22400b-Diretrizes de Atencao A Saude de Pessoas Com Down
22400b-Diretrizes de Atencao A Saude de Pessoas Com Down
22400b-Diretrizes de Atencao A Saude de Pessoas Com Down
Março / 2020
Índice
Introdução ................................................................................... 2
A Síndrome de Down ................................................................... 2
Classificação para a Síndrome de Down ...................................... 3
Diagnóstico ................................................................................. 3
Momento da notícia ..................................................................... 8
Aconselhamento genético ............................................................ 8
Atenção à saúde da pessoa com Síndrome de Down ................ 10
Cuidados com a pele na Síndrome de Down .............................. 15
Saúde bucal na Síndrome de Down ........................................... 15
Material complementar .............................................................. 18
DIRETRIZES DE ATENÇÃO À SAÚDE DE PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN
Cada vez mais a sociedade deve valorizar a diversida- terapêutica e acompanhamento. No entanto se presta
de humana e oferecer equidade de oportunidades para também para planejamento de políticas públicas de saú-
que as pessoas com deficiência exerçam seu direito de e de programas educacionais. Quando se tem por
de inclusão em todos os segmentos da comunidade objetivo uma avaliação contínua de acompanhamento
(Lei Brasileira da Inclusão, 2015). clínico, como na SD, recomenda-se que além da CID se
utilize a CIF.
Classificação para a
Síndrome de Down Diagnóstico
cas observáveis no organismo que resultam da intera- tipo pode ser atenuado, dificultando o reconhecimento
ção da expressão gênica e de fatores ambientais. ao nascimento (Brunoni 2002). A dificuldade surge pela
existência de alguns sinais do fenótipo SD, também pre-
O diagnóstico da SD é baseado no fenótipo e deve ser sentes em neonatos sem a síndrome, estimado em 5%
estabelecido logo após o nascimento. O conjunto dos da população. Além disso, a presença de edema perior-
sinais presentes no neonato, permite firmar o diagnós- bital logo após o nascimento, pode dificultar a identifi-
tico clínico em quase todos os casos. Quanto mais ca- cação dos sinais morfológicas da área ocular e outros
racterísticas específicas da SD forem identificadas, au- sinais como hipotonia e reflexo de Moro diminuído, tam-
menta a segurança do diagnóstico clínico. Nas crianças bém são verificados em prematuros sem a SD devido à
com mosaicismo (46,XY/47,XY + 21 ou 46,XX/47,XX + imaturidade neurológica. Os principais sinais do fenótipo
21), correspondentes a apenas 2% dos casos, o fenó- da SD estão listados no Quadro 2.
A deficiência intelectual está presente em 100% das & Patterson 2003, Lowenthal et al. 2007, Bitsko et al.
pessoas com SD, em geral leve a moderada (Feldman 2009, Geschwind 2009, Schieve et al. 2009, Moss et
et al. 2012). Entre outras alterações, citam-se alterações al. 2013, Warner et al. 2014,). Diversas alterações do
auditivas (em cerca de 75% dos casos), ortodônticas sistema imunológico conferem a essas pessoas maior
(80%), visuais (60%), cardíacas (40% a 50%), endocrino- suscetibilidade a infecções e doenças autoimunes (Kus-
lógicas (15% a 70% e tireoidopatia em 4% a 18%), dos ters et al. 2009).
aparelhos locomotor (15%, com instabilidade atlantoa-
xial em 1% a 2%), digestivo (12%, com doença celíaca
em 5%), sistemas neurológico (8%, com convulsões em Diagnóstico laboratorial
1% a 13% e autismo em 5% a 18,2%), hematológico
(anemia 3%, leucemia 1%, transtorno mieloproliferati- O cariótipo é a representação do conjunto de cromos-
vo transitório 10%), deficiência de ferro (10%), apneia somos presentes no núcleo celular de um indivíduo. No
obstrutiva do sono (50% a 75%), dentre outras (Roizen ser humano o conjunto de cromossomos corresponde
a 23 pares, ou seja, 46 cromossomos, sendo 22 pa- − Trissomia livre – causada por não disjunção cro-
res de cromossomos denominados autossômicos e um mossômica geralmente de origem meiótica, ocorre
par de cromossomos sexuais, representados por XX nas em 95% dos casos de SD, é de ocorrência casual e
mulheres e XY nos homens (Carakushansky 2001, Kim caracteriza-se pela presença de um cromossomo 21
2010). extra livre, descrito da seguinte forma no exame de
cariótipo: 47,XX,+21 para o sexo feminino e 47,XY,+21
O fenótipo característico da SD normalmente é secun- para o sexo masculino (Hook 1983) (Figura 2),
dário à triplicata de uma região do cromossomo 21. Já
– Trissomia por translocação robertsoniana envolvendo
se sabe até qual região do cromossomo 21 que em tris-
o cromossomo 21 de forma não equilibrada – Trans-
somia parcial, é responsável pela manifestação da SD.
locações robertsonianas são rearranjos envolvendo
Tal região é o segmento distal do braço longo desse
dois cromossomos acrocêntricos, há deleção dos
cromossomo, mais precisamente a região q22.13 (Pel-
braços curtos (p) dos cromossomos e fusão dos bra-
leri et al. 2019). A realização do exame de cariótipo em
ços longos (q) próximos à região dos centrômeros.
sangue periférico é obrigatória para sua confirmação la-
Ocorrem entre 3% a 4% dos casos de SD, pode ser
boratorial e principalmente para a determinação do ris-
de ocorrência esporádica ou herdada de um dos pais
co de recorrência na irmandade (Nusbaum et al. 2008).
e os cromossomos mais frequentemente envolvidos
nas translocações são o 14, 22 e o próprio 21. A
O cariótipo do indivíduo com SD é caracterizado pela
descrição de cariótipo varia dependendo do cromos-
presença de um cromossomo 21 extra, que citogene-
somo translocado ao cromossomo 21 (Hook 1982,
ticamente pode se apresentar principalmente de três
Nussbaum et al. 2008) (Figura 3),
formas:
Figura 3. Síndrome de Down do sexo masculino com Trissomia por Translocação Robertsoniana. 46,XY t(14,21)(14q;21q)
– Trissomia livre do cromossomo 21 em forma de mo- decorrentes de mosaicismo de baixa frequência, com
saico: mosaicismo cromossômico é a presença de poucas células trissômicas, trissomia 21 parcial por mi-
duas ou mais linhagens celulares diferentes origi- croduplicação ou uma fenocópia da SD (McCormick et
nárias de um mesmo indivíduo. Ocorre em 1% a 2 al. 1989, Delabar et al. 1993, Warburton et al. 2004, Li
% dos casos de SD, a descrição do cariótipo será: et al. 2006). Estes casos devem ser avaliados individual-
mos 47,XX,+21/46,XX para o sexo feminino e mos mente para escolha da melhor estratégia laboratorial de
47,XY,+21/46,XY para o sexo masculino (Mikkelsen investigação (Warburton et al. 2004, Li et al. 2006). Nes-
1977). Pessoas com mosaicismo para SD podem ser tas raras situações, com forte suspeita clínica de SD, po-
mais levemente afetadas que pessoas com SD com rém após o resultado de um cariótipo normal, pode ser
outras alterações cromossômicas. solicitado ao laboratório que analise um número maior
de células em busca da detecção de um mosaicismo,
Muito excepcionalmente a SD é diagnosticada clini- ou solicitado o exame do material genético pela técnica
camente e a alteração cromossômica não é visível no de CGH-array, para detectar microduplicação em 21q22
cariótipo de sangue periférico. Estes casos podem ser (Pelleri et al, 2019).
O apoio de profissionais capacitados neste caso é fun- Uma vez realizado o diagnóstico, seja durante a gesta-
damental para o ajuste familiar à nova situação, favore- ção ou durante o período neonatal, deverá ser comuni-
cendo a saúde física, mental e afetiva (González Jimé- cado aos pais. Embora, muitas vezes, quem faz a comu-
nez et al. 2012). Neste sentido, o momento da notícia nicação não tenha noção da sua importância, o modo
do nascimento de uma criança com SD tem impacto fará muita diferença para esta família na reidealização
na aceitação da família e na sua disposição e adesão deste filho e seu cuidado, pois sairão da maternidade
ao tratamento. Espera-se do profissional, uma postura com um sentimento de luto da perda do filho desejado
humana e ética, que garanta acolhida e informação ade- e as frustrações, angústia, dor, incertezas, dúvidas que
quada à família (Cunha et al. 2010). esta situação nova acarreta. Estarão buscando pers-
pectivas de como lidar com as pesquisas e informações
É recomendável que algumas diretrizes sejam levadas que já obtiveram ou totalmente sem noção do que fazer
em conta para a comunicação da suspeita ou do diag- (Franco 2015).
nóstico da SD à família (Cunningham & Sloper 1977,
Skotko & Bedia 2005, Skotko 2006):
• A comunicação deve ser feita quando sinais e sinto- Aconselhamento genético
ma característicos sejam identificados por mais de
um membro da equipe,
O aconselhamento genético (AG) é o processo de comu-
• A comunicação deve ser feita preferencialmente na nicação do provável diagnóstico de condição genetica-
presença da mãe e do pai, ou na sua ausência, de mente determinada, suas características clínicas, riscos
outro membro da família que represente um relacio- de recorrência familiar, orientações de manejo, diagnós-
namento significativo. tico precoce, encaminhamento para associação de pais
e prognóstico integrando a história médica e familiar,
Antes da notícia é importante que a mãe e o pai tenham ajudando a família e o paciente se adaptar às condições
tido a oportunidade de ver, acariciar e amamentar o re- decorrentes da doença (Epstein 1975). O AG deve ser
cém-nascido criando o vínculo com a criança e evitando realizado por equipe multiprofissional capacitada, con-
ideias fantasiosas após o diagnóstico. Portanto não é tendo médico geneticista e/ou profissional de saúde que
recomendado e nem necessário que o diagnóstico seja deverá estar apto para realizar o aconselhamento dentro
dado poucos minutos após o parto. das normas estabelecidas pela comunidade médica, se-
guindo padrões éticos e técnicos adequados (Brunoni
O local deve ser reservado e protegido de interrupções. 2002).
O pediatra deve ter tempo disponível para comunicar o
diagnóstico de SD, informar o que isso significa e orientar O risco de recorrência (RR) na irmandade de pessoa
quanto aos exames e encaminhamentos necessários. com SD depende de fatores como resultado de carióti-
po ou idade materna ao gestar. Para a trissomia livre do
Durante o exame físico, mostrar aos pais quais as ca- cromossomo 21 o risco de recorrência aumenta grada-
racterísticas fenotípicas da SD que levaram à hipótese tivamente conforme o avanço da idade materna (Figura
do diagnóstico clínico. Recomenda-se desde o primeiro 4). Por exemplo, uma mulher que engravida aos 30 anos
contato, parabenizar os pais, chamar a criança e os pais tem um risco de ter uma criança com SD de 1/959; já
pelos respectivos nomes. uma mulher que engravida aos 40 anos tem um risco de
1/84 que nasça uma criança com SD (Morris et al. 2002). Para a trissomia 21 por mosaicismo o RR é desprezível,
Deve se levar em conta que esta estimativa de risco é sempre levando em conta na próxima gestação, a idade
variável de acordo com a idade gestacional atingida; em da mãe (Beiguelman 1982, Carakushansky 2001, Korf
regra, quanto mais avançada a gestação, menor o risco 2008, Read & Donnai 2008, Turnpenny & Ellard 2009).
do feto ter SD (Savva et al. 2006)
A possibilidade de diagnóstico pré-natal em futuras
Quanto aos casos secundários a translocações, é obri- gestações de um casal que tem um filho com SD deve
gatória a análise do cariótipo do pai e da mãe e o RR ser sempre discutida de forma não-diretiva levando-se
pode variar de desprezível (quando o cariótipo de am- em conta os riscos determinados pelas propedêuticas
bos os genitores é normal) até 100% (quando um deles acima descritas e as diversas opções reprodutivas que
é portador de uma translocação equilibrada entre seus existem atualmente, incluindo a decisão autônoma de
dois cromossomos 21). Em cerca de 2/3 dos casos de não mais ter filhos, adoção, utilização de banco de es-
translocação no indivíduo com SD, o cariótipo de ambos perma ou óvulo ou embrião, cariotipagem fetal por am-
os pais poderá ser normal. Porém quando o cariótipo niocentese ou biópsia de vilo coriônico, ou mais recen-
de um dos pais tem uma translocação robertsoniana temente a fertilização in vitro com diagnóstico genético
equilibrada, o risco de recorrência é maior quando a mãe pré-implantacional (Zhang et al. 2007) ou rastreamento
é portadora (43%) do que quando o pai é portador da não-invasivo de aneuploidias no sangue da gestante
translocação (28%) (Mutton et al. 1996; Bint et al. 2011). (Curnow KJ et al. 2019).
A importância de detectar se existem portadores assin-
tomáticos na família de um indivíduo com DS vai além Da mesma forma, cabe aos médicos respeitar a deci-
do aconselhamento genético para futuras gestações dos são do casal de não optar por nenhuma das alternativas
genitores, visto que quando um deles é portador, seus acima citadas, e tentar nova gestação, até porque, na
parentes também devem ser investigados pelo cariótipo. enorme maioria das situações, o risco de nascimento
Mais de um caso de SD no mesmo núcleo familiar, as- de outro filho com SD será bem menor do que a chance
sim como casos de abortos repetidos nestes familiares de nascimento de uma criança sem SD. Pela complexi-
ou nos próprios genitores do indivíduo com SD, devem dade técnica e emocional destas decisões, elas devem
chamar a atenção para uma possibilidade maior de que o ser feitas, quando houver interesse pelo casal, sempre
mecanismo gerador da SD tenha sido uma translocação e somente dentro do contexto de Aconselhamento Ge-
robertsoniana e não uma trissomia livre ou mosaicismo. nético.
Cariótipo do probando
Quadro 3. Dimensões e indicadores de qualidade de vida para a pessoa com deficiência intelectual
Dimensões Indicadores
Bem estar físico Saúde, atividades de vida diária, estilo de vida, lazer
Curvas de crescimento têm sido desenvolvidas para longitudinal, multicêntrico, com gráficos de peso, esta-
pessoas com SD em vários países. No entanto, a fim de tura e índice de massa corporal (Zemel et al. 2015). Es-
facilitar a elaboração de diretrizes clínicas é necessário tão disponíveis para uso gratuito na página http://www.
verificar a elegibilidade dessas curvas (Bravo-Valenzuela cdc.gov/ncbddd/birthdefects/downsyndrome/growth-
et al. 2011, Bertapelli et al. 2014, 2016). Recomenda-se, -charts.html. No Brasil dispõe-se das curvas de Berta-
atualmente, a utilização das curvas do Center of Disea- pelli, cuja avaliação foi realizada com população local de
ses Control and Prevention dos Estados Unidos (2015) SD (Bertapelli et al. 2014). Independente do instrumento
para SD desenvolvidas pelo grupo de estudos Down utilizado deve-se orientar estilos de vida saudáveis no
Syndrome Growing Up (DSGS) por tratar-se de estudo núcleo familiar da pessoa com SD.
Constatou-se que nesta população ocorre: baixos peso teste do pezinho. Poderão ser solicitados outros exames
e comprimento ao nascer, baixa estatura final, cresci- conforme a avaliação clínica.
mento puberal total mais curto e precoce com velocida-
de de crescimento reduzida, prevalência de sobrepeso/ O ecocardiograma deve ser solicitado já na maternidade
obesidade após o final da infância (Bravo-Valenzuela et ou estar agendado para quando o recém-nascido rece-
al. 2011). ber alta, tendo em vista que 50% das crianças apresen-
tam cardiopatias, mesmo sem ausculta de sopros car-
Na tentativa de melhorar a cognição e o comportamen- díacos, sendo as mais comuns: comunicação interatrial,
to/funcionamento adaptativo das crianças com SD, um comunicação interventricular e defeito do septo atrioven-
número crescente de estudos clínicos empregando-se tricular total. Caso o primeiro exame esteja normal não é
medicamentos ou substratos vem sendo publicados. necessário repeti-lo. As crianças com cardiopatia devem
Não obstante o relativo sucesso de alguns estudos en- ser acompanhadas por um cardiologista. Recomenda-
volvendo animais no campo da prevenção de déficits -se o uso de anticorpo monoclonal contra o Vírus Sinci-
ou melhora cognitiva, até o momento faltam evidências cial Respiratório (Palivizumabe) para os cardiopatas com
concretas acerca de sua efetividade clínica nos indivídu- repercussão hemodinâmica, nos dois primeiros anos de
os com SD. Diversas alterações metabólicas e neurobio- vida (Nota Técnica Conjunta/MS nº 05/15, de 09/02/15).
lógicas são descritas na SD como comprometimento da
transmissão GABAminérgica, perda neuronal noradre- O hemograma é solicitado para afastar alterações hema-
nérgica, disfunção mitocondrial, aumento do estresse tológicas como reações leucemoides, policitemia, leuce-
oxidativo e inflamação, aumento da expressão de genes mia e doença mieloproliferativa transitória, que acomete
do cromossomo 21, contribuindo de forma complexa 5% a 10% das crianças com SD (Maloney et al. 2010,
para o déficit cognitivo, e muitas outras alterações ainda Malt et al. 2013). O hemograma deve ser realizado aos
são ape-nas objeto de pesquisa como potenciais alvos 6 e 12 meses de vida e anualmente ao longo da vida da
terapêuticos (Vacca et al. 2019). pessoa com SD (Malt et al. 2013).
Muitos desafios também ainda existem na condução A função tireoideana (Hormônio Estimulante da Tireoide
dessas pesquisas como a seleção de amostras grandes - TSH) deve ser avaliada ao nascimento (triagem neona-
e homogêneas de pacientes, métodos de avaliação em- tal), aos 6 e aos 12 meses e após, anualmente. Existe
pregados (medidas psicométricas adequadas) e análise um risco de 1,4% de hipotireoidismo congênito e 14% a
de desfechos clínicos (Hart et al. 2017). 66% ou mais de hipotireoidismo ao longo da vida (Karls-
son et al. 1998, Dias et al. 2005, Weijerman & de Winter
Orientamos a utilização de medidas de reabilitação e o 2010).
seguimento clínico abaixo sinalizado para a identificação
e manejo precoces de diversas co-morbidades. Nesta fase inicial de acompanhamento pode ser solici-
tada ultrassonografia abdominal para afastar malforma-
O calendário de imunização para as pessoas com SD ções associadas do sistema urológico ou digestório na
segue o do Programa Nacional de Imunização do Minis- dependência das manifestações clínicas. Até os dois
tério da Saúde. No setor privado, podem ser seguidas anos de idade é importante o cuidado com doenças res-
as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria piratórias de repetição, refluxo gastroesofágico e obsti-
ou Sociedade Brasileira de Imunizações. pação intestinal.
volvimento neuropsicomotor típico. A intervenção pre- Íbero-americano de Saúde para pessoas com SD suge-
coce de longo prazo é importante para minimizar esta re o seguimento do desenvolvimento neuropsicomotor
defasagem (Bonomo & Rossetti, 2010). O Programa conforme descrito no Quadro 4.
Quadro 4. Comparação dos intervalos de aquisição do desenvolvimento psi-comotor entre crianças com SD e da população
geral (meses)
A intervenção precoce (fisioterapia motora, fonoaudio- TSH e T4 livre, além das avaliações de acuidade visual e
logia, terapia ocupacional, psicologia) deve ter início tão auditiva, anualmente (FIADOWN 2015).
logo a criança esteja em boas condições de saúde e tem
como objetivo auxiliar na aquisição dos marcos motores, Recomenda-se a investigação de instabilidade atlanto-
psicológicos e sócio-afetivos. A participação da família -axial com radiografia da coluna cervical em posição
no seguimento dos procedimentos orientados pela equi- neutra em perfil, flexão e extensão na idade pré-escolar
pe multiprofissional é fundamental (Perera 2013). (Malt et al. 2013). Se a distância do atlas-axis for maior
de 5 mm, deve-se encaminhar para o ortopedista e ri-
Na primeira fase da vida deve ser mantido o aleitamento gorosamente serem evitados movimentos de flexão e
materno exclusivo até os seis meses de idade, quan- extensão total da coluna cervical, realizados em cam-
do se introduz alimentação saudável, mantendo-se o balhotas, mergulhos, cavalgada, futebol, ginástica e du-
aleitamento materno até pelo menos os dois anos de rante o preparo anestésico para uma cirurgia (Tishler &
idade. Hábitos alimentares saudáveis devem ser enco- Martel 1965, Pueschel et al. 1987, Mysliwiec et al. 2015).
rajados desde a infância e se possível introduzidos à ro- Há indicação cirúrgica para os casos sintomáticos com
tina familiar. O acompanhamento do crescimento deve alteração radiográfica de coluna cervical ou aqueles com
ser realizado utilizando as curvas específicas de peso, distância maior de 9,9 mm (Herman & Pizzutillo 1999,
comprimento, IMC e perímetro cefálico de zero a 2 anos. Pizzutillo & Herman 2005).
O calendário vacinal deverá ser seguido conforme o Pro-
grama Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde A doença celíaca está presente em 3% das pessoas com
e Manual do Centro de Referência de Imunobiológicos SD (Bermudez 2016), pelo que se recomenda a triagem
Especiais, além da possibilidade de complementar com inicial aos dois anos de idade. Caso haja suspeita clínica
as orientações das Sociedades Brasileiras de Imuniza- ou positividade do HLA-DQ8 e/ou HLA-HQ2 orienta-se
ções e Pediatria. coleta de bianual de IgA total e anticorpo anti-endomísio
(Malt et al. 2013).
O acompanhamento odontológico deve ter início nos
primeiros meses de vida e ter periodicidade semestral Nesta faixa etária pais e cuidadores devem estar aten-
(Malt 2013). Da mesma forma a atenção nutricional deve tos aos sintomas de apneia do sono, que incluem po-
ser precoce a fim de prevenir ganho de peso indesejável sição anormal no leito, despertar noturno, obstrução
e adequar a alimentação em função das possíveis co- nasal, ronco e sonolência diurna. As principais causas
morbidades associadas. de apneia do sono nas crianças com SD são obesida-
de e hipertrofia de amígadal faríngea (adenoide) e amíg-
Cuidados com a saúde da criança dala palatina. Nestas situações pode-se indicar estudo
entre 2 e 10 anos de vida de permeabilidade de vias aéreas e polissonografia. A
questão da qualidade e quantidade do sono é impor-
O acompanhamento clínico da criança com SD entre tante na SD tendo em vista que a presença de sono-
2 e 10 anos deve estar focado na manutenção de um lência diurna pode gerar mudança de humor, alteração
estilo de vida saudável (alimentação, higiene do sono e da concentração e diminuição da aprendizagem (Malt
prática de exercícios), no desenvolvimento de autonomia 2013; FIADOWN 2015).
para as atividades de vida diária (higiene pessoal, tomar
banho, vestir-se, comer, passear, realizar transferência, Outro foco do atendimento para este grupo é a preven-
exercícios, treinamento de toalete) e atividades instru- ção de abusos físicos e sexuais, por meio da orienta-
mentais da vida cotidiana (medicamentos, compras, ção, desenvolvimento da autonomia e autocuidado. O
dinheiro, telefone e transporte público), além de auto- acompanhamento odontológico deve ser mantido com
cuidado, socialização, aquisição de habilidades sociais, periodicidade semestral (Malt 2013).
escolaridade e acompanhamento pondero estatural e
índice de massa corporal.
Cuidados com a saúde da criança
O calendário vacinal deverá ser seguido conforme o Pro- maior e do adolescente (até 19 anos)
grama Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde
e Manual do Centro de Referência de Imunobiológicos O cuidado com a saúde da criança maior (maior de 10
Especiais, além da possibilidade de complementar com anos) e do adolescente com SD deve estar focado na
as orientações das Sociedades Brasileiras de Imuniza- manutenção de um estilo de vida saudável (alimentação,
ções e Pediatria. imunização, higiene do sono e prática de 7 horas sema-
nais de atividade física), além do crescimento, desenvol-
Nesta fase o médico deve orientar a família quanto às vimento da autonomia para as atividades de vida diária e
questões de saúde geral, são necessários: hemograma, atividades de vida diária instrumental, autocuidado, so-
cialização, escolaridade e orientação vocacional. Deve perda de audição ou de visão, convulsões, demência
ser dada atenção aos distúrbios emocionais ou psiquiá- ou regressão do desenvolvimento por alguma mudança
tricos. Nesta fase devem ser orientados quanto à sexu- da rotina, por isso o acompanhamento médico para o
alidade, prevenção de gravidez e doenças sexualmente diagnóstico diferencial é fundamental (Jensen & Bulova
transmissíveis. 2014).
Disponibilizar a Caderneta de Saúde do/a Adolescente, O acompanhamento de saúde consta ainda da dosa-
a partir de 10 anos de idade, que deverá ser utilizada gem de TSH e T4, hemograma, glicemia, função renal,
nas consultas médicas e odontológicas, além do registro anualmente; acuidade visual e auditiva a cada 2 anos;
das imunizações. Solicitar que a família e o/a adolescen- avaliação odontológica a cada 2 anos; ECG e ecocar-
te leiam este instrumento, pois facilitará os cuidados e diograma a cada 5 anos. Aqueles em pós-operatório
o diálogo sobre as questões de saúde integral. Na ca- tardio de correção cirúrgica seguem cuidados especí-
derneta devem ser registradas as medidas antropomé- ficos. Triagem para doença celíaca deve ser solicitada
tricas, pressão arterial, estadiamento de Tanner e avalia- conforme o caso (Malt 2013).
ções odontológicas.
Atenção especial deve ser dada a certos problemas de
O calendário vacinal deverá ser seguido conforme o Pro- saúde que são mais frequentes na pessoa com SD do
grama Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde que na população em geral. É muito importante detectá-
e Manual do Centro de Referência de Imunobiológicos -lo antecipadamente e seguir as recomendações espe-
Especiais, além da possibilidade de complementar com cíficas.
as orientações das Sociedades Brasileiras de Imuniza-
ções e Pediatria. Algumas doenças são menos frequentes que na popula-
ção geral, como tumores malignos, hipertensão arterial
Nesta fase o médico deve orientar a família quanto às e doença cerebrovascular. No entanto, ocorre maior fre-
questões de saúde geral, são necessários, anualmente: quência de infecções, catarata, estrabismo, problemas
hemograma, dosagem de TSH e T4 livre e a cada cinco de refração, ceratocone e hipoacusia. A presença de
anos: glicemia de jejum e perfil lipídico. cerume também deve ser descartada, o que facilmente
obstrui o conduto auditivo externo, por ser mais estreito
As avaliações de acuidade auditiva e visual devem ser que na população geral. Os transtornos neurossenso-
realizadas a cada 2 anos (Malt et al. 2013). O estudo riais levam ao isolamento social e à falta de estimulação
radiológico dinâmico da coluna cervical deve ser reali- cognitiva, às vezes com mutismo (FIADOWN 2015).
zado em qualquer momento na vigência de dor cervi-
cal, torcicolo, fraqueza de membros superiores, tontura O aumento da dependência é geralmente decorrente de
ou alterações intestinais e vesicais (FIADOWN 2015). O mudanças no ambiente familiar e social, por isso será
acompanhamento odontológico deve ser mantido com especialmente importante apoiar a família e os cuidado-
periodicidade bianual (Malt et al. 2013). res, que também serão idosos se forem os pais.
Os idosos com SD devem se beneficiar de acompanha- tar (Janiger & Elston 2017, Gama 2006). A pele pode
mento abrangente e sistemático com foco nas múltiplas sofrer alterações na sua elasticidade tornando-se mais
dimensões da pessoa de problemas médicos, funcio- elástica, foto-envelhecida e com rítides. São mais sus-
nais, cognitivos, emocionais e sociais. Deve ser seguido ceptíveis a doenças do colágeno como a anetodermia e
de um plano preventivo e terapêutico que, muitas vezes, elastose perfurante serpiginosa.
requer uma equipe interdisciplinar de médicos, assisten-
tes sociais, psicólogos, fisioterapeutas e enfermeiros, A pessoa com SD deve ser observada como um pa-
que atuem de forma coordenada para manter uma boa ciente imunocomprometido, mais sujeito as infecções e
capacidade funcional (capacidade que uma pessoa tem doenças autoimunes. Foram demonstradas alterações
para realizar uma atividade por si só) (FIADOWN 2015). da imunidade celular e humoral com nível sérico eleva-
do de IgE, nível baixo de IgM, número total de linfócitos
Alterações de comportamento são mais comuns na vida diminuídos, células CD8+ alto, CD4+ baixo e diminuição
adulta de uma pessoa com SD e merecem atenção es- da quimiotaxia na SD (Janiger & Elston 2017). Sendo
pecial, porque podem significar depressão ou deterio- assim, apresentam com maior frequência doenças in-
ração intelectual pelo risco aumentado de Alzheimer e fecciosas fúngicas, bacterianas e virais de pele, assim
envelhecimento precoce. A depressão é o transtorno como doenças inflamatórias (dermatite seborreica, der-
psiquiátrico mais frequente na SD. Sintomas psicóticos, matite atópica, psoríase) e autoimunes (alopécia areata e
somatização, ansiedade e choro são mais frequentes vitiligo) com indicação de hemograma, avaliação da fun-
em idosos com SD do que em jovens (FIADOWN 2015). ção tireoidiana, anticorpos antitireoideanos, glicemia de
jejum, além de bacterioscopia, cultura, antibiograma e
Antes de estabelecer o diagnóstico de demência, é es- exame micológico direto com cultura das lesões de pele.
sencial afastar hipotireoidismo, deficiência de ácido fó-
lico e vitamina B12, depressão, delírio ou déficits sen- Cistos de milia like calcificados, escabiose crostosa e
soriais. O tipo de demência mais associada à SD é a siringoma são dermatoses que apresentam incidência
doença de Alzheimer, em idades mais jovens do que na maior na SD do que na população em geral devido a
população geral (FIADOWN 2015). fatores genéticos, imunológicos e características especí-
ficas da pele (Dominguez-Cruz & Bueno Delgado 2014).
É altamente recomendável revisar periodicamente os São também muito comuns calosidades por fricção,
medicamentos usados pela pessoa com SD: adequa- queilite angular, onicofagia e traumas cutâneos.
ção, ajuste da dose por idade, interações e adesão tera-
pêutica (FIADOWN 2015). Dentre os cuidados com a pele destacam-se: hidratação
diária, evitar banhos muito quentes e demorados, dando
Em conclusão, o objetivo comum é obter um envelheci- preferência a sabonetes líquidos e o uso de protetor so-
mento saudável, ativo e solidário com o mais alto nível lar nas áreas de pele expostas.
de autonomia física e mental (Walker 2005, Jones et al.
2011). Não é simplesmente uma questão de prolongar a
duração da vida, mas de “vivê-la” com a mais alta quali-
dade (FIADOWN 2015, Schalock et al. 2016). Saúde bucal na
Síndrome de Down
A primeira avaliação bucal dos crianças com SD deve
Cuidados com a pele ser realizada o mais precoce possível, preferencialmente
na Síndrome de Down antes dos três meses de idade. No exame bucal serão
avaliadas as estruturas anatômicas tais como a língua,
Em pessoas com SD a pele tende a ser seca ou xeró- palato, rebordos, freios labial e lingual, assim como o
tica principalmente nas regiões palmoplantares. A partir vedamento labial e a oclusão dos rebordos gengivais. É
do primeiro ano de vida a pele torna-se seca e áspera, possível manter a saúde bucal das crianças com proce-
evoluindo na fase adulta para uma pele grossa ao toque dimentos preventivos simples e cuidados em domicílio
(hiperceratósica), xerótica, liquenificada e, por vezes, realizado pelos pais ou responsáveis.
descamativa (Dominguez-Cruz & Bueno Delgado 2014).
A amamentação é considerada o melhor exercício para
Entre os 5 e 10 anos de idade a pele torna-se rugosa, o desenvolvimento de estruturas ósseas e musculares
seca, inelástica e hiperceratósica. Aos 15 anos mais de da face. A posição indicada durante amamentação é a
70% dos com SD apresentam xerose generalizada de semi-sentada evitando refluxo gastroesofágico, e refluxo
leve a moderada e 40% a 75% hiperceratose palmoplan- de leite para o ouvido médio.
A mamadeira, se necessária, deverá ser utilizada apenas nado orientando o posicionamento destes em posição
para leite, com bico ortodôntico com furo e fluxo ade- anteriorizada e descruzando a mordida (Camargo 1998).
quados. De acordo com a faixa etária, a criança pode
iniciar o uso de canudo para líquidos, aumentar a con- Crianças com SD apresentam atraso na erupção dos
sistência dos alimentos e evitar alimentos cariogênicos. dentes decíduos e permanentes. Além do atraso, na
dentição decídua, a erupção pode ocorrer em sequência
A higiene bucal da criança deve ser estimulada desde alterada, podendo irromper molares decíduos antes dos
o nascimento, utilizando-se gaze umedecida com água. incisivos e dentes superiores antes dos inferiores. Pode
Além da limpeza, promove a dessensibilização da cavi- iniciar-se por volta do 12° ao 20° mês de vida e finalizar
dade bucal. Quando irrompe o primeiro dente, o respon- por volta dos 4 a 5 anos. Na dentição permanente o
sável deve iniciar a escovação e o uso de creme dental início da erupção dos dentes ocorre por volta dos 8 a 9
com flúor. Sempre em pequena quantidade, equivalente anos de idade e pode estar relacionado à presença de
a um grão de arroz, retirando o excesso com gaze ou doença sistêmica, como o hipotireoidismo (Jara et al.
pano de boca (recomendação ADA 2014). Os pais de- 1993, Ondarza et al. 1997).
vem supervisionar e complementar a escovação até a
criança ter autonomia para fazê-la adequadamente. O bruxismo, ou ranger dos dentes, é bastante frequente
nessa população. Leva a um desgaste oclusal da den-
Devido à hipotonia dos músculos da face, pode ocorrer tição, podendo causar a longo prazo sobrecarga dos
uma dificuldade para o vedamento labial e favorecer o tecidos de suporte e fratura dental (Silva & Souza 2001).
desenvolvimento da respiração bucal e fissuras labiais. A
manutenção da respiração nasal é fundamental para o A onicofagia, ou hábito de roer unhas, além de causar
desenvolvimento da saúde da criança e deve ser objetivo maloclusão, pode contaminar a boca com bactérias,
de todos, profissionais e cuidadores (Silva & Souza 2001). fungos e vermes (Ruiz e Chedid, 2013).
A cavidade bucal da criança com SD, em geral tem di- Quanto ao tratamento odontológico
mensões reduzidas, palato baixo, estreito e com laterais
bem desenvolvidas, dando a impressão de palato alto As crianças e jovens com SD em geral, são colaborado-
(Fischer-Brandies 1987). Devido ao tamanho reduzido da res com o tratamento odontológico. A presença dos pais
cavidade bucal a língua parece maior e frequentemente ou responsáveis durante o atendimento é recomendada,
ocorre a sua protrusão ou interposição desta entre os re- pois podem auxiliar durante os procedimentos, além de
bordos gengivais. Quando esta protrusão é muito frequen- entender as dificuldades, receber as orientações quan-
te, indica-se o uso de Placa Palatina de Memória (Mello et to à alimentação, higiene bucal e busca da autonomia
al. 1998, Castillo Morales 1999; Carneiro et al. 2013). da criança. Raramente há necessidade de estabilização
protetora, sedação ou tratamento sob anestesia geral.
As principais causas de mordida aberta anterior na SD
são: protrusão da língua, o uso prolongado de chupeta, Alguns cuidados são fundamentais para o sucesso do
sucção de dedo, língua, respiração bucal e deglutição tratamento odontológico:
atípica. Esta protrusão lingual pode ocorrer também, em - Realizar anamnese cuidadosa e completa para obter
função de apresentarem nasofaringe estreita, bem como história médica, tratamentos que realiza e medicação
tonsilas (amigdalas) linguais e faríngeas hipertrofiadas utilizada. Aproximadamente 50% dos indivíduos com
(Ardran et al. 1972, Guimaraes et al. 2008). SD apresentam alguma forma de alteração cardioló-
gica e em alguns casos é necessário fazer profilaxia
O tamanho da maxila é menor no sentido ântero-pos- antibiótica para procedimentos odontológicos invasi-
terior enquanto a mandíbula apresenta tamanho normal vos. Com maior frequência, apresentam alterações
ou um pouco menor do que na população em geral. Na respiratórias (sinusites e pneumonias) e hipotireoidis-
oclusão cruzada (mandíbula anteriorizada em relação à mo entre outras.
maxila) os cuidadores são orientados a fazer o exercí- - Posicionar adequadamente o paciente, deixá-lo
cio de estimulo digital na região do palato anterior várias confortável, com a cabeça na linha média e apoio
vezes ao dia. Este estímulo modula a direção do cresci- cervical. Evitar movimentos de hiperflexão ou hiper-
mento da região anterior da maxila desde os primeiros extensão da cabeça devido há possibilidade de ins-
meses de vida da criança. Quando os dentes anteriores tabilidade da articulação atlanto-axial.
estão presentes na cavidade bucal e em mordida cruza-
da, são orientados exercícios com espátulas de madeira Muitos estudos demonstram que a prevalência de cá-
(abaixadores de língua). A espátula apoia na região pa- rie é menor em indivíduos com SD (Bradley & McAllister
latina dos incisivos superiores formando um plano incli- 2004, Dellavia et al. 2009, Macho et al. 2013). O acom-
panhamento frequente com Cirurgião Dentista permite a As características do respirador bucal são: atresia ma-
detecção de atividade de cárie e realização de procedi- xilar, lábios entreabertos ou hipotônicos, narinas atrofia-
mentos preventivos (Santangelo 2008). das, gengivite localizada em região ântero-superior, pa-
lato ogival e hipertonicidade do lábio inferior. Orienta-se
A prevalência da doença periodontal em adolescentes a limpeza frequente das narinas (3 vezes ao dia) com
com SD é de 30% a 40%. Em indivíduos com trinta soro fisiológico.
anos esse número sobe para aproximadamente 100%
(Reuland-Bosma & Van Dijk, 1986). Bell (2002) apontou Como já foi mencionado anteriormente, pais e respon-
a prevalência da doença periodontal em 60% a 90% das sáveis devem ser instruídos a realizar alguns exercícios
pessoas com SD e maior gravidade desta em compa- (estimulação de palato e espátula) a fim de amenizar ou
ração a indivíduos saudáveis e com deficiência mental. corrigir alterações nas arcadas, principalmente a supe-
rior, maxilar. Porém, algumas vezes esses exercícios não
Alguns autores acreditam que a má higiene bucal, a pre- surtem efeito ou a criança vem a consulta em idade não
sença de cálculo, de mal oclusão, a falha no metabolis- adequada a realizá-los.
mo do colágeno e a diminuição da capilaridade da mu-
cosa, tenham influência na doença periodontal, porém Muitas das mal oclusões são resolvidas com desgas-
sua etiologia ainda é considerada desconhecida (Minis- tes seletivos. Se somente os desgastes não resolverem,
tério da Saúde 2016). A terapia periodontal não cirúrgica podemos utilizar Pistas Planas diretas ou indiretas. As
é a mais indicada, complementada com uso regular de Pistas podem resolver problemas de mordida cruzada
agentes químicos de controle da placa e visitas frequen- anterior ou posteriores (Planas 1997).
tes ao dentista (Faulks 2008).
Alguns aparelhos ortodônticos também são utilizados
O terço médio da face menos desenvolvida é o grande para resolver mordidas cruzadas anteriores e posterio-
fator causador de alterações respiratórias em pessoas res: Disjuntores ou expansores palatais com ou sem
com SD. Sem espaço para se acomodar na boca, a lín- máscara facial. Quanto mais precoce pudermos inter-
gua tende a protruir e ao deitar, pode haver glossoptose vir para tentar redirecionar o crescimento e devolver as
(língua se pende para região de orofaringe) dificultando a condições estruturais para que a criança possa realizar
respiração nasal (FIADOWN 2015). adequadamente suas funções bucais, menores serão os
desvios de crescimento.
O cirurgião dentista deverá estar atento, pois as hiper-
trofias de tonsilas linguais (amídalas) ou faríngeas (ade- O quadro 5 resume todas as ações necessárias para
noides) podem impedir fluxo de ar pelas narinas. possibiltar a saúde de pessoas com Síndrome de Down.
Quadro 5. Cuidados de saúde específicos para pessoas com Síndrome de Down segundo a faixa etária
Idade
Procedimento
Zero a 2 anos 2 a 10 anos 10 aos 19 anos Adulto e idoso
Hemograma completo A¹ A A A
Ferritina A1
Hormônio Estimulante da Tireóide (TSH) A¹ A A A
Tiroxina (T4 livre) A A A
Glicemia de jejum C A
Perfil lipídico C
Função renal A
Ecocardiograma £ C
Eletrocardiograma C
Cariótipo £
Ultrassonografia abdominal £ C C C
Radiografia da coluna cervical 3 anos &¹ &¹
continua ...
... continuação
Idade
Procedimento
Zero a 2 anos 2 a 10 anos 10 aos 19 anos Adulto e idoso
IgA total e anticorpo antiendomísio B¹ B¹ B¹
Avaliação oftalmológica A¹ A B B
Avaliação auditiva A¹ A B B
Avaliação odontológica A A B B
Avaliação ginecológica P P
Avaliação urológica P P
Construído utilizando-se as referências discriminadas no texto desta diretriz.
A¹ = Primeiras avaliações aos seis e 12 meses, anualmente no seguimento;
A= anualmente; £= na suspeita clínica; &= idade pré-escolar; &¹=em qualquer momento na vigência de dor cervical, torcicolo, fraqueza de
membros superiores, tontura ou alterações intestinais e vesicais; B=bianual; B²=na suspeita clínica ou HLA-DQ8 e/ou HLA-HQ2 positivos;
C= a cada cinco anos; P = segue orientações da população em geral.
Anexos:
Sexualidade:
Curvas do CDC 2015. Disponível em: https://www.
Cartilha de orientação sobre sexualidade e deficiência cdc.gov/ncbddd/birthdefects/downsyndrome/growth-
Intelectual, Fernanda Sordelli, Instituto Mara Grabilli. charts.html
Disponível em: http://www.fenacerci.pt/web/
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