Fichamento: A História Do Suicídio (Georges Minois)

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MINOIS, Georges.

História do Suicídio: a sociedade ocidental diante da morte


voluntária. Traduzido por Fernando Santos, - São Paulo: Editora Unesp, 2018.

Antes de mais nada, essa lacuna tem causas documentais. As fontes que fazem referência às
mortes voluntárias são diferentes das que relatam as mortes naturais. Os famosos registros
paroquiais de óbito não têm nenhuma serventia nesse caso, já que os suicidas não tinham
direito ao sepultamento religioso. Portanto, o historiador tem de lançar mão dos arquivos
judiciais, pois a morte voluntária era considerada crime. Como são arquivos muito
incompletos, é preciso recorrer as fontes variadas, heterogêneas e, aliás, pouco abundantes:
memórias e crônicas, jornais, literatura. (MINOIS 2018, p.1)

Essas razões metodológicas vem se juntar uma razão de fundo: não podemos estudar os
suicídios como podemos fazê-lo em relação à destruição provocada pela peste ou pela
tuberculose, pois a morte voluntária é um tipo de óbito cujo significado não é de ordem
demográfica, mas filosófica, religiosa, moral, cultural. O silêncio e a dissimulação que a
rodearam durante muito tempo instauram um clima de mal-estar em torno dela. (MINOIS,
2018, p.2)

A humanidade existe porque, até o momento, o homem encontrou motivos suficientes para
permanecer vivo. Alguns deles, porém decidiram que não valia mais a pena viver esta vida e
preferiram partir por vontade própria, antes de ser tragados pela doença, a velhice, a guerra...
e muitos outros consideraram que a morte voluntária, gesto especificamente humano, era a
prova suprema de liberdade, a de decidir eles mesmo se viviam ou morriam. Diante dessa
escolha, devemos nos perguntar, como Raymond Aron: “Dar-se a morte é capitular diante da
provação, ou adquirir o controle supremo, o controle do homem sobre a própria vida?
(MINOIS, 2018, p. 3)

O próprio termo “suicidio”, que aparece pouco antes de 1700 e substitui a expressão, até
então utilizada, “morte de si mesmo”, é um sinal dessa evolução. As resistências por parte das
autoridades não desapareceram, é claro, mas pouco a pouco, entre os séculos XVI e XVIII, a
pergunta passa a ser formulada em público, e alguns ousam reivindicar a liberdade de que
cada pessoa possa responder por ela, o que força os poderes públicos a mudar sua atitude. É
essa mudança crucial nas mentalidades ocidentais, à qual se deu pouquíssima atenção até o
momento, que gostaríamos de examinar. (MINOIS, 2018, p. 4)

Uma das explicações psicológicas clássicas do suicidio é que, na maioria dos casos, o indivíduo
volta contra si mesmo uma agressividade que ele não pode liberar contra os outros nas
sociedades civilizadas. (MINOIS, 2018, p. 11)

O suicidio continua representando, é verdade, um fracasso, sejam quais forem os motivos ou


as circunstâncias: as pessoas se matam por causa de um amor impossível, por excesso de
mágoa, por remorso, pela vontade de evitar a humilhação da derrota, em suma, porque foram
vencidas e não conseguem suportar a derrota (MINOIS, 2018, p. 14)

Todos os suicídios representam, é claro, atitudes fracassadas, e é possível concordar com Jean-
Claude Schmitt que, “também na literatura, o suicidio era um gesto funesto por excelência,
que só podia ser ditado por uma dor insuportável”. Mas, em todas essas obras aristocráticas,
ele aparece como um gesto heroico e admirável, que se evita condenar. Os heróis fazem o
sacrifício supremo, único meio de redimir a culpa vergonhosa ou de superar um obstáculo
humanamente insuperável. Através do suicidio, eles superam a condição mortal e se elevem
acima do comum dos mortais. (MINOIS, 2018, p.17)

Mais do que o gesto, é a personalidade e motivação do suicida eu importam. Tanto no


romance como na vida, o camponês que se enforca para escapar da miséria é um covarde cujo
corpo tem de ser supliciado e cuja alma vai para o inferno; o cavaleiro impetuoso que prefere
a morte no campo de batalha à rendição é um herói ao qual se prestam honrarias civis e
religiosas. Não encontramos, na idade média, um único caso de processo contra o cadáver de
um nobre que tenha morrido de morte voluntária. (MINOIS, 2018, P. 17)

O suicidio na Idade Média tem duas faces. Ele parece servir de modo quase exclusivo aos
plebeus e poupar os nobres, pois comportamentos de substituição lhes evitam o “homicídio de
si mesmo”: o torneio, a caça, a guerra e a cruzada são ocasiões para se fazer matar ou para
sublimar tendências suicidas, ao passo que o camponês e o artesão só dispõe da corda ou do
afogamento para pôr fim aos seus sofrimentos. (MINOIS, 2018, p.17)

Essa diferença também está presente no direito e na moral. O suicidio do nobre ou é do tipo
altruísta, quando ele se sacrifica pela causa que defende, ou é provocado pelo amor, pela
cólera ou pela loucura: nos dois casos, é justificável. De todo modo, é um suicidio ligado à
função social do nobre: quer se trata do suicidio guerreiro ou amoroso, ele compromete o
círculo mais próximo do personagem, diluindo, portanto, a responsabilidade desse último.
Gesto social, o suicidio do nobre, é de certa maneira, honroso. O suicídio do homem rude é um
gesto isolado, de uma pessoa egoísta e covarde: ele foge de suas responsabilidades, indo se
enforcar às escondidas: é motivado pelo desespero, defeito fatal que lhe é inoculado pelo
diabo. O nobre enfrenta suas responsabilidades até a morte gloriosa. (MINOIS, 2018, 18)

A idade média apresenta, portanto, uma visão matizada do suicidio, muito distante de uma
condenação monolítica. Mais do que o próprio gesto, são os motivos, a personalidade e a
origem social do suicida que importam. É bem verdade que a doutrina e o direito são muito
rigorosos, mas sua aplicação é marcada por uma flexibilidade surpreendente. A condenação de
princípios do suicidio na civilização cristã não é nem evidente nem original. As fontes religiosas
do cristianismo são, na verdade, omissas, ou melhor ambíguas, a esse respeito. (MINOIS, 2018,
p. 21)

O importante é constatar que o mundo judeu, saído diretamente do antigo testamento, não
tem uma posição definida em relação aos suicidio, e isso, na segunda metade do século I, no
momento em que ocorre a separação do cristianismo. Todos os argumentos favoráveis e
contrários são apresentados por Flávio Josefo. Moralistas, teólogos e filósofos não
acrescentarão quase nada até o século XX. São as circunstâncias históricas que farão pender a
balança orado lado da indulgência, ora do lado do rigor, pois nenhum argumento peremptório
poder ser extraído dos textos bíblicos, nem a favor, nem contra o suicidio. (MINOIS, 2018, p.
26)

Porém, a morte cristã tem de ser um testemunho de fidelidade a Deus. Portanto, ela não deve
ser buscada por si mesma ou por motivo de desespero. A morte feliz do mártir contrasta com a
morte desesperada do pecador (MINOIS, 2018, p.29)
A vida é detestável, mas é preciso suportá-la; a morte é desejável, mas não podemos busca-la:
esse é o difícil exercício no qual deve repousar a vida cristã. (MINOIS, 2018, p. 30)

A igreja, cujas propriedades fundiárias aumentam de maneira considerável, não busca, de


maneira nenhuma, a emancipação dos colonos ou escravos. A vida desses homens pertence ao
seu senhor: em 452, o concílio de Arles condena o suicídio de todos os famuli, isto, os escravos
e os criados. O criado que se mata rouba seu senhor, que é seu proprietário: seu gesto é
equiparado a uma rebelião, e diz-se que ele mesmo foi “tomado por um furor diabólico” em
533, o concílio de Orléans, homologando o direito romano, proíbe as oblações aos suspeitos
que se matam antes de ser julgados. Portanto, o arsenal repressivo e dissuasivo contra o
suicidio é posto gradualmente em prática. A pressão da situação econômica, social e política se
sobrepõe à moral, transformando o suicídio em um crime contra Deus, contra a natureza e
contra a sociedade. (MINOIS, 2018, p. 34)

O suicidio por desespero é o mais condenável de todos (MINOIS, 2018, p.35)

Nas duas esferas, a proibição do suicídio acompanha o recuo da liberdade humana: o homem
perde o direito fundamental de dispor de sua própria pessoa, em proveito da igreja, que tem
um controle total sobre a vida da pessoa e retira sua força do número de fiéis, e em proveito
dos senhores, alguns dos quais são eclesiásticos, que precisam conservar e aumentar sua mão
de obra, em um mundo subpovoado no qual a fome e as epidemias comprometem
regularmente a valorização das propriedades. (MINOIS, 2018, p. 36)

A Idade Média exclui a possibilidade daquilo que se chamará no século XVIII de “suicídio
filosófico”, É inconcebível então que uma pessoa de mente saudável possa considerar com
frieza que a vida não vale a pena ser vivida (MINOIS ,2018, p.45)

O suicidio comum na Idade Média diz respeito, antes de mais nada, ao mundo dos laboratores,
os trabalhadores. São os camponeses e os artesãos que buscam a morte, em geral depois de
uma piora brutal em suas condições de vida. Os bellatores, os guerreiros e os nobres, não
procuram a morte diretamente, os oratores, o clero, o fazem às vezes, mas a explicação é
sempre a loucura, e os corpos não são justiçados. O suicidio inferior, o suicidio mesquinho,
egoísta, o suicídio do covarde que foge das provações é sempre o da pessoas rude, do vilão, do
trabalhador manual, do artesão. E isso contribui bastante para o descrédito do ato. (MINOIS,
2018, p.49)

Além disso, a literatura reconhece a grandeza dos suicídios por amor e pela honra, e a
nobreza, tinha seus próprios substitutos do suicidio direto. (MINOIS, 2018, p. 49)

Será que a morte voluntária de tantos personagens tão respeitáveis pode ser qualificada
indistintamente de covardia indigna que leva à condenação eterna? (MINOIS, 2018, p. 52)

Desde a época mais remota, o pensamento grego formulou a questão fundamental do suicídio
filosófico. Os cirenaicos, os cínicos, os epicuristas e os estoicos reconhecem, todos, o valor
supremo do indivíduo, cuja liberdade reside na capacidade de decidir ele mesmo a respeito de
sua vida e de sua morte. Para eles, a vida só merece ser conservada se for um bem, isto é, se
estiver de acordo com a razão e a dignidade humana, e se gerar mais satisfação que
sofrimento. Caso contrário, é uma loucura preservá-la. (MINOIS, 2018, p. 53)

Restam os dois gigantes do pensamento grego que mais marcaram o pensamento ocidental,
em sentidos muitas vezes opostos: Platão e Aristóteles. Ao contrário das correntes
precedentes, eles consideram o homem antes de tudo um ser social, inserido em uma
comunidade. Portanto, o indivíduo não deve raciocinar em função de seu interesse pessoal,
mas levar em conta seu respeito pela divindade que o pôs em seu lugar (Platão) e pela Cidade
onde tem um papel a cumprir (Aristóteles). (MINOIS, 2018, Pp. 54-55)

A posição de Platão é mais flexível e indefinida, como se ele hesitasse. Sua reflexão sobre a
morte voluntária foi deturpada, com o objetivo de ser reciclada, pelos pensadores cristãos,
mas é bastante matizada. Em uma passagem das Leis, truncada pelos adversários do suicídio,
Platão declara que se dever recusar a sepultura pública a quem tiver se matado, o qual, por
meio de violência, priva o Destino da sorte que lhe cabe...” Ele deveria ser enterrado no
anonimato em um lugar isolado, sem nenhuma lápide. No entanto, Platão deixa claro que isso
não se aplica a quem se matou “por causa de uma sentença proveniente da Cidade, nem pelos
sofrimentos agudos de uma doença ocasional de cujo ataque ele não conseguiu escapar, nem
tampouco porque o destino que lhe cabe é de uma ignomínia sem fim e inviável”. Existem,
portanto, três exceções importantes: a condenação (caso de Sócrates), a doença muito
dolorosa e incurável e um destino miserável, que pode abranger inúmeras situações, da
penúria à humilhação. No mesmo dialogo, Platão declara, a propósito dos ladrões de templos:
se você não consegue curar suas tendências nocivas, “assim que concluir que a morte é a
melhor saída, livre-se da vida”. (MINOIS, 2018, p. 55)

Ao contrário da mensagem platônica cheia de ambiguidades, a mensagem de Aristóteles é


marcada por uma brutalidade marcial: o suicídio é totalmente condenável porque é uma
injustiça cometida contra si mesmo e contra a Cidade, porque é um gesto de covardia diante
de nossas responsabilidades, porque se opõe à virtude. Devemos permanecerem nosso lugar e
enfrentar a vicissitudes da vida com serenidade. No entanto, ao mesmo tempo, Aristóteles
declara na Ética que o magnânimo “não é guardião de sua vida, pois ele pensa que a vida não
deve ser mantida a qualquer preço” (MINOIS, 2018, p. 56)

O caráter particularmente trágico desse gênero de morte, que parece desafiar o destino e a
natureza, também gera uma inquietação a propósito do cadáver, que, possuído por espíritos
malignos, poderia vir incomodar os vivos. É por isso que se observa, em todas as sociedades
primitivas, a realização de rituais destinados a imobilizar o corpo do defunto e a mutilá-lo, a
fim de torna-lo impotente. (MINOIS, 2018, p.57)

A tradição do suicídio por amor é, com certeza, um dos fundamentos do romance cortês, e
Boccaccio menciona outros tantos em Decameron; contudo, a partir de então os exemplos
históricos assumem o lugar das histórias romanescas, o que lhes ajuda conferir um valor moral
(MINOIS, 2018, Pp. 77-78)

Exaltado nesse caso pela beleza do gesto e do sentimento, o suicídio tem, portanto, um valor
moral positivo quando é provocado por motivos nobres. Verdadeiro manual de conduta nobre
renascentista, O cortesão consagra a passagem do suicídio da esfera romanesca para a vida
aristocrática real. (MINOIS, 2018, p. 78)
A morte por enforcamento é sempre desonrosa, e o suicídio por espada, nobre. (MINOIS,
2018, p. 79)

Jamais a tentação básica do suicídio havia sido expressada com tanta sinceridade. Hamlet é
Shakespeare? Pouco importa, pois, para além do indivíduo Shakespeare, o que conta é que a
pergunta tenha sido formulada, e que seu eco extraordinário não tenha parado de ressoar até
os dias de hoje. Hamlet é um ator: todos nós somos atores; ele se encontra entre a loucura e a
lucidez: esse é o destino de todos. Sua questão é a questão do ser humano. (MINOIS, 2018,
p.106)

A tentação do suicídio em Hamlet é a expressão mais acabada de uma preocupação que marca
o pensamento inglês e europeu durante os anos 1580-1620. Em quarenta anos, o teatro inglês
encena mais de duzentos suicídios em uma centena de peças: esse número revela por si só um
“fenômeno social”, uma atração feita ao mesmo tempo de curiosidade e de inquietação por
parte do público. Os espectadores do final do século XVI e início do século XVII adoram mortes
voluntárias. (MINOIS, 2018, P. 107)

...o suicídio não é uma questão de moral abstrata a respeito do qual podemos discutir em
termos absolutos para chegar a conclusões universais; é uma questão de moral em situação. É
uma solução que se apresenta a um indivíduo confrontado com um contexto difícil cujas
dimensões totais só ele pode avaliar, no mais fundo dos eu ser... A pessoa só pode tomar uma
decisão quando ela mesma se vê confrontada à situação... (MINOIS, 2018, p.111)

Tema de reflexão filosófica, de pesquisas médicas e psicológicas, o problema do “ser ou não


ser” também invade a literatura entre 1580 e 1620. As pessoas se suicidam em um ritmo
acelerado dos romances, nas poesias e nas cenas de teatro, onde a ficção permite contornar as
condenações oficiais. Duas lições podem ser tiradas dessa enxurrada imaginária de mortes
voluntárias: a popularidade do tema e a ausência de reprovação por parte dos autores em
relação a esse ato. Nenhuma lição de moral é tirada dessas obras para condenar o suicídio,
que é cometido tanto pelos bons como pelos maus, e que, de acordo com os motivos e
circunstâncias, ora é um gesto admirável, ora é um gesto covarde. (MINOIS, 2018, p.125)

Não conheço um único caso em que o suicidio de um personagem o torne malquisto. (MINOIS,
2018, p.125)

O romance permite representar livremente os problemas, e o simples fato de apresenta-los


equivale a contestar a moral tradicional. (MINOIS, 2018, p.127)

Romances e poesias medievais também põe em cena suicídios, em geral apresentados como
atos heroicos no contexto de uma moral cavalheiresca, mas sem comentários. A novidade é
que os romancistas dos anos 1580 e 1620 organizam verdadeiras discussões escolásticas
dentre de suas obras, contrapondo os argumentos favoráveis e contrários ao suicídio de seus
heróis. Sem falar de uma verdadeira moda, podemos concluir que doravante a questão passa a
interessar autores e leitores. Ela faz parte, visivelmente, dos casos de consciência debatidos
com frequência. E se discute a legitimidade do suicídio, é porque, a despeito da condenação
maciça das autoridades políticas e religiosas, a dúvida se instalou. (MINOIS, 2018, P. 128)

Os motivos sofrem uma certa evolução: se durante todo esse período o amor continua sendo o
principal motivo para se matar, a honra vai dando lugar aos poucos ao remorso, enquanto o
desespero medieval fica apenas em quarto lugar, e ganha terreno um motivo socioeconômico,
relacionado a ascensão do capitalismo: o suicídio provocado pela ruína. (MINOIS, 2018, p.129)
Os autores não dão opinião, embora apresentem o suicídio sob uma ótica favorável, como um
ato admirável, sem fazer referência à moral tradicional: tudo é uma questão de circunstância,
motivos, critérios estéticos. Aliás, a predominância esmagadora do suicídio com arma branca é
sinal de sua nobreza. O enforcamento, o afogamento e o envenenamento são raros. (MINOIS,
2018, p.130)

Shakespeare não é um moralista, e sim um observador da condição humana. Ele não faz
apologia do suicídio, e uma das suas observações mais penetrantes é justamente a oposição
entre o falar e o agir. Hamlet, o personagem que mais fala em se suicidar, não se suicida.
Aqueles que o matam fazem rápido e sem discurso. (MINOIS, 2018, p. 131)

É aí que Shakespeare vai muito mais longe que seus contemporâneos e assume um dimensão
atemporal. A única lição que ele dá é uma lição de humildade, desmistificando todos os
saberes, denunciando todas as certezas. (MINOIS, 2018, p.131)

Nenhuma interpretação deve ser descartada a priori, mas se aproximarmos o suicídio


fracassado de Gloucester do não suicídio de Hamlet, dos suicídios equivocados de Romeu e
Julieta, do mal-entendido que esteve na origem do suicídio de Otelo, dos suicídios após
fracassos dos políticos ilustres de outrora, percebemos que a verdadeira questão apresentada
por Shakespeare é: será que o suicídio tem sentido? O cego e irresponsável Gloucester,
conduzido pelo louco a um suicídio fracassado, decide continuar vivo: é a tragédia da falta de
sentido. A resposta à pergunta de Hamlet, ser ou não ser?, não seria que essa pergunta não faz
sentido? (MINOIS, 2018, p. 134)

O sucesso dos debates sobre o suicídio, que também é tema das conversas na corte e nos
salões da elite, é sintomático de uma crise de consciência cultural. A passagem escolástica à
razão analítica, do mundo fechado ao universo infinito, do humanismo à ciência moderna, do
mundo das propriedades à linguagem matemática, da verdade imutável à dúvida sistemática,
da certeza ao questionamento crítico, da unidade cristã à divisão entre confissões rivais, não
pode ocorrer sem que o sistema de valores seja profundamente=te abalado. Período de
transição e de transformação na direção do espírito moderno, os anos 1580-1620 assistem ao
surgimento de rupturas habituais dos tempos de crise: uma parcela da elite, entusiasmada, se
lança sofregamente na direção do novo mundo; outra parcela junto com os responsáveis
políticos e religiosos, se refugia nos valores tradicionais, transformados em absolutos
atemporais, enquanto a maioria assiste, desorientada e preocupada, a esses enfrentamentos,
pronta a se unir ao mais forte. Por ocasião de cada uma dessas crises, o relativismo moral
avança em um primeiro momento, o que se traduz sobretudo em um questionamento das
normas, que aumenta a distância da linguagem dos censores, das autoridades e dos
responsáveis pela moral pública, os quais são levados a endurecer o tom. (MINOIS,
2018,Pp.134-135)

Nesses novos enfrentamentos sem saída, só existem vencidos, e a morte é, na maioria das
vezes, a única solução, tanto para os heróis como para os outros – mais para os heróis do que
para os outros. As pessoas medíocres e de segunda classe sempre fazem um acordo para
continuar vivas. (MINOIS, 2018, p.135)
As tragédias shakespearianas e as tragédias cornelianas, tão diferentes na forma e tão
semelhantes no conteúdo, são mecanismos de morte cuja saída fatal é percebida desde o
começo como inevitável. A importância das peças com temática suicida é a marca das épocas
de conflitos e valores. (MINOIS, 2018, p,135)

O suicídio literário e teatral, quando atinge a frequência e as proporções conhecidas entre


1580 e 1620, assume, decerto, um papel de terapia social, além de ajudar um geração
desorientada a atravessar um período difícil por meio da redução de suicídios de verdade.
Veremos que a casuística, que floresce nesses tempos de conflitos de valores, e a
espiritualidade da aniquilação, que, sob muitos aspectos, é seu contrário, tem função
semelhante. (MINOIS, 2018, P.136)

Quem prefere partir rumo ao desconhecido da morte mostra que não tem nenhuma confiança
nas teorias, nas ideologias, nas crenças, nos projetos e nas promessas dos dirigentes de todos
os quadrantes. Só resta a estes fazê-los passar por louco, o que afasta qualquer possibilidade:
a dos suicidas, mas também, e talvez principalmente, a dos vivos. Até mesmo os sistemas mais
liberais se recusam a admitir o suicídio, a tolerar a liberdade de expressão sobre o assunto. O
suicídio talvez seja o último grande tabu da humanidade. Os dirigentes religiosos e políticos do
início do século XVII, que tentam retomar o controle cultural global em uma Europa
perturbada por sua crise de consciência, não podem permitir que se desenvolva um debate
sobre o suicídio. Deve-se aceitar a vida tal como ela se apresenta, e tal como os dirigentes a
concebem. Para aqueles que se sentissem tentados a fugir, existe a repressão e os derivativos,
como o suicídio espiritual. Submissão ás autoridades no mundo, ou retiro espiritual para fora
do mundo. Essa é a escolha que o Grande século oferece ás almas melancólicas. (MINOIS,
2018, p.141)

A fim de evitar os desvios, é realizado um imenso trabalho de codificação em todas as esferas:


das regras gramaticais e ortográficas à etiqueta da corte, passando pelas três unidades do
teatro, pelos códigos comerciais e pela casuísticas refinada dos problemas de consciência.
Tudo é previsto e tarifado. Depois da exuberância plena de quietude do Renascimento, o rigor
impassível da era clássica. Um mundo no qual não se deve mais fazer perguntas, pois as
respostas são elaboradas de antemão: basta ver os catecismos do início dos séculos. Um
mundo de certezas, da estabilidade e da imobilidade. Quando se dúvida, como Descartes, isso
não passa de um simulacro, um método para afirmar com uma certeza ainda maior as
evidências deste mundo. Até mesmo o além já não tem mistérios: os teólogos desvendam
todos os seus segredos. Após a morte, tudo é acertado como em uma cerimônia real ou em
um processo criminal, e cada um pode consultar desde a tarifa da penas que o levarão
automaticamente ao inferno ou purgatório. (MINOIS: 2018, p. 144)

Cada coisa e cada pessoa em seu lugar, em uma harmonia estática; a perfeição reside na
imobilidade. Enquadrado, guiado e vigiado, o indivíduo não precisa mais fazer perguntas nem
se preocupar. Tudo está previsto, até sua eternidade, o que deveria tranquiliza-lo. Desse ponto
de vista, o bom andamento do conjunto só pode ser garantido se cada um ocupar o lugar que
lhe foi reservado. A falta mais grave é querer sair de sua condição, o que equivale a contestar a
ordem monárquica e divina recusando o papel que foi atribuído a cada pessoa e
demonstrando sua insatisfação diante da Providência. Ora, a principal dádiva da Providência
não é a vida? Recusar esse dom é cometer a ofensa suprema contra Deus. Também é desertar
de seu posto na comunidade familiar humana, uma afronta a moral e ao Estado. ( MINOIS:
2018, p.144)

A condenação dos teólogos e global e unânime. Quanto ao princípio, não há nada a


acrescentar à doutrina de Santo Agostinho, cujo prestígio também aumenta nessa época. A
novidade é a evolução da casuística, que deve muito aos jesuítas e é um dos aspectos típicos
de uma civilização que procura munir os fiéis e os súditos de uma guia ou manual de utilização
da vida que não deixe qualquer margem de hesitação. A casuística é o antídoto contra a
dúvida, as preocupações e os problemas de consciência. É remédio para a inquietude causada
pela indefinição e incerteza dos grandes princípios. É o guarda-corpo que protege contra as
armadilhas da moral. É o fim da busca pessoal, da autonomia do fiel diante de sua consciência;
entramos em um mundo totalmente balizado, onde tudo foi previsto, mesmo as situações
mais extravagantes. Uma gigantesca operação de secularização e, ao mesmo tempo, de
ordenamento mental. Ao prever a conduta que se deve ter em todas as circunstâncias, a
casuística ao mesmo tempo tranquiliza e aprisiona. Nisso ela com certeza é filha da grande
retomada do controle cultural que começa a partir do final do século XVI (MINOIS: 2018, p.
145)

As pessoas não se matam ao ritmo dos tratados de teologia, de moral ou de direito, mas ao
ritmo dos sofrimentos, dos temores e das frustrações (MINOIS: 2018, p. 183)

...as pessoas continuam a buscar a morte ao ritmo das desgraças, das tristezas, dos
sofrimentos, das frustrações, dos remorsos e das desonras. O que podem as ameaças de
inferno quando se acredita que a vida é o pior inferno? O suicídio desaparecera quando
desaparecerem suas causas, ou seja, quanto a Terra for um paraíso e a felicidade reinar
absoluta. (MINOIS: 2018, p.191)

Nessas histórias nobres, o suicídio é um dever moral de todos os personagens que se


encontram diante de um impasse. A proibição cristã é evocada com mais frequência do que no
teatro, porém, ou para desculpar alguns personagens por continuarem vivos enquanto a
nobreza os obrigaria a morrer, ou para descarta-las educadamente em proveito de uma
decisão heroica, ou ainda, para mostrar que a misericórdia divina decerto perdoará o heroi
infeliz. (MINOIS: 2018, p. 194)

O mundo romanesco ilustra perfeitamente a concepção da dupla moral, já aceita de modo


tácito na sociedade do Antigo Regime. De um lado uma moral ordinária, estrita e minuciosa,
para o povo, que deve ser guiado controlado, vigiado; incapaz de pensar sozinho, ele deve ser
mantido dentro dos limites estreitos, para evitar excessos. Do outro uma moral aristocrática,
acima das proibições ordinárias, para as “almas bem nascidas” cuja grandeza de espírito e
capaz de discernir, em cada caso particular, os limites do bem e do mal; imbuída de propósitos
nobres, sua conduta transcende as proibições ordinárias, pois esses seres agem em função de
motivos superiores, incompreensíveis para a massa vulgar. Mas ainda do que na vida real,
existem no romance dois tipos de suicídio: o do camponês que se enforca para pôr fim à sua
miséria é um ato repreensível de reles covardia; o do nobre que se trespassa com a espada
pelos belos olhos de uma marquesa é um ato heroico digno de uma alma superior e quem nem
Deus seria capaz de punir (MINOIS: 2018, p. 194)

Ora, com dissemos, a literatura exalta o suicídio, muitas vezes apresentado como um ato
nobre e heroico. Os moralistas cristão denunciam há muito tempo a influência perniciosa
dessas intrigas imaginárias. (MINOIS: 2018, p. 303)
Na consciência coletiva, o suicídio é um tabu tão importante quanto o incesto. Bater de frente
com essa proibição é correr o risco de ser marginalizado pelas autoridades e por boa parcela
da sociedade. (MINOIS: 2018, p.314)

O suicídio filosófico não existe. Aqueles que invocam princípios nobres para justificar seu ato
apenas mascaram, de maneira consciente e inconsciente, o sofrimento moral ou físico... Livros
e mais livros de apologia ao suicídio não provocarão uma única morte suplementar se ninguém
tiver bons motivos para se matar. Por outro lado, seria muito melhor se as pessoas
aprendessem a não ter medo da morte. É na exploração desse sentimento que se baseiam
todas as tiranias e todas as situações de injustiça. Só é livre quem não tem medo da morte
(MINOIS: 2018, p.318)

O suicídio filosófico, qualquer que seja a realidade que encobre, muitas vezes está ligado à
ideia do Iluminismo e da liberdade soberana do homem racional, que pode deixar a vida se ela
se tornar um fardo para ele. (MINOIS: 2018, p. 330)

Do suicídio filosófico ao suicídio romântico, a distância é mais curta do que parece. Em tese, o
primeiro é motivado por uma reflexão intelectual e o segundo por um sentimento. Na
verdade, ninguém se mata por puro raciocínio; apenas uma máquina é capaz de se
autodestruir ao cabo de uma avaliação. Ninguém tão pouco se mata por um puro movimento
passional, a não ser que se trate de uma simples loucura... a consciência da dificuldade da vida
reforça a constatação de que condição humana é absurda (MINOIS; 2018, p. 331)

A repercussão do romance é sintomática da sensibilidade ambiente, Werther não cria uma


moda; é a expressão de uma clima ao qual ele dá uma forma. Os debates sobre o suicídio
tinham sensibilizado amplamente os círculos cultos desde meados dos séculos...Werther chega
no momento em que as paixões sobre a legitimidade da morte voluntária estão se
exacerbando. A história desse amor impossível entre um jovem e uma esposa casta que
termina em um comovente suicídio representa a união plena da vaga vertigem das paixões
primordiais: o amor, a morte e a incomunicabilidade irremediável entre as pessoas. A
sensualidade contida, a virtude, o destino implacável, a juventude e a morte: tudo o que
agitava as sensibilidades no final do Antigo Regime encontrava coroamento em uma expressão
poética e melancólica em Werther, cujas palavras a juventude europeia vai aprender como os
outros tinham aprendido as de Hamlet. (MINOIS: 2018, p. 334)

A acusação, obviamente, é ridícula: Goethe escreveu um romance, não uma apologia do


suicídio. Torná-lo responsável pela morte voluntária de todos esses jovens é acusar toda a
literatura. Milhares de romances relatavam suicídios há séculos sem atrair a cólera de
moralistas. Se as reações a Werther são tão explosivas é porque muitos têm a impressão de
que o suicídio se tornou um “fenômeno social”, um temível flagelo com o qual não se tem o
direito de brincar. (MINOIS: 2018, p. 335)

Os suicidas filosóficos vão para o nada, os suicidas românticos vão para o céu e os suicidas
comuns vão para o inferno. (MINOIS: 2018, p. 346)

Na Inglaterra o suicidio só deixa de ser considerado crime em 1961 ( página 371)

No século XVI, o suicídio era uma questão entre o diabo e o pecado; era uma problema apenas
de moral religiosa, sancionado pelas autoridades civis e eclesiásticas. Embora não tenha
desaparecido por completo, no fim do período iluminista essa concepção deu lugar, em grande
medida, a uma concepção secularizada na qual o suicídio é visto como um problema entre a
sociedade e a psicologia individual. A responsabilidade do indivíduo se dilui em um conjunto
complexo e transforma o “criminoso” em vítima: vítima de sua psicologia cerebral, vítima das
desgraças que atingem seus familiares, vítimas do comportamento dos mais próximos que
contraria suas relações afetivas ou sua sensibilidade, vítima de uma organização política social
que conduz à miséria e ao desespero. (MINOIS: 2018, p. 376)

Na primeira metade do século XIX o suicidio é considerado uma forma de loucura página 398

Portanto, para onde quer que nos voltemos, o suicídio é um tabu que é preciso ainda envolver
me silêncio. Afronta a Deus, depravação moral de uma pessoa que não respeita os valores
estabelecidos, debilidade mental, tragédia ligada à anarquia libertária e ao materialismo, ou a
um excesso de beatismo – em todo caso, doença da mente, da consciência de da sociedade -,
o suicídio é reprimido juntamente com todos os outros interditos sociais. (MINOIS: 2018, p.
399)

Desse modo, o século XIX anulou, em grande medida, o resultados das reflexões realizadas do
Renascimento ao Iluminismo. O Renascimento apresentara a questão: ser ou não ser; o século
XVII tentara abafá-la produzindo substitutos para ela, e o século XVIII tinha aberto o debate,
que mostrara que o suicídio tinha motivos diversos. No século XIX o debate é encerrado: ser ou
não ser é uma questão inconveniente, inoportuna e chocante. Portanto, silêncio. Sim, o
suicídio existe, as estatísticas o comprovam amplamente, porém, se é possível tentar explicar
suas origens, legitimá-lo está fora de questão. O suicídio é uma doença mental, física e social.
Pelo menos quanto a isso as autoridades políticas, religiosas e morais estão de acordo.
(MINOIS: 2018, p. 400)

Fragilidade, covardia, loucura, perversão: o suicídio é tudo menos uma manifestação da


liberdade humana, o que os mais audaciosos pensadores entre os séculos XVI e XVIII tinham
procurado sugerir. Eles tiveram a ilusão de pensar que Lucrécio, Catão, Sêneca talvez fossem
dignos de admiração. Delírios como esses não tem mais cabimento. O parênteses se fechou; a
ciência do século XX não questionaram essa postura. ( MINOIS: 2018, p. 400)

Contrastado com o silêncio constrangedor que se instaura em torno do suicídio, surge uma
vasta literatura especializada nos séculos XIX e XX: milhares de títulos lançados até hoje, entre
artigos, comunicados em colóquios e livros. Quanto mais escondemos os suicídios concretos,
mais falamos do suicídio abstrato, um sinal de que a morte voluntária continua incomodando.
A questão de Hamlet não para de renascer das cinzas. As ciências humanas e a medicina
tentam explicar esse comportamento desconcertante e intrigante. O suicídio horroriza, ao
mesmo tempo que continua sendo a solução definitiva ao alcance de todos, que nenhuma lei,
nenhum poder do mundo consegue proibir. (MINOIS: 2018, p. 400)

É justamente essa questão que havia sido levantada por um certo número de pensadores por
ocasião das crises de consciência europeia entre os séculos XVI e XVIII. De Montaigne a Hume,
eles não tinham demonstrado que o ser humano não pode evitar a questão do “ser ou não
ser”, pois ela está no centro de toda existência verdadeiramente humana e digna? Longe de
incitar ao suicídio, essa pergunta estimula a mente humana a aprofundar o sentido da vida,
com o risco de pôr em destaque o sentimento absurdo. Não é o risco que faz, em parte, a
grandeza da humanidade? (MINOIS: 2018, p. 404)
Os séculos XVI, XVII e XVIII iniciaram a discussão que apresenta a liberdade humana. Ao abafar
o debate, os séculos XIX e XX censuraram a liberdade fundamental ao mesmo tempo que
impuseram o dever de viver, estimulando-o por meio de explicações sobrenaturais e
ideológicas. O recuo dessas explicações gerais deveriam permitir a retomada do debate
interrompido no fim do Iluminismo. (MINOIS: 2018, p. 405)

Durante os períodos de crise de consciência, o volume de dúvidas chega a abalar as certezas,


que resistem e utilizam a força para abafar as perguntas. Pois os responsáveis e os dirigentes
políticos e religiosos são contrários ás dúvidas. Se governar é prever, também é saber. Não se
dirige com dúvidas, mas com certezas. Em nome de que se poderia governar pessoas que nem
mesmo têm a certeza de que devem continuar vivas? Que ascendência se terá sobre súditos
ou cidadãos que têm toda a liberdade de morrer ao seu bel-prazer? Como lhes inspirar
confiança se alguns deles demonstram a cada dia sua desconfiança e seu despreparo ao
preferir a morte à vida. (MINOIS: 2018, p. 407)

A questão da liberdade que cada um tem sobre a própria vida ressurge, no entanto, quando,
em consequência de crises profundas, os valores tradicionais são questionados. É o que
acontece a partir do renascimento, pela primeira vez desde a vitória do cristianismo e da
implantação da cristandade medieval. A pergunta de Hamlet traduz o mal-estar ligado ao
nascimento da modernidade. (MINOIS: 2018, p. 407)

É preciso esperar o período contemporâneo, com uma nova crise da consciência europeia,
cujos valores incontestáveis são novamente subvertidos, para que se faça de novo a antiga
pergunta. As filosofias do absurdo certamente devem ter pensado nela. Curiosamente, elas
rejeitaram a solução da morte voluntária qualificada por Jean-Paul Sartre de abandono total da
liberdade, e por Karl Jaspers de “gesto intransigente de desrespeito à vida” Albert Camus, por
sua vez, recusa o suicídio. Hoje, quando os intelectuais demonstram menos interesse pelo
assunto do que no século XVIII, o debate reaparece pressionado pelas estatísticas. É que a
ruína das crenças e das ideologias coloca um número cada mais maior de indivíduos em uma
situação de desespero. (MINOIS: 2018, p. 408)

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