Tese Luiz Francisco Dias
Tese Luiz Francisco Dias
Tese Luiz Francisco Dias
Campinas
Luiz Francisco Dias
Unicamp
Instituto de Estudos da Linguagem
1995
\ \
CZJedíco esta lese a:
Xaydja e !7/nie/
1\gradeço também a Eni Orl andi. com quem aprendi muito a res-
boração da Lese .
produzir a Lese.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
I. O "DITO" E O "DIZER" 18
A. As Teorias da Enunciação 21
B. O Social e a Língua 29
C. O Fato Linguistíco e a Enunciação 38
3. A LÍNGUA BRASILEIRA 77
A. Posturas Contrárias à Mudança 78
B. Posturas Fa vo ráve is à Mudança 100
C. A Língua e o Social 108
4. UM PROGRAMA DE SEMÂNTICA 11 o
A. Construções Nominais, Referência e Textualidade 1 11
B. A Semântica 11 7
CONCLUSÃO 142
ANEXO 145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA.S 149
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 157
RESUMO
Desenvolvemos neste estudo uma análise dos discursos parlamentares das déca-
das de 30 e 40 que tratam do problema da denom inação do idioma falado no Brasil. O
debate em tomo da adoção do atributo "brasileiro" para esse idioma nos permite formu-
lar hipóteses interessantes sobre como se configurava uma identidade para a nação e
para o brasileiro na época. A tentativa de mudança da denominação de língua portugue-
sa para língua brasileira significava, para os que combatiam essa mudança~ uma tenta-
tiva de desestabilizar todo um percurso de escrita em relação ao qual a sociedade letra-
da do País encontrava a sua própria referência. Para os que defendiam a mudança, ela
significava uma forma de conceber, com uma forte carga de ufanismo, a brasilidade e a
nação a partir da tradição positivista. Para chegannos a essa concl usão, tomamos as
construções nominais como fato básico de linguagem . .É um fato de linguagem porque
os recortes que tomamos para análise adquirem teoricamente uma densidade que ultra-
passa em muito a acepção empírica da noção de dado. Trabalhamos no sentido de mos-
trar que essa densidade é relativa ao caráter da enunciação, definida como um aconte-
cimento de linguagem afetado por uma memória, que é a exterioridade constitutiva des-
se acontecimento. Procuramos então estudar aqueles fatos de linguagem tendo em vista
as posições de sujeito na enunciação relativamente à memória. Esperamos ter mostrado
a importância do tipo de semântica com a qual operamos neste estudo, urna semântica
que pode fornecer subsídios para formularmos juízos a respeito da constituição da cida-
dania e da identidade nacional. Nesse sentido, podemos afirmar que o jogo das posições
de enunciação nos textos denuncia as formas em que se procurava confi gurar a agluti-
nação de indivíduos como falantes de um mesmo idioma, no mesmo território (Brasil),
marginalizando, ao mesmo tempo, a participação desses indivíduos numa nação en-
quanto cidadãos.
(idem. p. 266)
f}@
língua geral negra para o entendimento entre os vários grupos
africanos Isso de fato ocorreu, na avaliação de Nina Rodr i-
gues. Mas ela t eve um estatuto diferente do da língua geral .
Enquanto esta foi cnada pelos jesuítas, a língua geral dos ne-
gros foi por eJes mesmos criada (Rodr1gues, 1983 : 30).
f]'J
jesuítas da colônia e determinando o ens1no da lín gua portu-
guesa :
p aís.
4. FREITAS, Bento C. Evolução hisTórica do ensino no Brasil. in: Castro (op. cit.
p.33 8).
naquele p e ríodo. Varn.os mostrar , nos movimentos de sent id o
í)'J
1
() "dit()" e () "dizer"
enunciação de Ducrot .
p ro cessos discursivos.
güística que trabalha com uma "língua" que ainda não se tor-
nou língua; em Bourdieu , a crítica de uma lingüística que tra-
balha com uma "língua" já legitimada como língua ~ e, em
Pêche ux , a crítica de uma ling üística que trabalha com uma
tic a) .
como esse objeto "língua" (com sua autonomia rela tiva) ent ra ,
3 2)'
si dans /'univers du gramaticalement dicible un
discurs défintf un ílot d'én o ncés possibles qui so 111
censés sa turer f'énonciati o n à partir d'une position
donnée, dan s l'ensembfe des énoncés amsi récusés i/
définit égafement un terrilo1re com me celu 1 de son A utr e ,
de ce qui plus qu e toute autre c hose ne doi t pas être dit.
L 'Aulre circonscrit dane j u s t eme nt le dic1b l e
insupportable s ur l'interdit duque/ s'e s t constitué /e
d iscou rs; des lors i/ n 'a pas besoin de dire à chaque
énoncia lion qu'1f répugne à cet Autre, qu '1 / exclut par /e
seu! fait d e son dire.
discursividade.
construções.
()() i~ tiP()~ de C()n~tr-uçã()
D () minal
"d ito" e o "di zer" passe por uma distinção que não é nova. Ao
na semântica.
A. As Expansões Nominais
do nome próp rio fora do enunciado e uma seg unda ope ração
incidindo sob re uma propriedade deste referente ligado ao
de Paris.
N"
det~N'
P"
adj . adnominal
compl. nominal
adjetivos sincategoremáticos.
remático .
é aplicado em (3):
a. Naneco é empresá rio e candidato a presidente .
b . Naneco é um empresário honesto.
c. Logo , Naneco é um candidato a presidente honesto.
A d 1f/(.: uI da de de e n c o n f r u r m os c o n t rapa r t e s m o rf o -
szntáticas claras à distinção semântica (não se tratam de
diferent es c lasses de adjeltvos; não são óbvws dtferentes
relações entre os adjetivos e os subswnuvos; a disflnção
"atriburzvo! predtcattvo", embora possa r esolve r alguns
problemas, co loca outros maiores, etc.) bem como a
constante exigência de informações tipicamente
pragmáticas (contex tos de uso; Intenções dos falantes;
ambigu1dades de uso; etc.) parecem nos encaminhar para
um tratamento mais amplo que o tratamento semân tico
para a questão. (Borges Neto, 1992 : 125 )
Frente a esse desafio, e le torn a corno seu objetivo encontrar
urna sustentação sintá t ica para a di s tinção . No nosso estudo,
essa di stin ção se insere no âmbito de um programa de semân-
tica que contempla a enunciação e o interdiscu rso.
The boy is a
stude nt
} --7 The boy is an eager student
The student is
eager
11
The stu.dent is eager '1 uses 11
Sfuden l" in a di.fferent
sense, as a designation of an individual, and amount s to
s a y : "T h e b o y i s e age r 11 • "A n e age r s tu de n t '1 , h o w e v e r.
sugges t someone who is eager "qua" studen t. The j1rst is
refere nt -m od ifi c at i on, th e second is refe r en c e-
modification. (p. 15)
to exterior ao discurso .
uma dada construção pode conter uma expan são que se com-
porta tanto complementar quanto adjunta, ou tanto sJnca-
tegoremá tica quanto categoremática , ou tanto restritiva quanto
explicativa, e assim por diante . O quadro 1 mostra um resumo
dessas posições .
Sincategoremati-
Policial exemp lar
sao VioVJestos ... I
Domínio Complementação Modificação da Construção
Caracterização
objeto de referên- cidade Referência Restritiva
c ia
A idéia do 1'\0h'e !2tAbo ..di"'a!êão: ..e. la- M ult iplica~ão de '-'""' Maio~ q~ (.:l c~ de. adc- .Jo,)·ci1SÍOI'\CI Jidade: o A '""'odificação 9 c- O po11to de vi ~;ia ~•o - ,
se mii'\Í»1iZa em ção tema/pt-opósito objeto da ~ealidode são sio··dótica o p>·o- odj etivo p~'cd ic:o o•ah"'e"'te é exco·c.ido b ..c o t"H.H lH! l'\ÕO é.
fw,çõo de sua se dá foo•a do a.d,ito 1'\0 discw•so p>'iedade pl"é- dc- 1..\1~ 0 J:>>"OJ;> >'i edade I'\ O posição a ll"iGu- o~~cvc~ad .., Y\0
OCO t4•'ê n C ÍQ li ,, g~.<ístíco te•''"i.,...ad(.1 1'\CI esh·~.< - do 1'\ome tiv a âMG ito d<> dbc w·so
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FiVIo deste fv.v!cioVJário Os seVJadores, VJVte
Leao da pedra O célebre Zavatta RádiD de pi.IYíos CaVldidatD paulista PDijcial SOVlOleVltD
AVIo cio fuvlciovlurio X sao ViCJlllest os. . ..
~
-- --
veo•bete do I"' 0 1'>1 e
~~-
sabe a partir de outro lugar e que ser v e para pensar o objeto da propos i ção
de base.(Pêc heux , J 97S:lll)
Essa é a leitura do artigo "os " como dêi tic o. De outra
forma , podemos tomar o arttgo "osu como anafórico Nesse
caso , tanto nos textos do Império como nos da República, ci-
dadão não designa s implesm ente pessoa , indivíduo . Tendo em
mente essa leitura , seriam cidadãos brasileiros , os cidadãos
que ... . A categoria de crdadão comparece como um pré-
construído9 . Trata-se, segundo Guimarães, de uma irrupção do
sujeito do discurso liberal no texto de ambas as constituições.
Na Constituição do Impér io, dado o efeito de sustentação , que
exclui os negros da cidadanta , esse discurso liberal torna -se
rarefeito , o que não acontece com o texto da Constituição da
República , onde o efeito de pré - construído do discurso ltberal
funciona plenamente.
'!Jf)
tl\as na qual se constitui a performatJvJdade dos textos em
pauta . E neste aspect o os textos do Imp é r io e da República di-
ferem-se um em relação ao outro.
C o mo v imo s, a c o n s ti tu i ç ã o da categoria do c id a d à o f o i
a preendida a partir das relações que cruzam os te xtos analisa-
dos. A determinação nesse trabalho não é algo que se opera
c omo uma relação configurada na horizontalidade da cadeia
li nguística (abordagem plana) e numa direção pré-determinada
p elo sistema linguístico (a determinação do adjetivo em rela-
ç ão ao substanti v o) . A direção desse proees s o , segundo Gui-
marães , é um efeito das relações entre posições de enunciação
q u e se solidificam no t exto .
C. Enunciação e a Construção Nominal
de enunciação.
I :::luõ., •••
--·-··-- ·- - .- ..
da em ou tras instâncias de r e f e r ê n c 1a. em outras r e Iações d 1s-
curs1vas. A relação entre o substantivo e o modificador está
anco rada numa dessas instâncias . Dessa forma, ela é tão so-
mente atualizada no acontecimento enunciativo . Mas em vir -
tual candidato, a sua condição de candidato está colocada no
âmbito enunciativo. O papel de mod ificador é válido na ocor -
rência, ou no âmbito enunciativo ; isto ta l vez explique o maJor
grau de adesão sintática entre o nome e o modificado r . Mas, se
essa relação se dá na esfera do próprio acontecimento enun-
ciativo, ela só é possível em virtude de uma outra categoria de
pré-construído: não a da sua condição de candidato, mas a da
relação entre uma candidatura e uma condição de canditato .
Reside aqui, precisamente na natureza dessa relação, aquilo
que será um dos fundamentos do programa de semântica que
estamos perseguindo neste estudo (ver: c a p . 4 ) Do ponto de
vista de uma semântica da enunciação , não há que postular
uma relação entre "uma canditatura" e "um candidat o", como
seria de se esperar numa semântica do tipo intensional; mu ito
menos postular uma relação entre "uma candida t ura" e "um
candJtato X", definido fora das relações discursivas . Em ou-
tros termos, o que nos interessa não é a relação necessária e
suficiente entre candid a tura e ca n d idato e muito menos a
relação contingente entre candidatura e o candidato enquanto
indiví duo no mundo; interessa-nos a re lação histórica entre a
candi datura e a condição discursiva de cand itato. Daí poder -
mos afirma r que o acontecimento enunciat ivo só se d á peJo
fa to de ele ter a sua r~ferência já constituída discursi vamente ,
e ante r i o r mente a e Ie (acontecimento) 10.
lO. Essa afirmação se pauta por anotações de aula do professor Eduardo Guimarães,
no programa de pós-graduação do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp,
bem como por algumas formulações presentes em Guimarães (J 995, capítulo IX) ,
acerc a do sentido e da historicidade.
A Línaua 13r-asileir-a
( 1)
s ência da vírgula .
instânc i as de discurso.
(2)
Exis tirá, de fato, uma língua brasile1ra?
Talve:: que sim. Mas não é a em que falam os homens
educados . Não é a em que nós , Deputados d o Parlamento,
nos expnmi mos, mesmo na inllmidade. Não é a em que
ora m os e escrevemos. N ão é a com qu e co nvivem e
co nviveram os nossos maiore s prosadores e poetas. N ão é
a e m que se expressaram lvfatias A~r es, João Francisco
L1sboa, Santa Rita Durão. Go nçalves D1as, AraÚJO Porto
Alegre, C astro Alves, Silveira Mart1ns. Tobras Barreto.
10 Raul Pompé10, Bernardo Guimarães, Machado de Assis,
E uclides da C unha, Rui Barbosa, João R1beiro, Raimundo
Correia , Bilac, Coelho Neto, Sílvio de Almeida, Silvu
Ramos, Amadeu Amaral, para só cllar algumas das
n os s as ma i o r e s figuras m o r tas.
15 Não é enfim a língua com que se edificou o nosso já
considerável patnmôn10 literário.
Mas é, exceptuando as vo::es primit1vas da Nação . é
aquele dialeto caipira estudado por Amadeu Amaral. É
outro dialeto regionalista, é a1nda a meia-língua do
20 p o v 11 é u, das c idades, o idioma c o rr o m p 1do, a f a Ia v 1I, a
gíria, o calão, o caçanje. não ao expressar da tribo livre
dos Caça nj e s da Afnca, ou ao que se pareça com as suas
vozes, mas a toda língua, se;a de que país fo r, mal
falada ou esc ri ta. Chama caçan1e como poderia chamar
2s ma c a r r ô n t c a, sem a I u sã o a o q u e se par e ç a c o m o i t a li a n o
... Também, como nós, todos os outros países modernos,
formaram o seu caçanje, paralelamente com a sua
linguagem nobre. Já em Roma sucedeu a mesma coisa
pelo expressar plebeu que era batizado indiferentemente:
.30 rústico, c as l r e nse, pedestre ou cot1diano .
(LEITE, Aureliano. 1935. p . 330-l)
"não é a (língua):
aquele dialeto
outro d10leto
a meza -lí ngua do poviléu
o idioma cor r ompido
a fala vil
a g íria
o calão
o caçanje
(3)
Para livros d idacticos , a innovação é ainda menos
suslentavel. Não devemos dar noções falsas á mocidade,
fomentando um fulil natrvismo com o desvirtuamento da
verdade. Devemos, ao contrario, dar-lhe do Brasil uma
s noção exacta, do que somos, do que possuimos, do que
valemos, sem os enthusíasmos creoulos dos rios
caudalosos, das minas 1nexhaurn•e1s. dos cidades
mo r a v i I hosas. ,\fu ri o men os d 1;er-l h e de uma l111g ua
1magwona, nem a111da dwlecto, simples vanaçào
Jú d 1a I e c ta I da a u g u s ta I in g u a de C a m õ e s. V 1e 1r a , R u y e
81lac.
(. .. )
Se condições prOpiCIOS e ex troordinarias
provocassem o desenvolvimento l1terono de um nosso
1s mo di s m o I o c a I - g a u c h o, c a i p 1r a, se r 1a n e1 o, a m a= o n i c o -
e c o n se g u 1s se do nn na r p e I o se u v u li o, e v a I o r . 1 o da a
extensão do Pai;, então teríamos a l1nguo brostle1ra.
Fel1 ;m ente. tal phenomeno é hoJe pouco provavel.
Os g e n 1os s à o r a r os. A rm p r e n ·' a. o c o r r e 1o, as v 10 g e n s
20 r o p 1das. o r o di o d 1.((u sã o, oo por da 1n s t r u c ç ã o
disseminada, impedem o isolam ento gregorio. que foi o
grande foctor da fo rmação das l1nguos. Houvesse a
humanidade descoberto, nos primordios da Clviltzoçào, o
vapor, o outomovel, o avião. o jornalu~mo . o t ele?, rapho,
2s o f e Ie p h o n e . o r o di o. -- um a Ir n g u a u n 1 v e r s a I u n in a
ent re SI todos os povos da terra.
Se o p r oj e c t o 1 i v esse em m 1r a. com a n o va
denomrnoçào, um simples prurrdo de nat1vismo. ingenuo.
mas innocuo, não merecerra demorada oppos1çào. Mas o
:Jú intento occulto é preparar , com o nome novo, uma, cada
ve; maior, differenctação do 1d1oma potno, tolerando e
estimulando todos os rebentos da girio nacional - das
betesgas das favellas á lrbertinagem dos casinos, de
modo a forJar-se, de facto, primeiro um dtalecto, depois
.Js uma língua autonoma .
(. .. )
P o is b em. .\1 esmo a n os s a. a /111 g ua Je 11 ossos
Si v a .
( 4)
E ainda:
O Sr . Roméro Zander - Essa é a lingua ca ri oca . É
regional nossa.
O Sr. Jansen Muller - Diz o nosso colega Sr.
Vereador Roméro Zander que é a l1ngua carioca e eu
direi que é a nossa canção que vem do mor r o, com
lagrimas e com sornsos . muitas ve:::es.
E/l u que vem trazer á qu1etude do nosso lar essa
emoção qu e essa gente sente e que sabe ttío bem dizer
nessa meia -l 111gua . ( linha 82-9 0)
(5)
J a ma i s h e i de c o nfundi r um por f u g u ê s e v o 1u c i o n á r i o
em nossa terra, belo. como foi sempre bela a nossa
língua, com o patuá do povo 1gna ro. co m a l íngua da 11a
(6)
Sr. Pres1dente, o modo pelo qual se approrou o
pro;ecto que manda adaptar a dcnom1naçlio de l111gua
brasile1ra na~ diSCiplina~· em que se enstna, nos
es tahelecime111os da :\1untctpa!tdade, o id1oma fallado e
s e~·cnpto pelos verdadeiros brasiletros, t eve grande
fi n a /1 da de, re v e a grande v 1 r1 u de de mo .\ I r a r a os de ma 1s
pode r e s do lvf u n t c tp t o q u e os r ep r e.\ e n t a n I e s do p o v o
c a r i o c a, que o s r eprese n 1a n I e s do J) t s l n c I o 1' e de r a I, em
s u a una n nn idade c o n c o r da r a m q u e a r e i v 1 n d t c a ç à o e r u
10 J u s 1a e o p por L u n a e e s t o u c e r f o, Sr. {'r e s 1 de n I e, de q u e a
(7)
(8)
Sr. Presidente, quase Ires seculos após o
descobrimento do Brasil. a lingua portugue=a creou alma
nova.
Co m o f ron co que . t a I '· e : , nào v 1n g a s \" e . e 11 a se
s d1srendeu em ramos f r ondosos, acoberrada po r e.\Sa
nature:a exhube rante , que é a brasJie~ro, parecendo
ped1r, desde então, vida propno, genuinamente nac1onal.
e naturoli:açâo.
Pretendemos noturali:ação , J 1go . porque e/lo é
lú necessaria, em Virtude de que, no Hrasil, u l1ngua
oJquJrJU feição mau; bel/o, mais musical, mais racional
m esmo , porque afastada das regras llfterorias dos
clasSICOS .
As I e n I a I i v as q u e se f1:: e r a m , desde A I e n c a r, q u e, e m
1s "I r a c e m a ", I a n ç o u, na lz f 1 e r a 1 u r a, um o som ma e n o r me de
vocabulos que já existiam na l1ngua JÓ popular, e desde
Frankl111 Tavo ra. que. no "() Cabeleira" e no "O
!vfatuto", puderam cortar o cordão umbelical que prendw
a /literatura hrastlezra à lu::rtano, fo rmando vida á porte
20 das tendencws européas .
Bem ser, aliás, que alguns dos nossos mestres se
pautaram pela !ttteratura f ran cesa, CUJOS moldes
procuraram segu1r, CUJOS regras tentaram assrmilar.
F:ntretanto a nature;a e o homem afastavam,
zs comple tamente, a nossa mentalidade litteraria, be/la e
exhubera nte , da européo.
(Anais da Câmara Municipal. Julho de 1935 . p.228-9)
brasileira é uma 11
naturalização". O caráter da língua brasi-
leira aqui ganha sentido no processo de naturalização , a que
(9)
En tr e ta nto, não será de mais que ao Brasil ca1ba o
dire1to de denominar de língua b ra sileira essa l111gua tão
cheiO de su a vrdade , que faliam as bra si le ira s , essa
língua lambem c heia de hero1smo qu e faliam os
s braszleiros.
(Anais da Câma r a Municipal. Julho de 1935 . p .272 )
te :
( 1o)
Quando transplan!ada para o Bras1l. aqut se
de se n v o I v e u (a /1 n g u a por 1 u g u e:: a) f! o rt u. a ma I g a m o u-se.
co/onu-se. De aldeã se tornou palacwna. N ilo ha,
portanto, mot1vo para chamai-a l1ngua portugue::a, pois
em todas as le1s naturaes, biolog1cas e até sociaes, a
maior quantidade absorve a menor.
Di::-se o vai/e do Ama::onas, do S. Francisco e não u
do no Verde, das Velhas, Jo Xtngú. do Trombetas e
as s un por diante . Quando a f/ o r ,\ e I runsforma em f ru ct o
recebe o nome deste. Ahi eHá o que d1sse o notavel
escrtptor e estud1oso palrtcTO.
P e g a n d u a de i x a : o por I u g u e; f o 1 a b a r b a r a f/ o r do
Lacio 1nculta e bel/a ·que se transformou nesse cul t1vado
fructo po!ychrom 1co e saboroso, de f e JÇão tão I inda que
é o id1oma brast!e 1r o .
(Anais da Câmara .Mun. do O. Federal. Agosto de 1935 p . 32)
fl@tl
C. A Língua e o S~cia l
EIXO ENUNCIATIVO 1
EIXO ENUNCIATIVO 2
fl2tl
lo XVIII, que teve nos atores um papel importante na fixação
de uma língua nacional , visto que eles interpretavam as obras
que seriam os clássicos ve rnáculos e passavam a utilizar essa
língu a no uso diário. A segunda razão vem do fato de que uma
língu a cultivada por um grupo de elite adquire uma fixidez
que a faz parecer permanente e eterna , especialmente quando é
imp res sa . Há que se destacar também o papel dos grandes de-
purado res e padronizadores na história das línguas culturais ,
depois do surgimento do li vro impresso. A terceira razão é que
a língua da elite frequentemente transformou-se na língua real
dos estados modernos, por força da educação pública e de me-
canismos administrativos (idem : 76-7) .
H á q u e s e a s s i n a Ia r o f a t o d e q u e a d e n o m i n a ç ã o '' lí n g u a
nac1onal" , defendida principalmente nos debates em torno da
constituinte de 1945, preenchia a necessi dade de se ancorar o
processo de solidificação da nação na idéia de uma língua co-
mum . Através dessa denominação te r-se- i a o efeito de agIu ti-
nação de indivíduos de um mesmo território sem que se colo-
c asse em causa o processo de participação desses indivíduos
n a nação . Tanto nesse caso , como no da defesa da denomina-
ç ão ' língua brasileira' , que se dava a partir de uma imagem
n aturalizada do País, são marcados pela incapacidade de dar
u ma resposta ao grupo contrário á denominação , vale dizer ,
ao s que subtraíam da nacionalidade uma parte dos brasileiros ,
em função da modalidade de língua .
14 . O ensaio a que nos referimos fará parte da terceira edição, revista e ampliada, de
Vários Escritos. A versão que estamos apresentando aqui é a versão completa do
ensaio publicada pelo Caderno ''~ais", da Folha de São Paulo , datada de 27/08/ 95.
nacJOnaJs. O "nacionalismo·' começa a se r abordado como a
defesa dos interesses nacJona1s como forma de fazer frente à
opressão econômica e política exercida pelos países ricos. Ao
mesmo tempo, as manifestações artísticas oriundas da Semana
de Arte Moderna imprimiram atitudes impo r tan te s em relação
aos temas nacionais . Afirma Antonio Candido
B>'asil.
milhões;
c o" 5 i d e ,. a V\ do LJ LA e é o r o ,. t LA 9 LA ê s do B ,• .:\ 5 i I e V\ â o o
e s ta 9 I ó ,. i a de t e •• d a d o o s e I e '"e n t o s p ,. e c i s o s p a ,. a a
e mL~itos oL~h•os.
iUJ '!l
Cette éttude a analysé des discours parlementaires des années 30
e t 40 qui s ' occupent de la dénomination de la langue parlée au Brésil.
Le débat autour de I" adoption de I' attribut "brésil ienne " à cette langue
nous permet de formuler des hypothêses sur la maniere comme une
identité brésilienne se constituait pour la nation et pour le Brésilien
de cette époque. L 'essa i de changer la dénomination de langue
po rtugaise par /angue brésilrenne signifiait pour ceux qui en étaient
contre une tentative de rendre fragile tout un parcours d·écriture par
r apport auquel la société lettré du pa y s trouvait sa propre référence .
Pour ceux qui étaient pour ce changement, il signifiait une faço n de
concevoir, avec fierté , la '"brasllidade·' et la nation à partir de la
tradition positiviste . Pou r aboutir à cette conclusion , nous avons pris
les constructions nominales com me un fait de langage . C'est un fait de
langage , parce que les découpages que nos avons analysés acqu1êrent
t héoriquement une densité qu1 dépasse bea ucoup I' accepti on
e mpirique de la notion de donné e . Nous avons essayé de montrer que
c ette denstté se rappone au caractere de l'énonciatron, définie comme
un événement de langage affecté par la mémo1re, qui est l ' extério rité
constitutive de cet évé nement. Nous avons alors étudié ces faits de
langage en tenant compte des posJtions de sujet dans l'énonciation
relativement à la mémoire . Nous c ro yons avo tr pu montrer
1'i mportance d u m ode )e de sémant i que que nous avons s u i vi dans cette
é tude, une sémant1que qui nous donne des moyens pour la fo rm u lat ion
de jugements sur la constitution de la citoyenneté e t de I ' identité
nationale. Dans ce sens, nous pouvons affirmer que le jeu des
positions d'énonciation dans les textes analysés montre l es moyens par
lesquels prenait forme l'agglutination d ' ind ividu s e n tant que sujets
parlants d'une même langue, dans le même térrito ir e ( l e Brésil),
mettant en marge, à la fois, la participation de ces individus en tant
que citoyens, dans une nation.
f/EMJ
GÂNDA YO , Pero de Magalhães Tratado da terra do Brasil:
História da província Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia,
1980.
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S O U Z A , P . d e " A boa n o \.a d a me mó r i a a n u n c i a d a : o d i s c u r s o
fundador da aftrmaçào do negro no Brast l 11
• in. E. Orlandi
(org .) Discurso fundador. Campinas: Pontes, 1993 .