando eu trabalhava na casa do líder, eles não teriam me dado nem
um olhar de lado.
E agora eles estavam me chamando de "senhora"? Olhei para
Wolfgang, que ficou parado em silêncio, sem ousar me olhar nos olhos.
— Sim, Senhora Aurora. Como a Luna da nossa matilha, você será
tratada como tal de agora em diante.
Olhei para Wolfgang mais uma vez.
— Por que você está me chamando de Luna do bando? Não é esse o
título de Tallulah? Eu não sou nada além de uma criada, senhor. — eu
respondi, tentando descobrir se isso era algum tipo de piada de mau
gosto.
— Não, minha querida criança. Você é a Luna legítima. Alfa Wolfgang
nos disse que você é sua verdadeira parceira, e que você foi marcada.. —
disse o ancião Leto.
Eu me virei para encarar Wolfgang; eu estava surpresa.
— Ma-Mas eu pensei que... — parei de falar quando o choque me
consumiu.
— Você viu! Ele se importa com você! — Rhea gritou, animada.
Ele se importava comigo. Ele disse aos anciãos que eu era sua
parceira.
— Ele foi forçado a isso. — Max retrucou. — Se ele não tivesse falado
a verdade, os anciãos não teriam autorizado a operação para resgatar
você.
Isso me tirou do meu torpor.
— Eles estavam dispostos a sacrificar você, uma criada, pelo bem de
Tallulah, que eles pensaram ser a verdadeira Luna. E foi tudo graças ao
Wolfgang ali... — Max zombou.
— Beta Barone, você está passando dos limites! — um dos anciãos
gritou.
A raiva brilhou nos olhos de Wolfgang. Em um movimento rápido, ele
agarrou Max pelo colarinho e o jogou contra a parede.
— Seu desgraçado! Você não tinha o direito de dizer isso a ela! — ele
rosnou.
— Este é um comportamento insubordinado! — ancião Radolf gritou.
— Você será rebaixado de sua posição! — o ancião Leto acrescentou.
— Esperem! — gritei. Todos voltaram a atenção para mim.
Saí da cama e fiquei de frente para todos eles.
— Então... vocês nunca tiveram a intenção de me salvar? — perguntei
aos cinco homens que estavam na minha frente.
Wolfgang largou Max e tentou se aproximar de mim, mas eu recuei.
— Não! Não me toque! — Lágrimas caíram pelo meu rosto, mas
tentei manter minhas emoções sob controle. Eu não queria que eles me
vissem chorar.
— Todos vocês estavam prontos para me deixar nas mãos de... de... —
As palavras ficaram presas na minha boca quando mais uma vez me
lembrei da sensação nauseante do toque de Klaus.
Abaixei minha cabeça quando a compreensão surgiu.
— Eu estava certa desde o início. É por isso que eu mesma tive que
me salvar. — Minha voz era quase um sussurro. — Nenhum de vocês ia
fazer isso. — falei, com os dentes cerrados.
— Aurora — um dos anciãos começou a falar, mas eu não permiti.
— Não! Você não tem ideia do que eu tive que passar! Você não tem
ideia do medo que eu senti!
Engasguei com um soluço.
— E agora... todos vocês estão aqui, me elogiando e me chamando de
sua Luna, quando há quatro dias eu nem existia para vocês!
Agora eu tinha certeza de que todo o hospital estava ciente da cena
acontecendo, mas não me importei.
Todos eles ficaram em silêncio, me observando chorar. Eu tentei
desesperadamente enxugar as lágrimas que escorriam pelo meu rosto,
mas elas continuaram vindo.
— Aurora... — Wolfgang finalmente quebrou o silêncio, caminhando
até mim.
Eu levantei minha cabeça para vê-lo estender sua mão para mim, mas
eu balancei minha cabeça.
— Rejeite-me! — rosnei para ele.
— Não! Aurora, o que você está fazendo?! — Rhea gritou em minha
mente, mas eu a ignorei.
— Rejeite-me agora e me marque como uma renegada. Eu não me
importo mais. — continuei.
— Aurora, não! — Max gritou, mas não dei ouvidos.
— Prefiro ser uma loba sem matilha do que me tornar sua Luna. — eu
rosnei.
Continua no Livro 2…
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