Nada Santa! - Caroline Andrade

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Copyright © 2021 por Caroline Andrade

Nada Santa | 1ª Edição


Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos aqui são produtos da imaginação do
autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou
por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a
prévia autorização por escrito do escritor, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões
críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Capa: Lunas Editorial


Revisão: Gramaticalizando Assessoria
Diagramação: Mellody Ryu

O artigo 184 do Código Penal tipifica como crime, apenado com detenção de 3 (três) meses a 1 (um)
ano, ou multa, a violação de direito de autor. Pela Lei nº 10.695/2003 incluiu, em seu tipo penal, a
violação dos direitos conexos aos direitos de autor, que são aqueles relacionados aos artistas intérpretes
ou executantes, aos produtores fonográficos e às empresas de radiodifusão, conforme o disposto nos
artigos 89 a 96 da Lei nº 9.610, de 19.2.1998 ("Lei de Direitos Autorais"), mantendo-se a mesma pena.
Sumário
DEDICATÓRIA
PLAYLIST
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
O PEIXE FORA D’ÁGUA
Yane Rinna
CAPÍTULO 02
O AUGE
Yane Rinna
CAPÍTULO 03
DEUS AJUDA A QUEM CEDO MADRUGA
Yane Rinna
CAPÍTULO 04
TENTAÇÃO
Yane Rinna
CAPÍTULO 05
VERMELHO PECAMINOSO
Dener Murati
CAPÍTULO 06
CHER É VIDA
Yane Rinna
CAPÍTULO 07
BEIJOS, CURIOSIDADES E CONSELHOS
Yane Rinna
CAPÍTULO 08
MINHAS MENINAS
Yane Rinna
CAPÍTULO 09
O COMBATE
Yane Rinna
CAPÍTULO 10
ABAS, CAMADAS DUPLAS E CHOCOLATES
Dener Murati
CAPÍTULO 11
O PLANO
Andy Murati
CAPÍTULO 12
AJUDA DIVINA
Dener Murati
CAPÍTULO 13
MINHA GAROTA
Dener Murati
CAPÍTULO 14
FODER, TREPAR E AMAR
Yane Rinna
CAPÍTULO 15
DOCES E SEGREDOS
Andy Murati
CAPÍTULO 16
AS CURVAS
Dener Murati
CAPÍTULO 17
A BRUXA MALVADA DO LESTE
Dener Murati
CAPÍTULO 18
MOCHILA DA DECISÃO ERRADA
Andy Murati
CAPÍTULO 19
LINDA FEITICEIRA
Dener Murati
CAPÍTULO 20
JURO DIZER APENAS A VERDADE
Yane Rinna
CAPÍTULO 21
O JUIZ
Yane Rinna
CAPÍTULO 22
FEITICEIRA CRIMINOSA
Dener Murati
CAPÍTULO 23
REAL OU SÓ MOMENTO?
Yane Rinna
CAPÍTULO 25
FLORES E ALGEMA
Dener Murati
Yane Rinna
EPÍLOGO
Yane Rinna
Dener Murati
AGRADECIMENTOS
Outras obras:
Primeira série:
História e conto Irmãos Falcon
Únicos
DEDICATÓRIA

Esse livro é dedicado a todas as minhas leitoras Nada Santas.


PLAYLIST
Para ouvir a playlist de Nada Santa! no Spotify, basta clicar abaixo:

https://open.spotify.com/playlist/1EIVHjMWVmMXXrLMp13cgL?
si=7ee66c72fe8a4006
SINOPSE
Yane Rinna tem sua vida mudada da água para o vinho quando se
torna testemunha principal de um assassinato. Ela se vê obrigada a entrar em
um disfarce para garantir sua segurança até o dia do julgamento. E de uma
stripper desastrada, inteiramente azarada, se torna uma freira monitora de
quatro adolescentes rebeldes. O que ela não imagina é que no último lugar
que poderia sonhar, o amor e o desejo puro estarão no ar. Dener Murati, o
vizinho aristocrata do convento, tem seu autocontrole testado por uma fajuta
freira sexy, nada santa, que invade sua residência para se refrescar na calada
da noite, pelada, em sua piscina. A pequena feiticeira que o encanta vai virar
sua vida meticulosamente organizada de cabeça para baixo.
PRÓLOGO
Como vim parar aqui, nesse exato momento desesperador da minha
existência?
Bom, isso é simples!
Minha vida miserável começou a desandar no banco de trás de um
Mustang 1985[1] azul-calcinha, brega e pavoroso, diga-se de passagem, que
pertencia a Mitch Stance, meu primeiro namorado no ensino médio, quando
eu tinha dezesseis anos de idade. Deixava de ir para a escola para trepar em
um automóvel velho, caindo aos pedaços, com os bancos gastos, em um
estacionamento de um parque de diversão abandonado. E se minha memória
não estiver muito enganada, juro que podia ver os furos no assoalho
enferrujado enquanto transávamos. Cristo, eu realmente matava aulas para
ficar me pegando com aquele cara que fedia a uma carteira de cigarro
Marlboro?!
Daí para frente não preciso dizer que foi apenas ladeira abaixo, com
cada passo da minha vida se ferrando. Minha mãe me fez deixar a escola, por
achar uma grande perda de tempo eu ter que estudar ao invés de ajudar ela a
pagar as contas da casa. Com pais divorciados que se odiavam, um pai que
não se importava comigo, uma mãe que possuía uma grande rotatividade de
homens que passavam diariamente pela cama dela, amizades erradas que
cruzaram meu caminho e três garrafas de vodca por semana, minha vida
fodida foi piorando. Uma coisa errada chamou a outra, até me ver aos vinte e
quatro anos sem rumo, sem profissão, com muitas contas para pagar,
completamente na merda, sem um relacionamento descente e apenas relações
destrutivas e tóxicas que passaram pela minha cama. Mas, calma, que deixei a
cereja do bolo de bosta que é minha vida para o final. Depois de ser
despejada do pardieiro que morava e estar dormindo dentro de um trailer
esculhambado, que pertencia a uma amiga antiga de infância, Debby, que
virou prostituta como a mãe dela, me ferrei de vez. E eu, bom, segui os
passos da minha mãe e comecei a tirar a roupa por duas notas de cinquenta
paus em uma espelunca repugnante, que lhe deixaria com medo de beber até a
água da torneira, quanto mais se sentar em algum banco sem correr o risco de
pegar tétano.
Sabe quando algo muito bom acontece e você pensa: caralho, tem
algo de muito errado nisso!, mas você fica na dúvida se isso vai dar merda
ou não? Pois é, eu não tenho isso. No estado desesperado que me encontrava,
apenas agarrei com as duas mãos qualquer chance que tinha de conseguir
comprar comida ou não ficar desabrigada outra vez. E foi por isso que aceitei
quando um cliente fez uma proposta muito boa. Fui estúpida o bastante para
pensar que estava na vantagem quando esse cliente me propôs um bico, para
fazer um striptease em uma festa particular que aconteceria em um bairro
nobre de São Francisco, cheio de mansões, onde apenas a nata[2] dos fodões
moram. Meu cliente me pagou o triplo que eu ganhava em uma noite. Estava
tudo perfeito, maravilhoso, e até poderia dizer que estava aproveitando o
trabalho, pois nunca tinha me alimentado tão bem como nesse dia. Eu já
estava há três dias sem comer nada descente, então a verdade é que eu aceitei
o trabalho mais pela comida. Com a barriga cheia e o dinheiro no bolso, o
que acontecesse àquela altura do campeonato seria lucro. Mas lembra que eu
citei acima TRÊS DIAS SEM COMER? Rapaz, eu comi como se minha vida
fosse acabar nesse dia, comi tanto, que quando comecei a dançar, passei mal.
Desesperada, tampando minha boca para não regurgitar entre os convidados,
entrei na primeira porta que achei aberta à minha frente. Depois de pôr
metade da minha bílis para fora, agarrada à privada, jogando todos os
canapês para fora, ouvi vozes alteradas masculinas. Limpei minha boca,
caminhei silenciosa até a porta do banheiro e observei pela pequena fresta
aberta de madeira, um grande homem em seu terno branco, parado no meio da
sala, cortar a garganta de um cara e o largar ao chão, feito um saco de merda,
sem vida.
Surtei, entrei em modo de loucura, e para meu azar, vi perfeitamente
bem a face de Filip Box, o maior traficante de São Francisco, que se esconde
por trás de um terno caro e muita, muita bajulação entre os políticos, para se
manter no poder, matar uma pessoa. E em questão de segundos, já estava
subindo na privada, me equilibrando no salto agulha 15, com meus seios de
fora e o corpo repleto de purpurina. Não é o tipo de acrobacia que se deve
tentar e nem é nada legal, mas quando você sente toda sua vida de merda a um
passo de ir embora por conta de uma lâmina estripando sua garganta, e o
único lugar que você tem para esconder seu rabo é o forro do banheiro, a lei
da gravidade nem importa mais nesse momento. Suponho que desespero faz
milagres com a gente, pois até um gato teria ficado com inveja de como
consegui me esconder tão rápido e espremer minha bunda grande pelo
quadrado da entrada do forro, ficando lá por mais de duas horas, até ter
certeza de que poderia sair do forro sufocante, cheio de teias de aranhas. Não
precisa ser um gênio para imaginar o que fiz. Eu peguei minhas coisas, me
vesti e fugi, corri para uma puta distância daquela mansão dos horrores.
E foi assim que me vi entrando na proteção à testemunha duas
semanas depois que um detetive da homicídios conseguiu chegar até mim, o
que aconteceu uma semana depois do assassinato, por conta das malditas
purpurinas.
Afinal, a lógica dos policiais foi maravilhosa. Se tinha brilho dourado
espalhado pelo banheiro, obviamente a assassina é a puta. O cliente que me
contratou abriu a boca e contou para os detetives que a única mulher dentro
da mansão no dia do crime parecendo um troféu do prêmio Oscar,
transbordando purpurina dourada, era eu.
Inferno, apenas uso aquela tonelada de pó brilhante para os
clientes ficarem com os dedos longe de mim!
Voltando à minha desgraça que estava apenas começando, para não
ser presa e muito menos culpada por um crime que não cometi, tive que
contar a verdade do que presenciei naquele dia de merda, e adivinha quem
seria a principal testemunha contra o mais desejado traficante de São
Francisco? Pois é, a puta burra, que no caso sou eu! E a merda não acaba por
aqui. O cara que teve a garganta cortada é filho do governador do estado da
Califórnia, cheio da grana e poder, que está buscando vingança contra o
assassino do seu filho. Às vezes tenho que me dar os parabéns por conseguir
me meter em tanta merda. Mas se pensa que de tudo isso que me aconteceu foi
o pior, grande engano.
O pior ainda estava por vir!
CAPÍTULO 01
O PEIXE FORA D’ÁGUA
Yane Rinna

Ninguém acorda um belo dia pensando em como vai acabar se


fodendo, mas com toda certeza meus dias estão sendo uma montanha-russa
sem rodinhas dianteiras, na qual apenas desço ladeira abaixo. E agora, olhar
para a estrutura gigantesca, que nem no meu melhor dia me atreveria a passar
na frente, e muito menos adentrar no recinto, me deixa sem palavras para
explicar o que estou sentindo nesse exato momento.
— Senhorita Rinna, está me entendendo?
Não o ouço, na verdade, meu cérebro se nega a ouvir a voz do
detetive Tomas, que está sentado ao meu lado dentro do carro. Ainda estou
impactada com o prédio perdido nos confins de que só Deus, literalmente,
deve saber onde fica.
— Eu não vou entrar! — falo nervosa, sentindo meu corpo todo suado
e tremendo, apavorada.
— Infelizmente, para sua proteção, vai ter que ficar. — Nego com a
cabeça, arregalando meus olhos a cada vez que encaro a construção antiga. —
Foi o único lugar que achamos para poder lhe esconder até o julgamento de
Box. — Me viro para ele, voltando a balançar minha cabeça rapidamente em
negativo. — Yane, o fato dele ter sido detido em uma penitenciária, não quer
dizer que você está segura.
Nem tenho tempo de tentar me proteger, antes do outro policial, que
veio dirigindo o carro, abrir a porta e me puxar para fora do veículo.
— Posso ficar na delegacia! — grito para Tomas em desespero, o
vendo sair do carro, enquanto me agarro à porta do veículo.
— Não podemos nos dar esse luxo. Sabemos que tem informante na
delegacia, corregedoria e narcótico. — Sua voz tenta soar calma, enquanto dá
a volta no carro. — Esse lugar foi eu mesmo que consegui arrumar, para lhe
deixar escondida. Ninguém além de mim e Fred saberá do seu paradeiro até o
dia do julgamento. O promotor apagou todo seu histórico, para termos certeza
que você vai estar segura, ninguém consegue te rastrear.
Meus dedos ainda estão presos à porta. Tento entrar no carro,
enquanto o policial Fred me puxa pela cintura.
— EU POSSO FICAR NA MINHA CASA! — Balanço minha cabeça
em aflição, como se estivesse sendo arrastada para o inferno.
Depois de muita briga, a qual eu perco, o policial arranca meus dedos
da porta do carro, me forçando a andar, empurrando minhas costas para perto
de Tomas. Respiro com raiva, sentindo o suor frio que faz minhas mãos
transpirarem.
— Não pode ficar naquele trailer. Se eu lhe achei lá, os homens de
Box também podem lhe achar. Vamos, não pode ser tão ruim assim, Yane. —
A voz debochada de Tomas me dá vontade de arrancar seu pomo de adão
fora. Cretino, está se divertindo com meu sofrimento! — Encare isso como
umas férias.
— Férias? — Me viro com raiva, puxando minha bolsa da mão do
outro policial, que já a estende para mim. — Se me levasse à praia, eu lhe
diria que seria umas férias, Tomas!
— Um momento de reflexão caberia melhor no seu caso. — Tomas ri,
andando pelo pátio extenso, cercado de jardins. — Sabe que vai estar segura
aqui, eu lhe garanti que te protegeria. E Box não vai sair livre desse
julgamento.
— Como pode ter tanta certeza? Depois, quem vai morrer é a puta,
não o detetive — rosno com ódio, o olhando com raiva.
— Yane, ele não vai. O promotor me comunicou ontem à noite que o
julgamento de Box caiu na jurisdição do juiz mais linha dura que existe em
São Francisco. O homem é conhecido por ser mão de ferro, nenhum bandido
sai impune do tribunal dele. Apenas tente passar despercebida por esses dias
e não chamar atenção de ninguém até o julgamento.
Chega a ser irônico Tomas me falar sobre não chamar atenção de
nenhuma pessoa nesse lugar, justamente no momento em que caminhamos pelo
pátio longo, atraindo alguns olhares assustados na minha direção. Meu
vestido curto, colado ao corpo, tem um grande decote cavado à mostra, e o
tecido vermelho aperta minha bunda e todas as curvas do meu corpo. A cada
passo do meu andar, o vestido despudorado sobe mais, deixando minhas
pernas de fora, com o salto vermelho gritante se destacando em meus pés.
Respiro fundo, encarando meu destino sem um pingo de sabedoria e apenas a
mais lavada cara de pau que Deus me deu. Tento imaginar o que uma pessoa
como eu vai fazer em um lugar desses.
— Já parou para pensar que talvez possa ter vocação? Quem sabe? —
Rio em deboche para Tomas e ergo meu dedo do meio para ele.
Antes que possa abrir minha boca para falar umas merdas para ele,
meus olhos param na sombria visão à minha frente, com a feição fechada.
Traja uma roupa negra que tampa cada parte do seu corpo, tendo apenas o
rosto hostil de fora.
— Já conversei com todos aqui, elas nos esperam e sabem da sua
chegada. Tenho certeza de que fará muitos amigos nesse lugar.
— Com ele? — Encaro Tomas.
— Com ela, Rinna. É uma mulher, a madre do convento. — Volto
meus olhos para a mulher, não conseguindo achar nada de feminino nela. Está
mais para um general carniceiro do que uma madre.
— Aquilo no rosto dela é um bigode? — Sinto a leve cotovelada que
recebo do detetive, enquanto ele limpa sua garganta, se aproximando da
mulher sombria.
— Madre. — Tomas para na sua frente, sorrindo para ela, curvando
sua cabeça. — Bom dia, obrigado por nos receber.
— Senhor Tomas. — Ela retira uma mão, que estava escondida dentro
da bata negra, estendendo-a na direção dele. Tomas deposita um beijo na mão
dela, se afastando em seguida. — Que a paz de Deus esteja com você!
Ela se vira para mim, me olhando de cima a baixo, e nunca me senti
tão infeliz na minha vida com apenas um olhar de reprovação de alguém,
como estou agora com o dela.
— Deve ser a senhorita Rinna. — Sua mão vem para mim e aperto-a
em meus dedos, balançando-a e cumprimentando-a.
— E aí, dona?! Sou Yane. Precisa me chamar formalmente não. — Ela
solta minha mão, me olhando com espanto. Me viro para o Tomas, sem
entender a reação dela, mas ele apenas solta o ar pela boca, coçando sua
testa.
— O padre está nos ajudando com a reclusão da minha amiga. —
Tomas olha para minha face, sorrindo.
— Vai ser muito bom para ela ficar um tempo em retiro conosco. —
Sua mão volta para sua bata, a escondendo na longa manga. — Senhorita
Rinna vai se dar bem com as irmãs e com nossas meninas.
Estou distraída demais com o que a mulher fala, mas meus olhos não
perdem a imagem de uma menina que é arrastada pelos fundos do convento
pela orelha por uma freira, que briga com ela. É como se eu tivesse voltado a
ter oito anos e ficasse aos cuidados da pior babá que existe no mundo. Volto
minha atenção em desespero para Tomas, apertando seu braço com aflição.
— Eu não vou ficar aqui com essa bigoduda, não! — Quase choro em
pavor, mas Tomas apenas sorri para a madre, pedindo licença, enquanto me
puxa para longe dela.
— Yane, você vai ter que ficar. Box está preso, mas seus capangas
não. Se eles puserem a mão em você, não demorará para ser apenas um corpo
inchado boiando em alguma valeta.
Torço meu nariz para ele, pensando que ainda seria melhor a
possibilidade dos assassinos a isso.
— Que tipo de valeta estamos cogitando? — sussurro, pensativa.
— YANE! — A voz brava dele me faz voltar a olhar em seus olhos. O
homem sereno está a um passo de me estrangular com suas mãos, pela forma
nervosa como suas mãos passam em seus cabelos e seus olhos se espremem.
— Só não chame atenção, ok? Impossível que possa ser tão suicida que
prefira ficar exposta para os homens de Box do que ficar escondida aqui.
— Olhe para mim, acredita mesmo que uma stripper não vai chamar
atenção dentro de um convento? — Mordo meus lábios, encolhendo meus
ombros, o encarando.
— Eu olho para você, Yane, e não vejo uma stripper — ele suspira,
erguendo sua mão e batendo-a em meu braço. — O que vejo é uma garota que
acabou tomando muitas decisões ruins ao longo da vida, mas ainda assim é
uma garota jovem que pode mudar seu destino. Veja, até aceitou testemunhar
contra Box.
— Na verdade, você me coagiu a fazer isso, ameaçando me jogar em
uma cela cheia de detentas. — Ranjo meus dentes, resmungando para ele. —
Pensando bem, talvez eu devesse ter aceitado ficar junto delas.
— Oh, largue de besteira! Nós dois sabemos que você não duraria um
dia dentro daquela cela. Aqui, pelo menos, pode tentar repensar em sua vida.
— Eu odeio você, odeio do fundo, do fundooooo do meu coração!
— Continue me odiando, mas faça isso aqui dentro. E lembre-se: não
pode falar nada sobre você para ninguém, a menos que queira pôr a vida
dessas pessoas em perigo. — Ele me olha sério, me fazendo compreender que
estou ferrada.
— Eu não vou falar para ninguém. — Respiro fundo, fechando meus
olhos, desejando nunca ter aceitado aquela maldita oferta de dança. —
Apenas espero que esse juiz seja tudo isso que você falou.
— O homem é linha dura, incorruptível. Não é nem um pouco
amigável com pessoas como Box, realmente ele faz jus ao apelido que
ganhou. Drogas, assassinatos, estelionato, roubo e prostituição não passam no
radar dele, esse juiz mão de ferro não tolera nada disso. — Encolho meus
ombros, esfregando meu rosto. — Vai estar segura aqui, eu te prometo, apenas
não pode falar para ninguém sobre quem é você.
— Tomas, mas tinha que ser um convento? O que passou na sua
cabeça?! Me fala o que uma garota como eu vai fazer num lugar desse?! —
Meus dedos param em minha cintura, enquanto o encaro, batendo um pé no
chão.
Apenas um cego não enxerga qual é minha profissão. Como Tomas
pode achar que esconder uma stripper dentro de um convento vai dar certo?
Sou um peixe fora d’água nesse lugar.
— Acho que nisso a irmã Mand vai poder lhe ajudar. — Nós dois
viramos para a madre, que nos encara, próxima de nós. Nem ouvi os passos
dela.
Não demoro para enxergar a pequena mulher que sai de trás dela, com
sua forma roliça e rosto rosado, sorrindo de orelha a orelha para mim.
— É tão bom ter alguém aqui para ajudar as meninas! — A moça
estende sua mão para mim. — Sou a irmã Mand.
Assim que estico meu braço, a pequena mulher me surpreende com
sua força, que nem um lutador de luta livre teria, me puxando para um abraço
apertado.
— Eu sou Yane — respondo, espremida entre suas tetas fartas, o que
faz minha voz sair abafada.
— Oh, a madre me contou sobre sua chegada e sobre ter que se
esconder do seu marido agressivo! — Fico sem entender ao ouvi-la falar sem
parar. — E que também é boa com artes. As meninas vão gostar de uma aula
nova.
Ela me solta, enquanto tagarela sem parar. Olho para Tomas, ainda
tentando entender o que ela diz. Ele apenas balança a cabeça em positivo.
— Artes? — Rio, balançando minha mão no ar. — Só se for nas artes
orais. — Bato no ombro de Mand por conta do trocadilho, mas ela fica
apenas confusa, sem entender a piada. — Sabe, oral? — Encho minha boca
de ar na lateral, antes de levantar minha mão para fazer o movimento com
meus dedos fechados. Tomas os puxa para baixo, apertando meu punho.
— Ela quis dizer em recitar. Yane é boa em recitar. — Tomas tem seu
semblante fechado, me olhando nervoso quando solta meu punho.
Me assusto quando ele me abraça, segurando meu ombro para deixar
sua cabeça próxima ao meu rosto.
— A madre tem o meu contato, um telefone descartável que comprei
apenas para atender se você precisar — ele sussurra em meu ouvido, me
abraçando com força. — Se precisar, a qualquer horário, em qualquer
momento, se achar que está em perigo, apenas fale para a madre e ela vai
saber o que fazer.
Tomas se separa, me deixando sem nem ao menos saber o que dizer.
— Tenho certeza de que vai poder se sentir feliz aqui, longe do seu
ex-marido. — Ele bate em meu ombro, me virando de frente para a freira
animada. — Yane sabe cantar como ninguém.
— Oh, elas vão amar, tenho certeza! — Mand fala, risonha. — Venha,
deixe-me lhe mostrar seu quarto.
— Tomas... Por favor, Tomas — chamo por ele, o vendo apenas
acenar sua mão, se despedindo de mim. — TOMASSSS!!!
Estou sendo puxada pela pequena freira alegre, que fala sem parar,
para dentro do grande prédio. E é no exato momento que as portas se fecham
atrás de nós, que fico a um passo de sair correndo, me atracar às grades de
proteção nas grandes janelas e gritar para ser liberta. Agora sei como é um
preso caminhando para sua cela de reclusão.
CAPÍTULO 02
O AUGE
Yane Rinna

— Aqui é seu quarto.


Depois de me fazer subir cinco lances de escadas, quase jogando
meus pulmões para fora, olho sem acreditar para a pequena mulher
rechonchuda, que nem sequer transpirou.
— Como sobe isso todo dia e ainda é assim, gordinha? — Jogo a
mala no chão, tentando respirar devagar, sentindo a sandália machucar meu
pé.
— Eu gosto de comer. Meu metabolismo é lento. — Ela abre a porta,
sorrindo. Puxo a mala, já me imaginando me jogando sobre a cama e tirando
um longo cochilo.
— Vadia, você está de sacanagem com a minha cara?! — Me viro
para Mand, olhando com raiva a gordinha sacana. — Não disse que tinha
chegado no quarto?
Tem mais uma merda de uma escada em caracol, dentro de um
cômodo vazio, que vai me torturar com essa mala e o salto em meu pé. Mand
deixa uma grande gargalhada sair da sua boca, subindo o primeiro degrau.
— Você é muito engraçada, Yane. Gosto do jeito que fala, é tão
espontâneo! — O único sentimento espontâneo que possuo nesse momento é a
vontade de fazê-la rolar escada abaixo, com uma bicuda do meu pé no rabo
dela. — A madre supôs que gostaria de ficar em um local mais reservado,
então me pediu para arrumar esse quarto para você.
Me encosto na parede, respirando com força, arrumando a mala em
meus dedos, olhando para cima e vendo a quantidade de degraus que ainda
me esperam. Já detesto aquela madre! Arrancaria seu bigode na pinça, fio a
fio! Ela não está querendo me deixar reservada, mas sim me esconder em uma
masmorra.
— Eu odeio escadas — xingo baixo, subindo degrau a degrau,
rezando para não cair com esse salto alto e quebrar o pescoço.
Um tempo depois do que parece uma eternidade, no meu ponto de
vista, vejo Mand parada na entrada de um cômodo, ao fim da escada, com a
porta de madeira aberta.
Empurro meus cabelos suados para trás do meu rosto, sentindo o
oxigênio queimar meu peito a cada lufada de ar. O suor cola meu cabelo em
minha bochecha e sinto minhas pernas bambas. Solto a porcaria da mala,
alongando meus ombros, e tento fazer minhas pernas pararem de tremer nesse
salto fino.
— Espero que goste, arrumei ele com todo amor. — Mand me
surpreende, sorrindo com carinho. Nunca ninguém foi boa comigo apenas por
ser, normalmente sempre queriam algo em troca. — Possui uma vista tão
linda daqui de cima. É modesto, mas vai ficar em paz. — Ela entra no
cômodo, tagarelando sem parar.
Caminho paro perto da porta, e ao olhar para dentro do quarto, me
afundo mais ainda em meu desespero. O chão batido de forma bruta, tem
quatro paredes sem cor alguma além do reboco, e umas teias de aranhas ao
canto. Uma pequena cama está colada na parede de madeira e a cômoda de
duas gavetas tem uma das pernas sendo sustentada por um tijolo. Tem uma
bíblia em cima da mobília, que não caberá nem minhas calcinhas na primeira
gaveta, quanto mais o resto das minhas roupas. A janela é estreita, com uma
cortina em um bege fosco, quase apagado. Se algum dia falei mal daquele
trailer horrível que divido com a Debby, nesse momento retiro tudo que disse.
— Olha que gracinha, não dá vontade de chorar? — Mand me olha
alegre, me puxando para dentro do quarto.
— Dá! — Viro para ela em desespero, olhando-a horrorizada, com
meus olhos vermelhos pelo choro, que está ameaçando chegar. — Cadê o
banheiro desse lugar? Cadê a TV?
— A gente tem um vestiário que usamos em conjunto no terceiro
andar, todas nos lavamos lá. Mas deixamos um ajudante[3] no quarto —
Mand fala baixo, como se tivesse me falando um palavrão. — Quanto à
televisão, não possuímos.
Vejo-a se abaixar perto da cama, arrastando algo de lá. Uma coisa é
certa na minha vida: sempre, absolutamente sempre, ela pode ficar pior do
que é. E é isso que sinto quando olho para o penico na mão da Mand, que se
levanta, o estendendo para mim.
— Achei esse ajudante em um quarto antigo, que pertenceu à irmã
Telma. Ela era uma boa irmã... Morreu cedo, a coitada. Amava seu
companheiro, pode ver que está bem cuidado o peniquinho.
Mand solta ele em meus dedos. Apenas olho esse troço de alumínio
meio amassado e mais velho que meus sutiãs, querendo gritar com horror.
Que porra é essa?!
— Eu vou ficar com o penico de uma mulher morta? — Minha voz sai
quebrada, por conta do choro que escapa dos meus lábios.
— Não precisa ficar emocionada, tenho certeza de que irmã Telma
está feliz de saber que o ajudante dela está em boas mãos. — Mand estica seu
braço, deixando sua mão em meu ombro.
Desvio meus olhos de choro do penico, olhando para ela, e juro que
passa pela minha cabeça bater na pequena mulher com esse penico. Não
choro por emoção, choro por desespero puro! Uma coisa é estar tão bêbada
durante a madrugada e precisar fazer xixi atrás de um carro, mas fazer xixi em
um penico é o auge da minha vida decadente.
— Bom, agora que está acomodada e feliz, vou te deixar, para que
possa se trocar. A madre já mandou trazer novos hábitos para você, estão
todos nas gavetas.
— Hábitos? — Olho para a cômoda, deixando o meu “novo
companheiro” em cima da mobília.
Ao abrir a primeira gaveta, vejo apenas vestes negras dobradas sobre
outras, e na gaveta de baixo a mesma visão se repete.
— Eu achei lindo seu vestido, e confesso que seus cabelos cacheados
são tão chamativos assim, soltos. — Ela sorri, mexendo nos meus cabelos. —
Podemos fazer uma trança neles, assim fica mais fácil de esconder.
— Esconder? — Dou um passo para trás, olhando para o quarto com
o dobro de pavor do que no instante que entrei, pensando se sobreviverei se
me jogar pela janela.
— Sim, para poder vestir os hábitos e arrumar o véu na cabeça. —
Olho Mand por inteira, parando meus olhos no véu branco sobre sua cabeça,
que esconde seus cabelos e a garganta.
— Vou ter que vestir isso? — Aponto para ela, que apenas sorri,
balançando a cabeça em positivo.
— Vou lhe deixar agora. Quando estiver pronta, pode descer direto
para o primeiro andar. A madre vai lhe esperar, para te passar mais
informações — Mand suspira toda alegre, alisando meu ombro. — Pode
passar na cozinha depois, se quiser, vou estar por lá.
O som seco da porta fechando atrás de mim é o mesmo que ouvir o
eco do meu desespero gritando dentro da minha cabeça.
Se fodeu, garota!
CAPÍTULO 03
DEUS AJUDA A QUEM CEDO MADRUGA
Yane Rinna

— OHHHH, INFERNO! — O som seco da porta, que é espancada


sem parar, em puro desespero, me faz rolar da cama, caindo de cara no chão.
Puxo a máscara de dormir dos meus olhos, ainda sentindo a baba
colada em minha bochecha. Me sento desnorteada, piscando confusa,
esfregando minha testa, que está ardendo por conta do tombo. Deixo meus
olhos se abrirem de vez, enxergando que não foi um pesadelo que tive, que
realmente estou nessa masmorra, na qual me jogaram. E lá está o maldito
penico para me provar a verdade, a poucos centímetros de mim, como se me
encarasse de forma mórbida.
— Irmã Yane! Irmã Yane, está acordada?! — A voz alegre da mulher
que espanca a porta, grita sem parar, me chamando.
Me levanto chateada, puxando a calcinha que está atolada na minha
bunda, machucando minha pele. Bocejo com preguiça, abrindo a porta, e grito
de dor quando recebo um tapa na cabeça quando Mand ainda está com a mão
erguida, batendo na porta.
— Desculpa, não te vi. — Ela tampa a boca, me olhando com pena.
— Acho bom que alguém tenha morrido para você estar nesse
desespero, me chamando. — Esfrego minha cabeça, a olhando com raiva.
— Bom dia! Dormiu bem? Como passou sua noite? — Ela entra no
quarto sem cerimônia alguma, me puxando pelas mãos. — A madre a mandou
chamar, está atrasada já tem alguns minutos.
— Atrasada? — Coço meus olhos para dissipar o sono, sendo pega
sem aviso por Mand, que me empurra o grande hábito que ela tirou de uma
das gavetas da cômoda.
Ela continua a falar sem parar. Desvio meu rosto da estranha tagarela
para a porcaria da janela, vendo tudo escuro do lado de fora. O sol nem
nasceu ainda!
— Falei brincando quando perguntei quem morreu. — Olho para a
fileira de freiras sentadas nos grandes bancos de madeira, dentro da capela.
— Não é um velório, Yane. — Mand nos empurra para dentro,
tentando achar um lugar para nós duas sentarmos. — Essa é a hora que
rezamos o terço. Por falar em terço, imaginei que não teria nenhum, então
peguei um dos meus para você.
Observo o terço que ela entrega em minhas mãos, enquanto faz o sinal
da cruz, se ajoelhando e me levando junto com ela.
— Por que estamos rezando o terço essa hora da madrugada? — A
encaro séria, recebendo um “shh” da freira ajoelhada do outro lado de Mand.
— Eu podia estar dormindo, Mand. — Abaixo meu tom de voz, tirando o
fiapo do véu que foi para minha boca, o empurrando para o lado, já ficando
estressada.
— Deus não dorme, e a madre sempre acha melhor rezar esse horário
— ela cochicha perto do meu ouvido.
— Claro que não dorme! Como vai dormir com um monte de beatas
rezando em plena madrugada para o coitado?! — rosno com raiva, a olhando
indignada.
— Shhhh! — Estico meu pescoço para encarar a freira do “shh”.
— SHHHHH pra você também! — Ergo meu dedo do meio e o
mostro para ela. Estou com sono, com minhas pernas doendo, sentindo cada
canto das minhas costas estalando por conta daquele colchão fino, que mais
parece uma coberta esticada em cima de uma madeira.
Não estou no meu melhor humor para aguentar recriminação de freira
alguma.
— Desculpe, irmã Nil, é o primeiro terço dela em nossa congregação.
— Mand tenta apaziguar os ânimos, espalmando sua mão na minha bochecha
e me fazendo virar para frente junto com ela. — Irmã Nil é um doce, mas
pode ser uma megera quando quer, não vai querer provocá-la.
Volto meu rosto para Mand, que conversa comigo com a maior paz na
face.
— Irma Mand, está blasfemando ou é apenas impressão minha? —
Dou um sorriso torto para ela, que encolhe seus ombros, abaixando sua
cabeça e arrumando o terço em suas mãos.
— Na verdade, ainda sou uma noviça, posso blasfemar. E já pedi
perdão para Deus por ter blasfemado na casa dEle. — Mand fecha seus
olhos, começando a rezar o terço.
Encaro as bolinhas na minha mão, sem ter a mínima ideia de como é
rezado um terço. Nem batizada eu fui, como poderia rezar um terço a essa
altura da vida?! Vejo Mand quietinha ao meu lado, o segurando com as duas
mãos, movendo apenas sua boca, sem deixar o som sair dos seus lábios. Ergo
meu olhar, e ao longe, perto do altar, me deparo com a madre, que está séria
com seu terço nas mãos, rezando enquanto me olha taciturna. Torço meu nariz,
resmungando, vendo a alegria brilhar rapidamente nos olhos dela ao me fazer
acordar essa hora. Me recordo muito bem da sua face ontem de tarde, me
dando todos os sermões dentro da sua saleta.
— Como bem sabe, ficará aqui como uma de nós. — Ela me olha de
cima a baixo, gostando de ver meu desconforto com essa roupa negra. —
Não toleramos nenhum tipo de comportamento, digamos que inapropriado,
Rinna. — Ergo meu rosto para ela, que está parada à minha frente com seu
semblante autoritário, a poucos passos de mim. — Jogue o chiclete, por
favor.
Não sei por que, mas posso imaginar muito bem essa mulher
espancando as freiras por trás dessas portas, com alguma régua de
madeira. A madre arqueia sua sobrancelha quando estouro a última bola da
goma do chiclete dentro da minha boca, sem saber se ela realmente está
falando sério ou não. Sua mão sai de dentro da manga da bata negra e se
estica para mim.
— Jogue! — Sim! A voz brava me avisa que ela está falando
totalmente sério.
Levo meus dedos à boca, tirando o chiclete e entregando para ela.
Deposito na palma da sua mão, a vendo o jogar no lixo.
— Tomas é um bom humano, de coração gentil, por isso quando
pediu ajuda ao padre, que é seu irmão, ele lhe ajudou. — Fico pensativa
com a revelação dela sobre o parentesco do padre com Tomas. — Regras
são boas para deixar o convívio mais aceitável, e mesmo não sendo uma de
nós, será tratada como uma noviça e terá suas obrigações e deveres, como
todas nós.
Sinto meu corpo se afundar na cadeira a cada palavra que ela vai
soltando, como chibatadas em mim.
— Apenas eu sei o verdadeiro motivo de estar aqui. Contei para
Mand que está se escondendo do seu marido, porque para ela não seria
bom saber sua verdadeira origem, mas será bom ter alguém aqui para você,
que vai lhe ajudar... As outras freiras e nossas meninas não sabem o real
motivo da sua estadia.
— Meninas?
— Sim, nossas meninas. Nas férias, algumas famílias tradicionais
mandam suas filhas para cá, para que elas passem um tempo conosco, para
aprenderem mais sobre o que esperar da vida.
— Gente, que horror! — sussurro entre meus dentes, cruzando meus
braços e sentindo pena das coitadas.
O som alto da sua mão se espalmando na mesa me faz dar um pulo
na cadeira e endireitar minha postura.
— Depende do ponto de vista, senhorita Rinna. — A madre caminha
para o outro lado da mesa e se senta em uma cadeira de madeira entalhada
à mão. — Há uma turma que deixei separada para a senhorita, para que
talvez possa passar um tempo com elas. São moças especiais...
— São doentes? — Observo-a, ainda tentando me ver em uma sala
com um monte de crianças birrentas. — Olha, o mais perto que tive de uma
pessoa “especial” — ergo meus dedos, fazendo aspas com eles na direção
da madre —, foi em uma vez que trabalhei em um aniversário de dezoito
anos de um garoto com síndrome de down[4]. Foi até legal, ele gostou de
me ver saindo do bolo com aquele tapa sexy de peito, seminua...
Sua mão se ergue no ar, me calando na mesma hora com seu rosto
fechado. Sua respiração está acelerada.
— Disse que são especiais, não que sofrem de algum problema de
saúde. — Ela olha para os meus seios e depois para mim. — Tente não
contar sobre suas experiências para as meninas. De preferência, para
ninguém, Rinna.
— Claro!
A porta é aberta por uma freira, que traz uma bandeja cheia de
biscoitos e uma xícara de chá. Ela deixa na mesa da madre e sai
rapidamente.
— Deve ter alguma coisa que seja boa para passar para elas,
alguma coisa a ensinar. — A madre estende sua mão, pegando a xícara de
chá e levando-a aos lábios. Sinto meu estômago roncar ao ver essas
bolachas caseiras. Já estou há dois dias sem comer nada.
— Olha, eu aprendi alguma coisa ou outra por aí — falo, sorrindo,
tendo minha boca salivando, com vontade de comer algo. Meus dedos se
esticam para pegar uma das bolachas, mas param assim que a madre dá um
tapa em minha mão, não me deixando pegar a porcaria da bolacha. — Ai!
— Irmã Mand irá lhe mostrar sua turma amanhã, depois do café.
Estarei com meus olhos em você, senhorita Rinna, e vai descobrir que não
sou conhecida pela minha tolerância.
Seguro meus dedos onde ela bateu, olhando das bolachas para a
bigoduda, que me encara séria.
— Pode se retirar, irmã Yane. — Saio de lá ainda querendo arrancar
aquele bigode do rosto dela na pinça, fio a fio, apenas para ver ela gritar.
— Mand... Mand... — sussurro, cutucando-a com meu cotovelo. — Eu
nunca consegui terminar o Pai Nosso sem cair no sono, muito menos rezar um
terço.
— É só rezar com o coração, irmã Yane, depois te ensino — ela
responde baixo, sem abrir seus olhos.
— Eu poderia rezar com meu coração dormindo na minha cama.
A freira do “shh” se levanta brava, indo se sentar a três bancos de
mim, nos olhando de cara feia.
— É só fechar os olhos — Mand fala calma, batendo em meu ombro,
em cumplicidade.
Aperto as bolinhas em meus dedos, enquanto respiro agoniada,
sentindo o hábito e o véu estrangularem meu pescoço. Solto o ar em
desânimo, fechando meus olhos e tentando focar em alguma coisa antes de
cair no sono.
— Eu achei que ia poder voltar para o quarto. — Olho para os
corredores do convento, os quais atravessamos.
Sinto mais sono ainda depois de ter me empanturrado no café da
manhã, mas não tenho tempo de voltar para minha masmorra, porque Mand já
está me arrastando com ela outra vez.
— Não. — Mand ri, balançando a cabeça. — A madre me solicitou
para lhe conduzir até sua turma.
— Pelo amor de Deus, quem larga os filhos em um convento em
plenas férias?!
— Bom, algumas famílias tradicionais ainda preferem que suas filhas
tenham uma boa educação. A maioria quer que elas sejam moças boas para
sua futura família.
— Como o quê? — Me viro para ela, sem entender. — Ensinam elas a
serem ótimas esposas, que deixam os maridos acima de tudo na vida delas?
— Quase isso. Temos aulas de culinária, corte, costura, e ano passado
tivemos aula de judô.
— Que emoção deve ter sido. — Reviro meus olhos com deboche,
mas Mand, em sua loucura de nunca parar de falar, nem parece perceber
minha ironia.
— E não é que foi, irmã Yane! — Sua voz sai alegre, me fazendo
quase arrancar meus olhos com minhas próprias unhas.
Nós duas andamos sem parar. Vejo pelas portas algumas freiras
conversando com as moças em seus uniformes, com um vestido cinza até os
joelhos, recatadas.
— A verdade é que há muito tempo o convento pratica o ensino para
as famílias tradicionais da região. Esse terreno mesmo, que foi construído o
convento, foi doado por uma das famílias mais antigas daqui, os Murati. —
Não tinha conseguido ver muito do lugar, a não ser a minha masmorra, a
capela de orações e a cozinha, que definitivamente foi o único lugar que me
encantou, já que está cheia de guloseimas e pães fresquinhos.
— Então isso aqui tudo é de caridade?
Ela se vira para mim, pensando na resposta, e logo balança sua
cabeça em negativo.
— Realmente tem famílias que ainda preferem a educação antiga para
suas filhas.
Paramos perto de uma porta, onde vejo pela vidraça as meninas
sentadas em uma roda, mexendo com seus panos de costuras, com uma freira
lá dentro. Talvez não seja tão ruim ficar algumas horas com elas. O que pode
acontecer de pior? Posso, talvez, ensinar a elas a sentarem, rolarem e darem a
patinha, como boas cachorras de raça, adestradas. Talvez até dormir um
pouco no fundo da sala, pela paz e silêncio que está lá dentro.
— Todas dormem aqui? — Me viro para Mand, que me puxa,
mostrando que minha sala não é essa.
— Algumas sim, porque as famílias vêm buscá-las só depois das
férias. Tem uma ou outra que vai pra casa, porque moram aqui perto.
— Ok. Onde tá o bando de abençoadas que vou ter que ficar de olho?
Ela para ao fim do corredor afastado, onde uma porta velha, quase
caindo, está fechada.
— Na verdade, não é um bando. — Observo seus dedos passando por
sua roupa, agitados. — A madre achou que poderia ter um tempo mais útil
cuidando de um pequeno grupo seleto de moças, as quais possuem
dificuldades de ter um bom comportamento com as outras meninas. — Meu
rosto vira assim que o som forte de algo sendo jogado dentro da sala se faz, e
os gritos de alguém em pura raiva ecoam.
— Vou ser a irmã da detenção? Sem chance, vadia! — Nego com a
cabeça para ela, que me dá o sorriso mais amarelo que pode, abrindo a porta
lentamente.
O que tinha visto de quietude nas outras salas, com moças
comportadas, é, com toda certeza, diferente do que vejo aqui. A sala é
rabiscada, com paredes pretas erguidas por todos os lados, sem um canto de
luz do dia entrando. A freira que tem lá dentro grita com a voz rouca a todos
pulmões, e seu rosto está vermelho, como se fosse explodir, com sua boca se
esmagando de ódio. Arregalo meus olhos, vendo a face dela toda colada com
bolinha de papel. Meus olhos param em cada uma das meninas lá dentro, que
viram suas faces encapetadas para me encarar. São quatro criaturas com
narizes empinados e arrogantes, com as roupas mal-arrumadas.
— Graças a Deus! — A freira, ao me ver, caminha em desespero para
o lado de fora da sala. — Deve ser a nova irmã, transferida pra cá, certo?
Tenho certeza de que vai amar cuidar delas. Deus lhe abençoe.
Ela nem dá tempo de eu responder, antes de passar por mim correndo,
como se tivesse acabado de sair do inferno.
— Vai se sair bem — Mand fala baixo, batendo em meu ombro.
— Onde está indo, Mand? Irmã... irmã! — Ela nem se vira, apenas sai
feito um tiro de lá, me largando com esses monstrinhos juvenis.
Encaro de volta as meninas, avistando-as conversando feito umas
matracas, sem parar. Solto o ar lentamente, forçando meu corpo a entrar no
local. Olho para elas, me perdendo na única menina quieta ao canto. Seu rosto
vira para a parede, tão distante do outro grupinho, que tagarela sem parar.
— Bom dia — falo, tentando chamar a atenção delas, que riem, sem
dar atenção para mim, de propósito. — Sou a... a irmã Rinna, mas podem me
chamar de Yane. — Elas continuam me ignorando, conversando entre elas.
Conto até dez mentalmente, para não espancá-las, porque vontade é o
que não me falta. Olho para a lousa preta na parede e caminho lentamente
para lá. Puxo a porcaria da manga gigante, deixando meu braço de fora,
espalmando minha mão no quadro, e apenas deslizo lentamente minhas unhas,
as forçando na lousa. O som agudo que arde os tímpanos começa forte, as
fazendo apertarem seus ouvidos com agonia, se virando para mim em
desespero.
— Agora que tenho a atenção das dondocas, vou me reapresentar. —
Elas me olham com raiva, soltando seus ouvidos.
— Para que essa merda... — A mais baixa de todas me encara, com
seu rosto petulante, mas ela para de falar quando começo outra vez a arranhar
a lousa com minhas unhas, sem desviar meus olhos dela.
— Desculpa, não ouvi sua voz! — falo calma para ela, apontando
para uma das cadeiras. — Ah é! É porque não é sua vez de falar. Levem esses
rabos para as cadeiras e se sentem. AGORA!
Vejo uma por uma se sentando com a cara emburrada, me olhando com
ódio mortal.
— Vamos voltar ao começo, garotas. Sou Yane e vou ficar
responsável por vocês...
— Grande coisa! — A outra moça, sentada na cadeira do meio, com
cabelos negros em um corte Chanel, cruza seus braços, com as outras rindo
sem parar.
Viro meu olhar para ela e caminho com preguiça para a menina
petulante.
— E você, é quem, gracinha? — pergunto com uma voz doce.
Ela joga seus cabelos para os lados, estufando seu peito. Uma típica
menina mimada, que nunca deve ter passado por nenhuma privação na vida,
com seu rosto pequeno de boneca e uma vida cheia de luxo em alguma
mansão por aí, que não sabe respeitar ninguém.
— Sou Dora, Dora Wat. Meus pais são donos do aras da cidade. —
Ergo minha mão para ela, a fazendo se calar na mesma hora.
Sorrio com doçura, tombando meu rosto para o lado em meu ombro,
cruzando meus braços perto do meu peito.
— Não me importo, ninguém se importa em quem é o seu pai. Nem se
ele fosse a reencarnação de Frank Sinatra[5], eu não daria a mínima. —
Fecho meu semblante, a olhando de cima a baixo. — E, adivinha? Não quero
saber sobre vocês, quero que calem a boca quando eu estiver falando. —
Dora arregala seus olhos com surpresa para mim, me deixando saber que
ninguém nunca falou com ela nesse tom.
Movo meu rosto para os lados, olhando para cada uma delas. Paro na
garota ao fundo, desligada do bando de patricinhas, que me observa com um
pequeno sorriso no canto da boca.
— Não pode falar assim com ela! — A ruiva alta, sentada à esquerda,
me olha com espanto.
— Não? Por quê? — Ela se engasga e cruza seus braços quando
arqueio a minha sobrancelha para ela, atrás da sua resposta. — Você deve ser
quem?
— Sou Jani. — Sua resposta é baixa, virando seu rosto para o outro
lado, desviando seus olhos dos meus.
— Não vai me dizer que sua família é dona de quase toda a cidade ou
alguma outra porcaria parecida? — Direciono minha atenção para a terceira
encrenqueira, que me olha assustada. — E você, é quem?
— Sou Linda Hostem. — Ergo meu rosto para a outra menina ao canto
da parede, que apenas vira sua face de volta para o local.
— Você? — Movo meus dedos para ela, que apenas se encolhe,
ficando envergonhada.
— Baleia, pode chamar ela assim. — Minha mão bate na cabeça ruiva
de Jani, que se cala, olhando assustada para mim.
— Eu te perguntei alguma coisa, garota?! — Ela se cala, resmungando
baixo. Volto minha atenção para a menina ao canto da parede, caminhando
para ela. — Seu nome?
— Andy. — A voz baixa fala, quase como um engasgo. Eu posso
entender as outras estarem aqui, porque são umas encrenqueiras mal-
educadas, mas a silenciosa Andy não parece se enquadrar no meio desses
projetos de terroristas juvenis.
— Não vai falar seu sobrenome, Andy? — Me viro de volta para
Jani, quase indo para ela, apenas para lhe dar outro tapão.
— Tem algum problema em fechar a boca? — indago com raiva para
ela. — Olha, agora que fomos todas apresentadas e somos praticamente
amiguinhas, vou levar a minha bunda para aquela cadeira — ergo meus
dedos, apontando para a mesa com a cadeira perto do quadro — e tirar um
cochilo, porque ninguém me deixa dormir nesse lugar e estou caindo de sono.
E vocês vão ficar aí, lindas e quietas, até a hora de uma poder se livrar da
outra.
— Mas não tem que nos ensinar? — Linda pergunta, curiosa.
— O quê? — Nem dou o prazer de me virar para as criaturas,
enquanto me sento, erguendo meus pés sobre a mesa. — Pelo que sei, já
estudam. Se estão aqui, é porque nem a família de vocês lhes suportam. Além
de ficarem caladas, não tenho nada para lhes ensinar.
Olho para elas, tentando achar uma forma confortável de me sentar
para dormir.
— Vaca! — Encaro Dora, que me xinga, cruzando seus braços
enquanto me observa.
— Posso até ser uma vaca, mas sou uma vadia três vezes pior se não
me deixar dormir. — Fecho meus olhos com alegria, por ver a cara de
espanto dela.
— Pode falar palavrão? — Ignoro a pergunta de Dora, mantendo meus
olhos fechados.
Estou tão cansada e com sono, que não preciso de muito para cair no
sono. Quando finalmente acho uma forma confortável de ficar sentada na
cadeira, o som alto do sino da capela, que bate sem parar, me faz despertar.
Abro meus olhos depois de ter tirado um cochilo. Ao olhar para a sala, vejo
que ela está completamente vazia. Eu até poderia gostar disso, afinal. Estico
meu corpo com preguiça, me levantando e alongando meu corpo, abrindo a
boca em um bocejo.
— É, não foi tão ruim. — Sorrio, estufando meu peito e levando dois
dedos para minha cintura.
Nem sei que horas são ou o que aquela bigoduda separou para eu
fazer agora, mas saio da sala vendo as outras freiras, que vão caminhando
pelo corredor. Algumas delas me olham sorrindo, mas logo desviam seus
rostos, com seus olhos arregalados. Apenas ando, sem parar para conversar
com elas e sem compreender porque estão me encarando assustadas. Ao
chegar à cozinha, sorrio para Mand, que está de costas, perto da fruteira,
separando algumas laranjas.
— Até que não foi tão ruim, Mand — falo alegre, me sentindo bem
depois de ter dormido um pouco. Ela se vira, mordendo uma banana, mas
seus olhos se arregalam para mim em espanto.
— Misericórdia! — Ela me olha cada vez mais assustada. — O que
fizeram no seu rosto?
— Meu rosto? — Levo meus dedos para minhas sobrancelhas, dando
graças por sentir os pelos no lugar. — O que tem meu rosto? — Ela me
empurra para uma janela, me deixando ver meu reflexo no espelho.
O desenho feito com batom vermelho, de um pau na lateral do meu
rosto, me faz gritar de ódio.
— Aquelas vadias mirins! — Esfrego meu rosto com raiva, borrando
mais ainda minha face.
CAPÍTULO 04
TENTAÇÃO
Yane Rinna

Não precisa ser um gênio para saber que cada dia da minha estadia
vai se tornando pior do que o outro. Por diversas vezes me vejo querendo
correr para bem longe do convento, o mais rápido que minhas pernas
aguentam. Passar dias sendo acordada cedo está me matando, sem falar que
eu tenho que tomar banho com mais de trinta mulheres dentro do banheiro, nas
horas da higiene. E, claro, como esquecer dos meus inimigos mortais?! A
porcaria do penico e as escadas. Os malditos lances e mais lances de
degraus, que dão a impressão de nunca terem fim. A única felicidade que
tenho são algumas escapadas que dou durante a noite, para fumar escondida
no jardim, depois de ter barganhado com o jardineiro um par de brincos que
eu trouxe no meio das minhas coisas por um maço de cigarro e isqueiro. E cá
estou, chateada, remoendo meu ódio pela madre do convento e sem muitas
expectativas de que vou conseguir melhorar meus dias nesse lugar, embaixo
de uma árvore bem ao fundo do jardim do convento, camuflada com esse
hábito gigantesco no meio da noite, olhando para os lados, para ter certeza de
que ninguém me viu sair de fininho da minha masmorra. Puxo o isqueiro com
o maço de cigarro, que o jardineiro tinha deixado escondido para mim dentro
de um buraco oco de uma árvore, e acendo o cigarro com pura euforia. É
quase libertador soltar a primeira tragada da fumaça no ar, sentindo um pouco
de paz me tomar, dissipando meu estresse por ter visto minhas coisas sendo
ensacadas em um saco preto de lixo e entregue para a doação. Elevo meu
olhar para a janela do quarto andar do prédio, onde fica a cova da madre,
aquela megera safada.
— Mand, não ouse fazer isso! — Tento puxar a sacola, na qual
Mand guardou as peças de roupas que trouxe na minha mala.
— Yanne, a madre disse que precisa doar elas... — Mand se mantém
firme, segurando a sacola na outra ponta, enquanto nós duas travamos um
cabo de guerra.
Respiro rápido, fechando meus olhos e buscando algum raciocínio
dentro de mim para não bater na cabeça dela com a porcaria do penico que
está em cima da cômoda. Quase infartei quando entrei no meu quarto e
peguei Mand terminando de guardar minhas coisas dentro da sacola, se
virando e fechando a embalagem, sorrindo para mim.
— Já conversamos sobre isso, Mand. Eu não sou uma irmã, eu nem
queria estar aqui. Sabe que só estou no convento por um tempo... — Puxo o
saco com força, a fazendo cambalear para trás, o soltando.
Aperto contra o meu peito meus pertences, olhando para ela
zangada.
— Mas as outras irmãs não sabem. A madre teme que elas
desconfiem que tem algo por trás da sua estadia aqui conosco. — Balanço
minha cabeça em negativo, esmagando mais a sacola em meus braços. —
Yane, tem que me deixar levar para a doação.
— Eu tenho cara, por um acaso, de quem faz doação? — Fujo dela,
indo para a outra ponta do quarto, quando ela tenta retirar a sacola de
mim. — Não faço doação, eu recebo!
— Yane, precisa me entregar a sacola. — Mand respira fundo, com
suas bochechas rosadas, olhando para mim. — Todas nós fazemos doações
dos nossos pertences quando entramos no convento.
Para uma pessoa pequena e acima do peso, Mand é terrivelmente
ágil, e apenas percebo seu bote quando ela já está em cima de mim,
arrancando a sacola dos meus braços. Ao tentar pegá-la de volta, a sacola
se rasga, deixando algumas coisas caírem. Mand e eu ficamos em silêncio
por um tempo, olhando para o chão, antes de voltarmos ao combate,
batendo nossas cabeças uma na outra quando nos abaixamos no mesmo
momento. Vou puxando o que consigo: meus óculos escuros, dois batons,
três calcinhas... Mand puxa um vestido antes que eu o pegue, usando o
hábito como uma trouxa, para guardar minhas coisas junto com a sacola
rasgada. Aperto o que consigo recuperar, olhando indignada para a noviça
sacana, que está sorrindo amavelmente para mim.
— Pense nisso como um voto de pobreza... Um ato de boa-fé. — Ela
alarga seu sorriso.
Fico sentada no chão, desolada, prestando atenção nas minhas
coisas, enxergando a ponta de uma camisa escapar da sacola. Eu nem
terminei de pagar as prestações daquela roupa.
— Pessoas com a vida lascada, como a minha, não precisam fazer
voto de pobreza, Mand, já nascemos com a pobreza gravada em nossos
ossos — falo, semicerrando minha boca, odiando ainda mais aquela madre
bigoduda, filha da mãe, que tinha mandado pegar minhas coisas.
— Oh, está fazendo tempestade em um copo d’água, Yane. Vai ver
que não é tão ruim assim. — Reviro meus olhos com o otimismo de Mand, e
quando tombo meu rosto para o lado, vejo meu CD da Cher[6] caído perto
da cômoda.
Automaticamente, ela olha para lá junto comigo, e antes que tente
se aproximar, me jogo no chão, esticando meu braço e pegando meu CD.
— A CHER NÃO! — Guardo meu CD embaixo do meu hábito,
empurrando o pouco que consegui para lá, entre minhas pernas, os
escondendo. — Pode me tirar tudo, menos a Cher.
Cruzo meus braços, a deixando ver minha indignação.
— Mas, Yane...
— Se tentar tirar esse CD de mim, vou bater na sua cabeça com
aquele penico, Mand! — esbravejo para ela, a deixando saber que minha
ameaça é válida. — Agora, devolva minhas roupas íntimas pelo menos, não
posso usar só essa roupa horrorosa.
Mand encolhe seus ombros, deixando um sorriso amarelo tomar
conta da sua face.
— A madre mandou pegar elas também, deixei algumas novas na
sua gaveta. — Estreito meus olhos para ela, virando minha face para a
mobília. Me levanto e cato minhas coisas que estão entre minhas pernas,
para ela não tentar raptar outra vez.
Caminho para a cômoda, puxando a primeira gaveta, e meu coração
para uma batida, com meus olhos se arregalando. Olho as calçolas beges
pavorosas, sem renda, sem nenhum tipo de atrativo, que podem ser usadas
para cobrir um carro; e os grandes sutiãs, que mais caberiam em uma
mulher que está em período de amamentação, nem uma meia-taça possuem!
A pequena noviça já está batendo em retirada quando solto meu primeiro
grito de ódio. Corro para a porta do meu quarto, enxergando apenas o topo
do véu da cabeça dela, enquanto ela desce as escadas às pressas.
— MANDDDDDDDDD!
Dou outra tragada no cigarro, chateada por minhas coisas terem sido
levadas. Observo meus dedos, machucados por conta de ter limpado todos os
banheiros que têm dentro do convento, como forma de penitência, depois que
a madre me pegou cochilando no meio da missa da tarde. Estou indo dormir
tão cansada, que nem sei onde começa o dia ou onde termina a noite. Suspiro
com desgosto. Viro meu rosto para o lado, deixando meus olhos percorrerem
o jardim solitário. Minha atenção para sobre o pequeno vulto que avisto
passar correndo para trás de um prédio abandonado. Me colo à árvore assim
que seu rosto vira em minha direção. Sorrio ao imaginar que possa existir
alguma noviça rebelde dando uns perdidos na madre. Talvez eu não tenha
sido a única ovelha negra desse lugar. A fugitiva aperta mais o passo,
correndo pelo grande gramado e pulando o muro do convento tão
rapidamente, que parece uma gata da noite. Olho o cigarro em meus dedos,
ficando dividida entre a porcaria do vício ou a curiosidade. Mas antes que dê
por mim, jogo o cigarro no chão, guardando o maço e o isqueiro de volta no
mesmo esconderijo, dentro da árvore, e vou atrás da pessoa que está fugindo,
para saber quem é e o que está fazendo do outro lado do muro.
Paro perto da divisa de concreto, tentando descobrir como ela pulou
isso. De onde estava escondida, não parecia ser tão alto esse muro. Salto,
segurando a ponta do concreto, forçando meus pés a me empurrarem para
cima, escalando com cuidado, sem meus pés se enroscarem na porcaria da
bainha do hábito. Estico minha cabeça, olhando por cima do muro, e respiro
rapidamente, fadigada. Estreito meus olhos para ver do outro lado, e me
espanto ao enxergar uma grande mansão ao longe, com suas luzes apagadas.
Vasculho o lugar, procurando pela fugitiva, e não demoro muito a encontrá-la.
A pequena corre pelo gramado, balançando seus cabelos, e não tem como não
reconhecer o corte Chanel de Dora. Me entorto e alavanco minha perna, até
estar trepada no muro, como se estivesse sentada em um cavalo. Inclino meu
pescoço na direção da pirralha, para ver o que ela pretende fazer. Mas no
momento que ergo minha outra perna, para me sentar de frente, meu pé se
enrosca no tecido, me levando a cair de cara na grama do terreno invadido.
— Cacete! — rosno baixo, sentindo a dor nas minhas pernas. Me
levanto com raiva, batendo a sujeira da minha roupa com meus dedos e
tirando a grama da minha boca, voltando minha atenção para Dora.
A menina para perto de uma piscina, jogando sua toalha ao chão, já
começando a tirar sua roupa. Chego de mansinho por trás dela, cruzando meus
braços sobre meu peito e soltando uma respiração pesada no topo da sua
cabeça.
— Invadir propriedades dos outros é crime, sabia, Dora?! — Ela
grita, levando suas mãos ao coração, me olhando assustada.
— Oh, meu Deus! — Seus olhos se arregalam, olhando para todos os
lados com medo. — Eu só queria tomar um banho... — Não tem mais a
mesma prepotência em sua voz de antes, de quando nos conhecemos. Agora é
apenas uma garota fazendo uma coisa errada, como qualquer menina da idade
dela. — Por favor, eu só queria nadar, não conta para a madre, irmã Yane.
— E por que eu não contaria? — Arqueio minha sobrancelha,
tentando encenar a mesma encarada de reprovação que a madre me dá toda
vez que me vê. — Você desenhou um pau na minha cara!
— Não fui eu, juro. — Dora ergue seus dedos na frente do rosto, os
beijando em cruz. — Por favor, eu vou ficar muito encrencada se falar... —
ela corta suas palavras quando seu choro começa, soluçando em desespero.
— Por favor, irmã.
Solto o ar, olhando para os lados e balançando minha cabeça,
enquanto rio. Não consigo mais encenar que estou zangada.
— Volta para seu quarto, Dora. — Ela me olha com seu rosto todo
molhado de lágrimas, fungando em meio aos soluços.
— Não vai contar não, né?! Meu pai vai me matar se ele tiver que vir
aqui. — Reconheço esse olhar de medo. — Às vezes penso que meu pai me
odeia.
Dora não está com medo de que eu conte à madre, o medo que Dora
sente é do pai dela. E por um breve minuto é como se eu pudesse me ver ali,
diante daquele olhar amedrontado. Aos quinze anos não pensamos muito nas
consequências do que fazemos, afinal, tudo é tão novo e assustador. Ter um
adulto que só sabe lhe criticar ou mostrar como você é inútil, falando
constantemente como você nunca será nada na vida além de um zero à
esquerda, acaba fazendo você acreditar nisso.
Eu tinha pulado a janela de casa depois de mais uma briga com a
mamãe, de ouvir ela dizer como eu sempre atrapalho a vida dela, que nunca
pode arrumar outro marido, porque ninguém quer uma mulher com uma
filha retardada. Nunca fui retardada, apenas não sabia como agir todos os
dias de manhã, quando descia para tomar café e avistava o cara bola da
vez com quem ela transava, sentado na mesa, depois de ter ouvido ele a
noite inteira comendo minha mãe no quarto ao lado do meu. E quando eles
me viam, ficavam nervosos, envergonhados, por não saberem que tinha uma
criança em casa. Sempre dizia para ela que queria viver com meu pai, mas
ela apenas me falava que ele não me queria. Como castigo por ela ter
pedido o divórcio, ele a obrigava a ficar com a minha guarda, e minha mãe
sempre gostava de me jogar isso na cara em todas as brigas, de como eu
era uma pedra na sua vida. Então, aos dez anos, me vi fugindo, pegando
carona na estrada com um casal de idosos e viajando por mais de quatorze
horas até a casa do meu pai.
— O que está fazendo aqui? — O homem sério, parado na varanda,
me encara, bloqueando a porta da entrada da casa.
— Eu achei que iria gostar de me ver... — Seguro a mochila em
minhas mãos, olhando assustada para meu pai. — Pensei que poderia ficar
com você...
— E quem lhe disse uma bosta dessa?! — Ele olha em volta,
respirando fundo. — Foi aquela vadia da sua mãe, não foi?! Ela te largou
aqui para ficar trepando, como a cadela imunda que ela é!
— Não... — Sinto as lágrimas descerem por meu rosto, abraço a
mochila na frente do meu corpo. — Eu quero ficar com você, pai, quero
morar aqui. Eu prometo que vou ser uma boa menina...
— Não te quero aqui, Yane! — fala alto, me fazendo soluçar em meio
ao choro. — Você vai ser como ela, não ache que sua vida vai ser diferente
da vadia da sua mãe! Se tornará tão inútil como ela, apenas uma puta que
abre as pernas pelo preço mais caro! — Não há nada no olhar dele,
nenhuma compaixão, apenas a verdade de como ele me vê. — Sai da porta
da minha casa, não quero lixo na minha calçada!
Fico lá parada, chorando, abraçada à minha mochila e observando-
o entrar dentro da sua casa, batendo a porta com força. Depois de um
tempo que o choro passa, caminho a passos lentos pela rua, esperando por
duas horas, até um carro da polícia me parar. O guarda, depois de pegar
meus dados, me leva de volta para casa. Minha mãe nem tinha percebido
que eu tinha fugido de casa, apenas nota minha presença por conta do
policial ao meu lado, parado diante da porta da casa dela. Fico sentada na
varanda, olhando para as estrelas a noite toda, chorando baixinho,
enquanto minha mãe trepa com o policial. E a única coisa que descubro
nesse momento é que as pessoas que dizem que deviam cuidar de mim e me
protegerem, na verdade, foram as primeiras a me ferrarem. A única pessoa
que pode cuidar de mim sou eu mesma.
Pisco rapidamente meus cílios, empurrando minhas memórias para
longe, suspirando com calma. Puxo Dora pela roupa, caminhando de volta
para o muro.
— Volta logo para seu quarto, Dora. — Ela me olha sem entender,
limpando seu rosto choroso. — Seu pai não odeia você.
— Vai me ajudar?
— Não vou contar para ninguém, se é o que quer saber, mas não pode
invadir propriedade particular, isso é crime, independentemente de quem seja
sua família.
— Por que vai me ajudar, depois do fiz em seu rosto?
Paro de caminhar, estacando no lugar assim que sua boca abre, a
encarando com raiva. Torço sua orelha, fazendo-a gritar de dor.
— Tinha certeza que foi você. — Dora choraminga, esfregando sua
orelha quando a solto e a empurro na direção do muro. — Anda, sobe esse
muro e vai para seu quarto, antes que eu mude de ideia!
— Eu estou indo, ok?! — Ela para, virando seu rosto para mim, me
olhando pensativa. — As pessoas não ajudam por nada, elas sempre querem
algo em troca, por que está me perdoando e me ajudando?
Vejo seu rosto confuso me olhar sem entender. Balança seu corpo
lentamente para frente e para trás, ficando com um aspecto frágil e muito
distante da adolescente bocuda de dias atrás.
— Quem perdoa vadias é Deus, eu estou aqui para te ensinar a ser
alguém melhor. Agora some, Dora! — Pisco para ela, tirando um sorriso dos
seus lábios.
— Obrigada. — Ela coça a cabeça, se virando para o muro e subindo
agilmente nele. Antes de pular para o gramado do convento, ela para, me
olhando. — Minha toalha ficou lá. — Me viro, enxergando o pano caído no
chão, perto da piscina.
— Ok, deixa que pego. Volte para o quarto, antes que as irmãs dos
dormitórios percebam que saiu.
Vejo-a pulando o muro e me direciono para trás, voltando para pegar
a toalha dela. Meus olhos param na grande piscina tentadora, uma grande e
deliciosa piscina. Não me lembro quando foi a última vez que tomei um
banho de piscina. Puxo a toalha, me virando para voltar para o convento, mas
é quase como se a água fresca e gelada estivesse me chamando. Merda, está
um calor do cão! Olho de volta para a água, me sentindo sufocada com essa
roupa quente. Aperto a toalha em meus dedos, me segurando para não cair em
tentação. Está certo que Tomas me mandou ficar quieta, e eu estou quieta,
tenho me comportado bem por essa semana inteira trancada no convento.
Talvez, apenas um mergulho... Uma pequena molhadinha no corpo não fará
mal. O que pode dar errado?! O lugar parece estar vazio, sem ninguém dentro
da mansão... Esses ricos têm o costume de ter milhões de casas, as quais nem
sabe onde ficam. Posso apenas dar um mergulho, me refrescar e ir embora.
Tudo numa boa! Meu cérebro confirma o que meu corpo deseja.
— Vadia, você não tem jeito! — Sorrio alegre, soltando a toalha no
chão.
Meu pé se ergue e tiro a sapatilha o mais rápido que posso. Arranco o
hábito enorme junto com o véu, dando graças a Deus por estar usando uma
das calcinhas que consegui recuperar antes de Mand fugir. A retiro com
pressa, a deixando junto com o hábito.
CAPÍTULO 05
VERMELHO PECAMINOSO
Dener Murati

— Senhorita Venelope ligou, senhor. — Ergo meus olhos para Bolton,


que entra, trazendo uma bandeja com meu copo de uísque que solicitei para
ele.
— Eu sei, tinha 28 chamadas dela no meu celular. — Pego o copo,
levando-o aos lábios, tentando buscar um pouco de paz no copo de bebida.
Fui obrigado a me afastar por uns dias da toga[7], quando o caso de
Filipi Box caiu sobre minha jurisdição. A imprensa está feito varejeira na
porta do tribunal, tentando descobrir informações sobre o andamento do
julgamento. Não me senti feliz em ter que tomar essa decisão, mas para minha
segurança e dos meus colegas de trabalho, foi a melhor escolha. Me
distanciar até a data do julgamento dele também foi uma forma de me livrar
de Venelope, que constantemente me sobrecarrega com infinitas ligações, me
cobrando para marcar logo a data do nosso casamento. E eu já tenho muitos
outros problemas para me preocupar. Aos trinta e nove anos, carrego o peso
de uma tradição de família, de uma longa linhagem de juízes, promotores e
desembargadores. Não posso perder minha concentração por nada, muito
menos por birra de uma mulher mimada. Então, passar esses dias na casa de
campo me pareceu uma boa oportunidade para ter algum tempo com minha
filha durante suas férias. No horário que ela não estiver no convento, posso
ficar com Andy. Magda, minha falecida esposa, queria que nossa filha
passasse por todos os caminhos educacionais que ela viveu, pela mesma
educação que seus pais lhe deram, sendo instruída junto com as freiras
durante a adolescência. Mas sinto que quanto mais o tempo corre, mais
distante de mim minha filha está ficando, se distanciando conforme chega à
sua adolescência. Me envolver com Venelope, a princípio, foi algo que
pensei que ajudaria Andy a ter uma figura feminina entre nós, com quem ela
pudesse ter uma relação materna, mas, com toda certeza, Venelope não é a
mulher que quero que esteja perto da minha filha.
— Deseja algo a mais, sr. Murati? — Toda vez que Bolton me chama
assim, sinto como se meu pai estivesse presente na sala, o que me faz ter
calafrios, por conta da forma ditadora daquele homem.
— Não, Bolton, por hoje é só. — Sorrio para o mordomo, que é um
antigo funcionário da família, que veio trabalhar para mim depois que meus
pais faleceram.
— É bom tê-lo em casa de volta, senhor. Senhorita Murati ficará feliz
em saber que está por aqui. — Olho para ele, mantendo meu sorriso,
realmente desejando que minha filha fique feliz com meu retorno, mesmo que
seja por um breve período minha estadia na casa de campo.
— Obrigado, Bolton. — Balanço a cabeça, o saudando, e me viro
para a grande janela do escritório, levando minha mão ao bolso da calça.
Mas o que me chama atenção na noite do lado de fora da janela, não é
meu perfeito gramado verde impecável, milimetricamente cortado, e nem as
estrelas brilhantes no céu, que tanto gosto de admirar quando estou por aqui.
— Bolton, quantos copos de bebida já tomei desde o momento que
cheguei? — sussurro, perdido, piscando rapidamente.
— O senhor chegou agora há pouco, patrão. Bebeu apenas um, deseja
outra dose?
Balanço minha cabeça em negativo, andando para perto da grande
vidraça. Olho com toda atenção, para ter certeza de que o que vejo não é
loucura.
— Por que tem uma mulher nua, correndo no meu gramado? —
pergunto, cético, ainda sem acreditar no que vejo.
— Como, senhor? — Bolton caminha, parando perto da janela,
olhando para a mesma cena que eu.
O grande cão caramelo labrador está brigando com uma mulher nua,
em um cabo de guerra, mordendo algo que ela puxa e tenta recuperar da boca
dele. O cão solta o que mordia, a levando a cair de bunda no chão. Logo o
animal pula em suas pernas. Tombo minha cabeça para o lado, absorvendo
mais ainda a cena do cachorro se esfregando, em um ato sexual, na perna da
intrusa. Ela se levanta histérica, correndo como uma louca, com seus braços
erguidos, os debatendo no ar.
— Devo chamar a polícia, senhor? — Balanço minha cabeça em
negativo para ele. Deve ser mais uma daquelas meninas do convento, vindo
tomar banho de piscina noturno. Não é a primeira vez que fico sabendo que
elas vêm para cá.
— Deixa que resolvo. — Viro o copo de bebida e o estendo para ele.
— Se chamar a polícia, só vamos dar um jeito dos jornalistas descobrirem
onde estou.
Arrumo minha gravata, respirando cansado por conta da longa viagem
até aqui. Saindo do escritório a passos firmes, caminho para a cozinha,
usando a porta traseira que leva ao jardim, saindo de dentro da casa.
— Cachorro do demônio! — A voz que grita com raiva não é de uma
menina. Tenho certeza disso assim que meus olhos pousam na intrusa com
pele negra, brilhando umedecida, completamente nua.
Deixa à vista as curvas fartas, as quais me pego admirando
atentamente, a estudando com curiosidade. Um sorriso se abre no canto dos
meus lábios quando ela curva seu corpo, empinando seu traseiro para pegar
um galho, tentando acertar o cachorro. Sua bela traseira redonda e cheia de
carne não tem como passar despercebida quando ela me presenteia com a
melhor visão do seu corpo. As coxas grossas que adornam suas pernas
longas, deixam a água escorrer por seu corpo e pelo longo cabelo, que pinga
gotas dos cachos negros sobre suas costas. Caminho para ela, que luta com o
cão, que tenta chegar às grossas pernas. A peculiar mulher corre para perto
da piscina, tentando enxotar o cão, que volta a se esfregar na perna dela. Ao
parar perto dela e tentar tirar o cão, ela se assusta com minha presença e bate
com o galho em mim, acertando minha cabeça.
— Oh, meu Deus, um tarado! — Ela bate com mais raiva, e antes que
acerte meu rosto, consigo prender seus pulsos no ar, a deixando contida.
— Para de me bater! — Minha voz sai mais alta do que pretendia,
mas me calo assim que choco meus olhos aos seus, que estão assustados, ao
passo que respira arfando, com agonia. — De que lugar você saiu? —
pergunto baixo, sendo sugado pela sensualidade da bela criatura peculiar.
Sua boca se abre, assoprando com raiva, jogando uma mecha dos
cabelos para cima, que cai em seus olhos novamente. Uma intrusa nua,
correndo pelo meu jardim, é a última visão que pensaria ter essa noite,
quando decidi vim para a casa de campo.
— Foi só um mergulho... N-não precisa chamar o dono da residência,
ok?! — Sua voz gagueja, enquanto ela olha para a casa ao longe, voltando seu
rosto rápido para mim. — Vai acordar o coitado do seu chefe por conta de
uma coisa boba...
Seus seios cheios balançam no ar, se movendo para cima e para baixo
junto à sua respiração, com os bicos eretos em um marrom mais escuro sobre
as aréolas. É a criatura mais estranha e bela que já vi, e quase me faz rir com
o fato dela achar que sou algum funcionário da propriedade. Mas antes que eu
possa dizer alguma coisa, desfazendo seu equívoco, ela grita em desespero,
se jogando para cima de mim, circulando suas pernas em minha cintura, assim
que em um movimento rápido, o cachorro pula nas costas dela. O
desequilíbrio me pega, levando nós dois para a borda da piscina quando tento
dar um passo para o lado, para me firmar. Solto seus pulsos, prendendo sua
cintura. Os dedos dela se agarram aos meus ombros quando nós dois caímos
na água, mergulhando juntos. Nossos corpos se colam, me deixando ter a
perfeita sensação de prazer quando seu quadril se encaixa com o meu por
completo. O leve raspar do seu quadril sobre o tecido da minha calça, me faz
puxá-la em puro instinto, a prendendo a mim, enquanto nos levo para cima,
submergindo entre a água e a cabeleira negra que lhe cobre a face. Meu rosto
está tão perto do seu, que posso ver melhor sua face, assim que joga seus
cabelos para trás. Os dedos trêmulos se apertam em meus ombros, com suas
pernas bem enlaçadas ao redor do meu quadril.
— Aquele... Aquele animal do inferno! — Ela me encara, ficando em
silêncio, como se só agora estivesse focando em minha face.
Sou obrigado a rir, como nunca tinha rido em toda minha vida, até
sentir meu peito vibrar com as gargalhadas que saem da minha boca diante da
situação descabida que nos encontramos. Minhas mãos estão espalmadas em
suas costas, e nem percebo que estou alisando sua pele, como se fosse um
gesto natural entre nós dois.
— Está bem? — pergunto para ela. Seus olhos, antes assustados,
agora viram duas bolas de chamas em pura raiva.
— Não! Aquele cachorro violentou minha perna e tentou lamber
minha bunda! — A bela intrusa em meus braços me olha, trazendo tanta
indignação em suas palavras, que não tem como não rir outra vez. — Ri
porque não foi na sua perna que ele esfregou o pau.
Puxo o ar em meus pulmões, enquanto o riso vai se dissipando.
Arrumo seu corpo ao meu e deixo minha mão descer por sua pele, se
prendendo em sua bunda, tendo certeza de que ela está amparada. Tento
realmente pensar que estou fazendo isso apenas por preocupação, e não
porque meus dedos querem desbravar cada canto dela.
— Não, não foi — sussurro, perdendo meu olhar nos olhos arteiros
que me encaram tão expressivamente. Com toda certeza é uma mulher
estranha, mas uma mulher estranha que me faz ficar fascinado, sem saber
como agir diante dela.
— Sua mão, guardinha de jardim... — Sua voz sai baixa, mordendo a
lateral da sua boca, deixando seus olhos caírem nos meus lábios. — Está na
minha bunda...
— Está? Não sei... — Deixo meus dedos espalmarem mais ainda sua
pele, puxando o ar para meus pulmões entre lufadas entrecortadas. — É, elas
estão — falo rouco, tendo minha garganta secando.
Nada me passa despercebido, nem a segunda mordida na lateral dos
seus lábios e muito menos o pequeno suspiro que ela solta de mansinho. Não
compreendo o que está acontecendo comigo, meu coração nunca bateu tão
forte assim, descompassado, nem quando eu era adolescente, por conta de
uma mulher. Abaixo meus olhos para suas mamas, que estão tão perto do meu
peito. Ergo de volta minha cabeça para seu rosto, ficando preso outra vez em
seus olhos negros. Movo minha mão para descer o corpo dela, a deixando
ficar com seu rosto na mesma altura da minha face.
— Peço desculpas pelo comportamento de Spai, acho que ele nunca
viu uma criatura tão bela como você.
Seus lábios me presenteiam com um pequeno sorriso, me fazendo me
perder nas covinhas que se formam em suas bochechas.
— Acho que posso desculpar ele. — Ela morde seus lábios de uma
forma tão natural, que sinto meu pau responder pelo pequeno gesto que está
me fazendo perder o juízo.
Aproximo meu rosto dela, sentindo sua respiração quente perto da
minha, não conseguindo desviar meus olhos dos seus lábios, que estão
fazendo minha boca ficar seca, em desejo de sentir o sabor deles. Nossas
cabeças se movem juntas quando as luzes de fora da casa são acesas. Seu
corpo se empurra do meu, se libertando. É tudo tão rápido, que nem tenho
tempo de puxá-la de volta. O cachorro pula na piscina, caindo perto de mim,
e a vejo mergulhar como uma sereia, assustada, sumindo na água. Quando
consigo avistar ela outra vez, a misteriosa intrusa já está atravessando a água
agilmente, para o outro lado da piscina.
— Spai, sai. Droga! — Empurro o cachorro, vendo apenas ela sair da
piscina e correr, pegando as roupas ao chão.
Quando consigo me livrar do cachorro e sair d’água, retirando Spai
comigo, tenho a visão dela pulando o muro para o lado do convento, sumindo
de vez.
— Senhor! — Volto-me para Bolton, que me estende uma toalha.
Pego-a, ainda sem acreditar no que acabou de acontecer, em como
estava a um passo de puxar a boca dela para mim, apenas para aplacar essa
vontade de descobrir qual sabor ela tem, me sentindo quente como um
calouro de faculdade.
— Creio que isso deva pertencer à nossa visitante noturna.
Bolton ergue um véu branco, que foi abandonado no desespero da fuga
dela. Olho o tecido branco, sabendo que isso é usado pelas irmãs do
convento ao lado. Porém, o que não me parece encaixar nesse cenário não é
nem o fato de uma freira ter invadido minha casa para um banho noturno de
piscina, mas sim a pequena renda caída na grama. Paro meus olhos no chão,
me abaixando e pegando em meus dedos, observando o fio dental delicado e
minúsculo, no mais puro vermelho diabólico que se pode imaginar.
— Isso realmente aconteceu? — Olho para o mordomo, que balança a
cabeça em positivo, me garantindo que não tive uma alucinação.
Uma freira, com curvas perigosas e completamente nua, invadiu minha
casa, me deixando com o pau duro, e largou sua calcinha libertina para trás,
no meu gramado.
CAPÍTULO 06
CHER É VIDA
Yane Rinna

— É permitido ouvir isso aqui, no convento?


Viro-me para a pequena, que me olha com seus olhos arregalados,
prestando atenção na música que toca no antigo rádio portátil, que achei
jogado em um dos quartos vazios, cheios de coisas abandonadas, quando a
madre me fez faxinar ele de cabo a rabo. Retiro meus óculos escuros e a
encaro, vendo seu corpo esparramado ao meu lado, sentada na grama. A
verdade é que, ao fim, as diabinhas não são tão endiabradas, mas ainda não
me arrisco a dormir perto delas outra vez, e muito menos tenho a pretensão de
ficar mofando dentro daquela sala fechada. Então passeio com elas,
conhecendo cada canto do convento.
— Me diga um único lugar onde Cher não seja permitida entrar,
garota? — As outras meninas, com suas saias de pregas erguidas até as coxas,
esticadas sobre a manta, balançam o pé ao som de Wartello, regravado pela
Cher.
— Cher não é um homem? — Linda ergue seus olhos para mim, me
fazendo congelar com os óculos no ar, olhando para ela sem acreditar no que
acabou de falar.
— CLARO QUE NÃO! — Balanço minha cabeça em negativo,
arrumando as lentes escuras na minha face, voltando a me esticar na manta.
— Cher é uma mulher, Linda. Ela nunca foi homem. — A voz
envergonhada de Andy fala, distante, sentada perto da árvore, com um livro
em suas mãos.
Vejo seus olhos desviarem rapidamente, assim que as meninas erguem
a cabeça para ela.
— Eu tenho um primo gay que adora ouvir Cher. Uma vez meu tio o
pegou vestido de mulher durante a ceia de Natal. Foi engraçado a briga entre
meu tio e minha tia. — Dora ri, desviando sua atenção de Andy. — Eu gosto
desse som, tem uma batida diferente. — Ela ri mais ainda, balançando mais
rápido seus pés.
Meus olhos se prendem em Andy, sentada do outro lado. Não entendo
por que ela prefere sempre ficar longe das outras. Ok, essas garotas são
malvadas em alguns pontos, e até posso entender o porquê delas estarem de
castigo, longe das outras alunas do convento, mas Andy não parece ser uma
das encrenqueiras.
— Como que uma freira anda com um CD da Cher dentro da bolsa?
— Viro meu rosto para Linda quando ela se senta, olhando para mim.
— CHER é vida, meu bem. Nunca dou dois passos para fora do meu
trailer sem ela. — Me levanto assim que sinto a picada de uma formiga em
minha perna, batendo com raiva nela e coçando o local da picada. — Filha da
puta!
— Você falou palavrão de novo?! — Ergo meu rosto, que é encarado
pelas adolescentes curiosas, que perguntam em conjunto.
— Você é diferente das outras freiras, Yane. Pode blasfemar? — Dora
é uma verdadeira bisbilhoteira e me faz a pergunta de volta à queima-roupa, e
dessa vez não tenho como ignorá-la.
— Na verdade, sou uma noviça, posso blasfemar o quanto eu quiser.
— Desvio meu rosto do dela, limpando minha roupa, usando as palavras de
Mand para me safar dessa pequena tirana enxerida.
As outras se levantam, enquanto balanço minha mão para Andy, a
chamando para vir se juntar a nós. Olho com mais atenção para a ruiva
calada, com seu rosto vermelho e olhos inchados, parada ao lado de Linda.
— Jani, por que está com essa cara de choro? — Bem que reparei na
melancolia dela desde o momento que coloquei meus olhos nela essa manhã,
mas achei que devia ser algum faniquito de adolescente, que logo passaria.
Mas já estamos passando da metade da tarde e a garota continua com
a cara de choro.
— Não foi nada. — Ela funga, desviando seu rosto de mim e pegando
o rádio portátil que está na grama, o desligando.
— Ela está desse jeito por conta do Willzinho dela — Linda debocha,
rindo, levando uma cotovelada de Jani. Olho de cara feia para Linda,
apontando a manta para que ela pegue.
— Não sou sua empregada — fala brava, com seu nariz fino
empinado.
— Nem eu a sua, garota! Agora dobra essa manta e fica quieta! —
Puxo o rosto de Jani em minhas mãos, segurando-o pelo queixo, olhando para
ela. — Garota, homem só vai lhe deixar com rugas antes da hora, então não
sofra antecipadamente.
Ela afasta seu rosto, limpando sua face com raiva, mas começa a
chorar, como se o mundo estivesse acabando.
— O que sabe sobre o amor?! É uma freira, nunca deve ter amado um
homem em sua vida. — Jani soluça, escondendo seu rosto em suas mãos.
— Oh, pelo amor de Deus, Jani, Will tem dezessete anos! — Dora
passa por ela, caminhando na grama e revirando seus olhos com o mesmo
desgosto que estou nesse momento, ao saber o real motivo do choro
melancólico de Jani.
— Primeiramente, um pivete com espinha e que se masturba com as
revistas de modas da mãe dele, não é homem. E, segundo, para seu governo,
talvez eu possa saber sobre amor. — Caminho junto de Dora, vendo Andy,
que passa rindo, se juntando a nós.
— Por que está rindo, baleia? Certeza que nunca um menino vai olhar
para você. — Antes de erguer meu pé para continuar meus passos, retorno na
mesma hora para perto de Jani, cruzando meus braços à frente do meu peito.
Odeio a forma como elas se sentem superiores por serem um protótipo em
andamento da Barbie.
— Olha só, Jani, pode sofrer por conta do seu pivete de espinha, mas
não ouse descontar sua raiva em quem não merece. Andy é maravilhosa de
todas as formas, e tenho certeza de que ela vai chamar muito a atenção dos
garotos. — Descruzo meus braços, levando um dedo para o peito dela e
empurrando lentamente. — Da próxima vez que abrir sua boca para xingar a
Andy, tenha certeza de que vou fazer você esfregar cada ladrilho e azulejo
que exista nesse convento. — Ela arregala seus olhos para mim quando
abaixo meu dedo, balançando minha mão com preguiça no ar. — Agora,
desembucha. O que esse tão especial Will fez para lhe magoar, que nós,
meras mortais, não podemos saber?
— Ele pediu para Jani transar com ele, e ela se negou — Linda solta
de uma vez a fofoca. Vejo os olhos de Jani vermelhos, enquanto ela chora
desconsolada, soluçando com dor. — E semana passada ela descobriu que
ele está saindo com uma menina.
— Ele arrumou outra garota, que topou transar com ele — Dora fala
baixo, perto de mim. Até chego a olhar por dois segundos para a menina
descontrolada, que chora de soluçar.
Andy olha para mim, segurando sua boca para não rir, da mesma
forma que estou preste a gargalhar.
— Trágico! — Balanço minha cabeça com desdém do sofrimento tão
pequeno de Jani, revirando meus olhos e segurando meu riso. Volto a
caminhar, as largando para trás, junto com Jani chorando.
— Não tinha que consolar ela? — Linda corre para o meu lado,
apertando a manta em seus braços. — Ela dorme no mesmo quarto que o meu,
não aguento mais ela chorando.
— Eu só perguntei porque sou curiosa, não porque iria consolá-la. —
Bato na cabeça de Linda, dando de ombros. — Melhor o garoto estar
comendo outra menina do que a Jani chorando por ter transado com um idiota
qualquer. Vai por mim, sei do que falo.
— Você não é mais virgem, Yane? — Quase me engasgo com minha
própria saliva por conta da pergunta de Dora.
Oh, garota impertinente!
— Olha... — Penso em minhas palavras antes de responder sua
pergunta.
Mas o choro alto da outra corta minha linha de pensamento, fazendo
todas virarmos para Jani. Retiro meus óculos, entregando para Andy. Bufando
pelas narinas a cada respirada, caminho na direção de Jani. Ergo meus
braços, apertando minhas mãos nas laterais dos seus ombros magros,
abaixando meu corpo o suficiente para ficar com meus olhos na altura dos
dela. Solto o ar lentamente, observando-a se desfazer em lágrimas. Seu choro
para no momento que chacoalho seus braços, a balançando forte para frente e
para trás.
— Se controla, garota! — rosno com raiva. Quando paro de balançá-
la, vejo sua face vermelha sem reação cancelar o choramingo. — Por que não
quis transar com ele, afinal?
Jani ainda está atordoada, me olhando confusa, piscando seus longos
cílios ruivos.
— Eu... eu queria que fosse com alguém especial. — Sua voz sai
baixa.
— Viu? Está na sua resposta o motivo de parar o choro. Se ele
arrumou outra garota, é porque ele não é especial. Não apressa as coisas,
deixa acontecer quando achar que tem que acontecer. — Limpo seu rosto,
vendo um pequeno sorriso se abrir em sua face. — Ainda é jovem e haverá
muitos Wills que terá que aprender a chutar para fora do seu caminho até
achar o cara certo, ok?!
Ela balança sua cabeça em positivo, aumentando seu sorriso para
mim.
— Vai contar isso para os meus pais? — Balanço minha cabeça em
negativo para ela, apertando a ponta do seu nariz.
— Mas se continuar tratando a Andy mal, eu vou. Tenha respeito
pelas outras pessoas, Jani — falo com a voz séria para ela. — Uma coisa que
vocês têm que meter nas cabecinhas de vocês, é que aqui no convento é só
vocês quatro, umas pelas outras, e não podem continuar sendo umas meninas
mimadas e arrogantes. Uma tem que proteger a outra. Espero que você tenha
me entendido, dona Jani.
— Sim, entendi. — Ela encolhe os ombros, olhando para Andy.
— Ok!
Nós duas voltamos a caminhar para perto das outras, que nos olham,
rindo.
— Ainda não respondeu minha pergunta. — Dora me encara como se
fosse uma advogada do diabo, me confrontando.
— Que isso, GAROTA, é uma inquisição agora?! — Andy estende
meus óculos para mim, rindo da cara de Dora, mas a menina atravessa à
minha frente, me olhando com curiosidade, me fazendo parar de andar.
— Você não é virgem, não é mesmo. — Ela ri, me olhando como se
estivesse descobrindo um grande segredo. — Por isso a madre lhe deixou
longe das outras irmãs. É uma ovelha negra, assim como nós.
Sou obrigada a rir disso. Acho que já evoluí de ovelha negra da
família para o bode colorido do capeta há muito tempo.
— Para de besteira, Dora, claro que sou virgem! — Olho para Andy,
sorrindo para ela, lhe dando uma piscada. — De signo, mas sou!
— O quê? — Andy me olha sem entender o trocadilho e reviro meus
olhos para ela, levando os óculos negros para o rosto.
— Esquece!
O que Andy não entendeu, Dora pescou na hora e já está tagarelando
em meu ouvido, enquanto as outras estão eufóricas junto com ela, a cada
percurso do caminho.
— Poderia nos dizer como é, Yane. Minha mãe nunca fala sobre isso.
E aqui também não. Ninguém nos fala sobre o que esperar.
Movo a cabeça para Dora em negativo. Sem chance, não vou ensinar e
muito menos falar de sexo com essas meninas. Posso ver a madre me
espancando com alguma régua dura das salas de estudo, com pura raiva. Se
descobrir isso, capaz de até infartar. E não vou mentir que ver a cara da bruxa
bigoduda branca, feito papel sulfite, por enxergar que essas meninas precisam
saber muito mais do que apenas rolar, deitar e dar a patinha, seria
satisfatório.
— Tentador. — Rio, imaginando a cena da velha empacotando.
— Você vai nos ensinar? — As vozes de Linda, Dora e Jani, que
gritam à minha frente, me faz sair da minha imaginação, piscando
ligeiramente. Volto a prestar atenção nelas.
— Querem aprender sobre sexo? — Olho para o rosto de cada uma,
que sorriem. Andy para ao meu lado e observa silenciosa o chão, sem dizer
nada. — Quer aprender sobre isso, Andy?
Ela apenas sorri, com sua cabeça abaixada, deixando suas bochechas
brancas toda vermelha. Bato meu braço no cotovelo dela, a fazendo rir.
— Vou achar um lugar para estudarmos, longe dos olhos daquela
bigoduda — respondo baixo, ouvindo os gritos de todas.
— Eu tenho tanta coisa para perguntar! — Linda bate suas mãos uma
na outra, olhando animada para mim.
— A gente pode usar o prédio antigo. — Dora ergue os dedos,
apontando para longe. — Ninguém mais vai lá, podemos dizer que vamos
arrumar, já que é onde todos guardam a bagunça do convento.
Observo o grande prédio afastado ao sul do jardim do convento, com
suas portas de madeiras trancadas.
— Eu vou falar com a madre.
Elas gritam, rindo, enquanto caminhamos de volta para o convento.
— Faxina? — A madre, sentada do outro lado da sua mesa, dentro do
seu escritório, me olha de cima a baixo, como se estivesse sentindo o cheiro
da minha mentira.
— Eu acho que poderia ser muito bom, madre. Há tempos que aquele
lugar vive uma bagunça — Mand fala, rindo ao meu lado, olhando para a
madre com seu sorriso sempre otimista.
Claro que Mand adorou a história da organização, ainda mais quando
lhe disse que foi ideia das meninas. Apenas omiti a parte que elas querem
aprender outra coisa, além de limpar paredes e janelas.
— Elas ficam dentro daquela sala o dia todo, brigando, posso ensinar
sobre organização, como manter a limpeza de uma casa, sou boa nisso, em
cuidar do lar — respondo baixo, com a voz calma. Não é de todo uma
mentira, eu realmente gosto de manter aquele trailer organizado.
Claro que não posso chamar aquela caixa espremida de casa, mas lá é
o único lar que conheço. A madre vira seu rosto, olhando para a janela, como
se estivesse pensando sobre o assunto com cautela. Seu rosto se volta para
mim, apenas consentindo com a cabeça.
— Saiba que vou estar com meus dois olhos em cima de você. — Sua
voz soa feito um rosnado baixo, e cerra sua boca, o que apenas deixa mais
visível o tenebroso bigode.
Dou um passo à frente, sentindo meus dedos coçando, com vontade de
pegar uma pinça e arrancar isso do rosto dela.
— Por um acaso tem uma pinça aqui no convento, cera quente ou até
mesmo um barbante fino? Porque se me der dez minutos, eu tiro...
— YANE! — Mand grita, entrando na minha frente, me puxando pelo
braço. — Muito obrigada, madre, muito obrigada pelo voto de confiança.
Ainda posso ver a velha erguer os dois dedos, levando-os para frente
dos olhos dela e depois apontando para mim, antes de Mand nos arrastar para
fora da sala, rindo sem parar.
— Não acredito que ia falar do bigode para a madre! — Mand se
encosta em meu ombro, caindo na risada.
— Claro! Alguém tem que falar para a mulher que ela tem uma
taturana em cima da boca. — Olho para ela, levando meu dedo entre meu
nariz e meu lábio superior. — Não consigo me concentrar no que ela fala,
porque fico olhando para aquele bigode.
— Oh, meu pai, Yane, você é única! — ela suspira, tentando parar de
rir, me dando um abraço forte, o que me faz ficar sem saber o que fazer com o
gesto tão espontâneo e afetivo de Mand. — Ai, estou tão feliz que conseguiu
que aquelas meninas se interessassem por alguma coisa!
— São adolescentes, Mand. — Sorrio para ela, dando tapinhas suaves
em suas costas, tentando deixar uma distância entre nós duas.
Ela se afasta, tagarelando sem parar sobre como será bom para as
meninas, enquanto vou me aproximando da janela. Meus olhos se perdem do
lado de fora, onde tem o grande muro ao fim do jardim. Tenho tentado nesses
últimos dias não pensar em como eu quase beijei aquele guardinha. Não
consigo me lembrar quando foi a última vez que beijei um homem... Minha
primeira regra quando me vi tirando a roupa para não morrer de fome, foi de
nunca beijar os clientes ou sair com homens escrotos. Mas realmente faz
tempo que não beijo. Talvez a carência, que há muito tempo me consome, e
esse convento, estejam fazendo mal para a minha cabeça, mesmo eu negando
que aqueles olhos azuis, tão profundos quanto a água da piscina, tenham
mexido comigo. Até fiquei esperando por algum velho vir reclamar sobre a
invasão, ou a madre me chamar à sala dela por entrar na propriedade vizinha,
mas nada aconteceu.
— Murati. — Me viro para Mand, que está ao meu lado.
— Como? — Desvio meus olhos da janela para ela, sem entender.
— A direção que está olhando, lá do outro lado do muro, pertence à
família Murati. Na verdade, tudo isso aqui pertence a eles, mas foi doado
para a igreja — ela fala todas essas informações sem parar. — São uma das
famílias mais antigas da região.
— Eles têm bastante funcionários? — sussurro, me sentindo uma tola
por perguntar isso.
— Não que me lembre muito. Tem o mordomo, que já vi, e o
motorista.
Ergo meus olhos para a direção do muro outra vez, ainda sentindo a
quentura do meu corpo aumentar com as lembranças das mãos fortes me
segurando. Nunca um homem tinha feito meu coração bater tão rápido como
aqueles olhos azuis, com sobrancelhas claras combinando com seus cabelos
loiros.
— Está bem? — Olho para Mand, sorrindo, balançando minha cabeça
em positivo, tentando tirar esses pensamentos tolos da minha mente.
— Acho que estou passando tempo demais com aquelas garotas. —
Rio para ela.
— É quase uma santa, Yane, por conseguir dar conta daquelas garotas.
— Mand sorri para mim, batendo sua mão em meu ombro.
A revirada dos meus olhos, em deboche, vem na mesma hora, ao ouvir
suas palavras. Na minha vida já fui chamada de muitas coisas, mas, com toda
certeza, não sou nada santa.
— Olha, uma vez um cara disse que fiz milagre por ele — falo para
Mand, rindo. Ela arregala seus olhos, me olhando sem entender. — Esquece!
— Seguro minha língua para não espantar a pobre noviça, apertando meu
passo e voltando a andar. — Venha, Mand, ainda não me contou o que tem
para o jantar.
— O que fez para ajudar o coitado? — Ela corre para me alcançar.
— Eu me ajoelhei, Mand. — Gargalho, vendo-a não entende nadar.
É estranho como de uma forma muito esquisita, me sinto bem ao lado
de Mand, chegando até a sentir algo mais próximo de uma relação familiar
com ela, mesmo eu esquecendo qualquer tipo de filtro na hora da conversa.
CAPÍTULO 07
BEIJOS, CURIOSIDADES E CONSELHOS
Yane Rinna

O resto da semana passou voando. As meninas adoraram a ideia de


conseguir um canto para elas. Mas, mesmo sob protestos, eu realmente fiz
todas elas arrumarem o lugar empoeirado, organizando o tanto de entulho que
estava descartado lá dentro. A cada dia explico algo novo sobre o corpo
delas, o que as fazem nem piscarem, ouvindo atentas. É impressionante que
essas famílias burguesas mandem essas meninas para cá para se tornarem
ótimas esposas, mas não têm um segundo de tempo para conversar com suas
filhas. E em meio às teias de aranhas e poeira, tagarelando sobre menstruação
precoce, beijos, curiosidades e conselhos, fui descobrindo um pouco mais de
cada uma.
DORA, A CABEÇA CRIMINOSA: pais divorciados. Seu pai tomou a
guarda dela da mãe, proibindo a ex-esposa de chegar perto da menina. Ele já
está em seu quinto casamento. Sua mãe, na outra ponta da balança, está em lua
de mel com um rapaz doze anos mais novo que ela. Dora fica em um internato
na França e vem para o convento nas férias. Seu pai escroto avisou a ela que
se fosse chamado mais uma vez em qualquer lugar por conta do
comportamento rebelde dela, lhe mandaria para um internato na Suíça, de
onde ela apenas sairia com vinte e um anos. Aos quinze anos, Dora já passou
por mais internatos que qualquer outra menina que já conheci.
JANI, A VINGADORA DO QUARTETO: Jani não é só uma moça
magra e alta, terrivelmente bela para uma adolescente, é extremamente
encrenqueira, alguém que nunca foge de uma briga. A linda ruiva sofre de
ansiedade por conta da mãe, uma ex-miss da Carolina do Sul, que joga toda a
necessidade de um corpo perfeito em cima da filha, alegando que Jani não
terá um bom marido se não for bonita o suficiente para se destacar das demais
meninas. E a excêntrica mulher fútil não percebe que sua filha está
desenvolvendo anorexia com apenas quatorze anos de idade. Peguei Jani
chorando no banheiro depois de ter vomitado todo seu almoço. A levei para a
cozinha, e junto com a Mand obriguei ela a se alimentar outra vez, não a
deixando correr para o banheiro. Tive uma conversa severa com ela, que se
continuasse indo por esse caminho, não ficaria bonita, mas sim uma caveira,
apenas de pele e osso.
LINDA, A ALMA CRIMINOSA: Linda é apenas a pequena Linda,
com espírito forte e uma boca ligeira. Seus pais pensaram que seria legal
ensinar ela a ser uma boneca de porcelana, frágil, usando de superproteção
para cuidar dela, a arrumando como uma Barbie perfeita, com seus cabelos
loiros parecendo favos de mel, roupas e joias caras e aulas de etiqueta. A
tornaram uma perfeita bonequinha de luxo da alta sociedade, mas acho que
eles fazem isso tudo porque não querem ver que, na verdade, a Linda não tem
as mesmas vontades que as deles. Depois de pegar ela diversas vezes
olhando as meninas com interesse diferente, percebi que por trás da menina
mimada e arrogante de quinze anos, se esconde alguém que deseja ser livre
pelo que realmente é.
ANDY, A CRIMINOSA MISTERIOSA: essa me dá trabalho e ainda
estou tentando entender o que diabos ela está fazendo junto com as outras três
garotas malcriadas. Andy fica com a face vermelha sempre quando começa a
falar, é visível seu problema de insegurança por conta do sobrepeso. E ela é
tão linda quanto as outras três, com seu rosto delicado e olhos expressivos,
que não entendo o porquê de ela não enxergar a beleza que vejo nela. Sua
mãe morreu quando ela tinha três anos. Ela estuda em horário integral em um
colégio de padrão alto em São Francisco e mora com seu pai, vindo para o
campo nas férias. Mas Andy se fechou quando ele arrumou uma aspirante
noiva magrela e megera, que a faz se sentir para baixo com os piores
comentários maldosos que a vadia pode fazer, de como Andy sempre será
uma gorda sem futuro, dependendo que algum pretendente se aproxime dela
por conta da fortuna do pai. E para não o deixar chateado, Andy se cala sobre
os comentários maldosos da mulher. Eu já odeio tanto o pai de Andy quanto a
vadia da noiva dele. Mas a silenciosa Andy possui um belo talento para
desenhar, que não conta a ninguém. Depois de muita luta, finalmente consegui
ver o que ela tanto escondia em seu caderninho, e fiquei maravilhada com
cada desenho lindo que ela faz.
Não compreendo qual é o problema dessas famílias, como podem
achar que essas meninas têm que carregar toda carga emocional que eles
socam garganta abaixo nelas?! Elas são terríveis? Sim, isso é verdade, mas
em partes. A verdade é que ninguém parou para conversar com elas, para
saber o que realmente tem atrás desses comportamentos rebeldes. Mas para
algo serviu as curiosidades das quatro garotas. O serviço e a arrumação do
prédio estão fazendo elas ficarem unidas, se aliarem, pois sabem que se a
madre descobrir sobre as aulas diferenciada delas, isso irá acabar como em
um passe de mágica. E é assim, usando a curiosidade delas sobre seus
corpos, sobre sexo, namoros e beijos, que consegui unir as quatro
mosqueteiras. Dora, Linda, Jani e Andy.
Sorrio, as observando escondida, de longe, na hora do almoço no
refeitório. Me pego afeiçoada as quatro criaturas mais do que deveria. Gosto
de ver o quarteto conversando junto, entre risos, e até Andy sorri mais e não
sente vergonha de se expressar. Jani não chorou mais nenhuma noite por conta
do seu Will, Dora não foge do seu dormitório para banhos noturnos e nunca
mais desenhou um pau no rosto de ninguém, e Linda aprendeu a arrumar as
coisas sem esperar que alguém faça por ela. E como recompensa pelo bom
desempenho delas, descolei um filme em DVD com aquele contrabandista
fajuto do jardineiro, que me levou meus dois batons. Tenho minhas
desconfianças de que é mesmo para a mulher dele que ele leva as coisas que
pega de mim, mas independentemente do que ele faz com seus pagamentos,
uma coisa é certa: o velho é um contrabandista de primeira. E com a ajuda
dele, e muita resistência da minha parte para entregar meus batons, fiz cada
uma delas chorar assistindo Meu primeiro amor no aparelho antigo de
televisão e DVD que encontramos no meio das tralhas dentro do prédio
abandonado.
— Então, o que vocês entenderam do filme? — Acendo a luz da sala,
que tínhamos organizado no segundo andar do prédio abandonado,
caminhando para perto da janela e abrindo as cortinas.
— Que se você sofre com anafilaxia[8], é idiotice querer se
aproximar de um enxame de abelha. — Dora é a primeira a me responder,
ficando de pé e caminhando para desligar os aparelhos.
— Olha, não é bem isso que estou perguntando. — Ergo meus dedos,
coçando meu cenho, segurando o riso. — Mas esse também foi um bom ponto
de vista, Dora.
Jani funga seu nariz, enquanto ainda tenta se recuperar da morte de
Thomas ao fim do filme. Ergue seus olhos vermelhos para mim, limpando seu
rosto.
— Que Macaulay Culkin era uma gracinha em 1991. — Fecho meus
olhos, respirando fundo, balançando minha cabeça em negativo.
— Vocês não estão colaborando, meu pai! — resmungo, caminhando
desanimada na direção da outra janela e abrindo-a.
Não escolhi esse filme aleatoriamente, pelo contrário, era justamente
para mostrar para elas qual a visão que Vada tinha sobre todas as dúvidas que
surgiram no decorrer do enredo, em como ela estava perdida e confusa com
sua paixonite pelo seu professor, como ela se via entre a mudança da sua
infância para o descobrimento da adolescência, em até como era o fato de ser
criada apenas pelo pai viúvo e sua casa servir de uma funerária.
— Conflitos... — O som baixo da voz de Andy me faz virar para ela,
abrindo um largo sorriso em minha face.
— Isso aí, gatinha. — Aponto para ela, lhe dando uma piscada. —
Vada estava passando por um luto da sua infância para a pré-adolescência.
Ela se sente estranha e perdida o filme todo, tendo que lidar com a profissão
do pai, a falta da mãe dela, o sentimento ao qual ela desconhecia e que nutria
pelo professor, e sua amizade com Thomas, que se transformou no primeiro
amor dela.
Cruzo meus braços, olhando para os rostos que me encaram.
— Não precisam se precipitar, não tem que se sentirem obrigadas a se
adaptar ou serem o que ainda não são. — Repouso meu olhar em Linda e Jani.
— Vocês não são adultas, mas também não são crianças. Nesse momento
estão descobrindo a adolescência de vocês, e isso já é bastante confuso.
Ando preguiçosa pela sala, descruzando meus braços, passando meus
dedos pelo hábito negro.
— Vada não se via como uma adolescente bonita, ela apenas
acreditava que ia morrer a qualquer momento, de tantas doenças que ela
poderia achar. E o pai dela não compreendia o porquê daquele
comportamento estranho. — Dessa vez é em Andy que deixo meu olhar parar,
sorrindo brandamente para ela. — Isso não quer dizer que o pai dela não a
amava, ele apenas não sabia lidar com o crescimento de Vada. Alguns adultos
são assim também, ficam confusos e esquecem de como pode ser assustadora
a adolescência.
Suspiro, deixando um sorriso no canto dos meus lábios se abrir
quando meus olhos param na terrível Dora, que me encara com seus olhos
expressivos e atentos.
— Vada achava que iria morrer, e por isso ia todo santo dia ao
médico, sempre com uma nova doença, mas ela estava ótima de saúde. Talvez
essa foi a única forma que ela conseguiu achar para se conectar com a sua
mãe morta. — Balanço meu pé lentamente no chão, enquanto deixo Dora
compreender o que estou lhe dizendo. — Mas a verdade é que muitas vezes
estamos querendo atenção, temos alguns tipos de comportamentos que são
uma forma de um grito de socorro, para nos ajudar a lidar com a confusão que
está nos pegando. E na grande maioria são condutas que os adultos apenas
veem como malcriação, mas existem outros meios de conseguir chamar a
atenção de alguém.
Elas suspiram, com seus olhos brilhando uma para a outra, se
levantando do chão. Olho para o relógio velho, que tinha achado, trocado a
pilha e deixado na parede, para não ter perigo de perder a hora e acabar
fazendo umas das irmãs aparecer por aqui de supetão. Ficamos mais uma boa
parte do tempo falando sobre o filme e como elas se sentiram ligadas à Vada,
com todas suas dúvidas e medos sobre a adolescência. Sou obrigada a rir
quando Linda fala que só daria o primeiro beijo dela se fosse embaixo de um
salgueiro, como foi o de Thomas e de Vada. Voltamos à nossa faxina, indo
para os outros cômodos repletos de caixas, as quais tivemos que organizar
uma por uma, e eu estou me sentindo bem, como nunca me senti. Acabou que
gostei de passar meu tempo com as quatro garotas, mais do que imaginava.

Estou fazendo faxina nos banheiros no dia seguinte, dessa vez não
porque dormi durante o terço, mas sim porque a madre me pegou fumando no
jardim durante a noite. Já tinha lavado oito lavabos quando Mand abre a porta
com força, me chamando apavorada, com seu rosto vermelho e a respiração
entrecortada.
— As meninas. — Ela apenas precisa falar isso para me deixar em
alerta.
Largo o balde com o rodo e a vassoura no chão, correndo pelos
corredores do convento com as luvas de faxina em minhas mãos e um avental
preso em minha cintura, seguindo o som de gritos que ecoam pelas paredes do
convento. O som histérico aumenta assim que me aproximo da porta do
dormitório das meninas. Ouço os xingamentos delas e já estou preparada para
puxar a orelha da Dora assim que reconheço sua voz. Certeza de que ela se
meteu em uma briga outra vez. Mas não é ela que está no centro da briga, e
sim a silenciosa Andy. Seu rosto branco agora está vermelho, com raiva, se
retorcendo em ira. O peito sobe e desce, acelerado, respirando com força. As
outras três estão perto dela, a segurando pelo braço, como se estivessem lhe
contendo. Passo meus olhos pelo quarto, o vendo todo bagunçado, com as
camas empurradas. Uma menina que não conheço está ao chão, com seu rosto
sangrando, segurando o nariz inchado. E para me ajudar, a irmã que está
consolando a menina é a freira do “shh”, a qual conheci no primeiro dia que
fui arrastada de madrugada para rezar o terço.
— Andy. — Corro para ela, parando à sua frente e a olhando
preocupada. — O que aconteceu?
— Ela me bateu, essa baleia me bateu. — A menina do nariz
sangrando chora, escondendo seu rosto no peito da freira.
— Sua vadia mentirosa! — Dora grita com raiva, erguendo o dedo e
apontando-o para ela, mas a puxo com o braço, a fazendo ficar quieta.
— Ela que começou, Yane — Linda fala, parando ao meu lado, com
seus punhos fechados na lateral do seu corpo.
— Essa cadela insultou a Andy! Ninguém chama nossa amiga de
baleia. — Estou muito confusa para entender a cara de raiva de Jani
defendendo Andy.
— Ela começou tudo, eu não falei nada, ela me agrediu. — Me viro
para a menina no chão, vendo sua cara falsa olhar com dor para a freira,
como uma atriz de segunda categoria.
— Se não tivesse falado nada, não estaria aí no chão. — A freira
perto dela ergue seu rosto para mim, me olhando com raiva.
— O que disse para essa jovem, irmã? — Ela passa seu olhar de mim
para Andy, e a aperto nos meus braços, como se pudesse a proteger do olhar
frio dessa mulher.
— O que ouviu. Porque nós duas sabemos que você não é surda. —
Ergo o rosto de Andy em minhas mãos, olhando no fundo dos seus olhos, não
perdendo mais tempo com a irmã Nil. — O que ela te disse, gatinha?
Seus olhos de raiva agora estão nublados em um choro doloroso,
deixando as lágrimas rolarem por sua face, escondendo seu rosto em meu
peito, me abraçando com força. Retribuo seu abraço, mesmo sendo pega de
surpresa, mas por mais que eu não seja de muito gesto afetivo, não consigo
não querer proteger e abraçar Andy com todas as forças.
— Ela falou que Andy deve ter matado a própria mãe por ser uma
porca gorda. — Dora cerra sua boca, olhando com ódio para a menina com o
nariz sangrando.
Viro meu rosto na mesma hora para a menina, querendo eu mesma
bater na cara dela. A menina balança sua cabeça em negativo, chorando com
uma dor falsa para a freira.
— Tudo calúnia! Todas viram ela me bater sem motivo algum, e
nenhuma delas me defendeu. — É mentira da garota, dá para ver no olhar dela
que ela mente.
— Garota, vou fazer você cuspir a verdade no tapa! — rosno com
raiva, apertando Andy em meus braços.
A freira ergue a menina do chão, caminhando para o canto do quarto,
a protegendo embaixo dos seus braços.
— Você é um péssimo exemplo para essas meninas. Eu avisei à madre
que você não era boa influência para estar dentro desse convento.
— Caguei para o que pensa de mim! — falo alto, a vendo se engasgar
e me olhar com o dobro de raiva.
— Irmãs, irmãs, vamos nos acalmar... — Mand tenta interferir,
ficando na minha frente. — Estamos todas com os ânimos exaltados.
Grunho com raiva, abraçando Andy e caminhando para a saída do
quarto. Mand puxa as outras, as levando junto comigo. Já tinha ouvido coisa
muito pior na minha vida, e sei que sempre serei uma inútil, não preciso de
uma freira mal-amada para me falar o que já sei a minha vida inteira.
— Vão ser todas vagabundas do diabo. — Congelo, como se a voz
dela acabasse de ligar meu botão do foda-se quando sussurra isso.
Realmente não me importo de ser insultada, não dou a mínima para
xingamentos. Para quem já foi chamada de todos os insultos que se pode
imaginar pela minha própria mãe, ouvir bosta da boca dos outros é fichinha.
Mas ela me deixa muito brava ao falar isso direcionado para as meninas.
— Yane. — Nem ouço a voz de Mand me chamando, enquanto me
afasto de Andy, caminhando em direção à freira, vendo tudo vermelho à
minha frente, com mão erguida no ar.
— Eu vou dar na cara dessa vadia! — rosno, espumando a ira pela
minha boca.
— Yane, pelo amor de Deus!
Mand já está me segurando pela cintura, enquanto eu e a freira bocuda
estamos nos atracando no tapa.
CAPÍTULO 08
MINHAS MENINAS
Yane Rinna

O olhar severo da madre, que me encara de pé, com seus braços


cruzados ao centro da sala, é como um tiro à queima-roupa. Ela olha de mim
para a freira sentada do meu lado, com o olho roxo. A madre só falta soltar
fogo pelo nariz, de tanta raiva, quando volta a me encarar.
— Eu não conversei com você, irmã Yane? — Ela solta seus braços,
andando de um lado ao outro do seu escritório. — Bateu em uma irmã dentro
dos dormitórios, na frente das alunas!
— Talvez as luvas das minhas mãos possam ter escorregado com
força demais no rosto dela — sussurro, retirando minhas luvas de limpeza
das mãos, deixando-as em minha perna.
A madre trava o passo, se virando, me confrontando, zangada.
— Ela me bateu. Me bateu na frente das alunas! Nunca na minha vida
apanhei de alguém. — Tombo meu rosto para o lado, olhando com raiva para
a freira, que se faz de sonsa.
— Talvez, se tivesse apanhado mais na sua vida, saberia controlar
essa sua língua comprida — sibilo baixo para ela. Quero estourar minha mão
na cara dela outra vez, para ela largar de ser cínica.
— Sua profana de pouca fé!
— Ohhh, mas tem muita cara de pau! — Ergo a luva, estapeando o
braço dela com raiva. — Onde estava sua fé quando chamou aquelas meninas
de vagabundas do diabo, irmã?
— CHEGA, AS DUAS! — O som do tapa forte na mesa nos faz pular
na cadeira, assustadas, e olhamos para frente.
A madre nos encara, balançando sua cabeça em negativo, respirando
com força.
— Pode se retirar, irmã Nil — a madre rosna baixo, tentando manter
toda a paciência do mundo. Me levanto junto com a outra freira, caminhando
para a porta. — Você fica, irmã Rinna.
Solto o ar com desânimo ao ouvir meu sobrenome, vendo a freira à
minha frente com toda felicidade deslavada na cara, sorrindo para mim em
deboche.
— Vou orar por sua alma, irmã — ela cochicha, me encarando e
abrindo a porta.
— Eu vou é meter a mão na sua cara de volta, sua cínica. — Respiro
fundo, me virando para a madre, que está com seus braços escondidos dentro
da manga da bata, de pé à minha frente, me olhando sombriamente.
O som da porta se fechando atrás de mim fica como um eco,
quebrando o silêncio do escritório.
— Olha, eu sei que não foi legal... — Coço minha cabeça, sentindo
esse lenço me estrangular a cada segundo que passo sobre seu olhar de
penitência. — Eu vou embora sem problema algum, não precisa se preocupar
em me enxotar para fora do convento, mas não castiga minhas meninas. Andy
não teve culpa pelo que aconteceu, aquela garota mau-caráter falou algo
horrível para ela.
— Suas meninas? — a madre pergunta, arqueando suas sobrancelhas,
cortando meus pensamentos.
— Sim! Minhas meninas — respondo rápido, sem pestanejar. —
Passo mais tempo com elas que qualquer uma de vocês. Eu as conheço de
uma forma que nem as famílias delas devem conhecer. — Mantenho a firmeza
das minhas palavras, sem desviar meus olhos dela. — Por isso, posso
garantir que Andy seria incapaz de bater em alguém apenas para se divertir.
Ela tem um coração bom, gentil e amável. Não devia estar sentada lá fora
como se estivesse no corredor da morte.
— Ela quebrou o nariz de uma aluna, Yane, e não é a primeira vez que
ela se mete em briga — a madre me responde calma, respirando vagarosa, e
agora, finalmente, descubro o porquê de Andy estar junto com as outras.
— Claro que não é a primeira vez, essas meninas mimadas e
arrogantes vêm para o convento se sentindo superior a todas. Andy fica no
canto dela, aguentando vários xingamentos, e qualquer um pode surtar. —
Começo a caminhar pela sala, de um lado ao outro, enquanto faço a defesa a
favor de Andy. — Não estou dizendo que foi certo... — Ergo minha mão,
fechando meu punho no ar. — Até porque não sou ninguém para falar sobre
isso, mas aquela garota mau-caráter também devia estar lá fora, para ser
repreendida pelas barbaridades que falou para Andy. Ou melhor ainda... —
Paro de andar abruptamente, ficando cara a cara com a madre. — Cadê o pai
da Andy? Onde está ele que não pode tirar cinco minutos do tempo dele para
conversar com sua filha, para saber o que realmente está acontecendo com
ela? — Sinto meu sangue ferver com pura raiva.
— Rinna! — a madre fala baixo, olhando para mim, mas não quero
ouvir. Ela vai me escutar.
— Não, não me corta! Eu sei do que estou falando. Se Andy tivesse
um pai mais presente, que ouvisse ela, talvez ela não se fechasse tanto. E
depois que ela virar uma adulta problemática, sem autoestima alguma, não
tem ninguém além dele para culpar. — Esmago as luvas com raiva em meus
dedos, sentindo tanta dor pela Andy. Lembro dos seus olhos vermelhos de
choro, abraçada a mim, sofrendo com a maldade que ouviu. — Chama ele,
chama esse pai irresponsável! E me dê cinco minutos com esse homem
patético, para ver se não digo tudo que ele precisa ouvir, como ele está sendo
um péssimo pai! — Bato as luvas com força na palma da minha mão, as
estrangulando em meus dedos, como se fosse o pescoço do idiota.
— Rinna, já chamamos ele! — a madre diz, erguendo seu olhar para
mim.
— Ótimo, maravilha... Maravilha! — Solto as luvas, estufando meu
peito para frente. — Esse velho precisa apenas de cinco minutos com a mais
pura verdade sendo jogada na cara dele, e depois pode me pôr para fora
desse convento, se é o que você quer, mas só saio daqui depois de olhar bem
nos olhos dele e dizer para ele pegar a arrogância toda dele, que nem presta
para cuidar da sua filha, e enfiar no meio...
O pequeno som baixo de um pigarro atrás de mim me faz calar. Sinto a
respiração em cima da minha cabeça, enquanto a madre olha para trás de mim
em silêncio.
— Ele está atrás de mim, não é? — A madre apenas balança a cabeça,
confirmando minha pergunta.
Fecho meus olhos, querendo me enterrar em um buraco fundo ao ouvir
o pigarro pela segunda vez.
— Obrigada por ter vindo, senhor Murati. — Abaixo minha cabeça,
olhando para o tapete do escritório, sem coragem de erguer minha cabeça.
— Eu que agradeço por me chamar, madre. — A voz calma fala em
tom sereno, saindo de trás de mim e parando ao meu lado. A madre ergue sua
mão para ele, que beija o dorso da pele.
Observo seus sapatos caros, enquanto bate a ponta lentamente no
chão, se virando de uma única vez para me olhar.
— Boa tarde, irmã. — Reparo sua mão se estender para mim, grande
e sem rugas. Desfaço minha teoria do pai de Andy ser um velho.
Ergo lentamente meus dedos para ele, apertando com educação sua
mão, mas ele me surpreende, as erguendo para seus lábios. Sinto a respiração
quente dele, que acerta minha pele. É um tanto engraçado saber que acabei de
xingar esse homem e agora ele está parado, todo educado, beijando minha
mão. Um beijo quente, que corre por minha pele como se fossem pequenos
choques faiscando em meu corpo, me fazendo ficar elétrica de uma forma
tola. Ao elevar minha face para ele, com apenas o resto de coragem que
minha cara de pau tem, a vejo sumir logo na sequência, assim que olho
diretamente para seus olhos. Ele ainda segura minha mão, depositando um
demorado beijo. Os olhos azuis tão profundos, de uma forma brilhante, me
observam silenciosos. É como se tudo congelasse, me fisgando para esse
olhar que me invade os sonhos desde nosso desastroso encontro. Seus
cabelos dourados, que estão penteados em um belo corte curto para o lado,
tão engomadinho que poderia me fazer rir em qualquer outro momento, mas
que agora me parece ser tão perfeito. Não me recordava de ser tão linda
assim sua face masculina com traços marcantes. Quero gritar, puxar minha
mão, sair correndo, qualquer merda que me tire desse transe, mas sinto aquela
sensação estranha outra vez, como se tivessem mil borboletas fazendo um
ninho em minha barriga. Seus olhos azuis brilham com uma centelha de
divertimento quando percebe minha reação ao reconhecê-lo, deixando um
pequeno sorriso se abrir, mostrando seus dentes brancos e prefeitos, que
poderiam deixar um garoto de propaganda de pasta de dente envergonhado. O
cretino do guardinha gostoso, com braços largos e mãos grandes, que me
segurou na piscina, não era um guardinha da propriedade, o filho da mãe
gostoso é o dono!
— Prazer, Dener Murati. — Nunca uma voz me fez ficar assim, tão
fora de rotação, sendo falada tão baixa de forma normal.
— Essa é a irmã Rinna, que está passando um breve tempo conosco,
senhor Murati. — Puxo minha mão da dele assim que ouço a voz da madre
falando à nossa frente, me chutando para fora desse estado tolo que me
encontro.
Meu Deus, o guardinha gostoso é o pai cretino da Andy!
— Pode se retirar, Rinna. Espere no corredor, que já volto a
conversar com você. — Abaixo minha cabeça, saindo o mais depressa que
posso daqui, sentindo minhas pernas molengas como gelatina.
Que merda foi essa, vadia?!, me recrimino por ter ficado mexida
outra vez por um cara que não vale nada. Merda de dedo podre! A única
diferença é que não se trata de um carinha qualquer, trabalhador da ala do
proletariado, como eu.
— Eu sinto muito, Yane. — Meus olhos param em Andy, que mantém
seu rosto vermelho e inchado pelo choro, soluçando baixinho, correndo em
minha direção. — Vou falar com a madre. A culpa foi minha, não quero que
vá.
— Oh, gatinha, não foi sua culpa. — Meu braço se ergue, levando
minha mão para seu rosto e o limpando.
Meu corpo é enlaçado pelos braços trêmulos, que me apertam forte
enquanto chora em meio a soluços. Sinto sua dor tão forte junto ao choro me
cortar, e não entendo porque me sinto tão estranha ao pensar que não verei
mais elas, nenhuma das meninas.
— Está tudo bem, gatinha. — Deixo meus dedos caírem por suas
costas, a abraçando mais forte e beijando o topo da sua cabeça.
— Eu contei para meu pai que a culpa foi minha. Contei que a culpa
foi toda minha.
— A culpa de bater na freira foi minha, não sua, Andy. — Beijo sua
cabeça, balançando nossos corpos, e me afasto dela lentamente. Meus dedos
se erguem, limpando sua face, retirando as lágrimas das suas bochechas. —
Eu não ia ficar por muito tempo mesmo por aqui, então não fica assim.
— Eu senti raiva pelo que aquela garota falou, Yane. Senti ódio, tanto
ódio, que não pensei, e agora eu vou ficar sozinha de novo. Eu não quero que
você vá.
— Ei, gatinha. — Belisco seu queixo, a fazendo olhar para mim. —
Não vai ficar sozinha, tem as garotas, e nunca, jamais, deixe alguém lhe
machucar com palavras tão cruéis como aquelas que a menina mau-caráter lhe
falou. Está certo que bater não ajuda, e nem pode... — Sorrio, piscando para
ela e abaixando o tom da minha voz. — Mas senti orgulho do seu gancho de
esquerda, por ter acertado a cara daquela vadia.
Ela sorri, limpando seu rosto e fungando junto com seu choro.
— Eu gostei de socar ela também. — Sua voz fala baixa,
cochichando, olhando para trás de mim e se calando.
Me viro, olhando para lá, vendo a madre parada na porta da sua sala,
acompanhada do pai de Andy.
— Obrigado por ter vindo, senhor Murati — a madre se despede dele,
repousando seu olhar em mim. — Rinna, por favor, entre.
Sinto meu rosto queimar por baixo da pele e minha mão formigar
assim que esse homem se vira para mim, me olhando intensamente. Ele
caminha lento, como um felino astuto, cheio de malícia, que se esconde sobre
o terno caro em seu corpo.
— Irmã. — Sua voz é mansa, balançando a cabeça em cumprimento.
Posso ver seus olhos brilharem em pura diversão, vendo meu
desconforto. Sinto toda a minha coragem e a cara de pau que Deus me deu, se
escondendo em algum canto do meu corpo covarde, me largando à deriva
diante dos olhos azuis cínicos. Me separo de Andy, desviando minha face da
dele, e caminho direto para a sala da madre, que me espera na porta. Quando
ela fecha a porta, se encaminhando para sua mesa outra vez, dentro de mim já
sei que é para me pedir que parta do convento.
— Posso pelo menos usar o telefone do escritório para ligar para
Tomas vir me buscar?
— Nesse fim de semana acontecerá uma feira no sábado à tarde, na
pracinha da cidade. As irmãs do convento fazem ato de caridade, servindo
todos os convidados. — A madre permanece com seu semblante fechado,
mantendo sua carranca. — Como uma forma de se redimir seu ato, creio que
será benéfico poder servir as pessoas em alguma das barracas.
— É O QUÊ?! — Arregalo meus olhos, desabando minha bunda na
cadeira, de frente para a mesa dela.
Não preciso dizer que de prestes a ser expulsa para servir comida e
bebida para um monte de gente desconhecida me deixou chocada. Ela fecha
seus olhos, respirando fundo, como se realmente estivesse pensando sobre
sua decisão.
— Também iniciaremos as gincanas semana que vem, isso ajuda as
meninas a trabalharem em equipe, e todo dinheiro arrecadado com trabalhos
vai para a doação do orfanato. Eles precisam levantar fundos para arrumar o
telhado do prédio. — Ela abre seus olhos, balançando sua mão no ar e
gesticulando com seus dedos lentamente. — Cada irmã fica responsável por
suas alunas, e como se mostrou tão veemente em defender suas meninas, devo
deduzir que se sairá bem durante sua participação nas festividades.
— Gincana? — A palavra sai baixa por minha boca, percebendo que
não vou gostar nada, nada disso.
— Não me faça me arrepender, senhorita Rinna. — A madre ergue sua
mão, alisando sua testa.
Ela ergue seus dedos, balançando-os no ar, me deixando saber que é
para me retirar da sua sala. Me levanto, ainda confusa, olhando para as luvas
que seguro em minha mão.
— Por que está me dando uma segunda chance? — Paro meu olhar no
seu, sem entender porque ela não está me enxotando para fora do convento.
— É sua oportunidade de se livrar de mim, por que quer que eu fique?
— Estou me fazendo essa mesma pergunta. — A madre se vira,
deixando seus olhos pararem na vidraça, ficando de costas para mim.
Quando saio de lá, ainda fico um tempo olhando para o chão do
corredor, parada na frente da porta fechada. Deus me ajude, pois eu odeio
gincana!
CAPÍTULO 09
O COMBATE
Yane Rinna

— Então? — Respiro com agonia, sentindo meu nariz queimar com o


aroma insuportável de morango, do perfume da mulher parada na frente da
minha barraca.
— Na verdade, ainda estou pensando. — Ela toca seu queixo, dando
leve batidas com as pontas dos seus dedos em sua pele.
— Está há quinze minutos na minha frente e ainda não sabe se vai
comer ou não?
— Quais os sabores que vocês têm? — Ela tomba seu rosto para o
lado, sorrindo alegremente para mim.
Sinto o tremor no canto da minha boca, com meu maxilar endurecido,
segurando o mesmo sorriso há mais de três horas, embaixo de um sol
insuportavelmente quente, derretendo meu corpo por baixo do hábito negro.
Minha pálpebra esquerda sofre um ataque de tique nervoso, piscando
rapidamente meus cílios, a olhando com gana de esfregar a cara dela no chão.
E por pouco não perco a face feliz, como uma garota de comercial de
supermercado, a qual a madre me obrigou a expressar para todos que se
aproximarem de mim durante a feira. Aperto com força o pegador em minha
mão, como se fosse o pescoço da mulher à minha frente, com sua maquiagem
pesada para uma manhã de sábado, empacando a fila de distribuição de
donuts. Aponto para a placa que está pendurada ao meu lado com a ponta do
pegador de alumínio, respirando profundamente.
— O que está escrito aqui? — resmungo entre meus dentes, com um
sorriso forçado para ela.
— Donuts de chocolate. — A voz aguda me responde, se
aproximando para olhar a travessa de rosquinhas gigantes, lambuzadas de
calda de chocolate, me deixando mais enjoada com seu perfume frutífero.
— Então por que está me perguntando quais os sabores que têm, se
você não é analfabeta? — Testemunho ela arregalar seus olhos, borrados de
rímel, fechando seu semblante ao me encarar. — Vai querer um ou não?
Porque a fila atrás de você está grande.
Assisto ela sair a passos duros, me xingando enquanto se afasta.
Reviro meus olhos com a mais pura raiva de ter que ficar aqui, servindo esse
bando de gente desocupada, enquanto eles se entopem de comida durante a
feira de flores da cidade.
— Quero aquele ali. — Volto minha atenção para o menino roliço,
que sorri para mim, com sardas nas bochechas.
— Você já não passou por aqui agora pouco? — Olho para ele e para
o donuts cheio de calda que ele aponta.
Tenho certeza de que ele já passou quatro vezes na minha barraca
para pegar donuts, em menos de uma hora.
— Claro que não! — a mãe responde, atrás dele, me fazendo a
enxergar em um vestido amarelo gema de ovo, com penugem nas mangas e na
bainha do tecido, em uma versão extragrande do Garibaldo[9], que me faz ter
vontade de quase arrancar meus olhos. — E eu quero um também.
— Claro que quer. — Balanço minha cabeça em negativo, a olhando
com deboche. — Na Vila Sésamo não devia ter donuts, não é?
Cruzo meus braços, prestando atenção na boca suja do garoto repleta
de doce e na boca da mãe dele, que contém confete de rosquinha da banca do
lado.
— Está vendo aquela barraca lá ao fim, perto da cama elástica? —
Faço um movimento com a cabeça, apontando na direção da barraca.
— O que tem lá? — o menino roliço cheio de sardas me pergunta,
curioso.
— Tem suco natural, meu anjo. — Descruzo meus braços, apontando
para a mãe dele. — Leva seu filho para lá e o ensine a ser saudável, antes que
ele desenvolva uma diabete.
— COMO?! — Ela ergue as mãos, segurando os ombros da criança.
— Não está aqui para nos servir?! — Ela arrebita seu nariz metido, falando
alto.
— Reformulando seu comentário — bato as pontas do pegador uma na
outra, quando o fecho com força, apontando para ela —, estou aqui servindo a
Deus. Agora pegue seu rabo gordo, saia dessa fila e leve seu filho para tomar
um suco natural, antes que eu sirva minha mão na sua cara!
— Vamos, meu amor. — A gema de ovo ambulante puxa o filho pelo
braço, me olhando zangada. — Vou conversar com alguma superiora da sua
congregação, sua malcriada.
— E eu vou rezar por você e esse seu pecado da gula, Garibaldo! —
respondo para ela, voltando a encarar a menina que é a próxima da fila.
Estico minha mão, chamando por ela, olhando para trás da pequena e
vendo que essa fila ainda vai longe. E entre sorrisos forçados, vontade de
estrangular algumas pessoas que passam pela barraca e sobreviver ao calor
com essa roupa quente e cinco donuts que comi, como uma forma de aliviar
meu estresse, sobrevivo à manhã e até a metade da tarde. Já estou empilhando
os refratários vazios de donuts, deixando tudo organizado, quando uma voz
animada me chama.
— Yane... Yane, trouxe algo para você! — Ergo meus olhos para
Mand, que se aproxima toda sorridente, iluminada como um raio de sol, que
chega a me sufocar com tanta felicidade em uma pessoa só. — Veja o que eu
encontrei!
Suas mãos balançam com dois espetos de salsichas assadas. Estende
um para mim, quando dá a volta na barraca, entrando por trás, alegre como
uma criança.
— Não é genial?! — Ela olha para o espeto e depois para mim. — É
quase como comer um hot dog, mas no espetinho!
— Mand, isso é salsicha assada. — Belisco a parte de baixo do meu,
levando-o à boca, mastigando com pressa antes que outro doido chegue
querendo donuts.
— Claro que é sem pão ou os condimentos, mas ainda assim é quase o
mesmo que um cachorro-quente. — Ela se aproxima de mim, cochichando. —
E não precisa abrir a boca de forma vulgar para tentar morder ele de uma vez
só.
Dou um passo para trás, olhando para ela, tentando entender a boca
que ela abre, formando um grande “O”.
— Mand, como você come um hot dog, só por curiosidade? — Ela
começa a rir sem parar, fazendo com seus movimentos os seus grandes seios
subirem e descerem no hábito negro.
— Eu como escondido, porque tenho vergonha de ter que abrir a boca
e levar a ponta dele de uma vez só dentro da minha boca perto de outras
pessoas. Faço assim. — Ela finge que está comendo um lanche, me mostrando
perfeitamente bem como seria um boquete de uma mulher com nojo de um
pau.
— Você pode comer ele pelas beiradas, sabia, Mand?! — Caio na
risada, não me aguentando com o rosto vermelho dela quando uma senhora
passa na frente da banca a encarando. — Não precisa começar comendo-o
pela ponta. Vulgar mesmo seria comer esse espetinho de salsicha por cima.
Vejo-a olhando para o palito e depois para mim, ainda sem entender.
— Como poderia ser vulgar? — Me aproximo dela, dando um leve
tapinha em seu ombro.
— Observe!
Abro minha boca, segurando o espetinho de pé, levando a ponta da
salsicha para dentro dos meus lábios, empurrando pouco a pouco. Os olhos
de Mand vão de confusos para arregalados em segundos, quando já estou com
metade da salsicha dentro da minha boca.
— YANE! — Ela tampa seus lábios, rindo, ficando com sua face
vermelha.
Fecho minha boca, empurrando mais do espetinho para dentro,
deixando a ponta da salsicha bater no lado interno das minhas bochechas,
fazendo um volume do lado de fora, apenas para ver Mand rir ainda mais
comigo brincando com ela. O alto-falante no poste começa a tocar Chubby
Checker, e o som de Let's Twist Again me anima com o rock antigo. Deixo o
espetinho preso em minha boca, segurando a mão de Mand e a levando para
cima, dando uma viradinha nela, o que a faz se soltar e lentamente seu quadril
já está balançado junto com o embalo da batida. Me recordo de gostar de
ouvir essa música no Cadillac vermelho do quinto namorado da minha mãe,
quando eu tinha onze anos. Hit era uma cara legal, mesmo parecendo que
tinha acabado de sair da gravação de Grease: Nos tempo da brilhantina[10],
com sua jaqueta de couro preta, seu carro velho e um cabelo lambido, estilo
John Travolta. Foi o único namorado dela que não era um completo babaca e
tinha bom gosto musical. Hit é o mais perto que tenho de uma família. Mand
balança seus ombros, batendo palma quando solto sua mão. Remexo minha
cabeça de um lado para o outro, com a salsicha presa pela metade dentro da
minha boca, e seguro o palito, a soltando enquanto a chupo, me virando para
frente.
— Boa tarde, irmãs.
Meus olhos ficam vermelhos com o vácuo de ar que sugo pelas
laterais dos meus lábios, com a salsicha quase se entalando dentro da minha
boca, por conta do susto que tomo ao ver Andy e o pai dela parados, nos
olhando, só Deus sabe há quanto tempo. Os olhos azuis observam da minha
face à minha boca, e quero morrer por estar parecendo que estou pagando um
boquete para um espetinho de salsicha assada. Giro, ficando de costas na
mesma hora, retirando o espetinho da boca e respirando apressada.
— Andy, que bom ver você por aqui com seu pai! — A voz alegre de
Mand os recepciona, enquanto descarto o espetinho dentro de um dos
refratários vazios e tento achar o resto da minha dignidade, que deve ter se
perdido entre o banho de piscina, o ataque do cachorro tarado, eu falando
horrores dele com a madre e agora o boquete em um alimento. — Está
gostando da feira, senhor Murati?
— Papai me trouxe para passearmos juntos — Andy fala calma, me
dando um belo sorriso quando finalmente movo-me, olhando para ela.
— Andy ficou eufórica ao saber que estavam por aqui. Bolton, nosso
mordomo, nos avisou sobre as festividades da cidade e que as freiras
estariam presentes. — Olho de relance para o austero homem, que fala com a
voz firme, mas que mantém suas esferas azuis presas em meu rosto.
— Fiquei tão feliz, Yane, por saber que você estava aqui. — Sorrio
para Andy com carinho, lhe dando uma piscada. — Gostou de participar da
feira?
— Oh, eu amei! — Balanço minha mão no ar, dando de ombros. —
Nunca me senti tão feliz em alimentar tanta gente.
— Sabia. — Ela se aproxima de mim, como se quisesse me contar um
segredo. — Dora apostou comigo que você iria odiar cada segundo, mas eu
disse para ela que você não iria.
— Pois diga a Dora, na segunda-feira, que ela estava muito errada. Eu
amei. — Estufo meu peito, deixando o sorriso mais descarado que já dei na
minha vida se fazer na minha cara. — Mand está de prova, não é, Mand?
Nós duas viramos, olhando para Mand, que olha para mim repuxando
o nariz.
— Na verdade, vou contar isso para elas amanhã. Papai deu a ideia
de fazermos um piquenique no nosso jardim. Ele foi conversar pessoalmente
com a madre hoje, depois do almoço. — Olho para o homem, que nos
observa atento. — E, adivinha, ela autorizou!
— Não acredito! — brinco com ela, erguendo meus dedos e alisando
sua face.
— Pois acredite! E tem mais, ela autorizou você a ir também. — Puxo
minha mão das bochechas dela na mesma hora, quando entendo o que ela
disse.
— Eu?
— Sim, você. Aiiii, Yane, você vai amar o nosso jardim, não é,
papai?!
Levo minha mão à boca, abafando o surto de tosse seca que me ataca,
forçando o ar a entrar em meus pulmões pelas minhas narinas. O pigarro alto
me faz olhar para o homem, que está arrumando sua gravata, olhando para
outra direção.
— Sim, tenho certeza de que ela vai gostar. — Ele solta um segundo
pigarro, com a voz rouca, repousando seu olhar nos meus, me deixando ver o
brilho intenso de quem está se recordando da mesma coisa que eu.
Começo a tossir mais ainda, sentindo minhas bochechas arderem de
vergonha. Mand, com sua rápida agilidade de lutador de luta livre, desfere
um tapa forte em minhas costas, e quase tenho a impressão de que meus
pulmões vão sair pela minha boca.
— Não devia ter chupado aquela salsicha. — Deus, eu quero morrer,
e quero matar Mand com a mesma vontade que tenho de abrir um buraco e
sumir dentro dele, por ela estar falando isso, enquanto estou sofrendo com um
ataque de tosse!
— Eu estou bem. — Ergo minha mão, me afastando dela para não
receber outro tapa forte nas minhas costas. — Eu apenas preciso de água.
Acho que vou buscar...
— Não, nem pense! Deixa que vou buscar para você! — Andy fala
rápido, me olhando preocupada.
— Acho que na barraca da irmã Duce tem água e refresco. — Mand já
está dando à volta, indo junto com Andy, me abandonando de frente para o
inimigo, sozinha, sem nenhum escudo de proteção.
— MAND, VOLTA AQUI! — grito com raiva, esticando meu braço,
como se eu pudesse puxá-la de volta para não me deixar nessa enrascada.
— Creio que devo pedir perdão por não ter me apresentado
corretamente na primeira vez que nos vimos. — A voz calma e firme fala
séria, se aproximando da barraca.
Meus dedos, com meu braço esticado na direção de Mand, se fecham,
e os trago de volta, deixando meu braço ao lado do meu corpo, virando meu
rosto lentamente para o homem que me encara, com um pequeno sorriso
sacana ao canto dos lábios.
— Acho que deve estar me confundindo com alguém. Nos
conhecemos na sala da madre. — Minha voz solta as palavras rapidamente.
— E o senhor se apresentou devidamente, sr. Murati.
— Suponho que as filmagens das câmeras da minha propriedade lhe
desmentem, irmã Yane. — Minha alma sai do meu corpo, enquanto o vejo
levando as mãos ao bolso da calça, falando isso de forma corriqueira.
— Você gravou aquilo? — Fecho meus olhos, com os batimentos
disparados do meu coração. Tomas me mataria lentamente se eu tivesse dado
uma mancada dessa, de ser filmada! — Me diz que não mostrou para ninguém
aquilo.
— Não, não mostrei. — Suspiro aliviada, abrindo meus olhos e me
assustando quando o vejo tão próximo, a ponto de sentir sua respiração
quente em minha face, tendo apenas a divisão do barracão nos separando. —
Até porque não há gravação para mostrar, e muito menos existem câmeras
perto da piscina. Mas gostei de ver sua reação.
— Oooh! — Abro e fecho minha boca umas duas vezes, percebendo
que ele me enganou, apenas para que eu admitisse que realmente era eu
naquela noite. — Seu... seu trapaceiro!
Desvio meus olhos dos seus, não por estar zangada, mas sim pela
moleza que ele está causando em meu corpo apenas por conta da sua
fragrância que invade meu nariz, me deixando com uma sensação de estar
embriagada.
— Creio que as palavras que usou para me descrever dentro do
escritório da madre foram: irresponsável, patético, arrogante e, se não me
engano, velho. Mas não ouvi trapaceiro. — Tombo meu rosto para o lado em
meu ombro, olhando para o senhor Murati, alisando meu hábito de mansinho.
— Eu disse? Não lembro muito bem o que eu falei. — Mordo o canto
da minha boca, me sentindo inquieta com toda a masculinidade que exala do
seu corpo.
A sobrancelha dele se arqueia, caindo seu olhar para minha boca, me
fazendo observar a dele, que é grande e bonita, uma boca perfeita para beijar.
É tão dourada quanto o tom do seu cabelo. Ele tem um nariz oponente em
linha reta, com lábios grandes, tendo apenas uma pequena diferença entre a
grossura do inferior para o superior, e queixo quadrado combinando com o
molde da sua face. Um perfeito aristocrata cheiroso, que desclassifica
Richard Gere da minha lista de top sexys, não desbancando tanto assim o
protagonista de Uma linda mulher[11], mas o deixando em segundo lugar, já
que o senhor Murati passa a ocupar o primeiro.
— Disse que precisava de cinco minutos do meu tempo. — A voz
dele soa baixa, tirando sua atenção da minha boca para os meus olhos.
Vejo sua mão sair do bolso, soltando o nó da gravata um pouquinho, e
engulo em seco, sendo fisgada pela grande mão, me recordando da sensação
de sentir elas prensando minha bunda.
— É, eu acho que devo ter falado algo... — sussurro, tentando
controlar minha vontade de mover meu rosto apenas um tantinho para frente, o
que já seria o suficiente para sentir qual é a textura dos seus lábios colados
aos meus.
— Então, o que deseja falar... — A voz masculina e rouca que sai dos
seus lábios faz minha nuca se arrepiar.
— Eu... eu... — Minha voz sai trêmula, se igualando ao resto do meu
corpo, que está quente dos pés à cabeça, e dessa vez não é por conta do
hábito.
Posso me ver maravilhosamente bem lhe dizendo para me jogar contra
uma parede, rasgar essa roupa do meu corpo com suas grandes mãos e me
foder de todas as formas que existem nesse mundo, até minhas pernas
esquecerem de como é que se locomovem por conta própria. Um pequeno
sorriso sacana se faz em meus lábios, com todos os pensamentos perversos e
libertinos que posso ter com esse homem me fazendo morder com mais força
a lateral dos meus lábios. O som rouco que sai da boca dele de forma sexy,
me deixa soltar um suspiro dengoso, mas me dou um chute mental, me
obrigando a voltar para a realidade, saindo desse transe safado que estou
tendo. Dedo podre de merda!
— Andy é uma boa menina — falo breve, dando um passo para trás,
pegando minha alma safada e prendendo-a de volta no lugar dela, antes que
eu ataque esse homem diante de todos nessa feira. — Quero falar sobre sua
filha. Ela está passando por mudanças comuns de uma adolescente, e o
problema maior de Andy não é seu sobrepeso, e sim a falta de empatia dos
outros que estão casualmente perto dela.
Vejo sua face mudar na mesma hora, a deixando fechada, com seu
maxilar travado. A sobrancelha se arqueia mais ainda, o fazendo ficar com
aspecto sombrio.
— Está insinuando que não tenho empatia pela minha filha, irmã? —
O corpo dele se endireita, ficando rígido, com uma voz autoritária soando
como um rosnado de um cão bravo ao meu ouvido, o que me faz dar dois
passos para trás, me distanciando ainda mais da divisão da barraca.
— Não digo empatia por sua parte. Mas sobre sua relação com ela,
posso afirmar que tempo caberia melhor, senhor Murati. A verdade é essa. —
Meus dedos passam pelo hábito, como se estivesse realmente preocupada em
alisar o tecido e não o fato de que esse homem me deixa acuada sobre seu
olhar predatório. — Atenção vai muito além de presentes e viagens caras.
Andy precisa mais do que isso, precisa de alguém que a ouça, que saiba
sobre seus sonhos, seus medos, que não a diminua por estar acima do peso e
que seja um bom exemplo.
— Um exemplo? — Ele leva a mão ao bolso da calça, estufando seu
peito e puxando o ar com força, arqueando sua sobrancelha. — Devo deduzir
que estou sendo um péssimo exemplo para minha filha, então?
— Não se atreva a colocar palavras em minha boca! — Não fujo do
seu olhar severo, e muito menos recuo. Dou um passo para a frente, o
confrontando com bravura. — O que estou tentando lhe dizer, é que deve
rever quais pessoas ficam perto dela e, principalmente, como ela é tratada
quando o senhor não está por perto.
A raiva me consome quando me lembro das coisas maldosas que a
futura madrasta de Andy lhe falou, e isso me faz odiar esse homem e
trancafiar essa reação estranha que tenho perto dele. Está certo que não sou
nada santa, mas quem é comprometido aqui é ele, e mesmo assim quase me
beijou naquela piscina, com suas mãos presas ao meu corpo. Concordo que as
circunstâncias não foram muito a favor de nós dois, mas nesse momento estou
me apegando a qualquer motivo que possa aumentar meu ódio por ele. O que
mais vejo dentro daquela espelunca na qual trabalho toda noite tirando a
roupa, é que a grande maioria dos homens não prestam. Desde o grande, o
pequeno, o magro, o gordo, o velho, o novo, os casados. Todos largam suas
parceiras para ficarem de pau duro vendo uma mulher tirar a roupa,
rebolando para eles. Assisti por toda minha infância e adolescência homens
entrando e saindo de dentro da casa da minha mãe, fazendo juras de proteger
e cuidar dela a noite inteira, entre fodas e mais fodas, mas, no outro dia,
quando o pau deles não estavam mais na boceta dela, eles sumiam. Esse
homem à minha frente não é nenhum pouco diferente desses caras que convivi
a minha vida inteira.
— Está fazendo acusações sérias, irmã. — Dou de ombros para ele,
quase rindo do modo que ele me trata, como se estivéssemos dentro de um
tribunal. — Espero que possa mantê-las.
— Não acusei ninguém até agora. Estou apenas dizendo sobre o que
penso e sobre o que vejo. — Cruzo meus braços sobre meu peito, para não
erguer meu dedo do meio e apontar na cara dele. — Fique mais atento com as
influências que leva para perto da Andy.
— Trouxemos água. — Abaixo minha guarda ao ouvir a voz doce de
Andy, que se aproxima junto com Mand. Sorrio, olhando para elas.
— Obrigada, gatinha. — Pego a água, abrindo a garrafa e levando aos
lábios, não perdendo meu tempo olhando para a face carrancuda masculina.
— Não vejo a hora de chegar amanhã e lhe apresentar Spai, o nosso
cachorro...
— Oh, meu Deus! — Abaixo a garrafa, começando a tossir outra vez
ao me recordar daquele cão tarado dos infernos!
A risada descarada é sonora, de tão alta que se faz, me obrigando a
encarar o maldito homem com um sorriso debochado nos lábios, que se
diverte com meu estado, dando uma piscada para mim.
— Spai é educado, acho que vai amar ele.
— Não vejo a hora. — Minha voz sai quase como um choro, sentindo
calafrios no meu corpo e raiva por aquele cachorro ter se esfregado na minha
perna.
— Amanhã terminaremos nossa conversa, irmã — senhor Murati fala
sereno, deixando a mão dele ficar no ombro de Andy, acenando para mim e
Mand.
Vejo-os se afastarem, sendo pega por apenas um único sentimento:
desespero puro, por ter que encarar esse homem amanhã e, de brinde,
reencontrar o cão ninfomaníaco[12].
— Oh, vai ser tão bom seu domingo! — Olho com desprazer para
Mand, que está toda sorridente e saltitante à minha frente.
— Nosso, irmã Mand — respondo seco para ela, estrangulando a
garrafa enquanto a fecho —, não pense que vou para aquele lugar sozinha.
Volto a encarar o homem de terno, que se destaca na multidão,
caminhando com Andy ao lado dele. A face masculina se vira na minha
direção, como se soubesse que eu estou o observando. Um sorriso mordaz se
adorna em seus lábios, como um aviso de que amanhã haverá um novo
combate.
— Mand... Sabe onde posso achar uma ponte com um rio bem fundo e
correntezas fortes por aqui? — sussurro, suspirando lentamente.
— Ponte?! Acho que deve ter alguma sim... — Ela coça sua testa, me
olhando perdida. — Para quê quer uma ponte?
— Para me jogar de cima dela. — Encolho meus ombros, balançando
minha cabeça com desânimo.
Só se eu morrer para conseguir me livrar desse piquenique amanhã!
CAPÍTULO 10
ABAS, CAMADAS DUPLAS E CHOCOLATES
Dener Murati

— Ela está feliz, senhor. — A voz de Boston ao meu lado sussurra


calmo, me entregando um copo de uísque enquanto observo Andy sorridente,
sentada na manta estendida no grande gramado.
— Sim, ela está radiante.
Há muito tempo não vejo mais um sorriso tão espontâneo adornar essa
pequena face, como vem acontecendo nos últimos dias. A casa, como um
passe de mágica, se encheu de vida por cada canto das paredes com a risada
escandalosa da freira afrontosa, que faz Andy rir a cada segundo, junto com
as outras meninas. Me restringi em ficar no meu escritório quando o som da
campainha se fez na porta, avisando que as convidadas tinham chegado, e me
mantive firme com meu propósito de não encarar a petulante mulher, que me
acusou de estar sendo um péssimo pai para Andy. Mas não teve como eu não
me sentir atraído pelas risadas sonoras que repercutiram na mansão quando
ela gritou junto com os latidos alegres de Spai. Agora estou eu aqui, olhando
atentamente para elas pela vidraça do escritório, as vendo em uma conversa,
animadas no jardim, dispersas da minha inspeção. Tento me recordar das
palavras ácidas dessa mulher afrontosa ontem, ao fim da tarde, e penso sobre
meu comportamento com Andy. Sei que não sou o pai mais presente, porém,
cada tempo que tenho, dedico à minha filha. Andy, nos últimos dois anos vem
se fechando, ficando mais reclusa, e não conversa mais tanto comigo como
antigamente, quando me aguardava para ler suas histórias antes dela dormir.
Confesso que queria ser mais presente na vida da minha filha, só que por
conta do trabalho apenas consigo chegar à noite. Tento ser um bom pai para
Andy, um pai melhor do que foi o meu para mim, mas sempre soube que a
falta da presença de Magda iria interferir na vida dela. Magda, uma jovem
tola, que não soube valorizar a única pessoa que verdadeiramente precisava
dela: nossa filha.
— Magda, não vá! — Olho para a face fina jovial da mulher à
minha frente.
— Eu já tomei minha decisão, Dener. — Ela joga suas roupas dentro
da mala, a fechando com força.
— Pense na loucura que está fazendo, eu não posso cuidar de você
se partir!
— Oh, para de ser cínico, Dener! Nunca se preocupou comigo,
nunca se preocupou com nada na sua vida. Acho que Andy é a única coisa
com coração que você já conseguiu amar. — Minha mão soca o espelho, em
um ato de fúria, ao ouvir ela se referir à nossa filha como algo descartável.
— Não ouse chamar nossa filha de coisa, e não pense que não me
preocupo com você. Eu cuidei de você por todos esses anos.
Ela grita com raiva, arremessando um perfume em minha direção.
Desvio a tempo, o vendo se quebrar na parede atrás de mim.
— Seu cretino de merda! Cuidou de mim por pena, apenas porque
prometeu ao meu pai... Se não fosse pelo nosso casamento arranjado, por
sua família maldita, eu teria sido feliz!
— Oh, claro, grande felicidade! A filha mimada, que nunca lavou a
própria calcinha, teria fugido com o motorista para morar na periferia —
grito em resposta para ela. — Isso eu mesmo teria pagado para ver.
Deus, eu tentei desde o segundo que meu pai e o pai dela me
socaram garganta abaixo esse maldito casamento, eu tentei ser um bom
esposo para ela! A família de Magda estava entrando em falência, e como
uma brilhante ideia de merda que meu pai teve, supôs que seria do meu
agrado me fazer casar com uma mulher apenas por conta do sangue nobre
dela. E apenas para me ver um inferno longe dele, eu aceitei, e prometi ao
pai de Magda que cuidaria dela, mesmo não a amando. Nunca na minha
vida vou esquecer como foi torturante fazer sexo com ela, uma boneca fria
e sem calor, e bastou trepar apenas uma única vez com ela, para saber que
nunca mais iria repetir aquele ato. Mas então, dessa única noite do pior
sexo da minha vida, veio o melhor presente que eu poderia ganhar. Minha
doce Andy, delicada e bela, que sempre me alegra nos piores dias que eu
possa ter durante o trabalho. Achei que a maternidade poderia fazer
Magda se acalmar, deixar suas birras e comportamentos hostis de lado,
mas foi o contrário disso. Ela odiava ser mãe, odiava ter que cuidar da
nossa filha, me odiava, odiava qualquer coisa ligada a mim. E não demorou
muito para eu descobrir que ela estava mantendo um caso com o ex-
motorista da família dela, pelo qual ela era apaixonada. Não me importei,
aceitaria qualquer coisa que a fizesse ser uma pessoa melhor e uma boa
mãe para Andy. Só que Magda abdicava da maternidade a cada segundo.
— Estou indo embora, Dener, e você não pode fazer nada para
impedir isso.
— Não estou lhe impedindo, Magda, estou tentando te mostrar o
bom senso. Quer partir? Que parta! — Dou um passo à frente, a encarando.
— Mas saiba que será tudo dentro da lei. Assinará os papéis de divórcio e
não terá nada de mim, nenhum maldito tostão do meu dinheiro verá para
bancar seus motéis e viagens caras com seu motoristazinho.
— Como se atreve a se achar superior a Jeff?! — Magda levanta
sua mão para me bater, mas a seguro no ar. A empurro para trás, tentando
me defender do seu ataque de ira. — Ele me faz feliz como nunca você foi
capaz de fazer. E não pense que não vai pagar a pensão da nossa filha.
— Não vou pagar, não verá um centavo meu, porque você não vai
arrastar Andy para essa sua aventura desmiolada — grito com raiva. —
Minha filha não vai sair dessa casa, e a partir do momento que você passar
por aquela porta, estará por sua conta e a mixaria de herança que sua
família falida lhe deixou!
— Faria isso, não é?! Vai se vingar de mim através de Andy, porque
eu encontrei minha felicidade e você não.
— Não estou me vingando de você, Magda. Estou protegendo a
minha felicidade, minha Andy. Se nossa filha não é a sua felicidade, o
problema é seu. Não cabe a mim ter que lhe ensinar a ser mãe. — Me viro,
caminhando para fora do quarto, parando na entrada. — A escolha será
sua, e as consequências dos seus atos também.
— Você é um filho da mãe frio, que se ressente comigo por eu ser
feliz, por eu ter achado um homem de verdade, que me faz mulher, como
você nunca vai fazer nenhuma mulher se sentir.
Me retiro do quarto dela, indo direto para o meu, onde o berço de
Andy está. Observo minha filha dormir abraçada a um pequeno elefante de
pelúcia, o qual ela ama.
Magda partiu na mesma noite, abandonando Andy com três anos de
idade. Quatro semanas depois de sua partida, antes dela assinar o papel de
divórcio, a notícia da sua morte chegou até mim. Jeff perdeu a direção do
carro por estar dirigindo embriagado depois que os dois saíram de uma
casa noturna, às quatro horas da madrugada, batendo de frente com um
caminhão. Dentro do veículo amassado, com os dois corpos sem vidas,
foram encontradas várias garrafas de bebidas e uma seringa vazia de
heroína. Magda estava se drogando nos últimos meses, a biópsia do laudo
do necrotério apontava seu condicionamento químico. Magda trocou nossa
filha por um amante que a incentivava a se drogar, abandonando a única
pessoa que realmente precisava dela. Minha doce Andy. Me foquei no
trabalho e em criar minha filha. Nunca realmente me interessei por alguma
mulher além de obter o prazer que o meu corpo pedia. Relações de uma
noite e acaba ali. Mas quando percebi que Andy estava se fechando, achei
que seria por falta de uma imagem materna, e foi isso que me levou a
elevar para outro nível minha relação com Venelope, mas no momento que
aquela mulher abriu a boca para me sugerir que seria bom para Andy o
internato, eu soube que ela nunca seria minha esposa.
— Como é o comportamento de Andy quando não estou por aqui,
Bolton?
— Perdão, senhor, mas em qual sentido? — Volto-me para o
mordomo, o olhando atentamente.
— Deixe-me reformular minha pergunta. — Abaixo meu copo, o
deixando sobre a mesa do escritório, levando minhas mãos ao bolso. —
Como é o tratamento de Venelope com Andy quando eu não estou por perto?
O olhar silencioso do velho mordomo é sutil quando desvia sua
atenção de mim para o sapato dele e solta o ar dos seus pulmões lentamente.
— Digamos que nossa pequena Andy não sorri como está sorrindo
agora, senhor. — Balanço minha cabeça em positivo, compreendendo sua
resposta. Me viro, voltando a olhar para a vidraça.
A terrível voz zangada da freira afrontosa repercute em minha cabeça,
enquanto olho para o rosto da minha filha, que está alegre brincando com a
mulher tenebrosa.
O que estou tentando lhe dizer, é que deve rever quais pessoas ficam
perto dela e, principalmente, como ela é tratada quando o senhor não está
perto.
— Porque não me contou, Andy... — sussurro, respirando com calma.

— Estou de olho em você, criatura demoníaca! — Caminho com


preguiça pelo gramado, em direção ao jardim de rosas, afastado da piscina,
ouvindo o som da voz zangada conversar com Spai. — Se tentar chegar perto
da minha perna outra vez, eu te capo!
Me aproximo dos arbustos, dando a volta neles e olhando atentamente
para a freira perversa, com seus olhos negros felinos, semicerrados,
encarando o cão, que abana o rabo todo feliz para ela.
— Acho que Spai gostou de você. — Ela se assusta, levando as mãos
ao coração, fechando seus olhos e os abrindo rapidamente, me encarando.
— Ele é um tarado, isso sim. — Sua voz sai rápida, deixando um
sorriso debochado se abrir em seus lábios. Ela estica seu pescoço, deixando
seus olhos correrem em volta, percebendo que estamos apenas nós dois e o
cachorro.
Nunca me peguei tão intrigado por alguma pessoa como estou pela
peculiar noviça. Tinha solicitado para Stone, meu segurança pessoal, levantar
algumas informações sobre ela. Mas é como se ela não existisse. Sem carteira
de habilitação, dados bancários, endereço fixo ou qualquer coisa que me
deixasse saber algo sobre a misteriosa Yane Rinna. A única coisa que sei é
que é a dona do par de pernas mais belo que já vi, com um traseiro macio,
carnudo e bom de segurar, é ao mesmo tempo a única mulher atrevida o
bastante para me tirar do sério e me deixar curioso sobre ela na mesma
medida. É uma mulher terrível, a verdade é essa. Mas ainda assim me vejo
caminhando para fora da casa quando as meninas entram, conversando, me
deixando notar que apenas uma não está presente entre elas. A peculiar freira
provocante e afrontosa.
— Pensei que estaria se juntando a nós no piquenique, senhor Murati.
— Caminha lenta, dando as costas para mim. O cão, que estava parado em
sentinela, balançando sua calda, toma à frente, se juntando a ela na pequena
marcha.
Fico dois passos atrás deles, tentando não olhar para seu traseiro
roliço, mas falho miseravelmente, o encarando se mover gracioso. Gosto de
observá-lo, ainda mais porque sei o que se esconde por trás daquele hábito,
um corpo belo, com curvas capazes de fazer qualquer homem santo cometer
os piores pecados. Ela me fisga em cada rebolada que seu quadril solta
naturalmente, conforme anda, e isso está começando a me fazer ficar
desconfortável entre minhas pernas, com meu pau despertando a cada
rebolada. Não entendo por que meu corpo responde tão rápido a ela. Yane se
vira de uma única vez, me pegando olhando para sua bunda, arqueando suas
sobrancelhas ao me encarar. Pigarreio, desviando minha atenção para a
roseira, disfarçando meu embaraço por ser pego no flagra admirando seu
gracioso andar.
— Supus que seria de bom tom deixá-las mais à vontade para
conversarem sem uma presença masculina. — Outro pigarro escapa da minha
garganta, e levo meus olhos aos seus.
— Oh, deixe de besteira! — Ela ergue sua mão no ar, balançando para
mim, com uma expressão de bobagem. — Não conversamos nada demais,
apenas sobre beijos, rapazes e qual melhor tipo de absorvente, com aba ou
sem... Sabe como são os assuntos prioritários do mundo feminino.
É a segunda vez que ela me faz gargalhar de uma forma tão livre.
Balanço minha cabeça, voltando a caminhar junto com ela, rindo da forma
debochada que ela fala, piscando para mim.
— Creio que ainda penso ser cedo para ter essas conversas sobre
assuntos prioritários. — Viro meu rosto, parando meu olhar em sua face, que
está relaxada.
— Nunca é cedo para ter essas conversas, senhor Murati. — Ela dá
de ombros, me fisgando com seu sorriso arteiro nos lábios. — Não vai querer
ser pego de surpresa quando tiver parado dentro de uma farmácia, olhando
para uma vastidão de tipos de absorvente, sem saber qual o melhor para
comprar.
— Com toda certeza isso se tornou prioritário para mim agora —
falo, rindo para ela, que balança a cabeça em confirmação. — E qual me
aconselharia a comprar, quando chegar esse momento tão aterrorizante para
um pai?
— Com abas, sempre escolha o com abas. De preferência, com
camadas duplas, e chocolates. — Ela ergue o dedo, apontando para cima. —
Nunca esqueça os chocolates, isso ajuda a acalmar os hormônios femininos.
— Nunca vou esquecer essa dica, prometo. Abas, camadas duplas e
chocolates. — Olho para sua face, desejando que ela não estivesse com esse
véu branco sobre sua cabeça, apenas para me deixar ver seus cabelos outra
vez, que imagino que moldariam sua face, a deixando mais bela sob a luz do
sol. — E quanto aos rapazes, o que me aconselha?
— Bom, isso já é algo natural. — Ela caminha lenta, batendo suas
mãos uma na outra, encolhendo seus ombros. — Sugiro que arrume um porte
de arma e a deixe sempre carregada. — Solto outra gargalhada quando ela
fala de forma rápida e espontânea.
— Isso já tenho. Vou começar a deixar as armas preparadas.
— Oh, meu Deus, não! — Ela ri, se virando e segurando meu braço
com um gesto natural. — Eu estou brincando, não é para ameaçar os coitados.
— Meu coração sente na mesma hora seu toque, fazendo meu peito bater
acelerado. Meu olhar se fixa na mão em meu braço, voltando a olhar para ela.
— Apenas a deixe saber que você a ama, e se ele magoar ela, você vai estar
lá para acolhê-la. Sem brigas ou broncas severas, apenas será o pai dela e
vai mostrar para ela que nunca deve se contentar com um cara indigno da
garota maravilhosa que ela se tornará.
Se perguntassem se em algum momento da minha vida estaria
conversando aleatoriamente sobre absorventes e rapazes com uma mulher e
caminhando sem preocupação pelo meu jardim, eu não acreditaria. Mas ela
faz isso, essa criatura intrigante, ela me prende, me enfeitiça, como uma
pequena feiticeira de olhos negros felinos. Dou um passo à frente, me
aproximando um pouco mais dela, me concentrando em seus lábios. Seus
dentes o mordem na lateral, me fazendo querer ser meus dentes a morder sua
pele, sugando lentamente antes de beijá-la.
— Eu tenho um sério problema com minha língua, porque sempre
solto tudo que vem em minha mente. — Ela sorri envergonhada, suspirando
baixo. — Sinto muito se lhe ofendi ontem, senhor Murati, por não conseguir
fechar minha boca quando devo.
Uma mulher singular, que me deixa confuso, indo de uma criatura
perversa e hostil para risadas alegres e sorrisos ternos. E agora está diante de
mim, me deixando ver uma nova faceta que harmoniza sua essência,
demonstrando em seus olhos uma timidez e uma inocência escondida em seu
sorriso envergonhado. Não traz mais os olhos petulantes de ontem à tarde,
nem a bravura da pequena de discurso eloquente dentro do escritório da
madre. Realmente estou ficando estimulado em saber mais sobre ela. Em
todos esses meus anos dentro do magistrado, acompanhando os julgamentos
que passaram pelo meu tribunal, sempre tenho uma boa leitura de quem está
sentado no banco do réu, e analiso seus gestos com as mãos, as expressões
forçadas em suas faces, o nervosismo, tudo consigo decifrar com clareza, mas
a instigante mulher é um enigma.
Uma freira, uma louca ou uma feiticeira?
— Imagino que algumas das suas acusações estavam corretas, irmã.
— Ela expande um pouco mais seus olhos, os deixando tão belos e redondos,
como de uma pequena coruja do deserto.
— Estavam? — O sorriso pequeno se abre em seus lábios, com ela
balançando a cabeça em positivo. — É claro que estavam. — A mão se
ergue, dando um leve tapinha em meu ombro.
— Como se decidiu pela vida religiosa, irmã? — pergunto sem
hesitar, tentando compreender essa pequena mulher, que me aguça tanto a
mente como meu corpo.
— Bom... — Seus ombros se encolhem, com sua fala se cortando. —
Sabe como é, ouvi meu chamado. — Ela move sua face para outra direção,
escondendo seus olhos dos meus. — Acho que está na hora de eu me juntar
àquelas meninas, elas podem incendiar sua casa...
Antes que ela se afaste, tentando fugir, me vejo falando a primeira
coisa que vem em minha mente.
— E os beijos? — digo calmo, encarando os grandes olhos com
longos cílios negros piscando brandamente, quando ela me encara.
— Beijos?
— Sim. — Confirmo com a cabeça, me sentindo elétrico ao estar tão
próximo dela. — Me aconselhou sobre absorvente, rapazes, mas não sobre
beijos. O que me sugere sobre isso?
Sua outra mão se ergue, parando em meu peito, para deixar um espaço
entre nós, e sinto a minha pele inflamar abaixo da camisa polo ao ter seu
toque em meu corpo. Yane suga o ar com força, respirando rápido, e um baixo
suspiro escapa por seus lábios quando minhas mãos se erguem, segurando
seus cotovelos, permitindo meu indicador circular pouco a pouco sua pele.
— Bom... eu... — Ela fecha seus olhos, esmagando mais um pouco
seus lábios. — O primeiro beijo tem que ser especial, então...
— Tem que ser lento, saboreando cada toque de língua e gosto
roubado. — Uma das minhas mãos em seu cotovelo, escorrega para suas
costas, acariciando-a com deslizes calmos.
— Saboreando... — A puxo de mansinho, a trazendo para mim, tendo
meu corpo ser invadido por uma necessidade gigantesca que me consome
desde o momento que meus olhos pararam nessa mulher nua em meu jardim.
Yane tem me tirado toda a concentração, muito antes de eu ter
conhecimento do seu nome, de reencontrá-la dentro daquela sala no convento.
Apenas preciso fechar meus olhos e todas suas curvas carregadas de volúpia
colonizam minha mente, tomando cada canto e me tirando todos os
pensamentos plausíveis. E mesmo minha consciência tentando me trazer à
razão, por eu estar tendo desejos libertinos e perversos com uma noviça, meu
corpo não está dando a mínima para isso.
— Sua mão, senhor Murati. — Os olhos negros repletos de desejos se
abrem para mim, de mansinho. — E-está n-nas m-minhas c-costas... — ela
gagueja entre seus suspiros.
— Está? Eu não sei. — Espalmo minha mão com mais força, afagando
com pressão sua pele sob o tecido grosso, arrancando outro suspiro dela e
colando meu corpo ao seu. — É, ela está.
Sorrio malicioso para ela, gostando de ver toda a loucura que ela me
causa refletida em seus olhos negros, que queimam em luxúria para mim.
Abaixo minha cabeça, me aproximando da sua face, não desviando meu olhar
do seu.
— Vou cometer um pecado, Yane — sussurro com meus lábios a
poucos centímetros dos seus.
— YANE... YANEEEEEE!
Ela pisca repetidas vezes, como se estivesse despertando, quando
ouve seu nome ser chamado tão distante, e me sinto agitado por estar com ela,
escondidos entre as roseiras, não desejando que ela se afaste de mim. Ela se
move, dando um passo para trás, e Spai, que acha que ela está brincando,
começa a latir, pulando em suas costas, a jogando para cima de mim outra
vez. Apenas tenho tempo de segurar ela pela cintura, colidindo nossos corpos
e caindo no chão. Enlaço suas costas com meu braço, escorregando minha
outra mão para sua bunda, a prendendo em cima de mim. Ela expande seus
olhos ao sentir meu pau raspar em seu ventre. Merda, que minha alma queime
pela eternidade no inferno, mas não a deixarei partir dessa vez sem sentir o
sabor dos seus lábios!
Ergo minha cabeça em um ataque rápido, chocando sua boca com a
minha, roubando um beijo dela. Seus lábios se moldam aos meus, a fazendo
arfar enquanto os abre, me deixando desbravar cada canto do seu interior,
tocando minha língua com a dela. Não é nada do que tinha imaginado, nem
chegou perto do que criei em minha mente. Seu beijo é devasso, me
consumindo tanto quanto eu a ela, me deixando em combustão com a
sensualidade dos seus lábios grossos. Ela geme baixinho quando minha mão
aperta sua bunda com pressão, aprofundando meu beijo em sua boca. Estou
sendo devastado por um beijo com sabor de maçã e incendiado por uma
noviça pecadora. As mãos dela se fixam em meu ombro, cravando suas unhas
na camisa, até eu sentir a ardência em minha pele, deixando seu corpo mole
se encaixar em cima de mim, ao mesmo tempo que prendo mais forte seu
quadril, forçando o meu para cima, para raspar meu pau sobre a roupa dela.
Meus dentes mordem seu lábio inferior, que tanto desejei por todos esses
dias, o sugando devagarinho entre nosso beijo, arrancando de Yane outro
gemido. Abaixo minha cabeça, me afastando da sua boca, sendo cativo do
feitiço que ela acabou de jogar contra mim com esse beijo explosivo.
— Sua mão está na minha bunda outra vez, seu guardinha de jardim
tarado. — Sorrio, deixando minhas duas mãos em sua traseira, apalpando e
esfregando-a em conjunto.
— É, elas estão. — Olho seus lábios inchados e o cacho fugitivo que
escapou do véu, balançando entre nós dois. — Acho que elas gostaram de
ficar aqui.
Estou louco ou realmente essa mulher me jogou uma bruxaria, para me
fazer agir como um jovem afoito, que não se importa de erguer o tecido da
sua roupa e a foder agora, nesse gramado. Ela alavanca apenas um pouco seu
corpo, olhando entre nós dois e mordiscando o canto da sua boca. Flexiono
meu pescoço, verificando o que prende seu olhar, a vendo atenta em cima do
meu pau duro, que está latejando, aninhado abaixo do seu ventre.
— Pelo visto, não foram só suas mãos que pegaram gosto pelo meu
corpo... MEU DEUS! — ela grita, arregalando seus olhos quando o peso do
cachorro se faz sobre nossas pernas. — Oh, meu DEUSSSSS, CÃO
MALDITO!
— Spai, sai... Sai! — Balanço meu pé, tentando tirar o cachorro, que
está se esfregando na perna de Yane. — DROGA, SPAI, SAI!
— O que o cachorro está fazendo? — Nós dois viramos nossos rostos
na mesma hora para a menina loira que está parada ao lado da outra freira,
que tampa o rosto dela.
Yane e eu olhamos da minha mão, que está em sua bunda, para Spai,
que está se esfregando na perna dela, com o corpo dela deitado sobre o meu.
O som das risadas aumenta assim que Andy e as outras duas saem de trás da
moita, perto das roseiras que estão escondidas.
— Droga! — Yane tenta se levantar, mas movo rápido minha mão
para a cintura dela, a prendendo no lugar.
Ela olha para o meu rosto e eu movo minha cabeça entre nós dois, a
lembrando da situação que se encontra o meu pau.
— Oh, meu Deus, alguém tira esse cachorro tarado da minha
PERNAAA!
Nos rolo rápido, a fazendo ficar abaixo de mim, fazendo Spai se
afastar. Me levanto de costas, erguendo o cão em meus braços, o usando
como escudo para tampar o volume do meu pau dentro das minhas calças,
quando giro de frente para nossa plateia.
— Andy, ajude a irmã a se levantar. — Seguro Spai mais forte, vendo
Andy caminhar para Yane, que se levanta brava, batendo as mãos em sua
roupa e retirando a grama.
— Aquilo ali é o pênis dele? — A outra menina, de corte Chanel,
aponta rindo para mim. Minha cabeça se abaixa na mesma hora para ver se
meu pau está descoberto. — Não acredito, Yane, que deixou o cachorro com
o pênis duro!
— Oh, meu Deus, cale a boca, Dora!
Yane corta à minha frente, olhando rapidamente para minha face, logo
encarando a menina e a puxando pela orelha, arrastando Andy pelo braço.
— O que estava fazendo com o pai da Andy? — a ruiva pergunta em
meio a um riso, se afastando com elas.
— Estava apenas conversando com o senhor Murati, e aquele
cachorro tarado me atacou. — Yane vira seu rosto, parando seu olhar no meu,
e nessa hora não sei se ela está se referindo a mim ou a Spai. — Oh, meu
Deus, Mand, para de ficar encarando o membro do cachorro!
Ela grita, chamando pela outra mulher, que se vira correndo e leva a
outra menina junto com ela.
Solto Spai no chão depois de ver todas elas se aproximando da casa,
bem distante da minha situação. O cachorro choraminga ao meu lado, latindo
em direção da mulher que acaba de nos abandonar. Olho pra baixo, vendo
meu pau ainda rígido dentro da calça, e viro para a cara tristonha do
cachorro.
— É, eu sei o que você está sentindo, rapaz. — Esfrego meu rosto,
respirando com força, não acreditando que estou me sentindo precisamente
como Spai.
Chateado, com pau duro e atraído por uma freira sensual.
CAPÍTULO 11
O PLANO
Andy Murati

— Eu estou muito louca ou seu pai está a fim da Yane? — Dora


cochicha baixinho do meu lado, olhando entre os arbustos para a mesma cena
que eu.
— Olha, eu não sei se ele está, mas Yane teve sorte. Seu pai é
bonitão, garota. — Viro meu rosto para Jani, fazendo cara de nojo para o
comentário dela.
— Ecaaa! — Volto a bisbilhotar meu pai e Yane conversando
distraídos.
Meu pai está rindo. Não me recordo de alguma vez ter visto ele assim,
tão relaxado, com ares despreocupados. Realmente parece interessado em
Yane, interessado demais para ser franca.
— O fato é que está rolando o maior climão entre eles. E aceite,
Andy, seu pai é um tiozão gostoso. — Dora ri, me fazendo fechar meus olhos
quando os reviro com as gracinhas delas.
— Nunca pensei que precisava shippar[13] um casal, até ver eles
juntos. — Jani bate seu braço no meu, rindo descaradamente.
— Eu aposto que seu pai vai beijar ela. — Abro meus olhos
rapidamente, assim que Dora fala entusiasmada.
Meu pai está parado a poucos centímetros de Yane, com ela segurando
o braço dele, sorrindo para o sr. Dener. Olho com atenção esse momento dos
dois, e antes que perceba estou sorrindo, ao imaginar papai realmente
encontrando alguém para amar, ao invés de tentar arrumar uma mãe para mim.
E a idiotice que Jani falou segundos atrás agora não me parece tão tola.
— Oh, meu Deus, ele vai beijar ela! — Fico de pé rapidamente,
esticando minha cabeça e olhando por cima da moita, querendo ver melhor o
beijo dos dois, sem as porcarias das folhas me atrapalhando.
Mas os gritos da irmã Mand os interrompe. Me abaixo na mesma hora,
antes que eles me vejam.
— Droga! — Dora esbraveja baixo, pelos dois terem sido
interrompidos.
Tampo minha boca, caindo sentada no chão, ainda não acreditando em
como os olhos do papai estão brilhando ao olhar para Yane.
— Acho que o papai está apaixonado... — sussurro, virando meu
rosto para Dora e Jani, ouvindo os latidos de Spai.
— Você acha? — Jani se move rápido, ficando de pé, com seu
pescoço torto olhando por cima da moita, com seus olhos arregalados.
— Eu tenho certeza, Andy. — Dora segura meu rosto, o virando para
a brecha que tem na moita perto de nós.
— Meu Deus!
Nós três tampamos a boca, segurando o riso, vendo meu pai lascar um
beijão em Yane, com ela caída em cima do corpo dele.
— Uauuu! — Dora tomba sua cabeça para o lado, olhando com mais
curiosidade para a animação do beijo dos dois.
Tampo os olhos dela com uma mão, puxando Jani para se sentar no
chão conosco com a outra, antes que alguém nos veja escondidas entre as
folhas.
— É, o tio realmente está caidinho pela Yane. — Jani me olha, rindo,
tampando sua boca para não sermos ouvidas.
— Literalmente — Dora fala, encostando sua cabeça em meu ombro
para abafar sua risada. — Andy, seu pai acabou de atacar uma noviça.
— Na verdade, Yane não é bem uma noviça... Não consigo entender
por que ela está nesse convento. — Jani leva suas mãos para sua perna,
esfregando sua coxa rapidamente. — Mas de uma coisa eu tenho certeza, ela
não nasceu para a vida de celibato. Yane parece mais uma hippie[14] safada
que curte músicas antigas, fugitiva de Woodstock[15] e que veio buscar exílio
dentro daquele convento.
— Que exagero, Jani. Yane é só diferente... — Retorço meu nariz,
negando com a cabeça para Jani.
— Claro que não é exagero. — Jani solta um tapa em minha perna,
levando seus dedos para sua cabeça e batendo lentamente na lateral. —
Pensem comigo. Yane não é nada parecida com uma religiosa. Tirando Mand,
que sempre está com ela, nenhuma outra freira se aproxima de Yane. E
quantas freiras sabem tanto sobre rapazes, sexo e amor como nossa mentora?
— Nenhuma... — respondo, pensativa com todas essas especulações
que Jani traz à tona sobre Yane. — Mas por que alguém ficaria dentro de um
convento, se não fosse para se tornar uma freira?
— Não sei. Mas sei quem deve saber... — Jani me olha sorrindo e
compreendo a quem ela está se referindo.
— Mand! — O nome da alegre irmã sai dos meus lábios baixinho.
— Na mosca! E tenho absoluta certeza de que se Mand falar, minhas
teorias estão corretas. — Jani cruza seus braços, com um olhar altivo em sua
face. — Yane é uma mulher pecadora como qualquer outra, e definitivamente
ela não é nada santa!
— Meu Deus, eu acabei de pensar em uma coisa! — Dora arregala
seus olhos, virando sua face para mim, segurando meu rosto em sua mão. —
Se Jani estiver correta, Yane é uma mulher livre, e se ela é livre, pode entrar
na jogada. Se o tiozão gostoso estiver realmente tendo um crush na Yane,
aquela vadia escrota da noiva do seu pai já era!
Dora sorri marota para mim, me deixando ver seus olhos brilhando
enquanto imagina todas as possibilidades.
— Não acha que são muitos “se” hipotéticos? — respondo para ela,
mas com minha mente fervendo com todas essas possibilidades. — Se Jani
estiver certa, se Yane for livre, se meu pai estiver realmente gostando dela...
Muitos “se”...
Dora vira meu rosto de volta para a brecha aberta da moita, cortando
meus argumentos, me fazendo olhar para os dois deitados no gramado. Meu
pai está com a cabeça descansando na grama, olhando e sorrindo para Yane.
Ele nunca olhou assim para Venelope. Na verdade, ele nunca olhou assim
para nenhuma mulher.
— Acho que temos grandes chances dos “se” estarem corretos —
Dora cochicha em meu ouvido, soltando meu rosto.
Talvez elas tenham razão em alguns pontos. Jani tem razão em
algumas das suas teorias, Yane não nasceu para ser uma freira. Mas, na minha
percepção, ela é a única naquele lugar que nos entende, que olha de verdade
para nós e que se interessou pelo que nós quatro sentimos, fazendo a gente se
sentir feliz ao lado dela. Até Yane aparecer, nós quatro nunca fomos amigas,
apenas nos unimos esse ano, com as aulas da Yane, e eu me vi tendo amigas.
Nós quatro conversamos sobre tudo: os medos, a relação com a família, e me
sinto bem em ter amigas. E se Yane conseguiu fazer isso pelo quarteto, tenho
certeza de que ela pode fazer isso com o papai. E é nesse segundo, admirando
os dois, que tomo uma única decisão.
Se papai sempre tentou arrumar uma mãe para mim, acho que agora
está na hora de eu arrumar uma mulher para ele.
— Eu tive uma ideia! — Volto-me para as meninas, as olhando
entusiasmada. — Mas eu vou precisar de ajuda, muita ajuda!

Dias depois

— Achei que isso era para ser um trabalho em equipe.


Dora resmunga ao meu lado, segurando o balde com água e olhando
para Yane, que está sentada em uma cadeira, no canto do estacionamento de
uma lanchonete sem movimento, se protegendo embaixo da única sombra que
tem nessa merda de lugar, balançando o pé dela lentamente, enquanto folheia
uma revista. Yane abaixa apenas um pouco as lentes escuras da sua face,
olhando para nós com um sorriso forçado em seus lábios.
— E é! — ela responde rápido, estourando uma bola de goma de
mascar e nos encarando. — Trabalho em equipe entre vocês. — Seus dedos
se erguem, apontando para nós, voltando para sua leitura e nos ignorando.
— Pensei que iria nos ajudar, dar algum apoio... — Jani a encara,
ganhando de Yane apenas uma longa respirada.
— Vai, equipe! — Yane ergue seu braço com punho fechado, o
movendo para cima e para baixo no ar, debochando da gente. — Viu, não
podem me acusar de não dar apoio moral a vocês.
— Grande apoio — Dora a responde, revirando os olhos com raiva,
soltando o balde no chão com força.
— Por que escolheram esse ponto, que quase ninguém passa, para ser
o nosso? — Linda abaixa o cartaz, suspirando com desânimo. — Já não basta
o tanto que fizemos essa semana, vendendo um monte de biscoito de porta em
porta, depois pedindo contribuição na entrada do supermercado? Por que
temos que ficar aqui, lavando carros por cinco dólares, sem que uma porcaria
de veículo passe nessa rua esquecida por Deus?
Suspiro desanimada, olhando para o vidro de conserva no chão, o
qual tem apenas três notas de cinco dólares dentro dele. Todas as equipes de
alunas tinham ficado com pontos legais e mais movimentados, ou outra tarefa
mais divertida durante a gincana, mas nós ficamos apenas com o que ninguém
queria fazer, é quase como se elas achassem que não conseguiremos
arrecadar fundo para ajudar o orfanato e apenas queriam nos tirar do caminho
delas, nos jogando para bem longe.
— Não podemos dizer que passamos mal por conta do sol, ou sei lá,
pode ser também que você caiu e quebrou a perna, assim voltamos para
nossas aulas? — Jani olha para Yane, quase implorando em desespero.
— Não, não podemos — Yane responde seca, folheando a revista com
preguiça, sentada, aproveitando sua sombra.
— Olá, minhas meninas! — A voz sorridente de Mand nos faz virar
para vê-la, que se aproxima, trazendo uma garrafa grande de limonada e uma
bolsa pendurada em seu braço. — Trouxe refresco para vocês, e vim ajudar
no que precisarem.
Mand olha para o estacionamento vazio e depois para a o vidro
deprimente com poucas notas, deixando um sorriso otimista e amável em sua
face, batendo palminhas depois que guarda a garrafa perto de Yane.
— Ainda está cedo...
— Está parado, Mand. — Linda abaixa a placa de papelão, se
virando para a noviça, completamente estressada. — Já é quase dez horas da
manhã e passaram apenas três carros.
— Na verdade, só dois, o primeiro foi do dono da lanchonete falida,
depois que a Yane o coagiu a lavar o carro dele — respondo, sorrindo para
Mand.
— Coagiu? — Mand arregala seus olhos, olhando para Yane.
— Ela falou para o cara que a alma dele iria queimar no inferno se
ele não lavasse o carro. — Dora cai na gargalhada, deixando a pobre Mand
mais assustada.
— Yane?
— O que foi? — Yane abaixa a revista, retirando seus óculos e
olhando para a irmã Mand. — Não foi bem uma ameaça, Mand, apenas
ressaltei que seria benéfico para a alma dele ajudar as meninas a arrecadarem
dinheiro para a doação do orfanato.
— Bom, vamos tentar pensar positivo. — Mand não acredita muito na
argumentação de Yane, mas sorri para nós, tentando nos animar. — Tenho
certeza de que a qualquer momento vai aparecer mais almas bondosas
dispostas a lavarem seus carros e a contribuírem com fundos para o orfanato.
— Mand, já olhou em volta? — Jani balança a cabeça, atônita, para
ela. — Tirando essa lanchonete falida, que o dono permitiu usar a torneira
d’água, e o brechó na esquina, o único lugar que tem aqui é um bar cheio de
motoqueiros.
Jani aponta para lá, mostrando para Mand que realmente ficamos com
o pior ponto para fazer nossa arrecadação.
— Mas vamos continuar com pensamentos positivos...
Antes de Mand finalizar seu discurso motivacional, um veículo vira a
esquina, dando seta para entrar no estacionamento da lanchonete. Nós seis
chegamos a entortar o pescoço, esperançosas com o carro, mas ele se
encaminha para o drive, parando perto do interfone para fazer seu pedido. O
suspiro de desânimo é um coral entre a gente, nos deixando chateadas.
Voltamos a olhar para Mand, que mantém seu sorriso feliz e nos encara,
batendo suas palminhas.
— Sabe o que vai deixar vocês alegres? Limonada gelada. — Ela
retira copos descartáveis da bolsa, pegando a garrafa e balançando para nós.
Caminhamos para ela, cada uma pegando seu copo e aguardando
Mand o encher com o refresco. O som do carro que foi para o drive se faz,
voltando a se locomover lento, parando perto de nós. O vidro do motorista se
abaixa junto com o do passageiro do banco de trás. Fecho meu semblante,
perdendo minha sede ao ver a cara ordinária de Luci, que sorri para nós
enquanto toma um refrigerante gelado. É a irmã Nil que está dirigindo o
carro, e ela olha para gente e depois para Mand e Yane.
— Vejo que não estão sendo muito afortunadas com a lavagem de
carro — ela fala calma, balançando a cabeça em negativo.
— Na verdade, chegamos quase agora — Mand responde rápido,
deixando sua voz alegre sair mais alta que o normal. — E estamos indo muito
bem. Muito bem!
Dora olha para mim, balançando a cabeça em negativo, não
concordando com as palavras de Mand. Estamos há mais de uma hora e meia
nesse lugar, está uma bosta completa nossa tarefa.
— Vejo... — A irmã dentro do carro fala com desdém, dando de
ombros. — Bom, quando cansarem de ficar embaixo desse sol, podem se
juntar a nós na frente do shopping, estamos fazendo um bazar beneficente...
— Minha mãe mandou uma coleção completa da linha de roupas de
verão da loja dela, para que pudesse ser vendida e arrecadar fundos para o
orfanato — Luci fala, me olhando, sugando seu refrigerante com o canudinho.
— Também estamos oferecendo aperitivos gourmet para nossos doadores. O
que sua mãe mandou, Andy?
Dou um passo à frente, querendo socar a cara dela outra vez. Ela sabe
que minha mãe está morta, apenas quer me provocar de propósito. Dora, Jani
e Linda cruzam os braços, ficando do meu lado, a encarando com a mesma
raiva que estou nesse momento.
— Ah é, eu esqueci. — Luci bate na testa, balançando a cabeça em
negativo. — Você não tem mãe, porque ela está morta. Eu sinto tanto por isso,
Andy.
Seus olhos angelicais piscam falsamente, olhando com pena para mim.
Estrebucho o copo plástico em meus dedos, o esmagando com força,
querendo arrancar Luci de dentro desse carro para lhe dar novos tabefes.
— Não temos aperitivos gourmet, mas temos limonada — Mand fala
sorridente, voltando a bater suas palminhas para dissipar nossa raiva.
— Na verdade, a mãe de Luci foi muito caridosa, nos ajudando a ter
um local tão bom, com uma tenda nos protegendo do sol — a irmã Nil fala
sorridente, olhando para o vidro quase sem dinheiro. — Mas mantenho meu
convite, caso vocês desistam... Afinal, sabemos que não conseguirão muita
doação por aqui...
O som da cadeira sendo afastada e o olhar rancoroso da irmã dentro
do carro se fechando é tudo que precisamos para saber que Yane está se
levantando. Ela caminha lenta, parando entre mim e Dora, passando a mão em
meu ombro e me deixando perto do seu corpo.
— Olá, irmã panda, vejo que seu olho roxo sarou rapidinho — Yane
fala com a voz branda, fingindo doçura e fazendo nós quatro cairmos na
risada ao lembrar dela esbofeteando a irmã dentro do dormitório. — Sabe, eu
fiquei tão feliz com seu convite, que até me peguei imaginado aquela sombra
maravilhosa da sua tendinha com comidinhas gostosinhas, tudo tão fofinho...
— Não tem como não rir com a voz infantil que Yane faz, provocando a freira
dentro do carro. — Mas daí eu fiquei com uma dúvida. — Ela estala a ponta
dos seus dedos, olhando para Linda e Jani.
Yane se vira para Mand, coçando seu queixo e voltando a olhar a irmã
Nil.
— Se tem tudo isso lá no seu bazar beneficente... — Yane solta sua
mão, dando um passo à frente e se aproximando do carro quando se afasta de
mim e de Dora. — Como não tem refrigerante por lá, ou será que até dentro
do shopping acabou? — Ela aponta para Luci, que toma seu refrigerante e
arregala os olhos na mesma hora que Yane fala. — A não ser que você, irmã
pandinha, ficou com muita saudade de mim e veio me ver pessoalmente.
A mulher contrai sua boca assim que a grande goma de mascar na
boca de Yane estoura, a provocando. Irmã Nil olha de Mand para Yane com
raiva, apertando o volante do carro em suas mãos.
— Você é uma criatura desagradável...
— Oh, largue de besteira, não precisa me elogiar tão cedo! — Yane
cruza seus braços, batendo seu pé lentamente no chão, sorrindo para ela e
estourando outra bola da goma.
— Não e à toa que não estão conseguindo nada. Se trata todos de bom
coração que passam por aqui assim...
— Quanto vocês já arrecadaram? — Luci se atravessa na conversa,
esticando seu pescoço para poder olhar para o vidro de conserva.
— Não é da sua conta, sebosa. — Dora entra na frente, tampando a
visão dela, a respondendo com raiva.
— Bom, com certeza não foi muito. Nossa equipe já conseguiu
arrecadar quinhentos dólares. — Luci abre o sorriso mais sacana que pode
em sua cara, falando com a voz alegre.
Isso nos faz ficarmos para baixo com nossas míseras três notas de
cinco paus dentro da porcaria do vidro.
— Vaca! — Jani resmunga baixo, virando seu rosto para mim.
— Do que me chamou, Jani?
— Garotas... Garotas. Isso não é uma competição. — Mand sorri,
olhando para nós e abraçando Jani por trás, como uma forma de contê-la. —
Estamos todas unidas pela mesma causa. O importante é conseguir a doação
para o orfanato...
— Isso mesmo, Luci — irmã Nil fala séria, ainda travando uma
batalha de olhares com Yane. — Mand está certa, não é uma competição, até
porque se fosse, elas já seriam as perdedoras.
O som da bufada com raiva vem da mulher parada à minha frente, que
descruza seus braços e encara com pura ira o carro da freira, que se afasta
quando ela parte, deixando apenas uma fumaça branca para trás, que sai do
cano de escape.
— Vadia! — Yane rosna, apertando a lateral do hábito em seu corpo.
Ela se vira de uma vez só, olhando para nós com seu semblante
rabugento, e caminha a passo firme na direção de Linda, puxando a placa de
papelão da mão dela.
— Me dê o canetão e se vira. — Linda tira o canetão do bolso,
entregando para Yane, e fica de costas para a mulher zangada.
Yane vira o papelão, deixando a parte limpa para cima e usando as
costas de Linda como apoio. Tento ver o que ela está escrevendo, mas ela
ergue seu braço, bloqueando minha visão. Quando ela termina, devolve o
canetão para Linda e entrega o papelão para ela.
— Erga isso bem alto, e fique na entrada do estacionamento. — Yane
para perto do vidro de conserva, se abaixando e retirando de lá as três notas.
Já está caminhando para longe, quando Mand grita por ela.
— Yane... Yane, onde está indo?
— Vou mostrar para aquela vadia quem são as perdedoras!
Dora, Jani, Linda e eu ficamos olhando confusas para Yane, que traça
sua direção rumo ao bar de motoqueiros. Ela atravessa a rua, chamando a
atenção dos homens tatuados e das mulheres vulgares que estão conversando
com os grandões.
— O que acha que ela está fazendo? — Dora leva a mão à frente do
rosto, para bloquear um pouco do sol e conseguir ver Yane.
— Não tenho ideia — respondo, curiosa, querendo saber o que ela
vai aprontar.
— Lembra, eu disse — Jani fala calma, observando Yane atentamente.
— Uma hippie com alma safada.
Yane aponta em nossa direção, conversando com o pessoal, abrindo
um sorriso quando eles riem, balançando a cabeça em positivo para ela. As
duas garotas se afastam do bar, caminhando com Yane na direção do brechó, e
o homem de bigode grande com tatuagens nos braços entra dentro do
estabelecimento.
— Talvez ela possa estar arquitetando uma vingança contra Luci, vai
mandá-los lá para comer todos os aperitivos gourmet. — Caio na risada com
a suposição de Jani, balançando a cabeça em negativo.
— Acho meio difícil ser isso, Jani — Linda responde, chamando a
atenção da gente.
Nós três olhamos para a placa de papelão com as letras grandes que
Yane escreveu com pressa.
Lave seu veículo e tenha uma visão do paraíso!
— Uma visão? — Dora olha para mim, mais confusa do que eu. —
Como alguém vai lavar o carro e ter uma visão... — Empurro o rosto dela
com as pontas dos meus dedos.
Vejo que as duas mulheres que tinham entrado no brechó com Yane há
pouco tempo atrás estão caminhando para nós, usando apenas uma saia
minúscula e um top tampando os seios volumosos delas. Mas não são as duas
garotas que fazem os clientes do bar saírem para fora, mas sim a mulher de
short jeans curtinho e apertado, que destaca suas coxas grossas, com a parte
superior de um biquíni rosa tampando seus seios. Os cabelos soltos balançam
livres, sem ter mais o véu branco os escondendo. Ela para na frente do bar,
arrancando assobios dos seus telespectadores, os chamando com sua mão,
quando acena para eles. O homem bigodudo, com quem ela tinha conversado
antes, é o primeiro a sair do bar segurando uma caixa de som. Os outros já
estão se dirigindo às suas motos, que estão estacionadas na frente do bar, e as
ligando, deixando o grande barulho de motores repercutir por cada canto,
manobrando na rua suas motos. Logo eles estão entrando como uma procissão
dentro do estacionamento.
— A MADRE VAI INFARTAR! — Olho para Mand, que está
tampando sua boca com seu olhar espantado.
— Olá, gatinhas. — As duas mulheres alegres se aproximam de nós,
sorrindo, com as mãos na cintura. — É aqui que estão precisando de uma
mãozinha para arrecadação de fundos para o orfanato?
— Com certeza! — Dora ri, balançando a cabeça e olhando para os
brincos de argolas das garotas. — Linda, ergue essa placa como Yane pediu,
e Jani, enche mais baldes...
Assisto as duas mulheres se aproximarem de Dora e pegarem os balde
no chão, que tem água e sabão, indo em direção às motos que estão sendo
estacionadas perto de nós. Me assusto quando um homem alto, todo tatuado,
usando um colete, com braços de fora, para ao meu lado, abaixa seu olhar, me
encarando, e logo um sorriso se abre no rosto dele.
— É com você que deixo o dinheiro, meu bem? — Balanço minha
cabeça para ele em confirmação, correndo para buscar meu vidro de
conserva.
Quando estendo para ele, arregalo meus olhos, vendo a nota de vinte
paus que ele joga dentro do recipiente. Ele sorri, levando sua grande mão
para minha cabeça e dando um leve tapinha, cumprimentando Mand com um
movimento de cabeça. Quando ela se aproxima de mim, olha para a nota que
se destaca no vidro.
— Obrigada — respondo, sorrindo para ele. — Muito obrigada!
Elevo minha face, olhando o pátio que estava vazio anteriormente, e
que agora está cheio de motos, com algumas já sendo lavadas pelas duas
mulheres de saia e top chamativos, mas é na mulher de short que para meus
olhos, observando-a segurar um balde que Dora entrega para ela. Yane cruza
seus olhos com os meus, e eu sorrio animada para ela. Ergo o vidro,
balançando-o, para que ela veja a nota lá dentro. Yane pisca para mim, me
mandando um beijo, e aponta para o meu lado. Viro meu rosto na direção que
ela me indica e vejo três carros entrando no estacionamento, e mais cinco
motoqueiros parados perto de mim, com cada um esticando uma nota de vinte
dólares na minha direção. Passo por eles recolhendo o pagamento, rindo a
cada nota que cai dentro do vidro, não acreditando que ela conseguiu fazer
isso.
— Me diz que avisou para seu pai que estaríamos aqui hoje. — Dora,
eufórica, balança meus ombros quando para a minha frente, me olhando
animada.
O som da música começa alto, com uma batida antiga, enquanto as
meninas lavam os veículos.
— Eu avisei meu pai na quarta de noite, antes dele ir viajar para São
Francisco de manhã — falo alto para ela. — Papai me disse que chega hoje.
Ele só ia ficar um dia por lá, para resolver assuntos do trabalho, mas garantiu
que vai vir aqui.
— Oh, meu Deus, Andy! Seu pai não vai ter chance alguma! — Nós
duas nos viramos para Yane, a vendo rir e lavar a moto, com as coxas
molhadas.
— Está na hora de pôr o plano em prática. — Ergo minha mão,
recebendo um tapa forte em cumplicidade de Dora, que cumprimenta meu
toca aqui.
— Noiva vadia 0, Yane 10! — Dora mexe seu corpo junto com a
música, rindo e se afastando para ajudar Jani a levar os baldes para as
mulheres.
CAPÍTULO 12
AJUDA DIVINA
Dener Murati

— Realmente acha necessária essa frota de carros de segurança nos


seguindo? — Stone me olha pelo retrovisor no interior do veículo, parando
em um sinaleiro, enquanto contesto o exagero de seguranças que estão nos
escoltando.
— Alguém enviou uma bomba caseira para seu escritório, Dener. —
Respiro fadigado, balançando minha cabeça com desânimo. — Mesmo não
conseguindo provar que foi Box que ordenou alguém entregar o explosivo,
nós dois sabemos que foi ele. Precisamos garantir sua proteção.
Acreditamos que Box encaminhou uma bomba caseira ao tribunal
direcionada a mim, por eu ter negado pela segunda vez a apelação do seu
advogado para transferir Box para outro presídio. A caixa que foi entregue
pelos correios veio remetida no meu nome, como se fosse uma compra on-
line que eu mesmo tivesse efetuado de uma loja de esporte. A sorte foi que o
entregador teve que passar antes pela segurança. O funcionário que estava de
plantão desconfiou do peso leve da grande embalagem e imediatamente ligou
para o departamento de antibombas. Todo prédio foi evacuado, cancelando as
audiências e protegendo os funcionários e os outros juízes até eles
desativarem a bomba. Assim que Stone me ligou relatando o incidente, me
encaminhei para São Francisco para acompanhar as investigações
pessoalmente. Sem pista, digital ou qualquer coisa que pudesse ligar Box ao
atentado de explosão. Stone e eu entramos em modo de alerta total e
regressamos para minha casa de campo com oito homens colados em minhas
costas. Dividiríamos os seguranças, com alguns cuidando de mim e outros
que vão proteger Andy. Após o atentado, a segurança dela virou prioridade
absoluta.
— Se a cada vez que um dos meus réus tentar me matar, eu ter que
ficar acuado, então deveria trocar de profissão, meu amigo.
— E é justamente por isso que você me paga tão bem, meu caro
Meritíssimo — ele me responde, rindo, com voz debochada. — Você não fica
acuado, Dener, não sente medo desses degenerados, deixa sob minha
responsabilidade a sua proteção e de Andy. — Ele estala sua língua dentro da
boca, me dando uma piscada.
— Ontem à noite me senti acuado, e não me recordo de você ter feito
minha proteção — resmungo, ainda me sentindo irritado por Stone ter
deixado Venelope entrar no meu apartamento, que fico estabelecido quando
estou em São Francisco. Não sei como aquela louca descobriu que eu estava
lá, tenho minhas desconfianças que o porteiro passa para ela informações
sobre mim.
— Deixe de ser fresco, Dener. Encara bandidos e assassinos todos os
dias dentro daquele tribunal, com um sorriso tirano em seu rosto, mas tem
medo de uma socialite louca para se casar com você? — Sua risada repercute
dentro do veículo, piorando meu estado de espírito.
— Venelope não é a mulher certa para ser a mãe de Andy. — Olho
para fora da janela, soltando o ar, ainda podendo ouvir os gritos histéricos de
Venelope na sala de estar, quando lhe informei o término do nosso enfadonho
relacionamento.
— Já parou para pensar que talvez Andy não deseje ter uma mãe,
Dener? — Stone dirige o carro, falando calmo. — E que você tem que parar
de ficar encarando um relacionamento com outra pessoa como se fosse uma
candidata para a vaga de algum emprego que você esteja ofertando?
— Eu não faço isso — nego sua teoria rapidamente.
— Não? — Stone diminui a velocidade do veículo quando entramos
nas proximidades do local onde Andy me espera. — Se lembra daquela ruiva
gostosa que você dispensou apenas porque a mulher não sabia nada sobre
crianças? Ou da turca que que estava louca para dar para você, mas o juiz
Murati a enxotou porque a mulher acreditava que todos tinham que passar por
uma experiência de sobrevivência em alguma viagem paralela?
— Aquela mulher me deu calafrios, Stone. — Recorro ao meu favor,
negando com a cabeça para ele. — A turca tirou uma faca de caça de dentro
da bolsa dela. Quem leva uma faca de caça para um motel?! Meu pau
murchou, e do jeito que estava ficou, foi aterrorizador e broxante aquele
encontro.
Ele solta uma estrondosa gargalhada, me fazendo rir com ele ao me
recordar da forma instantânea que me vesti ao ver a mulher segurando a
grande faca em sua mão. Aleguei que precisava resolver alguns assuntos de
urgência no meio da noite, a levando para a casa dela e me livrando daquela
cilada de encontro.
— Talvez ela tivesse algum fetiche diferente. — Ele continua
caçoando do meu encontro terrível.
— Não sei qual era o fetiche daquela mulher, mas com toda certeza
não somos compatíveis. — Relaxo minhas costas no encosto do banco do
veículo, respirando fundo.
— Aí que está, você não relaxa, nunca abaixa sua guarda. — A voz
dele sai serena. — Antes de ter feito a besteira de se casar com a Magda,
você era o pegador, não tinha uma garota na nossa época de faculdade que
não queria estar na sua cama. Nunca devia ter aceitado aquele casamento que
seu pai lhe socou garganta abaixo.
— Tirando Andy, aquilo tudo foi o pior erro da minha vida. — Ergo
meus dedos, esfregando meu cenho, soltando o ar dos meus pulmões pouco a
pouco.
— Isso eu avisei para você, no dia do casamento. Mas você tinha
tanto medo de decepcionar seu pai, que ficou arrastando corrente com aquela
ingrata.
— Magda serviu de lição, Stone. Nem tudo que reluz é ouro. —
Inclino minha face para o lado, observando o tráfego das pessoas caminhando
na calçada. — Posso até me arriscar em dizer que algumas bijuterias possuem
mais brilho que diamantes — suspiro calmo, fechando meus olhos. — E
Venelope é como Magda, um diamante sem brilho algum.
— Aproveitando que estamos falando daquela louca, por que tenho a
impressão de que não terminou com Venelope apenas por conta da Andy? —
Stone para de rir, soltando suas palavras dentro do carro.
— Claro que foi. Apenas por isso, não tem outro motivo — respondo
rápido, abrindo meus olhos e tentando me livrar da especulação dele.
— Oh, não ouse mentir para mim, Meritíssimo. — Ele ri, balançando
sua cabeça em negativo. — Lhe conheço, Dener, há muito tempo, e posso
apostar uma nota preta que por trás desse seu olhar distante, quando fica em
silêncio, está pensando em alguma mulher. E ouso dizer que até desconfio de
quem seja.
— Ela não é uma mulher, é um demônio — resmungo carrancudo,
soltando os botões do blazer do meu terno. — Não sei porque está perdendo
tempo falando dela.
— Nenhum homem quer descobrir sobre o passado de uma mulher se
ele não tiver algum tipo de interesse nela, Dener. — Stone volta a rir, me
deixando desconfortável com esse assunto.
— Eu apenas queria saber sobre essa mulher que está passando muito
tempo com minha filha. — Tento soar calmo para ele, almejando esconder
como fico agitado por apenas falar sobre aquela feiticeira, que se infiltrou em
minha mente. — Isso não se chama interesse, e sim precaução.
— Sério? Vai tentar esse papinho comigo, Dener? — Ele balança sua
cabeça em negativo. — Pare de me enrolar e me diga como ela é: alta, baixa,
magra, corpulenta, loira, ruiva, morena, negra?
— Diabólica — respondo ligeiro, podendo ver aquele par de olhos
negros brilhosos que me enfeitiçaram. — Terrivelmente afrontosa.
— Oh, deixe-me ver se entendi! Achou uma mulher que não rasga
elogios para o Meritíssimo? — Ele deixa o som da sua risada repercutir
dentro do carro, caçoando de mim. — De onde saiu essa mulher diabólica,
que está lhe arrancando o suspiro?
Se pudesse, eu me afundaria dentro do estofado do carro, apenas para
não ter que dizer para Stone a verdade sobre Yane. Eu mesmo tinha ficado
surpreso ao entrar na sala da madre do convento e me deparar com a pequena
feiticeira, que me massacrava em xingamentos. E mesmo tendo destroçado
qualquer um que me insultasse de tal maneira, ao reconhecê-la me senti
enérgico e mais interessado na diabólica freira. Quando eu liguei para ele,
dei apenas o nome dela. Optei por omitir que estava querendo saber o
passado de uma das freiras do convento. Chega a ser vergonhoso um homem
da minha idade, ocupando um cargo como o meu, estar perdendo o juízo por
conta de uma freira com curvas perigosas e beijo viciante.
— Dener? — Fecho meus olhos, respirando fundo, já sabendo que
Stone vai me fazer jamais esquecer sobre isso.
— Convento — respondo desanimado. A brecada do automóvel é
instantânea no momento que falo.
Se não fosse pelo cinto de segurança, tinha grandes chances do meu
corpo ter ido parar no banco dianteiro do passageiro. Paro meu olhar em
Stone, que está silencioso, olhando petrificado para a frente. O grande corpo
do meu amigo se vira, apoiando seu braço no encosto do seu banco, me
encarando por um longo tempo. Ele retira seus óculos escuros do rosto,
arqueando sua sobrancelha, analisando minha face.
— Eu ouvi bem? — Balanço minha cabeça para ele, confirmando que
sim. — Está me dizendo que a mulher que anda lhe deixando de mau humor e
desatento é uma freira?
Ergo meus dedos, soltando a porra da gravata, sentindo como se meu
ar estivesse faltando, repuxando meu cenho quando fecho meus olhos.
— Inferno! É isso, essa mulher diabólica é uma freira! — Me sinto
duplamente estúpido falando isso em voz alta.
Yane me deixou dopado por toda semana apenas com um único beijo,
e o resultado disso é o meu pau, que me cobrou longas horas de atenção
embaixo do chuveiro por conta de uma freira, ficando duro apenas por me
recordar de como seu corpo se encaixa terrivelmente bem com o meu.
— Uma freira! — Stone está rindo descaradamente na minha cara.
Seus olhos estão lacrimejando, enquanto solta sua sonora gargalhada.
— Isso, continua rindo. Estou me sentindo bem melhor por estar
fazendo você feliz. — Ergo minha mão, apontando para ele e a soltando
pesada logo em seguida sobre minha perna, as fechando em punho.
— Caralho, Dener! Quando me falou que ela passava um tempo com
Andy, eu achei que podia ser alguma professora particular que você
contratou, até mesmo uma babá gostosa. — Ele continua rindo da minha
desgraça. — Mas uma freira, uma mulher santa?!
— Não é uma freira qualquer, Stone. — Ranjo entre meus dentes,
cerrando meu maxilar. — Posso garantir que aquela mulher não tem nada de
santa. Ela é irritante, completamente louca, faz uma dança estranha, possui
uma risada escandalosa que se pode ouvir a uma quadra de distância dela,
não tem nenhum tipo de filtro em uma conversa. E ela também... ela...
Droga! Me recrimino mentalmente, comprimindo meus olhos, sentindo
meu coração palpitar a cada batida descompassada.
— Ela? — Ouço a voz curiosa dele, não trazendo mais deboche com
seu riso.
— Ela é a criatura mais linda que já vi. — Respiro fundo, me
sentindo confuso e atraído de todas as formas por Yane. — Tem um corpo
macio e quente, um cheiro que me deixa embriagado e um maldito beijo
arrebatador. — Abro meus olhos, o encarando. — Pode voltar a rir, tenho
consciência de como isso é estúpido, além de ser pecado.
Stone não ri dessa vez, pelo contrário, ele fica um longo tempo me
encarando, virando seus olhos depois na direção da janela do carona. Ele
tomba sua cabeça, comprimindo sua boca e segurando um riso, me olhando
outra vez.
— Você pegou uma freira? — Sua voz é baixa, repleta de malícia e
curiosidade.
— Volte a dirigir, Stone. Foi apenas uma porcaria de um beijo —
respondo sério, apontando para frente.
— Agora entendi porque não queria vir para cá com a escolta de
seguranças. — Ele arruma os óculos em sua face, se virando enquanto ri,
voltando a fazer o veículo se movimentar. — Dener Murati, o terror dos
criminosos, conhecido nos tribunais como mão de ferro, agora está atacando
freiras desavisadas.
— Vá se fuder, Stone! — Solto de vez o nó da gravata, a retirando do
meu pescoço, desabotoando os dois primeiros botões em meu pescoço. —
Faça a merda do seu trabalho! Apenas peça para os seguranças ficarem
afastados, não quero que Andy se assuste por me ver chegar com três carros
de escolta atrás do meu.
— Não quer que Andy se assuste ou que a sua freira corra para longe
de você? Mas avisarei a eles, eu mesmo farei sua escolta pessoal — ele
responde calmo, conduzindo o veículo na rua. — Preciso conhecer essa
mulher de perto.
Puxo minha maleta que está no banco ao meu lado, retirando alguns
documentos de lá, e abaixo meus olhos para os papéis, analisando alguns
casos que serão julgados em meu tribunal no decorrer do mês. Deixo minha
atenção nos novos relatórios do caso Box, vendo que o nome da testemunha-
chave ainda não foi revelado. Os leio com calma, tentando deixar minha
concentração fixa nisso, e não presa no par de olhos negros que estão me
infernizando a cada segundo, roubando meus pensamentos. O veículo para
outra vez abruptamente, mas mantenho minha leitura, ouvindo os resmungos
de Stone, zangado.
— Está correto esse endereço que Andy passou?
— Sim — respondo calmo para ele, virando as páginas dos
documentos. — Por quê?
— Por isso! — ele fala, me fazendo olhar para frente.
Vejo o engarrafamento de veículos que seguem à nossa frente, todos
em fila única, esperando para entrar no estacionamento da lanchonete. Ergo o
relógio, olhando o horário, e já são cinco horas da tarde. Andy me disse que
elas ficariam até as seis.
— O pessoal dessa cidade gosta mesmo de lavar o carro.
Estreito meu olhar, tentando ver o que está acontecendo para ter essa
formação de fila, mas desisto de enxergar algo de dentro do veículo. Abro a
porta do carro, soltando os papéis no banco antes de fechar a porta, e
caminho pela lateral da calçada. Olho para trás e avisto os carros dos
seguranças estacionando atrás do meu. Stone já está saindo do carro e se
juntando a mim, erguendo seu celular, mandando mensagens para os outros
rapazes ficarem nos veículos, nos esperando. Olho para dentro dos
automóveis, vendo os motoristas todos ansiosos, esticando seus pescoços
para olhar para fora da janela. A música alta começa a ser ouvida enquanto
nos aproximamos, e a cada passo aumenta gradativamente as batidas.
— Isso que está tocando é Give it up? — Stone ri, retirando seus
óculos e perguntando para mim.
— O que está acontecendo aqui? — Caminho, vendo todos esses
motoristas agoniados, esperando para chegar a vez deles.
— O pessoal por aqui leva a sério essa história de arrecadação... —
Stone se cala, parando de andar, batendo sua mão em meu peito, apontando
para a menina risonha que balança uma placa de papelão em sua mão.
Reconheço a adolescente loira pequena, é uma das colegas de Andy
que esteve em minha casa. Ela está rindo, sentada em cima de um latão virado
de boca para baixo, deixando a placa à vista de todos.
Lave seu veículo e tenha uma visão do paraíso!
— Elas estão querendo dizer o quê com isso? — Stone volta a
caminhar junto comigo.
E antes que eu possa lhe responder, meus olhos se prendem no
estacionamento, se expandindo a cada segundo que percorro tudo, ainda não
acreditando no que estou vendo. Três carros estacionados lá dentro, com dois
cobertos de espuma. Os veículos que estão sendo lavados têm uma mulher em
cada um os esfregando, com os corpos todos molhados, colados ao veículo.
— Acho que precisamos lavar nossos carros — Stone fala lento, com
os olhos presos nas bundas, que ficam visíveis quando as mulheres se esticam
para esfregar o capô dos veículos, fazendo as saias subirem. — Eu realmente
preciso fazer a segurança de Andy dentro desse convento.
Pigarreio, sentindo minhas mãos suarem apenas por saber por trás de
qual mente criminosa está a ideia disso tudo. Revisto cada canto do
estacionamento e avisto a ruiva e a outra menina de cabelos negros e corte
curto, andando de um lado a outro com baldes na mão. A freira alegre entrega
copos de sucos para dois homens que estão conversando com ela. Respiro
pesado, querendo achar minha filha, e fico estático quando a encontro. Andy
tem um sorriso alegre em sua face. Não está usando seu costumeiro penteado
de cabelos soltos, deixando-os tampar seu rosto, eles estão presos em uma
trança, salientando as maçãs do rosto dela, que se destacam em sua pele
rosada. Seus olhos brilhantes tão expressivos se expandem a cada segundo,
rindo mais, com as covinhas das suas bochechas aparecendo. Sorrio com
carinho, a vendo feliz de uma forma tão contagiante. Busco pela fonte que a
está deixando tão radiante com esse sorriso belo. Mas assim que encontro,
meu sorriso se desfaz, me fazendo respirar rápido, alargando minhas narinas,
sentindo como se gasolina tivesse sido injetada em minhas veias. Dou um
passo à frente, encarando a criatura que está dançando para Andy, a poucos
passos dela, balançando uma flanela em sua mão de um lado ao outro no
ritmo da música que está animando-as. E a cada batida de Give it up, de KC,
os volumosos peitos sobem e descem em um ritmo harmonioso, embalados
pelos saltinhos que ela dá. Os cabelos balançam livres no ar, deixando-a
feminina, moldando sua face risonha, a fazendo ficar mais pecaminosa do que
já está. Percorro meu olhar por sua barriga desnuda e as coxas abundantes
que estão espremidas em um short jeans minúsculo, destacando a bunda macia
que minha mão conhece tão bem qual a sensação de apertar. Sinto meu corpo
entrar em combustão quando ela se vira para o terceiro carro que já está
limpo, se abaixando perto da janela do motorista. Meus olhos ficam fisgados
na bunda redonda que se requebra a cada balançar da perna dela, e tento
conter meu instinto de caminhar direto para lá, despachando o maldito
motorista que está sorrindo, praticamente babando em meio a suspiros,
olhando para a face dela.
— Você beijou a irmã da limonada? — Pisco perdido, me virando
para Stone, que está me encarando.
— Que limonada? — Olho para a irmã Mand e depois para ele.
— A freira que beijou é a moça da limonada? — Balanço minha
cabeça em negativo, cerrando minha boca com raiva.
Encaro a mulher provocante, a vendo caminhar para Andy, me fazendo
arfar a cada passo que Yane desfila. Faço uma vistoria rapidamente,
observando os homens dentro dos carros olhando para ela, perdidos nos
encantos dessa feiticeira. Andy sorri com pura alegria, caindo na risada
quando Yane ergue as notas de dinheiro, balançando no ar e entregando para
Andy. Respiro rápido quando ela se vira, soltando um tapa em sua própria
bunda de forma provocadora, fazendo meu pau responder na mesma hora com
esse gesto despudorado, dando uma pulsada dentro das calças.
— É aquela criatura infernal. — Com um movimento de cabeça,
aponto para Stone quem é a freira indecente que está me fazendo cair em
pecado.
— Como?!
Não fico para lhe responder, minhas pernas já estão em movimento, a
passos duros e firmes, caminhando para Andy e Yane, com meus olhos presos
nas duas espertinhas risonhas.
— Oi, tio! — Forço um sorriso para Dora e Jani, que passam na
minha frente carregando os baldes. Elas param e sorriem para mim.
— Veio lavar seu carro também? — Balanço minha cabeça em
negativo para elas e estendo minha mão, pegando o balde da mão de Jani
quando ela me pergunta.
— Não, eu vim ajudar. — Olho para trás, observando a fila dos
veículos que estão se acumulando.
Alguns dos carros estão limpos, sem necessidade de serem lavados,
eles apenas vieram para ver de perto a visão do paraíso que essa demônia
está proporcionando a eles. Stone para ao meu lado, cumprimentando as
meninas, sorrindo para elas.
— Trouxe ele para nos ajudar também, tio? — Dora olha para Stone,
rindo, e depois para mim.
Me viro para meu amigo, o avaliando de cima a baixo, abrindo um
largo sorriso maquiavélico ao constatar que talvez a presença dele e do
restante dos seguranças não foi um exagero.
— Sim, ele vai nos ajudar, e os amigos dele também — respondo
Dora, puxando o balde da mão dela e estendendo para Stone.
Ele olha do balde para o meu rosto, balançando a cabeça em negativo.
— Não, sem chance. Definitivamente não. — Ele ergue os óculos em
sua face carrancuda. — Minha camisa é nova, e eu nem gosto de lavar
carros...
— Olá, rapazes. — A voz mansa de uma das garotas que se aproxima
com seu corpo molhado faz Stone olhar para ela na mesma hora. — Vão usar
esse balde?
— Sim. Na verdade, o tio disse que eles vieram nos ajudar — Jani
responde para ela e a mulher sorri para Stone, estufando seu peito para frente.
— Ai, que maravilha, mais ajuda! Se quiser, podemos fazer em grupo.
— Ela pisca para ele. — Eu ensaboo e você enxágua.
Seguro a risada quando ele respira rápido, arrancando o balde das
minhas mãos.
— Benzinho, eu nasci para lavar carro! — Bato em seu ombro, o
fazendo me encarar e parar de ficar paquerando a garota na frente das
meninas.
— Chame os rapazes. — Os abandono, caminhando rumo à Andy, que
está distraída.
Paro perto dela, deixando o balde no chão e analisando a pequena que
está concentrada com a grana.
— O senhor vai querer lavagem completa ou meia-boca[16]? — ela
fala, rindo, contando as notas de dinheiro em sua mão.
— Vejo que terei uma contadora na família, finalmente alguém vai
quebrar a corrente do magistrado dos Murati. — Andy se assusta, erguendo
sua face na mesma hora para mim.
— PAPAI! — Seu sorriso volta alegre para sua face rosada, e me
abraça com alegria. — O senhor veio!
— Claro que eu vim! Achou mesmo que eu iria perder sua gincana?
— Abraço ela apertado, beijando o topo da sua cabeça. — Vejo que estão
indo bem.
— Já conseguimos arrecadar quase mil e quinhentos dólares em
doações — ela fala animada, se afastando para pegar um vidro repleto de
dinheiro, levando o que está na mão dela para junto dos outros. — Estávamos
perdendo, não tínhamos nem conseguido arrecadar vinte dólares. Eu estava
tão desanimada, pensando que íamos ser as perdedoras, então Yane fez isso
tudo acontecer. — Andy balança o refratário que está cuspindo dinheiro para
fora.
— Jura? Nunca iria passar pela minha cabeça que isso foi ideia dela.
— Olho para a mulher que está esperando o próximo veículo estacionar perto
dela, de costas para nós, distraída da minha presença.
— Foi, acredita nisso?! Ela atravessou a rua, indo para o bar, e trouxe
as duas meninas para nos ajudar, além de um monte de motoqueiros. Eles
foram ligando para seus amigos, chamando seus conhecidos, e quando a gente
viu tinha toda essa fila de carros para lavar.
— Motoqueiros? — Andy falou tão rápido, que me fez ter que
acelerar meu processamento. Entendo tudo que Yane fez.
— Sim, e eles foram legais. Deram almoço para a gente. Eu comi
costeletas de porco assadas, com a mão! — Andy ri mais ainda, eufórica, me
contando tudo. — Então Yane fez essa trança nos meus cabelos, para a gente
poder almoçar. Jani soltou um arroto quando tomou refrigerante, com a boca
lambuzada de gordura de carne. Todas nós rimos. Todos dentro do bar
fizeram a oração de agradecimento pelo nosso alimento junto com Mand. Pai,
você tinha que ter visto Mand ficando vermelha dentro do bar, acho que nunca
uma freira entrou dentro daquele lugar. Dora, Linda, Jani e eu rimos tanto.
Eles foram bem-educados e amigáveis com a gente. O dono do bar até
disponibilizou a caixa de som para animar as garotas.
Apenas consigo balançar minha cabeça em positivo, enquanto sorrio,
ouvindo todas essas informações. Mas de tudo, a única coisa que consigo
enxergar é a felicidade que irradia de Andy, por conta do seu dia atribulado.
— Ei, quem é essa gatinha? — Stone se aproxima, chamando a
atenção dela, que alarga o sorriso olhando para ele. — Quase não
reconheci...
— Tio Stone, você veio! — Ele beija o topo dos cabelos dela,
movendo sua cabeça para mim. Olho os rapazes se aproximando com seus
ternos escuros e óculos pretos, com suas faces mal-encaradas.
— Andy, pode nos fazer um favor, meu amor? — pergunto para ela,
sorrindo.
— Claro. O senhor vai lavar seu carro? — Retiro meu blazer,
entregando para ela e dobrando as mangas da minha camisa.
— Viemos para ajudar. Apenas precisa falar para os rapazes o que
eles têm que fazer. — Beijo sua testa, me abaixando e pegando o balde do
chão.
— O senhor vai lavar carros? — Ela me olha, surpresa, coçando sua
testa. — Está falando sério?
— Nunca falei tão sério, meu amor. — Pisco para minha filha, me
virando e me afastando dela.
Apenas uma visão me prende, me fazendo caminhar decidido, olhando
a traseira empinada enquanto ensaboa um carro amarelo. Mudo minha atenção
apenas uma vez para encarar a face risonha do motorista, que está se
derretendo, admirando-a. Suponho que ele compreende minha face fechada,
porque não demora muito para seu vidro estar sendo erguido. Paro a um
passo atrás de Yane, ficando com minha atenção reclusa em sua traseira
roliça. Isso será um teste de ferro! Respiro fundo, pedindo forças a Deus para
que eu consiga manter meu controle e minha mão longe dessa freira.
— Dora, cadê os balde, garota?! — ela grita, se virando e se
chocando comigo quando seu corpo se move rápido.
Minha atenção percorre com preguiça cada canto do seu corpo. Tenho
uma visão privilegiada agora de perto do vale dos seus seios. Sua barriga
salpicada de espuma branca faz sua pele negra brilhar com as gotas de água,
que escorregam por ela. As mamas volumosas balançam a cada lufada de ar
que ela suga para seus pulmões. Contraio minha boca, sentindo uma fisgada
em meu pescoço. Flexiono meus ombros, tentando achar onde meu controle se
escondeu. Acho que ele se perdeu entre suas coxas fartas ou deslizou junto
com a espuma por sua barriga. Talvez tenha preferido ficar perto da parte
superior do biquíni rosa molhado, bem coladinho, com o bico rígido que se
destaca no tecido de banho. Meu braço se estica e estendo o balde para ela,
erguendo finalmente meu olhar para a face delicada com lábios grossos e
olhos negros expressivos, como de uma coruja feiticeira.
— Eu esfrego e você enxágua. — Minha voz sai rouca, enquanto sou
sugado por seu piscar manhoso de cílios longos.
Retiro a esponja da mão dela, a fazendo pegar o balde, e sinto a
corrente elétrica que me corta quando nossos dedos se tocam. A pequena
mordida na lateral dos seus lábios é uma descarga de energia nuclear na
porra do meu pau, o deixando em estado de alerta.
— Ora, ora... De guardinha de jardim para lavador de carros. —
Fecho meus olhos, balançando minha cabeça, desejando não rir com a forma
que ela me provoca despudoramente.
Mas eu perco, sempre perco quando estou perto dela. Abro meus
olhos, rindo dessa criatura provocante que me faz desejar colocá-la em
minhas costas e a levar para longe dos olhos de todos esses putos, que estão
babando olhando para seu corpo. Sou coagido por seus lábios arteiros, que
roubam a minha paz desde o dia que a beijei. A pior criminosa que já cruzou
meu caminho, uma pecadora em pele de freira.
Droga, eu realmente vou precisar de muita, muita ajuda divina!
CAPÍTULO 13
MINHA GAROTA
Dener Murati

— Sabe que eu poderia ter vindo sozinha, não é? — Ergo a caneca de


cerveja em minha mão, levando aos lábios, ouvindo os resmungos baixos da
personificação em carne e osso dos meus pecados, que está sentada à minha
frente.
— Apenas um agradecimento já vai ser suficiente, irmã — falo calmo,
abaixando a caneca no balcão ao nosso lado.
Seus olhos se expandem, com ela erguendo o braço para pegar seu
copo de refrigerante, usando o canudo para esconder o meio-sorriso de canto
nos lábios.
— Muito obrigada por ter nos ajudado a espantar a maioria dos
clientes que ainda faltavam para lavar os carros. — Gargalho alto, sendo
contestado pela petulante de nariz empinado. Balanço minha cabeça em
negativo para ela, chacoalhando meus ombros durante o riso.
— Primeiramente, os rapazes estavam super dispostos a lavarem os
veículos. Não posso fazer nada se alguns daqueles motoristas não quiseram
aguardar pela vez dos seus automóveis. — Ela bate seu pé no chão, mexendo
suas coxas enquanto está sentada na banqueta de frente para mim. — Mas o
que importa realmente, é que cada um deles contribuiu com a arrecadação de
fundos antes de ir embora, de livre e espontânea vontade.
— Vou fazer de conta que eu acredito nessa história. — Ela deposita
sua bebida no balcão, suspirando baixo e inclinando sua cabeça em seu
ombro ao me encarar. — Mas obrigada pela ajuda. E por pedir para levarem
as meninas de volta para o convento. O dia foi agitado para aquelas quatro,
não precisava ficar me esperando terminar de organizar a bagunça no
estacionamento e nem vir junto entregar a caixa de som, mas sou grata pela
sua ajuda.
— Fiz apenas o que foi preciso — respondo calmo, desviando minha
atenção dos seus lábios. — Socorri uma donzela indefesa.
— Donzela?! — A risada escandalosa dela explode dos seus lábios,
virando sua face para a janela do bar e observando o estacionamento vazio.
Não tem como não a notar ou não ser fisgado por seu sorriso devasso.
Ela atrai todos os olhares dentro do estabelecimento repleto de motoqueiros,
que se sentem atraídos pela pequena coruja esperta. Alongo meu braço,
parando meus dedos perto da lapela do meu terno, que está abrigando o corpo
dela, garantindo que suas mamas estejam protegidas das vistas dos curiosos.
Ela abaixa sua cabeça, olhando para meus dedos e depois retornando para
meu rosto. Assisto sua face arteira comprimir seus lábios. O baixo suspiro
que ela solta faz a veia na lateral do meu pescoço pulsar com o aumento da
circulação de sangue. Desvio meu olhar da sua face, retirando minha mão do
blazer, prendendo minha atenção nos seus joelhos, que balançam no ritmo do
seu pé. Sinto meus dedos formigarem intensamente, querendo voltar para
perto dela, o que me obriga a segurar a caneca outra vez, a trazendo para os
meus lábios e a sustentando firme, mas ainda assim me vejo tentado a alisar
seus cabelos, que caem sobre seus ombros. O que eu estou fazendo? Por que
estou aqui, me sentindo um calouro de faculdade, tomando cerveja gelada e
querendo que essa noite seja a mais longa possível para poder ficar com ela?
E são os seus olhos que me dão a resposta que procuro, suaves e feiticeiros:
Yane me encanta.
E é por conta desse feitiço ou praga que ela jogou em cima de mim,
que em menos de uma hora depois que dei as ordens para os seguranças, eles
tinham posto todos os veículos em circulação. Stone barganhou com Linda,
usando uma nota de cinquenta dólares pela placa de papelão, a descartando
na lata de lixo, enquanto isso os outros rapazes passavam de carro em carro,
solicitando amavelmente com suas faces mal-encaradas a contribuição para a
arrecadação de dinheiro para o orfanato, antes de mandarem eles irem
embora. Mantive Yane distraída, estacionando meu carro na frente dela, a
deixando ocupada o lavando, enquanto os rapazes dispensavam os
admiradores filhos da puta, afoitos pela visão do paraíso que ela e as outras
duas garotas ofereciam. Mandei Andy para a lanchonete com as outras três
meninas e a irmã Mand, para que fossem tomar sorvetes. Especificamente,
quarenta e sete minutos foram preciso para os rapazes encherem um balde
com diversas notas de dinheiro, arrecadados dos motoristas, com Andy se
divertindo na lanchonete e Yane ocupada enquanto lavava meu carro,
esfregando peça por peça de toda lateria. Contribuí com uma generosa
quantia dentro do balde, sem que ninguém notasse. E ao fim da tarde apenas o
meu carro e os dos seguranças restaram dentro do estacionamento.
Realmente quero acreditar que fiz tudo isso apenas por querer ser um
bom cristão, e não porque o fato de ter todos aqueles homens olhando para
ela estava me incomodando e, principalmente, que a trancaria dentro do
porta-malas do meu carro antes de deixá-la vir sozinha para o bar.
— Mas quero que saiba que falo sério. Obrigada pela ajuda com tudo,
principalmente com as meninas. Elas já estavam cansadas. Ficaram felizes
com a carona que receberam. — Essa mulher me confunde de todas as
formas, indo de afrontosa, irritante e sexy para uma menina tímida.
— Andy me avisou que vai passar a noite no dormitório do convento
com as garotas. — Repuxo minha cabeça, tentando relaxar meus ombros,
falando o mais calmo possível para ela. — Acho que possuem muitos
assuntos para conversarem.
— Não tem ideia de como elas são tagarelas quando estão juntas. —
Yane sorri, encolhendo seus ombros.
Solicitei para Stone arrumar a volta das meninas para o convento
junto com a irmã Mand. Quando vi que Yane se recusou a aceitar a corona
porque ainda queria organizar os baldes e as esponjas, entregando para o
dono da lanchonete, e também tinha que devolver a caixa de som para o dono
do bar de motoqueiros, eu não a deixei fazer isso sozinha. Stone segurou um
riso sacana quando falei que ficaria para ajudá-la. Ele entregou a chave do
meu carro para mim, pegando outro carro dos seguranças para ele e
dispensando os outros e ficando apenas ele para fazer minha proteção. E
antes que eu pudesse compreender por que não queria que a hora dela ir
embora chegasse, a convidei para tomar alguma coisa comigo quando viemos
entregar a caixa de som. Com um olhar envergonhado quando a deixei
aquecida com meu blazer, ela apenas confirmou com a cabeça, aceitando ficar
mais um pouco, me fazendo companhia.
— Andy está feliz, você a faz feliz...
— Sua filha é maravilhosa... A educou muito bem, senhor Murati. —
Ergo minha caneca para o barman, pedindo outra cerveja, negando com a
minha cabeça para ela.
— Na verdade, não pude passar tanto tempo como eu gostaria com
Andy. — Solto o ar dos meus pulmões pelas minhas narinas, verificando por
cima do ombro dela o filho da puta sentado na última mesa no canto do bar.
Ele conversa amistoso com as duas garotas que estavam lavando os
carros, que estão perto dele. Stone cruza seus olhos com os meus, sorrindo
descarado para mim.
— O importante é o tempo que ainda tem pela frente. — Suas mãos se
esfregam em suas pernas, enquanto ela fala baixo.
É instinto de proteção. Antes mesmo do meu cérebro processar o que
vou fazer, minhas mãos já estão segurando as suas, sentindo seus dedos
gelados.
— Estão frias. — Esfrego a mão dela junto com as minhas, tentando
aquecer seus dedos.
— Acho que meu corpo ainda não secou como deveria. — Yane ri
quando puxo minha banqueta, me aproximando ainda mais dela, até nossos
joelhos se encontrarem e eu voltar a esfregar sua mão.
— Vou pedir para cancelarem minha cerveja. Devia ter visto que
estava com frio... — Me sinto tolo por não ter percebido que ela não tem seu
corpo aquecido. Passou o dia todo mexendo com água, e agora está sentada
dentro do bar, que está gelado por conta do ar-condicionado ligado. — Vou te
levar para o convento.
— Não precisa fazer isso, Dener. — Ergo meus olhos para os seus
quando ela diz o meu nome tão intimamente, de uma forma natural. — Para
ser franca, ainda estou pensando em como vou entrar no convento sem que a
madre me veja.
Ela recai seus olhos para a frente do seu peito, me fazendo
acompanhar seu olhar. Tento não encarar a pele entre o vale dos seus seios,
que está arrepiada.
— A moça da loja ao lado, pelo visto, já fechou — Yane fala, rindo,
me deixando confuso.
— O que tem?
— Meu hábito. — Ela ri de forma arteira. — O hábito ficou dentro da
loja na qual comprei o short e o biquíni. Pedi para ela guardar para mim. —
Suas mãos se soltam das minhas, tampando sua face, rindo. — Não achei que
a loja iria fechar antes de eu ir embora, agora estou pensando como vou
entrar naquele convento sem que a madre infarte quando me vir.
— Bom, em todo caso, meu muro está à sua disposição se precisar. —
Sua risada me contagia quando ela começa a rir, dando um leve soquinho em
meu ombro.
— Seu muro e aquele cão tarado — ela suspira, mordendo o canto
dos seus lábios, olhando para seus dedos. — Nunca vai me deixar esquecer
aquele incidente, não é?
— Claro que não vou. — Minha mão se eleva, parando em seu rosto e
empurrando seu cabelo para trás dos seus ombros.
O gesto a faz erguer sua cabeça, voltando as esferas negras para me
encarar, parecendo tão perdida com meu toque. Apenas uma inclinação, uma
aproximação, e eu acabaria com essa vontade que estou de beijar ela outra
vez. Yane me faz esquecer de tudo: o lugar que estou, quem sou, quem ela é e
como eu quero me perder no calor dos seus lábios. Há mais de dez anos que
não entro em um bar apenas para tomar uma cerveja e relaxar, e nunca passei
duas horas com uma mulher, ao menos que fosse para trepar com ela. Mas cá
estou eu, sentado, conversando por um longo tempo com essa feiticeira,
papeando de todos os assuntos mais sem cabimentos, apenas rindo e me
divertindo sem preocupação. Yane me desarma, me faz querer ficar
angustiado apenas com o pensamento que em algum segundo terei que deixá-
la partir.
— Ainda não sei nada sobre você, além que faz bico de guardinha de
jardim e é lavador de carro nas horas vagas — ela fala envergonhada,
abaixando seus olhos para os botões da minha camisa.
— Bom, somos dois, então. — O barman deposita minha caneca no
balcão, sorrindo para nós ao se afastar. — Tirando que gosta de banhos
pelados em casa de desconhecidos na calada da noite.
— Oh, meu Deus! — Ela tampa sua face, negando com a cabeça. —
Olha, para seu governo, foi a primeira vez que fiz isso. — Tomo a cerveja,
não perdendo as expressões verdadeiras da sua face, me mostrando que sua
linguagem corporal confirma o que sai dos seus lábios.
— Não estou julgando. Se sinta livre para ir tomar banho na minha
piscina quando quiser. — Abaixo a caneca, piscando para ela. — Apenas me
avise, assim posso deixar Spai trancafiado.
— Engraçadinho. — Seus olhos reviram antes dela soltar uma risada.
Ela puxa minhas mãos, as deixando viradas, com a palma para cima, sobre
suas coxas, arrumando sua mão sobre as minhas. — Já que não vai me contar,
eu mesma vou descobrir.
— Não me diga que além de praticante de nudismo ao ar livre,
também é sensitiva. — Ela balança suas coxas, rindo e negando com a
cabeça, movendo seu corpo para frente.
Meu corpo se move por vontade própria, se inclinando junto a ela,
deixando nossos olhares na mesma altura. Sou fisgado para sua boca,
sentindo a quentura da respiração morna enquanto ela respira de mansinho,
tão próxima a mim.
— Olhe para meus olhos, seu tarado. — Sorri, negando com cabeça.
Gosto de observar sua boca e a tentadora mordida que ela dá ao canto da
pele. Yane mexe em nossas mãos, me fazendo olhar em seus olhos brilhosos.
— Me conte seus segredos mais escuros, senhor Murati.
— Eu odeio lavar carro. — Ela sorri com divertimento para mim.
— Não o julgo, também odeio. — Em um movimento ágil, mudo
nossas mãos de posição, deixando a minha por cima da dela.
— Minha vez. — Yane abaixa seus olhos, observando meu anelar
acariciar seu pulso lentamente. Fico sereno, sentindo a pulsação deles, sem
desviar minha atenção da sua face. — Por que decidiu pela vida religiosa,
Yane?
Sua postura corporal muda no mesmo instante que lhe faço a pergunta.
Examino os ombros caídos, o olhar acanhando não se ergue para os meus. A
veia do pulso dela aumenta o fluxo de sangue a cada respirada que ela puxa
pela boca.
— Sabe como é, o chamado divino... — O pequeno passar da língua,
contornando seus lábios, me deixa saber que ela está mentindo.
Yane ergue seus olhos para mim e percebo a centelha de medo que
brilha tão rápido em seus olhos, logo desaparecendo. Mantenho a carícia em
sua pele, circulando lentamente seu pulso.
— Optou por se tornar freira por que ouviu um chamado divino? —
Ela fecha seus olhos, respirando de mansinho.
— Acho que posso dizer que foi praticamente isso. — Seus lábios se
abrem cálidos, com ela inclinando sua face para o lado. Os cachos dos seus
cabelos caem por seu ombro, a deixando com um aspecto tão sedutor em sua
timidez. — É complicado, senhor Murati...
— O que é complicado, Yane? — Solto um dos seus pulsos,
encaixando minha mão em sua bochecha, sustentando sua face.
Os grandes olhos negros, com cílios longos, se abrem para mim,
piscando preguiçosos, com seu olhar de coruja tímida. Meus dedos deslizam
para trás da sua cabeça, se prendendo em sua nuca, afagando seus cabelos.
Estou sendo devastado. Preciso entender o que ela está fazendo comigo, como
ela me deixa tão confuso e preso a ela, sem precisar fazer esforço algum. E,
por Deus, apenas não me deixei perder de vez em seus encantos porque me
seguro na visão dela vestida com aquela porcaria de hábito.
— Dener... — Sua voz é manhosa, cochichando meu nome e me
tirando o controle com a mordiscada que ela desfere em seus lábios. — Eu
posso ler seus olhos, acho que isso não é uma boa ideia.
— Você é boa em ler as pessoas — falo divertido para ela. Me
aproximo um pouco mais, sussurrando a centímetros dos seus lábios: —
Então me diga, o que estou pensando nesse exato momento, pequena
feiticeira?
Yane repuxa o ar, arfando a cada carinho que meus dedos fazem em
seu cabelo, abaixando seu olhar para minha boca. A mão que tateia meu peito,
quando ela ergue seus dedos, me faz queimar. Respiro rápido, tendo meu
corpo completamente elétrico.
— Você... está... — Ela se engasga, balbuciando suas palavras e
abrindo um pouco mais seus lábios.
— Estou pensando como sou um grande filho da puta sortudo e
também o mais azarado desse mundo. — Minha voz rouca sai baixa. Aumento
a pequena pressão em seus cabelos quando os esmago, e meu peito se
expande, com meu coração acelerado, no momento que um gemido escapa dos
lábios dela.
— Por... Por que pensa assim? — Seus olhos se fecham, com um
sorriso perfeito em seus lábios, com ela ronronando outro gemido.
— Porque estou de frente para a única mulher que meu pau deseja
estar enterrando tão fundo dentro do corpo dela. Mas não posso, porque ela é
uma noviça. — Meu pau dolorido reclama dentro da minha calça, ficando
mais rígido. — E é isso que me faz não pensar em como quero foder você,
Yane.
— Eu, não so...
O som de um homem espancando a antiga jukebox[17], batendo na
lateral dela no fundo do bar, a surpreende, a fazendo piscar sobressaltada.
— Inferno, Bonnie! — O soco no balcão se faz próximo a nós. — Não
bate na minha máquina, porra! — o barman grita alto do outro lado do balcão.
Ela ri, encolhendo seus ombros e se afastando lentamente, retirando a mão do
meu peito.
Solto seus cabelos, pegando a porcaria da caneca de cerveja e
virando o líquido com uma grande golada dentro da minha boca, para aplacar
a porcaria da minha euforia.
— Eu... Bom... — Ela olha para os lados, comprimindo seus lábios.
— Acho que preciso... preciso... — Seus dedos se erguem, apontando para o
fundo do estabelecimento. — Vou procurar pelo toalete.
— Claro... Você precisa de ajuda com o banheiro? — Limpo minha
boca, depositando a caneca no balcão.
— Quer ir ao banheiro comigo? — Ela empurra seus cabelos para
trás, me olhando confusa.
— Oh, NÃO, não quero. — Seus olhos se abaixam, me fazendo querer
me dar um soco por ter falado em tom alterado.
— Acho que ok... — Ela se levanta, e antes que se afaste, minha mão
segura seu pulso outra vez. Estou suando, sinto meus dedos tão agitados
quanto minhas pernas, com minha respiração acelerada.
— Eu quis perguntar se você queria auxílio para achar o toalete. —
Quero me dar um soco por não estar conseguido me expressar. — Não que
quero entrar no banheiro com você... Mas eu entraria... — Os olhos dela
caem para minha mão segurando seu braço, enquanto tenho a pior crise de
comunicação da minha vida. — Eu aceitaria entrar, se você quisesse...
Caralho, o que eu estou dizendo?! Por que não consigo calar a
porcaria da boca?!
Respiro com força, sabendo que estou parecendo um completo idiota
quando os olhos dela se elevam, parando nos meus. Sua sobrancelha se
arqueia, com Yane mordendo seus lábios, me encarando, o que acaba me
fazendo sentir raiva de mim por estar parecendo um aliciador, segurando o
pulso dela e me oferecendo para ir ao banheiro.
— Apenas me preocupei... Eu... eu... — Solto sua pele, esfregando
minha mão na minha perna e a balançando rápido. Pego a caneca, tomando o
resto de cerveja para conseguir parar de falar tanta merda.
— Eu sou grandinha, guardinha de jardim. — A voz baixa dela sai
entre um riso de divertimento. Seu braço se ergue, fazendo meu blazer em seu
corpo se abrir, deixando um dos seus seios desprotegido do tecido quando ela
brinca, fazendo gesto de fisiculturista e apontando para seus bíceps finos. —
Tenho um ótimo gancho de direita, e se isso não der certo, posso chamar
você. — Yane me dá uma piscada, me provocando, abaixando seu braço e
sorrindo.
— Eu vou ficar por aqui, esperando. — A vejo caminhar pelo salão,
desviar dos clientes e ir para o fundo do bar.
Suspiro desanimado, com meu pau pulsando dentro da calça enquanto
acompanho o rebolado da traseira dela entrando no banheiro.
— Estúpido, Dener. — Me viro para a frente do balcão, erguendo a
caneca de volta para o barman e pedindo outra cerveja e a conta. — Por
favor, me vê uma cerveja e conta, sim? — peço para o homem barbudo, que
empurra a caneca de cerveja no balcão.
— Essa aqui fica é por conta da casa. — Ele estende sua mão,
batendo em meu ombro, rindo. — Fazia tempo que não tinha uma sexta-feira
tão movimentada, sua garota me fez um grande favor.
— Minha garota? — Olho confuso para ele.
— Sim, a sua garota. — Ele solta uma sonora gargalhada, me olhando
curioso. — Se ela não for sua garota, por que está babando em cima dela há
quase duas horas? Confesso que fiquei surpreso ao vê-la caminhando na
minha direção hoje de manhã, mas daí quando pediu ajuda e contou que não
era... PORRA, BONNIE, PARA DE BATER NA MINHA MÁQUINA!
O barman grita, esticando seu pescoço, encerrando a conversa e
dando a volta no balcão, me deixando lá parado, olhando para a cerveja na
caneca. Não posso estar mais fodido do que me encontro agora. Minha
garota! Chega a ser deprimente, depois de todos esses anos, eu ter uma
garota. Tomo um gole da cerveja, devolvendo a caneca pela metade no
balcão. Viro meu corpo na banqueta, olhando em volta, vendo o bar lotado.
Vasculho a mesa onde Stone está e rio ao vê-lo com um braço no ombro da
mulher, a fazendo rir com ele, conversando baixinho no ouvido dela. Balanço
meu pé no chão, cruzando meus braços em cima do meu peito, ouvindo a
batida suave de You Sexy Thing, que começa a tocar na velha máquina de som
depois de ter sido espancada pelo estressado Bonnie.
“Eu acredito em milagres
De onde você veio coisa sexy?”
Respiro pesado, encarando o banco vazio à minha frente, o que me faz
me sentir duplamente patético. Quando ergo meus olhos na direção para onde
ela foi, fico em silêncio, observando a criatura que se destaca entre todos os
homens barbudos com suas roupas de couro. Ela está parada na frente da
porta do banheiro, com seus braços caídos ao lado do corpo, apertando seus
dedos na palma da mão. O leve balançar dos pés a faz se mover para frente e
para trás, a fazendo parecer uma menina perdida dentro desse lugar, mas são
os olhos negros expressivos, que estão presos em minha face, que faz minha
respiração acelerar. Uma terrível feiticeira com olhos mágicos de coruja, que
me chama para ela.
“Eu acredito em milagres
Desde que você apareceu coisa sexy”
Minha garganta arranha, fazendo um som rouco escapar por minha
boca. Ela morde seus lábios, tombando sua face para o lado. Suas mãos se
erguem e eu descruzo meus braços. Me levanto do banco no segundo que vejo
ela retirar o blazer pouco a pouco, me torturando a cada pedaço que sua pele
vai aparecendo. Yane o prende em um dos braços, passando a mão por seus
cabelos, o jogando para o lado, mantendo seus olhos presos aos meus. Sim,
com toda certeza Hot Chocolate tem razão, ela é uma coisa sexy, e depois de
tanto tempo solitário, tendo apenas mulheres vazias e tão deprimentes quanto
meu humor ao meu lado, ver Yane agora, como ela está, nesse short jeans
provocante, com a parte superior de um biquíni que chama a atenção para
seus seios, mordiscando seus lábios grossos, é o mesmo que olhar para um
arco-íris que invadiu minha vida depois de longos anos de céu cinzento. E é
com meus olhos presos aos seus que atravesso o bar, desviando das pessoas,
não conseguindo focar em mais nada além dela, meu pequeno pote de ouro ao
fim do arco-íris. Meu coração está desfibrilado, com minha garganta
salivando, quando paro à sua frente, segurando com muita dificuldade o
domínio que ainda me resta.
— Aconteceu alguma coisa? — Minha mão para em seus ombros,
abaixando minha cabeça para olhar para ela.
— Não, mas eu quero que aconteça — fala rápido, me deixando
perdido por um segundo, sem compreender.
O pequeno corpo se move rápido, a fazendo ficar nas pontas dos pés.
Sua mão se prende em meu pescoço, me puxando para ela, e vou descendo
para o inferno quando ela cola sua boca à minha. Meus dedos em seu ombro a
seguram com mais posse, trazendo-a para mim, sendo desarmado por sua
língua maliciosa, que se junta à minha. Me sinto como Adão tentado por Eva
a experimentar o fruto proibido, e eu o mordo, o pego para mim, dominando o
beijo dela e aplacando apenas um pouco dessa vontade de sentir seu sabor, de
ter seu corpo junto ao meu. Minhas mãos escorregam por suas costas,
acariciando sua pele, sentindo-a quente a cada euforia do beijo. Abraço suas
costas tão firme, erguendo seu corpo do chão. Sua mão trêmula se segura em
meu ombro, gemendo a cada toque das nossas línguas. Uma criatura sexy que
me jogou para fora da minha zona de conforto, me fazendo agir como um
universitário sedento pela minha garota. As mãos dela me empurram,
cortando nosso beijo, respirando rápido, me olhando com agonia.
— Preciso... — Forço meu oxigênio a voltar para meu cérebro, me
obrigando a não perder o pouco de controle que ainda tenho, sentindo minhas
bolas inchadas de tanto tesão. — Falar uma coisa.
Balanço minha cabeça em positivo, a abaixando até seus pés tocarem
o chão. Passo meus dedos por meus cabelos, respirando apressado.
— Mas tem que me prometer que não vai fazer perguntas. — Olho
para os lados, vendo todos dispersos da tortura que essa mulher me faz
passar.
— Claro...
Esfrego meu rosto, tentando pensar em qualquer coisa que não seja
essa mulher à minha frente, que testa meus limites. Não sou santo e muito
menos feito de barro, minha carne é fraca, e estou realmente doente de desejo
por essa menina.
— Eu não sou freira — Yane fala de uma única vez, me fazendo
congelar minha mão em meu rosto quando volto a olhar para ela.
Seus dedos se erguem, empurrando seus cabelos para trás, tirando-os
da frente da sua face, me encarando com seus olhos dilatados, respirando tão
eufórica quanto eu.
— Apenas estou passando um tempo no convento...
Meu cérebro processa imediatamente o que seus lábios falam,
olhando para seus olhos grandes, que piscam angelicais para mim de forma
arteira, me fazendo ir da raiva ao alívio, ódio e desejo, querendo matar essa
mulher. Mas de todas as sensações que ela me faz sentir, apenas uma se
sobressai entre todas, e não consigo raciocinar muito tendo meu pau latejando
dentro da calça.
— Graças a Deus! — Minhas mãos já estão em suas costas outra vez,
a puxando para mim, a tirando do chão. — Tem ideia de como eu me
condenei a semana toda? — falo rouco, me apossando dos seus lábios com
brutalidade.
Se ela tem consciência, não faço ideia, mas sei quais serão as formas
que vou fazê-la se arrepender de ter me feito me condenar por todos esses
dias por desejar tanto ter seu corpo colado ao meu. Solto suas costas apenas
uma vez, abrindo a porta do banheiro atrás dela, nos levando para dentro.
Mordo seu lábio inferior quando o sugo entre minha boca, a fazendo soltar um
baixo gemido de dor, fechando a porta com o pé, nos trancando lá dentro.
— Sem perguntas? — ela sussurra entre meus lábios, escorregando
sua mão pela minha camisa e desabotoando os botões. — Ok?
— Sem perguntas — respondo para ela quando sua boca se afasta da
minha, respirando acelerado.
Sem perguntas por agora, é a única coisa que posso prometer para ela.

— Oohhh, DENER!
Minhas mãos se apertam mais forte na lateral da sua bunda, investindo
mais fundo dentro da sua boceta quente. A cada retirada e entrada bruta do
meu pau entre suas pernas, a mão dela, que está em meu rosto, desliza em
minha face, e capturo um dos seus dedos, o sugando em minha boca, o
chupando com a mesma fome que meu pau a fode, o prendendo entre meus
dentes. Ergo meus olhos para o espelho, me enchendo de prazer completo ao
ver o reflexo dos seus seios livres, balançando a cada impacto que meu
quadril faz em sua bunda. Meu corpo atrás do seu a toma com a pura
selvageria que ela desencadeia dentro de mim. Solto sua bunda, diminuindo o
ritmo das investidas, retirando a camisa com botões abertos do meu peito,
jogando ao chão, junto com meu blazer. Meu peito bate depressa, com pura
luxúria me invadindo. Quando olho meu pau se afundando em suas pernas, ela
empina um pouco mais sua bunda, me dando a visão perfeita do seu rabo, que
amortece os impactos.
A calça arriada até as minhas canelas só mostra minha agonia para
estar o mais depressa que posso dentro da sua boceta. Minha mão espalma o
seu rabo, o esmagando entre meus dedos, afastando um pouco para enxergar a
camisinha que cobre meu pau, que está toda melada com os fluidos da sua
boceta. Ela geme manhosa, respirando agoniada, empurrando sua traseira a
cada penetração. Movo meus olhos para o espelho, procurando pelos seus, e
colo meu peito em suas costas, levando seus cabelos para frente do seu
ombro, tendo apenas a quentura das nossas peles se chocando. Minha outra
mão alisa sua barriga, subindo pouco a pouco, até sentir o peso do seu seio
preencher a palma da minha mão. Yane segura a pia do banheiro, encaixando
seu corpo perfeitamente com o meu, abrindo sua boca e soltando um baixo
gemido manhoso. Beijo seu pescoço até meus dentes abocanharem a ponta da
sua orelha, e a fodo lento, deixando meu pau abusar de cada deslize dentro da
sua boceta que o absorve. Massageio seus seios com as minhas duas mãos, a
ouvindo ronronar como uma gata maliciosa. Suas unhas raspam por minha
nuca quando seu braço se ergue, com ela o prendendo atrás da minha cabeça.
Seu rosto se vira para mim, me dando acesso aos seus lábios, que me
recebem, me beijando com doçura. Ela me fode de todas as maneiras, muito
mais do que meu pau a está fodendo agora. Seu beijo é como magia, me deixa
completamente perdido de tudo, e a prova disso é esse momento, onde estou a
fodendo dentro de um banheiro de um bar, com ela presa entre a pia e as
minhas costas, pouco me importando se alguém está ouvindo.
A forma como minha garota geme perversamente me deixa mais duro.
Nem na época da faculdade eu tinha perdido tanto meu juízo como estou
perdendo agora. A fodo com mais força, empurrando meu pau até sentir sua
bunda se colar à minha virilha, arrebatando um suspiro dela entre nossos
beijos, me afundando o tanto que posso dentro da sua boceta quente. Me
afasto dela, saindo do seu corpo, apenas para poder lhe virar de frente para
mim. Ela empurra a bermuda que está presa em seus joelhos, conseguindo
livrar uma perna, e isso para mim já está mais que perfeito. Não lhe dou
tempo para se livrar de vez do short, minhas mãos já estão coladas em sua
bunda, a puxando para cima, esmagando suas costas na parede. Suas pernas
enlaçam minha cintura, se prendendo forte. Seguro meu pau com minha mão, o
levando de volta para dentro da sua boceta e vibrando a cada centímetro que
ele vai sendo abrigado pelo seu interior úmido, sugado por todos os lados
pelo braseiro que ela está. Suas mãos puxam meu rosto para perto do dela,
me beijando com fome. Aumento o ritmo, a fodendo com força. Ela separa
seus lábios dos meus, movendo sua cabeça para trás. A ponta da minha língua
escorrega por sua pele, antes de eu depositar um beijo em sua garganta. Sinto
uma urgência que me toma a cada segundo que me empurro dentro dela.
Solto sua bunda, percorrendo seu corpo com minha mão, com meus
olhos presos a cada reação livre que ela me presenteia de pura luxúria. Yane
é uma criatura sensual, que exala aroma de sexo do seu corpo, me fazendo
desejar fodê-la mais, até minhas pernas não aguentarem. Meus dedos sentem a
maciez da sua pele, os movimentos agitados da sua garganta enquanto ela
respira eufórica, e meu pau a fode mais rápido assim que seus lábios
abusados capturam um dos meus dedos dentro da sua boca, o chupando
despudoramente, me provocando com sua língua, que o percorre. Ela fecha
seus olhos, sugando meu dedo em seus lábios, da mesma maneira que sua
boceta força a pressão das suas paredes internas inchadas ao redor do meu
pau, me fazendo travar meu maxilar a cada estocada que empurro com mais
força dentro de Yane. Sinto o tremor do corpo dela quando o orgasmo chega,
com suas coxas se comprimindo em minha cintura. A face dela repleta de
prazer enquanto goza é a coisa mais sexy que já vi em toda minha vida. Ela
segura firme meu punho, não me deixando afastar minha mão do seu rosto e
meu dedo sair dos seus lábios. E com essa visão dela gozando chupando meu
dedo, meu pau se afunda em sua boceta, aumentando as estocadas, garantindo
a minha própria libertação, que não demora muito a vir.
— Oh, porraaa! — Seguro com força sua bunda, tendo cada músculo
do meu corpo rígido. A correnteza elétrica me percorre, minhas pernas
formigam e o nirvana total é disparado junto com meus jatos de porra.
Abaixo meu rosto, colando minha testa ao seu pescoço, puxando o ar
com força, tendo o banheiro invadido por nossas respirações aceleradas.
Ouço o som baixo da risada dela, o que me faz erguer minha cabeça e levar
uma grande rasteira quando me perco em seu olhar. Ela está devassa, com
seus cabelos bagunçados, com os lábios inchados chupando meu dedo
lentamente, o soltando de mansinho. Afasto os cachos de perto das suas
bochechas, sabendo que acabei de foder não com uma noviça, mas com uma
pequena feiticeira libertina, e não, eu não estou nem um pouco disposto em
deixar essa noite acabar aqui.
CAPÍTULO 14
FODER, TREPAR E AMAR
Yane Rinna

— Aaaatchimmm! — Ergo o lenço de papel na frente do meu nariz, o


limpando rapidamente e espirrando pela terceira vez.
Sinto meu sangue gelar a cada segundo que os olhos semicerrados me
encaram, sentada do outro lado da mesa. Eu queria ter corrido para o mais
longe que minhas pernas poderiam me levar no segundo que Mand me avisou
que a madre estava me esperando na sala dela. Eu tinha me preparado para
tudo: gritos, expulsão e até cogitei dela estar tão brava que pudesse querer me
bater com alguma vara, como as professoras de antigamente faziam com seus
alunos malcriados. Mas ela não fez nada disso. A madre está agindo muito
pior, ela está me olhando com aquele olhar severo, que faz alguém se sentir a
pior pessoa do mundo sem precisar abrir seus lábios para dizer uma única
palavra.
— Olha, sei que talvez não me ajude... — Assoo meu nariz com força,
tendo meus olhos dilatados. — Mas em minha defesa, posso dizer que tentei
resistir o máximo que pude. — Encolho meus ombros, espremendo o lenço
nos meus dedos, balançando minhas pernas agitadas.
Nunca pensei que ficaria tão feliz em estar usando esse hábito e esse
véu pavoroso. Acho que os chupões distribuídos em meu pescoço a deixariam
com o humor muito pior do que está agora.
— Você tentou? — Ela arqueia a sobrancelha, contraindo seu cenho.
— E por que você tentou?
Ela me pergunta à queima-roupa, me fazendo ficar perdida. Me afundo
mais na cadeira, olhando para ela.
— Bom, aquela história, sabe... — Minha voz fanha, por conta do meu
nariz trancado, sai baixa em meio aos meus resmungos. — Carne fraca, o
santo é de barro e a tentação... — Ergo meus dedos, os batendo uns nos outros
e os encaixando, rezando para ela entender o gesto que estou tentando mostrar
com minhas mãos. — Entende a tentação?
A madre olha para minhas mãos, presas uma na outra, e volta a me
encarar com a face séria. Espirro forte outra vez, sentindo a dor latente dentro
da minha cabeça.
— Não me deixeis cair em tentação... — murmuro covardemente para
ela, assoprando meu nariz cheio de coriza no lenço. — Mas daí acabei caindo
em tentação.
Abaixo minha mão quando ela respira forte, como se fosse um animal
zangado. É assustador o olhar dela direcionado para mim, é quase como se
ela não piscasse nem por um segundo, como uma gárgula de gesso.
— Eu sinto muito. — Sorrio amarelo em meio aos espirros para ela,
tentando ser o mais sincera que posso.
Deus, Tomas vai me matar quando souber que fui expulsa do convento
porque trepei com o pai de uma das alunas!
— Vou fazer de conta que não sei o que realmente aconteceu ontem,
Yane. — Ela se levanta, estufando seu peito para frente e caminhando a
passos duros para perto da janela. — Não me pergunte o porquê. — Sua mão
se ergue, esfregando seu cenho. — Porque até eu estou esperando uma
resposta de Deus, para saber se o que vejo em você é real ou não. — A
severa mulher respira fundo, balançando sua cabeça, pensativa. — Entre
jejuns e orações, busco algum sinal de por qual motivo, entre todos os
conventos que existem nesse vasto mundo, tinha que ser justo no meu que
você entraria, e tento pensar que Deus tem um grande propósito ou apenas
está testando minha fé.
— Atchimmm! — Esfrego meu nariz com o lenço, olhando entre meus
olhos marejados pelo espirro para ela. — Uauuu, isso foi pesado... — A
madre se vira, me fazendo silenciar apenas com o olhar que me dá.
— Os planos de Deus nunca são leves ou claros. Ele sabe o que todos
trazem no coração, e como seu rebanho pode ser indisciplinado e às vezes
malcriado. — A madre leva suas mãos para trás das costas, me olhando de
cima a baixo, e não preciso de muito para saber que o rebanho sou eu. —
Sempre escreve certo por linhas tortas, nos levando por estradas repletas de
espinhos, pedras, buracos, que trazem calafrios e noites mal dormidas, onde
ficamos olhando por longas horas para o teto, perguntando o porquê. Por que
justamente eu tenho que passar por isso?
— Nossa! Nessa história eu sou a estrada tortuosa, que lhe dá
calafrios? — Coço minha cabeça, respirando pela boca, sentindo ódio desse
meu nariz trancado.
— E sempre quando achamos que não entendemos nada, Deus nos
mostra que o que Ele nos dá é o que precisamos e não o que queremos. Como
um verdadeiro pai justo e benevolente — ela suspira, me ignorando e
caminhando para perto do armário, o abrindo lentamente. — Eu vejo algo
bom em você, Yane, por trás das suas malcriações e desse seu
comportamento, digamos, exagerado. Enxergo uma ovelha que tomou
caminhos errados, mas que tem um bom coração e apenas precisa de bons
conselhos.
É a primeira vez que alguém fala isso para mim. Por mais estranhas
que sejam suas palavras, ainda assim é a primeira vez que não me xingam ou
me dizem como eu nunca passarei de algo inútil na minha vida, que apenas
faço coisas estúpidas. Ergo meus olhos para a madre, não a vendo mais com o
cenho franzido e muito menos com a face severa. Ela está serena, me olhando
silenciosa.
— É a primeira vez na história desse convento que uma irmã consegue
arrecadar oito mil dólares para doações do orfanato. — Ela ergue um malote
em sua mão, deixando-o sobre a mesa. — Claro que nenhuma delas tentou
tirar a roupa para lavar carros...
— VADIA, oito mil?! — Arregalo meus olhos, observando a quantia,
e recebo uma encarada de advertência por conta do palavrão. — Perdão,
madre... Mas isso... isso...
Me calo, ficando mais confusa do que quando entrei aqui. Andy tinha
me dito que foram mil e quinhentos, como essa soma virou oito mil? As
pupilas azuis, cheias de intensidade, brilham em minha mente, e não preciso
ser um gênio de álgebra para saber quem foi o doador da quantia excepcional.
— Não sou a favor do modo que você age, Yane, mas reconheço
quando alguém faz algo sem visar ganhos particulares — a madre fala calma.
Foco minha atenção em sua face, que me dá o olhar mais brando que já recebi
em minha vida. — O orfanato está há anos precisando de muitos reparos,
desde o telhado às paredes e camas novas para as crianças. Esse dinheiro que
você arrecadou será benéfico para eles.
Seus braços cruzam na frente do seu corpo, enquanto ela caminha,
parando a poucos passos de mim.
— Madre, na verdade, eu só queria mostrar que minhas meninas não
são perdedoras...
— Eu sei disso, assim como sei que em nenhum momento deve ter
pensado que lavar os carros quase seminua poderia me deixar brava. — Seus
olhos vão para o dinheiro e respira lentamente. — Fez isso por amor às
meninas, e tudo que é feito com amor é notado por Deus. Como disse, Ele
escreve certo por linhas tortas.
Sorrio, olhando animada para o dinheiro. Se fosse em qualquer
momento da minha vida eu estaria tento uma crise de raiva, por saber que
tinha faturado esse dinheiro todo e teria que doar para qualquer pessoa, mas
nem que me queimassem em uma fogueira eu me separaria da grana. No
entanto, esse dinheiro não é meu, é uma conquista das meninas. Foi por elas
que eu fiz, por olhar seus rostos magoados quando a irmã Nil as chamou de
perdedoras. Foi por enxergar a melancolia nos olhos de Andy quando a
menina perguntou o que a mãe dela tinha feito para ajudar. Eu sei que não sou
a mãe dela, e que muito menos tenho uma loja de roupa cara como a mãe
daquela menina. A única coisa que tenho é o meu corpo, é tudo que eu sempre
soube fazer, descolar grana com ele para não morrer de fome ou ficar sem um
teto sobre minha cabeça. E se eu uso meu corpo para ganhar dinheiro com um
monte de homens nojentos, que pagam para me ver tirando a roupa, por que eu
não poderia mostrar meu corpo para arrecadar dinheiro para a doação e
mostrar a todos que aquelas quatro meninas não são perdedoras? Eu conheço
perdedores, me olho todo dia no espelho, minha vida é uma grande merda.
Mas agora, apenas por agora, eu não me sinto uma perdedora.
— Eu fico feliz pelo orfanato. — Abro mais meu sorriso, olhando
para a madre, falando alegre com a voz fanha. — As meninas já sabem?
— Supus que seria melhor você contar para suas meninas. — Acho
que há muito tempo essa face enrugada não esboçava um sorriso, mas ali está,
a madre severa sorrindo para mim. — Pode ir contar para elas.
Me levanto, alisando meu hábito e caminhando alegre para a porta do
escritório.
— Yane... — a madre me chama assim que abro a porta. Me viro, a
vendo se sentar em sua cadeira, se arrumando no encosto do assento. — Só
mais uma coisa, antes que eu me esqueça.
Seguro o trinco, olhando para ela, que ergue seus olhos para os meus,
me encarando, não tendo mais o sorriso estranho nos lábios, apenas aquele
pavoroso bigode que se destaca.
— Na próxima vez que pular o muro do convento às cinco horas da
manhã — meu sorriso alegre morre e engulo seco, pigarreando nervosa —,
tenha em mente que a janela do meu quarto fica de frente para ele.
Minha voz se prende em minha garganta e apenas balanço minha
cabeça em positivo para ela, espirrando com força.
— Ótimo. Não preciso de detalhes e nem quero ouvir porque estava
pulando o muro da divisa da propriedade do senhor Murati. — A madre
ergue sua mão no ar, balançando-a. — Tenho até medo de saber o que andou
aprontando... — ela se corta, torcendo seu nariz, olhando para mim. —
Dormiu na casa dele?
Troco meu peso de perna, batendo meus pés no chão, sem saber se é
para falar ou não, ela me deixou confusa. Mas dizer para ela que em nenhum
momento eu dormi seria muito difícil. Saímos daquele bar assim que nos
vestimos. Nunca vi um homem tão sério enquanto caminhava a passos firmes,
segurando minha mão. Ele apenas passou no balcão, pagando a conta, e já
estava sendo arrastada para o carro. Eu não sabia o que me esperava, ele não
falava nada, apenas respirava apressado. O carro praticamente voou até a
residência dele, e antes que eu pudesse ter chance de correr para o gramado
quando abri a porta do veículo, já estava sendo arremessada no ombro dele,
ficando com minha bunda para cima e ele me levando para dentro. Pisco
nervosa, olhando a madre me encarando, e com toda certeza não vou ter essa
conversa com ela. Acho que a madre ficaria espantada em como aquele
homem pode ser persuasivo quando está completamente nu dentro da
banheira.
— Yane, está tendo alguma coisa com o senhor Murati?
— Então, eu fiquei confusa. — Assopro meu nariz, a encarando. — É
para falar que estou ou prefere não ficar sabendo? — Ela tampa o rosto com
suas mãos, balançando a cabeça em negativo.
— Deus! Suma da minha frente e peça para Mand lhe dar algum chá
para auxiliar nessa sua constipação.
Não preciso de um segundo pedido, já estou correndo para fora da
sala dela, segurando o riso. Meus passos diminuem quando paro diante da
vidraça, olhando na direção da propriedade de Dener.
— Você é uma tola, garota — me recrimino por saber que estou com
um sorriso bobo nos lábios olhando para lá, tendo minha pele toda se
aquecendo, e não por conta do resfriado que me atacou essa manhã, mas sim
por apenas me recordar de como foi ficar presas em seus braços.
— Me toque, Yane. — Ergo meu rosto para Dener, vendo a luz do
luar que entra pela janela tocar sua face. Minha respiração acelera
enquanto percorro meu olhar por seu corpo úmido do banho.
Minha mão se eleva com gestos tímidos, tocando lentamente seu
abdômen nu. Deixo meus dedos traçarem um caminho, sem pressa, sentindo
a força dos seus músculos. Abro meus dedos, espalmando minha mão em
seu peito, vendo-o soltar a toalha de mansinho do meu corpo, a levando ao
chão. Meus seios se arrepiam quando a ponta do seu dedo toca por cima
deles, escorregando para os lados e os circulando. Meu corpo inflama
assim que seus lábios tocam meu ombro, deixando um beijo onde ele tinha
mordido com força durante o banho. É como se Dener quisesse se
desculpar com beijos cálidos pela forma selvagem que me fodeu, mas eu
não estou me sentindo usada, e muito menos horrorizada com o desejo que
ele tem preso dentro dele. Eu quis, queria ele sem controle, tão cheio de
paixão como eu estava, tanto dentro do banheiro do bar como na sua
banheira. Mas Dener não tem apenas o meu corpo nu diante dele agora, ele
está me fazendo abaixar a guarda, deixando minha alma despida, como eu
nunca deixei para ninguém.
— Você me tira o juízo, sua feiticeira. — Sua voz rouca sussurra em
meu ouvido, o que faz minhas pernas molengas fraquejarem. — Acho que
meu corpo nunca vai ter o suficiente do seu.
Minhas mãos se prendem em sua cintura, como se me segurassem
para não cair, tão dopada por sua voz rouca. Entrego para ele muito mais
que meu corpo quando sua boca para sobre a minha, me tomando de forma
doce e terna, como se estivesse pedindo permissão para continuar me
beijando com sua língua atrevida. Nunca foi assim. Nenhum beijo, afago ou
forma de ser olhada. Homem algum usou de carinho ao me tocar, como
Dener está fazendo agora. Seus braços me puxam para ele, apertando o
abraço, deixando nossos corpos nus se chocarem. Sinto seu pau ereto
latejar em minha barriga. Dener passa os braços por baixo das minhas
pernas, me tirando do chão e caminhando para a cama, me mantendo
extasiada com a paixão que ele me beija. Apenas sinto minhas costas no
colchão quando seu corpo se afasta do meu, ficando por cima de mim. Ele
vai baixando sua cabeça, alastrando seus lábios e beijando meus seios,
farejando minha barriga e esfregando a ponta do seu nariz em minha pele.
— Deus! Oh, Dener... — Minha cabeça se afunda no travesseiro
quando recebo o ar quente dos seus lábios sobre minha boceta.
Sua boca suga os lábios superiores, os puxando devagar, deixando
uma fisgada de dor pequena me tomar. Minhas pernas se abrem, se
esparramando no colchão, dando mais espaço para ele. Seguro seus
cabelos com meus dedos assim que sua língua desliza no clitóris, o
mordiscando levemente, o sugando para sua boca em seguida. Meu corpo
vibra a cada sucção que sua boca faz em cima do nervo contraído. Movo
meu quadril no ritmo dos seus lábios, sendo invadida por tanto prazer com
seus toques. As grandes mãos se infiltram por baixo da minha bunda, se
prendendo à minha pele, me segurando imóvel no lugar, para ele continuar
me torturando com suas carícias lentas, arrancando tremores e suspiros do
meu corpo a cada deslize da sua língua sobre meu clitóris. Meu corpo se
entrega a ele, lhe deixando ter o que quer de mim por essa noite. Não sou
mais a azarada Yane aqui nessa cama, tendo minha boceta chupada com
tanto desempenho. Presa nos braços de Dener, me permito ser apenas uma
mulher amada.
Talvez esse seja meu erro. É fácil me perder, me jogar no abismo,
caindo em queda livre. Nada pode ser mais perigoso para a saúde de um
coração feminino do que estar entre a onda do orgasmo e abrir suas
pálpebras e se deparar com o olhar mais belo que um homem pode dar para
uma mulher diante da sua face no momento que ele a penetra lentamente. E
é assim que Dener me dá um xeque-mate, me tomando cantinho por
cantinho, acomodando seu pau dentro da minha boceta até eu poder sentir
nossos corpos colados um ao outro, virilha com virilha, pele na pele. Sua
mão se ergue, parando ao lado da minha cabeça, pairando sua face sobre a
minha.
— Gosto de como seu corpo responde a mim, minha feiticeira. —
Sua voz rouca sussurra, percorrendo seus olhos por meu rosto.
Dener alavanca seu corpo para cima, me fazendo gemer entre a dor
e o prazer de estar com se pau tão fundo dentro de mim. Meu corpo, que há
tanto tempo não recebia tanto prazer, agora se acende como brasa a cada
toque dele. E mesmo depois do sexo urgente no banheiro do bar, as
estocadas brutas dentro da banheira, com pura selvageria, me parecem ser
pouco. O quero de todas as formas, e me delicio com a esfomeação do meu
corpo, gemendo com o prazer que Dener me dá.
— Deusss! — Fecho meus olhos, mordendo meus lábios, sentindo
minha boceta tão sensível a cada movimento do quadril dele.
Ondas de choque me pegam, me deixando em fragmentos de prazer,
sendo repassados por minhas veias como fogo que me queima a cada entra
e sai do seu pau. A língua traiçoeira percorre meu pescoço, parando em
meu queixo, me devastando com essa nova forma de estar nos braços de um
homem que para mim é desconhecida. Na minha vida, aprendi a foder,
trepar, dar uma rapidinha, a saber que a partir do momento que o homem
gozasse, ele se viraria e iria embora ou dormiria, não se importando
comigo. Mas Dener me fodeu naquele banheiro de bar, trepou duro comigo
na sua banheira e agora está fazendo amor comigo nesse pequeno momento
roubado dos nossos mundos tão diferentes. Me perco nele, me entregando
vagarosa, sem barreiras. Não há o fogo interminável da loucura, a luxúria
animal. Não há dor nem necessidade da libertação urgente. Dener me tira o
fôlego, me arrebata em seu beijo e isso me enche de prazer, como nunca
senti, mas também me inunda de medo.
E é usando esse medo de me machucar, de saber exatamente o que
me espera quando o dia amanhecer, que arrasto meu corpo para fora da
cama assim que tenho a certeza de que ele está em um sono pesado. Pego
uma calça e uma camiseta de botão dele emprestada, dobrando as barras
da calça e as mangas da camiseta, até eu conseguir ver meus pés e minhas
mãos, fugindo o mais rápido que posso de dentro desse quarto. Aprendi
muitas coisas na minha vida, e uma delas é saber que garotas como eu são
boas apenas enquanto a noite está estrelada, ninguém quer uma stripper ao
seu lado quando o sol nasce.
— Grande tola — sussurro, abraçando meu corpo, me afastando da
janela, me obrigado a esquecer essa noite.
CAPÍTULO 15
DOCES E SEGREDOS
Andy Murati

— Hummm, que cheiro gostoso que está aqui! — Linda fala alto,
chamando a atenção de Mand quando nós quatro entramos na cozinha do
refeitório.
— Bom dia, irmã Mand. — Dora se aproxima dela, olhando com
interesse para a bacia que ela segura. — O que está fazendo?
— Bom dia, meninas, que bom ter visita tão cedo aqui na cozinha. —
Mand dá um leve tapinha na mão de Dora quando ela tenta infiltrar a ponta do
dedo dentro da bacia. — Tire sua mão daí, Dora! — Mand ri, alegre. —
Estou fazendo pãezinhos de mel para o café da tarde, receita antiga da minha
mãe.
— Pelo cheiro parecem que vão ficar ótimos, irmã Mand. — Caminho
para a pia, me encostando e ficando perto dela.
— Vão ficar uma delícia. — Mand olha com interesse para minha
face por um instante. — Hoje é sábado, Andy, não foi para casa ainda?
— Eu estou esperando o papai, avisei ele ontem que iria passar a
noite no convento com as meninas. — Desvio meu olhar para Dora, que já
está dando um sinal de cabeça para Linda ficar perto da porta, para nos
avisar se Yane aparecer.
Não estou mentindo para Mand ao dizer que ainda estou no convento
porque estou esperando por papai. Mas o que ela não sabe é que não desejei
ir para casa porque sabia que o melhor momento para conseguir tirar alguma
coisa da doce irmã seria hoje de manhã, quando ela passa grande parte
sozinha dentro da cozinha. Dora, Jani, Linda e eu nos unimos e traçamos um
plano. Linda ficará cuidando da porta para ver se Yane chega, Jani distrai
Mand com vários assuntos paralelos, e então Dora e eu nos metemos na
conversa, jogando um verde sobre a história de Yane. E, na verdade, não
precisa de muito. Jani começa a falar sobre a mãe dela e como sua
progenitora nunca gostou de cozinhar e tem pavor de ficar dentro de uma
cozinha. E por trinta minutos falando, as duas se embalam em uma conversa
corriqueira, entre massas de pãezinhos e forminhas para levar eles ao forno.
— Irmã Mand, preciso de um conselho seu. — Dora pisca para mim,
puxando uma cadeira e se sentando perto de Mand, depois que ela levou suas
guloseimas para assar no forno.
— Nossa, um conselho meu? — Mand sorri para mim, mexendo em
suas sobrancelhas. — Acho que nunca ninguém me pediu um conselho.
— Na verdade, esse conselho é sobre o que podemos fazer para
ajudar uma amiga nossa — cochicho, puxando minha cadeira para perto da
dela.
— O que faria para ajudar uma amiga, irmã Mand? — Jani joga seus
cabelos para trás dos seus ombros, olhando tristonha para Mand. — Se
soubesse que ela tem a chance de ser feliz, mas ela ainda não sabe.
— Isso seria um pouco complicado... — Mand coça sua testa,
enquanto nós três a encurralamos. — De que tipo de felicidade nós estamos
falando?
— Do amor — respondo risonha para a irmã curiosa. — Um rapaz
pode estar gostando dela, mas ela é um pouco avoada e talvez não perceba. E
acabe voltando para a vida dela, partindo e deixando um grande amor para
trás.
Estou chutando, apenas usando as teorias de Jani, rezando para ela
estar certa sobre Yane realmente não ser uma freira.
— Acho que ela merece uma chance para ser amada, provavelmente
eu tentaria mostrar isso para ela.
— Perfeito, Mand! — Jani dá dois saltinhos dentro da cozinha,
batendo palmas e olhando animada para nós.
— Ótimo, irmã Mand, que bom que pensa assim! Porque vai ter a
chance de nos ajudar a mostrar isso para ela. — Dora solta um tapa na mesa,
alegre, olhando risonha para a freira, que está com seus olhos arregalados.
— Estamos falando de uma das alunas do convento?
— Não, estamos falando sobre Yane... — murmuro acanhada, a
fazendo se virar de uma única vez para me encarar.
— Irmã Yane? — Mand se levanta rapidamente da cadeira, nos
olhando assustada. — Estão querendo arrumar um namorado para uma
freira?!
— Oh, qual é, irmã Mand? — Dora olha para ela, negando com a
cabeça. — Nós já sabemos a verdade sobre Yane.
Dora fala com tanta convicção, que poderia fazer qualquer um
acreditar que a gente realmente sabe de algo.
— O pai da Andy está caidinho pela Yane — Jani suspira, com um
olhar romântico para irmã Mand.
— Caidinho? — Mand sussurra, ficando de costas para nós. — Vocês
estão vendo coisas demais. Yane é uma noviça, ela não está interessada em
ninguém...
— Yane não é freira, Mand, sabemos disso, ela nos contou — falo
rápido, me levantando e me aproximando dela. Olho para Dora, que ergue o
dedo, apontando para mim, me fazendo prosseguir com os argumentos. —
Acha mesmo justo Yane perder a chance de conhecer o amor de verdade ao
lado do meu pai, apenas porque ela não conseguiu perceber o quanto ele está
interessado por ela, ou o meu pai ficar com uma mulher que não ame, porque
a que ele gosta pensa que é uma freira?
Mand se vira lentamente, olhando para mim. Encolho meus ombros,
deixando minha face triste, apelando para o coração bondoso de Mand.
— E se Yane voltar para a vida que ela tinha antes e acabar perdendo
a chance de ser feliz com um homem que ama ela... — Bato a ponta do meu pé
no chão, lentamente. — Não estamos inventando essas coisas, e você sabe
disso. Me diz se não percebeu a forma como os olhos do meu pai brilham
quando veem ela?
Mand desvia sua atenção para o forno, deixando uma expressão
pensativa em sua face.
— Ontem mesmo, não acha que o tio ficou agitado demais quando
chegou no estacionamento, tanto que até foi lavar carro junto com a Yane?! —
Dora fala mansa, brincando com seu pé no chão.
— Não queremos que ela vá, irmã Mand — Jani cochicha, tristonha.
— Yane pode ser feliz aqui. Quem sabe ela continue conosco no convento,
sendo feliz com um cara bacana.
— Acha mesmo que Yane é feliz com a vida que ela tinha? — Dou
mais um passo na direção de Mand, esperando-a se virar para me olhar. Ouço
a respiração dela baixa. — Crê que ela vai ser feliz se voltar para essa vida
ou que meu pai vai esquecer ela?
— Não... — A voz de Mand é um sussurro, fazendo Dora e Jani se
levantarem, caminhando para perto dela, deixando nós três a cercando. Ela se
vira lentamente, olhando para o chão e balançando a cabeça em negativo. —
Não acho que ela vai ser feliz se voltar. Ela já está se escondendo daquele
ex-companheiro agressor dela...
— Oh, meu Deus! Yane apanhava? — Dora bate na cabeça de Jani
quando ela fala alto.
Mand já está recuando, nos olhando nervosa, tentando fugir de nós.
— Vocês me enganaram! Yane não contou nada, não foi? — Irmã
Mand ergue o dedo, apontando para nós, descobrindo nossa armação. —
Mentiram para mim apenas para descobrir sobre o passado da Yane.
— Não... — Ergo minha mão, negando sua acusação. — Não
mentimos...
— Não em tudo. — Dora olha para ela com um sorriso amarelo. — O
tiozão realmente está caído pela Yane, mas apenas não tínhamos certeza ou
não se ela era uma freira.
— Realmente queremos que Yane fique e seja feliz — Jani fala
rápido, coçando sua cabeça, onde Dora bateu. — Precisamos da sua ajuda...
— Apenas precisamos que nos conte a verdade sobre Yane. — Dora
segura os dedos de Mand junto aos seus, a fazendo olhar para ela.
— E o resto deixa com a gente, temos um plano — falo confiante, lhe
dando um sorriso. — Temos um plano infalível.
— POR FAVOR!!! — Nós três gritamos em coral com voz de choro,
implorando para ela nos contar.
— Oh, meu Deus! Que a Yane e muito menos a madre descubram isso!
— Mand solta seus dedos da mão de Dora, esfregando seu rosto vermelho. —
A madre não me contou muito, apenas me disse que Yane estaria vindo para
cá até resolver o problema que ela tem com o ex-marido agressivo. Não estou
dizendo que ele batia nela, eu não sei sobre isso, apenas sei que ele é
perigoso.
Dora olha para mim em silêncio, enquanto nós duas pensamos sobre a
situação de Yane. Se papai ficar com Yane, ele vai protegê-la de qualquer
coisa, duvido que esse cara vá querer se intrometer com um juiz linha dura
como o papai. Também tem o tio Stone, se eu conversar com ele, certeza de
que ele vai nos ajudar.
— O que vocês pretendem fazer? — Mand pergunta, preocupada, nos
fazendo olhar para ela.
— Meu pai sempre me contou sobre o baile beneficente que a família
da minha mãe oferecia ao fim das gincanas, talvez esse ano pudéssemos fazer
o baile outra vez. — Sorrio animada, já sabendo justamente cada passo que o
plano vai seguir.
— Vai ser uma operação cupido, irmã Mand — Jani fala com ares
apaixonados, piscando seus cílios com graciosidade.
— Na verdade, vai ser uma versão mais agitada da gata borralheira.
Yane e o tiozão não vão ter nenhuma chance contra nós. — Dora passa seu
braço sobre meu ombro, enquanto rimos alegres e otimistas. — Apenas temos
que garantir que Yane não parta quando der meia-noite.
— Seremos as melhores fadas madrinhas — falo animada, sorrindo
de orelha a orelha.
— Ela está vindo! — Linda entra na cozinha, correndo, parando perto
de nós.
Olhamos para Mand, em busca da sua confirmação de estar junto com
a gente, e é o grande sorriso dela enquanto bate suas palminhas que nos
confirma nossa aliada.
— O que esses quatro monstrinhos estão fazendo aqui, Mand? —
Todas nós viramos para a porta, vendo o olhar curioso de Yane em cima da
gente. — O que estão aprontando?
— Oh, largue de implicância, elas estão apenas me ajudando com os
pãezinhos de mel! — Mand arregala seus olhos, abrindo a boca em
desespero. — Meu Deus, meus pãezinhos!
Caímos na gargalhada, olhando o desespero de Mand, correndo para o
forno, para verificar suas guloseimas. Yane caminha para nós, nos
observando com atenção.
— Vou fazer de conta que acredito que estão aqui ajudando Mand e
não atormentando ela. Mas vou ficar de olho em vocês, me ouviram? — Ela
leva dois dedos à frente dos olhos, os mexendo em nossa direção. — Mas foi
bom achar todas reunidas, tenho uma coisa para contar para vocês...
Sorrio para ela, a pegando de surpresa quando meus braços enlaçam
sua cintura. Nunca pensei que ficaria tão feliz em conhecer uma pretendente
do meu pai, mesmo que ela não saiba disso ainda.
— Eu te amo, Yane. — Minha voz sai abafada, enquanto esfrego meu
rosto no peito dela, abraçando-a mais forte.
Sinto seu corpo ir relaxando, com ela abaixando suas mãos em minhas
costas, retribuindo meu carinho. Dá um beijo amoroso em cima da minha
cabeça, enquanto cochicha, suspirando:
— Eu também te amo muito, minha doce Andy.
— Nós todas te amamos, Yane. — Jani, Dora e Linda se juntam a nós,
nos abraçando.
Yane abre os braços, recebendo nós quatro coladas a ela, enquanto ri.
— O que vocês aprontaram? — Rimos, abraçadas a ela, negando com
a cabeça.
— Não aprontamos nada — Linda a responde, risonha.
Ainda!
Meu cérebro completa a frase de Linda dentro da minha cabeça, mas
seguro as palavras antes de saírem pela minha boca, enquanto rio com Dora e
Jani, que devem estar pensando o mesmo que eu.
— Bom, aproveitando todo esse momento de amor, quero anunciar a
vocês que nossa equipe foi a que mais arrecadou dinheiro para ser doado ao
orfanato. — Nós quatro levantamos o rosto, olhando para Yane, que sorri
alegre. — A irmã pandinha vai ter que nos engolir, meninas, pois
arrecadamos a bagatela de oito mil dólares!
Yane explode em uma gargalhada, com nós quatro gritando em volta
dela, não acreditando que conseguimos alcançar tudo isso.
— Eu não vou perder a cara da Luci sebosa por nada nesse mundo
quando ela souber que a perdedora foi ela! — Dora ri, batendo no ombro de
Jani, com as duas gargalhando.
CAPÍTULO 16
AS CURVAS
Dener Murati

— Oh, Dener... — A voz manhosa sussurra meu nome enquanto a


ergo em meus braços, a sentando em meu colo dentro da banheira, com seus
cachos molhados esparramados sobre seus seios.
Minhas pernas se esticam dentro da banheira, a deixando mais
confortável com suas coxas presas à lateral das minhas. Empurro seus
cabelos para trás, deixando meus dedos desenharem cada parte do seu
corpo, traçando um caminho em seus seios, sentindo a maciez do seu
ventre, até meus dedos se afundarem na espuma, parando entre suas pernas.
Ela deixa escapar um suspiro dengoso por seus lábios assim que meus
dedos tocam seu monte macio e carnudo. Levo dois dedos para dentro e
sinto a quentura da sua boceta quando ela se aperta neles, que se movem
preguiçosos, a fodendo com desejo. Sua cabeça tomba para o meu ombro,
arrastando as unhas no meu couro cabeludo, se segurando em meus
cabelos. A penetro mais forte, a vendo arfar, empurrando seu quadril para
baixo em minha mão. Yane é uma porrada de tentação. Eu soube que a
desejaria com mais fome quando saí daquele banheiro de bar com uma
necessidade urgente, a qual prolongaria essa noite o máximo que eu
pudesse. Meu pau a desejou desde o momento que ela apareceu no meu
jardim, como uma bruxa arteira. E nesse momento tudo que quero é sentir
todo o prazer que seu pequeno corpo feito de luxúria pode me dar. Abaixo
meu rosto, beijando seu ombro, raspando meu dente na sua garganta,
sentindo sua boceta se apertar em volta dos meus dedos.
— Oh, Dener, por favor... — A forma como essa criatura chama meu
nome me faz a desejar mais ainda, me enchendo de orgulho e tesão.
Meus lábios chupam com mais força sua garganta, a fazendo se
encolher em meus braços, movimentando água quente dentro da banheira.
Levo meu braço, que está livre, para sua cintura, prendendo-a a mim. Por
essa noite quero me afundar dentro da boceta dela o máximo de vezes que
eu puder. Yane traz seu rosto para frente, esfregando suas bochechas em
minha face, parando seus lábios nos meus. A beijo forte, como se tivesse
com um pêssego em minha boca, que me enche de doçura e loucura. A fodo
mais fundo com meus dedos, a beijando com a mesma necessidade que meu
corpo está sentindo por ela. Suas unhas se cravam em meus ombros,
enquanto ela rebola seu quadril. Minha pele queima com dor, por ter a
carne arranhada por suas unhas. Yane solta gemidos entre nossos beijos,
apertando suas coxas mais forte em volta das minhas. Ela desprende seus
lábios dos meus, jogando sua cabeça para trás em abandono, gemendo com
seu orgasmo. Meus olhos estão concentrados em sua face, a qual me joga à
lona, inflamando minha soberba por saber que nesse momento ela é apenas
minha, que sou eu que causa essas expressões lindas em sua face. Foder
Yane é como um entorpecente que entrou em meu organismo. No momento
que meu pau se enterra em sua boceta, nubla qualquer pensamento
coerente que eu possa ter.
— Isso é muito bom... — Sua face risonha murmura, enquanto ela
respira acelerada, aproveitando o êxtase do orgasmo.
Retiro meus dedos de dentro dela, apertando-a mais forte em um
abraço, esfregando meu rosto em suas mamas molhadas, beijando as
laterais redondas, que se arrepiam com o toque dos meus lábios.
— Por que está dentro daquele convento, se passando por uma
freira? — Abraço ela mais apertado quando sinto seu corpo ficar agitado.
— Está fugindo de alguém, Yane?
Ergo meu rosto para o seu, sendo devorado por dentro por todas as
teorias que passam em minha cabeça. Yane é uma mulher quente e viva, sem
vergonha ou pudor da sua sexualidade, nem fica acanhada em deixar um
homem saber que lhe dá prazer, é da essência dela sua sexualidade
aflorada, essa magia que me cativa. Transei com muitas mulheres ao longo
da minha vida, mas nenhuma delas se entregou com tamanha volúpia como
Yane, que me fez me sentir louco, selvagem e poderoso por tê-la em meus
braços. Levanto minha mão, acariciando seu rosto, sentindo um gosto
amargo em minha boca por desejar tanto essa feiticeira e não saber nada
sobre ela. E apenas a ideia de que outro possa a ver tão bela como ela está
agora, com seus olhos brandos de prazer, boca inchada pelos meus beijos e
cabelos molhados escorregando por seu corpo, como uma nefasta deusa do
sexo, já é o suficiente para me deixar possessivo. Yane me faz ter emoções
novas, tanto a perca do meu controle a tendo em meus braços, como uma
necessidade de exclusividade.
— Eu disse sem perguntas...
— E eu lhe disse não naquele momento. Por que está dentro de um
convento?
— É complicado, Dener. — Ela beija minha boca de forma
provocativa, mordendo meu lábio superior, o sugando lentamente.
— Preciso que me fale a verdade, Yane. — Seguro seu rosto entre
minhas mãos, a fazendo me olhar, falando firme.
— E estou. — Seus olhos mudam de rumo rapidamente, como se ela
estivesse buscando uma memória antiga, comprimindo seus lábios com os
dentes.
— Posso te ajudar, cuidar de você... — Ela me dá um olhar
melancólico, como se eu tivesse falado algo ruim para ela. — Apenas
preciso saber por que está se escondendo aqui... — Solto seu rosto, a
puxando para mais perto com minha mão presa em sua nuca. — Não sou um
guarda de jardim, você sabe disso, tenho poder...
Seus dedos se erguem, parando em cima dos meus lábios, os
pressionando, negando com sua cabeça.
— Para mim você é. — Seus cílios batem brandos, como as asas de
uma borboleta, com sua voz cochichando terna. — Não me importo quem
você é ou que seja, não preciso que cuidem de mim, eu sempre me cuidei
sozinha. Aqui, agora, sou apenas sua garota e você meu guarda de jardim.
Fecho meus olhos, sentindo o gosto dos seus lábios quando ela me
beija, devassa, escorregando sua língua pelo meu queixo. Suas mãos se
infiltram dentro da água quente entre nós dois, e meu pau pulsa quando ela
o envolve com seus dedos. Respiro pesado, esmagando seus cabelos a cada
deslizar que sua mão faz em cima do meu pau.
— Um gostoso e sexy guardinha de jardim. — Meus ombros
relaxam, inclinando minha cabeça para trás, tendo minha pele queimando
por seus lábios enquanto ela me provoca, tirando minha concentração.
A ponta do seu dedo contorna a cabeça do meu pau, o fazendo
pulsar outra vez, aumentando o fluxo de sangue que passa pelas veias, o
deixando rígido e latente. Sua boca para sobre meu peitoral, mordendo
minha pele, sugando apenas o bico do peito, circulando sua língua. Minha
mão escorrega por suas costas, parando em sua bunda, a prendendo com
força, ficando mais perdido entre os gemidos que saem da boca dela. Um
som rouco escapa dos meus lábios assim que seus dedos aumentam o ritmo
da masturbação no meu pau.
— É isso que temos, apenas essa noite. — Seu rosto para a frente do
meu, mordendo meu pescoço de mansinho. — Então me foda, meu sexy
guardinha, me foda como nunca fodeu qualquer outra mulher... Porque, por
apenas essa noite, serei toda sua.
Meus olhos se abrem, elevando meu rosto para cima, parando a
centímetros do dela. Yane se assusta quando a seguro com força pelas
costas, chocando nossos peitos.
— Não pense que nossa conversa acaba aqui, Yane — falo baixo,
com minha voz sendo apenas uma rouquidão, com meu peito batendo
disparado. — E muito menos que essa é a única noite que teremos,
feiticeira.
Um gritinho sai dos seus lábios quando a movo de cima de mim, a
virando dentro da grande banheira. Suas mãos se prendem na cerâmica
branca, enquanto alavanco seu quadril para trás. Meu corpo se ergue sobre
o seu, e uso meus joelhos para afastar suas pernas, me dando passagem
para ter acesso à sua boceta. Apenas estico minha mão para a minha
carteira caída ao chão, perto da banheira, em cima das nossas roupas,
pegando uma camisinha e a trazendo para mim. Ouço sua respiração
acelerada enquanto cubro meu pênis. Assim que termino, arrumo meu pau
na entrada da sua boceta. Seu corpo treme e sinto sua boceta inchada e
quente o receber, o sugando até eu estar enterrado dentro do corpo dela.
— Oh, Deus, sim! — Sua cabeça cai para frente, entre seus braços,
segurando com mais força a borda da banheira, empinando seu rabo.
Travo meus dentes, sentindo sua boceta comprimir meu pau a cada
passo que a invado.
— Porra... — Aperto meus dedos no seu quadril, levando minha mão
para a frente do seu corpo, subindo por sua barriga, segurando um dos
seus seios e pressionando o bico sensível da mama com um leve beliscão.
Minha outra mão vai ao seu cabelo, o puxando, trazendo seu rosto
para mim. Seus olhos fechados, com seus lábios entreabertos, gemendo a
cada centímetro que meu pau se retira de dentro dela, é a luxúria em carne
e osso. Embalada dentro de um corpo suave e quente, uma feiticeira que me
faz querer morar dentro da sua boceta fogosa.
— Olhe para mim, Yane. — Ela abre seus grandes olhos de coruja
para mim, me deixando ver a mesma loucura que ela impôs em meu corpo
queimar dentro dela, e gosto de saber que ela sente tudo o que ela faz
comigo.
— Dener... — Seus lábios carnudos sussurram meu nome e se
transformam em um perfeito “O” quando volto meu pau para dentro da sua
boceta de uma única vez.
Me retiro outra vez, com a mesma lentidão, voltando duro e firme ao
seu interior, chocando meu pau por completo em sua bunda. Yane soluça,
gemendo a cada estocada funda que vou conduzindo dentro do seu corpo.
Meu peito se arqueia sobre suas costas, os unindo. Minhas mãos se
prendem junto com as dela na borda da banheira, e vou acelerando as
penetrações, a fodendo tão forte entre os baques dos quadris se chocando,
ouvindo seus gemidos e soluços. É uma necessidade insuportável, como se
meu corpo precisasse disso para se acalmar e aplacar essas emoções que
Yane me desencadeia. Invado sua boceta forte, mais rápido, não
conseguindo me controlar, mesmo sentindo seu corpo sensível e inchado
por dentro. E ela me provoca, rebola, empinando seu rabo o máximo que
pode, gemendo como uma gata despudorada, me instigando com seus sons
libertinos. Mordo seu ombro, afundando meus dentes na pele fina,
aumentando a pressão tanto das penetrações como da mordida, me
deixando fodê-la selvagem, com pura urgência de aplacar a confusão que
ela me causa. Meu pau a toma duro, sem cerimônia, fazendo exatamente o
que ela me pediu: estou a possuindo como nunca fodi nenhuma outra
mulher.

— Para um homem que quase derrubou as paredes da casa noite


passada, está com um semblante muito fechado, não acha? — A voz de Stone,
que caminha ao meu lado, é taciturna, com seus olhos percorrendo o
perímetro. — Está mal-humorado desse jeito porque acordou e se deparou
com a cama vazia?
— Não estou mal-humorado. — Respiro fundo, falhando em tentar
deixar minha voz sair calma.
— Estamos caminhando até o convento, Dener. — Ele rebate com
deboche. — Apenas caminha quando algo lhe deixa irritado.
— O convento fica ao lado da minha residência, não vejo qual
espanto com o fato de caminharmos até lá. — Perco meus olhos na direção
dos grandes muros na lateral da propriedade. — Você a viu partir? — Levo
minhas mãos ao bolso, respirando fundo.
— Um dos meninos a viu no jardim, então me comunicou pelo rádio
patrulha. — Stone se vira, olhando os rapazes caminhando distantes, atrás da
gente. — Quando cheguei ao jardim, ela já estava perto do muro.
— Por que não a impediu? — rosno baixo, o encarando por trás dos
meus óculos escuros.
— Qual é, Dener?! — Ele para de andar, se virando para mim. — Em
nenhum momento me disse que planejava manter uma freira em cárcere
privado.
Repuxo minha face, encarando a rua vazia, que leva à entrada do
convento.
— Eu imagino que deva ter gostado dos atributos dela, ainda mais
depois de quase derrubarem a porta daquele banheiro do bar. — Ouço sua
risada, enquanto ele bate em meu ombro. — Sua sorte que usei todas as
minhas moedas naquela máquina velha de música, para os clientes não
perceberem o que estava acontecendo dentro do banheiro. Se algum dia
alguém me dissesse que veria o grande juiz Murati se trancando com uma
mulher dentro de um banheiro de bar, eu não acreditaria. — Sua risada
aumenta, com ele caçoando de mim. — Mas, falando sério, querer manter ela
presa à sua cama, isso já não posso te ajudar.
Retiro meus óculos, levando meu olhar para os seguranças distantes.
Balanço minha cabeça em negativo para Stone. Não quero prender Yane à
minha cama. Não vou mentir que não fiquei com raiva quando acordei e me
deparei com a cama vazia, tendo apenas o cheiro dela entre o lençol, porque
isso me deixou irritado, mas o que realmente me incomoda é saber que ela
fugiu sem me contar a verdade sobre o motivo da sua estadia dentro desse
convento.
— Não vou nem perguntar se foi bom, porque isso ficou claro pela
forma como a arrastou para seu carro e pelos sons da cama estourando na
parede, repercutindo pela casa inteira. — Olho para ele, respirando fundo,
voltando a caminhar. — Não precisa ficar preocupado, pois fui o único a
ficar fazendo segurança no interior do imóvel, ninguém mais ouviu sua noviça
quente.
— Ela não é uma freira — respondo rápido, o cortando.
— Acho que depois de ontem, realmente não vai ser mais — ele fala
rindo, caminhando a passos lentos ao meu lado.
— Yane não é a porra de uma freira! — grunho entre meus dentes, o
olhando sério. — Ela está se abrigando dentro do convento. E foi embora sem
me contar o porquê.
— Acha que ela tem alguém? — Stone fala calmo, olhando para mim.
— Por isso está zangado?
— Não estou zangado, apenas não gosto de saber meias-verdades —
respondo sério, não admitindo que o fato de pensar que Yane tem algum
homem me incomoda, e muito.
— Eu continuo achando que está zangado. É normal ficar assim,
agitado. A mulher te pegou pelas bolas.
— Porra, Stone, não estou zangado! — Minha voz sai alta, enquanto
puxo o ar pelas minhas narinas, amaldiçoando entre os dentes. — E ela não
me pegou pelas bolas.
— Ohhh, não se engane, Dener, ela te pegou sim! — Ele balança sua
cabeça em positivo, rindo descarado. — Isso que está sentindo é a
famigerada chave de boceta. — Ele bate em meu ombro quando o olho com
raiva. — Está acostumado com essas socialites frias, que sentem mais prazer
com seu cargo de juiz do que com seu pau, que se perdeu na curva assim que
aquela mulher te pegou.
Me nego a falar para ele sobre como Yane me devastou de todas as
formas possíveis, com seus gemidos safados e sexo viciante. Mas tenho que
concordar com Stone, eu me perdi em todas as curvas: a do seu sorriso, do
seu corpo, dos seus seios, de cada parte dela.
— O que está lhe deixando estressado com essa meia-verdade? —
Stone dá de ombros, me olhando.
— Tudo, completamente tudo. Por que ela não tem passado, registro,
documentações, quem apagou os passos dela, do que ela se esconde...?
— De quem? — Confirmo com a cabeça para ele, preciso saber
principalmente de quem. — Pensa que ela pode ser uma criminosa?
Rio, negando com a cabeça. Yane pode ser tudo, menos criminosa.
Esses eu conheço. Lido diariamente com criminosos, estelionatários,
assassinos, o pior da escória. Aquele olhar travesso esconde muitas coisas,
mas não um passado criminoso.
— Ela pode ser insuportável e afrontosa quando quer, irritante e me
fazer ficar louco quando abre aquela boca, mas Yane não é uma criminosa —
falo baixo, caminhando para a entrada do convento.
— Pode ter se metido em uma encrenca por causa de algum
companheiro, dívidas? — Stone fica em silêncio, compreendendo o que
quero saber. — Você já julgou muitos casos assim, onde a mulher acaba se
metendo em encrenca por conta de uma paixão...
— Descubra tudo para mim. Envolvimento, vícios...
— Ela não é Magda, Dener. — Arrumo meus óculos, levando-os aos
olhos, balançando minha cabeça para ele em positivo.
— Eu sei. — Minha voz sai baixa, erguendo a mão para ele. —
Espere aqui, não preciso de proteção dentro do convento. O único perigo que
tem lá dentro posso lidar sozinho.
O abandono, andando a passos firmes para o portão do convento.
Tinha feito uma boa escolha em vir caminhando para buscar Andy, caminhar
sempre me ajudou a pensar melhor. E de todos meus pensamentos que estão
submergindo, o único em que tento me segurar é que Yane realmente não seja
como Magda.
CAPÍTULO 17
A BRUXA MALVADA DO LESTE
Dener Murati

— Sabe, pai, estava pensando se poderíamos dar uma pequena


reunião aqui em casa... — Abaixo o jornal, olhando por cima das folhas para
a sorridente jovem que me encara, sentada próxima a mim, tomando seu café
da manhã.
— Uma reunião? — Fecho o folhetim, o depositando na mesa,
segurando a xícara de café e a trazendo para meus lábios.
— Isso, um baile. Igual o que a vovó fazia na época da mamãe, só que
com menos convidados — Andy fala agitada, passando a manteiga em uma
fatia de pão. — Você sempre me contou como eram os bailes que vovó fazia
ao fim das gincanas. Podemos dar um baile também, não tão pomposo como
era o dela, algo mais singelo.
Tomo meu café em silêncio, lendo a forma que seu corpo se expressa,
enquanto tenta me convencer. O rápido toque na ponta do seu nariz, o
coçando, demonstra seu nervosismo. Os gestos atrapalhados de suas mãos
derrubam a faca quando escapa do seu aperto.
— E por que decidiu por esse baile esse ano? — Abaixo a xícara
sobre o pires, relaxando minhas costas no encosto da cadeira. — Todas as
vezes que lhe perguntei sobre o baile, você se recusou veemente, Andy.
— Era diferente... — Andy fala rápido, mastigando seu pão e olhando
para Spai, que brinca no jardim. — Eu não tinha motivos para aceitar, agora
mudou...
— O que mudou esse ano dos anteriores que a fez repensar a ideia?
— Bom, primeiro eu tenho mais amigas, Linda, Dora, Jani, irmã Mand
e a Yane. — Andy se vira para mim, limpando sua boca com o guardanapo,
me olhando sorridente. — E seria uma forma da gente se divertir um pouco
antes das férias acabarem.
Respiro com calma, olhando seus grandes olhos expressivos. A face
com bochechas rosadas está linda, com seus cabelos arrumados em um rabo
de cavalo, não se escondendo mais através deles.
— Na próxima semana tenho que voltar para São Francisco, Andy,
seria muito em cima da hora e viraria uma correria...
— Oh, quanto a isso não se preocupe, papai. — Ela morde seu pão,
sorrindo confiante. — Será algo pequeno, apenas uma reunião com as
meninas... Tem bastante espaço no jardim...
Andy fala rápido, soltando todas as informações de uma única vez,
com a voz animada.
— Precisamente quando você já decidiu sobre isso, Andy?
— Ontem à tarde, após voltarmos do almoço depois que foi me buscar
no convento. Bolton me ajudou com algumas ideias... — Ela estufa seu peito,
orgulhosa, se virando para o mordomo que está entrando na sala de jantar.
Olho dele para ela, compreendendo agora o que tanto ela fazia com
ele dentro da cozinha.
— Pelo visto, na verdade, a única coisa que faltou foi me informar —
falo calmo, sorrindo da pequena esperta menina que me surpreendeu.
— Tecnicamente, sim. — Andy se levanta rindo, erguendo minha mão
com a sua, piscando seus longos cílios negros. — Vai, diz que sim! Se der sua
permissão para esse pequeno baile, podemos ir depois do café conversar com
a madre.
Meus olhos se viram na direção do jardim, vendo o grande muro ao
fim da propriedade. Ainda estou mal-humorado por saber que Yane preferiu
se esconder de mim quando fui buscar Andy.
— E então, posso dizer para as meninas separarem os vestidos? —
Repouso meus olhos na adolescente ansiosa, que sorri para mim.
— O que acha, Bolton? — pergunto para ele, sem quebrar meu
contato visual com minha filha.
— Creio que é uma ideia encantadora, senhor Murati — Bolton
responde em cumplicidade com Andy.
— Que assim seja, então. — Sorrio, abrindo meus braços quando
Andy pula em cima de mim, me apertando em seus braços. — Nada de
exagero, ok?
— Oh, meu Deus, papai, muito obrigada! — Ela se separa de mim
antes mesmo que eu possa conseguir lhe dar um beijo em sua cabeça. — Vou
tirar esse pijama, não vejo a hora de contar para as meninas. Depois de falar
com a madre, podemos aproveitar o domingo.
Andy já está correndo animada, me largando na mesa do café.

— Nossas meninas vão amar o festejo, senhor Murati. — A madre


caminha lenta ao meu lado pelos corredores vazios do convento. Fico
decepcionado a cada freira que avisto distante e percebo que não é Yane.
— Sim, tenho certeza de que vão. — Solto o ar enfadonho que me
pega, parando próximo à grande porta que leva à saída do convento. — Andy
estava ansiosa para contar para suas amigas e para a irmã Yane. — Levo
minhas mãos para trás, cruzando meus braços, olhando para a face enrugada
da madre.
— Eu não duvido. Elas construíram um laço de amizade maravilhoso
entre elas. Yane fez muito bem as quatro.
— Realmente ela fez. — Olho para os lados, disfarçando meu real
interesse. — Diga-me, madre, de onde exatamente irmã Yane veio?
— Há algum motivo nessa pergunta, senhor Murati? — A voz calma
dela fala baixa, me encarando serena.
— Não, não... — Nego com a cabeça, quebrando meu olhar do dela.
— Foi apenas curiosidade. Andy fala tanto dela, que apenas queria saber
mais.
— Compreendo. — Me assusto, vendo a pequena mulher se
aproximar, chamando minha atenção para ela outra vez. — Como vai sua
noiva, senhor Murati? Pelo que me recordo, uma vez ela veio aqui
acompanhando Andy. Não está comprometido com sua noiva?
Levo minhas mãos ao bolso, sustentando o olhar severo que ela me
dá.
— Terminei o noivado, madre. — A mulher mantém seus olhos
serenos, como se estivesse avaliando minhas palavras. — Algum motivo
específico para me fazer essa pergunta?
— Não vou ficar embromando em palavras, senhor Murati, por isso
serei direta. Não muitas vezes, mas acontece em poucos casos, de algumas
das meninas virem para cá buscando paz na vida religiosa ou até mesmo um
acalento que elas nunca receberam na vida — a mulher diz séria, me olhando
firme. — Cada uma com sua carga em seu passado, muitas não têm ninguém
por elas e acabam tomando rumos difíceis em suas vidas. Eu não julgo, as
acolho, estendo a mão para elas, cuido, as protejo, e quando acolhemos e
protegemos alguém tem que ser algo real, não uma decisão frágil para ser
desfeita logo à frente...
Compreendo o que ela está falando. Seus olhos severos, que me
encaram com intensidade, estão testando meu interesse em perguntar sobre
Yane. Ela sabe sobre a verdade da pequena feiticeira estar aqui, se não seria
muito pouco improvável a velha madre ficar me acusando com meias-
palavras de ser apenas um cretino.
— Não sou um homem de decisão frágil, madre — respondo sério,
não desviando meus olhos dos seus. A velha senhora me analisa, balançando
sua cabeça em concordância. Ela sabe sobre Yane, o porquê de ela estar aqui,
mas sei que ela não me contará, e apenas me pego mais intrigado para saber o
motivo de Yane estar se escondendo dentro desse convento.

— Quero que faça algo para mim — falo baixo para Stone,
caminhando rumo ao meu quarto.
Stone fecha a porta atrás de nós, enquanto abro a pequena gaveta do
armário do banheiro, retirando de lá um frasco de sabonete líquido embalado
dentro de uma sacola.
— Sei que rola uma intimidade entre nós, mas tenho que me preocupar
com o fato de você estar querendo conversar dentro do banheiro? — Não
perco meu tempo com suas piadas e entrego a embalagem lacrada para ele.
— Quero que mande um dos meninos para São Francisco, para que
procure por Wilson, do departamento de criminalista. Diga a ele que o juiz
Murati está cobrando um favor antigo que prestou. — Levo minha mão ao
bolso, respirando fundo. — Peça para ele escanear as digitais que tem nesse
frasco, quero saber tudo sobre ela.
— Vai mesmo usar do seu poder para descobrir sobre a vida de uma
mulher? — Stone abre seus braços, me encarando, pasmo. — Por que
simplesmente não pergunta para ela o porquê de estar escondida dentro desse
convento? Qual é? Você é o juiz Dener Murati.
— Apenas faça o que estou lhe pedindo, Stone. — Desvio meus olhos
dos seus, não querendo que ele veja meu desconforto por ter que chegar nesse
ponto. — Yane não é uma delinquente, não posso tratar ela como conduzo
meus julgamentos.
— Dener, por que não pode simplesmente a obrigar a te contar a
verdade? — Stone pergunta calmo, abaixando seus braços e soltando-os ao
lado do corpo.
— Ela não vai dizer. — O encaro sério.
— Está com medo de que ela fuja? — Fecho meus olhos, respirando
fundo, ouvindo a contestação dele.
— Yane é como aqueles animais ariscos, Stone, que se aproximam
apenas um pouco. Se eu a confrontar, como faço com os réus naquele tribunal,
Yane vai escapar sem pensar duas vezes. — Abro meus olhos, bufando
aborrecido. — Eu...
— Tem medo de que ela seja como Magda? — Stone me corta na
mesma hora, me olhando sério.
Não confirmo nem nego sua pergunta. Deixo meus olhos repousarem
em minha cama, que ainda traz o perfume dela. Magda e Yane são
completamente diferentes, desde as características físicas à forma de se
expressar. Mas a única coisa que as duas têm igual é a ligação a algum
relacionamento de merda do passado. Ainda revivo o martírio que foi
conviver com Magda nos penosos anos de casamento, a ingratidão, os
insultos que ela fazia, tudo por conta de estar amargurada por uma relação
frustrada com um homem bosta que não teve vontade de lutar pelo amor dela.
Eu sabia apenas por cima onde eu estava me enfiando quando aceitei aquele
casamento com Magda, mas agora com Yane é diferente. Essa criatura
terrível, afrontosa, com a língua felina desproporcional para uma mulher tão
pequena, chegou na minha vida literalmente do nada. Yane é como um
furacão, que me arrastou para o mundo de Oz, me tirando dessa vida preta e
branca solitária que eu vivia, trazendo tanta cor junto com suas risadas
escandalosas. Yane consegue ser a Bruxa Malvada do Leste e a Dorothy em
questão de segundos, tudo em uma pessoa só.
— O que pensa em fazer, enquanto não sair o resultado? — Stone
cruza seus braços sobre seu peito, me encarando. — Sabe que, no máximo,
isso vai levar quatro dias em São Francisco.
— Vou agir normalmente. — Levo as mãos aos bolsos da calça,
comprimindo meus lábios, o encarando. — Buscarei Andy no convento
agindo naturalmente.
— Você não age normalmente perto dessa mulher, a prova disso está
aqui. — Stone ergue a embalagem, a balançando, me olhando ainda incrédulo.
— Quem guarda a embalagem de sabonete líquido que a mulher tocou depois
da transa?
— Não precisaria disso se ela não tivesse fugido. — Sugo o canto
interior da minha boca, o mordendo, em uma tentativa falha de disfarçar meu
desconforto. — Apenas me ajude, isso já é bem constrangedor sem você ter
que ficar debochando.
— Tenho alguns amigos da época que eu trabalhava no departamento
de polícia — Stone fala rápido, olhando para a embalagem. — Vou ver com
eles como podem nos ajudar quando tivermos a perícia da digital.
— Eu agradeço se fizer isso.
Caminhamos para a porta do quarto. Saindo de lá, ainda fico um
tempo conversando com Stone, antes dele se encaminhar para um dos
seguranças, repassando as ordens. Assim que tiver Yane outra vez perto de
mim, não a deixarei chegar perto daquele muro, nem que eu tenha que
acorrentá-la à cama.
CAPÍTULO 18
MOCHILA DA DECISÃO ERRADA
Andy Murati

— Já conversou com ela? — Jani cochicha em meu ouvido, enquanto


olhamos Yane prender uma mochila na frente do corpo da Linda.
— Eu vou dizer hoje, achei melhor pegá-la de surpresa — murmuro
para ela, sorrindo.
Tinha esperado a semana passar para avisar à Yane sobre os planos
para o fim de semana. Mand nos garantiu que Yane não está sabendo. Bolton é
quem mais está me ajudando com meu plano, depois que eu supliquei para
ele, conseguindo arrancar do velho mordomo uma risada em cumplicidade.
Ele já tinha visto a reserva do buffet, assim como a decoradora para o jardim,
com mesas e cadeiras. Poucas pessoas seriam convidadas da comunidade,
junto com as meninas do convento. Mand tinha conseguido pegar um dos
hábitos de Yane e passado para uma das irmãs, que é uma excelente
costureira. Não tem erro, nosso plano está traçado e sem furo. Jani vai
derrubar suco no hábito da Yane, um pouco depois que ela chegar, então Dora
e eu a levaremos pela mão, arrastando-a para o quarto, e vamos induzi-la a
vestir a roupa nova. Papai vai ser distraído por tio Stone, que me assegurou
que vai mantê-lo no jardim. O engraçado foi que entre todos que tivemos que
persuadir a participar desse plano da gata borralheira, como Dora batizou, tio
Stone foi o único que aceitou de primeira, não se negando em um único
momento. Ele apenas ria a cada palavra que eu dizia. E com isso garanti mais
um aliado para a operação cupido.
— Reparou como ela anda com a cabeça nas nuvens essa semana? —
Dora cochicha, me fazendo olhar com mais atenção para Yane.
Realmente, essa semana ela anda desatenta. Tanto que teve que faxinar
todos os dormitórios depois que a madre a pegou cantarolando na hora do
terço. Eu mesmo tinha visto-a com o olhar perdido, suspirando pelos cantos
do refeitório na quarta-feira.
— Minha mãe fica desse jeito quando arruma um namorado novo —
Jani fala ligeiro, bisbilhotando a mulher com a mesma curiosidade que a
gente.
Dora vira sua face na mesma hora para mim, me encarando intrigada.
— Ela está assim desde o dia da arrecadação de fundos. — O som da
voz da minha amiga se abaixa, com ela cochichando. — No domingo, ela
ficou trancada dentro da masmorra dela o dia todo.
— Por isso não vi ela no domingo. — Estalo meus dedos, me
lembrando que quando vim com meu pai conversar com a madre no domingo,
não tinha encontrado Yane em nenhum canto do convento.
— Como anda seu pai? — Repuxo meu nariz, negando com a cabeça.
— Ele está bastante mal-humorado, principalmente quando tio Stone
começa a rir na cara dele.
Estou indo para casa nessa semana. Como meu pai está por lá, não
durmo no dormitório com as garotas. E agora, pensando bem na pergunta de
Dora, papai está com um mau humor gigantesco, apenas sorri quando me vê,
mas fora isso sempre o vejo caminhando distraído à noite no jardim.
— Acha que lilás vai combinar com Yane? — Jani interrompe meus
pensamentos, me fazendo imaginar como Yane vai ficar no vestido.
— Tomara que Mand tenha mostrado certinho para a freira qual o
modelo de vestido que nós queremos. — Jani sorri, estalando seus dedos.
— As três princesas me darão a honra de se juntar a nós? — Nos
assustamos com a voz da Yane falando alto em nossa direção. — O que vocês
estão aprontando?
— Nada! — respondemos juntas, disfarçando nosso nervosismo.
Me levanto e caminho rumo à Linda, que parece desconfortável com a
mochila presa em seus ombros, tampando a frente da sua barriga.
— Não sei por que, mas não acredito nisso, seus monstrinhos — Yane
resmunga, pegando alguns pedaços de tecidos em sua mão e levando para
dentro da mochila. — Andem, se aproximem, cada uma de vocês vai ter que
experimentar a mochila da decisão errada.
Dora desvia seus olhos para mim, porém não compreendo o que seria
isso.
— Decisão errada? — pergunto, confusa, para Yane.
— Qual é dessa mochila entupida de pano? — Jani estica seu pescoço
para enxergar o acessório.
Yane se vira, rindo, dando um tapinha nos ombros de Linda, a
deixando de frente para nós. A mochila está completamente estufada, como se
Yane tivesse pegado tudo que encontrou na sua frente e guardado lá dentro.
— Como está se sentindo, Linda? — Yane cruza seus braços, olhando
para ela.
— Isso é desconfortável, está pesado e eu não consigo nem ver as
pontas dos meus pés. — Linda se entorta, tentando ver as pontas dos seus
sapatos, sem sucesso algum.
— Bom, isso é um pequeno exemplo do que acontece quando vocês
resolverem ter relação sexual com algum jovem tolo e espinhento cheio de
hormônio, que diz que camisinha é algo desnecessário. — Yane tira a mochila
da frente do corpo de Linda, obrigando Jani a usar da mesma maneira que
Linda estava usando. — Por isso é a mochila da decisão errada.
— Credo, isso pesa! — Jani olha para ela desgostosa.
— Isso aqui, meu bem, não pesa nada perto do que um bebê vai pesar
dentro da barriga de vocês enquanto cresce. — Yane belisca o nariz dela,
dando um tapinha de leve em sua testa. — Se vocês acreditam que bebê vem
da cegonha, está na hora de esquecerem essa merda.
— A cozinheira da minha mãe já me contou sobre a sementinha que o
homem deixa dentro da nossa barriga. — Yane se vira na mesma hora para
Linda, revirando seus olhos em desaprovação.
— Deus, as pessoas falam isso ainda? — Os dedos dela coçam seu
cenho, rangendo seus dentes. — Devia ser proibido falar essa bosta!
— O nome dessa semente é porra, Linda, pelo amor de Deus! — Dora
estoura uma bola de goma de mascar em sua boca, se sentando na beirada da
janela, debochando de Linda. — E, adivinha, o cara não a deixa dentro da sua
barriga.
— É na boca? — Linda me olha, assustada.
— Eu não sei... — Seguro a mochila quando Jani a entrega para mim.
— Você se acalma — Yane intervém, entrando no meio das duas e
apontando para Linda. — E você, estende seu braço, Andy.
Ela para ao meu lado, arrumando a mochila em meu ombro, me
fazendo sentir o peso na frente do meu corpo.
— O cara deixa o esperma dentro da boca mesmo? — Jani pergunta,
curiosa, olhando para Yane.
— Oh, meu Deus, vamos nos focar nisso aqui agora! — Ela se
endireita depois de posicionar bem a mochila no meu corpo. — E sim, ele
pode deixar, mas só se for da vontade dos dois. Porém, não é pela boca que
os bebês vão para o útero de vocês, é pela vagina. Agora preste atenção nisso
aqui.
— Uma vez peguei a secretária do meu pai chupando o pau dele, por
um longo tempo — Dora fala, fazendo todas nós olharmos para ela, atônitas.
— Depois nós duas vamos falar sobre esse negócio de ficar olhando
as pessoas, ok?! — Yane rosna para Dora, a puxando para perto de nós. Yane
leva as mãos para dentro do seu hábito, parando perto do seio. Quando ela
retorna sua mão, tem uma embalagem prata pequena brilhando em seus dedos.
— O nome disso aqui é camisinha, vocês devem saber aonde ela vai.
— No pau? — Dora responde rápido, cutucando a mochila em meu
corpo.
— É, isso aí. — Yane me gira, para ficar de frente para todas elas,
estapeando os dedos de Dora. — E quando o pau não está usando camisinha,
é uma decisão errada. — Ela aponta para a frente do meu corpo, mostrando a
mochila. — É com isso que vocês ficam no corpo de vocês, uma barriga
imensa, onde um bebê vai nascer em nove meses, e eu acho que vocês não
pretendem ser mães cedo, correto?
— Não — respondo para ela, rápida, sendo seguida pelas outras.
— Ótimo, porque é bom vocês terem isso em mente quando
resolverem fazer sexo. Não caiam na besteira de não terem camisinha ou ficar
esperando para ele ter. — Yane entrega a camisinha para Jani, que fica um
tempo olhando e depois repassa para Linda.
— Mas não é estranho a mulher ter camisinha? — Jani pergunta,
confusa.
— Não, isso é pensamento retrógrado. — Yane retira a mochila de
mim, caminhando para Dora. Linda estica a camisinha na minha direção. —
Sexo é uma coisa feita em conjunto. Se o parceiro não tiver, você tem. Não
quer dizer que só porque tem uma camisinha com você que é uma mulher
promíscua, apenas quer dizer que você não quer pegar nenhuma DST[18] e
nem ficar grávida antes da hora.
Ela suspira, nos olhando com atenção. Rolo a camisinha na minha
mão, atenta ao que Yane fala.
— Um bebê nasce, sai do corpo de vocês e cresce. E com um filho
vocês têm ajuda dos pais, de alguém para cuidar dele, até o próprio pai da
criança, se escolherem o homem certo, mas doença sexual não, ela não sai do
corpo de vocês. Não podem ter ajuda de outra pessoa para cuidar da doença,
porque elas estão dentro dos seus corpos, e dependendo da DST, é para
sempre, não tem cura. — Yane finaliza de arrumar a mochila no corpo da
Dora, batendo lentamente na cabeça dela.
— Eu ouvi minha tia contando para minha mãe que uma vez ela saiu
no fim de semana e pegou um DP[19] com dois caras — Linda fala,
assustada, olhando quase em choro para Yane. — Será que minha tia está
doente?
Yane começa a tossir nervosa, negando com as mãos, tentando
acalmar Linda.
— Sua tia não está doente, ok?! — Yane alisa o rosto dela, segurando
o riso. — E um dia, quando você for maior de idade, vamos falar sobre DP.
Até lá, não pense mais nisso. — Yane respira fundo, fechando seus olhos e
erguendo a camisinha para o alto. — Não importa se é o príncipe encantado
da vida de vocês, ou apenas uma transa de uma noite, tem que sempre usar a
camisinha. Não tenham vergonha de pedir para seus parceiros usarem.
— Até depois de casada? — Jani indaga, curiosa.
— Isso daí depende da confiança, se vocês querem ter filhos, quais
outros métodos contraceptivos estão usando... — Entrego a camisinha para
Dora, que olha rapidamente para ela, repassando para Yane. — Mas até
estarem com alguém em quem realmente confiem e querem formar uma
família com ele, nunca deixem de usar preservativos.
— E como a gente sabe quem é o cara certo? — murmuro, pensativa,
sugando a lateral interna da minha bochecha, a prendendo com meus dentes.
— Vocês vão saber quando o homem certo aparecer. — Yane sorri
para mim, me dando uma piscada. — Vai achar um cara legal, no qual terá
confiança para mostrar todos os seus medos, sem receios...
— Já achou um homem assim, Yane? — Dora a surpreende, a fazendo
se calar por conta da pergunta.
— Infelizmente, sim, mas não deu certo. — Ela caminha para Dora,
pegando a mochila do seu corpo, e mil ideias se passam na minha cabeça. E
se Yane ainda ama o homem do qual ela está se escondendo?
— Por que não deu certo? — Yane ri, se virando para guardar a
mochila, balançando a cabeça em negativo.
— Porque ele é um personagem fictício. — Ouço a risada dela e volto
a respirar aliviada outra vez por conta da sua resposta.
— Eu falei sério, não estou falando de um personagem.
— Não desmereça meu amor, ok?! Eu realmente tive uma paixão
platônica por Richard Gere em Uma linda mulher. — Rio com a cara que
Yane faz, levando as mãos ao coração. — A verdade é que a única forma de
um cara me ganhar é aparecendo na porta da minha casa de limusine,
segurando flores em uma mão e um guarda-chuva na outra.
Ela ri, esticando seus braços e os abrindo para os lados, sorrindo
para nós.
— Sacaram a referência? — Yane gesticula com sua mão em nossa
direção, mas negamos, sem ter ideia do que ela está falando.
— Acho que devia parar de assistir filme de gente velha, Yane. Já
tentou assistir Crepúsculo[20]? — Jani caçoa dela, ganhando um peteleco de
Yane.
— Vocês são uma péssima plateia. — Ela anda pela sala, parando
perto da janela e olhando para fora e depois para o relógio. — O que eu
quero que vocês entendam com a mochila das decisões erradas, é que toda
escolha que fazemos em nossas vidas recai sobre nossos ombros,
independentemente de qual seja. Então tentem tomar as decisões certas. —
Yane bate suas mãos uma na outra, sorrindo para nós. — Bom, ainda temos
mais vinte minutos, alguém tem alguma dúvida?
Ela volta o olhar para nós, ficamos em silêncio por um tempo, antes
de perguntarmos juntas para ela:
— O que é DP?
CAPÍTULO 19
LINDA FEITICEIRA
Dener Murati

— E como anda a vida entre os códigos da lei?


Viro o copo de uísque de uma única vez, repuxando a gravata e
aliviando o aperto do colarinho, enquanto Stefano Miller me faz a mesma
pergunta pela quinta vez.
— Muito boa... Se me derem licença, preciso encontrar minha filha.
— Deposito o copo na bandeja de um garçom que passa ao meu lado, me
despedindo de Miller e sua esposa.
Caminho a passos firmes pelo jardim decorado com luzes brilhantes e
as mesas espalhadas com cadeiras revestidas de seda dourada, caçando entre
a abundância absurda de convidados, onde está a pequena jovem de vestido
amarelo. Andy tinha me garantido que seria algo pequeno, entre poucas
pessoas e as meninas do convento, e o que vejo à minha frente é o oposto
disso. São várias figuras enfadonhas amigas antigas do meu pai, as quais nem
sequer me lembro dos nomes de muitas delas.
— Redobrei a segurança. — A voz de Stone chama minha atenção, se
juntando à minha marcha. — Devia ter me avisado que passaria de cem
convidados, para monitorarmos quem entra e sai da propriedade.
— Eu não sabia que Andy estava tendo uma pretensão maior quando
me pediu para fazer uma pequena reunião com suas colegas. — Respiro
fundo, sorrindo cordialmente para Julia Briti, uma antiga conhecida da minha
mãe, que adora tentar me empurrar sua filha solteirona. — Não para, continua
andando.
Ando mais rápido, passando por ela, a deixando acenando para me
parar. Ouço a risada de Stone atrás de mim.
— Tem que relaxar um pouco, ficar nervoso a essa altura do
campeonato não adianta mais.
— Não estou nervoso, Stone. — Travo meus dentes, me sentindo
sufocado com todas essas pessoas. — Apenas não estava preparado para ter
que ser social com toda essa gente. Passei a semana toda tentando me
concentrar na porcaria desse julgamento de Box, que está chegando, e agora
me vejo sendo assaltado com várias perguntas impertinentes de pessoas com
quem nem tenho intimidade.
— Ainda acredito que esse seu mau humor não venha de todas essas
pessoas, mas sim pela falta de uma entre elas.
Travo meu andar abruptamente, me virando para ele, não admitindo
nem por um maldito decreto, que eu possa estar chateado por estar sendo
torturado por aquela maldita mulher dentro da minha cabeça, que invade a
minha mente a cada segundo que passa.
— Viu Andy por aí? — pergunto, tentando mudar o rumo da sua
conversa. Stone nega com um movimento de cabeça, dando de ombros.
— Ela deve estar entre os convidados. Já procurou perto da piscina?
— Olho na direção que ele me diz, não avistando minha filha.
— Andy não está no jardim, ela deve estar dentro de casa. — E como
em um pequeno passe de mágica, avisto a jovem caminhando apressada na
direção do rapaz que está cuidando da música. — Achei!
Me direciono para lá, abandonando Stone. Já estou atravessando a
pequena pista de dança que foi arrumada no jardim iluminado, perto da mesa
de aperitivos, enganchando meu braço ao de Andy, que se assusta quando me
vê.
— Senhorita Murati, uma palavra com seu pai, sim? — Sorrio para o
rapaz, o cumprimentando, a levando comigo.
— Não fica bravo, por favor...
— Me disse que seria algo pequeno, Andy. — Nos paro perto da
grande mesa de comida, ficando de frente para ela.
— Eu sei, e juro que não era para ter tanta gente. — Andy prende seus
dedos nas laterais do seu vestido, olhando confusa para as pessoas. — Deixei
essa parte com Bolton, não sabia quem convidar, então lhe disse que poderia
chamar as pessoas de sempre, ele então falou que se basearia nas festas da
vovó.
— Deus! — Estalo minha boca, puxando o ar com força, tentando
controlar minha aflição diante de todos esses convidados, sorrindo forçado
para eles, voltando a olhar para minha filha. — Andy, Bolton organizava os
bailes de gala do seu avô, não as reuniões pequenas, meu amor.
— Eu sinto muito, papai, realmente não pensei que seria tanta gente.
— Ela encolhe seus ombros, batendo seus pés agitados no chão. — Algumas
coisas estão fugindo do meu controle...
Olho-a com brandura, enxergando a bela flor à minha frente. Andy
está linda em seu vestido amarelo-claro, como uma jovem dama. Ergo meus
dedos, alisando sua bochecha, percebendo como minha garotinha está
crescendo rápido.
— Está perfeito, senhorita Murati — falo calmo, a puxando para meus
braços, lhe dando um abraço carinhoso. — Apenas, da próxima vez, tente
conversar comigo sobre os convidados, sim?
Afasto-me um pouco, segurando seus ombros, lhe dando um beijo na
testa.
— Está linda, minha filha. — Andy, tão carinhosa, abre um largo
sorriso, mostrando suas covinhas na lateral da bochecha.
Percebo sua atenção mudar rapidamente de foco, com ela ficando na
ponta dos pés, me dando um beijo relâmpago na lateral do rosto.
— Eu tenho que ir.
Fico confuso, parado, olhando para o espaço vazio que ela deixou
quando me abandonou sem nenhum tipo de cerimônia, apenas me largando
aqui. Me viro, olhando na direção que ela está correndo, a vendo entrar na
casa às pressas.
— Gostaria de mais uma dose, senhor? — Suspiro, confirmando para
o garçom que sim e aceitando o copo de uísque quando ele me estende.
Observo os convidados, correndo meus olhos em cada rosto,
desejando apenas ver uma única face entre eles, a qual não está. Ergo o copo
aos lábios, tomando minha bebida, e quase a cuspo para fora da minha boca
assim que avisto Glaice Rolfema caminhando reta em minha direção, colada
no braço do seu marido. Deus, como eu odeio essa mulher faladeira!
— DENER! — a mulher grita, balançando suas mãos, não me dando
chance de escapar.
— Olá, Rolfema — respondo polido e estendo meu braço, apertando
a mão do seu marido, a encarando.
— Estava falando agora mesmo para Max como está deslumbrante a
jovem Andy, não foi, querido? — Ela gesticula suas mãos repletas de
pulseiras e anéis, balançando-as à minha frente.
— Sim...
— Está a cópia da mãe dela. Cada dia que passa, mais se parece com
Magda — ela corta a fala do seu marido, olhando curiosa para mim. — Onde
está Venelope? Supus que ela estaria nos recebendo na entrada da casa como
a anfitriã.
— A anfitriã da festa é Andy, Glaice. — Tomo o gole de bebida,
caçando Stone com meu olhar, precisando que ele me salve dessa pavorosa
mulher fofoqueira.
— Sim, claro... Andy. — Ela torce seus lábios, olhando em volta. —
Mas ainda assim sua noiva não está por aqui?
Pigarreio, a encarando, fechando meu semblante, sentindo uma gastura
me tomar a cada nota aguda da sua voz que ouço.
— Venelope não é mais minha noiva. — Dou uma resposta curta e
grossa para ela, tentando encerar o assunto. — Terminamos nosso
relacionamento.
— Murati, há quanto tempo, seu canastrão! — Nunca pensei que
ficaria feliz em ouvir a voz do cretino de Charles quando ele se aproxima,
desferindo um pesado tapa em meu ombro como cumprimento.
— Olá, Charles, como vai? — Estendo minha mão, apertando a sua
com força. — Não tinha te visto.
Ele dá de ombros, aumentando seu sorriso falso, bebendo uma taça de
champanhe.
— Sabe como é, estava olhando o que tinha de bom por aí primeiro.
— Charles me dá uma piscada cretina, como se eu realmente fosse um
canalha como ele.
— Entendo. — O olho de cima a baixo, já me sentindo enfadonho ao
lado dessas pessoas. — Se me derem licença, preciso conversar com o chefe
da minha segurança, sim?!
Ergo o copo de bebida, me despedindo dos convidados, andando
apressado para me afastar dos esnobes pavões. Odeio cada um que está aqui
me olhando com ares de bons amigos, os quais sempre foram tão falsos desde
a época do meu pai, pessoas vazias que apenas se importam com a porcaria
do sobrenome e o status diante da sociedade. Estando aqui, em volta deles
agora, me faz recordar porque sempre me neguei a participar das festas da
minha família. Vago minha atenção à irmã Mand, que caminha sorridente com
a pequena loira ao seu lado.
— Boa noite, senhor Murati. — Ela sorri envergonhada quando me
aproximo delas.
— Boa noite, irmã Mand. Senhorita Linda. — Olho para trás dela,
buscando por Yane, que não está presente. — Vieram só vocês duas?
— Oh, não! Jani e Dora estão por aí com Andy — elas respondem
alegres, me deixando desconfortável com a presença que falta. — A madre,
infelizmente, não pôde comparecer, mas mandou lembranças.
— Claro... — Balanço minha cabeça, olhando para a entrada da casa,
onde ninguém mais sai em direção ao jardim. — E... — Me calo,
pigarreando, sendo tomado pelo meu mau humor, que está me fazendo
companhia a semana inteira.
— E? — Linda me pergunta séria, me olhando curiosa, o que me
deixa mais desconfortável com a falta da presença de Yane.
Ela não veio!
Apenas resigno meus pensamentos em silêncio. Yane tem fugido de me
ver a semana toda. Nem quando eu fui buscar Andy, ao fim da tarde no
convento, não a vi. Ela não deseja me ver, a verdade é essa. Suas palavras me
torturaram a semana inteira, junto com as lembranças do seu corpo macio e
quente dentro daquele quarto.
Porque, por apenas essa noite, serei toda sua.
Meu corpo se nega a crer em suas palavras, me fazendo quase chegar
ao ponto da loucura e bisbilhotar por cima do muro para apenas ter um
maldito vislumbre dela. Mas, no outro lado da balança, meu orgulho ferido
me contém a segurar meus instintos e não agir feito uma porcaria de calouro
que morre de saudades da sua garota. Apenas me apego às pequenas
informações que Andy soltou durante a semana, contando como elas se
divertiram e como Yane a faz feliz. O fato do rapaz que Stone encaminhou
para São Francisco estar demorando, sem dar uma porcaria de notícia, me faz
ficar mais estressado por não ter nenhuma informação real sobre essa
feiticeira que destruiu o meu autocontrole.
— E? — A jovem à minha frente reforça sua pergunta, me olhando
intensamente.
— E eu estou muito feliz por recebê-las hoje — respondo cordial de
forma vaga, me despedindo e caminhando na direção da piscina.
Fecho meus olhos, respirando fundo, parando próximo à borda e
vendo as luzes acesas em volta d’água. Como ela pôde me deixar dessa forma
patética, tão desatento a tudo que está ao meu redor? Me senti orgulhoso por
toda minha vida por sempre ser focado e assertivo em minhas decisões,
concentrado em meu trabalho e na minha filha, mas cá estou eu, tão
desanimado, revivendo o intenso brilho do seu olhar em minha mente.
— Sua mão, guardinha de jardim... — Sua voz sai baixa, mordendo a
lateral da sua boca, deixando seus olhos caírem nos meus lábios. — Está
na minha bunda...
— Está? Não sei... — Deixo meus dedos espalmarem mais ainda sua
pele, puxando o ar para meus pulmões entre lufadas entrecortadas. — É,
elas estão.
Longos e duros quinze anos erguendo minha carreira dentro dos
tribunais para chegar nessa altura da vida e ficar entusiasmado ao ser
confundido com um guardinha de jardim. É patético, eu sei, mas cada
provocação que sai entre seus lábios é como uma injeção de vida dentro das
minhas veias, uma cor nova que chega até mim, e depois de revirar meu
mundo tão meticulosamente arrumado do avesso, o transformando em uma
bagunça completa, ela desaparece como mágica.
— Droga! — resmungo baixo, erguendo meu olhar para o maldito
muro.
Eu devia o derrubar na base da marreta, entrar dentro daquele
convento e chacoalhar aquela mulher afrontosa pelos ombros, a obrigando a
me contar do que ela se esconde e enfiar dentro daquela cabeça cacheada oca
que ela não irá para nenhum lugar longe de mim. Não sou a porra de um
guardinha de jardim!
— Achei que estaria em São Francisco. — Meu corpo fica rígido ao
ouvir a voz de Charles atrás de mim. — Ouvi boatos de que foi você que
ficou com a jurisdição do julgamento de Box.
— Preferi me ausentar até o dia da audiência. — Me viro, o
respondendo calmo, caminhando com ele ao meu lado, me afastando da
piscina e de todas as lembranças que ela me traz.
Charles pode ser o melhor advogado que existe, mas apenas presta
para destroçar com as vítimas. Já tive o desprazer de assistir um dos seus
julgamentos e dei graças a Deus por não ser o juiz. Charles manipula de uma
forma tão fria seus argumentos, que os jurados conseguem ver a vítima como
réu e o acusado como a vítima.
— Fez certo. A fama de Box o precede. — Ele sorri, bebendo seu
champanhe e olhando em volta.
— Senhor. — Olho para o garçom que para a nossa frente, estendendo
a bandeja para que eu possa trocar de copo.
— Obrigado. — Sorrio para ele, pegando o copo de bebida cheio, já
o levando à minha boca.
— Uma ótima escolha preferir a vista daqui do que a de São
Francisco. — Fecho meus olhos, desejando que essa noite termine logo para
eu chutar o rabo aristocrata de Charles para longe de mim. — Mas eu nunca
trocaria as turbulências dos meus casos para apenas julgar.
— E foi justamente por isso que me tornei juiz, Charles — respondo
seco, o encarando. — Prefiro ver os culpados pagando por seus crimes do
que saindo impunes pela porta da frente do tribunal por conta de advogados
sem escrúpulos como você. — Termino de ingerir minha bebida devagar,
virando minha face para a casa. — Essa emoção é impagá...
Me perco em minhas palavras, sentindo o ar ser puxado mais rápido
para meus pulmões a cada segundo que se passa. Seus olhos negros receosos
se perdem em meio aos convidados, fazendo seu peito se mover mais rápido
a cada lufada de ar que ela inala, lhe fazendo parecer tão perdida entre essa
gente. Os dedos atrapalhados estão entrelaçados à frente do corpo. Os
cabelos erguidos em um coque destacam seu pescoço liso, dando a mais bela
visão da sua pele desnuda, que possui apenas duas alças finas em seus
ombros. Perco meus olhos por cada canto dela, me prendendo no decote em V
que pega a frente do seu busto e deixa apenas o relance dos montes macios a
cada respirada longa dela. Reconheço as curvas da sua silhueta, que se
destacam no tecido lilás marcado na cintura, descendo solto por suas pernas
até cobrir seus pés. Ela sorri com vergonha para um garçom que para perto
dela, lhe oferecendo uma taça de champanhe. Um pequeno cacho teimoso e
arteiro foge do coque quando ela move sua cabeça em negativo, ficando
preguiçosamente caído à frente da sua face.
— Isso vai do interesse. Já conversamos uma vez que advogado
criminalista não escolhe seus clientes...
Não ouço e nem sequer estou prestando atenção no que sai da boca
dele. Me encontro enfeitiçado pela mulher sexy no longo vestido, que anula
todos à minha volta, me fazendo ter apenas olhos para ela.
— Segura isso, sim?! — Empurro o copo para ele, o deixando para
trás e caminhando na direção de Yane.
Ela suspira longo, olhando com abatimento para o jardim, deixando as
esferas negras pararem em mim. Nunca meu jardim me pareceu tão longo
quanto agora. A cada passo que dou para me aproximar dela, me parece uma
distância enorme. A pequena mordida na lateral dos seus lábios é tão
indecente como casta, o que me faz querer a tirar daqui, apenas para que
nenhum desses frívolos possam admirar a doce feiticeira que se esconde por
trás da sua boca atrevida. Paro à sua frente, sentindo meu corpo inteiro
responder à Yane, me sentenciando aos seus encantos a cada segundo que seu
cheiro entra em meu nariz. Minha mão, que se comanda sozinha, conduz o
cacho descarado para trás da sua orelha.
— Oi, guardinha — fala baixo, me deixando ver o medo em seu olhar
assim que foco minha atenção neles. — Não achei que o jardim ia estar tão
movimentado.
— Creio que hoje não poderei lhe ver tomando banho na piscina. —
Ela ri, me cativando com a pequena brecha da mulher tímida que se esconde
dentro de Yane. — Spai vai sofrer com isso.
— Infelizmente, vou ter que decepcionar vocês dois. — Seus dentes
comprimem seus lábios, olhando à nossa volta. — Talvez seja melhor eu
retornar para o convento...
— Pensei que não viria. — Tomo a frente da conversa, acalmando a
agonia dos meus dedos quando minha mão se ergue, espalmando a lateral da
sua face. — Está linda.
Sua cabeça se inclina, descansando na minha mão, trocando o peso de
perna, fechando seus olhos, suspirando baixo e a tornando mais bela com seu
singelo gesto. Olho para essa mulher que me infernizou desde o momento que
entrou na minha vida, me condenando a reviver a noite que eu a tive nos meus
braços por tortuosos dias, e que agora está aqui. Tão bela, tão rara... Yane
não precisa de joias caras em seus pulsos ou colares extravagantes em seu
pescoço, ela definitivamente acabaria os apagando, destacando a verdadeira
beleza que apenas pertence a ela e não as joias.
— Linda, feiticeira. — Minha voz sai rouca, sussurrando para ela.
— Dener... — Os dedos finos seguram meu pulso, abrindo seus olhos
com brandura, chocando-os com os meus. — Eu tenho que ir, estão
começando a olhar para nós.
— Deixe que olhem. — Dou mais um passo para me aproximar dela,
e não para me afastar, como Yane espera. — Não me importo, quero que eles
vejam que a mulher mais linda dessa noite está comigo.
Estendo minha mão para ela. Yane abaixa sua cabeça, olhando meus
dedos, aguardando por seu toque.
— Me daria a honra de uma dança antes de você tentar fugir pulando
pelo muro? — Sorrio ao ouvir a risadinha que escapa dos lábios dela.
— Dener... — Ela pisca confusa, se encolhendo, erguendo sua face e
olhando para trás de mim. Observo a dúvida a corroer junto com o receio e o
medo.
— Depois de encarar aquele bar inteiro de motoqueiros, vai me dizer
que está com medo desses pavões pomposos?! — Seguro seu queixo,
erguendo-o para mim. — Me deu uma noite em seus braços, agora eu lhe dou
uma dança. — Os longos cílios piscam para mim, com seus olhos brilhando.
— Então dance comigo, minha feiticeira sexy. Dance comigo como nunca
dançou com qualquer outro homem, porque por essa noite quero que seja
minha.
— Isso é trapaça. — Ela sorri envergonhada, olhando para minha
mão, que espera seu toque, e sinto a eletricidade que invade meu corpo, com
meu coração voltando a bater disparado quando ela ergue seus dedos, os
deixando sobre os meus.
Nos conduzo para a pista, segurando firme sua mão e olhando sério
para cada um que nos observa. Mas de todas as faces, a que me prende é a da
jovem arteira que está com os braços cruzados, nos olhando ao lado das
outras três adolescentes. A música lenta que toca embala alguns casais que
estão dançando, quando nos juntamos a eles na pista.
— Acho que caímos em uma cilada. — Seguro Yane na cintura, a
rodando para mim, até seu corpo estar colado ao meu.
— Eu estava desconfiada disso quando Jani derrubou uma jarra de
suco sobre mim assim que passei pela porta, mas agora, ouvindo Richard
Marx cantando Right Here Waiting, eu tenho certeza. — Ela ergue sua mão ao
meu ombro, tendo a outra presa em meus dedos.
— Devo agradecer a elas, então — falo baixo para ela quando Yane
deita a lateral da sua face em meu peito.
Minha mão se mantém espalmada em suas costas, absorvendo a
reação da sua pele ao se arrepiar com meu toque.
— Sabia que esses quatro monstrinhos estavam aprontando, apenas
não tinha descoberto o que era — Yane suspira, se moldando a mim, me
deixando conduzi-la no ritmo lento. — Eles ainda estão nos olhando...
— Sim — respondo calmo, não me importando com nada além dessa
mulher em meus braços. — Mas não precisa se preocupar, eu protejo você
deles, afinal, é para isso que os guardinhas de jardins servem.
Ela ri baixinho, escorregando sua mão e parando-a sobre meu
coração, suspirando vagarosa.
— Nunca mais verei os guardinhas com os mesmos olhos. — Meu
queixo se posiciona sobre sua cabeça, sentindo o coração dela bater colado
em meu peito.
— Por que fugiu de mim? — A pergunta que se prendeu a semana toda
em minha garganta sai baixa, me fazendo me sentir um fracassado por não
conseguir me controlar perto de Yane.
— Porque quando o sol nasce, nossos mundos se separam, Dener —
Yane fala calma, alisando meu ombro com sua mão. — Apenas uma noite,
lembra?
— Eu também me lembro te ter lhe avisado que não estaria aceitando
apenas uma noite. — Fecho meus olhos, apenas prestando atenção no som da
sua respiração lenta. — Por que está se refugiando dentro do convento, Yane?
— É complicado... — Seu rosto se vira, deitando o outro lado da face
em meu peito. Ouço o som baixo de lamento que sai dos seus lábios, e isso
apenas me faz a segurar mais forte. — Não sou uma pessoa ruim, Dener.
— Você é a pior pessoa que já cruzou meu caminho. — Acaricio suas
costas, sentindo a pele nua se arrepiar, a trazendo para o mais perto de mim,
sussurrando em seu ouvido, sem pudor algum em desejar tê-la colada em meu
corpo: — Desastrada, atrevida, sem modos e com um linguajar despudorado
que faz um padre se escandalizar, mas é a mulher mais encantadora que já
conheci, que não sai da minha mente.
Me afasto apenas um pouco para olhar para ela, que tem seus olhos
brilhantes, com as lágrimas que nascem em suas pupilas.
— Dener, eu não sou essa mulher encantadora...
— Está fugindo de alguém, Yane?
— Não, não estou fugindo. — Seus cílios se batem, ficando úmidos
com as lágrimas.
— Se escondendo, então. — Confirmo minha pergunta em seu olhar
melancólico.
— Sim. — O som baixo da sua voz sai estrangulado, com seus dedos
se apertando em meu terno.
— Um homem? — Respiro fundo, sendo tomado por todas as
emoções novas que Yane causa em mim.
— Sim, mas não da forma que você deve estar pensando. — Ela me
olha com urgência, falando apressada.
— Você o amava?
— Não, não tenho nada com esse homem. — Minha mão escorrega
para sua cintura, esmagando meus dedos em sua pele.
— Então por que não me conta? Por que está fugindo de mim?
— Dener, não é o motivo que me trouxe aqui que me faz saber que
isso entre nós dois não vai funcionar, mas sim nossos mundos diferentes.
— Estou me fodendo para nossas diferenças, Yane. — Não consigo
segurar a ira da minha voz, a deixando sair firme a cada palavra que solto. —
Se me deixar cuidar de você, se me permitir conhecer a verdadeira Yane que
você esconde, eu crio um mundo só para nós, apenas me permita.
Paro a dança, soltando seus dedos e erguendo minhas duas mãos em
sua face, querendo que ela entenda que nada me deixaria longe dela, além
dela mesma. A beijo sem receio, sem me importar que todos estão nos vendo,
e quero mais que tudo se exploda, pois a única mulher que tem o poder de me
deixar fora de órbita está aqui comigo nesse exato momento, me devastando
com seus lábios macios. Retorno minha mão para a sua cintura, a puxando
para mim, a beijando com mais necessidade, me apossando de cada gemido
que ela solta entre nossos lábios. Quando a solto, me afasto apenas um pouco
para enxergar sua boca macia entreaberta e seus cílios longos se debatendo
enquanto abrem, destacando seus olhos negros brandos, focados nos meus.
— Me permita, Yane — falo sério, dando um passo para trás e
esticando minha mão. — Prometo ser o melhor guardinha de jardim para
você.
Ela olha em volta, parando seus olhos em Andy, que está rindo,
abraçada com as amigas.
— Se depois do que eu te contar sobre mim ainda conseguir me olhar
assim, dessa mesma forma, eu vou para onde você quiser me levar.
— Não compreendeu, Yane. No momento que você pulou o muro da
minha casa a primeira vez — aliso seus lábios, contornando-os com meu
dedão, falando decidido para ela —, você se tornou minha. Não há nada que
possa mudar isso. Acha mesmo que ligo para seu passado?
— Dener...
— Não vai me apresentar sua acompanhante, Dener, ou até fora dos
tribunais sua fama de juiz mão de ferro o precede? — Viro minha face para
Trevo, um antigo amigo da faculdade que está dançando com sua parceira
perto de nós, olhando com curiosidade para Yane. — Tenha cuidado com
homens de toga, mocinha, eles têm fama de serem implacáveis.
— Juiz? — Sua voz fala baixo, olhando perdida para minha gravata.
— Juiz mão de ferro?
— Sim, esse foi o apelido que deram para Dener. — Trevo ri, nos
olhando curioso.
Minha mão se estica, cumprimentando Trevo, e antes que eu possa
falar com Yane, o som de uma bandeja sendo derrubada por um dos
convidados embriagados nos faz olhar para lá, vendo a bagunça que se
formou perto da pista. Ao tentar se levantar, ele segura na toalha da mesa,
arrastando tudo que tem em cima dela para o chão. Meu braço se desprende
de Yane quando entro em sua frente, a levando para trás de mim, para que os
cacos de vidros não a acertem. Os chuto para longe, ajudando o homem caído
a se levantar. Um dos seguranças caminha, parando perto de mim e
conduzindo o homem para uma das cadeiras.
— Esse bebeu demais, cuidem dele. — Dou a ordem, sério, esticando
meu terno e o limpando. — Você está bem, respingou algo em você?
Me viro para ela, mas é apenas o vazio que tem atrás de mim agora.
Vejo uma aglomeração de convidados se formar para ver o que aconteceu.
Estico meu pescoço, procurando por ela, mas nada, apenas seu perfume ficou
em minha roupa.

— Onde ela está? — Encaro a senhora que me observa assustada no


portão do convento.
— Senhor Murati, não acha que está tarde para estar aqui...
— Onde está Yane? — Me viro, ficando de costas para a madre, não a
deixando ver a raiva que está me consumindo.
— Irmã Rinna? Ela não está na sua casa com as meninas? — Rio com
amargura, balançando minha cabeça, encarando Stone, que está sério, se
comunicando com os outros seguranças dentro do carro.
— Ela não está e a senhora sabe disso. — Aponto para a porcaria do
maldito muro, onde depois de quase vinte minutos revistando cada canto da
propriedade, um dos seguranças achou um pedaço do vestido dela, que deve
ter rasgado quando ela pulou, fugindo para o convento. — Assim como nós
dois sabemos que Yane não é uma freira, madre.
A pequena senhora me olha calma, dando um longo suspiro e
balançando sua cabeça em abandono.
— Onde ela está?
— Yane se foi, ela partiu tem dez minutos. — Estufo meu peito,
prendendo meus dedos na cintura, olhando para a porcaria do chão. — Eu
mesma a levei até o carro, onde uma das freiras estava aguardando para levá-
la embora.
— A senhora... — Rio amargo, balançando minha cabeça em
negativo. — A senhora a mandou embora?
— Não, senhor Murati. Yane que pediu para partir, foi escolha dela,
deve respeitar.
Fico parado, vendo a mulher se virar, me dando as costas.
— POR QUE ELA ESTÁ AQUI?! — grito com raiva, mas a mulher se
mantém imparcial ao meu estado de ódio e continua andando. Ela some dentro
do convento e bate as portas, as fechando. — POR QUE YANE FUGIU?!
— Dener... — A mão de Stone toca meu ombro, falando baixo.
— Ela não deve estar longe, acione todos os seguranças.
— DENER! — Stone fala firme, me fazendo olhar para ele. — Olhe
isso, meu rapaz acabou de me mandar.
Ele me empurra o celular, me fazendo o segurar. Observo a face de
Yane em um computador na tela do celular e um grande carimbo de restrito
sobre a imagem.
— Sua garota está sendo protegida — meu amigo fala calmo,
cruzando seus braços, olhando o celular.
— Quem tem poder para bloquear ela do sistema de reconhecimento
digital?
— Alguém grande, alguém muito grande, que não quer que ninguém
saiba quem ela é, nem mesmo você. — Stone solta seus braços, esfregando
seu rosto, balançando a cabeça em negativo. — E como seu amigo, lhe
aconselho que continue assim, pelo bem da Andy e do seu.
Entrego o celular para ele, olhando uma última vez para o convento,
esmagando meu maxilar.
— Nem se o presidente estiver protegendo-a ou a porra da Casa
Branca! Não vou desistir de achá-la — rosno entre meus dentes, o encarando.
— Vou encontrar essa maldita mulher e saber do que tanto ela foge.
Abandono-o, caminhando a passos lentos pela rua, me sentindo a um
passo de estourar, com tamanha ira e sensação de vazio que me preenche. Me
sinto como um menino tolo que estava com o seu melhor presente de Natal
nas mãos e que simplesmente desapareceu. Se Yane acha que vai conseguir
fugir de mim, ela está muito enganada.
CAPÍTULO 20
JURO DIZER APENAS A VERDADE
Yane Rinna

“Diga meu nome


O Sol brilha em meio à chuva
Uma vida toda tão sozinha
E então você chega e alivia a dor
Eu não quero perder este sentimento”
Meus dedos seguram firme o pequeno aparelho em minha mão,
ficando em silêncio, ouvindo apenas as vozes de The Bangles, que
repercutem nos fones de ouvido cantando Eternal Flame. Sentada ao fundo da
sala, observo Tomas e o policial Fred dentro dela, conversando.
“Feche seus olhos, me dê sua mão, meu bem
Você sente meu coração batendo?
Você compreende?
Você sente o mesmo?”
Bato meus pés lentamente no chão, encarando os grandes ponteiros do
relógio na parede. Fecho meus olhos, querendo fugir para o mais longe que eu
suporte correr. Quando os dois ponteiros aparecerem em cima do número 14,
a porta lateral da sala estará sendo aberta e serei conduzida até o banco, onde
estarei me sentando ao lado do juiz Dener Murati. Confrontarei seus olhos
claros, que recairão sobre mim, enxergando a verdadeira Yane. Eu quero
chorar, gritar por ter me deixado tão vulnerável a ponto de estar ouvindo pela
sétima vez a mesma música deprimida, sentada no banco de espera em uma
sala separada de onde está acontecendo o julgamento. Sinto os dedos calmos
no meu ombro, o que me faze abaixar os fones de ouvido, recebendo um olhar
gentil de Tomas, que me observa.
— Quem ainda tem um walkman[21] em pleno século XXI? — Ele
segura o pequeno toca-fita amarelo, olhando com curiosidade.
— Eu ganhei de aniversário de um velho amigo — sussurro, olhando
o aparelho que Hit me deu no meu aniversário de treze anos.
Engraçado como eu não tenho nada que me lembre da minha infância
além do pequeno walkman que Hit comprou em uma loja de coisas velhas. O
ex-namorado da minha mãe tinha embalado em um pacote vermelho com três
fitas de música, que ele mesmo gravou, com as antigas canções preferidas
dele. E era com esse pequeno aparelho antiquado que conseguia abafar os
sons que minha mãe fazia no quarto ao lado do meu, com cada homem que ela
levava para casa. Aprendi a gostar das melodias antigas por conta da
gentileza de Hit.
— Um amor antigo? — Sorrio para ele, negando com a cabeça.
— Hit foi um dos namorados da minha mãe. Depois que ela morreu,
ele é o mais perto de um parente que eu tenho.
— Ainda mantêm contato? — Tomas pergunta baixo.
— Bem pouco. Antes de acabar caindo naquela porcaria de boate, eu
ia com mais frequência para o Alabama o visitar.
— Ele mora lá?
— Sim. Hit meio que abriu uma casa de repouso diferenciada para os
veteranos aposentados na fazenda dele. Eles fumam maconha e assistem TV o
dia todo. — Sorrio sem felicidade. A última vez que fugi, buscando abrigo
com Hit, foi quando meu pai morreu. — Uma hora pesquise por Boinas
verdes da paz, vai se surpreender como ele anda fazendo sucesso na rede
social.
— Pode deixar, vou pesquisar. Talvez seja bom saber para onde eu
posso ir quando me aposentar. — Tomas ri, balançando sua cabeça, me dando
um olhar calmo. — Como está se sentindo? — Tomas solta o aparelho em
minha perna, abaixando seu tom de voz.
— Você tem certeza de que não pode realmente me dar um tiro à
queima-roupa? — pergunto para ele com melancolia, usando da piada
sarcástica para não o deixar perceber como me sinto arrasada.
— Não, eu não posso. — Ele respira fundo, olhando em volta antes de
me olhar outra vez. — Talvez ele não te reconheça.
Sorrio triste, tentando não perder para o choro que quer vir à tona.
Esfrego a palma da minha mão nas minhas pernas, encarando o vestido de
tecido rosa-claro que vai até meus joelhos.
— Ele vai — o respondo, mantendo o sorriso melancólico em minha
face. — Eu sinto muito, Tomas...
— Talvez tenhamos uma chance ainda, ninguém sabe o que aconteceu,
compreende? A menos que o juiz olhe para você e se negue a julgar o caso...
— Tomas esfrega seu rosto, soltando a gravata do seu pescoço. — Não foi
sua culpa, seja lá o que tenha acontecido. — Seu rosto se acomoda em sua
mão, que é sustentada por seus cotovelos apoiados em sua perna. — Não quer
mesmo me contar o que aconteceu entre vocês dois?
— Não. — Fecho meus olhos, erguendo os fones para meus ouvidos
outra vez, o deixando de fora da minha dor.
“— Não vai me apresentar sua acompanhante, Dener, ou até fora
dos tribunais sua fama de juiz mão de ferro o precede?”
Sinto o medo me pegar enquanto atravesso o gramado, correndo em
disparada na direção dos arbustos. Meu coração está tão acelerado a cada
passo, que meu fluxo de sangue aumenta em minhas veias. O choro que
nubla minha vista vai aumentando a cada segundo que vou compreendendo
a verdade. Dener é o juiz que vai julgar Box, será diante dele que vou ter
que testemunhar.
“— Eu não vou falar para ninguém. — Respiro fundo, fechando
meus olhos, desejando nunca ter aceitado aquela maldita oferta de dança.
— Apenas realmente espero que esse juiz seja tudo isso que você falou.
— O homem é linha dura, incorruptível. Não é nem um pouco
amigável com pessoas como Box, realmente ele faz jus ao apelido que
ganhou. Drogas, assassinatos, estelionato, roubo e prostituição não passam
no radar dele, esse juiz mão de ferro não tolera nada disso.”
Limpo meu rosto, ouvindo a voz de Tomas me falando sobre ele no
dia que me deixou na porta do convento. Não preciso ser um gênio para
saber que a testemunha não trepa com o juiz do caso, e muito menos se
apaixona por ele. Eu tinha metido os pés pelas mãos, estava a um passo de
contar a verdade para Dener. Ele me olharia com nojo, seria assim que o
juiz olharia para a stripper. Pulo o muro como se minha vida dependesse
disso e corro mais rápido assim que meus pés tocam o chão, entrando no
convento como um furacão, parando apenas quando estou de frente para a
porta do quarto da madre.
— Tenho que sair daqui — falo rápido assim que ela abre a porta,
me encarando preocupada.
— O que aconteceu? — Seus olhos se expandem, olhando para trás
de mim, vendo o corredor vazio, encarando o vestido em meu corpo. — O
que...
— O pai da Andy... Dener é juiz? — Limpo as lágrimas dos meus
olhos, que não param de escorrer.
— Sim, eu achei que sabia...
— Não, madre, eu não sabia. — Aperto minha cabeça, me sentindo
perdida. — Eu não sabia que Dener Murati é o juiz do caso de Filipi Box —
falo, chorando com dor. — Tomas tem que me tirar daqui agora.
— Deus! — A voz dela sai baixa, em pura aflição. — Vocês dois...
vocês...
Ergo meu rosto infeliz, com olhos transbordando de lágrimas,
soluçando com o choro, sem precisar de palavras para confirmar o que ela
quer saber.
— Preciso sair daqui.
Ela solta um suspiro baixo de compreensão, movendo sua cabeça em
positivo.
— Me espere no meu escritório, Yane.
Nunca subi tão rápido as escadas da minha masmorra, como subo
agora. Retiro o vestido que Dora e Andy tinham me feito usar, puxando um
dos hábitos de dentro da gaveta. Apenas pego o crucifixo que Mand me deu
e o meu CD da Cher, voltando em disparada para o escritório da madre.
Tinha acabado de escrever um recado para Andy dentro da capa do CD,
quando a madre abre a porta, me chamando, me levando para os corredores
dos fundos, onde tem um carro me esperando.
— A irmã vai te levar pela estrada velha, que tem saída pelos
fundos. Ninguém vai ver vocês saindo, vão chegar até a casa do nosso
jardineiro. Senhor Tomas vai lhe buscar lá pela manhã. — Balanço a
cabeça para ela, compreendendo tudo que fala, me olhando apreensiva.
— A senhora poderia me fazer um favor. — Estico o CD, olhando
para ele em minhas mãos trêmulas. — Entregue isso à Andy e diga as
meninas e a Mand que eu nunca vou me esquecer delas...
— Pode deixar... — Seu rosto se ergue para mim, pegando o CD da
minha mão, abrigando sua mão sobre a minha, dando um leve tapinha. —
Eu entregarei.
— Obrigada, madre. Obrigada por tudo... — Respiro fundo,
limpando meu rosto e olhando para o grande convento atrás dela.
Eu não veria mais minhas meninas, nem ouviria as risadas de
Mand, não ia poder me despedir delas... E depois que Dener me visse
dentro daquele tribunal, eu nunca mais o veria também. Meu braço se
encolhe, soltando meus dedos do CD, me sentindo mais uma vez sozinha na
minha vida. O movimento rápido da pequena senhora é ágil quando ela
ergue seus braços sobre meus ombros, me sustentando enquanto choro, me
dando um abraço forte, repleto de compaixão e carinho.
— Eu tenho fé em você, Yane. — A madre se afasta, segurando meu
rosto em sua mão. — Lembra quando disse que Deus escreve certo por
linhas tortas?
Fungo, limpando meu rosto com o dorso da minha mão e
balançando a cabeça em confirmação para ela.
— A senhora achou sua resposta, madre?
— Sim, Ele me deu minha resposta. — Ela sorri com carinho,
beijando minha testa e dando um passo para trás, soltando meu rosto. —
Não era minha fé que precisava ser testada, mas sim você encontrar a sua,
a fé em si mesma, nas pessoas à sua volta, sua fé em Deus. Tudo na vida
tem um propósito e algumas coisas acontecem em nossas vidas porque tem
que acontecer. Ele lá em cima sabe o que faz...
— Deus podia ser mais claro comigo, madre. Porque se tem um
propósito dEle ter me feito passar por tanta coisa na minha vida, ainda não
entendi. — Caminho para o carro, abrindo a porta do carona, me sentando
em silêncio e olhando para a madre parada, segurando o CD em suas mãos,
me observando com carinho.
— Talvez você já tenha visto seu desígnio, Yane. — Ela ergue o CD
para mim, balançando para que eu veja a única lembrança minha que
deixei para Andy.
O carro é ligado e começa a se mover, a abandonando. Suspiro,
fungando junto com meu choro, esfregando a manga do hábito no meu
nariz.
— Tem lenço de papel no porta-luvas. — Viro minha face na mesma
hora que reconheço a voz da irmã Nil, e a encaro entre minhas lágrimas.
— Mas que merda! — falo em meio ao choro, não acreditando que
entre tantas freiras, tinha que ser justo ela a me ajudar.
— Não pense que estou radiando de felicidade por ter que estar
aqui. — Ela troca de marcha, respirando lentamente.
— Já deve saber que eu não sou uma freira, não é? — Abro o porta-
luvas, pegando a caixa de lenço de papel, puxando um para mim e
assoprando meu nariz.
— Sim, a madre me contou rapidamente, por cima. — Ela vira sua
face para mim, me olhando com calma. — Sinto muito por você ter que
deixá-las assim, eu imagino o que deve estar sentindo.
— Não seja má com as minhas meninas. — Olho para a rua
solitária, falando para ela. — Eu ainda posso voltar aqui e te dar uns tapas
se magoá-las.
Tampo meu rosto, escondendo meu choro, sentindo que uma parte
minha ficou para trás, junto com Mand, Dora, Jani, Linda e Andy. E a outra
metade ficou aprisionada a Dener. Nós duas não conversamos, ela apenas
ouve meu choro durante toda a viagem, até chegar no ponto de encontro,
onde Tomas irá me buscar. Reconheço a mala que ela retira do porta-malas
do carro, deixando ao meu lado quando para na frente da casa. Ao abrir o
zíper, vejo todas as minhas coisas lá dentro, as quais Mand tinha levado,
dizendo que iriam para a doação.
— Mas, Mand disse...
— A madre apenas guardou. Acho que ela sabia que você poderia
precisar sair às pressas, por isso ficou dentro do porta-malas do carro. —
Irmã Nil olha para mim e para a mala. — Eu nunca tinha entendido por que
ela me mandou guardar a mala no carro, não até agora. Fica com Deus,
Yane.
Vejo-a ir embora enquanto me sento na varanda, olhando
melancólica para a minha mala.
— Yane. — Abro meus olhos, sendo fisgada pelos olhos castanhos de
Tomas, que me encaram, retirando os fones dos meus ouvidos. — Está na
hora.
Me levanto, guardando meu radinho na minha bolsa, pendurada em
meu ombro.
— Vai se sair bem, apenas diga tudo que viu. Não precisa olhar para
Box, não precisa olhar para o juiz. Dê o seu depoimento e eu mesmo te tiro
daqui assim que acabar. — Tomas esfrega meu braço, me olhando confiante.
— Venha, fique próxima à porta, o promotor vai chamar por você e o policial
lá dentro vai te levar até seu assento.
Não consigo falar, nem lhe garantir que eu vou me sair bem, estou com
meu coração batendo em um compasso acelerado. Talvez antes, quando
estivesse aqui, eu poderia estar nervosa por ter que encarar Filipi Box e
saber que meu testemunho vai garantir longos anos da vida dele dentro de
uma penitenciária máxima, mas agora meu medo não é dele, e sim do homem
ao qual me entreguei, de enxergar o repúdio que ele vai sentir por mim. A
única coisa que desejo é fugir, fugir para bem longe. Paro próximo à porta,
que está com a pequena fresta aberta, ouvindo todas as vozes que vem lá de
dentro. Meus dedos estão suados, minhas pernas fracas e meu coração
destroçado.
— A senhorita não vai entrar? — Espremo meus dedos ao lado do
meu corpo, olhando a porta branca à minha frente. Ouço os gritos de dor
do homem debilitado dentro dela, enquanto a enfermeira me olha com pena.
— Eu... eu já vou entrar. — Respiro fundo, tentando controlar meu
coração. Nove anos que não o vejo mais, nunca mais olhei em sua face e
nem ouvi sua voz.
E agora volto a me sentir como aquela menina de dez anos, parada
na calçada, vendo o olhar de desgosto que ele me dava.
— Foi ele que me chamou? — Bato meu pé lentamente no chão, me
sentindo nervosa.
— Sim, ele pediu para lhe chamar um pouco antes de perder a
lucidez. — Solto o ar, esfregando meu rosto.
Ainda não sei se devo entrar, nem sei se devia ter vindo ou não, para
ser franca. Estava chegando em casa quando o telefone tocou. Minha mãe,
desmaiada no sofá, dormia com sua face borrada pela maquiagem. Eu
estava há três dias sem dormir, trabalhando na porcaria da boate que ela
tinha me descolado um emprego para poder pagar as contas da casa.
Quando atendi o telefone de casa e foi anunciado que era do hospital,
fiquei muda, sem saber o que falar. Eles tinham me encontrado pela lista
telefônica. A moça do outro lado da linha me comunicou que meu pai estava
em estado crítico. O câncer no pulmão dele tinha se agravado, as morfinas
não estavam mais fazendo efeito. Ele perdia a memória com grande
frequência, às vezes voltando à lucidez por alguns segundos, e antes da
piora final, estava chamando por mim. Ainda fiquei um tempo parada,
olhando para a porta da casa, antes de decidir vir. Mas aqui, agora,
parada na entrada do quarto dele, ouvindo seus gritos, não tenho mais
tanta certeza que devia ter vindo. Com muito esforço, tomo coragem,
entrando de mansinho, me encostando na parede, avistando a cama onde
ele está contido, com seus pulsos amarrados na lateral da maca.
— Por que ele está amarrado? — sussurro para a enfermeira,
observando meu pai.
— Ele estava se machucando de propósito, tivemos que fazer isso
para controlá-lo. — Ela caminha lentamente, ficando perto dele,
verificando os batimentos cardíacos que aparecem na maca. — Senhor
Rinna, sua filha está aqui, lembra que o senhor a chamou...
— Filha? — Ouço sua voz tão rouca sair como se fosse com dor por
sua garganta. Dou um passo à frente, ainda deixando um espaço entre mim
e sua maca, com medo de me aproximar.
— Sim, sua filha. Yane está aqui...
— Eu não tenho filha. — Meu corpo volta para a parede quando ele
grita, se agitando na cama. — Aquela vagabunda fez minha filha virar um
lixo como ela, um lixo imundo igual a mãe! Uma vagabunda! Eu não tenho
FILHAAA!
Fecho meus olhos, me encolhendo o quanto meu corpo possa
suportar, me colando à parede. O corpo dele se debate, chutando a cama,
gritando alto dentro do quarto, como se fosse uma faca que me perfura,
serrando lentamente minha alma.
— Nunca vai ser nada além de lixo... UM LIXO, UM LIXO, UM
LIXOOOOOOO!
Já estou atravessando a porta do quarto, tampando meus ouvidos
enquanto corro pelo corredor, fugindo para bem longe dos gritos dele.
A porta à minha frente é aberta lentamente, me tirando das lembranças
quando ouço a voz alta do promotor de justiça.
— A promotoria chama agora a testemunha Yane Rinna, vinte e quatro
anos, residente de São Francisco e natural do Alabama, senhor Meritíssimo.
O homem de cenho fechado, sentado ao centro da sala com sua toga
negra, altera sua face da direção que estava encarando para mim, parada na
frente da porta, na lateral da sala. Vejo seus olhos claros se tornando escuros
a cada segundo que ele me olha. Se eu fechar meus olhos, ainda posso ver sua
face tão linda, como ele estava naquela noite; posso sentir meu coração
acelerado a cada passo que ele deu em minha direção, galante em seu
smoking negro; a sensação de sentir seu peito subindo e descendo com minha
face encostada em seu peito. Mas tudo isso agora é distante, parecendo que
aquela noite aconteceu apenas na minha cabeça. E os olhos que me devoram
agora não trazem mais o calor que tinham antes, nem o sorriso devasso em
seus lábios. Apenas sua face de rancor e nojo me olha.
— Por favor, venha. — Acompanho o policial, que me conduz até uma
cadeira próxima a Dener, e resigno meus olhos para o promotor, não
conseguindo mais sustentar o olhar do senhor Murati. — Sua mão na bíblia,
por favor. — O policial a estende para mim, me encarando sério, esperando-
me deixar minha mão espalmada sobre o manuscrito. — Senhorita Rinna, jura
dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?
— Eu, Yane Rinna, juro dizer a verdade. — Respiro fundo, podendo
sentir a força do olhar de Dener sobre mim. Meu rosto se move devagar, me
prendendo nos olhos claros que me observam ressentidos. — Somente a
verdade e nada mais que a verdade.
Restrinjo meus olhos para minhas mãos, que se juntam sobre minha
perna quando o som da sua cadeira se faz ao se levantar.
— Defiro recesso de dez minutos para essa corte.
Me pego lentamente sentada na cadeira, ouvindo o som rouco
carregado de ira da sua voz, enquanto todos dentro da sala murmuram, sem
compreender o que está acontecendo.
CAPÍTULO 21
O JUIZ
Yane Rinna

— Protesto, Meritíssimo! — o promotor fala alto dentro da sala, me


deixando mais acuada diante do olhar do advogado de Filipi Box, que me
humilha a cada palavra que sai dos seus lábios. — Meu caro amigo está
sendo impertinente e desmerecendo a minha testemunha.
— Retiro o que disse, Excelência. Longe de mim fazer isso. — O
advogado me olha de cima a baixo, parando seu olhar em minha face. — Não
quero desmerecer a profissão de stripper da testemunha, mas gostaria de
compreender o que a senhorita Rinna estava fazendo no banheiro.
Me sinto julgada por cada olhar que recai sobre sim. A banca dos
jurados me assiste silenciosa, as palavras frias e dolorosas que o advogado
me fala, os olhos gélidos de Dener me encarando, com sua face fechada, me
examinando como se nunca tivesse me visto na vida e eu não passasse de uma
stripper suja dentro desse tribunal. Ele passou a me olhar apenas quando o
advogado de Box começou a fazer várias perguntas sobre mim. Eu quero fugir
daqui, não entendo porque eles não me deixam ir embora. Já falei tudo o que
eu vi, contei cada ação do senhor Box dentro daquela sala, degolando o
jovem rapaz. Por que eles estão fazendo mais perguntas?
— Tive um mal-estar... — Busco por Tomas, o encontrando na quinta
fileira de bancos, me encarando com angústia.
— Um mal-estar.... — O homem caminha pela sala, parando perto de
mim, me observando de forma fria. — A senhorita estava se drogando,
senhorita Rinna?
— O quê?!
— Protesto, Meritíssimo! — O promotor se levanta alterado. Estou
amedrontada, eu não sou uma viciada. Por que estão me perguntando isso?
— Protesto negado. Responda à pergunta, senhorita Rinna. — Meu
rosto se vira para Dener, que mantém sua forma fria, com olhos de aço sem
emoção alguma, me encarando. — Senhorita Rinna, estava se drogando
dentro do banheiro?
— Não, eu não estava, eu não uso drogas. — Minha voz trêmula
responde para ele, me fazendo me sentir mais inferior a cada instante que
recebo o peso do seu olhar.
— Bebidas? — O advogado abaixa seu rosto, me encarando, me
fazendo ficar mais assustada. — Por qual motivo entrou justamente naquela
sala restrita? Estava bêbeda ou apenas pensava em roubar algo de valor?
— Eu não sou ladra! — Me levanto em um ímpeto de medo, apertando
a bolsa em meus dedos, olhando para Dener.
— PROTESTO, Meritíssimo!
— Eu passei mal, não escolhi a sala, apenas entrei na primeira que vi
aberta — falo rápido, com as palavras saindo atrapalhadas da minha boca.
— POR QUÊ? O que causou seu mal-estar? Acompanhe meu
raciocínio, senhorita Rinna... — Ele se afasta de mim, caminhando para perto
do júri. — Uma festa regada a champanhe, já se passava das três da manhã,
todo estavam alterados, o que poderia levar a testemunha a passar mal, sono?
Creio que não, meus caros. — O advogado se vira, me apunhalando com seu
olhar frio. — Ao menos que estivesse muito bêbada ou drogada, ou apenas
querendo roubar algo, não consigo imaginar o que te fez ir justamente para
aquela sala. Qual o verdadeiro motivo?
— PROTESTO, MERITÍSSIMO! Yane não precisa responder...
— Não, não, está errado — sussurro com a voz quebrada, sentindo
meus olhos ardendo. Abraço meu corpo, olhando perdida para o chão. — Foi
por fome...
— Desculpe, fale mais alto, pois não ouvi, senhorita Rinna. — O
advogado caminha, retornando à minha frente.
Não preciso olhar para Dener para saber que sua atenção está pregada
em mim. Vou me quebrando pouco a pouco, sentindo a pior sensação de
miséria da minha vida.
— Foi por fome — respondo com tristeza, erguendo meus olhos para
o advogado, encarando o grande júri. — Estava há três dias sem comer nada
descente, sem dinheiro, então aceitei a proposta para ir fazer striptease na
festa. Não sou usuária de drogas e muito menos ladra ou uma bêbada, eu
apenas estava faminta. — Minha voz se cala, com o soluço de choro que
escapa dos meus lábios. — Eu estava com muita fome, e comi o máximo que
pude aguentar. Quando comecei a dançar, passei mal e entrei na primeira
porta que vi na minha frente, para não vomitar nos convidados... — Meu
corpo desaba na cadeira, ergo meus braços e tampo meu rosto com minhas
mãos, chorando com dor e vergonha, me sentindo um lixo de pessoa. — Foi
só por isso que aceitei o serviço, foi por fome!
O silêncio dentro do tribunal é quebrado apenas pelo meu choro
sofrido. A dor que liberto em cada palavra que disse agora. Eu jurei dizer a
verdade, apenas a verdade. E por mais vergonha e miserável que possa ser,
essa é a minha verdade.
— A testemunha está dispensada.
Ouço a voz rouca falando alta, seguida do som do martelo, que bate
seco em sua mesa. Não sei como aguento ficar firme sobre minhas pernas,
mas caminho a passos desesperados para longe daquela cadeira. Minha vista,
cega pelas lágrimas, me fazem andar trêmula. Sinto a mão firme que passa
pelos meus ombros, me auxiliando, ouvindo a voz de Tomas me confortar
baixinho, esfregando meus braços e me levando de volta para a sala que eu
estava anteriormente.
— Você foi corajosa, não tenha vergonha.
— Eu quero ir embora. Me prometeu que eu iria embora, Tomas. —
Seguro seu braço, implorando para que ele me deixe ir. Não tem mais nada
para mim aqui, não quero esperar pelo fim do julgamento. — Eu já falei tudo,
eu contei tudo o que vi, me leva daqui...
— Sim, apenas preciso...
— Senhorita Rinna, preciso que me acompanhe. — A voz masculina
faz Tomas parar seu caminhar, erguendo seus olhos para o homem alto,
parado à nossa frente.
— Desculpe, mas ela não vai para lugar algum... — Stone estica sua
mão, retirando os óculos escuros, me olhando sério.
— Por favor, me deixa ir... — Nego com a cabeça, sabendo
exatamente por que ele está aqui. — Eu sinto muito, Stone, mas eu não fiz
nada, me deixa ir, por favor.
— Foram ordens dele, Yane, preciso que me acompanhe. — Stone
segura meu braço com delicadeza, olhando para Tomas. — Não vai ter
permissão de sair desse prédio sem autorização dele.
— Ordens de quem? A testemunha está sob minha segurança!
— O juiz quer falar com a testemunha a sós. — Tomas compreende na
mesma hora, quando Stone fala com voz firme.
O homem sério não me dá outra escolha, ele já está me conduzindo
pela sala, parando próximo a uma porta, caminhando entre corredores
esvaziados que possuem apenas os seguranças que estavam na casa de Dener,
espalhados em cada canto. Ouço a conversa acirrada de Tomas com ele,
quando o detetive se nega a me deixar sozinha. Mas no momento que paramos
diante de uma grande porta negra, com o nome do juiz Murati brilhando em
uma placa prata, sei que não terei escapatória. E é exatamente isso que
acontece quando Stone me leva para dentro, fechando a porta atrás de mim.
Olho sobressaltada para cada canto do cômodo, respirando rápido.
Me viro, tentando abrir a porta, puxando a maçaneta. Quero gritar assim que
percebo que ela está trancada do lado de fora. Corro na direção da outra
porta, tentando abrir, mas ela também se encontra trancada.
— Stone, por favor... — Bato com força na porta pela qual entrei. —
Me deixa sair, por favor...
As lágrimas queimam meu rosto. Depois de quinze minutos sem
resposta alguma do outro lado, entro em estado de alerta, sentindo os pelos da
minha nuca se arrepiarem quando ouço a porta de acesso ao canto da sala,
que estava chaveada pelo lado de fora, ser aberta. Encosto minha testa na
porta, fechando meus olhos com força, no segundo que o aroma da sua
colônia que tão bem conheço entra em minhas narinas.
CAPÍTULO 22
FEITICEIRA CRIMINOSA
Dener Murati

— Tem consciência das consequências disso?! — Minha voz sai fria,


olhando para essa maldita mulher colada à porta com seu corpo trêmulo, me
olhando assustada. — Como esse julgamento pode perder toda a
credibilidade por conta do conflito de interesse?!
— Eu sinto muito, Dener. Não sabia...
— Posso perder a jurisdição desse caso apenas se aquele maldito
advogado sonhar que tive algum envolvimento com a testemunha. — Retiro a
toga com raiva, jogando em cima do sofá.
Sinto-me inflamado de todas as emoções. A surpresa de ver essa
mulher entrando dentro do meu tribunal, ódio pela sua mentira, alívio por ela
ter aparecido, tudo está me afundando. Fui obrigado a fazer um recesso da
audiência para me recompor e dar uma única ordem a Stone: ela fica aqui!
Em quinze anos de carreira, eu nunca teria me omitido, jamais daria
sequência a um julgamento onde eu teria qualquer laço com a testemunha,
estaria me dando a dispensa e repassando o caso para outro juiz. Mas pela
maldita segurança dela, e para manter Box atrás da cela, tenho que mentir
sobre a verdade!
— Eu não tinha ideia que você seria o juiz desse caso.
— Por que não me contou a verdade ao invés de FUGIR? — grito
com raiva, parando à sua frente, repuxando o ar com ódio para dentro dos
meus pulmões. — Tem ideia de tudo que está em jogo, Yane?! — A
confronto, segurando seus ombros, a fazendo me encarar. — Box pode se
safar desse julgamento, sua vida estará em risco se ele conseguir uma maldita
brecha que seja de conseguir desmerecer esse caso! Tudo porque eu me meti
no meio das suas pernas!
— EU NÃO SABIA! — Sua voz grita enfurecida entre o choro,
socando meu peito. — Deus, eu sinto muito, merda... Não sabia que você era
a porra de um juiz!
Afasto-me de Yane, soltando seus braços, tentando conseguir resgatar
nem que seja um pouco de sensatez. Meus dedos esfregam meu rosto e respiro
fundo, sentindo meu coração eloquente a cada batida. Yane me tira a
concentração, fico imprudente perto dela. Aqui, agora, almejo estrangular
essa mulher irresponsável, ao mesmo tempo que quero apertar ela nos meus
braços e protegê-la. Três longas horas sendo torturado por sua face assustada
dentro do tribunal, tendo que lhe dirigir o mesmo tratamento rigoroso que dou
a todos dentro de uma audiência, quando o que eu realmente queria fazer é
oposto disso, apenas socar a boca de merda daquele advogado de Box, o
fazendo engolir cada maldita palavra que ele argumentava, a desmerecendo.
Os olhos negros marejados brilhavam com lágrimas e dor, me transformando
em um caos por dentro, sem poder fazer nada, me deixando de mãos atadas,
querendo apenas que aquele advogado de merda parasse de fazer perguntas,
para deixá-la sair, porque eu sabia que Stone estaria a levando para mim, a
deixaria segura, longe dos olhos de todos. Mas aquele homem que a segurou
pelos ombros, a conduzindo para fora de uma forma tão íntima, foi o último
resquício do pavio antes dele queimar de vez a pólvora que está me
consumindo, explodindo toda minha confusão para fora. Graças a Deus que os
jurados tinham se agrupado para analisar tudo que foi argumentado dentro do
tribunal pela promotoria e o advogado do réu. Agora é esperar pela sentença
do júri.
— Aquele homem? — Seguro sua face em minha mão, não lhe
permitindo se afastar quando ela tenta fugir para longe de mim. — O homem
que está com você, o detetive, está tendo algo com ele?
— O quê?! — Seus cílios úmidos piscam confusos, mas pouco a
pouco seus olhos grandes de coruja se expandem. — Tomas? Acha que tenho
algo com o detetive Tomas?
— Responda minha pergunta, Yane. — Ranjo meus dentes, soltando as
palavras com urgência. Ela fecha seu semblante, me olhando zangada.
As coisas que Yane faz comigo, a forma como ela me engole com sua
luxúria e seu amor sem pudor, tudo isso me jogou à lona, e eu amargamente
admito para mim mesmo que sinto ciúme, ciúme de apenas imaginar ela se
entregando para outro homem.
— Claro que sim, estou trepando com ele e com a porra do
departamento de polícia inteira, seu babaca! — A mão dela me empurra com
raiva, lhe dando a chance de se afastar para longe de mim. — Acha que sou
uma puta que sai trepando com cada homem que vejo?!
— Não disse isso sobre você, Yane. — A encaro, não gostando da
forma como ela acha que a vejo. Estou com ciúme da forma que ele a
protegeu, porque é assim que eu quero protegê-la. — Responda a porra da
pergunta! Está tendo algo com ele? Por isso Andy me contou que você tem um
ex agressivo?
A veia em meu pescoço se abala, aumentando o pulsar a cada fluxo de
sangue sendo bombardeado, disparado dentro de mim. Ainda sinto a mesma
ira ao ouvir Andy me contar aquilo, chorando com dor, se sentindo culpada
por Yane ter partido.
— Andy falou o quê? — Yane olha para o chão, negando com a
cabeça. — Tomas me levou para o convento, ele que providenciou tudo. Eu
nunca tive nada com o detetive. — Meus nervos relaxam, fazendo minha
adrenalina diminuir ao ouvir suas palavras.
— E esse ex-companheiro?
— Não tem ninguém. Não tenho nenhum ex-companheiro. A madre
apenas contou isso para irmã Mand, porque pelo menos alguma freira tinha
que saber que eu não era uma irmã. — Ela caminha para perto da minha mesa,
falando triste.
Seus ombros se encolhem, com ela girando seu corpo, ficando de
costas para mim. Ouço o som baixo do seu choro, e meus passos me levam
direto para ela, ficando tão perto enquanto sinto seu cheiro, seu calor.
— Por que não contou a verdade, Yane? — Meus braços se erguem,
ficando presos ao lado do seu corpo, com meus dedos esmagando a mesa do
escritório, a deixando presa entre nós. — Eu dei minha palavra que a
protegeria.
— Me protegeria como, se me olhou de forma fria quando descobriu
que eu não passo de uma stripper inútil? — A voz baixa dela é fraca junto ao
pequeno soluço.
Respiro fundo, fechando meus olhos, colando minha testa aos seus
cabelos, inalando fundo seu cheiro. Yane me jogou no inferno desde o dia que
fugiu da minha casa. Procurei por ela em todos os cantos, buscando uma
forma de achar alguém que pudesse me dizer onde ela estava, e absolutamente
nada. Mas então, como a feiticeira trapaceira que ela é, a vi entrando por
aquela porta quando seu nome foi anunciado, me prendendo em seu olhar
tristonho.
— Acha mesmo que sou tão cretino que me importo com o seu
passado? — sussurro entre suas mechas, levando minhas mãos para sua
cintura e a girando, até seu corpo parar de frente para mim.
— Tem coisas que não precisam ser faladas, Dener. Eu vi o seu olhar.
Já me foram dados muitas vezes esse mesmo olhar de repugnância... — Seus
olhos se abaixam para meu peito, encarando os botões da camisa. — Eu não
me importo mais com isso.
— Mas eu sim. — Ergo seu queixo em minha mão, trazendo seus
olhos para mim. — Não olhei para você com repugnância. Estou te
protegendo, minha feiticeira. Se eu tivesse a pegado em meus braços, como
eu tive vontade, e te arrastando para longe daquele tribunal, todos lá dentro
saberiam que me importo com você, Yane. Box escaparia, conseguindo uma
brecha, e esse julgamento seria anulado. Estou cuidando de você, mulher.
Seus olhos são místicos, com a magia que apenas a feiticeira faz em
mim. A forma como eles brilham, acovardados e desconfiados, me faz
desejar apenas tirar toda essa dor que se esconde por trás deles.
— Dener, eu... preciso ir.
— Para onde? — Solto seu rosto, abaixando minhas mãos para sua
cintura, a puxando para mim, colando seu corpo ao meu. — Para onde vai
fugir dessa vez? Por que não me deixa cuidar de você?
— Isso não vai dar certo... — Me nego a ouvir seu argumento fraco, a
silenciando com meus lábios, a tomando para mim.
Meu corpo se incendeia, me deixando descontrolado, revivendo a
emoção com vitalidade ao ter minha boca junto a dela, usando de persuasão,
escorregando minha mão por sua bunda, espremendo sua pele em meus dedos.
A tiro do chão, a depositando em cima da minha mesa. Aprofundo o beijo,
sentindo seu sabor a cada toque das línguas, que nos roubam o ar. Os dedos
finos presos em minha camisa se comprimem quando nota minhas mãos
espalmadas em suas coxas, se alastrando por suas pernas, se infiltrando por
baixo do vestido. A puxo com força para a borda da mesa, erguendo sua
perna para que possa se prender à minha cintura, sem me separar dos seus
lábios. Yane é um furacão que me arrastou para fora da minha vida tão
controlada, e não quero voltar para lá. Não depois de tê-la em meus braços. E
meu corpo busca pelo seu com urgência, entre a luxúria que nos abraça, nos
condenando a necessitar tanto um do outro com tamanha euforia como agora.
Ela desfere mordidas em minha boca, usando suas mãos para libertar
os botões da minha camisa. Minha própria mão já está abrindo o zíper da
minha calça, permitindo meu pau sair pulsando com prazer, recebendo mais
sangue em minhas veias. Suas mãos se esfregam em meu peito, largando
apenas o rastro das suas unhas e da ardência. A beijo com fome, apelando
para a brutalidade quando espremo sua cintura em minha mão, erguendo o
vestido, apenas afastando a fina renda para o lado, me deixando ter acesso à
sua boceta. Yane segura meu pau em seus dedos, o fazendo ficar mais duro do
que ele já se encontra, o conduzindo para entrar no seu corpo quente e fogoso,
arfando entre gemidos assim que a penetro de uma única vez.
— OHHH! — Sua cabeça tomba para trás, me deixando ver sua
entrega, tendo suas mãos se segurando nervosas em meus ombros.
Tudo vai ao chão quando passo minha mão por trás dela, limpando a
mesa para receber suas costas quando a deito, cerrando meu maxilar,
apertando com urgência seu quadril, saindo do seu corpo para me afundar
outra vez, mais rápido. Meu peito bate acelerado, chocando nossos quadris
para ter cada canto da sua boceta sendo acoplada com meu pau, a fodendo.
Ela me tira tudo: a paz, o controle, o tempo. Apenas o que me segura são seus
olhos negros brilhando de desejo para mim. Minhas mãos se erguem ao seu
vestido, abaixando a frente dele e me deixando ver seus peitos livres soltos,
sem nada para atrapalhar seus movimentos graciosos a cada impacto que seu
corpo recebe, com meu quadril batendo com o dela. As coxas grossas
desnudas estão presas em minha cintura e me prendem mais, para que eu não
possa ir para longe dela, sem nem ter consciência que seria mais fácil eu
algemá-la a essa mesa do que me distanciar do seu corpo quente e
pecaminoso.
— Dener... — Meu rosto se ergue para sua face, que se retorce entre o
prazer e a dor, recebendo meu pau, que a martela com força, e minha mão
espremendo suas tetas, uma de cada lado, as segurando com posse.
Seus dedos se seguram em meu pulso, abrindo seus olhos cheios de
volúpia para mim, me engolindo nessa roda-gigante de prazer que é estar lhe
fodendo. Sinto raiva pela forma como me perco com ela em meus braços,
ódio de outro ter lhe tocado com tanto carinho, medo que ela suma outra vez e
ira por querer que ela nunca mais fuja de mim.
— Oh, Deus! — Ela estica seu corpo, arqueando seus seios para
cima, apertando mais suas pernas em minha cintura, mordendo a lateral dos
seus lábios.
Meu pau remete fundo, entre solavancos, estourando dentro da sua
boceta com o dobro de impetuosidade, fazendo a sala trancada ser preenchida
com os sons roucos e agressivos que saem da minha garganta, se misturando
aos gemidos dela. Os músculos quentes da sua boceta se apertam em volta do
meu pau, o sugando com pura urgência, gozando em libertação a cada
apunhalada, com a bateria bruta do meu quadril se chocando com o seu. Cada
fibra do meu corpo se enrijece, queimando como fogo, se transformando em
espasmos em meus músculos, causando tremores em minhas pernas quando
gozo forte junto com Yane, que me arrasta para o mais puro nirvana. E quando
meu corpo desaba sobre o seu, sentindo seu coração bater acelerado colado
ao meu, com minhas mãos agarradas às suas coxas, afagando sua pele,
ouvindo sua respiração entrecortada e seus braços se apertando em minhas
costas com tanta urgência, com suas pernas em minha cintura, eu sei que farei
de tudo para proteger essa mulher.
— Eu vou cuidar de tudo. — Minha voz sai rouca, enquanto inalo seu
cheiro em seus cabelos. — Não vai sair dessa sala, Yane. — Me afasto o
suficiente para meus olhos se prenderem em sua face. — Os jurados estão em
recesso, se reunindo, amanhã cedo sai a sentença. Box não vai sair livre
desse tribunal, vou cuidar de tudo da sua segurança. Vai me esperar aqui até a
hora de eu ir embora, Stone não permitirá que ninguém entre nessa sala além
de mim. Ele vai nos tirar desse prédio sem que ninguém nos veja.
Aliso seu rosto, acariciando seus cabelos, recebendo o olhar de
coruja amedrontada que ela me dá.
— Não me esconda mais a verdade, Yane, preciso que confie em mim.
— A olho sério, falando firme minhas palavras. — Está me entendendo? Eu
vou cuidar de tudo. Quero cuidar de você, feiticeira.
Seus olhos se fecham, com ela escondendo sua face em meu ombro,
me abraçando com força. Arrumo seu corpo perto do meu, a puxando junto
comigo quando me levanto, sustentando sua bunda, caminhando rumo ao sofá
e me sentando com ela, sendo sugado para o feitiço que Yane tem sobre mim.
Uma Bruxa Malvada do Leste, que consegue me fazer perder o controle em
segundos, para em instantes ela se transformar em uma pequena Dorothy
perdida, que se aconchega a mim buscando carinho e abrigo. Encosto minha
cabeça no encosto do móvel, alisando seus cabelos. Com minha outra mão em
suas costas, circulo sua pele lentamente, ouvindo o som calmo da sua
respiração, com seus braços amolecendo à minha volta. Olho para sua face
encostada em meu peito e empurro uma mecha de cabelo para o lado, notando
sua bochecha molhada pelas lágrimas, adormecida, tão frágil em meus
braços.
— Do que realmente está fugindo, feiticeira?

— O governador está por trás do bloqueio do rastro dela. — Olho


para Stone, que fala calmo, escorado na sacada do meu apartamento. — O
detetive me contou depois que ele compreendeu o que estava acontecendo
dentro da sua sala.
Ele coça sua cabeça, virando seu rosto, rindo em divertimento para
mim. Descruzo meus braços, direcionando minha atenção para dentro do
apartamento, olhando a porta do meu quarto fechada.
— Ele ficou lá?
— Bom, no começo sim, queria saber por que ela estava lá. Mas eu o
arrastei para longe da porta no primeiro gemido. — Retorno a encarar ele,
que ri descaradamente. — Sabe que na sua idade, Meritíssimo, seu coração
não aguenta mais passar por esse tipo de aventura.
— Vá se ferrar, Stone, não sou velho! — Me levanto da cadeira,
soltando o nó da gravata e aliviando o aperto que sinto na garganta com esse
comentário dele. — Tenho trinta e nove anos, nossa diferença de idade não é
tão grande assim se for pensar.
— Não, apenas quinze anos de diferença. — Stone balança a cabeça,
fitando o chão. — Não estou te julgando, Dener, sempre fui o primeiro a dizer
que você devia relaxar e achar alguém que te fizesse feliz.
— Estou relaxado — respondo calmo, mantendo minha atenção nele.
— Vou estar mais relaxado amanhã, quando Box for sentenciado culpado.
— E depois? — Stone me pergunta, curioso.
— Depois o quê?
— Oh, Dener, não se faça de tolo. Até um cego vê que está
apaixonado por ela. — Meus dedos se predem à barra de ferro que compõe o
terraço, observando a noite da cidade. — O que pretende fazer com ela?
— Yane fica, independentemente de qualquer coisa. — Sorrio para
ele, me sentindo bem com a decisão que tomei.
— Vai querer que ela fique por causa de Andy ou por que realmente
quer que ela fique com você? — Stone repousa seus braços na mureta,
ficando parado ao meu lado, me analisando. — Andy me mostrou o bilhete
que Yane deixou para ela. Ela gosta da menina.
Concordo com a cabeça, me recordando do olhar triste na face da
minha filha. Andy estava chorando dentro do quarto, segurando o CD, depois
que voltou do convento no domingo de manhã, descobrindo que Yane tinha
partido. Sua mão se ergueu e o estendeu para mim, me fazendo ler e reler as
palavras carinhosas.
“Eu te amo, minha doce Andy. Sempre vou te amar e pensar em você
onde quer que eu esteja.”
Tranquei-me por um longo tempo no escritório, ficando lá dentro com
todas as perguntas martelando minha mente. Quem ela era? Do que estava se
escondendo? Quem tinha apagado seu rastro? Como eu conseguiria esquecer
essa mulher que entrou na minha vida e na da minha filha trazendo tanta
alegria?
Quando eu a vi dentro do tribunal, meu coração voltou a bater da
mesma forma quando a encontrei pela primeira vez. Não me importo com seu
passado, o que quero é estar presente no seu futuro.
— Ela fica comigo e com Andy — murmuro calmo, sentindo a brisa
da noite tocar minha face, como se fossem os dedos curiosos e arteiros de
Yane. — Ao fim dessa semana, depois que a turbulência desse caso de Box
passar, regressaremos para a casa de campo com ela ao meu lado.
— Meu Deus, o juiz está de quatro! — Stone dá um tapa em meu
ombro, rindo.
Não desminto, porque essa é mais pura verdade. Yane me deixou
preso a ela. Uma terrível feiticeira criminosa, que roubou minha paz de
espírito, meu controle e o meu coração.
CAPÍTULO 23
REAL OU SÓ MOMENTO?
Yane Rinna

Meu corpo se espreguiça na cama, sentindo cada nervinho reclamar


ao se movimentar, por conta do senhor Murati. Esfrego meu rosto sonolento
no colchão, inalando seu cheiro, que ainda está fresco no lençol. É a primeira
vez que acordo em uma cama depois de ter adormecido a noite inteira
aconchegada nos braços de um homem, sem ter a vontade de fugir o mais
depressa possível logo após me vestir.
— Sua tola — murmuro, rindo, abraçando o travesseiro dele e
enterrando meu rosto para farejar seu perfume masculino.
Meus olhos param no bilhete deixado sobre o móvel ao lado da cama.
Estico meu braço, o puxando e o lendo com calma.
“Bom dia, feiticeira.
Infelizmente não pude ficar para lhe ver acordar, a audiência de
Box começa cedo. Um dos seguranças vai deixar as compras que solicitei
para serem feitas para você no apartamento. Me espere, logo eu retorno e
vamos conversar. Sinta-se em casa.
Dener Murati.”
— Yane, você está ferrada, vadia! — Aumento o riso, admirando cada
palavra no pequeno bilhete e suspirando apaixonada, abraçada ao travesseiro
dele.
Me obrigo a levantar, mesmo com preguiça, enrolada no lençol da
cama. Depois de lavar meu rosto e fazer minha higiene matinal, recorro ao
guarda-roupa imenso dentro do quarto luxuoso, pegando uma camisa de botão
de Denner e a vestindo para tampar meu corpo. Saio do quarto, parando no
corredor e vendo as fotos de Andy com ele. Até aquele cachorro tarado me
faz sorrir quando o avisto em uma das fotografias. Terminando minha
bisbilhotice pelas fotos, retorno a andar pelo apartamento, enxergando com
mais clareza o tamanho exagerado dele e como tudo aqui dentro grita na
minha face que esse não é meu lugar. Desde a televisão imensa na parede ao
sofá caro da sala, da decoração luxuosa à geladeira empanturrada de comida.
Suspiro pouco a pouco, olhando para a porta do apartamento, ainda
pensativa do porquê não tinha partido, não tinha fugido, me afastando e me
protegendo antes que ele me machucasse. Talvez seja porque no meu coração
tolo apaixonado, eu realmente quero acreditar nas palavras que saíram da
boca dele enquanto me prendia em seus braços.
— Não sei se foi uma boa ideia ter vindo com você — digo baixo,
me encolhendo no banco do carona, olhando nervosa para Dener.
— Fugir também não é, Yane — ele fala direto, me dando um olhar
calmo, parando seu carro na frente de um grande portão.
É então que percebo que estamos de frente para o edifício mais
luxuoso de São Francisco. Já o tinha visto na televisão, passar uma noite
aqui é uma fortuna. Dener aperta um controle, fazendo o portão se abrir.
— Por que estamos nesse edifício? — Olho pela janela, o vendo
entrar no estacionamento coberto, parando o veículo em uma vaga.
Mas quatro carros param atrás dele, saindo todos aqueles pinguins
sérios, que estão colados nele como sombra. Dener desce do carro em
silêncio, quando Stone dá uma batida na traseira do veículo com a mão.
Dener para ao lado da porta do carona, a abrindo e me pegando pelo
braço. Ele nos leva para as grandes portas de metal do elevador que estão
abertas, sendo seguradas por um dos seguranças.
— Dener? — Seguro seus dedos, o fazendo olhar para mim. Estou
me sentindo perdida nesse lugar que nunca deixaria uma pessoa como eu
passar pela portaria, quanto mais entrar.
— Esse prédio pertence à minha família, foi fundado pelos Murati
— ele fala calmo, olhando para os números que vão passando reto. O
elevador não para em nenhum andar, vai direto para o quinto andar.
Quando a porta do elevador se abre, Dener me leva para o interior
do imóvel. Não é um corredor ou uma sala, o elevador para dentro do seu
apartamento. Dener segura forte meus dedos, nos fazendo ir para o
corredor e abrindo a primeira porta de um quarto, onde uma cama gigante
nos espera.
— Você vai ter tempo para conhecer tudo — ele diz, batendo a porta
atrás de nós.
— Dener... Eu... — Ele não me dá tempo de falar. Me pega como um
leão em um ataque feroz com suas patas grandes, tirando a bolsa do meu
ombro e empurrando as alças do meu vestido pelos meus braços.
No momento que o empurra para baixo até minha cintura, ele
segura meus braços, me fazendo girar em minhas pernas, ficando com as
costas coladas em seu peito, que sobe e desce em um ritmo acelerado a
cada respiração pesada. Sinto seus lábios em meu pescoço, me beijando
lentamente. Minha mão se ergue, alisando seus cabelos. Fecho meus olhos,
me perdendo em seus toques. Arfo, eufórica, com o fogo que incendeia em
minha pele pela força que vem da sua urgência. Não me importo se for
apenas isso, só meu corpo que ele quer, apenas me deixo ser tudo que
Dener precisa. Pego cada afago e carícia que ele me dá, sendo apenas dele,
mesmo que seja apenas por sexo. Suas mãos seguram meus seios,
massageando-os antes de descerem até minha cintura. Dener empurra o
vestido até me deixar apenas de calcinha, me girando outra vez sem aviso.
Minhas pálpebras se abrem e me perco em seu olhar quente, que queima em
desejo.
Um homem de gênio forte e paixão selvagem, com poder sobre cada
gesto seu. Ele caminha para cima de mim, me empurrando para cama, me
fazendo cair espalhada sobre o colchão. Meus olhos não perdem um minuto
sequer dele, o admirando tirar sua camisa. Dener mantém seu olhar fixo no
meu, desafivelando seu cinto e retirando sua calça. Deixo meus dedos
escorregarem por minhas pernas, ficando em chamas com a intensidade do
seu olhar. Seu contato visual se torna predador enquanto ele sobe na cama,
como um gigante felino. Minhas pernas se arrepiam ao toque dos seus
lábios e sua respiração quente, que vai subindo e se alastrando por minha
pele, me destroçando parte a parte com seus beijos tortuosos. Sua boca
apenas para seu percurso quando chega na calcinha, mordiscando a renda
com preguiça. Sua língua sacana lambe o tecido, parando precisamente em
cima do meu clitóris, me fazendo choramingar de raiva pelo fato dessa
calcinha ainda estar aqui.
Dener me tortura mais, antes de tirar pouco a pouco minha
calcinha, a jogando no chão, voltando sua atenção para minha boceta nua.
Meu corpo leva um choque, se arqueando na cama quando sua língua
brinca com meu clitóris, me fazendo gemer, implorando por mais dos seus
carinhos. Meus dedos se enterram no colchão, apertando com força,
mexendo meus quadris junto aos movimentos da sua boca. Dener, como um
excelente artista, me faz sua tela, me pincelando a cada passada de língua,
provocando turbilhões de emoções dentro de mim. Gemo, fechando meus
olhos, abafando meus gritos ao morder meus lábios a cada sensação que
ele me faz sentir. Em um ato de necessidade absoluta, não suportando mais
a fome que tenho do seu corpo junto ao meu, minhas mãos se prendem em
seus cabelos macios e choramingo entre gemidos. Preciso dele, quero ele
como nunca quis nenhum outro homem em minha vida.
— Dener... — imploro por ele, e como se compartilhasse da minha
fome, ele deposita um beijo em meu clitóris inchado e vai subindo
lentamente sobre mim.
— Não fuja mais de mim, minha feiticeira — ele sussurra, tomando
meus lábios e me beijando com posse.
— Não, não vou... — respondo agoniada, o beijando com puro ardor.
Seus olhos brilham ao me encararem, deixando sua face pairar
sobre mim. Circulo minhas pernas em suas costas, trazendo Dener para
mim. Ele move seu quadril, encaixando seu pau na minha boceta. Seus
olhos não desviam dos meus até estar todo dentro de mim. Sinto seus
lábios, que se abaixam, se pregando aos meus. E ao ritmo de nossas
línguas, nossos corpos começam a se mover, se acasalando como dois
animais que apenas precisam estar juntos. Sua boca implora pela minha
como eu imploro a dele, é uma necessidade de almas, de uma saudade que
me parece tão antiga dentro do meu coração. Nossos corpos se
movimentam, procurando a libertação que apenas um pode dar ao outro. A
cada encontro das nossas pélvis, com seu pau saindo e voltando, me
acertando duro dentro da minha boceta, me tomando por cada canto, me
deixo ir e me entrego a tudo que Dener faz comigo. Quando meu orgasmo
vem, é mágico, único e arrebatadora a energia que me consome, vibrando
do meu corpo ao de Dener, como se fôssemos um só. Sinto nossos corações
batendo forte, Dener me penetra com mais força, fazendo meu cérebro
explodir com o ritmo denso que seu pau se aprofunda dentro de mim. Sua
boca desliza em minha garganta, beijando meu queixo, me prendendo em
seu olhar, completamente nua de todas as formas e maneiras em carne e
osso, em alma e coração.
— Essa chama que queima entre nós dois é real ou é só de
momento? — Minha voz trêmula sai entre respiradas fortes, olhando com
medo para ele. — Eu não me importo se for só momento, meu sexy
guardinha de jardim, apenas quero me sentir amada em seus braços...
Dener abaixa sua cabeça, depositando sua testa na minha, se
afundando com toda força dentro do meu corpo, nos ligando de uma forma
intensa.
— Isso é real, Yane — ele sussurra entre nossas respirações
aceleradas. Dener alisa meu rosto, afastando sua face e mantendo seus
olhos presos aos meus, contornando meus lábios com a ponta do seu dedo.
— Eu não sei o que você fez comigo, sua feiticeira, mas estar junto com
você é o desejo mais real que tive em minha vida.
Esse desejo é real tanto quanto a paixão que bate em meu peito.
Meu coração se tornou de Dener desde o dia que meus olhos se prenderam
nos seus dentro daquela piscina, e eu quero me jogar nesse conto de fadas,
quero ser tudo para ele, como ele em tão pouco tempo se tornou para mim.
Ergo minha face, colando nossas bocas, e o que não sai da minha garganta
por medo e covardia, rezo que para ele entender através do beijo de
desespero que dou nele. É a única forma que encontrei para mostrar tudo o
que tenho em meu coração. E ele me retribui de forma apaixonada, me
beijando com mais urgência, aprofundando suas penetrações, me possuindo
em todos os sentidos.

Ergo meus pés no sofá, abraçando minhas pernas. Deposito meu


queixo em meus joelhos, olhando para a televisão ligada na sala. A matéria
do jornal, ao vivo, mostra a face de Dener saindo do tribunal, caminhando
com Stone atrás dele e mais outros seguranças, afastando a imprensa. Box
pegou prisão perpétua por tráfico de drogas e o assassinato do jovem filho do
governador, a sentença foi unânime. Respiro aliviada, sentindo como se
finalmente eu pudesse voltar para minha vida. Não que minha vida fosse
grandes coisas, mas quem sabe agora possa ser menos triste. Dener e eu não
conversamos sobre nada do que vem agora, não falamos sobre a noiva dele...
Não perguntei porque sei exatamente em qual patamar vou ficar.
Já vi algumas das meninas se tornando amantes lá na boate. Ouvia
elas falando sobre como era ter que viver esse relacionamento. Não sou burra
ao ponto de pensar que Dener largaria sua noiva esnobe, mas mesmo que isso
me destrua, por ter apenas metade dele, eu aceitaria. Aceitaria viver com as
pequenas migalhas do carinho que ele possa me dar, apenas para não o perder
de uma vez só. Empurro esses pensamentos para longe, respirando fundo.
Esfrego meu rosto, me levantando do sofá e indo para a cozinha, procurando
algo para comer. Depois de me alimentar e limpar o que sujei, paro meus
passos a caminho do quarto quando ouço as vozes alteradas no corredor do
lado de fora da porta da entrada do apartamento. Abro aos poucos a porta,
vendo Dener de costas para a entrada, gritando com raiva, enquanto Stone
tenta puxar alguém de perto dele.
— Está com uma vagabunda aí dentro, não é? — O grito feminino sai
estridente. Ela soca Stone e volta para cima de Dener.
— Mandei você sair do meu apartamento, Venelope! Juro que vou
chamar a polícia se não sair daqui!
— Me trocou por uma vadia qualquer, uma cadela de rua suja! — a
mulher fala histérica. — Eu tenho berço, Dener, podia ter sido a esposa ideal
para você!
— Já terminamos, Venelope. E, por Cristo, quando descobrir quem
está te passando informações da minha vida, juro que vou destruir vocês dois!
— Dener se afasta, a puxando pelo braço e a levando para o elevador.
Abro apenas um pouco a porta para olhar para eles. A mulher
elegante, com sua roupa fina, bate seus saltos finos no chão, o estapeando no
peito.
— Vamos ver quanto tempo vai demorar para enxergar sua burrice,
Dener. Nós dois sabemos que você come qualquer puta que abrir as pernas
para você e as dispensa em menos de uma semana, depois que cansa de
comer elas.
— CALA ESSA MALDITA BOCA!
— Quer que eu me cale porque essa é a verdade! Nem sua própria
mulher você amou! No dia que a enterrou estava se afundando entre as pernas
de alguma vadia, como o cretino que você é! — Me sustento na parede,
olhando perdida para eles. — Vai enxotar esse lixo que está comendo antes
de sexta-feira...
— Stone, ligue para a polícia e tire essa mulher maldita de perto de
mim! — Dener rosna como um cão bravo, gritando com ódio. — Vou
pessoalmente falar com seu pai, Venelope, contar para ele que você está fora
de controle, que anda invadindo minha privacidade e me seguindo,
inventando calúnias sobre mim...
— Seu cretino de merda, não passa de um grande filho da puta que
prefere me trocar por um lixo, que vai dispensar na primeira oportunidade...
UM LIXO, UM LIXOOOO!
Não fico para ouvir, já corro para o quarto, puxando meu vestido e
minha bolsa caída no chão e empurrando tudo que caiu para dentro dela.
Calço a sapatilha às pressas, enquanto desabotoo a camisa de Dener,
colocando meu vestido, jogando a camisa dele pelo caminho. Corro para a
cozinha, abrindo a porta do elevador dos funcionários. Fecho meus olhos, os
esmagando com força, respirando apressada, batendo minha cabeça
lentamente no metal. Assim que saio de dentro dele, faço a única coisa que fui
condicionada a fazer desde nova: corro, fujo para o mais longe que minhas
pernas possam me levar, secando as lágrimas do meu rosto.
CAPÍTULO 25
FLORES E ALGEMA
Dener Murati

Dois meses depois

— Isso seria para quê? — Ergo meu olhar do objeto cor-de-rosa na


mão de Andy para sua face abatida.
— Estica os braços, pai. — Ela segura forte a mochila, me encarando.
— Andy, meu amor, eu preciso ir trabalhar...
— Estica os braços, pai, por favor. — Olho para Stone, que me
aguarda encostado na parede, me esperando para irmos ao tribunal.
Volto a olhar a jovem melancólica, que raramente conversa comigo
desde que votou para São Francisco, depois de acabar a temporada de aulas
no convento.
— Espero que não me peça para sair com sua mochila cor-de-rosa —
brinco com ela, tentando lhe tirar um sorriso, mas fracasso ao olhar seus
olhos magoados.
Estendo meus braços, flexionando meus joelhos para ficar na sua
altura, a vendo passar as alças da mochila em meus braços, arrumando-a na
frente do meu corpo. Andy abre o zíper da bolsa e vejo seu interior vazio.
Lentamente minha filha caminha para o sofá, pegando almofadas e as revistas
na mesa de centro e levando para dentro da mochila. Fico atento, olhando
cada movimento dela enquanto enche a bolsa até estar pesada e estufada,
fechando o zíper. Ela dá um passo para trás, passando sua mão em seu rosto,
tentando não me deixar ver a lágrima que rola por sua face.
— Como se sente? — Olho sem entender para ela, e depois para
Stone, que apenas balança os ombros, também não compreendendo o que
seria isso.
— Um pouco incomodado nos ombros, mas isso seria exatamente o
quê? — Abaixo meu olhar para a mochila à frente do meu corpo e depois
para Andy.
— A mochila das decisões erradas — Andy sussurra, aflita. — Yane
fez isso com a gente no convento, na última semana que estava lá.
Solto o ar com calma, esfregando minha face. Entendo o motivo do
olhar magoado de Andy.
— Ela queria nos mostrar como é o peso das decisões erradas quando
se faz sexo sem camisinha e a mulher acaba engravidando. — Meus olhos se
expandem, não sabendo nem como agir sobre o que ela me fala.
— Sexo?
— É, pai, mas não é por isso que o senhor está usando a mochila. —
Andy tem a voz mais triste, negando com a cabeça. — Há outros tipos de
decisões erradas que também pesam em nossos ombros... — Andy não limpa
sua face dessa vez e apenas fica com seus olhos chorosos me olhando com
dor. — Deixar a pessoa que a gente gosta ir embora é uma decisão errada...
— Andy... — Tento esticar meu braço para lhe tocar, compreendendo
por que ela me olha com mágoa.
— Desistiu de encontrar ela, desistiu de achar a mulher que o senhor
ama... Isso foi uma decisão errada. — Ela se encolhe, abraçando seu corpo,
batendo seu pé no chão vagarosamente. — Eu vi vocês, vi a forma como
olhou para ela, por que não foi atrás dela? Por que desistiu de encontrar
Yane?
— Meu amor, eu não...
— Sim, desistiu! — Andy não me deixa falar, me calando quando
ergue sua cabeça para me olhar. — O senhor tomou a decisão errada.
Andy me larga na sala, caminhando triste para seu quarto. Fico
parado, olhando a mochila à frente do meu corpo, respirando pesado
enquanto a retiro de mim.
— Por que não contou para ela que caça essa mulher por todo canto
nesses dois meses? — Stone caminha, parando ao meu lado, me olhando
confuso.
— Andy me culpa pelo que Venelope fez... — respondo desanimado,
soltando a mochila no sofá. — Bolton, qualquer coisa que precisar, me avise
— falo baixo para o mordomo, que apenas confirma com sua cabeça, me
olhando compreensivo.
Passo no meu quarto, pegando minha maleta em cima da cama,
perdendo meu olhar nela. Seu cheiro ainda estava inundando o quarto quando
entrei procurando por ela, mas a pequena feiticeira não estava em nenhum
canto. Olhei para minha camisa em meus dedos, a qual tinha encontrado caída
no corredor, e depois para o pequeno objeto caído no chão, enrolado com os
fones de ouvido. Suspiro, desviando meus olhos da cama, saindo do quarto,
me arrastando para fora do apartamento, como venho fazendo todos esses
dias desde quando ela sumiu.
— Venelope é uma vadia louca, ainda bem que você teve uma
conversa séria com o pai dela, aquele velho não suporta escândalo. — Não
fui cordial e muito menos educado quando fiz uma visita ao escritório de
advocacia de Marlon.
Venelope tinha passado de todos os limites. Comprado informações
do porteiro do meu prédio, que avisou ela quando entrei no estacionamento
com uma mulher. Ele me acompanhou saindo do carro com Yane pelas
câmeras e ligou na mesma hora para Venelope. O dispensei no segundo que
Stone me contou quando saí do escritório do pai dela.
— Por que não tenta falar outra vez com a tal da Debby, que divide o
trailer com Yane? — Stone murmura ao meu lado quando paramos na frente
do elevador que leva para o estacionamento. — Talvez ela possa estar mais
flexível agora.
— Tentei falar onze vezes com essa mulher, Stone. — Entro no
elevador, encarando minha face cansada no espelho do interior. — Ela me
odeia.
— Pode ser bem-sucedido na décima segunda vez. — Ele tenta soar
animado, mas sabe tão bem quanto eu que a mulher me detesta com todas as
forças dela.
— Eu não estou nem aí para quem você seja! — A mulher de
maquiagem pesada me encara séria, segurando a porta do trailer velho, me
olhando com ódio depois que esmurrei a porta com raiva, quase a
derrubando. — Para mim você é só um babaca, como todos os outros!
— Eu só preciso saber onde ela está. — Respiro rápido, tentando
controlar meu tom de voz. Me aproximo, segurando a porta junto com ela,
não permitindo que ela feche na minha cara como das outras vezes. — Nós
dois sabemos que ela não está em São Francisco, me diga para onde ela
foi.
— Quer saber? Sim, eu sei para onde ela foi. — A mulher chamada
Debby arqueia sua sobrancelha, soltando a porta e cruzando seus braços.
— Mas nem que o inferno congele vou lhe dizer onde ela está.
— Por favor... — Esfrego meu rosto com força, inalando o ar com
raiva. — Eu preciso encontrar Yane.
— Para quê? Olhe para você: boa pinta, com seu bando de
seguranças engomadinhos, carrão importado. Pode ter a mulher que quiser,
por que está querendo uma puta qualquer?
— Estou tentando manter minha educação. Não se refira assim à
Yane...
— Mas é o que nós somos — a mulher fala alto, me fazendo ter
vontade de estourar esse maldito trailer velho no soco. — Pegue seu rabo,
caro Meritíssimo, e saia da minha porta. Volte para sua mulherzinha
metida e procure outro lixo para o senhor se divertir e descartar quando
enjoar.
Meus dedos deslizam da porta, olhando confuso para ela. Recaio
minha atenção para o chão, me recordando das palavras mentirosas de
Venelope, gritando no corredor. Estava me dirigindo para meu elevador
privado, quando um dos seguranças acionou Stone, avisando que Venelope
estava no meu andar, tentando entrar no apartamento. Me direcionei para
lá na mesma hora, para tirar aquela louca de perto da Yane. E depois,
quando eu a conduzi à força para o elevador, a ameaçando de prendê-la,
voltei para o apartamento e o encontrei vazio. Me senti com tanta raiva, um
tolo quando confirmei que Yane havia partido outra vez, me fazendo de
trouxa. Eu queria que ela olhasse em meus olhos e me dissesse que foi tudo
uma mentira o que tivemos.
Encurralei o detetive, obrigando-o a me passar todas as
informações de Yane. Primeiro lugar que vim foi até aqui, nesse pátio de
trailer velhos, mas a mulher nem me deixou falar antes de fechar a porta na
minha cara. Na espelunca repugnante, na qual Yane trabalhava, ninguém
mais a viu desde o dia que ela sumiu, entrando no programa de proteção à
testemunha. Busquei por ela em São Francisco inteira, mas Yane sumiu.
Vim onze vezes nesse trailer, tentando achar para onde ela foi, me negando
a ser feito de besta por uma menina que apenas estava se divertindo às
minhas custas. Se ela não queria nada comigo, era só ter me falado, eu
teria aceitado. No entanto, não foi só na minha vida que Yane entrou, ela
embarcou na vida de Andy. E minha filha nem sequer conversa mais comigo
depois que lhe contei que Yane foi embora outra vez. Andy me ouviu
conversando com Stone sobre a briga com a Venelope um pouco antes de eu
entrar no apartamento para o encontrar vazio, então ela me culpa. Mas
agora essas palavras, vindas de Debby, me tiram o chão.
— Ela ouviu... — sussurro, pensativo. Yane estava lá ainda, no
apartamento, quando Venelope disse aquelas mentiras.
— Pode apostar, seu terninho chique. Sim, ela ouviu cada palavra.
— Ergo meus olhos para a mulher que me condena com seus olhos. — Volte
para seu mundo dourado, campeão, Yane não precisa de outro macho
escroto na vida dela, lhe fazendo se sentir um lixo.
— Mas eu nunca... — A mulher bate a porta enferrujada na minha
cara. Meu punho soca com raiva a lateral do trailer. — Por que não me
esperou, feiticeira? — murmuro, respirando agoniado, olhando perdido
para o chão.
Quando volto para meu apartamento, me sento na poltrona de frente
para minha cama, observando o grande colchão vazio, que nunca mais
sentirá o calor do corpo de Yane, assim como eu.

— Meritíssimo. — Ergo meus olhos para a entrada da minha sala,


vendo minha secretária me observando. — Irá precisar de mais alguma
coisa? Estou indo embora.
— Não, obrigado... — Olho para meu pulso, vendo que já passa das
dezessete horas. — Pode ir, vou ficar mais um pouco, ainda tenho alguns
casos para revisar, tenha um bom descanso.
— O senhor também.
Volto meus olhos para a tela ligada do computador em cima da minha
mesa, sem nenhum pingo de interesse. Abro a gaveta e retiro o pequeno
aparelho velho antiquado de dentro dela. Eu tinha ouvido cada uma das vinte
e uma melodias antigas, me sentindo mais deprimente por todas as letras
melancólicas, como Lonely is the Night, de Air Supply. Ergo minha maleta ao
lado da minha cadeira, a deixando sobre a mesa, abrindo-a e deixando o
aparelho dentro dela.
— Dener, tem visita. — Minhas mãos param na lateral da maleta,
olhando para Stone parado perto da porta.
Vejo o detetive sair de trás dele, me dando um sorriso amistoso.
— Boa tarde, Meritíssimo, espero não estar lhe pegando já na saída.
— Nego com a cabeça, apontando a cadeira à frente da minha mesa para ele.
— Olá, detetive Tomas, se sente, por favor. — Me encosto no couro
da cadeira executiva, deixando meus braços apoiados na lateral. — Na
verdade, estava apenas revisando uns casos. — Olho para a maleta,
encarando o walkman.
— Sim, compreendo muito bem — o detive fala, se sentando,
suspirando. — Às vezes acabo passando horas dentro do departamento
analisando alguns casos. — Ele estufa o peito, olhando em volta.
— O que posso fazer para lhe ajudar, detetive? — pergunto, intrigado,
não compreendendo a visita inesperada dele.
— Bom, na verdade, estava resolvendo uns assuntos pela região e vi
que o senhor Stone estava na frente do tribunal, parei mesmo só para dar um
olá — ele fala corriqueiro, movendo seus dedos no ar, me olhando de
relance. — O senhor conseguiu alguma pista de onde a senhorita Rinna está?
Sorrio amargo, negando com a cabeça, cruzando minhas pernas.
— Fora a menina que divide o trailer com ela, ninguém mais viu Yane
depois da audiência — Stone o responde, calmo. — Ela deve ter pegado uma
carona com alguém, porque nem no aeroporto ou na rodoviária encontramos
alguma pista de para onde ela foi.
— Uma pena, eu realmente nutri um bom apresso pela jovem Rinna.
— Meu maxilar trava, o encarando, cerrando meus olhos com amargura por
suas palavras. — Na nossa profissão lidamos com muitas pessoas de todas as
índoles, e é raro achar uma que tenha tanta alegria, mesmo nas piores fases de
suas vidas. Senhorita Rinna é uma delas.
— Eu preciso ir, se me der licença. — Afasto a cadeira, me
levantando, esticando meu braço para ele, finalizando essa conversa.
— Claro, eu também tenho. Apenas queria saber se tinha alguma
novidade e se precisar de mais alguma ajuda, basta me avisar. — O homem
sereno se levanta, sorrindo para mim e esticando sua mão.
Seu braço, ao me cumprimentar, empurra a maleta, a virando de lado,
o fazendo olhar para o interior dela.
— Fazia muito tempo que eu não via um walkman, agora é a segunda
vez que vejo em pouco tempo. — Ele ri, apertando minha mão. — Senhorita
Rinna estava com um desses no dia do julgamento de Box.
— É o dela — respondo sério para ele, dando apenas uma breve
informação.
O detetive solta meus dedos, esfregando sua testa, ainda olhando
curioso para o aparelho. Ele olha para mim e para Stone, espremendo seus
olhos, repuxando seu nariz, fazendo as linhas de expressões da sua testa
aumentarem.
— Eu não me atentei a isso. — Ele aponta para minha maleta, na
direção do walkman. — Boinas verdes da paz.
— Como? — Olho entre ele e a minha maleta, não compreendendo o
que ele fala.
— O walkman! Senhorita Rinna me relatou um pouco antes de dar seu
testemunho, que ganhou ele de um ex-namorado da mãe dela. O nome dele me
foge agora, mas me lembro do Boinas verdes da paz.
Stone se aproxima, atento ao que o detive fala, olhando da face dele
para a minha.
— Isso seria exatamente o quê? — pergunto, ansioso.
— Uma casa de repouso. Yane disse que ele, esse homem, o dono da
propriedade, seria o mais perto de um parente vivo que ela possui. — Ele
leva as mãos ao bolso, me olhando intrigado. — Não posso garantir isso, mas
creio que há uma remota chance de ela estar no Alabama. Pesquise sobre os
Boinas verdes da paz.
Meu corpo já está se sentando outra vez, arrastando com os pés minha
cadeira para perto do computador, abrindo uma nova página de pesquisa,
buscando pela referência que ele me passou no estado de Alabama. No
terceiro link, encontro o site da casa de repouso para soldados aposentados.
Observo a foto da antiga Kombi hippie cheia de flores, estacionada ao
lado de um portão branco, com a placa de arco-íris escrita “Boinas verdes da
paz”.
— Trinta e três horas de viagem, se levar sorte de pegar um trânsito
bom. — Stone me olha, negando com a cabeça. — Por isso que nunca íamos
achá-la aqui. Você podia pôr a Califórnia inteira abaixo, junto com São
Francisco, que não a encontraria. Yane atravessou Arizona, Novo México,
Texas e Mississipi, para fugir de você no Alabama.
— Ainda está transando com aquela piloto de jato particular? —
Mantenho meu olhar na tela do computador, olhando a grande casa de madeira
ao fundo da foto.
— A gente saiu uma vez, mas acho que ela ficou brava porque não
liguei no dia seguinte. — Me viro para ele, apontando para seu bolso.
— Ligue, diga que pago uma boa quantia se ela fretar uma viagem
para o Alabama, especificamente para Deleville.
— Você está de brincadeira? — Stone tira o celular do bolso, olhando
para mim.
— E eu tenho cara de quem está brincando, Stone? — Retiro o celular
do bolso do meu terno, discando o número que está na tela. — O nome de
contato está com o celular de Hit Flin, seria esse o nome? — Olho para o
detetive, que confirma.
— Me recordo do Hit agora que falou o nome dele, sobrenome ela
não disse, mas deve ser esse. — Balanço a cabeça em positivo para ele.
Levanto-me, desligando o computador e olhando o detetive que me
observa, sorrindo.
— Me diga, detetive Tomas, por um caso possui um par de algemas
com você? — falo grave, o deixando entender que estou falando sério.
— O senhor pensa em dar ordem de prisão para alguém, Meritíssimo?
— Ele puxa uma do bolso do seu casaco, olhando para elas e depois para
mim. — Bom, Alabama fica longe da nossa jurisdição, mas sendo um juiz,
creio que possa usar as algemas na sua detenta por lá. — Ele as entrega para
mim, junto com a pequena chave que tira do bolo de chaves que ele pegou no
outro bolso.
— Vou pessoalmente entregar a ordem de prisão para ela — respondo
sério, olhando as algemas e apertando na tela do celular para concluir a
chamada.
— Alô? — A voz grossa de um homem fala calma.
— Olá, boa tarde. Senhor Hit? — Jogo as algemas dentro da minha
pasta, a fechando, pegando-a pela alça e caminhando para fora da sala.
— Sim, ele mesmo. Quem fala?
— Sou Dener Murati. Creio que o senhor possa me ajudar a encontrar
uma pessoa que procuro. — Paro próximo à vidraça, olhando para a rua. —
Alguém que fugiu de mim...
— E o que o faz pensar que eu sei algo sobre isso? — Ouço o som
da cadeira se afastando, com o barulho de uma porta sendo aberta e fechada
na sequência.
— Na verdade, estou rezando para que o senhor possa me ajudar,
preciso muito encontrar uma pequena corujinha fujona.
— Pretende fazer algum mal para essa pessoa quando o senhor a
encontrar? — Respiro aliviado quando ele faz essa pergunta, me deixando
uma pequena esperança de que ela está lá.
— Nunca. Talvez eu possa me alterar e querer saber o porquê de ela
fugir em vez de me esperar e me permitir desfazer o engano das mentiras que
ela ouviu, mas jamais a machucaria. — O homem fica em silêncio pelo que
me parece um longo tempo. — Ela está aí, não está?
— A última vez que essa coruja amanheceu na minha varanda e a
encontrei encolhida nas escadas, sentada, abraçada às suas pernas, ela me
deu o olhar mais triste que se pode imaginar. — Fico calado, ouvindo o que
ele fala de Yane. — Foi quando o miserável do pai dela morreu. Uma
semana depois disso ela bateu suas asas e voou, fugiu para bem longe. E
agora, quando voltou, essa coruja mantém seus olhos tristes, da mesma
maneira que a vez anterior. Então, senhor Murati, me dê um bom motivo
para que eu não avise essa coruja sobre o senhor saber onde ela está e
deixar ela fugir, batendo as asas para bem longe, onde o senhor não possa
a encontrar.
— Eu preciso...
Meus olhos param na pequena menina que atravessa a rua segurando a
mão da mãe dela, levando uma mochila nas costas. Sinto as palavras se
perdendo em meus lábios.
Yane Rinna

Ainda não consigo acreditar que vou ser mãe. Meu corpo está deitado
na maca, dentro da sala do obstetra amigo de Hit, que está cuidando de mim
desde o dia que descobri que o vômito matinal que andava me pegando não
era por conta da comida carregada de tempero do velho tenente Suque, mas
sim porque estou grávida. Com o teste de farmácia em minhas mãos e a
porcaria do bastão com os risquinhos aparecendo, recebi um chute na bunda,
que me avisava que vou ser mãe. Hit gritou feliz quando mostrei para ele o
resultado. O velho gigante com sua barba comprida, quase chegando em seu
peito, me puxou para seu abraço de urso, rindo enquanto me parabenizava
junto com os outros veteranos que estavam morando na casa dele.
Quando resolvi vim para cá, minha cabeça estava tão bagunçada, eu
estava tão magoada e me sentindo infeliz, que apenas queria ver alguém que
eu sabia que não me magoaria. Debby conversou com um dos clientes dela,
que é caminhoneiro e faz transporte entre os estados, e foi com ele que
descolei uma carona para o Alabama. Hit, como sempre, me recebeu com
pura emoção, me dando um abraço assim que me viu parada na frente da sua
varanda. Ele não me perguntou nada, apenas me abraçou, como ele sempre
faz, me levando para dentro. E foi me deixando ficar, conforme os dias
passavam. Me distraia com risadas e ouvindo as histórias daqueles velhos
doidos fumadores de maconha. Pensava em Dener apenas quando a noite
vinha e eu estava sozinha, deitada na cama, sentindo meu peito machucado e
ferido. Nem notei que minha menstruação estava atrasada. Se eu não tivesse
com tanta saudade de estar nos braços dele, e me sentindo viva a cada beijo
que ele me dava dentro do seu escritório, talvez eu pudesse ter me lembrando
que a gente transou sem camisinha, e também que repetimos isso no seu
apartamento. Realmente tenho que me dar os parabéns por conseguir me
enfiar em encrenca, mas ao contrário de me sentir triste ou apavorada com a
gestação, não consigo pensar em nada mais que proteger meu bebê, em ser
para ele o que eu nunca tive na minha vida: uma família. Foi com esse
pensamento que aceitei quando Hit me fez novamente o convite para morar
aqui com ele e ficar ajudando com a casa de repouso. Choro sorrindo,
olhando para a tela do monitor, vendo os pequenos borrões cinzas que
aparecem, o som do coração tão forte e alto saindo pelos alto-falantes é o
som mais lindo que já ouvi.
— Está correndo tudo bem com sua gestação, senhorita Rinna. — O
médico risonho me deixa feliz. — Vou passar algumas vitaminas e remarcar
sua consulta. Gostaria que eu gravasse em CD para mostrar para o papai?
Meu sorriso morre e nego com a cabeça para ele.
— Estou em uma carreira solo, entende... — Me sento quando ele
retira o instrumento de dentro da minha vagina, finalizando o exame
transvaginal, entregando folhas de lenço de papel para que eu possa me
limpar. — Mas eu acho que aqueles veteranos vão gostar de assistir.
— Claro, com toda certeza eles vão gostar. — Educadamente o
médico muda de assunto.
Me fala sobre as vitaminas pré-natais, a importância de uma
alimentação saudável e sobre como vou ter que me cuidar durante a gestação.
Sorrio, me sentando, fechando minhas pernas depois que me limpo,
arrumando a camisola que tive que vestir para fazer o exame, espalmando
minha mão sobre meu ventre.
— Eu vou proteger você — murmuro, olhando para minha barriga.
Essa é uma promessa de alma. Não sou mais sozinha, nem quero
voltar para aquela vida fodida, quero apenas proteger esse pequeno mundo
que cresce dentro de mim e que já se tornou tudo em minha vida. O protegeria
mesmo que tivesse que deixar Dener longe dele. Não tenho medo de ter que
contar a Dener que estou esperando um filho dele, nem se ele não acreditar ou
não quiser saber da criança. Meu maior medo é o juiz querer tirar meu filho
de mim, por achar que eu não posso cuidar dele.

Assim que finalizo a consulta e saio da sala do médico, Hit me leva


para lanchar e caminhar nas lojas com ele, querendo saber tudo que o médico
disse.
— Onde se meteu essa manhã? Você desapareceu. — Ele balança sua
cabeça, rindo para mim e olhando as vitrines.
— Tinha assuntos para resolver.
— Foi visitar alguma mulher? — Bato meu ombro no braço dele,
ouvindo sua risada forte.
— Claro que não! Fui comprar umas coisas para a casa, apenas isso.
— Ele para na frente de uma loja de gestante e bebê, me pegando pela mão e
me arrastando para dentro.
— Por que estamos aqui, Hit? Nem dá para ver minha barriga ainda,
quanto mais saber o sexo do bebê!
— Pode ter alguma coisa que precise. Não pode ficar usando essa
jardineira para sempre. — Olho rindo para a jardineira velha no meu corpo,
que peguei dele. Tinha encurtado as pernas para ela ficar confortável para o
meu tamanho e não ter aquele tanto de pano arrastando no chão.
— Eu gosto dela, é bem confortável.
— Ache alguma coisa que você goste. É um presente meu. — Ele
ergue sua mão, alisando meu rosto e beijando minha testa antes de me
entregar um tanto de dinheiro. — Vou fumar um cigarro lá fora, enquanto isso
encontre algo para a futura mamãe usar.
Rio com a forma boba que ele fala, saindo às pressas da loja, me
largando lá dentro. Tem tanta coisa linda, desde as roupinhas de bebê, que me
fazem sorrir, olhando com amor para elas, até as roupas de gestante. Mas é
em um vestido soltinho de gestante que chama minha atenção. Pego ele,
caminhando para o provador, para experimentar. Sorrio besta, me achando
linda nele. Aliso minha barriga, imaginando-a grande, se estufando nele.
— Eu amo muito você, meu pontinho — murmuro com carinho,
erguendo meu olhar para o espelho. — Somos só eu e você, mas nunca vou te
deixar, eu prometo.
Não me demoro. Assim que decido pelo vestido, saio do provador
depois que me troco, entregando o vestido para a lojista e o pagando. Saio da
loja segurando minha sacola, procurando pelos meus óculos escuros dentro
da bolsa.
— Hit, não vai acreditar no que achei, um livro de nomes na ordem do
alfabeto inteiro dentro da loja, com todos os tipos de nomes que se pode
imaginar para batizar uma criança. — Reviro a merda da bolsa, conversando
com Hit. — Achei!
Sorrio ao encontrar meus óculos, levantando minha cabeça para olhar
para o velho fortão.
Mas não é a barba grisalha de Hit que vejo, mas sim um belo par de
olhos claros, que me encaram em silêncio, encostado em um carro importado,
segurando um guarda-chuva em uma mão e um maço de flores na outra. Sinto
meu corpo ficar mole, com minha alma saindo para fora do meu corpo. Minha
respiração se acelera. Dener abaixa seus olhos para minha barriga e depois
para o meu rosto.
— Yane, achamos você! — A voz alegre de Andy se faz animada,
abrindo a janela do carro.
— Andy... — Minha voz em choque fala débil, olhando-a sorrindo
para mim.
— Gostou das flores e do guarda-chuva? Foi ideia minha deixar o
papai parecido com o Richard Gere, igual você falou.
Dener Murati está tudo nesse momento, menos parecido com Richard
Gere. Seus dedos esmagam forte o ramo de flores, com a mesma energia que
estrangula o guarda-chuva, me encarando. Tento gritar em desespero, mas
nada sai da minha boca. Meu pavor aumenta a cada segundo que respiro
rápido.
— Não pode fugir a vida toda, minha menina.
Olho para Hit, querendo poder enforcá-lo com a sacola, enquanto ele
me dá seu olhar carinhoso, estufando seu peito, sorrindo para mim. O
movimento de Dener entregando as flores e o guarda-chuva para Andy, me faz
voltar para eles, o vendo caminhar em minha direção a passos firmes.
E, por Deus, nessa hora faço a única coisa que meu cérebro ordena.
Foge Yane, agora!
Minha mente grita para mim e é o que faço. Viro minhas costas e saio
correndo em disparada.
— Yane, volta aqui agora! — Ouço a voz brava gritando atrás de
mim, mas eu não paro, não olho, apenas corro.
Dener continua gritando, zangado, mas minhas pernas não obedecem,
não param. Apenas continuo correndo, aumentando meu ritmo na calçada.
Pelos seus gritos e rosnados de um cão muito enraivecido, ouço a respiração
pesada dele se aproximando. Antes que eu possa atravessar a rua, um carro
para a minha frente, bloqueando minha passagem. Meu corpo não chega a
sentir o impacto com o veículo, pois é puxado com força por duas mãos.
Dener me gira, me prendendo em seus braços de ferro, e imediatamente meu
rosto se depara com dois diamantes azuis brilhando em fúria.
— Eu desconfiava, no fundo, eu tinha certeza! — Seus lábios tremem
de ódio quando ele olha para o meu ventre. — Não ia me contar, nem sequer
ia me dar uma chance...
No momento que abro minha boca para responder, Dener me cala com
seu olhar, balançando a cabeça em negativo.
— Quer saber, não fala nada. — Ele solta meu corpo, me puxando
pelo braço. A porta do motorista do veículo que bloqueou minha fuga é
aberta, e vejo Stone saindo de lá, entregando as chaves do carro para Dener.
— Melhor você ficar quieta, pois eu juro que se abrir essa sua boca para me
afrontar justo agora, sou capaz de fazer uma loucura.
Dener abre a porta do carro e me empurra para dentro, rangendo seus
dentes, batendo a porta com força. Ele entra no carro sem dizer uma palavra,
apenas mantendo seu olhar zangado. Sua mão vai ao bolso, enquanto a outra
puxa meu braço, que está ao lado dele.
— Mochila das decisões erradas, boa escolha para ensinar para as
meninas como evitar a gravidez. — Sua voz sai com sarcasmo, falando com
raiva. — Minha sorte foi que Andy me fez experimentar essa mochila e
contou sobre o propósito dela, o que me fez lembrar como passamos nosso
último tempo juntos antes de você fugir outra vez, sem nenhum tipo de
proteção, dentro do escritório e no meu apartamento.
— Andy fez você usar a mochila das decisões erradas? — Dener se
inclina para mim e me encolho de medo no estofado.
— Não muda o rumo da conversa, não tenta testar minha paciência
agora, Yane — ele fala bravo, sem desviar seu olhar do meu, prendendo o
cinto de segurança no meu corpo. — Ia me deixar sem saber sobre meu filho?
Desvio meu rosto para a janela e sinto uma lágrima escorrer pela
minha bochecha.
— Eu ia falar, só não sabia quando... — Não era para ser assim,
realmente pensava em contar para ele, mas de uma forma diferente. Agora só
Deus sabe o que ele vai fazer comigo.
Dener liga o carro, acelerando o veículo, e sai derrapando na estrada.
Vejo o pomposo juiz bufando e falando um monte de palavrão, estrangulando
o pobre volante com suas mãos. Obrigo minha mente a pensar rápido em qual
seria minha possibilidade de conseguir fugir na primeira oportunidade que
tiver. Posso tentar pegar carona no posto de gasolina de caminhoneiros, onde
o amigo de Debby me deixou. Talvez vá para o Novo México... É, tenho
potencial em ir para lá. Posso passar despercebida, encontrar um trabalho,
juntar um dinheiro até a barriga começar a crescer, para poder ter um teto
decente para o bebê. O carro para na frente de um hotel, me fazendo sair dos
meus pensamentos. Desafivelo o cinto rapidamente, mas antes da minha mão
chegar ao trinco da porta, para abrir e sair correndo, Dener segura meu pulso,
esbravejando comigo:
— Nem tenta fazer isso, Yane! — Ele me obriga a sair pela porta do
motorista junto com ele, me puxando pelo braço.
— Eu quero ir embora, senhor Murati. Não pode me obrigar a ficar
aqui...
— Não? Observe, feiticeira fujona. — Antes mesmo de poder
processar o que sai da boca dele, sinto o frio do aço da algema sendo presa
em meu pulso.
— O que pensa que está fazendo?! — Tento me separar dele, puxando
meu corpo para trás.
— Estou garantindo que você não fuja. — Dener me olha vitorioso
quando prende a outra argola da algema no seu pulso. Ergue nossas mãos
unidas pela algema no ar.
— Seu... — grito com raiva, tentando me livrar da algema. — Seu
louco, não pode me algemar a você, isso é crime! Está usando da sua
autoridade de juiz contra mim!
— Vá por mim, Yane, eu entendo de ordem. — Dener abaixa seu
rosto, ficando perto do meu, me dando um sorriso cínico. — Te garanto que
estou dentro da lei ao lhe dizer que você, como testemunha principal de um
caso de assassinato, não tinha permissão de sair de São Francisco enquanto
estivesse sob a proteção à testemunha.
— Está mentindo — rosno baixo, não acreditando que ele vai usar
disso para me manter algemada a ele.
— Acha mesmo? Observe. — Ele estufa seu peito, fazendo meu braço
se mover quando ele estica o seu braço, que tem seu pulso algemado ao meu,
endireitando seu terno. — Eu, juiz Dener Murati, dou voz de prisão à
senhorita Yane Rinna. Você tem o direito de permanecer calada, tudo o que
disser poderá ser usado contra você em um tribunal.
— Ohhh, seu cretino, não pode me dar voz de prisão...
— Você tem o direito de permanecer calada, Yane, sugiro que o use.
— Ele se vira, caminhando para o hotel, me puxando com ele. — Ande.
— Não! — Nego firmemente com a cabeça, não vou entrar nesse
hotel. — Me leva de volta para a casa do Hit — digo baixinho, sentindo o
medo voltar a me pegar. Não tenho coragem de ficar sozinha com ele.
— Depois vamos para lá. — Ele respira fundo e solta o ar com força,
parando seus olhos bravos em mim. — Stone e Andy estão com o senhor Hit,
você vai me ouvir primeiro.
Minhas pernas estão moles e tento apertar meus olhos para segurar o
choro. Não consigo entender, mas a tristeza que me pega é tão grande... Tenho
medo de saber que todo esse seu ódio vem pelo fato de eu estar grávida.
Dener me faz caminhar com ele para dentro do hotel, seguindo direto para o
elevador, não se importando em nenhum momento com todos observando-o
caminhar com uma mulher algemada a ele. Ao chegar ao seu andar, Dener
abre a porta e espera que eu entre para depois entrar e fechar a porta.
Conosco praticamente colados por conta da porcaria da algema, e pelo
barulho do trinco, sei que ele passou a chave e que agora estou trancada aqui
dentro com ele, realmente sem chance alguma de escapar.
Dener guarda a chave no bolso, erguendo sua mão livre, retirando a
gravata do seu pescoço. Ando junto com ele na direção do bar, o vendo se
servir de uma dose de uísque e virar de uma só vez na sua boca. Ele solta o
corpo, se virando para mim, me encarando com intensidade e abaixando seus
olhos para minha barriga. Não consigo sair do lugar, e mesmo que
conseguisse, não poderia ir para longe dele.
— Me permite... — O vejo com sua mão parada perto da minha
barriga, enquanto ele olha perdido para ela, levando sua atenção para meu
rosto.
Confirmo lentamente com a cabeça. Dener se abaixa pouco a pouco,
movendo seus olhos para o meu ventre. Ele toca com as pontas dos dedos a
jardineira, dando um sorriso frágil quando espalma sua mão por completa em
meu ventre.
— Magda não me permitia tocá-la. Eu observava sua barriga grande,
imaginando como devia ser maravilhoso poder sentir o ventre onde minha
filha crescia. — Abro meus dedos, os fechando repetidas vezes, ouvindo a
voz baixa falar com calma. — Eu estava conversando com Hit ao telefone,
quando vi uma menina caminhar na rua, segurando a mão da mãe dela, usando
uma mochila nas costas. Me recordei do que Andy falou depois do café,
naquela mesma manhã.
Dener encosta sua cabeça na minha barriga, dando uma risada suave.
Suas mãos escorregam na lateral da jardineira, levando minha mão algemada
ao seu pulso junto com as deles, parando apenas quando seus dedos puxam a
camisa, os deixando tocar a pele, sem mais nenhuma restrição. Nossos dedos
se tocam, me deixando sentir sua carícia em mim.
— Então me lembrei que não tínhamos usado preservativo. Eu estava
tão ansioso, desejando ter você, que nada me importou. — Seu rosto se
afasta, olhando para minha barriga. — E assim que me atentei a esse fato,
almejei com todas as minhas forças que você estivesse grávida.
— Dener...
— Eu quero muito você, sabia? — ele diz, alisando minha barriga e
sorrindo. Olho para sua face, percebendo que ele está falando com o bebê.
Meus olhos voltam a se encherem de lágrimas, com meu peito batendo
acelerado.
— Você será muito amado, e seremos uma família completa. Mesmo
às vezes eu tendo vontade de esganar sua mãe fujona. — Dener deposita um
beijo na minha barriga, sussurrando. — Mas quero que saiba que amo muito
você, assim como eu amo muito a sua mãe. — Ergo minha mão, tampando
minha boca, segurando um soluço baixo de choro. — Agora, bebê, vá
descansar, que eu e sua mãe temos que conversar.
Dener eleva seus olhos para mim, retirando nossas mãos de dentro da
minha roupa, se levantando e me encarando sério. Dener ergue sua mão,
segurando meu rosto na palma dela, usando a outra que está algemada para
limpar minhas bochechas molhadas de choro. Seus olhos claros se focam aos
meus e o que vejo neles me deixa cada vez mais perdida.
— O que passou pela sua cabeça correr daquela forma, na calçada?
— ele me indaga em um murmúrio. — Você poderia ter se machucado.
— Eu não sei.... Só sei que tive medo. — Fecho meus olhos,
escondendo minha dor dele. — Eu só quis fugir...
— Você pensou que eu não iria querer nosso filho, Yane, assim como
pensou que o que Venelope falou sobre mim fosse verdade, por isso fugiu.
Fugiu para se proteger, achando que eu a machucaria?
— Dener, olha para mim, eu sou apenas uma stripper. Quais as
chances de você deixar de ficar com uma mulher culta para ficar comigo...
— Se não tivesse fugido, você saberia — Dener fala sério, com sua
voz grossa, me olhando magoado.
— Eu sempre tive medo, e fugir é a única forma de me proteger...
Quais eram as chances...
— Todas, todas as chances! Eu sempre vou escolher você, Yane.
Quero que apenas me escute. — Dener solta meu rosto, me aproximando do
seu corpo pela cintura. — Por três anos da minha vida fui casado com uma
mulher por conveniência do poder dos nossos sobrenomes. Três anos
amarrado com uma mulher amargurada e fria, que possuía todos os estudos,
todas as malditas etiquetas, mas não tinha coração. E eu a vi partir da minha
casa, abandonado nossa filha sem nem sequer um beijo de despedida, nem um
olhar de amor ou um bilhete de carinho dentro de um CD. — Ele sorri,
melancólico, alisando minha face, com nossos pulsos unidos. — Sei que
ouviu todas as mentiras que Venelope me acusou, e nada do que ela falou é
verdade, a não ser que eu nunca amei minha esposa. E quando Magda estava
sendo enterrada, eu estava sim com outra mulher, a observando dormir em seu
berço. A única mulher que habitou meu coração por todo esse tempo foi
minha filha, até uma freira, praticante de nudismo, aparecer invadindo minha
propriedade.
Sorrio entre o choro, inclinando minha face para o lado, o olhando
entre minhas lágrimas.
— Não vou machucar você, Yane, nunca vou ferir você.
Meu coração dá uma pequena parada ouvindo suas palavras brandas.
Mas lá no fundo, aquela menina rejeitada segura sua mochila em seus braços,
sentindo medo de ser apenas ilusão.
— E se não for como pensamos, Dener? E se um dia você acordar e
achar que não sou a mulher certa para a sua vida? — pergunto a ele, não
escondendo meu medo.
— Eu passei dois meses caçando você, atravessei quatro estados
entre a Califórnia e o Alabama para te encontrar. — Dener leva sua mão ao
bolso, tirando a pequena chave e soltando a algema dos nossos pulsos. —
Acha mesmo que tem chance de fugir desse guardinha de jardim, sua falsa
freira atrevida?
Dener em um movimento rápido me pega desprevenida, passando as
mãos atrás das minhas costas e pernas e me erguendo do chão. Solto um grito
de surpresa e me agarro em seu pescoço, olhando para ele. Sinto sua
respiração quente próxima ao meu rosto. Ele caminha comigo em seus braços,
me deitando na cama. Os lábios quentes roçam delicadamente minha boca,
apenas me iludindo com a promessa de um beijo incendiário. No entanto,
quando vou puxá-lo para um beijo, a mão dele aperta mais a minha cintura, se
afastando apenas um pouco de mim, escorregando entre o colchão e o meu
corpo, levando suas mãos para debaixo da minha bunda.
— Sua mão, guardinha de jardim... — falo baixo, mordendo a lateral
da minha boca, observando seus lábios. — Está na minha bunda...
— Está? Não sei... — Dener comprime seus dedos com mais força,
me fazendo puxar o ar para meus pulmões entre lufadas entrecortadas. — É,
elas estão. — Sua voz sai baixa, aproximando sua cabeça da minha. — Tudo
que eu quero, eu tenho aqui, Yane — Dener fala roucamente, com seus lábios
de encontro à minha boca. — Tudo o que um dia eu desejei eu encontrei em
uma freira nada santa.
— Eu amo você, guardinha de jardim.
Como resposta, sinto a pressão dos seus lábios ao capturarem os
meus. As mãos grandes soltam minha bunda, se prendendo em meu quadril,
me puxando apenas alguns centímetros para baixo, fazendo seu peso ser
sentido pelo colchão quando ele se arruma sobre mim. Meus sentidos foram
assaltados pela mistura embriagante do sabor dos seus lábios e do seu
perfume masculino. O beijo cada vez mais extasiada, apaixonada, abraçando
seu pescoço com meu corpo, que está incendiado e trêmulo, me colando à
parede sólida do seu peito. Suas mãos soltam os grampos da jardineira,
retirando as alças jeans dos meus ombros, quebrando nosso beijo apenas para
arrastar a peça pelas minhas pernas, ficando sentado em seus joelhos no meio
das minhas pernas. Retiro minha camisa, a jogando para longe, enquanto ele
se desfaz da dele, trazendo seus dedos de volta para minhas pernas.
Quando enlaço sua cintura com as coxas, Dener me alavanca para
cima com uma mão firme em minha bunda, afagando minhas costas, me
prendendo forte, colada em seu peito, capturando minha boca com a sua. Os
dedos ágeis me libertam do sutiã, enquanto minhas mãos se infiltram em sua
cintura, brigando ferozmente com o cinto e o zíper, os abrindo com urgência.
Sofro com angústia, gemendo, sentindo sua boca depositar uma trilha de
beijos do meu queixo à minha garganta. Dener retorna seu percurso para
minha boca, mordendo meus lábios com força. Novamente me consome com
seu beijo intenso, me fazendo provar de toda doçura e brutalidade que ele
pode usar a seu favor para me manter cativa em seus braços. Um arrepio de
desejo desfila em minha pele assim que Dener empurra a renda do sutiã para
longe, libertando meus seios doloridos e inchados. A sensação de liberdade é
breve, logo eles estão sendo prensados outra vez em seu tórax quente. Dener
solta meus lábios, e meus protestos se calam antes mesmo de começarem,
quando seu hálito quente paira em um dos seios, me estremecendo de desejo.
A sensação é intensificada quando sua mão em minha bunda se bandeia pela
lateral da minha cintura, esfregando meu estômago, terminando seu trajeto no
meio das minhas pernas. Meus quadris se movem em reação à sua carícia
sugestiva na minha virilha, puxando minha calcinha para o lado. Comprimo
mais o enlace das minhas coxas em sua cintura, esfregando meu rosto em seus
cabelos, gemendo em vitória quando finalmente tenho seu pau duro livre em
meus dedos. Minha necessidade é pura e primitiva, sendo compartilhada por
Dener, que suga meu seio em sua boca de forma exigente e possessiva.
Apenas alavanco meu corpo o suficiente para encaixar seu pau na entrada da
minha boceta, o afundando dentro dela. A cada centímetro que forço meu
quadril para baixo, tenho o pau de Dener me preenchendo.
— Oh, Deus, sim! — Abraço ele com força, colando minha bunda ao
tecido da sua calça.
— Como senti saudade de você, feiticeira. — Dener morde meu
pescoço, disparando beijos nele até sua boca me aplacar com seus beijos.
Meu corpo se move para cima, o montando com mais força a cada
levantar e descer, tendo suas mãos bem acopladas em meu rabo, segurando
firme. Me deixa livre para montá-lo, como um perfeito garanhão que me fode
urgente, subindo e descendo, o sugando dentro do meu corpo com minha
boceta lambuzando seu pau, tão desesperada pelo meu orgasmo quanto ele. E
ouvir meu nome saindo dos seus lábios de forma apaixonada, enquanto minha
boceta fode seu pau, o engolindo por completo, é delirante. Seu desespero,
que se iguala ao meu, me joga sobre a cama, aterrissando minhas costas no
colchão. Rio quando ele rosna com raiva da calça presa em suas pernas, que
não o deixa se mover mais rápido.
— Criatura pecaminosa. — Dener retira seu pau de dentro de mim,
me fazendo libertar sua cintura.
— DENER! — grito, rindo quando suas mãos me giram atrapalhadas,
arrastando meu quadril para cima, dando a ele uma vista perfeita do meu
traseiro.
Ele se curva sobre mim, raspando na lateral da minha virilha, e
choramingo entre gemidos, tendo seus dedos se esfregando em cima do meu
clitóris. Sua outra mão está emaranhada em meus cabelos, os prendendo nela,
me incendiando com sua respiração tão próxima à minha nuca. Somos bons
nisso, realmente somos um inferno de bons nisso, em deixar o fogo consumir
tudo em questão de tempo, nos queimando de desejo, luxúria e paixão. Dener
mordisca minha orelha, afastando seu tórax das minhas costas, me mantendo
curvada na cama. Sinto o peso do colchão diminuindo, o que me faz erguer
meu rosto e olhar por cima do meu ombro. Não entendo o porquê dele não
estar me tomando com força. O vejo de pé, retirando de vez sua calça, com
seus olhos lascivos olhando meu rabo empinado em sua direção. Me apoio
em meus cotovelos, brigando entre assopros com a mecha de cabelo que está
perto dos meus olhos, até conseguir desbloquear minha visão.
— O que foi? — pergunto, ansiosa, respirando com força.
Ele sorri com preguiça, voltando para a cama e se movendo em seus
joelhos até estar com sua pélvis colada em minha bunda outra vez. Dener
beija minha coluna, arrastando seus lábios lentamente, me fazendo me
arrepiar por inteira. Fecho meus olhos, sentindo tudo: o desejo do meu corpo,
o cheiro do seu suor que me embriaga, a indigência por querer ele fundindo
dentro de mim. Dener me faz abrir os olhos assim que puxa a porcaria da
calcinha, a rasgando em suas mãos, até ela se tornar um mero trapo.
— Nada pode ser mais sexy que um juiz que sabe usar suas mãos —
falo manhosa, o provocando, sorrindo ao ouvir sua risada grossa.
— Não viu nada ainda, minha feiticeira. — Ele grunhe entre seus
dentes, enquanto morro a cada espaço que o seu pau vai tomando dentro da
minha boceta, o lambuzando com meus fluidos.
Afundo meu rosto no colchão, gemendo baixinho, tendo suas mãos
grandes massageando meus seios.
— Tão quente, minha freira pecaminosa. — Dener me puxa para ele,
fazendo minhas costas baterem em seu peito, movendo seu quadril,
aprofundando ao extremo seu pau dentro do meu corpo.
— Ohhhh, Cristo! — Seus dedos vão para frente da minha boceta,
circulando meu clitóris em um ritmo torturante, que faz meu corpo pulsar forte
em resposta. — Passou muito tempo alisando aquele martelinho de madeira,
guardinha de jardim. — Ele morde meu ombro, aumentando sua carícia,
arrebatando uma sequência de tremores do meu corpo.
— Não tem ideia de como, minha feiticeira. — Seu quadril se move
em impactos brutos a cada volta do seu pau dentro de mim. — Os dois meses
mais infernais da minha vida, me arrastando de casa para o tribunal e
imaginando tudo que eu faria com esse seu agradável corpo pecaminoso
quando encontrasse você. — A corrente elétrica passa por minhas veias junto
com meu sangue, ao resvalar da sua língua depravada em minha orelha,
sussurrando de forma sexy em meu ouvido.
Meu corpo não aguenta, não quando Dener me fode de forma
indiscriminada, se livrando de todo seu controle e rigor de aristocrata de
tribunal, se tornando selvagem em sua fome sexual e acariciando com
maestria meu clitóris. Minha boceta engole seu pau, sugando-o por todos os
lados a cada espasmo que tenho quando gozo, gritando seu nome. Me
transformo em um foguete e explodo loucamente, sendo consumida de assalto
com nossa luxúria. Dener solta meu corpo, o arrumando sobre o colchão,
segurando meu quadril, o alisando e o afagando com preguiça, tendo meu
corpo ainda trêmulo pelo orgasmo. Meus olhos se abrem no segundo que sinto
seu pau acariciar devagar a minha bunda. Viro minha cabeça para ele,
olhando por cima dos meus ombros, enxergando seu olhar de desejo animal.
— Dener... — Olho da sua face para minha bunda e entendo certinho o
seu olhar malicioso. — Não que eu não goste, mas... Oh, droga!
Minha testa se afunda na cama e mordo o lençol quando seus dedos,
que estão lambuzados pelo líquido viscoso da minha boceta, passam sobre a
entrada do meu cu. Dener se afunda mais dentro da minha vagina, garantindo a
lubrificação em volta do seu pau, saindo de dentro dela e se acomodando na
pequena abertura do meu rabo, que reage surpresa, se retraindo ao pau intruso
que deseja passagem.
— Eu desejei isso desde a primeira vez que vi seu redondo rabo nu
encurvado no meu jardim. — Ouço sua voz rouca sair da sua garganta junto
com sua respiração pesada.
Suas mãos seguram minha bunda, afastando as beiradas, o deixando
ter passagem, se empurrando lentamente dentro do meu rabo. Mordo mais
forte o lençol, sentindo a queimadura seguida de uma pontada de dor, se
misturando ao medo e prazer.
— Dener! — grito seu nome, o fazendo parar no lugar assim que
minhas pernas tremem.
— Não vou machucar, apenas tem que relaxar. — Meu corpo amolece
quando ele beija minhas costas, alisando a lateral das minhas coxas devagar.
— Meu corpo discorda do seu argumento, juiz — suspiro, me
sentindo quente com seu pau me fazendo ir da dor ao prazer.
Escuto sua risada baixa quando ele leva a ponta do seu dedo para
dentro da minha boceta, a sentindo molhada.
— Sua feiticeira mentirosa, seu corpo me fala outra coisa. — Sorrio
com a forma provocadora que ele sussurra.
Meu corpo todo está quente, o apertando dentro de mim, não sabendo
o que me faz arfar mais rápido, se é seu pau imóvel me esticando para
acomodá-lo, ou ele entrando e saindo pouco a pouco, com suas mãos me
mantendo parada no lugar assim que tento me mover.
— Dener, muito... muito... — Sua mão volta a acariciar minhas coxas.
— Se mover seu quadril, vou escapar. E seu escapar, vou ter que
entrar outra vez no seu rabo, e pode apostar nisso, porque com toda certeza
vou foder cada parte sua, Yane. — Ele leva seus dedos para meu clitóris,
massageando-o, voltando a mexer seu quadril, colando nossas peles.
Meu corpo sacana, que se perde em suas carícias, me deixa ter mais
prazer do que dor, relaxando os músculos internos do meu rabo, gemendo
dengosa com seu pau me fodendo.
— Deus, isso é bom! — Dener mantém o ritmo de estocadas calmas,
entrando e saindo com cuidado. — OH, CARALHO, YANE!
Quando mais massageia meu clitóris em círculos, mais eu vou
soltando meu quadril, movendo-o no ritmo do de Dener. Pelo seu aperto forte
na minha cintura, deixando toda pressão em seus dedos esmagando minha
pele, posso sentir a força que ele faz em todo seu corpo para não soltar sua
vontade de me foder latente e duro. Dener aprofunda seu pau com mais força
dentro do meu rabo, me fazendo gemer enquanto esfrega freneticamente minha
boceta, deitando seu peito sobre minhas costas, me fazendo sentir seu pau
completamente dentro de mim.
— OHHH... Dener! — Minha cabeça se aterra no colchão, apertando
meus dedos até eu sentir a textura da espuma quando minhas unhas rasgam o
lençol.
Meu quadril rebola, mexendo com seu pau, o fazendo gemer junto
comigo. Sua outra mão solta minha cintura, indo para o meu seio, prendendo
entre seus dedos o bico sensível, e eu explodo, sentindo outra onda de
orgasmo me atingindo.
— Porra, Yane! — A voz dele ruge em meu ouvido, entrando no
nevoeiro do clímax que me engole assim que meu corpo se retrai em volta do
seu pau.
— Oh, meu Deus, isso dói! — Minha voz sai chorosa entre os
gemidos, me empurrando para ele me tomar mais fundo. — Oh, Dener!
Grito em pura euforia, sentindo seu dedo entrar em minha boceta,
tendo seu pau cravado dentro do meu rabo. Meus gemidos se espalham pelo
quarto, altos, com Dener me fodendo e rapidamente infiltrando mais um dedo
na minha vagina. Seu pau acelera o ritmo, tendo sua respiração acelerada, e
ele ruge tão alto no meu ouvido, que posso acreditar que minha audição foi
danificada, mas nada me importa além do puro prazer que tenho com as
correntes de êxtase me rasgando, sentindo meu rabo se esquentando com os
jatos fortes de Dener gozando dentro de mim. Meu corpo literalmente se
desfaz na cama, escorregando com pura moleza, o levando junto comigo.
Dener mantém seu peso em seus cotovelos, presos à lateral do meu corpo, se
afastando apenas um pouco para não me machucar, mas o tenho perto o
suficiente a ponto de poder sentir seu coração bater em alarde com sua
respiração morna em minha nuca.
— Não se anime, porque não vai fazer isso com frequência, seu juiz
tarado — falo com preguiça, ouvindo sua risada baixa entre seus beijos
perversos em meu pescoço.
— Pode apostar que vamos fazer com muita frequência, minha
feiticeira. — Dener morde meu ombro, me fazendo soltar um gritinho com sua
safadeza. Ele levanta, alisando minha bunda e tirando seu pau de dentro de
mim. — Toda vez que eu bater o martelo no tribunal, vai ser nesse seu rabo
lindo que vou pensar.
O cretino desfere um tapa em minha bunda, a deixando ardida, me
girando na cama quando ele se levanta, me erguendo em seus braços e
caminhando para o banheiro.

— Ainda não acredito que ela te fez comprar um guarda-chuva! — Me


afundo entre as espumas da banheira, rindo, ouvindo Dener me contar como
Andy o obrigou a comprar flores e um guarda-chuva.
— Ela pode ser bem persuasiva com seus argumentos — ele fala
próximo à porta aberta do banheiro, secando seu corpo. — Só não vim de
limusine porque o rapaz da loja de locação de veículo não tinha.
Olho para ele, rindo ainda mais com o olhar triste que ele me dá.
— O que foi? Não acha que eu tenho porte de Richard Gere? —
Percorro meu olhar por seu corpo nu, me deliciando em cada centímetro.
Suspiro com prazer.
— Olha, não sei qual o porte de Richard Gere. — Mordo minha boca,
sorrindo, com minha atenção presa em seu pau grosso, que está descansando
entre suas pernas. — Mas seu porte é meu preferido.
Realmente esse homem inteiro, em seus 1,87m de altura, com seus
ombros largos, mãos grandes e peitoral forte, é minha paixão.
— Está encarando meu pau, feiticeira — Dener fala rouco, soltando a
toalha no chão.
Suspiro outra vez, sorrindo, mantendo meus olhos nele.
— É, talvez eu esteja, guardinha de jardim. — Olho para sua face, que
tem um sorriso malicioso me encarando.
Mas antes dele entrar no banheiro, seu celular toca, deixando o som
estridente repercutir pelos cômodos. Depois de um tempo, quando tenho cada
parte do meu corpo molengo e preguiçoso limpo, saio da banheira, me
secando e caminhando para fora do banheiro. Pego sua camisa que está caída
ao chão, a usando para me vestir. Abandono o quarto à procura de Dener, e
meus olhos param em uma barra de chocolate em cima do frigobar, ao canto
no corredor. Abro a embalagem sem pressa, olhando em volta para ver se o
encontro, e antes de dar a primeira mordida na barra de doce, o avisto parado
no meio da sala, apenas usando sua calça, com seus cabelos bagunçados.
— Eu fiz uma coisa para você. — Ele estica sua mão, me entregando
seu celular e me olhando com intensidade.
Olho para o aparelho curiosa, prendendo o chocolate em meus dedos,
passando meu dedo na tela, que acende. Vejo o aplicativo de música aberto
em uma playlist específica.
— Nada santa... — sussurro o nome que foi dado, mordendo meu
chocolate e erguendo meus olhos para ele. — Como sabia que eu gosto
dessas canções?
— Andy me ajudou a abri-la, então deixei as músicas que você ouve
naquele aparelho antigo.
— Meu walkman? Eu achei que tinha perdido na rua, quando saí... —
Me calo, mordendo outro pedaço de chocolate, desviando meus olhos dos
seus.
— Quando fugiu do meu apartamento — Dener fala sério, pegando o
controle remoto da TV. — Não o deixou cair na rua, mas sim no chão do meu
quarto. Vai ver que tem uma melodia a mais junto com suas músicas. — A
televisão acende sua tela, mostrando a playlist do celular dele conectada no
grande aparelho da sala. — Eu a adicionei para que você possa ouvir sempre
que tiver medo.
Abaixo minha face, olhando as músicas que eu ouvia no meu radinho
velho, parando na última, a reconhecendo. Ain't No Mountain High Enough.
“Escute, querida
Não há montanha alta
Não há vale profundo
Não há rio largo o suficiente, querida”
Meu rosto se ergue para Dener assim que a voz rouca de Marvin Gaye
começa a cantar, e paro de mastigar o pedaço de chocolate. Sinto meu
coração bater disparado, com os olhos dele presos aos meus, me observando
silencioso.
“Se você precisar de mim, me chame
Não importa onde você esteja
Não importa a distância (não se preocupe, querida)
Apenas chame meu nome
Estarei lá depressa
Você não tem que se preocupar”
— Eu sei que não é assim que você deve ter imaginado. — Dener
leva sua mão ao bolso da calça, tirando o par de algemas dela. — Mas, Yane
Rinna...
Empurro o último pedaço de chocolate dentro da minha boca, dando
um passo para trás, olhando na direção da porta. Não entendo o que ele quer
com essa algema outra vez.
“Lembre-se do dia que
Eu te deixei livre
Eu te disse que você poderia sempre contar comigo, querida
Daquele dia em diante
Fiz uma promessa
Estarei lá quando você me quiser
De alguma maneira, de algum modo”
Minhas pernas se balançam agitadas, com minha mão abrindo e se
fechando na lateral do meu corpo, segurando firme seu celular perto do meu
peito. Volto os olhos do chão para Dener, o vendo algemar seu pulso,
deixando a outra argola aberta, pendurada, esticando seu braço para mim.
— Você quer ficar presa para o resto da sua vida comigo? — As
palavras dele entram lentamente na minha cabeça, paralisando por completo
meu corpo.
“Porque, querida
Não há montanha alta o suficiente
Não há vale profundo o suficiente
Não há rio largo o suficiente
Que me impeça de te alcançar, querida”
Fico olhando a algema balançando de um lado ao outro, com Dener
me encarando.
— Não vai me levar presa? — Bato meu pé no chão, olhando para sua
face com minha boca cheia de chocolate. — Quero dizer, para a cadeia? Eu
realmente pensei que ia me prender porque fugi depois do julgamento...
— Na verdade, eu não tenho esse poder nessa jurisdição. — Dener
me dá um sorriso provocativo, abaixando seu olhar para o aço. — Eu só
disse que você infringiu a lei para ter uma desculpa para te algemar a mim.
— Então, agora... — Forço minha boca a mastigar o chocolate que
está derretendo, expandindo meu olhar ao entender o que ele quer.
— Estou te pedindo em casamento, Yane. — A voz de Dener me pega
de uma única vez, falando calmo.
Minhas pernas, que estão agitadas, prontas para saírem correndo porta
afora, se movem apressadas, me jogando nos braços dele. Dener segura
minha cintura, me beijando com paixão, arrancando todo meu fôlego a cada
posse dos seus lábios sobre os meus.
— Vou tomar isso como um sim — ele fala rouco entre nossos beijos,
rindo, me espremendo em seus braços. — Compreendeu, Yane, que não
importa onde esteja, não há nada que vai me deixar longe de você?
Seus braços se abaixam, fazendo meus pés tocarem o chão, colando
sua testa à minha.
— Não há montanha alta o suficiente, não há vale profundo o
suficiente... — Ele se afasta, me encarando, baixando seus olhos para minha
barriga. — Não há rio largo o suficiente, que me impeça de te alcançar,
querida.
Deixo uma distância entre nós, erguendo o braço dele e segurando a
argola de aço. A fecho em volta do meu pulso, sorrindo, olhando nos seus
olhos claros que brilham intensos.
— Observe, guardinha de jardim. — Balanço nossos braços, o
fazendo olhar para nossos pulsos. — Eu, Yane Rinna, uma fajuta freira, nada
santa, dou voz de prisão para o juiz Dener Murati. Você tem o direito de me
amar para sempre, e tudo o que fizer para me provocar poderá ser usado
contra você no meu tribunal, em cima da sua cama.
Dener repousa seus olhos em mim, fechando seu semblante de forma
pensativa por um breve segundo.
— Acho que já posso cometer algumas infrações, minha feiticeira. —
Grito em meio aos risos quando Dener me tira do chão de surpresa,
sustentando minha bunda com seu braço livre, me jogando para cima do seu
ombro.
Marchando de volta para o quarto, morde minha coxa, e me esperneio
com a ardência dos seus dentes, rindo para ele.
— Seu guardinha de jardim tarado! — brinco com ele, desistindo dele
me pôr ao chão, relaxando meu corpo em suas costas, esfregando minha
bochecha em sua pele quente. — Ficou de pau duro olhando para a bunda de
uma mulher santa, devia se envergonhar, Dener Murati.
— Oh, não se iluda, meu amor! Nós dois sabemos que você pode ser
tudo nesse seu pequeno corpo, desde uma feiticeira a uma mulher terrível com
essa sua boca atrevida, uma freira falsa e a mulher que virou minha vida de
ponta-cabeça. — Dener me deita na cama, percorrendo seus olhos por meu
corpo, parando em minha face, me presenteando com um olhar apaixonado.
— Mas, com toda certeza, você não é: Nada Santa.

Fim!
EPÍLOGO
Yane Rinna

Meses depois

— E aquele papinho sobre a mochila das decisões erradas? —


Abaixo meus óculos, olhando para a bisbilhoteira de Dora, sentada na grama
ao meu lado, observando minha barriga grande, que está entrando no sétimo
mês de gestação.
— Não acho que Yane tomou a decisão errada por ter engravidado do
papai. — Andy sorri, alisando minha barriga, rindo quando o bebê solta um
chute no local que sua mão está. — Viu, meu irmão também não pensa assim.
— Na verdade, acho que Yane estava com a cabeça desligada, por
isso não se lembrou da camisinha. — Jani cora suas bochechas branquinhas,
rindo. — O tio gostosão deu uma pegada forte nela.
— Que isso? — Me engasgo, olhando para a ruiva risonha, que
gargalha mais alto, tendo Dora a incentivando. — O que anda fazendo na
escola, Jani?
— Yane, foi pela boca? — Respiro fundo, esfregando minha testa, me
virando para Linda, que olha minha barriga.
— Garota do céu, já não conversamos sobre isso?! — Ela encolhe
seus ombros, fazendo cara feia para mim.
— Eu não penso muito sobre isso, esqueci.
— Foi pela vagina, Linda. Lembra que o pau entra no buraco e deixa
o esperma lá dentro? — Dora revira seus olhos, falando para ela.
— Pau, buraco... — Jani ergue os dedos, os entrelaçando,
gesticulando para ela. — Pau, buraco... Buraco e pau.
— Quem está com fome? — Mand se aproxima, caminhando para nós,
se juntando no gramado do jardim de Dener. Toda sorridente, segura uma
bacia com seus biscoitos saborosos, tendo Bolton a ajudando a trazer os
refrescos.
Pego um para mim, mastigando com vontade, apenas aproveitando o
final ensolarado do sábado. Dener tinha me trazido para cá, me dizendo que
ele e Andy fizeram uma surpresa. Quando cheguei, todas as meninas estavam
reunidas, me esperando. Deus, como eu morri de saudade de cada uma delas!
Depois que nos casamos no cartório, com Stone e Tomas de testemunhas,
tendo apenas Hit, Debby, Andy e Bolton de convidados, Dener me trouxe para
o convento para que pudesse matar minha saudade de Mand, e quem diria,
mas até da irmã Nil eu senti falta. A madre me deu um largo sorriso quando
viu as alianças na minha mão e na de Dener. Tentei aproveitar aquele raro
momento que ela esboçava alegria para tentar persuadi-la a tirar o pavoroso
bigode, mas Dener me levou para fora da sala dela antes que eu pudesse
terminar a frase. Não é ruim a vida de casada, nem um pouco. Conheço agora
como é ter uma família. Deixar Andy entrar na minha vida junto com Dener
não foi mais uma das minhas burradas, mas sim a melhor coisa que já fiz por
mim. E fico cada dia mais feliz, porém, no fundo, sentia muita falta de poder
ver essas arteiras unidas outra vez. Dener conversou com os pais delas e,
finalmente, conseguiu nos fazer ficar juntas outra vez, pelo fim de semana
inteiro.
— Do que estavam falando?
— Sobre buraco — Linda fala rápido, me fazendo parar de mastigar
minha bolacha, assustada.
— Na verdade, é mais sobre o buraco, pau e como os bebês nascem.
— Jani aponta para minha barriga.
— CRISTO! — Mand começa a tossir, ficando vermelha.
— Oh, meu Deus, Mand, respira! — Bato em suas costas, dando um
olhar de bronca em cada uma delas, que riem da situação envergonhada que
Mand ficou. — Não podem ficar falando de pau e buraco para Mand!
Elas riem mais ainda, se divertindo.
— Pênis — Dora provoca, falando rápido.
— Vagina. — Tento tampar a boca de Jani quando ela solta a palavra.
— Sexo oral. — Viro meu rosto para Andy, que se diverte falando
baixinho.
— Não fala isso perto do seu pai. — Seguro o riso, tentando não
gargalhar. O rosto de Linda está vermelho, com ela se preparando para falar.
— Dupla penetração.
— Oh, meu Deus! — Tampo meu rosto, não conseguindo mais segurar
minha risada, tombando meu corpo na colcha, ouvindo as risadas das quatro.
— Beijo grego[22]? — Meus olhos se abrem ao ouvir isso, me
sentindo uma lesma enquanto tento me sentar para saber quem foi que falou.
Vejo os rostos das quatro vermelhos, com seus olhos arregalados, e
lentamente uma a uma ergue seu dedinho, apontando para a freira, que mastiga
um biscoito.
— Mand, você sabe o que é o beijo grego? — Não sei se estou em
choque por ouvir ela falar isso ou com o fato de que ela possa saber o
significado.
— Uma mulher que beija um homem de origem grega? — Dora
começa a rir, segurando sua barriga, olhando para mim com a resposta da
Mand.
— Não vamos falar sobre isso, ok?! Mand, nunca mais fale isso para
ninguém. — Balanço minha cabeça em negativo para ela, puxando outro
biscoito da bacia em meus dedos.
— Mas o que é isso? — Linda é a primeira a perguntar, me fazendo
fechar meus olhos, respirando fundo.
— Não, não e não. — Mordo meu biscoito, me negando a contar para
elas.
— Qual é, Yane, pelos velhos tempos! — Jani fala animada,
segurando meus dedos. Abro meus olhos, vendo todas me encarando com
curiosidade, desde Andy até Mand.
Observo Bolton ao longe entrar na casa, me deixando ter certeza de
que só estamos eu e as meninas. Puxo Linda pela camisa, sussurrando em seu
ouvido, a vendo expandir seus olhos, rindo. Ela faz o mesmo com Jani, que
passa o significado para Dora, que conta para Mand, e ela fecha seus olhos,
tampando sua boca.
— O que é, irmã Mand? — Andy a olha, esperando para saber o
significado, e eu fico rindo ao ver Mand cochichando no ouvido dela.
— ECAAA, QUE NOJO! — Andy estala seus olhos. — Me diz que
meu pai não faz isso em você!
— Não faço o quê? — Todas nós olhamos para trás de mim, vendo
Dener parado de pé, com as mãos no bolso, nos observando com curiosidade.
— Beijar a bu... — Minha mão se ergue, socando a bolacha dentro da
boca da Linda, a calando.
— Beijar minha BUUUchecha — falo rápido, esticando meus braços
para ele poder me ajudar a levantar. — Você não beijou minha bochecha hoje.
— Não? — Ele olha curioso para mim e depois para as meninas, que
estão rindo, tendo apenas Linda mastigando a bolacha e Mand com seu rosto
tampado, vermelho de vergonha.
— É, acredita... — Rio, nervosa, dando um tapinha em seu peito,
virando minha face para Andy, balançando minha cabeça em negativo para
ela. — Ele não beija... Meninas, por que vocês não vão entrando para
assistirmos aquele filme de vampiro e lobisomem que me falaram?
Elas concordam com a cabeça, ajudando a pobre Mand entrar na casa,
ainda em choque de vergonha.
— Ela está bem? — Dener olha para Mand, preocupado.
— Vai por mim, ela vai ficar. — Sorrio quando ele enlaça meu corpo,
beijando minha bochecha.
— Então quer dizer que eu não beijei a bochecha da minha esposa
hoje? — Nego com a cabeça, levando meu corpo para trás.
— Não.
— Como não? Me recordo muito bem de beijar você hoje cedo no
banheiro, depois deitada na cama... Queria ter beijado mais, mas as meninas
chegaram te chamando.
— É, pensando bem, meu marido me beijou muito hoje. — Sorrio com
carinho, alisando sua face.
Dener escorrega sua mão sobre meu ventre, alisando a grande barriga,
como ele gosta de fazer, sorrindo brando, com um olhar animado quando o
bebê chuta onde sua mão está. Sua expressão fica radiante de alegria,
demonstrando sempre a mesma emoção de amor que sentiu da primeira vez
que o bebê se mexeu para ele.
— Deus, como eu amo poder tocar em sua barriga e sentir meu filho
se mexendo dentro dela! — Ele ergue sua face para mim, me dando um largo
sorriso. — Por mim, eu ficaria o dia todo tocando-a.
— E ele ama sentir você perto dele, Dener. Assim como eu também
amo. — Dener me dá um beijo casto nos lábios, me fazendo suspirar com
paixão.
— Eu te amo, senhora Murati. — A voz com tom calmo de Dener, fala
carinhosa. — Acabei de ter uma conversa com a madre no convento, e contei
para ela sobre a mochila das decisões erradas. — Olho para ele com receio,
não acreditando que ele contou sobre as aulas das meninas.
— Dener, ela vai brigar com as minhas meninas...
— Não. Na verdade, como pai, falei para ela sobre a importância
delas poderem conversar com alguém, tirarem suas dúvidas e medos. Veja
Andy, por exemplo. Se você não tivesse contado para mim sobre os desenhos
lindos que ela faz, eu não saberia. Tudo isso porque ela tem vergonha de
conversar sobre alguns assuntos comigo. — Ele me vira lentamente, me
deixando de frente para o grande muro. — Chegamos em comum acordo que
será proveitoso se tivermos um portão naquele muro, assim, nas férias,
quando as meninas voltarem para as aulas de verão, uma certa ex-freira pode
conversar com todas as meninas, não só com Andy, Jani, Dora e Linda, mas
com todas.
Meus olhos ficam marejados, ouvindo suas palavras baixas no meu
ouvido.
— O que acha?
— Eu acho que isso vai ser maravilhoso, Dener. — Me viro,
atrapalhada com minha grande barriga, o beijando com amor. — Eu te amo, te
amo muito.
— E eu te amo muita mais que o Spai. — Rio com ele, com nós dois
nos virando para o labrador caramelo, que está deitado na grama, ao lado da
labradora preta que Dener arrumou para fazer companhia ao cachorro tarado.
— Spai encontrou um amor. — Deito meu rosto no peito de Dener,
sentindo o carinho dele em minhas costas.
— Assim como eu encontrei o meu. — Dener beija minha cabeça, me
segurando com carinho.
Sorrio, abraçando-o, rindo quando ele enche minha bochecha de
beijos.
Como vim parar aqui, nesse exato momento maravilhoso da minha
existência?
Bom, isso é simples!
O convento foi o primeiro lugar que se tornou meu lar, e foi através
dele que encontrei o amor da minha vida. A madre tinha razão. Não tinha
entendido na época porque tinha vindo parar aqui, justo uma pessoa como eu,
que sempre me julguei desastrada, sem modos, vulgar, inútil e completamente
um peixe fora d’água. Mas foi tudo isso que me trouxe para as meninas, que
me ligou a elas, fazendo nascer um laço de amor e carinho entre nós, mesmo
com medos e receios. Foi sendo a atrapalhada Yane, que meti os pés pelas
mãos, pulando o muro da divisa do convento, o que me levou até Dener
Murati, meu perfeito guardinha de jardim.
Dener Murati
Dois meses depois

— Eu vou amarrar você naquela maldita cama, Yane! — falo nervoso


para ela assim que entro na cozinha e a vejo de pé, em cima de uma cadeira,
tentando alcançar algo no fundo do armário. Ela se assusta ao ouvir minha
bronca e tenta se virar para me olhar, mas já estou com meus braços erguidos,
a pegando no colo.
— Dener, você quer me matar do coração! — Seus olhos arregalados
se expandem, com sua voz saindo zangada.
— Eu que te pergunto isso. — A deposito no chão, deixando ela
segura em pé. Meus dedos se elevam, passando as mãos pelos seus cabelos.
— No seu estado, você não pode ficar subindo em cadeira, Yane.
Ela resmunga feito uma criança malcriada, que foi pega no flagra
fazendo algo de errado.
— Largue de bobagem, eu só queria pegar as forminhas que estão
guardadas no fundo do armário. — Seus dedos alisam o avental, que está
preso em sua cintura, destacando ainda mais seu ventre volumoso. —
Pretendia fazer biscoitos. E para o seu governo, estou grávida, não doente.
Seu dedo indicador se ergue, apontando para mim, mas ela o puxa
rapidamente quando eu faço menção de mordê-lo. Sei que estou sendo
superprotetor com ela. Meu humor anda à flor da pele e a vigio o tempo todo.
Yane não estava dormindo bem, sentindo muita falta de ar e dor nas costas.
Quando a levei para a consulta, a obstetra me alertou que deveria redobrar os
cuidados com ela nesses últimos dias da gestação, pois a saúde de Yane está
muito debilitada, sua pressão está oscilando, constantemente subindo rápido
demais. Então me vi virando um sentinela, cuidando de cada passo que ela
dá, não a deixando fazer quase nada. Tenho consciência que ela fica brava,
mas me preocupo com ela e com nosso filho. E não consigo controlar essa
superproteção. Eu não pude participar de nenhum momento da gestação de
Magda, ela simplesmente me afastava, recusando ajuda ou cuidados. Eu nem
sequer pude acariciar seu ventre uma única vez. No dia do nascimento de
Andy, ela solicitou que minha entrada dentro do quarto na hora do parto não
fosse permitida, apenas fui ver Andy muitas horas depois, através do vidro do
berçário. A gestação de Yane faz eu me sentir pai de primeira viagem. E ficar
ao seu redor, a vigiando, cuidando dela nesse momento como um gavião, é
inevitável.
— Venha, você precisa se deitar um pouco, para descansar. — Seguro
seu braço, a trazendo para perto de mim. — Vou pedir para Bolton
providenciar seus biscoitos.
— Oh, meu Deus, Dener, não quero me deitar, estou bem, não estou
cansada. — Seus olhos desmentem suas palavras, me deixando vê-los
cansados e abatidos. — São quase quatro horas da tarde, daqui a pouco Andy
vai chegar da aula e quero fazer uns biscoitos para ela.
— Largue de teimosia, Yane! — A surpreendo, a erguendo em meus
braços, lhe dando um beijo na bochecha.
— Isso que dá casar com um juiz mandão — ela resmunga, soltando
um suspiro e olhando para seu ventre. — Seu pai é um guardinha de jardim
malvado, meu filho.
— Mentirosa. — Mordo sua orelha, ouvindo sua risada e sentindo
seus braços passarem pelo meu pescoço enquanto ando com ela em direção
ao quarto.
— Não sei como ainda consegue me pegar no colo, estou uma bola
grande de pés inchados. — Yane balança suas pernas, rindo.
— Uma bolinha sexy, Yane. — Arrumo ela em meus braços, a
deixando segura, empurrando a porta do quarto com o meu pé, para poder
abrir. — Nem que estivesse uma bola imensa, eu deixaria de pegá-la em meus
braços.
— Dener, eu já estou imensa! — Yane me dá um olhar de
recriminação quando a deito na cama.
— Está linda. — Aliso seu rosto com meus dedos, lhe dando um beijo
em sua bochecha. — Tente dormir um pouco. Não pense que não reparei que
você dormiu mal durante a noite.
— Por que você não se deita comigo, já que me quer tanto na cama?
— Rio com o gesto abusado, onde ela mexe suas sobrancelhas, me
provocando.
— Tentador seu convite, mas preciso dar uns telefonemas ainda. Vá
descansar.
Saio do quarto rapidamente, ouvindo seus protestos quando fecho a
porta atrás de mim. Caminho rápido para a cozinha, olhando para o fogão.
— Senhor, precisa de alguma coisa? — Me viro, olhando Bolton, que
entra na cozinha e para próximo de mim.
— Sabe alguma receita de biscoitos, Bolton? — falo sério,
desabotoando a camisa em meu pulso, enrolando o tecido até meus cotovelos.
— Desculpe, senhor. Mas quer uma receita? Deseja que eu faça?
Nego com a cabeça, indo em direção ao armário e tirando a cadeira
que Yane estava em cima. Em seguida ergo meus braços e puxo as forminhas.
— Vamos cozinhar, Bolton.
Ele demora um tempo para compreender que estou falando sério, e é
entre os ovos quebrados e a farinha de trigo espalhada pelo balcão, que Andy
nos encontra quando volta da aula, se surpreendendo ao me ver tirando os
biscoitos do forno e depositando-os em cima do balcão de mármore da
cozinha.
— Oh, meu Deus, me diz que não tentou cozinhar de novo!
— Qual o problema com isso? Eu sou bom na cozinha. — Pisco para
ela, olhando orgulhoso para os biscoitos.
— Pai, o senhor quase me matou de tanto tossir na última vez que
tentou cozinhar — ela fala, rindo, depositando a mochila na cadeira.
Me faz recordar do trágico espaguete que fiz uma vez para ela. Estava
intragável por conta da quantidade de sal que coloquei no molho.
— Dizem que na segunda vez temos mais chance de ser bem-
sucedidos — falo altivo, tentando manter minha expressão séria.
— Quem disse isso? — Ela olha para Bolton, que apenas balança sua
cabeça em negativo, segurando seu riso.
— Juiz Dener Murati — a respondo, ouvindo sua gargalhada alegre
dentro da cozinha. — Ande, pare de rir e venha experimentar os biscoitos que
eu fiz.
— Obrigada, papai, mas eu posso esperar eles esfriarem. Yane
sempre fala que não é bom comer biscoito quente. — Seu rosto se estica, com
ela procurando por Yane. — Falando nisso, onde ela está?
— Está no quarto, descansando um pouco. Por que não vai lá, fazer
companhia para ela?
Andy sorri, balançando a cabeça em positivo, saindo da cozinha. Olho
para os biscoitos, pegando um papel toalha e erguendo um em meus dedos, o
assoprando e levando-o aos lábios. Preciso de apenas uma mastigada para
cuspi-lo para fora da minha boca, no papel toalha. Está borrachudo e sem
gosto algum além do trigo! Parece uma borracha!
— Bolton, ligue para confeitaria e peça para eles entregarem
biscoitos, vamos jogar esses no lixo e colocar os deles no lugar.
— Pode deixar, patrão.
Ouço a risada dele, que pega a forma em cima do mármore e caminha
com ela para o lixo. Limpo minhas mãos na pia, as secando.
— Não esqueça de jogar a embalagem da confeitaria fora — falo,
rindo, saindo da cozinha e indo rumo ao quarto.
Ao abrir a porta apenas um pouco, avisto Andy deitada ao lado de
uma adormecida grávida de barriga volumosa. Andy acaricia a barriga de
Yane, conversando baixinho com seu irmão. Sorrio, contemplando a cena das
duas mulheres que mais amo nesse mundo juntas. Fecho a porta devagar, não
querendo me aproximar e acabar correndo o risco de acordar Yane. Vou para
o escritório, para revisar os documentos dos casos que Stone me trouxe hoje
cedo. Preferi trabalhar em casa nesse último mês de gravidez de Yane, porque
assim posso cuidar dela.
Fico no escritório até a hora do jantar, quando saio e tenho a
companhia de Andy, que me conta como foi seu dia. Yane está em um sono tão
profundo, que não quis acordá-la. Minha grávida teimosa quase não dorme à
noite nessas últimas semanas, então não quis lhe atrapalhar. Depois do jantar,
regresso para o escritório, para finalizar alguns protocolos. Já passa das oito
horas da noite quando Andy entra em minha sala para me desejar uma boa
noite. Sai rindo, elogiando meus biscoitos, que ela comeu como sobremesa.
Olho para Bolton, que entra na sala, me trazendo uma xícara de café, trocando
um olhar cúmplice com ele. Após eles se retirarem, volto minha concentração
para meu trabalho, apenas me desconectando quando o som de um gemido
baixo doloroso se faz diante da porta do meu escritório, me fazendo erguer
minha cabeça para encarar Yane, que está com sua face suada e olhar
assustado, segurando um copo de água em suas mãos. Ela inclina sua cabeça,
olhando para suas pernas, o que me fez acompanhar seu olhar e enxergar seu
vestido se colando em suas pernas, ficando úmido.
— Dener... — Seus olhos se fecham, com ela esmagando sua boca,
contraindo seu corpo e segurando sua barriga.
Já estou de pé, fazendo a cadeira tombar ao chão quando levanto
agitado. Yane tem uma expressão de dor em sua face, encolhendo seu corpo.
É tudo rápido. Meus passos apressados; o copo que desliza dos seus dedos,
caindo ao chão, se partindo em vários fragmentos; e meus braços que a
sustentam no momento que seus joelhos fraquejam e ela grita de dor. Levo
minhas mãos ao seu ventre, junto com as dela, baixando meus olhos. A poça
de água no piso não é o que me fez ficar apavorado, mas sim o sangue que
escorre das pernas de Yane.
— Não, não... Tem alguma coisa de errado, Dener... — Ela chora,
assustada, escondendo seu rosto em meu peito quando a ergo em meus braços,
para protegê-la dos cacos de vidro do copo quebrado.
— Respira. Respira com calma e fundo. — Beijo sua cabeça,
caminhando a passos apressados com ela pelo corredor.
— Bolton! BOLTONNN! — grito por ele, segurando Yane firme em
meus braços.
Bolton e Andy entram na sala em questão de segundos.
— PEGUE A BOLSA DELA E DO BEBÊ, AGORA! — ordeno entre
os gritos para ele, tentando não perder o controle ao ver a forma amedrontada
que Yane está.
— Oh, meu Deus, meu irmão está nascendo?! — Andy pergunta,
agitada, olhando para Yane.
— Dener, porque tem sangue... Eu não entendo... — Abaixo meus
olhos para Yane, a segurando com toda minha força.
— Está tudo bem, amor. Está tudo bem, vou te levar para o hospital.
— Beijo seu rosto, sentindo a frieza que está sua testa. — Andy, pega a manta
em cima do sofá e cobre a Yane.
Andy faz isso na mesma hora, jogando a manta por cima do corpo de
Yane. Caminho a passos acelerados na direção da porta. É agonizante segurar
Yane em meus braços no trajeto do elevador até o estacionamento, sentindo
meu coração acelerar a cada batida, com medo de algum mal acontecer a ela
e ao nosso filho. Andy se senta atrás, junto com ela, e segura sua mão,
enquanto jogo as bolsas dela e do bebê, que Bolton me entregou, no banco do
passageiro.
— Avise a Stone! — falo alto para Bolton, entrando no carro e
acelerando para fora do estacionamento. — Vai ficar tudo bem, amor, me
ouviu? Tudo bem.
Olho para seu rosto através do espelho do retrovisor interno, vendo
seus grandes olhos negros assustados.
— Vai ficar tudo bem, eu te prometo, amor.
Ela sorri de forma fraca, consentindo com sua cabeça. Esmago meus
dedos no volante, pisando fundo no acelerador.
— Dener, para! — Yane se contorce em meus braços, rindo
enquanto mordo seu ombro.
— Não pretendo parar. — Mordo outra vez, esfregando meu nariz
em sua pele.
— Isso é crime. Sabia que morder as pessoas é canibalismo? — ela
fala, me provocando, soltando baixos suspiros, se aninhando em meus
braços.
— Entendo de leis e sei que não estou infringindo nenhuma delas.
Yane se vira, abrindo sua boca para me dizer provavelmente alguma
coisa atrevida, mas se cala, arregalando seus olhos. Fico assustado, estico
meu braço e acendo a luz. Sento na cama, a olhando preocupado.
— O que foi, você está bem?
Ela puxa minha mão para sua barriga, balançando a cabeça em
positivo.
— Acho que ele se mexeu.
Fico em silêncio, respirando com força, encarando sua barriga,
deixando as duas mãos sobre ela, mas nada acontece. Ergo meus olhos para
os seus, vendo um sorriso tão grande estampado em sua face.
— Oh, meu Deus, Dener, ele se mexeu!
Antes que eu possa abrir minha boca para lhe perguntar se talvez
não pode ter sido apenas o movimento rápido do corpo dela ao se virar que
lhe deu a impressão do bebê se mexer, sou interrompido por um movimento
leve em seu ventre. Fico completamente paralisado. Meu coração dispara
tão forte, quase como se fosse sair da minha boca.
— Ele se mexeu. — Sorrio, me sentindo eufórico, com tantas
emoções inundando dentro de mim. Nunca senti nada igual na minha vida
como sinto nesse momento. Sinto meus olhos queimando pelas lágrimas que
começam a vir, olhando a barriga de Yane.
— Eu vou proteger você e a mamãe para sempre, Antony.
— Oh, meu Deus, não começa! — Yane ri, negando com a cabeça.
— O que foi? Eu gosto de Antony. — Abaixo meu rosto, dando um
beijo em sua barriga.
— Vamos pensar ainda sobre os nomes, não tem nada decidido.
Ergo meu rosto, beijando sua boca, a ouvindo suspirar quando me
afasto dela.
— Não tenta me bajular, guardinha de jardim...
— Eu não disse nada. — Beijo seu ombro e a deito na cama,
aprisionando-a em meus braços. — Apenas quero que minha juíza estude
meu pedido.
— Dener... Oh, meu Deus, Dener. — Ouço sua risada aumentar
enquanto mordo seu ombro outra vez.

— Está indo bem, senhora Murati — a médica fala alto para Yane,
erguendo a cabeça para ela, e depois voltando a encarar o centro das suas
pernas. — Preciso que empurre com todas as forças quando sentir a
contração vindo.
— OH, MEU DEUSSSS! — Yane aperta forte minha mão, virando sua
face para mim, contorcendo seu rosto.
— Mais uma vez, amor. Apenas mais uma vez e nosso menino vai
estar em seus braços.
Ela balança sua cabeça em positivo, espremendo seus dedos nos
meus. Fico firme ao seu lado, não me importando que ela quebre minha mão
se for preciso, mas apenas quero que ela saiba que estou aqui, que jamais
sairei do seu lado. Yane grita, contraindo seu corpo com todas as forças,
apertando seus lábios, retraindo sua face quando a contração vem outra vez.
— ISSO, EMPRURRA! — a médica a incentiva, com as enfermeiras
ao seu redor. — EMPURRA.
Yane grita com toda força dos seus pulmões, contraindo seu corpo e
desabando suas costas na maca, completamente exausta. O choro rompe a
sala, me fazendo olhar para a médica no centro das pernas de Yane.
— Ele nasceu. Oh, meu amor, ele nasceu! — Sorrio em felicidade,
sentindo minhas vistas nubladas pelas lágrimas.
Me inclino, beijando sua face, limpando minhas lágrimas que caem
em sua pele, se misturando com as dela.
— Eu te amo, te amo.
— Um belo menino, senhor e senhora Murati. — A médica se
aproxima, me fazendo erguer meu corpo.
Meu rosto e o de Yane se viram para o embrulho que a médica segura.
Ela o deposita perto do peito de Yane.
— Oi, meu amor, eu sou sua mamãe. Oh, meu Deus, Dener, ele é
lindo!
— Ele é... Ele é o menino mais lindo que eu já vi. — Fecho meus
olhos, balançando minha cabeça para os lados. — Cristo, ele é lindo!
Obrigado, meu amor!
Seguro o rosto dela em minhas mãos, sorrindo e chorando de emoção
por estar vivendo esse momento com a mulher que eu amo, que me deu um
presente maravilhoso: meu filho. E nunca fiquei tão agradecido por minha
vida tão meticulosamente organizada ter sido posta de cabeça para baixo no
momento que essa mulher pulou o meu muro para tomar banho de piscina
pelada e me enfeitiçou com sua magia.
— Antony, esse é seu papai. — Olho para Yane, que sorri, beijando
minha mão quando acaricio sua bochecha. — Eu te amo, Dener Murati.
— Eu te amo muito mais.
AGRADECIMENTOS
Meu amor todinho para minha desastrada Yane. Como eu amei poder
escrever essa história! Ri, me diverti, me apaixonei e quis que ela fosse muito
feliz com seu guardinha sexy de jardim. Apenas gratidão por esse mundo que
saiu da minha mente, se transformando em história.
Muito obrigada às minhas meninas lindas, que sempre me ajudam, me
acompanhando em meus mundos loucos, Janaina Silva e Halana Oliveira.
Obrigada sempre, sem nunca cansar ou deixar de demonstrar meu
amor e carinho à minha irmã de coração, Valdirene Gonçalves, que me
permite arrastar ela para cada história mais louca que a outra.
Obrigada a todos os envolvidos nesse projeto, que o fizeram se tornar
mais belo.
E muito obrigada a você, meu fabuloso leitor, que se permitiu
embarcar nesse livro Nada Santo, mas cheio de muito amor.
Outras obras:
Primeira série:
KATORZE - LIVRO 1
PAOLO A RENDIÇÃO DO MONSTRO - LIVRO 2
PAOLO O DESPERTAR DO MONSTRO - LIVRO 3

ATENÇÃO: contém cenas eróticas e gatilhos que podem gerar desconforto. não indicado para
menores de 18 anos.

Quando um pesadelo deixa marcas. Quando em um dos piores momentos,


nasce uma luz para guia-la. Quando ela se apaixona por seu algoz e finalmente
tudo está na mesa, o desejo carnal e selvagem se revelam. Mas a ferida agora,
está aberta.
Vocês irão odiá-lo, cobiçá-lo e até mesmo deseja-lo. Conheçam Daario Ávila e
embarquem em uma aventura na Espanha, regada de erotismo e reviravoltas
de tirar o fôlego. Será que o príncipe encantado, pode se tornar um pesadelo?

Criado como um animal de estimação desde criança, entre a sarjeta e os


abatedouros da fazenda Ávila, Paolo se tornou o cão de ataque perfeito de
Joaquim Ávila, um animal feroz, sem remorso, sem empatia. Moldado pela dor
e degradação, é uma alma condenada e vazia, que sente gosto de liberdade
quando sua coleira invisível é quebrada. O destino, contudo, o leva, entre a
vida e a morte, pelas as águas turbulentas do rio, até os cuidados da pequena
Yara.
Em um ímpeto de desespero pela morte que o chama em seu leito, Yara
faz de tudo para salvá-lo, até o que não deve. A pequena boneca solitária só
não sabia que quem ela salvava não era apenas um forasteiro com faces
tristes, mas sim um monstro que traz em seus olhos tanta morte quanto o cano
do seu .38.
Yara entende de monstros. Teve seu caminho cruzado por um, que a
deixou marcada para sempre. Mas ali, diante da face do mal encarnada entre
os olhos marrons daquele forasteiro, que traz uma dor tão antiga, não é medo
que sente, mas sim sua luz, que se liga à escuridão dele.
Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida
do monstro que entrou em seu caminho. Tendo que escolher entre o homem
que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu ventre, partiu,
deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou
rastros, e agora algo muito pior vêm atrás dela.
Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal maior, e
o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o
homem que tanto assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher
solitária que vê em seus sonhos, e que agora está em carne e osso na sua
frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha.
Yara lutará com toda sua força para ter suas filhas de volta. No meio da
sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do amor,
e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do
inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco
anos, sem despertar o monstro que habita nele?

Um inimigo antigo uniu os irmãos Ávilas em uma derradeira vingança. Daario e Paolo juntos, lado a lado,
abriram as comportas do inferno, trazendo carnificina e sangue para aqueles que machucaram suas famílias.
A cada percurso da caçada, em uma busca cruel e implacável pelas suas mulheres, os monstros
estavam famintos por morte e justiça, fazendo aliados poderosos e alianças inquebráveis, deixando um rastro de
corpos por onde passavam.
A pequena bruxa Yara encontrou forças para lutar pela sua sobrevivência e do seu filho quando a
destemida pantera Katorze cruzou seu caminho de uma forma inesperada. As duas mulheres traziam fé em seus
corações de que seus monstros iriam libertá-las, afinal nem todo predador é fatal, mas todos os monstros Ávilas
criados pelo cruel Joaquim são assassinos.
História e conto Irmãos Falcon
Recomendando para maiores de 18 anos
Este livro contém descrição de sexo explícito e palavrões

Doty só queria uma coisa: achar o miserável que engravidou Tifany e chutar seu rabo até Dallas.
A única coisa que Joe queria era dobrar o demônio de olhos negros que o tirou do sério, fazê-la pagar
por sua língua afiada e boca suja.
Uma proposta!

Sete dias!
E tudo foi para os ares!

Bem-vindo à Arena

Billi tinha traçado seu destino, já não era mais o menino delinquente, tinha se transformado em um
homem, foi atrás do seu sonho e criou seu mundo em cada touro que montou aos 32 anos.
Arena Ranger lhe trazia apenas um desejo, o grande touro Asteroide 8 segundo que valeria sua
carreira, mas o pequeno cometa que cruzou seu caminho. Fez o Cowboy mudar seus planos.
Únicos

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS ERÓTICAS E GATILHOS que podem gerar desconforto. NÃO
INDICADO PARA MENORES DE 18 ANOS.
Se me perguntarem se já era amor desde o início, garanto-lhe
com as minhas palavras salgadas pelas lágrimas que sim. Eu já o
amava antes do princípio, assim como no meio e fim. Nosso amor
mórbido e louco nos unia em nossa agonia chamada vida.
Se existia um inferno, eu iria para lá por ele, pois onde mais
dois pecadores poderiam descansar suas almas negras manchadas
pelos pecados da carne? E então, eu fui. Joguei-me de cabeça em seu
mundo. Conforme trazia Ben para mais perto de mim a cada sonho, a
cada parte dele que eu salvava, uma parte minha ficava presa em
seu labirinto. Em meu peito, onde batia um coração de uma menina
apaixonada, não importava em quantos pedaços eu teria que destruir
minha alma para salvá-lo, pois a loucura que o habitava era a mesma
que tinha morada fixa em meu coração.
Lizandra, essa sou eu, ou a sombra de quem eu fui um dia.

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA MENORES


DE 18 ANOS

Zelda estava preparada para tudo em sua vida: uma híbrida latino Afro-Americana com sangue quente
que desejava apenas ter uma chance para mostrar que não veio ao mundo para brincar. Queria um lugar ao sol
entre as indústrias de construção civil. O que ela não imaginava, no entanto, ao aceitar o estágio na Indústrias
Ozbornes, era que, junto com a porta do seus sonhos ao mundo do negócios, também se abriria a porta dos desejos
e fantasias quente como o inferno: seus dois chefões em ascensão.
Quatro mulheres desesperadas por apenas uma noite de folga e por um segundo de descanso ganham,
misteriosamente, um sorteio relâmpago de rádio, que tem como prêmio uma estadia nas suítes luxuosas do novo
hotel da pacata cidade.
Cada uma tem sua história e seus segredos, mas todas trazem uma coisa em comum: desejos
reprimidos.
O Dia das Bruxas nunca mais será o mesmo para elas.
Não deixem de perder essa deliciosa noite de Halloween, principalmente se for uma menina malvada.

Handrey, junto com seu irmão Jonny, participava ativamente de um grupo de neonazistas violentos,
pregando a supremacia branca. Seu destino mudou ao encontrar o corpo do seu irmão junto a um homem negro
dentro do seu apartamento, ambos sem vida. Ele nutriu apenas ódio e autodestruição por catorze anos, jogado
dentro da penitenciária federal, almejando apenas uma chance de descobrir quem era o verdadeiro assassino do
seu irmão. Sua chance veio acompanhada de um pro bono misterioso, que lhe deu sua liberdade provisória.
O homem passou a ver as coisas de uma maneira diferente ao se deparar com Eme, uma stripper negra
que o levou a questionar uma doutrina de uma vida inteira. Ele já não se sentia mais à vontade com o grupo
neonazista.
Quando corpos mutilados de mulheres negras e imigrantes começaram a aparecer pelas ruelas do porto,
assombrando todas as garotas de programa ao descobrirem que tinha um assassino em série que matava por
esporte, Handrey percebeu que mais alguma coisa tinha escapado junto com ele do esgoto imundo que era seu
passado.
Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda não acreditava que seu irmão
havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina má justamente três dias antes do
Natal, indignada com o nada bonzinho e muito menos velhinho Noel. Então resolveu se vingar do tirano e por fim
lhe dar uma lição que nenhum

Sedrico Lycaios, mais conhecido pelas noites quentes regadas às promiscuidades de Chicago, como uma
divindade do prazer, é proprietário do clube peculiar, nada ortodoxo e, sim, envolvente e pecaminoso: a Odisseia,
onde proporciona todas as experiências desejadas por seus clientes, para aplacar seus prazeres mais obscuros.
Mas, como todo semideus, Dom Lycaios tem sua fraqueza, e é entre as paredes do seu templo da perdição que se
vê sendo fisgado pela doce inocência de Luna, a dançarina exótica, tão silenciosa e misteriosa, que o prende a
cada movimento do corpo dela. Uma perfeita sugar baby, que desperta o interesse do sugar daddy que ele traz
aprisionado no canto mais obscuro do seu ser. Luna não tem chances para escapar das manobras do implacável
homem, que a envolve em suas teias de aranha. Afinal, o prazer sempre fora o maior império de Sedrico.

Um amor além do tempo, do universo, do grande desconhecido. E se nada fosse o que realmente é? E
se entre seu mundo tivesse outro, onde magia e realidade se chocassem? Onde uma maldição foi imposta,
obrigando um príncipe do submundo a enxergar com outros olhos a raça que ele julgava a mais inferior de todas.
Onde fosse condenado a vagar por eras e eras em busca de uma estrela solitária.
E se nada fosse o que é?
Maria Eloiza estava acostumada com a batalha diária que a lavoura tinha e com o esforço sobre-humano
que seu trabalho lhe trazia. Seguia batalhando mais uma vez, atrás de outra usina, dando graças a Deus quando
essa apareceu, mas nunca imaginou que o canavial lhe traria mais do que já estava acostumada a ter, até se perder
nos olhos mais verdes que as plantações de cana.
Pedro Raia trazia o legado de sua família junto com ele. Mesmo renunciando aos sonhos que tinha, aceitou
voltar para casa quando foi convocado, cuidando de perto de cada um que entrava em suas terras, pois nunca foi
de ficar dentro de quatro paredes. Sua paixão pela terra era antiga, desde menino trabalhava na lavoura. Gostava
da terra em suas mãos, sabendo que era dali que vinha toda sua essência. Mas sua vida mudou quando, entre mais
uma remessa de boias-frias, a pequena cabocla, com olhos assustados, lhe mostrou o mais puro brilho de sua alma.
Dois mundos, que andavam entre linhas finas, se chocaram. A realidade de um contra a vida do outro.

A vida sempre foi puxada para Maria Rita, fazendo-a se tornar o alicerce da sua casa e a moldando
para ser a presença materna e paterna para suas irmãs. Não é de riso fácil, e muito menos de ser dobrada por
homem, mas algo muda em sua vida quando seus olhos se cruzam com o peão chucro, Zeca Morais. Ele fará de
tudo para laçar a mulher endiabrada, que faz seu coração disparar. Um amor nasce sem freios entre os dois em
meio aos cafezais. E juntos terão que enfrentar um grande inimigo, que fará de tudo para acabar com a vida de
Zeca Morais.
[1] O Ford Mustang é uma série de automóveis americanos fabricados pela Ford. Em produção
contínua desde 1964, o Mustang é atualmente a placa de identificação de carros Ford mais produzida.
Atualmente em sua sexta geração, é a quinta placa de identificação de carros Ford mais vendida.

[2] Elite.
[3] Penico.
[4] Síndrome de Down é uma alteração genética causada por um erro na divisão celular. As pessoas
apresentam características, como olhos oblíquos, rosto arredondado, mãos menores e comprometimento
intelectual.

[5] Francis Albert Sinatra, mais conhecido pelo seu nome artístico Frank Sinatra (Hoboken, 12 de
dezembro de 1915 — Los Angeles, 14 de maio de 1998) foi um cantor, ator e produtor norte-americano,
considerado um dos maiores artistas de todos os tempos.

[6] Ela é conhecida por sua voz grave de contralto e por ter trabalhado em várias áreas do
entretenimento, bem como por reinventar continuamente sua música e imagem ao longo de uma carreira
que já dura seis décadas. Apelidada de "Deusa do Pop", é considerada uma das primeiras e mais
significativas representantes da autonomia feminina em uma indústria dominada por homens.
[7] Vestimenta ampla usada pelos juízes, advogados ou promotores no tribunal ou por formandos
durante a cerimônia de formatura; beca.

[8] A anafilaxia pode ocorrer após uma única picada de abelha. Cerca de 3% da população é alérgica
ao veneno das abelhas e podem desenvolver reações anafiláticas após ferroadas. Os sinais de reação
alérgica grave à picada de abelhas ou vespas surgem rapidamente após a ferroada, geralmente em
apenas 5 minutos.

[9] Um pássaro amarelo gigante do programa infantil: Vila Sésamo.


[10] Lançado em 16 de junho de 1978, Grease fez sucesso tanto na crítica quanto comercialmente,
tornando-se o filme musical de maior bilheteria de todos os tempos.

[11] Pretty Woman é um filme estreado em 1990, do gênero comédia romântica norte-americana,
dirigido por Garry Marshall, de um roteiro de J. F. Lawton. O filme é estrelado por Richard Gere e Julia
Roberts.

[12] Também chamado de desejo sexual hiperativo, é um transtorno psiquiátrico caracterizado pelo
excesso de apetite sexual.

[13] Derivado da palavra inglesa "relationship", o verbo shippar significa apoiar determinado casal de
personagens ou até mesmo real e querer que fiquem juntos.

[14] Um hippie (às vezes escrito errado como hippy) é um membro da contracultura dos anos 1960,
originalmente um movimento juvenil que começou nos Estados Unidos durante meados da década de
1960 e se espalhou para outros países ao redor do mundo.
[15] Woodstock foi um festival de música realizado de 15 a 18 de agosto de 1969 na fazenda de
laticínios Max Yasgurem Bethel, Nova York, 40 milhas (65 km) a sudoeste da cidade de Woodstock.
Anunciado como "uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz & Música" e, alternativamente, chamado
de Woodstock Rock Festival, atraiu um público de mais de 400.000 pessoas. Trinta e dois atos
realizados ao ar livre, apesar da chuva esporádica.

[16] Limpeza superficial.


[17] Uma jukebox é um dispositivo de reprodução de música parcialmente automatizado, geralmente
uma máquina operada por moedas, que reproduzirá uma seleção de músicas escolhidas pelos clientes a
partir de mídia independente.

[18] Doença sexualmente transmissível.


[19] Dupla penetração.
[20] É um filme norte-americano de 2008, dirigido por Catherine Hardwicke, sendo o primeiro da série
The Twilight Saga, adaptado do primeiro livro da série homônima de Stephenie Meyer por Melissa
Rosenberg.
[21] Walkman® é uma marca popular de uma série de tocadores ou leitores de áudio portáteis
pertencente à Sony. Criado em 1979 no Japão, o termo Walkman também é utilizado para se referir a
aparelhos portáteis similares de reprodução de áudio estéreo de outros fabricantes.

[22] O beijo grego é uma técnica que consiste em lamber ou acariciar o ânus da outra pessoa com a
boca.

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