Livro
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2018
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Profª. Brigitte Grossmann Cairus
C136e
ISBN 978-85-515-0196-2
CDD 701.17
Apresentação
Caro acadêmico! Como podemos refletir sobre as emoções produzidas
pelos objetos que admiramos? Por que será que a arte sempre existiu durante
a história da humanidade, e quais foram as principais influências estéticas
no ocidente? Ao longo desta disciplina, compreenderemos que a arte reside,
basicamente, na habilidade humana de abstrair o pensamento e interpretar o
mundo em sua volta de maneira criativa e simbólica.
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA.......................... 1
VII
UNIDADE 2 – RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA
E ROMA ANTIGAS...................................................................................................... 69
VIII
TÓPICO 2 – ESTÉTICA E O PENSAMENTO PÓS-MODERNO: NIETZSCHE, HEIDEGGER
E MERLEAU-PONTY..................................................................................................... 175
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 175
2 NIETZSCHE E O ARTISTA............................................................................................................... 176
2.1 DIONISÍACO E APOLÍNEO......................................................................................................... 177
2.2 O DESEJO DE PODER................................................................................................................... 181
3 OS TRÊS PILARES DA ESTÉTICA DE HEIDEGGER ................................................................ 187
4 MERLEAU-PONTY E A HISTORICIDADE DA ARTE .............................................................. 194
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 206
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 209
IX
X
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontrará
autoatividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
A palavra arte vem do latim ars, que significa o “ato de fazer”. A arte, para
os gregos, significava o domínio, para o ser humano, de uma ou mais técnicas.
Temos o costume de usar a palavra arte para a ideia de saber fazer algo bem feito,
por exemplo, a arte da guerra, a arte da política, a arte de cozinhar etc.
3
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
- “O artesão sabe o que ele quer fazer antes mesmo de começar, mas a confecção de
uma obra de arte é um negócio estranho e arriscado, no qual o fabricante nunca
sabe exatamente o que ele está fazendo até que ele faça”. R. G. Collingwood
(1889-1943), filósofo inglês, The Principles of Art (1938).
- “A arte não reproduz o visível, em vez disso, torna (algo invisível em) visível”.
Paul Klee (1879-1940), pintor suíço, The Inward Vision (1959).
- “Todos sabemos que a arte não é verdade. A arte é uma mentira que nos faz
perceber a verdade”. Pablo Picasso (1881-1973), pintor espanhol, citado em
Picasso on Art, de Dore Ashton (1972).
- “As ideias sozinhas podem ser obras de arte. Todas as ideias não precisam ser
concretizadas. Uma obra de arte pode ser entendida como uma ponte entre
a mente do artista para o espectador. Mas talvez a obra de arte nunca possa
chegar ao espectador, ou talvez nunca saia da mente do artista”. Sol LeWitt
(1928-2007), artista americano, "Sentenças na arte conceitual", em Arte e
Significado, editado por Stephen David Ross (1994).
4
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
- “A arte tem algo a ver com a conquista da quietude no meio do caos”. Saul
Bellow (1915-2005), romancista americano, em George Plimpton, Writers at
Work, terceira série (1967).
- “ Não acho que a arte seja elitista ou misteriosa. Não creio que ninguém possa
separar a arte da política. A intenção de separar a arte da política é em si
mesma uma intenção muito política”. Ai Weiwei (1957-), artista chinês, "Shame
on Me", em Der Spiegel, 21 de novembro de 2011.
5
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
um museu) de modo que seu significado útil desapareceu sob um novo título e
ponto de vista (e) criou um novo pensamento para o objeto”. Marcel Duchamp,
Beatrice Wood e Henri-Pierre Roché, The Blind Man, 2ª edição (maio de 1917).
- “Se uma declaração geral pode ser feita sobre a arte dos nossos tempos, é
que, por um lado, o antigo critério do que uma obra de arte deveria ser foi
descartado em favor de uma abordagem dinâmica na qual tudo é possível”.
Peter Selz (1919), historiador de arte americano de origem alemã, Art in Our
Times (1981).
6
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
7
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Há, no entanto, ainda uma diferenciação entre os objetos feitos com uma
função específica em mente (as preocupações técnicas e relacionadas ao design
são primordiais) e aqueles que são feitos principalmente para exibição em museus
ou galerias de arte.
8
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
Outro ponto importante é que rotular algo como arte implica em algum
tipo de julgamento avaliativo sobre a imagem, objeto ou processo. Reconhece a
especificidade de uma variedade de práticas dentro de uma categoria mais ampla
ou tradição com reivindicações particulares ao valor estético e/ou social. Contudo,
é importante entender que o significado e as atribuições da arte são particulares
para diferentes contextos, sociedades e períodos.
9
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
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TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
11
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
FIGURA 6 – PINTURA DE CRANACH (ADÃO FIGURA 7 – SINGER (SRA. FISKE WARREN E SUA
E EVA, 1526) FILHA RACHEL, 1903)
12
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
Foi um grande avanço que ajudou em ilusões cada vez mais convincentes
das noções de profundidade e espaço em uma superfície plana. Por exemplo, uma
pintura naturalista, como a Santíssima Trindade de Masaccio, pintada em 1427,
em Santa Maria Novella, na Florença, tornou-se, em efeito de teorias e histórias
da arte, um marco importante na história da arte, que pelo uso da perspectiva e
realismo, parte para uma nova dimensão espacial.
13
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
De acordo com Platão, uma pintura de uma mesa era apenas uma cópia
e tinha um valor prático limitado, uma vez que não poderia ser usado para
realmente fazer ou projetar uma mesa real (LYCOS, 1987). Embora, em outros
lugares, Platão apoie mais a arte esquemática (HYMAN, 1989), seus comentários
aqui sugerem que a prática da pintura imitativa e ilusionista é paralela a uma
atividade fraudulenta. A abordagem de Platão em relação à arte foi moldada pelo
mundo clássico e pelos valores de sua época.
Entretanto, a ideia de que a arte deve ser imitativa das coisas no mundo
continua a ser generalizada e determinado conceito ainda é bastante presente, em
alguns casos, aos aspectos da prática contemporânea. Apesar de todo o avanço
tecnológico imagético, as pinturas hiper-realistas, feitas com lápis ou por um pincel
ainda constam, na atualidade, como uma forte modalidade apreciada por muitos.
14
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
DICAS
15
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
16
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
E
IMPORTANT
18
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
19
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
arte como diversão, que ele descreve como formas menores de arte técnica. Como
ele mesmo disse com eloquência, o lugar da arte é contar à audiência "os segredos
de seus próprios corações" (COLLINGWOOD, 1975, p. 336).
20
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
Assim, o estético teria a ver com uma experiência individual, que não
está restrita ao campo da arte, enquanto o artístico, com uma prática social,
considerando a arte como uma produção coletiva por pessoas que pertencem
a um grupo cultural. Vamos analisar a seguir as obras dos artistas Duchamp e
Emin:
21
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Apesar de ser uma das teorias mais flexíveis e acolhedoras da arte até agora
esboçada, ela pode apresentar o risco de ignorar as especificidades e atributos da
arte, o que a torna uma atividade humana tão importante e diferenciada. Além
disso, precisamos considerar, em que critérios o mundo da arte faz a seleção
desses objetos designados como arte?
22
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO ARTE E ESTÉTICA
23
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Uma definição mais ampla de arte engloba as atividades que produzem obras
com valor estético, incluindo a realização de filmes, performance e arquitetura.
• As definições contemporâneas da arte não são tão específicas como as ideias que
costumavam ser das belas artes, particularmente restritivas sobre a natureza
do valor estético. As definições contemporâneas estão associadas à teoria
institucional da arte, provavelmente a definição mais amplamente utilizada de
arte hoje.
24
AUTOATIVIDADE
I- Imitação
II- Forma e criação
III-Expressão
IV-Abstração ou ideia
( ) Foi um grande avanço, que ajudou em ilusões cada vez mais convincentes
das noções de profundidade e espaço em uma superfície plana.
( ) Essas ideias foram importantes porque anteciparam algumas das respostas
críticas à abstração de vanguarda, que posteriormente se tornaram
generalizadas.
( ) A arte deve transmitir verdades fundamentais e uma visão sobre o que
significa ser humano no mundo.
( ) As formas, ideias e associações de arte são fundamentais para a experiência
sensorial que ela oferece.
a) I-II-III-IV.
b) IV-II-III-I.
c) III-IV-II-I.
d) II-I-III-IV.
25
26
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos sobre arte e música, bem como conheceremos
a natureza da estética.
Assim, este tópico contribuirá para a realização de uma análise entre arte,
música e a estética.
27
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
2 CARACTERÍSTICAS DA ARTE
Em linhas gerais, podemos estabelecer que a arte:
3 DEFINIÇÃO DE ESTÉTICA
Iniciamos nossos estudos nos perguntando: o que é estética? A palavra
estética foi utilizada, pela primeira vez, no contexto moderno, pelo filósofo
Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1831). Ele queria estabelecer uma disciplina
da Filosofia que pudesse estudar todas as manifestações artísticas.
29
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Uma vez que, no entanto, a arte não pode ser extraída completamente
dos contextos históricos não apenas das sociedades dentro das quais os artistas
trabalham, mas também das teorias estéticas clássicas que associam arte com
beleza, além das supostas obrigações da comunidade humana para buscar beleza
no mundo e no caráter de pessoas. Assim, a filosofia da arte tentou mostrar a
relação entre arte e valores morais e políticos.
E
IMPORTANT
A ilustração de uma crítica de arte clássica mostra que a arte tem sido
historicamente considerada como um meio central de propaganda de valores
morais, religiosos, culturais ou políticos e castigada como perigosa para aqueles
valores que exigem censura, perseguição ou proibição pela Igreja, pelo Estado
ou ambos.
30
TÓPICO 2 | ARTE, MÚSICA E A ESTÉTICA
E
IMPORTANT
Você sabe o que significa poesia épica? A poesia épica, em estudos clássicos, é
um gênero da literatura que se refere ao poema narrativo relativamente que mostra afinidades
formais com o épico, mas revela uma preocupação com temas e técnicas poéticas que não
são, no geral, ou pelo menos, primariamente, características adequadamente épicas.
E você sabe o que significa poesia épica homérica? Homérico é um adjetivo que se refere ou
pertence ao poeta grego Homero, a suas obras, ou a seu estilo: “poemas homéricos”, “tempos
homéricos”, “período homérico”. Homero foi o poeta das epopeias “A Ilíada” e “Odisseia”. Viveu
na Grécia entre os séculos IX e VIII a.C.
31
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
E
IMPORTANT
Entende-se que, quando uma obra de arte é completa, ela exibe três
subcritérios: unidade, complexidade e intensidade. As obras de arte são boas
quando transmitem uma profundidade de significado, diversidade ou intensidade
com uma economia de meios ou quando uma diversidade de elementos se une
em uma unidade formal.
32
TÓPICO 2 | ARTE, MÚSICA E A ESTÉTICA
4 A ESTÉTICA NA MÚSICA
As tentativas de definir o conceito de música geralmente começam,
segundo Levinson (2018), com o fato de que a música envolve som, mas também
postula coisas como a tradição cultural, a realização de objetivos de um compositor
ou a expressão de emoções, como características essenciais da música.
Em que sentido podemos dizer que uma peça musical tem significado?
Alguns afirmam que ela tem sentido apenas internamente – em sua estrutura,
como um arranjo de melodias, harmonias, ritmos e timbres, por exemplo –,
33
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
A mais popular das crenças é que a música expressa emoção. Não quer
dizer, entretanto, que a emoção expressa em uma obra seja necessariamente
experimentada por aqueles envolvidos em sua composição ou performance. Os
compositores podem criar uma música pacífica ou furiosa sem estarem nesses
estados, e o mesmo vale para o desempenho de tais peças musicais pelos músicos.
34
TÓPICO 2 | ARTE, MÚSICA E A ESTÉTICA
salientes da abordagem são, primeiro, que sons naturais e acidentais podem ser
música e, segundo, que o status da música é relativo ao ouvinte e à ocasião da
escuta. Segundo Schafer (1991, p. 27), “música é a organização de sons (ritmo,
melodia, etc.) com a intenção de ser ouvida”.
35
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Se uma obra musical não é uma entidade física, o que ela será então? Há
quatro visões sobre a questão, três das quais sustentam que uma obra musical é
uma variedade de entidades abstratas.
36
TÓPICO 2 | ARTE, MÚSICA E A ESTÉTICA
implica. Apenas uma visão como a quarta, que individualiza as obras musicais
de forma mais refinada – por exemplo, como aquelas iniciadas por compositores
cuja identidade está ligada a uma pessoa, tempo e lugar – pode ser adequada às
obras musicais.
O ato de compor uma obra musical padrão é, assim, dado a partir de uma
estrutura indicada pelo compositor, dentro de um contexto musical e histórico
específico.
37
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A estética, por sua vez, é importante porque aprofunda a razão pela qual a arte
sempre existiu, a necessidade ardente da humanidade através dos tempos para
ver o mundo de uma maneira diferente e clara.
• A palavra estética foi utilizada, pela primeira vez, no contexto moderno, pelo
filósofo Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1831). Ele queria estabelecer uma
disciplina da Filosofia que pudesse estudar todas as manifestações artísticas.
Baumgarten definiu a estética como sendo uma disciplina que deveria refletir
sobre as emoções produzidas pelos objetos que são admirados pelos seres
humanos. Entretanto, bem antes, na Grécia antiga, a palavra estética (que
deriva da palavra grega aesthesis, que significa sensibilidade) já era utilizada
pelos filósofos.
39
AUTOATIVIDADE
40
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A questão "o que é beleza?" teve, desde a Grécia antiga, com o filósofo
Platão, um lugar proeminente na filosofia ocidental. No entanto, a estética, como
uma disciplina científica e filosófica, que tem a beleza como seu objeto central,
começa a existir apenas na primeira metade do século XVIII com o filósofo alemão
Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), inventor da "estética".
41
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
2 A BELEZA NA ESTÉTICA
O belo, ou a beleza, é uma categoria básica da estética. Consequentemente,
nenhum trabalho teórico sobre educação estética é completo, a menos que inclua
uma definição da categoria de beleza.
42
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
43
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Dizer que uma obra de arte é feia é argumentar que falhou devido à
incapacidade técnica ou imperfeição. A feiura, na natureza, é considerada um
erro na criação. Consequentemente, um animal que é monstruoso é considerado
como uma exceção dentro da espécie, como uma falha na natureza.
E
IMPORTANT
44
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
45
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
3) A beleza no seu significado estético, mas limitada apenas ao que pode ser
percebido com os olhos (cor e forma). Vale ressaltar que, na estética, o belo
raramente é visto dessa maneira. Em geral, a estética contemporânea usa o
segundo conceito.
Em “A história da beleza”, Eco (2004, p. 89) define que "a beleza nunca
foi absoluta e imutável, mas assumiu diferentes aspectos, dependendo do
período histórico e do país: não é válido apenas para beleza física (de homens, de
mulheres, da natureza), mas também para a beleza de Deus, ou para os santos,
ou ideias". A beleza está entre os três conceitos mais elevados da filosofia: o bom,
o belo e o verdadeiro.
46
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
47
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Em suas obras, Platão trata da essência da beleza, ou seja, trata dos aspectos
essenciais que tornariam uma mulher, um vaso, um animal ou uma árvore bonitos
por natureza, ao contrário de uma noção de adorno, ou de embelezamento. Ele
enfatiza o fato de que, além de objetos bonitos, há também pensamentos belos,
ou seja, a beleza em si.
48
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
Segundo Maker (1975), para Hegel, a beleza natural não pode ser uma
grande preocupação da teoria estética. Hegel acredita que o belo é idêntico ao
valioso. Assim, o "artisticamente bonito" é o mesmo que o "artisticamente valioso".
Muitos autores acreditam que a definição da beleza não deve ser uma
preocupação da teoria estética. A crítica da posição central que a beleza ocupa na
estética se baseia em três premissas:
49
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
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TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
51
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
NOTA
52
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
53
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
3 O FEIO E O SUBLIME
Será que o feio é mesmo oposto à beleza? Faz sentido falar sobre a beleza
do feio ou sobre a bela representação do feio? A feiura é necessária para falar
sobre o belo? No capítulo V de sua “História da Beleza”, Eco (2004) discute a
chamada "beleza dos monstros".
54
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
Já Aristóteles ressalta que a arte também pode sempre retratar seres feios
de uma maneira bonita, e que é precisamente a beleza do confronto que o torna
feio e aceitável. Segundo Eco (2004, p. 133), “a fealdade que nos repele na natureza
existe, mas torna-se aceitável e mesmo prazerosa na arte que expressa e mostra
"lindamente" a feiura da fealdade”. A representação do feio pode ser estendida às
cenas de tortura, agonia e tristeza ao lado do monstruoso e da desfiguração física.
55
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
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TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
E
IMPORTANT
57
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Embora possamos argumentar que uma teoria estética clássica do feio não
é possível, não implica que uma "experiência de feiura" seja impossível. Além
disso, as artes visuais contemporâneas provocam frequentemente determinada
experiência.
Significa apenas que a beleza não é mais uma categoria estética pertinente
para ser empregada na caracterização do objeto contemporâneo de arte e que
os predicados mais pertinentes precisam ser procurados. Para o efeito, podemos
apelar para a categoria "subversiva" kantiana do monstruoso, que o próprio Kant
colocou fora do domínio estético. A maior parte das artes visuais contemporâneas
58
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
FIGURA 33 – INSTALAÇÃO “I LIKE AMERICA AND AMERICA LIKES ME” DE JOSEPH BEUYS,
1974
59
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
Davidson (1931) concebeu, nos anos 60, a noção de antiforma como uma
reação contra a arte clássica, que considerou a solidez e nobreza de materialidade.
Davidson (1931) pediu a horizontalidade e os materiais banais (materiais sensíveis,
descartáveis e sintéticos), pleiteando por flacidez, limo, fluidez e dobra.
60
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
61
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
• Aqui também, Kant foi o iniciador. O feio não é considerado como oposto ao
belo, mas como uma continuação do sublime. O extremo sublime seria o feio.
O feio, portanto, não é um valor ou categoria estética, mas um tipo pós-estético.
O "valor" das artes contemporâneas consiste em infringir nossa imaginação,
violá-la, e assim o efeito violento do objeto contemporâneo da arte traz um
reflexo axiológico e moral imediato sobre a identidade, a autenticidade, a
integridade de ser humano.
62
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
LEITURA COMPLEMENTAR
Noeli Ramme
Assim, se, por um lado, a teoria dos usos da linguagem permitiu à filosofia
analítica superar os limites de uma filosofia dedicada quase que exclusivamente
às questões da lógica e da fundamentação das ciências, por outro lado, os
movimentos artísticos da década de 60 colocaram novas questões ao romper com
praticamente todos os limites da arte que estavam estabelecidos dentro da prática
modernista. Por exemplo, o Fluxus, com sua ênfase na produção coletiva, rompe
com a ideia de autoria; o Minimalismo, por sua vez, coloca em xeque a ideia de
experiência estética como mera contemplação e a Pop ultrapassa definitivamente
todos os limites da arte ao instaurar a possibilidade de apresentar como arte
quaisquer objetos tirados do mundo comum.
Ao invés de dar uma nova definição, ele propõe como alternativa a rejeição
completa da questão, pois as dificuldades não seriam apenas uma consequência
63
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
da grande variedade de obras de arte, mas sim do fato de que simplesmente não é
possível descobrir ou definir uma essência, ou um conjunto de propriedades que
deve ser apresentado por cada obra verdadeiramente artística.
Para tratar do problema, diz ele, devemos considerar primeiro que tipo de
conceito é o conceito de arte e não o conjunto da arte ou de algumas obras de arte.
O conceito de arte seria intrinsecamente aberto e mutável, e designa um campo
que se orgulha da sua originalidade e inovação. E mesmo que pudéssemos agora
definir o que é arte, nada garante que a arte futura vai se conformar com esses
limites. O mais provável é que suas transformações não parem de acontecer.
Assim, diz Weitz que o caráter extremamente expansivo e instável da arte torna
sua definição logicamente impossível.
64
TÓPICO 3 | O BELO, O FEIO E O SUBLIME NA ESTÉTICA
Mesmo dentro da arte, é preciso tomar decisões desse tipo quando novas
formas aparecem alargando ou superando categorias usuais, como a instalação
com relação à escultura, ou o objeto com relação à pintura etc. Casos assim
mostram que os limites dentro da arte são móveis e não muito definidos. Mostram
também o quanto é importante a existência de critérios conceituais para fazer
determinadas distinções.
Assim se, por um lado, a proposta de Weitz teve um efeito libertador sobre
pelo menos uma parte dos teóricos da estética analítica, que abandonaram a tarefa
de descobrir a essência da arte, por outro lado, despertou em vários o desejo de
construir um tipo alternativo de definição que pudesse superar as dificuldades.
65
UNIDADE 1 | ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: CONCEITO E NATUREZA
FONTE: RAMME, Noeli. É possível definir “Arte”? Revista Analytica, V. 13, n° 1, 2009, p. 197-202.
Disponível em: <http://analytica.inf.br/analytica/diagramados/159.pdf>. Acesso em 1 jan. 2018.
66
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O feio não é o oposto do "belo" e ambos não são contraditórios, mas sim
logicamente antipodais. Eles se excluem, mas deixam a porta aberta para
termos intermediários neutros. "Não é bonito" não coincide com “feio” ou
“bonito”.
67
AUTOATIVIDADE
68
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles, você en-
contrará autoatividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.
69
70
UNIDADE 2
TÓPICO 1
ORIGENS DO CLASSICISMO
1 INTRODUÇÃO
Como analisamos na unidade passada, a ideia de modernidade foi
essencialmente ligada à condenação do belo como valor e norma estética. A arte
e a estética contemporânea ainda questionam a existência, o significado e o valor
da beleza a favor do novo, do intenso e do estranho. Contudo, o conceito clássico
de beleza ainda fascina e norteia boa parte de nosso cotidiano, como nos padrões
estéticos da beleza corporal, da moda, da arquitetura ou design.
71
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
72
TÓPICO 1 | ORIGENS DO CLASSICISMO
73
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
74
TÓPICO 1 | ORIGENS DO CLASSICISMO
UNI
A escultura grega e a cerâmica grega, bem como a pintura grega, são geralmente
reconhecidas como superiores às dos romanos. A arquitetura grega também é a base para a
arquitetura romana, embora os engenheiros romanos tenham feito avanços importantes em
materiais e métodos gregos.
No entanto, uma grande proporção de esculturas gregas e outras obras só nos são conhecidas
através de cópias romanas, enquanto os edifícios romanos também ultrapassaram, em
qualidade de materiais e técnicas construtivas, significativamente as estruturas gregas. Para
podermos conhecer bem a arte romana é, portanto, importante conhecer profundamente
acerca da arte grega.
75
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
76
TÓPICO 1 | ORIGENS DO CLASSICISMO
77
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
A arte que antes oferecia símbolos do mundo natural de uma maneira mais
geométrica e estilizada, agora por escolha, imitava a natureza. A ilusão começou
a substituir o símbolo convencional. O artista começou a criar réplicas do homem
tão habilmente quanto o poeta, que explorava seus medos e esperanças.
78
TÓPICO 1 | ORIGENS DO CLASSICISMO
Para os ocidentais, nos dias atuais, o nu não é visto com naturalidade, mas
é aceito na arte. Na Grécia clássica, o nu não era antinatural, e assim seu uso na
arte não exigia desculpa, nem explicação. Vejamos um exemplo:
79
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
80
TÓPICO 1 | ORIGENS DO CLASSICISMO
81
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
82
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
83
AUTOATIVIDADE
84
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
O maior estímulo para o progresso e para a crença em um futuro é o
conhecimento e a compreensão de um passado. O grego do século IX a.C., que
vivia em um país escassamente povoado, de uma maneira que raramente se
elevava acima do austero, tinha ao seu redor a evidência da civilização de seus
predecessores, da Era do Bronze, dos micênicos e dos minoicos.
85
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
86
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
87
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
88
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
89
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
90
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
91
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
92
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
Atenas era o lar da arte arcaica grega na época, e foi lá que houve uma
segunda e importante revolução na escultura, a partir de uma nova criação. O
"Efebo de Krítios " demonstra uma postura natural e descontraída, principalmente
em uma perna, seus quadris, tronco e ombros, deslocando-se para ajustar a
posição.
93
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
94
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
UNI
95
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
96
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
Podemos observar duas pinturas de estética clássica, com quase dois mil
anos de diferença entre elas: a pintura em mural, com carruagem do período
clássico grego, Túmulo de Vergina, do século IV a.C. (acima) e a pintura barroca
de cavalo, de Diego Velásquez, do século XVII d.C. (logo abaixo). Apesar da
diferença de idade entre elas, notamos que as semelhanças técnicas da pintura
são surpreendentes.
97
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
98
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
Felipe II foi o rei do reino grego antigo da Macedônia de 359 a.C., até seu
assassinato, em 336 a.C. Ele era membro da dinastia Argead dos reis macedônios,
o terceiro filho do rei Amyntas III da Macedônia e pai de Alexandre o Grande e
de Filipe III.
A maioria dos gregos aprendeu sua história de mitos de uma tradição oral
rica e infinitamente variada. Nossos estudos clássicos começam a partir de textos.
Os deles não, e muitos deles eram, na verdade, analfabetos.
Às vezes, a arte seguia a narrativa das histórias contidas nos textos acerca
da mitologia, às vezes os textos seguiam o que estava retratado na própria arte.
Há algumas cenas, daquele período, que seguem deliberadamente textos, embora
provavelmente menos do que é geralmente pensado.
O artista teve a mesma liberdade que um escritor para ajustar sua história,
mas ele era mais restrito mesmo no conteúdo do que retratava as fórmulas de seu
ofício. Ele não poderia, por exemplo, oferecer uma narrativa contínua, além de
que havia um limite para o que poderia ser explicado através de sua obra.
99
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
100
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
101
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
Em Tennessee, nos Estados Unidos, por exemplo, foi feita uma reprodução
moderna da estátua de Atenea Partenos de Fidias, no Partenon, de Nashville. Alan
LeQuire, nativo de Nashville, foi encarregado de fazer uma réplica da estátua.
Seu trabalho foi feito nas descrições e cópias existentes do original.
A versão moderna demorou oito anos para ser feita, foi revelada ao
público em maio de 1990 e é importante por sua escala e cuidado na recriação do
trabalho de Phidias. A reprodução do Athena Partenos ajuda a dar aos visitantes
a impressão de que estão dentro de um antigo lugar de adoração ateniense.
102
TÓPICO 2 | O CLASSICISMO NA ARTE E NA ARQUITETURA GREGA
Por sua vez, a Estátua da Liberdade tem cópias feitas ao redor do mundo.
No Brasil, muitos de nós já vimos, por exemplo, alguma réplica da famosa estátua
em uma das lojas da Havan, que é uma rede de departamentos catarinense.
104
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
105
AUTOATIVIDADE
106
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A arte e a arquitetura floresceram durante o Império Romano, entre 27
a.C. e 476 d.C. Sob o domínio romano, ambiciosos programas de construção,
melhorias civis e monumentos escultóricos transformaram a capital e seus
territórios dependentes em toda a Itália, Europa e o Mediterrâneo.
107
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
108
TÓPICO 3 | O CLASSICISMO NA ARTE E ARQUITETURA ROMANA
109
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
Júlio César já havia mostrado o caminho com sua ótima visão de uma
monumental reorganização do coração de Roma, e alguns de seus projetos foram
devidamente preenchidos por Augusto.
110
TÓPICO 3 | O CLASSICISMO NA ARTE E ARQUITETURA ROMANA
Seu tio, por parte de mãe, Júlio César, foi assassinado em 44 a.C., e
foi nomeado, segundo a própria vontade de César, como seu filho adotivo e
herdeiro. Augusto é conhecido pelas suas obras arquitetônicas e artísticas, e por
ter transformado a aparência de Roma em um modelo grego clássico.
O teatro de Marcellus, por exemplo, iniciado por César, mas não terminado
até cerca de 13-11 a.C., com seus assentos levantados em subestruturas de concreto
e com uma fachada exterior de arcadas sobrepostas (cada linha emoldurada por
uma colunata contínua de colunas engajadas, uma fórmula que muito influenciou
os arquitetos do século XVI em diante), era essencialmente o tipo de construção já
estabelecido em Roma pelo teatro anterior de Pompeu (55 a.C.).
111
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
112
TÓPICO 3 | O CLASSICISMO NA ARTE E ARQUITETURA ROMANA
113
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
UNI
Bem romano também é o uso do fórum como uma galeria de retratos dos
grandes nomes da história romana, incluindo o próprio Augusto, identificado
como apenas outro herói em uma longa série de republicanos.
115
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
117
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
Os tipos agora criados para Augusto e sua família não eram os retratos
realistas da república tardia, mas uma mistura delicada de realismo e estado-
ideal viril. O humor pode variar da determinação sombria do Capitão Octaviano,
formado em um momento antes da consolidação total de sua posição, através
da sobriedade de autoridade de Augusto como pontifex maximus, esculpida cerca
de 30 anos depois, com pouca sugestão de envelhecimento, ao autoconfiante
Augusto.
118
TÓPICO 3 | O CLASSICISMO NA ARTE E ARQUITETURA ROMANA
119
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
120
TÓPICO 3 | O CLASSICISMO NA ARTE E ARQUITETURA ROMANA
121
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
122
TÓPICO 3 | O CLASSICISMO NA ARTE E ARQUITETURA ROMANA
Oito séculos mais tarde, após o final da Idade Média, houve uma forte
mudança de paradigma cultural na Europa, conhecida por Renascimento. A
palavra "renascimento" se refere não apenas ao generalizado florescimento da
literatura e das artes na Itália do século XV, mas também ao ressurgimento da
cultura clássica antiga como força vital na época.
123
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
Poucas pinturas gregas ou romanas já haviam saído à luz, mas uma série
de objetos tridimensionais mais duráveis, como moedas, medalhas, estatuetas e
gemas, forneceram um vasto léxico de formas e motivos clássicos para cotação
direta ou adaptação imaginativa. Determinados artefatos também ajudaram os
artistas a reunirem reconstruções plausíveis da Roma antiga.
• Uma ideia da escala do novo programa de construção pode ser julgada pela
surpreendente afirmação de Augusto, de que ele construiu ou restaurou não
menos de 82 templos em apenas um ano, além de outros tipos de construção.
Um impacto mais imediato na cena arquitetônica foi feito pelo mármore.
Augusto se vangloriou do fato de ter encontrado Roma como uma cidade de
tijolos de barro e a ter deixado como uma cidade de mármore.
• O nome de Spurius Tadius, também conhecido como Studius, é relevante. Ele foi
o primeiro que teria feito pinturas muito encantadoras de jardins paisagísticos,
com pessoas envolvidas nas tarefas da vida cotidiana. Repercute como o tipo
de coisa que surge em várias residências augustas, como figuras pequenas,
retratadas de forma impressionante em plano monocromático, caminhando e
pescando, conversando e fazendo negócios diários, em um cenário de pontes,
pórticos e pavilhões.
126
AUTOATIVIDADE
( ) Augusto forneceu um forte patrocínio, que era vital para criar condições
adequadas para obras de arte e edifícios em grande escala.
( ) Augusto construiu não menos de 82 templos em apenas um ano, além de
outros tipos de construção.
( ) Augusto se vangloriou do fato de ter encontrado Roma como uma cidade
de tijolos de barro e a ter deixado como uma cidade de mármore.
( ) Augusto provavelmente foi o primeiro a perceber o potencial das ricas
pedreiras de mármore de Carrara, perto de Luna, no norte da Itália.
127
128
UNIDADE 2
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
A estética musical, como um todo, procura entender as propriedades
percebidas da música, em particular aquelas que levam as experiências de valor
musical para o ouvinte. Pode também ser entendida, mais amplamente, como
sinônimo da filosofia da música, incluindo, assim, questões de ontologia musical,
epistemologia, ética e sociologia.
O termo clássico outorgado à música não tem uma correlação direta com
a estética clássica greco-romana, mas enfatiza a continuidade de um estilo, de um
cânone musical europeu de longa duração.
129
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
2 FORMA MUSICAL
Os relatos de compreensão da música clássica abordam a questão de
como os padrões do som geram significado para o ouvinte. Eles têm a ver com
o desdobramento dos padrões no tempo durante a experiência auditiva e com a
percepção do ouvinte sobre as relações entre as ideias musicais na peça.
130
TÓPICO 4 | A ESTÉTICA DA MÚSICA CLÁSSICA
Budd não nega que a música possa conter outros elementos e servir para
outros propósitos, como quando um instrumento musical, passagem ou motivo
é usado para significar algo extramusical, ou quando um trabalho musical de
alguma forma representa coisas ou eventos extramusicais, ou quando a música é
combinada com outras formas de arte.
Sua alegação é que tais elementos na música não são adequados à arte,
que eles não fazem parte da música como tal. O conteúdo musical na música está
presente em uma estrutura audível abstrata cujo significado não é determinado
por significados ou referências ao mundo externo.
Assim, a música não representa nada, não faz referência para nada, e não
é sobre outra coisa se não for ela mesma. O autor restringe o que é essencial para
entender a música com a percepção dos padrões estruturais audíveis presentes
em uma peça e suas relações musicalmente significativas entre si. Todo o outro
conteúdo é excluído.
131
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
Ao definir a música como a arte dos sons não interpretados, Budd localiza
o conteúdo estritamente musical da música em primeiro lugar na percepção do
ouvinte sobre as relações entre as estruturas musicais.
4 FORMALISMO MUSICAL
A alegação de que a música é uma arte abstrata pode significar que ela não
contém nada além de sons e suas relações entre si. Em outras palavras, podemos
dizer que a música possui apenas conteúdo formal, de modo que qualquer
conteúdo que não seja assim é de importância secundária e uma adição opcional
por parte do ouvinte e, portanto, não faz parte da música em si.
132
TÓPICO 4 | A ESTÉTICA DA MÚSICA CLÁSSICA
Ele argumenta que as instâncias, quaisquer que sejam suas origens, são
estabelecidas por convenção e, portanto, têm o mesmo caráter objetivo que as que
se assemelham a expressões comportamentais humanas de emoção.
133
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
134
TÓPICO 4 | A ESTÉTICA DA MÚSICA CLÁSSICA
UNI
135
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
136
TÓPICO 4 | A ESTÉTICA DA MÚSICA CLÁSSICA
LEITURA COMPLEMENTAR
Ainda, como diz John Berger, o gênero por excelência, no qual a mulher
é o tema principal, é o nu. Os nus femininos, da tradição pictórica ocidental, têm
137
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
origem nas belas estátuas gregas, que esculpiram no mármore não só a arquitetura
de uma perfeição de formas concebidas, mas também os gestos fundadores
de uma estética da ambiguidade feminina, presente na atitude de velamento e
desvelamento da intimidade física, fartamente reproduzida no decorrer dos
séculos.
Basta comparar uma das muitas reproduções da clássica Vênus com a série
deflagrada a seguir. No Renascimento, com o mitológico Nascimento de Vênus
(1480), de Botticelli e, no Barroco, seja com a Eva (1550) das Sagradas Escrituras,
seja com a profana Vênus de Urbino (1536), ambas de Ticiano.
138
TÓPICO 4 | A ESTÉTICA DA MÚSICA CLÁSSICA
139
UNIDADE 2 | RAIZES HISTÓRICAS DA ESTÉTICA CLÁSSICA OCIDENTAL: GRÉCIA E ROMA ANTIGAS
140
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• O termo "música clássica" não apareceu até o início do século XIX, em uma
tentativa de canonizar distintamente o período de Johann Sebastian Bach
(1685-1750) até Ludwig van Beethoven (1770-1827) como uma idade de ouro.
• Para Budd (1995), o conteúdo musical está presente em uma estrutura audível
abstrata, cujo significado não é determinado por significados ou referências ao
mundo externo. Budd chama a forma de "estrutura musical" da peça.
141
AUTOATIVIDADE
142
UNIDADE 3
ESTÉTICA MODERNA E
CONTEMPORÂNEA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontra-
rá autoatividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.
143
144
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
As reflexões filosóficas sobre beleza e arte têm sido relevantes no
pensamento ocidental desde Platão (428-348 a.C.), e as ideias platônicas
influenciaram claramente Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) e outros
filósofos, mas é apenas em meados do século XVIII, na Europa, que a noção de
uma área distinta da filosofia chamada Estética se desenvolve.
Entre o final do século XVIII e o final do século XIX, a relação entre arte e
o resto da filosofia sofre uma transformação radical, uma transformação que está
ligada, como veremos, às mudanças vitais, tanto na produção como na recepção
das artes.
145
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
146
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
Juntamente com a suspeita dos possíveis efeitos das novas ciências, surge
a consciência de que, com as novas formas de capitalismo, a natureza passa a ser
vista não mais como fonte de inspiração, mas como fonte de lucro.
147
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
A arte e a compreensão da arte podem permitir o que foi reprimido por uma
concepção limitada da razão a ser articulada. Vamos agora conhecer alguns dos
principais filósofos e intelectuais que definiram a trajetória da estética artística na
modernidade, e que, supostamente, influenciam o pensamento contemporâneo.
148
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
NOTA
149
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
150
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
Ele argumenta que, uma vez que os recursos comuns a ambas as formas
de julgamento representam um requisito indispensável de todo conhecimento,
temos o direito de assumir que qualquer pessoa deve possuir os recursos
necessários para fazer um julgamento de gosto. Uma vez que é uma expectativa
que todo ser humano normal pode ser levado a satisfazer, Kant demonstra que
temos o direito de exigir que as outras pessoas também experimentem o prazer
no objeto que decorre da harmonia ou do jogo livre das faculdades cognitivas.
152
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
Apesar do trabalho de Kant ser visto como uma fonte filosófica importante
para tais pontos de vista, a estética formalista pareceu particularmente apropriada
para explicar as obras de arte modernistas produzidas muito tempo depois da
morte de Kant.
NOTA
Clive Bell (1881-1964), crítico britânico de arte, conheceu, em 1910, Roger Fry
(1866-1934), pintor e crítico de arte, e logo se tornou seu principal aliado para ajudar a difundir
uma apreciação do pós-impressionismo na Grã-Bretanha.
Ele inventou o termo para denotar a qualidade que distingue as obras de arte de todas as
outras classes de objetos, uma qualidade nunca encontrada na natureza, mas comum para
todas as obras de arte e existente independentemente do conteúdo representacional ou
simbólico.
Bell (1916) nos oferece uma versão forte do realismo estético. Para ele,
a forma significativa é uma propriedade que é inerente ao próprio objeto e é a
presença da propriedade que justifica a afirmação de que um objeto é belo ou
esteticamente "convincente".
154
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
155
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
E
IMPORTANT
No início dos anos 1940, Greenberg conseguiu um emprego como crítico de arte regular
de “The Nation” (1942-1949), onde se tornou o primeiro escritor a defender o trabalho do
artista expressionista abstrato Jackson Pollock. Em 1960, Greenberg publicou a articulação
mais completa de suas bases para o julgamento estético, em um ensaio intitulado “Pintura
Modernista”. O ensaio retornou para o tema que inicialmente era abordado em “Avant-
Garde e o Kitsch”, elogiando o desenvolvimento contínuo de uma arte em suas “áreas de
especialização”. Enfoca as qualidades intrínsecas da mídia de sua criação, como o óleo e a
tela, em vez de “conteúdo”.
Da perspectiva de Greenberg, a história da arte ocidental, no século XX, podia ser vista como
uma marcha quase positivista, como das experiências de Paul Cézanne com a planura e a
cor no início do século, através das telas gestuais dos expressionistas abstratos, em direção
à arte abstrata.
A compreensão de uma progressão em direção à pura abstração não deixava espaço para
movimentos conceituais influentes como Dada e Pop Art, os quais ele rejeitou. Em 1961,
Greenberg publicou “Arte e Cultura”, uma coletânea de seus ensaios que codificava o que se
tornou sua crítica persuasiva e coerente à arte do século XX.f
Ele começa sua discussão abordando o que parece ser uma dificuldade
considerável para sua posição. Como produto da atividade humana intencional,
156
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
157
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
Assim, a estética pode ser vista para oferecer não só uma maneira
importante de entender as características distintivas do nosso prazer no belo, mas
uma maneira para entender o significado mais profundo da arte e da beleza em
relação a outros domínios da experiência humana.
158
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
o assunto deve ser visto como representando uma extensão e elaboração de seus
pontos de vista estabelecidos.
160
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
161
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
A unidade alcançada pela arte grega é perdida para sempre e surge em seu
lugar uma nova e irreconciliável divisão de forma e conteúdo. A arte do período
romântico continua a ser além de si mesma, indicando ser, porém, incapaz de
representar um conteúdo que nunca pode se articular completamente.
Hegel sugere que o tempo em que a arte podia representar nossas mais
altas necessidades e interesses definitivamente passou e que a arte foi substituída
pela religião e pela filosofia.
A tese muito mal interpretada de Hegel do "fim da arte" tem dois domínios
de aplicação diferentes. O primeiro relaciona, como vimos, com a transição do
período clássico para o período romântico. É somente no período clássico que a
arte alcança uma perfeita correspondência de forma e conteúdo. A era pós-clássica
ou romântica é marcada por novas formas de conhecimento, que não podem
mais ser articuladas adequadamente de forma sensual. O segundo domínio de
aplicação, no entanto, situa-se na própria época vivida por Hegel.
162
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
163
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
Ele tenta explicar o uso e o abuso da razão, para o corpo e para o sentimento.
Se somos apenas sensuais, estamos em um empirismo completo e não temos
um "self". Se somos apenas intelectuais, estamos no solipsismo egoísta, e somos
todos nós um "self". A beleza é a forma equilibrada do sensual e do intelectual
e leva-nos para um espaço entre a matéria e a forma, sentimento e pensamento,
experiência e razão.
165
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
166
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
tempo e, portanto, dentro da mudança: O homem, neste estado, não é senão uma
unidade de quantidade, um momento de tempo ocupado ou ao contrário, não
é do todo, pois sua personalidade está suspensa enquanto ele é governado pela
sensação (PETERSEN, 1943).
A forma viva, por sua vez, é nada menos do que a beleza. Objetos belos,
então, podem colocar os seres humanos no estado em que percebemos nosso
maior potencial. Quando, para usar o exemplo de Schiller, contemplamos o
Juno Ludovisi, sentimos que o nosso impulso dos sentidos e de forma estão em
equilíbrio. Em tal momento, "nos encontramos ao mesmo tempo em um estado
de absoluto repouso e de agitação extrema" (PETERSEN, 1943, p. 360).
167
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
Uma vez que a contemplação da beleza não nos deixa dominados nem
pelo impulso sensorial nem pelo impulso de forma, o impulso de jogo "dá origem
à liberdade" (PETERSEN, 1943, p. 373) e permite que a vontade, que existe
independentemente de ambos impulsos, escolha entre elas (PETERSEN, 1943). A
liberdade não se correlaciona com nossa capacidade de articular e seguir a lei moral.
O jogo, então, para Schiller, permite que os seres humanos atinjam suas
próprias naturezas. "O homem só joga quando atinge seu potencial como um ser
humano, e ele é apenas um ser humano quando ele joga" (PETERSEN, 1943, p. 359).
168
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
Com base nas distinções, Schiller afirma, na Carta 24, que os seres humanos
e a humanidade devem seguir três estágios de desenvolvimento: físico, estético
e moral (PETERSEN, 1943). Em seu estado natural inicial, os seres humanos são
governados pela natureza. Quando a razão começa a agitar, "o homem deixa os
limites estreitos do presente em que a mera animalidade permanece encadernada,
a fim de se esforçar para um futuro ilimitado" (PETERSEN, 1943, p. 390).
169
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
E
IMPORTANT
Nas cartas 26 e 27, Schiller imagina as circunstâncias que devem ter sido
necessárias para que os primeiros humanos desenvolvam um sentido estético.
Traços de jogo podem ser encontrados na natureza, sempre que houver uma
abundância de recursos. Os leões jogam quando eles têm excesso de energia e
não estão sob ameaça. As plantas enviam mais brotos do que o necessário quando
são adequadamente alimentadas, desperdiçando energia "em um movimento de
alegria despreocupada" (PETERSEN, 1943, p. 406).
170
TÓPICO 1 | ESTÉTICA E MODERNIDADE: KANT, HEGEL E SCHILLER
171
RESUMO DO TÓPICO 1
172
à modernidade, ao expor que “vemos o espírito da época vacilante entre a
perversidade e a brutalidade, entre a naturalidade e a mera natureza, entre
superstição e descrença moral; e é somente através de um equilíbrio de males
que tudo se mantém sob controle” (PETERSEN, 1943, p. 320).
173
AUTOATIVIDADE
I - O formalismo de Kant.
II - A historicidade de Hegel.
III - A estética política de Schiller.
174
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Em meados do século XX, o mundo ocidental havia experimentado uma
grande mudança de paradigma. Duas guerras mundiais devastadoras, milhões de
vidas perdidas, ideologias comunistas destruídas e armas nucleares utilizadas. O
otimismo modernista, que havia dominado um mundo pré-guerra, agora parecia
irrelevante, desatualizado e fadado ao fracasso. A Europa não era mais o centro
da arte moderna ou da vanguarda.
Motivados por tais sentimentos e com o desejo de uma arte que reconhecesse
a vida cotidiana, artistas como Jasper Johns (1930) e Robert Rauschenberg (1925-
2008) começaram a experimentar novos estilos, que emprestavam e recriavam
imagens da cultura de massa que os rodeava.
175
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
2 NIETZSCHE E O ARTISTA
“Arte é nada além de arte! É o grande meio de tornar possível a vida,
a grande sedução da vida, o grande estímulo da vida”
Nietzsche, “A Vontade de Poder” (1968).
176
TÓPICO 2 | ESTÉTICA E O PENSAMENTO PÓS-MODERNO: NIETZSCHE, HEIDEGGER E MERLEAU-PONTY
Por sua vez, o sonho apolíneo, que coloca o corpo em calma, é atendido por
belas ilusões na consciência de quem se entrega. Dado que o assunto de Nietzsche
era ostensivamente a arte híbrida do drama trágico, as duas tendências se inclinam
para a música, por um lado, e as imagens visuais, por outro. O dionisíaco se
manifesta na dança e no movimento e, o apolíneo, na criação de imagens. O
envolvimento total é complementado pela distância e pela contemplação.
177
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
178
TÓPICO 2 | ESTÉTICA E O PENSAMENTO PÓS-MODERNO: NIETZSCHE, HEIDEGGER E MERLEAU-PONTY
179
UNIDADE 3 | ESTÉTICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
180
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Em uma associação não atípica para o século XIX, ele comparou diretamente
a criatividade com a potência sexual e chegou a correlacionar "o instinto criativo
do artista e a distribuição do sêmen em seu sangue" (NIETZSCHE, 1968, p. 424).
Declarações assim foram tomadas como a fonte de nossa imagem do artista
nietzscheano, como a encarnação de uma força viril da natureza.
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O ditirambo, na origem do teatro grego, consistia em uma ode, em um canto coral entusiástico,
executada por personagens vestidos de faunos e sátiros, considerados companheiros do
deus Dionísio, em honra do qual se prestava a homenagem ritualística.
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“Ah, esses gregos! Eles sabiam como viver. O que é necessário é parar com
coragem na superfície, na dobra, na pele, adorar a aparência, acreditar em formas,
tons, palavras, em todo o Olimpo da aparência. Aqueles gregos eram superficiais
– na profundidade” (NIETZSCHE, 1974, prefácio à segunda edição, p. 38).
Mais uma vez, o fisiológico não está longe pois, mesmo por escrito,
Nietzsche viu o estilo conectado ao ritmo, ao tempo, ao gesto e, de fato, à noção
de comportamento corporal. O artista, cujo corpo manifesta a vontade de poder,
é contrastado por Nietzsche com a histeria, que viu como falta de vontade, além
da cuja incapacidade de se comunicar, que observou como uma indicação de
degeneração.
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concluiu que em princípio, não há questão de forma ou, pelo menos, não é uma
questão de disparidade entre um significado interno e uma aparência externa
(KANDINSKY; MARC, 1974).
Tendo tornado a arte uma questão de volição, seu valor é derivado da sua
capacidade de conduzir de volta a uma força pela qual o artista é o canal. Um
dos poucos artistas visuais que Nietzsche elogia diretamente em seus escritos é o
pintor Rafael.
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A análise de Heidegger de cada uma das três obras contribui com algo
importante para a tentativa geral de orientar os leitores para um encontro
fenomenológico com a arte, que é capaz de nos ajudar a transcender a estética
moderna a partir da essência. Simplificando, o templo motiva e ajuda a desenvolver
os detalhes do projeto maior de Heidegger.
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Uma obra de arte ainda pode ajudar a reunir um novo mundo histórico
em torno de si mesma, focalizando e iluminando uma compreensão de ser que
não reduz as entidades para objetos modernos a serem controlados ou a recursos
a serem otimizados em uma modernidade tardia.
Então, qual a obra de arte que Heidegger pensa que pode nos ajudar a
transcender a estética moderna e assim nos ajudar a descobrir um caminho que
nos leve para além da modernidade? Existem apenas duas obras viáveis para
preencher tal papel crucial na “Origem da Obra de Arte”: o poema de Meyer e a
pintura de Van Gogh.
Assim, por exemplo, como o "jato" original de água "cai" nas bacias
sucessivas da fonte, então as riquezas ontológicas "transbordantes", escondidas
no mundo antigo, foram primeiro diminuídas no mundo medieval.
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Assim, a arte nos ajuda a ver que a finitude humana não é algo pelo qual
devemos desesperar ou procurar negar as fantasias subjetivistas compensatórias.
Claro, a afirmação de que devemos desistir, pensando que nunca saberemos de
tudo, não implica que devemos desistir de conhecer coisas novas.
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Tal posição torna o significado da arte algo muito mais instável do que o
pressuposto. As diferentes categorias e conceitos em que entendemos o mundo
são vistos como intercalados e sobrepostos, e não definidos e distintos uns dos
outros. Na medida em que a autoconsciência é inseparável do uso de sinais
linguísticos, o “eu” passa a ser bastante instável e excêntrico.
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para o seu gesto, o que envolve um relacionamento maior com a mídia e não tanto
com os outros artistas. Um sinal é o crescente status de celebridade concedido aos
curadores, galeristas e colecionadores.
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RESUMO DO TÓPICO 2
• Para o filósofo, o dionisíaco precisava ser percebido pelo artista através do véu
do apolíneo, e a experiência da audiência deveria ser a mesma do poeta trágico,
um êxtase coletivo que se sente como um aumento no vigor corporal. “Todos
os trabalhos de arte aumentam a força, inflamam o desejo [...]. Até hoje, ainda
se ouve com os músculos, até se lê com os músculos” (NIETZSCHE, 1968, p.
427-428). O estado de intoxicação é experimentado como em um êxtase, e o
artista se torna "o ponto alto de comunicação e transmissão entre criaturas
vivas" (NIETZSCHE, 1968, p. 428). A tendência encontra interpretação literal
não apenas no expressionismo, mas em fenômenos artísticos do final do século
XX, como na arte performática.
• A análise de Heidegger de cada uma das três obras contribui com algo
importante para sua tentativa geral de orientar os leitores para um encontro
fenomenológico com a arte, que é capaz de nos ajudar a transcender a estética
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moderna a partir de sua essência. O templo ajudaria a desenvolver os detalhes
do projeto maior de Heidegger. O poema contextualiza e explica de maneira
explícita e a pintura exemplifica-a diretamente. Heidegger propõe assim que
um encontro não estético com uma obra de arte contemporânea nos ajuda a
compreender o ser das entidades não como objetos modernos ("subjetivismo")
ou como recursos modernos tardios, mas como uma forma genuinamente pós-
moderna, propondo assim um outro começo histórico.
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Autor Período Conceito
Artista como uma figura de poder físico e energia
espontânea e como antídoto para o ideal ascético da
Nietzsche 1844-1900 religião e da metafísica. Aspecto dionisíaco e apolíneo
da arte. Arte significativa tanto para o criador quanto
para o observador.
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UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A maneira mais fácil de descrever a estética contemporânea é dizer
que ela se preocupa com tudo o que é feito atualmente, no tempo presente, na
disciplina acadêmica assim denominada. É verdade no nível rudimentar, mas
abre várias outras questões: que tipo de entidade estamos tentando compreender
quando falamos de estética contemporânea? Qual é a natureza e o escopo
do “contemporâneo”? É sinônimo de “presente”? Onde e como a estética
contemporânea se manifesta? Onde estão os limites da disciplina? A estética é
sempre e somente uma disciplina acadêmica? A estética de hoje é diferente da
estética das últimas décadas e séculos, e de que maneira?
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Faz com que uma abordagem filosófica flexível seja capaz de se expandir
livremente sobre uma série de formas e estilos de arte, discutindo a singularidade
das obras e seu significado mais amplo. A abordagem é claramente hermenêutica
na medida em que se empenha em nos familiarizar novamente com os significados
e preocupações que estão subjacentes à nossa experiência com a arte. Abertamente
influenciada por Heidegger, a estética de Gadamer está longe de ser tradicional.
Suas principais reivindicações são as seguintes:
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Abraça leituras próximas dos poetas Rainer Maria Rilke e Paul Celan,
bem como amplas manobras estratégicas que defendem o status cognitivo dos
julgamentos estéticos e hermenêuticos. Hermenêutica (arte e disciplina de
interpretação), da qual Gadamer é um dos expoentes mais formidáveis do século
XX, está profundamente envolvida em disputas filosóficas sobre a legitimidade
de reivindicações de compreensão nas artes visuais e literárias. Não se opõe aos
modos de conhecimento "científicos", mas resiste aos seus privilégios culturais.
Gadamer (1993) insiste que uma imagem que merece ser chamada de obra
de arte tem o poder de nos afetar imediatamente. A arte nos aborda. Segundo
Palmer (2001), a afirmação de que uma obra de arte "diz algo a alguém" alude à
surpresa, ao choque ou à consternação por ser diretamente afetada pelo conteúdo
de uma obra. A pessoa é forçada assim a refletir sobre seu significado, que se
torna mais compreensível tanto para si mesmo como para os outros.
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O trabalho tem, portanto, uma autonomia que não pode ser substituída
por qualquer outra coisa ou, por outras palavras, o trabalho é sempre superior
às leituras, seus significados são sempre mais do que suas interpretações. É
congruente com as teses de Gadamer de que o Ser excede o conhecimento e, da
mesma forma, que o Ser linguístico transcende a consciência linguística.
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O jogo e a obra de arte são ambas formas de automovimento, que exigem que o
espectador jogue junto com o que eles trazem para o jogo (GADAMER, 1986).
Em segundo lugar, como no jogo, a arte não deve ser entendida por
referência apenas às ferramentas e equipamentos. A arte exige materiais e uma
apreciação de como uma ferramenta específica pode ser usada. No entanto, nem
o jogo e nem a arte são constituídos por seus equipamentos.
O argumento não assume que o jogo ou obra de arte não possa ser
reduzido para uma intenção, material ou convenção, mas sim que cada um desses
elementos tem um papel no jogo ou na prática que é a arte. É o jogo que atrai o
espectador, o jogador, a intenção, o material e convenção para o único evento.
Promove uma visão interativa da arte como um evento comunicativo. Dá uma
dimensão dialógica para a arte.
Uma obra de arte envolve mais de uma voz, assim como implica o sentido
de interpretação. Ainda, a concepção da arte como evento requer uma estrutura
ontológica diferente das narrativas da experiência estética fundamentadas apenas
na subjetividade. Uma obra não é um objeto completamente independente do
espectador, mas de alguma forma cedido ao espectador por sua satisfação pessoal.
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No entanto, o que importa é o que ocorre quando uma obra de arte está
em dinâmica de jogo. Muitas vezes, contrariamente ao seu desejo e disposição, o
espectador é assumido por um evento substancial que transcende os limites da
consciência cotidiana.
2.3 O FESTIVAL
Descrições convencionais de experiência estética enfatizam a natureza
intensa e individualizadora. No entanto, apesar da sua intimidade, Gadamer
enfatiza que, dentro da experiência, o espectador está sempre participando,
talvez involuntariamente, de algo além de si mesmo.
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2.4 O SÍMBOLO
Uma discussão sobre o símbolo constitui o terceiro aspecto do caso de
Gadamer de que a experiência estética envolve um ex-estase do sujeito estético.
Fornece uma analogia adicional para a dimensão especulativa da experiência
estética.
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Por outro lado, são as obras de arte as mais capazes de revelar as condições
de sensibilidade. Deleuze, portanto, escreve sobre as artes não como um crítico,
mas como um filósofo, e seus livros e ensaios sobre as várias artes, incluindo o
cinema (Cinema I e II), literatura (Ensaios Críticos e Clínicos) e pintura (Francis
Bacon: The Lógica da sensação), devem ser lidos como explorações filosóficas do
domínio transcendental da sensibilidade.
Ele cita Francis Bacon, pois estamos atrás de uma obra de arte que produz
um efeito no sistema nervoso e não no cérebro. O que ele quer dizer é que, em
um encontro de arte, somos forçados a experimentar o "ser do sensível". Obtemos
algo que não podemos reconciliar, algo que é "imperceptível”, que não se encaixa
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A arte, no entanto, não pode ser reconhecida, mas só pode ser percebida.
Em outras palavras, a arte divide o processamento perceptual, proibindo o
movimento para a ordem conceitual. É exatamente o que Kant, na “Terceira
Crítica”, chamou de julgamento reflexivo, quando o conceito não é dado
imediatamente na apresentação da arte. Com a arte, alcançamos a "sensação", ou
o "ser do sensível", o sentiendum.
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LEITURA COMPLEMENTAR
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FONTE: MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Arte, só na aula de arte? Educação, Porto Alegre,
v. 34, n. 3, p. 311-316, set./dez. 2011. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/
index.php/faced/article/viewFile/9516/6779>. Acesso em: 12 mar. 2018.
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RESUMO DO TÓPICO 3
• Para ele, a arte é interrogativa por natureza, as obras de arte funcionam através
de uma divulgação de significado. Revelações de significado estabelecem o
status cognitivo da arte. É parcialmente inteligível e parcialmente enigmático,
e as obras de arte estão sempre abertas para reinterpretação. A posição de
Gadamer é hermenêutica porque é informada por uma constelação de vários
argumentos que moldam a posição central.
• A discussão de Gadamer sobre a relação entre arte e jogo não deve ser
equiparada para qualquer argumento de que a arte é um jogo trivial ou um
passatempo. Segue o precedente das “Cartas de Schiller sobre Educação
Estética”, afirmando que as obras de arte são dramáticas na medida em que
colocam algo em jogo.
• O símbolo, por sua vez, não se refere a algo fora de si, mas apresenta seu
próprio significado. O símbolo material é, de fato, o lugar onde esse significado
se torna presente. No entanto, o significado transmitido simbolicamente nunca
é dado completamente, é indeterminado. As referências ao símbolo como
fragmentárias, no entanto, antecipam a possibilidade da totalidade.
• Para Deleuze, a tarefa da arte é produzir "sinais" que nos impeçam de nossos
hábitos de percepção nas condições de criação. Quando percebemos através
da recognição das propriedades das substâncias, vemos com um olho obsoleto
pré-carregado com clichês. Nós pedimos ao mundo o que Deleuze chama de
"representação".
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• Deleuze fala sobre o efeito da sensação como o "exercício transcendente" da
faculdade de sensibilidade. No terceiro capítulo de “Diferença e Repetição”,
Deleuze estabelece uma teoria diferencial das faculdades não kantianas. Na
teoria, a intensidade é a "diferença em si", o que leva as faculdades aos seus
limites. Estão ligadas em ordem, vemos o que Deleuze chama de privilégio da
sensibilidade como origem do conhecimento, a "verdade do empirismo".
• Para Deleuze e Guattarri (1997), a arte não poderia mais ignorar o subjetivo,
o abstrato, ou seja, as sensações próprias que nascem entre a obra, o artista e
o público. Faz com que possamos indagar a respeito das percepções sensíveis
que as obras de arte contemporâneas podem provocar a partir das concepções
estéticas. Para eles, “a obra de arte é um ser de sensação, e nada mais: ela existe
em si” (p. 213).
230
AUTOATIVIDADE
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232
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