Vitimização de Policiais Militares Durante A Folga e em Trajes Civis

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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR


CENTRO DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

MEDIDAS DE AUTOPROTEÇÃO FACE À VITIMIZAÇÃO DOS POLICIAIS


MILITARES DE MINAS GERAIS, DE FOLGA E EM TRAJES CIVIS

GUSTAVO HENRIQUE PEREIRA DINIZ

Belo Horizonte
2018
Gustavo Henrique Pereira Diniz

MEDIDAS DE AUTOPROTEÇÃO FACE À VITIMIZAÇÃO DOS POLICIAIS


MILITARES DE MINAS GERAIS, DE FOLGA E EM TRAJES CIVIS

Monografia apresentada ao Curso de


Especialização em Segurança Pública da
Academia de Polícia Militar de Minas Gerais,
como requisito parcial à obtenção do título de
Especialista em Segurança Pública.

Área de concentração: Segurança Pública

Orientador: Claudio Aparecido da Silva, Maj


PM

Belo Horizonte
2018
Gustavo Henrique Pereira Diniz

MEDIDAS DE AUTOPROTEÇÃO FACE À VITIMIZAÇÃO DOS POLICIAIS


MILITARES DE MINAS GERAIS, DE FOLGA E EM TRAJES CIVIS

Monografia apresentada à Academia de Policia


Militar, como requisito parcial para a obtenção do
título de Especialista em Segurança Pública.
Área de concentração: Segurança Pública
Orientador: Claudio Aparecido da Silva, Major PM

BANCA EXAMINADORA

_______________________________
Claudio Aparecido da Silva, Major PM

________________________________
Avaliador 1

________________________________
Avaliador 2

Belo Horizonte, ___________de _____________de 2018


Dedico este trabalho aos militares que
faleceram em confronto entre os anos de 2012
e 2017, que mesmo de folga e em trajes civis,
bravamente exerceram sua profissão em defesa
da sociedade. São eles (in memorian):

Sub Ten Gabriel Machado Alvarenga


3º Sgt Silmar Pereira da Silva
3º Sgt Rafael Augusto Reis de Resende
3º Sgt Vanderli Gonçalves da Silva
3º Sgt Carlos Augusto dos Reis
3º Sgt Bruno Marcelos Porto
Cb Antonio Marcos de Aguiar
Cb Ramon André Oliveira Ribeiro
Cb Anderson Heráclito Gaspardine
Cb Agenor Fernandes Neto
Cb Michel Batista Brandão
Cb Anderson José da Silva
Cb Amarildo Pereira de Moura
Cb Ednaldo Muniz Barbosa
Cb Rogério Aparecido Pereira de Moraes
Sd Erick Vieira da Silva
Sd Luiz Otavio dos Santos Junior
Sd Daniel Assis Rocha
Sd Guilherme Ricardo Jurgensen
Sd Charles Coelho de Souza Junior
Sd Maicon Gomes da Silva
Sd Andre Luis Lucas Neves
Agradeço, primeiramente, ao Senhor Deus por
ter me concedido saúde para conseguir acordar
todos esses dias e ir em direção ao
cumprimento desta missão.

À minha esposa Luciana, pelo incentivo,


companheirismo, e por ter suportado todas as
minhas ausências naqueles tantos momentos
debruçados nos livros.

À minha filha Isabela, pelo amor incondicional


que pude conhecer nesta vida, e motivação por
meio da alegria estampada em seu rostinho
quando me via chegando em casa.

Ao Senhor Major PM Claudio Aparecido da


Silva, Oficial com educação vertente e sempre
disposto a ajudar, de maneira paciente, me
orientou meticulosamente neste trabalho e me
tornou melhor.

À Rita Lúcia, bibliotecária da APM, que


prontamente me ajudava na procura e guarda
dos livros, além de me esperar encerrar os
trabalhos aos finais do seu expediente.
"Hoje pode ser mais um dia normal na sua
vida, ou pode ser o dia em que você será
testado sobre tudo o que aprendeu física,
emocional, espiritual e legalmente".

Humberto Wendling
RESUMO

A presente pesquisa objetivou identificar a existência de medidas capazes de minimizar ou


evitar a vitimização de policiais militares, durante a folga e em trajes civis, em ocorrências
cujas causas presumidas são roubo e latrocínio. Verificou-se que morrem três vezes mais
policiais militares no Brasil em confronto policial durante o período de folga do que durante o
serviço fardado. Em Minas Gerais, entre os anos de 2012 e 2017, esse número de policiais
militares chegou a 22 das 37 mortes no período. Trata-se de pesquisa inédita em Minas
Gerais, pois apresenta teorias na área da vitimologia, bem como informações detalhadas
acerca dos fatores que levaram à morte dos policiais militares durante o confronto, quando de
folga e em trajes civis, além de dados de questionário aplicado junto aos policiais militares da
ativa do Estado de Minas Gerais. O tema mostra-se relevante para instituição, uma vez que
fornece melhores condições técnicas ao policial militar, a fim de minimizar os riscos e efeitos
de um possível confronto policial durante a folga em trajes civis. Trata-se de pesquisa
explicativa, descritiva, qualitativa e quantitativa, de forma que a consulta junto aos militares
da ativa da Polícia Militar de Minas Gerais (incluindo o que eles pensam a cerca de medidas
autoprotetivas, bem como quais ações consideram efetivas), além dos dados da Corregedoria
da Polícia Militar, aliados ao referencial teórico permitiram conhecer o fenômeno da
vitimização. O estudo realizado elucida o tema e propõe medidas de autoproteção ao policial
militar de forma a prevenir ou mitigar os efeitos do confronto policial durante a folga e em
trajes civis.

Palavras-chave: vitimização, medidas de autoproteção, folga, trajes civis, Polícia Militar de


Minas Gerais.
ABSTRACT

The present research aimed to identify the existence of capable measures of reduce or avoid
the victimization of military police, during off duty and in civilian clothes, in occurrences in
which the presumed causes are robbery and murder to steal . It was found that military police
officers died in Brazil three times more in a police confrontation during day off than during
service in uniform. In Minas Gerais, between 2012 and 2017, this number of military police
reached 22 of 37 deaths in the period. It is an unprecedent research in Minas Gerais, since it
presents theories in the area of victimology, as well as detailed information about the factors
that led to the death of military police during the confrontation on day off and in civilian
clothes, in addition to data from questionnaire applied to the military police of Minas Gerais
in activity. The theme is relevant for the Institution, since it provides better technical
conditions for the military police officer, in order to minimize the risks and effects of a
possible police confrontation during the day off in civilian clothes. It is an explanatory,
descriptive, qualitative and quantitative research, so that the consultation with the military in
activity of the Military Police of Minas Gerais (including what they think about self-
protective measures, as well as actions they consider effectives), besides the data of the
Military Police Corregedoria, allied to the theoretical reference made it possible to know the
phenomenon of victimization. The study elucidates the subject and proposes self-protection
measures for the military police in order to prevent or mitigate the effects of the police
confrontation during the day off and in civil clothes.

Keywords: victimization, self-protection measures, day off, civilian clothes, Military Police of
Minas Gerais.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Quantidade de policiais militares e civis mortos vítimas de homicídio


no Brasil (2009 - 2016) ........................................................................... 37

Gráfico 2 - Causas das mortes dos policiais militares de Minas Gerais da ativa, no
período de 2012 a 2017............................................................................ 42

Gráfico 3 - Quantidade de policiais militares mortos em confronto policial durante


o serviço e de folga, no período de 2012 a 2017 ..................................... 43

Gráfico 4 - Quantidade de policiais militares mortos em confronto policial durante


a folga e em trajes civis, por Região da Polícia Militar de ocorrência do
evento........................................................................................................ 43

Gráfico 5 - Quantidade de policiais militares que estavam armados e que


revidaram durante o confronto de folga e em trajes civis, no período de
2012 a 2017.............................................................................................. 45

Gráfico 6 - Relação entre o tipo de instrumento utilizado pelo infrator e pela vítima
policial militar em ocorrência que culminou na morte desta última,
durante o confronto na folga e em trajes civis, no período de 2012 a
2017 ......................................................................................................... 45

Gráfico 7 - Quantidade de ocorrência por número de infrator envolvido na morte


do policial militar no confronto durante a folga e em trajes civis, no
período de 2012 a 2017 ........................................................................... 45

Gráfico 8 - Quantidade de ocorrência por tipo de local utilizado pelo autor no


delito que culminou na morte de policial militar no confronto durante a
folga e em trajes civis, no período de 2012 a 2017 ................................. 46

Gráfico 9 - Quantidade de ocorrências que culminaram na morte de policial militar


durante confronto na folga e em trajes civis, por local do corpo do
policial militar atingido pelo disparo de arma de fogo, no período de
2012 a 2017.............................................................................................. 47

Gráfico 10 - Dia da semana e hora por tipo de local da ocorrência que culminou em
morte de policial militar durante o confronto na folga e em trajes civis,
no período de 2012 a 2017 ...................................................................... 48

Gráfico 11 - Posto/graduação dos policiais militares mortos em confronto durante o


período de folga e em trajes civis, por tempo de serviço na instituição,
no período de 2012 a 2017....................................................................... 49

Gráfico 12 - Percentual de policiais militares que já passaram pelo Treinamento


Policial Básico (TPB) no biênio (2018-2019).......................................... 49
Gráfico 13 - Percentual de policiais militares que responderam ao questionário, por
sexo ......................................................................................................... 50

Gráfico 14 a e Percentual de policiais militares que responderam ao questionário, por


b- faixa etária e tempo de serviço ................................................................ 50

Gráfico 15 - Percentual de policiais militares que se deslocam armados durante a


folga e em trajes civis .............................................................................. 51

Gráfico 16 - Percentual de policiais militares, por posto/graduação, que portam


arma de fogo durante a folga e em trajes civis......................................... 51

Gráfico 17 - Percentual de policiais militares que se deslocam armados durante a


folga e em trajes civis.quando estão com sua família............................... 52

Gráfico 18 - Percentual de policiais militares, por local de porte da arma de fogo,


durante o deslocamento a pé, na folga e em trajes civis........................... 53

Gráfico 19 - Percentual de policiais militares, por local de porte da arma de fogo,


durante o deslocamento de carro como condutor, na folga e em trajes
civis........................................................................................................... 54

Gráfico 20 - Percentual de policiais militares que já foram vítimas de roubo durante


a folga e em trajes civis ........................................................................... 56

Gráfico 21 - Percentual de policiais militares, por posto/graduação, que durante o


período de folga e em trajes civis já foram vítimas de roubo................... 56

Gráfico 22 - Quantidade de policiais militares, por tempo de serviço, que já foram


vítimas de roubo durante o período de folga e em trajes civis................. 57

Gráfico 23 - Percentual de policiais militares que durante o período de folga e


emtrajes civis foram feridos em razão de confronto policial quando
vítimas de roubo ...................................................................................... 58

Gráfico 24 - Percentual de policiais militares que estavam armados quando foram


vítimas de roubo durante o período de folga e em trajes civis ................ 58

Gráfico 25 - Percentual de policiais militares vítimas de roubo durante o período de


folga e em trajes civis, por instrumento utilizado pelo criminoso............ 58

Gráfico 26 - Percentual de policiais militares que consideram ter agido correndo o


menor risco possível quando foram vítimas de roubo durante o período
de folga e em trajes civis ......................................................................... 59

Gráfico 27 a e Percentual de policiais militares, por sexo, que se deslocam armados


b- durante a folga e em trajes civis............................................................... 59
Gráfico 28 a e Percentual de policiais militares, por sexo e tempo de serviço na
b- PMMG, que portam arma de fogo durante a folga e em trajes civis........ 60

Gráfico 29 - Percentual de policiais militares do sexo masculino, por local de porte


da arma de fogo, durante o deslocamento a pé, na folga e em trajes
civis........................................................................................................... 60

Gráfico 30 - Percentual de policiais militares do sexo feminino, por local de porte


da arma de fogo, durante o deslocamento a pé, na folga e em trajes
civis........................................................................................................... 61

Gráfico 31- Percentual de policiais militares do sexo masculino, por local de porte
da arma de fogo, durante o deslocamento de carro como condutor, na
folga e em trajes civis............................................................................... 61

Gráfico 32 - Percentual de policiais militares do sexo feminino, por local de porte


da arma de fogo, durante o deslocamento de carro como condutora, na
folga e em trajes civis............................................................................... 62

Gráfico 33 a e Percentual de policiais militares, por sexo, que já foram vítimas de


b- roubo durante o período de folga e em trajes civis .................................. 62

Gráfico 34 - Percentual de policiais militares que foram vítimas de roubo durante a


folga e em trajes civis, por sexo e meio utilizado pelo
criminoso.................................................................................................. 63

Gráfico 35- Percentual de policiais militares que, durante sua formação (CFSD,
CFS, CEFS, CFO, CHO), já receberam algum tipo de treinamento de
como deve agir durante a folga e em trajes civis ..................................... 64

Gráfico 36 - Percentual de policiais militares que se sentem preparados para


enfrentar uma ameaça de roubo durante a folga e em trajes civis ........... 64

Gráfico 37 - Percentual de policiais militares que consideram que se houver alguma


disciplina, curso ou treinamento sobre o tema 'medidas de
autoproteção', poderá diminuir o número de policiais que morrem em
confronto durante sua folga e em trajes civis .......................................... 65

Gráfico 38 - Percentual de policiais militares que já planejaram o que fazer, a fim de


se antecipar de uma possível ação de um agressor, durante a folga e em
trajes civis e já orientaram suas famílias quanto aos procedimentos de
segurança que podem ser adotados para quando estiverem juntos .......... 65
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quantidade de policiais mortos na capital por situação e corporação


(2012-2016)................................................................................................ 37

Tabela 2 - Quantidade de policiais militares de Minas Gerais da ativa mortos em


confronto (2012-2017)............................................................................... 38
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APM Academia de Polícia Militar

CBO Classificação Brasileira de Ocupações

CFO Curso de Formação de Oficiais

CHO Curso de Habilitação de Oficiais

CFS Curso de Formação de Sargentos

CFSD Curso de Formação de Soldados

CPM Corregedoria da Polícia Militar

DGEOP Diretriz Geral para Emprego Operacional da Polícia Militar de


Minas Gerais

EAL Encarregados de Aplicação da Lei

EMEMG Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais

EMPM Estado Maior da Polícia Militar

FBSP Fórum Brasileiro de Segurança Pública

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PLW Point Light Walker

PMMG Polícia Militar de Minas Gerais

RPM Região da Polícia Militar

REDS Registro de Eventos de Defesa Social

SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública

TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo

TPB Treinamento Policial Básico

UNODC Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

ZQC Zona Quente de Criminalidade


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15

2 A EVOLUÇÃO DO FENÔMENO CRIMINAL.............................................. 17

2.1 Teoria do controle............................................................................................... 18

2.2 Prevenção situacional do crime e sua influência no fato delituoso................. 20

2.3 Vitimologia........................................................................................................... 22

3 A PROFISSÃO POLICIAL MILITAR............................................................ 26

3.1 A capacitação para o exercício profissional e o uso da força.......................... 28

3.2 Intervenção policial durante a folga e em trajes civis...................................... 30

3.3 Vitimização policial............................................................................................. 34

4 METODOLOGIA............................................................................................... 39

4.1 Procedimentos de coleta de dados...................................................................... 39

4.2 Apuração dos dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais... 40

4.3 Apuração do questionário.................................................................................. 40

4.3.1 Plano de Amostragem........................................................................................... 41

5 MEDIDAS DE AUTOPROTEÇÃO FACE À VITIMIZAÇÃO POLICIAL 42

5.1 Dados da Corregedoria da Polícia Militar de Minas Gerais........................... 42

5.1.1 Mortes de policiais militares em situações diversas.............................................. 42

5.1.2 Mortes de policiais militares em confronto policial.............................................. 43

5.1.3 Perfil dos policiais militares mortos em confronto policial.................................. 49

5.2 Análise do questionário aplicado aos policiais militares da PMMG.............. 49

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 69
REFERÊNCIAS .............………………………................................................ 75

APÊNDICE.......................................................................................................... 81

ANEXOS.............................................................................................................. 86
15

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo monográfico dispõe como tema medidas de autoproteção face à vitimização
dos policiais militares do Estado de Minas Gerais, de folga e em trajes civis.

Foi estabelecida como delimitação espacial o Estado de Minas Gerais, de forma a possibilitar
uma análise mais abrangente e que contemple as peculiaridades das regiões de atuação da
Policia Militar de Minas Gerais (PMMG) em todo o Estado.

Na esfera temporal, a delimitação será o período compreendido entre os anos de 2012 e 2017,
uma vez que a partir de 2012, com a criação da Comissão de Acompanhamento e Controle de
Letalidade e Uso da Força, as estatísticas da Corregedoria da Polícia Militar (CPM) se
tornaram mais precisas e detalhadas, e até 2017 por ser o último ano com dados completos
para análise.

Esse recorte permitirá uma análise das estatísticas de órgãos de segurança pública como uma
aproximação histórica das atitudes do policial militar durante o seu período de folga ao modus
operandi do agressor.

O trabalho tem como objetivo geral identificar se existem medidas que podem ser adotadas
pelo policial militar de folga e em trajes civis aptas a minimizar ou evitar a vitimização em
ocorrências, cuja causa presumida é o roubo e o latrocínio.

Os objetivos específicos são: identificar o número de ocorrências de roubo, homicídio e


latrocínio em que policiais militares de folga e em trajes civis, foram mortos, entre os anos de
2012 e 2017; descrever o perfil dos policiais militares vitimados; analisar se há indicativos de
emprego de medida que possa ser considerada de autoproteção por parte dos militares
vitimados; verificar a percepção pelos policiais militares de Minas Gerais a respeito das
medidas de autoproteção.

O questionamento que conduz este trabalho é verificar se existem medidas a serem adotadas
pelo policial militar de folga e em trajes civis adequadas para minimizar ou evitar a sua
vitimização em ocorrências onde a causa presumida é o roubo e o latrocínio.
16

Para isso, apresentou-se como hipótese a existência de medidas de autoproteção aptas a


minimizar ou evitar a vitimização de policiais militares durante o seu período de folga e em
trajes civis em ocorrências, cuja causa presumida é o roubo e o latrocínio.

Para que se tenha um melhor entendimento a respeito do tema, o estudo foi dividido em seis
seções, iniciando com a seção 1 a introdução do trabalho.

A seção 2 versa sobre a evolução do fenômeno criminal e apresenta as teorias que explicam o
crime, em especial a teoria do controle e a prevenção situacional, que buscam a existência do
delito não no viés do criminoso, mas da perspectiva da vítima por meio da vitimologia,
reduzindo as oportunidades. Ao final desta seção levanta-se a existência de profissões que
aumentam os riscos de vitimização.

Na seção 3 apresenta-se a profissão policial militar, as normas que regulam suas atividades,
bem como os deveres, obrigações e riscos inerentes ao trabalho. Uma vez que esta profissão
busca preservar vidas de pessoas, é exposto o tipo de capacitação exigido para o exercício
profissional com vistas à atuação em situações que envolvam policiais militares, em
particular, durante a folga e em trajes civis. Ao final desta seção é apontada a vitimização
policial, apresentando-se os dados estatísticos de mortes de policiais militares causadas por
confrontos policiais durante o período de folga e em trajes civis, no Brasil e em Minas Gerais.

Na seção 4 é apresentada a metodologia, que indica o método, a técnica de abordagem, assim


como os procedimentos de coleta dos dados.

A seção 5 traz a interpretação e discussão dos dados estatísticos referentes a policiais militares
que morreram em confronto policial durante a folga e em trajes civis, no período de 2012 a
2017, bem como a análise do questionário aplicado aos policiais militares da ativa do Estado
de Minas Gerais. Com vistas ao referencial teórico e os dados trabalhados, foi possível
identificar a existência de medidas de autoproteção que policiais militares podem aplicar
durante a folga e em trajes civis.

Finalmente, a seção 6 exibe as considerações finais, seguidas das referências, apêndice e


anexos.
17

2 A EVOLUÇÃO DO FENÔMENO CRIMINAL

Desde o século XlX, procura-se explicações a respeito das causas da criminalidade violenta.
Foram criadas teorias para tais esclarecimentos como as orientadas nas patologias individuais,
Teoria da Desorganização Social, Teoria Estrutural-Funcionalista do Desvio e da Anomia,
Teoria da Associação Diferencial e do Aprendizado Cultural, Teoria do Controle e Teoria da
Ecologia Humana. Santos (2016, p. 46) salienta que "essas teorias precisam ser analisadas
considerando-se o contexto histórico no qual foram elaboradas".

Ainda Santos (2016, p. 46) diz que "algumas explicações do crime recaem sobre o agressor,
outras na vítima, e outras correntes defendem que tanto o agressor como a vítima contribuem
para a ocorrência da delinquência".

Quanto à teoria orientada nas patologias individuais, Cerqueira e Lobão (2007) explicam o
comportamento criminoso a partir de patologias biológicas, psicológicas e psiquiátricas. Desta
teoria, se destaca o médico psiquiatra, antropólogo e criminologista Cesare Lombroso que, em
1875, defendeu a ideia do criminoso nato, possuidor de traços anatômicos e psicológicos que
o diferiam do homem de bem.

Entre 1920 e 1930, os sociólogos Cliffor Shaw e Henry McKay expuseram a


teoria da desorganização social. Essa tese se baseou nos estudos das
comunidades locais, sendo que a criminalidade surgiria da consequência dos
efeitos malquistos das relações sociais comunitárias e de vizinhança como
orientação ou reduzida participação social, adolescentes sem a devida
supervisão e amizades dispersas (CERQUEIRA, 2007, p. 21).

Em 1989, Sampson e Groves desenvolveram um estudo a fim de testar a teoria da


desorganização social, entretanto, Cerqueira e Lobão (2007) concluíram que não havia
correlação entre a teoria e as variáveis apresentadas, além de ter retratado resultados
insignificantes para explicar a criminalidade.

Em 1938, Robert Merton desenvolveu a teoria estrutural-funcionalista do desvio e da anomia


onde a "motivação para o crime decorre da impossibilidade de o indivíduo alcançar metas
desejadas, como o sucesso econômico, por exemplo, em virtude de fatores sociais que
impedem sua realização" (SANTOS, 2016, p. 52).
18

Cerqueira (2007, p. 20) exemplifica essa teoria nos seguintes termos: "eu gostaria de possuir
um carro, uma casa, um tênis da moda, etc., mas eu acho que não conseguiria dinheiro ou
condições para satisfazer tais aspirações".

Ainda Cerqueira (2007) assinala que em 1939, o sociólogo Edwin Sutherland desenvolveu a
Teoria da Associação Diferencial e do Aprendizado Cultural. Essa tese contrapõe a Teoria da
Anomia questionando a justificativa das classes média e rica para cometerem crimes.

Santos apud Cerqueira (2007) acrescenta que, de acordo com Edwin Sutherland, a família, a
comunidade, incluindo as amizades, possuem um papel fundamental para fazer o bem como
também para aprender métodos e técnicas criminosas. A família exerce grande influência na
socialização da criança, mas se torna segundo plano quando ela chega à pré-adolescência,
onde outros grupos sociais (escola, amigos, mídia, etc) atuam.

As teorias conceituadas servem de base para se conhecer a evolução das teorias do crime. O
presente trabalho se sustenta na Teoria do Controle, conforme explicado na sequência.

2.1 Teoria do Controle

A Teoria do Controle, segundo Santos (2016), pressupõe que qualquer pessoa é um criminoso
em potencial. O que faz uma pessoa cometer o crime é a oportunidade de colocar em prática o
seu intento, se aproveitando das fragilidades. Ao passo que, o que impede o delito são as
estratégias de controle que possam frustrar o criminoso.

Dessa teoria, conforme Santos (2016), surgiram debates que consideram o fator espaço como
influência da criminalidade, gerando a Teoria das Atividades Rotineiras, Teoria das Janelas
Quebradas, Teoria da Escolha Racional e Teoria da Prevenção Situacional do Crime.

Cohen e Felson (1979) desenvolveram a Teoria das Atividades Rotineiras e afirmou que para
haver a ocorrência criminal, devem estar presentes três componentes: uma vítima, um
agressor em potencial e a presença ou ausência de elementos dissuasórios. Há de observar que
essa teoria não aborda o perfil do criminoso, mas sim as circunstâncias nas quais o crime
ocorre.
19

Felson e Clarke (1998, p. 229) escreveram dez princípios acerca desta teoria:

1) A oportunidade é uma das causas de qualquer crime; 2) A oportunidade é


específica para cada tipo de crime; 3) O crime muda a cada hora e dia da
semana, refletindo as possibilidades de realizá-lo; 4) A oportunidade
depende das atividades diárias de rotina; 5) Um crime gera oportunidade
para outro; 6) Alguns produtos oferecem maior oportunidade para o crime;
7) Mudanças sociais e tecnológicas produzem novas oportunidades para o
crime; 8) Um crime pode ser prevenido ao se reduzir oportunidades para a
sua ocorrência; 9) A redução de oportunidade não necessariamente causa
deslocamento espacial do crime; 10) Medidas de prevenção em uma área
podem levar à redução do crime em outra próxima, proporcionando uma
difusão de benefícios.

A Teoria das Janelas Quebradas, desenvolvida por Wilson e Kelling (1982), sinaliza que uma
simples janela quebrada demonstra a falta de preocupação ou cuidado com aquele imóvel.
Estes autores argumentam que os problemas devem ser corrigidos quando ainda estão no
começo (SANTOS, 2016).

A Teoria da Escolha Racional foi desenvolvida por Ronald Clarke em 1985, onde, conforme
Carvalho (2005), o criminoso avalia o custo-benefício do delito, após ter encontrado a
oportunidade para a consumação do crime.

A Teoria da Prevenção Situacional também desenvolvida por Ronald Clarke incrementa a


Teoria da Escolha Racional, em que o crime pode ser evitado reduzindo as oportunidades
existentes no espaço que beneficiam o criminoso e aumentando os riscos para o próprio
infrator quanto à prática criminal (FREITAS, 2004).

Santos (2016, p. 62) acrescenta que "a população é o principal agente mantenedor da
prevenção dos crimes, criando em diferentes lugares do espaço urbano situações que
favoreçam a diminuição das ocorrências ao estabelecer meios de proteção [...]".

Em geral, os estudos de vitimização procuram identificar os fatores que influenciam a


probabilidade de um indivíduo ser vitimado, sendo o objeto de estudo o evento criminal e as
condições que favorecem a sua ocorrência. Privilegia-se a análise do evento em detrimento
das motivações que levam o indivíduo a entrar na carreira criminal. Assim, a identificação dos
fatores sociológicos, econômicos ou psicológicos que induzem um indivíduo a optar pela
carreira criminal, na maioria das vezes, fora do controle da sociedade, não é abordada.
20

Cohen, Kluegel e Land (1981) fizeram um estudo da criminalidade colocando a vítima como
objeto de análise. Esse estudo objetivou investigar como o estilo de vida do indivíduo e as
oportunidades geradas por ele influenciam a probabilidade de vitimização, sendo essa relação
confirmada. Esse trabalho foi baseado nas teorias de "estilo de vida" (life-style models) e
"oportunidades" (opportunity models). Nesse viés, Beato (2004, p.76) explica que:

Fatores que mais influenciam o risco de vitimização dos indivíduos são:


exposição, proximidade da vítima ao agressor, capacidade de proteção,
atrativos das vítimas e natureza dos delitos. A exposição é definida pela
quantidade de tempo que os indivíduos frequentam locais públicos,
estabelecendo contatos e interações sociais. O estilo de vida de cada
indivíduo determina em que intensidade os demais fatores estão presentes na
sua vida. Assim, determina em que medida os indivíduos se expõem ao
frequentar lugares públicos, qual a sua capacidade de proteção, seus atrativos
e a proximidade com os agressores.

O modelo do estilo de vida foi desenvolvido por Hindelang et al. (1978). Peixoto (2007)
considera que a maneira pela qual um indivíduo aloca seu tempo entre atividades de lazer e
trabalho, está relacionada à sua probabilidade de estar no local e no momento mais propício à
ação criminal. A diferença no estilo de vida dos indivíduos afeta o tempo despendido em
interações com criminosos em potencial e/ou em situações nas quais existe um alto risco de
vitimização.

A partir dessas variáveis amparadas, principalmente, por Cohen, Kluegel e Land (1981) e
também por Beato (2004), este trabalho aborda as formas pelas quais a vítima, que no caso é o
policial militar em seu horário de folga e em trajes civis, pode se prevenir de crimes violentos
como roubo e latrocínio, mas também estabelecer medidas de autoproteção para fazer frente
caso não consiga preveni-lo.

2.2 Prevenção situacional do crime e sua influência no fato delituoso

O guia para prevenção do crime e da violência da Secretaria Nacional de Segurança Pública


(SENASP) conceitua a prevenção situacional como:

Estratégia de prevenção centrada em ações dirigidas à redução das


oportunidades para a prática de crimes e violências na sociedade, através do
aumento dos custos, aumento dos benefícios e/ou redução dos benefícios
associados à prática de crimes e violências” (BRASIL, 2010, p. 53).
21

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), no ano de 2010, escreveu
um manual contendo diretrizes de prevenção à criminalidade, cujo foco foi propor ações de
planejamento e estratégias para a prevenção do crime. Em uma das diretrizes é descrito que:

A prevenção situacional do crime cobre as abordagens que tenham como


objetivo principal reduzir as oportunidades aos perpetradores para
cometerem crimes, intensificar os riscos e custo para aqueles que forem
apanhados e minimizar os benefícios advindos da prática das atividades
criminosas (ONU, 2010, p. 13).

A prevenção situacional sinaliza momentaneamente a reduzir as oportunidades do delito.


Consiste em identificar as formas e lugares onde ocorrem os tipos específicos de delito e a
recomendação de critérios para a adoção de medidas para cada situação e quais pessoas da
comunidade ou instituições deveriam executá-las (KOSOVSKI, 2008).

Beato (2004), como forma de identificar estratégias de prevenção situacional, descreveu o


perfil das vítimas de furto, roubo e agressão física no município de Belo Horizonte,
considerando suas características, condição socioeconômica, hábitos, características
familiares e características dos locais onde vivem, para investigar como o estilo de vida do
indivíduo e as oportunidades geradas por ele influenciam a probabilidade de vitimização.

O roubo é definido como ato de apropriação de bens alheios em que a vítima


percebe a apropriação na hora da efetivação do ato. A diferença para a
tentativa de roubo é que nesta o criminoso não consegue efetivar o ato de
apropriação. Em ambos os casos, todos os quatro fatores que determinam a
vitimização (exposição, capacidade de proteção, atrativos e proximidade da
vítima com o agressor) foram fundamentais para estabelecer sua
probabilidade, assim como a probabilidade de interação
ofensor/vítima/vigilância, que é um aspecto central na interação
agente/vítima no tempo e no espaço. A exposição do indivíduo foi
confirmada como um importante componente na determinação da
probabilidade de vitimização [...] (BEATO, 2004, p. 83).

Para Rolim (2006) a prevenção situacional emprega estratégia de prevenção voltada para
ações dirigidas à redução das oportunidades da prática de crimes e violências na sociedade.

Nesse viés, Carvalho (2011) assevera que é possível antecipar vulnerabilidades para a
vitimização, assim como identificar medidas de redução de vulnerabilidade em um local e até
22

prevenir grupos de risco e alvos potenciais do crime, avaliando suas atividades rotineiras,
estilo de vida e ambiente em que estão inseridos.

Molina e Gomes (1997) orientam que se deve evitar frequentar certos lugares em
determinadas horas, instalar alarmes, utilizar equipamentos eletrônicos em carros, não expor
certos objetos de valor à vista, entre outros, e acrescenta que:

As estratégias convencionais de prevenção devem ser complementadas com


outras, rotineiras, quase domésticas, associadas aos estilos de vida, hábitos,
costumes e atividades rotineiras do indivíduo e das organizações. Sendo o
risco de vitimização um risco diferencial, seletivo, não resta dúvida que uma
elementar atitude de cuidado e vigilância, de responsabilidade e cautela, por
parte da vítima potencial em determinadas situações mitigará sensivelmente
aquele com êxitos preventivos muito relevantes (MOLINA; GOMES, 1997,
p. 426).

Segundo Persijn et al. (2006), existem várias técnicas alinhadas ao modelo situacional que
podem ser aplicadas, reduzidas em quatro vertentes:

a) As que incrementam a percepção do esforço associado com determinado


delito, fazendo com que o infrator perceba o aumento da dificuldade para a
prática bem sucedida do delito; b) As que incrementam a percepção do risco,
através do exame e controle de entradas e saídas; alarmes; vigilância por
empregados; procedimentos de alfândega e imigração; c) As tendentes a
reduzir as recompensas esperadas, diminuindo lucro e expectativas positivas
associadas ao delito; e d) As que objetivam potencializar o sentimento de
culpa do infrator, incentivando a consciência da condenação moral de sua
conduta, como campanhas de sensibilização e controle de mecanismos
desinibidores (como o álcool) (PERSIJN et al., 2006, p. 424).

2.3 Vitimologia

"Se nem todos os réus são culpados, nem todas as vítimas são
inocentes". Vasile Stanciu

O dicionário Michaelis define Vitimologia como o ramo da criminologia que se interessa pela
personalidade das vítimas de crimes ou delitos, por seu estatuto psicossocial.

Ainda do ponto de vista linguístico, a Vitimologia é definida no Dicionário Aurélio como:


“Vitimologia (vì) [De vítima + -o- + -logia.] Substantivo feminino. 1.Teoria que tende a
justificar um crime pelas atitudes tomadas pela vítima, como se ela o tivesse motivado"
(FERREIRA, 2010).
23

O termo vitimologia, conforme Silva (2006), remonta a 1945, com o registro histórico de seu
surgimento ocorrido no pós-guerra, quando o professor de Criminologia Benjamim
Mendelson, da Universidade Hebraica de Jerusalém, expõe os primeiros estudos sobre a
matéria sendo considerado o fundador da vitimologia. Em seus estudos, ressaltava a
importância de estudar o comportamento da vítima.

O professor alemão Hans Von Henting, em 1941, propôs outra concepção da vítima, não mais
apenas como o sujeito passivo do crime, mas também sujeito ativo. Em 1973, foi realizado o
1º Simpósio internacional de vitimologia em Jerusalém. Hans Von Henting juntamente com
Benjamim Mendelson são considerados os pioneiros da vitimologia.

Durante muito tempo deu-se importância ao crime e ao criminoso, mas a vítima era esquecida
neste contexto. A abordagem da vitimologia traz relevância à vitima no processo
criminológico, bem como a assistência a quem tem direito (KOSOVSKI, 2008).

Em decorrência da contribuição da vítima para o fenômeno criminal é que surgiu o


alicerçamento da Vitimologia, que tem como função o estudo científico da vítima.
Conforme Viana (2016, p. 133), “o monofoco da Criminologia positivista, é dizer,
concentrar a explicação do comportamento delitivo apenas na pessoa do autor do crime
inevitavelmente dilui o protagonismo da vítima na gênesis do comportamento delitivo".

A vitimologia tem por objeto o estudo da vítima do crime, sua personalidade, características
psicológicas, morais e culturais, relações com o criminoso e outras condições que fazem com
que a vítima colabore para a realização do crime. Pode ser identificada como o “estudo
científico da vítima” (BRANCO, 2008).

Junior apud Machado (1985, p. 15) relata as consequências da participação da vítima em uma
ocorrência e afirma que:

[...] qualquer crime é bem possível chegar-se ao esclarecimento da


participação consciente e inconsciente da vítima. Tal participação pode
revelar-se em cuidadosa análise dos fatos e das causas móveis de conduta. A
variedade de formas com que essa participação da vítima se dá é impossível
de ser relatada, visto que sua participação muitas vezes se esconde na
24

complexa situação dos fatos apurados, ressalvando-se a vítima inocente, de


onde se pode buscar o verdadeiro causador do crime.

Farias Júnior (1990, p. 78) acrescenta que "há ainda as vítimas inocentes que são as
verdadeiras vítimas, não sendo nem causa nem fator, isto é, não são provocadores, não tendo
culpa alguma na realização dos delitos, apenas sofrendo as suas consequências".

Por outro lado, Souza (1998, p.24) expressa que:

A vitimologia estuda a participação da vitima na configuração de delitos. Em


sentido estrito, ela tem por objeto o estudo da vitima e, em sentido amplo,
ela abrange o estudo do comportamento da vitima e do criminoso, os vários
e sucessivos desdobramentos envolvidos nessa relação, os reflexos sociais,
psicológicos, legais e de várias outras espécies decorrentes dessa complexa
teia de relações, as sanções legais, sociais ou emocionais acarretadas pelas
condutas provocantes, a influência de todo esse complexo de fatores com o
ordenamento jurídico vigente numa dada sociedade, num dado momento
histórico.

Ainda conforme Souza (1998), a interação entre criminoso e vítima pode ser determinante da
ocorrência do crime, dependendo da forma como se comporta o ofendido, podendo induzi-lo a
praticar a conduta criminosa ou facilitar o delito. Exemplos desse comportamento é a pessoa
que estaciona em local ermo e permanece no interior do veículo, aquele que anda pela rua
falando ao celular desatento ao que está ocorrendo a sua volta, ou mesmo o indivíduo que
deixa objetos de valor dentro do carro à vista do infrator.

O assunto ora apresentado reforça na área da vitimologia o fato de que a vítima pode
realizar papel principal que contribua para a realização de um crime ou acidente em seu
próprio dano. Em face disso, Moreira Filho (2008, p. 77) prescreve que:

A Vitimologia deve, também, oferecer à sociedade meios capazes de


dificultar a ação dos deliquentes habituais e erradicar de nosso convívio o
denominado criminoso ocasional, tornando a vida das pessoas,
principalmente das grandes cidades, mais segura e ao mesmo tempo, por
intermédio de ampla campanha, diminuir a criminalidade, atingindo a nova
dupla penal vítima-criminoso.

Isto posto, observa-se que, para a vitimologia é essencial aprofundar a investigação sobre a
vida da vítima. Conhecer como, onde, quando e por que uma determinada vítima foi eleita é
válido para entender o agressor. A descrição física da vítima, seus hábitos e estilos de vida
25

devem ser considerados, pois podem transmitir mais ou menos riscos diante do criminoso.
Faz-se necessário acrescentar que algumas pessoas bem como certas profissões, em razão dos
riscos que o envolvem, têm predisposição a sofrer maiores efeitos da vitimização.
26

3 A PROFISSÃO POLICIAL MILITAR

A profissão policial militar carrega características que a torna diferente das demais profissões,
bem como exige perfil de profissional incomum.

Não existe uma definição clara em nosso ordenamento jurídico sobre a


profissão policial militar. Entretanto, as normas existentes trazem em seu
conteúdo as características e finalidades que permitem compreender as suas
peculiaridades" (ROSÁRIO, 2017, p. 61).

Uma das especificidades latentes na profissão policial militar, a disponibilidade, está prevista
no artigo 15 da Lei Estadual n° 5.301, de 16 de outubro de 1969, que contém no Estatuto dos
Militares do Estado de Minas Gerais (EMEMG):

“[...] a qualquer hora do dia ou da noite, na sede da Unidade ou onde o


serviço o exigir, o policial militar deve estar pronto para cumprir a missão
que lhe for confiada pelos seus superiores hierárquicos ou impostos pelas
leis e regulamentos” (Grifos nossos).

Nesse mister, o inciso XIII do artigo 278 e o artigo 317 do Decreto nº 11.636, de 29 de janeiro
de 1969, que traz o Regulamento Geral da Polícia Militar de Minas Gerais prevê que:

Art 278 - Ao Policial cumpre, particularmente:


XIII - atuar, do ponto de vista policial, em qualquer local em que estiver,
mesmo de folga ou trajes civis, a fim de prevenir ou reprimir prática de
delito, desde que não haja elemento ou força de serviço suficiente, situação
essa em que se considera ato de serviço para os efeitos legais.

[...] O policial militar, mesmo de folga, é obrigado a atuar, do ponto de


vista policial, em qualquer local em que esteja, a fim de prevenir ou reprimir
a prática de delito, e desde que não haja elemento ou força de serviço
suficiente. Parágrafo único - Para todos os efeitos legais, considera-se essa
situação como ato de serviço. (Grifos nossos).

As duas normas citadas aquiescem a tamanha disponibilidade e perene prontidão exigidas ao


serviço policial militar.

A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), elaborada pelo Ministério do Trabalho,


documento normalizador do reconhecimento, da nomeação e da codificação dos títulos e
conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro, traz a seguinte descrição a
respeito da profissão policial militar, em especial ao Soldado:
27

Trabalham em corporações da polícia militar, como estatutários; atuam de


forma individual ou em equipe com supervisão permanente; o ambiente de
trabalho pode ser fechado, a céu aberto ou em veículos. O horário pode ser
diurno, noturno ou em rodízio de turnos. Permanecem, durante longos
períodos, em posições desconfortáveis, trabalham sob pressão, o que pode
levá-los à situação de estresse. Podem trabalhar em grandes alturas e ficar
expostos a materiais tóxicos, radiação e ruído intenso. Algumas vezes ficam
aquartelados. Correm risco de perder a vida em sua rotina de trabalho
(Grifos nossos) (BRASIL, 2010, p. 37).

Ainda em relação à peculiaridade do labor policial, a resolução nº 4.040, de 04 de setembro de


2009, que dispõe sobre o compromisso a ser prestado pelos formandos em cursos da Polícia
Militar de Minas Gerais, em seu artigo 1º, traz:

Ao ser declarado(a) .... da Polícia Militar de Minas Gerais,/ sob os princípios


da hierarquia e da disciplina,/ assumo o compromisso:/ de executar as
atribuições que me competem na promoção da paz social;/ cumprir
rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado;/
assegurar a dignidade humana,/ as liberdades e os direitos fundamentais;/
servindo a sociedade, em toda sua diversidade:/ com respeito e
participação,/ com ética e transparência,/ com coragem e justiça,/ e dedicar-
me inteiramente ao serviço policial militar, mesmo com o sacrifico da
própria vida. (Grifos nossos).

Observa-se que o compromisso feito solenemente por todo policial militar contém o dever de
servir à sociedade, que é inerente à profissão policial militar, ainda que custe sua vida.

Os policiais constituem uma categoria de servidores públicos para quem o


risco não é mero acidente [...]. Esses profissionais têm consciência de que
perigo e audácia são inerentes aos atributos de suas atividades. Seus corpos
estão permanentemente expostos e seus espíritos não descansam (MINAYO
MCS et al., 2007, p. 2768).

Observa-se aí que a condição policial militar exige um estilo de vida distinto tanto durante seu
serviço como no tempo de sua folga.

A atividade dos Encarregados de Aplicação da Lei (EAL) é envolta de pressão e tensão, pois
não há margem para falhas (ROSÁRIO, 2017). Diante disto, o policial militar trabalha em
uma linha tênue, onde de um lado está a omissão e de outro o excesso policial, cabendo a esse
profissional tomar decisões acertadas, legais, proporcionais e necessárias, sob pena de ser
responsabilizado civil, administrativa, criminalmente e, em último grau, até com seu decesso.
28

O Código de Processo Penal em seu artigo 301 prevê que "qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito" (BRASIL, 1941, p. 30). Sob essa ótica, Lima apud Rosário (2017, p. 26)
afirma que, "enquanto o cidadão civil procura sempre escapar de uma situação mortal, os
policiais têm a obrigação legal de adotar providências, ainda que isso coloque em risco a sua
vida".

Quanto à atividade policial militar, a Diretriz Geral para Emprego Operacional da Polícia
Militar de Minas Gerais (DGEOP) assegura que a atuação do profissional policial militar
requer um alto grau de treinamento e capacitação profissional de seus quadros, cuja
mobilidade lhe permita ser acionada, de imediato, no mínimo intervalo de tempo possível e no
necessário espaço geográfico a ser coberto (MINAS GERAIS, 2016, p. 15).

3.1 A capacitação para o exercício profissional e o uso da força

O treinamento é a atividade que se dedica à transmissão de conhecimentos, objetivando suprir


deficiências, estimular e desenvolver habilidades, potencialidades visando a um crescimento
profissional. Este pensamento necessariamente implica uma mudança de atitudes e de
comportamentos.

Segundo Chiavenato (2009, p. 389), "treinamento é o processo educacional focado no curto


prazo e aplicado de maneira sistemática e organizada através do qual as pessoas aprendem
conhecimentos, habilidades e competências em função de objetivos definidos".

Corroborando este conceito, Assunção (2008, p. 35) menciona que o "treinamento de polícia
militar é a atividade de educação continuada, visa atualizar e modificar o comportamento dos
militares, no intuito de melhor capacitá-los para exercer sua função policial militar".

O Manual Técnico-Profissional 3.04.01/2013-CG1 da PMMG confirma essa assertiva:

1
Manual Técnico-Profissional 3.04.01/2013-CG: trata da intervenção policial, processo de comunicação, uso da
força. Chamado também de Caderno Doutrinário nº 1, estabelece métodos e parâmetros que propiciam suporte à
sua prática profissional. Este manual tem a finalidade apresentar orientações básicas para a efetividade das
intervenções policiais e deve ser tomado como referencial.
29

O treinamento policial militar baseado em situações práticas que se


aproximam do cotidiano profissional, somado à análise crítica de erros e
acertos vivenciados na experiência real, contribuem para o desenvolvimento
da habilidade do policial militar pensar sobre como ele agiria nas diversas
situações, visualizando mentalmente suas respostas e definindo previamente
o seu procedimento básico. Dessa forma, ele criará rotinas seguras para sua
atuação (MINAS GERAIS, 2013, p. 21).

Sob esse enfoque, vê-se que por meio do treinamento intenso e repetitivo, o policial militar
transforma seus conhecimentos e habilidades adquiridos em atitudes, até o ponto de adquirir
memória muscular, automatizando suas táticas para cada caso concreto.

Como forma de buscar a excelência através do treinamento com o fim de minorar o risco, o
Manual Técnico-Profissional 3.04.01 considera que:

O preparo mental como o processo de pré-visualizar os prováveis


problemas a serem encontrados em cada tipo de intervenção policial militar e
ensaiar mentalmente as possibilidades de respostas. [...] a falta de preparo
mental do policial militar, durante uma intervenção, prejudicará o seu
desempenho, levando a um aumento de seu tempo de resposta à agressão e,
assim, o uso de força poderá ser inadequado (excessivo ou aquém do
necessário para contê-la) (Grifos Nossos) (MINAS GERAIS, 2013, p. 21).

Grossman (2004) expõe que o treinamento mental e prático é uma das formas de se inocular a
tensão, ou seja, experimentar durante o treinamento realístico as intempéries que poderão vir a
encontrar quando a situação real surgir. O treinamento efetivo também eleva o senso de
confiança da pessoa e evita alguma surpresa que é outro aspecto cognitivo de inoculação da
tensão. O senso de efetividade pessoal e autoconfiança, criados pelo treinamento realístico,
atuam muito como um redutor de tensão quando os músculos entram em piloto-automático.

A DGEOP acrescenta que:

O treinamento deve estar integrado à vida diária do militar como sustentação


dos conhecimentos e das habilidades próprias da especialidade, adquiridos
no período de formação, complementando conhecimentos, por intermédio da
prática de novas técnicas [...] (MINAS GERAIS, 2016, p. 37).

Nota-se, portanto, que a profissão policial militar é dotada de peculiaridades, exigindo a


intervenção do policial militar, inclusive com o uso da força, seja durante o serviço ou mesmo
nos momentos de folga. Todavia, para que essa ação seja colocada em prática são necessários
30

treinamentos prevendo os dois cenários: o policial militar fardado em serviço e em trajes civis
de folga.

O Manual Técnico-Profissional 3.04.01 reitera que a força, no âmbito policial, é definida


como sendo o meio pelo qual a Polícia Militar controla uma situação que ameaça a ordem
pública, o cumprimento da lei, a integridade ou a vida das pessoas

O policial poderá usar a força no exercício das suas atividades, não sendo
necessário que ele ou outrem seja atacado primeiro, ou exponha-se
desnecessariamente ao perigo, antes que possa empregá-la. O seu emprego
eficiente requer uma análise dinâmica e contínua sobre as circunstâncias
presentes, de forma que a intervenção policial resulte num menor dano
possível. Para tanto, é essencial que ele se aperfeiçoe, constantemente, em
procedimentos para a solução pacífica de conflitos, estudos relacionados ao
comportamento humano, conhecimento de técnicas de persuasão, negociação
e mediação, dentre outros que contribuam para a sua profissionalização
nesse tema (MINAS GERAIS, 2013, p. 75).

Ainda na mesma norma, o uso da força aplicada por um policial militar é caracterizado como
um ato discricionário, legal, legítimo e profissional. Pode e deve ser usada no cotidiano
operacional, sem receio das consequências advindas de seu emprego, desde que o policial
militar cumpra com os princípios éticos e legais que regem sua profissão (MINAS GERAIS,
2013, p. 76).

3.2 Intervenção policial durante a folga e em trajes civis

As atuações em situações que envolvam policiais militares estando de folga e trajes civis
necessitam de atenção por parte de todos os policiais militares. As intervenções de policiais
militares estando trajes civis, quando vítima de crimes como tentativa de roubo, homicídio ou
latrocínio precedem de treinamentos específicos e ações não rotineiras, a fim de solucionar a
ocorrência da melhor forma.

O policial militar fardado (ostensivo), com sua arma de porte, equipado com colete balístico,
instrumentos de menor potencial ofensivo, em supremacia de força, qualitativo e
quantitativamente, deve treinar exaustivamente e aplicar as técnicas, conforme cada caso já
positivado, nas diversas doutrinas da Polícia Militar de Minas Gerais como os manuais
31

técnico-profissionais nº 3.04.01/2013-CG e nº 3.04.02/2013-CG2 da PMMG, que tratam da


intervenção policial, processo de comunicação, uso da força, tática policial, abordagem a
pessoa e tratamento às vítimas.

Por outro lado, atuar em uma ocorrência estando em trajes civis e de folga, armado e sozinho,
é um cenário distinto. O policial pode ser confundido com o infrator ao realizar uma
abordagem em via pública ou, caso seja abordado pelo infrator, pode vir a ser submetido à
busca pessoal por este, que ao localizar a arma, pode utilizá-la contra o militar.

O policial militar deve estar consciente de que sua decisão de agir precisa se
fundamentar, ainda, na segurança de terceiros, já que a repressão a um
delito, nesses casos, não pode comprometer a vida de pessoas que no
momento dos fatos não tem como se proteger. Para os fins citados e para a
autoproteção, o porte e o uso de arma de fogo por policiais militares são
permitidos por lei, mesmo fora do serviço e à paisana. Contudo, a conduta
para atuação do policial militar, além de ser balizada pelos princípios básicos
do uso da força e da arma de fogo, deve atentar para alguns detalhes
específicos da atuação em situações em que estiver de folga e à paisana, tais
como o local e a maneira de portar sua arma, a forma e o momento de sacá-
la (MINAS GERAIS, 2014, p. 47).

A Polícia Militar de Minas Gerais publicou o Memorando nº 30.416.5/12-EMPM, de 24 de


julho de 2012, que trata do envolvimento de policiais militares em ocorrência durante horário
de folga e em trajes civis.

Esta norma orienta o policial militar a agir de acordo com os preceitos vigentes, nos seguintes
termos:

a) Manter-se sempre calmo e não tentar fugir ou reagir diante de uma


situação de risco, pois um movimento inesperado pode assustar o infrator e
provocar uma ação deste com disparo de arma de fogo;
b) Quando interpelado pelo infrator, responder com calma somente ao que
for perguntado;
c) Não discutir com o infrator e entregar o que ele quer o mais rápido
possível, pois assim, menor será o tempo do roubo;
d) Ao ser abordado, não demonstrar ser policial, pois o risco de ser agredido
e lesionado pelo infrator torna-se muito maior;

2
Manual Técnico-Profissional nº 3.04.02/2013-CG: trata da tática policial, abordagem a pessoa e tratamento às
vítimas. Chamado também de Caderno Doutrinário nº 2, que descreve a aplicação da técnica e tática policial à
atividade fim.
32

e) Procurar estar sempre atento ao comportamento de pessoas que estejam


próximas ou paradas nos lugares em que frequenta, solicitando apoio policial
em caso de fundada suspeita;
f) Procurar memorizar as características do infrator, sua fisionomia, modo de
agir, roupas, gírias e frases usadas, trajetos e locais visitados, veículos
utilizados, dentre outros;
g) Evitar interferir diretamente na ocorrência ao presenciar um assalto ou
qualquer outra situação de risco contra terceiros, devendo solicitar apoio
policial (MINAS GERAIS, 2012, p. 3).

A mesma norma ainda recomenda ao militar realizar treinamentos com base nas orientações
de segurança, bem como disseminá-las à tropa:

a) Intensificar treinamentos à tropa com base na doutrina vigente,


enfatizando a necessidade da estrita observância aos princípios básicos para
qualquer intervenção policial, mormente quanto aos aspectos legais para o
uso da força, quais sejam legalidade, necessidade, proporcionalidade e
conveniência;
b) Orientar a tropa quanto à correta conduta diante das situações em lide,
considerando que uma ação precipitada pode incorrer em sérias implicações,
com prejuízos irreversíveis para o policial militar, a Instituição que ele
representa e a comunidade;
c) Promover a conscientização dos policiais militares acerca dos cuidados a
serem observados pelo policial militar em horário de folga frente a situações
de risco, orientando-os de que a reação só deve acontecer se houver plena
possibilidade de sucesso na intervenção, sem risco iminente à integridade
física do policial e/ou de terceiros;
d) Promover palestras específicas sobre o tema, alertando quanto à
necessidade de todo militar, mesmo estando de folga, pautar sua conduta
dentro dos princípios legais e da ética policial militar (MINAS GERAIS,
2012, p. 3).

Observa-se a preocupação da Instituição com o policial militar que está na condição de vítima
em ocorrências de roubo à mão armada, estando de folga, em trajes civis, e é ferido por
disparos de arma de fogo. Essas ocorrências "são motivadas, em sua maioria, pela reação
precipitada frente a uma ação criminosa" (MINAS GERAIS, 2012, p. 1).

O Guia de Treinamento Policial Básico do 7º Biênio3 (2014) traz orientações acerca da


conduta do policial militar quando de folga e em trajes civis. Nota-se neste documento a

3
Treinamento Policial Básico: compreende o processo de atualização intensiva nas técnicas e doutrinas voltadas
à prática policial, e é executado, bienalmente, no Centro de Treinamento Policial da Academia de Policia Militar
de Minas Gerais, nas Companhias de Ensino e Treinamento ou Adjuntoria de Treinamento. Passam por este
treinamento todos os militares, independentemente da atividade que exerçam, com foco na assimilação dos
conhecimentos básicos ligados à atividade operacional, além de serem submetidos a testes físicos, provas de tiro,
além de prova escrita. O Guia de Treinamento do 7º Biênio: é um compêndio em forma de livro onde constam
todas os assuntos doutrinários abordados no Treinamento Policial Básico dos anos de 2014 e 2015 e que são
repassados à todo efetivo da PMMG.
33

constância de alguns erros de policiais militares que, se fossem evitados, poderiam resultar na
preservação da vida do policial militar e dos demais envolvidos (MINAS GERAIS, 2016).

Ainda, o Guia de Treinamento cita um julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) em
que se destaca que "o policial, mesmo fora do horário de sua jornada de trabalho, imputa-se a
obrigação de intervir em qualquer ocorrência policial (Código de Processo Penal, artigo 301),
exercendo função ininterrupta e contínua" (TJSP, 2010, p. 1). Ainda nesse julgado, constata-
se a obrigação do policial militar de agir mesmo nos horários de folga e em trajes civis.

O policial, civil ou militar, pela natureza de sua atividade, obrigado está, a


todo tempo, a servir de guardião da sociedade e dos seus cidadãos, não
podendo omitir-se diante da prática de um delito, mesmo que se encontre
fora de seu horário regular de trabalho. Se presencia um crime, é seu dever
funcional, como garantidor da segurança pública, agir de modo a evitar que
se consume ou a mitigar suas conseqüências. Em experimentando alguma
lesão nessas condições, as mesmas devem ser tidas como no exercício de sua
função e, estando cobertas pelo seguro, obrigam a seguradora a indenizar,
salvo se estiver aquele a serviço de terceiros" (TJSP apud Ap. c/ Rev. 683
487-00/0 - 1a Câm - Rei. Des. Vieira de Moraes - J. 26.1.2005, p. 3).

Entretanto, para que o militar tenha plenas condições de cumprir seu dever, há a necessidade
de estar preparado, ter condições físicas e psicológicas de agir.

O enfrentamento do perigo é inerente à função desses profissionais (mesmo


em períodos de folga, licença e férias), porém não devemos esquecer que é
preciso ser possível, em cada caso concreto, enfrentar o perigo, pois, do
contrário, não será exigível a atuação desses profissionais (MINAS
GERAIS, 2016, p. 46).

Há diversas formas que o policial pode portar sua arma de fogo estando se deslocando a pé ou
no interior de veículos, como: no tornozelo, de baixo da axila, na frente do tórax ou na
cintura. Entretanto, destaca-se que são formas errôneas o acondicionamento da arma de fogo
no interior do veículo deixando-a sobre o colo, entre as pernas, debaixo de uma das pernas ou
mesmo nos bolsos das portas da viatura (MINAS GERAIS, 2016). Ao mesmo tempo, esta
norma indica à guisa de exemplo que

É possível, por exemplo, uma situação em que o policial militar seja


abordado em um sinal de trânsito por um autor de roubo e este o mande
descer do veículo. Nessa situação, caso o policial militar opte por manter a
arma no cós, na parte de trás da cintura, ele sairá armado do veículo e terá
uma chance maior de se defender. Caso contrário, se sua arma for avistada
34

ainda no interior do veículo, a chance de ter prejuízo em relação à sua


segurança será maior (MINAS GERAIS, 2016, p. 60).

O policial deve, durante o período de folga e em trajes civis, tirar proveito das circunstâncias
que o ambiente favorecer, a começar considerando a existência de outros infratores, além
daquele que esteja sendo visto ou que esteja executando a ação delituosa (MINAS GERAIS,
2016). Em síntese, o policial militar deve identificar e aproveitar as "janelas de
oportunidades".

Janela de oportunidade é uma oportunidade que se abre, nem sempre tão


grande como uma porta, mas o suficiente para o agressor ingressar,
aproveitar, de modo que veja uma oportunidade de consumar o crime. É o
momento que ele esperava para seguir para o próximo passo, a sua ação
criminosa ou violenta. A janela de oportunidade se dá nos crimes de
oportunidade, por um descuido da vítima, ou é criada (forçada ou esperada)
pelo agressor (COLZANI, 2016, p. 69).

O conhecimento das ações que podem ser colocadas em prática por meio do treinamento,
aproveitando das oportunidades, torna o policial mais capacitado a fim de diminuir as
possibilidades de se tornar uma vítima de roubo durante sua folga e em trajes civis e ter
condições de agir caso seja abordado pelo agressor.

3.3 Vitimização policial

Segundo Piedade Júnior (1993), o termo vitimização é entendido como um processo mediante
o qual alguém vem a ser vítima de sua própria conduta ou da conduta de terceiros, onde se
encontram de um lado, na segunda hipótese, o vitimizador (vitimário ou agente) e de outro a
vítima (paciente).

A palavra “vítima”, segundo dicionário Michaelis, deriva do latim victimia e victus, e dentre
vários conceitos, quer dizer pessoa contra quem se comete um crime ou qualquer ser ou coisa
que sofre algum tipo de prejuízo.

Vítima é a pessoa que sofreu alguma perda, dano ou lesão, seja em sua pessoa propriamente
dita, sua propriedade ou seus direitos humanos (PIEDADE JUNIOR, 1993).

Rosário (2017) conceitua a vitimização policial como a propensão de integrantes da profissão


policial estarem mais suscetíveis a se tornarem vítimas de delitos. Segundo Minayo et al.
35

(2007, p. 2770), "a vitimização se materializa em traumas, lesões ou mortes ocorridos na


defrontação com a criminalidade e na manutenção da ordem".

Ainda que a profissão de policial envolva um risco maior do que outras profissões, é
sobremaneira alta a taxa de vitimização de policiais militares [...]. De um modo geral, os
policiais foram mais vitimados (mortos e feridos) durante a folga ou no desempenho de
atividades informais do que quando em serviço (MUNIZ; SOARES, 1998).

A taxa de homicídios desses profissionais destaca "a identidade social assumida


profissionalmente pelos policiais militares e indica a adoção de um estilo de vida pautado no
risco tanto no exercício da profissão quanto nas horas de folga" (MELLO; NUMMER, 2015,
p. 05).

Reforçando a caracterização da profissão policial militar, Leal e Piedade Junior (2001, p. 237)
acentuam que "são vítimas os policiais que se arriscam em confrontos, frequentemente
inferiorizados em meios, e que sofrem também por suas famílias, quase sempre desprotegidas
enquanto estão no trabalho".

"A identidade profissional compele policiais a intervirem em crimes contra terceiros mesmo
quando se encontram em momentos de lazer ou descanso" (SOU DA PAZ4, 2017, p. 47).
Entretanto, Zanchetta (2011) diz que muitos policiais acreditam estar tão preparados para
enfrentar situações adversas em seus horários de folga quanto durante o exercício de suas
atividades, apesar de na folga não contarem com o reforço do efetivo, coletes balísticos, a
comunicação pela rede de rádio das viaturas policiais e o Centro de Operações da Polícia
Militar. Afirma ainda que policiais recém-formados são particularmente suscetíveis a esse
tipo de erro, pois tendem a acreditar demasiadamente em sua capacidade defensiva.

Para Minayo et al. (2007), o elevado grau de estresse associado à atividade policial leva-os a
assumir riscos, que um indivíduo não assumiria normalmente. Por exemplo, um policial em
seu horário de folga que reage a um assalto contra si ou contra terceiros sem que haja
4
O Instituto Sou da Paz é uma organização não governamental que há mais de quinze anos trabalha para reduzir
a violência no Brasil. Sua missão é contribuir para a efetivação de políticas públicas de segurança e prevenção da
violência que sejam eficazes e pautadas pelos valores da democracia, da justiça social e dos direitos humanos. O
Sou da Paz tem o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) concedido pelo
Ministério da Justiça.
36

condições favoráveis para isso, como em uma situação em que os criminosos estejam em
vantagem numérica (INSTITUTO SOU DA PAZ, 2017).

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)5 publicou o Anuário Brasileiro de


Segurança Pública em 2016 e apresentou, por meio de dados estatísticos, que no ano de 2014,
dos 409 policiais mortos, cerca de 80% estavam fora de serviço enquanto 20% foram
vitimados em confrontos que aconteceram em serviço. O mesmo documento relata que 393
policiais foram vítimas de homicídios em 2015, sendo que 103 estavam em serviço e 290
estavam fora de serviço, ou seja, policiais morrem cerca de três vezes mais fora do serviço do
que no trabalho (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2016).

Um elemento determinante responsável pelo grande número de policiais


mortos, fora de serviço, deve-se às tentativas de reações, mal sucedidas, a
assaltos. Agentes, à paisana, que se encontram em locais que estão sendo
assaltados sentem-se na obrigação de reagirem. Muitos não têm treinamento
técnico e ao se confrontarem com os criminosos, acabam sendo alvejados e
mortos (ARAÚJO, 2017, p. 744).

O FBSP publicou o Anuário Brasileiro de Segurança Pública em 2017 e relacionou as mortes


de policiais civis e militares de todos os estados da federação que foram vítimas de homicídio,
em serviço e de folga. O Gráfico 1 mostra que no período de 2009 a 2016, a quantidade de
policiais mortos fora de serviço, em relação aos policiais mortos em serviço, chega ao dobro
entre 2009 a 2011 e três vezes mais entre 2013 e 2016.

5
Fórum Brasileiro de Segurança Pública: é uma organização sem fins lucrativos que tem por missão atuar como
um espaço permanente e inovador de debate, articulação e cooperação técnica para a segurança pública no
Brasil. Na prática, isso se traduz em um programa de trabalho pautado na circulação de dados e de conhecimento
acerca da realidade da área e, ainda, na aproximação e na construção de pontes de diálogo entre diferentes
segmentos que lidam cotidianamente com o tema (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA,
2017).
37

Gráfico 1 - Quantidade de policiais militares e civis mortos vítimas de homicídio no Brasil


(2009 - 2016)

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança pública. Fórum Brasileiro de Segurança Pública.


Notas: Atualizado em 01 de novembro de 2017 em função de retificação de dados por parte dos estados de
Minas Gerais e Pará e atualizado em 08 de novembro de 2017 em função da retificação de dados solicitados
pelo Estado do Maranhão.

A pesquisa realizada em 2017 pelo Instituto Sou da Paz, com o tema vitimização e letalidade
policial na cidade de São Paulo, mostra que dos 243 policiais mortos na capital entre 2012 e
2016, 52 morreram em serviço e 191 no horário de folga. Isto é, oito a cada dez policiais
vítimas fatais de violência morreram em seu horário de folga, conforme consta da Tabela 1:

Tabela 1 - Quantidade de policiais mortos na capital por situação e corporação (2012-2016)

Situação do policial Corporação 2012 2013 2014 2015 2016 2012-2016


morto
Policia Civil 2 2 3 0 3 10
Em Serviço Polícia Militar 9 12 8 5 8 42
PM:PC 5;1 6;1 3;1 0 3;1 4;1
Policia Civil 5 7 6 7 7 32
Fora do Serviço Polícia Militar 48 32 35 25 9 159
PM:PC 10;1 5;1 6;1 4;1 3;1 5;9
Fonte: Corregedoria das Policias Civil e Militar do estado de São Paulo. Elaboração: Instituto Sou da Paz.

Conforme dados da CPM apresentados na Tabela 2, dos 37 policiais militares da ativa que
foram mortos em confronto, de 2012 a 2017, 60% foram vitimados enquanto estavam no
período de folga (trajes civis) e 40% durante o serviço. Esses números não fazem referência
às vítimas por acidente de trânsito, crimes passionais, ocorrências em razão de prestação de
serviços de segurança privada em horário de folga, suicídio ou outras causas.
38

Tabela 2 - Quantidade de policiais militares de Minas Gerais da ativa mortos em confronto


(2012-2017)

ANO MORTOS EM SERVIÇO MORTOS DE FOLGA


2012 3 2
2013 0 4
2014 4 4
2015 1 5
2016 2 3
2017 5 4
Sub Total 15 22
Total 37
Fonte: Elaborado pelo autor. Dados básicos: Corregedoria da PMMG, 2018.

Segundo Fernandes (2016), “para o policial militar, ser roubado vai além do prejuízo material,
mas diz a ele sobre sua derrota ante o oponente, razão pela qual a reação é, no seu julgamento,
a única resposta possível".

O Instituto Sou da paz (2017, p. 56) "recomenda à Secretaria da Segurança Pública, Comando
da Polícia Militar e Delegado(a) Geral a desenvolverem e divulgar procedimentos
operacionais claros voltados a policiais fora de serviço". Ocorre que essas técnicas na PMMG
ainda estão incipientes.
39

4 METODOLOGIA

O tipo de pesquisa quanto ao objeto foi explicativa e descritiva. O tipo de pesquisa segundo o
modelo conceitual operativo foi bibliográfica, documental, levantamento e pesquisa de
campo. A natureza da pesquisa foi quantitativa e qualitativa.

4.1 Procedimentos de coleta de dados

a) Pesquisa de dados junto à Corregedoria da Polícia Militar de Minas Gerais

A pesquisa junto à corregedoria da PMMG se constituiu da seleção de todas as ocorrências


em que os policiais militares figuraram como vítimas fatais durante confronto policial no
período de folga e em trajes civis, no período de 2012 e 2017 e cuja causa presumida foi o
roubo ou o latrocínio. Os dados da corregedoria foram recebidos pelo pesquisador no dia
27/02/2018, por meio de uma planilha eletrônica.

b) Questionário

O questionário, Apêndice A, foi formulado com questões do tipo “múltipla escolha” e


questões abertas. O questionário foi enviado aos policiais militares do Estado de Minas Gerais
de todos os postos (2º Tenente, 1º Tenente, Capitão, Major, Tenente Coronel e Coronel) e
graduações (Soldado, Cabo, 3º Sargento, 2º Sargento, 1º Sargento, Subtenente e Cadete)
selecionados por amostragem. O questionário foi aplicado entre os dias 15 e 22 de julho de
2018.

Foi enviado um endereço eletrônico, que dá acesso ao formulário on-line, a todos os militares
através do Painel Administrativo6 de mensagens da Intranet bem como por meio do aplicativo
Whatsapp7.

6
Painel Administrativo de mensagens da Intranet: é uma espécie de correio eletrônico institucional.
7
Whatsapp: é um aplicativo que viabiliza troca de mensagens instantâneas entre os usuários por meio de
telefones celulares e computadores.
40

4.2 Apuração dos dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais

Foi obtida junto à Corregedoria da Polícia Militar de Minas Gerais a relação de todas as
ocorrências com respectivos números dos Registros de Eventos de Defesa Social8 (REDS)
alusivos a roubos e latrocínios que vitimaram fatalmente os policiais militares da ativa deste
Estado no período de 2012 a 2017.

A partir dessa relação, foi realizada a análise de conteúdo dos históricos de cerca de 400
REDS. As informações foram filtradas de forma a identificar as ocorrências que se tratavam
de policiais que claramente foram mortos em confronto policial durante o período de folga e
em trajes civis, entre os anos de 2012 e 2017. Foram desprezadas as ocorrências nas quais o
policial militar estava chegando ou retornando do trabalho fardado, as relacionadas a crimes
passionais ou com envolvimento de policiais militares que estão na inatividade.

Os dados foram categorizados por tópicos como dia do fato, hora, local, resumo da
ocorrência, número do REDS, tipos de local, armas envolvidas, locais do corpo atingidos,
dentre outros, com o auxilio de planilha eletrônica. Após a conferência dos dados, as
informações foram lançadas e apresentadas em gráficos para melhor visualização e
entendimento do trabalho.

4.3 Apuração do questionário

Como forma de explicação e produção de informações mensuráveis, a observação direta


extensiva deu-se por meio de questionário composto por uma série ordenada de 26 perguntas,
sendo 23 de múltipla escolha e três questões discursivas.

De um total de aproximadamente 10.000 policiais militares do Estado de Minas Gerais aos


quais foi enviado o questionário, foram obtidas 2.042 respostas de policiais militares de todos
os postos e graduações e de diversas localidades do Estado de Minas Gerais. Destas respostas,
foram consideradas apenas as dos militares que estão na ativa e ainda não passaram pelo
treinamento policial básico no ano de 2018, totalizando assim 1.793 respostas.

8
Registro de Evento de Defesa Social: módulo informatizado desenvolvido para permitir o lançamento dos
registros de fatos policiais (da Polícia Militar e da Polícia Civil), de trânsito urbano e rodoviário, de meio-
ambiente, de Bombeiros e outros afins, independentemente da origem, forma de comunicação ou documento
inicial. Os registros efetuados no módulo REDS receberão uma numeração seqüencial única e anual.
41

As 1.793 respostas ao questionário foram tabuladas com o auxílio de uma planilha eletrônica
e dispostas em tabelas e gráficos, por sua vez, foram analisados, interpretados e discutidos.

4.3.1 Plano de amostragem

Quanto ao questionário, recorreu-se a uma amostra de 1.793 policiais militares de Minas


Gerais da ativa. Chegou-se a esse número por meio da população (N) da PMMG, que é de
aproximadamente 41.000 policiais militares da ativa. Tendo em vista ser inviável aplicar o
questionário a todo efetivo da PMMG, foi utilizada a fórmula abaixo para se chegar ao
tamanho da amostra.

A amostragem foi probabilística aleatória simples, tendo em vista que o questionário é


destinado a toda população, independente da diferença de suas características
(posto/graduação, etc).

Haja vista que a população é finita (menor de 100.000), será usada a fórmula predita por
Richardison (2015, p.169):

n= Z² . p . q . N
e² . ( N - 1) + Z². p . q

Traduzindo a fórmula, decidiu-se por conferir um nível de confiança (“Z”) de 99% e um erro
estimado permitido (“e”) de 3%. A proporção de ocorrência é desconhecida (“p” e “q”), sendo
que p = (100 - q) em percentagem. "N" refere-se ao tamanho da população. Daí, N = 41.000;
p = 50; q = 50; Z = 2,58; e = 3, logo:

.
n= (2,58)² . 50 . 50 . 41000 .. n= 1774
3² . (40999) + (2,58)² . 50 . 50

A pesquisa foi além do tamanho da população exigida dentro dos parâmetros estabelecidos
(1774), chegando a 1793 policiais militares.
42

5 MEDIDAS DE AUTOPROTEÇÃO FACE À VITIMIZAÇÃO POLICIAL

É importante resolver a causa raiz dos acontecimentos por meio de informações confiáveis e
com o propósito de encontrar soluções aceitáveis para o problema. Nesse sentido, Francisco
Filho (2004, p. 27) esclarece que:

Compreender a dinâmica do crime não é apenas definir uma relação entre


lugares e atos de violência com o objetivo de implementar ações repressivas.
É importante que se tenha uma visão clara dos processos operacionais
envolvidos para que se possa antecipar-se a ele e preveni-lo.

5.1 Dados da Corregedoria da Polícia Militar de Minas Gerais

Os gráficos a seguir tratarão das 22 mortes de policiais militares de Minas Gerais causadas
por confronto policial durante a folga e em trajes civis, no período de 2012 a 2017, conforme
consta na Tabela 2.

5.1.1 Mortes de policiais militares em situações diversas

Gráfico 2 - Causas das mortes dos policiais militares de Minas Gerais da ativa, no período de
2012 a 2017

Suicídio
6 5 32
54 Acidente (trânsito, helicóptero e
37 parapente)
Confronto policial

Conflito interpessoal

Afogamento
45
Disparo acidental com arma de fogo

Atropelamento

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

O Gráfico 2 mostra o confronto policial como a terceira maior causa de mortes de policiais
militares entre os anos de 2012 e 2017, o que corresponde a 25% do total das 152 mortes,
ficando atrás apenas do suicídio e acidente (trânsito, helicóptero e parapente). Em relação ao
número de mortes decorrentes de confronto policial, são contempladas apenas as ocorrências
43

que comprovadamente originaram-se de crimes de roubo ou latrocínio contra os policiais


militares da ativa da PMMG.

5.1.2 Mortes de policiais militares em confronto policial

Gráfico 3 - Quantidade de policiais militares mortos em confronto policial durante o serviço e


de folga, no período de 2012 a 2017

6
5 5
5
4 4 4 4
4
3 3 Em serviço
3
2 2
2 De folga
1
1
0
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

Nos anos de 2013, 2015 e 2016 houve índices de mortes de policiais militares durante a folga
e em trajes civis maiores do que durante o serviço. Observa-se que entre os anos de 2012 e
2017, 60% das mortes de policiais militares ocorreram durante a folga e em trajes civis,
totalizando 22 óbitos dos 37 indicados nos Gráficos 2 e 3.

Gráfico 4 - Quantidade de policiais militares mortos em confronto policial durante a folga e


em trajes civis, por Região da Polícia Militar de ocorrência do evento

10
8
8

6 5

4
2 2
2 1 1 1 1 1

0
1 ª RPM 2º RPM 3ª RPM 4ª RPM 11ª RPM 12ª RPM 15ª RPM 17ª RPM 18ª RPM

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

Infere-se pelo Gráfico 4 que 36% das 22 ocorrências que vitimaram fatalmente o policial
durante a folga e em trajes civis aconteceram na 2ª RPM, seguido pela 1ª RPM. A partir dos
44

dados da pesquisa apurou-se que os fatos ocorreram nas seguintes cidades: 1ª RPM - Belo
Horizonte; 2ª RPM - Contagem, Betim, Esmeraldas e Ribeirão das Neves; 3ª RPM - Santa
Luzia e Itabirito; 4ª RPM - Juiz de Fora; 11ª RPM - Montes Claros; 12ª RPM - Santana do
Paraíso; 15ª RPM - Padre Paraíso; 17ª RPM - Pouso Alegre e Itapeva; 18ª RPM - Alpinópolis.

Gráfico 5 - Quantidade de policiais militares que estavam armados e que revidaram durante o
confronto de folga e em trajes civis, no período de 2012 a 2017

20 19

15
11
Sim
10 8
Não
5 2 3 Sem informações
1
0
PM estava armado ? PM revidou ?

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

Das 22 ocorrências que vitimaram fatalmente o policial militar durante a folga e em trajes
civis no período de 2012 a 2017, 86,3% estavam armados enquanto que apenas 10,5%
estavam desarmados e 3,2% não possuem informações suficientes no boletim de ocorrência
para qualquer afirmação.

Dos 19 militares que estavam armados, conforme informações do REDS fornecido pela
corregedoria, 11 militares (58%) não conseguiram ao menos disparar com sua arma de fogo e
apenas oito militares (42%) conseguiram revidar também com disparo de sua arma de fogo.
Dos oito militares que conseguiram revidar, conforme as informações das ocorrências
policiais analisadas, três (37,5%) policiais não conseguiram atingir o infrator, dois (25%)
policiais conseguiram atingi-lo e os três (37,5%) restantes não houve como confirmar pela
falta de informações na ocorrência.

Tendo em vista o alto percentual de militares que morreram no confronto portando arma de
fogo, paralelo ao baixo índice de revide, há necessidade de haver uma doutrina bem como
treinamento específico a respeito de condutas do policial militar, principalmente estando
armado, durante o período de folga e em trajes civis, como por exemplo, saque de arma,
identificação de abrigo, dentre outros.
45

Gráfico 6 - Relação entre o tipo de instrumento utilizado pelo infrator e pela vítima policial
militar em ocorrência que culminou na morte desta última, durante o confronto na
folga e em trajes civis, no período de 2012 a 2017

14
14 11
12 9
10
8 5
6 Tipo de arma da vítima
3
4 1 1 Tipo de arma do infrator
2 0
0
Pistola Revólver Barra de Sem
Ferro Informações

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

Verifica-se no Gráfico 6 a predominância pelo infrator do revólver que, somando-se ao


emprego da pistola, corresponde a 91% do total de instrumentos utilizados para a prática do
delito contra o policial militar durante a folga e em trajes civis. Em relação ao policial, a
pistola é a mais utilizada pelos militares vitimados fatalmente durante a folga e em trajes
civis. Há de perceber, porém, que a quantidade de pistolas por parte dos infratores também é
grande, o que demonstra maior agressividade tendo em vista a maior capacidade de munições
em relação ao revólver.

Gráfico 7 - Quantidade de ocorrência por número de infrator envolvido na morte do policial


militar no confronto durante a folga e em trajes civis, no período de 2012 a 2017

2 3
1 infrator
7
2 infratores
10 3 infratores
4 ou mais infratores

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

O Gráfico 7 mostra que das 22 ocorrências, 19 (86%) aconteceram com o envolvimento de


mais de um infrator e apenas em três (14%) casos o infrator atuou sozinho, o que indica que,
em regra, a vitimização de policiais militares é ocasionada por agentes agindo em concurso.
46

Face a esta constatação, o policial militar em um confronto durante a folga e em trajes civis
deve considerar haver mais de uma pessoa envolvida no delito, não podendo, pois, se
preocupar apenas com aquele agente que está sendo visto, mas também nos arredores a fim de
evitar ou mitigar os resultados de suas eventuais ações.

Gráfico 8 - Quantidade de ocorrência por tipo de local utilizado pelo autor no delito que
culminou na morte de policial militar no confronto durante a folga e em trajes
civis, no período de 2012 a 2017

4,5 4 4 4
4
3,5 3
3
2,5 2 2
2
1,5 1 1 1
1
0,5
0

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

O Gráfico 8 valida que predomina o estabelecimento comercial (bar/restaurante, posto de


combustível, supermercado, casa lotérica e oficina) como o local onde mais morreram
policiais militares durante a folga e em trajes civis, totalizando 9 das 22 ocorrências (41%).
Em segundo, com 8 das 22 ocorrências, estão os crimes cometidos quando o policial militar
estava no interior do seu carro ou embarcado na sua moto. Por fim, houve 5 ocorrências em
que o policial militar foi vitimado fatalmente ao transitar pela rua ou ao chegar em casa a pé.

Estes dados ratificam a necessidade de treinamento de medidas de autoproteção pelo policial


militar em estabelecimentos comerciais, no interior de veículos e na rua. Nesse viés, o Guia
de Treinamento do 9º Biênio9 (2018) elenca várias medidas de autoproteção que, de acordo
com a situação, e em conformidade com Beato (2004), contribuem para a prevenção ou ao
menos mitigação dos riscos para o policial militar durante sua folga. Essas medidas de
autoproteção estão explicitadas no Anexo A deste trabalho.

9
O Guia de Treinamento do 9º Biênio: é um compêndio em forma de livro onde constam todas os assuntos
doutrinários abordados no Treinamento Policial Básico dos anos de 2018 e 2019 e que são repassados à todo
efetivo da PMMG.
47

Foi identificado a partir das informações dos boletins de ocorrência que os militares fizeram
uso de bebida alcoólica em seis das 22 ocorrências que os vitimaram fatalmente durante
confronto policial na folga e em trajes civis.

Gráfico 9 - Quantidade de ocorrências que culminou na morte de policial militar durante


confronto na folga e em trajes civis, por local do corpo do policial militar
atingido pelo disparo de arma de fogo, no período de 2012 a 2017

12
10
10
8
Ocorrências

8
6 6
6 5
4 3 3 3
2 1
0
Cabeça Tórax Abdome Costas Braço Ombro Pescoço Perna Nuca

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

O Gráfico 9 indica que em 10 (45,45%) das 22 ocorrências constam perfuração de disparo de


arma de fogo na cabeça do policial militar durante o confronto. Pelas informações da
corregedoria não há como confirmar, mas é possível que o disparo na cabeça do policial tenha
sido à queima roupa, após estar já deitado e sem reação. Com exceção da cabeça, percebe-se a
predominância de locais do corpo humano de maior volume como tórax, abdome e costas.
48

Gráfico 10 - Dia da semana e hora por tipo de local da ocorrência que culminou em morte de
policial militar durante o confronto na folga e em trajes civis, no período de
2012 a 2017

Fonte: Elaborado pelo autor, dados da Corregedoria da Policia Militar de Minas Gerais, 2018.

No Gráfico 10 constata-se que sexta-feira é o dia de maior incidência de ocorrências,


correspondendo a 32% do total dos 22 eventos que vitimaram fatalmente os policiais militares
durante o confronto na folga e em trajes civis. O final de semana (sexta, sábado e domingo)
significa 54% do total das ocorrências que acarretaram em morte do militar. Quanto ao
horário de maior número de ocorrência, evidencia o horário de 22h, pois alcança 23% do total
dos registros. O período de 22h às 6h representa 59% do total das ocorrências. Esse gráfico
aduz que no período noturno os policiais durante a folga e em trajes civis estão mais
propensos a serem vítimas de crimes de roubo.

No que tange ao tipo de local que o policial foi abordado, os bares e restaurantes foram alvos
entre 22h às 6h, com dias variados na semana. Os eventos em outros estabelecimentos como
postos de combustíveis, supermercado, casa lotérica e oficina mecânica ocorreram no período
entre 15h às 20h, de terça à sexta-feira, no horário comercial. Nas ocorrências que os policiais
militares foram vítimas transitando na rua ou chegando em casa, nota-se a incidência maior no
período noturno, de 22h às 3h.
49

5.1.3 Perfil dos policiais militares mortos

Gráfico 11 - Posto/graduação dos policiais militares mortos em confronto durante o


período de folga e em trajes civis, por tempo de serviço na instituição, no
período de 2012 a 2017

4,5
4 4
4
3,5
3 3
3
Subtenente
2,5
2 2 Sargento
2
1,5 Cabo
1 1 1 1
1 Soldado
0,5
0 0 0 0 0 0 0 0 0
0
0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 21 a 25 anos

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Percebe-se pelo Gráfico 11 que dos 22 policiais militares mortos durante confronto policial na
folga e em trajes civis, no período de 2012 e 2017, nove eram Cabos, sete Soldados, cinco
Sargentos e um Subtenente, não havendo oficiais mortos no período. Destaca-se a quantidade
de militares mortos na graduação de Cabo. Dentre as faixas de tempo de serviço, a maior
concentração se deu entre os 16 e 20 anos, com 31,81%. Nota-se também que 45,45% do total
desses policiais mortos durante a folga e em trajes civis neste período tinham até 10 anos de
serviço na PMMG. Todos eram do sexo masculino.

5.2 Análise do questionário aplicado aos policiais militares da PMMG

Gráfico 12 - Percentual de policiais militares que já passaram pelo Treinamento Policial


Básico (TPB) no biênio (2018-2019)

7%

Sim
Não
93%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
50

O Gráfico 12 teve como finalidade identificar aqueles militares que já fizeram o treinamento
policial básico no ano 2018, que no caso é de 7% (128 militares). O treinamento policial
básico do ano de 2018 traz algumas discussões sobre o assunto 'medidas de autoproteção',
incluindo algumas práticas por meio de oficinas. O intuito foi desprezar neste trabalho as
respostas desses 7% para que o resultado não seja tendencioso. Os 93% representam as 1.793
respostas ao questionário, as quais foram trabalhadas e estão apresentadas a seguir.

Gráfico 13 - Percentual de policiais militares que responderam ao questionário, por sexo

8%

Homem
Mulher
92%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Pelo Gráfico 13, dos 1.793 policiais militares de Minas Gerais que responderam ao
questionário, 1.658 (92%) são do sexo masculino e 135 (8%) são do sexo feminino.
Interessante acrescentar que essa proporção de homens e mulheres na corporação está de
acordo com o efetivo da PMMG, atualizado até 2017, data que envolve a pesquisa. Rosário
(2017, p, 76) traz uma tabela que dispõe o efetivo existente por postos, graduações e gênero
na Polícia Militar de Minas Gerais no ano de 2017, onde 10% do número total de policiais da
ativa são do sexo feminino e 90 % dos integrantes são do sexo masculino. Ou seja, a relação
entre a quantidade de respostas e o gênero é bem fiel à realidade da PMMG.

Gráfico 14 a e b - Percentual de policiais militares que responderam ao questionário, por faixa


etária e tempo de serviço

Faixa etária Tempo de serviço


7%
11% 3% 19%
17% 1 a 5 anos
20% até 25 anos
20% 6 a 10 anos
26 a 30 anos 19%
14% 11 a 15 anos
25% 31 a 35 anos 16 a 20 anos
21% 24%
36 a 40 anos 21 a 25 anos
41 a 45 anos 26 ou mais anos

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
51

O Gráfico 14 a mostra que dos 1.793 policiais militares que responderam ao questionário, há
mais militares entre 31 e 35 anos de idade e pelo Gráfico 14 b há mais policiais militares entre
11 e 15 anos de serviço. Percebe-se que o público que respondeu ao questionário está bem
proporcional e contempla todas as faixas de idade e tempo de serviço.

Gráfico 15 - Percentual de policiais militares que se deslocam armados durante a sua folga e
em trajes civis

28%
Sim
72% Não

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 15 mostra que a maioria dos policiais militares se desloca armada durante a folga e
em trajes civis. A necessidade de orientar o policial militar quanto ao que, como e quando
fazer o uso da arma de fogo nas condições de folga e em trajes civis é real. O policial deve ser
treinado a fim de minimizar os riscos à sua integridade física e vida, quando estiver na sua
folga e em trajes civis portando arma de fogo. Isso vai desde saber conduzi-la junto ao corpo
optando pelo local mais apropriado, não deixando sua arma exposta ou com volume
exagerado, chamando atenção de um possível infrator, ou até decidir se deve ou não estar
armado em determinadas ocasiões.

Gráfico 16 - Percentual de policiais militares, por posto/graduação, que portam arma de fogo
durante a folga e em trajes civis

90 84%
77% 77% 74%
80 71%
63% 67% 67% 65%
70
56%
60
50 43%
40
30
20
10 0 4%
0
Cel Ten Maj Cap 1 º Ten 2º Ten Cad Sub 1º Sgt 2º Sgt 3º Sgt Cb Sd
Cel Ten

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
52

Pelo Gráfico 16 fica evidente que, percentualmente, a maior parte dos militares que portam
armas são Praças, destacando a graduação de Cabo, seguido de 3º Sargento, 2º Sargento,
Soldado e Subtenentes.

Note-se que no período estudado (2012 a 2017), conforme apresentado no Gráfico 11, o maior
percentual de morte ocorreu na graduação de Cabo. Pelo Gráfico 16, é nessa mesma
graduação onde há o maior percentual de militares que portam arma de fogo durante o período
de folga e em trajes civis.

Gráfico 17 - Percentual de policiais militares que se deslocam armados durante a folga e em


trajes civis quando estão com sua família

35%

Sim
65%
Não

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares .

Pelo Gráfico 17, quando se fala em deslocar-se armado no momento em que se está junto da
família o percentual diminui 7% em relação a se deslocar quando se está só ou com outras
pessoas, conforme o Gráfico 15 apresentou. Apesar de que pelo Gráfico 17, ainda a maioria
dos policiais militares portam arma de fogo durante a folga e em trajes civis quando estão
com sua família.

Ao comparar o Gráfico 15 com o Gráfico 17, verifica-se que dos 72% de militares que portam
armas, 9,7% não se deslocam armados quando estão com suas famílias. Aferiu-se ainda que
dos militares que portam armas, 1,4% somente se deslocam armados quando estão com suas
famílias. A questão a se levantar é se esse policial está ciente desta decisão de portá-la nesta
situação ou se está apenas usando de um automatismo e simplesmente colocando-a junto ao
corpo, inconsciente dos riscos.
53

Gráfico 18 - Percentual de policiais militares, por local de porte da arma de fogo, durante o
deslocamento a pé na folga e em trajes civis

0%1% 1%
2% 4%
4% Atrás da cintura

32% Bolsa/Pochete
Debaixo da axila
Frente da cintura
Lateral da cintura
56%
Frente do Tórax
Tornozelo
Outros

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 18 retrata que a maioria dos policiais militares (56%), quando estão se deslocando
a pé durante a folga e em trajes civis, porta sua arma de fogo na frente da cintura. 32% portam
a arma na lateral da cintura. Apesar de ser em menor percentual, alguns militares portam suas
armas dentro de bolsas ou pochetes (4%). Ocorre que segundo o Guia de Treinamento Policial
Básico do 7º biênio - 2014/2015, "os movimentos finos para abrir a bolsa, por exemplo,
estarão prejudicados pelo estresse e pela carga de adrenalina que seu organismo recebeu"
(MINAS GERAIS, 2014, p. 61).

Bolsas, mochilas e pochetes são frequentemente alvos de ladrões. Em


algumas situações, a melhor tática de sobrevivência é simplesmente entregar
o que você tem para o assaltante. Mas portar uma arma nesses lugares
elimina qualquer outra opção de autodefesa, caso você precise reagir
(OLIVEIRA, 2012, n.p).

Armas acondicionadas em bolsas, mochilas e pochetes que não foram feitas para este fim não
só dificultam uma reação da vítima, mas também facilitam a ação delituosa por parte do
criminoso. O objeto mais visado pelo criminoso, no caso a bolsa onde contém a arma de fogo,
será sua primeira investida, impedindo ou dificultando o policial militar de sacá-la.

O porte da arma de fogo na frente da cintura, conforme guia de treinamento policial do 7º


biênio, é a que se "adéqua mais à atividade operacional como apetrecho componente do
fardamento do policial militar, situação em que a arma é usada de modo ostensivo" (MINAS
GERAIS, 2014, p. 56). O porte da arma na cintura, à frente e na lateral, é favorável ao saque
54

rápido, confortável, contudo deve-se usar camisas maiores e mais largas a fim de não
aparentar o volume da arma. O porte da arma atrás da cintura também oferece boa discrição
durante o deslocamento a pé.

Já o porte da arma de fogo debaixo da axila e no tórax, durante o deslocamento a pé, não
proporciona saque fácil, tampouco rápido. Contudo o porte debaixo da axila é mais discreto,
devendo ser usado com uma jaqueta. O porte no tornozelo também é discreto, porém além de
necessitar de uma calça mais larga, é desconfortável durante o deslocamento a pé, tendo em
vista o peso e dimensão da arma.

Gráfico 19 - Percentual de policiais militares, por local de porte da arma de fogo, durante o
deslocamento de carro como condutor, na folga e em trajes civis

Frente da cintura
1% 0%
1% Lateral da cintura
8%
4% 1% 27% Debaixo da perna
6% Entre as pernas
Debaixo do banco
16% Atrás da cintura

19% Bolsa/Polchete
Tornozelo
17%
Debaixo da axila
Frente do tórax
Outros

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 19 mostra que há predominância da escolha pelo porte da arma na frente da cintura
(27%) quando o militar está dirigindo o seu veículo durante a folga e em trajes civis. Em
segundo lugar está a preferência pelo porte da arma de fogo na cintura. Observa-se que 39%
portam a arma debaixo da perna, debaixo do banco ou entre as pernas. Ocorre que,

Uma prática errônea no cotidiano policial-militar é o hábito de se conduzir a


arma fora do coldre, dentro das viaturas, no patrulhamento ordinário, quando
não há necessidade de pronto emprego. Nesses casos, o policial
normalmente mantém a arma sobre o colo, entre as pernas, debaixo de uma
das pernas ou mesmo nos bolsos das portas da viatura. Essa prática
automaticamente é transferida para o cotidiano do policial militar que passa
55

a empregá-la quando está de folga à paisana, em seu veículo particular


(MINAS GERAIS, 2014, p. 60).

Nesse viés de colocar a arma entre as pernas ou de baixo de uma delas, o policial militar ou
acha que está pronto para o confronto antecipando à abordagem do infrator ou o faz pelo
automatismo de uso da mesma prática quando está fardado, dentro da viatura. Acontece que
segundo os resultados do Gráfico 7, o infrator em regra não age sozinho. Logo, mesmo se o
policial militar conseguir antecipar à ação do infrator e revidar com disparo da sua arma de
fogo, ainda terá muita chance de ser atingido por um possível comparsa do infrator.

Na mesma situação, se esse policial estiver portando sua arma entre ou debaixo das pernas, na
porta do veículo, debaixo do banco, etc, e for abordado pelo autor de roubo, sendo-lhe
mandado descer do veículo, sua arma ficará dentro deste. Se esse mesmo agente, ao anunciar
o roubo, visualizar a arma de fogo do policial militar, por vontade ou susto, poderá disparar
sua arma contra o militar.

Agora se, caso o policial militar opte por manter a arma no cós, na parte de
trás da cintura, ele sairá armado do veículo e terá uma chance maior de se
defender. Caso contrário, se sua arma for avistada ainda no interior do
veículo, a chance de ter prejuízo em relação à sua segurança será maior
(MINAS GERAIS, 2014, p. 60).

Há ainda 8% que portam a arma de fogo em outros locais como "entre os bancos do motorista
e passageiro, console do carro, na porta do carro, fixada no assoalho, direita ou entre as
pernas; espaço próprio, do lado do conector do cinto; afixada abaixo do volante, entre o banco
e o freio de mão; uma no assoalho traseiro e a outra na cintura; embaixo do banco do
passageiro, debaixo do tapete do motorista, porta copos entre os bancos, abaixo do volante
com imã e porta malas".10

Destaque-se que todos os militares indicaram a opção 'outros' no questionário para onde
transportam suas armas quando estão em seus veículos, a colocam em lugares que não junto
ao corpo.

10
Estes locais foram indicados pelos militares que responderam ao questionário em campo próprio para indicar
locais diversos das opções apresentadas no questionário.
56

Gráfico 20 - Percentual de policiais militares que já foram vítimas de roubo durante a folga e
em trajes civis

10%

Sim
Não
90%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 20 expõe que 10% dos policiais militares que responderam ao questionário já
foram vítimas de roubo durante o período de folga e em trajes civis.

Esse é um número relativamente alto ao se tratar de um público (policial militar) que em tese
é preparado tecnicamente e emocionalmente para lidar preventivamente com esse tipo de
crime durante o serviço operacional. Há, portanto, necessidade de incentivar o uso de medidas
de autoproteção que sejam suficientes ao policial militar para evitar ou minimizar a chance de
ser vítima de roubo durante o período de folga e em trajes civis.

Gráfico 21 - Percentual de policiais militares, por posto/graduação, que durante o período de


folga e em trajes civis já foram vítimas de roubo

25
21%
20 18% 18%
16%
15 13%
9% 9% 8%
10 7% 7%
4% 3%
5
0
0
Cel Ten Maj Cap 1 º Ten 2º Ten Cad Sub 1º Sgt 2º Sgt 3º Sgt Cb Sd
Cel Ten

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

A partir do Gráfico 21 vê-se que o posto de Capitão é o que possui maior percentual entre
todos os postos e graduações. Entre as praças, a graduação de 3º Sargento é a que mais
sobressai.
57

Conforme dados constantes do Gráfico 16, os Oficiais percentualmente portam menos arma
de fogo durante a folga e em trajes civis, entretanto ostentam os maiores percentuais de
vitimização por roubo. Uma hipótese para explicar essa afirmação é que ao permanecer
desarmado durante a folga e em trajes civis, os Oficiais se colocam em uma condição de
estado relaxado, deixando de observar medidas que poderiam tem impedido de ser tornar uma
vítima. Há que se constar, todavia, de acordo com o Gráfico 11, que todos os policiais
militares mortos em confronto durante a folga e em trajes civis entre o ano de 2012 e 2017
eram praças.

Gráfico 22 - Quantidade de policiais militares, por tempo de serviço, que já foram vítimas de
roubo durante o período de folga e em trajes civis

450
389
400
350 304 302 291
300
250 215
200 Sim
150 110 Não
100 47
33 41 36
50 10 15
0
1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 21 a 25 anos 26 ou mais

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Percebe-se pelo Gráfico 22 que a maior relação em número absoluto entre os militares que
durante a folga e em trajes civis já foram vitimas de roubo e aquelas que não o foram ocorre
na faixa de 16 a 20 anos de serviço. Na sequência vem a faixa de 21 a 25 anos de serviço, 26
ou mais, seis a dez anos, 11 a 15 anos e por último de um a cinco anos.

Ou seja, essas informações querem dizer que os militares com mais de 16 anos de serviço são
mais propensos a serem vítimas de roubo durante a folga e em trajes civis.
58

Gráfico 23 - Percentual de policiais militares que durante o período de folga e em trajes civis
foram feridos em razão de confronto policial quando vítimas de roubo

3%

Sim
Não
97%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Pelo Gráfico 23, observa-se que apenas 3% dos policiais militares que foram vítimas de roubo
durante a folga e em trajes civis sofreram algum tipo de ferimentos por algum instrumento.

Gráfico 24 - Percentual de policiais militares que estavam armados quando foram vítimas de
roubo durante o período de folga e em trajes civis

48%
52% Sim
Não

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 24 retrata que quase a metade dos policiais que foram vítimas de roubo durante o
período de folga e em trajes civis estavam armados, o que indica estar armado ou desarmado
não necessariamente interfere na chance de se tornar vítima de roubo.

Gráfico 25 - Percentual de policiais militares vítimas de roubo durante o período de folga e


em trajes civis, por instrumento utilizado pelo criminoso

3%
9%
5% Arma de fogo
7%
Simulacro
Força Física
76%
Faca
Outros

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
59

O Gráfico 25 aponta a arma de fogo como o principal instrumento para o cometimento do


delito contra o policial militar. Esse instrumento, junto ao simulacro e a faca, representam
86% dos instrumentos utilizados. Há ainda 9% que utilizaram outros instrumentos como
simulação de estar armado com as mãos debaixo da roupa, escondida atrás de boné ou gargalo
de garrafa quebrada .

Gráfico 26 - Percentual de policiais militares que consideram ter agido correndo o


menor risco possível quando foram vítimas de roubo durante o período de
folga e em trajes civis

12%

Sim
Não
88%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Apesar de o Gráfico 26 mostrar que a grande maioria dos policiais militares que foram
vítimas de roubo consideraram que agiram correndo o menor risco, mais de 10%
consideraram que não. O conhecimento e treinamento a respeito de condutas válidas para
mitigação dos erros durante um assalto pode minorar esse percentual.

Gráfico 27 a e b - Percentual de policiais militares, por sexo, que se deslocam armados


durante a folga e em trajes civis

Homem Mulher

24% 38%
Sim Sim
Não 62% Não
76%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
60

Pelo Gráfico 27 a, verifica-se que a maioria dos policiais militares do sexo masculino portam
arma de fogo durante a folga e em trajes civis. Por outro lado, pelo Gráfico 27 b, a minoria
das policiais do sexo feminino se deslocam armadas durante a folga e em trajes civis.

Gráfico 28 a e b - Percentual de policiais militares, por sexo e tempo de serviço na PMMG,


que portam arma de fogo durante a folga e em trajes civis.

Homem Mulher
0%
7% 16%
18% 14%
4% 35%
20% 10%
13%

26%
37%

1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos


16 a 20 anos 21 a 25 anos 26 ou mais 16 a 20 anos 21 a 25 anos 26 ou mais

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Os Gráficos 28 a e b mostram que por tempo de serviço, o maior percentual entre policiais
militares que portam arma de fogo durante a folga e em trajes civis é entre homens com 11 a
15 anos de serviço (26%), e mulheres com 6 a 10 (37%) e 1 a 5 anos de serviço (35%).

Gráfico 29 - Percentual de policiais militares do sexo masculino, por local de porte da arma de
fogo, durante o deslocamento a pé, na folga e em trajes civis

1% 0%2% Homem
2% Na frente da cintura
1%
4% Na lateral da cintura
Atrás da cintura (costas)
32%
Bolsa/Polchete
58%
Tornozelo
Debaixo da Axila
No tórax
Outros

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
61

O Gráfico 29 expõe que a maioria dos policiais militares do sexo masculino utilizam suas
armas na frente da cintura e em segundo lugar, na lateral da cintura, totalizando a soma de
90% dos militares. Esses resultados são semelhantes aos resultados do Gráfico 18, que se
referem ao total dos militares.

Gráfico 30 - Percentual de policiais militares do sexo feminino, por local de porte da arma de
fogo, durante o deslocamento a pé, na folga e em trajes civis

0% Mulher Bolsa/Pochete
0%
Na lateral da cintura
6% 4% 2%
Na frente da cintura
11%
Debaixo da Axila
51%
Atrás da cintura (costas)
26% No tórax
Tornozelo
Outros

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 30 retrata que a maioria das policiais militares do sexo feminino (51%) portam suas
armas de fogo na bolsa ou pochete. Destaque-se que, conforme já tratado, o uso da arma de
fogo em bolsas ou pochetes que não foram feitas para tal se torna desvantajoso. A segunda
opção mais indicada pelas policiais do sexo feminino foi portar a arma na lateral da cintura
(26%).

Gráfico 31 - Percentual de policiais militares do sexo masculino, por local de porte da arma de
fogo, durante o deslocamento de carro como condutor, na folga e em trajes civis

1% 0% 0% Homem
1% 0% Na frente da cintura
4% Na lateral da cintura
9%
27% De baixo da perna
6% Entre as pernas
De baixo do banco do carro
15% Atrás da cintura (costas)
Tornozelo
20%
Bolsa/Polchete
17%
Debaixo da Axila
No tórax
Outros

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
62

Quanto ao porte da arma de fogo no interior do carro, os policiais militares do sexo masculino
preferem, conforme o Gráfico 31, colocar a arma na frente (27%) ou na lateral da cintura
(20%). Destaca-se porém, que 32% colocam suas armas de fogo embaixo ou entre as pernas
enquanto está dirigindo. 6% a colocam debaixo do banco.

Gráfico 32 - Percentual de policiais militares do sexo feminino, por local de porte da arma de
fogo, durante o deslocamento de carro como condutora, na folga e em trajes
civis

Mulher
Entre as pernas
0%
4% 2% Bolsa/Pochete
8% De baixo da perna
6% 21%
Na frente da cintura
6% Na lateral da cintura
10% Atrás da cintura (costas)
19%
De baixo do banco do carro
10% Debaixo da Axila
14% No tórax
Tornozelo
Outros

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Quanto ao porte da arma de fogo no interior do carro, o maior percentual das policiais
militares do sexo feminino, conforme o Gráfico 32, colocam suas armas de fogo entre as
pernas (21%), seguido de na bolsa/pochete (19%) e debaixo da perna (14%). A soma desses
três percentuais alcança 54%. Ou seja, a maioria das mulheres portam, conforme já explicado
no Gráfico 18, suas armas em locais desaconselhados pela doutrina da PMMG.

Gráfico 33 a e b - Percentual de policiais militares, por sexo, que já foram vítimas de roubo
durante o período de folga e em trajes civis

Homem Mulher
9% 13%

Sim Sim
Não Não
91% 87%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.
63

Os Gráficos 33 a e b apresentam, comparativamente, que o percentual de mulheres que já


foram vítimas de roubo durante a folga e em trajes civis é maior do que o percentual de
homens.

A partir do questionário aplicado, foi verificado que desses vitimados por roubo, cinco foram
feridos, sendo que três com emprego arma de fogo, um com força física e um com emprego
de garrafa de vidro quebrada. Dos cinco, todos consideram que se o policial militar aplicar
algumas medidas de autoproteção, durante sua folga e em trajes civis, poderá diminuir as
chances de ser morto, em razão de algum crime.

Destes cinco, dois estavam armados. A maioria dos militares feridos não estavam portando
arma de fogo, levando a explicar que o militar reagiu de maneira errada ou não reagiu,
ficando à mercê do criminoso.

Gráfico 34 - Percentual de policiais militares que foram vítimas de roubo durante a folga e em
trajes civis, por sexo e meio utilizado pelo criminoso

100
80%
80

60
39% Homem
40
22% Mulher
17%
20 11% 9% 11%
5% 4% 2%
0
Arma de Fogo Simulacro Força Física Faca Outras

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 34 mostra que em ambos os sexos, prevalece a arma de fogo como meio utilizado
pelo criminoso (80% no caso do militar do sexo masculino). Já no que se refere à policial do
sexo feminino, há diversificação dos meios utilizados, mas a arma de fogo representa 39%.
64

Gráfico 35 - Percentual de policiais militares que, durante sua formação (CFSD, CFS, CEFS,
CFO, CHO), já receberam algum tipo de treinamento de como deve agir durante
a folga e em trajes civis

35%

Sim
65% Não

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 35 mostra que a 65% dos policiais militares nunca receberam nenhum tipo de
treinamento de como deve agir durante a folga e em trajes civis.

Considerando que o policial não está a todo o momento de posse de colete balístico, viatura
policial, em supremacia de força e fardado, conforme ocorre no serviço operacional, se torna
necessário treinamento e condutas específicos para quando estiver de folga e em trajes civis.

Gráfico 36 - Percentual de policiais militares que se sentem preparados para enfrentar uma
ameaça de roubo durante a folga e em trajes civis

34%

Sim
66%
Não

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

O Gráfico 36 indica que 66% dos policiais militares se sentem preparados para enfrentar uma
ameaça de roubo durante a folga e em trajes civis. Essa informação vai de encontro às
apresentadas pelo Gráfico 35 e corrobora o que foi citado por Zanchetta (2011) quando diz
que muitos policiais acreditam, erroneamente, estar tão preparados para enfrentar situações
durante o serviço quanto na folga. Ou seja, apesar da maioria não ter tido nenhum tipo de
treinamento de como deve agir durante a folga e em trajes civis, se sentem preparados para
enfrentar uma ameaça de roubo.
65

Gráfico 37 - Percentual de policiais militares que consideram que se houver alguma


disciplina, curso ou treinamento sobre o tema 'medidas de autoproteção',
poderá diminuir o número de policiais que morrem em confronto durante sua
folga e em trajes civis

4%

Sim
Não
96%

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Pelo Gráfico 37, quase que a totalidade (96%) dos policiais militares que responderam ao
questionário considera que o número de policiais mortos em confronto durante a folga e em
trajes civis pode ser diminuído se houver alguma disciplina, curso ou treinamento sobre o
tema 'medidas de autoproteção'. O índice de aceitação e convicção a respeito deste assunto na
PMMG é bem alto, o que torna o momento favorável para incluí-lo nas grades curriculares
dos cursos de formação da instituição.

Gráfico 38 - Percentual de policiais militares que já planejaram o que fazer, a fim de se


antecipar de uma possível ação de um agressor, durante a folga e em trajes
civis e já orientaram suas famílias quanto aos procedimentos de segurança que
podem ser adotados para quando estiverem juntos

2000
1588
1500 1286

1000 Sim
507
500 205 Não
0
Já planejou o que fazer Já orientou sua família

Fonte: elaborado pelo próprio autor a partir do questionário enviado aos policiais militares.

Os dados apresentados no Gráfico 38 mostram que a maior parte dos policiais já planejaram o
que fazer para se antecipar à ação do agressor. O resultado é vantajoso pois o bom preparo
mental fornece possíveis soluções aceitáveis, aumentando as chances de sucesso.
66

O mesmo gráfico mostra que a maioria dos policiais militares já orientou suas famílias quanto
aos procedimentos de segurança que podem ser adotados para quando estiverem juntos. Isso é
útil porque caso o policial seja assaltado juntamente com sua família, o risco de uma
fatalidade diminui, pois cada um deles saberá o que fazer e o que não fazer.

O questionário do trabalho, além das questões do tipo “múltipla escolha”, se compôs de mais
três perguntas, a saber:

24ª - Quais medidas o policial considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se
PREVENIR (ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto
estiver andando a pé pela rua ?

As respostas à 24ª pergunta estão descritas no Anexo B deste trabalho. Resumidamente, os


policiais militares ressaltaram a importância de "estar atento ao que acontece ao seu redor,
evitar transitar em locais escuros, não ostentar objetos de valor, manter-se no estado de
prontidão (amarelo), não se distrair com o uso de celulares e fones de ouvido, ter atenção para
não deixar a arma de fogo aparecendo, evitar arrumar a arma na cintura, se antecipar e
atravessar a rua no caso de visualizar algum suspeito, não ingerir bebidas alcoólicas quando
estiver armado, olhar para os lados antes de entrar no veículo"11, dentre outros.

A postura corporal mais ereta ou mais curva, a velocidade lenta ou rápida, o caminhar firme
ou descontraído com que o policial se desloca na rua, influencia sobremaneira na escolha da
vítima pelo criminoso. Segundo o guia de treinamento policial 9º biênio (2018),

Os criminosos preferem alvos fáceis e atrativos. Então acredite: sua forma de


caminhar, postura, velocidade e coordenação influenciam
subconscientemente na escolha de ser ou não uma vítima. Ande firme,
sabendo onde quer ir, confiante e atento às pessoas e lugares (MINAS
GERAIS, 2018, p. 234).

Cientistas da universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, fizeram uma pesquisa focando


exclusivamente em avaliar a vulnerabilidade (propensão de se tornar uma vítima) de uma
pessoa durante uma caminhada pela rua. Esses cientistas utilizaram um sistema conhecido em
inglês como point light walker (PLW), que consiste em vestir as pessoas com roupas escuras

11
Síntese dos principais pontos apresentados espontaneamente pelos militares que responderam ao questionário.
67

dotadas de luzes colocadas nos pontos de junção do corpo. Com isso foi possível ver apenas o
movimento da pessoa, sem identificar qualquer outra coisa – como rosto ou dimensão do
corpo.

A pesquisa da universidade de Canterbury corroborou com aquilo que os pesquisadores


Grayson e Stein, no ano de 1981 já haviam concluído: "interessantemente, o criminoso não
escolhe o seu alvo exclusivamente em função da idade ou sexo, mas sim pelo estilo de
caminhada" (GRAYSON E STEIN,1981, p. 68).

O cientista da universidade da Canterbury, Johnston et al. (2002, p. 145), em suas avaliações


de facilidade de ataque pelo criminoso à vitima concluiu que:

 A relação entre estilo de caminhada e facilidade de ataque pelo criminoso


existe para ambos os sexos;
 Quanto mais uma pessoa levanta os pés e mais devagar ela anda em relação
aos demais, mais fácil de atacar, pois quanto menor o comprimento da
passada, menos a pessoa balança seus pés ou braços, tendo também baixa
energia na pisada. Além de uma postura baixa e curvada. Ao contrário, mais
difícil de atacar se tornava quando a passada tinha comprimento maior, a
caminhada era mais rápida e coordenada, movimento do pé oscilante, maior
alcance do balanço do braço, maior energia, menor restrição e postura ereta;
 O peso corporal influencia de forma que quanto menos a pessoa pesava,
mais fácil é de atacar;
 As pessoas foram classificadas como mais fáceis de atacar quando estavam
vestindo a saia. Também foram classificadas como mais fáceis de atacar
quando estavam descalças ou de salto alto do que quando estavam de
sapatos. O salto alto faz a pessoa diminuir o comprimento da passada.

25ª Quais medidas o policial considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se
PREVENIR (ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto
estiver dirigindo o seu veículo (carro ou moto) ?

As respostas à 25ª pergunta estão descritas no Anexo B deste trabalho. Cabe destacar algumas
medidas de autoproteção que foram escritas por diversos policiais como: "transitar com vidros
fechados e portas travadas; colocar películas escuras nos vidros do carro a fim de dificultar a
visualização dos ocupantes do veículo; evitar o uso de eletrônicos; atentar ao transito,
veículos, principalmente motos e pedestres que se aproximam, em especial na chegada e saída
de casa; atentar aos pontos de parada; não ficar dentro do veículo estacionado; evitar parar em
locais ermos e abandonados; escolher locais e horários seguros para frequentar; evitar deixar a
68

arma embaixo da perna ou debaixo do banco do carro; orientar a família para, caso sejam
rendidos, descerem do veículo, se afastarem o mais rápido possível e buscarem um local
seguro (comércio, residência "idônea", etc.); treinar técnica para o desembarque dissimulado.
Caso seja rendido, desembarcar de forma a proteger o lado que está a arma, bem como não
ficar parado em pé na porta do veículo impedindo-o de entrar no veículo; caso seja abordado,
observar a presença de escolta o que hoje é uma rotina; entrar com o carro na garagem de ré e
farol alto, após o portão estar aberto, dente outros".12

Nuseg (2009) recomenda manter o carro à direita da via ou na faixa central quando o sinal
estiver vermelho, evitando a calçada, pois geralmente os ladrões atacam pelo lado esquerdo.
Além de reduzir a velocidade, à noite, a fim de passar pelo semáforo quando já estiver verde.

26ª Quais medidas o policial considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se
PREVENIR (ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto
estiver no interior de um estabelecimento (restaurante, casa lotérica, posto de combustível,
correio, etc) ?

As respostas à 26ª pergunta estão descritas no Anexo B deste trabalho. Quanto às medidas de
autoproteção mais citadas pelos policiais militares para quando estiver no interior de um
estabelecimento estão: "fazer leitura de ambiente antes de entrar, observar o semblante de
funcionários e clientes; ter atenção a quem adentra ao local, visualizar o comportamento das
pessoas, bem como volume na região da cintura; se posicionar de costas para alguma parede e
de frente para a porta; ficar próximo a locais que ofereçam cobertura e abrigo e pontos de
saída rápida; não agir como se estivesse fardado; no caso de filas em banco por exemplo,
sempre dar as costas para o início da fila; em casa lotérica, preferir local mais vazio e não
ficar próximo da porta; no caso de abastecer em postos, desembarcar do veículo e se
posicionar próximo de abrigos; dar preferência ao uso de aplicativo do banco ao invés de ir in
loco nestes estabelecimentos; não conversar assuntos policiais em tons elevados de voz, não
deixar objetos a amostra; verificar sempre a existência de comparsas, que possam dar
cobertura aos infratores; manter a calma; se estiver armado tomar cuidado para que o volume
da arma não denuncie a minha condição de militar; em caso de roubo, verificar a
conveniência e a oportunidade de sacar a arma de fogo, a fim de não aumentar o risco para si,
para sua família e para eventuais terceiros".13

12
Síntese dos principais pontos apresentados espontaneamente pelos militares que responderam ao questionário.
13
Síntese dos principais pontos apresentados espontaneamente pelos militares que responderam ao questionário.
69

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve por objetivo identificar se existem medidas que podem ser adotadas
pelo policial militar de folga e em trajes civis adequadas para minimizar ou evitar a
vitimização em ocorrências, cuja causa presumida é o roubo e o latrocínio. O trabalho
apresentou como referencial teórico a evolução do fenômeno criminal, as causas da
criminalidade violenta e em especial aquelas voltadas para a vitimologia, explicando não
apenas o porquê um indivíduo comete crime, mas como o policial militar pode evitar se tornar
uma vítima.

Como forma de apresentar as teorias do crime, a começar das mais antigas, foram trazidos
autores como Cerqueira e Lobão (2007), que explicam a Teoria da Desorganização Social,
Teoria Estrutural-Funcionalista do Desvio e da Anomia, Teoria da Associação Diferencial e
do Aprendizado Cultural. Essas teorias explicam o comportamento criminoso buscando as
causas pelas quais uma pessoa comete crime.

Por outra perspectiva, de forma a demonstrar a evolução das teorias do crime, Santos (2016)
expõe a Teoria do Controle, que pressupõe que qualquer pessoa pode ser um criminoso em
potencial, bastando a oportunidade para colocá-la em prática. A partir da Teoria do Controle,
Cohen e Felson (1979), Felson e Clarke (1998) desenvolveram a Teoria das Atividades
Rotineiras, Carvalho (2005) descreveu a Teoria da Escolha Racional, e Freitas (2004), a
Teoria da Prevenção Situacional. Todas com o foco não no criminoso, mas nas oportunidades
em que a vítima influencia no cometimento do delito. Clarke (1998), além de reforçar a
oportunidade como a causa do crime, incluiu a utilização de medidas de prevenção a fim de
levar à redução da vitimização. Molina (1997), Beato (2004), Rolim (2006) e Persijn (2006)
apontam a necessidade de estratégias de prevenção voltadas à redução das oportunidades
como mudança de hábitos e costumes dos indivíduos e organizações.

Em continuidade ao estudo criminológico sob o ponto de vista da vítima, Branco (2008),


Faria Junior (1998), Souza (1998) e Moreira Filho (2008) desenvolveram o conceito da
vitimologia como o estudo da vítima do crime e suas relações determinantes para a ocorrência
do delito. Dentre vários segmentos da sociedade, há profissões que aumentam os riscos de
vitimização.
70

Em normas como o Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais e o Regulamento Geral
da Polícia Militar, buscou-se mostrar quais são as características da profissão policial militar e
as peculiaridades a que estão submetidos. Estas normas exigem do policial estar pronto a
qualquer hora do dia ou da noite, devendo atuar mesmo de folga e em trajes civis.

Em autores como Chiavenato (2009), Assunção (2008), e normas institucionais como o


Manual Técnico-Profissional 3.04.01/2013-CG e a DGEOp apresentaram a importância do
treinamento policial militar mental e prático, a fim de desenvolver conhecimentos, habilidades
e atitudes necessários ao cumprimento do exercício profissional e o uso da força.

Com o Memorando nº 30.416.5/12-EMPM e o Guia de Treinamento do 7º Biênio, procurou-


se identificar condutas preconizadas pela PMMG para intervenção do policial militar durante
a folga e em trajes civis.

Piedade Junior (1993), Minayo et al. (2007), Rosário (2017), Leal e Piedade Junior (2001),
conceituaram a vitimização e vitimização policial, bem como caracterizaram a atividade
policial quanto a suscetibilidade de ser tornarem vítimas.

Em organizações como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2016) e Instituto Sou da


Paz (2017), buscou-se conhecer objetivamente a estatística da vitimização de policiais
militares na folga e em trajes civis, com a finalidade de identificar a importância do tema.

Encontrou-se então, que o policial militar traz em sua profissão um risco muito alto, sendo
obrigado por lei a agir, não apenas durante o serviço fardado mas também durante o período
de folga e em trajes civis. Ocorre que a estatística mostrou que morrem três vezes mais
policiais militares no Brasil em confronto durante o período de folga e em trajes civis do que
em serviço e fardado. Em Minas Gerais esse comparativo chega quase ao dobro.

Tomando-se por base os dados fornecidos pela CPM e as respostas do questionário aplicado,
apurou-se que o confronto policial foi a terceira maior causa de mortes de policiais militares
de Minas Gerais, entre os anos de 2012 e 2017, o que comprova o risco da profissão policial
militar. Denota, portanto, a importância da discussão teórica e prática do tema 'medidas de
autoproteção', bem como suscita providências no sentido de adotar medidas que possam
diminuir esse número de mortes na Polícia Militar de Minas Gerais.
71

Entre os anos de 2012 e 2017, 22 (60%) das 37 mortes de policiais militares de Minas Gerais
em confronto ocorreram durante a folga e em trajes civis.

Em relação à articulação da PMMG, as localidades onde ocorreram maior número de mortes


de policiais militares em confronto durante a folga e em trajes civis, foram em ordem
decrescente de frequência, a 2ª RPM, 1ª RPM e 3ª RPM.

Dos 22 policiais militares que morreram em confronto durante a folga e em trajes civis, 19
(86,3%) estavam armados. Desses, 11 militares (58%) sequer conseguiram disparar com sua
arma de fogo. Dos oito que conseguiram revidar, apenas dois policiais conseguiram atingir o
agressor.

Constatou-se que em 19 (86%) das 22 ocorrências que vitimaram fatalmente o policial militar
houve o envolvimento de pelo menos dois infratores. Os instrumentos empregados para o
delito foram, a rigor, pistola e revólver.

Foi identificado que os locais onde mais ocorreram o delito contra o policial militar foram no
interior de estabelecimentos comerciais, seguido da rua e em veículos (carro e moto).

Verificou-se que em dez (45,45%) das 22 ocorrências constam perfuração de disparo de arma
de fogo na cabeça do policial militar durante o confronto. Houve freqüência de disparos pelo
infrator em locais do corpo do militar de maior volume como tórax, abdome e costas.

Os finais de semana no período noturno foram identificados como os dias e horários de maior
incidência de crimes contra policiais militares.

Em relação ao posto/graduação dos policiais militares mortos em confronto durante o


período de folga e em trajes civis, destaca-se a graduação de Cabo com nove das 22 mortes,
seguido do Soldado (sete), Sargento (cinco) e Subtenente (um). 45,45% do total de policiais
mortos durante a folga e em trajes civis tinham até dez anos de serviço na PMMG. Todos
esses 22 policiais militares mortos eram do sexo masculino.
72

Constatou-se pela análise das 22 ocorrências que vitimaram fatalmente os policiais militares
durante confronto policial na folga e em trajes civis, que em seis, o militar havia feito uso de
bebida alcoólica.

Dos policiais militares que responderam ao questionário, constatou-se que a maioria (72%) se
desloca armada durante a folga e em trajes civis, porém o percentual diminui quando estão
com sua família (65%).

Quanto ao perfil dos Oficiais, estes são a minoria dentre aqueles que portam armas durante o
período de folga e em trajes civis, entretanto estão entre os maiores percentuais de policiais
militares que já foram vítimas de roubo. As Praças, em contrapartida, estão entre os militares
que percentualmente mais portam arma de fogo durante a folga e em trajes civis e que
também percentualmente, menos foram vítimas de criminosos em crimes de roubo.

No tocante ao local de porte da arma de fogo pelos policiais militares durante a folga e em
trajes civis quando estão se deslocando a pé, a maioria (56%) porta sua arma de fogo na frente
e na lateral da cintura (32%). Porém, há aqueles que portam suas armas dentro de bolsas ou
pochetes (4%), locais desaconselhados. A maioria das policiais militares do sexo feminino
(51%) portam suas armas de fogo na bolsa ou pochete. Quando estão dirigindo seus carros,
predomina o uso na frente da cintura (27%) e na lateral da cintura (19%). Todavia, 39%
portam a arma debaixo da perna, debaixo do banco ou entre as pernas, considerada uma
prática errônea.

Observou-se que 10 % dos policiais militares já foram vítimas de roubo durante a folga e em
trajes civis, sendo o posto de Capitão o que possui maior percentual entre todos os postos e
graduações. Entre as praças, a graduação de 3º Sargento é a que mais sobressai. Desses, 3%
foram feridos em razão do confronto. A maioria (88%) dos militares vítimas de roubo
considerou ter agido correndo o menor risco possível. Constatou-se ainda que a maior relação,
em número absoluto, entre os militares que já foram vitimas de roubo e aquelas que não o
foram, ocorre entre 16 e 20 anos de serviço.

A metade dos policiais que foram vítimas de roubo durante o período de folga e em trajes
civis estava armada. A arma de fogo foi o principal instrumento para o cometimento do delito
contra o policial militar.
73

Quanto ao treinamento obtido pelo policial militar em sua carreira, a maioria (65%) nunca
recebeu nenhum tipo de treinamento de como deve agir durante a folga e em trajes civis.
Todavia, 66% dos policiais militares se sentem preparados para enfrentar uma ameaça de
roubo durante a folga e em trajes civis. Além disso, a maior parte dos policiais já planejou o
que fazer e já orientaram sua família para se antecipar à ação do agressor.

Dos policiais militares que responderam ao questionário, 96% consideram que o número de
policiais mortos em confronto durante a folga e em trajes civis pode ser diminuído se houver
alguma disciplina, curso ou treinamento sobre o tema 'medidas de autoproteção'.

Foi descoberto nesta pesquisa várias medidas autoprotetivas que podem ser aplicadas pelo
policial militar aptas a minimizar ou evitar a vitimização em ocorrências, cuja causa
presumida é o roubo. Essas medidas de autoproteção estão constantes ao longo desta pesquisa,
mais detalhadamente nos Anexos A e B.

Portanto, verifica-se que todos os objetivos propostos para essa pesquisa foram alcançados e
hipótese confirmada. A partir dos resultados obtidos, apresentam-se as seguintes sugestões:

a) A implementação de cursos e treinamentos em âmbito da PMMG que permitam ao


policial militar estar devidamente capacitado para agir preventivamente e
repressivamente durante o período de folga e em trajes civis, adotando medidas de
autoproteção, ao mesmo tempo em que afasta ou minimiza os riscos da intervenção;

b) Conscientizar o policial militar quanto ao risco de portar a arma de fogo durante a folga e
em trajes civis, sem se colocar no mínimo no estado de atenção, considerando a
possibilidade de uma abordagem por infratores ou necessidade de intervenção;

c) Capacitação dos professores de técnica policial no assunto 'Medidas de Autoproteção',


para posterior inclusão desta matéria na grade curricular da disciplina de Técnica Policial
Militar nos cursos de formação da PMMG;

d) Continuação da temática 'Medidas de Autoproteção', que deu início no ano de 2018, nos
próximos TPBs, com atualização constante da grade curricular;
74

e) Necessidade de realização de cursos e treinamentos complementares presenciais e à


distância, abordando no primeiro momento uma reflexão sobre os riscos de estar armado
durante a folga e em trajes civis, explanar acerca do estado de prontidão e uso da força
nesta situação e diferenças técnicas e táticas quando se está fardado e em trajes civis. No
momento prático, explicar e treinar técnicas de saque de armas, técnicas de desembarque
dissimulado, identificação de abrigos, posições de porte de arma, ressaltando aquelas que
não são aconselhadas (aquelas que a arma não está junto ao corpo), principalmente no
interior de carros, estabelecimentos comerciais e na rua; saber identificar as janelas de
oportunidades; realizar treinamento simulado;

f) Conscientizar os policiais militares para que não estejam armados quando da ingestão de
bebida alcoólica;

g) Revisão do Manual Técnico-Profissional nº 3.04.02/2013-CG (tática policial, abordagem


a pessoa e tratamento às vítimas), incluindo uma unidade a respeito das condutas táticas
que podem ser utilizadas pelo policial militar durante o período de folga e em trajes civis.

Cabe ressaltar que este tema está alinhado com um dos objetivos do plano estratégico 2016-
201914 da PMMG, que é 'promover o bem-estar dos servidores', ao se preocupar com a
segurança do policial militar não apenas durante o serviço, mas também no momento de sua
folga e junto da sua família.

O estudo, por fim, não esgota o assunto, mas abre maior leque para estudos mais específicos e
aprofundados com a finalidade de fornecer ao policial militar vantagens técnicas e táticas para
fazer frente ao seu dever constitucional, que é servir a sociedade a qualquer hora do dia ou da
noite.

14
Plano estratégico: 2016-2019 é um documento que visa à formulação de objetivos para a seleção de programas
de ação da PMMG, adequando às mudanças, anseios e demandas da sociedade mineira para o período dos anos
de 2016 a 2019.
75

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OLIVEIRA. Humberto W. S. Onde eu escondo isso ?!. Brasília, 2012, n.p. Disponível em:
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_______ Autodefesa contra o crime e a violência: um guia para civis e policiais. São Paulo:
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PERSIJN, Annik [et al]. Teoria da Oportunidade. Especialização em Segurança Pública.


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PIEDADE JUNIOR, Heitor. Vitimologia – evolução no tempo e no espaço. Rio de Janeiro:


1993. Biblioteca jurídica Freitas Bastos.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas/ Roberto Jarry


Richardson; colaboradores José Augusto de Souza Peres. (et al.). 3ª ed - 16. reimpr. São
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ROLIM, Marcos. Guia para a prevenção do crime e da violência. 11 de maio de


2006.Disponívelem:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigo
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ROSÁRIO, Anselmo Pedrosa do. Análise das mortes violentas intencionais de policiais
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80

Militar de Minas Gerais como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em


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disorganization theory. American Journal of Sociology, v. 94, p. 774-802, 1989.

SANTOS, Márcia Andréia Ferreira. Abordagens Científicas sobre as causas da


criminalidade violenta: uma análise da teoria da ecologia humana. Revista do laboratório de
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furto consumado a transeunte em via pública na cidade de Juiz de Fora. Belo Horizonte,
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Pós-Graduação, Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

SOUZA, E. R. MINAYO, M. C. de S. Sob Fogo Cruzado: vitimização de policiais


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SOUZA, José Guilherme de. Vitimologia e violência nos crimes sexuais. Porto Alegre:
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TJ-SP - APL: 992080335828 SP, Relator: Orlando Pistoresi, Data de Julgamento:


03/02/2010, 30ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 11/02/2010)

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ZANCHETTA, M. O estudo do erro na vitimização do policial militar. 107 p. Dissertação


(Mestrado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública). Centro de Altos Estudos de
Segurança da Polícia Militar do Estado de São Paulo, 2011.
81

APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO - CESP

Policial militar de Minas Gerais, este questionário é parte integrante do Trabalho de


Conclusão do Curso de Especialização em Segurança Pública (CESP/2018), realizado pela
Academia de Polícia Militar, cujo tema desta pesquisa é: “MEDIDAS DE
AUTOPROTEÇÃO FACE À VITIMIZAÇÃO DOS POLICIAIS MILITARES DE MINAS
GERAIS, DE FOLGA E EM TRAJES CIVIS".

Considera-se o termo Medidas de Autoproteção como sendo ações preventivas e reativas que
o policial militar pode aplicar, a fim de evitar ou diminuir a probabilidade de se tornar vítima
de crimes, principalmente aqueles econômicos como o roubo. São exemplos de Medidas de
Autoproteção: evitar passar por locais desertos e/ou pouco iluminados, dirigir seu carro com
os vidros fechados e portas trancadas, olhar para o arredores antes de entrar, estacionar ou sair
com o seu veículo, dentre outros.

Conto com sua colaboração e compreensão, no sentido de responder ao questionário com


SINCERIDADE, para que a realidade seja traduzida da forma mais legítima. O anonimato
será mantido, não sendo necessária à sua identificação. Certo de sua compreensão, desde já
agradeço à colaboração.

São apenas 3 MINUTOS para responder todo o questionário.

Gustavo Henrique Pereira Diniz, Cap PM


Aluno do CESP 2018

1. Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino

2. Faixa de idade:
( ) até 25 anos
( ) 26 a 30 anos
( ) 31 a 35 anos
( ) 36 a 40 anos
( ) 41 a 45 anos
( ) 46 ou mais

3. Tempo de serviço na PMMG:


( ) 1 a 5 anos
82

( ) 6 a 10 anos
( ) 11 a 15 anos
( ) 16 a 20 anos
( ) 21 a 25 anos
( ) 26 ou mais

4. Posto/Graduação:
( ) Cel
( ) Ten Cel
( ) Maj
( ) Cap
( ) 1º Ten
( ) 2º Ten
( ) Cadete
( ) Al CHO
( ) Sub Ten
( ) 1º Sgt
( ) 2º Sgt
( ) 3º Sgt
( ) Cb
( ) Sd

5. Se desloca armado durante sua folga e em trajes civis ?


( ) Sim
( ) Não

6. Se desloca armado durante sua folga e em trajes civis quando está com sua família?
( ) Sim
( ) Não

Caso NÃO se desloca durante a folga e em trajes civis ARMADO, responder "Não
permaneço armado quando estou andando a pé/dirigindo seu carro/Não porto arma durante a
folga e em trajes civis).

7. Em qual local porta sua arma quando está andando a pé (durante a folga e em trajes civis) ?
( ) Na frente da cintura
( ) Atrás da cintura (costas)
( ) Na lateral da cintura
( ) No tórax
( ) Debaixo da axila
( ) Tornozelo
( ) Bolsa/pochete
( ) Não permaneço armado quando estou andando a pé
( ) Outros. Especificar:___________________________

8. Em qual local porta sua arma quando está dirigindo o seu carro (durante a folga e em trajes
civis) ?
( ) Na frente da cintura
( ) Atrás da cintura (costas)
( ) Na lateral da cintura
83

( ) No tórax
( ) Debaixo da axila
( ) Tornozelo
( ) Bolsa/pochete
( ) Entre as pernas
( ) Debaixo da perna
( ) Debaixo do banco do carro
( ) Não permaneço armado quando estou andando a pé
( ) Outros. Especificar:___________________________

9. Utiliza coldre quando está portando sua arma (durante a folga e em trajes civis) ?
( ) Sim
( ) Não

10. Considera que se o policial militar aplicar algumas medidas de autoproteção, durante sua
folga e em trajes civis, poderá diminuir as chances de ser morto, em razão de algum crime ?
( ) Sim
( ) Não

11. Conhece alguma norma da PMMG que trata sobre medidas ou formas como o policial
militar deve proceder quando à paisana e de folga ?
( ) Não
( ) Sim. O Guia de Treinamento Policial Básico (TPB)
( ) Sim. Outras normas da PMMG

12. Já fez TPB este ano (2018) ?


( ) Sim
( ) Não

13. Durante sua formação (CFSD,CFS,CEFS, CFO,CHO), já recebeu algum tipo de


treinamento de como deve agir durante sua folga e em trajes civis, para caso seja vítima de
roubo ?
( ) Sim
( ) Não

14. Já orientou sua família quanto aos procedimentos de segurança que podem ser adotados,
para quando estiverem juntos ?
( ) Sim
( ) Não

15. Se sente preparado tecnicamente para enfrentar uma ameaça de roubo durante sua folga e
em trajes civis ?
( ) Sim
( ) Não

16. Considera que se houver alguma disciplina, curso ou treinamento sobre o tema 'Medidas
de Autoproteção', poderá diminuir o número de policiais que morrem em confronto durante
sua folga e em trajes civis ?
( ) Sim
84

( ) Não

17. Já planejou o que fazer, a fim de se antecipar de uma possível ação de um agressor contra
você, sua família ou terceiros, durante a folga e em trajes civis?
( ) Sim
( ) Não

18. Já foi vítima de roubo durante o período de folga e em trajes civis ?


( ) Sim
( ) Não

19. Foi ferido ?


( ) Sim
( ) Não

20. Qual foi o meio utilizado pelo criminoso?


( ) Arma de fogo
( ) Simulacro
( ) Faca
( ) Força Física
( ) Outros. Espeficicar:___________________

21. Estava armado ?


( ) Sim
( ) Não

22. Considera que agiu correndo o menor risco possível para essa ocorrência ?
( ) Sim
( ) Não

23. Quais poderiam ter sido as ações aplicadas para ter diminuído os riscos?
( ) Colocado a arma em outro lugar
( ) Observado os arredores
( ) Observado os arredores antes de entrar/sair no carro/moto/casa
( ) Ter-se abrigado
( ) Observado os arredores à procura de mais algum infrator
( ) Não ter sacado a arma
( ) Apenas ligado para 190
( ) Ter ficado dentro do carro
( ) Fechado os vidros
( ) Trancado as portas do carro
( ) Corrido
( ) Ficado parado aguardando ordem do criminoso
( ) Posicionado melhor dentro do estabelecimento
( ) Evitado frequentar aquele tipo de local (rua, estabelecimento, etc)
( ) Outras. Citar_________________________________

24. Quais medidas considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se PREVENIR
(ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto: ESTIVER
ANDANDO A PÉ PELA RUA ?
85

25. Quais medidas considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se PREVENIR
(ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto: ESTIVER
DIRIGINDO O SEU VEÍCULO (carro ou moto) ?

26. Quais medidas considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se PREVENIR
(ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto: ESTIVER
NO INTERIOR DE UM ESTABELECIMENTO (restaurante, casa lotérica, posto de
combustível, correio, etc) ?

Fique à vontade caso queira acrescentar alguma medida de autoproteção que considere útil
seja transitando a pé, de carro, dentro de um estabelecimento ou em qualquer outro local.
OBRIGADO !!!
86

ANEXO A

O Guia de Treinamento do 9º Biênio (2018) elenca várias medidas de autoproteção de acordo


com a situação, que, em conformidade com Beato (2004), contribuem para a prevenção ou ao
menos mitigação dos riscos para o policial militar durante sua folga:
Militar andando a pé na rua:

 Mantenha-se sempre atento. Este é um grande fator de proteção, pois


assaltantes evitam se aproximar de pessoas atentas;
 Mantenha sempre sua atenção na rua, no metrô, no ônibus, em centros
comerciais, etc;
 Tenha especial atenção às pessoas à sua volta. Lembre-se: os assaltantes
valem-se principalmente do fator surpresa e da desatenção para atacarem
suas vítimas;
 Evite passar por locais desertos e/ou pouco iluminados;
 Não pare para atender pedidos que lhe despertem desconfiança - Confie em
seus instintos;
 Evite locais com aglomerações de pessoas, pois estes locais facilitam a ação
de “batedores de carteira” e oportunistas;
 Ao pressentir a aproximação de estranhos em atitude suspeita entre no
primeiro local habitado que encontrar e peça ajuda;
 Não deixe a Carteira Especial de Policia com fácil visualização dentro da
carteira;
 Não use locais isolados para encontros amorosos, pois este é um
comportamento de risco;
 Desconfie de estranhos com conversa envolvente que tentem aproximação;
 Evite retirar sua carteira em público;
 Procure caminhar no centro da calçada e contra o sentido do trânsito. É mais
fácil perceber a aproximação de algum veículo suspeito. Se algum motorista
o incomodar mude de direção e ande em sentido contrário ao fluxo;
 Cuidado ao atender seu celular nas ruas e grandes centros comerciais.
Verifique antes se não há ninguém ao seu lado;
 Os criminosos preferem alvos fáceis e atrativos. Então acredite: sua forma de
caminhar, postura, velocidade e coordenação influenciam
subconscientemente na escolha de ser ou não uma vítima. Ande firme,
sabendo onde quer ir, confiante e atento às pessoas e lugares.

Militar dentro de estabelecimento (restaurantes, bancos, padarias,


correios, bares ou farmácias,etc):

 Antes de entrar verifique se não há qualquer movimentação ou atitude


suspeita das pessoas que estejam no interior da loja. Observe aquele que foge
dos padrões de vestimenta e comportamento do local que está;
 Tenha muita atenção às pessoas estranhas que se aproximam;
 Em restaurantes e bares, escolha uma mesa bem localizada, que lhe permita
observar as outras pessoas, as portas de acesso, de emergência (se houver) e
que fique próximo de algum abrigo;
 Não dê as costas para o fluxo de pessoas ou entrada do estabelecimento;
 Evite abrir a carteira na frente de outras pessoas;
 Tenha em mente um plano de ação caso o estabelecimento seja assaltado.
Estude os possíveis abrigos, fugas, necessidade e conveniências de usar sua
arma de fogo em razão do número de pessoas no interior e tipo de crime que
87

está ocorrendo. Se o criminoso estiver disparando na direção das vítimas, o


emprego da sua arma de fogo será inevitável. Lembre-se de não deixar sua
carteira funcional tampouco sua arma de fácil localização, principalmente
caso for revistado pelo agente;
 Não deixe sua arma exposta ou com volume exagerado! Isso pode
constranger as pessoas, causando-as insegurança e, principalmente,
chamando atenção de um possível infrator.

Militar no posto de combustível:

 Observe, antes de entrar, se há movimentação suspeita no local como


funcionários agrupados, parados, nervosos, etc. Caso perceba algo estranho,
não pare;
 Verifique se não há qualquer movimentação ou atitude suspeita das pessoas
que estejam no posto de combustível, principalmente pessoas em motos.
Observe aqueles que fogem dos padrões de vestimenta e comportamento do
local que está. Ex: pessoas com o capacete na cabeça para não ser
identificado;
 Durante o abastecimento avalie se é mais viável aguardar dentro do carro
com as portas trancadas, vidros fechados e atento; ou ficar fora do veículo
mas próximo de um abrigo observando a movimentação das pessoas.
Lembre-se que o local é inflamável.

Militar parado no semáforo:

 Nos semáforos, fique alerta à aproximação de estranhos, mesmo que não lhe
pareçam suspeitos. Utilize sempre os retrovisores, visando perceber a
aproximação de pessoas suspeitas atrás do veículo;
 No período noturno, ajuste a velocidade de seu veículo nas áreas de
cruzamentos, reduzindo a velocidade de forma que você não precise parar no
cruzamento e também não cometa uma infração de trânsito passando no sinal
vermelho;
 Evite a primeira fila de veículos e as faixas das extremidades, especialmente
da esquerda. Preferencialmente, pare nas faixas centrais. Isso dificulta a fuga
do criminoso caso tente roubar o veículo. Caso tenha que parar nas
extremidades, não deixe espaço para que motos passem ao seu lado
(esquerdo);
 Mantenha distância mínima do veículo da frente para possibilitar sua saída
em casos de emergência;
 Procure não deixar espaços para passagem ou circulação do lado esquerdo
do seu veículo;
 Chegue ao cruzamento com atenção, identificando pessoas suspeitas e
demonstrando estar atento;
 Verifique constantemente a presença de suspeitos ao redor de seu veículo,
inclusive motociclistas;
 Evite a distração com celulares, rádios, etc;
 Mantenha portas e vidros travados;
 Não deixe objetos (bolsas, celulares) em locais visíveis do veículo.

Militar dirigindo o seu veículo:

 Habitue-se a dirigir com os vidros fechados e portas travadas, principalmente


durante as paradas;
88

 Não pare para auxiliar outros motoristas em locais isolados, mal iluminados,
em horas avançadas da noite e que lhe pareça algo estranho;
 Evite colocar em seu veículo adesivos e outros símbolos que possam o
identificar como policial militar;
 Ao passar por lombadas, verifique, antes de reduzir a marcha, se há
aproximação de pessoas suspeitas e deixe distância suficiente do veículo à
sua frente para poder desviar, caso ele pare, tentando bloquear seu caminho;
 Evite permanecer no interior de um carro estacionado na via pública. Esta é
uma ótima oportunidade para você ser surpreendido. Se isso for necessário,
faça-o em local que permita sua ampla visão para todos os lados e esteja
alerta à aproximação de estranhos;
 Se for obrigado a estacionar na via pública, procure fazê-lo em locais
movimentados e bem iluminados. Não deixe objetos à vista. Não deixe sua
arma dentro do carro;
 Cultive o hábito de “olhar” ao redor, antes de aproximar-se de seu carro
estacionado ou mesmo antes de estacionar;
 No ato de estacionar, bem como no momento em que retornar para apanhar o
carro, esteja atento para a presença de indivíduos suspeitos nas
proximidades. Na dúvida pare em outro local ou dê uma volta antes de entrar
em seu carro. Essa é uma das formas mais freqüentes de abordá-lo;
 Verifique o interior antes de entrar. Um infrator pode estar atrás dos bancos;
 Não abra os vidros para vendedores ambulantes, que muitas vezes podem ser
assaltantes disfarçados;
 Não demore nem permaneça em veículo estacionado;
 Se visualizar um roubo acontecendo, avalie se irá intervir diretamente ou
ligará para o "190" repassando as características/rota de fuga. Lembre-se que
é muito comum que a prática do roubo ou furto seja feita com pessoas
fazendo a “cobertura” em locais estratégicos de quem anuncia o assalto (eles
quase nunca estão sozinhos).

Militar chegando ou saindo de casa:

 Antes de entrar ou sair de casa, verifique a presença de pessoas estranhas. Se


houver, não se abstenha de ligar "190";
 Tenha a chave de sua casa à mão antes de chegar à porta;
 Caso sua casa apresente um aspecto de arrombamento não entre. Ligue
"190";
 Cuidado no momento de abrir portões automáticos. Verifique se não existe
ninguém suspeito próximo de sua casa ou prédio;
 Cuidado ao parar em frente à sua residência, especialmente quando for abrir
o portão ou descarregar seu veículo. Certifique-se ANTES de não haver
ninguém suspeito próximo;
 Ao chegar com seu veículo, espere o portão da garagem abrir completamente
para posicionar o carro de frente à garagem. Acelere-o até o final na
garagem a fim de aumentar o tempo de resposta caso algum infrator entre.
Outra opção é, antes de abrir o portão da garagem, dê uma ré de forma a
posicionar o veículo com a frente para a rua e a traseira para o portão. Após
a abertura do portão você entra de ré. Assim você visualizará tudo à sua
volta e possibilitará uma saída rápida se necessário.
89

ANEXO B

Este anexo se refere à 24ª, 25ª e 26ª respostas discursivas do questionário aplicado aos
policiais militares de Minas Gerais, além de algumas considerações elencadas por esses
profissionais.

24ª. Quais medidas considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se PREVENIR
(ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto: ESTIVER
ANDANDO A PÉ PELA RUA ?

 Sempre estar atento ao que acontece ao redor e aos que se aproximam, como carro estranho ou pessoas
em atitude suspeita;
 Atentar para locais com baixa iluminação, degradados e próximo a bocas de fumo;
 Não ser surpreendido;
 Ficar atento para antecipar a ação do infrator;
 Evitar transitar em locais ermos;
 Saber com exatidão a localização da arma;
 Utilizar a arma com um cartucho na câmara;
 Não ostentar pertences de valor à mostra;
 Identificar possíveis ameaças;
 Deslocar-se contra o fluxo de veículos;
 Observar as pessoas que estão ao seu redor, não se distrair com uso de telefones celulares e fones de
ouvido;
 Manter-se no estado de atenção;
 Escolher locais e horários seguros para frequentar;
 Andar em locais iluminados e de grande movimentação.
 Manter distância de suspeitos;
 Permanecer atento ao ambiente, principalmente quando estiver com sua família;
 Guardar a carteira funcional em local de difícil visualização;
 Intensificar o treinamento e parecer o menos possível policial;
 Portar a arma no mesmo lugar a fim de gerar memória muscular para posição e saque;
 Selecionar pontos de abrigo;
 Andar mais próximo da guia do passeio;
 Verificar se há volume na cintura de algum suspeito;
 Decorar nome de ruas ou pontos de referência fáceis para solicitar apoio em caso de emergências;
 Estar atento a veículos que transitam próximo ao passeio e com velocidade diminuída;
 Manter celular carregado e com chip de 2 operadoras diferentes para facilitar comunicação;
 Ao perceber um suspeito olhá-lo nos olhos fixamente;
 Evitar andar sozinho;
 Andar sempre do lado onde estão instalados os postes de iluminação pública para se abrigar;
 Ficar atentos a indivíduos á pé é de motocicleta que circulam na via;
 Quando estiver chegando em casa, averiguar algum veículo por perto;
 Não entrar com a frente do carro na garagem;
 Estar atento em todo o deslocamento, olhar para trás de vez enquanto e tentar perceber as pessoas que
estão circulando aí seu redor;
 Evitar andar próximo a muros;
 Evitar ajeitar a arma na cintura;
 Ter atenção às roupas que veste para não deixar o volume da arma ficar evidente, assim como evitar
blusas curtas que deixem a arma, ou se estiver usando coldre, o clipe de sustentação na calça;
 Se possível, ter conhecimento do local onde está se deslocando;
90

 Não demonstrar em publico ou em locais de aglomeração de pessoas, que está portando dinheiro ou
outros bens que representa valores consideráveis;
 Se antecipar e atravessar a rua caso de visualizar algum suspeito;
 Se antecipar ao suspeito o enquadrando antes de ser abordado;
 Se possível abrigar-se ao visualizar um suspeito em potencial, sacando sua arma veladamente e o
monitorando até que a ameaça passe;
 Estar atento nos arredores quando estiver em deslocamento para o veículo estacionado;
 Treinar a família como se portar num possível assalto ou troca de tiros;
 Não ingerir bebida alcoólica quando estiver armado;
 Não reagir de imediato ao ser surpreendido. Tentar observar e entender a cena na qual ocorre o assalto,
coisas como nr de infratores, se estão armados, se há algum local pra abrigo e reação. De início,
cooperar com o infrator pra ter prazo de analisar as circunstâncias, tentando criar uma distração do autor
do roubo;
 Não parar o veículo em frente o portão enquanto ele abre, aguardar no sentido da calçada para que haja
possibilidade de deixar o local, se necessário;
 A primeira ação, em caso de se deparar com algum roubo, sendo vítima ou não, é se ABRIGAR e
depois fazer a leitura do cenário;
 Manter-se atento à motos garupadas e algum suspeito;
 Observar o rosto da pessoa que se aproxima e de quem possivelmente está em sua companhia para
antecipar uma agressão e antecipar o saque da arma;
 Treinar alguma arte marcial;
 Manter a arma o mais dissimulada possível, preferencialmente na lateral do corpo, usar camisas mais
folgadas, evitar ajeitar a arma constantemente, usar um coldre que a fixe bem;
 Estar atento a grupos ou pessoas paradas ou encostadas em muros ou paredes, atravessar a rua ou mudar
de direção ao perceber pessoas em atitude suspeita ou dentro de veículo estacionado;
 Evitar ficar parado por muito tempo no mesmo local, usar equipamento de qualidade (coldre, arma,
cinto...);
 Manter sempre sua arma bem manutenida;
 Planejar o trajeto a ser percorrido, antes de iniciar o deslocamento;
 Colocar bolsas na frente do corpo;
 Evitar olhar vitrines do lado fora;
 Prestar atenção suspeitos em bando (arrastão);
 Esperar o ônibus encostado no muro e nunca sentado de forma dispersa.

25ª. Quais medidas considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se PREVENIR
(ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto: ESTIVER
DIRIGINDO O SEU VEÍCULO (carro ou moto) ?

 Transitar com vidros fechados e portas travadas;


 Atenção quando parar em sinais;
 Evitar o uso de eletrônicos;
 Ficar atento a aproximação de motocicletas e veículos suspeitos;
 Observar em volta a aproximação de qualquer suspeito, principalmente na chegada e saída de casa;
 Atentar aos pontos de parada;
 Monitorar todos os lados, utilizando inclusive os retrovisores e janelas;
 Não ficar dentro do veículo estacionado, principalmente em local ermo;
 Evitar passar por Zona Quente de Criminalidade (ZQC), parar em locais ermos e abandonados;
 Não parar o veículo mas primeiras fileiras nem próximo a canteiros em semáforo;
 Manter o veículo em movimento antes do semáforo fechar ou abrir (visualizar o tempo de semáforo de
longe. Caso necessário, aumentar ou reduzir a velocidade, tentando não ficar parado);
 Observar se alguém está o observando ao parar/estacionar o veículo;
 Escolher locais e horários seguros para frequentar;
 Verificar se algum veículo suspeito se aproxima;
 Atentar ao transito, veículos e pedestres que se aproximam;
 Manter distância de segurança do veículo da frente ao parar no semáforo, de modo à possibilitar uma
saída rápida;
 Parar em semáforos com o veículo engrenado em primeira marcha;
91

 Realizar treinamento de saque para caso seja necessário reagir e efetuar um disparo estando dentro do
veículo ou em motocicleta;
 Colocar películas escuras nos vidros do carro a fim de dificultar a visualização dos ocupantes do
veículo;
 Mudar o itinerário ao ir para casa;
 Evitar deixar a arma embaixo da perna;
 Evitar ruas pouco movimentadas à noite;
 Parar nas faixas centrais quando o semáforo estiver vermelho;
 Evitar ficar dentro do veículo quando estiver estacionado;
 Orientar a família para, caso serem rendido, descerem do veículo, se afastarem o mais rápido possível e
buscarem um local seguro (comércio, residência "idônea", etc.);
 Olhar os arredores antes de entrar e observar aproximação de pessoas;
 Evitar parar próximo ao canteiro central de avenidas;
 Treinar técnica para o desembarque dissimulado. Caso seja rendido, desembarcar de forma a proteger o
lado que está a arma, bem como não ficar parado em pé na porta do veículo impedindo-o de entrar no
veículo;
 Caso seja abordado, observar a presença de escolta o que hoje é uma rotina;
 Entrar com o carro na garagem de ré e farol alto, após o portão estar aberto;
 Não demorar a descer do veículo ao estacionar;
 Nunca parar no destino sem antes observar a existência de suspeitos nas proximidades, etç;
 Evitar ouvir música/rádio com som alto;
 Não esboçar reação de imediato sem antes fazer uma leitura do ambiente;
 Não parar para desconhecidos;
 Ao estacionar o veículo não ficar organizando/pegando objetos em seu interior, pois isso possibilita a
abordagem do infrator; treinar saque da arma utilizando cinto de segurança;
 Andar sempre pela faixa da direita perto ao acostamento pra evitar enquadramento por infratores;
 Não reagir se estiver com sua família no interior do veículo, a probabilidade dela ser atingida é muito
grande;
 Não ficar namorando dentro de carro;
 Não ficar dentro do carro ou em cima da moto estacionado aguardando alguém ou falando ao celular;
 Ficar atento a motocicleta com dois ocupantes;
 Observar motos que chegam pela esquerda;
 Evitar andar com objetos de valores expostos pelo corpo e no interior do veículo;
 Evitar acender a luz interna a noite, para dificultar quantos estão no veículo;
 Não deixar a arma exposta no interior de veículos;
 Não parar o veiculo caso note alguma situação suspeita;
 Antecipar agressão quando em cima da moto: solta lá ao solo;
 Sempre portar a arma junto ao corpo, nunca em alguma parte do veiculo;
 Evitar parar em rodovias quando houver suspeição de que infratores estejam forjando avarias de
veículos;
 Antecipar a abordagem do agressor, se não for possível esperar a próxima janela de oportunidade para
uma possível reação, primando sempre pela segurança;
 Ao ser abordado estando em cima da moto, descer sempre do lado contrário ao do infrator, deixando a
moto cair ao solo;
 Ligar 190, assim que possível, sempre que o risco for eminente ou quando a situação gerar suspeição de
que pode chegar a tal;
 Estar no estado de atenção (Amarelo);
 Treinar a melhor posição com saques constantes, e preparo mental no caso de confronto;
 Agir como cidadão comum, aparentar medo. Não demonstrar atitudes que o identifique como PM;
 Evitar sair armado com a família e portar documento de identificação militar;
 Não deixar a passagem pela esquerda livre próximo de cruzamentos e paradas obrigatórias para
motociclistas;
 Pensar taticamente, ensaiando, de acordo com a vivência operacional, as possíveis situações e reações;
 Não esperar dentro do carro e sim desembarcar e deslocar-se para o outro lada do rua de forma que
consiga manter a vigilância e observar a aproximação de estranhos, bem como verificar se alguém se
aproxima do carro;
 Procurar ambiente que possui estacionamento pago e com segurança e que possua sistema de câmeras
de vigilância (dificulta surpresas no estacionamento).
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26ª. Quais medidas considera adequadas, estando armado ou desarmado, para se PREVENIR
(ou diminuir a probabilidade) de se tornar vítima de um crime de roubo enquanto: ESTIVER
NO INTERIOR DE UM ESTABELECIMENTO (restaurante, casa lotérica, posto de
combustível, correio, etc) ?

 Antes de entrar, fazer leitura de ambiente, principalmente observar o semblante de funcionários e


clientes. Não entrar imediatamente, observe o estabelecimento antes, entre "fatiando" e identificando
possíveis abrigos;
 Ter atenção a quem adentra ao local, visualizar o comportamento das pessoas, bem como volume na
região da cintura;
 Quando chegar observar o ambiente e depois se posicionar de costas para alguma parede e de frente
para a porta;
 Deixar a carteira e celular sobre a mesa para tentar evitar uma possível revista dos infratores;
 Ficar próximo a locais que ofereçam cobertura e abrigo;
 Observar o que está acontecendo antes de adentrar no estabelecimento;
 Verificar pontos de saída rápida e evitar reações precipitadas em caso de roubo;
 Não agir como se estivesse fardado, com colete balístico e cobertura policial. Estando desabrigado, não
se deve sacar a arma e ficar verbalizando para que o infrator, que está com a arma na mão, se entregue;
 Observar os pontos vulneráveis;
 Dar preferência para fazer pagamentos com cartão ao invés de dinheiro;
 Ter em mente sempre a possibilidade de haver mais de um infrator;
 Permanecer longe de caixas e fazer o pagamento o mais rápido possível
 Em posto de combustível, descer do veículo e se afastar, bem como não ficar próximo de frentistas;
 Em posto de gasolina sempre desembarcar do veículo não ficar esperando dentro do veículo o
atendimento e observar quem está no posto quando chega;
 Evitar ir ao posto de gasolina abastecer o veículo quando estiver com família (crianças);
 No caso de filas em banco por exemplo, sempre dar as costas para o início da fila;
 Em casa lotérica, preferir local mais vazio e não ficar próximo da porta;
 Evitar portar identidade funcional em local de fácil acesso;
 Evitar fazer movimento brusco. Dependendo da situação não tem como reagir, porque colocaria muitas
vidas em risco;
 Avaliar viabilidade do disparo de arma de fogo;
 Dar preferência ao uso de aplicativo do banco ao invés de ir in loco nestes estabelecimentos;
 Se estiver com documentação que comprove ser policial, caso haja assalto, o melhor é dar jeito de jogá-
la em local escondido;
 Não conversar assuntos policias em tons elevados de voz, não deixar objetos a amostra;
 Se estiver armado, não ingerir bebidas alcoólicas;
 Analise a viabilidade de verbalizar com o infrator;
 Verifique sempre a existência de comparsas, que possam dar cobertura aos infratores;
 Em caso de assalto e tiver muita gente no estabelecimento não atuo diretamente. Uso telefone ligo sigo
de longe se for o caso dando coordenadas a quem estiver de serviço. Reação será feita se houver perigo
eminente por parte do agressor a minha pessoa ou terceiros;
 Se misturar ao cidadão comum (paisano) para não virar alvo, fazer leitura do ambiente para se
posicionar e usar o efeito surpresa caso seja necessário agir;
 Se pego de surpresa simule estar passando mal incline pra não ser revistado, e na oportunidade reaja
preservando sua vida;
 Evitar usar o estabelecimento em horário de fechamento;
 Mantenha a calma e não reaja imediatamente. Abrigar é a primeira providência;
 Não apavorar e observar a possibilidade de colher maior dados possíveis.
 Se o militar for conhecido na cidade, é interessante ele ir armado, pois caso o criminoso souber que ele
é um PM, não hesitará em atirar;
 Se estiver armado tomar cuidado para que o volume da arma não denuncie a minha condição de militar;
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 Em caso de roubo, verificar a conveniência e a oportunidade de sacar a arma de fogo, a fim de não
aumentar o risco para si, para sua família e para eventuais terceiros.

Fique à vontade caso queira acrescentar alguma medida de autoproteção que considere útil
seja transitando a pé, de carro, dentro de um estabelecimento ou em qualquer outro local.
OBRIGADO !!!

 O policial militar deve sempre que possível treinar o saque de sua arma quando estiver à paisana, deixar
sua arma sempre em condições de uso, fazer a manutenção preventiva do armamento e principalmente
estar sempre atento, ter em mente que o pior pode acontecer a qualquer momento, ter sempre o
pensamento tático, elaborar maneiras de agir, antecipar as ações;
 Mesmo a paisana, e de folga, nunca deixamos de ser policiais militares, então nunca fique no estado
relaxado, sempre transite com atenção a pessoas seja a pé ou em veículos, procurando sempre antever
situações;
 Sugiro incluir no TPB pelo menos uma disciplina pratica no sentido de treinar o policial militar para
esses momentos;
 Não reagir, isso também é uma medida de autoproteção pois protege a própria vida, apesar que não
reagir para um policial é difícil;
 Maior treinamento sobre o tema;
 Mantenho aplicativos de localização funcionando em meu celular, programados para que alguém de
confiança (marido ou pais/irmãos) consigam verificar meu posicionamento exato caso tenham
suspeição de que eu possa estar exposta a alguma situação de risco;
 Seria muito interessante treinamentos de autoproteçao;
 Muito boa essa implementação!;
 Uso de armamentos e munições simulacros tornariam um melhor treinamento aproximando da
realidade;
 Pesquisa extremamente interessante que vai contribuir sensivelmente para a tropa;
 Nas cidades do interior o.melhor é sair armado, pois a maioria dos criminosos nos conhecem;
 Parabéns pela iniciativa;
 Treinamento específico para porte, saque e uso de armamento em trajes civis;
 Nos dias de hoje não tem como previnir ser vítima de roubo. A partir do momento que está em via
pública ou qualquer lugar fora de sua residência, estamos sujeitos a ser vítimas. O que podemos fazer é
estar sempre preparado para tal ocasião. Se estivermos armados, a probabilidade de sermos
reconhecimentos como PM e sermos mortos é muito grande se não houver uma resposta imediata à
ação. Por isso é necessário treinamento e técnicas, para reagir conforme a lei. Quando estamos com
familiares, dificulta muito psicologicamente, a reação, já que estamos não somente protegendo nossa
vida e sim vidas importantes;
 A melhor auto proteçao é a prevençao!;
 Já intervi num roubo a transeunte em andamento quando eu estava a pé e à paisana. O que me ajudou
muito na minha atuação exitosa foi verificar se o autor estava com cobertura. Esperei o momento mais
oportuno e agi prendendo o suspeito e apreendendo a arma de fogo dele;
 O policial deve se preocupar com seu treinamento,não deve ficar aguardando apenas cursos da PM para
se condicionar para tal evento;
 Ter a oportunidade de treinar mais com armamento só o TPB não considero eficiente pra estar sempre
preparado quando se fala em autoproteção;
 Um curso de autoprotecao seria uma boa para o TPB;
 Muito importante a PM criar uma doutrina para auxiliar o público interno sobre medidas de
autoprotecao em horários de folga e a paisana;
 Queria uma pesquisa bem fundamentada onde a partir de estudos de casos, poderíamos concluir onde há
maiores chances de proteger a nós e nossas famílias estando com uma arma de fogo ou sem, já que são
muitos os casos que estar armado não ajudou ou até aumentou os riscos;
 Preocupação por parte da instituição com treinamento adequado, incluindo atividades físicas com lutas;
 Ótima iniciativa, que sirva para um melhor preparo da tropa;
 Em sua, teremos uma chance bem maior quando estivermos atentos para não sermos surpreendidos,
mas sim, antecipar a ação delituosa , não tendo condições para tal ação, agir somente quando houver
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uma janela de oportunidade em que o agressor abriu a guarda se distraindo por qualquer outro motivo
ou até mesmo uma janela criada pelo próprio policial;
 Estar preparado mentalmente para perder bens materiais ou para morrer caso necessário (estupro seu ou
de familiar por exemplo) . O medo de morrer também mata;
 Que se faca estudo dos casos ocorridos e leve ao conhecimento da tropa em forma de orientação.

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