A Sociologia e O Mundo Moderno (Octavio Ianni)

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Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 1(1): 7-27, 1º. sem. 1989.

A sociologia e o mundo moderno


OCTAVIO IANNI

Aula inaugural, proferida no dia 19 de março de 1988, para os alunos do Curso de


Ciências Sociais, promovida pelo Departamento de Sociologia da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo. Escrita depois da
fala.

Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Sociologia


FFLCH-USP.

RESUMO: Este ensaio procura esclarecer o “compromisso” da sociologia com o


mundo moderno formado com o desenvolvimento do capitalismo. Primeiro, examina as
principais teorias clássicas. Mostra como elas nascem com os desafios com os quais se
defronta a sociedade a partir de meados do século XIX. E lembra que essas teorias
continuam a propiciar paradigmas para as correntes sociológicas que se propõem no
século XX. Segundo, registra os temas fundamentais da sociologia, também criados no
âmbito dessa sociedade; temas que continuam básicos nas correntes que se ensaiam no
século XX. Terceiro, analisa as relações entre a sociologia e a modernidade, sugerindo
que essa disciplina expressa dilemas e perspectivas do pensamento em face da
modernidade. E quarto, por fim, sugere que a sociologia pode ser lida como uma forma
literária, na qual se destacam as criações épicas. Por seus temas e explicações, a
sociologia muitas vezes parece uma épica do mundo moderno.

UNITERMOS: Sociologia: teorias clássicas, temas fundamentais, modernidade, épica


do mundo moderno.

A Sociologia nasce e desenvolve-se com o Mundo Moderno. Reflete as suas principais


épocas e transformações. Em certos casos, parece apenas a sua crônica, mas em outros
desvenda alguns dos seus dilemas fundamentais. Volta-se principalmente sobre o
presente, procurando reminiscências do passado, anunciando ilusões do futuro. Os
impasses e as perspectivas desse Mundo tanto percorrem a Sociologia como ela percorre
o mundo. Se nos debruçamos sobre os temas clássicos da Sociologia, bem como sobre
as suas contribuições teóricas, logo nos deparamos com as mais diversas expressões
desse Mundo. Sob diversos aspectos, ela nasce e desenvolve-se com ele. Mais do que
isso, o Mundo Moderno depende da Sociologia para ser explicado, para compreender-
se. Talvez se possa dizer que sem ela esse Mundo seria mais confuso, incógnito.
A Sociologia não nasce no nada. Surge em um dado momento da história do Mundo
Moderno. Mais precisamente, em meados do século XIX, quando ele está em franco
desenvolvimento, realizando-se. Essa é uma época em que já se revelam mais
abertamente as forças sociais, as configurações de vida, as originalidades e os impasses
da sociedade civil, urbano-industrial, burguesa ou capitalista. Os personagens mais
característicos estão ganhando seus perfis e movimentos: grupos, classes, movimentos
sociais e partidos políticos; burgueses, operários, camponeses, intelectuais, artistas e
políticos; mercado, mercadoria, capital, tecnologia, força de trabalho, lucro, acumulação
de capital e mais-valia; sociedade, estado e nação; divisão internacional do trabalho e
colonialismo; revolução e contra-revolução.

Um dos seus principais símbolos, o capital, parece estabelecer os limites e as sombras


que demarcam as relações e as distancias entre o presente e o passado, a superstição e a
ilustração, o trabalho e a preguiça, a nação e a província, a tradição e a modernidade.
Em suas conotações sociais, políticas e culturais, além das econômicas, o capital parece
exercer uma espécie de missão civilizatória, em cada país e continente, no mundo.

E claro que se podem reconhecer antecedentes ou prenúncios da Sociologia em idéias,


filosofias e correntes de pensamento de outras épocas. São comuns as referências a
Montesquieu, Vico e Rousseau, entre outros. Mas cabe lembrar que esses e outros
precursores foram “inventados” pelos fundadores da Sociologia Os quadros intelectuais
e a problemática social desta, quando estabelecidos, tornam possível descobrir,
localizar, criar ou recriar precursores. E isto é tanto mais fácil quando se constata que os
antecessores realmente estavam buscando compreender as manifestações iniciais,
menos desenvolvidas mas já assinaladas, do Mundo Moderno.

É possível dizer que a Sociologia é uma espécie de fruto muito peculiar desse Mundo.
No que ela tem de original e criativa, bem como de insólita e estranha, em todas as suas
principais características, como forma de pensamento, é um singular produto e
ingrediente desse Mundo.

Princípios Explicativos

O pensamento filosófico do século xvm e começos do XIX compreende um conjunto de


contribuições da maior importância para as ciências sociais em geral e a Sociologia em
particular. O liberalismo, iluminismo, jacobinismo, conservantismo, romantismo e
evolucionismo são algumas das principais manifestações do pensamento europeu desse
tempo. São expressões da revolução cultural simbolizam nas obras de filósofos,
cientistas e artistas como Rousseau, Kant e Hegel, Goethe, Beethoven e Schiller, Adam
Smith, Ricardo, Herder e Condorcet, entre outros.

A despeito da multiplicidade dessas correntes de pensamento, bem como das suas


divergências, é inegável que do conjunto elas instituem algumas das condições
epistemológicas do desenvolvimento das ciências sociais em geral e da Sociologia em
particular.

Por um lado, tratava-se de transferir ou traduzir para o campo da sociedade, cultura e


história os procedimentos que já se haviam elaborado e continuavam a elaborar-se nas
ciências físicas e naturais. Por isso é que em trabalhos de Sociologia, passados e
presentes, ressoam perspectivas organicistas, evolucionistas, funcionalistas e outras,
oriundas daquelas ciências. Os paradigmas das ciências físicas e naturais influenciaram
e continuam a influenciar a reflexão de sociólogos. Nesse sentido é que as sugestões
epistemológicas que se buscaram em Bacon, Galileu, Descartes e Kant, entre outros,
ressoam nos procedimentos de pesquisa e explicação de uma parte da Sociologia
passada e presente.

Por outro lado, tratava-se de criar novos procedimentos de reflexão, de modo a fazer
face às originalidades dos fatos, acontecimentos e dilemas que caracterizam a vida
social no Mundo Moderno. A emergência da sociedade civil, urbano-industrial,
burguesa ou capitalista, passava a desafiar o pensamento em uma forma nova, pouco
comum. Nesse sentido é que as sugestões epistemológicas apresentadas por Vico, os
enciclopedistas, Herder, Rousseau, Hegel e outros representam contribuições
fundamentais para a criação de novos procedimentos de reflexão. O pensamento se
torna capaz de dar conta da originalidade dos fatos, acontecimentos e dilemas mais
característicos das sociedades que se formam com o Mundo Moderno.

Nos dois casos, no entanto, encontram-se influências da maior importância para a


formação e o desenvolvimento da Sociologia. No conjunto, as sugestões
epistemológicas de uns e outros permitem que a Sociologia se preocupe tanto com a
realidade social como com o processo de conhecimento. Estes são alguns momentos
lógicos bastante freqüentes na reflexão sociológico dado e significado, quantidade e
qualidade, parte e todo, aparência e essência, singular e universal, causa e sentido,
negatividade e contradição, sincrônico e diacrônico. Devido ao seu contínuo diálogo
com a Filosofia, a Sociologia guarda a peculiaridade de pensar-se continuamente, de
par-em-par com a reflexão sobre a realidade social.

É claro que a Sociologia se divide em tendências, escolas, teorias, interpretações.


Compreende produções que se poderiam classificar em termos tais como os seguintes:
evolucionismo, organicismo, positivismo, formalismo, funcionalismo, estruturalismo,
estrutural-funcionalismo, fenomenologia, historicismo e outros. Há grandes teorias e
teorias de alcance médio. Umas privilegiam o pequeno grupo social, o cotidiano, as
situações micro. Outras a sociedade como um todo, em seus movimentos gerais e
particulares, em suas diversidades, disparidades e contradições. Compreendem relações,
processos e estruturas de dominação política e apropriação econômica.

Umas mantêm compromissos mais abertos com as sugestões epistemológicas das


ciências físicas e naturais. Privilegiam a indução quantitativa, a construção de variáveis,
índices, indicadores, modelos, sistemas. Outras fundamentam-se nas sugestões
epistemológicas das ciências históricas, ou do espírito. Privilegiam o enfoque
qualitativo, a descoberta de relações, processos e estruturas responsáveis pelos
movimentos da sociedade. E há aquelas que privilegiam a intuição, a circunstância, o
cotidiano, o efêmero, o singular, como revelam algumas produções inspiradas na
fenomenologia existencialista.

Mas é possível que as várias tendências, escolas, teorias e interpretações se reduzam, em


essência, a três polarizações fundamentais. Umas e outras têm como base, em última
instancia, um dos três princípios explicativos: causação funcional, conexão de sentido e
contradição. Esses são os princípios explicativos principais, nos quais se sintetizam os
fundamentos das mais diversas tendências, teorias, escolas ou interpretações. O
princípio da causação funcional está presente em Spencer, Comte, Durkheim, Parsons,
Merton, Touraine e outros. O da conexão de sentido inspira Dilthey, Rickert, Weber,
Toennies, Nisbet e outros. E o da contradição fundamenta as contribuições de Marx,
Engels, Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Lukacs, Gramsci, Goldmann e outros.

É claro que as produções sociológicas desses e outros autores não se inspiram nesses
princípios de uma forma exclusiva, fechada. Há variações e combinações nos seus
modos de pensar, compreender, explicar. Inclusive se pode imaginar que mesmo autores
clássicos como Marx, Weber e Durkheim, reconhecidos como fundadores, não se
preocuparam maiormente com esse problema. Aliás, em suas obras substantivas
encontram-se reflexões que “fogem” às suas anotações metodológicas.

É claro que há intentos de inovar que poderiam e podem ser registrados. E há inovações
reais. São notáveis algumas contribuições teóricas de sociólogos trabalhando depois dos
clássicos, na mesma senda ou em outros caminhos. Inclusive há propostas que não
vingaram, mas que nem por isso deixaram de ajudar na retomada e no aperfeiçoamento
da reflexão científica na Sociologia. Entre uns e outros encontram-se nomes como os
seguintes: Gurvitch, Sorokin, Parsons, Lazarsfeld, Merton, Touraine, Bourdieu e muitos
outros. Uma análise cuidadosa, no entanto, pode indicar que todos tendem a ser, em
alguma medida, caudatários daqueles princípios explicativos clássicos.

Estes são os princípios explicativos para os quais tendem as contribuições da maioria


dos sociólogos nos séculos XIX e XX: causação funcional, conexão de sentido e
contradição. Através deles a Sociologia tem dado conta dos movimentos e impasses, das
épocas e transformações característicos das sociedades formadas com o Mundo
Moderno. Pode-se dizer que esses princípios compreendem diferentes estilos de
pensamento, distintas visões da sociedade, do mundo. Cada um a seu modo, segundo as
suas possibilidades descritivas e interpretativas, segundo a sua sensibilidade quanto a
uns e outros momentos lógicos da reflexão, apanha os movimentos e as modulações da
sociedade moderna São formas de explicação e fabulação sobre essa sociedade.
Entendendo-se que a fabulação também pode ser um modo de apanhar o espírito do
tempo.

Desafios da Revolução Social

As transformações e crises provocadas pela emergência e o desenvolvimento da


sociedade civil, urbano-industrial, burguesa ou capitalista, constituem outra matriz da
Sociologia. O modo de vida e trabalho na comunidade feudal vem abaixo com a
formação da sociedade civil, a organização do estado nacional. Há uma vasta, complexa
e contraditória revolução social na Europa, transbordando para outros continentes. O
mercantilismo, ou a acumulação originária, iniciava um amplo processo de
europeização do mundo. Simultaneamente, a Europa sentia que se transformava, em sua
fisionomia social, econômica, política e cultural. Estava em marcha a revolução
burguesa, atravessando passes e continentes, sempre acompanhada de surtos de contra-
revolução. No meio da revolução e contra-revolução, combinando e opondo diferentes
setores sociais, grupos e classes, províncias e regiões, interesses emergentes e
estabelecidos, emergiam burgueses, trabalhadores assalariados diversos, camponeses,
setores médios urbanos, intelectuais, burocracia pública e privada. À medida que se
desenvolve e consolida a ordem social burguesa, impondo-se ao antigo regime,
multiplicam-se as lutas sociais urbanas e rurais. Depois da revolução burguesa ocorrida
na Inglaterra no século XVII e da Revolução Francesa iniciada em 1789, o século XIX
assiste às revoltas populares no campo e nos centros urbano-industriais. O Cartismo na
Inglaterra, desde 1835, e a Revolução de 184849, na França e em outros passes
europeus, assinalam a emergência do operariado como figura histórica. Em outros
termos, e sob diferentes condições, algumas linhas dessa história manifestam-se na
Alemanha, Itália, países que compõem o Império Austro-Húngaro, Rússia, Espanha e
outros. O século XIX nasce também sob o signo dos movimentos de protesto, greve,
revolta e revolução. Aí estão alguns traços da sociedade burguesa, com tintas de
modernidade.

É evidente que o tema da revolução social está no horizonte de alguns dos principais
fundadores e continuadores da Sociologia. Estão Reocupados em compreender, explicar
ou exorcizar as revoluções que ocorrem na Europa e em países de outros continentes. É
verdade que algumas revoluções preocuparam mais diretamente os fundadores. Dentre
essas destacam-se as francesas e européias de 1789, 184849 e 1871. Mas logo eles e
outros passaram a interessar- se pelas revoluções que haviam ocorrido e iam ocorrendo
nas Américas e na Ásia. Alguns livros fundamentais denotam essa preocupação:
Tocqueville, O Antigo Regime e a Revolução; Marx, As Lutas de Classes na França;
Engels, Revolu,cão e Contra-Revolução na Alemanha; Lenin, Estado e Revolução;
Hannah Arendt, Sobre a Revolução, Barrington Moore Jr., As Origens Sociais da
Ditadura e Democracia; Karl Polanyi, A Grande Transformação; Joseph A.
Schumpeter, Capitalisrno, Socialismo e Democracia; Theda Skoopol, Estados e
Revoluções Sociais. Naturalmente estão em causa várias formas da revolução social. Em
um primeiro momento, o que sobressai é o empenho em explicar a revolução burguesa,
que pode ser democrática, autoritária, prussiana, passiva. Em outro, a ênfase recai na
revolução popular, operária, camponesa, operário-camponesa ou socialista. Mas
também há interesse em analisar o contraponto revolução e contra-revolução. Em vários
casos, de permeio a essas preocupações, coloca-se o desafio da revolução permanente.
Isto é, as condições das continuidades e descontinuidades entre a revolução burguesa e
socialista, em escala nacional e internacional.

A rigor, a análise da revolução social é um modo de conhecer a sociedade, as forças


sociais que governam os movimentos da sociedade nacional tomada como um todo.
Essa manifestação “extrema” da vida social parece revelar mais abertamente as
relações, os processos e as estruturas, compreendendo dominação política e apropriação
econômica, que organizam e movimentam a sociedade moderna. Como um todo, em
seus grupos e classes, movimentos sociais e partidos políticos, as relações entre a
sociedade civil e o estado revelam-se mais nítidas nas rupturas revolucionárias. A
revolução social pode ser vista como uma situação extrema, um experimento crucial,
um evento heurístico, quando se revelam mais desenvolvidas as diversidades e
disparidades, os desencontros e antagonismos, que governam os movimentos
fundamentais da sociedade.

Estava em curso o desenvolvimento da sociedade nacional, urbano-industrial, burguesa,


de classes. Com a dissolução, lenta ou rápida, da comunidade feudal, emergia a
sociedade civil. Essa ampla transformação concretiza-se em processos sociais de âmbito
estrutural, tais como: – industrialização, urbanização, divisão do trabalho social,
secularização da cultura e do comportamento, individuação, pauperismo, lumpenização
e outros. Esse é o palco do trabalhador livre, formado com a sociedade moderna.
Esse é o vasto cenário histórico que se constitui na matéria prima da Sociologia. Ela
surge como uma forma de autoconsciência científica da realidade social. Essa é a
realidade que alimenta boa parte dos escritos de Saint-Simon, Bonald, Maistre,
Tocqueville, Comte, Burke, Spencer, Feuerbach, Marx e outros. É claro que esses
pensadores alimentam-se dos ensinamentos filosóficos de Hobbes, Locke, Montesquieu,
Vico, Herder, Rousseau, Kant e Hegel, além dos enciclopedistas e outros. Mas é
inegável que todos estão tratando de compreender, explicar e responder às
transformações e crises manifestas em processos sociais estruturais, em movimentos de
protesto, greve, revolta e revolução.

A Sociologia posterior dá continuidade a esse empenho de compreender, explicar,


responder às transformações e crises sociais. Os escritos de Durkheim, Mauss,
Halbwachs, Weber, Simmel, Toennies, Goldmann, Znaniecki, Mannheim, Gurvitch,
Sorokin, Myrdal, Park, C.W. Mills, Merton, Parsons, Lazarsfeld, Bourdieu, Nisbet,
Gouldner, Barrington Moore Jr., Schutz, Adorno e outros dão continuidade a esse
empenho. É claro que são diversas e desiguais as contribuições de uns e outros, tanto do
ponto de vista teórico como no que se refere as suas implicações políticas. No plano
teórico, além das sugestões relativas ao hiper-empirismo e à fenomenologia, como nos
casos de Gurvitch e Schutz, outros revelam-se ecléticos e alguns ortodoxos. No plano
político também revelam todo um leque de posicionamentos, dentre os quais destacam-
se liberais, conservadores e radicais. Mas talvez se possa dizer que todos buscam
compreender, explicar, controlar, dinamizar ou exorcizar as condições das
transformações e crises.

Em outros termos, em outros países e continentes, a Sociologia continua a desenvolver-


se desafiada pelos dilemas da sociedade moderna mais ou menos desenvolvida. Na
América Latina, África e Ásia tanto ressoam as idéias e teorias como os temas e
explicações. Há contribuições que parecem anacrônicas, exóticas ou ecléticas, pelo que
ressoam das sociologias européias e norte-americanas. Mas também há criações
originais, inovações. Colocam-se novos temas e outras explicações. Surpreendem e
desafiam, pela originalidade, força e invenção.

A rigor, esses continentes e países são, em certa medida, criações do Mundo Moderno,
desdobramentos das forças sociais que movimentam a sociedade moderna.
Desenvolvem-se e transformam-se com os desenvolvimentos e as transformações que
ocorrem na Europa e nos Estados Unidos. O colonialismo, imperialismo, nacionalismo,
cosmopolitismo e internacionalismo podem ser vistos como produtos e condições de um
amplo processo de europeização do mundo. Em distintas formas e ocasiões, os países e
continentes atrelam-se desigual e contraditoriamente ao que parece ser a força
civilizatória do capital.

Revolucionam-se os modos de vida e as culturas nativos nas mais longínquas regiões.


Os bárbaros são obrigados a civilizar-se, assumindo a barbárie do capital. Os povos
fetichistas, panteístas, sem história, que vivam mergulhados no estado de natureza, são
obrigados a assimilar o monoteísmo bíblico, a diligência do trabalho que produz
mercadoria e lucro, a disciplina exigida pela criação da mais- valia, a religião do capital.
Está em marcha a revolução burguesa em escala mundial. Ao mesmo tempo, por dentro
e por fora dessa revolução, desenvolvem- se revoluções nativistas, nacionalistas, sociais,
populares, socialistas. Uma espécie de revolta desesperada contra a missão civilizatória
do capital.
Esse é o amplo cenário no qual o pensamento sociológico originário da Europa e dos
Estados Unidos tanto se difunde como entra em relação e confronto com outras idéias,
teorias, temas, explicações. As obras de Frantz Fanon, José Carlos Mariátegui e
Florestan Fernandes, para citar apenas esses exemplos, expressam e simbolizam uma
parte importante dessa história. Mostram em que e como se modernizam os países e
continentes que estão além da Europa e Estados Unidos. Ressoam contribuições
européias recriadas em face de outros temas, dilemas. Mostram como se dá a revolução
burguesa em outras partes do mundo. E como nascem as condições do socialismo, no
contraponto com a barbárie. No começo e na travessia, a revolução social parece sempre
presente no horizonte da Sociologia.

Metamorfoses da Multidão

Vista em perspectiva ampla, observa-se que a Sociologia formula e desenvolve alguns


temas da maior importância para a compreensão do Mundo Moderno. Eles dizem
respeito às transformações e crises, às épocas e dilemas desse Mundo. São recorrentes
em diversas abordagens teóricas, distintos países, diferentes períodos da história. Podem
ser considerados temas clássicos, inclusive porque polarizam contribuições e
controvérsias fundamentais da Sociologia.

Estes certamente são alguns dos temas clássicos que essa história nos revela: sociedade
civil e estado nacional, multidão, massa e povo, classe social e revolução, ordem e
progresso, normal e patológico, racional e irracional, anomia e alienação, sagrado e
profano, ideologia e utopia, comunidade e sociedade, passado e presente, tradição e
modernidade. É claro que esses e outros temas são tratados diferentemente por umas e
outras abordagens teóricas. Não há dúvida de que são trabalhados em distintas
perspectivas, conforme o princípio explicativo adotado. Mas é inegável que todos dizem
respeito ao empenho da Sociologia em compreende e explicar o Mundo Moderno. A
despeito das suas condições mudo particulares de organização, funcionamento e
transformação, é inegável que também as sociedades latino-americanas, asiáticas e
africanas além das européias e da norte-americana – ressoam uns e outros daqueles
temas, dilemas.

Algumas observações breves sobre um ou outro desses temas podem ajudar a clarear o
que está sendo sugerido. Sugerir como o pensamento sociológico e a sociedade moderna
são contemporâneos, nos seus contrapontos e desencontros.

Comunidade e Sociedade é talvez o tema mais recorrente no pensamento sociológico.


Está em praticamente todas as obras fundamentais. Desafia as diversas abordagens
teóricas. Os filósofos do século XVIII estavam interessados nele. Mais que isso, os
autores das utopias a que assinalam os tempos da Renascença e os primórdios da
sociedade civil, burguesa, já revelaram o fascínio da comunidade; ou esboçaram a
cerimônia do adeus; ao mesmo tempo que se maravilharam e espantaram diante da
sociedade. Mesmo os que se debruçam apenas sobre a sociedade, em países e tempos do
século XX, mesmo esses podem estar fascinados ou espantados com essa maravilhosa e
diabólica fábrica. Estes são alguns livros nos quais o contraponto comunidade e
sociedade está presente, a despeito da ênfase em um ou outro pólo, em aspectos gerais
ou muito particulares: O Contrato Social de Rousseau, O Segundo Tratado sobre o
Governo de Locke, O Antigo Regime e a Revolução de Tocqueville, A Ideologia Alemã
de Marx e Engels, A Divisão do Trabalho Social de Durkheim, Economia e Sociedade
de Weber, Comunidade e Sociedade de Toennies, Comunidade de Maclver, A Busca da
Comunidade de Nisbet. A comunidade diz respeito à preeminência de grupos primários,
relações sociais face-a-face, prestação pessoal, contacto entre personalidades plenas,
predomínio de produção de valor de uso e assim por diante. E a sociedade diz respeito à
preeminência de grupos secundários, dissociação entre o público e o privado, relações
sociais entre personalidades- status, organização contratual na maioria dos círculos de
relações sociais, predomínio da produção de valor de troca e assim por diante.

É possível encontrar freqüentes ressonâncias dessa problemática no pensamento


sociológico, bem como em reflexões de filósofos e produções de artistas. Uma parte
importante do debate sobre passado e presente, reforma e revolução, anomia e
alienação, ideologia e utopia, passa por ela. As idéias de liberdade e solidão, de medo da
liberdade e multidão solitária passam por aí. A despeito das mais diversas revelações
sobre a sociedade moderna, de massas, aldeia global, modernidade, subsiste e recria-se
continuamente a ilusão da comunidade presente, pretérita ou futura.

Ordem e Progresso é o lema que sintetiza a Sociologia de Augusto Comte. Mas


influencia uma ampla produção sociológica no século XIX e entrando pelo XX, além da
Europa e Estados Unidos. No Brasil e México, entre outros países latino-americanos, a
Sociologia positivista fez muito adeptos. Tornou-se uma corrente de pensamento,
influenciou a organização do estado nacional. Assinala uma época importante da
história das idéias.

Acontece que as expressões ordem e progresso sintetizam uma perspectiva de


interpretação da sociedade urbano-industrial, de classes, em sua formação e
transformação. A idéia de progresso identifica-se com a da sociedade urbano- industrial,
burguesa, capitalista. Sociedade essa vista como urna forma superior, aperfeiçoada, da
história social. Aí, o estado deve ser forte, dirigente, para que as diversidades e
desigualdades entre grupos, classes, regiões, nacionalidades etc. não afetem a harmonia
e o funcionamento do todo. O progresso econômico, industrial, capitalista, depende da
ordem, harmonia, entre uns e outros. A ordem social é uma exigência dos interesses
representados ou simbolizados no governo, regime, estado. Segundo essa orientação,
nada melhor do que o estado forte para por a sociedade em ordem, conforme a religião
da paz social.

É possível dizer que a idéia de ordem e progresso nunca foi abandonada pela
Sociologia, da mesma forma que pelas sociedades formadas com o Mundo Moderno.
Tanto assim que ela está presente tanto em Comte, Spencer e Durkheim como em
Parsons, Bourdieu e Touraine. No passado e no presente a reflexão sociológica busca
compreender, explicar e influenciar as transformações e crises sociais. Apresenta-se
como uma forma de conhecer e ordenar a vida social, de modo a aperfeiçoar o status
quo.

Não é fácil dizer, e demonstrar, qual é o núcleo da Sociologia, o seu tema principal, sua
essência. Se aceitamos que o pensamento sociológico se forma e transforma com o
Mundo Moderno, cabe-nos reconhecer que temas como comunidade e sociedade, ordem
e progresso, ideologia e utopia, tradição e modernização, anomia e alienação, revolução
e contra-revolução expressam dimensões sociais e teóricas básicas da Sociologia.
Talvez seja possível afirmar que esses e alguns outros temas expressam o núcleo dessa
forma de pensamento.
Mas é possível sugerir que um aspecto essencial da Sociologia aparece no seu empenho
em compreender, explicar e controlar a multidão. A multidão surge na sociedade civil,
urbano-industrial, burguesa, capitalista. Aparece nas manifestações de camponeses,
operários, populares, desempregados, miseráveis, famélicos. Desde os começos da
sociedade nacional, quando se rompem as relações, os processos e as estruturas que
organizam o feudo, o grêmio, o convento, a aldeia, o vilarejo, desde esse então ela
irrompe na sociedade, com a sociedade. Nos campos e cidades, nas casas de negócios e
fábricas, nas ruas e praças, ela se torna uma realidade viva, forte, surpreendente,
assustadora, deslumbrante.

Desde o século XVI multiplicam-se os protestos, as revoltas e as revoluções populares.


As guerras camponesas na Alemanha são uma amostra e um símbolo dessa história. Os
camponeses estão em luta contra as obrigações feudais (dízimos e prestações para os
senhores e a igreja), querem melhorar as suas condições de vida, aumentar a sua
participação no produto do próprio trabalho, ampliar o seu horizonte social e cultural,
conquistar alguma liberdade. Mas essa luta assusta os senhores, príncipes e bispos do
passado, bem como os burgueses do presente. São muitos os laços que se rompem; e
incertos os horizontes que se abrem. Os grupos dominantes, pretéritos e presentes,
juntam-se para evitar transformações mais drásticas, rápidas. No empenho de evitar o
rompimento das estruturas sociais prevalecentes, Lutero adota posições semelhantes às
do Vaticano. Reforma sim, mas nem tanto.

Em vários países, em diferentes épocas, desde o século XVI ao XX, a multidão se


manifesta, protesta ou revolta, ao mesmo tempo que atemoriza ou entusiasmo Na
Revolução Francesa iniciada em 1789, nas revoluções européias de 1848-49, na
Comuna de Paris, em 1871, em várias épocas e situações, a multidão se transforma em
um tema freqüente, reiterado, obsessivo do pensamento sociológico. São muitos os
estudos que registram, descrevem ou interpretam os acontecimentos: protestos, greves,
revoltas e revoluções; banditismo social e messianismo; movimentos sociais e partidos
políticos; jacobinismo, blanquismo, anarquismo, socialismo e comunismo. Todos estão
atravessados pela presença da multidão, plebe, turba, malta, patuléia, ralé, massas
trabalhadoras, classes populares, coletividades em busca de cidadania, povo em luta
pela conquista de direitos políticos e sociais. Alguns escritos antigos e recentes entram
nessa corrente: Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels, As Guerras
Carnponcsas na Alemanha de Engels, A Guerra Civil na França de Marx, O Povo de
Michelet, Psicologia das Massas de Le Bon, A Multidão Criminosa de Sighele,
Psicologia das Massas de Freud, A Rebelião das Massas de Ortega y Gasset, Massa e
Poder de Canetti, O Grande Medo de 1789 de Georges Lefebvre, Classes
Trabalhadoras e Classes Perigosas de Louis Chevelier, A Multidão Solitária de
Riesman, A Política da Sociedade de Massas de Kornhauser, Rebeldes Primitivos de
Hobsbawn, A Multidão na História de George Rudé, Guerras Camponesas do Século
XX de Wolf, O Poderio das Multidões de Jacques Beauchard.

O que está em causa, fundamentalmente, é a questão social que irrompe no horizonte da


sociedade moderna, seus governantes, os que detêm os meios materiais e espirituais de
controle das instituições sociais. As mais diversas manifestações populares, na cidade e
no campo, revelam aspectos sociais, econômicos, políticos, religiosos, culturais e outros
da questão nacional.
Uma parte significativa da reflexão sociológica, desde os seus primeiros tempos,
relaciona-se a essa problemática, influenciando as reflexões sobre sociedade civil e
estado nacional, ordem e progresso, racional e irracional, anomia e alienação, ideologia
e utopia, revolução e contra-revolução, comunidade e sociedade. Trata-se de
compreender, explicar, orientar, controlar ou expressar a força e o significado da
multidão. Nesse sentido é que se pode dizer que a Sociologia realiza uma complexa
metamorfose da multidão. Cada corrente de pensamento sociológico parece oferecer
uma solução própria para o surgimento, as transformações e as tendências da multidão.
Procuram dar uma solução teórica e prática para um fenômeno que impressiona, desafia,
assusta ou entusiasma.

Uma primeira corrente da Sociologia lida com a idéia de massa. Para muitos, o conceito
de massa é suficiente, claro, explicativo. A massa é naturalmente composta de
trabalhadores assalariados, empregados e desempregados, na cidade e no campo. É uma
coletividade forte, impressionante, mas que depende de instituições, regras, objetivos e
meios para organizar-se, manifestar-se. Caso contrário transborda dos limites do
razoável, da conveniência, da ordem. Por isso, depende da elite. Esta é que pode lhe
oferecer referências, norte, sentido. O contraponto necessário da massa é a elite que
dirige, comanda, organiza, governa, manda. Pareto é um autor clássico desse ponto de
vista. Mas outros houve; e há.

A segunda corrente da Sociologia lida com a idéia de povo. O povo é visto como uma
coletividade de cidadãos. Supõe a possibilidade de que a multidão pode ser organizada
em movimentos sociais e partidos políticos que a expressam, organizam, educam. A
multidão adquire os traços jurídico-políticos convenientes, adequados, quando se
organiza como povo, no sentido de coletividade de cidadãos. Cidadãos que se
caracterizam pela faculdade de votar e ser votados. No limite, todo e qualquer cidadão
pode exercer cargos no legislativo, executivo ou judiciário, desde que preencha os
requisitos jurídico- políticos estabelecidos na constituição liberal democrática
Tocqueville é um autor que pode situar-se nesse ponto de vista. Outro é Stuart Mill.
Mas cabe lembrar que ambos eram moderados, no que se refere à participação do povo
no processo político. Cada um a seu modo, julgavam que o exercício do poder político
da maioria poderia provocar a tirania. Isto é, o exercício do poder pelo povo carrega
consigo a tirania da maioria. Tocqueville e Stuart Mill podem ter sido os primeiros, mas
outros houve; e há.

E uma terceira corrente da Sociologia lida com a idéia de classe social. A classe é vista
como uma categoria que expressa as diversidades e desigualdades que se acham na base
das manifestações da multidão, massa, povo. Em última instância, o que funda o
movimento social, protesto, greve, revolta, revolução, é o modo pelo qual se produz e
reparte a riqueza social. A expropriação do trabalhador, produtor de mercadoria, valor,
lucro, mais-valia, está na base do pauperismo, desemprego, carência. Tanto as revoltas
camponesas na Alemanha do século XVI como a revolução popular na França,
Alemanha e outros países da Europa em 1848-49 são manifestações de trabalhadores
“livres” em busca de melhores condições de vida, de outra forma de organização social
da vida e trabalho. Assim, em lugar de ser anômalos, excepcionais, perigosos, os
movimentos sociais, protestos, greves, revoltas e revoluções exprimem as desigualdades
contra as quais lutam os trabalhadores do campo e da cidade, desde os começos da
sociedade moderna. Marx é o autor clássico dessa análise. Mostra como a classe social
se acha na base, no centro, dos movimentos, lutas e impasses que aparecem como se
fossem da multidão, massa, povo. Além de Marx e Engels, outros houve; e há.

Em várias épocas, assim como em diferentes perspectivas, está em curso o empenho do


pensamento sociológico em explicar, controlar, dinamizar ou exorcizar a presença da
multidão, massa, povo ou classe social nos movimentos da sociedade moderna. Talvez
seja possível dizer que essa problemática está influenciando também as reflexões sobre
sociedade civil e estado nacional, comunidade e sociedade, ordem e progresso, racional
e irracional, anomia e alienação, ideologia e utopia, revolução e contra-revolucão, entre
outros temas clássicos da Sociologia; entre outros dilemas clássicos das sociedades
fornadas com o Mundo Moderno.

Modernidade

A idéia de Sociologia é contemporânea da idéia de Modernidade. Ambas nascem na


cidade. Formam-se principalmente em Paris, capital do século XIX, em meados desse
século. Aí decantavam-se as mais novas e típicas realizações materiais e espirituais da
sociedade moderna.

Desde que a Sociologia se debruçou sobre as relações, os processos e as estruturas que


constituem a sociabilidade humana na sociedade moderna, logo se colocaram aspectos
fundamentais da emergência da pessoa, indivíduo, cidadão, como um ser social
singular, autônomo, surpreendente, que se sintetiza na liberdade; ou na solidão. Ele
aparece como a mais recente e original realização social do Mundo Moderno, lado a
lado com a mercadoria. É a célula da sociedade, um átomo. Pode pensar-se singular,
independente, solitário, anônimo, livre, niilista.

A crescente intelectualização dos indivíduos e a contínua racionalização das


organizações pareciam “despojar de magia o mundo", desencantá-lo. O homem e a
sociedade pareciam conquistar o controle de seus atos, do seu presente, emancipados do
passado. O mundo iluminava-se de outras cores. As ciências conferiam a muitos a
ilusão do progresso, da resolução dos problemas materiais e espirituais. Em 1837
Macaulay dizia que a ciência “abrandou o sofrimento, venceu as doenças, aumentou a
fertilidade do solo", deu “novas armas ao guerreiro", “iluminou a noite com o esplendor
do dia, ampliou o alcance do olho humano", “acelerou o movimento, reduziu as
distancias", “facilitou as comunicações", “a condução dos negócios” e assim por diante.
A ciência é incansável. “A sua lei é o progresso”1.

Está em curso o desencantamento do mundo, de que fala Weber, retomando as


sugestões de Schiller. Desde o século XVIII, e em forma acentuada e generalizada no
X1X, os progressos da ciência pareciam reduzir os espaços da tradição, superstição,
religião. Iniciava-se um amplo processo de afirmação do presente, rompimento com o
passado. A razão parecia vencer e apagar a fé. Os homens ficam órfãos de Deus. São
obrigados a assumir o próprio destino.

Um dos segredos da Modernidade está em que o homem se defronta com um destino


trágico. Tanto pensa, reflete, compreende explica, que pode prescindir de Deus. Basta-
se a si próprio, por sua inteligência e ciência, razão e invenção. Dá-se ao requinte de
assassinar Deus. “Não seremos forçados a tornarmo-nos deuses para parecermos, pelo
menos, dignos de deuses? Jamais houve ação tão grandiosa e aqueles que poderão
nascer depois de nós, pertencerão por esta ação a uma história mais alta que o foi até
aqui qualquer história”2. Na sociedade moderna, o homem abandonou a tradição e a
religião, Deus e o Diabo. Intelectualiza-se de tal maneira que desencanta o mundo de
visões e fantasmas. Afugenta, confina ou domina a incerteza, o desconhecido, o
incógnito. Considera-se senhor do próprio destino. Substitui a tradição e a religião pela
razão. A razão pode captar, compreender, explicar e ordenar o mundo. Mais que isso,
confere forma e sentido ao mundo, retirando-o do limbo; limpo. “O que é racional é real
e o que é real é racional” diz Hegel, inaugurando uma face do Mundo Moderno, da
Modemidade3. É a razão que descobre, nomeia, explica e exorciza visões e fantasmas.
Descobre que eles não estão no além, mas aqui, agora, à luz do dia, transparentes,
razoáveis. São fetiches, criados pelo próprio homem, aos quais ele se submete,
imaginando-os autônomos, dissociados do homem, independentes, naturalizados. O
fetichismo é uma fabulação do dia-a-dia da vida de todos e cada um. Ele se cria e recria
na trama das relações sociais, descolado, naturalizado, reificado. Parece uma inesperada
fabulação das atividades humanas, que fascina e assusta. O halo místico abandona os
deuses e os sonhos, as visões e os fantasmas. Põe-se coroando os produtos mais
prosaicos do dia-a-dia presente, conferindo-lhes solenidade. Tanto governo, bandeira,
hino, heróis, santos, vitórias, tradições, monumentos e reinas, como mercadoria,
dinheiro, juro, renda, salário e lucro, tudo se deixa impregnar daquela inesperada
fantasia, criando a ilusão do halo que fascina e assusta.

As coisas criadas pelos homens projetam-se diante deles como seres sociais, dotados de
vida própria, relacionando-se entre si e com os homens, autônomas, naturalizadas,
reificadas, ideologizadas. O criador submete-se à criatura, em deleite e espanto. Agora
as visões e os fantasmas não se encontram mais lá fora, forçando para entrar, vigiadas
por Deus, estimuladas pelo Diabo. Os fetiches são criados e recriados cotidianamente, à
luz do dia, à sombra da razão.

É as’ que se instaura o sentido trágico também presente na Modernidade. Agora o


homem tudo sabe, sobre este e o outro mundo. Tem tanta razão que desvenda os
fetiches que ele próprio recria e recria, no cotidiano do dia-a-dia. Mas se reconhece
aquém e além dessa razão. Descobre que o seu entendimento não o emancipa de si, do
que é como fabulação. Com o fetichismo das suas relações sociais, entroniza visões e
fantasmas, nos quais se conhece e desconhece, que alegram e o assustam.

Um aspecto essencial desse clima é registrado por Baudelaire, quando descobre que o
indivíduo da cidade está solto e perdido no meio da multidão, “do grande deserto de
homens". É ai que se revela o que há de breve, fugaz, aleatório, no modo de vida
presente. “A Modernidade é o transitório, efêmero, contingente”4.

Estão em curso a secularização da cultura e do comportamento, a industrialização e


urbanização, a divisão do trabalho social e a mercantilização. A marcha da revolução
burguesa, lenta e rápida, parcial e drástica, quebra, subordina ou destrói tradições,
regionalismos e provincianismos materiais e espirituais. O trabalho produtivo se impõe
à preguiça, o proprietário à terra, o capital ao trabalho, a fábrica ao grêmio, o mercado à
economia doméstica, a mais-valia à mercadoria. “A burguesia despiu todas as atividades
até aqui veneráveis e estimadas com piedosa reverência da sua aparência sagrada.
Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores
assalariados pagos por ela ... Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo
de vetustas representações e concepções, são dissolvidas, todas as recém- formadas
envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era dos estados (ou ordens
sociais) e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são por
fim obrigados a encarar com os olhos bem abertos a sua posição na vida e as suas
relações recíprocas”5.

A Sociologia e a Modernidade surgem na mesma época, na mesma idade. Talvez se


possa dizer que a revolução popular de 1848 despertou o Mundo para algo novo, que
não havia sido ainda plenamente percebido. A multidão aparecia no primeiro plano, no
horizonte da história. E aparecia como multidão, massa, povo e classe. A revolução de
48 em Paris repercutiu em toda a França, na Europa e em muitas partes do mundo. Via-
se que a multidão tornava-se classe revolucionária em conjunturas críticas. A
metamorfose pode ser brusca, inesperada, assustadora, fascinante. Em Paris de 48
viviam, trabalhavam, produziam e lutavam Tocqueville, Proudhon, Comte, Marx,
Blanqui e Baudelaire. Na capital do século XIX, quando se revelam os primeiros sinais
de que a sociedade burguesa também é histórica, transitória, nesse momento nascem a
Sociologia e a Modernidade.

Já é evidente que a ciência não se traduz necessariamente em progresso, que o


desenvolvimento material não se traduz em desenvolvimento social e espiritual. Pode
inclusive ocorrer que os usos da ciência agravam a questão social, desumanizem as
relações entre os homens, transformados em objetos das suas criaturas. “Vemos que as
máquinas, dotadas da propriedade maravilhosa de reduzir e tornar mais frutífero o
trabalho humano, provocam a fome e o esgotamento do trabalhador. As fontes de
riqueza recém-descobertas se convertem, por artes de um estranho malefício, em fontes
de privações. Os triunfos da arte parecem adquiridos ao preço de qualidades morais;
mas, ao mesmo tempo, o homem se transforma em escravo de outros homens ou da sua
própria infâmia. Até a pura luz da ciência parece só poder brilhar sobre o fundo
tenebroso da ignorância”6. Acontece que o indivíduo autônomo, anônimo,
independente, livre, senhor do próprio destino, foi uma ilusão. Nem no século XIX nem
no XX o cidadão chegou a conformar-se com uma realidade social, política, espiritual.

É daí que nasce o herói solitário e triste de Chaplin. Numa das mais avançadas
expressões da Modernidade que é o cinema, surge o lumpen olhando espantado para os
outros, as coisas, o mundo. Carlitos é um herói trágico. Solitário e triste, vaga perdido
no meio da cidade, um deserto povoado pela multidão. Farrapo coberto de farrapos.
Fragmento de um todo no qual não se encontra; desencontra-se. Caminha perdido e só,
no meio da estrada sem-fim. Parece ele e outro, outros e muitos, todos os que formam e
conformam a multidão gerada pela sociedade moderna. Um momento excepcional da
épica da Modernidade.

Essa é uma das mais extremas e cruéis sátiras sobre o Mundo Moderno. Carlitos revela
a poética da vida e do mundo, a partir da visão paródica do lumpen que olha a vida e o
mundo a partir dos farrapos, da extrema carência, de baixo- para-cima, de ponta-cabeca.

São diversas as faces da Modernidade que se revelam nas obras de cientistas, filósofos e
artistas. Cada um a seu modo, muitos estão percebendo o que há de novo e singular no
Mundo Moderno. O presente parece romper-se do passado, o homem se pensa senhor
do seu destino, o futuro talvez esteja ao alcance da mão. Esse é o mundo produzido por
uma ampla e intensa transformação material e espiritual, quando as ilusões do progresso
naufragam nas lutas sociais, ao mesmo tempo que a utopia do futuro germina das
mesmas lutas sociais. A sociedade e o indivíduo são atravessados por realidades
desconhecidas, assustadoras, fascinantes. Realidades que se expressam em novas idéias,
categorias, teorias, ilusões, visões do mundo. Muitos defrontam-se com o singular
contraponto por meio do qual se desenha o labirinto da Modernidade: anomia e
alienação, racional e irracional, ideologia e utopia, liberdade e solidão.

Nesse ambiente, a Sociologia encontra elementos essenciais da sua formação, do seu


estilo de pensamento. A despeito das diversidades de perspectivas, das peculiaridades
dos princípios explicativos, é inegável que a Sociologia nasce e desenvolve-se com as
realizações e os dilemas da Modernidade. Tanto assim que ela não abandona essa
problemática primordial. Ao contrário, torna e retorna freqüentemente a ela. No
presente, como no passado, a Sociologia está empenhada em desvendar o modo pelo
qual o homem, Deus e o Diabo estão metidos no meio do redemoinho.

Épica do Mundo Moderno

A Sociologia revela e constitui dimensões essenciais do Mundo Moderno. As


expressões sociedade civil e estado nacional, comunidade e sociedade, ordem e
progresso, racional e irracional, anomia e alienação, ideologia e utopia, revolução e
contra-revolução, entre outras, explicam e constituem muito desse Mundo. Essa
problemática denota o empenho do pensamento sociológico em compreender,
interpretar, taquigrafar, ordenar, controlar, dinamizar ou exorcizar esse Mundo.
Algumas das suas dimensões essenciais mostram-se mais claras, acentuadas ou
surpreendentes nas explicações e fabulações que constituem grande parte do
pensamento sociológico. Nesse sentido é que se pode imaginar que sem a Sociologia o
Mundo Moderno seria mais obscuro, incógnito. Ficaria um pouco mais no limbo.

O vulto do desafio, da empresa e da realização lança a Sociologia também no plano


artístico. É claro que o compromisso com a reconstrução da realidade, compreendendo
relações, processos e estruturas sociais, organizasse basicamente em moldes descritivos
e interpretativos. O significado científico do escrito predomina no modo pelo qual se
reconstrói e explica a realidade social. O escrito impõe-se à escritura. Mas a escritura
pode adquirir também conotações artísticas. Além dos compromissos científicos e das
implicações filosóficas, ela pode revelar entonações dramáticas e épicas.

É possível constatar que algumas das principais obras da Sociologia possuem também
conotação artística, seja dramática seja épica, ou mesmo mesclando ambas. O modo
pelo qual recriam, compreendem, explicam e fabulam a realidade social, em seus
movimentos e impasses, encontros e desencontros, sugerem algo nesse sentido. Sim,
uma parte da Sociologia apanha o Mundo Moderno como espetáculo. E o homem desse
Mundo como personagem singular e coletivo, figura e figuração.

Há livros nos quais a narrativa está atravessada por algo que parece uma força maior,
que arrasta as pessoas e as coisas, uma espécie de pathos assustador e fascinante. Não é
mais o destino da épica grega que atravessa a vida do indivíduo e sociedade,
comandando os homens um-a-um e todos, em suas relações entre si, com a natureza e os
deuses. No Mundo Moderno, o que comanda a vida da coletividade e do indivíduo, no
campo e na cidade, pode ser o poder, a ordem, o progresso, o racional, o irracional, a
anomia, a alienação, a ideologia, a utopia, a revolução, a contra-revolução. Todos e cada
um são levados por algo que parece ser a força das coisas.
É claro que não se podem esquecer relações, processos e estruturas presentes no âmbito
da econômica, política, religião, ciência, cultura, etc. Não há dúvidas de que a
tecnologia, o capital, a força de trabalho, a divisão do trabalho social e outros
componentes da vida social são poderosas forças que se impõem sobre uns e outros.
Também é óbvio que a luta pelo poder, político, econômico ou outro, galvaniza uns e
outros, muitos, todos. As relações entre dominantes e dominados, governantes e
governados, dirigentes e subalternos, estão atravessadas por forças que carregam os
indivíduos, grupos e classes sociais além dos seus desígnios, ideais, ilusões. Às vezes
atingem as pessoas, grupos, classes, movimentos sociais, partidos políticos, amplos
setores sociais ou mesmo a sociedade como um todo, como se fosse um tufão, um
terremoto. Talvez isto estivesse no espírito de Hegel quando se preocupou em lembrar o
seguinte: “Napoleão disse uma vez, diante de Goethe, que nas tragédias do nosso tempo
a política substituiu o destino das tragédias antigas”7. Na comunidade grega, os deuses
comandam o destino dos homens, incutindo-lhe o mistério do pathos. Na sociedade
burguesa, a luta pelo poder comanda o destino dos homens, incutindo-lhe o mistério do
pathos. É o que está em causa, quando a Sociologia procura apanhar as transformações
e crises, épocas e impasses do Mundo Moderno, da Modernidade. Uma força que
atravessa a coletividade, indivíduo, grupo, classe, movimento, partido, protesto, revolta,
revolução, cidade. É o que confere aos escritos sobre a sociedade moderna uma inflexão
artística.

Nessa perspectiva é que se situam algumas das obras fundamentais da Sociologia,


dentre as quais lembramos agora as seguintes: O Antigo Regime e a Revolução de
Tocqueville, Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels, A Divisão do Trabalho
Social de Durkheim, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo de Weber,
Comunidade e Sociedade de Toennies, Ideologia e Utopia de Mannheim, A
Personalidade Autoritária de Adorno e outros, O Homem Unidimensional de Marcuse,
Guerras Camponesas do Século XX de Eric Wolf, As Origens Sociais da Ditadura e
Democracia de Barrington Moore Jr., 7 Ensaios de Interpretação da Realidade
Peruana de José Carlos Mariátegui, A Revolução Burguesa no Brasil de Florestan
Fernandes, Os Condenados da Terra de Frantz Fanon. A história contada nesses
escritos não terminou. Continua viva, presente, decisiva A inteligência da sociedade não
garante a sua emancipação. O mesmo homem que explica, não se emancipa. Debate-se
como indivíduo e coletividade, pessoa e personagem, figura e figuração. Pode
principalmente refazer a esperança, a utopia. Canta e desencanta a inflexão dramática ou
épica impregnando os movimentos da sociedade.

Alguns sociólogos traduzem de forma particularmente nítida a dimensão épica do


Mundo Moderno. Mostram como a razão luta para compreender, explicar, taquigrafar,
glorificar ou exorcizar a maldade social. Procuram os limites e as sombras que
distinguem e confundem comunidade e sociedade, ordem e progresso, racional e
irracional, anomia e alienação, ideologia e utopia, revolução e contra-revolução.
Procuram o lugar da razão no jogo das relações, processos e estruturas que se expressam
em transformações e impasse, épocas e crises. Parecem demiurgos, lidando com as
imensas forças sociais, econômicas, políticas, religiosas e outras; tratando de explicar o
Mundo, compreendê-lo, conhecer os seus movimentos e as suas possibilidades;
procurando conferir-lhe outro destino; querendo reinventar a vida.

Weber e Marx são dois sociólogos em cujas obras encontramos alguns elementos
essenciais da épica. Não querem apenas conhecer a sociedade moderna, burguesa,
capitalista. Querem explicar como ela se forma e transforma, de onde vem e para aonde
vai. Procuram explicar o que pode ser a humanidade criada com o capitalismo. E como
se transforma, preserva, transtorna. São dois estilos de pensamento duas interpretações
da sociedade moderna, duas visões do mundo.

Max Weber é uma das figuras notáveis dessa épica. Grande parte da sua Sociologia
revela um debate desesperado sobre o racional e o irracional. Mostra como o indivíduo,
grupo, classe, instituição, sociedade, estado, formam-se e conformam-se, todo o tempo,
à beira da razão, sem-razão. A tradição e o carisma, o despotismo e a demagogia
parecem rondar continuamente as pessoas, as coisas e as idéias, o real e o imaginário. A
graça da vocação se revela no castigo da profissão, ganho, lucro, acumulação. A
recompensa pelo ascetismo se mostra na obediência do individuo e sociedade aos
desígnios das coisas, de forças que escapam ao controle tanto do indivíduo como da
sociedade. Todos parecem vagar extraviados, perdidos, solitários, no labirinto do
Mundo Moderno. Mundo esse no qual Weber pode ser visto como um Prometeu
acorrentado.

Karl Marx é uma das figuras mais fortes dessa épica. A sua obra é toda ela um vasto
mural do Mundo Moderno. Todas as principais linhas, figuras e cores, todos os
principais movimentos e sons desse Mundo estão assinalados nos seus escritos,
vibrando na sua escritura. A narrativa de Marx ressoa sempre esse tempo presente, no
qual se lembra o passado e ressoa o futuro. Um tempo que contem os muitos
andamentos dos indivíduos, grupos e classes, movimentos sociais e partidos políticos,
diversidades e desigualdades, contradições e rupturas, revoluções e contra-revoluções.
Assim se revela a historicidade da sociedade moderna, do Mundo Moderno. Apenas um
momento da história, e não o apogeu e coroamento de todas as outras idades. Em seu
interior germinam as forças e as relações que abalam o presente, resgatam fragmentos
do passado, podem construir o futuro. A história da sociedade burguesa é uma história
de lutas sociais. Mas o segredo mais recôndito dessas lutas está em que elas produzirão
a sociedade futura, livre das desigualdades escondidas nas diversidades entre
indivíduos, grupos, classes, regiões. Nesse então, o homem estará livre da propriedade
privada capitalista, entendida como fato jurídico-político, como realidade social e como
princípio organizatório universal da vida material e espiritual. Nesse então, os sentidos
físicos e espirituais do homem estarão livres para expressar-se, revelar-se. Assim
começa a apagar-se o componente de barbárie que acompanha a Modernidade. Livres
da tirania desse princípio, que os organiza, ordena e subordina, os sentidos físicos e
espirituais poderão descobrir e inventar formas, cores, sons, movimentos, imagens,
figuras, idéias e outras dimensões escondidas na máquina do Mundo. Assim, desse
modo, plantado no vasto mural do Mundo Moderno, Marx pode ser visto como um
profeta iluminado.

IANNI, Octavio. Sociology and the Modern World. Tempo Social; Rev. Sociol.
USP, São Paulo, 1(1):7-27, l.sem. 1989.

ABSTRACT: This essay attempts to clarify sociology’s “commitment” to a modern


world based on capitalist development. First, the principal classical theories are
examined. They are shown to have risen alongside the cha,lenges confronting society in
the mid- 1 9th Century. We are reminded that these theories continue providing models
for sociological currents proposed in the 20th Century. Second, sociology’s fundamental
themes, also created in the atmosphere of that society, are listed – themes that are still
basic to the currents developed in the 20 Century. Third, the relationships between
sociology and modernity are analysed. It is suggested that, in light of modernity, this
discipline expresses dilemmas and perspectives of thought. Finally, it is suggested that
sociology can be read as a literary form in which epic creations can be distinguished.
Because of its themes and explanations, sociology often resembles an epic of the
modern world.

UNITERMS: Sociology: classical theories, fundamental themes, modernity, epic of the


modern world.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Macaulay, Ensaio sobre Bacon, citado por STEINER, George. Dans te chatear de
BarbeBleue: Notes pour une redéfinition de la cultura Trad. Lucienne Lotringer. Paris,
Gallimard, 1973, p. 18.

2. NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Trad. Márcio Pugliesi, Edson Bini e Norberto de


Paula [ ims São Paulo, Hemus Livraria Editora Ltda, 1976, p. 134 (citação do aforisma
n9 125).

3. HEGEL, G.W.F. Princípios da filosofia do direito. Trad. Orlando Vitorino. Lisboa,


Guimarães Editores, 1959, p. 13 (citação do prefácio).

4. BAUDELAIRE, C. A Modernidade de Baudelaire. Org. TeLxeira Coelho, trad. Suely


CassaL Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1988, p. 173-4.

5. MARX, K. & ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Alvaro Pina,


notas Vasco Magalhães-Vilhena. São Paulo, Editora Novos Rurnos, 1986, p. 84-5.

6. MARX, K. Discurso pronunciado na festa de aniversário do “People’s Paper". In:


MARX, K. & ENGELS, F. Textos. São Paulo, Edições Sociais, 1977, vol. III, p. 298-9.

7. HEGEL, G.W.F. Lecciones sobre la filosofia de la historia universal Trad. José


Gaos, 4.ed., Madrid, Revista de Occidente, 1974, p. 499.

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