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(ENEM 2010)

Nível: médio
A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores; a
lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua
data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras
devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está
amanhecendo.
FOUCAULT, M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In: Em defesa da sociedade.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao
poder e à organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na
organização das sociedades modernas é
a)combater ações violentas na guerra entre as nações.
b)coagir e servir para refrear a agressividade humana.
c)criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma
nação.
d)estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países
inimigos.
e)organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados.

COMENTÁRIO:
De acordo com Michel Foucault, as relações humanas se dão através de relações de
poder, em que o ordenamento de forças é que estabelece uma organização das
sociedades. É importante ressaltar que, para Michel Foucault, o poder não é estático, ou
seja, de cima para baixo. Não acredita em poder puro e simples, mas em relações de
poder que pode ser utilizado como forma de diálogo de indivíduos em uma sociedade.

(ENEM 2011)

O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas
vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos
padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do
que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto).

O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui


uma ambiguidade inerente ao humano, porque as normas morais são

A) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.

B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.


C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las
integralmente.

D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter

E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar as normas


jurídicas.

2. D

Resolução passo-a-passo:
a) As normas morais são fruto do pensamento de cada comunidade.
b) A moral é um padrão de conduta coletiva que deve existir na teoria e na prática.
c) As normas morais têm um caráter restritivo, uma vez que funcionam como um
conjunto de regras.
d) as normas morais foram criadas pelos homens e todos devem submeter-se a elas
para que possam ter uma convivência equilibrada.
e) O cumprimento das normas morais é um dever de todos

(Enem/2012)
TEXTO I

Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu
e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata,
transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-
se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A
água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao
máximo possível, transforma-se em pedras.

BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).

TEXTO II

Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está
no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em
face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o
mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos
átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem ancorar o
mundo numa teia de aranha.”

GILSON, E.: BOEHNER, P. Historia da Filosofia Crista. São Paulo: Vozes, 1991
(adaptado).

Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do
universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego
antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que

a) eram baseadas nas ciências da natureza.

b) refutavam as teorias de filósofos da religião.


c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.

d) postulavam um princípio originário para o mundo.

e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.

COMENTÁRIO:

Alternativa correta:

d) postulavam um princípio originário para o mundo. A pergunta sobre a origem de todas


as coisas é uma questão que moveu a filosofia desde seu nascimento na Grécia antiga.
Na tentativa de abandono do pensamento mítico fundamentado em imagens e
fabulações, buscou-se uma explicação lógica e racional para o princípio originário do
mundo.

As outras alternativas estão erradas porque:

a) O pensamento grego busca a compreensão da natureza para explicar a origem do


mundo. Entretanto, o princípio estabelecido por Basílio Magno é fundamentado na
ideia de Deus.
b) O filósofo Basílio Magno era teólogo e um filósofo da religião.
c) O pensamento filosófico nasce da refutação (recusa, negação) dos mitos.
d) CORRETA
e) Apenas Basílio Magno defende que Deus é o princípio de todas as coisas. Para
Anaxímenes, o elemento primordial (arché) gerador de tudo o que existe é o Ar.

(Enem 2012)

TEXTO I

Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca


se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.

DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

TEXTO II Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo
empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão
deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial,
isso servirá para confirmar nossa suspeita.

HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).

Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento


humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume:

a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento


legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão
filosófica e crítica.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos
sentidos.
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do
conhecimento.

COMENTÁRIO:

Alternativa correta:

e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do


conhecimento. Descartes e Hume são representantes de correntes de pensamento
opostos. Enquanto, o racionalismo de Descartes propõe que os sentidos são enganosos
e não podem servir como base para o conhecimento. O empirismo, que tem em Hume o
seu defensor mais radical, afirma que todo conhecimento tem origem na experiência, nos
sentidos. Com isso, podemos dizer que eles atribuem diferentes lugares ao papel dos
sentidos no processo de obtenção do conhecimento.

As outras alternativas estão erradas porque:

a) Descartes e o racionalismo desprezam os sentidos para o conhecimento.

b) O cogito cartesiano (penso, logo existo) nasce da dúvida metódica. Descartes duvida
de tudo até encontrar algo seguro para embasar o conhecimento. Sendo assim, a
suspeita é uma parte imprescindível para a reflexão filosófica.

c) O criticismo é uma perspectiva kantiana que visa criticar as posições do racionalismo


e do empirismo

d) Apesar de Hume assumir uma posição cética quanto ao conhecimento, para


Descartes não existe a ideia de impossibilidade para o conhecimento

(Enem 2013)
Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja
contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos
principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o
de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos
indivíduos. Os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário atuam de forma independente
para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou
grupo exercer os referidos poderes concomitantemente.

MONTESQUIEU, B. Do Espírito das Leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).

A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que


possa haver liberdade em um estudo. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político
em que haja

a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.


b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governo eleito.

COMENTÁRIO:
Alternativa correta:

d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo.


Montesquieu foi um filósofo influenciado pelo pensamento iluminista. Com isso, faz
críticas ao absolutismo e à centralização do poder. Foi defensor da ideia da tripartição do
poder para que houvesse o estabelecimento de limites aos atores públicos e às
instituições do governo a partir da regulação entre os poderes, impedindo a tirania
própria do poder centralizado na mão de um governante.

As outras alternativas estão erradas porque:

a) Para o filósofo, algo que interfira na independência de cada um dos poderes incide no
risco do autoritarismo gerado pelo acúmulo excessivo de poder.

b) Montesquieu valoriza o poder advindo do povo, independente de uma determinação


religiosa.

c) Como dito anteriormente, o filósofo era contra qualquer possibilidade de concentração


do poder.

e) Mesmo os governos eleitos democraticamente não podem acumular em si todos os


poderes sob o risco de se tornarem tirânico

(Enem 2013)

TEXTO I

Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos,


recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu
fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e
incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de
todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de
estabelecer um saber firme e inabalável.

DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril


Cultural, 1973 (adaptado).

TEXTO II

É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio


processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza
que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e
não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por
essa mesma dúvida.

SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001


(adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a


reconstrução radical do conhecimento, deve-se

A) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.


B) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
C) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
D) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
E) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.
COMENTÁRIO: Segundo o filósofo René Descartes para alcançar um
conhecimento seguro, faz-se necessário duvidar de tudo, de todas as ideias que
antes geravam confusões, levavam o homem e a ciência ao erro, para que desse
processo só emerja o que for claro e distinto, indubitável.

ENEM 2013

Nível: difícil
Durante a realeza, e nos primeiros anos republicanos, as leis eram transmitidas
oralmente de uma geração para outra. A ausência de uma legislação escrita permitia aos
patrícios manipular a justiça conforme seus interesses. Em 451 a.C., porém, os plebeus
conseguiram eleger uma comissão de dez pessoas — os decênviros — para escrever as
leis. Dois deles viajaram a Atenas, na Grécia, para estudar a legislação de Sólon.
COULANGES, F. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000
A superação da tradição jurídica oral no mundo antigo, descrita no texto, esteve
relacionada à
a)adoção do sufrágio universal masculino.
b)extensão da cidadania aos homens livres.
c)afirmação de instituições democráticas.
d)implantação de direitos sociais.
e)tripartição dos poderes políticos.

COMENTÁRIO:

A partir do século VIII a.C., a organização política passou a sofrer profundas mudanças
em Atenas. Os europátridas (donos das terras que monopolizavam o poder político)
foram obrigados a fazer concessões para outros setores da sociedade como artesãos e
comerciantes. Nesse período, o legislador Drácon foi responsável pela introdução do
registro por escrito das leis. A partir desse momento, a Cidade de Atenas passou a ser
governada com base em uma legislação e não conforme o costume. Tal quadro faz parte
de um processo de extensão da cidadania que foi totalmente consolidada por Clístenes,
que estendeu a participação política a todos os homens.
(ENEM - 2013)

A felicidade é portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo,


e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em
Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais
doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais
excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade.

ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.

Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a


identifica como:

A) busca por bens materiais e títulos de nobreza.


B) plenitude espiritual a ascese pessoal.
C) finalidade das ações e condutas humanas.
D) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
E) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.

COMENTÁRIO: Para o filósofo grego Aristóteles, a felicidade é alcançada quando o


indivíduo age éticamente, ou seja, de forma virtuosa. Um outro aspecto importante
da ética aristotélica é que todas as ações visam um bem e, inserida nessa noção de
bem, a felicidade seria o bem supremo.

(Enem 2013)

Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém
todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso
conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez,
experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que
os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento.

KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado).

O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução


copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que

A) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento.


B) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo.
C) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a
reflexão filosófica.
D) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em
relação aos objetos.
E) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas
recusadas por Kant.

COMENTÁRIO: A questão fala sobre duas formas de interpretação do


conhecimento, a tradicinal – em que existe uma primazia dos objetos em relação as
ideias e a proposta pelo filósofo alemão Imannuel Kant – primazia das ideias em
detrimento dos objetos
(Enem 2014)

Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários;
outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que
não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode
ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores
de dano.

EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de


filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.

No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim

A) alcançar o prazer moderado e a felicidade.


B) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
C) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
D) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
E) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.

COMENTÁRIO: Para Epircuro, o fim último da ação ética é a felicidade e esta, por
sua vez, só é alcançada a partir dos prazeres moderados.

(Enem 2014)

Panayiotis Zavos “quebrou” o último tabu da clonagem humana – transferiu


embriões para o útero de mulheres, que os gerariam. Esse procedimento é crime
em inúmeros países. Aparentemente, o médico possuía um laboratório secreto, no
qual fazia seus experimentos. “Não tenho nenhuma dúvida de que uma criança
clonada irá aparecer em breve. Posso não ser eu o médico que irá criá-la, mas vai
acontecer”, declarou Zavos. “Se nos esforçarmos, podemos ter um bebê clonado
daqui a um ano, ou dois, mas não sei se é o caso. Não sofremos pressão para
entregar um bebê clonado ao mundo. Sofremos pressão para entregar um bebê
clonado saudável ao mundo.”

CONNOR, S. Disponível em: www.independent.co.uk. Acesso em: 14 ago. 2012


(adaptado).

A clonagem humana é um importante assunto de reflexão no campo da bioética


que, entre outras questões, dedica-se a

A) refletir sobre as relações entre o conhecimento da vida e os valores éticos


do homem.
B) legitimar o predomínio da espécie humana sobre as demais espécies animais
no planeta.
C) relativizar, no caso da clonagem humana, o uso dos valores de certo e errado,
de bem e mal.
D) legalizar, pelo uso das técnicas de clonagem, os processos de reprodução
humana e animal. E fundamentar técnica e economicamente as pesquisas
sobre células-tronco para uso em seres humanos.
COMENTÁRIO: Para resolver esta questão é necessário que o aluno compreenda
que a bioética é o estudo das implicações morais decorrentes de experimentos com
seres vivos, visando proteger a vida.

(Enem 2014)

Nível: médio

É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo


de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer
a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será
seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma
dúvida.

SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001


(adaptado).

Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia


cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o(a)

A) dissolução do saber científico.


B) recuperação dos antigos juízos.
C) exaltação do pensamento clássico.
D) surgimento do conhecimento inabalável.
E) fortalecimento dos preconceitos religiosos.

COMENTÁRIO: O filósofo René Descartes, como vários pensadores modernos, foi


um herdeiro da revolução cientítica – revolução que transformou drasticamente a
ciência. Desta forma, sua grande preocupação era dar à ciência um caráter de
firmeza e constância. Para isso, Descartes utiliza a dúvida como método, com a
intenção de que, após duvidar de tudo, só reste ideias claras e distintas.

(ENEM 2014)

Uma norma só deve pretender validez quando todos os que possam ser
concernidos por ela cheguem (ou possam chegar), enquanto participantes de um
discurso prático, a um acordo quanto à validade dessa norma.

HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo


Brasileiro, 1989

Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser estabelecida pelo(a):

a) liberdade humana, que consagra a vontade.


b) razão comunicativa, que requer um consenso
c) conhecimento filosófico, que requer um consenso
d) técnica científica, que aumenta o poder do homem
e) poder político, que se concentra no sistema partidário
COMENTÁRIO: Para habermas, filósofo contemporâneo, uma norma só é valida e,
portanto, só deve ser posta em prática, se ela for criada a partir de um consenso, a
partir da deliberação dos participantes da democracia representativa.

(ENEM 2014)

Sendo os homens, por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém


pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem
dar consentimento. A maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer
renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em
concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem
com segurança, conforto e paz umas com as outras, gozando garantidamente das
propriedades que tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que
não faça parte dela.

LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Os pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1978.

Segundo a Teoria da Formação do Estado, de John Locke, para viver em


sociedade, cada cidadão deve:

A) manter a liberdade do estado de natureza, direito inalienável.


B) abrir mão de seus direitos individuais em prol do bem comum.
C) abdicar de sua propriedade e submeter-se ao poder do mais forte
D) concordar com as normas estabelecidas para a vida em sociedade.
E) renunciar à posse jurídica de seus bens, mas não à sua independência.

COMENTÁRIO: Na perspectiva liberal de Locke, a comunidade política se inicia


quando os homens renunciam à sua liberdade absoluta, que têm por natureza, e
assumem uma liberdade mais restrita, limitada pelas normas sociais. Tal restrição
autoimposta, porém, tem como objetivo não diminuir o homem, mas melhor garantir
os seus direitos naturais, que são mal protegidos no estado de natureza. Entre os
direitos naturais está a propriedade privada.

(Enem 2015)

Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é preciso haver algum dirigente,
pelo qual se atinja diretamente o devido fim. Com efeito, um navio, que se move
para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao fim de
destino, se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto: ora, tem o homem um
fim, para o qual se ordenam toda a sua vida e ação. Acontece, porém, agirem os
homens de modos diversos em vista do fim, o que a própria diversidade dos
esforços em ações humanas comprova. Portanto, precisa o homem de um dirigente
para o fim.

AQUINO, T. Do reino ou do governo dos homens: ao rei do Chipre. Escritos


políticos de São Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes, 1995 (adaptado).
No trecho citado, Tomás de Aquino justifica a monarquia como o regime de governo
capaz de:

A) refrear os movimentos religiosos contestatórios


B) promover a atuação da sociedade civil na vida política
C) unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum.
D) reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística.
E) dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual.

COMENTÁRIO: São Tomás de Aquino foi um filósofo medieval que teve por base de
seus pensamentos as teorias aristotélicas. Dentro dos pensamentos que defendia, um
deles era a busca por um bem comum que seria alcançado através da monarquia.

(Enem 2015)

Nível: fácil

Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus amigos presumiam que a


justiça era algo real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu entender, as
pessoas a creditavam no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a
obedecer às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam de
invenções humanas.

RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.

O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, de Platão,


sustentava que a correlação entre justiça e ética é resultado de:

A) determinações biológicas impregnadas na natureza humana


B) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses sociais.
C) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas
D) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes
E) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas.

COMENTÁRIO: Para o pensamento platônico, as noções de justiça e ética estão


voltadas para o ensinamento transmitido através da vida em comunidade, já que
cada indivíduo é responsável por suas ações para si e para os demais.

COMENTÁRIO 2: Os sofistas acreditavam que a correlação entre justiça e ética é


resultado de convenções sociais. Logo, a alternativa B é a correta. Os sofistas
ficaram famosos por advogarem em favor do relativismo ético. Na famosa frase de
Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”. Sendo assim, não existe, na
concepção sofística, uma verdade única que paute o que é o bem e o que é o justo:
moral e justiça variam de acordo com as convenções sociais e os interesses dos
indivíduos. Contra os sofistas é que surge Sócrates, criticando o relativismo moral e
o ensino da retórica e da oratória que visem não o bem falar, mas o falar bem, ou
seja: enquanto os sofistas ensinavam o discurso pelo discurso, como mera forma
para manipular e conduzir os ouvintes, Sócrates focará sua lente no ensinamento do
discurso que leve à verdade.
(Enem 2015)

Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de


compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos
e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais
do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos.
Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a
virtude a partir de nossos próprios sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a
forma de um cavalo, animal que nos é familiar.

HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural,


1995.

Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que

A) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.


B) o espirito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
C) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo
acaso
D) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na
memória
E) as ideias têm com fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na
empiria.

COMENTÁRIO: O filósofo Hume faz uso do método de raciocínio experimental para


compreender a natureza humana. O meio utilizado era observar através de
experiência como o homem entende os objetos, interpretar como compreendem e
sentem as coisas.

(Enem 2015)

Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico,


econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o
conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o
castrado que qualificam o feminino.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar


um movimento social que teve como marca o(a)

A) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.


B) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.
C) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero.
D) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos.
E) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações
afirmativas.

COMENTÁRIO: Talvez a maioria dos alunos não conheça a história e a vida da


autora do texto, Simone de Beavour, porém, isto não impede de responder a
questão, visto que é compreendido dentro de nossos estudos os movimentos
sociais e as lutas pela igualdade que marcaram a década de 1960 pelo mundo
afora, descantando os Estados Unidos e Europa Ocidental. A “segunda onda do
feminismo” ocorre exatamente neste período.
(ENEM 2015)

Apesar de seu disfarce de iniciativa e otimismo, o homem moderno está esmagado


por um profundo sentimento de impotência que o faz olhar fixamente e, como que
paralisado, para as catástrofes que se avizinham. Por isso, desde já, saliente -se a
necessidade de uma permanente atitude crítica, o único modo pelo qual o homem
realizará sua vocação natural de integrar-se, superando a atitude do simples
ajustamento ou acomodação, apreendendo temas e tarefas de sua época.

FREIRE. P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2011.

Paulo Freire defende que a superação das dificuldades e a apreensão da realidade


atual será obtida pelo(a)

A) desenvolvimento do pensamento autônomo.


B) obtenção de qualificação profissional.
C) resgate de valores tradicionais.
D) realização de desejos pessoais.
E) aumento da renda familiar.

COMENTÁRIO: De acordo com Paulo Freire, o processo educativo é fundamental


para que os indivíduos tornem-se críticos sobre a relação social. É uma observação da
aprendizagem enquanto formação no convívio social.

(Enem 2015)
Em sociedade de origens tão nitidamente personalistas como a nossa, é
compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa, independentes e até
exclusivos de qualquer tendência para a cooperação autêntica entre os indivíduos,
tenham sido quase sempre os mais decisivos. As agregações e relações pessoais,
embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre facções, entre famílias,
entre regionalismos, faziam dela um todo incoerente e amorfo. O peculiar da vida
brasileira parece ter sido, por essa época, uma acentuação singularmente enérgica
do afetivo, do irracional, do passional e uma estagnação ou antes uma atrofia
correspondente das qualidades ordenadoras, disciplinadoras, racionalizadoras.

HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.

Um traço formador da vida pública brasileira expressa-se,segundo a análise do


historiador, na

A) rigidez das normas jurídicas.


B) prevalência dos interesses privados.
C) solidez da organização institucional.
D) legitimidade das ações burocráticas.
E) estabilidade das estruturas políticas.

COMENTÁRIO: O Historiador Sérgio Buarque de Holanda, ícone no estudo da


História no Brasil, disserta sobre a característica da sociedade brasileira de prezar
mais pelas importâncias privadas e pessoais do que pelo vínculo e importâncias
coletivas, públicas. O autor não sugere uma origem específica para isso, porém, nos
permite uma grande reflexão acerca do tema.
(ENEM 2015)

A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água
é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e
levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição
enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem
imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em
estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.

NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural,


1999

O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os


gregos?

A) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em


verdades racionais.
B) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
C) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas
existentes.
D) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
E) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.

COMENTÁRIO: Nietzsche faz referência ao surgimento da filosofia através dos pré-


socráticos que buscavam na natureza (physis) uma justificativa racional para a
origem de tudo. Inicialmente, encontravam um elemento essencial (arché) como
solução primordial.

(ENEM 2016)

Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros


e empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios
espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que,
desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma
das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha de ideologia, que reflete sempre a
coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o
que é sempre a mesma coisa.

ADORNO, T; HORKHEIMER, M. A dialética do esclarecimento: fragmentos


filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é


um(a):

A) legado social.
B) ilusão da contemporaneidade.
C) produto da moralidade.
D) conquista da humanidade.
E) patrimônio político.
COMENTÁRIO: O filósofo e sociólogo Adorno possui uma visão bem crítica acerca da
sociedade ocidental capitalista. Para ele, o capitalismo modificou os aspectos da
cultura, tornando-a mais um objeto de consumo. Neste sentido, aspectos tradicionais
da cultura são trocados por “produtos vendáveis” que estão presentes em todas as
formas de lazer e entretenimento do sujeito contemporâneo, nas músicas, livros, entre
outros. Adorno vai defender que a liberdade de escolha é algo que acaba sendo
imposto, visto que a sociedade encaminha o indivíduo a gostar das mesmas coisas
(cultura de massa).

(ENEM 2016)

Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à


esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A
resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para
sempre de todas as preocupações.

SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins


Fontes, 2005.

O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental,


segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à

A) fugacidade do conhecimento empírico.


B) consagração de relacionamentos afetivos.
C) administração da independência interior.
D) liberdade de expressão religiosa.
E) busca de prazeres efêmeros.

COMENTÁRIO: Para o filósofo Schopenhauer a felicidade não depende de fatores


externos. Para ele, a verdadeira felicidade só seria atingida a partir de elementos
encontrados no interior do próprio indivíduo. Assim, ele defende uma administração
da independência interior.

ENEM 2016

Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas


obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é
igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau
olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo
em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo.
Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem
abrir, mas os abismos não nos querem tragar.

NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.

O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina


niilista, uma vez que

A) Reforça liberdade do cidadão.


B) desvela os valores do cotidiano.
C) exorta as relações de produção.
D) destaca a decadência da cultura.
E) amplifica o sentimento de ansiedade.

COMENTÁRIO: O niilismo é a crença que todos os valores são inúteis e que nada
pode ser conhecido ou comunidade. Ele é normalmente associado ao pessimismo
extremo e um ceticismo radical que condena a existência. Um verdadeiro niilista não
acreditaria em nada, não teria lealdades, e nenhum propósito que não o impulso de
destruir. Por isso o sentimento de ansiedade por gerado pelo niilismo.

(ENEM 2016)

Ser ou não ser – eis a questão. Morrer – dormir – Dormir! Talvez sonhar. Aí está o
obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte Quando tivermos escapado
ao tumulto vital Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão Que dá Pa desventura
uma vida tão longa.

SHAKESPEARE, W. Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.

Este solilóquio pode ser considerado um precursor do existencialismo ao enfatizar a


tensão entre

a) consciência de si e angústia humana.


b) inevitabilidade do destino e incerteza moral.
c) inevitabilidade do destino e incerteza moral.
d) racionalidade argumentativa e loucura iminente.
e) dependência paterna e impossibilidade de ação

COMENTÁRIO: O pensamento tratado no texto de Hamlet é sobre o existencialismo,


que aborda a essência da existência humana. A contribuição mais importante dessa
corrente é sobre a responsabilidade do homem sobre seu destino e seu livre-arbítrio.
Por isso, surge a dicotomia sobre ser consciente sobre si e a angústia de ser
responsável por seus atos.

(ENEM 2016)
Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua
todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver
toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os
raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que
nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas
histórias.

DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes,


1999.

Em busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico,


como resultado da
a) investigação da natureza empírica.
b) retomada da tradição intelectual.
c) imposição de valores ortodoxos.
d) autonomia do sujeito pensante.
e) liberdade do agente moral.

COMENTÁRIO: O filósofo Descartes foi considerado “pai” do racionalismo moderno


por alterar a objetividade racional utilizada na Antiguidade. Para tal, o filósofo buscava
uma metodologia específica na qual utilizava-se de uma dúvida hiperbólica em que
chegava a um conhecimento inabalável. Sua teoria do cogito (“Penso logo existo’),
demonstra a autonomia do homem enquanto ser racional.

(ENEM 2016)
TEXTO I

Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância
mortal alcança duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da
mudança, dispersa e de novo reúne.

HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza) São Paulo: Abril Cultural, 1996


(adaptado).

TEXTO II

Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é
compacto, inabalável sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo,
uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?

PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).

Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no


campo das

a) investigações do pensamento sistemático.


b) preocupações do período mitológico.
c) discussões de base ontológica.
d) habilidade da retórica sofística.
e) verdades do mundo sensível.

COMENTÁRIO: Foram um grupo de filósofos que especularam sobre a origem do


mundo e observaram a natureza como fonte de conhecimento. A teoria de Parmênides
visava o imobilismo, enquanto a de Heráclito, o mobilismo. daí, encontramos a
contradição teórica. Ontologia é um estudo voltado para o “ser”, portanto, cada um dos
filósofos possui um posicionamento quanto ao papel do “ser” na natureza.
(ENEM 2016)

A democracia deliberativa afirma que as partes do conflito político devem deliberar


entre si, e, por meio de argumentação razoável, tentar chegar a um acordo sobre as
políticas que seja satisfatória para todos. A democracia ativista desconfia das
exortações à deliberação por acreditar que no mundo real da política, onde as
desigualdades estruturais influenciam procedimento e resultados, processos
democráticos que parecem cumprir as normas de deliberação geralmente tendem a
beneficiar os agentes mais poderosos. Ela recomenda portanto, que aqueles que se
preocupam com a promoção de mais justiça devem realizar principalmente a
atividade de oposição crítica, em vez de tentar chegar a um acordo com quem
sustenta estruturas de poder existentes ou delas se beneficia.

YOUNG, I. M. Desafios ativistas à democracia deliberativa. Revista Brasileira de


Ciência Política, n. 13, jan. abr. 2014.

As concepções de democracia deliberativa e de democracia ativista apresentadas


no texto tratam como imprescindíveis, respectivamente,

a) a decisão da maioria e a uniformização de direitos.


b) a organização de eleições e o movimento anarquista.
c) a obtenção do consenso e a mobilização das minorias
d) . a fragmentação da participação e a desobediência civil.
e) a imposição de resistência e o monitoramento da liberdade.

COMENTÁRIO: A democracia é conhecida como uma forma de governo em que o


povo é detentor do poder. A democracia deliberativa foi criada por Habermas em
que o debate público deveria ser feito para gerar um consenso sobre o melhor
discurso (agir comunicativo), enquanto a democracia ativista busca uma
mobilização social para que os indivíduos alcancem os seus direitos.

ENEM 2016

A promessa da tecnologia moderna se converteu em uma ameaça ou esta se


associou àquela de forma indissolúvel. Ela vai além da constatação da ameaça
física. Concebida para a felicidade humana, a submissão da natureza, na
sobremedida de seu sucesso, que agora se estende à própria natureza do homem,
conduziu ao maior desafio já posto ao ser humano pela sua própria ação. O novo
continente da práxis coletiva que adentramos com a alta tecnologia ainda constitui,
para a teoria ética, uma terra de ninguém.

JONAS, H. O princípio de responsabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto: Editora


PUC-Rio, 2011 (adaptado).

As implicações éticas da articulação apresentada no texto impulsionam a


necessidade de construção de um novo padrão de comportamento, cujo objetivo
consiste em garantir o(a)

a) pragmatismo da escolha individual.


b) sobrevivência de gerações futuras.
c) fortalecimento de políticas liberais.
d) valorização de múltiplas etnias.
e) promoção da inclusão social.

COMENTÁRIO: Hans Jonas é um filósofo alemão do século XX, conhecido


principalmente por seu livro O Princípio de Responsabilidade. Nesse livro o autor
discute os novos desafios colocados ao ser humano pelo progresso tecnológico.
Segundo o autor, como sociedade, devemos “atuar de forma que os efeitos de suas
ações sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína”. Ou
seja, devemos agir de forma a não por em risco a sobrevivência das futuras
gerações.

COMENTÁRIO 2: O Desenvolvimento da tecnologia está atrelado com o


capitalismo desenfreado, e a globalização, que para esses processos ocorrerem
é necessário de capital, que é extraído principalmente, da exploração de recursos
naturais, ameaçando o Planeta terra, consequentemente as gerações futuras, em
que vão viver em situações de desgaste dos recursos naturais, onde, um dia
estes irão ter fim.

(ENEM 2016)
Nível: médio

Ninguém delibera sobre coisas que não podem ser de outro modo, nem sobre as que lhe
é impossível fazer. Por conseguinte, como o conhecimento científico envolve
demonstração, mas não há demonstração de coisas cujos primeiros princípios são
variáveis (pois todas elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível deliberar
sobre coisas que são por necessidade, a sabedoria prática não pode ser ciência, nem
arte: nem ciência, porque aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferentemente, nem
arte, porque o agir e o produzir são duas espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a
alternativa de ser ela uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir com respeito às
coisas que são boas ou más para o homem.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

Aristóteles considera a ética como pertencente ao campo do saber prático. Nesse


sentido, ela difere-se dos outros saberes porque é caracterizada como

a)conduta definida pela capacidade racional de escolha.


b)capacidade de escolher de acordo com padrões científicos.
c)conhecimento das coisas importantes para a vida do homem.
d)técnica que tem como resultado a produção de boas ações.
e)política estabelecida de acordo com padrões democráticos de deliberação

COMENTÁRIO:

Para Aristóteles, a ética – diferente de outros saberes – é definida pela capacidade do


indivíduo de pensar racionalmente e escolher as ações mais virtuosas, a fim de alcançar
a felicidade.
ENEM 2017

A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de agradar a Deus, muito menos
de fidelidade a regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a maior quantidade
de felicidade possível neste mundo. Ao decidir o que fazer, deveríamos, portanto,
perguntar qual curso de conduta promoveria a maior quantidade de felicidade para
todos aqueles que serão afetados.

RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral. Baruer-SP: Manole, 2006

Os parâmetros da ação indicados no texto estão em conformidade com uma


a) Fundamentação científica de viés positivista.
b) Transgressão comportamental religiosa.
c) Inclinação de natureza passional.
d) Convenção social de orientação normativa.
e) Racionalidade de caráter pragmático.

COMENTÁRIO: Bentham acreditava que o critério adequado para avaliar se uma


ação é moral ou não é a quantidade de felicidade produzida. Ele pensava as
decisões morais como uma espécie de cálculo racional onde o agente deveria, para
avaliar a moralidade de sua ação, somar a felicidade produzida e descontar a
infelicidade. Se o saldo fosse positivo, a ação estaria correta; se negativo, incorreta.

(ENEM 2017)
Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates
paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma
direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão
junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa
influência poderosa, que os leva a se censurarem. E sobretudo a esses jovens,
muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.

BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na

A) contemplação da tradição mítica.


B) sustentação do método dialético.
C) relativização do saber verdadeiro.
D) valorização da argumentação retórica.
E) investigação dos fundamentos da natureza.

COMENTÁRIO: A dialética socrática era dividida em ironia e maiêutica, na qual há um


debate entre posicionamentos distintos que são defendidos e contraditos
posteriormente. O objetivo era gerar o “parto” das ideias, chegar a novos
conhecimentos.

COMENTÁRIO POR ALTERNATIVA:

Alternativa correta:

b) Sustentação do método dialético. Sócrates foi um defensor da ignorância como o


princípio básico para o conhecimento. Daí a importância da sua frase "só sei que nada
sei". Para ele, é preferível não saber a julgar saber. Sendo assim, Sócrates construiu
um método que, através do diálogo (método dialético), as falsas certezas e os pré-
conceitos eram abandonados, o interlocutor assumia a sua ignorância. A partir daí,
buscava o conhecimento verdadeiro.

As outras alternativas estão erradas porque:

a) Sócrates busca abandonar os mitos e as opiniões para a construção do


conhecimento verdadeiro.

c) Sócrates acreditava que existe um conhecimento verdadeiro e esse pode ser


despertado através da razão. Teceu diversas críticas aos sofistas por esses assumirem
uma perspetiva de relativização do saber.

d) Os sofistas afirmavam que a verdade é um mero ponto de vista, estando baseada no


argumento mais convincente. Para Sócrates, essa posição era contrária à essência do
saber verdadeiro, próprio da alma humana.

e) O filósofo dá início ao período antropológico da filosofia grega. As questões relativas


à vida humana viram o centro das atenções, deixando de lado a busca sobre os
fundamentos da natureza, própria do período pré-socrático.

(ENEM 2017)

Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e
tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou
antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência sobre
essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais
apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto.
Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais
verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa
natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num
Estado, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que
até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica,
estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado,
legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência
deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Pauto: Nova Cultural, 1991
(adaptado).

Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe que
A) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses.
B) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade.
C) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da
cidade.
D) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente.
E) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum.

COMENTÁRIO: Para Aristóteles, a política é a doutrina moral social. A política estaria


relacionada à uma maneira de viver que levasse os indivíduos a felicidade. Portanto,
seria a base da vida na pólis.

COMENTÁRIO POR ALTERNATIVA:

Alternativa correta

c) A política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade.

A questão trabalha com dois conceitos centrais em Aristóteles:

O ser humano é um animal político (zoon politikon). Faz parte da natureza humana
associar-se e viver em comunidade (pólis) sendo o que nos diferencia dos outros
animais.

O ser humano naturalmente busca a felicidade. A felicidade é o bem maior e somente


por ignorância, por não compreender o bem, é que o ser humano pratica o mal.

Sendo assim, a política é a ciência que precede todas as demais na organização da


cidade, por ser a garantia da realização da natureza humana nas relações existentes na
pólis e a organização de todos em direção à felicidade.

As outras alternativas estão erradas porque:

a) Para o filósofo, a natureza política dos seres humanos tende à definição dos
interesses comuns.

b) Aristóteles afirma que o sumo bem é a felicidade (eudaimonia) e os seres humanos


realizam-se através da vida política.

d) A filosofia aristotélica compreende o ser humano como essencialmente bom, não


necessitando "formar a consciência para agir corretamente".

e) Aristóteles era um defensor da política, mas não necessariamente da democracia.


Para o filósofo, existe uma série de fatores que compõem um bom governo e esses
fatores variam de acordo com os contextos, alterando também a melhor forma de
governo.
(ENEM 2017)

A representação de Demócrito é semelhante à de Anaxágoras, na medida em que


um infinitamente múltiplo é a origem; mas nele a determinação dos princípios
fundamentais aparece de maneira tal que contém aquilo que para o que foi formado
não é, absolutamente, o aspecto simples para si. Por exemplo, partículas de carne e
de ouro seriam princípios que, através de sua concentração, formam aquilo que
aparece como figura.

HEGEL, G.W. Crítica moderna. In:SOUZA, J.C. (Org.). Os pré-socráticos: vida e


obra. São Paulo: Nova Cultural, 2000 (adaptado).

O texto faz uma apresentação crítica acerca do pensamento de Demócrito,


segundo o qual o “princípio constitutivo das coisas” estava representado pelo(a)

A) número, que fundamenta a criação dos deuses.


B) devir, que simboliza o constante movimento dos objetos.
C) água, que expressa a causa material da origem do universo.
D) imobilidade, que sustenta a existência do ser atemporal.
E) átomo, que explica o surgimento dos entes.

COMENTÁRIO: Os filósofos pré-socráticos foram responsáveis por buscar na


natureza um elemento primordial que justificasse a origem de todas as coisas. Para
Demócrito, sua arché seria o átomo, parte indivisível e eterna, que permanece em
constante movimento.

(ENEM 2017)
Nível: fácil

Em um governo que deriva sua legitimidade de eleições livres e regulares, a ativação de


uma corrente comunicativa entre a sociedade política e a civil é essencial e constitutiva,
não apenas inevitável. As múltiplas fontes de informação e as variadas formas de
comunicação e influência que os cidadãos ativam atraves da mídia, movimentos sociais
e partidos políticos dão o tom da representação em uma sociedade democrática.

URBINATI, N. O que torna a representação democrática? Lua Nova, n. 67, 2006.

Esse papel exercido pelos meios de comunicação favorece uma transformação


democrática em função do(a)

a)limitação dos gastos públicos.


b)interesse de grupos corporativos.
c)dissolução de conflitos ideológicos.
d)fortalecimento da participação popular.
e)autonomia dos órgãos governamentais
COMENTÁRIO:

O papel exercido pelos meios de comunicação favorece uma transformação democrática


em função do fortalecimento da participação popular, alternativa representada
justamente pela letra D. O texto reconhece o papel importante dos meios de
comunicação na medida em que colaboram para que haja maior comunicação entre
sociedade política e civil, o que favorece maior participação popular.

(ENEM/2017)

O conceito de democracia, no pensamento de Habermas, é construído a partir de


uma dimensão procedimental, calcada no discurso e na deliberação. A legitimidade
democrática exige que o processo de tomada de decisões políticas ocorra a partir
de uma ampla discussão pública, para somente então decidir. Assim, o caráter
deliberativo corresponde a um processo coletivo de ponderação e análise,
permeado pelo discurso, que antecede a decisão.

VITALE, D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia deliberativa. Cadernos


do CRH (UFBA), v. 19, 2006 (adaptado).

O conceito de democracia proposto por Jürgen Habermas pode favorecer


processos de inclusão social. De acordo com o texto, é uma condição para que isso
aconteça o(a)

A) participação direta periódica do cidadão.


B) debate livre e racional entre cidadãos e Estado.
C) interlocução entre os poderes governamentais.
D) eleição de lideranças políticas com mandatos temporários.
E) controle do poder político por cidadãos mais esclarecidos.

COMENTÁRIO: O filósofo Habermas que defendia o “agir comunicativo”, a fim de


que os indivíduos busquem seus objetivos pessoais, respeitando a condição de que
podem conciliar suas ações de acordo com bases de uma definição comum. Dessa
maneira, o debate público visa a conciliação dos direitos, a partir da coerção do
melhor argumento.

ENEM 2018

O filósofo reconhece-se pela posse inseparável do gosto da evidência e do sentido da


ambiguidade. Quando se limita a suportar a ambiguidade, esta se chama equívoco.
Sempre aconteceu que, mesmo aqueles que pretenderam construir uma filosofia
absolutamente positiva, só conseguiram ser filósofos na medida em que,
simultaneamente, se recusaram o direito de se instalar no saber absoluto. O que
caracteriza o filósofo é o movimento que leva incessantemente do saber à ignorância,
da ignorância ao saber, e um certo repouso neste movimento.
MERLEAU-PONTY, M. Elogio da filosofia. Lisboa: Guimarães, 1998 (adaptado).

O texto apresenta um entendimento acerca dos elementos constitutivos da atividade


do filósofo, que se caracteriza por

A) reunir os antagonismos das opiniões ao método dialético.


B) ajustar a clareza do conhecimento ao inatismo das ideias.
C) associar a certeza do intelecto à imutabilidade da verdade.
D) conciliar o rigor da investigação à inquietude do questionamento.
E) compatibilizar as estruturas do pensamento aos princípios fundamentais.

COMENTÁRIO: A alternativa correta é a letra D. Para um filósofo, é indispensável o


rigor da investigação. Filosofia não é dizer frases de efeito. É preciso apresentar
conclusões sólidas e bons argumentos. Vejo como no texto o autor afirma que o
filósofo tem o “gosto da evidência”. Além disso, não é um filósofo quem não se
mantem aberto ao questionamento. No texto, o autor afirma isso ao dizer que só
conseguiram ser filósofos aqueles que “se recusaram o direito de se instalar no
saber absoluto”.

ENEM 2018

TEXTO I

Tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo
de todo homem, é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem
sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e
invenção.

HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

TEXTO II

Não vamos concluir, com Hobbes que, por não ter nenhuma ideia de bondade, o
homem seja naturalmente mau. Esse autor deveria dizer que, sendo o estado de
natureza aquele em que o cuidado de nossa conservação é menos prejudicial à dos
outros, esse estado era, por conseguinte, o mais próprio à paz e o mais conveniente
ao gênero humano.

ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre


os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (adaptado).

Os trechos apresentam divergências conceituais entre autores que sustentam um


entendimento segundo o qual a igualdade entre os homens se dá em razão de uma

A) predisposição ao conhecimento.
B) submissão ao transcendente.
C) tradição epistemológica.
D) condição original.
E) vocação política.

COMENTÁRIO: A alternativa correta é a letra D. Tanto Hobbes como Rousseau


pensavam que os seres humanos eram iguais, porque se encontravam em uma
condição de igualdade naquela que é a condição original da existência humana, o
Estado de Natureza.
COMENTÁRIO POR ALTERNATIVA:

Alternativa correta:

e) condição original.

Na questão acima, vemos uma das rivalidades mais clássicas da história da filosofia:
Hobbes x Rousseau. Apesar de possuírem visões opostas, Hobbes e Rousseau
concordam em utilizar uma mesma ideia central, o estado de natureza humano.

O estado de natureza é uma abstração, uma ideia imaginada sobre condição original
dos seres humanos. Um momento pré-social da humanidade onde os indivíduos
possuem apenas a liberdade dada pela natureza (liberdade natural), assim como os
outros animais.

Os autores divergem quanto ao que seria essa condição original da humanidade.

Para Hobbes, a humanidade em estado de natureza seria a humanidade em uma


guerra de todos contra todos. Na natureza somos os nossos maiores inimigos. Para
o autor, "o homem é o lobo do homem".

Para Rousseau, os seres humanos são naturalmente bons. Em estado de natureza,


o ser humano estaria em estado de felicidade aproveitando ao máximo sua liberdade
natural. Para o autor, o ser humano seria o "bom selvagem".

As outras alternativas estão erradas porque:

a) Para os filósofos, não há uma predisposição ao conhecimento comum aos seres


humanos, estes se ligam apenas pelo sentido atribuído pela natureza.

b) O estado de natureza explicado por Hobbes e Rousseau consiste, justamente, em


um estado de liberdade natural que é estar submetido apenas às leis da natureza.

c) Os dois filósofos não identificam nos seres humanos raízes ou uma tradição
epistemológica comum.

e) Para eles, os seres humanos não possuem uma vocação política. Tanto o "bom
selvagem", de Rousseau, quanto o "homem lobo do homem", de Hobbes, apontam
para a não aptidão natural à política.
ENEM 2018
O século XVIII é, por diversas razões, um século diferenciado. Razão e
experimentação se aliavam no que se acreditava ser o verdadeiro caminho para o
estabelecimento do conhecimento científico, por tanto tempo almejado. O fato, a
análise e a indução passavam a ser parceiros fundamentais da razão. É ainda no
século XVIII que o homem começa a tomar consciência de sua situação na história.

ODALIA, N. In: PINSKY, J.; PINSKY, C. B. História da cidadania. São Paulo:


Contexto, 2003.

No ambiente cultural do Antigo Regime, a discussão filosófica mencionada no texto


tinha como uma de suas características a

A) aproximação entre inovação e saberes antigos.


B) conciliação entre revelação e metafísica platônica.
C) vinculação entre escolástica e práticas de pesquisa.
D) separação entre teologia e fundamentalismo religioso.
E) contraposição entre clericalismo e liberdade de pensamento.

COMENTÁRIO: O contexto histórico mencionado no texto é conhecido como


Iluminismo ou Século das Luzes. É um contexto em que se lutava pela liberdade de
pensamento como forma de promover o saber e o conhecimento e assim o
progresso na ciência, na tecnologia e uma melhoria geral da vida. E um dos
obstáculos a isso era, e continua sendo, o clericalismo, a religião.

ENEM 2018

A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou, no modo


de definir toda realização humana, uma evidente degradação do ser para o ter. A
fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados da
economia, leva a um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual todo
ter efetivo deve extrair seu prestígio imediato e sua função última. Ao mesmo
tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente dependente da força
social, moldada por ela.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.

Uma manifestação contemporânea do fenômeno descrito no texto é o(a)

A) valorização dos conhecimentos acumulados.


B) exposição nos meios de comunicação.
C) aprofundamento da vivência espiritual.
D) fortalecimento das relações interpessoais.
E) reconhecimento na esfera artística.
COMENTÁRIO: Debord está fazendo nesse texto uma análise da sociedade que ele
chama de “sociedade do espetáculo”. No texto, ele destaca uma transição do ser
para o ter e deste para o parecer. Em outras palavras, o que ele está dizendo é que
em um determinado momento histórico o que importava era o ser, o que uma
pessoa era. A partir de determinados desenvolvimentos econômicos isso se tornou
secundário e o prestígio social passou a depender muito mais do que a pessoa
tinha – um carro, uma casa etc. No entanto, isso também perdeu espaço. Na nossa
sociedade, o importante é parecer, ostentar de alguma forma o que se tem. Caso
isso não seja feito, de nada vale ter algo. Ou seja, não basta um carro importado, é
importante que esse carro seja mostrado de várias formas. Essa preocupação
generalizada como o parecer gera a necessidade de “exposição nos meios de
comunicação”, a alternativa correta.

ENEM 2018

A quem não basta pouco, nada basta.

EPICURO. os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

Remanescente do período helenístico, a máxima apresentada valoriza a seguinte


virtude:

A) esperança, tida como confiança no porvir.


B) justiça, interpretada como retidão de caráter
C) temperança, marcada pelo domínio da vontade.
D) coragem, definida como fortitude na dificuldade.
E) prudência, caracterizada pelo correto uso da razão.

COMENTÁRIO: Epicuro foi um filósofo que defendia a moderação como forma


de satisfazer os desejos. Ele raciocinava mais ou menos assim. Se desejo ter
um carro caro, de nada adianta satisfazer esse desejo. Isso não me trará
felicidade. Logo depois de adquirir o carro, sua posse não me satisfará mais. Irei
querer um carro mais caro, e assim sucessivamente. Não importa quantos
carros compre, sempre irei querer um carro mais caro ainda. É esse o sentido
da frase “a quem não basta pouco, nada basta”. Como forma de remediar essa
insatisfação constante que aflige os seres humanos, Epicuro recomendava que
praticássemos a temperança, ou seja, a moderação dos desejos. Assim
seríamos felizes por não nos sentirmos a todo momento insatisfeitos.
ENEM 2018

Desde que tenhamos compreendido o significado da palavra “Deus”, sabemos,


de imediato, que Deus existe. Com efeito, essa palavra designa uma coisa de tal
ordem que não podemos conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe
na realidade e no pensamento é maior do que o que existe apenas no
pensamento. Donde se segue que o objeto designado pela palavra “Deus”, que
existe no pensamento, desde que se entenda essa palavra, também existe na
realidade. Por conseguinte, a existência de Deus é evidente.

Tomás de Aquino. Suma Teológica. Rio de Janeiro: Loyola, 2002.

O texto apresenta uma elaboração teórica de Tomás de Aquino caracterizada


por

A) reiterar a ortodoxia religiosa contra os heréticos.


B) sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé.
C) explicar as virtudes teológicas pela demonstração.
D) flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados.
E) justificar pragmaticamente crença livre de dogmas.

COMENTÁRIO: Nesse texto, Tomás de Aquino apresenta um argumento para


justificar a existência de Deus. Ou seja, está tentando “sustentar racionalmente”
uma doutrina que é baseada na fé.

ENEM 2018
Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem:
“Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e na realizava”,
dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se,
como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade
nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criar, como pode haver verdadeira
eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?”

A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo de reflexão


filosófica sobre a(s)

A) essência da ética cristã.


B) natureza universal da criação.
C) certezas inabaláveis da experiência.
D) abrangência da compreensão humana.
E) interpretação da realidade circundante.

COMENTÁRIO: Nessa passagem, Agostinho está relatando um


questionamento sobre Deus e alguns enigmas que rondam sua existência.
Esse tipo de problema lava a questões sobre a “abrangência da
compreensão humana”, ou seja, até que ponto somos capazes de conhecer
realmente coisas misteriosas como Deus.

ENEM 2018
No início da década de 1990, dois biólogos importantes, Redford e Robinson,
produziram um modelo largamento aceito de “produção sustentável” que previa
quantos indivíduos de cada espécie poderiam ser caçados de forma sustentável
baseado nas suas taxas de reprodução. Os seringueiros do Alto do Juruá tinham
um modelo diferente: a quem lhes afirmava que estavam caçando acima dos
sustentável (dentro do modelo), eles diziam que não, que o nível de caça dependia
da existência de áreas de refúgio em que ninguém caçava. Ora, esse acabou sendo
o modelo batizado de “fonte-ralo” proposto dez anos após o primeiro por Novaro,
Bodmer, e o próprio Redford e que suplantou o modelo anterior.

CUNHA, M. C. Revista USP, n. 75, set~nov. 2007.

No contexto da produção científica, a necessidade de reconstrução desse modelo,


conforme exposto no texto, foi determinada pelo confronto com um(a):

A) conclusão operacional obtida por lógica dedutiva.


B) visão de mundo marcada por preconceitos morais.
C) hábito social condicionado pela religiosidade popular.
D) conhecimento empírico apropriado pelo senso comum.
E) padrão de preservação construído por experimentação dirigida.

COMENTÁRIO: Essa é uma questão aborda a filosofia da ciência. No exemplo


oferecido no texto, o confronto de uma teoria científica não satisfatória com um
conhecimento popular baseado num longo período de experiência e observação
levou os cientistas a reformularem a teoria original e adotar uma teoria de senso
comum.
(ENEM 2019)
Nível: fácil

A lenda diz que, em um belo dia ensolarado, Newton estava relaxando sob uma
macieira. Pássaros gorjeavam em suas orelhas. Havia uma brisa gentil. Ele cochilou por
alguns minutos. De repente, uma maçã caiu sobre a sua cabeça e ele acordou com um
susto. Olhou para cima. “Com certeza um pássaro ou um esquilo derrubou a maçã da
árvore”, supôs. Mas não havia pássaros ou esquilos na árvore por perto. Ele, então,
pensou: “Apenas alguns minutos antes, a maçã estava pendurada na árvore. Nenhuma
força externa fez ela cair. Deve haver alguma força subjacente que causa a queda das
coisas para a terra”.

SILVA, C.C:; MARTINS, R A. Estudos de história e fosafia das ciências. São Paulo:
Livraria da Física, 2006 (adaptado).

Em contraponto a uma interpretação idealizada, o texto aponta para a seguinte


dimensão fundamental da ciência moderna:

a) Falsificação de teses.
b) Negação da observação.
c) Proposição de hipóteses.
d) Contemplação da natureza.
e) Universalização de conclusões.

COMENTÁRIO:

Nota-se, com base na leitura do texto, a grande importância do processo de


questionamento para a evolução da ciência, que promoveu a expansão de uma
grande qquantidade de ideias e conhecimentos. O texto aborda a relevância das
hipóteses para o surgimento das teorias de Newton, sendo a formulação de ideias,
essencial para o desenvolvimento científico. A expressão “deve haver”, presente no
texto, é de grande relevância nesse contexto.

(ENEM - 2019)
TEXTO 1

Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo


perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar,
admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz.

DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

TEXTO 2

Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa
razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não
podemos dizer que a crença em Deus é "apenas" uma questão de fé.
RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.

Os textos abordam um questionamento da construção da modernidade que defende


um modelo

A) centrado na razão humana.


B) O baseado na explicação mitológica.
C) fundamentado na ordenação imanentista.
D) focado na legitimação contratualista.
E) configurado na percepção etnocêntrica.

COMENTÁRIO: Apesar de abordar um tema fundamentalmente religioso, Descartes


chega à conclusão de que Deus existe apoiado na razão, através de sua dúvida
hiperbólica. Esse é o passo seguinte à conclusão do “cogito ergo sum”. Sua
abordagem racional é a base das transformações da modernidade.

COMENTÁRIO POR ALTERNATIVA:

Alternativa correta:

a) centrado na razão humana.

A Idade Moderna, ou modernidade, é marcada por uma viragem centrada na razão


humana. O pensamento de Descartes, marca essa transição, o ser humano dotado
de razão é capaz de conhecer todos os aspectos da criação divina.

No texto II, mostra um avanço da racionalização que coloca em questão as bases


para o conhecimento racional.

As outras alternativas estão erradas porque:

b) a explicação mitológica da realidade foi sendo abandonada pelos primeiros


filósofos (pré-socráticos), que buscaram um conhecimento baseado no "lógos",
dando origem às explicações filosóficas, lógico-racionais.

As alternativas "c", "d", e "e" apresentam pontos decorrentes do pensamento


moderno, mas nenhum deles se apresenta como modelo para a construção do
pensamento moderno.

(ENEM - 2019)

"A hospitalidade pura consiste em acolher aquele que chega antes de lhe impor
condições, antes de saber e indagar o que quer que seja, ainda que seja um nome
ou um “documento” de identidade. Mas ela também supõe que dirija a ele, de
maneira singular, chamando-o portanto e reconhecendo-lhe um nome próprio:
“Como você se chama?” A hospitalidade consiste em fazer tudo para se dirigir ao
outro, em lhe conceder, até mesmo perguntar seu nome, evitando que essa
pergunta se torne uma “condição”, um inquérito policial, um fichamento ou um
simples controle das fronteiras. Uma arte e uma poética, mas também toda uma
política dependem disso, toda uma ética se decide aí."

DERRIDA, J. Papel-máquina. São Paulo: Estação Liberdade, 2004 (adaptado).

Associado ao contexto migratório contemporâneo, o conceito de hospitalidade


proposto pelo autor impõe a necessidade de
A) anulação da diferença.
B) cristalização da biografia.
C) incorporação da alteridade.
D) supressão da comunicação.
E) verificação da proveniência.

COMENTÁRIO: A alteridade compreende-se como um dos princípios fundamentais


para que o homem na sua vertente social tem uma relação de interação e
dependência com o outro. Dessa maneira, a hospitalidade com os demais seria um
exercícios de alteridade no contexto migratório.

(ENEM - 2019)

Dizem que Humboldt, naturalista do século XIX, maravilhado pela geografia, flora e
fauna da região sul-americana, via seus habitantes como se fossem mendigos
sentados sobre um saco de ouro, referindo-se a suas incomensuráveis riquezas
naturais não exploradas. De alguma maneira, o cientista ratificou nosso papel de
exportadores de natureza no que seria o mundo depois da colonização ibérica:
enxergou-nos como territórios condenados a aproveitar os recursos naturais
existentes.

ACOSTA, A. Bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São
Paulo: Elefante, 2016 (adaptado).

A relação entre ser humano e natureza ressaltada no texto refletia a permanência


da seguinte corrente filosófica:

A) Relativismo cognitivo.
B) Materialismo dialético.
C) Racionalismo cartesiano
D) Pluralismo epistemológico.
E) Existencialismo fenomenológico.

COMENTÁRIO: A racionalidade é o que vai diferenciar o ser humano dos animais,


do restante da natureza. Descartes é considerado o pai do racionalismo moderno.

(ENEM - 2019)

"Em sentido geral e fundamental, Direito é a técnica da coexistência humana, isto é,


a técnica voltada a tornar possível a coexistência dos homens. Como técnica, o
Direito se concretiza em um conjunto de regras (que, nesse caso, são leis ou
normas); e tais regras têm por objeto o comportamento intersubjetivo, isto é, o
comportamento recíproco dos homens entre si."

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

O sentido geral e fundamental do Direito, conforme foi destacado, refere-se à

A) aplicação de códigos legais.


B) regulação do convívio social.
C) legitimação de decisões políticas.
D) mediação de conflitos econômicos.
E) representação da autoridade constituída.

COMENTÁRIO: Na análise do texto, o direito seria uma vertente com o objetivo de


criar regras, leis e propostas para regular o convívio social.

(ENEM - 2019)
Penso que não há um sujeito soberano, fundador, uma forma universal de sujeito
que poderíamos encontrar em todos os lugares. Penso, pelo contrário, que o sujeito
se constitui através das práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma, através
de práticas de liberação, de liberdade, como na Antiguidade — a partir, obviamente,
de um certo número de regras, de estilos, que podemos encontrar no meio cultural.

FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro:


Forense Universitária, 2004.

O texto aponta que a subjetivação se efetiva numa dimensão:

A) Legal, pautada em preceitos jurídicos.


B) Racional, baseada em pressupostos lógicos.
C) Contingencial, processada em interações sociais.
D) Transcendental, efetivada em princípios religiosos.
E) Essencial, fundamentada em parâmetros substancialistas.

COMENTÁRIO: Para Foucault, o corpo está inserido no social e, por isso, é


marcado pelo social. Todas as relações sociais são relações de poder e, de acordo
com cada momento sócio histórico, as dinâmicas de sujeição ou liberação são
subjetivadas pelos indivíduos.

COMENTÁRIO POR ALTERNATIVA:

Alternativa correta:

c) contingencial, processada em interações sociais.

O pensamento de Foucault, expresso no texto, aponta para a impossibilidade


de um "ser absoluto" ou uma ideia de sujeito universal, ou seja, o sujeito é
contingente. Ele afirma também que esse sujeito se efetiva a partir das
interações que ocorrem no meio cultural (social).

As outras alternativas estão erradas porque:

a) Não são os preceitos jurídicos que efetivam o sujeito.

b) A subjetivação não se dá através de preceitos lógicos.

d) A transcendência e os princípios religiosos não estão expressos como


fundamentos da construção dos sujeitos.

e) A subjetivação a partir de uma essência é, justamente, a crítica realizada


por Foucault e ele aponta para a sua impossibilidade.

(ENEM - 2019)
Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco a
própria integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se
esse mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais
adequados para decidir sobre ações cujas consequências se tomam tão amplas, já
que o prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme as
circunstâncias e os fins a serem atingidos, pode-se decidir que o melhor para o bem
comum seja mentir.

ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).

O texto aponta uma inovação na teoria politica na época moderna expressa na


distinção entre:

A) Idealidade e efetividade da moral.


B) Nulidade e preservabilidade da liberdade.
C) Ilegalidade e legitimidade do governante.
D) Verificabilidade e possibilidade da verdade.
E) Objetividade e subjetividade do conhecimento.

COMENTÁRIO: Maquiavel propõe, como inovação na análise da política, uma


análise realista das dinâmicas dessa esfera. Assim, seu pensamento é crítico ao
idealismo do pensamento político que vigora até então, baseado nas teorias
clássicas, e aborda a moral do príncipe por uma perspectiva pragmática.

(ENEM - 2019)

De fato, não é porque o homem pode usar a vontade livre para pecar que se deve
supor que Deus a concedeu para isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu
ao homem esta característica, pois sem ela não poderia viver e agir corretamente.
Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem para esse fim,
considerando-se que se um homem a usa para pecar, recairão sobre ele as
punições divinas. Ora, isso seria injusto se a vontade livre tivesse sido dada ao
homem não apenas para agir corretamente, mas também para pecar. Na verdade,
porque deveria ser punido aquele que usasse sua vontade para o fim para o qual
ela lhe foi dada?

AGOSTINHO. O livre-arbítrio. ln: MARCONDES, D. Textos básicos de ética. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a punição divina
tem como fundamento o(a)

a) desvio da postura celibatária.


b) insuficiência da autonomia moral.
c) afastamento das ações de desapego.
d) distanciamento das práticas de sacrifício.
e) violação dos preceitos do Velho Testamento.

COMENTÁRIO: O filósofo defendia que o livre arbítrio foi dado ao homem, contanto
que utilizasse de acordo com a ética da responsabilidade, ou seja, caso o homem
usasse sua liberdade para pecar, receberia a punição divina e isso comprovaria sua
insuficiência moral.
(ENEM - 2019)

TEXTO l

Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre crescentes: o céu


estrelado sobre mim e a lei moral em mim.

KANT, I. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições 70 , s/d (adaptado) TEXTO ll


Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim.
FONTELA, O. Kant (relido). In: Poesia completa. São Paulo, Hedra, 2015.

A releitura realizada pela poeta inverte as seguintes ideias centrais do pensamento


kantiano:

A) Possibilidade da liberdade e obrigação de ação.


B) A prioridade do juízo e importância da natureza.
C) Necessidade da boa vontade e crítica da metafísica.
D) Prescindibilidade do empírico e autoridade da razão.
E) Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo.

COMENTÁRIO: Para Kant a moral é baseada na racionalidade humana e as ações


são frutos da análise fundamentada no imperativo categórico, um dispositivo moral
que se realiza na subjetividade do indivíduo. Além disso, outro conceito importante
para Kant é a impossibilidade de conhecimento pleno sobre o mundo, que se dá
através da interação com os fenômenos. Essa é a base da revolução copernicana
de Kant.

COMENTÁRIO POR ALTERNATIVA:

Alternativa correta:

a) Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo.No trecho retirado do livro


Crítica da razão prática, Kant afirma duas de suas ideias centrais: a
interioridade das normas morais como um juízo a priori, inato; o mundo como
um fenômeno, uma manifestação, impossibilitando o conhecimento da essência
das coisas (a coisa-em-si).

As outras alternativas estão erradas porque:

a) Não estão em causa a possibilidade da liberdade e a obrigação da ação,


mas "lei moral em mim".

b) Kant compreende a natureza a partir de seu viés fenomenológico, sua


importância se dá a partir do conhecimento humano.

c) No pensamento kantiano, a boa vontade está subordinada à ideia do dever.


Vale ressaltar que a crítica de Kant à metafísica, diz respeito à metafísica
tradicional.

d) Apesar de Kant reforçar a ideia de autoridade da razão, ele expõe os seus


limites e valoriza também o campo empírico através dos fenômenos. O
pensamento kantiano marcado pela tentativa de conciliar a tradição racionalista
com o empirismo.
(ENEM - 2020)

Será que as coisas lhe pareceriam diferentes, se, de fato, todas elas existissem
apenas na sua mente - se tudo o que você julgasse ser o mundo externo real fosse
apenas um sonho ou alucinação gigante, de que você jamais fosse despertar? Se
assim fosse, então é claro que você nunca poderia despertar, como faz quando
sonha, pois significaria que não há mundo "real" no qual despertar. Logo, não seria
exatamente igual a um sonho ou alucinação normal.

NAGEL, T. Uma breve introdução à filosofia. São Paulo. Martins Fontes. 2011.

O texto confere visibilidade a uma doutrina filosófica contemporrânea conhecida


como

A) Personalismo, que vincula a realidade circundante aos domínios do pessoal.


B) Falsificacionismo, que estabelece ciclos de problemas para refutar uma
conjectura.
C) Falibilismo, que rejeita mecanismos mentais para sustentar uma crença
inequívoca.
D) Idealismo, que nega a existência de objetos independentemente do trabalho
cognoscente.
E) Solipsismo, que reconhece limitações cognitivas para compreender uma
experiência compartilhada.

COMENTÁRIO: O Solipsismo é uma proposição que deriva do cogito ergo sum de


Descartes sim. MAS, Descartes não parou nessa proposição, ele se afastou da crença
de que só existem, efetivamente, o eu e as sensações desse eu. Ele afirma que o
mundo ao nosso redor existe para além de nossas sensações (res extensa) a partir da
noção de que Deus (res divina) existe e é uma substância perfeita e boa, não
permitindo que nos enganemos sobre as substâncias ao nosso redor. O solipsismo é
um tipo de ceticismo e Descartes não corrobora com essa corrente.

(ENEM - 2020)

Em A morte de Ivan Ilitch, Tolstoi descreve com detalhes repulsivos o terror de


encarar a morte iminente. Ilitch adoece depois de um pequeno acidente e logo
compreende que se encaminha para o fim de modo impossível de parar. "Nas
profundezas de seu coração, ele sabia estar morrendo, mas em vez de se acostumar
com a ideia, simplesmente não o fazia e não conseguia compreendê-la".

KAZEZ, J. O peso das coisas: filosofia para o bem-viver. Rio de Janeiro; Tinta Negra,
2004.

O texto descreve a experiência do personagem de Tolstoi diante de um aspecto


incontornável de nossas vidas. Esse aspecto foi um tema central na tradição filosófica

A) marxista, no contexto do materialismo histórico.


B) logicista, no propósito de entendimento dos fatos.
C) utilitarista, no setido da racionalidade das ações.
D) pós-modernista, na discussão da fluidez das relações.
E) existencialista, na questão do reconhecimento de si.
COMENTÁRIO: O texto trata da ideia de existencialismo, que é uma teoria filosófica
que trata do ser humano enquanto aquele que possui responsabilidade por sua própria
existência e passa a vida buscando um sentido para esta.

(ENEM – 2020)

Montaigne deu o nome para um novo gênero literário; foi dos primeiros a instituir na
literatura moderna um espaço privado, o espaço do "eu", do texto íntimo. Ele cria um
novo processo de escrita filosófica, no qual hesitações, autocríticas, correções entram
no próprio texto.

COELHO, M. Montaigne. São Paulo: Publifolha, 2001 (adaptado).

O novo gênero de escrita aludido no texto é o (a)

A) confissão, que relata experiências de transformação.


B) ensaio, que expõe concepções subjetivas de um tema.
C) carta, que comunica informações para um conhecido.
D) meditação, que propõe preparações para o conhecimento.
E) diálogo, que discute assuntos com diferentes interlocutores.

COMENTÁRIO: Michel Montaigne é um conhecido filósofo e humanista que inaugurou


o ensaio pessoal como uma forma de abordar análises subjetivas e reflexões.

(ENEM - 2020)

TEXTO I

Os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E
com as mãos e os pés E com o nariz e a boca.

PESSOA, F. O guardador de rebanhos - IX. In: GALHOZ, M. A. (Org.). Obras


poéticas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999 (fragmento).

TEXTO II

Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão
minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não
poderiam dizer nada.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes,


1999 (adaptado).

Os textos mostram-se alinhados a um entendimento acerca da ideia de


conhecimento, numa perspectiva que ampara a

A) anterioridade da razão do domínio cognitivo.


B) confirmação da existência de saberes inatos.
C) valorização do corpo na apreensão da realidade.
D) verificabilidade de proposições no campo da lógica.
E) possibilidade de contemplação de verdades atemporais.

COMENTÁRIO: A relação entre os textos demonstra que a percepção da realidade se


dá através dos sentidos do corpo. Os fenômenos são apreendidos pelo corpo, como
defendido por Marleau-Ponty

(ENEM - 2020)

Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma
com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com
vistas ao que lhe parece um bem; se todas as comunidades visam algum bem, é
evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais
que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens.

ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1988.

No fragmento, Aristóteles promove uma reflexão que associa dois elementos


essenciais à discussão sobre a vida em comunidade, a saber:

A) Ética e política, pois conduzem à eudaimonia.


B) retórica e linguagem, pois cuidam dos discursos na ágora.
C) Metafísica e ontologia, pois tratam da filosofia primeira.
D) Democracia e sociedade, pois se referem a relações sociais.
E) Geração e corrupção, pois abarcam o campo da physis

COMENTÁRIO: Para Aristóteles, a ética estaria voltada para o bem individual e a


política voltada para o bem comum. Ética e política estariam diretamente relacionadas
e o homem seria capaz de alcançar seu fim último que era a felicidade (eudaimonia).

(ENEM - 2020)

Adão, ainda que supuséssemos que suas faculdades racionais fossem inteiramente
perfeitas desde o início, não poderia ter inferido da fluidez e transparência da água
que ela o sufocaria, nem da luminosidade e calor do fogo que este poderia consumí-lo.
Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades que aparecem aos sentidos, nem as
causas que o produziram, nem os efeitos que fele provirão; e tampouco nossa razão é
capaz de extrair, sem auxílio da experiência, qualquer conclusão referente à existência
afetiva de coisas ou questões de fato. HUME, D. Uma investigação sobre o
entendimento humano.

São Paulo. Unesp, 2003.

Segundo o autor, qual é a origem do conhecimento humano?

A) A potência inata da mente.


B) A revelação da inspiração divina.
C) O estudo das tradições filosóficas.
D) A vivência dos fenômenos do mundo.
E) O desenvolvimento do raciocínio abstrato.

COMENTÁRIO: David Hume é um filósofo modernista que seguia a corrente


empirista, ou seja, defendia que o entendimento humano era apreendido através da
experiência sensível. Dessa maneira, a vivência dos fenômenos ocorreria através
através das experiências dos indivíduos, como defendido no princípio da causalidade.
(Enem Digital 2020)

Os sofistas inventam a educação em ambiente artificial, o que se tornará uma das


características de nossa civilização. Eles são os profissionais do ensino, antes de tudo
pedagogos, ainda que seja necessário reconhecer a notável originalidade de um
Protágoras, de um Górgias ou de um Antifonte, por exemplo. Por um salário, eles
ensinavam a seus alunos receitas que lhes permitiam persuadir os ouvintes, defender,
com a mesma habilidade, o pró e o contra, conforme o entendimento de cada um.

HADOT, P. O que é a filosofia antiga?. São Paulo: Loyola, 2010 (adaptado).

O texto apresenta uma característica dos sofistas, mestres da oratória que defendiam
a(o)

A) ideia do bem, demonstrado na mente com base na teoria da reminiscência.


B) relativismo, evidenciado na convencionalidade das instituições políticas.
C) ética, aprimorada pela educação de cada indivíduo com base na virtude.
D) ciência, comprovada empiricamente por meio de conceitos universais.
E) religião, revelada pelos mandamentos das leis divinas.

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