Nah Dove - Mulherismo Africana - Uma Teoria Afrocêntrica
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Nah Dove - Mulherismo Africana - Uma Teoria Afrocêntrica
Nah Dove
JORNAL DE ESTUDOS NEGROS, Vol. 28, № 5, Maio de 1998 515-539
© 1998 Sage Publications, Inc.
MULHERISMA AFRICANA¹
Uma Teoria Afrocêntrica
NAH DOVE
Universidade Temple
CIRCUNSTÂNCIAS………………………………………………………………………….………4
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………………..…5
AS RAÍZES DO RACISMO…………………………………………………….………..……….11
NOTAS……………………………………………………………………………………………….…21
REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………………..23
Este artigo surgiu de meu estudo (ver Dove, 1993, 1996) das herstórias² de vida das
mães Africanas que enviam seus filhos às escolas culturalmente afirmativas. Concentro-me
em conceituar e definir a racialização do mundo através da dominação europeia/
supremacia branca. Ao fazer este trabalho, acho que é impossível ignorar a especificidade
da opressão das mulheres africanas que vivam na sociedade ocidental centrada no homem.
Meu estudo original incluiu 21 herstórias. Um número significativo destas mães tinham
experimentado relações negativas com os homens que desempenharam papéis
importantes em suas vidas. No que pareceu ser um paradoxo, estas mulheres nem
odiavam, nem se separavam desses homens. Pelo contrário, aquelas que tinham filhos, por
exemplo, reconheciam as suas responsabilidades para com seus filhos. Elas temiam pela
sobrevivência de seus filhos e pela segurança dos homens africanos que vivam sob
supremacia branca. Elas queriam que seus filhos fossem destemidos e que respeitassem as
mulheres. Para ser fiel a seus sentimentos, foi exigido que eu não apenas usasse suas
palavras para contar suas histórias, mas desenvolvesse uma teoria de base cultural que
pudesse ser sensível às suas experiências como mulheres africanas.
Teorias pertencentes à natureza particularizada das experiências das mulheres
africanas têm sido largamente insuficientes. Os relacionados com a tradição feminista,
tanto branca quanto negra, criticavam as condições sociais das mulheres no seio das
sociedades europeizadas e buscavam soluções dentro de paradigmas europeus. Fugindo
deste padrão, a teoria Womanist Africana (de 1993) de Hudson-Weems analisa
criticamente as limitações da teoria feminista e ajuda a explicar, de forma abrangente, as
idéias e ativismo de algumas mulheres africanas que contribuíram para a teoria womanist
(mulherista) de diferentes perspectivas ideológicas. Desta forma, ela começa a construção
de um paradigma Afrocêntrico que possa abranger o ativismo de todas as mulheres
africanas, reconhecidas ou ignoradas, que lutaram para libertar os povos africanos em uma
escala global.
Minha perspectiva teórica aceita a inestimável análise (de 1993) de Hudson-Weems.
Minha contribuição é para enfatizar ainda mais o conceito de cultura como uma
ferramenta de análise para compreender a natureza das experiências das mulheres
Africanas. Eu especificamente abordo a cultura como arma de resistência e como base para
a definição de uma nova ordem mundial. Enfatizo a validade das experiências de mães, que
olham para a sua reAfricanização³ como a solução para as desafiantes estruturas sociais
alienígenas e inadequados valores e comportamentos entre homens e mulheres Africanos.
À luz disto, eu uso o termo Africano4 para definir povos Africanos e sua diáspora, porque
há uma crença de que nós, apesar de nossas experiências diferentes, estamos ligados à
nossa memória cultural e espiritualidade Africana e podemos a qualquer momento nos
tornarmos conscientes de sua importância para nossa Africanidade e futuro. Além disso, a
minha intenção é adicionar credibilidade à perspectiva Afrocêntrica (Asante, 1980),
destacando a teoria womanist Africana como um componente central para a construção da
visão de mundo Africana.
INTRODUÇÃO
Para trazer clareza ao impacto da opressão cultural europeia
como uma realidade mental, espiritual, física e material, não é mais
plausível definir a nós mesmos com base no conceito eurocêntrico
de raça – negra, marrom, amarela, vermelha, e branca. A raça
branca, reconhecida como a mais poderosa militarística e
economicamente, essencialmente controla, dirige e administra, por
meio da estrutura do capitalismo, os recursos do mundo, incluindo
as energias dos povos. No entanto, como uma instituição europeia
estruturada para manter os interesses de desenvolvimento
ocidentais, pode também ser definida como supremacia branca. O
uso de uma análise cultural permite que se trace a construção social
e ideológica de estruturas de raça, gênero e classe até seus
antecedentes europeus. Ao mesmo tempo, torna-se evidente que as
características de exploração dessas estruturas demonstram a sua
centralidade para o funcionamento das sociedades europeizadas e o
processo de europeização das sociedades. Embora haja um
reconhecimento da complexa interação entre essas relações de
poder desiguais e antiéticas, a prioridade é dada à raça como uma
construção social, porque a opressão racista/supremacia branca
para mulheres, homens e crianças Africanos tem precedência sobre
e afeta a natureza das opressões de gênero e de classe. No entanto,
também será argumentado que o patriarcado europeu está na base
das desigualdades sociais do Ocidente que afetam as mulheres e os
homens africanos de forma igualmente perversas.
estranhar a forma como as etnias europeias foram capazes de se unir como uma massa
crítica cultural para adquirir a África de um povo o qual eles alegam hoje terem poucas
semelhanças. É evidente que o planejamento e execução da conquista da África e seu povo
foi amparado por uma crença geral europeia de que os povos Africanos eram muito
parecidos. Essa crença era tão comum que se manifesta em dados bem documentados que
tentavam provar a inferioridade cultural, genética, psicológica e mental dos povos
africanos através de racismo científico. Além disso, tais ideias foram apoiadas por e foram
alimentadas no mundo acadêmico através de áreas como história, biologia, sociologia,
antropologia, psicologia e educação (ver Dove, 1990, 1993). Naquela época, parecia
politicamente oportuno apoiar esta idéia para justificar a sujeição das mulheres, homens, e
crianças Africanos de formas análogas de tratamento bárbaro sob os auspícios da
dominação européia. Hoje, é oportuno negar a afirmação anterior de unidade cultural,
porque esse conceito, mantido nas mentes dos povos Africanos que estão desafiando o
racismo acadêmico e desonestidade escolástica, assumiram um novo sentido. Ele
representa uma ameaça para a doutrina fundamental da supremacia branca dentro da
torre de marfim.
O conceito de unidade cultural é o alicerce do movimento acadêmico mais recente
no desenvolvimento do pensamento Africano-Centrado e/ou Afrocêntrico que recupera e
reconstrói uma visão de mundo Africana como central para a reforma de valores e crenças
africanas e a restauração da África e seu povo (Shujaa, 1996). Esta afirmação não exclui as
obras de grandes pensadores ou as idéias de ativistas sociais que estavam por séculos,
antes de Diop, conscientes do papel da África e seu povo antes conquista européia. Muito
pensamento livre sobre a grandeza da África e seu povo ocorreu fora do mundo acadêmico
(Dove, 1996). É importante ressaltar que a unidade cultural destaca a transmissão
intergeracional de valores e crenças que ocorrem, apesar e independentemente de uma
consciência acadêmica de Africanidade. A consciência desse processo em curso pode
permitir que se compreenda a ligação entre a fonte dessas idéias e a validação acadêmica
delas. A pesquisa monumental da Chancellor Williams (1987) acrescenta credibilidade a
este conceito. Ele descobriu que em toda a África um único sistema constitucional existia
como se os povos Africanos, independentemente dos diferentes padrões sociais, vivessem
sob um governo. Seu estudo de grandes sistemas sociais e econômicos continentais ao
longo da história revelou “os mesmos padrões gerais de unidade e igualdade de todas as
instituições fundamentais” (p. 21). O estudo cultural comparativo anterior, de Herskovits
(1958/1990), realizado em 1958, embora metodologicamente inclusive de valores
eurocêntricos, fornece evidências conclusivas de africanismos6 entre diferentes nações da
África, bem como entre as pessoas Africanas que vivam nas Américas. As obras mais
contemporâneas de Holloway (1990), de Asante e Welsh Asante (1990) e outros servem
para apoiar essas afirmações. Unidade cultural como um conceito permite que
se compreenda como os europeus colaboraram, apesar das diferenças étnicas ou nacionais,
para impor sua supremacia sobre no mundo. Ao mesmo tempo, pode-se entender como as
pessoas Africanas foram capazes de sobreviver a essa imposição e agir continuamente para
libertar-se dela.
Para desenvolver o conceito de conflito de culturas, eu uso o Teoria do Berço (de
1959/1990) de Diop. Ele argumenta que dois berços distintos de civilização – o berço sul é
a África, e o berço do norte é a Europa criaram os modos de estruturas sociais quase
um fardo que o homem arrastou atrás de si. Fora de sua função de fértil, seu
papel na sociedade nômade é nulo. . . . Tendo um valor econômico menor, é
ela quem deve deixar seu clã para participar do de seu marido, ao contrário
do costume matriarcal que exige o oposto. (p. 29)
terceiro berço: a zona de confluência onde estes dois berços se encontram. Uma dessas
áreas inclui o que hoje se referem como o Oriente Médio, que já foi habitado por povos
Africanos. Aqui, os povos que migram desde o berço do Norte chegaram e se hospedaram
no terreno do berço do Sul. Com o tempo, essa invasão essencialmente Indo-Europia e
conquista dos povos Africanos resultou na fusão cultural e genética que produziu os povos
aos quais nos referimos, racialmente, como semitas. Linguisticamente, constituem o árabe
e o hebraico, enquanto religiosamente, eles são islâmicos, judaicos e cristãos. É através da
imposição dessas religiões centradas no sexo masculino, de acordo com Stone (1976), que
a reverência anteriormente a deusa do sexo feminino (do berço sul) foi finalmente
destruída.
Como Diop (1959/1990), Stone (1976) vê a conquista indo-européia do Oriente
Médio, particularmente da antiga Palestina, como a do patriarcado sobre o matriarcado ou
o processo de dominação masculina sobre o poder feminino. Com referência à
história bíblica judaico-cristã da criação, Stone observa como a depreciação da mulher é
mitificado através da estória de Eva, a mãe da criação. Eva é responsável pela queda da
humanidade a partir da graça de Deus e do Jardim do Éden. É ela quem trabalha contra
Deus e tenta o homem, Adão, a comer do fruto proibido. Desta forma, a humanidade nasce
no pecado perpétuo. De acordo com Stone, esta estória é uma parte integrante do sistema
de crença europeia contemporâneo. Tal como acontece com o Cristianismo, o Islamismo,
na tentativa de destruir a reverência à deusa, viu este sistema espiritual como pagão.
Ela cita o Corão: “‘Allah não irá tolerar a idolatria.... Os pagãos rezam para mulheres’” (p.
xviii). A esta luz, a dominação das mulheres pelos homens pode ser vista como moralmente
essencial.
A s i m p o r t a n t e s d e s c o b e r t a s d e S t o n e ( d e 1 9 7 6 ) r e v e l a r a m
a raiz matriarcal (Africana) do semita/Oriente Médio e da cultura Africana. Sua intenção é
ligar o estado contemporâneo da mulher na sociedade ocidental à conquista das mulheres
e à subversão contínua do poder das mulheres através da religião. No entanto, sua análise
carece de uma clara análise cultural ou mesmo racial sobre a conquista do matriarcado
pelo patriarcado que também pode ser visto como a conquista das mulheres, crianças e
homens africanos por parte dos europeus. Além disso, a definição de Diop (de 1959/1990)
de cultura matriarcal e de sociedade como baseada em relações de reciprocidade,
complementares e, portanto, não hierárquicas não sugere que as mulheres estavam em um
tempo de superioridade ao aos homens, como Stone (em 1976) implica. Em vez disso, Diop
(1959/1990) afirma que um "regime matriarcal, longe de ser imposto ao homem por
circunstâncias independentes da sua vontade, é aceito e defendido por ele" (p. 120). Assim,
pode-se inferir a partir desses estudos que o patriarcado produz e perpetua um
desequilíbrio nas relações feminino-masculino, que teve longo alcance e consequências
negativas em todos os aspectos da vida no mundo contemporâneo.
A contribuição crítica de Diop (1955/1974, 1959/1990, 1981 / 1991a, 1991b) para a
teoria Mulherista Africana leva-nos a supor que as conquistas da África pelos europeus
desde a antiguidade até o presente pode ser vista como conquistas do matriarcado pelo
patriarcado. A dominação das mulheres, homens e crianças Africanos por mulheres,
homens e crianças europeus leva à subjugação potencial das mulheres Africanas por
homens e mulheres brancos, bem como pelos homens Africanos. A esta luz, é possível
entender como a imposição de valores ocidentais em relações feminino-masculino mais
AS RAÍZES DO RACISMO
Assim, usando a teoria de King, é possível ligar o ódio por povos Africanos de hoje e a
depreciação da negritude que é exaltado na construção hierárquica europeia da supremacia
branca e da racialização da humanidade como manifestações da doença mental (Hilliard,
1987; Welsing , 1991; Wright, 1984/1994), diferenças genéticas (Bradley, 1978), e antítese
cultural (Diop, 1955/1974, 1959/1990, 1981/1991a, 1991b), que pode ser atribuída
à alienação do europeu/branco de suas origens10 genéticas Africanas/Negras.
Como Diop (1959/1991) pontuou, cultura deve ser vista como tendo evoluído como
a conseqüência de condições climáticas. Daqui resulta que, embora seja possível relacionar
a composição genética de um povo a um grupo cultural, no geral, a cultura vai determinar
o jeito que um povo se enxerga e, por isso, se comporta. Através de um processo de
dominação e aculturação11, é possível produzir pessoas europeizadas, quais geneticamente
pareçam Africanas, mas cujas mentes tenham sido encarceradas por conceitos, valores e
crenças eurocêntricos. Tais mulheres e homens, se forem incapazes de obter um
entendimento sobre quem eles sejam, muito provavelmente acreditarão na
fabricação europeia da inferiorização12 cultural e genética de populações Africanas e
tornam-se, como Frantz Fanon (1983) acreditava, alienadas de sua própria humanidade.
Comportamento racista, estrutura social, e ideologia enraizados no caráter da
experiência patriarcal Europeia estabelece o trabalho de base para a compreensão de sua
importância para a construção da supremacia branca. A capacidade de conquistar o mundo
(do século 15) e aniquilar centenas de milhões de seres humanos e, em seguida, justificar
essa conquista com a noção de que alguns membros da humanidade são inferiores e,
portanto, dispensáveis requer uma orientação cultural particular, que foi bastante fora da
experiência e prática da África matriarcal. Neste sentido, a racialização violentamente
imposta do mundo pode ser vista como uma invenção europeia que é, essencialmente,
culturalmente patriarcal e geneticamente influenciada na origem.
"aqueles que são em demasia negros são covardes, como por exemplo, os
Egípcios e os Etíopes. Mas aqueles que são excessivamente brancos também
são covardes, como podemos ver no exemplo das mulheres, a tez da
coragem está entre os dois.” (como citado em Diop, 1991b, p. 17)
privilégios do que as mulheres têm em muitas nações do mundo hoje… Haviam certas
características – tais como o princípio da descendência matrilinear e direitos de herança
matrimonial – que servem de base para a cultura Egípcia na Antiguidade” (p i.). Por outro
lado, na Grécia, mesmo tão tarde como no quinto século a.C., as observações escritas
de Heródoto afirmam que as mulheres gregas, mesmo em Atenas, tinham poucas
liberdades (Lesko, 1977, p. 14). À luz da opinião de Aristóteles, é interessante que ele estava
presente quando seu aluno Alexander "o Grande?" começou o processo de conquista e
colonização de Kemet (James, 1954/1989). Talvez a opinião de Aristóteles não fosse mais
do que a do conquistador comentando sobre a facilidade de conquista.
Localizar a gênese da ideologia racial e sua expressão é importante para
compreender as relações de poder raciais contemporâneas como uma característica de
dominação cultural europeia. A conquista ariana do povo dravídico fornece um exemplo
perfeito de como uma crença na superioridade e inferioridade com base na cor da pele
pode se tornar uma fé religiosa, como o hinduísmo – não tão diferente da
representação euro-cristã do branco como bom e Preto como ruim ou a maldição de Cam.
Ao mesmo tempo, sua expressão na hierarquia social moderna da Índia tem uma
semelhança com as condições contemporâneas de Africanos que vivem no Ocidente
sob a supremacia branca (Rajshekar, 1987). É possível ver como a ideologia racista pode
ser culturalmente transferida para agir como uma força coesa para reunir diferentes etnias
européias e sujeitar suas hostilidades sob os auspícios da supremacia branca na busca pela
conquista do mundo.
FUNDAMENTOS PATRIARCAIS
DE UMA SUPREMACIA BRANCA EM DESENVOLVIMENTO
Embora seja importante definir as opressões que afetam a vida das mulheres,
homens e crianças Africanos com o propósito de desenvolver teorias e estratégias
libertadoras, também é necessário compreender que os povos Africanos têm uma história/
herstória rica em resistência às formas de opressão Européias. Atos de resistência devem
ser colocados dentro da teoria da libertária, porque eles têm firmado os alicerces para
futuras estratégias relativas ao desenvolvimento institucional para a autodeterminação.
Houve sempre uma crença dentro da memória cultural de uma outra forma de ser e estar e
a retenção de valores que têm sustentado e mantido a vida dos povos Africanos em todo o
holocausto prolongado (Hilliard, 1995; Nobles, 1985). Assim, a luta pela sobrevivência – a
resistência dos povos Africanos à desumanidade envolvida no processo de captura,
escravização e colonização – não tem apenas facilitado na humanização e na
democratização da sociedade ocidental, mas forneceu a espinha dorsal da mudança social.
A luta pelo controle sobre a espiritualidade, psicologia, mentes, crenças, valores,
integridade, dignidade, herstória, história, conhecimento, direitos, terras e recursos, tem
sido longa e sangrenta, e incontáveis números se perderam no caminho (Ani, 1994; Ben-
Jochannan, 1972; Chinweizu, 1975; Fryer, 1984, 1988; Rodney, 1972; Williams, 1987).
Desde a antiguidade, como líderes espirituais, militares e políticas, os papéis das
mulheres têm sido fundamentais no esforço para assumir o controle de terras, recursos e
energias da ocupação estrangeira. Não surpreendentemente, alguns estudiosos têm trazido
esta isto à luz. As primeiras evidências do papel da mulher na defesa da África sai da
história etíope das Candaces, que eram mulheres governantes. Após a conquista grega de
Kemet, os romanos haviam tomado o controle em 30 a.C. Sua tentativa de dominar Cush
(Etiópia) falhou como resultado das habilidades militares e políticas das Candaces
(possivelmente Amanirenas). Na verdade, nem os gregos, nem os romanos conseguiram
conquistar Cush (Finch, 1990). Estas guerreira levantaram-se continuamente a partir
da pré-escravização à pós-escravização por séculos, até hoje, no Continente, no Caribe, e
na América do Norte e Sul.
Formas de resistência variaram do heroísmo individual a levantes em massa.
Hilliard (1995) fala da necessidade de redescobrir e tornar-se inspirado pelos incontáveis
atos de bravura que devem ser ressuscitados da nossa memória cultural. O acúmulo desses
atos pode ser rastreada herstoricamente dentro dos movimentos Nacionalistas Negros e
Pan-Africanistas, que podem ser vistos como tendo evoluído a partir de
encontros violentos iniciais de europeus com os povos Africanos. Em particular,
a mulheres e homens Quilombolas têm sido atribuídos o maior respeito por suas
realizações em bravura e seu sucesso na obtenção de autodeterminação dos seus povos
durante o período da escravidão. Suas origens na Jamaica foram rastreadas até a África
Ocidental, em particular, Gana (Hart, 1985). Quilombolas configuraram suas sociedades
no Caribe e na América do Sul. No Brasil, eles construíram a primeira república Africana,
Palmares, em 1600, depois de escaparem do cativeiro português e dos holandeses (Do
Nascimento, 1992). Sua história é rica em sucesso a guerras travadas contra os europeus.
entende que a luta contra a degradação das mulheres Africanas é tanto interna, como
externa. Desta forma, a realidade social da opressão delas e sua resistência a ela se tornará
uma parte central da teoria em desenvolvimento preocupada com a libertação dos povos
Africanos a partir de formas eurocêntricas de opressão (Dove, 1996).
O "paradigma da família justa" que T'Shaka (1995) desenvolve, fala com a
necessidade de definir termos que são fundamentados na experiência Africana. Twinleal “é
a noção de que as sociedades justas existem ‘onde todos os homens e mulheres justos são
igualmente empoderados para governar todas as fases da sociedade’” (p. 184). Sua
pesquisa, como a de Diop, fornece evidências de regências twinleal passada e existente, que
são modelos que apresentam os princípios equilibrados que todos os povos Africanos
podem aspiram voltar para, começando com a família como a primeira instituição de
desenvolvimento social. Como Diop (1990) disse: "O grau de uma civilização é medido
pelas relações entre o homem e a mulher" (p. 175). Assim, qualquer teoria de libertação
Africana futura e contínua e ativismo começa com o esforço para recuperar,
herstoricamente e culturalmente, a relação complementar da mulher e do homem como a
base para “nossistória” e a auto-determinação. A esta luz, portanto, o womanism Africana
como teoria Afrocêntrica assume um papel central e fundamental nesse esforço.
NOTAS
Ela argumenta ainda que a história Africana de resistência à opressão Europeia inclui as
lutas travadas por mulheres Africanas. Segue-se que é preciso estar ciente da reciprocidade
nas relações de poder entre o sexo feminino e o sexo masculino Africano antes da invasão.
Deste modo, a construção de movimentos de herstória em relação a uma autêntica
representação da história Africana.
3. Reafricanização é um termo usado por Amilcar Cabral (1973), em um discurso
chamado "Libertação Nacional e Cultura" entregue em 1970, que é definido como um
processo de recuperação que os povos Africanos colonizados pelos europeus (Portugueses,
neste caso) devem por necessidade serem submetidos a apreciarem sua herança cultural.
Este processo fornece uma base para contestar a imposição de valores culturais europeus
que servem para degradar a África como uma parte integrante da dominação e da
conquista.
4. Africano é usado para descrever aquelas mulheres, homens e crianças que são
pessoas Africanas continentais ou membros da diáspora que vivam nas sociedades
europeias ou europeizados fora do continente. Este termo reconhece a especificidade
cultural e experiencial de um povo diversificado. Por causa de uma necessidade
pela "intelligentsia” europeia de distinguir tipos humanos como raças, povos Africanos
foram categorizados como uma raça negra que pode variar do preto ao marrom.
Dimensões psicológicas, distinções culturais e atributos físicos e mentais têm sido
atribuídos às assim chamadas raças para diferenciá-las em uma escala hierárquica. No
caso deste trabalho, Africano tem um valor genético que liga aqueles que carregam as
características físicas, mas, mais importante, oferece o potencial de conectar essas
características para um sistema de valor cultural que venera a humanidade Africana.
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*As obras cujos títulos estejam traduzidos, são obras que já estão traduzidas, e/ou em
processo de tradução pela nossa equipe de tradutores.
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26 DOVE/MULHERISMA AFRICANA